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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Psicologia / Campi Praça da Liberdade

Rinaldo Machado Ribeiro

CRIMES VIRTUAIS: Uma Abordagem Socio-psicológica

Belo Horizonte
2023
Este trabalho é dedicado a todos que de alguma maneira cooperaram para sua
elaboração e desenvolvimento.
Para as teorias de controle, o crime é fruto de um desequilíbrio entre os impulsos
em direção à atividade e os controles sociais ou físicos que a detém. Isso quer dizer
que, as pessoas normalmente agem de forma racional, no entanto, dada a
oportunidade, qualquer um se envolveria em atos desviantes.

(GIDDENS, 2005, P. 180)


1. INTRODUÇÃO

O propósito deste trabalho, não é apresentar todas as modalidades de crimes


virtuais, nem tampouco discorrer sobre os vários elementos jurídicos que as
envolvem. Dentre tantas opções, está sendo oferecido apenas um recorte específico
do Crime de Perseguição, também conhecido como Stalking, previsto no artigo 147-
A, como novo tipo penal incluído na lei penal nº 14.132/21. Subsequentemente, a
essa pequena abordagem jurídica segue uma reflexão de aspectos sociopsicológico
com a finalidade de abrir o olhar do profissional ou estudante de ciências humanas e
sociais para as subculturas criminais da internet, cujo ciberespaço propicia uma
espécie de mundo da fantasia sem consequencia na vida prática.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Crime de Perseguição (Stalking)
Art. 147-A do Código Penal – Lei 14.132/2021

Art. 147-A Perseguir alguém reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando a


integridade física ou psicológica restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma de liberdade ou privacidade.

Pena: Reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.


§1º, Aqui é aumentada de metade se o crime é cometido:
I. Contra criança, adolescente ou idoso
II. Contra mulheres por razões de condição do sexo feminino, nos termos do §2ºA
do art, 121 deste código,
III. Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
§2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.
§3º Somente se procede mediante representação.
Como na maioria dos crimes virtuais, ainda que se utilizando de parâmetros
de analogia aos já anteriormente positivados, foi necessário uma nova tipificação no
código penal, pois segundo a constituição, Art 5º, XXXIX, CF – não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Anteriormente existia a previsão de uma contravenção penal que se
assemelhava ao crime de Stalking no art. 65 da Lei de Contravenções Penais (Lei
3688/4):

Art. 65 – Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, ou acinte por motivo


reprovável.
Pena: prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis.
Revogada pela Lei 14.132/2021 e substituída pelo art. 147-A do Código penal.
O que antes era considerado Contravenção Penal, após sua inserção online,
ganhou a promoção para Crime na nova tipificação e teve sua pena aumentada em
relação à anterior.

2.2 Crimes Virtuais mais cometidos:


 Plágio
 Invasão de dispositivo informático/Furto de dados.
 Calúnia, difamação e injúria.
 Incitação/Apologia ao crime.
 Pornografia infantil.
 Pirataria digital.
 Divulgação de fotos íntimas.
Visando ampliar nosso entendimento e transportando a discussão para o mitiê
do campo das ciências psicossociais, é possível inserirmos algumas questões de
reflexão sobre o que tem levado a um aumento tão considerável no número de
pessoas envolvidas em práticas desta e de outras modalidades de crimes virtuais.

2.3. Subculturas Criminais da Internet

È notório que certos crimes são mais recorrentes nas redes sociais que no
mundo físico. Segundo Mariana Lucena, estudos têm constatado que alguns
indivíduos se tornam mais propensos a desvios online que off-line. Por meio da
teoria subcultural do desvio e da pesquisa do psicanalista John Suler , é constatado
que indivíduos aparentemente normais passam a ter comportamentos online que
jamais teriam no dia a dia, O que faz com que as pessoas demonstrem-se tão
distintas nestes dois mundos, o real e o virtual?
Por exemplo, jovens que são tidos como bons alunos e que mantêm boas
relações com seus pares e professores no dia-a-dia escolar são agentes do crime
de cyberbullying. “A conclusão a que se chega é que os agressores virtuais, na
maioria das vezes, não têm nenhum registro de acusações e condenações por
qualquer realização de crime no mundo off-line, dada a desproporção com que
ocorrem os dois tipos de crime (o online e o off-line)... E mais, no bullying, os
agressores costumam ter relações ruins com os professores, ao passo que os
agressores digitais podem ter boas relações com eles.” Lucena (2012, p.8).
No final do século XIX, o criminologista italiano Cesare Lombroso, acreditava
que os tipos criminosos pudessem ser identificados através de características
físicas, como o formato do crânio e da testa, o tamanho do maxilar e a extensão do
braço. Por meio da biologia buscavam características inatas para certos desvios de
padrão, mas tais teorias foram descredibilizadas. Já para Durkheim, tais desvios, se
justificam pela ausência de regulação normativa e moral,
Segundo psicanalista John Suler da Rider University de New Jersey, é
possível desvendar alguns fenômenos do comportamento na rede, através do que
ele chamou de "efeito desibinitivo online". Para as teorias das subculturas há uma
ideia fundamental: o desvio de comportamento não é produto da desorganização ou
ausência de valores, mas de uma ordem social diversificada e fragmentada, onde
há valores distintos ("subculturais"), que são aprendidos mediante socialização. E
nesse caso, tanto pode ser uma conduta normal como irregular ou desviada.
Alguns usuários da Internet defendem que existe a moral do mundo da Internet e a
moral do mundo físico, logo são toleráveis certos crimes quando cometidos no
mundo virtual

3. QUESTÕES PARA DEBATERMOS NA APRESENTAÇÃO DO SEMINÁRIO:


3.1. Por que o crime de Stalking, tendo sua abrangência aplicada
especialmente no âmbito virtual, ganhou maior repercussão e pena
aumentada em relação a contravenção penal de perseguição?

3.2. Quais as razões que levam uma pessoa cujo comportamento no dia a dia
e nas relações com as pessoas seja tão gentil e até cordial, a ter um
comportamento tão desviante do padrão moral a das normas éticas da
coletividade?

3.3. Se soubéssemos que teríamos a oportunidade de fazer certas coisas


proibidas de forma desinibida sem sermos julgados ou condenados por isso,
será que não as faríamos?

4. CONCLUSÃO:
Não é plausível aceitar que pessoas que se desviam de um padrão aceitável
e normativo no mundo virtual, tenham uma propensão inata a este comportamento
subcultural virtual como pensava Cesare Lombroso. Tampouco há de se supor que
esse desvio se dê pela ausência normativa. Contudo, existe sim uma falsa ideia de
que a internet, por ser considerado o mundo da invisibilidade, não tem limites e
impedimentos aos desejos humanos de auto-realização pessoal que proporcione
auto-estima ao indivíduo que a utilize. A repressão sexual, o medo de se expor e a
timidez são postas de lado num mundo onde o virtual parece melhor que o real. Os
crimes não são avaliados por quem os pratica na mesma proporção como se os
praticassem diretamente com alguém no mundo físico. Assim se eximem de suas
culpas.
Logicamente essa argumentação e reflexão não se referem a todo tipo de
crimes virtuais ou a todos os usuários das redes sociais, pois muitos o fazem com
plena consciência de seus atos, estando dispostos a executá-los no mundo virtual
ou real. Mas trata-se, de situações em que os usuários, sem qualquer patologia ou
desvios no mundo real, têm comportamentos desviantes nesse mundo em que se
constata essa subcultura criminal virtual.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. A criminalização do stalking
Lúcia Helena Oliveira (Defensora Pública - RJ) e Isabel de Oliveira Schprejer (Defensora
Pública - RJ)
Fonte: www.conjur.com.br - Publicado em 27/04/2021

1. LUCENA, Mariana Barrêto Nóbrega. O desvio social na rede mundial de computadores.: Aspectos
sociológicos e psicológicos dos indivíduos pertencentes às subculturas criminais da internet. Revista
Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3128, 24 jan. 2012. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/20921. Acesso em: 12 abr. 2023.

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