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PORNOGRAFIA DA VINGANÇA: NOVAS

PERSPECTIVAS DE CRIMES VIRTUAIS CONTRA


HONRA
PORN REVENGE: CRIMES AGAINST NEW
PERSPECTIVES VIRTUAL HONOR
Rafael Araújo Silva[1]

Sandro Dias (Or.)[2]

RESUMO
A socialização em meio virtual, como relacionamentos abertos,
namoros e até casamentos, se tornaram algo normal
atualmente, assim surgindo uma grande tendência ao
compartilhamento de conteúdo erótico, que na maioria das
vezes embasados nos princípios das boa fé e confiança são
trocados entre casais. No entanto, pelo fato do término do
relacionamento ou até mesmo por outros motivos, um dos
envolvidos na relação posta na rede, sem autorização o
material intimo em sua posse, com o intuito de humilhar e se
vingar da (o) ex-parceira (o), que devido à rápida circulação do
material, acaba sendo difamada (o) e injuriada (o) pela maioria
da população, e consequentemente, a parte exposta, cai em
depressão e até pior, cometendo suicídio. Nesse sentido,
desejamos analisar as possibilidades de criminalizar tais
práticas com a possível aprovação da PL 6630/2013. A
presente pesquisa utilizará o método bibliográfico e
documental. Por um bom tempo nosso judiciário não irá
conseguir competir com a internet, que é mais ampla e
poderosa, porém nossos legisladores estão formulando leis
especificas para esses tipos de crime, fortificando assim a
punibilidade para crimes virtuais e forçando o Estado a intervir
e corrigir de forma adequada o infrator.

Palavras-chave: Crimes de internet. Direito. Dignidade da


pessoa humana.
ABSTRACT
Socialization in virtual environment as open relationships,
dating and even weddings, became a normal thing now, thus
resulting in a greater tendency to share erotic content, which
most often founded on the principles of good faith and trust
are exchanged between couples. However, because of the
relationship ending or even for other reasons, one of those
involved in the relationship put on the network without
authorization the intimate material in its possession, in order
to humiliate and take revenge on former partner, who due to
rapid circulation of the material ends up being defamed and
reviled by most of the population, and consequently, the
exposed part, falls into depression and even worse, committing
suicide. In this sense, we wish to analyze the possibilities to
criminalize such practices with the possible approval of
PL6630 / 2013. This research will use the bibliographic and
documentary method. For a long time our judiciary will not be
able to compete with the Internet, which is broader and more
powerful, but our legislators are formulating specific laws for
these types of crime, thereby strengthening the criminal
liability for cybercrime and forcing the state to intervene and
punish appropriately the offender.

Keywords: Internet Crimes. Right. Dignity of human person.


1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo mostrar a todos a
importância de uma lei penal especifica para a conduta
chamada primeiramente nos Estados Unidos de “REVENGE
PORN”, que embora ainda não tenha uma definição plausível
no Brasil, vem sendo chamada de Pornografia da Vingança,
devido a tradução do termo utilizado acima. Será utilizado
levantamentos bibliográficos, analise de reportagens,
levantamento de dados e uma breve análise as leis vigentes e
ao projeto de lei em tramite no congresso nacional.

Ultimamente essa nova modalidade criminosa vem destruindo


famílias e lares não só no Brasil, mas em todo o mundo, e esses
índices só tendem a crescer se o Estado não intervir
imediatamente. A maioria das vítimas são mulheres, que
depois de ocorrido o fato, são qualificadas como mulheres sem
honra e mal vistas pela sociedade, ocasionalmente causando
graves problemas psicológicos, perca de emprego, desprezo de
amigos e familiares dentre muitos outros fatores. Mesmo
sabendo que esse dano pode ser irreparável para algumas
pessoas, uma simples ação de danos morais e matérias não
chegam nem perto de punir de forma adequada o infrator, e
pelo princípio da legalidade não podemos punir crime que não
está previsto em lei, por esse motivo é preciso urgentemente
uma lei especifica para esse tipo de conduta, como intuito de
proteger nossa privacidade, honra e punir de forma correta o
agressor, que até o momento vem respondendo pelos crimes de
injuria e difamação na parte especial penal de crimes contra a
honra.

No primeiro capítulo, é abordado o conceito, características do


autor e vítima, o porquê do parceiro (a) publicar esse tipo de
material, o abalo psicológico do termino, como várias
abordagens diretas sobre tema apresentado. Adiante é
apresentado o que tem na nossa legislação atual sobre esse tipo
de crime e como ele é abordado na constituição e código
penal, estatuto da criança e do adolescente  e breves
apontamentos sobre cada um deles. Esse crime já gera
discursão na câmara dos deputados e no senado, onde já foram
feitos vários projetos de lei, em principal ao Projeto 63/2015
do Senado que vem da PL 6630/2013 e aborda de forma
abrangente o tema e tenta incluir tipificação especifica
no código penal na parte de crimes contra a dignidade sexual.
Por fim, vários casos nacionais e atuais sobre famílias que se
desfragmentaram, que até mesmo perderam pessoas
importantes devido a irresponsabilidade do autor, famílias que
até hoje querem justiça, querem punição adequada, para que
no futuro não termos mais problemas com esse tipo de ação e
assim preservar nossas futuras gerações desse mal.

2 A PORNOGRAFIA DA VINGANÇA
2.1 Conceito
Por enquanto é difícil traçar um conceito para Pornografia da
Vingança, que como dito anteriormente, vem da expressão
“REVENGE PORN” que traduzido para nossa língua se torna
Pornografia da vingança, porém o conceito mais utilizado e
conhecido popularmente se define na forma de compartilhar
sem autorização, fotos, vídeos ou qualquer tipo de material que
contenha nudez com o intuito de se vingar ou de humilhar a (o)
ex parceira (o), ou seja, tem que haver laços com a vítima para
se consumar a conduta.

A pornografia não consentida consistindo na veiculação de


imagens sexuais (fotográficas ou audiovisuais) de outrem sem
o seu consentimento. Dentre tais representações são incluídas
imagens obtidas mediante consentimento ou não. (CINTRON;
FRANKS, 2014, p. 1).

Através desse conceito, devemos fazer uma pequena


observação, pois a maioria das pessoas que conhecem esse fato
criminoso, equivocadamente acham que essa conduta
criminosa só se enquadram as mulheres, o que não é verdade,
pois ela não tem gênero definido e se adequam também para os
homens (mesmo que os homens sejam menos prejudicados por
tal ato).

2.2 Sexting
O avanço da tecnologia e o aumento massivo do uso da internet
através de sinais móveis, a situação se agravou e ficou
incontrolável com as trocas de conteúdo erótico via celular,
batizada como sexting, que deriva das palavras sex (sexo) e
texting (envio de mensagens), ou conhecido popularmente
como “nudes” no Brasil. Esse método tem conquistado cada
vez mais adeptos pelo mundo, principalmente a faixa etária de
12 a 17 anos, que, aliás, é a mais assídua da internet. Segundo
estatísticas da Safernet (2015) (é uma organização não
governamental, sem fins lucrativos, que reúne cientistas da
computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito
com a missão de defender e promover os Direitos Humanos),
quem mais acessa a internet no brasil são jovens de 16 a 24
anos, que totalizam 78% da audiência total. De acordo com o
Ibope Nielsen (2015) on-line, nada menos que 8,3 milhões de
pessoas navegam na internet brasileira afora.

2.3 O autor
Conforme a Psicóloga Gina Strozzi[3], geralmente são pessoas
possessivas, ciumentas, carentes e chantagistas, na maioria das
vezes não são pessoas agressivas, mas tem uma personalidade
muito estável. Porém tem uma exceção, que se destaca em
jovens do sexo masculino, e geralmente são pessoas comuns,
querem se auto promover com as fotos ou vídeos que foram
feitos durante o ato e compartilham para os amigos, amigas e
que consequentemente acabam se espalhando para todo Brasil
e até mesmo para o exterior. Vamos bater na tecla do perfil
mais discutido, geralmente ele quer se vingar, quer denegrir a
imagem, fazer a pessoa sentir a mesma dor que ele está
sentindo no momento, destruindo sua reputação perante a
sociedade para que possivelmente essa pessoa nunca encontre
outra que a entenda, e passe o resto da vida como uma pessoa
malvista, discriminada, impotente. Os dois principais casos são
de traição e término. Pelos textos e casos analisados, pessoas
que fazem isso geralmente depois de consumado a conduta, se
tornam mais carinhosas, visivelmente arrependidas, porém se
forem aborrecidos novamente pelo mesmo assunto, acabam
fazendo tudo novamente, elas têm um tipo de amor e ódio pela
(o) parceira (a) e não esquecem fácil, eles têm carência de
serem aceitos e vão no limite da emoção, por isso precisam
tanto serem punidos devidamente, como precisam de
tratamento psicológico.

2.4 A vítima
A vítima tem alguns perfis a serem analisados, em especial
dois, tratados também pela Psicóloga Gina Strozzi[4] em uma
entrevista feita para o site grandes reportagens, que abordam
perfis de vítimas dessa infração penal, como a que foi filmada
ou fotografada por alguma câmera escondida, e a que
participou e consentiu, porém confiava tanto, que achou que o
conteúdo nunca vazaria para terceiros e principalmente para a
internet. A vítima que foi filmada ou fotografada por câmeras
escondidas tem os mesmos malefícios dos casos com
consentimento, pois para a sociedade ela teve culpa pelo
simples fato de fazer sexo, pelo fato de não ter a vigilância
adequada, de se envolver com pessoa de má índole e
infelizmente será difamada e injuriada. Mais comum entre as
mulheres que consentiram com a filmagem, fotografia ou até
mesmo a enviou, na maior parte das vezes acaba tendo uma
personalidade exibicionista e muita ingenuidade ao confiar
coisas tão sérias para o parceiro, nesse caso cabem o princípio
da boa-fé e confiança no relacionamento, pois quando
confiamos em alguém, esperamos que esta pessoa corresponda
nossas expectativas e que ela saiba a importância da relação
entre ambos, e que não contará intimidades e segredos para
terceiros, mas infelizmente não acertamos sempre em nossas
escolhas, pois a falta de cumplicidade nos dias de hoje e a falsa
parceria podem trazer sérios riscos, principalmente quando se
trata de um assunto tão delicado como a pornografia da
vingança. Esses dois perfis quando expostas acabam perdendo
totalmente a razão quando estão em um relacionamento
amoroso, segundo alguns estudos, elas não pensam em
consequências, pois acham que só se trata de uma simples foto
nua para o parceiro e que jamais eles iram expô-las. As
mulheres são muito frágeis quando se tratam de honra e
reputação, as vítimas vão de meninas inocentes até mulheres
maduras, que são tão carentes e descontroladas como os
autores, muitas não têm costume de lidar com o afeto, amor,
sexo e se tornam presas fáceis, se expondo de formas
desnecessárias ou se deixando levar pelo calor do momento e
muitas escolhem o jeito mais “fácil” para acabar com a dor, o
suicídio.

3 LEGISLAÇÃO VIGENTE EM NOSSO


ORDENAMENTO JURÍDICO QUE TIPIFICA A
PORNOGRAFIA DA VINGANÇA ATUALMENTE
Nossa constituição federal, aborda o tema em parte, porém não
diretamente, como quando diz que a pessoa que se sentir
lesada em relação a intimidade, vida privada, honra e imagem,
é garantido o direito de ingressar com ação judicial para
pleitear a devida indenização pelo dano sofrido, com fulcro no
Art. 5º, inciso X da CF:
Art. 5º, inciso X, CF/88 – são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação; (BRASIL, 1988).
Cabe ressaltar que a vida privada e a intimidade não se
confundem, por um lado a privacidade envolve um pequeno
círculo de indivíduos, que eventualmente, podem ter acesso a
informações ou fatos da vida da vítima (NEGROPONTE, 1995),
por outro lado, a intimidade é bem mais restrita, pois diz
respeito ao interior da pessoa que normalmente se depara com
certas situações privadas, segredos íntimos cuja mínima
publicidade justifica o constrangimento (PODESTÁ, 2005).

Desta forma, quem é lesado com esse tipo de atitude é


assegurado pelo nosso ordenamento jurídico o direito a
indenização pelo dando sofrido, conforme vários artigos
contidos no nosso Código Civil:
Art. 12 - Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito
da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.

Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187 - Também comete ato ilícito o titular de um direito


que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.

Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito


(artigos 186 e 187 do código civil), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo (BRASIL, 2002).

Mesmo com indenização, o dano sofrido é incorrigível, danos


esses que seguem a pessoa a vida inteira, causando vários
danos psicológicos, morais e as vezes até físicos, pois a internet
é muito poderosa e retirar todo esse conteúdo seria
praticamente impossível, devido aos dispositivos móveis que
armazenam e ficam indetectáveis. A pornografia da vingança
então fere sem nenhuma dúvida o princípio da dignidade da
pessoa humana (Art. 1º, inciso III, CF/88), que é a espinha
dorsal do nosso ordenamento jurídico e que se encaixa
perfeitamente em todos os direitos fundamentais, se
encaixando perfeitamente no tema defendido neste artigo, para
Donizetti (2012, grifo nosso):
[...] A dignidade da pessoa humana consiste em um
valor constante que deve acompanhar a consciência
e o sentimento de bem-estar de todos, cabendo ao
Estado garantir aos seus administrados direitos que
lhe sejam necessários para viver com
dignidade (direito à honra, a vida, à liberdade, à
saúde, à moradia, à igualdade, à segurança, à
propriedade, entre outros).

Portanto, nosso ordenamento jurídico ainda tem muito a


evoluir quando se trata de crimes virtuais por violação da
intimidade, pois, faltam leis específicas, faltam delegacias
especializadas e acabam causando um certo pensamento de
impunidade aos infratores, pois respondem apenas pelos
crimes contra a honra tipificados nos
artigos 139 e 140 do Código Penal e com pena aumentada de
1/3 pelo artigo 141, inciso III do mesmo código, que seria por
meio que facilite a divulgação, e uma indenização pelo código
civil, porém, mesmo com o aumento de pena, para a esfera
penal, os mesmos, são crimes de menor potencial ofensivo com
base no artigo 61, da lei nº 9.099/95;
Art. 61 -Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e
os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa. (BRASIL, 1995).

Ou seja, na maioria das vezes o infrator receberá uma medida


restritiva de direito como: pagar cesta básica ou pagar com
serviço comunitário, abrindo portas para se sentir impune e
possivelmente cometer outro crime do tipo.

3.1 Aplicação do código penal para a conduta


mencionada
A Difamação, crime previsto no artigo 139 do Código Penal,
ocorre quando alguém imputa fato ofensivo a sua reputação,
ou seja, que o sujeito ativo impute à vítima fato, vale dizer, um
acontecimento histórico, a mera atribuição de qualidade
negativa, ainda que diga respeito a conduta socialmente
considerada como ofensiva a reputação configura injúria
(BRASIL, 1940). Capez (2012, p. 305) define difamação como
“um crime que afronta a honra objetiva”, ou seja, a reputação,
a boa fama do indivíduo no meio social. Nesse tipo de crime o
infrator pode pegar detenção de três meses a um ano, e multa.
Quando alguém é posto em tal situação, a sociedade julga como
pessoas sem caráter, pessoas sujas e que merecem serem
humilhadas, principalmente as mulheres. Expressões como:
“aquela mulher tem fotos nuas na internet, não merece
respeito”, ou quando postam a foto na rede com legendas
ofensivas no Facebook, Twitter e em outras redes sociais, é o
que mais se vê nos tempos atuais, por um simples erro ou por
confiar demais no parceiro, podem ser julgadas e torturadas
para o resto da vida.
A Injuria, crime previsto no artigo 140 do Código Penal, ocorre
quando alguém ofende a dignidade ou o decoro de outrem, ao
contrário do crime anteriormente citado, não é preciso a
imputação do fato, mas no máximo a atribuição de uma
qualidade negativa, Capez (2012) define como uma afronta a
honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio de
cada pessoa acerca de seus atributos morais, intelectuais e
físicos, podendo o infrator ser condenado em detenção de um a
seis meses, ou multa. O que mais acontece, quando as fotos
entram em circulação, particularmente as mulheres, são
reconhecidas facilmente e recebendo termos esdrúxulos como:
“vagabunda, piranha, prostituta, mulher fácil” ou coisas ainda
piores, vivemos em uma sociedade machista que julga o sexo
como algo imoral.
Ambos os crimes têm previsão de aumento de pena em 1/3 (um
terço) caso o crime ocorra na presença de várias pessoas ou por
meio que facilite a divulgação da calunia, difamação e injuria,
previsto no artigo 141 do Código Penal (BRASIL, 1940).
3.2 Pedofilia virtual no estatuto da criança e do
adolescente
Conforme o artigo 241-A do Estatuto da Criança e do
Adolescente, oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por
meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornografia envolvendo criança ou adolescente é penalizado
com reclusão de três a seis anos, e multa (BRASIL, 1990).
Como podemos observar, o artigo acima citado entra
exatamente no ponto do presente artigo, que tem como objeto
a fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica, porém o tipo penal só tutela a
integridade moral da criança e do adolescente.
No parágrafo primeiro, citam condutas que incorrem nas
mesmas penas como: assegurar os meios ou serviços para o
armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
o caput desse artigo; como assegurar os meios ou serviços para
o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens; bem
como assegurar por qualquer meio o acesso por rede de
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o
caput deste artigo, ou seja, contém duas figuras equiparadas ao
caput, a primeira é assegurar os meios para o armazenamento
do conteúdo pornográfico e a segunda abrange a pessoa física
representante do site que assegura o acesso por rede de
computadores todo o conteúdo, dessa forma assegurando a
visita e acesso dos internautas. Porém essas condutas são
puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço,
a partir da notificação não desabilita o acesso ao conteúdo
ilícito postado, conforme o parágrafo segundo deste artigo. A
consumação da primeira basta que o agente assegure os meios
de armazenamento, ou seja, disponibilize o conteúdo na rede
mundial de computadores (internet), na segunda basta que
haja a possibilidade de acesso dos internautas, a tentativa em
ambas as figuras é admitida. (BRASIL, 1990).

3.3 Breve análise sobre os princípios constitucionais


penais sobre o tema
Primeiramente o principal tópico a ser observado será o
princípio da legalidade, previsto no artigo 5º, XXXIX,
da Constituição Federal, bem como no artigo 1º do Código
Penal, consiste em uma clausula pétrea. Como abordado por
Lenza (2012) preceitua, basicamente, a exclusividade da lei
para a criação de delitos e cominação de penas, possuindo
indiscutível dimensão democrática, pois representa a aceitação
pelo povo, representando pelo congresso nacional, da opção
legislativa no âmbito criminal. De fato, não há crime sem lei
que o defina, nem pena sem cominação legal, impedindo assim
a punição especifica para a pornografia da vingança, colocando
assim o magistrado a resolver os casos com as leis já existentes,
que são brandas e não punem e muito menos corrigem o
infrator.
Também será necessário apelar para o princípio da intervenção
mínima, pois de acordo com o ilustre doutrinador Luisi
(2003):

a criminalização de um fato somente se justifica quando


constitui meio necessário para a proteção de um determinado
bem jurídico. Portanto, quando outras formas de sanção se
mostram suficientes para a tutela desse bem, a criminalização
torna-se inválida, injustificável, somente se a sanção penal for
instrumento indispensável de proteção jurídica é que a mesma
se legitima.

Também segundo Masson (2012, p. 39) “somente deverão ser


castigados aqueles que não puderem ser contidos por outros
ramos do Direito”. Também é chamada de “Ultima Ratio”, ou
seja, como anteriormente dito o princípio só deve ser invocado
somente quando os demais ramos do Direito falharem ou
forem insuficientes, como no caso abordado nesse artigo.

Sendo assim, é obrigação do Estado, nos garantir que nossa


intimidade e honra não sejam violadas, e no momento está
sendo totalmente omisso quando se trata de um assunto tão
delicado, certo que se tem certas dificuldades pelo motivo da
complexa fiscalização, manter a ordem nas redes sociais, bem
como delegacias especializadas, porém certas decisões já
deveriam ter sido tomadas, pois punir apenas como crimes
contra a honra não é nada adequado pela complexidade e
gravidade da conduta elencada.

4 PROPOSTA PARA APURAÇÃO E PUNIÇÃO DA


PORNOGRAFIA DA VINGANÇA
Com a inovação das redes sociais e com equipamentos
modernos capazes de enviar e receber dados com grande
velocidade, e o fácil acesso a esses produtos, a nova conduta
criminosa chamada pornografia da vingança, chamou a
atenção da sociedade, com isso surgem várias propostas para
tipificar de vez esse crime que tem aumentado cada vez mais
nos últimos anos, o Senador Romário entrou com um Projeto
de Lei nº 6630 em 2013, com o intuito de acabar ou pelo
menos reduzir o porcentual desse tipo de conduta. Esse projeto
de lei já foi votado e aprovado, onde aguarda votação no
Senado.

Abaixo uma breve síntese do projeto de lei.

O Projeto de lei acrescenta ao Código Penal, uma tipificação


especifica para o agente que divulgar fotos ou vídeos com cena
de nudez ou ato sexual sem autorização da vítima,
acrescentando o Artigo 216-B.
No seu artigo 1º descreve que a divulgação, por qualquer meio,
fotografia, imagem, som, vídeo ou qualquer outro material,
contendo cena de nudez, ato sexual ou obsceno sem
autorização da vítima, podendo ser condenado a reclusão de
um a três anos, e multa. Acrescentando também em seu
parágrafo primeiro a mesma pena para quem realiza
montagens ou qualquer artificio com imagens de pessoas
(BRASIL, 2013).

É importante destacar que na divulgação de imagens não


consentidas, embora não haja contato ou força física
empregada, como nos casos de estupro, é também considerada
uma forma de abuso ou agressão sexual. De consequência, por
óbvio que causa dano e sofrimento à vítima, como já delineado
anteriormente (CITRON; FRANKS, 2014, p.14).

No parágrafo segundo do artigo 1º contém aumento de 1/3 (um


terço) caso o crime seja cometido com o fim de vingança ou
humilhação, ou por agente que era cônjuge, companheiro,
noivo, namorado ou manteve relacionamento amoro com a
vítima com ou sem habitualidade, ou seja, é onde é abordado a
Pornografia da Vingança, pois houve laços entre as partes,
sendo assim uma forma de aumento de pena para o projeto de
lei comentado. No parágrafo terceiro prevê o aumento de pena
da metade se o crime for cometido contra vitima menos de 18
(dezoito) anos ou pessoa com deficiência. No parágrafo terceiro
prevê sobre o pagamento de indenização para a vítima pelos
danos causados, incluindo mudança de domicilio, de
instituição de ensino, tratamentos médicos e psicológicos e a
perda de emprego, contudo no parágrafo quarto, ele não exclui
o direito de a vítima pleitear a reparação cível por outras
perdas e danos matérias e morais (BRASIL, 2013).

Uma parte um pouco polêmica desse projeto de lei é o que está


previsto no parágrafo quinto, que explica que após a sentença
penal condenatória, o juiz deverá aplicar também pena
impeditiva de acesso às redes sociais ou de serviços de e-mails
e mensagens eletrônicas pelo prazo de até dois anos, de acordo
com a gravidade da conduta. Além da dificuldade da
fiscalização tem a duvida da possibilidade de tal aplicação para
os Juízes. Conforme o Artigo 43 do Código Penal que cita as
penas restritivas de direitos, é destacado o inciso V que é a
interdição temporária de direitos, por ser muito ampla, pode
evitar que o agente pratique aquela conduta novamente.
Podendo fazer a fiscalização através da ajuda dos provedores
de internet via IP das contas no nome do infrator. Porem esse
bloqueio poderia trazer sérios prejuízos e teria que ser
estudado, pois a internet não é apenas para passatempo, muita
gente usa para o trabalho, o que afetaria a vida do infrator por
não poder usar e-mails mesmo sendo no trabalho, porém não
há outra saída e o judiciária terá que cumprir a sentença para
evitar o uso irresponsável e totalmente contra a dignidade da
pessoa humana nas redes sociais novamente.
Também cabe ressaltar que a proposta é totalmente aceita pela
população, que de acordo com o site Vota na Web (2015), 94%
dos 26.962 votos foram a favor da aprovação da lei, apenas
1.710 entenderam que não é uma proposta viável. No Tocantins
foram totalizados 116 votos, 109 votaram para a aprovação,
isso significa que a sociedade já está cansada de deixar essa
pratica tão covarde continuar acontecendo.

Por fim, há polemicas sobre a aplicação da pena, então


seguindo a classificação de Roxin (2008), observamos que a
doutrina brasileira adota a teoria mista da pena, seguindo o
artigo 59 do Código Penal Brasileiro, que a pena será aplicada
conforme seja necessária e suficiente para reprovação e
prevenção. Ou seja, não existe prevalência da retribuição, nem
da prevenção, porque tais fatores coexistem, somando-se, sem
que exista uma hierarquia. A teoria unificadora de Roxin
(2008), vê o sentido da pena não apenas na compensação da
culpa do delinquente, mas também no sentido geral de fazer
prevalecer a ordem jurídica e também determinados fins
político-criminais, com o fim de prevenir futuros crimes.
5 CASOS RECENTES ACONTECIDOS NO BRASIL
Abaixo, casos reais que ocorreram no Brasil encontrados no
site grandes reportagens e que infelizmente algumas famílias
perderam entes queridos e buscam até hoje por justiça.

Uma garota de 16 anos infelizmente cometeu suicídio na cidade


de Veranópolis, na Serra, horas depois de descobrir que seu ex-
namorado havia publicado fotos dela seminua nas redes
sociais, o rapaz tirou fotos da tela do computador a partir de
conversas feitas pela webcam e divulgou no Twitter e Facebook
depois de terminarem o relacionamento. Conforme
informações preliminares, a garota ficou sabendo por uma
amiga e horas depois foi encontrada morta em casa.

Uma jovem de 17 anos cometeu suicídio no Piauí após uma


divulgação de um vídeo intimo no Whatsapp, supostamente
postada por seu ex-namorado. Julia Rebeca, foi encontrada
morta em seu quarto no município de Parnaíba, utilizando
para se enforcar um fio de uma chapinha. Antes de se suicidar,
deixou mensagens em seu instagram e twitter, ela pedia
desculpas para a família: “eu te amo, desculpa eu não ser a
filha perfeita, mas eu tentei... Desculpa desculpa eu te amo
mãezinha... Desculpa desculpa...! Guarda esse dia 10.11.13”
escreveu.

Outra jovem de 16 anos foi encontrada morta em Vitória-ES,


ela tirou uma foto nua e mandou para o namorado, que acabou
divulgando o material para colegas da escola, muito abalada
com a situação, ela se matou.

Uma universitária de 22 anos, tirou várias fotos nuas a pedido


do namorado e as enviou, segundo ela, ela não queria tirar
essas fotos, porém ele começou a fazer chantagens emocionais
duvidando da confiança entre os dois, afirmando que sem
confiança não tinham nada, como de se esperar, no fim do
namoro, ele criou vários perfis falsos e divulgou as fotos na
internet, ela foi demitida do emprego, trancou a faculdade e
tentou suicídio duas vezes, por onde ela anda, as pessoas a
reconhecem e contam o caso, de acordo com o Investigador da
Policia Civil Eduardo Monteiro Pinheiro.

Com desconfiança de que estava sendo traído, um advogado de


Vitória-ES divulgou fotos da namorada nua, ele simulou que o
vidro do seu carro havia sido arrombado e que seu computador
com todas as imagens, foram levadas, ele comprou outro vidro
em uma revenda autorizada e guardou a nota fiscal. Após
alguns dias, as fotos foram divulgadas, a vítima denunciou o
caso, a polícia após começar as investigações identificou uma
lan house de onde as fotos foram enviadas. A polícia chegou ao
autor do crime pelo local onde foi criado o e-mail para a
divulgação das fotos, o próprio escritório do advogado.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi analisada no artigo, a pornografia da vingança só
tende a crescer. Fatores como vingança, humilhação e
exposição são formas mais fáceis dos infratores mencionados
atuarem e devastarem a vida das pessoas; uma das soluções
primarias a serem inseridas no nosso sistema, é a
conscientização do papel primordial que a família possui sobre
a formação da criança, juntamente com a participação do
Estado em inserir nas escolas programas que abordem a
discussão sobre sexualidade. Expor o tema de forma natural
em ambientes nos quais os jovens se sintam seguros, é o
caminho mais adequado para se quebrar tabus, tanto da parte
daqueles que não sabem como se expressar, como por parte
dos pais e professores que não sabem como iniciar qualquer
abordagem sobre o tema evitando males futuros.

Apesar de haver punição em nosso ordenamento jurídico, a sua


aplicação é embasada em leis muito brandas, nos causando
sensação de impunidade. Na maioria das vezes o condenado
recebe como penalidade, pena restritiva de direito, condenação
ao pagamento de indenização entre outros, nos quais não
suprem o dano causado, incentivando o infrator a praticar a
mesma conduta por repetidas vezes, já que a pena em nada
atinge na vida do mesmo. Então devemos apelar para os
princípios da legalidade e da intervenção mínima, pois como
dito anteriormente, é a única forma de proteger o bem jurídico
violado, já que as outras áreas do direito não foram capazes de
suprir, e forçar o Estado a intervir de forma adequada na
correção dos infratores tipificando o crime de forma especifica
no código penal brasileiro, assegurando assim o nosso direito a
intimidade e impedindo que gerações futuras cometam o
mesmo erro.
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Brasil de 1988. Brasília, DF, 5 out. 1988.
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[1] Graduando em Direito da Faculdade Católica Dom Orione.

[2] Graduado em Letras pela Universidade Estadual de


Londrina. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa. Especialista em Ciências Criminais pela
Universidades Amazônicas. Mestre em Direito pela
Universidade de Marília - Unimar - São Paulo. Professor da
Faculdade Católica Dom Orione.

[3] Entrevista feita para o site grandes reportagens da rede


gazeta. Gina Strozzi Psicóloga, Palestrante e Profº. Doutora
pela PUC/SP Especialista em Sexualidade Humana pela
Faculdade de Medicina da USP, Consultório em Vitória-ES.

[4] Entrevista feita para o site grandes reportagens da rede


gazeta. Gina Strozzi Psicóloga, Palestrante e Profº. Doutora
pela PUC/SP Especialista em Sexualidade Humana pela
Faculdade de Medicina da USP, Consultório em Vitória-ES.

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