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Amor e sexo entre pequenos e grandes

A nossa história está repleta de exemplos de uniões com êxito – legitimadas por
épocas, locais e culturas correspondentes – entre pessoas de idades diferentes. A
nossa história registra casos em que relações sexuais, até mesmo com certa
violência, não deixaram marcas físicas e psicológicas em nenhuma das pessoas que
estiveram envolvidas com isso na infância (lembrem de suas infâncias, leitores). A
nossa história tem nos ensinado, também, que não são poucas as crianças que
fantasiam experiências com adultos e que, uma vez perguntadas se foram
“abusadas” sexualmente, dizem sim – com orgulho, de acordo com a expectativa dos
que perguntam.
Esses três itens, se bem observados, já seriam o suficiente para que a “caça às
bruxas” que nossa sociedade ocidental tem desenvolvido recentemente contra o que
classifica de “pedofilia” fosse repensado. Todavia, parece que as pessoas que
descobriram esse filão – a denúncia da pedofilia – já não estão mais interessadas em
desenvolver esse tipo de reflexão que eu levo adiante, pois elas temem perder o
emprego. Sim, infelizmente, a denúncia da pedofilia virou menos um dever de
cidadão e mais um emprego. E eis que nossa sociedade começa a se aproveitar de
um rousseuísmo perverso, disseminado entre nós, para condenar toda e qualquer
prática de relacionamento que não se enquadre nos padrões que elas acham o
correto. O resultado parece ser algo pouco saudável. O resultado nos coloca na busca
de uma comunidade asséptica, que ao fim e ao cabo deverá punir todos os que não
fazem sexo no estilo “papai e mamãe”, isto é, de pijama, só depois da novela e,
enfim, rigorosamente com parceiros heterossexuais e de mesma idade.

Isso não é só hipocrisia. Isso não é só cegueira ideológica e, quem sabe, religiosa.
Isso é nazismo. Tudo que destoa de um padrão que não é de fato padrão, pois
ninguém segue, mas que é adotado como padrão por funcionários públicos e pessoas
mal amadas, é transformado em crime. Começamos o retorno a um clima de
Inquisição: todos são pecadores, todos são pedófilos, pois em algum momento
entraram em um site – e tiveram tal atividade registrada no seu PC – que continha
algum tipo de foto considerada por esses especialistas como “fora da lei”. Aos poucos,
pais que tomam banhos com filhos começam a ser vistos como pervertidos. O
terrorismo em uma sociedade pode ser feito de diversas maneiras.

Tudo isso é incentivado pela “denúncia anônima”, qu é um perigo – todos sabemos.


Cada um pode pegar seu telefone e denunciar o comunista de hoje em dia, ou seja,
o “pedófilo”. Junto com o pai que não paga pensão, com o ladrão de galinha e com
aquele que realmente nunca fez nada de errado mas tem inimigos, o pedófilo é agora
o “top de linha”. Já ganha, de longe, para o suposto marido que agride a esposa. É
o inimigo número 1 da nação. Pobre nação.

Aos poucos, na busca de conseguirmos uma sociedade melhor, em que pessoas que
possam ser violentas sejam coibidas, damos passos largos para a criação de uma
sociedade que ampliará a criminalização a um ponto de enfrentarmos os mesmos
problemas que a sociedade americana enfrenta. Qual? Hoje, os Estados Unidos
possuem um número de presos que é proporcionalmente o dobro do de outros países
campeões nessa modalidade. Visivelmente isso não é Justiça; é isso que os
americanos discutem atualmente. Eles se perguntam: em que momento de nossa
história demos o passo errado e criamos um monstrengo que faz com que todo e
qualquer cidadão possa ter uma ficha policial com alguma infração? E pior: em que
momento entulhamos nosso aparato judiciário de modo que os crimes que realmente
prejudicam a sociedade como um todo foram deixados de lado?

Estou longe de querer deixar crimes impunes. E mais longe ainda de fazer a defesa
de algo como a pedofilia. Mas não concordo com a forma como a nossa sociedade
está julgando várias pessoas, sem levar em conta nossa tradição cultural, sem
considerar o que de fato consideramos correto no Ocidente, e o que é e o que não é
“abuso sexual” com crianças e jovens.

Nisso tudo há uma falta completa de reflexão filosófica. E as pessoas que estão
envolvidas em órgãos que buscam coibir a pedofilia, nem sempre se mostram
preparadas para entender situações que só com mais esclarecimento intelectual e
mais vivência poderíamos entender. Uma coisa que essas avaliações não levam em
conta é que crescer e se tornar adulto não é uma tarefa fácil. Nem todos conseguem.
Talvez, até, possamos dizer: poucos conseguem. Parece natural nascer e crescer e
ficar adulto. Mas não é natural. É um processo social e histórico.

Caso os que estão envolvidos em estudos sobre pedofilia, abuso sexual,


relacionamento familiar, violência doméstica etc. quiserem começar a pensar
seriamente, podem inciar pelo filme “Little Children” (“Pecados íntimos”, no Brasil).
Ele esteve em nossos cinemas, e agora já está disponível nas locadoras. Não prestem
atenção somente no pedófilo do filme. Prestem atenção em todos os personagens.
Cada um deles, em um determinado momento, ainda está preso em sua própria
infância ou em uma situação em que a infância ainda não se tornou coisa do passado
em sua vida. Apesar de todos serem oficialmente adultos e de todos tentarem
cumprir, como nós, suas obrigações sociais, todos os personagens são um pouco ...
infantis. Cada um de nós, de algum modo, é um daqueles personagens. Cada um de
nós não cresceu tudo que queria ou tudo que deveria. Somos “pequenas crianças”.
E as crianças, muitas vezes, sabem disso. No limite, às vezes é mais fácil uma criança
levar na brincadeira – e não ficar traumatizada – um jogo sexual proposto por um
adulto do vermos tal jogo ser aceito entre dois adultos que estão marcados por outros
traumas. Os olhos dos adultos é que ficam marcados, e não por terem sido atacados,
quando crianças, por supostos pedófilos.

Isso precisa ser levado em conta para analisar cada caso, e ver a diferença entre
alguém que precisa de um tratamento por ser pedófilo e alguém que está propondo
práticas – que no limite não serão malévolas – que são as possíveis de serem
propostas segundo uma série de fatores culturais.

É claro que quando se fala de sexo, há pessoas que ficam de cabelo em pé. As
mesmas pessoas que não se chocam com a morte bárbara de uma mulher
esfaqueada ficam horrorizadas se uma outra mulher morreu em um estupro. A faca
na garganta não tem importância. Mas um apertão no pescoço em uma luta de abuso
sexual, esta sim, é crime bárbaro e um pecado. Um bandido que dá um tiro na cabeça
de uma criança deve ir para a cadeira elétrica ou pegar prisão perpétua, dizem
muitos. Mas dizem, às vezes, sem ódio. Agora, um bandido que estupra uma menina
de 10 anos, nem pode ter sua identidade revelada, as pessoas não querem esperar
qualquer julgamento, querem linchá-lo e, principalmente, terem o prazer de cortar o
pênis do homem.

Esse segundo tipo de desejo, o de castrar pessoas, deve ser observado e estudado.
As pessoas que desejam castrar o estuprador ou o que chamam de pedófilo, não
raro, são tão ou mais perigosas que o pedófilo. Ele, pedófilo, se de fato é alguém que
quer abusar de crianças à força, ataca individualmente. Os que querem castrá-lo são
pessoas com sentimentos tendentes à direita, e podem atacar coletivamente. Podem
incentivar o fascismo.
Enquanto não entendermos que é difícil ficar adulto, e que isso deve ser estudado,
não iremos nos transformar em uma sociedade civilizada. Temos de compreender
melhor o que o somos, para podermos saber quem de nós precisa ou não de ajuda,
quem não está conseguindo crescer, ficar adulto, e quem pensa que está fazendo
isso melhor do que outros. Não vamos chegar a bom termo criminalizando várias
práticas sociais que até bem pouco tempo, havíamos elogiado. O amor entre pessoas
de idades diferentes foi e, em alguns lugares ainda é, é uma prática incentivada no
Brasil. E visivelmente desejada. Muitas de nossas avós casaram com homens bem
mais velhos, quando ainda eram meninas. Não foram infelizes. Muitas meninas
atraem propositalmente homens mais velhos, e isso não é o fim do mundo. Muitos
relacionamentos homossexuais se dão de modo melhor quando há grande diferença
de idade, e isso não traumatiza ninguém. Regras rígidas e sem uma base de estudo
podem nos conduzir a criar um Brasil como prisão coletiva ou simplesmente uma
sociedade infeliz.

Paulo Ghiraldelli Jr. – O filósofo da cidade de São Paulo

PAULO GHIRADELLI JR., doutor e mestre em filosofia pela USP; doutor e mestre em filosofia da

educação pela PUC-SP, livre docente e titular pela UNESP, pós-doutor em medicina social pela UERJ.

Diretor do Centro de Estudos em Filosofia Americana – www.pragmatismo.com . Editor da

Contemporary Pragmatism de New York. Site pessoal: www.ghiraldelli.pro.br Editor do Portal

Brasileiro da Filosofia:www.filosofia.pro.br

Postado por Paulo Ghiraldelli

Marcadores: pedofilia, violência doméstica, ética

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22 COMENTÁRIOS:
Paulo Carneiro, 06 março, 2013
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
rubensemannuel, 06 março, 2013

Libera os comentários! Assim dá pra saber se há comentários contra ou a favor das


idéias expostas. Assim é complicado, pois quem postar algo contrário ao que dizes,
simplesmente não terá o comentário aceito.
Boy Club - Promocional, 06 março, 2013

Que coragem. Falou o óbvio que todo mundo vê, mas ninguém tem coragem de
admitir. Desafiar as pessoas assim é perigoso. A nossa razão é bem menor que o
nosso lado animal.

Sorte que esta discussão, bem ou mal, restringiu-se aos mais esclarecidos. Eu vi no
penoso MSM. Caso ela caísse na grande massa, teríamos uma aula de truculência e
até uma desgraça.

O crime deveria ser a ignorância, pois é a raiz de todos os males, parece, como dizia o
grego.
Ethan Debates, 07 março, 2013

Apologia à Pedofilia ou entendi errado???


Paulo Ghiraldelli Jr, 07 março, 2013

Esse texto meu é velho, e ainda causa mal entendido. Eu acho que os que não
entendem não devem ser tão burros quanto parecem. Acho que não leram. Achar que
esse texto defende quem molesta criança é o mesmo que achar que o Hulk é cor de
rosa. Paulo Ghiraldelli
Ivan Dutra, 15 março, 2013

Quisera eu, que um dia uma grande massa pudesse ler um texto tão rico em
conhecimento, como esse e dizer: uau, agora as coisas fizeram sentido!
Alvaro, 15 março, 2013

Parabéns pela coragem, Paulo. Seria bom revelar todos os comentários, talvez ficasse
melhor ilustrado um certo espírito nazi que denuncias...
Jean, 02 maio, 2013

Em minha "burrice" informo o seguinte. Se um pedófilo abusar da minha filha ou do


meu filho, no mínimo, se eu o encontrar, levará uma surra. É sim, apologia a algo
detestável. Publicando ou não meu comentário, já fica sabendo.
Weberson, 02 maio, 2013

Caro Paulo, o que o Sr. fez aqui foi simplesmente redefinir o termo pedofilia para que
pudesse falar a respeito do assunto.
Paulo Ghiraldelli, 02 maio, 2013

Aparecem aqui alguns comentários de gente inteligente e aparece também os dos


burros que simplesmente tremem ao ouvir o termo pedofilia. Não entendem nada. Pela
grosseria do entendimento, a esses eu não respondo.
Paulo Ghiraldelli, 02 maio, 2013

Viram lá o "Jean", que macho, que vai punir o pedófilo que pegar a filha dele. Ele nem
imagina que o que é pedófilo. Agora, o covardão nem e-mail e nem sobrenome deixou.
É a bosta de sempre, quanto mais grita, menos macho é.
William Agarius, 02 maio, 2013

Olá, Paulo. Me chamou a atenção o seguinte trecho de seu texto: " A nossa história
tem nos ensinado, também, que não são poucas as crianças que fantasiam
experiências com adultos e que, uma vez perguntadas se foram “abusadas”
sexualmente, dizem sim – com orgulho, de acordo com a expectativa dos que
perguntam."

Nunca soube de nenhum caso semelhante a este, ao qual, crianças afirmam que foram
"abusadas" sexualmente e falam com orgulho, nem que revelaram sentir "desejos"
sexuais com adultos ou outras crianças... a não ser que o termo CRIANÇA se aplique
até os 17 anos. Poderia comprovar, se possível, tal declaração (uma vez que diz que
não falta exemplos)?
Paulo Ghiraldelli, 02 maio, 2013

Agarius, quem lida om criança perde a conta no dia a dia sobre isso. Mas o caso que
eu tinha em mente, quando escrevi, não era pequeno, era o trágico caso da Escola de
Base. Eu sei que você nunca ouviu falar disso. Caso você tivesse ouvido, eu não
precisaria escrever o que escrevi, a sociedade seria outra. Mas nossa sociedade adora
linchar pessoas sem saber o que ocorreu de fato.
Paulo Ghiraldelli, 02 maio, 2013

Weberson, você quase entendeu o artigo. Faltou pouco.


Paulo Ghiraldelli, 02 maio, 2013
Este comentário foi removido pelo autor.
oceanira, 03 maio, 2013
COVARDE! NÃO DÁ A CARA AO TAPAS!

VC DEVERIA SER EXTERMINADO!

PENSAMENTOS COMO OS SEUS, PARA JUSTIFICAR A COVARDIA CRIMINOSA


DOS PEDÓFILOS, DEVEM SER COMBATIDOS COM A CADEIA!

EU NEM VOU DESEJAR Q VC SEJA VÍTIMA E AUTOR DISSO, PQ VC JÁ É


ASQUEROSO POR SI SÓ!
Jadson Oliveira, 03 maio, 2013

Confesso não ser nenhum doutor ou especialista em Filosofia. Compreendo seu texto e
vou mais além: A Justiça, parcial, mal feita, lenta para julgar e com uma imprensa
miserável, que se aproveita desse "gostinho pelo mal" que as pessoas parecem
mesmo ter(ainda que bons pais de família) não somente jogam muitas pessoas - como
no caso da Escola de Base, que eu conheço - mas tantos outros casos, que vão até o
cúmulo de prender pessoas por roubarem um xampu (e quando sai já matou três) ou
condenar à "Prisão Domiciliar" um político corrupto (eu gostaria de estar preso numa
mansão, com tudo do bom e do melhor,e um monte de empregados em quem mandar)

Mas se, como a gente aprende na escola, a Filosofia é a busca da verdade, não seria
um caminho a pensar, ao invés de afastar as pessoas que pensam diferente, com
diretas do tipo <> ou <> trazê-las à discussão? Isso para não mantém apenas "nos
níveis mais altos" assunto de tamanha importância. Ainda mais considerando que a
quantidade de gente carente de pensar filosoficamente é muito expressiva na
sociedade. Infelizmente.

Principalmente porque, dada a complexidade da exposição, tanto no contexto quanto


"no texto" algumas pessoas podem mesmo chegar a pensar que o sr. filósofo ao postar
que alguns "infantes" não se sentiram moletadas, mesmo com certa violência, ao se
envolver sexualmente com "adultos", tenta ao invés de relativizar, desprezar.

Sei que tem muita coisa mal explicada na sociedade, e por isso mesmo acontece muita
coisa "por baixo do pano". Quem é professor, e está na escola, sobretudo a Escola
Básica, sabe do que estou falando. Acho mesmo que até falta definição para o que é
"infância" , "violência" e tantos outros termos... O país tem leis de mais, e gente
pensando de menos. Daí as coisas funcionando mal. Poderias trabalhar, sinceramente,
nessa singela proposta. Que tal?

Jadson Oliveira | javo@pop.com.br


Paulo Ghiraldelli, 03 maio, 2013

OCEANIRA, EU DOU AS CARAS, nome e tudo o mais. Figura pública. Agora, o


covarde é você. Ataca como fake. Ou seja, você é o bundão medroso. E sabe disso.
Paulo Ghiraldelli, 03 maio, 2013

JADSON. Meus livros possuem incursões sobre esse assunto. Há alguns até com
títulos voltados para a infância. No mais recente há de novo esse assunt de infância:
Filosofia para educadores (Manole). Mas não tenho tempo de ficar centrado nisso e
também não tenho tempo de traduzir as coisas popularmente para blogs, embora faça
muito nesse sentido. Sugiro que pegue os livros. Obrigado por ler minhas coisas.
Anônimo, 03 maio, 2013

PEDÓFILO DESGRAÇADO!!! KD AS AUTORIDADES QUE AINDA NÃO


COLOCARAM ESSA ANOMALIA HUMANA EM UM TRIBUNAL... ESPERO NÃO
ENCONTRAR COM UM "SUB-HUMANO" DESSES NUNCA!!!
Paulo Ghiraldelli, 03 maio, 2013

Anônimo é anônimo, não adianta xingar, vai continuar anônimo. Para elogiar
falsamente e para xingar, tanto faz, fake ou anômimo agem do mesmo modo. Gritam.
Vociferam. Qual a razão? Simples: precisam ser fakes ou anônimos. São fakes na vida.
São anônimos na vida. Só o Paulo Ghiraldelli lhe dá atenção. Então, tudo que tem sou
eu. E eu de vez em quanto os deleto. Então, mais ainda ficam dependentes de mim.
Dureza heim? E agora? Como viver se eu não lhes der mais atenção?
Paulo Ghiraldelli, 03 maio, 2013

CARO ANÔNIMO FAKE. Eu sei quem você é e tenho as coincidências de IP. Mas não
adianta querer conversar comigo se mantendo anônimo. Não vai obter resposta porque
eu só gasto meu tempo com gente que vale a pena. Quem se esconde, não vale a
pena. E olha que eu dei uma canja heim, respondendo ao menos duas vezes para
seus personagens.

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