Aula “J” – Olho por Olho X Violência só gera Violência – O Caso Brasil
Traremos um debate, a partir desses jargões frequentemente utilizados , sobre as
duas principais narrativas na discussão da segurança pública, abordando suas derivações a partir de projetos e programas, bem como nas disputas pela predominância na segurança. INTRODUÇÃO (2 min) Sejam bem-vindos, amigas e amigos do ICL, me chamo Pedro Chê, sou Policial Civil, sou do Movimento de Policiais antifascismo e estou ministrando para vocês o Curso “Por uma Polícia do Povo”. Bem, essa aqui será a nossa 10 aula de 13 que estão previstas e termos como tema: ““Olho por Olho”&“Violência só gera Violência” – O Caso Brasil”. A gente vai tratar neste aula da cultura de violência que temos enquanto povo, nossas ideias de como enfrentar a questão da criminalidade e de como isto influência nos organismos de segurança pública e na mente, claro, dos operadores, dos policiais das mais diversas instituições. Isso que aqui chamamos de cultura não é algo unitário, não se resumira ao visto nessa aula, mas tentaremos trazer um bom esboço de alguns dos quesitos que fazem termos uma postura tão bélica frente aos nossos conflitos. Como é de costume meu, e achei super bacana, trago sempre algumas colaborações externas e desta vez não será diferente: teremos o Policial e Antifascista Leonel Radde, um cara que orgulha a todos que estão dentro desta militância. Teremos também a contribuição do Danilo Passaro, Ativista Social, membro-dirigente da Gaviões da Fiel, também teremos a conosco o Eduardo Suplicy (que dispensa comentários). PARTE I – Eduardo (13 min/15 min) Quanto as contribuições, gostaria de iniciar justamente pelo Eduardo Suplicy em virtude do mesmo trazer o ponto que está no âmago da discussão, espero que vocês gostem.
(2,5 min)
A partir da contribuição luxuosa do Eduardo, podemos aqui adentrar a um debate sobre
inclusive o nosso projeto de nação. Que hoje em alguma medida se reduz a um faz de conta sobre vivermos numa democracia, sobre termos uma constituição que alcance a todos e sobre termos um Ordenamento Jurídico direcionado ao bem comum. Vejo muitos dos que se dizem de esquerda incorrendo em um erro elementar, acreditam no direito, nas supremas cortes, como ambientes de efetiva mudança social em prol do povo, isso no máximo é um fenômeno circunstancial e que traz uma conta bem salgada mais a frente. Já que a idéia de alguns é buscar uma meta de dignidade legal, me desculpem, esta não existe em nosso modelo sem que você tenha dignidade material, não pelo menos dentro do entendimento que há a partir do pacto social que nos faz convivermos em sociedade, há nisso uma falha ontológica perceptível no ponto de largada, imaginem o que encontraríamos mergulhando nas contradições decorrentes? Me “encerro” nesta provocação a partir da minha humildade frente ao conhecimento que envolve essa discussão, sem me aprofundar mais, o que não me impede de usar esse argumento para passar a demonstrar como está umbilicalmente relacionada a questão da insegurança, da violência difusa, e a conseqüente – sim, conseqüente, resposta truculenta que oferecemos enquanto uma sociedade que visa e busca a desigualdade, e a distinção entre os que deveriam ser tratados como pares. Gary Becker, por exemplo, em seus estudos sobre criminologia nos traz uma perspectiva óbvia, mas que escapa há noventa por cento das discussões sobre violência e criminalidade. Qual? Ora, que para um indivíduo aceitar, ser convencido, se incorporara uma dinâmica criminosa, esta tem que ser muito atrativa – principalmente financeiramente, embora a partir de acréscimo meu, digo, que não só. Ou seja, não é que a questão seja não seja também moral, claro que se refere a família, a subjetividade, e até a como se dá uma relação com a transcendência, claro, mas é inegável a centralidade, o valor, principalmente para aqueles que entendem a criminalidade como um meio de vida, a comparação com o que estaria ao acesso deles numa vida guiada pelos ditames ordinários, o que Becker traz é que esta decisão está muito mais ligada a uma racionalidade, a um calculo por parte do sujeito, do que por uma emoção, ou por safadeza. Dessa forma, unindo esse calculo racional, em adesão a oportunidade (que pode se dar a partir do convite, ou oferta) – medindo o potencial de ganho em comparação a sua mãe, que trabalha mais de 40 horas semanais para ter um salário miserável, é a partir dessa disputa desproporcional que o jovem terá de fazer a sua escolha. Claro que isso não justifica, a maioria inclusive não adere e prefere ter uma vida honesta, mas a adesão que temos é mais do que é suficiente para que tenhamos uma criminalidade difundida em todos os territórios. Talvez alguns de vocês não conheçam a rotina de uma cidade do interior no nordeste, talvez tenham uma visão cândida de que estas sejam parecidas com o que se tinha no auto da compadecida, bem, as drogas, por exemplo, são um componente presente em todas essas cidades, seja a partir dos tarja pretas e o álcool digerindo por dentro as populações mais maduras, seja a partir das drogas ilícitas – popular especialmente entre os mais jovens – e utilizadas até como salários nas atividades mais rústicas, como carvoarias e olarias, ou no extrativismo. . Vou trazer um exemplo excelente, por que ele passa através da criminalidade mais “ostensiva”, mais básica, menos refinada, e ao mesmo tempo convive com aqueles que nunca estão com o flagrante do crime e que mais ganham, mas não romantizemos, não ganham sozinhos e seus associados estão lá por isso. Vamos lá, Um trabalhador ordinário, quando empregado, tem como salário entre 1 e 2 salários mínimos, trabalhando no mínimo 44 horas semanais. Já um membro de uma pequena quadrilha de garotos (até menores de idade), voltada do roubo de veículos sob encomenda, bem esses três, quatro garotos irão receber entre 3 e 5 mil reais pelo roubo de um determinado veículo se o veículo for uma Hilux. Ou seja, retira no mínimo a metade do faturamento de sua mãe, apenas com um roubo, resumidos a talvez duas horas de trabalho. Ele pode querer ganhar mais, e ele pode subir dentro das atividades criminosas, ele pode passar a ser uma “mula”, encaminhando esse mesmo carro para a fronteira, e trazendo em seu lugar cocaína, ou as armas advindas da troca. Por esse trabalho de um dia ou dois, receberá 10 mil reais. Bem, possa ser que nosso amigo não esteja satisfeito e caso tenha 15 mil para investir e os contatos certos no mundo do crime, ele pode faturar nessa operação por baixo, 165 mil, descontados todos os custos, inclusive da venda das drogas, sem nem ter posto a mão nestas. Acha que já fomos longe demais? Nosso rapaz talvez não, e se tiver contatos preciosos em portos, na África e na Europa, ele transforma esses 15 mil inicias, com mais alguns investimentos, em mais de milhão. Esse valor milionário assusta e impressiona, e é uma exceção, mas mesmo o ordinário dentro de uma atividade criminosa no Brasil ganha muito mais do que um trabalhador normal comum. E estou aqui apenas falando da questão financeira, mas não somos só isso e nem só para a subsistência e a necessidade de consumos fazemos uso do dinheiro e novamente o trabalhador ordinário, sofre... Fora seu círculo familiar próximo, e impedido de passos maiores em virtude de sua carestia recursos, essa figura – salvo algum talento especial - não tem destaque algum dentro da comunidade – o trabalho no comércio ou em obras não tem nada de especial – significa quase que apenas falta de opção, já o “nosso guri”, por estar em clara ascensão financeira, poderá tratar – por exemplo – com mimos alguns de seus amigos, também alargará suas redes, como, e normal que em virtude disso passará a ser invejado, pois ele consome coisas que outros não conseguem, fora que, a depende de como ele esteja situado dentro do mundo do crime, podem a ele ser aderidas qualidades e reputação, corajoso, cruel, esperto, malandro, ele poderá ter uma marca e uma personalidade, já o que é o servente de pedreiro, além de ser isso? Quem vai observar se ele é um bom filho, uma pessoa ética? Não chama a atenção. Quem pode fazer frente ao guri, são os casos de exceção, aqueles que pelos estudos ou por alguma habilidade excepcional, conseguem alçar outras coisas, mas grande parte deles serve apenas como uma lembrança de alguém que já passou por lá, raramente morando ainda na mesmo comunidade e em alguns casos, até renegam seu passado. Outra exceção que não trouxe, mas que é mais importante do que pensamos, inclusive na discussão sobre a criminalidade numa comunidade, são aqueles dedicados a religião, mas já estou fugindo demais a nossa aula, até porque isso seria para uma aula chamada “narcopentecostalismo”. E qual a nossa saída para isso? É difícil saber o que é pior, o problema ou as ditas soluções, e uma delas é o Populismo Penal, que o nosso Eduardo aborda em sua fala. O Populismo Penal é uma das fontes de alimentação a violência objeto desta aula, não tenham dúvida disso. Pois o que ele faz como efeito é quebrar os mecanismo de resolutibilidade do problema e em seu lugar entregar algo que apenas reforça a realidade que deveria antagonizar e trazre algum prazer – ao afagar alguns de nossos instintos ocultos. E como funciona esse mecanismo de degradação provocada pelo populismo penal? Bem, qual a idéia central por trás dessa dinâmica social? Que não só o Estado mas também a Sociedade fracassou na busca pela resolução dos problemas, mas como estes entes não tem nada mais a fazer ou apresentar, acabou! O que se poderia fazer, e nem falo em saída, é conseguir um maior nível de punibilidade às transgressões na esperança que isso seja capaz de mudar algo, em alguma medida, tornando a realidade mais suportável, e senão der certo, que pelo menos sirva como uma espécie de vingança frente aquilo que não pode ser remediado, e claro, isso funcionando como uma resposta social. O populismo penal trazido pelo eduardo é nada mais, nada menos do que uma desistência por parte da sociedade, quanto as suas capacidades de auto-gestão e também da capacidade de sua abstração – o Estado, servindo apenas, para aplacar nossos instintos mais básicos, a ideia de que algo está acontecendo, que não há impunidade – “sempre”. Só que a partir da falência e ausência do Estado, é certa a impunida. E o cachorro morde o próprio rabo e nem nota.
PARTE I (15 min/30 min)
A gente encerra essa primeira parte, dando sequência a gente traz como elemento introdutório ao próximo ponto, o Policial Antfascista, Deputado Estadual e amigo, Leonel Radde: (5 min) O Leonel ele traz uma perspectiva bem interessante, claro, ele nos remete um pouco a como as estruturas particulares das instituições podem ser danosas, provocadores e difusoras de violência, abusos e assédios. O Leonel infelizmente não faz mais parte do nosso movimento, e isso não significa demérito, que fique claro, o trabalho que ele faz é magnífico, mas por que fiz esse aparte? Por que ele, dentro ou fora, trouxe o cerne da luta do movimento, que fala de dentro, de problemas ocultos a grande maioria e que causam danos terríveis a toda a sociedade de forma silenciosa. Eu sou meio professor Pardal, e fico de invencionices, mas vou ficar de olho para quem sabe “patentear” isso aqui. É muito utilizado o conceito de militarização, para expressar um processo de aculturação por parte de entidades estranhadas e esta modulação, mas que em virtude de certas dinâmicas, assumem valores, estéticas, fins em alguns casos, como é o caso das Escolas Cívico- Militares, só para falar de um exemplo de fora da segurança pública. No oposto, digamos, se aponta para uma desmilitarização. Entendo em esse processo, em sua primeira parte, como de hiper-militarização, quando o objeto de análise está dentro – especialmente – da segurança pública no Brasil, e ela ocorre em todas as instituições policiais. Mas eu ainda vou elaborar esse conceito e apresentá-lo adequadamente, vou poupar vocês disso. Nos temos no Brasil instituições que são de fato e de direito militares e que operam na segurança pública diretamente, casos da PM em especial, e do Corpo de Bombeiros Militar, de forma subsidiária, bem subsidiária. Inclusive galera, há estamos em que as duas respondiam ao mesmo comando, sem lógica nenhuma. Todas as outras instituições policiais no Brasil são civis, pelo menos no papel, e no seu próprio ordenamento, mas quando vamos para as práticas, costumes, cultural, não é bem assim, como vocês verão a frente, até para podermos começar pela PM, que é o caso mais prodigioso nesse sentido. A sua modelagem se encontra definida desde a ditadura militar, quando suplantaram as Guardas Civis que faziam o trabalho ostensivo nas ruas, naquele momento as polícias militares não operavam no que chamamos de patrulhamento, era um corpo destinado para a Manutenção da Ordem Pública e não para o enfrentamento do crime, ou prevenção. Essa modelagem, de polícias também militares, não é algo que só existe no Brasil, nunca cai em campo para verificar, mas dizem que há cerca de 70 polícias militares pelo mundo, tem duas inclusive que são bem conhecidas, os Carabineiros do Chile e a Gerdamarey francesa, se não nos exatos moldes, não há como não dizer que não são militares. Só que especialmente aqui nós temos algumas complicações especiais que fazem com que essa modelagem exótica seja problemática, para falar o mínimo. Primeiro, no Brasil tivemos uma Ditadura Militar, que atentou contra o seu próprio povo sistematicamente do uso de suas instituições, uma delas sendo a Polícia Militar. Se já não bastasse isso, no pós-ditadura não ocorreram desdobramentos para aqueles que participaram de ações ilegais e nem as instituições que participaram sofreram qualquer tipo de remodelação, ou seja, as lideranças, responsáveis e colaboradores com os abusos, violências e mortes, permaneceram exatamente onde estavam. Esse é um ponto, ou seja, nos permitimos que aqueles que malversaram as instituições, e essa limpa não era para ter ocorrido só na PM, para ser bem claro, as Polícias Judiciárias tiveram um papel até pior do que a PM, que fique claro. Mas, bem, não faltou gente nessas instituições todas que tiveram essas práticas, foram violentos, abusadores e sequer destituídos de suas funções, muito pelo contrário, continuaram na liderança muitas vezes e a replicar o ideário comum no período de exceção. Esse é o primeiro problema. Já o segundo se dá pelo fato de nossas forças militares, a partir da Escola Superior de Guerra, seguiram regiamente a chamada Doutrina de Segurança Nacional, importada dos EUA, onde estas reconhecem, entre as suas ações estratégicas, a contenção e eliminação dos agentes considerados inimigos internos, não é a toa que se usa ainda tanto o termo “guerra”, “combate” por parte de Secretários e Comandantes de Polícia, muita gente da alta burocracia passa o pano para isso, mas essa é a visão deles. Essa ideia de enfrentamento, que um germe social, mas reforçadas em todas as etapas, quando adentram no respeitos cursos de formação – por exemplo – e durante a carreira, tanto vivo nos gabinetes, salas com ar-condicionado e festividades corporativas, como na viatura que está na periferia. Só que, temos que pontuar, deixar claro o óbvio que se sabe quando se estudam os conceitos da segurança pública, a atividade policial ela é civil em suas características, completamente civil, e a militarização dessa, é, enquanto perpectiva, como eu diria, algo desnaturado. Fosse esse o único conceito negativo do militarismo vivido por nossa segurança pública, a ideia do inimigo interno - estaríamos até no lucro, mas isso fica para uma sequência do curso, estou como Coordenador – inclusive – junto ao Instituto Latino Americano de Estudos Sócio Econômicos – o ILAESE – elaborando um grande estudo sobre a Desmilitaização – ou seria Hipo-Militarização – brincadeira minha, mas esse estudo conta com mais de 20 colaboradores entre policiais e acadêmicos. Então poderia falar muito sobre isso, mas ai fica para um próximo curso, vamos torcer. Mas voltando, falando resumidamente, também as instituições não militares estão expostas – digamos – a esta hiper-militarização. Se vocês saírem da aula e fizerem um exercício bem básico que vou passara para vocês, isso ficará mais consolidado do que qualquer palavra minha, por que isso grita. Tirando propagadas relativas ao dia 08 de março, ou o dia das mães, vejam a publicidade de governos, sindicatos e associações relativos aos policiais, mesmo os não militares, 95% das vezes o perfil do policial exposto será o que se chama de “policial operacional”. Não que a operacionalidade seja um atributo militar na segurança pública, aliás esta é uma parte própria as forças de segurança desde a sua origem, mas a caracterização exposta sistematicamente não guarda relação com a grande parte do serviço realizado inclusive por essas polícias, algumas delas cartorárias, outras preventivas, há também aquelas de serviço administrativo relativo ao patrulhamento de rodovias, ou a manutenção do sistema prisional, mas é incrível como todas parecem a mesma coisa só que com fardas e distintivos diferentes. Na verdade isso não passa de um arquétipo, um perfil, de que o policial ideal é um soldado, um soldado que está numa guerra contra o crime, e tem que estar condizente a isso, e mesmo aqueles que não façam parte disso, que tenham o talento, que não tenham o perfil, eles tem de valorizar, e eles tem que ter esses personagens como referência, e estes serão os valorizados e o que serão seguidos pelas novas turmas que entrarem. Como último ponto o Leonel aborda o tema estrutura das carreiras policiais no Brasil, e o que parece um assunto interno, chato, burocrático, tem um grito emudecido que se liberto seria muito mais alto do que alguns lugares comuns nos debates, como o controle da atividade policial e a formação, para vocês terem ideia da necessidade de se discutir esse tema. Ele subsidia, por parte das instituições, mais do que o militares para a violência interna e, portanto, externa, fazendo de muitas polícias ambientes comuns de assédio, injustiça, o que vai para as ruas. E nós temos no Brasil algumas das Estruturas de Carreira das mais verticiais no mundo, possivelmente, nunca me apresentaram algo tão verticalizado quando a nossa, nem para rebater.. E dessa forma está muito correto o Leonel em trazer esses pontos, eles realmente têm contundência frente ao que ocorre especial dentro das polícias. PARTE II (13 min/ 43 min) (5 min) O Danilo está certo, diria mais, há uma ode a violência por nossa parte, e quando falo nossa parte, falo do que está presente dentro do que se entente como povo brasileiro, e por mais que tenhamos opiniões diferentes, plurais, mas fazemos sim parte de algo que hoje advoga pela violência contra o seu próprio povo. Já falei aqui para vocês outras vezes, mas vale o reforço, pesquisa em 2015, Datafolha, quando perguntadas, 50% das pessoas concordaram com a frase “bandido bom é bandido morto”. E o que significa isso? Bem, muitas coisas, uma delas é que há um apoio tácito a violência policial. Não como fugir desse raciocínio nem com muita boa vontade. “Ah, não é para a polícia sair matando, só ladrões, estupradores e etc”, isso não existe, quando você outorga, apoia, seja lá qual a palavra, que alguém vire um delinquente, você não pode por termos a isso, seja só um delinquente quando a situação foi x, mas não quando y. Isso ou é um pensamento de extrema inocência, preguiçoso, ou coisa bem pior. Quem comete esses atos, se arrisca de muitas formas, pode ser pego, pode ser punido, pode ser morto ou sua família pode acabar sendo até alvo de alguma vingança. Também há custos e logísticas necessária nessa operação. O Justiceiro por ideologia se torna, cedo ou tarde, um mercador da morte, ou será caçado e morto por outro, naturalmente você terá que se tornar um peixe maior para se proteger. Aliás, temos que ir mais fundo, é entretenimento. A barbaridade tem função social, traz gozo. Vamos, lá, quando acontece um crime bárbaro, nos consternamos, ficamos na sequência indignados a espera de uma resposta. E quanto esta vem, surge o nosso gozo, principalmente quando o criminoso é morto, ai é a apoteose, e voltamos a nossa normalidade entendendo que estamos mais seguros, que não teremos que conviver socialmente com tal elemento, a violência não é apenas uma estética, uma futilidade, ela tem lugar e função social hoje, e bem importante para a opinião pública, para os eleitores e para os governantes, seja de que campo ideológico forem. Eu não saberia precisar de quanto começa, 1500? Mas o certo é que o culto a violência ele tem momentos cíclicos durante a análise da Segurança Pública, e do trabalho da polícia e estamos agora num momento ápice, acho que desde os anos 60, e seus esquadrões da morte, não temos uma guinada tão forte. Vivemos numa falsa guerra, pois o conceito não pode ser empregado de forma adequada, quem são os dois lados em oposição? Estado e Crime? Nunca, o crime em seus patamares mais altos vive dos espaços e das proibições estatais, e no seu âmbito mais humilde, realiza seus atos em prol de sua sobrevivência e realização de pequenos desejos materiais. O Estado? Ele é soberano, o que mais ele poderia buscar? Onde ele está sendo ameaçado, efetivamente? Que projeto seu está sendo repelido, materialmente? Não há lados de mesma qualidade, espécie, designos para que tenhamos uma guerra, mas temos números de guerra e muitas mortes. Os um pouco mais de 40 mil mortes ao ano fazem o Brasil ser um dos três países mais violentos do mundo, desses 5 mil promovidos diretamente pelo próprio Estado, a partir de ações policiais. A nossa forma de relacionamento é esta, uma guerra sem propósito (em tese) e sem ter o para quê. Em tese, ela faz parte de uma estratégia de controle social que corre no automático. Acho que – embora – não seja simpático a maioria dos secretários de segurança que já conheci, bem o contrário, mas não acredito que nenhum deles pensa em manter a ordem capitalista de extrema desigualdade, tendo como viés uma construção histórica e racial de nosso povo. Não acho que há condições de leitura para isso, mas todos concordam com o que está posto, com a ideia de combate e de guerra. E isso a partir de uma escolha básica, o medo é muito menos trabalhoso e barato do que o respeito. Há quem respeite a polícia? Sem dúvida alguma, inclusive nas áreas mais pobres. Essa ideia de que a periferia é “contra a polícia” é de um romantismo cego por parte da esquerda, você pode ter um maior descontentamento, mas não é em qualidade e resultados diferente do que você terá num bairro de classe média, ou num bairro de elite, os números são até em alguma medida flexíveis, mas não uma mudança de relacionamento, para isso seria necessária uma politização em massa que não temos hoje. Mas bem, o Estado, as Gestões, escolhem o medo, a dureza, a rigidez, e não programas de inclusão, solidariedade e comunhão com as comunidades. Mas isso produz – por óbvio – efeitos adversos – um deles é a falta de confiança na polícia, mais de 80% da população tem medo de sofrer alguma tortura caso seja preso/detido pela polícia, ponto o Brasil em primeiro lugar numa pesquisa feita sobre o assunto. Como é uma polícia afeita, que convive bem com torturas, ou seja, ilegalidades, também se torna uma polícia pouco confiável, pouco ligada a lei e então alvo de desconfiança. Quem discordar dessa análise, gostaria que com sinceridade respondesse algo para si próprio, imaginem que seu filho ou filha seja abordado por uma viatura às 00:00, num bairro periférico, seria algo tranquilo para você quanto ao resultado? Tudo nos conformes? Você tem certeza que a chance de tudo correr dentro da legalidade é altíssima? Cada cabeça é um mundo, reconheço. Um outro resultado, é a raiva, e dai vem as facções criminosas, que oprimidas desde a viatura até os presídios, usaram dessa violência para se reafirmarem e tornarem mais lucrativos os seus negócios. Assistam alguns vídeos de prisões, principalmente no sudeste e sul do país, e em alguns casos vocês poderão ver uma postura revoltada, digamos assim, por parte dos presos, não é só a questão de estarem presos, principalmente se forem faccionados, terão um ódio visceral a um Estado que eles só compreendem quando fardado, mas odeiam mesmo assim. Conclusão (2min / 45 min) Policiais são bandidos criminosos