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-Diálogo Sobre Moral e Ética(1998)-

Prof. Olavo de Carvalho e Frei Carlos Josaphat

3*BLOCO:
-E quando se fala da ingenuidade do povo, “o povo não sabe votar” e a ação da
mídia em tudo isso ?
“Eu não acho que o povo não sabe votar, a elite não sabe votar e eu mesmo não
sei votar, eu acho na verdade que votar é quase impossível, é só você ver a lista de
candidatos e ver o tempo que você tem para se informar sobre cada um, eu mesmo
todas as vezes que votei na minha vida eu confesso que eu votei quase no escuro,
eu votei muitas vezes no doutor Ulisses Guimarães quando ele era vivo, porque
parecia uma bela figura, depois eu fui estudar a biografia dele, era um negócio
horroroso, bem, agora é tarde já votei, essa coisa de dizer que o outro não sabe
voltar é quem não tem pecado atire a primeira pedra. A mídia representa a pressão
de uma maior opinião política uniforme, que vai moldando as opiniões dos
indivíduos, é claro que nesse sentido eu não acredito de maneira nenhuma nem em
liberdade crescente e autonomia da opinião, muito menos entre os jovens, quando
um jovem se rebela para seu pai e sua mãe, ele se rebela contra 2, com o apoio de
2.000, que são seus colegas de escola, quer dizer, ele se entrega numa massa, a
qual ele faz tudo, todos os sacrifícios para ser aceito e depois ele se rebela contra 2
pobres coitados que ficaram em casa e acha que ele é o grande herói da rebeldia,
não, na verdade ele é um conformista, aderindo a opinião da massa, ele seria
corajoso se no meio desses 2.000, ele disse-se, olha quem tem razão é o meu pai e
a minha mãe. Então o que é uma participação maior na opinião das pessoas da
mesma idade, uma massa uniforme não só nas opiniões, mas também nos
sentimentos, é para essa massa que a mídia fala, e é na opinião dela que nos
moldamos, a autonomia não consiste em ser conformista nem em ser rebelde,
autonomia consiste em ser conformista ou rebelde conforme as coisas ao seu ver
estejam certas ou estejam erradas, se você acha que a autoridade tem mesmo
razão eu a obedeço e se acho que está errado eu me rebelo, a rebeldia,
conformismo e autonomia não é um valor em si, quando as pessoas imaginam que
elas estão ficando autónomas, elas simplesmente estão ficando mais rebeldes
contra a autoridade mais fraca e obedecendo a mais forte” Prof.

-Fala-se demais que a televisão distorce valores da sociedade, que ela prega o
consumismo, como é que é isso na sua visão ?:
“A 40 anos eu venho estudando algo chamado ética da mídia ou a ética da
comunicação social, eu considero que a mídia, a televisão o ponto mais quente da
mídia ( lembre 1998, foi o ano dessa conversa), eu considero a mídia como sendo
um sistema, no sentido positivo do termo, um sistema de produção, vendida ao
telespectador ou consumidores, e sendo uma mercadoria psicológica, ela
transforma, isso quer dizer que a economia moderna ela cria o consumidor, ou seja,
nós saímos e compramos o que vai sendo produzido e vai moldando o consumidor
para desejar aquilo, e a um vai e vem, de modo que o consumidor é causa e efeito,
a uma circularidade no sistema, se transportamos isso para a mídia, para a
televisão, a televisão não pode sobreviver sem nós, seus consumidores, e por outro
lado ela nos dá tudo aquilo que é necessário para criar esse consumidor, segundo a
lei da facilidade, para criar grandes números, cada vez mais gente que aprecia
esse tipo de televisão, se costuma dizer, "aqui no Brasil umas 12 famílias detém a
mídia”, eu não me interesso tanto na descrição de quem detém, de quem não
detém, é um modo, é esse o modo sistemático que faz com que em qualquer cidade
do Brasil, a Paris, Madrid e Milão, se veja o mesmo jeito de se vestir, que dizer que
elas são todas personalizadamente iguais, são da moda personalizada, mas
estamos diante de uma situação, que eu acho que não é uma situação perdida,
porque uma vez que a gente toma consciência e começa a cobrar, aí imediatamente
a televisão reage, 50 mil pessoas se manifestando sobre um programa da globo,
em uma manhã é algo realmente para se ficar de olho. Bem a gente pode dizer que
estamos no começo de uma tomada de consciência que somos manipulados, isso
então é um primeiro passo para uma ética da comunicação social, eu acho que é
possível, mas no momento podemos dizer que estamos numa primeira etapa , mas
de fato na atualidade é uma catástrofe(exemplo de próximo passo é a Brasil
Paralelo) " Frei

-Publicidade é algo moral ? Seduzir para comprar um produto.


“Qualquer sujeito que esteja disposto a argumentar em favor de coisas que ele não
acredita, a persuadir os outros a acreditar naquilo que ele próprio não acredita, ele
está violando os princípios básicos da moral, que seria a sinceridade, a sinceridade
significa o sujeito ser autor dos seus atos, reconhecer que é autor e dizer como o
ex-presidente José Carlos “filo porque quilo”, mas eu acho que a estrutura da
profissão, não só publicitária mas jornalística também, tem algo de errado ali no
meio, não sei bem o que, mais que tem um fundo de falsidade que não depende das
intenções dos indivíduos, mas o modo operante da coisa é meio errada, ele produz
fenômenos esquisitos como a moda, eu acho que não há coisa mais mentirosa,
mais ridícula no mundo do que a moda, é uma espécie de compensação pela
deselegância crônica no mundo burguês, que inaugurou esse tipo de traje (smoke)
que é uniforme, até uma vez o Roberto Campos no aniversário dele de smoke disse,
“Olha só que coisa um ministro de estado no auge da sua elegância, fica igual a um
garçom”, isso é o máximo que nós chegamos, se você pegar um burguês moderno
mais elegante e compará-lo com um sargento do exército de Napoleão, o sargento
ganha, a elegância brasileira não existe mais no mundo burguês , e essa nossa
obsessão é uma espécie de compensação, nós queremos queremos ficar bonitos,
mas não ficaremos jamais” - Prof.

“Eu gostaria de entrar por outra porta, e distinguir claramente o valor da informação
económica e a falha da publicidade, nós pensaríamos hoje de fato temos muita
informação econômica, você vai comprar um carro, de uma maneira inteligente que
esse carro seja apresentado, com todos as suas vantagens, as qualidades,
apresentadas inteligentemente, com vivacidade , informação econômica, agora,
você pega um carro qualquer, e chega “esse carro é maravilhoso” com uma mulher
ali fazendo alguma coisa, quer dizer,a publicidade ela quer seduzir na base do quem
vem a ser a psicologia do reflexo condicionado, fazer salivar o cachorrinho e depois
então mudar o objeto para ver se a gente consegue que ele toque a campainha e
começa a salivar, então esse processo de condicionamento de reflexos é uma das
bases, e a outra base da publicidade é uma má exploração da psicanálise, então eu
tenho falado isso a publicitários do mundo inteiro, que dizem que não sabem se dá
certo, o certo é que com o sistema que aí está, quem não fizer publicidade está
perdido, então a publicidade me parece em termos de informação, um pecado
enorme, ou seja, o contrário da informação, que não dá a pessoa os dados para
fazer um bom negócio, e então nesse caso eu acho que uma das nossas atitudes
como consumidor seria dizer, “fazendo publicidade eu não compro, me explique o
que é isso mesmo, me de uma boa informação econômica”, isso é o ideal, na Suíça
as consumidoras suíças, elas chegam e exigem informação para comprar, é um
ferro elétrico, então quais são as qualidades desse ferro elétrico:resistência,
durabilidade, o preço etc. Não adianta colocar uma figura de uma mulher passando
roupa. É possível fazer isso, temos que levar em conta a seriedade das
consumidoras e dar a informação económica, invés de prodigalizar a publicidade” -
Frei

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