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RESUMO COM COMENTÁRIOS

Infocracia, Digitalização e a crise da democracia

Carlos Vinícius Rêgo Souza, graduando em Filosofia Bacharelado pelo


Instituto Agostiniano de Filosofia

1. REFERÊNCIAS

HAN, Byung-Chul, Infocracia, digitalização e a crise da democracia

2. RESUMO

2.1. Regime da informação

O regime da informação é o controle das ações sociais através de algoritmos e


inteligência artificial. Isso significa dizer que a economia, comunicação, estudo e
pensamentos são manipulados através de uma pequena indústria. Nesse viés, é
notório que a manipulação está no que é visualizado e no que postado em qualquer
rede social. Dessa forma, a dominação desses dados é nada mais que um capitalismo
da informação, pois vende conteúdo através do pensamento enviesado dos usuários.
Em contraposição, o regime disciplinar é a forma como o usuário será moldado
para que consuma cada vez mais dados. Nesse contexto, é observável tal
problemática no Brasil – indústria de massa que produz música e ideologia de acordo
com o que é requerido no momento. Isso é observável com as coreografias que o tik
tok propaga em sua plataforma. Essa cultura de massa cria pessoas que preferem
entregar-se ao que é sentimental e ao ego do que pessoas que se interessam por
conhecimento lógico e racional. Desse modo, os consumidores de vídeos apelativos
à nudez corporal e teatral são “misteriosamente” – entenda como ironia, leitor –
captados e presos ao que se conhecesse por regime da informação.
Além disso, há a produção de novos modos de pensar, como é o caso da
indústria corporal que se encaixa no regime disciplinar. Isso significa que, o
comportamento é moldado de acordo com as curvas que são elevadas ao vulgar
através de microbiquinis, e ainda, nas ideologias de gêneros. Tal afirmação é
confirmada ao observar-se o modo como funciona a criptografia do instagram –
utilizam a idade, a localização e as preferências particulares de cada pessoa para
exibir publicações que prendam a atenção do usuário, fazendo com que assim, ele
consuma mais dados e informação. Portanto, é fato que a alienação midiática, muito
bem mascarada, vai aos poucos configura o homem numa máquina que enriquece
cada vez mais a indústria da informação.
Em similar pensamento, estão as pseudociências que se propagam com a
facilidade de um click seja por celular ou por notebook. Esse tipo de informação
também faz parte do conjunto de sensacionalismo que impera nas redes sociais.
Ligados a isso, estão canais de youtubers e podcasts que produzem nada além de
conteúdos vazios que não alimentam o intelecto que busca a sabedoria verdadeira. E
justo essa busca da verdade, inerente ao homem, que o ludibria, pois, ao encontrar
felicidade em coisas rasas como vídeos libertinos. Em suma, é dessa libertinagem
exacerbada e daquele sofismo que sobrevive a grande indústria da informação.
Somando tudo isso, há a ilusão de liberdade e criatividade, visto que eu posso
postar e assistir ao que quiser. Entretanto, é o contrário que ocorre. Para entender
esse contraste, é válido notar que a submissão aos aplicativos não se demonstra tão
fortemente a primeira vista, porque tem-se a falsa impressão de autonomia quanto ao
conteúdo postado e adquirido. Exemplificando, estão presentes as coreografias de tik
tok que se tornaram populares não somente no Brasil, mas mundialmente de acordo
com cada cultura. Esse recurso, o aplicativo, na verdade molda as ações do homem
a partir do primeiro contato, haja vista que o divertimento se transforma em controle
de emoções e ações. Então, tudo passa a referenciar-se ao tik tok. Estar na escola,
deixa de ser uma oportunidade de crescer profissionalmente e intelectualmente, e
passa a ser a chance de gravar um vídeo em um ambiente diferente do habitual – seja
com coreografias, seja com study vlogs, seja com brincadeiras de mal gosto que
obtém caráter de piada. Assim, aos poucos, o excesso de dados manipula o dia a dia
da massa transfigurando-a em enviesada e ignorante.
Além disso, a visibilidade que produz sim conexão, mas também produz expõe
suas ações e pensamento. E ao lado disso, andam a cultura do cancelamento e as
ideologias que surgem diante um povo sem instrução. Desse modo, o que estava
mascarado como liberdade se mostra como realmente é – a vigilância. Demonstrando,
são as falas políticas que ultrapassam o verdadeiro conceito. Ao colocar a face à
mostra e obter seguidores, o candidato ou funcionário crê que estão todos o apoiando,
e assim, podendo, ele, falar o que achar melhor. Porém, muitas vezes são construídos
pensamentos que agridem as leis e direitos humanos. E o resultado,
consequentemente, é o cancelamento, inclusivo, através aqueles que antes o
apoiavam. Logo, é visto que as palavras são livres, mas há consequência para aquele
que diz o que quiser.
Byung-Chul Chan ao finalizar esse capítulo, compara a zona digital da
comunicação à prisões que não permitem o livre raciocínio e a livre ação, mas sim o
controle por aqueles que imperam na indústria da informação e do regime
informacional. Os exemplos oferecidos são os youtubers, com citados anteriormente,
que ao opinarem e conquistarem os mais débeis de saber, tornam-se os novos guias
da massa. Assim, os consumidores – de conteúdos de fácil acesso, mas de pouco
conhecimento intelectual – “dançam conforme a música” que seu ídolo midiático ditar,
como acontece com críticos políticos e religiosos que disseminam fake news “à torto
e à direita”.

2.2. Infocracia

Nesse capítulo, o autor aborda sobre o governo da informação: as


consequências e desafios que produz. Para tal, são usados os recursos do regime de
informação. Nele, tudo deve estar disponível no formato de dados, como afirma o
próprio Byung-Chul Chan. Dessa maneira, como visa o capítulo anterior as pessoas
não são livres, mas quem possui autonomia são as informações que as dominam.
Nesse contexto, indústria da informação é responsável pela decadência do que se
conhece por democracia, pois o usuário é transfigurado em mero consumidor.
Nessa mesma dimensão, há a ruína do livre pensar, transformando a
democracia numa tirania da informação. Assim, como afirma o crítico Neil Postman,
em Divertindo-nos até morrer, o filosofar do homem se configura em presa fácil para
a alienação, permitindo, portanto, que ele se converta em marionete de qualquer
sistema de controle, como é o caso da infocracia – governo da informação. Desse
modo, a realidade passa desapercebida aos olhos da população que já não acreditam
nem na própria sombra, mas somente nas teorias conspiratórias e sensacionalistas
que ouvem e leem através do excesso de consumo de dados.
Ainda, é notório, pois, que para convencer os mais vulneráveis, os sofistas
contemporâneos utilizam na nova retórica – a teatrocracia. Ilustrando esse raciocínio,
é observável que, no próprio Brasil, encontram-se esse tipo de farsantes, como é o
caso daqueles que vendem fórmulas rápidas para a resolução de problemas pessoas
– os coaches. Nesse contexto, existem inúmeras propagandas que são visualizadas
no Youtube, onde os locutores prometem, por exemplo, acabar com a crise financeira
particular, ler mais de 7 livros por semana e, ainda, investir em um site de ações se
tornar rico do dia para a noite. Esses, é claro, são métodos ilusórios, haja vista que,
se fosse possível alcançar os sonhos mais mirabolantes em um “piscar de olhos”, já
não haveria crise, fome e miséria em nenhum lugar do mundo. Destarte, pois, que não
somente a política, mas também os próprios canais de entreterimentos são perigosos
aos receptores, porque os tornam passíveis de falsas promessas que nunca se
cumprirão.
Somado a isso, há a redução do nosso bem mais precioso – o tempo – em uma
mero commodite para a infocracia que coloniza nossa mente. O que ocorreu com os
nativos brasileiros, no século XV, é pertinente na era da Indústria 4.0 (quatro ponto
zero): roubo das riquezas e escravização ou transmutação de cultura. Isso significa
que, o homem com sua capacidade intelectual perde a autonomia de si mesmo,
direcionando o seu tempo para o consumo e produção de dados, os quais nenhum
valor possuem, fazendo do regime da informação o único beneficiado da história.
O homem que era político se transforma em consumidor de falsos discursos. O
jovem que era investigador e ativo esportivamente, submete-se ao pensamento
comum e à ociosidade. A criança que era inocente e protegida, agora, é alvo da
sexualidade e de ideologias propagadas pelas mídias. Essas afirmações são
verificadas, novamente em solo nacional, com os contrastes entre discursos de
campanha e falas dentro do próprio partido, entre a adolescência que perece às mãos
da depressão e da bandidagem ao passo que a infância é atingida com o kit gay e
com vídeos sobre ódio e terror em canais do Youtube. Desse modo, é notório que
aquelas mazelas que mais atingem a sociedade contemporânea, multiplicaram-se
com o advento da tecnologia que muito interrompe o raciocinar por conta própria.
Ressalta-se ainda, os pop-ups ou dark ads que manipulam os gostos e
investigam as preferências dos usuários sorrateiramente. Para validar esse
argumento, nota-se o modelo de criptografia que o Instagram utiliza – coletar dados
através do preenchimento de fichas pessoais, likes ou following que são criados pela
ação própria do usuário. Nesse sentido, não há roubo ou união iliegal de informações
baseadas nos perfis e contas, mas o consentimento próprio de cada pessoa ao
compartilhar tais informações. Desse modo, o que a Infocracia executa, embora,
desagradável, é legalmente aceito, já que é o uso daquilo que é dado a ela.
Destarte, pois, que os consumidores de dados que acreditam estar livres de
qualquer ideologia ou de alienação, na verdade, inconscientemente, são alvos fáceis
desses vilões. Isso significa que, no governo da informação, a democracia está em
perigo, visto que, tudo o que é produzido por aqueles tem a finalidade de desestruturar
toda a capacidade racional do homem, tornando-o, desse modo, manipulável. Assim,
o “homem que sabe que sabe” transfigura-se em mera máquina de consumo.

2.3. O fim da ação comunicativa

A comunicação possui a finalidade de integrar, unir e democratizar as pessoas,


para que, desse modo, possam acessar o todo conhecimento possível e como opinar
respeitando os direitos do ser humano. Porém, a introdução de smartphones e
softwares com facilidade sem a coação da educação e alfabetização nos meios de
comunicação, são um perigo aos mais vulneráveis desses artífices. Desse modo, a
globalização, mesmo que democratize o acesso, torna o homem escravo do sistema.
Assim, são criados errantes que nunca acertam um caminho de pensamento
e de vida. São somente pessoas que não sabe o que querem da vida e não sabem o
que ocorre ao seu redor. O consumo e a comunicação não os tornaram emancipados
– com direito de fazer o que quiserem – mas os escravizou através de ideologias
propagadas pela grande indústria da infocracia. Portanto, como afirma Byung-Chul
Han a rede de comunicação não cria condições proprícias para o público de fato se
expressar e pensar por si, mas perder autonomia de sua própria racionalidade.
É notório que, para surgir o diálogo – troca de informações – é necessário que
os dois lados forneçam, mais do que tudo, frases de caráter interrogativo, e não um
monólogo de opiniões. Enuncia-se, então, que não há a escuta do próximo, somente
julgamentos e imposição de pensamentos. Dessa maneira, a democracia é ameaçada
pela falta de empatia. Cria-se o narcisismo e atomização – tudo gira em torno de algo
– das opiniões alheias. Surgem, então, as falsas verdades que se tornam verdades
depois de tanto serem afirmadas aos desprovidos de conhecimento.
Portanto, o que ocorre é a falha no método de comunicação. Por certo, não
dúvidas que, os meios de comunicação não proporcionam o terreno para o real
diálogo, mas somente a absorção de opiniões – doxas com chama a filosofia. Logo, o
“discurso infocrático” é um tiro no próprio pé para aquele que absorve as informações
sem meditar ou filosofar o que foi expresso.

2.4. Racionalidade digital

O excesso de informação faz com que o raciocínio do homem se configure


numa bagunça de palavras e conceitos. Isso provoca uma crença somente naquilo
que se quer ver, ou seja, o senso comum – a racionalidade limitada. Nesse contexto,
é verificável que Arendt e Habermas, como apontado no capítulo “Racionalidade
digital” do livro em análise, erraram ao crer que a disponibilidade em grande escala
de conhecimento seria um avanço social. O problema disso é que o discurso perde o
caráter dialogal para se fixar somente pela introdução de dados.
É fato que todo esse contexto é traduzido como Big Data – mega-dados. E
mesmo que ocorra a disponibilidade de muita informação, é fato que isso não leva ao
conhecimento, pois não permite o discurso – o diálogo – mas somente um sofismo de
de conceitos que nada produzem de novo. É exatamente esse o processo da indústria
de cultural: impor ideologias e opiniões através da cultura de massa para que o ser
humano perca sua razão, e somente produza, enriquecendo, assim, a infocracia.
Destarte, pois, que a Big Data é a união de todas as informações que são expressas
através do regime da informação.
Além disso, o mecanismo utilizado na racionalidade digital são os algoritmos
que “scanneam” tudo o que acontece no mundo digital: dados, informações pessoas,
ações, números etc. Esses códigos ainda são capazes de formular argumentos – pré
configurados pelo homem – que produzem um raciocínio que não produz real
conhecimento, como o chat gpt. Tal nova ferramenta tem capacidade de unir
informações já existentes formulando assim respostas para as questões propostas.
Mas, o problema disso, é que funciona como um aluno que somente decorou o
conteúdo da prova. Ou seja, não há produção de conhecimento, o raciocínio de fato é
“deixado de lado”. Desse modo, não há sustentação de argumentação ou validade, e
sim, um demasiado e denso processo maquinal.
2.5. A crise da verdade

A verdade é una, boa, bela e justa e muito procurada pela razão – ciências
empíricas e filosofia. Entretanto, com o advento da industrialização, a verdade ganhou
apelido de relativa com alguns emissores de opinião que ganharam título de filósofos
por pessoas que se encantam com a retórica, como por exemplo, Nietzsche. Somado
a isso, ideologias pós-Revolução Russa foram tomando conta das mentes mais
pobres através de falsas promessas e carisma que só serviram de máscaras para
elevar o “ópio da sociedade” ao poder, o chamado ateísmo.
Mas ora, por que “ópio da sociedade”? A resposta é simples, a partir do
momento que se retira a Metafísica do pensar filosófico, consequentemente, abre-se
espaço para o relativismo. As descrenças em algo maior do que o homem possibilitam
que o mesmo faça o que bem entender sem necessidade de prestar contas por seus
atos. Além disso, aumenta o campo comercial, haja vista que tudo o que é anti-ético
e muito querido pela carne humana se torna alvo do capitalismo. Isso é comprovado
novamente no Brasil, onde o vulgar e a violência são romantizados por todos os meios
de comunicação. Desse modo, a arrogância do homem de se tornar independente de
um ser supremo, o leva à ruína.
Assim, é válido que ideologias impedem o livre pensamento da população.
Ideias mirabolantes são impostas na mente dos alienados, além disso, essas mentiras
depois de tanto repetidas convencem a até mesmo aos que as criaram. Desse modo,
os fatos já não são enxergados com olhos que procuram os encaixar na realidade,
mas com uma visão de descrença de tudo aquilo que é observável e até imaginável.
Então, tudo obtém tangibilidade com o relativismo. As crenças culturais são postas de
lado, os saberes científicos ignorados e a Unidade Suprema excluída de qualquer
cogitação de existência. Logo, tudo é configurado como mera possibilidade de
existência, tudo ocorre por acaso, ou seja, nada advém da Vontade do Bem, como
pensava Aristóteles – o pai da Metafísica –, mas sim do mero acaso e “talvez” nem
isso.

2.6. Conclusão

O relativismo é nada mais do que um câncer na sociedade que possui cura. E


para que isso ocorra, o remédio – a filosofia – precisa de perguntas e não de
aceitações para evitar diálogos ou raso raciocínio. Isso indaga que a Infocracia nada
mais é do que um “golpe de finalização” que possui contra-ataque, mas para tal é
necessário estudo e prática. Isso confirma que a melhor ocupação é com livros, de
preferência, livros que envolvem a Metafísica sem preconceitos ou desencontros com
o que os filósofos clássicos definiram. Desse modo, somente com a educação acima
de qualquer prioridade, o mundo se libertará da escravidão tecnológica.

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