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Aula “I” – Quem controla Aqueles que “controlam” a Polícia?

Trazer o problema quanto as formas de controle da atividade policial, por perspectivas


ora corporativista: seja na perseguição ou leveza com que trata os quadros policiais; seja
quanto a atuação do Ministério Público: apontado – por muitos - como leniente para com
os erros policiais –a exceção nos casos em que a situação se torna midiática. Concluindo
com a abordagem de perspectivas e ferramentas que possam auxiliar na mudança deste
quadro.

INTRODUÇÃO (2 min)
Ola, amigas e amigos, vocês estão aqui para mais uma aula no
ICL, me chamo Pedro Chê, sou policial civil, membro dos
policiais antifascismo e estou aqui ministrando para vocês o curso
“Por uma Polícia do Povo”. Está será a nossa oitava aula, o que
representa para mim uma satisfação imensa e nesta o nosso tema
será: “Quem controla Aqueles que controlam a Polícia?
Na verdade esta será uma aula bem reflexiva e de certa forma um
desdobramento da nossa terceira aula, que foi – entre mania de
perseguição e retórica: os inimigos das polícias. Enquanto na
terceira aula nos abordamos a mentira que há nesse discurso, que
é falsa a ideia que há inimigos para as polícias, quando na
verdade, estas instituições recebem muito mais apoios por parte
de quem apontam como inimigos do que crítica. Na aula de hoje
veremos o porque de termos a necessidade de um controle, esse
controle, seja ele político, midiático e jurídico, para dar apenas
algumas dimensões. Talvez o mais importante seja o controle
social, mas de forma muito breve abordamos ele em nossa aula
passada e, caso dê certo, será alvo de aula própria em um futuro
curso. Peçam ai para o Eduardo que tenhamos um curso 2.0, se
vocês pedirem, ele atende, eu aposto!
Para nos ajudar e trazer visões bem próprias sobre algumas
perspectivas, teremos o Jornalista, membro do ICL e apresentador
de programas em nossa grande, o Xico Sá. Eu e o Xico somos da
mesma região, somos nordestinos, e a gente tem uma maneira
muito própria de tratamos, de nos relacionarmos, e o Xico, é uma
autarquia, é como um caminhão cheio de bila com um cocão no
meio. Brincadeiras a parte, teremos na sequência e aqui com um
currículo vastíssimo, o Ex-Secretário de Direitos Humanos
Nilmário Miranda e para fechar, o Promotor de Justiça do Estado
de Minas Gerais, e também professor de Direito na Universidade
Estadual de Montes Claros, o Guilherme Reddel.
PARTE I (12 min/14 min)
Para começar, temos o que chamo aqui de controle da mídia, que
é um subtipo do controle social, a mídia tem um papel
importantíssimo nesse cenário, e além da sua função precípua que
é de informar as pessoas, também mostra alguns acontecimentos,
qual o padrão da ação estatal, se a polícia e o Estado vêm
operando de forma condizente com os ditames a que estão
submetidos, também ajuda com as denúncia, a dar relevância a
certos casos que poderiam mofa numa gaveta. Talvez até a
imprensa, em alguns contextos, seja quem mais execute a sua
parte dentre os participantes, o que não é uma coisa boa, certo,
pois ela é tanto bastante seletiva, nem tudo interessa, nem tudo é
notícia, às vezes opera de acordo com a oportunidade,
dependendo de quem foi a vítima, assim como sua
disponibilidade é limitada, imaginem uma Tv falando sobre todos
os crimes que ocorrem em Recife, não dá nem para mensurar o
quando seria necessário de exposição. E há ainda questão de
interesses por certas pautas em detrimento de outras, as empresas
elas tem suas formas de financiamento, e principalmente em
locais menores, tal quase que exclusivamente passa por governos,
prefeituras, órgãos estatais ou sindicatos. Bem, tou falando muito
e tenho que evitar adiantar a parte do Xico (risos), espero que
vocês aproveitem bem a contribuição dele.
(6 min)
Confesso que embora não esteja dentro desse curso, o Xico Sá
fala de um problema que na segurança público vejo até como
central, que é a questão da governança. Cabe perfeitamente outra
aula só pra falar disso, temos que ter mais curso, Eduardo.
Esse ponto da governança ele alcança não só o dito controle
social, mas também o controle político sobre as instituições. E
principalmente quanto a governos de esquerda, isso é
problemático demais. Realmente é um problema bem maior, já
muitas das vezes governos de direita ou centro-direita não tem
esse problema, e isso se dá por diversas questões, sei que vocês
estão pensando o seguinte: aspas “ah, é claro, eles tem um
alinhamento ideológico comum, o fascismo”, é isso? Não
necessariamente.
Pasmem, há governos de centro-direita que na segurança pública
são mais de esquerda do que governos ditos progressistas, e
agente pode enumerar alguns exemplos, o Jader Pará, por
exemplo, o Renanzinho de Alagoas, só para enumerar por alto.
Enquanto que vários governos de esquerdas, em níveis diferentes,
endossam, o modelo vigente, e o mais triste, ou cômigo, é que
ainda assim, não tem governança.
A esquerda é super acomododa para criar quadros, não cultiva e
não defende seus simpatizantes dentro da segurança. Dessa forma
algumas dessas instituições, se não juridicamente, mas
politicamente, beiram a autonomia completa e escapando a
qualquer ingerência governamental, ou seja, social, os lideres
dessas instituições, as castas que dominam, não são eleitos pelo
povo, mas sim o representante do executivo e deveria tal
fenômeno ser impensável, mas há uma Síndrome de Estocolmo,
em que o cativo, que no caso seria chantageado, passa a sentir
empatia, e nesse caso, entra não só em acordo, mas em extrema
concordância e unicidade. E o Xico já trouxe isso por mais de
uma vez no ICL, e isso é pouco falado, as pessoas acham que por
ser um governo de esquerda, que os problemas serão resolvidos e
ao ver que não, passam a achar que é um problema sem solução.
O problema tem sua origem na falta de compromisso com a pauta
por aqueles que dizem defendê-la, como bem nos explicou o Ibis
em nossa aula 7. Mas em outro momento a gente elabora mais
sobre isso.
O que o Xico traz de muito importante também é o papel da
imprensa, onde temos uma imprensa que quase exclusivamente
vende a violência, os chamados programas “pinga-sangue”, sem a
realização de reportagens, do convite a outras vozes e outros
atores importantes para tratar do tema, eu escuto muito relatos por
parte de pessoas que militam, seja na condição de acadêmicos,
seja enquanto ativistas sociais, que mesmo quando convidados,
tem suas falas suprimidas ou tolhidas, é quase como se fosse um
“desconvite”, acho que chaga um momento em que eles se
arrependem.
Quem tem voz? Quando muito, ou melhor dizendo, o que
acontece normalmente é o convite a alguma dita autoridade que
traz falas mecânicas de forma a encobrir o que está
verdadeiramente acontecendo, ou pior, um policial falando de um
flagrante feito pelo mesmo e soltando algumas graças – hoje todo
mundo quer virar um meme, e ainda mais se for falando contra os
Direitos Humanos – ai é o sonho de consumo, vai dormir como
um herói.
As mídias progressistas tem, sem dúvida, desempenhado um
papel bem mais profícuo neste sentido, estando muitas vezes, ao
lado de algumas grandes redes, mas sem os recursos destas, a
frente da cobertura de ótimas investigações jornalísticas,
mostrando os abusos ou a corrupção que infelizmente convivem
mais do que deveriam com as instituições policiais. Há sim
abnegados e que fazem um trabalho maravilhoso e fica aqui
registrado todo o meu respeito.
PARTE II (14 min /28 min)
Na sequência temos o Nilmário Miranda, uma pessoa que tem
uma história pública vastíssima, foi deputado estadual, além de
como dissemos, secretário de direitos humanos no governo Lula,
tem obras publicadas e ações efetivas em várias áreas, e ele está
aqui com a gente transmitindo um pouco da sua visão e
experiência quanto a questão da polícia no Brasil.
(5 min)
Vou fazer uma digressão com vocês. Quando de fala em direitos
humanos e atividade policial no Brasil a gente é obrigado a fazer
dar um cavalo de pau e voltarmos para os anos 90.
Os Anos 90 foram muito conturbados, já falei um pouco disso em
uma das aulas anteriores, você tem uma modificação conjuntural
no mundo, a quebra da dualidade da Guerra Fria e se não o início
- exatamente, temos a partir daqui um outro nível efetivação de
um processo de globalização, que tem suas marcas culturais,
políticas, econômicas, e de remodelação estatal – e esse é um
ponto especialmente importante aqui.
E nesse cenário o Estado de Bem-Estar Social ele vai sendo
mitigado, até por perder a sua função como contenção frente a
modelos que privilegiassem mais o social do que o capitalismo
liberal, e isso ganha um nome e uma proporção muito grande
globalmente que é se trata do Neo-liberalismo, e desta política
econômica e Estatal nos temos tentativas incessantes de fustigar
pioras nos direitos trabalhistas, fora que você terá fenômenos
como o aumento do desemprego, reforço dos processos de
concentração da população nas cidades.
Esse aumento de população urbana se dá num momento bem
complicado, pois entramos a época num processo de remodelação
do Estado, em que este se propõe se isentar ou diminuir a sua
interferência, nos diversos âmbitos da vida nacional, e isso, por
óbvio, se choca com políticas públicas que amenizassem e
suportassem tais mudanças, a proposto é inversa.
E nessa mistura, social, política, econômica e governamental, a
violência explode, o poder e alcance da mídia aumenta, e também
o interesse pelo tratamento da questão da violência, o que volta os
olhos da opinião pública em especial para a atividade policial
Polícia essas que não foram remodeladas, algumas com feições
iguais às que tinham nos anos 60, outros, ainda num estágio pior,
portanto não sendo alvos de mudanças estruturais e seguindo a
mesma linha cultural vivenciada desde a segunda metade do
século XX, abarcando, portanto, toda a ditadura militar, época
também do surgimento e notoriedade dos esquadrões da morte,
dessa forma, a polícia, teve exposta muitas de suas falhas – uma
parte expressiva delas que permanece até hoje - seja quanto a
ineficácia, que é das mais cândidas destas questões, passando pelo
abuso, pela corrupção e por fim, a violência fática.
A partir disso criou-se um dilema social sobre o serviço do estado
no combate a violência. De um lado você tem a explosão desta –
medo – o pânico, e do outro você tem a atuação dos entes
responsáveis por lidar com essa questão envoltos em dinâmicas,
circunstâncias, que fizeram boa parte da população entender que
alguma coisa estava muito errada, que não seria o caminho certo.
Cenário em que tivemos grande influência de organizações de
direitos humanos, associações, entidades civis, comunitários, que
com adesão de parte expressiva da opinião pública e até da mídia,
criaram um ambiente de disputa por narrativa. De um lado, o
rigor, digamos assim, sendo a face mais gentil da violência e da
brutalidade – carregando alguma legalidade e tecnicidade, do
outro, os direitos e fé na ação estatal como capazes de dirimir o
problema de forma sistemática.
Quem ganhou? Tenho uma opinião polêmica sobre isso. Essa
disputa existiu ainda durante os governos Lula e Dilma, mas
também acabou neles. Ao passo que não foram feitas reformas
estruturais nas polícias, ao passo que se promulgou leis que
reforçaram a visão tradicional de segurança pública como a Lei de
Drogas, que desembestou o nível de encarceramento no país,
tivemos uma vitória tácita do ideário mais conservador, e uma
derrota dos direitos humanos, digamos assim. E temos de deixar
claro que não há agora uma nova disputa, muito pelo contrário,
tais ideias, arcaicas, e violentas hoje são inclusive admitidas de
serem reproduzidas e defendidas publicamente pelo menos por
alguns alto burocratas de partidos de esquerda. O Nilmário,
Freixo, tantas outras pessoas, viveram isso, e imagino o
desapontamento quanto ao que temos agora, a agente não
empatou, quando tínhamos enquanto povo o dever de ganhar e
superar essa chaga que violenta o nosso próprio povo,
principalmente os grupos mais vulneráveis.
Antes de passar ao próximo, e mesmo não sendo exatamente a
matéria da nossa aula, mas para não deixar vocês com um monte
de interrogações na cabeça, vou falar brevemente de alguns
conceitos ideias que o Nilmário trouxe como sendo interessantes
para as polícias. Esse é o assunto que eu mais abordo e me dedico
a estudar, mas achei que para vocês, seria mais interessante algo
mais ligado a execução do serviço e os efeitos diretos na
segurança públicas, temos mais do dia-a-dia, digamos assim.
Vamos lá, ele cita a unificação das polícias, as câmeras nos
uniformes, preservação da cena do crime, ouvidoria de polícia
independente, independência da perícia criminal, e polícia cidadã.
Começando pelo final, falamos detidamente disto em aulas
anteriores, mas vamos resumir aqui como sendo a Polícia Cidadã
uma metodologia, que visa a partir de instrumentos técnicos,
ferramentas sociais, cooperação e participação da sociedade, e por
meio de uma política potencializada quando ao campo da
prevenção, ser uma polícia com ditames diferenciados frente ao
que a gente tem ordinariamente.
A independência da Perícia, da Polícia Científica, ela é tida como
importante para evitar influências de pessoas ligadas a atividade
policial. Esses órgãos teriam chefias, carreiras e orçamentos
próprios de forma a evitar que seu trabalho fosse, manipulado,
digamos assim, a partir de chefias policiais que também fossem
suas.
A ouvidoria de polícia independente existe em alguns estados e
serve para informar as instâncias competentes quanto a violações
praticas por e no exercício da atividade policial e acompanhar o
andamento, nós órgãos competentes, desses informações e
processos. Elas enfrentam graves problemas, um deles é sua
capacidade de realização, elas informam e acompanham, não tem
domínio, não tem gerência. De outro lado, normalmente tem
graves problemas orçamentários.
A preservação da cena do crime no Brasil, muitas vezes é uma
piada, os policiais em confronto usam muito a questão do socorro
ao suspeito alvejado, às vezes com a cabeça partida ao meio, para
justamente contaminarem o local de crime e transformar em
impossível qualquer responsabilidade por erros, excessos ou dolo.
As câmeras nos uniformes, todos já conhecemos e temos nossas
opiniões sobre elas, o bom é que estão se tornando uma realidade.
E por fim a questão da unificação das polícias, é o tema mais
completo, mas dá pra a gente resumir. A unificação é uma ideia
subsidiária a ideias de desmilitarização, se apregoava a
desmilitarização a partir da unificação das polícias estaduais.
Confesso que essa é uma que ficou para trás, não por ser
exatamente ruim, mas a dinâmica nos mostra que o ideal e tentar
lutar por outro caminho, que é a municipalização. Atentos, a
unificação se acontece, hipoteticamente, representaria um grande
avanço frente ao que se tem hoje a partir de várias frentes, só não
é o caminho mais viável hoje para essa melhoria, só isso.
PARTE III (13 min /41 min)
Como última contribuição externa, teremos o Guilherme Reddel,
Promotor que tem experiência quanto o controle jurídico da
atividade policial que é exercito pelo Ministério Público a partir
do chamado Controle Externo:
(8 min)
O promotor trouxe vários problemas que eu vou comentar
brevemente com vocês. O primeiro deles foi o de termos várias
polícias, dependendo da comparação, isso é verdade, por
exemplo, na França você tem 2 polícias, A Policial Nacional e a
Gerdamarie (que é militarizada, responsável pelo policiamento
das cidades com até 15 mil habitantes), já nos EUA, você terá
mais de 20 mil agências, inclusive ramos de polícia privada com
outorga para realizar o que a gente entende aqui no Brasil como
atribuições ordinárias das nossas polícias estatais, como o dever
de prender em flagrante, que é diferente da possibilidade de
prender, que é o que é conferido a população. Você, vendo uma
ilegalidade, pode dar voz de um prisão, um polícia – salvo
condições especiais – tem o dever. Entendo que esse ponto ele na
verdade se desdobra, se realiza, em alguns outros pontos que
veremos na sequência.
Continuando, e um segundo ponto que temos é o interesse
corporativo, que ele funciona como uma via de mão dupla. Há
trocas e interesses comuns ou correlacionáveis entre os grupos
que dominam as instituições, formas de cooperação institucional,
mas há também muito de relações pessoais, seja a partir de laços
familiares, seja favores de ordem pessoal, às vezes até ilícitos.
Mas fora isso, que já é muito potente por si só, você também tem
o uso e o discurso político. Digamos que o MP e o Judiciário
estejam firmes quanto a violações aos direitos humanos em uma
determinada capital, tolerância zero! As forças policiais muito
provavelmente se sentirão tolhidas em seus diferentes substratos,
até por que a irregularidade não está só na ação de rua, está por
vezes na investigação, no não prosseguimento ou no
desenvolvimento abusivo desta – a Lava Jato é um exemplo – e
tem muitas coisas assim acontecendo por ai – e o que estas
instituições, o que essas lideranças fazem nesse cenário,
conclamam a opinião pública e os 50% que são simpáticos a
violência policial no Brasil. E nisso você terá pressões advindas
de programas policiais, manchetes em jornais, nas redes sócias, o
próprio poder executivo e membros do legislativo – discordantes.
E a política, e a sua interferência também está presente nos órgãos
de controle, as pessoas querem se preservar, manter suas
posições, então a capacidade política dessas instituições,
principalmente nesse nosso momento político é muito grande e
interfere sim.
E a gente fala aqui de interesses corporativos, mas há um
desdobramento que são as disputas corporativas por parte das
instituições o que dificulta demais o controle delas, por que?
Bem, a segurança pública brasileira é a pior do mundo, um
completo fracasso, e nessa situação, as instituições responsáveis
tentam cada uma de seu jeito, se salvarem, ou melhor, terem um
discurso melhor para não serem apontadas como a responsável, o
projeto é o de salvar reputações. E nisso, especialmente a Polícia
Militar ela é bem proativa, digamos, eles tem setores de
inteligência, que não apenas captam informações, mas também
realizam investigações, o que está fora de sua órbita, mas que já é
aceito, em alguma medida pelo judiciário, só que isso cria um
problema, como controlar, como fiscalizar uma atividade não
regulamentada? O que parece simples, não é, se o judiciário
entendesse como ilegais todos os procedimentos relacionados ao
tráfico de drogas que se basearam por abordagem da Polícia
Militar que se orientaram a partir de informações de populares, ou
advinda de pretensa atitude suspeita, eu tenho dúvidas se 20%
desses procedimentos resistiriam, aliás, se for levado a sério
também a questão da inviolabilidade domiciliar, acho que
adentraremos numa taxa de sobrevivência na casa de 5%, e o MP
assiste a isso, e ai? Vai paralisar a atividade que mais rende
prisões? A chiadeira social iria ser grande.
Tem um ponto bem interessante na fala do Guilherme, talvez até
feche com ele, se trata de uma incongruência, incompatibilidade,
irracionalidade quanto as atribuições. Especialmente nas polícias
estaduais. O Brasil, que não canso de repetir, que tem o pior
sistema de segurança pública do mundo, ele tem um modelo que
não há igual, comparável, no mundo, só aqui nos temos o que se
chama polícias de meio ciclo, só aqui, e o que elas fazem, ou
melhor, não fazem, resumindo bem, elas prendem, atendem,
recebem a ocorrência, mas não encaminham para quem tem
competência para receber ou dar andamento, ou seja, a depender
do ordenamento, o MP, ou o Judiciário. Embora essas polícias até
possam produzir conhecimento, elas não podem investigar crimes
de nenhuma alçada, a não ser quanto a condutas internas, o que é
um universo bem reduzido, elas tendo que encaminhar as
ocorrências para a Polícia Civil, e isso é muito prejudicial, tanto
burocratiza excessivamente o serviço, por um lado, como tira a
condição de pro atividade, de diligência, do outro.
CONCLUSÃO (3 min /44 min)

E por último, um aspecto cultural, dos protocolos policiais, a


gente tem duas polícias, a polícia dos remediados, e a polícia dos
descamisados e para isso se faz especialmente necessária a
participação de todas as formas de controle, é uma chaga, que
mata. São mais de 5.000 mortes em atividades policiais por ano
no Brasil, o que corresponde a 10% das mortes, sem contar as
atividades das milícias, grupos de extermínio, desaparecimentos.
Já se assumiu como normal no Brasil, há tempos, e vem piorando
desde meados dos anos 2010, que a morte é um instrumento de
controle da violência, e se a morte é admitida, imagina a tortura,
principalmente como meio para obtenção de informações para a
resolução de crimes, tenho até receio que seja feita uma pesquisa
em que se pergunte para as pessoas, o que elas acham, se
concordam ou não, com a resolução de um crime a partir de
tortura a um dos suspeitos. Se 50% já concordam com a morte
deles, imagina com a tortura? E ai está uma falha nossa, nossos
olhos se voltam de maneira muito rápida para os policiais quando
tempos diversas estruturas não apenas de suporte, mas de
promoção a essas ideias a essa cultura. A imprensa que mais trata
disso, apoia, por exemplo, as instituições e as chefias não coíbem,
preferem muitas vezes perseguir policiais de esquerda ou algum
desafeto, do que verificar a conduta de policiais com
enriquecimento desproporcional ou com repetidas ações letais em
ocorrências, e pasmem, esses últimos não se precisa nem
“investigar”, eles mesmos se anunciam em grupos de redes sócias,
alguns não se contém e querem para si a fama. Também judiciário
e Ministério Público tem participação, apenas 1% dos casos em
que há ação letal chega ao tribunal do júri, maiúscula parte é
arquivada a pedido do próprio MP, fora as ocorrências de drogas,
poucas dignas de terem um levantamento de dados, informações e
investigação decentes, a maioria, ilegal desde o nascimento, mas
prosperam, porque temos que prender de todo jeito. Quanto ao
judiciário, pouco se moveu para encontrar uma racionalidade para
a Lei de Drogas, que é capaz de prender um negro, com um
cigarro de maconha enquanto traficante, e soltar um branco de
classe média alta com dezenas e mais dezenas de drogas
sintéticas. O modelo português, o taxativo, que nem
revolucionário é, resolveria pelo menos essa questão
E bem, alunas e alunos, encerro a nossa aula por aqui. Como
sempre, deixo a vocês abertas o contato via redes sociais, meu
instagram é Pedro Chê Oficial, também tem o meu e-mail,
pedropaulocmattos@yahoo.com.br e também tenho um canal no
Youtube, o Polícia do Povo. Bem, aguardo vocês para a nossa
próxima aula, tchau.

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