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Debate: “A postura do brasileiro diante das leis” – Parte 2

TRECHO 3: Pequenas e grandes corrupções

Rollemberg: Nós temos de pensar... Nós estamos falando de corrupção, claro... nós
sempre pensamos em situações grandes: malas com dinheiro, essas coisas todas. Mas
vamos pensar no dia a dia... As pequenas corrupções, as pequenas infrações, os pequenos
deslizes [...] durante muito tempo o Brasil, os brasileiros ou uma parte dos brasileiros se
orgulhou do chamado jeitinho brasileiro [...] Está tudo bem, professor?

Justino: Alguns pontos para a gente compreender esse comportamento [...] Dois
pontos essenciais. Existe uma expressão muito típica da Ciência da Administração que é:
Not in my backyard (não no meu jardim/quintal). O que significa isso? Eu entendo que
aquela providência, que aquela ferramenta, que aquele posicionamento, que aquela atitude
é importante, é relevante, ela é ética, mas não comigo. [...]

Rollemberg: Filosoficamente é muito bom, mas na prática, não. É isso?

Justino: Isso também é... é algo que acontece muitos nas análises pessoais e
interpessoais, né? É como se, sua pergunta foi bem nessa linha, é como se o tema da
corrupção envolvesse apenas grandes corrupções. Então ela é uma corrupção política, dos
agentes políticos... Aquilo que tem a ver com a minha esfera mais próxima, a esfera familiar,
a esfera do trabalho, a esfera das relações interpessoais como um todo é como se eu
tivesse uma autorização para agir conforme meus melhores interesses.

[...] Uma outra questão também é o que ninguém vai ver, ninguém vai saber. Então tem
também aquela sensação da impunidade, sim, a sensação de que não vou ser pego. Isso é
do ser humano e aí quando você não tem bases éticas muito sólidas em uma sociedade...
E, infelizmente, nós temos que dizer que, não generalizando, as bases éticas da sociedade
brasileira hoje, elas estão um pouco nebulosas...

Rollemberg: Você está sendo eufemístico.

Justino: [...] Existe essa questão de que, sim, a corrupção existe, mas ela está longe.
Existe também o tema da corrupção, mas ela tem de ser grande para ser um problema e
existe também uma questão de que as minhas atitudes, elas são justificadas por mim,
porque há uma percepção (esse é o ponto) de que ninguém vai ver e de que eu não serei
punido. Então é claro que isso não vale para todas as pessoas, mas nós não chegaríamos
ao momento em que nós chegamos, me parece [...] Há uma relação forte entre a grande
corrupção, da corrupção política, da corrupção constitucional, da corrupção que hoje é
endêmica no Brasil com as pequenas corrupções.

Rollemberg: [...] O senhor comentou que é como isso vai se dando quando nós não
temos bases éticas sólidas e não temos tido. Aí a pergunta para a professora Marilene: não
temos tido ou nunca tivemos?
Marilene: Não. Eu acho que nós temos bases éticas sólidas. Quer dizer, o Brasil é um
dos países que tem uma das Constituições mais fortes no sentido dos direitos sociais, de
mostrar quais são os direitos do cidadão brasileiro, de defender esses direitos. Nós somos
signatários de declarações: Declaração universal dos direitos humanos, declaração dos
direitos da pessoa com deficiência. Quer dizer, nós temos inúmeras participações como
país em movimentos internacionais éticos que estão sendo também trazidos como políticas
públicas. [...] Veja então você tem princípios éticos que estão o tempo todo sendo trazidos,
inseridos, defendidos por muitas pessoas no campo social. É que de fato essa tensão, essa
polarização que a gente tem de valores no campo social, geralmente, faz com que esses
valores que são os negativos, que são aqueles que são os piores, os mais perversos
ocupem um espaço muito grande de visibilidade, mas também nós precisaríamos dar
visibilidade para aquelas questões que são éticas, pela defesa dos princípios éticos, pelas
ações éticas que têm no campo social.

TRECHO 4: Em busca de saídas

TRECHO 4: Em busca de saídas

Rollemberg: [...] como fazer o cidadão comum se imbuir da necessidade da


aceitação, mais do que aceitação, da necessidade de seguir esses preceitos. Isso é uma
questão de educação também?

Marilene: Sem dúvida nenhuma é uma questão educação, é uma questão de


participação social nesses processos. [...] A crítica é fundamental. Nós temos que fazer a
crítica, nós temos de produzir a crítica, mas nós temos de produzir as saídas. [...] Então nós
precisamos superar o nosso discurso crítico para as práticas políticas e para as políticas
públicas e para as ações nos mais diversos campos que a gente chegue nos indivíduos,
chegue nas pessoas e que elas possam viver e pensar alternativas para sair do problema.

Unidade 6

228mais diversos campos que a gente chegue nos indivíduos, che-gue nas pessoas e que
elas possam viver e pensar alternativas

[...]

Rollemberg: Professor Justino, e como o Direito pode ajudar nisso? No dia a dia,
mesmo? Quer dizer, como é que nós mudamos ou podemos ajudar nessa reformatação do
pensamento comum da sociedade?

Justino: É importante dizer o seguinte: a lei é um componente para mudança de


comportamento, mas ela em si, sozinha, ela não muda uma cultura, ela não muda um
comportamento. Esse é um primeiro ponto. O Direito então tem funções, o Direito tem uma
função de, sobretudo, regulamentar as relações entre as pessoas, do espaço privado com o
espaço público, estabelecer, obviamente, comando, estabelecer sanções. Mas o Direito tem
uma função transformadora e cada vez mais. No entanto, ele não é o único. Ele não pode
ter essa força, na verdade, ele não tem essa força de mudar tudo sozinho.
[...] Em síntese, não é um tema único e exclusivo do poder judiciário. Não cabe só ao
judiciário enfrentar o problema de combate à corrupção. Não é só um caso de
responsabilização. É um caso de contenção, prevenção. São várias ações [...] Porque é o
que a professora mencionou todos nós temos uma parcela de responsabilidade nesse tema.

Rollemberg: Não podemos, na verdade, passar a bola para o outro, seja judiciário,
seja legislativo, seja executivo, parte de nós. [...] Nós somos atores sociais importantíssimos
na resolução desse problema. É isso, professora Marilene? Antes de mais nada, nós temos
que pensar que o problema é nosso também.

Marilene: Exatamente. Nós estamos falando em cidadania. Cabe a todos nós.


Nenhum de nós está isento da sua parcela de participação, talvez alguns de nós tenhamos
mais elementos institucionais de participação, outros menos, mas cada um tem sua
responsabilidade social. E ao mesmo tempo nós também podemos mobilizar os nossos
entornos.

[...]

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido
pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro
diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017. Disponível em:


<https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-lei
s/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano –
Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 300-8.

Entendendo o debate

01 – Converse com seus colegas e professor sobre as hipóteses levantadas antes da


leitura.

a) O que você listou como grande e pequena corrupções apareceu na conversa entre
mediador e debatedores?

b) As hipóteses que você levantou sobre as saídas para o problema da corrupção se


confirmaram após a leitura?
02 – Releia a primeira intervenção do mediador no trecho 3.

a) O mediador emprega a primeira pessoa do plural para formular a pergunta ao


debatedor. A quem ele se refere ao usar esse pronome? Explique.

b) Nesse trecho, o mediador emprega uma frase em que reformula o que havia dito
anteriormente, demonstrando certa hesitação. Identifique e transcreva essa frase.

c) Observe que no trecho 3 as reticências são usadas com duas funções.

· Dê um exemplo de quando ela é utilizada para indicar trechos de supressão.

· Também exemplifique quando sinalizam a hesitação do interlocutor no momento da


fala.

d) Dentro do contexto do debate o que você entende quando lê a expressão jeitinho


brasileiro?

03 – Marque as afirmações verdadeiras sobre a resposta do professor Justino ao mediador


acerca do jeitinho brasileiro.

a) O professor de Direito responde sem rodeios à pergunta do mediador.

b) O professor de Direito problematiza a questão na tentativa de compreender o problema.

b) O professor de Direito justifica o problema, com uma citação em inglês da Ciência


da Administração.

d) O professor de Direito sinaliza que o comportamento pode ser compreendido a partir de


duas perspectivas.

04 – Como você resumiria os pontos essenciais levantados pelo professor para a


compreensão do comportamento relacionado aos pequenos deslizes?

05 – Releia o seguinte trecho da fala do professor Justino.

“Justino: [...] Existe essa questão de que, sim, a corrupção existe, mas ela está longe.
Existe também o tema da corrupção, mas ela tem de ser grande para ser um problema e
existe também uma questão de que as minhas atitudes, elas são justificadas por mim,
porque há uma percepção (esse é o ponto) de que ninguém vai ver e de que eu não serei
punido. Então é claro que isso não vale para todas as pessoas, mas nós não chegaríamos
ao momento em que nós chegamos, me parece [...] Há uma relação forte entre a grande
corrupção, da corrupção política, da corrupção constitucional, da corrupção que hoje é
endêmica no Brasil com as pequenas corrupções.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].
Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido
pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro
diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017. Disponível em:


<https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-lei
s/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

a) Como você já sabe, o debate é um gênero oral. Encontre duas marcas de oralidade
mantidas nesse trecho transcrito e editado.

b) O professor defende que a corrupção deve ser grande para ser um problema? Justifique
sua resposta.

c) A palavra endêmica na última oração do trecho poderia ser substituída por qual outra,
sem alterar o sentido do texto?

06 – Releia agora a seguinte interação entre debatedor e mediador.

“Justino: [...] e aí quando você não tem bases éticas muito sólidas em uma
sociedade... E, infelizmente, nós temos que dizer que, não generalizando, as bases éticas
da sociedade brasileira hoje, elas estão um pouco nebulosas...

Rollemberg: Você está sendo eufemístico.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido
pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro
diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017. Disponível em:


<https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-lei
s/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição

a) Qual é o ponto de vista defendido pelo debatedor?

b) Na frase “elas estão um pouco nebulosas”, o pronome elas se refere a quê?

c) Que figura de linguagem é utilizada pelo professor para expressar, pela segunda vez,
seu ponto de vista? Por que ele a utiliza?

d) O mediador concorda ou discorda do debatedor? Justifique sua resposta com um trecho


do texto.

07 – Sobre a primeira intervenção da professora Marilene no trecho 3, responda:


a) Marilene concorda ou discorda do posicionamento defendido pelo professor Justino?

· Transcreva o trecho do texto que comprove sua resposta.

b) Compare a forma como a professora Marilene e o professor Justino expressam seus


pontos de vista a respeito da questão: quem é mais e quem é menos contundente?

c) Quais argumentos a professora Marilene utiliza para defender seu ponto de vista?

d) Nesse trecho, a professora diz: “Nós somos signatários de declarações”. Qual o


significado do termo signatários?

e) É possível estabelecer uma relação entre esses argumentos e o fato de o interlocutor da


professora ser da área do Direito? Justifique sua resposta.

f) Que reivindicação a professora faz no encerramento de sua fala? Por que ela faz esse
pedido?

08 – Releia, no trecho 4, a primeira pergunta de Rollemberg.

a) Com base no contexto, substitua a palavra imbuir por outra, sem alterar o sentido da
questão.

b) Como você reformularia essa questão para que ela fosse publicada em site, por
exemplo?

09 – Qual é o ponto de concordância entre os debatedores em relação à saída para o


problema da corrupção?

10 – Sobre as saídas propostas pela professora Marilene, responda:

a) Ela defende que a solução passa apenas pela educação? Justifique sua resposta.

b) Você concorda com a afirmação da professora de que todos podem mobilizar seus
entornos sobre o tema da corrupção? Justifique sua resposta.

11 – Como o professor Justino vê o papel do Judiciário em relação às saídas para o


problema da corrupção?

· Essa visão é coerente com a visão apresentada por ele sobre a corrupção no início do
debate?

12 – Leia o trecho de encerramento do debate:

“Rollemberg: É um assunto que daria mais uma hora fácil de programa, mas o
Diálogos na USP está chegando ao seu final. Queria agradecer muitíssimo a presença do
professor Justino de Oliveira, que é professor de Direito Administrativo da Faculdade de
Direito da USP, advogado, consultor jurídico e árbitro especializado em Direito Público.
Muito obrigado a professora Marilene Proença Rebello de Souza, professora titular da
Universidade de São Paulo, pesquisadora do programa de pós-graduação em Psicologia
Escolar e Desenvolvimento humano e atual diretora do Instituto de Psicologia da USP.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido
pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro
diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017. Disponível em:


<https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-lei
s/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

a) Quem faz o encerramento?

b) Quais são os dois momentos do encerramento?

c) Por que há repetição de dados já apresentados na abertura do debate?

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