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T2 – ENTREVISTA
ATIVIDADE DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS
BAURU
2021
Entrevista com Luiz Felipe Nunes, Secretário Municipal de
Desenvolvimento Econômico e Marketing da Prefeitura Municipal de
Monte Alto/SP
Mais especificamente sobre a sua atual função, como assessor político, como é a
dinâmica do trabalho no dia a dia, no âmbito institucional?
Eu tive dois momentos na comunicação e no direito público. O primeiro foi com
um consórcio público de cultura, que foi o primeiro do Brasil, e que era uma união de
cidades pequenas em torno de um interesse em comum – que geralmente envolvem ações
de desenvolvimento de estrutura ou de eventos mais complexos. A gente representava 20
cidades e íamos no Ministério da Cultura e trazíamos investimentos. A gente já trouxe
mais de 9 milhões em investimentos para essas cidades, e as maiores contavam com mais
projetos e as menores com menos (como reforma de biblioteca pública, feira do livro,
projetos que envolviam a comunidade vulnerável...).
A demanda, então, era assim: diariamente você tinha que fazer o convencimento
dos governos de que a cultura é importante e precisava de mais investimento. A gente
também, antigamente, contava com um Governo Federal favorável à Cultura, que tinha
um Sistema Nacional de Cultura, então ajudava bastante nesse convencimento. E você
também, tinha que muitas vezes, mostrar pra agentes políticos do município que não era
um “esquema de ganhar dinheiro público”. Quando inicia esse giro político no cenário
brasileiro, que sai de um governo voltado pro social, para um mais voltado ao liberalismo,
volta também um jogo contra a cultura, no sentido de que “os artistas são todos ricos”,
“eles não fazem nada e mamam na teta do governo”. Era um ataque à Lei Rouanet, e a
gente estava, neste momento, bem no meio dessa discussão, tentando democratizar.
Nosso trabalho, então, era o de tentar convencer as empresas de que seus impostos sejam
doados para a cidade e artistas locais da região. Atualmente nós temos três projetos em
andamento de incentivo fiscal, em uma cidade do tamanho de Monte Alto, em que dois
são voltados para a Cultura e um para o Esporte.
Voltando à esfera local da política, pra onde retornei agora, a gente via um vácuo
político formado pela saída de algumas lideranças tradicionais do cenário. Com isso, o
cenário se abriu para novas gestões. Hoje após as eleições municipais, a rotina do dia a
dia da equipe é mais ou menos lidar com o relacionamento nas redes sociais, apesar do
contrato ainda ser bem tradicionalista: uma publicação oficial de editais no jornal
impresso, um recurso grande pra uma emissora de rádio local. Só que eles são contratos
grandes, que não permitem a você ter muita liberdade.
Então assim, a gente ainda tem um Planejamento Financeiro limitado em como
usar as redes sociais; dentro da comunicação existe também a Comunicação Interna que
você deve trazer os principais assuntos para o Corpo Diretivo – que hoje em dia graças
aos grupos internos de comunicação você consegue fazer esse repasse com muito mais
viabilidade e rapidez. Essa Comunicação Interna é bastante importante porque você tem
setores que se cruzam ou até que agem no mesmo processo, e as vezes eles não estão se
encontrando. E tem, claro, o Olhar Político: qualquer coisa que você vai divulgar é preciso
entender como isso vai funcionar dentro dos atores que estão envolvidos, e em especial,
entre a Câmara Municipal e sua relação com o Executivo.
A Pandemia, também, traz um novo cenário, que é o de algumas coisas não devem
ser divulgadas, é entender esse poder da não-divulgação. Por que a gente não divulga?
Ora, o não-divulgar é melhor, em alguns casos, do que divulgar, principalmente em
situações como a da Pandemia, porque assim você evita de criar um clima de terror ainda
maior nas pessoas, ou de criar uma sensação falsa de segurança que permitem elas saírem
de casa e se aglomerar.
A rotina não é tão fixada. Ela tem a questão básica do jornalismo que são as
matérias em si, esse relacionamento com os órgãos de imprensa, e tem a questão da
Comunicação Social, que você tem de passar por todos os setores, por exemplo, na Saúde,
nós estamos desde o agendamento da vacina, ao atendimento às pessoas que estão
reclamando; tem também o contato entre os vereadores e as Pastas. Eu acabo, então,
produzindo poucas matérias, que ficam pra equipe produzir, e fico mais nessa área de
articulação.
Como que você vê, com o boom das redes sociais atualmente, as mudanças dentro
da comunicação na política?
Antigamente, a distribuição das notícias era muito concentrado na figura de quem
apurava, de quem se sentava com as pessoas e apurava as informações, que era o
jornalista. Hoje, embora não seja diferente, o fato de cada pessoa se considerar – e de
certo modo ser – um produtor de informação (ou um reprodutor da informação), você cria
um universo de informações no em torno de um determinado fato, ou de um processo em
andamento. O grande problema disso é que a pessoa quando entra na rede social, como
uma produtora de informação, ela entra como que uma criança, que ainda não tem muita
noção da informação em volta dela, e só vai e reproduz basicamente uma informação
crua; ausente de informações.
Isso prejudica quando uma pessoa que não é da área jornalística, que não tem
conhecimento de apuração, vai buscar uma notícia ela parte de pressupostos dela e quase
sempre partem de fatos comuns, como “todo político é ruim, é ladrão”, que a “Política
não serve pra população”. Enfim, isso não necessariamente tá errado, mas também não
está certo por causa da generalização. Então, com as redes sociais, com essa possibilidade
de todos serem projetores de informação existe uma série de problemas. O primeiro é esse
que comentamos sobre o filtro que a pessoa capta a informação, o quanto ela apura aquilo
que ela vai passar; e o outro lado, a noção de que quando ela diz, muita gente ouve.
Quando você posta uma coisa no seu perfil, você tem uma série de concordâncias ali –
que gera uma bolha.
Outro fator importante dessa conta é a diferença de que antigamente existia uma
maior “autoridade” sobre quem estava falando, as pessoas paravam para ouvir o que
aquele jornalista estava falando. Hoje com todo mundo gerando informação e essa onda
de desencorajamento da profissão, muita gente tende a ter uma repulsa do profissional
jornalista alegando “esses caras não servem pra nada”, ou “que todo mundo é um
vendido”.
A mudança é radical, como eu disse, porque você deixa de ser um eixo [de
informação] e todo mundo passa a produzir. Porém, esse monte de “lixo” produzido faz
com que muitas vezes o papel do jornalista retorne ao centro, marcado pela ação de
apuração, e de trazer informações verdadeiras.
Dentro todo o leque de setores que você atuou, você tem algum de maior
preferência?
Jornalismo Cultural. Ele me levou ao Brasil todo. O trabalho no Consórcio
Intermunicipal de Cultura que a gente mesmo criou, o “CULTURANDO”, me levou a
fazer uma palestra sobre Consórcios Públicos para um curso de extensão da
[Universidade] Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, me levou em um
seminário em João Pessoa..., enfim.
Esse trabalho do Jornalismo Cultural, que não era só a divulgação, mas também a
gestão, aprender a fazer esses projetos; esse era o mais legal. Você sabe que está
construindo algo que vai ficar; lidar com vários agentes e personagens culturais, como o
Nelson Triunfo – ele foi o 1° cara da Dança de Rua do Brasil –, do futebol como o Dr.
Sócrates, esses vínculos e essas pontes são muito legais.
O jornalismo político também é muito interessante. Você pegar situações de
personagens históricos. Você apurar o assunto dentro do debate político das forças, de
estudar e buscar entender as situações. Eu acho instigante.
Bom, é primeiro o Cultural e o Político vem logo em seguida.
Você teria alguma mensagem para uma turma de futuro jornalistas, sobre como
encarar todo esse panorama que foi colocado?
Ainda são maus tempos. São tempos tenebrosos, porém, no cansaço da civilização
de tentar “pensar com o fígado”, e no processo de amadurecimento da Democracia e da
Sociedade, nós (vocês) jornalistas, vamos ser novamente o esteio desse caminho. Nós
temos que nos preparar mais do que tecnicamente, humanamente – voltando naquela
questão da vivência. Teremos que ser pessoas não somente bem-intencionadas e
tecnicamente preparadas, precisamos aparecer. Você se constrói, e aparece. Tem muita
gente por aí aparecendo como boa, mas está repassando o pior tipo de informação e visão
de mundo possível. A disputa de narrativas está no “aparecer” hoje.
Outra coisa é que ninguém é um “bom samaritano”, você precisa ganhar seu
dinheiro e saber valorizar o seu trabalho. Hoje está muito mais amadurecida esse assunto,
mas antigamente era absurdo dar preço para o seu trabalho.
Então Jornalismo é isso: está difícil, só que a gente vai voltar a ser o esteio da
situação. É nos prepararmos, aparecer e usar dos meios para entra no debate público e
equilibrar a discussão. E não ser um interlocutor frio. Você vai ter sua opinião, e quando
você for dar ela você diz: eu posso estar errado. Esse deve ser o principal no entendimento
de vocês.