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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESING


FAAC

T2 – ENTREVISTA
ATIVIDADE DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS

JOÃO PAULO DE CAMPOS SILVA


RA: 211031798

BAURU
2021
Entrevista com Luiz Felipe Nunes, Secretário Municipal de
Desenvolvimento Econômico e Marketing da Prefeitura Municipal de
Monte Alto/SP

Na entrevista de hoje, nós tivemos a oportunidade de conversar com o jornalista Luiz


Felipe Nunes, graduado em Comunicação Social pela FAAC-Bauru (1998-2001) e
atualmente Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico e Marketing de Monte
Alto/SP. Natural da capital do estado de São Paulo, Luiz Felipe se mudou para o
interior com a família e, posteriormente, começaria sua jornada estudantil em Bauru.
Quando já quase formado, Luiz seguiu o “caminho comum” da profissão, estagiando
em um veículo de relevância no mercado, na cidade de São Paulo. A vida na capital e a
rotina de se trabalhar num grande veículo trouxeram a ele uma desilusão em relação à
profissão e com o acaso de alguns outros fatores terem se alinhado, alguns anos depois
ele opta por voltar para o interior.
Retornando para Monte Alto, não estava em seus planos se estabelecer por la. Neste
ínterim, de seu retorno até seu estabelecimento de fato, Luiz trabalhou em diversos
setores do jornalismo, em suas diversas áreas de cobertura. Ele já trabalhou em um
jornal local, com produção de revistas, atua como militante da área cultural da região
– não somente no papel de jornalista, mas também como articulador dos processos
necessários para que se desenvolva um projeto público. Para além, Luiz Felipe também
trabalha como editor de livros em uma editora local, e com a produção de Livestreams.
Luiz Felipe também possui notória passagem pela área política em sua atuação
profissional, tendo participado de campanhas políticas de prefeituras, deputados
estaduais e federais. Como dito no início, nosso entrevistado, hoje, é Secretário
Municipal, atuando junto do setor institucional, dentro da área da comunicação.
Após esse breve resumo do currículo de nosso entrevistado, passemos então à
entrevista, feita na tentativa de contemplar importantes aspectos e pontos de vista de
Luiz Felipe sobre a profissão, o mercado, a dinâmica de trabalho e alguns desafios e
reinvenções que um profissional enfrenta em sua atuação.

Mais especificamente sobre a sua atual função, como assessor político, como é a
dinâmica do trabalho no dia a dia, no âmbito institucional?
Eu tive dois momentos na comunicação e no direito público. O primeiro foi com
um consórcio público de cultura, que foi o primeiro do Brasil, e que era uma união de
cidades pequenas em torno de um interesse em comum – que geralmente envolvem ações
de desenvolvimento de estrutura ou de eventos mais complexos. A gente representava 20
cidades e íamos no Ministério da Cultura e trazíamos investimentos. A gente já trouxe
mais de 9 milhões em investimentos para essas cidades, e as maiores contavam com mais
projetos e as menores com menos (como reforma de biblioteca pública, feira do livro,
projetos que envolviam a comunidade vulnerável...).
A demanda, então, era assim: diariamente você tinha que fazer o convencimento
dos governos de que a cultura é importante e precisava de mais investimento. A gente
também, antigamente, contava com um Governo Federal favorável à Cultura, que tinha
um Sistema Nacional de Cultura, então ajudava bastante nesse convencimento. E você
também, tinha que muitas vezes, mostrar pra agentes políticos do município que não era
um “esquema de ganhar dinheiro público”. Quando inicia esse giro político no cenário
brasileiro, que sai de um governo voltado pro social, para um mais voltado ao liberalismo,
volta também um jogo contra a cultura, no sentido de que “os artistas são todos ricos”,
“eles não fazem nada e mamam na teta do governo”. Era um ataque à Lei Rouanet, e a
gente estava, neste momento, bem no meio dessa discussão, tentando democratizar.
Nosso trabalho, então, era o de tentar convencer as empresas de que seus impostos sejam
doados para a cidade e artistas locais da região. Atualmente nós temos três projetos em
andamento de incentivo fiscal, em uma cidade do tamanho de Monte Alto, em que dois
são voltados para a Cultura e um para o Esporte.
Voltando à esfera local da política, pra onde retornei agora, a gente via um vácuo
político formado pela saída de algumas lideranças tradicionais do cenário. Com isso, o
cenário se abriu para novas gestões. Hoje após as eleições municipais, a rotina do dia a
dia da equipe é mais ou menos lidar com o relacionamento nas redes sociais, apesar do
contrato ainda ser bem tradicionalista: uma publicação oficial de editais no jornal
impresso, um recurso grande pra uma emissora de rádio local. Só que eles são contratos
grandes, que não permitem a você ter muita liberdade.
Então assim, a gente ainda tem um Planejamento Financeiro limitado em como
usar as redes sociais; dentro da comunicação existe também a Comunicação Interna que
você deve trazer os principais assuntos para o Corpo Diretivo – que hoje em dia graças
aos grupos internos de comunicação você consegue fazer esse repasse com muito mais
viabilidade e rapidez. Essa Comunicação Interna é bastante importante porque você tem
setores que se cruzam ou até que agem no mesmo processo, e as vezes eles não estão se
encontrando. E tem, claro, o Olhar Político: qualquer coisa que você vai divulgar é preciso
entender como isso vai funcionar dentro dos atores que estão envolvidos, e em especial,
entre a Câmara Municipal e sua relação com o Executivo.
A Pandemia, também, traz um novo cenário, que é o de algumas coisas não devem
ser divulgadas, é entender esse poder da não-divulgação. Por que a gente não divulga?
Ora, o não-divulgar é melhor, em alguns casos, do que divulgar, principalmente em
situações como a da Pandemia, porque assim você evita de criar um clima de terror ainda
maior nas pessoas, ou de criar uma sensação falsa de segurança que permitem elas saírem
de casa e se aglomerar.
A rotina não é tão fixada. Ela tem a questão básica do jornalismo que são as
matérias em si, esse relacionamento com os órgãos de imprensa, e tem a questão da
Comunicação Social, que você tem de passar por todos os setores, por exemplo, na Saúde,
nós estamos desde o agendamento da vacina, ao atendimento às pessoas que estão
reclamando; tem também o contato entre os vereadores e as Pastas. Eu acabo, então,
produzindo poucas matérias, que ficam pra equipe produzir, e fico mais nessa área de
articulação.

Como que você vê, com o boom das redes sociais atualmente, as mudanças dentro
da comunicação na política?
Antigamente, a distribuição das notícias era muito concentrado na figura de quem
apurava, de quem se sentava com as pessoas e apurava as informações, que era o
jornalista. Hoje, embora não seja diferente, o fato de cada pessoa se considerar – e de
certo modo ser – um produtor de informação (ou um reprodutor da informação), você cria
um universo de informações no em torno de um determinado fato, ou de um processo em
andamento. O grande problema disso é que a pessoa quando entra na rede social, como
uma produtora de informação, ela entra como que uma criança, que ainda não tem muita
noção da informação em volta dela, e só vai e reproduz basicamente uma informação
crua; ausente de informações.
Isso prejudica quando uma pessoa que não é da área jornalística, que não tem
conhecimento de apuração, vai buscar uma notícia ela parte de pressupostos dela e quase
sempre partem de fatos comuns, como “todo político é ruim, é ladrão”, que a “Política
não serve pra população”. Enfim, isso não necessariamente tá errado, mas também não
está certo por causa da generalização. Então, com as redes sociais, com essa possibilidade
de todos serem projetores de informação existe uma série de problemas. O primeiro é esse
que comentamos sobre o filtro que a pessoa capta a informação, o quanto ela apura aquilo
que ela vai passar; e o outro lado, a noção de que quando ela diz, muita gente ouve.
Quando você posta uma coisa no seu perfil, você tem uma série de concordâncias ali –
que gera uma bolha.
Outro fator importante dessa conta é a diferença de que antigamente existia uma
maior “autoridade” sobre quem estava falando, as pessoas paravam para ouvir o que
aquele jornalista estava falando. Hoje com todo mundo gerando informação e essa onda
de desencorajamento da profissão, muita gente tende a ter uma repulsa do profissional
jornalista alegando “esses caras não servem pra nada”, ou “que todo mundo é um
vendido”.
A mudança é radical, como eu disse, porque você deixa de ser um eixo [de
informação] e todo mundo passa a produzir. Porém, esse monte de “lixo” produzido faz
com que muitas vezes o papel do jornalista retorne ao centro, marcado pela ação de
apuração, e de trazer informações verdadeiras.

No atual campo de disputas narrativas, principalmente dentro da Política brasileira,


qual é a função do jornalista profissional em relação a verdades dos fatos?
Essa é uma pergunta muito complexa no seguinte sentido: se você for pela
“apostila do jornalismo”, pelo academicismo, você vai fazer a apuração, vai jogar os fatos
à frente e aprofundar, jogar com as diversas versões e abrir pra conclusão. Porém você
não é um robô. Antigamente, quando vocês escrevia para um jornal existia esse anteparo,
a Coluna de Opinião, ela era um meio onde a pessoa não tinha a expectativa de interagir
com o jornalista. Era então muito mais tranquilo pra ele juntar as coisas, colocar a
mensagem num veículo para um receptor, pois aquilo acabava ali, no papel.
Diferentemente do que ocorre hoje, quando você vai comentar alguma coisa é certeza que
o público leitor vai te mandar mensagens, vai responder te contactar por inbox, e vão
questionar sobre o que você realmente acha sobre aquilo.
Então eu acho que o papel do jornalista hoje muda um pouco. Hoje o papel do
jornalista que tem a informação, em primeiro lugar, não é mais aquele mesmo do
Colunista de antes, onde ele poderia ser frio e aplicar estritamente a letra do jornalismo
academicista. Sua proximidade com as pessoas é muito maior, então, se ele não se colocar
de uma forma mais presente para passar essa veracidade, ele não vai atingir seu público.
É uma dificuldade muito grande. Você tem que apurar o máximo possível, só que você
não vai conseguir diferenciar o [gênero] interpretativo, o opinativo, do basicamente
informativo, porque ele sempre vai ter um pouco do seu crivo.
O desafio é: você sabe que não pode ser só um robô agora e que não tem mais a
existência daquele anteparo onde o que você fala morre ali, quando você divulga algo ele
nunca se acaba, fica sendo sempre retrazido à tona. Então você tem que ter esse elemento
a mais de convencimento. Você mostra os dados, e diz, sem dizer, que está convencido
de que é isso que está acontecendo – ou que não está. O principal é que o jornalista não
se configura mais como o dono da verdade, e pode, sempre, ser questionado.

Desde princípios do século XXI a informação (e o jornalismo) vêm passando por um


processo de alta tecnologização, e por consequência, isso gerou um aumento na
mercantilização da informação. Qual suas visões sobre o impacto desse processo na
profissão?
Esse processo é curioso pois essa mercantilização geralmente começa em outra
área, e eu como atuei muito na cultura percebi esse processo começando antes de passar
pro jornalismo. O sucesso dos grupos musicais – mas isso engloba a maioria dos setores
– começou a ser dado para quem aparecia e circulava mais. O processo de serialização,
eu percebo, que começou cedo na área da cultura. Eram mais famosos aqueles que tinha
uma melhor estrutura de produção e que ocupavam mais os espaços. Quando essa
ocupação passou a ser rentável, a indústria começou a acelerar esse processo. Eles
produzem, produzem e produzem, como se a música fosse um sabão em pó – é lançado,
tem uma vida curta e já tem outro pra substituí-lo. Esse processo, para que tenha conteúdo
suficiente de novos fenômenos artísticos, começou-se a nivelar a qualidade por baixo.
Então você começa a produzir algo, e da certo, logo tudo em torno daquilo passa a ter
características semelhantes àquela que deu certo. A linguagem é muito próxima, é
basicamente a mesma coisa, e é basicamente vazia, pois pela vida curta, não se exige um
aprofundamento.
Essa serialização da cultura que nivelou por baixo está acontecendo, desde o
começo dos anos 2000, provavelmente, com a produção da informação. Para você ser
presente em uma rede social, você precisa produzir regularmente. E regularmente que
dizer muito. A quantidade e a regularidade são o caminho. Neste sentido, como você tem
que ter uma produção regular e em grande quantidade, naturalmente isso exige um corpo
jornalístico maior, mas curiosamente, como os meios de comunicação são mais velozes,
existe menos qualificação pra fazer isso. Hoje você não precisa mais estar no local de
trabalho, o que não é ruim, pois te permite produzir de qualquer local. Mas mais do que
isso, o texto para uma rede social é menor, ele exige muito pouco.
Então, você consegue pegar uma mão-de-obra “mais barata” por não ter uma
especialização, e deixar ela produzindo. Esse meme do “estagiário enlouqueceu” ele não
é “só um meme”, mas carrega um fundo de verdade. Qual que é? Duma indústria que se
cria, da informação; essa indústria começa a achar a sua lucratividade e, principalmente,
ela começa a competir com as narrativas das redes sociais. Ela não era permitida nas redes
sociais. A rede social toma o lugar dela, se colocando no papel de produtora da
informação. Existe a parte financeira nesse movimento, mas tem o risco, também, da
informação não ter um mínimo de ética, de fundamentação, e leva as pessoas ao erro.
Essa serialização também da produção de informação, de ter um conteúdo e
rapidez no consumo, ela colabora negativamente para a produção jornalística. Ela obriga
o jornalismo a ser mais superficial, a ser menor, e tem muita coisa que exige que seja
maior. O grande desafio hoje é o de trazer esse público, que se acha produtor de
informação – e que muitas vezes está sendo empurrado por uma mídia serializada que
não produz nada – para o lado do jornalismo mais sério. Não podemos esquecer que nossa
Democracia é jovem, a vida cibernética também é jovem, então nós estamos ainda
engatinhando sobre estes assuntos. Talvez, na maturidade, volte-se a esses instrumentos
mais aprofundados. Sem dúvida, a serialização da informação tem nivelado por baixo a
qualidade da informação em detrimento à quantidade.
Quais são as competências e habilidades que você acha que um jornalista deve ter
para que sua atuação seja plural dentro de suas possibilidades?
A princípio, na Comunicação Social, você tem que estar preparado pra tudo
porque você vai passar, eventualmente, numa empresa ou numa prefeitura, por todos os
seus setores. A Comunicação é muito ampla. Mas claro, se você for contratado para ser
um assessor de imprensa você vai se focar em produzir materiais que reflitam a imagem
da empresa para a sua clientela; você pode ter uma função fixa sim, mas quase nunca é
assim [na profissão].
Para um jornalista ter um bom encaixe no mercado de trabalho, ele tem que
conviver com as pessoas. Eu conheci gente que trabalhou comigo na revista ou no jornal,
que a pessoa não escreve mal, mas falta a vivência. As vezes ela acaba, no texto, tornando
a notícia muito indireta. Hoje eu entendo que o jornalista tem que estar muito mais perto
das pessoas, tem que flertar muito mais com a conversa, com o prosaico e menos com o
formalismo.
A UNESP e a cidade de Bauru são lugares que incentivam essa vivência com as
pessoas e a troca de cultura. Ela da um diferencial enorme pra pessoa, pra analisar a
situação, pra evitar os véus sociais – e esse é um grande ponto. Viver com outras pessoas,
estar presente em ações sociais, manifestações, tudo isso são vivências. São elas que vão
te despir de seus preconceitos.
O jornalista que convive, que vive, que se despe de seus preconceitos ao viver o outro, ao
aceitar o outro, ele vai ser um bom jornalista.

Dentro todo o leque de setores que você atuou, você tem algum de maior
preferência?
Jornalismo Cultural. Ele me levou ao Brasil todo. O trabalho no Consórcio
Intermunicipal de Cultura que a gente mesmo criou, o “CULTURANDO”, me levou a
fazer uma palestra sobre Consórcios Públicos para um curso de extensão da
[Universidade] Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, me levou em um
seminário em João Pessoa..., enfim.
Esse trabalho do Jornalismo Cultural, que não era só a divulgação, mas também a
gestão, aprender a fazer esses projetos; esse era o mais legal. Você sabe que está
construindo algo que vai ficar; lidar com vários agentes e personagens culturais, como o
Nelson Triunfo – ele foi o 1° cara da Dança de Rua do Brasil –, do futebol como o Dr.
Sócrates, esses vínculos e essas pontes são muito legais.
O jornalismo político também é muito interessante. Você pegar situações de
personagens históricos. Você apurar o assunto dentro do debate político das forças, de
estudar e buscar entender as situações. Eu acho instigante.
Bom, é primeiro o Cultural e o Político vem logo em seguida.

Você teria alguma mensagem para uma turma de futuro jornalistas, sobre como
encarar todo esse panorama que foi colocado?
Ainda são maus tempos. São tempos tenebrosos, porém, no cansaço da civilização
de tentar “pensar com o fígado”, e no processo de amadurecimento da Democracia e da
Sociedade, nós (vocês) jornalistas, vamos ser novamente o esteio desse caminho. Nós
temos que nos preparar mais do que tecnicamente, humanamente – voltando naquela
questão da vivência. Teremos que ser pessoas não somente bem-intencionadas e
tecnicamente preparadas, precisamos aparecer. Você se constrói, e aparece. Tem muita
gente por aí aparecendo como boa, mas está repassando o pior tipo de informação e visão
de mundo possível. A disputa de narrativas está no “aparecer” hoje.
Outra coisa é que ninguém é um “bom samaritano”, você precisa ganhar seu
dinheiro e saber valorizar o seu trabalho. Hoje está muito mais amadurecida esse assunto,
mas antigamente era absurdo dar preço para o seu trabalho.
Então Jornalismo é isso: está difícil, só que a gente vai voltar a ser o esteio da
situação. É nos prepararmos, aparecer e usar dos meios para entra no debate público e
equilibrar a discussão. E não ser um interlocutor frio. Você vai ter sua opinião, e quando
você for dar ela você diz: eu posso estar errado. Esse deve ser o principal no entendimento
de vocês.

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