A presente resenha aponta para dois relatos de características semelhantes, porém com pontos de vistas totalmente diferentes; Ibn Khaldun, um hdos maiores historiadores africanos de seu tempo, analisa os africanos a partir de um ponto de vista destoante daquilo que a mentalidade Ocidental acredita ser a relação desses povos entre si. Já a segunda parte, discorremos sobre o relato de um viajante português que analisa seu ambiente sob uma ótica menos agressiva e mais descritiva.
Título original
Análise comparativa de relatos de viajantes - Ibn Khaldun e Gomes Eanes de Zurara
A presente resenha aponta para dois relatos de características semelhantes, porém com pontos de vistas totalmente diferentes; Ibn Khaldun, um hdos maiores historiadores africanos de seu tempo, analisa os africanos a partir de um ponto de vista destoante daquilo que a mentalidade Ocidental acredita ser a relação desses povos entre si. Já a segunda parte, discorremos sobre o relato de um viajante português que analisa seu ambiente sob uma ótica menos agressiva e mais descritiva.
A presente resenha aponta para dois relatos de características semelhantes, porém com pontos de vistas totalmente diferentes; Ibn Khaldun, um hdos maiores historiadores africanos de seu tempo, analisa os africanos a partir de um ponto de vista destoante daquilo que a mentalidade Ocidental acredita ser a relação desses povos entre si. Já a segunda parte, discorremos sobre o relato de um viajante português que analisa seu ambiente sob uma ótica menos agressiva e mais descritiva.
Autores escolhidos: Ibn Khaldun e Gomes Eanes de Zurara.
O autor africano Ibn Khaldun, nascido em Túnis, no norte da África, de maneira
parecida como o autor português, evidencia a cor da pele dos povos que conhece. Percebe- se então, semelhanças na divisão deste autor com a feita pelos portugueses: aquele divide entre o Nilo Egito, que corre para sua região, o norte e o Nilo dos Negros que segue em direção oeste, local onde se inicia a incidência de povos com a cor da pele diferentes da sua; os portugueses, por sua vez, entendiam o Senegal como a região onde se separavam as terras dos mouros e dos negros. Mais adiante no texto, Ibn Khaldun comenta sobre uma região onde o povo viva em cavernas, se alimentava de ervas e grãos crus; para o autor, isso significava uma “ausência de civilização”, visto que de seu ponto de vista, tais atitudes faziam deles semelhantes aos animais e não aos “seres pensantes”. Além disso, o historiador africano tece críticas à antropofagia de certos povos, que para ele sequer poderiam ser considerados humanos. Dando continuidade à leitura do relato do autor africano, percebe-se o quanto a questão religiosa tem um peso em sua visão. Além disso, deferentemente do relato do autor português, ele perpassa pela questão da escravidão, já instaurada naquele local. É interessante pensar com isso, a respeito das relações que lá já existiam e de sua dinamicidade dentro do dia-a-dia os habitantes locais, muito diferente daquilo que está fixado no imaginário Ocidental dos dias de hoje. A questão de interferência do clima no fenótipo e relações sociais das pessoas, se mostra como um ponto fundamental nos escritos de Ibn Khaldun; sua tese afirma que nas regiões que apresentam temperaturas mais altas, seus habitantes não apresentam harmonia, inclusive, tendo os frutos e condimentos locais influenciados por esse fator, e sendo “estranhos” e com forma “grotesca”. Para ele, negros de algumas partes do mundo teriam hábitos mais próximos dos que os bichos que dos homens, o que os distanciariam da "humanidade" por sua constituição e costumes. A pele negra, para ele, seria uma influência direta do clima quente daquela região, da mesma forma que pele branca, os olhos azuis, as sardas e o cabelo louro seriam consequências do clima frio. Já no relato apresentado por Gomes Eanes Zurara, a questão da cor da pele não se faz presente, tendo este uma narrativa mais voltada ao invasor, dando o sentido da tomada da região pelos portugueses. Em sua narrativa Zurara evidencia o deslumbramento dos portugueses por um local estranho, mas que ainda sim, continha belezas as quais que os portugueses desejavam dominar. É interessante ressaltar que o autor escreve que a mesma vontade dos portugueses em cobrar aquela terra, era a dos moradores em não os receber, por isso sua narrativa se guia pela questão do conflito entre ambos, além de evidenciar medo e violência das partes envolvidas. Mais a frente, o autor, descrevendo um dos habitantes, o coloca como um homem "valente e poderoso", mais forte e mais rápido que os portugueses. A partir disso, podemos notar que o relato europeu não se mostra carregado com a ideia de um povo inferior, mas sim, diferente, apresentando suas qualidades próprias – tendo alguns, inclusive, até com mais força que os próprios europeus. Já no relato do africano, por sua vez, povos são diminuídos, sendo considerados até como não humanos por consequência de seus costumes. Outra questão importante a se destacar é sobre a designação que cada autor tem para os povos negros, sendo elas sinônimos para a palavra “negro”. O fator da surpresa em relação a dois animais - atualmente símbolos do continente –, também está presente em ambos os relatos. No primeiro, aparece seu deslumbramento por uma girafa, enquanto o segundo, relata a surpresa dos portugueses sobre a carne de elefante.