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Exercício interpretativo conceitual (1)

João Paulo de Campos Silva

Antropologia

Docente: Profa. Dra. Lidiane Maciel

Franca - 2016
O primeiro fragmento, extraído de um livro do Antropólogo belga, Claude Lévi-
Strauss expõe a dualidade de sociedades extremamente distintas, de povos americanos,
das Antilhas, e de europeus, os espanhóis. Nele se mostra a diferença e a curiosidade
que uns tem pelos outros. Como se vê a curiosidade é um fator nato (ou persistente?)
das duas sociedades, mas o fio condutor da mesma é que as difere.

Laplatine defendia em seu livro Aprender Antropologia que o estranhamento de


outras culturas vem desde o período Helenístico, no qual todos os povos que estavam
fora de sua cultura eram denominados de Bárbaros (LAPLATINE, F, 1988 p. 27); é uma
característica que se esticou até meados do século XIX, quando a Antropologia começa
a tomar forma como ciência própria e cria seu método e objeto de estudo: os povos ditos
“primitivos” das novas terras descobertas.

Baseando-se no conceito do Etnocentrismo, muitos europeus se tomavam como


a civilização mais avançada, dividindo a humanidade em três grupos: Selvagens (no
qual os índios do primeiro excerto se encaixam), Bárbaros (que caracterizam o meio
termo) e civilizados (o mais avançado estágio da humanidade, em que eles se
encontravam).

A indagação que estes faziam sobre a posse ou não de almas por parte dos
indígenas era induzida pelos fatores que eles tomavam como determinantes para se
julgar uma sociedade. Seus costumes, vestimentas, religião, hábitos alimentares,
linguagem, relações com o outro, etc. Dentro delas, quanto mais próximo da realidade
do europeu, mais avançada era o grupo encontrado. Daí surgiu a ideia de que havia
escalas para uma “evolução civilizacional”.

Do final do século XV, período de descobrimento das Antilhas por Colombo, o


fator que guiava a vida da população europeia era o religioso. A igreja católica estava
presente em todos os aspectos que eles tinham como fundamentais, e participava de
grande parte das decisões, tanto no âmbito do Estado, como no âmbito pessoal.

Dessa maneira, a “busca” pela alma dos indígenas era caracterizada pela
tentativa de estudo da população, de caracterizá-los como seres humanos verdadeiros,
ou seja, ignorando suas possíveis crenças em prol de uma “missão” de dar-lhes o
ensinamento da verdadeira religião. Anacronicamente falando, uma espécie de Fardo
do Homem Branco em estágio embrionário.
O segundo texto, uma notícia do final de 2015, fala de um caso claro de
pensamento retrógrado, conservador, etnocêntrico e xenofóbico de um político
ocidental, o qual ainda crê em estágios de civilizações. Ao afirmar que “Culturas não
são todas iguais” e “o Ocidente deve estar preparado para proclamar sua superioridade
sobre a Cultura Islâmica”, como se essa competência se caracterizasse da mesma forma
que um grito de independência, o ex-primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, mostra
que ainda há um pensamento oitocentista rondando a humanidade nos dias de hoje.

Montaigner escrevera: “dir-se-ia que não temos da verdade e da razão outro


ponto de referência que o exemplo e a ideia das opiniões e usos do país a que
pertencemos. Neste, a religião é sempre perfeita, perfeito o governo, perfeito e
irrepreensível o uso de todas as coisas. ” (MONTAIGNER, 2010). Dessa forma, o autor
afirma que, aos olhos das pessoas, a nossa cultura, país e costumes, serão sempre
superiores aos do outro. As tensões que já foram causadas na atualidade, associadas à
Cultura Islâmica ajudaram para que essa ideia de “superioridade cultural do Ocidente”
se fixasse na mente de muitas pessoas.

A origem da cultura australiana talvez também ajude a reforçar este conceito.


Quando Morgan escreve que comparado aos povos da África, onde reinava um caos
étnico, na Austrália havia uma selvageria simples, já avançada a ponto de possuírem
uma arte e instituições próprias da cultura (MORGAN, L. 1877, p. 61).

Ao caracterizar esta dualidade, o ex-primeiro-ministro tem em mente que desde


os primórdios, sua cultura estava apenas um passo atrás, no pensamento etnocêntrico,
do ideal europeu, e que hoje, diferentemente da Islã, eles alcançaram o ápice.

Através de toda sua história, o homem nunca se viu como uma unidade no
mundo, mas sim como grupos fechados, onde o de fora seria perigoso, selvagem ou
inferior. A honra de sua incomparabilidade com as outras culturas ainda é defendida
com unhas e dentes por pessoas mais conservadoras e retrógradas, que se apoiam
principalmente no fator religioso – primeiro item usado para definir a superioridade de
algum povo.

“De sorte que, ou seja, uma questão de imperialismo, ou de preconceito de raça,


ou de uma comparação entre o Cristianismo e o Paganismo, continuamos envaidecidos
com a unicidade, não das instituições humanas do mundo em geral, com que, aliás,
nunca ninguém se preocupou, mas das nossas próprias instituições e realizações, da
nossa civilização. (BENEDICT, R. 1934, p. 16) ”.

A afirmação acima, da característica de décadas atrás do pensamento ocidental,


feito pela antropóloga inglesa, ainda reina, o que possibilita essa onda conservadora que
vem crescendo em todo o mundo. A ideia de globalização, que aproximou tanto as
diversas culturas, em vez de diminuir, aumentou o preconceito e criou um nacionalismo
exacerbado e perigoso.

 Referências bibliográficas

- LAPLATINE, F. Aprender Antropologia. Editora brasiliense, 1988, p. 27.

- MONTAIGNER, M. Os Ensaios. Companhia das Letras, 2010.

- MORGAN, L. A Sociedade Antiga. Zahar, 1877, p. 61

- BENEDICT, R. Padrões de Cultura. Vozes, 1934, p. 16

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