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PRÁTICAS SOCIAIS E PROCESSOS EDUCATIVOS

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese: DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da


filosofia da libertação. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 51-73, 2016.

No início de sua escrita, Dussel (2016) contextualiza a ruptura histórica, que desde o final
da década de 1960, com o surgimento das ciências sociais críticas latino-americanas e a obra
Totalidade e infinito de Levinas (1988), juntamente com os movimentos populares e estudantis de
1968, o que era tratado como mundo metropolitano e mundo colonial agora passou a ser “centro”
e “periferia”. Para o autor, essa ruptura se tratava de dominação e exploração de algumas culturas
sobre as demais. Até então, a filosofia latino-americana era pensada a partir de uma cultura já
determinada: eurocêntrica contudo, para Dussel, a realidade latino-americana deveria ser vista pelo
olhar do colonizado e não do colonizador e, por isso, havia uma necessidade de uma filosofia
latino-americana: a filosofia da libertação. Afinal, como podemos usar a filosofia europeia para
entendermos os problemas latino-americanos? Logo, a filosofia da libertação parte de uma
reflexão filosófica da realidade latino-americana em que pessoas são e foram submetidas às
diversas formas de dominação seja econômica, social, religiosa, política ou epistemológica. A
filosofia da libertação objetiva o desenvolvimento de uma cultura popular como alternativa à
filosofia dominante.
Conforme expresso no texto, o início de um diálogo intercontinental “Sul-Sul” entre os
pensadores da África, Ásia e América latina iniciou-se em 1974, contudo, somente em 1976 houve
uma reunião realizada na Tanzânia. A partir desse encontro, um novo panorama sobre as grandes
culturas da humanidade se deu. Em pleno desenvolvimento da filosofia da libertação, aconteceu
uma última reunião realizada em Buenos Aires com o título Cultura Imperial, cultura ilustrada e
libertação da cultura popular, e a partir dali houve uma desmistificação de “heróis” nacionais que
foram assim considerados por meio de um modelo neocolonial do país. Ou seja, iniciou-se uma
crítica em relação àquilo que era apropriado como cultura. Até então, não havia um diálogo
intercultural, mas apenas “dominação, exploração e aniquilação” (DUSSEL, 2016, p. 52). Para o
autor, era necessário pensar filosofia a partir de uma visão crítica e libertadora, sendo necessária
uma revolução patriótica, social e cultural.
Para Dussel, o processo de libertação se inicia a partir do momento que há uma
reivindicação e reconhecimento do lugar de vítima. Ao longo do texto, o autor faz uma
contextualização histórica sobre modernidade e pós-modernidade. Para Dussel, a modernidade
está interligada na colonialidade, ou seja, a história, ciência, filosofia, linguagem, religiões estão
enraizadas nas culturas europeias. Transmodernidade se trata de uma visão de sociedade ético-
política que considera os violentados, destruídos e negados pela modernidade eurocêntrica.
Consiste em uma visão que se fundamenta no diálogo intercultural das populações oprimidas da
América latina; Ásia; África; Oceania e Europa. A partir da leitura do texto, percebe-se que, para
existir um diálogo intercultural se faz necessário, antes de tudo, reconhecer que a cultura periférica
foi oprimida pela cultura imperial. Sendo assim, é a partir da cultura periférica que deve ser
determinado o ponto de partida. Sendo assim, “o ‘projeto de libertação cultural’ (DUSSEL, 1973,
147), parte da cultura popular, embora pensado a partir da filosofia da libertação no contexto
latino-americano” (DUSSEL, 2016, 53). Sobre “popular” e “populismo”, segundo o autor é
necessário diferenciar os termos. “Populista” diz respeito à inclusão na cultura nacional, ou seja,
aquilo que pertence ao povo e à comunidade política a qual pertence, isto é, a nação. Já o “popular”
representa um setor social de explorados e oprimidos, ou seja, o povo. Para o autor, a perspectiva
eurocêntrica desprezou o conhecimento e desumanizou os humanos, além de fazer o mesmo com
a expressão cultural de outros povos. As culturas periféricas foram menosprezadas, colonizadas,
desprezadas e negadas pela modernidade eurocentrada, contudo, elas não foram eliminadas e, por
isso, é possível estabelecer um diálogo entre as culturas.

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