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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese da obra: BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição


para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996, p. 17-68.

Segundo o epistemológico francês, Gaston Bachelard, os obstáculos são essenciais


para a processualidade do conhecimento científico, pois é pelo conflito que acontece o
movimento, isto é, o ato de pensar. Contudo, a construção da ciência, para Bachelard,
ocorre pela superação desses obstáculos. Segundo o autor, os obstáculos não são a
complexidade, a fugacidade dos fenômenos ou a fragilidade do pensamento humano, mas
são os conflitos e a lentidão que causam inércia, ou seja, estagnação e até mesmo
regressão no próprio ato de conhecer. Isso significa que a falta de problematização e
interesse pelo conhecimento é um empecilho para se fazer ciência. Para que haja a
construção do conhecimento científico, como já dito, é necessário superar diversos
obstáculos e para o autor, o primeiro obstáculo a ser superado é a opinião.
Conforme Bachelard (1992, p. 18), “a opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades
em conhecimento”, então, devido a isso, ao fazer ciência a opinião não deve ser
considerada, pois é um conhecimento superficial de algo e para ele o espírito científico
não aceita opiniões sobre algo que não se compreende de fato.

No primeiro capítulo intitulado A noção de obstáculo epistemológico plano da


obra, o autor possibilita a compreensão sobre a importância das perguntas para o fazer
científico, isto é, a problematização. Para a ciência, segundo o autor, as perguntas são
mais importantes do que as respostas, pois são as dúvidas/problematizações que
movimentam os cientistas para a compreensão de algo. São as perguntas que geram
conflitos de saberes e compreensões e por consequência são os conflitos que geram o
movimento pela busca de um novo saber/respostas. Segundo Bachelard, “o ato de
conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal
estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização” (1996,
p. 17). Ou seja, o conflito gera essa busca por um novo conhecimento.

Ao relacionar as compreensões de Bachelard com uma pesquisa acadêmica, é


possível considerar que: se não há uma curiosidade, problematização ou uma pergunta
em busca de uma resposta ou compreensão, não há produção de conhecimento científico.
Então, se em uma pesquisa acadêmica, seja uma dissertação ou tese, se não há um
problema de pesquisa é impossível existir pesquisa. Para Bachelard (1992, p 21):
(...) em todas as ciências rigorosas, um pensamento inquieto desconfia
das identidades mais ou menos aparentes e exige sem cessar mais
precisão e, por conseguinte, mais ocasiões de distinguir. Precisar,
retificar, diversificar são tipos de pensamento dinâmico que fogem da
certeza e da unidade, e que encontram nos sistemas homogêneos mais
obstáculos do que estímulo. Em resumo, o homem movido pelo espírito
científico deseja saber, mas para, imediatamente, melhor questionar.

Ou seja, para produzir conhecimento é necessário que o pesquisador possua um


espírito quieto que busque respostas, mas que principalmente faça questionamentos. Para
o autor, é necessário que a cultura científica seja aberta, dialógica e dinâmica aos novos
conhecimentos, para que haja uma revolução das ciências, pois caso contrário, haverá
uma estagnação dos saberes. Como já dito, a opinião é um obstáculo que necessita ser
superado, pois ela dificulta a chegada de novos conhecimentos. Segundo Bachelard, na
formação do espírito científico a experiência primeira também é um obstáculo que
necessita ser superado. Assim como a opinião, a experiência primeira não pode ser
considerada uma base confiável para o conhecimento, pois muitas vezes pode está
carregada de impulsos devido ao ímpeto de conhecer. Para o autor, afirmar sem provas
ou com base em observações imprecisas é um ato anticientífico. Então, para o autor há
alguns problemas que impedem o conhecimento científico, a saber, os obstáculos, e para
que haja revolução é indispensável a superação dos mesmos.

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