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03/03/2021 Desmundo, o Brasil do séc.

XVI

Desmundo, o Brasil do séc. XVI


27 de fevereiro de 2015

Baseado no livro homônimo de Ana Miranda, o lme “Desmundo” narra a história das
órfãs portuguesas que, em 1570, foram enviadas ao Brasil para se casarem  com os
colonizadores. Sob o apoio da Igreja, o Estado português pretendia que os colonos
tivessem casamentos  “brancos e cristãos”  reduzindo, assim, o nascimento de
crianças mestiças oriundas das relações com índias e negras.

A personagem Oribela (Simone Spoladore) é uma das órfãs portuguesa enviadas ao


Brasil para o casamento forçado. Obrigada a casar com Francisco de Albuquerque
(Osmar Prado), é levada para seu engenho de açúcar onde é violentada pelo marido. Tenta fugir, embarcar para um
navio e voltar a Portugal, mas é recapturada por Francisco que a acorrenta em um pequeno galpão. Ali ela só conta com
a ajuda de uma índia que lhe leva comida e aplica plantas medicinais em seus ferimentos.

Quando ela sai de seu cativeiro, continua determinada em fugir, até que numa noite, ela se disfarça de homem e segue
para a vila, pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um cristão-novo que morava na região. Mantêm-se escondida 
no estabelecimento do cristão-novo até ser descoberta pelo marido.

Novamente capturada, Oribela retorna à casa de Francisco. Passado algum tempo, Oribela dá à luz a uma criança,
deixando-se em dúvida quem seria seu pai.

O drama vivido pela personagem faz compreender o título do lme: a colônia, longe de ser o paraíso imaginado pelos
primeiros colonizadores e nem mesmo uma reprodução do Reino, transformou-se num “desmundo”, isto é, um “não-
mundo”, termo aportuguesado do latim.

A mulher no Brasil colonial


No lme “Desmundo”, além de Oribela, dona Branca (Berta Zemel), dona Brites (Beatriz
Segall) e outras personagens femininas  traduzem a condição da mulher no Brasil
Colonial.

Segundo os costumes da época, quando uma jovem perdia o pai, cava sob a tutela do
Estado português que se tornava responsável pelo seu futuro. Enviar órfãs para
desposar colonos era uma prática comum e foi adotada em outras colônias, como, por
exemplo, em Goa, na Índia, como forma de preservar a “pureza” da elite branca de origem portuguesa.

A mulher vivia, então, submetida às leis do Estado e da Igreja sob o fundamento de que o homem era superior e,
portanto, cabia a ele exercer a autoridade. A mulher devia submissão total ao homem seja ele o pai, o marido, o irmão
ou um tio. Sua educação era voltada exclusivamente para os afazeres domésticos. Aprendia a cozinhar, ar, tecer,
bordar. O aprendizado da leitura e da escrita, quando ocorria, limitava-se ao mínimo restringindo-se ao funcionamento
do futuro lar: ler, escrever, contar para redigir uma receita, um bilhete, uma lista de produtos etc.

Casava-se menina ainda, com 12 anos completos ou até mais cedo. O matrimônio era decidido pelo pai e este cava
muito apreensivo quando a menina de 14 ou 15 anos ainda não se casara, ou pior, se sequer conseguira marido para
ela. O noivo era, em geral, um homem bem mais velho, de trinta, sessenta até setenta anos. O ato sexual não se
destinava ao prazer (especialmente para a mulher), mas à procriação de lhos. A relação sexual era marcada pela
violência, quase um estupro, como bem mostra o lme.

 O lme insinua uma relação incestuosa entre mãe e lho, pelos diálogos entre dona Branca e Francisco de A
e pela presença da menina excepcional sem que haja referência ao seu pai. Pode-se
supor que a criança fosse lha de Francisco de Albuquerque, gerada de uma relação com
a própria mãe.

Sociedade colonial

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Chamados de “brasis”, os índios são escravizados pelos colonos. Os jesuítas reclamam


da falta de batismo dos nativos. Em suas visitas frequentes à casa de Francisco, o padre
acusa que, na fazenda dele, existem mais de dez brasis sem receber catequese. Ao nal,
o padre leva alguns meninos índios  para torná-los cristãos, deixando-se no ar a suspeita
de que, na verdade, pretendia usá-los como mãos de obra escrava.

O cristão-novo, judeu convertido ao catolicismo, é um elemento dúbio no lme. Apesar


de sua presença necessária, é visto com descon ança pelos demais colonos e, as vezes,
até com repulsa.

O lme “Desmundo” faz uma reconstituição rigorosa do Brasil do século  XVI no vestuário, mobiliário, costumes e
inclusive na língua. Inteiramente falado em português arcaico (que todo elenco teve que aprender), o lme traz
legendas para ajudar na compreensão. A tradução inversa (para o português arcaico) foi feita pelo professor Helder
Ferreira, da USP.

Interessante observar que as falas de índios e escravos não tem tradução, o que permite ao espectador imaginar a
pluralidade de linguagens existente na colônia e a di culdade de comunicação entre os diversos grupos sociais.

Explorando os temas abordados pelo lme Desmudo


O lme “Desmundo” é riquíssimo no aspecto didático, ele poderá ser utilizado para enfocar temas especí cos e
polêmicos da História Colonial, bem como auxiliar no sentido interdisciplinar, já que envolve outros temas que poderão
ser trabalhados em outras disciplinas.

Diversos temas poderão ser extraídos do lme “Desmundo”, tais como:

A religiosidade no Brasil colonial


A situação da mulher na sociedade portuguesa do séc. XV
O conceito de matrimônio
O cotidiano no Brasil colonial: costumes, habitações, condições de higiene
Con itos entre a Igreja e os colonos na questão indígena
Relações comerciais na colônia
Relações sociais na colônia: colonos, índios, padres, cristãos-novos

Desmundo. Direção de Alain Fresnot. Brasil, 2003.

Veja o lme completo aqui.

Em uma entrevista, a Profª. Drª. Márcia Eckert Miranda, da Unisinos (RS) analisou a representação
dos índios e da mulher no lme. Con ra aqui.

Desmundo, capa
do DVD.

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