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XVI
Baseado no livro homônimo de Ana Miranda, o lme “Desmundo” narra a história das
órfãs portuguesas que, em 1570, foram enviadas ao Brasil para se casarem com os
colonizadores. Sob o apoio da Igreja, o Estado português pretendia que os colonos
tivessem casamentos “brancos e cristãos” reduzindo, assim, o nascimento de
crianças mestiças oriundas das relações com índias e negras.
Quando ela sai de seu cativeiro, continua determinada em fugir, até que numa noite, ela se disfarça de homem e segue
para a vila, pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um cristão-novo que morava na região. Mantêm-se escondida
no estabelecimento do cristão-novo até ser descoberta pelo marido.
Novamente capturada, Oribela retorna à casa de Francisco. Passado algum tempo, Oribela dá à luz a uma criança,
deixando-se em dúvida quem seria seu pai.
O drama vivido pela personagem faz compreender o título do lme: a colônia, longe de ser o paraíso imaginado pelos
primeiros colonizadores e nem mesmo uma reprodução do Reino, transformou-se num “desmundo”, isto é, um “não-
mundo”, termo aportuguesado do latim.
Segundo os costumes da época, quando uma jovem perdia o pai, cava sob a tutela do
Estado português que se tornava responsável pelo seu futuro. Enviar órfãs para
desposar colonos era uma prática comum e foi adotada em outras colônias, como, por
exemplo, em Goa, na Índia, como forma de preservar a “pureza” da elite branca de origem portuguesa.
A mulher vivia, então, submetida às leis do Estado e da Igreja sob o fundamento de que o homem era superior e,
portanto, cabia a ele exercer a autoridade. A mulher devia submissão total ao homem seja ele o pai, o marido, o irmão
ou um tio. Sua educação era voltada exclusivamente para os afazeres domésticos. Aprendia a cozinhar, ar, tecer,
bordar. O aprendizado da leitura e da escrita, quando ocorria, limitava-se ao mínimo restringindo-se ao funcionamento
do futuro lar: ler, escrever, contar para redigir uma receita, um bilhete, uma lista de produtos etc.
Casava-se menina ainda, com 12 anos completos ou até mais cedo. O matrimônio era decidido pelo pai e este cava
muito apreensivo quando a menina de 14 ou 15 anos ainda não se casara, ou pior, se sequer conseguira marido para
ela. O noivo era, em geral, um homem bem mais velho, de trinta, sessenta até setenta anos. O ato sexual não se
destinava ao prazer (especialmente para a mulher), mas à procriação de lhos. A relação sexual era marcada pela
violência, quase um estupro, como bem mostra o lme.
O lme insinua uma relação incestuosa entre mãe e lho, pelos diálogos entre dona Branca e Francisco de A
e pela presença da menina excepcional sem que haja referência ao seu pai. Pode-se
supor que a criança fosse lha de Francisco de Albuquerque, gerada de uma relação com
a própria mãe.
Sociedade colonial
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/desmundo-o-brasil-do-sec-xvi/#:~:text=Baseado no livro homônimo de,se casarem com os colonizadores.&text=Obrigada a casar com Francisco,onde é violentada pelo marido. 1/2
03/03/2021 Desmundo, o Brasil do séc. XVI
O lme “Desmundo” faz uma reconstituição rigorosa do Brasil do século XVI no vestuário, mobiliário, costumes e
inclusive na língua. Inteiramente falado em português arcaico (que todo elenco teve que aprender), o lme traz
legendas para ajudar na compreensão. A tradução inversa (para o português arcaico) foi feita pelo professor Helder
Ferreira, da USP.
Interessante observar que as falas de índios e escravos não tem tradução, o que permite ao espectador imaginar a
pluralidade de linguagens existente na colônia e a di culdade de comunicação entre os diversos grupos sociais.
Em uma entrevista, a Profª. Drª. Márcia Eckert Miranda, da Unisinos (RS) analisou a representação
dos índios e da mulher no lme. Con ra aqui.
Desmundo, capa
do DVD.
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