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Livro O Guarani, de José de Alencar

A história contada por José de Alencar se passa no início do século XVII, na Serra dos Órgãos, interior do Estado
do Rio de Janeiro, em uma fazenda as margens do rio Paquequer.

Narrado em 3ª pessoa, o romance é dividido em 04 partes (Os aventureiros, Peri, Os aimorés e A Catástrofe).
A obra é um dos maiores representantes da 1ª fase do modernismo brasileiro, conhecida como indianista.

Resumo
O primeiro personagem a ser apresentado é D.Antônio de Mariz, abastado fidalgo português, um dos
fundadores da cidade do Rio de Janeiro. Foi sempre dedicado ao rei de Portugal e ajudou, toda vez que foi preciso,
a consolidar o poder português na colônia. O fidalgo afirma nas primeiras páginas do livro:

— Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento.
Nesta terra que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço, nesta terra livre, tu reinarás, Portugal,
como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!

A esposa de D.Antônio de Mariz era D.Lauriana, uma dama paulista descrita como "um bom coração, um pouco
egoísta". Juntos tiveram dois filhos, D.Diogo de Mariz, que viria a seguir os passos profissionais do pai, e D.Cecília,
uma moça meiga e travessa.

D.Antônio tinha ainda outra filha, D.Isabel, bastarda, fruto de um caso do fidalgo com uma índia. D.Isabel, no
entanto, vivia na casa do pai e era tratada como uma sobrinha.

D.Antônio contava com a ajuda nos negócios de Álvaro de Sá, amigo da família, e Sr.Loredano , funcionário
da fazenda.

Peri, índio da tribo dos Goitacás, tinha um amor devoto e fiel por Ceci. Após salvar a moça, o índio foi viver
com a família Mariz, passando a fazer todas as vontades da amada.

— Não há dúvida, disse D. Antônio de Mariz, na sua cega dedicação por Cecília quis fazer-lhe a vontade com risco
de vida. É para mim uma das coisas mais admiráveis que tenho visto nesta terra, o caráter desse índio. Desde o
primeiro dia que aqui entrou, salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de abnegação e heroísmo. Crede-
me, Álvaro, é um cavalheiro português no corpo de um selvagem!

Mas Peri não era o único apaixonado por Ceci. Álvaro Sá, amigo da família, também era encantado pela moça e
vivia oferecendo presentes e mimos. Ceci, porém, não tinha o menor interesse por esse fiel e elegante cavalheiro.
Isabel, meia irmã de Ceci, é que era apaixonada por Álvaro.

Na terceira parte do romance, a família Mariz corre perigo. Loredano bola um plano para alcançar as minas de prata
e os índios aimorés decidem atacar a fazenda.

Peri percebe a ampla vantagem do inimigo e, para salvar a família, se submete a um grande sacrifício. Sabendo que
os aimorés eram canibais, Peri se envenena e vai para combate.

A ideia do índio era ao morrer, a tribo se alimentaria da sua carne e, a seguir morreria, porque a carne estaria
envenenada. Essa seria a única maneira de Peri proteger Ceci.

Por fim, felizmente, Álvaro descobre o plano de Peri e consegue salva-lo. Os projetos de Loredano também não
vão a frente e ele acaba condenado a morrer na fogueira.

Álvaro, após salvar Peri, é assassinado pelos índios e Isabel, desesperada, se mata para acompanhar o amado na
próxima vida.

A fazenda da família Mariz é incendiada e, a fim de salvar a filha, D.Antônio batiza Peri e o autoriza a fugir com ela.

O romance se encerra após um grande temporal, com Peri e Ceci desaparecendo no horizonte.

Personagens
Peri
Índio da tribo dos Goitacás. Nutre profundo amor por Ceci, moça que protege e acompanha. É o herói da história.

Ceci (Cecília)
É a heroína da história. Meiga, doce e delicada, é uma típica representante do romantismo. Cecília é filha do casal
D.Antônio de Mariz e D.Lauriana.

D.Antônio de Mariz
Pai de Cecília, D.Diogo e Isabel. Fidalgo português que se estabelece com a família em uma fazenda as margens
do rio Paquequer, interior do Estado do Rio de Janeiro.

D.Lauriana
Mãe de Cecília e D.Diogo, esposa de D.Antônio de Mariz.

D.Diogo
Irmão de Cecília e meio irmão de Isabel, D.Diogo é filho do casal D.Antônio e D.Lauriana.

Isabel
Filha bastarda de D.Antônio com uma índia, Isabel é uma morena sensual que vive com a família Mariz. É
apaixonada por Álvaro de Sá.

Álvaro de Sá
Amigo de longa data da família Mariz, Álvaro de Sá nutre uma paixão não correspondida por Cecília. A meia irmã de
Ceci, Isabel, por sua vez, é apaixonada por Álvaro de Sá.

Loredano
Empregado da fazenda de D.Antônio de Mariz, Loredano é um vilão por excelência. Planeja usurpar o patrimônio do
patrão e raptar Ceci.

Contexto histórico
O romance é considerado uma das principais obras da 1ª fase do modernismo (indianista), no Brasil.
O desejo do autor era valorizar o que é nosso, tipicamente brasileiro, voltando o olhar para a nossa origem, para a
relação colonizado e colonizador (representados no romance pela relação de Peri e Ceci). Nesse sentido, José de
Alencar optou por transformar o índio em uma espécie de herói aos moldes medievais (valente, corajoso,
idealizado).

“O Guarani” – Análise da obra de José de Alencar

A formação do povo brasileiro


“O Guarani” foi publicado originalmente como folhetim de janeiro a abril de 1957, sendo lançado na forma de livro no
final desse mesmo ano. A obra é um dos maiores representantes da 1ª fase do modernismo brasileiro,
conhecida como fase indianista. Como o próprio nome diz, essa fase procurava valorizar o índio de forma a
transformá-lo em um verdadeiro herói nacional. José de Alencar tinha a intenção de criar obras que mostrassem
a realidade brasileira de sua época, exibindo as belezas do Brasil e o índio. Assim, Alencar contou através da
história de amor de Peri e Ceci em “O Guarani” o tema da miscigenação entre o índio e o branco.

Na época de seu lançamento, “O Guarani” obteve muito sucesso de público e crítica. Os leitores de então já
estavam acostumados com a leitura de folhetins, mas o formato “romance” ainda não estava bem desenvolvido no
Brasil. Com o lançamento de “O Guarani”, esse novo gênero literário ganhou força e passou a ser produzido com
maior frequência e qualidade pelos escritores brasileiros. Por conta disso, essa obra é considerada o primeiro
grande romance brasileiro.
“O Guarani” também pode ser considerado um romance histórico, uma vez que diversas personagens são
inspiradas em pessoas reais. Além disso, têm-se também uma caracterização do Brasil da época como sendo um
espelho da Europa medieval. Um exemplo significante é o de D. Antônio de Mariz, cuja fortaleza é descrita como
sendo uma mistura da arquitetura colonial brasileira com a de um castelo medieval. Além disso, a relação dele com
a de seus empregados é igual a que um senhor feudal tem com seus vassalos.

A estrutura do romance também segue o clássico modelo da história romântica: há uma moça bonita, o
herói e o vilão. Ceci é a bela “princesa” loira e pura, filha do nobre D. Antônio de Mariz. Por ela se apaixonam três
homens: Loredano, Álvaro e Peri. Loredano, que na verdade é o frei Ângelo di Luca, é o grande vilão do romance e
sua paixão por Ceci não passa de um desejo sexual. Em contraste a Loredano está Peri, o índio e grande herói da
história. Seu amor por Ceci tem tons de sagrado e ele a vê como uma imagem de Nossa senhora. No meio desses
dois opostos encontra-se o nobre cavalheiro Álvaro, que ama Ceci de forma respeitosa e a vê como futura esposa.
Porém, em certo momento ele acaba se envolvendo com Isabel, uma moça mestiça filha de D. Antônio com uma
índia. Isabel é uma personagem com bastante força dentro da história, uma vez que ela encarna o complexo de
inferioridade e o preconceito que sofre por ser mestiça.

O amor de Peri e Ceci é representado bem ao gosto do romantismo: Peri é o herói que se dedica inteiramente a
sua amada, idolatrando-a como sua senhora. Ao final do romance, Peri realiza um ato heroico de sacrifício tomando
veneno para que a tribo antropófaga dos aimorés morresse envenenada após comer sua carne. Porém, Álvaro
acaba convencendo-o a tomar o antídoto e é salvo. Após a derrota dos portugueses, D. Antônio pede a Peri que
ele se converta ao cristianismo e fuja com sua filha Ceci.

Dessa forma, o índio abandona sua tribo, língua e religião em nome de sua amada. Esta gradual
transformação de Peri mostra a imposição da cultura branca e do cristianismo, e uma posterior assimilação
do “selvagem” idealizado. Por fim, cabe ressaltar que a cena final de Peri e Ceci sumindo no horizonte seria uma
representação das origens do povo brasileiro. Assim, um casal formado por uma portuguesa e por um índio,
eles seriam os fundadores da nação brasileira.

Narrador
“O Guarani” apresenta foco narrativo em 3ª pessoa, sendo o narrador onisciente intruso. Ou seja, o narrador
não só possui acesso aos pensamentos e sentimentos das personagens, como também expõe ao longo da
narrativa comentários sobre as atitudes das personagens. Essa parcialidade e falta de distanciamento do narrador
serve para induzir o leitor a acreditar na tese indianista de exaltação à natureza e eleição do índio como herói
nacional.

Comentário do professor
O prof. Marcílio explica que se estava em um momento histórico diretamente posterior ao da Independência do
Brasil e havia-se a necessidade de criar uma cultura propriamente brasileira, diferenciando-a da cultura de Portugal.
Se a língua e outros traços culturais eram iguais, o que encontraram como símbolo do Brasil foi justamente a própria
terra, com suas belezas e encantos, e o índio, elegido como verdadeiro herói nacional.

Na figura do índio foram encerrados todos os valores que gostariam de ser associados ao homem
brasileiro, tais como honra, lealdade, devoção à amada e sobretudo o amor pela terra . O prof. Marcílio lembra
que a figura do índio dentro do Romantismo brasileiro é claramente idealizada, sendo que os próprios autores
tinham consciência disso, mas pensando-se dentro do momento histórico em que a obra foi concebida a figura do
índio surge como símbolo máximo da terra brasileira. Portanto, o índio Peri, protagonista de “O Guarani”, deve
ser entendido como um símbolo da terra brasileira.
Além da relação de Peri com a terra, outro ponto importante do livro é a relação amorosa de Peri e Ceci , que
aproxima-se do endeusamento, da devoção religiosa. Ceci é uma “moça especial”, pois apesar de sua origem
europeia e de sua condição aristocrática, ela é uma moça que se mostra muito apegada à natureza selvagem e
entende a terra brasileira. Assim, a relação de Ceci com a terra também é um ponto que merece atenção, diz o prof.
Marcílio. Ainda sobre o amor entre Ceci e Peri, deve-se ter em mente que a união entre os dois é uma alegoria da
criação da raça brasileira. A união do casal não fica explícita, como acontece por exemplo em Iracema, mas é
sugerida ao final do livro quando eles resolvem ficar juntos na natureza selvagem e partem.

Por fim, o prof. Marcílio lembra ainda que existem outras tramas paralelas na obra, tais como a relação de
Isabel e Álvaro. Isabel é filha bastarda do pai de Ceci e representa um novo padrão de beleza, que seria a beleza
brasileira, e há sempre um contraste entre essas duas moças.

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