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A PROSA

ROMÂNTICA

Profa. Vanessa Chagas


A PROSA ROMÂNTICA
O Romantismo proporcionou não somente a inserção de um novo modelo formal na lírica e a apresentação de um
aprofundamento no sentimento amoroso, como também introduziu novos gêneros literários. A prosa é um modelo textual
escrito em parágrafos, que narra os acontecimentos de um enredo e carrega grande caráter descritivo.

No século XIX, a classe social vigente era a burguesia. Após a Independência do Brasil (1822), os escritores românticos
tomaram para si o compromisso de criar uma literatura com traços da cultura brasileira. Com isso, a inserção do
romance passa a narrar os acontecimentos da vida cotidiana, substituindo a epopeia. Voltado para a descrição e
costumes do cenário brasileiro, os a prosa do romantismo se subdivide em: histórica, regional e urbana.
O ROMANCE INDIANISTA
Assim como na poesia romântica, a imagem do índio era associada ao herói da America, ajudando a propagar o
sentimento nacionalista idealizado. Uma influência que contribuiu para a implantação do indianismo no Brasil foi a
existência dos relatos históricos e descritivos da literatura informativa no século XVI, que colaborou com uma série de
conhecimentos sobre a cultura indígena. Além disso, há uma aproximação dessa figura nativa com a de um cavaleiro
medieval, ideal propagado no cenário europeu, durante a Idade Média.

Os romances indianistas sempre destacavam o choque entre as culturas: entre o índio, elemento nativo e “selvagem” e o
homem branco, ou seja, colonizador, provindo do continente europeu. As principais obras indianistas foram escritas pelo
principal autor da prosa romântica: José de Alencar. Entre as prosas, podemos destacar “O Guarani”, “Iracema” e
“Ubirajara”.

É importante destacar que os romances eram publicados em capítulos, em forma de folhetins, o que fazia que a cada
publicação, os leitores se prendessem à obra, sentindo-se ansiosos pelos próximos acontecimentos. Esse costume também é
visto em nossa sociedade contemporânea, essas pequenas divisões da história são retratadas semanalmente nas novelas.
O Guarani
O livro começa com a apresentação da família de D. Antônio de Mariz,
fidalgo português que decide morar no interior do Rio de Janeiro e que é
totalmente a favor do poder português na colônia.
A família de D. Antônio conta com sua esposa, D. Lauriana, uma bela dama
paulista, e seus dois filhos: D. Diogo de Mariz, que queria seguir os passos do
pai, e Cecília, uma moça muito meiga, chamada carinhosamente de Ceci. Além
deles, havia ainda Isabel, filha que D. Antônio teve fora do casamento com uma
índia local, e que era tratada como uma sobrinha pela família.
Na fazenda da família, Antônio acaba conhecendo Peri, um índio da tribo
dos Goitacases, que logo faz amizade com o fidalgo e se apaixona por Ceci
depois de salvá-la de um ataque. Depois desse ato de bravura, Peri começa a
morar com a família e faz todas as vontades da moça que ama. No entanto,
ele não era o único que estava apaixonado por Ceci, pois Álvaro Sá, amigo da
família, também amava a moça, lhe dando muitos presentes.
Cecília não tinha o menor interesse por Álvaro e o evitava a todo custo,
porém, Isabel estava apaixonada pelo homem, que não a enxergava por estar
cego com seu amor por Ceci.
O Guarani
Assim, na obra temos um conjunto de amores não correspondidos, que formam
diversos conflitos entre os personagens durante todo “O Guarani”.
Em meio a isso, a família é ameaçada por Loredano, que queria incendiar a
fazenda de Antônio, roubar sua fortuna e sua filha. Contudo, Peri consegue
evitar o incêndio, e todos descobrem a traição de Loredano, que acaba sendo
preso e queimado numa fogueira.
Além disso, Diogo acaba matando sem intenção uma índia da tribo Aimoré, e
com isso, desperta a raiva de toda a tribo, que decide atacar a fazenda e
tentar matar todos que estivessem lá.
Peri, ao ver que Ceci estava em perigo, decide fazer um grande sacrifício
para salvá-la. Ele toma um veneno e vai para o combate com os Aimorés. A
ideia de Peri era a seguinte: como os Aimorés eram antropófagos (comiam seus
inimigos para adquirirem força e coragem), ele seria morto e comido pelos
índios, que morreriam por causa do veneno que Peri havia tomado e que
estaria na sua carne.
O Guarani
Em meio a tudo isso, Cecília descobre sobre o envenenamento de Peri, e
pede a ele que viva, pois não queria perdê-lo. Assim, o índio consegue fazer um
antídoto feito de ervas e sobrevive.
Com o ataque ainda acontecendo, Antônio batiza Peri como cristão e pede
que ele fuja com Ceci. Quando o índio está levando a moça desacordada em
seus braços, vê que Antônio explode sua casa, matando todos que estavam
dentro dela.
Durante vários dias, o casal foge sem um destino certo, e no meio do caminho,
acabam sendo tomados de surpresa por uma tempestade, que se transforma
em um dilúvio.
Eles se abrigam no topo de uma palmeira, e Peri conta para Ceci a lenda
indígena de Tamandaré e sua esposa, que se salvaram de um dilúvio
abrigando-se na copa de uma palmeira desprendida da terra e comendo seus
frutos até que pudessem descer, povoando toda a Terra com seus
descendentes.
O Guarani
Depois que Peri conta essa história, as águas começam a subir, e Ceci se
desespera, pois acredita que aquela é a hora em que vai morrer.
No meio da enchente, com uma força incrível, Peri consegue arrancar a
palmeira e fazer dela uma canoa, para que possam continuar pelo rio.
Assim, temos o final de “O Guarani”: Peri e Ceci acabam repetindo a lenda
de Tamandaré e sua esposa, ao cruzarem as águas com a canoa feita da
palmeira que Peri arrancou da terra.
A PROSA REGIONAL
O romance regional foi muito importante para incentivar uma literatura que abordasse sobre as diversidades locais. A
partir disso, houve uma valorização de aspectos étnicos, linguísticos, sociais e culturais sobre várias regiões do país. Como
esse tipo de romance não tinha influências do contextos europeu, esse impulso de criar algo com valor mais “brasileiro” foi
percursor de futuras escolas literárias.

Entre as regiões abordadas, podemos destacar a capital do Rio de Janeiro e as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.
Além disso, é importante observar nessas obras o choque de valores e costumes, geralmente propagados por personagens
que passam a conviver recentemente em um mesmo ambiente, mostrando alguns contrastes entre o meio urbano e o meio
rural.

Entre as principais obras, podemos destacar “Inocência” e “Retirada da Laguna” de Visconde de Tauany; “O gaúcho”, de
José de Alencar e “O Cabeleira”, de Franklin Távora.
Inocência
A história começa em 1860, no sertão de Santana do Parnaíba, interior do
Mato Grosso.
Martinho dos Santos Pereira vive na fazenda com Inocência, sua filha de 18
anos. O Sr. Pereira exige-lhe obediência total, num regime antigo e educada
longe do mundo. Escolhe para ela o noivo, Manecão, um homem criado no
sertão bruto, de índole violenta. Maria Conga é uma preta, escrava de Pereira.
Tico é o guarda da moça Inocência, bastante fiel apesar de ser mudo.
Um dia, Pereira encontrou-se com um rapaz que percorria os caminhos do
sertão a medicar. Havia feitos estudos no colégio do Caraça e iniciado
Farmácia em Ouro Preto. Chamavam-no de “doutor”, título que não
menosprezava. Seu nome era Cirino Ferreira dos Santos. Inocência estava
doente, com febre violenta, e o “doutor” curou-a . Os dois apaixonaram-se mais
tarde: eram demasiados os cuidados que o “doutor” tinha com ela. Amavam-se
às escondidas e o laranjal era local de encontros proibidos. Pensavam que
ninguém poderiam desconfiar, mas Tico, o anãozinho mudo, estava atento.
Inocência
Nesse ínterim, Pereira andava desconfiado do Dr. Meyer, um caçador de
borboletas, que por lá aparecera. Desconfiava a tal ponto que o ilustre
entomólogo passou a ser “persona non grata”. Dr. Meyer tinha por objetivo
descobrir espécimes novos para museus europeus. Respeitava com muito
carinho e muita atenção a bonita Inocência. Juque, ajudante de Dr. Meyer,
explicava a função de seu patrão: procurar insetos. E isso durante quase dois
anos…
Garcia, leproso, aparece na fazenda do Sr. Pereira. Quer falar com Dr.
Cirino. O “médico” diz-lhe que a doença e incurável e contagiosa.
Inocência foi maltratada pelo pai, quando este soube de seu amor com o
doutor. Foi atirada contra a parede. Resistiu e jurou não se casar com
Manecão, o sertanejo violento. Mas o pai achou que a filha estava de “mau
olhado”, por causa do Dr. Meyer. E encontrou uma solução: ele ou Manecão
mataria o intruso alemão. Dr. Meyer não deu ouvidos a Pereira, zombando de
sua ameaça. Tomou-se de vergonha: era ofensa demais. Tico, após testemunhar
o amor existente entre Inocência e Cirino, explicou ao Sr. Pereira tudo que se
passava.
Inocência
Manecão começou a seguir os passos de Cirino. Até que um dia interpelou-o.
Tirou uma garrucha da cintura e Cirino caiu por terra, pedindo água e
sussurrando o nome de Inocência. Agonizante, exigia do padrinho de Inocência,
Antônio Cesário, que não a deixasse casar-se com Manecão.
Em 1863, o Dr. Guilherme Tembel Meyer apresentava aos entomólogos do
mundo a sua mais recente descoberta: uma borboleta até então desconhecida,
batizada de “Papilio Innocentia” em homenagem a Inocência.
Exatamente nesse dia, fazia dois anos que o gentil corpo de Inocência fora
entregue à terra, no intenso sertão de Santana do Parnaíba, para dormir o
sono da eternidade.
O ROMANCE URBANO
O romance urbano foi o que melhor atendeu às necessidades da burguesia, pois retratava sobre a vida cotidiana, pondo
em discussão os valores morais vividos na época. Com isso, há uma enorme consolidação e amadurecimento desse gênero
no Brasil, principalmente, porque esse influenciará posteriores movimentos literários que abordam sobre o ambiente
urbano.

Entre as obras, podemos destacar: “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, “Memórias de um sargento de milícias”;
de Manuel Antonio de Almeida e “Lucíola” e “Senhora”, de José de Alencar.
O principal autor da 2ª Geração, Álvares de Azevedo também teve papel importantíssimo na prosa, e desenvolveu as
obras “O Macário” e “Noites na Taverna”.

A obra “Memórias de um sargento de milícias”- de Joaquim Manuel Macedo – é a que mais se distancia das
características românticas, como a idealização amorosa e o profundo sentimentalismo. Tal obra apresenta uma série de
aspectos sociais e a descrição de um ambiente mais popular, como também, e a presença de um anti-herói, que se
aproxima de um personagem picaresco. Já nas obras de José de Alencar, o autor faz uma crítica aos valores sociais e
aborda temas como o casamento por interesse e a independência feminina.
Memórias de um sargento de milícias
O romance gira em torno da vida de Leonardo, um menino travesso e
malandro que entre tantas ações se torna um sargento: O Sargento de Milícias.
A história tem como espaço a cidade do Rio de Janeiro.
Ainda pequeno, ele foi entregue aos cuidados dos padrinhos, um barbeiro e
uma parteira. Isso porque seus pais, Leonardo-Pataca e Maria da Hortaliça,
brigaram. Sua mãe foge para Portugal e seu pai, o abandona.
O barbeiro almejava uma boa formação para o menino, portanto, empenhou-
se em dar uma educação religiosa para que ele se tornasse padre. Entretanto,
Leonardo era muito travesso e mal sabia ler e escrever, resultado de sua saída
da escola.
Mais adiante, o menino se apaixona por Luizinha, porém, o envolvimento
deles nesse momento dura pouco.
A família de Luizinha era muito abastada. José Manuel, um amigo da família,
resolve pedir a mãe dela em casamento com o intuito de ficar com os bens e a
fortuna.
Leonardo, sabendo de sua intenção, resolve desabafar com seus padrinhos
que logo falam com Dona Maria, avó de Luizinha. Esse fato, fez com que José
Manuel fosse expulso da casa e ainda, proibido de casar com Luizinha.
Memórias de um sargento de milícias
O padrinho de Leonardo fica doente e logo depois vem a falecer. Com isso,
ele recebe uma herança. Interessado na herança recebida pelo filho,
Leonardo-Pataca entra em cena e o convida para viver com ele.
Nesse momento, Pataca já está casado com a filha da parteira, Chiquinha, e
com ela tem uma filha.
Leonardo tem várias discussões com seu pai e sua madrasta, o que resulta em
sua expulsão da casa. Nesse tempo, ele se envolve com uma mulata chamada
Vidinha e se apaixona por ela. Passa a viver com os jovens da Rua Vala.
Cada vez mais envolvido com Vidinha, dois primos dela que lutam pelo seu
amor, começam a ficar com ciúmes de Leonardo.
Com isso, eles dizem ao Major Vidigal que Leonardo está vivendo
clandestinamente na residência dos jovens. Isso resulta na prisão dele pelo
major Vidigal. Além disso, ele se recusa a alistar-se no exército, sendo preso
novamente.
Sua madrinha vai até a prisão e pede para o major liberar Leonardo. Por fim,
o major lhe oferece o cargo de Sargento de Milícias.
Com a morte do marido de Luizinha que só lhe maltratava, Leonardo casa-se
com ela.

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