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INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

LINGUA PORTUGUESA II

NOME:____________________________ DATA:___/___/____

01. “Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o
Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta
implacável que lhe crescia junto da casa (...).
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço,
deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro
rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber
no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.”
(Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.)
Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que
A. O grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a exalação forte que provinham do cortiço decorriam, segundo
Miranda, do abandono daquela população pelo governo.
B. Os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no coito”, que fazem referência aos moradores do cortiço,
funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus habitantes.
C. O nivelamento sociológico na obra O Cortiço se dá não somente entre os moradores da habitação coletiva e o
seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho Miranda.
D. A presença portuguesa, exemplificada nas personagens João Romão e Miranda, não é relevante para o
desenvolvimento da narrativa nem para a compreensão do sentido da obra.

02. “As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; e tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo
a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para
lavar.
(...) E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de
pretendentes a disputá-los. E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as
suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam
como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de
algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar.”
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Nas cidades brasileiras, particularmente no último quartel do século XIX, novas formas urbanas são
constituídas, como os cortiços e as favelas. Sobre esse fenômeno, é correto afirmar:
A. A expansão periférica no século XIX, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, teve significativa presença de
cortiços, devido à chegada massiva de imigrantes japoneses
B. A primeira favela carioca teve sua origem no forte empobrecimento da população no contexto da crise
cafeeira na região serrana do Rio de Janeiro
C. A maior concentração dos cortiços da cidade de São Paulo, presentes no último quartel do século XIX,
localizava-se na porção mais central da aglomeração urbana
D. As primeiras favelas brasileiras se originaram devido à expansão da atividade industrial, no centro da cidade
de São Paulo, no início do último quartel do século XIX
E. Nas cidades do Vale do Paraíba, durante a expansão cafeeira, os cortiços eram muito frequentes, por conta da
presença de imigrantes italianos empobrecidos

03. “Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e
socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela
dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa,
triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos,
escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda.
A primeira, mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas
lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era
grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos,
a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir
homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão,
que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia
diariamente à venda.”
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Uma relação correta entre o trecho apresentado e o movimento literário em que O cortiço está inserido
A. A referência cuidadosa e delicada à sexualidade dos personagens é parte de um esforço, típico do Realismo,
para apresentar o ser humano em sua totalidade sem sobrecarregar um de seus aspectos.
B. A caracterização dos personagens como indivíduos únicos e isolados da coletividade, deixando em segundo
plano suas relações sociais, é um traço típico do Naturalismo.
C. A preferência dos personagens pela razão e seu desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a ciência e
a objetividade e desvalorizar a religião, são características do Realismo.
D. A valorização da vida perto da natureza, com personagens que abrem mão dos métodos e dos objetos frutos
da tecnologia para se ligarem à tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma característica do
Naturalismo.
E. A descrição das características vulgares dos personagens e a frequente associação entre homens e animais,
que ajudam a estabelecer uma concepção biológica do mundo, são características do Naturalismo.

04. Leia o segmento abaixo, do terceiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo.


“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
(...) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes
dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda;
ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se
naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na
lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.”

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o segmento.


( ) O segmento apresenta a descrição do cortiço sem destacar um personagem, com ênfase na coletividade para
ações triviais de homens, mulheres e crianças.
( ) O despertar, matéria cotidiana, é figurado como fato rotineiro de pessoas executando seus hábitos higiênicos
matinais.
( ) A linguagem do narrador, preocupado em mostrar a dimensão natural presente nas ações humanas,
evidencia-se em expressões como prazer animal de existir.
( ) O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos comerciais usados no
enriquecimento de João Romão.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
A. V – V – F – F.
B. V – V – V – V.
C. V – F – F – V.
D. F – F – F – V.
E. V – V – V – F.

05. O Cortiço narra com efeito a ascensão do taverneiro português João Romão, começando pela exploração de
uma escrava fugida que usou como amante e besta de carga, fingindo tê-la alforriado, e que se mata quando ele a
vai devolver ao dono, pois, uma vez enriquecido, precisa liquidar os hábitos do passado para assumir as marcas
da nova posição. Mas a verdadeira matéria-prima do seu êxito é o cortiço, do qual tira um máximo de lucro sob a
forma de aluguéis e venda de gêneros.
(CANDIDO, Antonio. De cortiço a cortiço. In.: Novos Estudos, 1991, p.113)
Conforme os seus estudos a respeito da obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, e as palavras de Antonio
Candido, é correto afirmar que
A. Rita Baiana se mata ao perceber que será devolvida para o seu dono.
B. João Romão possui uma visão de mundo completamente diferente de Miranda.
C. Bertoleza é retribuída por todo o apoio dado a seu marido.
D. João Romão e Rita Baiana assumem o mesmo estilo de vida de Miranda e sua família.
E. Bertoleza possibilita a João Romão o primeiro capital para a construção do cortiço.

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