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David Severo2
Este artigo apresenta um breve relato de experiência do projeto de extensão "O ensino
de Língua portuguesa para migrantes em Caçador/SC", cujo objetivo se refere a ações
voltadas ao uso da língua em contextos sociais, para a promoção da cidadania, de
maneira que a língua atue como fator de inclusão para aquele público em situação de
vulnerabilidade social. Os caminhos para a consecução desses objetivos têm como eixo
a articulação entre a concepção de extensão, sob a perspectiva da pedagogia freireana, e
a linguística aplicada indisciplinar de Moita Lopes.
1 INTRODUÇÃO
1
Trabalho apresentado à disciplina Tópicos avançados em Linguística Aplicada do Programa de Pós-
graduação em Letras (PPGL – UFPR), como requisito parcial para a obtenção de nota, sob a orientação da
Profa. Dra. Ana Paula Beato−Canato.
2
Doutorando em Estudos linguísticos (PPGL – UFPR).
2 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA SOB A PERSPECTIVA FREIREANA
Ainda neste capítulo, o autor destaca o equívoco do termo extensão por várias
razões: primeiro por pressupor apenas a perspectiva de que alguém (geralmente o
pesquisador) "estende/leva" o conhecimento até outro alguém. A extensão aqui é mera
transmissão e, por vezes, uma invasão cultural; e depois porque esse equívoco traz um
viés domesticador, como se depreende de outro excerto:
Diante disso, Freire afirma que seria mais adequado que, se tivermos a intenção
de fazer transformação social, por meio desse processo de divulgar conhecimento, de
disseminar conhecimento da universidade à comunidade; então, seria interessante que se
fizesse isso de maneira comunicativa. Mas para o autor, qual é a diferença entre
extensão e comunicação?
Para fazer essa diferenciação, é importante evocar outra obra do autor, a
Pedagogia do oprimido (1987), na qual Paulo Freire discute as categorias de ação
antidialógica x ação dialógica no campo da educação popular, pois esta última é a que
se aproxima do conceito de comunicação.
O autor mostra que existem ações que são antidialógicas, na medida em que se
as pessoas precisam ser manipuladas ou segregadas para ser conquistadas, numa relação
vertical de interação, então, estamos diante de uma postura extensionista. Já o conceito
de ação dialógica se baseia em colaboração, união e organização para a síntese cultural.
Por outro lado, a invasão cultural, que Freire coloca na ação antidialógica, cabe na
extensão quando se entende que o conhecimento é levado da universidade até a
comunidade, no sentido de que nós sabemos o que as pessoas têm o que fazer, como se
elas mesmas não pudessem tomar as suas próprias decisões.
O conceito mais adequado, portanto, é o de comunicação, porque ele trabalha
com outra perspectiva, inclusive reconhecendo os saberes produzidos fora da
universidade, porque todos nós temos, segundo Freire, a vocação de saber mais:
Essa visão parece crucial em áreas como a LA, que têm como objetivo
fundamental a problematização da vida social, na intenção de compreender as
práticas sociais nas quais a linguagem tem papel crucial. Só podemos
contribuir se considerarmos as visões de significado, inclusive aqueles
relativos à pesquisa, como lugares de poder e conflito, que reflete, os
preconceitos, valores, projetos políticos e interesses daqueles que se
comprometem com a construção do significado e do conhecimento. Não há
lugar fora da ideologia e não há conhecimento desinteressado ( MOITA
LOPES, 2006, p. 102).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, procuramos relatar ações com projeto de extensão que tem
possibilitado experiências importantes para os migrantes, situados na cidade de
Caçador/SC, por meio de oficinas de ensino e aprendizagem da língua portuguesa como
prática social.
Com isso, constatamos que a extensão universitária pode ser um caminho aberto
para interagir com as demandas que surgem na sociedade, a partir de processos
educativos de grupos humanos marginalizados ou que vêm ao país em situação de
vulnerabilidade social, com os migrantes e refugiados. Neste sentido, destaca-se a
contribuição da linguística aplicada, em nosso caso particular, não no sentido de fazer
intervenção para solucionar questões de linguagem, mas para problematizá-las.
Acreditamos que a proposta vem transformando-se em um espaço colaborativo,
em que a perspectiva da extensão universitária está aberta a ouvir a demanda da
sociedade, a fim de construir coletivamente o conhecimento, garantindo a possibilidade
de uma ação reflexiva entre educador e educando.
4 REFERÊNCIAS
______. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2011.
FABRICIO, B. F. ; MOITA LOPES, L. P.; Por uma proximidade crítica nos estudos em
Linguística Aplicada. Calidoscópio, v. 17, p. 711−723, 2019.
ZENI, K., FILIPPIM, E.S. Migração Haitiana para o Brasil: Acolhimento e Políticas
Públicas. Revista Pretexto, ano 2014 - abr./jun, Belo Horizonte: v. 15, n. 2, p. 11 – 27.
Disponível em: http://revista. fumec.br/index.php/pretexto/article/view/1534. Acesso
em: 20/04/2021.