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PROPOSTA CURRICULAR DE LÍNGUA PORTUGUESA

1. Fundamentação Teórica
A educação brasileira, nos últimos anos, perpassa por transformações
educacionais decorrentes das novas exigências sociais, culturais, políticas e econômicas
vigentes no país, resultantes do processo de globalização. Considerando esta nova
reconfiguração mundial e visando realizar a função formadora da escola de explicar,
justificar e de transformar a realidade, a educação busca oferecer ao educando maior
autonomia intelectual, uma ampliação de conhecimento e de acesso a informações numa
perspectiva integradora do educando.
De acordo com os PCNs, para a área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, a linguagem é considerada como a capacidade humana de articular
significados coletivos em sistemas arbitrários de representação, que são compartilhados
e que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. A
principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido.
A partir dessa perspectiva, estabelecemos como objetivos para esta área, o
desenvolvimento das competências sugeridas pelos PCNs. Isso significa tornar a
experiência escolar uma vivencia na qual o aluno possa compreender e usar as
diferentes linguagens como meio de organização da realidade, pela constituição de
significados, expressão, comunicação e informação. Isso exige que o aluno possa
analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos da linguagem, relacionando textos
com seus contextos, confrontando opiniões e pontos de vista e respeitando as diferentes
manifestações da linguagem utilizadas por diferentes grupos sociais, em suas esferas de
socialização.
A língua é assim vista como patrimônio nacional e internacional, com suas
diferentes visões de mundo.
Utilizar-se da linguagem e saber colocar-se como protagonista do processo de
produção/recepção. É também entender os princípios das tecnologias da comunicação e
da informação, associando-as aos conhecimentos científicos, e as outras linguagens que
lhes dão suporte.
Entre as diversas disciplinas que compõem a área, língua (a) estrangeira(s),
língua(s) moderna(s), arte, educação física e informática, interessa-nos especificamente
a língua portuguesa.
A reforma da Educação propõe uma mudança na maneira como a língua
portuguesa deve ser examinada e ensinada. Recusa-se o conhecimento de natureza
enciclopédica, os conteúdos sem significação prática. O Ensino Fundamental e o Ensino
Médio devem representar, na perspectiva da nova LDB e dos PCNs, um aumento real
das possibilidades de interação do aluno com a sociedade e o meio ambiente, um
aumento de seu poder como cidadão, implicando maior acesso às informações e melhor
possibilidade de interpretação dessas informações nos contextos sociais em que lhe são
apresentadas. Dessa maneira, os conteúdos da disciplina Língua Portuguesa, desde a
alfabetização até o final do Ensino Médio, não devem ser apresentados de maneira
estanque, isolada.
Nessa nova perspectiva, devemos trabalhar em primeiro lugar, com a construção
do conhecimento literário e linguístico.
A história da literatura não deve ser mera-listagem de escolas, autores e suas
características. No ensino da literatura, não se pode mais abandonar quer o eixo de
produção (eixo poético), quer o da recepção (eixo estético), quer o da crítica.
As linguagens, mais que objetos de conhecimento, são meios para o
conhecimento. O ser humano conhece o mundo pelas suas linguagens, seus símbolos.
Assim, na medida em que ele se torna mais independente nas diferentes linguagens,
torna-se mais capaz de conhecer o mundo.
O ensino de Língua Portuguesa deve levar em conta, em primeiro lugar, que os
alunos se aproximam mais facilmente do conhecimento quando esse é contextualizado,
ou seja, quando faz sentido dentro de um encadeamento de informações, conceitos e
atividades. Dados, informações, idéias e teorias não podem ser apresentados de maneira
estanque, separados de suas condições de produção, do tipo de sociedade em que são
gerados e recebidos, de sua relação com os outros conhecimentos. Do nosso ponto de
vista, a contextualização pode se dar em três níveis.
A contextualização sincrônica, que ocorre num mesmo tempo, analisa o objeto
em relação à época e a sociedade que gerou. Quais foram as condições e as razoes da
sua produção? De que maneira foi recebido em sua época? Como se deu o acesso a esse
objeto? Quais as condições sociais, econômicas e culturais da sua produção/recepção?
Como um mesmo objeto foi apropriado por grupos sociais diferentes?
A contextualização diacrônica, que ocorre através do tempo, considera o objeto
cultural no eixo do tempo. De que maneira aquela obra, aquela ideia ou aquela teoria se
inscreve na história da cultura, da arte e das ideias? Como ela foi apropriada por autores
em períodos posteriores? De que maneira ela se apropriou de objetos culturais de épocas
anteriores a ela própria.
A contextualização interativa, que permite relacionar o texto como universo
especifico do leitor. Como esse texto é visto hoje? Que tipo de interesse ele ainda
desperta? Qual a característica desse objeto que faz com que ele ainda seja estudado,
apreciado ou valorizado?
A questão da contextualização nos leva ao problema da intertextualidade,
diretamente relacionado à ideia de interdisciplinaridade.
De que maneira cada objeto cultural se relaciona com outros objetos culturais?
Como uma mesma ideia, um mesmo sentimento, uma mesma informação é tratada pelas
diferentes linguagens? Aqui nos interessam todas as expressões artísticas como a
pintura, a escultura a fotografia e as surgidas a partir das novas tecnologias.
Outro aspecto importante, ao falarmos de ensino da Língua Portuguesa é que o
sujeito constrói a sua identidade na relação com as diversas linguagens e, em particular,
com a sua língua materna. O processo de construção da identidade do aluno não pode
ser desconsiderado, ao falarmos de ensino de Língua Portuguesa. Mas a identidade
depende também de compreender, aceitar e respeitar a diversidade social, cultural,
política e das linguagens.
A construção do conhecimento humano, o desenvolvimento das artes, das
ciências, da filosofia e da religião foram possíveis graças à linguagem, que permeia a
elaboração e a construção de todas as atividades do homem. Não apenas a representação
do mundo, da realidade física e social, mas também a formação da consciência
individual, a regulação dos pensamentos e da ação, próprios ou alheios, ocorrem na e
pela linguagem.
A língua é força ativa na sociedade, um meio pelo qual indivíduos e grupos
controlam outros grupos ou resistem a esse controle, um meio para mudar a sociedade
ou para impedir a mudança, para afirmar ou suprimir as identidades culturais. Ter
domínio da língua é pois, participar ativamente da sociedade.
O exercício contínuo das diferentes práticas, aliado à reflexão constante sobre os
usos da linguagem permite a ampliação dos recursos expressivos. A leitura de textos
pertencentes a diferentes gêneros, de textos próprios ou alheios e a observação e analise
de marcas linguísticas recorrentes possibilitam ao aluno ampliar seu repertório, para
responder às exigências impostas pelas diversas situações comunicativas. Nesse sentido,
o estudo da gramática normativa não se constitui em fim em si mesmo, mas contribui
para o desempenho linguístico do usuário tanto na recepção quanto na produção de
textos escritos ou orais.
Outro aspecto que nos parece fundamental é o estudo da norma padrão em
paralelo a outras normas deferentes dela. É importante que o estudante, ao refletir sobre
questões linguísticas, não fique com a impressão equivocada de que a Língua
Portuguesa não lhe pertence, que há uma forma correta de falar, que não é dele.
Consideramos premente investir na ideia da diferença e da adequação e não na do erro e
da ausência de legitimidade.
Ampliar o repertorio e formar leitores (em sentido não apenas literário do termo)
é também tarefa de todos os professores, especialmente os da área de Língua Portuguesa
e de linguagens e Códigos. Para tanto, deve-se considerar a escola como espaço
permanente para o exercício da leitura, de tal forma que todas as semanas, de maneira a
regular, os estudantes possam, dentro do horário de aulas, realizar leituras de fruição
(aquela que ele realizará apenas por gosto pessoal) e leituras analítico-reflexivas
(baseada em diferentes critérios).
Nesse caminho também se insere o trabalho com a produção de texto. Da mesma

maneira que a leitura, a escrita não deve ser sempre apenas um meio para chegar a

outras possibilidades que é preciso fazer da escrita um processo no qual o estudante

reflita sobre suas próprias produções, aprendendo a manipulá-las, corrigi-las,

reestruturá-las.

2. Objetivo
Espera-se que os educandos desenvolvam suas habilidades comunicativas,

discursiva, sua capacidade de utilizar a língua de modo vadiado e adequado ao contexto,

às diferentes situações e práticas sociais, interessando-se em ampliar seus recursos

expressivos, seu domínio da língua padrão nas modalidades oral e escrita.

Possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas

possibilidades de participação no exercício da cidadania e estimular o entendimento de

que a língua portuguesa mobiliza os diferentes saberes.


3. Conteúdos Propostos

UNIDADE I: LINGUAGENS E LITERATURA


CAPÍTULO 1 – LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO
1 – Código
2 – A língua
3 – As variedades linguísticas na construção do texto
4 – Semântica e interação
CAPÍTULO 2 – LITERATURA: LEITURA-PRAZER
1 – Entre textos
2 – Literatura: viagem sem retorno
CAPÍTULO 3 – O QUE É LITERATURA?
1 – A natureza da linguagem literária
2 – Literatura: o encontro do individual com o social
3 – Literatura: a humanização do homem.
4 – A literatura na escola.
CAPÍTULO 4 – INTRODUÇÃO AOS GÊNEROS DO DISCURSO
1 – O que é gênero textual?
2 – Os gêneros literários
3 – Escrevendo com expressividade: a denotação e a conotação.
CAPÍTULO 5 – A FÁBULA
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo a fábula
3 – Escrevendo com técnica: a descrição
CAPÍTULO 6 – INTRODUÇÃO À ESTILÍSTICA: FIGURAS DE LINGUAGEM
1 – As figuras de linguagem na construção do texto
2 – Semântica e interação.
CAPÍTULO 7 – O POEMA
1 – Trabalhando o gênero
2 – O verso e seus recursos musicais
3 – Produzindo o poema
UNIDADE II: AS ORIGENS DA LITERATURA BRASILEIRA
CAPÍTULO 8 – A LITERATURA PORTUGUESA: DA IDADE MÉDIA AO
CLASSICISMO
1 – A era medieval
2 – O Classicismo
CAPÍTULO 9 – O TEXTO TEATRAL ESCRITO
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o texto teatral
CAPÍTULO 10 – TEXTO E DISCURSO – INTERTEXTO E INTERDISCURSO
1 – Textualidade, coerência e coesão
2 – A coerência e o contexto discursivo
3 – A intertextualidade, a interdiscursividade e a paródia
4 – A intertextualidade e a interdiscursividade na construção do texto.
CAPÍTULO 11 – A CARTA PESSOAL
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo a carta pessoal
CAPÍTULO 12 – INTRODUÇÃO À SEMÂNTICA
1 – Sinonímia e antonímia
2 – Campo semântico, hiponímia e hiperonímia
3 – Polissemia
4 – A ambiguidade
CAPÍTULO 13 – O QUINHETISMO NO BRASIL
1 – A produção literária no Brasil – colônia
2 – Periodização da literatura brasileira
3 – A literatura de informação
4 – A literatura de catequese: José de Anchieta.
CAPÍTULO 14 – O RELATO PESSOAL
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o relato pessoal
CAPITULO 15 – DIÁLOGOS COM O QUINHENTISMO
1 – Leitura: “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Camões, “A suprema
excelência da caridade”, trecho da Bíblia, e “Monte Castelo”, de Renato Russo.
UNIDADE III BARROCO: A ARTE DA INDISCIPLINA
CAPÍTULO 16 – A LINGUAGEM BARROCA
CAPÍTULO 17 – DO TEXTO AO CONTEXTO DO BARRACO
CAPÍTULO 18 – O TEXTO DE CAMPANHA COMUNITÁRIA
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o texto de campanha comunitária
CAPÍTULO 19 – SONS E LETRAS
1 – Fonema e letra
2 – Sílaba
3 – Encontros vocálicos e consonantal
4 – Ortoepia e prosódia
CAPÍTULO 20 – O BARROCO EM PORTUGAL
1 – Pe. Antônio Vieira: a literatura como missão
CAPÍTULO 21 – O RELATÓRIO DE EXPERIÊNCIA CIENTÍFICA
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o relatório.
CAPÍTULO 22 - A EXPRESSÃO ESCRITA: ORTOGRAFIA – DIVISÃO SILÁBICA
1 – A ortografia na construção do texto.
CAPÍTULO 23 – O BARROCO NO BRASIL
1 – Gregório de Matos: adequação e irreverência
CAPÍTULO 24 – A EXPRESSÃO ESCRITA: ACENTUAÇÃO
1 – Regras de acentuação gráfica.
CAPÍTULO 25 – O SEMINÁRIO
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o seminário
CAPÍTULO 26 – DIÁLOGOS COM O BARROCO
1 – Leitura e interpretação de textos.
UNIDADE IV – HISTÓRIA SOCIAL DO ARCADISMO
CAPÍTULO 27 – A LINGUAGEM DO ARCADISMO
1 – A linguagem do arcadismo
2 – A imagem em foco: Experiência com uma bomba de ar, de Joseph Wright
CAPÍTULO 28 – DO TEXTO AO CONTEXTO DO ARCADISMO
CAPÍTULO 29 – O DEBATE REGRADO PÚBLICO
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o debate.
CAPÍTULO 30 – ESTRUTURA DE PALAVRAS
1 – Morfemas relacionados com o universo da realidade e com o universo da
língua.
2 – Os elementos mórficos na construção do texto.
CAPÍTULO 31 – O ARCADISMO EM PORTUGAL
1 – Pombal e Verney: a missão de “iluminar” Portugal
2 – As academias
3 – Bocage: o salto da emoção
CAPÍTULO 32 – O ARTIGO DE OPINIÃO
1 – Trabalhando o gênero
2 – Produzindo o artigo de opinião
CAPÍTULO 33 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS
1 – Derivação
2 – Composição
3 – Hibridismo, onomatopeia, redução, empréstimos e gírias.
4 – Processos de formação de palavras na construção do texto.
5 – Semântica e interação.
CAPÍTULO 34 – O ARCADISMO NO BRASIL
1 – Arcadismo na colônia: entre o local e o universal
2 – Os árcades e a Inconfidência
3 – Cláudio Manuel da Costa: a consciência árcade.
4 – Tomás Antônio Gonzaga: a renovação árcade
5 – Basílio da Gama e o nativismo indianista
6 – Santa Rita Durão: apego ao modelo clássico
7 – Caramuru, de Santa Rita Durão.
8 – Antologia
CAPÍTULO 35 – Debate e artigo de opinião
1 – Produzindo o debate
2 – Falando com expressividade: os estrangeirismos.
CAPÍTULO 36 – DIÁLOGOS COM O ARCADISMO
1 – Leitura e interpretação de textos.

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