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NATURALISMO – SÉC XIX

1. Momento Sociocultural brasileiro: simultâneo ao Realismo, vê-se circunscrito às


mesmas condições históricas. A alta sociedade mora e vive à moda europeia, multiplicando
a riqueza devido à exploração do trabalho escravo, sobretudo; proliferam as sub-
habitações (os cortiços descritos na obra naturalista de Aluízio de Azevedo); a sociedade
de 80 é constituída, basicamente, de analfabetos: apenas 30% da população era capaz de
ler.

2. Literatura no Brasil: o romance “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo, publicado em 1881,


é considerado o livro inicial do Naturalismo.

3. Características: observação; objetividade; contemporaneidade; verossimilhança;


determinismo social (homem = meio + raça + momento) e biológico (hereditariedade);
exacerbação do cientificismo (experimentalismo, determinismo rigoroso); privilégio de
aspectos biológicos e instintivos; visão mecanicista do homem.

4. Temáticas: ação humana ditada pelo instinto (homem = animal) / patologia (personagens
mórbidos, viciados e doentes; legião de bêbados, assassinos, incestuosos, homossexuais,
devassos e prostituídos; predomínio do feio, do vulgar e do sórdido) / crítica (denúncia dos
problemas sociais e da degradação humana) / camadas marginalizadas da população.

5. Recursos estilísticos: exatidão das descrições – inclusive de aspectos humanos


repulsivos; minúcia, coloquialismo; detalhismo; narração lenta; romance experimental (de
tese).

6. Principal Autor e Obras:

**Aluísio de Azevedo:

 O Mulato – marca o início do Naturalismo, em 1881;


 Casa de Pensão – determinismo social – Amâncio tem o seu caráter deformado
pelo meio;
 O Cortiço – o mais conhecido e trabalhado dos livros de Aluísio.
Alguns dos personagens:
- João Amâncio - o inescrupuloso e ambicioso dono do cortiço,
- Bertoleza - escrava fugida, verdadeiro animal de carga de João Romão,
- Miranda – pertencente à classe média, vizinho do cortiço,
- Pombinha – prostituiu-se por influência do meio,
- Rita Baiana – símbolo de sensualismo e brasilidade,
- Jerônimo – português corrompido pelo meio...

ATIVIDADE:

Texto I

1 Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras no chão, escamando peixe,
para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calefrio percorreu-lhe o corpo. Num
relance de grande perigo compreendeu a situação: adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido
5 para sempre. Adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu
amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando
escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.
- É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. -- Prendam-na!
10 É escrava minha !
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a
outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então,
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la,
15 já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.
João Romão fugira até o canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha,
de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
20 Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.

(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Cap.XXXIII, pp.164-5. Rio de Janeiro: Ediouro s.d..)

Texto II

Rios sem discurso

1Quando um rio corta, corta-se de vez para refazer o fio antigo que o fez.
o discurso-rio de água que ele fazia; Salvo a grandiloqüência de uma cheia
cortado, a água se quebra em pedaços, lhe impondo interina outra linguagem,
em poços de água, em água paralítica. um rio precisa de muita água em fios
5Em situação de poço, a água equivale 20para que todos os poços se enfrasem:
a uma palavra em situação dicionária: se reatando, de um para outro poço,
isolada, estanque no poço dela mesma, em frases curtas, então frase e frase,
e porque assim estanque, estancada; até a sentença-rio do discurso único
e mais: porque assim estancada, muda em que se tem voz a seca ele combate.
10e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.

O curso de um rio, seu discurso-rio,


chega raramente a se reatar de vez;
15um rio precisa de muito fio de água

(MELO NETO, João Cabral de. In: A educação pela pedra.


Rio de Janeiro: José Olympio. 1979, p.26.)

1. O Texto I corresponde à cena em que a escrava fugida Bertoleza comete suicídio, quando se depara com
os policiais que vêm capturá-la, após denúncia de seu paradeiro feita por João Romão, o amante. Leia-o
atentamente e responda às questões propostas em "a" e "b".

a) Explique uma característica do realismo-naturalismo expressa no trecho compreendido entre as linhas 13 e


16 . ("Os policiais...de sangue")

b)Transcreva a passagem em que o leitor deduz a ironia dos acontecimentos, provocada pelo contraditório
comportamento de João Romão.

2. No Texto II, o poeta emprega várias palavras que pertencem a dois contextos de significação: "rio" e
"discurso". A partir das relações entre tais contextos, construa uma interpretação para o poema.

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