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Lit.

Semana 13

Diogo Mendes
(Maria Carolina)

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CRONOGRAMA

05/05 Romantismo -
Poesia - 2ª e 3ª
geração

11:00
21:00

12/05 Romantismo - Prosa

11:00
21:00

19/05 Realismo e
Naturalismo

11:00
21:00

26/05 Machado de Assis

11:00
21:00
12
Romantismo mai

Prosa

01. Resumo
02. Exercício de Aula
03. Exercício de Casa
04. Questão Contexto
RESUMO
✓ Chegadas das missões estrangeiras (científicas
O Romantismo e culturais);
✓ Surgimento da imprensa nacional;
O Romantismo é, sem dúvidas, um dos maiores mo- ✓ Revolução Industrial;
vimentos literários do século XIX. Baseado em ca- ✓ Era Napoleônica;
racterísticas como a subjetividade, a idealização ✓ Revolução Francesa.
amorosa, a fuga à realidade e o nacionalismo, suas
influências marcaram não só a arte, como a cultura
e os costumes daquele momento, que retratavam os O Romance Indianista
valores burgueses da época. Diferente da poesia, a
prosa é uma modelo de texto escrito em parágrafos, No romance indianista, é comum vermos a constru-
narrando os acontecimentos de um enredo junto a ção da imagem de índio de forma heróica, como o
um grande aspecto descritivo. salvador da nação a fim de implantar um sentimen-
to de amor à pátria. Sua imagem é aproximada a de
um cavaleiro medieval, ideal propagado na Europa
durante a Idade Média. Além disso, a natureza não
atua como plano de fundo e ganha vitalidade, força,
fazendo com que muitas das vezes haja uma noção
de personificação do ambiente natural, como tam-

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bém a associação ao meio selvagem.

O choque cultural entre colonizadores e índios


sempre será apresentado nas prosas indianistas,

Lit.
tal como a apresentação de suas diferenças, como
costumes, linguagens, hábitos, entre outros. Algu-
A prosa romântica, em especial, se subdivide em mas obras de destaque são “O Guarani”, “Iracema” e
quatro tipos de romance: o regionalista, o indianista, “Ubirajara”, todas de José de Alencar.
o urbano e o histórico. A valorização da individuali-
dade permitiu que inúmeros autores retratassem as
diferentes características do Brasil, que estava mar- O Romance Regionalista
cado tanto pelas diversidades locais pelo país (lín-
gua, cultura e valores regionais) quanto pelo cenário O romance regional foi primordial para o incentivo
urbano que atendia às necessidades da burguesia. de uma literatura que abordasse acerca das diver-
Além disso, é importante dizer que, na prosa, não sidades locais. Entre suas características, há a valo-
há a divisão entre gerações (como ocorre na poe- rização de aspectos étnicos, linguísticos, sociais e
sia), pois muitas obras eram publicadas quase que, culturais sobre várias regiões do país. Ademais, as
simultaneamente, e, o maior nome da prosa român- principais regiões abordadas foram o Rio de Janeiro
tica é o escritor José de Alencar. (que era a capital do Brasil naquele período) e as re-
giões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.

Contexto Histórico O contraste de valores e costumes será abordado


nos romances, em geral, propagados por persona-
Os principais acontecimentos e influências que mar- gens que passam a conviver recentemente em um
caram esse período são: mesmo ambiente, mostrando determinadas distin-
ções entre o meio urbano e o meio rural. Entre as
✓ Instalação da Corte Portuguesa no Brasil (1808); principais obras, temos “Inocência”, de Visconde de
✓ Independência do Brasil (1822); Tauany, “O gaúcho”, de José de Alencar, e “O Cabe-
✓ Abertura dos Portos; leira”, de Franklin Távora.
O Romance Urbano O Romance Histórico
O romance urbano foi o que melhor atendeu às ne- O romance histórico, como o própria nome já nos
cessidades da burguesia, pois retratava sobre a vida ajuda a explicar, marcava em sua narrativa os prin-
cotidiana e seus costumes, pondo em discussão os cipais acontecimentos históricos do século XIX no
valores morais vividos na época, entre eles, o casa- Brasil. A composição da narrativa é feita a partir de
mento promovido de acordo com a classe social. relatos e documentos informativos sobre uma deter-
minada época ou movimento social.
Entre as obras, podemos destacar: “A Moreninha”,
de Joaquim Manuel de Macedo, “Memórias de um Há dois romances de destaque: “As Minas de Prata”
sargento de milícias”; de Manuel Antônio de Almei- e “Guerra dos Mascates”, ambos de José de Alen-
da e “Lucíola” e “Senhora”, de José de Alencar. Além car.
disso, o autor Álvares de Azevedo também teve
papel importantíssimo na prosa, e desenvolveu as
obras “O Macário” e “Noites na Taverna”.

EXERCÍCIO DE AULA

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1.
Leia o trecho a seguir, de José de Alencar.

Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem exceção

Lit.
de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia reagia contra essa
afronta, aplicando a esses indivíduos o mesmo estalão. Assim costumava
ela indicar o merecimento relativo de cada um dos pretendentes, dando-
-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia contava os
seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado
matrimonial.

O romance Senhora, ilustrado pelo trecho,

a) representa o romance urbano de Alencar. A reação de ironia e desprezo com


que Aurélia trata seus pretendentes, vistos sob a ótica do mercado matrimonial,
tematiza o casamento como forma de ascensão social.
b) mescla o regionalismo e o indianismo, temas recorrentes na obra de Alencar.
Nele, o escritor tematiza, com escárnio, as relações sentimentais entre pessoas
de classes sociais distintas, em que o pretendente é considerado pelo seu valor
monetário.
c) é obra ilustrativa do regionalismo romântico brasileiro. A história de Aurélia e
de seus pretendentes mostra a concepção do amor, em linguagem financeira,
como forma de privilégio monetário, além de explorar as relações extraconju-
gais.
d) denuncia as relações humanas, em especial as conjugais, como responsáveis
por levar as pessoas à tristeza e à solidão dada a superficialidade e ao interesse
com que elas se estabelecem. Trata-se de um romance urbano de Alencar.
e) tematiza o adultério e a prostituição feminina, representados pelo interesse
financeiro como forma de se ascender socialmente. Essa obra explora tanto as-
pectos do regionalismo nacional como os valores da vida urbana.
2.
Iracema
Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Irace-
ma. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros
que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati
não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como
seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem
corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da
grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a ver-
de pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

José de Alencar

Ao caracterizar Iracema, José de Alencar relaciona-a a elementos da natureza,


pondo aquela em relação a esta em uma posição de:

a) equilíbrio
b) dependência
c) complementaridade
d) vantagem

3.
Inocência

54
Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro mais des-
preocupado.
— Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha.

Lit.
— Com muito gosto, concordou Cirino.

E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas cercas e
rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, fronteira a magnífico
laranjal, naquela ocasião todo pontuado das brancas e olorosas flores.
— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se
juntam tamanhos
bandos de graúnas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta
muito disso e vem sempre coser debaixo do arvoredo. É uma menina esqui-
sita...

Parando no limiar da porta, continuou com expansão:


— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e pergun-
tas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de horas da minha de-
funta avó... Pois não é que um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler?
... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido prin-
cesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou
ela com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma
coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço e que manda
nos homens... Fiquei meio tonto. E se o Sr. visse os modos que tem com os bi-
chinhos?! ... Parece que está falando com eles e que os entende... (...)

Quando Cirino penetrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de


maneira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar ,
além de diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas camas, muito em
uso no interior; altas e largas, feitas de tiras de couro
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproximaram-se
ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo e puxando para debai-
xo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se encolheu toda, e voltou-
-se para os que entravam.
— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez.
— Boas noites, dona, saudou Cirino.

Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de
médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava o pulso à doente.

Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do colo e da
cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca.

Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza


deslumbrante.

Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, re-


alçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os
cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem
sombras nas mimosas faces.

Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admi-

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ravelmente torneado. Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol,
descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de
fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença. Ra-
zões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a mão fria e um

Lit.
tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de tão gentil cliente.

VISCONDE DE TAUNAY Inocência. São Paulo: Ática, 2011.

Vocabulário:
graúna - pássaro de plumagem negra, canto melodioso e hábitos eminentemen-
te sociais
livro de horas - livro de preces
secundou - respondeu
lavrados - na província de Mato Grosso, colares de contas de ouro e adornos de
ouro e prata lobrigar - enxergar
escabelo - assento
facultativo - médico

A caracterização de Inocência confirma só parcialmente a idealização da heroína


romântica. Indique uma característica que Inocência apresenta em comum com
as heroínas românticas e outra que a torna diferente dessas heroínas.

4.
“— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e pergun-
tas que me fazem embatucar...
Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é que um belo
dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler?... Que ideia! Ainda há pouco tempo
me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o
que é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça
muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, mui-
tos lavrados no pescoço.”
O trecho acima faz referência a crenças e valores de Inocência e de seu pai, Pereira.

Apresente dois traços do comportamento de cada um desses personagens que


revelam a diferença de valores entre eles. Em seguida, indique a modalidade de
romance em que tais personagens se inserem.

EXERCÍCIO DE CASA
1.
O sertão e o sertanejo
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo ma-
tiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se
em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro,
por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro. Mi-
nando à surda na touceira, queda a vívida centelha. Corra daí a instantes
qualquer aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia
e trêmula, como que a contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos

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que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir
com mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir
de todo, deixando como sinal da avassaladora passagem o alvacento len-
çol, que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda a parte melancolia; de

Lit.
todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva,
e parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a
traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num traba-
lho íntimo de espantosa atividade.

(TAUNAY, Visconde de. Inocência.)

O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia de


nação. Considerando o trecho acima, é possível reconhecer que uma das prin-
cipais e permanentes contribuições do Romantismo para construção da identi-
dade da nação é a:

a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza nacio-


nal, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de renova-
ção.
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe domi-
nante local, o que coibiu a exploração desenfreada das riquezas naturais do
país.
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia ou
exaltação, de uma imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza
brasileira.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o sentimento de uni-
dade do território nacional e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil
aos brasileiros.
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do Brasil,
formulando um conceito de nação centrado nos modelos da nascente burguesia
brasileira.
2.
"Então passou-se sobre este vasto deserto d'água e céu uma cena estupen-
da, heróica, sobre-humana; um espetáculo grandioso, uma sublime loucura.
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos das
árvores já cobertas d'água, e com esforço desesperado cingindo o tronco da
palmeira nos seus braços hirtos, abalou-os até as raízes."

O Guarani – José de Alencar

O texto acima exemplifica uma característica romântica de José de Alencar, que


é a:

a) imaginação criadora.
b) consciência da solidão.
c) ânsia de glória.
d) idealização do personagem.

3.
Ubirajara Uma estrela brilhante listrava o céu, como uma lágrima de fogo, e
Ubirajara pensou que era o rasto de Araci, a filha da luz. A juriti arrulhou do-
cemente na mata e Ubirajara lembrou-se da voz maviosa da virgem do sol.
(...)
Seu passo o guiava sem querer para as bandas do grande rio, onde devia

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ficar a taba dos tocantins. É assim que os coqueiros, imóveis na praia, incli-
nam para o nascente seu verde cocar. Ubirajara ouviu o rumor de um passo
ligeiro através da mata; de longe conheceu Jandira que o procurava. A doce
virgem achara à porta da cabana o rasto do guerreiro e o seguira através da

Lit.
floresta. - Que mau sonho aflige Ubirajara, o senhor da lança e o maior dos
guerreiros, chefe da grande nação araguaia, para que ele se afaste de sua
taba e esqueça a noiva que o espera?
- A tristeza entrou no coração de Ubirajara, que não sabe mais dizer-te pa-
lavras de alegria, linda virgem. - A tristeza é amarga; quando entra no cora-
ção do guerreiro, o enche de fel. Mas Jandira fará como sua irmã, a abelha,
ela fabricará em seus lábios os favos mais doces para seu guerreiro; suas
palavras serão os fios de mel que ela derramará na alma do esposo. - Filha
de Majé, doce virgem, ainda não chegou o dia em que Ubirajara escolha
uma esposa; nem ele sabe ainda qual o seio que Tupã destinou para gerar o
primeiro filho do grande chefe dos araguaias. O lábio de Jandira emudeceu;
mas o peito soluçou. (...) Ela sabia que os guerreiros amam a flor da formo-
sura, como a folhagem da árvore; e que a tristeza murcha a graça da mais
linda virgem
José de Alencar, Ubirajara. 1ª edição: 1874.

No trecho transcrito de Ubirajara, o ambiente retratado é o pano de fundo que


permite relacionar a obra a uma importante característica do romance indianis-
ta, que o inscreve de modo marcante no Romantismo.

Identifique essa característica, atendo-se explicitamente ao cenário em que se


movem as personagens.
4.
O indianismo dos românticos [...] denota tendência para particularizar os
grandes temas, as grandes atitudes de que se nutria a literatura ocidental,
inserindo-as na realidade local, tratando-as como próprias de uma tradição
brasileira.
Antônio Candido, Formação da Literatura Brasileira

Considerando-se o texto acima, pode-se dizer que o indianismo, na literatura ro-


mântica brasileira:

a) procurou ser uma cópia dos modelos europeus.


b) adaptou a realidade brasileira aos modelos europeus.
c) ignorou a literatura ocidental para valorizar a tradição brasileira.
d) deformou a tradição brasileira para adaptá-la à literatura ocidental.
e) procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.

A partir do texto, responda as questões 5 e 6.

“Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lis-
boa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui
chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que

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o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos.
Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da
hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitota.
O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade

Lit.
mal apessoado, e sobretudo era maganão³ .

Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo


fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assen-
tou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse
por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em
ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto
uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do
dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela
e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no
dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pa-
reciam sê-lo de muitos anos.”

(Manuel Antônio de Almeida, “Memórias de um sargento de milícias”)

Glossário:

1- algibebe: mascate, vendedor ambulante.


2- saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3- maganão: brincalhão, jovial, divertido.
5.
Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Le-
onardo e Maria:

a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos


portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as clas-
ses populares, mas de maneira respeitosa a aristocracia e o clero.
c) reduz as relações amorosas a seus aspectos sexuais e fisiológicos, conforme
os ditames do Naturalismo.
d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, do-
minante no Romantismo.
e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colo-
nial-escravista.

6.
No excerto, o narrador incorpora elementos da linguagem usada pela maioria
das personagens da obra, como se verifica em:

a) aborrecera-se porém do negócio.


b) de que o vemos empossado.
c) rechonchuda e bonitota.
d) envergonhada do gracejo.

59
e) amantes tão extremosos.

Lit.
7.
“Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando estava a
fazer castelos no ar a respeito do afilhado, e pensando em dar-lhe o mesmo
ofício que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação prometemos
dar. Vamos agora cumprir a promessa. Se alguém perguntasse ao compadre
por seus pais, por seus parentes, por seu nascimento, nada saberia respon-
der, porque nada sabia a respeito. Tudo de que se recordava de sua história
reduzia-se a bem pouco. Quando chegara à idade de dar acordo da vida
achou-se em casa de um barbeiro que dele cuidava, porém que nunca lhe
disse se era ou não seu pai ou seu parente, nem tampouco o motivo por que
tratava da sua pessoa. Também nunca isso lhe dera cuidado, nem lhe veio a
curiosidade de indagá-lo. Esse homem ensinara-lhe o ofício, e por inaudito
milagre também a ler e a escrever. Enquanto foi aprendiz passou em casa do
seu… mestre, em falta de outro nome, uma vida que por um lado se parecia
com a do fâmulo*, por outro com a do filho, por outro com a do agregado, e
que afinal não era senão vida de enjeitado, que o leitor sem dúvida já adi-
vinhou que ele o era. A troco disso dava-lhe o mestre sustento e morada, e
pagava-se do que por ele tinha já feito.”

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

Glossário:
(*) fâmulo: empregado, criado

Neste excerto, mostra-se que o compadre provinha de uma situação de família


irregular e ambígua. No contexto do livro, as situações desse tipo:
a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por oposição aos dos imigrantes
portugueses.
b) são apresentadas como consequência da intensa mestiçagem racial, própria
da colonização.
c) contrastam com os rígidos padrões morais dominantes no Rio de Janeiro oi-
tocentista.
d) ocorrem com frequência no grupo social mais amplamente representado.
e) começam a ser corrigidas pela doutrina e pelos exemplos do clero católico.

QUESTÃO CONTEXTO
Em 2016, Marcela Temer, esposa do então presidente, Michel Temer, concedeu
uma entrevista à Revista Veja, em que falava um pouco sobre seu estilo de vida,
seus compromissos políticos e sua vida pessoal e familiar. A reportagem causou
grande alvoroço nas redes sociais pelo posicionamento pretencioso que a revista
Veja trazia em sua abordagem. Leia um trecho:

“Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”


A quase primeira-dama, 43 anos mais jovem que o marido, aparece pouco,

60
gosta de vestidos na altura dos joelhos e sonha em ter mais um filho com o
vice.
[...]
Por algum tempo, frequentou o salão de beleza do cabeleireiro Marco An-
tonio de Biaggi, famoso pela clientela estrelada. Pedia luzes bem fininhas e

Lit.
era “educadíssima”, lembra o cabeleireiro. “Assim como faz a Athina Onassis
quando vem ao meu salão, ela deixava os seguranças do lado de fora”, in-
forma Biaggi. Na opinião do cabeleireiro, Marcela “tem tudo para se tornar
a nossa Grace Kelly”. Para isso, falta só “deixar o cabelo preso”. Em todos
esses anos de atuação política do marido, ela apareceu em público pouquís-
simas vezes. “Marcela sempre chamou atenção pela beleza, mas sempre foi
Fonte: http://veja.abril.com. recatada”, diz sua irmã mais nova, Fernanda Tedeschi. “Ela gosta de vesti-
br/brasil/marcela-temer-bela-
recatada-e-do-lar/ dos até os joelhos e cores claras”, conta a estilista Martha Medeiros.”

A reportagem gerou polêmica nas redes sociais e inúmeros internautas, em con-


traponto à opinião da revista, lançaram uma campanha que defendia a liberdade
individual e de escolha feminina, com uso da hashtag #BelaRecatadaEDoLar.
Em uma entrevista, a jornalista Nana Queiroz afirma:

“O protesto #belarecatada e do lar não ‘é contra mulheres que tomam a opção


de viver uma vida tradicional, ‘é contra a ideia de que apenas esse tipo de mulher
tem valor.”

De acordo com seus conhecimentos sobre o assunto, relacione essas caracterís-


ticas ao papel da mulher no século XIX, que propagava pela prosa romântica, a
disseminação de determinados valores morais.

GABARITO
01.
5. d
6. c
Exercício de aula 7. d
1. a
2. d

03.
3. Uma das características comuns:
✓ ser sonhadora
✓ querer ser princesa Questão Contexto

61
✓ beleza deslumbrante A hashtag #belarecatadaedolar se assemelha aos
✓ aparência física frágil valores difundidos durante o século XIX, momento
em que os ideais românticos propagavam de que a
Uma das características diferenciadoras: mulher deveria ser submissa ao lar e ao seu marido

Lit.
✓ ser iletrada e família, sem nenhum tipo de liberdade individual.
✓ viver no campo Hoje, no século XXI, a intenção não é criticar o di-
✓ querer aprender a ler. reito de escolha de cada indivíduo, mas evitar que
4. Dois dos traços de Inocência: a mídia persuasiva transmita a ideia de que o único
✓ ousada modelo ideal de mulher é aquele que cumpre essas
✓ vaidosa funções.
✓ quer aprender a ler
✓ tem a mente cheia de sonhos
Dois dos traços de Pereira:
✓ repressor
✓ autoritário
✓ acha esquisitos os desejos da filha e os reprova.
Romance regionalista.

02.
Exercício de casa
1. d
2. d
3. A idealização da natureza americana é a
característica do romance indianista. Os elementos
naturais que compõem o cenário são apresentados
de forma positiva, idealizada, como: “a juriti arru-
lhou docemente” e “os guerreiros amam a flor da
formosura, como a folhagem da árvore”.
4. e

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