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Denise de Castro Gomes
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Andrea Chagas Alves de Almeida Arte
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O trabalho Arte e Cultura Brasileira- Unidade 1 – O olhar sobre o Brasil e e formação de uma identidade brasileira de Carmen Luisa
Chaves Cavalcante, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-
-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
XVI ao XIX);
Bons estudos!
Para tamanha empreitada, eram necessários muitos esforços e investimentos. O Novo Mundo
soava como um lugar misterioso e desafiador. Valendo-se disto, o latinista Gândavo escreveu Tratado
da Terra do Brasil (1570) e História da Província de Santa Cruz (1576) mostrando as riquezas
da terra, os recursos humanos e sociais nela existentes. Foi assim que ele buscou persuadir os
portugueses mais pobres a virem povoar o Brasil. Nesse sentido, seus livros são, conforme afirmou
Capistrano de Abreu, uma nítida propaganda de imigração ultramarina a serviço de Portugal.
Se, no início do século XVI, os portugueses faziam pouco caso do Brasil, outros europeus
adotavam uma postura bem diferente. Gândavo, que era português, falava de como os estrangeiros
tinham o Brasil em alta estima, inclusive sabendo mais e melhor de suas particularidades do que
os seus próprios “descobridores”.
Vir a terras brasileiras era uma grande e sedutora aventura. Assim, ao longo de todo o período
do Brasil colônia (século XVI até início do XIX), tanto a fauna como a flora brasileiras, bem como
sua gente nativa e/ou escravizada, foram sendo retratadas e também inventadas, com grande
interesse e desenvoltura, por viajantes (cronistas, artistas, aventureiros, cientistas, missionários,
administradores) do Velho Mundo.
Pode-se dizer que, até a chegada de Dom João VI (1808-1821), poucos viajantes estrangeiros
(no caso, não-lusitanos) estiveram no Brasil, uma vez que os portugueses eram os únicos autorizados
pela metrópole a pisar em solo brasileiro. No entanto, observa-se um breve parêntese no governo
invasor do jovem Maurício de Nassau (1637-1644), posto a serviço da Holanda e desembarcado em
terras pernambucanas, mais especificamente no Recife.
Conteudo
Confira na sua Web Aula o texto de Carla Mary S. Oliveira sobre o Brasil seiscentista
nas pinturas de Albert Eckout e Frans Janszoom Post.
Curiosidade
Você sabe por que os tupis nas pinturas de Eckout são retratados sempre vestidos
enquanto que os tapuias estão desnudos?
Na época colonial, os índios brasileiros eram vistos pelos europeus sob a ótica do binômio tupi/
tapuia. Os tupis (tupinambá, temiminó, tupiniquim, amoipira, tamoio, tabajara, potiguara, caeté,
aricobé, tupiané ou tupiná) eram um grupo bastante numeroso. Ocupavam a costa brasileira e uma
pequena parte do interior. Eram tidos como mais civilizados e mansos, tinham uma agricultura de
subsistência e falavam o tupi. Os tapuias eram todos os outros povos que não falavam o tupi (aimorés
e guaianás, por exemplo). Estavam localizados mais para o centro, no sertão geográfico do país. Não
tinham agricultura e exerciam as atividades de caça e de coleta de frutos. Segundo os europeus, os
tapuias apresentavam traços muito mais próximos da animalidade, sendo bem mais selvagens e
violentos que os tupi.
O olhar do outro sobre o Brasil é importante de ser analisado porque oferece a possibilidade
de entender como fomos pensados pelos europeus, nossos colonizadores. E mais: faz-nos perceber
como essas imagens, sejam elas literárias (diários, crônicas, romances, manuais) ou iconográficas
(pinturas, desenhos, gravuras, aquarelas), dizem respeito a uma identidade brasileira, às suas
representações e ao modo como elas estão presentes no inconsciente cultural nacional. Afinal,
descendemos desses mesmos europeus e, em larga medida, moldamos e produzimos o olhar que
temos sobre nós mesmos, os colonizados, em função dos valores com eles aprendidos ao longo dos
séculos, desde a sua invasão.
Sabe-se que, no século XIX, o olhar do europeu ainda oscilava entre a vontade de retratar
fielmente a realidade e a abordagem fantasiosa sobre o Brasil. Entre outros fatores, quando o
caso era incentivar a vinda de estrangeiros para cá, as gentes, a natureza e os costumes que aqui
existiam ou se desenvolveram eram normalmente apresentados como interessantes e convidativos.
Por outro lado, se a intenção era justificar os maus-tratos e/ou o etnocentrismo do Velho Mundo,
nada melhor que atribuir traços distorcidos e/ou preconceituosos à natureza, às pessoas e aos
hábitos brasileiros.
Os relatos, desenhos, pinturas, gravuras e aquarelas elaborados por esses viajantes eram
publicados em livros e vendidos ao público europeu – no caso, desejoso de novidades e exotismos
de terras distantes. Naquela época, havia um mercado editorial e um público consumidor já
consolidados para este tipo de publicação de viagem. Algumas dessas obras, como lembra Sylvia
Porto Alegre (1992), eram de reconhecido valor histórico e antropológico, enquanto que outras
não passavam de produtos da imaginação de quem os elaborou.
Conteudo
Confira na sua Web Aula o texto de Maria Sylvia Porto Alegre sobre a representação
do índio no século XIX.
Segundo Mariza Veloso e Angélica Madeira (1999), com a mudança da corte de Dom João VI,
em 1808, para o Rio de Janeiro, houve um notável crescimento do interesse pelo campo intelectual
entre os que regiam o país. Este fato trouxe uma nova leva de cientistas e artistas estrangeiros ao
Brasil, sobretudo alemães, ingleses e franceses. E mais: gerou o início do processo de laicização
nas artes, a instauração de uma imprensa nacional e, ao longo de todo o século XIX, a criação de
institutos de pesquisa, museus, universidades e academias literárias.
As expedições científicas tornaram-se bastante intensas nessa época – no século anterior elas
já existiam mas eram bem menos frequentes. Foi desse modo que, no século XIX, viajantes como
Johann Moritz Rugendas, pintor de natureza, chegou ao país e a outras paragens do Novo Mundo,
assim como os naturalistas, em alguns casos também desenhistas, como Carl Friedrich Philipp
von Martius (médico e botânico alemão), Johann Baptist von Spix (zoólogo alemão), Alexander
von Humboldt (geógrafo alemão), Auguste de Saint Hilaire (botânico francês), entre outros.
Conteudo
Curiosidade
A Missão Artística Francesa, chefiada por Joachim Lebreton e formada pelo arquiteto
Grandjean de Montigny, os pintores Nicolas Taunay e Jean-Baptiste Debret, o escultor Auguste
Taunay, o gravador Charles Pradier, além de alguns artifices e os escultores Marc e Zépherin
Ferrez, aportou no Brasil em 1816 a convite de Dom João VI, devido a questões políticas ligadas à
queda de Napoleão Bonaparte. Alguns desses artistas retornaram à França, outros radicaram-se
no Brasil, protagonizando com maior força a criação da Academia Imperial de Belas Artes, em
1826, no Rio de Janeiro.
Conteudo
Confira na Web Aula o texto de Carla Mary S. Oliveira sobre Debret e o seu modo de
retratar cenas cotidianas de lazer e de leitura no Brasil
No entanto, pode-se dizer que, com o passar dos anos, por meio da Academia Imperial de
Belas Artes, ela foi a responsável pelo surgimento de pinturas de narrativas históricas e de apelo
indianista, como as de Vitor Meireles. Na escultura, como afirma Sonia Gomes Pereira (2011),
o apelo indianista também era bastante comum, enquanto que na arquitetura observou-se
uma mistura do neoclassissimo e sua variante neorrenascentista com as formas tradicionais da
arquitetura colonial. Tinha-se então o estilo chamado de “ecletismo” na arquitetura.
O século XIX no Brasil pode ser visto como uma época de grandes transformações políticas,
culturais, econômicas e sociais. Com a chegada de Dom João VI, em 1808, o país saiu da condição de
Brasil Colônia e passou a ser Reino Unido a Portugal. Pouco tempo depois, em 1822, veio a proclamação
da independência e o Brasil tornou-se Império. Em 1889, passou a Brasil República. Um ano antes
foi declarada a Abolição em todo o país – sendo que, no Ceará, os escravos foram libertos já em 1884.
Mas como ser moderno e, portanto reconhecido por valores ocidentais, ao mesmo tempo em
que era preciso delinear um perfil mais individualizado para o Brasil? Como tornar-se universal
sem deixar de lado o aspecto de localidade? Foi no embate entre a importação de ideias da Europa
e a busca de uma identidade autóctone que viveu o Brasil no século XIX.
Como era importante se desvencilhar cada vez mais da imagem de colônia portuguesa, aos
poucos, o Brasil foi deixando de lado os valores e modelos da antiga metrópole. Voltou-se, então,
para a cultura francesa, muito em moda na época. Aliás, foi pelo intermédio da França que o
Brasil conheceu o romantismo e por meio dele fez surgir o movimento indianista, na literatura
protagonizado, entre outros, pelo cearense José de Alencar.
Mas o apelo indianista encontrava-se não apenas na literatura e nas artes. A publicidade
impressa da época também fazia referências a um índio que correspondesse ao ideal romântico,
não exibindo em seu material gráfico nada que chocasse os padrões da época, como bem assinalou
Rafael Cardoso (2005). O repertório visual de cada peça deveria, então, fazer uso da figuração
europeia em voga, trazendo brasões e moedas imperiais, índios de pele clara e vestidos com
panejamentos ao estilo greco-romano, além de poses que logo os associavam a seres mitológicos
ocidentais ou, simplesmente, aos corpos das imagens artísticas das culturas ditas civilizadas.
Veja o caso dos rótulos de uma fábrica de fumo em Niterói, no Rio de Janeiro e de um xarope
de abacaxi, produzido em Pernambuco:
No Brasil, o romantismo só perdeu força por volta de 1870. Época em que questões como o
Abolicionismo e a República passaram a nortear o debate nacional. Época também da introdução
das ideias positivistas e evolucionistas, trazidas da Europa e notadamente adaptadas ao cenário
brasileiro. O Brasil então cobriu-se de determinismos científicos sobre clima, solo e mestiçagem,
neles acreditando até os anos 30 do século XX.
Com base nessas ideias, Segundo Lilia Mortiz Schwarcz (1993), foram criados museus
etnográficos, institutos de pesquisa, faculdades de medicina e direito, muitos deles voltados para os
estudos racialistas que conferiam aos povos não ocidentais a posição de seres inferiores em termos
físicos, morais e intelectuais. Nesse sentido, os graus de selvageria e barbárie seriam atribuídos aos
índios brasileiros e aos negros trazidos ao Brasil, a depender do grupo. Entre os nativos brasileiros,
os índios botocudos, por exemplo, eram vistos como os mais próximos da condição de animalidade,
estando portanto no estágio mais inferior da evolução. Quanto à colocação de civilizados na cadeia
evolutiva, obviamente que ela caberia ao branco europeu.
Aliás, foi em busca da condição de civilizado para o Brasil que o sociólogo Sílvio Romero
formulou a “teoria do branqueamento”, amplamente aceita nas camadas intelectuais da época.
Tentando solucionar o impasse da mestiçagem e a consequente degeneração racial brasileira, o
sociólogo defendia, juntamente com o escritor e diplomata Joaquim Nabuco, a introdução de
levas de imigrantes brancos no Brasil como um modo de proporcionar uma maior rapidez na
diluição da mestiçagem entre negros, brancos e índios.
1.3 Final do Século XIX e Início do XX: intelectualidade, urbanização e Belle Époque
Entre o final do século XIX (1870-80) e início do XX (por volta de 1920) houve um período
no Brasil conhecido como Belle Époque. Eram tempos de profundas transformações nos planos
urbanístico, econômico e cultural, ocasionadas pelos desenvolvimentos científico e tecnológico de
um Brasil que se modernizava. Lugares como Rio de Janeiro e Fortaleza viviam sob a influência da
França que, na época, estava à frente das novidades na moda, na arquitetura, nas artes, nos códigos
de sociabilidade em cafés e grandes salões, normalmente animados por discussões político-filosóficas
e saraus literários. Mas também havia muita pobreza e epidemias nessas capitais, fato que resultou
na criação de movimentos sanitaristas, como o da vacinação obrigatória, proposta pelo sanitarista
Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, que dividiu opiniões e acabou por gerar revoltas na população.
Capa da Revista “O Malho”, de 1904.
No Rio de Janeiro, a Belle Époque veio acompanhada de uma produção cultural bastante
rica, especialmente no jornalismo e na literatura. Machado de Assis, Lima Barreto e Euclides da
Cunha, como lembram Mariza Veloso e Angélica Madeira (1999), todos mestiços e vindo das classes
sociais não privilegiadas, viviam na mesma cidade e na mesma época. No entanto, apresentavam
visões muito distintas em suas obras ficcionais no que se refere à Ética, à Política e à Estética.
Machado de Assis e Euclides da Cunha fizeram parte da Academia Brasileira de Letras, mesmo
questionando e/ou fugindo da vida fútil da sociedade carioca da Belle Époque. Lima Barreto,
devido à sua vida boêmia, aos fortes traços negroides e às relações conturbadas com o campo
intelectual e sociedade racista carioca, teve sua candidatura rejeitada por três vezes.
Fortaleza, em finais do século XIX, por sua vez, também tinha uma vida econômica, cultural e
artística bastante agitada. As exportações de algodão para a Inglaterra foram a grande propulsora
financeira da Belle Époque na capital cearense. Como resultado desse próspero comércio, em 1875,
a cidade recebeu de Adolfo Herbster um novo plano urbanístico que consistia em uma atualização
do projeto de Silva Paulet, implantado em Fortaleza no ano de 1823. Sedenta de modernidade e
inspirada na bela Paris, a nova Fortaleza adquiriu bondes para o transporte público e investiu
na construção de palacetes para a moradia da burguesia local. Construiu também alamedas, ou
boulevards (as atuais avenidas do Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel), além de praças
com amplos jardins e cafés (o Passeio Público e a Praça do Ferreira), onde se reuniam os mais
endinheirados e a intelectualidade local.
No entanto, Fortaleza era um lugar de muitas contradições. Paralelamente a todo esse clima
de euforia e vida cultural artificialmente francesa, a cidade tinha um alto índice de pobreza. A cada
dia, tornava-se cada vez mais inchada por uma população de baixa renda que era acometida por
toda sorte de doenças, devido à falta de saneamento básico. Tal foi o caso da varíola, amplamente
combatida pelo farmacêutico Rodolfo Teófilo, no início do século XX, sobretudo junto à população
que vinha do sertão para Fortaleza, por ocasião da seca. Segundo Lira Neto e Cláudia Albuquerque
(2014), por essa época, não havia sistema de esgotos e nem abastecimento de água encanada nas
residências da capital cearense. Foi somente em 1926 que Fortaleza recebeu a construção de duas
caixas d’água e conseguiu substituir a iluminação a gás carbônico por lâmpadas elétricas.
CARDOSO, Gleudson Passos, PONTE, Sebastião Rogério (Orgs). Padaria espiritual: vários
olhares. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2012.
CORRÊA DO LAGO, Pedro, SOUZA E SILVA, Ruy (orgs). BRASILIANA ITAÚ: uma grande
coleção dedicada ao Brasil. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.
GRUPIONNI, Luis Donisete Bensi (org). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994.
PEREIRA, Sônia Gomes. Arte brasileira no século XIX. Belo Horizonte: C/Arte, 2008.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco: cor e raça sociabilidade brasileira. São Paulo:
Claroenigma, 2012.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no
Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.