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UNIDADE 3

TÓPICO 2

ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO


BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO

Este tópico abordará a história do Ensino da arte no Brasil. Compreender


o sentido de Arte e Arte/educação permitirá refletir sobre as questões referentes a
metodologias do ensino que influenciaram e marcam a identidade de professores
que estão à frente desta disciplina.

Convido você a estudar um pouco sobre a caracterização de Arte e Arte/


educação, de grandes nomes relacionados à pesquisa sobre o ensino da Arte no
Brasil e no Mundo.

2 CARACTERIZANDO ARTE E ARTE/EDUCAÇÃO


A Arte está presente na vida das pessoas desde o início da humanidade
como forma de comunicação e expressão. Desde a pré-história o homem já se
comunicava através dos desenhos e códigos impressos na rocha, que você poderá
estudar na disciplina de História da Arte. Por meio das expressões artísticas, é
possível além de manifestar sentimentos, perceber o mundo de forma poética,
sensível e contextualizada.

Ouvir uma música, uma poesia, apreciar um quadro, uma fotografia, uma
apresentação de teatro ou dança são modos de fruir e sentir Arte. Fruir Arte é
um processo pelo qual o ser humano conhece a respeito da obra, do artista que
a criou, de si próprio e do mundo onde está inserido. Assim, o trabalho com a
Arte está relacionado à percepção, à emoção, à intuição, à sensibilidade. “A arte
é, por conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior
atenção ao seu próprio processo de sentir”. (DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 65).

Você já se perguntou qual a real importância da Arte na vida das pessoas?

Barbosa (2002) atenta que é impossível conhecer a cultura de um país, sem


conhecer sua arte, pois é importante compreender que a Arte é a representação do
país por seus próprios membros.

É por meio da Arte que podemos conhecer e entender a cultura do nosso


tempo, sendo este um processo fundamental para a construção humana sensível.
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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

Quando falamos de “construção humana sensível”, não estamos


generalizando a Arte como forma de despertar apenas sentimentos, pois desta forma
estaríamos reduzindo seu real papel enquanto área de conhecimento presente na
vida das pessoas. Estamos aqui, nos referindo a todos os elementos que permeiam
esta construção de conhecimento cultural e histórico através da Arte, pois “a arte
como linguagem, expressão e comunicação, trata da percepção, da emoção, da
imaginação, da intuição, da criação, elementos fundamentais para a construção
humana sensível”. (PILLOTTO, 2004, p. 38). Como vetor de construção humana
sensível, a Arte possibilita contato com o mundo e consigo mesmo. Permite que,
por meio dela, a criança conheça e compreenda o contexto onde está inserida, bem
como desenvolva conhecimentos artísticos, culturais e históricos.

A arte/educação proporciona aos alunos o contato direto com imagens e


objetos artísticos. Este contato e o trabalho com as produções artísticas desenvolvido
por professores de arte no contexto escolar permitem, além do contato com a Arte,
momentos de criação e de expressão individuais e coletivos. Permitem ao aluno
conhecer a realidade do seu tempo, a sua cultura e a sua história.

Se pretendemos de fato uma educação para a cidadania, que entenda


os sujeitos como construtores de suas histórias, temos que garantir a
educação estética e artística nos espaços das instituições educacionais,
talvez o único para a maioria das crianças, a única possibilidade para
adentrarem no universo poético e estético. (PILLOTTO, 2004, p. 59).

A escola é o espaço institucional onde o aluno tem a oportunidade de


conhecer de forma intencional ou não, os conhecimentos históricos e culturais
construídos pela sociedade no decorrer dos tempos. É o espaço que permite
uma relação entre história, cultura e Arte. “Ao conhecer a arte produzida em
diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as
outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, audiovisual etc.),
o educando amplia sua concepção da própria arte e aprende dar sentido a ela”.
(FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 19).

Mas afinal, qual a função da Arte na escola?

Pesquisas indicam que a Arte desenvolve a cognição de crianças e


adolescentes, proporcionando conhecimento e expressão não apenas racional, mas
também afetivos e emocionais. “A função da Arte na Educação é essa, desenvolver
as diferentes inteligências”. (BARBOSA, 2001).

Mas, como será que chegamos até esta concepção de Ensino de Arte?

É muito importante que você, caro acadêmico, reflita sobre essas questões
para compreender a sua prática pedagógica. Vamos refletir juntos sobre esta
trajetória.

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3 ARTE E A EDUCAÇÃO JESUÍTICA


Os primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são datados
aproximadamente entre os anos de 1549 e 1808, período e que a educação estava
voltada para os nobres, sob a responsabilidade de grupos religiosos principalmente
os jesuítas. Neste período, no Brasil, a Educação dominada pela Missão Jesuítica
era dividida em dois projetos: um para a catequização dos índios e outro para a
elite dominante.

Como nesta época a formação era destinada à elite e à catequização dos


nativos, entre os donos de terras desenvolveu-se um desejo de demonstrar a
hierarquia através das suas riquezas, entre elas os títulos acadêmicos.

Segundo Barbosa 2002, durante o império, objetivava-se formar uma elite


que pudesse defender a colônia dos invasores, uma elite que pudesse governar o
país e que motivasse culturalmente a corte.

Para Ferraz e Fuzari (2009), no Brasil fundaram as escolas de ler e escrever


e de doutrina em locais diferentes. O método utilizado pelos jesuítas era atrativo,
pois aproveitam a música, o canto coral e o teatro, para finalidade de formação
religiosa.

Com relação aos nativos, eram educados nas missões e nos sistemas
de “reduções” destinadas à catequese. As reduções, assim como as
residências e os colégios, tornaram-se verdadeiras “escolas-oficinas”
que formavam artesãos e pessoas para trabalhar em todas as áreas
fabris. Nesses locais, os “irmãos oficinas”, exerciam e ensinavam vários
ofícios, tais como pintura, carpintaria, instrumentos musicais, tecelagem
etc. (FERRAZ; FUZARI, 2009, p. 41).

Ainda segundo Ferraz e Fuzari, 2009, os índios aprenderam a tocar e


construir instrumentos, bem como a composição musical.

Neste período, os poetas e escritores tinham grande prestígio diferente dos


artistas que não eram tão valorizados.

Foi por volta de 1808, através das reformas do Marquês de Pombal, que a
educação Jesuítica perdeu sua força. Os jesuítas perderam o poder de atuar junto
às escolas, porém os professores aptos a atuar eram os formados pelos próprios
jesuítas.

Este período foi marcado por mudanças no cenário político, educacional


e cultural do Brasil. Nesta época, o sistema educacional foi dividido em uma
estrutura de três níveis de ensino, primário, secundário e superior além de cursos
profissionalizantes.

Este momento pedia uma reestruturação cultural no país, que ficou


marcada pela vinda da Missão Artística Francesa para o Brasil, ação de D. João VI,

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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

com o objetivo de “reformular os padrões estéticos vigentes”. (FERRAZ; FUZARI,


2009, p. 42).

Mas, você sabe o que foi a Missão Artística Francesa?

A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton,


com um grupo de artistas importados da França no ano de 1816, encarregados
de substituir a concepção popular de arte, assim como o Barroco Brasileiro, pelo
Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura, escultura e moda europeia.

Dois dos principais artistas desta missão foram:

Jean-Baptiste Debret: (1768-1848) conhecido como “a alma da Missão


Francesa”. Ele foi desenhista, aquarelista, pintor cenográfico, decorador, professor
de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil (1829). Em 1818,
trabalhou no projeto de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para os festejos
da aclamação de D. João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarve. Mas é em
Viagem Pitoresca ao Brasil, coleção composta de três volumes com um total de
150 ilustrações, em que ele retrata e descreve a sociedade brasileira. Seus temas
preferidos são a nobreza e as cenas do cotidiano brasileiro. Suas obras nos dão
uma excelente ideia da sociedade brasileira do século XIX.

Nicolas Taunay: (1755-1830) pintor francês de grande destaque na corte de


Napoleão Bonaparte. É considerado um dos mais importantes da Missão Francesa.
Ficou no Brasil por cinco anos e retratou paisagens do Rio de Janeiro.

NOTA

REMISSÃO À LEITURA

Caro acadêmico! Para aprofundar seus conhecimentos sobre Taunay e Debret,


recomendamos os seguintes livros:

O SOL DO BRASIL - Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos


artistas franceses na corte de D. João. Lilia Moritz Schwarcz.
A historiadora Lilia Moritz Schwarcz se debruça sobre a vida e a obra
do pintor francês Nicolas-Antoine Taunay. Um ensaio agudo a respeito
do imaginário francês sobre os trópicos, da arte neoclássica e da vinda
da família real portuguesa e do grupo que a historiografia batizou de
“Missão Artística Francesa”.

DEBRET E O BRASIL - Pedro Correa do Lago e Júlio Bandeira


Editora: Capivara. Com 708 páginas e mais de 1.300 imagens. Este
volume ilustra a totalidade dos trabalhos do artista, que os autores
conseguiram identificar e descrever como resultado de uma pesquisa.
As centenas de óleos, aquarelas, desenhos e gravuras, produzidas por
Debret nos 15 anos passados no Brasil (1816-1831), estão reunidos
neste volume, para permitir uma visão da obra do pintor.

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Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que em 1816, foi
criada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofício do Rio de Janeiro, que após
dez anos foi transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes. Foi a
instituição oficial do ensino da Arte no Brasil, porém ainda com orientações de
institutos similares na Europa.

Segundo Barbosa (2002), a Academia de Belas Artes esteve a serviço do


Reinado e império, além de contribuir para a estruturação de um preconceito
contra o ensino da Arte.

FIGURA 1 – ACADEMIA DAS BELAS ARTES. LITOGRAFIA. MUSEU HISTÓRICO DA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.jbrj.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

Os artistas responsáveis pelo ensino nesta instituição eram nomeados e


seguiam os modelos artísticos europeus, a arte neoclássica, “valorizando categorias
como harmonia, o equilíbrio e o domínio de materiais”. (FERRAZ; FUSARI, 2009,
p. 42).

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E
IMPORTANT

Academia Imperial de Belas Artes ou Academia Imperial das Belas Artes é o


antigo nome (1822-1889) da atual Escola de Belas Artes, hoje unidade da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Foi inicialmente denominada como Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, quando da sua
fundação por D. João VI (1816-1826), em 12 de agosto de 1816, ao fim do período colonial
brasileiro. O soberano teria sido influenciado, nesse gesto, por António de Araújo e Azevedo,
o 1º conde da Barca.
Após a Independência do Brasil, em 1822, a escola passou a ser conhecida como Academia
Imperial das Belas Artes e, mais tarde, como Academia Imperial de Belas Artes.
A instituição foi definitivamente instalada em 5 de novembro de 1826, em edifício próprio à
altura da Travessa do Sacramento (atual Avenida Passos), inaugurado por D. Pedro I (1822-
1831).
Em 1938, o seu edifício histórico foi demolido, tendo sido preservado o portal em granito e
mármore, onde se destacam os ornamentos em terracota, de autoria de Zéphyrin Ferrez.
Este, por sua vez, foi transportado em 1940 para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde
se encontra na atualidade.
FONTE: Disponível em: <www.flickr.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

Como nesta época a Missão Artística Francesa adotou o estilo neoclássico,


acabou por gerar certo preconceito em relação à Arte praticada pelas camadas
populares, o barroco-rococó.

Este caráter elitista era marcado pela oposição a este estilo barroco-rococó
existente o que também gerou um conceito de arte como algo supérfluo e sem
importância para a educação, que tinha serventia para o lazer e o luxo.

A Academia Imperial de Belas Artes teve nomes importantes como alunos


e posteriormente como professores. Fazem parte desses alunos os artistas:

Victor Meireles: autor da Primeira Missa no Brasil, Pedro Américo, autor


da obra Independência ou morte, conhecida também como o grito do Ipiranga e
Almeida Júnior, autor da Cena da Família de Adolfo Augusto Pinto.
FIGURA 2 – PRIMEIRA MISSA NO BRASIL E INDEPENDÊNCIA OU MORTE

FONTE: Disponível em: <itaucultural.org.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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TÓPICO 2 | ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

FIGURA 3 – FAMÍLIA DE ADOLFO AUGUSTO PINTO

FONTE: Disponível em: <www.flickr.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a)! Explore o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) a


fim de visualizar as imagens dos cadernos de estudos coloridas, ampliando seu repertório
visual e a compreensão das obras.

Dentre esses três artistas, Victor Meireles e Pedro Américo destacaram-se


na Academia Imperial de Belas Artes, recebendo como prêmio a oportunidade
de aprofundar seus estudos na Europa. Os dois artistas também se tornaram
professores na própria Academia.

Ainda nesta época, o ensino da arte baseava-se nos ensinamentos a cerca


do desenho, que era ensinado nas escolas primárias e secundárias.

Criaram-se também as escolas normais, destinadas ao ensino para a


formação de professores e os “liceus de artes e ofícios” ou “escolas de artes
e ofícios”. Esses espaços eram destinados à educação voltada à necessidade de
técnicas e mão de obra especializada para atender à demanda da expansão da
indústria nacional.

No Brasil como na Europa, o desenho era considerado a base de todas


as artes, tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da
Academia Imperial. No ensino primário e secundário, o desenho também
tinha por objetivo ser útil a desenvolver habilidades gráficas, técnicas
e domínio da racionalidade. Com isso, os professores preparavam os
alunos para serem, no futuro, bons profissionais e com formação regida
por regras fundamentais no pensamento dominante, como a estética da
“beleza e do bom gosto”. (FERRAZ; FUZARI, 2009, p. 44).

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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

E
IMPORTANT

Como você pôde ler, caro acadêmico, a valorização do desenho no ensino da


arte era muito forte nesta época. Segundo Barbosa (2002), nas escolas secundárias desta
época predominavam o retrato e a cópia. Perguntamos a você:
A cópia não é atividade que predomina em sala de aula?
Você poderá perceber ao longo da história do Ensino da Arte que muitas técnicas ainda
utilizadas nas aulas de Arte, encontram-se enraizadas até mesmo nos séculos passados.
Aproveite esta leitura e esta volta às raízes do ensino da Arte no Brasil, para refletir sobre sua
prática em sala de aula.

Além do ensino da matéria de desenho nesta época, foi estabelecido


o ensino da música nas escolas brasileira, pois esta era a manifestação artística
preferida da corte portuguesa. No entanto, as formas e temas a serem seguidos
eram os europeus.

Entre os anos de 1888 e 1890, com a abolição dos escravos e com a Proclamação
da República, várias reformas acontecem em diferentes esferas da sociedade
brasileira. Tais reformas provocadas pelas correntes liberais e positivistas.

Uma discussão acirrada acontece na Escola Imperial de Belas Artes entre as


correntes positivistas e liberais referentes ao ensino da Arte.

O grupo dos Positivistas era formado por: Décio Villares, Aurélio de


Figueiredo e Montenegro Cordeiro e brigava pela manutenção do modelo vigente
de educação da Escola Imperial de Belas Artes, como escola de aprendizado de
ofícios e de Belas Artes.

O grupo dos liberais era composto por: Eliseu Visconti, França Júnior,
Henrique Bernadelli, Rodolfo Amoedo e Zeferino da Costa. Defendia a importância
da renovação de um modelo acadêmico de ensino e as belas artes como foco de
atenção da escola.

O grupo dos liberais consegue manter a Escola Imperial de Belas Artes,


mudando a denominação para Escola Nacional de Belas Artes, porém não alteram
seus moldes arcaicos.

Nesta época, os positivistas acreditavam que a importância da Arte estava


nas contribuições proporcionadas para o estudo da ciência, para o desenvolvimento
do raciocínio e da emoção, desde que ensinada através do método positivo, que
subordinava a imaginação e a observação.

Já os liberalistas defendiam a implementação do desenho no currículo


escolar, com a finalidade de preparar o povo para o trabalho.

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TÓPICO 2 | ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Segundo Barbosa (2002), a arte então começa a desempenhar um


importante papel, através do desenho como linguagem da técnica e da ciência,
sendo “valorizadas como meio de redenção econômica do país e da classe obreira,
que engrossara suas fileiras com os recém-libertos”. (BARBOSA, 2002, p. 30).

4 O ENSINO DA ARTE NO BRASIL NO SÉCULO XX


Entre os anos de 1901 e 1914, os positivistas continuaram a orientar a
educação em geral, no entanto, iniciou-se a implementação de modelos educacionais
por missionários americanos que influenciaram a legislação brasileira.

Por volta do ano de 1914, iniciou-se a preocupação com a expressão da


criança, através da pedagogia experimental. A criança gradativamente passa a ser
vista com características próprias e não mais como um adulto em miniatura.

A influência da pedagogia experimental propiciou as “primeiras


investigações sobre as características da expressão da criança através do desenho”.
(BARBOSA 2002, p. 42). O desenho começa a ser utilizado como teste mental e
passa a ser considerado fator interno que reflete a organização mental. Valoriza-se
a livre expressão da criança, partindo da imaginação e condenando os modelos
impostos pela observação.

Em 1917, junto com uma exposição de seus trabalhos em São Paulo,


Anita Malfatti expôs desenhos infantis. Apoiada por Mário de Andrade,
ela continuou com este trabalho apesar da sociedade, que ainda vivia sob
o princípio de que a criança é um adulto em miniatura, desvalorizando
o significado de uma expressão infantil. (ROSA, 2005, p. 27-28).

A exposição de Anita foi muito criticada na época, inclusive pelo escritor


Monteiro Lobato, que também era crítico de Arte, porém toda esta crítica serviu
como ponto de partida para o Movimento da Semana de Arte Moderna de 1922.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a)! Procure ler os trechos da Crítica de Monteiro Lobato, no


site Fonte: <http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1058764> e informar-se sobre este
momento. O título do texto é: A CRÍTICA DEMOLIDORA DE MONTEIRO LOBATO.

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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

4.1 A SEMANA DE ARTE MODERNA


A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 11 e 18 de 1922, no
Teatro Municipal de São Paulo, reuniu um grupo de artistas, entre eles, músicos,
artistas plásticos, arquitetos e escritores que defendiam a arte com estilo próprio
brasileiro, negando as vanguardas europeias, principalmente o academicismo.

Participaram deste movimento com pinturas e desenhos, artistas como:

FIGURA 4 – A ESTUDANTE, ANITA MALFATTI

• Anita Malfatti, Di Cavalcanti.


• Zina Aita.
• Vicente do Rego Monteiro.
• Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira).
• Yan de Almeida Prado.
• John Graz.
• Alberto Martins Ribeiro.
• Oswaldo Goeldi.

FONTE: Disponível em: <universitario.com.br>.


Acesso em: 6 abr. 2011.

FIGURA 5 – DEPOIS DO BANHO, VICTOR


BRECHERET

Com esculturas:

• Victor Brecheret.
• Hildegardo Leão Velloso.
• Wilhelm Haarberg.

FONTE: Disponível em: <http://www.sampa.art.


br/escultura/>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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TÓPICO 2 | ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

FIGURA 6 – PROJETO DE RESIDÊNCIA,


ANTÔNIO MOYA

Com a arquitetura:

• Antonio Garcia Moya.


• Georg Przyrembel.

FONTE: Disponível em: <http://mm19.2it.com.


br/>. Acesso em: 6 abr. 2011.
Representando os escritores:

• Mário de Andrade.
• Oswald de Andrade. “Escrevo sem pensar, tudo o que o meu
• Menotti del Picchia. inconsciente grita. Penso depois: não só para
• Sérgio Milliet. corrigir, mas para justificar o que escrevi.”
• Plínio Salgado. Mário de Andrade.
• Ronald de Carvalho.
FONTE: Disponível em: <http://www.pensador.
• Álvaro Moreira. info>. Acesso em: 6 abr. 2011.
• Renato de Almeida.
• Ribeiro Couto.
• Guilherme de Almeida.

FIGURA 7 – LIVRO VILLA-LOBOS

Representando a Música:

• Villa-Lobos.
• Guiomar Novais.
• Ernâni Braga
• Frutuoso Viana.

FONTE: Disponível em: <http://submarino.com.


br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

DICAS

Caro(a) acadêmico(a)! Para saber mais sobre a


importância da Semana de Arte Moderna, sugerimos
que acesse o site: <http://www.youtube.com/
watch?v=zc2AHqe9zrw>, Semana de Arte Moderna,
Minissérie “Um só Coração”.

Este movimento influenciou diretamente a expressão artística brasileira,


bem como o ensino da arte no Brasil. Após este movimento iniciaram-se as
atividades de investigação sobre a arte da criança e incentivos ao próprio ensino
da Arte.

No ano de 1948, no Rio de Janeiro, é criada a Primeira Escolinha de Artes


do Brasil, por iniciativa do artista pernambucano Augusto Rodrigues, da artista
gaúcha Lúcia Alencastro Valentim e da escultora norte-americana Margareth
Spencer. As escolinhas de Artes tinham a finalidade de trabalhar as expressões
artísticas e eram voltadas ao público infantil. Valorizavam a livre-expressão.

Nas escolas primárias e secundárias por volta da metade do século XX,


houve uma valorização do desenho, trabalhos manuais, música e canto orfeônico.
Valorizavam-se os chamados “dons artísticos”, onde o professor era o transmissor
de técnicas e conceitos ligados aos padrões estéticos como a reprodução de modelos.

Nesta época, a disciplina de desenho enfocava o desenho geométrico, e o


desenho natural e o teatro e a dança eram reconhecidos apenas para as apresentações
escolares em virtude das datas comemorativas.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Perguntamos a você:


Será que a reprodução de modelos ainda existe em nossas escolas?
Será que o teatro e a dança, ou a própria figura do professor de artes ainda não recebe esta
valoração de organizador de apresentações e murais para datas comemorativas?

Na música, o principal representante do canto orfeônico no Brasil, por volta


da década de 1930 foi o compositor Heitor Villa-Lobos, que “acabou transformando
a aula de música numa teoria musical baseada nos aspectos matemáticos e visuais
do código musical com a memorização de peças orfeônicas...”. (PCN, 1997, p. 26).
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TÓPICO 2 | ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O maestro Heitor Villa-Lobos foi um grande representante do ensino da


música na História da Música brasileira. O canto orfeônico foi substituído pela
Educação Musical no Brasil, através da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira) de 1961, passando a vigorar de forma efetiva por volta da década de
1960.

Até a década de 1970, o ensino da arte baseava-se nos ideais modernistas


e nas tendências escolanovistas, voltando-se para o “desenvolvimento natural da
criança”. (PCN, 1997, p. 26). A partir desta data, iniciamos uma trajetória acerca
da Legislação da Educação Brasileira, em que o Ensino da Arte foi conquistando
espaço, de forma lenta, com o passar do tempo, como você poderá constatar a
partir do próximo tópico.

5 A VALORIZAÇÃO DO ENSINO DO DESENHO


Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de
uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças. (Pablo
Picasso)

Pablo Picasso foi um artista que viveu entre os anos de 1881 e 1973. Como você
pode perceber através da leitura dos dizeres acima, o artista valorizava o desenho
infantil. Assim como Picasso, no Ensino da Arte, a partir da Semana de Arte Moderna
de 1922, iniciou-se uma preocupação com a valorização da expressão das crianças.

Porém, a primeira lei brasileira a mencionar o Ensino da Arte no Brasil,


foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, do ano de 1971 (LDB nº
5.292/71). Esta lei incluiu a Arte no currículo escolar não como disciplina, mas como
“atividade educativa”, com o nome de Educação Artística. Porém, com a criação da
lei, a Educação Brasileira deparou-se com um grande empecilho: a formação dos
professores.

Segundo o PCN (1997), a maioria dos professores não estava preparada


para trabalhar com as diferentes linguagens do Ensino da Arte como a lei previa.

Foi nesta época e em virtude desta necessidade que surgiu a Faculdade de


Educação Artística que oferecia cursos de curta duração, puramente técnicos e sem
base conceitual onde se iniciou a visão do professor de artes “polivalente”, ou seja,
o professor de Artes que trabalha com todas as linguagens da Arte e não apenas
com a linguagem de sua formação específica.

De maneira geral, entre os anos 70 e 80, os antigos professores de


Artes Plásticas, Desenho, Música, Artes Industriais, Artes Cênicas e os
recém formados em Educação Artística viram-se responsabilizados por
educar os alunos (em escolas de ensino médio) em todas as linguagens
artísticas, configurando-se a formação do professor polivalente em Arte.
(PCN, 1997, p. 29).

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UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES VISUAIS

Nesta época, então, o ensino da arte era voltado na aprendizagem


reprodutiva e na expressão dos alunos, como nas décadas anteriores.

A partir dos anos 80, um grupo de professores de Arte constitui um


movimento chamado Arte-Educação, com a finalidade de discutir, conscientizar e
organizar o Ensino da Arte no Brasil.

O movimento Arte-Educação permitiu que se ampliassem as discussões


sobre a valorização e o aprimoramento do professor, que reconhecia o
seu isolamento dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e
competência na área. As ideias e princípios que fundamentam a Arte-
Educação multiplicam-se no País por meio de encontros e eventos
promovidos por universidades, associações de arte-educadores,
entidades públicas e particulares, com o intuito de rever e propor novos
andamentos à ação educativa em Arte. (PCN, 1997, p. 25).

Este grupo defendia a não polivalência, a formação em cursos de licenciatura


com habilitação em uma das linguagens da Arte, entre elas, a música, as artes
cênicas, que incluíam a dança e o teatro e as artes plásticas. Nesta época, além das
manifestações específicas deste grupo, iniciaram-se também debates e pesquisas
sobre conceitos e ensino da Arte por todo o Brasil e o mundo.

Com a nova LDB nº 9.394/96, o ensino da Arte ganhou espaço no currículo


escolar como disciplina obrigatória e com a alteração dada pela Lei nº 12.287/2010,
aborda a especificidade das expressões regionais:

§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,


constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da
educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos.

Além da obrigatoriedade do ensino da Arte, especialmente em suas


expressões regionais, duas leis ainda dizem respeito aos componentes curriculares
desta disciplina, a Lei nº 11.645 de 2008, que trata do estudo da história e cultura
afro-brasileira e indígena:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino


médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação
da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como
o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o
negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as
suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileira.

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TÓPICO 2 | ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

E a Lei nº 11.769 de 2008, que trata da obrigatoriedade do conteúdo de música:


“§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente
curricular de que trata o § 2º deste artigo.

A reforma na legislação sobre a Educação Brasileira revela certa valorização


do Ensino da Arte nos diferentes níveis de Educação Básica, no entanto, isto não
garante a formação específica do profissional que irá trabalhar com esta área de
conhecimento.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você viu que:

• A função da Arte na escola é desenvolver as múltiplas inteligências.

• Os primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são datados


aproximadamente entre os anos de 1549 e 1808, período em que a educação era
dominada pela missão jesuítica.

• A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton,


como um grupo de artistas importados da França no ano de 1816, encarregados
de substituir a concepção popular de arte, assim como o Barroco brasileiro, pelo
Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura, escultura e moda europeia.

• Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que em 1816 foi criada a
Escola Real das Ciências, Artes e Ofício do Rio de Janeiro, que após dez anos foi
transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes.

• Em 1917, junto com uma exposição de seus trabalhos em São Paulo, Anita
Malfatti expôs desenhos infantis.

• A exposição de Anita foi muito criticada na época, inclusive pelo escritor


Monteiro Lobato, que também era crítico de arte, porém toda esta crítica serviu
como ponto de partida para o Movimento da Semana de Arte Moderna de 1922.

• A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 11 e 18 de 1922, no Teatro


Municipal de São Paulo, reuniu um grupo de artistas, entre eles, músicos, artistas
plásticos, arquitetos e escritores que defendiam a arte com estilo brasileiro,
negando as vanguardas europeias, principalmente o academicismo.

• A Semana de Arte Moderna impulsionou o ensino da arte no Brasil, e iniciou a


valorização do desenho da criança.

• A primeira lei brasileira a mencionar o ensino da Arte no Brasil foi a Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1971(LDB nº 5.292/71) que incluiu a
Arte no currículo escolar não como disciplina, mas como atividade educativa.

• Com a nova LDB, Lei nº 9.394/96, o ensino da arte ganhou espaço no currículo
escolar como disciplina obrigatória e com a alteração dada pela Lei nº 12.287/2010,
aborda a especificidade das expressões regionais.

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• Além da obrigatoriedade do ensino da Arte, especialmente em suas expressões
regionais, duas leis ainda dizem respeito aos componentes curriculares desta
disciplina, a Lei nº 11.645, de 2008, que trata do estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena e a Lei nº 11.769, de 2008, que trata da obrigatoriedade do
conteúdo de música.

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AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Agora que você já estudou um pouco sobre a


Semana de Arte Moderna de 1922, sua atividade de estudos será elaborar um
Plano de Aula, que trabalhe com esta temática.

Não se esqueça de elaborar os objetivos e os procedimentos


metodológicos.

Assista ao vídeo de
resolução desta questão

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