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EDUCAÇÃO, ARTE E MOVIMENTO

Unidade 5 - História da arte e


educação

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EDUCAÇÃO, ARTE E MOVIMENTO
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UNIDADE 5

Todos os direitos reservados.

Prezado(a) aluno(a), este material de estudo é para seu uso pessoal, sendo

vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, venda,

compartilhamento e distribuição.

OBJETIVO
Conforme o plano de ensino e sua
importância na formação profissional e
pessoal, traçaremos algumas relações
entre Arte e Educação considerando
contextos históricos específicos.

> Identi icar Momentos Em Que A Arte Dialoga Com A


Educação;
> Compreender A Arte E A Educação Como Paralelos
Na História;
> Distinguir Como O Movimento Pode Ser Percebido
Através Da História Da Arte;
> Entender O Conceito De Arte E Temporalidade;
> Investigar A Noção De “Belo” Dentro Da Arte;
> Compreender O Breve Histórico Da Arte Na
Educação Brasileira.

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5 HISTÓRIA DA ARTE E
EDUCAÇÃO

5.1 O MOMENTO EM QUE A ARTE SURGE NA


EDUCAÇÃO
A arte está presente na História da humanidade desde seus primórdios. Há
registros de manifestações artísticas desde a pré-história, período em que fo-
ram registradas as chamadas pinturas rupestres, em cavernas.

A Arte rupestre é um tipo de arte que data


da pré-história e é constituída por pinturas
ou gravuras em cavernas ou rochas variadas
ao ar livre.

Acredita-se que este tipo de arte retratava


o cotidiano do homem pré-histórico, suas
crenças e valores.

Dessa mesma época, também constam registros de outros tipos de criações


artísticas como esculturas, música e até mesmo danças e rituais, que contém
algumas sementes da arte teatral. No livro “História da Arte para crianças”, a
autora Lenita Miranda de Figueiredo explora o período citado, enfatizando a
riqueza e a diversidade das criações artísticas humanas:

Veja que estas esculturas demonstram também que os artistas da Pré-


História já conheciam as três dimensões, pois eram capazes de retratar a
mulher de frente e de perfil, criando formas que se projetam no espaço

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em todas as dimensões. Eles jamais pintavam ou esculpiam árvores, frutas,


nem a flo a que os cercava. Isso é um mistério que ninguém desvendou
até hoje. Os artistas naquela época registravam, então, aquilo que mais os
impressionava e interessava. (FIGUEIREDO, 2011, p. 22).

Esse e outros trechos do livro nos dão uma pista sobre como as produções
artísticas e o conceito de Arte em si mesmo, podem se modificar ao longo da
história, visto que diferente de outros períodos, o homem pré-histórico não se
interessou por pintar, por exemplo, a natureza.

FIGURA 1: VÊNUS DE WILLENDORF: ESCULTURA A QUAL A CITAÇÃO SE REFERE

Fonte: Wikipedia (2020).

O entendimento do que seja a Arte e suas modificações através do tempo


é essencial para refletirmos de maneira crítica sobre as relações entre Arte
e Educação. A percepção de que tanto a Arte quanto a Educação não são
campos estanques e dialogam com os contextos políticos, sociais e históricos
nos quais estão inseridos é importante para compreendermos que não existe
uma única História da Educação e uma única História da Arte.

Além disso, é de fundamental importância atentarmos para o fato de que o


momento em que a arte surge na educação, ou seja, as intersecções entre os
campos da arte e da educação acontecem de maneiras variadas e com obje-
tivos múltiplos, em contextos diversos.

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Podemos, por exemplo, olhar para o momento que a arte surge na educação,
através do contexto brasileiro. No entanto, cabe ressaltar que a experiência bra-
sileira no campo do Ensino de Arte não está apartada de outras práticas de-
senvolvidas pelo mundo. Por este motivo, não seria possível abordar a relação
dialógica entre Arte e Educação nas escolas sem considerar outros contextos.

Destaca-se por exemplo, no campo do Ensino de Arte, as influências do es-


tadunidense John Dewey, além do inglês Herbert Read que influenciaram
fortemente o pensamento sobre Ensino de Arte no Brasil e no mundo.

Herbert Read
O poeta e crítico de Arte e Literatura Herbert
Read escreveu mais de mil obras acerca de
temáticas diversas. Sua contribuição para
os campos da Arte e da Educação foram
significati as e entre suas obras podemos
destacar “A Educação pela Arte” de 1943.

Título: John Dewey


O filóso o e pedagogista John Dewey é
considerado uma das principais referências
internacionais no campo da pedagogia
moderna. Fez enormes contribuições para
o campo da Arte e da Educação, dentre
as quais destaca-se a obra “Arte como
Experiência” de 1958.

Esses autores estão ligados ao movimento que ficou conhecido como “Movi-
mento da Escola Nova” que surgiu na Europa e nos Estados Unidos no século
XIX . Sobre o movimento, a autora Rosa Iavelberg esclarece que:

Na escola nova, priorizavam-se os aspectos psicológicos do desenvolvimento,


com pouca ênfase nos aspectos sociais. Os conteúdos eram definidos
nas atividades em função das experiências vivenciadas. Enfatizava-se o
desenvolvimento e o “aprender a aprender”, como fato mais importante do
que aprender conteúdos. (I VELBERG, 2017, p. 114).

No Brasil, esse movimento pode ser reconhecido através da figura de Augus-


to Rodrigues e a criação, em 1948, de uma Escolinha de Arte no Rio de Janeiro.

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Este é um exemplo de um movimento reflexivo que trouxe contribuições para


a história do Ensino da Arte que, como dito anteriormente, é fluída e continua
a se desenvolver através dos tempos, nos diversos contextos e a partir das
demandas presentes na sociedade. Hoje, por exemplo, o uso das tecnologias
digitais nas aulas de Arte é alvo de debates por artistas educadores e /ou te-
óricos, o que não era uma demanda de outros momentos. Por este motivo, o
professor deve ser um pesquisador dos mais curiosos e atentos. Estar antena-
do aos diálogos entre Arte e Educação é fundamental.

FIGURA 2: LUPA COMO REPRESENTAÇÃO DE PESQUISA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

5.2 A ARTE E A EDUCAÇÃO COMO PARALELOS NA


HISTÓRIA
Ao abordarmos estes diálogos entre Arte e Educação, conforme dito anterior-
mente, podemos fazê-lo de pontos de vista diferentes. No campo do Ensino
de Artes no Brasil, para citar um exemplo, é possível reconhecer ao longo da
história e da aplicação de leis, as diversas abordagens pedagógicas no ensino
formal de artes e os contextos nos quais foram criadas e experimentadas. No
entanto, as relações entre Educação e Arte ao longo do tempo, vão para além
do ensino formal.

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FIGURA 3: CONEXÕES/DIÁLOGOS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

É possível, por exemplo, reconhecer os diálogos entre educação e arte, olhan-


do do ponto de vista de alguns processos de criação artística. Acompanhar
um processo criativo artístico, pode ser uma forma de perceber como Arte e
Educação estão intrinsecamente conectadas. A esse respeito, o pesquisador
Vinícius Lírio comenta que:

Costumo partir de um princípio: a arte como invenção. Há algum tempo, venho


compartilhando e reafi mando o pensamento de que todo processo criativo,
se constituído como tal, é atravessado por um movimento pedagógico, do
mesmo modo que todo processo de ensino-aprendizagem é desdobrado e
se configu a, também, como um processo criativo. Nesse sentido, implica
se dispor e se colocar em criação, numa dinâmica que envolve, ao mesmo
tempo, executar e inventar, ações implícitas na descoberta do quê e como se
faz. (LÍRIO, 2017, p. 46)

O pensamento desdobrado por Vinícius tem relação com um entendimento


dos paralelos que podem ser traçados entre os processos artísticos criativos e
os processos de ensino e aprendizagem. Ou seja, o processo de ensino-apren-
dizagem, visto como um processo criativo, tira o foco da figura do professor e
coloca o foco na figura do aluno-criador, responsável pela construção de seu
conhecimento, ainda que com a mediação do professor.

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Para saber mais sobre as relações entre processos


artísticos e processos de ensino e aprendizagem
leia o artigo “Poéticas da Sala de Aula: processos
de criação e aprendizagem entre o teatro e a
performance”.

FIGURA 4: ALUNA COMO PROTAGONISTA DO PROCESSO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

De outro lado, o processo artístico transpassado por um movimento pedagó-


gico é um processo de criação no qual o artista tem liberdade criativa para
construir, destruir e reconstruir sua obra, o que proporciona descobertas e
aprendizados. Esse tipo de processo sempre está em diálogo com o contexto
no qual é produzido.

Esta relação entre Arte e Educação é importante para que possamos pensar
tanto a criação artística quanto o Ensino de Arte de um ponto de vista que
sempre a realidade dos sujeitos envolvidos nos processos. A esse respeito, no
contexto da educação formal, Viviane Mosé afirma que:

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O que precisamos de fato encarar é que a escola passa a ser um espaço


vivo de produção de saberes, de valorização da curiosidade, da pesquisa,
da arte e da cultura, da criatividade, da refl xão (...) um espaço vinculado à
comunidade a que pertence, bem como à cidade, ao país, ao mundo- ou se
tornará obsoleta e estará fadada ao fracasso. (MOSÉ, 2013, p. 56)

De modo geral, podemos através da reflexão de Mosé, entender que a educa-


ção, não deve estar alienada do diálogo com o seu tempo, assim como a Arte
também não deve estar.

Para aprofundar suas reflexões sobre as relações


entre a escola contemporânea e sociedade, leia o
livro: A escola e os desafios contemporâneos, de
Viviane Mosé.

As relações entre Arte e Educação elucidadas anteriormente estão presentes


na criação obra Guernica de Pablo Picasso representada na imagem seguinte:

FIGURA 5: GUERNICA DE PABLO PICASSO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Essa obra teve um processo de criação bastante extenso, baseado na constru-


ção, desconstrução e reconstrução da pintura, a partir de uma ideia original.
Levou 34 dias para ficar pronta e hoje é objeto de estudo para o campo da
Arte e Ensino de Arte, visto que o processo criativo de Pablo Picasso foi consi-
derado por teóricos da área como similar à proposta de Projetos de Trabalho
desenvolvida por diversos educadores, dentre eles, Fernando Hernàndez. A
respeito do trabalho por projetos, a autora Clea Coitinho, afirma que:

O trabalho por projetos contribui de forma significati a para a educação


nesse mundo atual, indo ao encontro das exigências da sociedade moderna,
pois o trabalho por projetos envolve um processo de construção, participação,
cooperação, noções de valor humano, solidariedade, respeito m tuo,
tolerância e formação da cidadania tão necessária à sociedade emergente.
(ESCOSTEGUY; CORRÊA, 2017, p. 228).

Para compreender melhor o trabalho por


projetos assim como sua associação com
processos artísticos, acesse: http://www.ufrgs.br/
revistabemlegal/edicoes-anteriores/no_1_2014/
entrevista-com-o-professor-fernando-hernandez.

5.3 O MOVIMENTO COMO PERCEPÇÃO DE ARTE


NA HISTÓRIA
A obra Guernica, de Pablo Picasso, exposta acima, foi feita no ano de 1937 e é
uma pintura à óleo, criada com intuito de retratar os horrores da Guerra Civil
Espanhola. As figuras de expressão exageradas, não realistas, sugerem movi-
mento e sofrimento exacerbado.

A sensação de movimento que a obra apresenta não é uma novidade em


termos de pintura, visto que ao longo da História da Arte Ocidental, diversos
movimentos artísticos buscaram retratar essa sensação de maneiras distin-
tas. O Futurismo, por exemplo, foi um movimento artístico do início do século
XX, muitas vezes ocupado em retratar o movimento em si ou até mesmo a
velocidade, para além das figuras representadas.

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No quadro Dinamismo de um automóvel,


pode-se perceber que não há nenhuma
intenção, por parte do artista, de retratar um
automóvel de forma realista. O Movimento
Futurista estava interessado na evolução
tecnológica, no movimento e na velocidade
que pode ser observada na pintura de Russolo.

No quadro Síntese plástica de movimentos


de uma mulher, o artista Luigi Russolo,
mais uma vez, se concentra em retratar
o movimento de um corpo, no lugar da
preocupação de representação realista da
figu a humana.

Outros artistas do século XX, como Jackson Pollock, por exemplo, exploraram o
movimento de outras maneiras. As obras do artista, feitas pela técnica de “gote-
jamento”, eram mais focadas no processo de pintura, ou seja, no movimento que
o artista fazia com o pincel sobre a tela, do que no resultado em si. Nesse caso, o
movimento corporal ganha uma importância maior no processo criativo.

Para saber mais sobre a vida e a obra de Jackson


Pollock, assista ao filme Pollock, dirigido por Ed
Harris.

Assim, a forma como o movimento se apresenta ao longo da História da Arte


pode ser muito variado. O que podemos notar, com os exemplos citados até
agora, é que a forma como o corpo do artista se envolve mais ou menos livre-
mente na obra, varia ao longo do tempo. No entanto, a história nos mostra
que o movimento na arte foi explorado para além dessa relação que envolve
somente o corpo do artista e a obra.

Nesse sentido, cabe destacar o trabalho Parangolés do artista brasileiro Hé-


lio Oiticica. Este trabalho é uma série constituída de espécies de capas feitas

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para serem vestidas e “dançadas” ou carregadas pelo público. Estas criações


são exemplares para pensarmos o movimento na arte, de uma maneira com-
pletamente inovadora. A obra aqui representada só existe a partir do momen-
to que alguém, do público, empresta a ela seu corpo e movimentos. Essa ma-
neira de incorporar o movimento na obra, transforma as relações entre obra
de arte e espectador.

FIGURA 6: PARANGOLÉ

Fonte: Wikimedia (2020).

O artista Hélio Oiticica criou os Parangolés na


década de 1960, a partir de seu contato com a
Escola de Samba carioca Estação Primeira de
Mangueira. O artista afirma que essas obras foram
criadas por uma necessidade de desinibição
intelectual e a vontade de exploração da livre
expressão no contato com a obra de arte.

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5.4 CONCEITO DE ARTE E TEMPORALIDADE


Os parangolés de Hélio Oiticica se constituem como ótimos exemplos da Arte
Contemporânea Brasileira, visto que a proposta de Hélio está alinhada com os
questionamentos produzidos pelo contemporâneo na Arte como a abertura
ao diálogo com as diversas linguagens artísticas, o que acaba por trazer um
caráter híbrido para muitas das obras. No entanto, nem sempre foi assim.

É preciso compreender que o conceito de Arte, não somente no Brasil, se mo-


difica ao longo do tempo e tem sentidos diferentes para as diversas socieda-
des e culturas, por isso é difícil defini-lo como algo imutável.

Conforme citado no tópico 1 desta unidade, a Arte faz parte da vida do homem
desde a pré-história. No entanto, ela existe de maneira fluida, modificando-se,
em diálogo com as questões culturais, sociais e políticas de cada sociedade.
Portanto, assim como as sociedades se modificam ao longo do tempo, o con-
ceito de Arte também o faz, acompanhando esse movimento.

FIGURA 7: MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Fonte: Wikipedia (2020).

Podemos entender a complexidade do conceito e suas variações se, por


exemplo, fizermos uma viagem no tempo, de volta a Antiguidade Clássica.
Para os antigos, o conceito de Arte estava ligado a qualquer atividade que
pudesse envolver uma habilidade específica como a oratória ou a construção
de embarcações. Já a poesia, por exemplo, por ser considerada como fruto da
inspiração do poeta e não de suas habilidades, não era considerada Arte.

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Diversos filósofos, como Platão e Aristóteles, se debruçaram sobre o conceito,


a fim de defini-lo ou delimitá-lo, modificando-o e aprofundando-o. Ao longo
do tempo e dos mais diversos contextos históricos, o conceito continuou a se
desdobrar e redefinir, como se não fosse possível ser apreendido fora de re-
cortes muito específicos.

Assim, é possível encontrarmos ao longo da história da Arte Ocidental, obras


que tenham uma função educativa, como por exemplo, algumas pinturas de
cunho religioso como O dia do juízo final, de Michelangelo, já que nesse mo-
mento histórico, acreditava-se que o propósito da Arte era ensinar ou propor-
cionar prazer ao espectador.

FIGURA 8: O DIA DO JUÍZO FINAL DE MICHELANGELO

Fonte: Wikipedia (2020).

Assim como, podemos encontrar alguns séculos à frente, a Arte sendo utiliza-
da em outra função, qual seja o seu papel de crítica social. Um exemplo disto
é a obra Os comedores de Batata de Van Gogh que destaca a humildade
exacerbada de uma refeição campestre servida apenas de batatas:

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FIGURA 9: OS COMEDORES DE BATA DE VAN GOGH

Fonte: Wikipedia (2020).

Para saber mais sobre a vida e a obra do pintor


Van Gogh, assista ao filme Com amor, Van Gogh
cuja estética se baseia nas obras do artista.

Esses são exemplos, claramente delimitados por um recorte temporal, para


que fiquem nítidas as mudanças no papel e conceito da Arte ao longo do
tempo.

O que é Arte para você? Qual é, na sua opinião a


função da Arte nos dias de hoje?

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5.5 A PERCEPÇÃO DO “BELO”


Assim como não é possível definir, de maneira absoluta, a Arte, visto que como
vimos, este conceito é mutável, o mesmo ocorre com a noção de “belo”, que
é revista ao longo do tempo, ganhando novas acepções. Portanto, quando
falamos de “belo” precisamos identificar a qual noção de “belo” estamos nos
referindo.

A primeira acepção de “belo” a ser destacada é a de “belo clássico”, definida


pelo filósofo grego Aristóteles. O belo para Aristóteles tem relação com algo
que é objetivo, imutável e universal. Na Arte Grega é considerado belo tudo o
que é proporcionalmente harmonioso, equilibrado, perfeito e gracioso. As for-
mas humanas são representadas de maneira a parecerem bem realistas e, ao
mesmo tempo, apresentam um ideal. Esse ideal clássico de beleza é retoma-
do ao longo da História da Arte Ocidental, por exemplo, no Renascimento Ita-
liano. Um exemplar pode ser visto abaixo na escultura Davi de Michelangelo:

FIGURA 10: DAVI DE MICHELANGELO

Fonte: Wikipedia (2020).

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A segunda acepção de belo, em oposição ao belo clássico é o chamado “belo


romântico”. Os artistas do romantismo anunciam uma ruptura com a noção
anterior ligada à objetividade e ao equilíbrio, visto que o movimento românti-
co está voltado para a subjetividade do artista criador. Assim, o belo românti-
co está ligado às paixões, ao subjetivismo, à desordem e à desmedida.

O Romantismo é um movimento com foco no sujeito, em suas visões de


mundo, expressas nas produções artísticas. O olhar subjetivo do artista sobre
determinado período histórico, local ou assunto estará no cerne das produ-
ções. Por este motivo, a objetividade do belo clássico não contempla os ideais
deste movimento artístico.

FIGURA 11: O VIAJANTE SOBRE O MAR DE NÉVOA DE CASPAR DAVID FRIEDRICH

Fonte: Wikipedia (2020).

Por exemplo, nesta obra do artista romântico Caspar David Friedrich pode-
mos notar o uso da paisagem como forma de expressão dos sentimentos hu-
manos. O artista cria com a pintura do nevoeiro, uma atmosfera de solidão e
mistério.

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A noção de belo clássico será questionada, novamente, na Arte Moderna e


na Arte Contemporânea, demonstrando que a ideia de beleza é construída
socialmente.

5.6 A ARTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA


As variações nas noções do que seja o belo e, especialmente, no conceito de
Arte, afetam diretamente o Ensino de Artes. Isso acontece, pois o entendi-
mento do que seja a Arte e sua função social está intrinsecamente conectada
com as abordagens que serão feitas ao longo do tempo, em termos de Ensino
Artístico.

Pode-se dizer que o Ensino de Arte no Brasil começa com a chegada dos je-
suítas e se estabelece com o intuito de catequese dos povos indígena. A Arte
aqui era utilizada como instrumento didático com o propósito de aculturação.

FIGURA 12: JOSÉ DE ANCHIETA, O PRIMEIRO JESUÍTA ENVIADO PARA A AMÉRICA DO SUL

Fonte: Wikipedia (2020).

Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, o Ensino de Artes no Brasil tem início
oficialmente em 1826, quando é criada a Academia Imperial de Belas Artes.
Nesta escola, atende-se especialmente uma classe social com aspirações aris-
tocráticas, o que contribui para a criação de um estereótipo que persegue o

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Ensino da Arte até os dias de hoje: a ideia de que o Ensino da Arte é um luxo
ou algo que interessa apenas a um grupo social restrito.

Foi nas últimas décadas do século XIX que se começou a debater de forma
mais contundente a importância do Ensino da Arte nas escolas. Nesse mo-
mento, o Ensino de Arte era equivalente ao ensino de desenho nas suas mais
diversas categorias como desenho gráfico, artístico, industrial e decorativo.

No campo do ensino não-formal de Artes é importante destacar a criação


das “Escolinhas de Arte do Brasil” com destaque para a figura da professora
Noêmia Varela. A educadora sempre foi defensora de uma educação inclusi-
va e atuou na formação de nomes como Ana Mae Barbosa. As Escolinhas são
consideradas as primeiras instituições modernas de Ensino de Arte.

Com o desenvolvimento do movimento artístico denominado modernismo


brasileiro, verifica-se uma aproximação entre a Arte e o ensino de Arte nas
escolas. A livre expressão, valorizada pelo movimento era também explorada
nas escolas. No entanto, enquanto os artistas modernistas passavam por uma
longa formação para chegar às produções baseadas na livre expressão, na es-
cola, a livre expressão foi entendida de maneira superficial como uma forma
da criança criar o que bem entendesse, sem referências anteriores. A ideia
deste período é que a “Arte vem de dentro”.

FIGURA 13: ABAPORU, OBRA FUNDAMENTAL DO MOVIMENTO MODERNISTA BRASILEIRO

Fonte: Wikipedia (2020).

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O quadro Abaporu de Tarsila do Amaral é a obra


brasileira mais valiosa em termos financeiros. Tem
o valor estimado em 40 milhões de dólares.

A partir de 1971, a partir da Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 5.692, de 11 de agosto


de 1971), passa-se a ter um entendimento tecnicista do Ensino de Arte nas Es-
colas. Nesse momento, até mesmo o desenho geométrico é incluído no cam-
po da Educação Artística, como era chamado o Ensino de Artes nas escolas.

No início do século seguinte, a abordagem triangular, sistematizada por Ana


Mae Barbosa vai permear todo o pensamento sobre o Ensino de Artes nas es-
colas, especialmente no que diz respeito ao ensino das Artes Visuais.

A proposta de Ana Mae passa pelo entendimento de que o estudo de Artes


deve contemplar o fazer artístico, a contemplação artística e a contextualiza-
ção das obras de arte. É importante destacar que não existe hierarquia entre
estas etapas, portanto, o educador pode iniciar o processo da maneira que
achar mais adequada.

FIGURA 14: PROFESSORA COM SEUS ALUNOS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Hoje, o artista educador pode ter acesso a materiais e metodologias diferen-


ciadas sobre as mais diversas linguagens artísticas. A pesquisa contínua é a
chave para novas descobertas e reflexões. O mais importante é que cada ar-
tista educador possa compreender o que entende por Arte e qual é a impor-
tância do Ensino da Arte nas Escolas.

CONCLUSÃO

Nesta unidade, conhecemos obras e artistas ocidentais, relacionando os cam-


pos da Arte e da Educação, entendendo-os como campos em eterno desen-
volvimento e mutação, visto que estão em diálogo com os contextos político,
histórico, social e econômico nos quais estão inseridos.

Assim, notamos que é possível conhecer as histórias da Arte e da Educação


de pontos de vistas diversos. Nesta unidade, conhecemos um pouco da nossa
história, a História da Arte na Educação Brasileira e nomes de importantes
figuras na construção desta história.

Este estudo pode ser utilizado para que você realize novas pesquisas e apro-
fundamentos nas temáticas abordadas, ampliando seus conhecimentos so-
bre os assuntos aqui tratados.

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