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Aula 04

CONSTRUÇÃO
DO MEMORIAL

De acordo com Severino (2002) o memorial tem importante utilidade na vida


acadêmica, para ns de concurso, de ingresso e promoção na carreira universitária, para exames
de seleção ou de qualicação em cursos de pós-graduação, para seleção em concursos públicos
de nível docência, com requisito para ingresso aos cursos de pós-graduação stricto sensu e
ainda para compor capítulos de monograa quando avaliado e sugerido pelo orientador.
Ainda de acordo com o autor, o memorial é muito mais relevante quando se trata da
trajetória da vida prossional através de uma percepção mais qualitativa do signicado dessa
vida. O memorial tem por nalidade inserir o projeto de trabalho que o motivou no projeto
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pessoal mais amplo do estudioso (autor). Objetiva-se assim, explicar a intencionalidade que
perpassa e norteia esses projetos.
Dessa forma, o autor enfatiza que o memorial constitui, pois, uma autobiograa,
congurando-se como uma narrativa histórica e reexiva. Deve ser então, um relato histórico,
analítico e crítico, que dê conta dos fatos e acontecimentos que marcaram a trajetória
acadêmico-prossional.

BASES TEÓRICAS QUE FUNDAMENTAM A CONSTRUÇÃO DO


MEMORIAL

Os estudos sobre formação via história de vida, vida de professores, pessoa do


professor, práticas dos professores e ou prossão de professor na área da educação, como
alternativa para se produzir um outro tipo de conhecimento sobre o professor e sobre
suas práticas têm-se manifestado sob as mais variadas modalidades e com perspectivas
metodológicas e objetivos também os mais diversos.
O trabalho produzido por Catanni, Bueno e Souza (2003) enfatiza que Antonio
Nóvoa e Ivor Goodson, preocupam-se em realizar uma síntese dessas produções e armam
ser considerável o número de autores que dedicam à produção sistemática de trabalhos com e
sobre histórias de vida de professores. Segundo as pesquisadoras de fato, Nóvoa e Goodson
são os pesquisadores que mais se empenharam nos últimos dez anos em divulgar os estudos
sobre histórias de vida de professores.
No mesmo sentido de investigação encontramos os estudos de Pierre Dominicé
(1988-1990) Antonio Nóvoa (1998-1992), Christene Josso (1999) e Belmira Oliveira Bueno,
Denise Bárbara Catani e Cynthia Pereira de Souza (2003) que em seus estudos nos chama
atenção para a nova relação que se estabelece entre o investigador e seu objeto de estudo.
Assim, Nóvoa (1992) fala no duplo estatuto de ator e investigador dos formandos,
cuja atuação cria as condições para que a produção do saber, e não do seu consumo, se
constitua no eixo e no meio mediante o qual se processe a formação. Dessa forma os estudos
sobre a abordagem biográca priorizam o papel do sujeito na sua formação, o que quer dizer
que a própria pessoa se forma mediante a apropriação dessa experiência no seu percurso de
vida escolar. Adquirindo com isso a existência de uma nova epistemologia da formação.
Já Christine Josso (1988) aborda sobre uma teoria da atividade do sujeito, destacando
o papel do formando enquanto ator que se autonomiza e que assume as suas responsabilidades
nas aprendizagens e no horizonte que elas lhe abrem, e a possibilidade de desenvolver
através das biograas educativas maiores consciências da sua liberdade na interdependência
comunitária, enquanto sujeito coletivo.
Dominicé (1988b) em uma de suas reexões sobre o uso das histórias de vida
esclarece com propriedade esta concepção, armando que, a história de vida é uma outra
maneira de considerar a educação, não se tratando de aproximar a educação da vida, como
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nas perspectivas da educação nova ou da pedagogia ativa, mas considerar a vida como espaço
de formação. A história de vida passa pela família. É marcada pela escola. Orienta-se para
uma formação prossional, e em conseqüência benecia de tempos e espaços de formação
contínua. A educação é assim feita de momentos que só adquirem o seu sentido na história
de uma vida.
No Brasil os estudos de Bueno, Catanni e Souza (2003) destacam que é preciso pensar
a formação do professor como um processo, cujo início situa-se muito antes do ingresso nos
cursos de graduação, ou seja, desde os primórdios de sua escolarização e até mesmo antes –
depois destes, tem prosseguimento durante todo o percurso prossional do docente.
As autoras brasileiras fazem parte do grupo de estudos – Docência, memória e
gênero da Faculdade de Educação da USP e armam que a produção de relatos de história
de vida escolar por parte do grupo de docentes que pesquisaram na rede pública de São
Paulo têm permitido gerar o que denominam de contra-memória. Ou seja, o trabalho de
pesquisa e reexão dessas professoras, sobre suas histórias de vida e formação intelectual,
desencadeiam um tipo de análise que as leva, sobretudo, “a desenvolverem um processo de
desconstrução das imagens e estereótipos que se formaram sobre o prossional no decorrer
da história”. (BUENO et al.).
Foi observado, além disso, que as professoras reconstroem, por meio desse processo,
um modo próprio de se perceberem e, também, de conceberem a relação teoria e prática no
seu trabalho. Segundo as autoras seus estudos têm mostrado que a “contra-memória “ atua no
sentido de demolir as idéias que lhes têm sido impostas pela memória ocial e pela literatura
didático-pedagógica, possibilitando a formação de “uma nova concepção sobre sua prática e
o modo como esta se delineia e se estrutura”.

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