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METODOLOGIA DO

ENSINO DE ARTES
ENSINO DA ARTE NO BRASIL E A
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
APRESEN TAÇÃO
Metodologia do Ensino de Artes é uma disciplina de grande importância
na formação de professores, pois tem por objetivo refletir a respeito dos
fundamentos da prática docente e a construção da formação e do profissional
de Arte na educação.

Iniciamos também um diálogo sobre uma área que trabalha diretamente


com o conhecimento sensível, histórico e cultural, a Arte.

Conhecer a história da Arte/educação e as contribuições de pesquisadores


para o desenvolvimento do ensino da Arte no Brasil nos permite compreender
influências históricas que até se fazem presentes nas metodologias adotadas
em sala de aula.

Saber selecionar melhor os conteúdos, elaborar bons objetivos,


escolher procedimentos adequados de ensino, planejar melhor nossas
aulas, compreender os nossos processos de formação e qualificação como
professores trará contribuições substanciais à nossa prática. E é a isso que
nos propusemos ao elaborar esse Curso.

Vamos nos sensibilizar juntos, conhecendo a trajetória desta área de


conhecimento que vem ganhando espaço nos currículos escolares.

Bom estudo e muita sensibilidade artística nas suas discussões!

Profª Tatiana dos Santos da Silveira

Organização
Reitor da Pró-Reitora do EAD Edição Gráfica
Tatiana dos Santos UNIASSELVI e Revisão
da Silveira Prof.ª Francieli Stano
Tutoria Interna Prof. Hermínio Kloch Torres UNIASSELVI
de Artes Visuais
.01
ENSINO DA ARTE NO
BRASIL E A LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
Esta etapa abordará a história do Ensino da arte no Brasil. Compreender o
sentido de Arte e Arte/educação permitirá refletir sobre as questões referentes
a metodologias do ensino que influenciaram e marcam a identidade de
professores que estão à frente desta disciplina.

Convido você a estudar um pouco sobre a caracterização de Arte e Arte/


educação, de grandes nomes relacionados à pesquisa sobre o ensino da Arte
no Brasil e no Mundo.

2 CARACTERIZANDO ARTE E ARTE/EDUCAÇÃO


A Arte está presente na vida das pessoas desde o início da humanidade
como forma de comunicação e expressão. Desde a pré-história o homem já
se comunicava através dos desenhos e códigos impressos na rocha, que você
poderá estudar na disciplina de História da Arte. Por meio das expressões
artísticas, é possível além de manifestar sentimentos, perceber o mundo de
forma poética, sensível e contextualizada.

Ouvir uma música, uma poesia, apreciar um quadro, uma fotografia,


uma apresentação de teatro ou dança são modos de fruir e sentir Arte. Fruir
Arte é um processo pelo qual o ser humano conhece a respeito da obra, do
artista que a criou, de si próprio e do mundo onde está inserido. Assim, o
trabalho com a Arte está relacionado à percepção, à emoção, à intuição, à
sensibilidade. “A arte é, por conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo
para que este dê maior atenção ao seu próprio processo de sentir”. (DUARTE
JÚNIOR, 1988, p. 65)

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Você já se perguntou qual a real importância da Arte na vida das pessoas?

Barbosa (2002) atenta que é impossível conhecer a cultura de um


país, sem conhecer sua arte, pois é importante compreender que a Arte é a
representação do país por seus próprios membros.

É por meio da Arte que podemos conhecer e entender a cultura do nosso


tempo, sendo este um processo fundamental para a construção humana
sensível.

Q uando falamos de “constr ução humana sensível”, não estamos


generalizando a Arte como forma de despertar apenas sentimentos, pois desta
forma estaríamos reduzindo seu real papel enquanto área de conhecimento
presente na vida das pessoas. Estamos aqui, nos referindo a todos os elementos
que permeiam esta construção de conhecimento cultural e histórico através
da Arte, pois “a arte como linguagem, expressão e comunicação, trata da
percepção, da emoção, da imaginação, da intuição, da criação, elementos
fundamentais para a construção humana sensível” (PILLOTTO, 2004, p. 38).
Como vetor de construção humana sensível, a Arte possibilita contato com
o mundo e consigo mesmo. Permite que, por meio dela, a criança conheça
e compreenda o contexto onde está inserida, bem como desenvolva
conhecimentos artísticos, culturais e históricos.

A arte/educação proporciona aos alunos o contato direto com imagens


e objetos artísticos. Este contato e o trabalho com as produções artísticas
desenvolvido por professores de arte no contexto escolar permitem, além
do contato com a Arte, momentos de criação e de expressão individuais
e coletivos. Permitem ao aluno conhecer a realidade do seu tempo, a sua
cultura e a sua história.

Se pretendemos de fato uma educação para a cidadania, que entenda os


sujeitos como construtores de suas histórias, temos que garantir a educação
estética e artística nos espaços das instituições educacionais, talvez o único
para a maioria das crianças, a única possibilidade para adentrarem no universo
poético e estético. (PILLOTTO, 2004, p. 59)

A escola é o espaço institucional onde o aluno tem a oportunidade de


conhecer de forma intencional ou não, os conhecimentos históricos e culturais
construídos pela sociedade no decorrer dos tempos. É o espaço que permite
uma relação entre história, cultura e Arte. “Ao conhecer a arte produzida em
diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as
outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, audiovisual
etc.), o educando amplia sua concepção da própria arte e aprende dar sentido
a ela”. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 19)

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Mas afinal, qual a função da Arte na escola?

Pesquisas indicam que a Arte desenvolve a cognição de crianças e


adolescentes, proporcionando conhecimento e expressão não apenas racional,
mas também afetivos e emocionais. “A função da Arte na Educação é essa,
desenvolver as diferentes inteligências”. (BARBOSA, 2001)

Mas, como será que chegamos até esta concepção de Ensino de Arte?

É muito importante que você, caro acadêmico, reflita sobre essas


questões para compreender a sua prática pedagógica. Vamos refletir juntos
sobre esta trajetória.

3 ARTE E A EDUCAÇÃO JESUÍTICA


Os primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são
datados aproximadamente entre os anos de 1549 e 1808, período e que a
educação estava voltada para os nobres, sob a responsabilidade de grupos
religiosos principalmente os jesuítas. Neste período, no Brasil, a Educação
dominada pela Missão Jesuítica era dividida em dois projetos: um para a
catequização dos índios e outro para a elite dominante.

Como nesta época a formação era destinada à elite e à catequização dos


nativos, entre os donos de terras desenvolveu-se um desejo de demonstrar
a hierarquia através das suas riquezas, entre elas os títulos acadêmicos.

Segundo Barbosa 2002, durante o império, objetivava-se formar uma


elite que pudesse defender a colônia dos invasores, uma elite que pudesse
governar o país e que motivasse culturalmente a corte.

Para Ferraz e Fuzari (2009), no Brasil fundaram as escolas de ler e escrever


e de doutrina em locais diferentes. O método utilizado pelos jesuítas era
atrativo, pois aproveitam a música, o canto coral e o teatro, para finalidade
de formação religiosa.

Com relação aos nativos, eram educados nas missões e nos sistemas de
“reduções” destinadas à catequese. As reduções, assim como as residências e
os colégios, tornaram-se verdadeiras “escolas-oficinas” que formavam artesãos
e pessoas para trabalhar em todas as áreas fabris. Nesses locais, os “irmãos
oficinas”, exerciam e ensinavam vários ofícios, tais como pintura, carpintaria,
instrumentos musicais, tecelagem etc. (FERRAZ; FUZARI, 2009, p. 41).

Ainda segundo Ferraz e Fuzari, 2009, os índios aprenderam a tocar e


construir instrumentos, bem como a composição musical.

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Neste período, os poetas e escritores tinham grande prestígio diferente
dos artistas que não eram tão valorizados.

Foi por volta de 1808, através das reformas do Marquês de Pombal, que
a educação Jesuítica perdeu sua força. Os jesuítas perderam o poder de atuar
junto às escolas, porém os professores aptos a atuar eram os formados pelos
próprios jesuítas.

Este período foi marcado por mudanças no cenário político, educacional


e cultural do Brasil. Nesta época, o sistema educacional foi dividido em uma
estrutura de três níveis de ensino, primário, secundário e superior além de
cursos profissionalizantes.

Este momento pedia uma reestruturação cultural no país, que ficou


marcada pela vinda da Missão Artística Francesa para o Brasil, ação de D. João
VI, com o objetivo de “reformular os padrões estéticos vigentes”. (FERRAZ;
FUZARI, 2009, p. 42)

Mas, você sabe o que foi a Missão Artística Francesa?

A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil, chefiada por Joachim


Lebreton, com um grupo de artistas importados da França no ano de 1816,
encarregados de substituir a concepção popular de arte, assim como o Barroco
Brasileiro, pelo Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura, escultura
e moda europeia.

Dois dos principais artistas desta missão foram:

Jean-Baptiste Debret: (1768-1848) conhecido como “a alma da Missão


Francesa”. Ele foi desenhista, aquarelista, pintor cenográfico, decorador,
professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil
(1829). Em 1818, trabalhou no projeto de ornamentação da cidade do Rio de
Janeiro para os festejos da aclamação de D. João VI como rei de Portugal,
Brasil e Algarve. Mas é em Viagem Pitoresca ao Brasil, coleção composta de
três volumes com um total de 150 ilustrações, em que ele retrata e descreve
a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a nobreza e as cenas do
cotidiano brasileiro. Suas obras nos dão uma excelente ideia da sociedade
brasileira do século XIX.

Nicolas Taunay: (1755-1830) pintor francês de grande destaque na corte


de Napoleão Bonaparte. É considerado um dos mais importantes da Missão
Francesa. Ficou no Brasil por cinco anos e retratou paisagens do Rio de Janeiro.

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REMISSÃO À LEITURA
Caro acadêmico! Para aprofundar seus
c o n h e c i m e n t o s s o b r e Ta u n a y e D e b r e t ,
recomendamos os seguintes livros:
O SOL DO BRASIL - Nicolas-Antoine Taunay e as
desventuras dos artistas franceses na corte de D.
João. Lilia Moritz Schwarcz.
A historiadora Lilia Moritz Schwarcz se debruça
sobre a vida e a obra do pintor francês Nicolas-
Antoine Taunay. Um ensaio agudo a respeito
do imaginário francês sobre os trópicos, da arte
neoclássica e da vinda da família real portuguesa
e do grupo que a historiografia batizou de “Missão
Artística Francesa”.

DEBRET E O BRASIL - Pedro Correa do Lago e


Júlio Bandeira
Editora: Capivara. Com 708 páginas e mais de
1.300 imagens. Este volume ilustra a totalidade dos
trabalhos do artista, que os autores conseguiram
identificar e descrever como resultado de uma
pesquisa. As centenas de óleos, aquarelas,
desenhos e gravuras, produzidas por Debret nos
15 anos passados no Brasil (1816-1831), estão
reunidos neste volume, para permitir uma visão
da obra do pintor.

Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que em 1816, foi
criada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofício do Rio de Janeiro, que após
dez anos foi transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes. Foi
a instituição oficial do ensino da Arte no Brasil, porém ainda com orientações
de institutos similares na Europa.

Segundo Barbosa (2002), a Academia de Belas Artes esteve a serviço do


Reinado e império, além de contribuir para a estruturação de um preconceito
contra o ensino da Arte.

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FIGURA 1 – ACADEMIA DAS BELAS ARTES. LITOGRAFIA. MUSEU HISTÓRICO DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.jbrj.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

Os artistas responsáveis pelo ensino nesta instituição eram nomeados


e seguiam os modelos artísticos europeus, a arte neoclássica, “valorizando
categorias como harmonia, o equilíbrio e o domínio de materiais”. (FERRAZ;
FUSARI, 2009, p. 42)

Academia Imperial de Belas Artes ou Academia Imperial das Belas Artes é


o antigo nome (1822-1889) da atual Escola de Belas Artes, hoje unidade da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Foi inicialmente denominada como Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios,
quando da sua fundação por D. João VI (1816-1826), em 12 de agosto de 1816,
ao fim do período colonial brasileiro. O soberano teria sido influenciado, nesse
gesto, por António de Araújo e Azevedo, o 1º conde da Barca.
Após a Independência do Brasil, em 1822, a escola passou a ser conhecida
como Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, como Academia
Imperial de Belas Artes.
A instituição foi definitivamente instalada em 5 de novembro de 1826, em
edifício próprio à altura da Travessa do Sacramento (atual Avenida Passos),
inaugurado por D. Pedro I (1822-1831).
Em 1938, o seu edifício histórico foi demolido, tendo sido preservado o portal
em granito e mármore, onde se destacam os ornamentos em terracota, de
autoria de Zéphyrin Ferrez. Este, por sua vez, foi transportado em 1940 para
o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde se encontra na atualidade. 

FONTE: Disponível em: <www.flickr.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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Como nesta época a Missão Artística Francesa adotou o estilo neoclássico,
acabou por gerar certo preconceito em relação à Arte praticada pelas camadas
populares, o barroco-rococó.

Este caráter elitista era marcado pela oposição a este estilo barroco-
rococó existente o que também gerou um conceito de arte como algo
supérfluo e sem importância para a educação, que tinha serventia para o
lazer e o luxo.

A Academia Imperial de Belas Artes teve nomes importantes como alunos


e posteriormente como professores. Fazem parte desses alunos os artistas:

Victor Meireles: Autor da Primeira Missa no Brasil, Pedro Américo, autor


da obra Independência ou morte, conhecida também como o grito do Ipiranga
e Almeida Júnior, autor da Cena da Família de Adolfo Augusto Pinto.

FIGURA 2 – PRIMEIRA MISSA NO BRASIL E INDEPENDÊNCIA OU MORTE

FONTE: Disponível em: <itaucultural.org.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

FIGURA 3 – FAMÍLIA DE ADOLFO AUGUSTO PINTO

FONTE: Disponível em: <www.flickr.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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Dentre esses três artistas, Victor Meireles e Pedro Américo destacaram-se
na Academia Imperial de Belas Artes, recebendo como prêmio a oportunidade
de aprofundar seus estudos na Europa. Os dois artistas também se tornaram
professores na própria Academia.

Ainda nesta época, o ensino da arte baseava-se nos ensinamentos a


cerca do desenho, que era ensinado nas escolas primárias e secundárias.

Criaram-se também as escolas normais, destinadas ao ensino para a


formação de professores e os “liceus de artes e ofícios” ou “escolas de artes e
ofícios”. Esses espaços eram destinados à educação voltada à necessidade de
técnicas e mão de obra especializada para atender à demanda da expansão
da indústria nacional.

No Brasil como na Europa, o desenho era considerado a base de todas as


artes, tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da Academia
Imperial. No ensino primário e secundário, o desenho também tinha por
objetivo ser útil a desenvolver habilidades gráficas, técnicas e domínio da
racionalidade. Com isso, os professores preparavam os alunos para serem, no
futuro, bons profissionais e com formação regida por regras fundamentais
no pensamento dominante, como a estética da “beleza e do bom gosto”.
(FERRAZ; FUZARI, 2009, p. 44)

Como você pôde ler, caro acadêmico, a valorização do desenho no ensino


da arte era muito forte nesta época. Segundo Barbosa (2002), nas escolas
secundárias desta época predominavam o retrato e a cópia. Perguntamos
a você:
A cópia não é atividade que predomina em sala de aula?
Você poderá perceber ao longo da história do Ensino da Arte que muitas
técnicas ainda utilizadas nas aulas de Arte, encontram-se enraizadas até
mesmo nos séculos passados.
Aproveite esta leitura e esta volta às raízes do ensino da Arte no Brasil,
para refletir sobre sua prática em sala de aula.

Além do ensino da matéria de desenho nesta época, foi estabelecido o


ensino da música nas escolas brasileira, pois esta era a manifestação artística
preferida da corte portuguesa. No entanto, as formas e temas a serem seguidos
eram os europeus.

Entre os anos de 1888 e 1890, com a abolição dos escravos e com a


Proclamação da República, várias reformas acontecem em diferentes esferas
da sociedade brasileira. Tais reformas provocadas pelas correntes liberais e
positivistas.

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Uma discussão acirrada acontece na Escola Imperial de Belas Artes entre
as correntes positivistas e liberais referentes ao ensino da Arte.

O grupo dos Positivistas era formado por: Décio Villares, Aurélio de


Figueiredo e Montenegro Cordeiro e brigava pela manutenção do modelo
vigente de educação da Escola Imperial de Belas Artes, como escola de
aprendizado de ofícios e de Belas Artes.

O grupo dos liberais era composto por: Eliseu Visconti, França Júnior,
Henrique Bernadelli, Rodolfo Amoedo e Zeferino da Costa. Defendia a
importância da renovação de um modelo acadêmico de ensino e as belas
artes como foco de atenção da escola.

O grupo dos liberais consegue manter a Escola Imperial de Belas Artes,


mudando a denominação para Escola Nacional de Belas Artes, porém não
alteram seus moldes arcaicos.

Nesta época, os positivistas acreditavam que a importância da Arte


estava nas contribuições proporcionadas para o estudo da ciência, para o
desenvolvimento do raciocínio e da emoção, desde que ensinada através do
método positivo, que subordinava a imaginação e a observação.

Já os liberalistas defendiam a implementação do desenho no currículo


escolar, com a finalidade de preparar o povo para o trabalho.

Segundo Barbosa (2002), a arte então começa a desempenhar um


importante papel, através do desenho como linguagem da técnica e da ciência,
sendo “valorizadas como meio de redenção econômica do país e da classe
obreira, que engrossara suas fileiras com os recém-libertos”. (BARBOSA, 2002,
p. 30)

4 O ENSINO DA ARTE NO BRASIL NO SÉCULO XX


Entre os anos de 1901 e 1914, os positivistas continuaram a orientar a
educação em geral, no entanto, iniciou-se a implementação de modelos
educacionais por missionários americanos que influenciaram a legislação
brasileira.

Por volta do ano de 1914, iniciou-se a preocupação com a expressão


da criança, através da pedagogia experimental. A criança gradativamente
passa a ser vista com características próprias e não mais como um adulto
em miniatura.

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A influência da pedagogia experimental propiciou as “ primeiras
investigações sobre as características da expressão da criança através do
desenho” (BARBOSA 2002, p. 42). O desenho começa a ser utilizado como
teste mental e passa a ser considerado fator interno que reflete a organização
mental. Valoriza-se a livre expressão da criança, partindo da imaginação e
condenando os modelos impostos pela observação.

Em 1917, junto com uma exposição de seus trabalhos em São Paulo, Anita
Malfatti expôs desenhos infantis. Apoiada por Mário de Andrade, ela continuou
com este trabalho apesar da sociedade, que ainda vivia sob o princípio de
que a criança é um adulto em miniatura, desvalorizando o significado de uma
expressão infantil. (ROSA, 2005, p. 27-28)

A exposição de Anita foi muito criticada na época, inclusive pelo escritor


Monteiro Lobato, que também era crítico de Arte, porém toda esta crítica
serviu como ponto de partida para o Movimento da Semana de Arte Moderna
de 1922.

Caro acadêmico! Procure ler os trechos da Crítica de Monteiro Lobato,


no site Fonte: <http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1058764>
e informar-se sobre este momento. O título do texto é: A CRÍTICA
DEMOLIDORA DE MONTEIRO LOBATO.

4.1 A SEMANA DE ARTE MODERNA


A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 11 e 18 de 1922,
no Teatro Municipal de São Paulo, reuniu um grupo de artistas, entre eles,
músicos, artistas plásticos, arquitetos e escritores que defendiam a arte com
estilo próprio brasileiro, negando as vanguardas europeias, principalmente o
academicismo.

Participaram deste movimento com pinturas e desenhos, artistas como:

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FIGURA 4 – A ESTUDANTE, ANITA
• Anita Malfatti, Di Cavalcanti. MALFATTI
• Zina Aita.
• Vicente do Rego Monteiro.
• Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira).
• Yan de Almeida Prado.
• John Graz.
• Alberto Martins Ribeiro.
• Oswaldo Goeldi.

FONTE: Disponível em: <universitario.


com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

FIGURA 5 – DEPOIS DO BANHO, VICTOR


Com esculturas: BRECHERET

• Victor Brecheret.
• Hildegardo Leão Velloso.
• Wilhelm Haarberg.

FONTE: Disponível em: <http://www.sampa.art.


br/escultura/>. Acesso em: 6 abr. 2011.

FIGURA 6 – PROJETO DE RESIDÊNCIA, ANTÔNIO


Com a arquitetura: MOYA

• Antonio Garcia Moya.


• Georg Przyrembel.

FONTE: Disponível em: <http://mm19.2it.com.


br/>. Acesso em: 6 abr. 2011.

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Representando os escritores:

• Mário de Andrade.
• Oswald de Andrade. “Escrevo sem pensar, tudo o que o meu
• Menotti del Picchia. inconsciente grita. Penso depois: não
• Sérgio Milliet. só para corrigir, mas para justificar o
• Plínio Salgado. que escrevi.” Mario de Andrade.
• Ronald de Carvalho.
FONTE: Disponível em: <http://www.pensador.info>.
• Álvaro Moreira. Acesso em: 6 abr. 2011.
• Renato de Almeida.
• Ribeiro Couto.
• Guilherme de Almeida.
FIGURA 7 – LIVRO VILLA-LOBOS
Representando a Música:

• Villa-Lobos.
• Guiomar Novais.
• Ernâni Braga
• Frutuoso Viana.

FONTE: Disponível em: <http://submarino.


com.br>. Acesso em: 6 abr. 2011.

Caro acadêmico, para


s a b e r u m p o u c o m a i s s o b re a
importância da Semana de Arte
Moderna, sugerimos que acesse
o site: <http://www.youtube.com/
watch?v=zc2AHqe9zrw>, Semana
de Arte Moderna, Minissérie “Um só
Coração”.

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Este movimento influenciou diretamente a expressão artística brasileira,
bem como o ensino da arte no Brasil. Após este movimento iniciaram-se as
atividades de investigação sobre a arte da criança e incentivos ao próprio
ensino da Arte.

No ano de 1948, no Rio de Janeiro, é criada a Primeira Escolinha de Artes


do Brasil, por iniciativa do artista pernambucano Augusto Rodrigues, da artista
gaúcha Lúcia Alencastro Valentim e da escultora norte-americana Margareth
Spencer. As escolinhas de Artes tinham a finalidade de trabalhar as expressões
artísticas e eram voltadas ao público infantil. Valorizavam a livre-expressão.

Nas escolas primárias e secundárias por volta da metade do século


XX, houve uma valorização do desenho, trabalhos manuais, música e canto
orfeônico. Valorizavam-se os chamados “dons artísticos”, onde o professor era
o transmissor de técnicas e conceitos ligados aos padrões estéticos como a
reprodução de modelos.

Nesta época, a disciplina de desenho enfocava o desenho geométrico,


e o desenho natural e o teatro e a dança eram reconhecidos apenas para as
apresentações escolares em virtude das datas comemorativas.

Caro acadêmico, perguntamos a você:


Será que a reprodução de modelos ainda existe em nossas escolas?
Será que o teatro e a dança, ou a própria figura do professor de artes ainda
não recebe esta valoração de organizador de apresentações e murais para
datas comemorativas?

Na música, o principal representante do canto orfeônico no Brasil, por


volta da década de 1930 foi o compositor Heitor Villa-Lobos, que “acabou
transformando a aula de música numa teoria musical baseada nos aspectos
matemáticos e visuais do código musical com a memorização de peças
orfeônicas...”. (PCN, 1997, p. 26)

O maestro Heitor Villa-Lobos foi um grande representante do ensino


da música na História da Música brasileira. O canto orfeônico foi substituído
pela Educação Musical no Brasil, através da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Brasileira) de 1961, passando a vigorar de forma efetiva por volta
da década de 1960.

Até a década de 1970, o ensino da arte baseava-se nos ideais modernistas


e nas tendências escolanovistas, voltando-se para o “desenvolvimento natural
da criança”. (PCN, 1997, p. 26). A partir desta data, iniciamos uma trajetória
acerca da Legislação da Educação Brasileira, em que o Ensino da Arte foi

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conquistando espaço, de forma lenta, com o passar do tempo, como você
poderá constatar a partir do próximo tópico.

5 A VALORIZAÇÃO DO ENSINO DO DESENHO


Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma
vida inteira para aprender a desenhar como as crianças. (Pablo Picasso)

Pablo Picasso foi um artista que viveu entre os anos de 1881 e 1973. Como
você pode perceber através da leitura dos dizeres acima, o artista valorizava o
desenho infantil. Assim como Picasso, no Ensino da Arte, a partir da Semana
de Arte Moderna de 1922, iniciou-se uma preocupação com a valorização da
expressão das crianças.

Porém, a primeira lei brasileira a mencionar o Ensino da Arte no Brasil,


foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, do ano de 1971 (LDB
5292/71). Esta lei incluiu a Arte no currículo escolar não como disciplina, mas
como “atividade educativa”, com o nome de Educação Artística. Porém, com
a criação da lei, a Educação Brasileira deparou-se com um grande empecilho:
a formação dos professores.

Segundo o PCN (1997), a maioria dos professores não estava preparada


para trabalhar com as diferentes linguagens do Ensino da Arte como a lei
previa.

Foi nesta época e em virtude desta necessidade que surgiu a Faculdade de


Educação Artística que oferecia cursos de curta duração, puramente técnicos e
sem base conceitual onde se iniciou a visão do professor de artes “polivalente”,
ou seja, o professor de Artes que trabalha com todas as linguagens da Arte e
não apenas com a linguagem de sua formação específica.

De maneira geral, entre os anos 70 e 80, os antigos professores de Artes


Plásticas, Desenho, Música, Artes Industriais, Artes Cênicas e os recém
formados em Educação Artística viram-se responsabilizados por educar
os alunos (em escolas de ensino médio) em todas as linguagens artísticas,
configurando-se a formação do professor polivalente em Arte. (PCN, 1997,
p. 29)

Nesta época, então, o ensino da arte era voltado na aprendizagem


reprodutiva e na expressão dos alunos, como nas décadas anteriores.

A partir dos anos 80, um grupo de professores de Arte constitui um


movimento chamado Arte-Educação, com a finalidade de discutir, conscientizar
e organizar o Ensino da Arte no Brasil.

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O movimento Arte-Educação permitiu que se ampliassem as discussões sobre a
valorização e o aprimoramento do professor, que reconhecia o seu isolamento
dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e competência na área. As
ideias e princípios que fundamentam a Arte-Educação multiplicam-se no País
por meio de encontros e eventos promovidos por universidades, associações
de arte-educadores, entidades públicas e particulares, com o intuito de rever
e propor novos andamentos à ação educativa em Arte. (PCN, 1997, p. 25)

Este grupo defendia a não polivalência, a formação em cursos de


licenciatura com habilitação em uma das linguagens da Arte, entre elas, a
música, as artes cênicas, que incluíam a dança e o teatro e as artes plásticas.
Nesta época, além das manifestações específicas deste grupo, iniciaram-se
também debates e pesquisas sobre conceitos e ensino da Arte por todo o
Brasil e o mundo.

Com a nova LDB nº 9.394/96, o ensino da Arte ganhou espaço no


currículo escolar como disciplina obrigatória e com a alteração dada pela lei
nº 12.287/2010, aborda a especificidade das expressões regionais:

§ 2 o  O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá


componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica,
de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Além da obrigatoriedade do ensino da Arte, especialmente em suas


expressões regionais, duas leis ainda dizem respeito aos componentes
curriculares desta disciplina, a lei nº 11.645 de 2008, que trata do estudo da
história e cultura afro-brasileira e indígena:

Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio,


públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena.
§ 1 o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil,
a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2 o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar,
em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira.

E a lei nº 11.769 de 2008, que trata da obrigatoriedade do conteúdo de


música: “§ 6 o  A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,
do componente curricular de que trata o § 2 o deste artigo.

A reforma na legislação sobre a Educação Brasileira revela certa


valorização do Ensino da Arte nos diferentes níveis de Educação Básica, no
entanto, isto não garante a formação específica do profissional que irá trabalhar
com esta área de conhecimento.

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AUTOATIVIDADE
Caro acadêmico! Agora que você já estudou um pouco sobre a Semana
de Arte Moderna de 1922, sua atividade de estudos será elaborar um Plano
de Aula, que trabalhe com esta temática.

N ã o s e e s q u e ç a d e e l a b o ra r o s o b j e t i v o s e o s p ro c e d i m e n t o s
metodológicos.

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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos
tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.

______. A imagem no ensino da Arte. São Paulo: Max Limonad, 2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro


de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Brasília, 1996. Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/Sesu/índex.
php?option=conten&task=vview&id=773&Itemid306>. Acesso em: 10 jul.
2006.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino


Fundamental. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997. (v.
Arte).

______. Lei nº 12.287, de 13 de julho de 2010. Altera a Lei 9394, de 20


de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, no tocante ao ensino da arte. Disponível em: <http://www.
leidireto.com.br/lei-12287.html>. Acesso em: 7 abr. 2011.

______. Lei 11.645 de 10 de março de 2008. Altera a Lei n o 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, modificada pela Lei n o 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 7 abr.
2011.

______. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre
a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Disponível em:
<http://www.leidireto.com.br/lei-11769.html>. Acesso em: 7 abr. 2011.

______. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. Lei nº


5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de
1º e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
pedagogiaemfoco.pro.br/l5692_71.htm>. Acesso em: 7 abr. 2011.

DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que arte-educação?. 5. ed.


Campinas: Papirus, 1988.

FUSARI, Maria F. de Resende e.; FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Metodologia


do Ensino da Arte: fundamentos e proposições. São Paulo: Cortez, 2009.

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PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. O Conhecimento sensível: uma contribuição
para o aprendizado humano. In: PILLOTO, Silvia Sell Duarte; SCHRAMM,
Marilene K.; CABRAL, Rozenei W. (Orgs.). Arte e o Ensino da Arte.
Blumenau: Nova Letra, 2004.

ROSA, Maria Cristina da. A formação do professores de Arte: diversidade e


complexidade pedagógica. Florianópolis: Insular, 2005.

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GABARITO
Caro acadêmico! Agora que você já estudou um pouco sobre a Semana de
Arte Moderna de 1922, sua atividade de estudos será elaborar um Plano de
Aula, que trabalhe com esta temática. Não se esqueça de elaborar os objetivos
e os procedimentos metodológicos.
R.: O acadêmico deverá apresentar um plano de aula sobre a Semana de Arte
Moderna, apontando tema, objetivo geral, objetivos específicos, procedimentos
metodológicos e avaliação.

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