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ARTE INTERNACIONAL E
ARTE BRASILEIRA
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EaD
História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira – Profª. Ms. Maria Gabriela Mielzynska
HISTÓRIA DA ARTE:
ARTE INTERNACIONAL E
ARTE BRASILEIRA
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
709 M575h
ISBN: 978-85-67425-46-7
CDD 709
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Arte Moderna no pós-Segunda Guerra Mundial: Expressionismo Abstrato nor-
te-americano. Expressionismo Abstrato, Lírico ou Informal na Europa. Hard-edge
e Color-field Painting. Concretismo. O início do Pós-modernismo: Pop Art. Op
Art. Hiper-realismo. Minimalismo. Land Art. Arte Conceitual e Instalações. O Pós-
-modernismo nas décadas de 1970 e 1980: releituras. Transvanguarda e Arte
Povera na Itália. Neo-expressionismo Alemão. Figuração Livre Francesa. Nova
Pintura Britânica. Grafite, pintura e a nova arte norte-americana e mundial. Arte
Brasileira: do movimento moderno ao contemporâneo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao Caderno de Referência de Conteúdo de
História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira!
Começaremos no final da Segunda Guerra Mundial, momen-
to que teve no Expressionismo Abstrato sua principal vanguarda, e
chegaremos até a contemporaneidade. Depois, partiremos para a
arte brasileira, abordando-a dos seus primórdios ao nosso tempo.
10 © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira
Abordagem Geral
Patrícia Bueno Godoy
Doutora em História
3) tangas em cerâmica;
4) pratos e tigelas;
5) bancos em cerâmica, entre outros utensílios.
Misteriosamente, essas culturas desapareceram antes mes-
mo da colonização portuguesa.
Com a chegada de Cabral, em 1500, iniciou-se a colonização
e, consequentemente, fez-se muito mais arte.
Damos o nome de Arte Colonial àquela realizada entre os
séculos 16 e 19, ou seja, desde a chegada dos primeiros jesuítas
até as primeiras décadas do século 19, com a independência do
Brasil, em 1822.
Veremos desse período a arte primitiva ou ingênua e a arte
barroca.
Nesse período, o Brasil viu florescer em seu território uma
intensa atividade artística que era realizada por padres e irmãos
leigos, sob a orientação das diferentes ordens religiosas.
Na pintura, esses artistas, que eram dotados muito mais de
fé do que de talento, trabalhavam com a temática religiosa para
glorificar a Deus e a Igreja. Eventualmente faziam também retratos
e alguma paisagem.
Podemos chamar essa manifestação de "pintura primitiva”.
Um bom exemplo dessa pintura é aquela executada por Mi-
guelzinho Dutra (1810-1875), um dos últimos expoentes dessa
arte ainda em vigor nas primeiras décadas do século 19.
Miguelzinho Dutra, artista nascido na cidade de Itu, no inte-
rior de São Paulo, foi pintor, arquiteto, ourives, escultor e músico.
Autodidata, realizou uma pintura espontânea de rara qualidade,
trabalhando com o Padre Jesuíno de Monte Carmelo (1764-1819)
na decoração de igrejas, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Candelária, em Itu.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de
Conteúdo. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Academia Julien: fundada em Paris em 1868, funcionou
como uma espécie de alternativa à École des Beaux-Arts
(a Academia Francesa), sendo mais aberta a manifesta-
ções artísticas vanguardistas. Por ela passaram, espe-
cialmente no final do século 19 e início do século 20,
diversos dos mais importantes nomes da Arte Moderna
internacional.
2) Academicismo: é o tipo de arte que, especialmente
até o início do século 20, costumava seguir os padrões
e regras clássicos difundidos pelas academias de arte
de todo o mundo ocidental. Tais padrões (e mesmo o
termo Academicismo) começaram a se cristalizar com a
fundação em 1635 da Academia Francesa de Belas Ar-
tes, que serviu de modelo para a maioria das academias
de arte ao redor do mundo. Nesse sentido, opõe-se o
termo Academicismo à arte que tem um teor mais van-
guardista.
3) Aiatolá: é o mais alto título concedido a um islamita xiita
“doutor” em religião.
4) Alferes: patente militar inferior a tenente.
dex.php?lingua=portugues-portugues&palavra=metaf%
EDsica>. Acesso em: 23 mar. 2011).
43) Milagre econômico: foi o nome dado ao enorme cres-
cimento pelo qual passou a economia brasileira do final
da década de 1960 a meados da década de 1970. Foi
baseado em uma política do governo militar de grandes
investimentos na indústria, especialmente a de base, e
em infraestrutura, possibilitado pela grande oferta in-
ternacional de crédito. Em meados da década de 1970,
com as dificuldades econômicas internacionais oriundas
das crises do petróleo, o Brasil viu-se em processo de di-
minuição de crescimento e de aumento brutal da dívida
externa.
44) Naïf: é chamada de naïf, e também de “ingênua” ou “pri-
mitiva”, a arte que não tem filiação histórica (no sentido
de que não segue uma escola determinada), e muitas
vezes não utiliza de forma “correta” (aquela aprendida
nas escolas de arte) a perspectiva, o desenho ou as co-
res, o que não diminui a originalidade ou a qualidade
estética das obras. O Brasil possui uma grande quanti-
dade de artistas naïf talentosos e a sua aceitação vem
crescendo.
45) Neorealismo: foi um dos mais importantes movimentos
da história do cinema. Formado por diretores italianos
como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Vis-
conti, entre outros, começou nos últimos anos da Se-
gunda Guerra Mundial e durou até meados da década
de 1950. O Neorealismo praticava uma estética da sim-
plicidade: filmagens em locações (e não em grandes es-
túdios), orçamentos pequenos, participação de atores
amadores no elenco etc. Com isso, serviu de inspiração
para muitas das cinematografias periféricas, dos países
em desenvolvimento e mesmo dentro da Europa, nos
anos 1950 e 1960. Na temática, o Neorealismo procura-
va abordar o “homem comum”, fugindo das mirabolan-
tes histórias hollywoodianas.
46) OTAN: é a abreviatura de Organização do Tratado do
Atlântico Norte. É uma “liga militar” que foi criada pe-
los EUA e por alguns países da Europa Ocidental no pós-
© Caderno de Referência de Conteúdo 31
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Artes pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução
de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se prepa-
rando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa
é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e
adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
2. CONTEÚDOS
• Introdução: a arte do pós-Segunda Guerra e o desloca-
mento do centro artístico mundial da Europa para os Es-
tados Unidos.
• Contexto histórico: a Segunda Guerra Mundial, o mundo
pós-conflito e a Guerra Fria.
• Expressionismo Abstrato norte-americano: Jackson Pol-
lock e sua pintura gestual e outros artistas.
• Expressionismo Abstrato na Europa: tendências e artistas.
• Reações “geométricas” ao Expressionismo Abstrato: o
Hard-edge e a Color-field Painting.
• Arte Pop e seus artistas: “estaca zero” do Pós-modernis-
mo e a arte sendo invadida pela cultura de massa.
• Arte Pop na Inglaterra.
• EUA: o “paraíso” da Arte Pop.
• Outras correntes abstracionistas geométricas: a Op Art e
o Minimalismo.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta primeira unidade do Caderno de Referência de Conteú-
do de História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira, veremos
que se a Segunda Guerra Mundial fez que todo o mundo passasse
por drásticas mudanças de paradigmas nos mais diversos campos
(econômico, político, filosófico, comportamental etc.), a arte não foi
uma exceção a esta regra.
Podemos dizer que, como um dos reflexos das mudanças pe-
las quais passou o mundo, seu próprio “centro” mudou de lugar:
foi do “velho” para o “novo mundo”.
Assim, se a maior parte do que se produzia de relevante em
termos de artes plásticas se concentrava até então na Europa, cujo
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 49
principal centro cultural era Paris, tal papel passou para a América,
especialmente Nova York, no pós-guerra.
Os EUA passaram, então, a ditar não apenas moda, mas a
ditar a economia, a ditar a política e também a ditar arte. Foi este
país o polo dos dois principais movimentos artísticos a serem es-
tudados nesta unidade: o Expressionismo Abstrato e a Pop Art. En-
tão, vamos a eles. Antes, passemos por uma introdução histórica
indispensável para entendermos melhor como ocorreu essa mu-
dança no “centro do mundo”.
Bons estudos!
Em 1940:
• A Alemanha invade a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, a
Bélgica, Luxemburgo e a França (Figura 2).
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 51
Em 1941:
1) A Alemanha invade a Rússia.
2) No dia 7 de dezembro, os japoneses bombardeiam a
base militar norte-americana de Pearl Harbor (Figura 3),
no Havaí, e entram em guerra com os EUA.
3) Alemanha e Itália declaram guerra aos EUA.
4) Início do Projeto Manhattan para desenvolvimento da
bomba atômica.
Em 1942:
• O Exército alemão chega a Stalingrado, dando início à
batalha de mesmo nome. Esta seria a mais sangrenta de
toda a história, causando cerca de 1 milhão e meio de
mortes entre civis e militares. Vencida pelos soviéticos,
que contaram com melhor estratégia e auxílio das condi-
ções naturais – como o frio do inverno russo, esta batalha,
terminada em 1943, representou a “virada” na frente les-
te da guerra, dando início à marcha soviética para oeste
até a Alemanha. A Figura 4 retrata os soldados alemães
que foram presos em Stalingrado.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 53
Em 1943:
• Os aliados começam a invasão da Itália.
Em 1944:
• Em 6 de junho ocorre o Dia D, desembarque de tropas
aliadas na Normandia (Figura 5), norte da França, e início
da ofensiva contra a Alemanha a partir do noroeste da
Europa.
Em 1945:
1) Em 7 de maio, a Alemanha rende-se. Termina a guerra
na Europa.
2) A Alemanha é dividida em quatro zonas pelos aliados
(EUA, França, Inglaterra e URSS); a EUA, França e Ingla-
terra cabe a administração das zonas ocidentais, à URSS
cabe o território que ficaria conhecido depois como Ale-
manha Oriental. A cidade de Berlim, localizada dentro da
Alemanha Oriental, também é dividida em quatro zonas,
ficando as ocidentais a cargo de EUA, França e Inglaterra
e a oriental a cargo da União Soviética.
3) Outras regiões também são divididas em zonas de in-
fluência. Uma delas é a Coreia, que após a expulsão dos
japoneses pelos aliados, foi dividida ao meio pelo pa-
ralelo 38 (linha imaginária paralela ao equador, a norte
deste): ao norte, a Coreia do Norte, zona de influência
da URSS; a sul, a Coreia do Sul, sob influência norte-ame-
ricana.
4) Em 6 de agosto, os EUA lançam a bomba atômica sobre
Hiroshima (Figura 6); em 9 de agosto, a bomba é lançada
sobre Nagasaki; em 14 de agosto, o Japão rende-se. Ter-
mina a Segunda Guerra Mundial.
Em 1954:
• A Indochina é dividida em quatro estados: o Vietnã do
Norte, comunista e pró-soviético; o Camboja e o Laos,
simpatizantes do regime comunista, e o Vietnã do Sul,
separado do Vietnã do Norte pelo paralelo 17 (linha ima-
ginária paralela ao Equador, a norte deste) e de governo
pró-ocidental.
• Na Argélia, a Frente de Libertação Nacional – FLN dá início
à guerra contra os franceses pela independência do país.
Em 1955:
• A URSS forma o Pacto de Varsóvia, aliança político-militar
agregando oficialmente os países comunistas do leste eu-
ropeu.
Em 1956:
• Insurreição contra os soviéticos, pela democracia na Hun-
gria (Figura 8); Budapeste é bombardeada e os líderes da
revolta mortos ou presos pela URSS.
Em 1957:
• A URSS lança o Sputnik I, o primeiro satélite espacial, e o
Sputnik II com uma cadela da raça Laika (Figura 9), o pri-
meiro ser vivo a ser lançado ao espaço.
Em 1959:
• Liderados por Fidel Castro, os revolucionários cubanos as-
sumem o poder (Figura 10).
Em 1960:
• A França concede a independência à Argélia.
• A China rompe com a URSS.
Em 1961:
• Exilados Cubanos tentam sem sucesso a invasão de Cuba
pela Baía dos Porcos.
• Construção do Muro de Berlim (Figura 11), que separou a
cidade em duas zonas: a ocidental (capitalista) e a oriental
(comunista).
Em 1963:
• O presidente norte-americano John Kennedy é assassina-
do (Figura 12); Lyndon Johnson assume a presidência.
Em 1964:
• Começa a Guerra do Vietnã, em que os EUA apoiam mi-
litarmente o governo sul-vietnamita (capitalista) contra o
governo norte-coreano (comunista).
• Os Beatles chegam aos EUA e lideram a “invasão inglesa”
(Figura 13).
Em 1967:
• Guerra dos Seis Dias envolvendo Israel e países Árabes.
• Ernesto “Che” Guevara, líder revolucionário argentino
atuante em Cuba e em grande parte da América Espanho-
la, é morto na Bolívia.
Em 1968:
• O líder negro Martin Luther King é assassinado nos EUA.
• Em maio de 1968, ocorre em Paris uma onda de protestos
de estudantes e operários contra o sistema educacional,
o governo e as condições sociais da França, que ficou de-
nominada como Maio de 68 (Figura 14).
A Guerra Fria
A confirmação dos EUA como principal potência capitalista
do mundo, seu poderio militar coroado com a utilização da bom-
ba atômica; em contrapartida, a demonstração de força dada ao
mundo pelo exército soviético, a expansão das zonas de influência
da URSS; e, finalmente, a derrocada definitiva, devido à guerra,
dos países da Europa Ocidental enquanto grandes potências in-
dustriais deram ensejo a um novo cenário mundial que acabava de
nascer: a Guerra Fria.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 65
A “febre de juventude”
Um outro dado a ser destacado das décadas de 1950 e 1960
é a revolução que estas representaram no comportamento e na
cultura popular, principalmente no que diz respeito à juventude.
Jackson Pollock
Jackson Pollock (1912-1956), considerado por muitos críti-
cos internacionais como o maior artista norte-americano do sécu-
lo 20, foi o principal nome da pintura expressionista abstrata dos
EUA, e também um dos grandes pilares deste tipo de expressão
artística em todo o mundo.
Sua linguagem artística começou a ganhar os contornos que
a tornariam célebre durante a Segunda Guerra, quando Pollock co-
nheceu os surrealistas europeus exilados nos EUA e os escritos de
André Breton (1896-1966) sobre o automatismo na criação artísti-
ca. E foi exatamente na década de s 1940, também sob a influência
de Pablo Picasso (1881-1973), Max Ernst (1891-1976) e Joan Miró
(1893-1983), que Pollock encontrou a sua identidade artística.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 73
Willem de Kooning
Outro dos principais artistas do Expressionismo Abstrato
norte-americano foi o holandês Willem de Kooning (1904-1997).
Tendo estudado na juventude na Academia de Belas Artes de Ro-
terdã, chegou aos EUA em 1926. Ali procurou aprimorar-se, en-
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 75
Barnett Newman
Nascido em Nova York, o “berço” do Expressionismo Abstra-
to, Newman (1905-1970) começou a ganhar notoriedade em sua
carreira na década de 1940, ainda dentro desta corrente (Figura
29). Depois, passou a ser preferencialmente associado a outros
movimentos, tais como o Color-field Painting, que veremos mais
adiante.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 77
Figura 29 Sem título, aquarela expressionista abstrata de Barnett Newman, 1944, 31 x 51 cm.
Mark Rothko
O russo Mark Rothko (1903-1970), imigrante que chegou aos
EUA com 10 anos de idade, foi outro artista que iniciou sua car-
reira no Expressionismo Abstrato e depois o abandonou, partindo
para uma pintura mais ligada às formas geométricas. Seu trabalho
celebrizou-se pelos largos e desfocados retângulos coloridos, ora
escuros e delicados, ora de cores incandescentes e emotivas.
Observe na Figura 30 uma obra de Rothko ligada ao Expres-
sionismo Abstrato e, na Figura 31, uma obra com o estilo mais geo-
métrico que passaria a marcar o artista a partir do final da década
de 1940.
Arshile Gorky
O armênio Arshile Gorky, nascido entre 1902 e 1905 e mor-
to em 1948, emigrou para os EUA ainda criança, com os pais. Ali,
estudou arte até na década de 1930 e recebeu a influência do Sur-
realismo. Realizando, no início da carreira, obras figurativas, Gorky
também passou pelo Expressionismo Abstrato. Observe na Figura
32 uma das obras de Gorky.
Tachismo
Vertente abstracionista francesa encabeçada por Wols, Hans
Hartung e Georges Mathieu, entre outros. O termo “tachismo” é
derivado da palavra francesa tache, que significa mancha.
Correntes Abstracionistas––––––––––––––––––––––––––––––
Tanto o Tachismo quanto outras correntes abstracionistas não geométricas euro-
peias do Pós-Segunda Guerra, também, são chamadas de Abstracionismo Líri-
co, ou ainda de Informalismo ou Arte Informal, no sentido de “forma livre”.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe na Figura 33 uma obra deste movimento.
Art Brut
Tendência surgida por volta de 1950 que repudiava qualquer
forma tradicional e também pregava a espontaneidade acima de
tudo. O nome Art Brut foi cunhado pelo pintor Jean Dubuffet para
designar as formas de expressão não apenas espontâneas, como
também as irrefletidas, realizadas por artistas amadores, crianças
e psicóticos, por exemplo.
A seguir, vejamos os principais artistas do Expressionismo
Abstrato na Europa.
Wols
Wols é o pseudônimo que foi adotado pelo pintor e fotógra-
fo alemão Alfred Otto Wolfgang Schulze (1913-1951). Wols foi um
dos pioneiros do Tachismo, tendo sido bastante influenciado tam-
bém, especialmente no início de sua carreira, pelo Surrealismo.
Observe na Figura 34 uma das obras deste artista.
Hartung
Pintor e gravador, o alemão Hans Hartung (1904-1989) foi
uma figura seminal no cenário artístico parisiense do pós-guerra.
De 1924 a 1928, cursou várias academias europeias, princi-
palmente na Alemanha. Depois, perseguido pelos nazistas, fixou-
-se em Paris. Durante a Segunda Guerra, lutou na África (na Legião
Estrangeira) e na Europa, tendo perdido uma das pernas em bata-
lha. Em 1945, foi considerado cidadão francês.
Influenciado pelo Expressionismo Abstrato, por Kandinsky e
Paul Klee (1879-1940), Hartung começou a trabalhar com o Abs-
tracionismo na década de 1920, desenvolvendo uma caligrafia que
se preocupava em transmitir estados de espírito. Esta transmissão
acontecia com uma espécie de escrita automática, próxima do Sur-
realismo, que também aproximava Hartung do que se convencio-
nou chamar de action painting. Vejamos na Figura 35 uma de suas
obras.
Mathieu
Georges Mathieu, nascido
na França em 1921, é outro dos
nomes importantes do Abstracio-
nismo Lírico europeu do pós-guer-
ra. Apesar de ter sempre atuado
na Europa, o “tachista” Mathieu
é também constantemente cha-
mado de Expressionista Abstrato,
muito ligado à pintura gestual (ou
action painting, procedimento
muito utilizado por Pollock, por
exemplo) devido à sua pintura
realizada de maneira rápida e im-
Figura 36 Tempestades desconhecidas,
pulsiva, como é possível observar Mathieu, 146 x 114 cm.
na Figura 36.
Soulages
O francês Pierre Soulages,
nascido em 1919, deu início à sua
carreira artística imediatamente
após o final da Segunda Guerra
Mundial, em Paris. Com o tem-
po, passou a ser conhecido como
o “pintor do preto” devido à sua
predileção por esta cor que, se-
gundo o próprio artista, é ao mes-
mo tempo “uma cor e uma não
cor”. Vejamos na Figura 37 uma de
suas obras.
Figura 37 Pintura, Soulages, 1958, 161
x 113 cm.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 83
Saura
Autodidata, o espanhol Antonio Saura (1930-1998) iniciou
sua carreira ainda jovem, logo após uma longa convalescência.
Suas maiores influências até então eram Miró e o Surrealismo. En-
tretanto, logo o Abstracionismo Lírico tomou conta de sua obra,
especialmente após uma estadia em Paris na década de 1950. Ve-
jamos a Figura 38.
Dubuffet
Jean Dubuffet (1901-1985) foi um dos principais nomes da
corrente que ficou conhecida como Art Brut, algo que poderia ser
traduzido como “arte bruta”. Tal designação se deveu, especial-
mente no caso de Dubuffet, ao mundo primitivo e irracional criado
pelo artista em suas obras, que contavam não apenas com mate-
riais tradicionais, mas também outros como areia, cimento etc. A
partir do final da década de 1960, Dubuffet ocupou-se cada vez
mais com a escultura. Observe na Figura 39 uma de suas obras.
Figura 39 Alma do Underground, Jean Dubuffet, 1959, 149,6 x 195 cm, óleo sobre chapa
de alumínio.
Albers
O artista, matemático e educador alemão Josef Albers (1888-
1976) é um bom exemplo de como os EUA souberam absorver
sabiamente a “mão de obra” qualificadíssima que saía da Europa
com a ascensão dos regimes autoritários na década de 1930 e fa-
zer desta mão de obra instrumento para seu próprio crescimento
cultural.
Albers adentrou à Bauhaus em 1920 como estudante. Pouco
depois, em 1925, quando a instituição já se mudava para Dessau,
foi promovido a professor. Com a ascensão dos nazistas, foi para os
EUA em 1933 e passou a lecionar, tendo como alunos nomes como
Robert Rauschenberg e Cy Twombly, que abordaremos nesta e na
próxima unidade, respectivamente.
Já na década de 1950, Albers tornou-se um dos principais
nomes da abstração geométrica norte-americana. Vejamos na Fi-
gura 42 uma de suas obras.
Kelly
O norte-americano Ellsworth Kelly, nascido em 1923, é um ar-
tista cuja carreira começou a ganhar fama na década de 1950. Tendo
estudado na França e sido influenciado pelos contatos com o Sur-
realismo e o Neoplasticismo, Kelly desenvolveu um abstracionismo
que não deixa de ser também associado ao Minimalismo, que abor-
daremos mais adiante. Observe na Figura 43 o estilo de Kelly.
Noland
Kenneth Noland nascido em 1924 foi fortemente influencia-
do pelo Neoplasticismo de Piet Mondrian (1872-1944) e por Josef
Albers. A arte de Noland conta principalmente com grandes qua-
dros baseados na cor e na simplicidade geométrica. Para conseguir
mais precisão, o artista chegou a utilizar rolos em vez de pincéis,
chegando a resultados que, muitas vezes, lembram grandes alvos
(Figura 44).
Stella
Nascido em 1936, Frank Stella teve em Kenneth Noland uma
de suas principais influências. Stella é considerado também um
dos precursores do Minimalismo, que abordaremos mais adiante.
Na Figura 45, podemos observar o estilo de Stella.
Morris Louis
A principal característica das obras de Morris Louis (1912-
1962) foi o abandono da pintura gestual, comum ao Expressionis-
mo Abstrato, para a adoção de áreas de tinta diluída em que há a
utilização psicológica das cores, muitas vezes colocadas lado a lado
e em tons próximos como em um arco-íris, como mostra exemplo
da Figura 46.
9. ARTE POP
A Arte Pop foi um movimento que, iniciado na Inglaterra no
final da década de 1950, teve grande impulso nos EUA, devido às
condições socioeconômicas norte-americanas do pós-Segunda
Guerra que permitiram o florescimento da cultura de massa e de
uma arte que dialogasse com este fenômeno.
Baseada na publicidade, no jornalismo, na sociedade de con-
sumo, nos modernos meios de comunicação e mesmo em proce-
dimentos da “anti-arte” dadaísta, mas sem a mesma acidez crítica
do Dadaísmo, a Arte Pop buscava levar ao “erudito” universo das
Pós-modernismo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É chamado de “pós-moderna” a arte que, de diversas formas, transcendeu os
paradigmas, os desafios e os conceitos da Arte Moderna, que teve início com as
vanguardas do início do século 20 e perdurou até a década de 1960.
Assim, se a arte moderna fora marcada pela ideia de progresso, utopia e des-
construção dos cânones da História da Arte, a pós-moderna – que para muitos
foi “inaugurada” com a Pop Art – é marcada pela fragmentação, pelo pluralismo,
pelo ecletismo e por uma relação mais individualista e também mais complexa
do homem com o mundo em que vive. Tal relação, pautada por um capitalismo
chamado de “pós-industrial”, gera também, evidentemente, uma nova relação do
homem com o objeto e, consequentemente, do homem com a arte.
Os conceitos de Pós-modernismo e Pós-modernidade não se limitam ao mundo
das artes. Surgiram em campos das ciências humanas tais como a Sociologia, a
História e a Filosofia e ainda são muito discutidos, havendo inclusive estudiosos
que questionam bastante a sua pertinência.
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O início na Inglaterra
Uma espécie de debut da Arte Pop ocorreu na Inglaterra,
com a obra O que exatamente é isso que torna os lares de hoje tão
diferentes, tão atraentes? em 1956 (Figura 47), de Richard Hamil-
ton. A obra, como o próprio nome indica, mostra um apartamento
da década de 1950 com vários bens de consumo e elementos rela-
tivos à cultura de massa.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 91
Figura 47 O que exatamente é isso que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?,
Richard Hamilton, 1956.
Pulp fiction–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Eram chamadas de pulp fiction as histórias de detetives, ficção científica, romance
ou simplesmente fantasiosas publicadas em larga escala e papel barato nos EUA
a partir da década de 1920. O nome deve-se ao tipo de papel usado, de má quali-
dade (pulp), o que barateava o custo e permitia o consumo em larga escala.
Quentin Tarantino lançou em 1994 um filme chamado Pulp Fiction, vencedor da
Palma de Ouro no festival de Cannes em 1994, devido ao seu aspecto pop,
violento, transgressor e até absurdo, assim como as histórias da literatura Pulp
norte-americana.
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Hamilton fazia parte do grupo que foi o impulso inicial da
Arte Pop, algo que, como já vimos anteriormente, ocorreu primei-
ro na Inglaterra para apenas depois ser recriado e reforçado pela
cultura norte-americana. Neste grupo estavam também Eduardo
Paolozzi e Peter Blake. Mais adiante, falaremos também do inglês
posteriormente radicado nos EUA, David Hockney.
Richard Hamilton
Nascido em 1922, Richard Hamilton trabalhou como dese-
nhista técnico durante a Segunda Guerra Mundial e somente de-
pois pôde efetivamente entrar para o mundo das artes, sendo um
dos pioneiros da Pop Art. Internacionalmente aclamado, assim
como outros artistas pop que veremos mais adiante, sempre man-
teve uma estreita ligação com a cultura de massa. Exemplo disso é
sua relação com a música, traduzida em trabalhos como a capa do
famoso disco dos Beatles: Álbum Branco de 1968 (Figura 48); e em
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 93
obras como Swingeing London III (Figura 49), que faz uma releitura
da foto jornalística da famosa prisão de Mick Jagger por porte de
drogas em 1967.
Swingeing London––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Swingeing London é o nome de uma série de obras de Hamilton que têm como
tema a efervescência da cultura jovem na capital inglesa na segunda metade
dos anos 1960. Londres ficou então conhecida como Swinging London, algo que
poderia ser traduzido como “Londres balançante”, devido às bandas de rock, ao
colorido das roupas e ao clima de liberalidade, que incluiu o uso de drogas da
juventude.
Há uma comédia que dá uma visão divertida e, evidentemente, caricata do que foi
a Swingin London. É o primeiro filme da série Austin Powers (1999), do comediante
Mike Myers, que conta algumas das aventuras do “psicodélico” agente secreto.
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Figura 48 Capa do "Álbum Branco" dos Figura 49 Swingeing London III, Richard
Beatles, 1968. Hamilton, 1972.
Mick Jagger––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mick Jagger, nascido em 1943, é o líder dos Rolling Stones. A banda, existente
até hoje, foi a segunda grande força do rock inglês dos anos 1960, atuando como
uma espécie de “antagonista” dos Beatles, mostrando-se mais transgressora em
termos comportamentais.
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Peter Blake
Peter Blake, nascido em 1932, foi outro artista que se cele-
brizou não apenas por suas pinturas, mas também por criações
como, por exemplo, capas de disco. É dele a capa de Sgt. Pepper’s
Lonely Hearts Club Band (Figura 51), também dos Beatles, talvez a
mais famosa capa de disco de todos os tempos. Contudo, seu en-
volvimento com a música não parou por aí. Em 2006, por exemplo,
Blake desenhou a capa de um disco da banda Oasis (Figura 50).
Oasis––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A banda inglesa Oasis foi formada em 1994 em Manchester, liderada pelos ir-
mãos Noel e Liam Gallagher. Trata-se do principal nome do movimento que na
década de 1990 foi chamado de Britpop, ou seja, o “pop vindo da Grã-Bretanha”.
A grande inspiração do Oasis é e sempre será, admitem os próprios integrantes
do grupo, a música dos Beatles.
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Em sua arte, Blake tem como uma das características a utili-
zação de releituras de artistas como, por exemplo, Édouard Manet
(1832-1883) e Keneth Noland. Observe na Figura 52 a obra On the
Balcony (No Balcão), que dialoga com O Balcão de Manet (o perso-
nagem de óculos escuros segura o quadro de Manet).
Paolozzi
O escocês Eduardo Paolozzi (1924-2005) foi um dos primei-
ros escultores a se destacar dentro do universo da Pop Art. Uma
das marcas de Paolozzi são os seres antropomórficos que parecem
híbridos (meio vivos e meio máquinas) e, por vezes, lembram es-
tranhos e/ou assustadores robôs. Observe na Figura 53 uma das
obras de Paolozzi.
David Hockney
David Hockney, nascido em 1937, é um dos mais ilustres re-
presentantes do British Pop, ou seja, do grupo de artistas britâni-
cos que aderiram à Pop Art.
Hockney ofereceu ao Pop com sua pintura um inigualável
toque irônico, no qual se percebe uma forte presença do humor
inglês. Depois de mudar-se para Los Angeles, em 1964, sua arte
perdeu bastante dessa característica, voltando-se mais para um
aspecto narrativo e para um realismo que, no entanto, não deixa-
ram de conter certa magia e artificialidade. Neste período, Hock-
ney utilizou como temática cenas, paisagens e interiores califor-
nianos. Vejamos seu estilo na Figura 54.
Figura 54 Retrato de um artista: piscina com duas figuras, David Hockney, 1971.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 99
Jasper Johns
Jasper Johns, nascido em 1930, é um importante artista abs-
trato norte-americano, considerado também um dos pioneiros da
Arte Pop. Talvez as obras mais conhecidas de Johns sejam suas
“bandeiras norte-americanas” (Figura 55), que foram tratadas
pelo artista como mote para pinturas abstratas sem, no entanto,
deixarem de carregar certo teor pop.
Robert Rauschenberg
Robert Rauschenberg (1925-2008), antes de ser tido pela
crítica como um dos importantes nomes do universo da Pop
Art, voltou suas atenções para o Expressionismo Abstrato. Pos-
teriormente, uniu seu interesse pela pintura gestual abstrata ao
“assemblagismo”. Vejamos na Figura 56 uma das obras de Raus-
chenberg.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 101
Andy Warhol
Andy Warhol (1928-1987) foi um dos principais – se não o
principal – expoentes da Arte Pop norte-americana.
Filmes Experimentais––––––––––––––––––––––––––––––––––
Warhol produziu o que se convencionou chamar de “filmes experimentais”, ou
seja, que não tinham propriamente uma ligação com o aspecto narrativo, ou pelo
menos não com o que há de mais comum na narrativa cinematográfica. Exem-
plos destes filmes “experimentais” são Sleep e Empire, ambos do final da década
de 1960. Sleep mostra um homem dormindo por oito horas seguidas (o filme dura
oito horas) e Empire mostra o Empire State Building, um dos prédios mais altos e
famosos de Nova York, também ininterruptamente durante oito horas.
A Factory, que em português significa fábrica, ateliê e polo de reunião da van-
guarda nova-iorquina nos anos 1960 e 1970, misturava em um mesmo espaço
diversos campos e tendências, atuando não apenas como polo cultural, mas
também como ponto de encontro de amigos. Por ali passaram não apenas no-
mes ligados às artes plásticas, como também à moda, à música pop, ao cinema
e celebridades em geral. Exemplo disto foi a banda Velvet Underground, liderada
por Lou Reed, que teve seu primeiro disco – ao lado da modelo alemã Nico –
produzido por Andy Warhol.
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Roy Lichtenstein
Roy Lichtenstein (1923-1997), artista que sempre foi inspi-
rado pelas histórias em quadrinhos e pelos anúncios publicitários,
mais do que um dos mais famosos representantes da Pop Art, tal-
vez possa ser definido como um dos que melhor compreenderam
e deram vazão às premissas do “universo pop”. No melhor estilo
americano de ficção barata e de ação, sua arte representa a in-
terseção perfeita da erudição das artes plásticas com a cultura de
massa. Vejamos uma de suas obras na Figura 61.
James Rosenquist
Tendo começado, assim como Warhol, como artista comer-
cial, James Rosenquist, nascido em 1933, trouxe sua habilidade
técnica em desenho e em pintura para as suas obras de arte de
grandes dimensões. Destaca-se entre elas F-111 (Figura 62), pos-
teriormente conhecida como American fighter-bomber, que lem-
bra na temática Whaam!, de Liechtenstein. Observe na Figura 63
outra de suas obras.
Figura 62 A obra F-111 de James Rosenquist exposta no MoMA, 1964-65, 305 x 2621,5 cm.
Claes Oldenburg
Em torno de 1961, o norte-americano de origem sueca Claes
Oldemburg, nascido em 1929, apareceu no cenário da Arte Pop
promovendo happenings. Depois, dedicou-se à manufatura de
obras que representavam realisticamente artigos de restaurantes
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 107
Bridget Riley
A inglesa Bridget Riley, nascida em 1931, é um dos principais
nomes da Op Art mundial. Começou a celebrizar-se em meados da
década de 1960, especialmente a partir de 1965, quando, com a
mostra The Responsive Eye, inaugurou a Op Art em Nova York. Ve-
jamos na Figura 67 uma das obras de Op Art feita por Bridget Riley.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 109
Richard Anuszkiewicz
Tendo estudado no Instituto de Artes de Cleveland e na Uni-
versidade de Yale com Josef Albers (que já abordamos nesta unida-
de e que foi um dos grandes mentores tanto dos artistas Op quanto
da maioria daqueles que optaram pela abstração geométrica nos
EUA na década de 1960), Richard Anuszkiewicz, nascido em 1930,
começou a celebrizar-se em meados da década de 1960, quando
foi chamado pela Life Magazine de o “novo mágico de Op”. Veja-
mos na Figura 68 uma de suas obras.
Victor Vasarely
O húngaro Victor Vasarely (1906-1997) é considerado por
muitos como o “pai” do Op, estilo a que o artista chegou, e se-
gundo o qual produziu grande parte de suas obras, depois de ter
passado pelo figurativismo na década de 1940, e ter trabalhado
por muitos anos como designer gráfico. Observe na Figura 69 uma
das obras de Victor Vasarely.
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 111
12. MINIMALISMO
Podemos definir a Minimal Art ou Minimalismo como uma
tendência da pintura e escultura abstrata norte-americana das dé-
cadas de 1960 e, principalmente, 1970, que visa à diminuição de
todos os efeitos expressivos da arte a algumas poucas categorias
formais que devem, por sua vez, integrar-se no espaço circundante.
As influências das propostas do Minimalismo, com seus
componentes artísticos tais como estruturas em grade, compo-
sições em série, componentes modulares e materiais industriais,
atuaram fortemente sobre as artes em geral e foram integradas a
Donald Judd
Donald Judd (1928-1994) começou sua carreira como crítico
de arte de revistas nova-iorquinas e realizou sua primeira expo-
sição no final da década de 1950, quando ainda pintava quadros
expressionistas abstratos. A partir do final da década de 1960 é
que sua arte começou a tomar os contornos minimalistas que a
tornariam famosa, com as esculturas de formas geométricas em
repetição e grande rigor formal. Vejamos o estilo de Judd nas Fi-
guras 70 e 71.
Carl Andre
O norte-americano Carl Andre, nascido em 1935, natural do
estado de Massachusetts, chegou a Nova York em 1956 e logo co-
nheceu Frank Stella e realizou suas primeiras esculturas em madei-
ra. Durante o início da década de 1960, trabalhou em empregos
“não artísticos” e, em 1970, teve sua primeira grande exposição,
tornando-se um dos grandes nomes do Minimalismo internacional.
Richard Serra
Richard Serra, nascido em 1939, é famoso pelas enormes es-
culturas em aço, tão grandes que é possível até caminhar dentro
delas, colocadas geralmente em espaços públicos (Figura 73).
Sol LeWitt
O escultor norte-americano Sol LeWitt (1928-2007) foi outro
dos principais protagonistas do Minimalismo. Começou a celebri-
zar-se na década de 1960, com estruturas derivadas do cubo. Suas
obras trabalham as relações entre percepção, superfície e volume.
Observe seu estilo na Figura 74.
3) É próxima a relação entre a Arte Pop e o chamado american way of life (ou
seja, o "estilo de vida americano", alardeado e propagado pela música, pelo
cinema e por várias mídias)? Por quê?
5) A Op Art sempre esteve restrita aos museus e galerias de arte ou foi algo
que saiu do campo das artes plásticas para invadir outros campos, como o
design, entre outros?
14. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da primeira unidade do Caderno de Refe-
rência de Conteúdo de História da Arte: Arte Internacional e Arte
Brasileira. Nesta unidade, você teve contato com a arte do pós-
-Segunda Guerra Mundial e viu que, tanto com o Expressionismo
Abstrato quanto com a Arte Pop e outras correntes, o centro artís-
tico mundial deslocou-se da Europa para os EUA.
Você pôde ver, também, como se deu, com a eclosão da Arte
Pop, a passagem do Modernismo para o Pós-modernismo. Agora,
você já está preparado para tomar contato com a enorme comple-
xidade e pluralidade de tendências da Arte Contemporânea, que
abordaremos na próxima unidade.
Até lá!
© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 117
15. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
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setembro de 1939: disponível em: <http://library.thinkquest.org/CR0212881/solpara.
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da França em 1940: disponível em: <http://pro.corbis.com/images/BE059921.
jpg?size=67&uid=%7B3E9158A7-7999-4D5E-9731-32F8A55AD80D%7D>. Acesso em: 6
out. 2010.
Figura 3 - Base norte-americana de Pearl Harbor após ataque japonês, em 7 de
dezembro de 1941: disponível em: <http://staff.imsa.edu/socsci/jvictory/help_07/
exemplary_papers/tu_09_4/pearl_harbor.jp>. Acesso em: 9 fev. 2009.
Figura 4 - Soldados alemães prisioneiros em Stalingrado: disponível em: <http://pro.
corbis.com/images/NA005697.jpg?size=67&uid=%7B883E4795-F3C9-4761-BE3E-
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Figura 5 - Soldados norte-americanos prontos para desembarcar em praia da
Normandia no Dia D: disponível em: <http://www.arqnet.pt/imagens2/imag060201.
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Figura 6 - Área de Hiroshima arrasada após explosão da bomba atômica: disponível em:
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Figura 8 - Tanques soviéticos invadem Budapeste para reprimir insurreição húngara
contra a URSS em 1956: disponível em: <http://www.videofact.com/polska/robocze%20
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© U1 - Arte Internacional: do Expressionismo Abstrato ao Minimalismo 123
2. CONTEÚDOS
• Introdução: Pós-modernismo e a pluralidade da arte do
final da década de 1960 à contemporaneidade.
• Contexto histórico: os últimos passos da Guerra Fria, o
fim da União Soviética e a Nova Ordem Mundial.
• Arte Conceitual: a “ideia” é mais importante do que a ma-
terialidade da obra.
• Land Art.
• As décadas de 1970 e 1980: Itália: Transvanguarda.
• As décadas de 1970 e 1980: Alemanha: Neo-expressionismo.
• As décadas de 1970 e 1980: França: Figuração Livre.
• As décadas de 1970 e 1980: Grã-Bretanha.
• Apêndice: a cultura de rua e o grafite.
• As décadas de 1970 e 1980: a nova arte norte-americana.
• O Hiper-realismo e os diálogos com a fotografia.
• As vídeo-instalações e a vídeo-arte.
• Da década de 1990 à atualidade: a nova realidade histó-
rica e a arte.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, vimos como o centro artístico mundial
deslocou-se do “velho” para o “novo mundo”, consolidando tal
mudança com movimentos artísticos tais como o Expressionismo
Abstrato e a Arte Pop. Chegamos, também, a algumas correntes
artísticas que, na década de 1960, apontariam alguns dos cami-
nhos artísticos que seriam seguidos a partir de então.
Tais caminhos seguiriam formando o instigante contexto do
chamado “Pós-modernismo”, que permeia todas as questões ar-
tísticas até os dias de hoje.
Veremos nesta segunda unidade como, a partir das bases
lançadas na década de 1960, já abordadas por nós na unidade an-
terior, abriu-se uma enorme teia de tendências, correntes, discus-
sões estéticas e possibilidades infinitas que formariam a pluralíssi-
ma “colcha de retalhos” que é a arte pós-moderna.
Começaremos com uma corrente que dá sustentação a mui-
tas das manifestações artísticas contemporâneas: a Arte Concei-
tual. Antes, porém, tomemos contato com o contexto histórico do
período.
5. CONTEXTO HISTÓRICO
Iniciaremos este tópico listando alguns importantes acon-
tecimentos ocorridos do final da década de 1960 ao ano 2000.
Acompanhe.
Em 1969:
• Nos EUA, multiplicam-se os protestos contra a Guerra do
Vietnã.
Em 1970:
• O Brasil passa pelo seu “milagre econômico” e por seu
período de maior repressão política.
Em 1972:
• É assinado em 23 de janeiro um acordo de cessar-fogo
entre os Estados Unidos e o Vietnã do Norte.
Em 1973:
• O Xá Reza Pahlevi (Irã) nacionaliza todas as companhias
estrangeiras de petróleo.
• Os países árabes produtores de petróleo decretam o em-
bargo de todo o fornecimento do produto para os EUA,
Europa Ocidental e Japão, alegando retaliação devido ao
apoio destes a Israel na Guerra do Yom Kippur; posterior-
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 133
Figura 3 Soldados em ataque ao Palácio Presidencial do Chile durante golpe militar que
depôs o presidente de esquerda Salvador Allende em 1973.
Em 1974:
• O Primeiro Choque do Petróleo, deflagrado no ano ante-
rior, eleva drasticamente a inflação mundial, fazendo com
que a maioria das economias industrializadas passe por
um período de estagnação.
• O presidente norte-americano Richard Nixon renuncia
em 9 de Agosto (Figura 4), evitando assim o impeachment
que o tiraria do cargo devido ao caso Watergate.
Em 1979:
• No Irã, a Revolução Islâmica depõe o Xá Reza Pahlevi e co-
loca o Aiatolá Khomeini no poder (Figura 5); funcionários
da embaixada norte-americana são tomados como reféns.
Em 1980:
• A União Soviética invade o Afeganistão e luta contra as
Guerrilhas Mujahedin.
• Como reflexo da intensificação tardia da Guerra Fria de-
vido à invasão soviética ao Afeganistão, os EUA e alguns
aliados boicotam os Jogos Olímpicos de Moscou.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 135
Em 1981:
• O Irã liberta reféns norte-americanos capturados em
1979.
• Identificação dos primeiros casos de uma nova doença fatal,
sexualmente transmissível, que pouco depois seria chamada
de Síndrome da Imuno-Deficiência Adquirida – AIDS.
• A IBM lança o primeiro Personal Computer – PC (Figura 6).
Em 1983:
• Lançamento do Compact Disc - CD no mercado.
Em 1984:
• É lançado no mercado o micro-computador Apple Macin-
tosh com mouse (Figura 7).
Em 1986:
• Ocorre em Chernobyl, na URSS, o pior desastre nuclear de
todos os tempos.
Chernobyl––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A explosão de um reator nuclear na usina de Chernobyl, na Ucrânia, foi respon-
sável pelo espalhamento de uma gigantesca nuvem de radiatividade por toda a
Europa. Para se ter uma ideia, a quantidade de radiatividade liberada foi cinco
vezes maior do que aquela produzida pela bomba atômica em Hiroshima. As
consequências de tal cenário ocorreram a curto (com a morte da maioria dos fun-
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 137
Figura 10 Imagem que se tornou uma das mais famosas e emblemáticas do final do século
XX: estudante chinês enfrenta tanques em protestos pela democracia no "Massacre da
Praça da Paz Celestial".
• A Hungria democratiza-se.
Em 1990:
• O Iraque invade o Kuwait, provocando em janeiro do ano
seguinte a primeira Guerra do Golfo.
• A Alemanha celebra a sua unificação.
• Lech Walesa é eleito presidente da Polônia.
Em 1991:
1) No dia 16 de fevereiro, tem início a Guerra do Golfo Pér-
sico (Figura 12), na qual uma coalizão internacional lide-
rada pelos EUA reage à invasão do Kwait pelo Iraque. O
debut da guerra se deu, na noite do dia 16, com o maior
bombardeio de todos os tempos. No total, foram lança-
das 18 mil toneladas de explosivos, que representavam
uma capacidade de fogo 50% maior do que a da bomba
atômica lançada sobre Hiroshima em 1945.
Figura 12 Uma das imagens mais comuns mostradas na televisão durante a Guerra do
Golfo: em um visual próximo ao dos videogames, vê-se um alvo prestes a ser atingido em
imagem captada pela câmera de um avião bombardeiro norte-americano.
terminou com a vitória de Bush mesmo tendo Gore obtido mais votos (Figura 13).
Mesmo assim, muitos foram os que contestaram a vitória do republicano, devido
principalmente a denúncias de fraudes especialmente no estado da Flórida (en-
tão governado pelo seu irmão).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
6. ARTE CONCEITUAL
Como vimos na unidade anterior, a partir da Arte Pop e, en-
fim, na década de 1960, as vanguardas artísticas começaram a se
multiplicar em progressão geométrica, algo propiciado tanto pelas
conquistas libertárias de antes quanto pela multiplicidade de ca-
minhos que se abriam aos jovens artistas de então. Partindo desta
diversidade, falemos de algumas das tendências mais importan-
tes, começando pela Arte Conceitual.
A Arte Conceitual é aquela em que a ideia, ou seja, o concei-
to, e o processo artístico são mais importantes do que a obra em
si, ou pelo menos do que o aspecto material da obra. Isso porque,
em Arte Conceitual, o conceito é a própria obra.
A mostra inaugural da Arte Conceitual foi realizada na Suíça,
em 1969, e reuniu conceitos, processos, situações, informações e
documentos. No catálogo, afirmava-se que o artista não tinha mais
que se limitar à matéria, passando a ser o principal valor da arte o
“conceito”.
Mais duas outras exposições vieram confirmar a nova ten-
dência. Em uma delas, em 1969, na Alemanha, não existiu “exposi-
ção” no sentido tradicional da palavra, mas só o catálogo – encara-
do como conteúdo e suporte da mostra. A outra aconteceu no ano
seguinte no Museu de Arte Moderna de Nova York.
Podemos dizer, portanto, que com a Arte Conceitual a ne-
cessidade de uma “arte feita à mão” foi reduzida a zero, passando
a ser valorizada a arte que existia mais nas mentes do artista e
do espectador do que propriamente na tela ou em outro suporte.
Este fenômeno foi chamado pelos artistas de “desmaterialização
da arte objeto”.
Há muitos artistas que podemos destacar como os principais
nomes da Arte Conceitual. Seria impossível fazer uma lista de to-
dos os principais nomes, porque toda ou quase toda a arte que
surgiu a partir de então de alguma forma dialoga ou tangencia a
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 149
John Baldessari
O norte-americano John Baldessari, nascido em 1931, é um
dos artistas que mais expõem no mundo. Tem a ironia e o absurdo
como dois dos principais componentes de sua linguagem artística,
elementos também presentes nas obras de vários outros artistas
conceituais.
Aqui temos um exemplo de como funciona a Arte Conceitual. Esta obra de John
Baldessari é chamada de Beethoven’s Trumpet (Figura 14). A palavra Trumpet,
no caso, é usada para designar os antigos instrumentos de surdez, que tinham
formato de corneta. A obra, “interativa”, como podemos ver na imagem com a
espectadora dentro do instrumento de surdez, faz sentido a partir de uma “ideia”,
de um “conceito”: se o espectador souber previamente que o compositor Ludwig
van Beethoven ficou surdo a certa altura da vida, e melhor ainda se souber que,
para o compositor, foram confeccionados vários trumpets, ou seja, instrumentos
de surdez.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Joseph Beuys
O alemão Joseph Beuys (1921-1986) afirmava que o tema
central das suas obras era a geração e a conservação do calor e da
energia. Tal temática, que pode soar bastante estranha a princí-
pio, era motivada entre outros fatores por algo ocorrido em 1943,
durante a Segunda Guerra Mundial: o avião de bombardeio que o
próprio Beuys pilotava foi abatido na Crimeia e sua vida foi salva
pelos tártaros da região, que o untaram com banha e o embrulha-
ram em camadas de feltro.
Durante a sua juventude e ao estudar arte, Beuys também se
envolveu com os ensinamentos esotéricos de Rudolph Steiner (1861-
1925) sobre mitologia, religião e antroposofia. Passou, então, a procu-
rar a integração da arte e da vida por meio de performances.
Aqui temos outro exemplo do “conceitual” na arte: motivado por questões políti-
cas relacionadas às raízes dos EUA e pela sua própria biografia, na performance
I like America and America likes me (Eu gosto da América e a América gosta de
mim) (Figura 15), Beuys passou três dias em uma sala de uma galeria de arte
Nova York convivendo com um coiote (símbolo dos Estados Unidos “selvagens”),
enrolado em feltro como o fora pelos tártaros mais de três décadas antes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 151
Marcel Broodthaers
Poeta, fotógrafo, cineasta
e artista plástico, o belga Marcel
Broodthaers (1924-1976) escrevia
poesias desde seus 16 anos. Foi
muito influenciado pelo Surrealis-
mo, particularmente por Magritte,
que criava obras em que a imagem
e a escrita entravam em contradi-
ção. Em 1963, Broodhaers decidiu
dedicar-se à arte, criando obras
constituídas por objetos, palavras,
letras, desenhos primitivos, livros,
catálogos, telas fixas nas paredes e
relevos em plástico. Algumas obras Figura 16 Grande caçarola de mariscos,
Marcel Broodthaers.
de Broodthaers foram expostas na
Bienal Internacional de São Paulo de 2006. Um exemplo de traba-
lho do artista é a obra Grande caçarola de mariscos (Figura 16).
7. LAND ART
A Land Art foi outro dos movimentos artísticos que surgiram
no final da década de 1960, e talvez um dos mais ousados deles.
Robert Smithson
Robert Smithson (1938-1973) apareceu no meio artístico em
1968, quando começou uma série de projetos chamados de Sites
(lugares) e Nonsites (não lugares), que representam seus primei-
ros passos na Land Art (ou o que ele costumava chamar de Earth-
works – trabalhos da terra). Estas primeiras obras utilizavam terra
e materiais rochosos (escolhidos em lugares urbanos e industriais)
exibidos em caixas.
Aos poucos, o trabalho do artista evoluiu para obras ambien-
tais de maior porte, sendo a mais famosa delas Spiral Jetty (Figura
17), completada em 1970. Este projeto consistia numa formação
espiralada, imensa, feita de terra, rochas e cristais de salitre, que
se estendia da costa até o Grande Lago Salgado, em Utah (EUA). O
artista faleceu em 1973 num acidente de avião, enquanto traba-
lhava em um projeto no Texas.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 153
Richard Long
Richard Long, nascido em 1945, utiliza-se de marcas simples
e registra suas ações e emoções com meios e materiais artísticos
básicos: materiais naturais, geralmente pedras, dispostos ao longo
de uma trilha, perto do local onde foram encontrados, formando
uma escultura, que é então registrada por uma fotografia e um
título.
As pedras (muitas vezes lavradas) também podem ser trans-
portadas para espaços domésticos ou galerias e dispostas no chão
em formas definidas, sobretudo em círculos e linhas. Esses meios
formam a base da sua arte, conjuntamente com obras mais re-
centes que envolvem barro e água, uma extensão natural de suas
experiências ao ar livre. Observe Earthquake Circle, uma das obras
de Richard Long (Figura 18).
Christo
Christo, nascido em 1935, originário da Europa Oriental, é
o artista que se celebrizou por “embrulhar” coisas e lugares, jus-
tificando a aplicação do tecido às suas obras como referências às
tendas do seu povo nômade.
Um exemplo das “embrulhadas” do artista foi a cobertura
do Reichstag de Berlim, em 1995, o prédio ficou “embrulhado”
durante duas semanas do verão europeu. A obra evocava o bri-
lho de um iceberg, um barco de velas brancas cheias de ar, uma
nave espacial ou uma montanha mágica, mas Christo insistia que
seu trabalho não continha nenhuma mensagem e que o signi-
ficado teria que ser desvendado por cada espectador de forma
pessoal e individual.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 155
Reichstag––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Itália: Transvanguarda
A Transvanguarda foi uma corrente artística italiana consa-
grada na Bienal de Veneza de 1980 que promovia um retorno à
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 157
Figura 20 Pintor com filhos e sapo, Sandro Chia, 1984, 218,5 x 202 cm.
Mimmo Paladino
Na arte de Mimmo Paladino, nascido em 1948, é frequente
a utilização tanto da pintura a óleo sobre tela quanto das técnicas
do mosaico, do afresco e da tapeçaria, como demonstra a Figura
21. Suas obras contam com a atmosfera mágica da Itália meridio-
nal, com elementos religiosos e históricos tanto da cultura italiana
quanto de culturas orientais e com várias outras referências, mas
tudo é misturado e diluído em um ar de ambiguidade que torna
difícil o estabelecimento exato de uma genealogia artística.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 159
Francesco Clemente
Já as obras de Clemente, nascido em 1952, são metáforas
complexas, profundamente baseadas em sua própria biografia. Há
referências a Nápoles, sua cidade natal, à literatura nas décadas de
1960 e 1970, às tradições judaico-cristã e oriental (o artista passou
um longo tempo na Índia) e há também a utilização da técnica do
afresco com grande proximidade daquela usada em Pompeia.
Vale destacar que Clemente se transformou em um dos pin-
tores mais influentes dos últimos tempos. Observe na Figura 22
uma de suas obras.
Neoexpressionismo alemão
O Neoexpressionismo alemão, como o próprio nome sugere,
foi uma espécie de retomada pós-moderna de elementos do Ex-
pressionismo; não exatamente em aspectos pontuais ou formais,
mas especialmente no que diz respeito ao seu “espírito”.
Seus artistas – Kiefer, Immendorf, Baselitz e Richter, entre ou-
tros – aproximaram-se do Expressionismo especialmente no sentido
da predominância das questões existenciais e do sujeito como foco
predominante das obras além, evidentemente, da presença de ou-
tros temas – os sociais, por exemplo. Assim, não apenas a retomada
do estilo que privilegia a “deformação” e a “poética do feio” está
na raiz do Neoexpressionismo, mas, especialmente, a busca do ato
criador e do sujeito enquanto motes essenciais da arte.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 161
Georg Baselitz
Tal como Kiefer, Baselitz, nascido em 1938, também tem em
sua temática uma forte presença/lembrança do passado nazista da
Alemanha e da Segunda Guerra, algo reforçado pelo fato de ter o
artista, durante o conflito, presenciado o bombardeio de Dresden.
Bombardeio de Dresden––––––––––––––––––––––––––––––––
O bombardeio de Dresden foi uma das maiores ações militares dos aliados con-
tra a Alemanha. Ocorreu em fevereiro de 1945 e constitui-se em um ataque ma-
ciço por via aérea à cidade de Dresden, importante centro industrial, político e
cultural da Alemanha. Após o bombardeio, a cidade (junto com seus monumen-
tos históricos e artísticos) ficou completamente destruída.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O início da carreira do artista
foi conturbado. Sua primeira expo-
sição em Berlim (1963) causou es-
cândalo, e dois quadros foram con-
fiscados sob a alegação de serem
pornográficos.
Por volta de 1969, Baselitz
adotou aquela que seria a sua mar-
ca registrada: as figuras de cabeça
para baixo. Estas atuam como a tra-
dução do repúdio do artista tanto ao
lado destrutivo da cultura ocidental
quanto às formas tradicionais da
Figura 24 Homem nu, Georg Baselitz,
arte. A obra Homem nu (Figura 24) 1975, 200 x 162 cm.
é um exemplo de seu trabalho.
Jörg Immendorff
Immendorff (1945-2007) começou sua carreira usando como
temas primeiramente a classe trabalhadora e depois a guerra do
Vietnã. Posteriormente, passou a se preocupar com a temática das
duas Alemanhas, algo que fica claro em obras como as da série
Café Deutschland (Figura 25), iniciada em 1977 e que conta com
dezesseis grandes pinturas. No final de sua vida, Immendorff en-
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 163
Figura 25 Obra da série "Café Deutschland", Jörg Immendorf, 1984, 285 x 330 cm.
Gerhard Richter
Tendo estudado na Alemanha Oriental entre 1952 e 1957,
Gerhard Richter, nascido em 1932, antes de se tornar artista pro-
fissional, trabalhou como pintor de cartazes, cenógrafo de teatro e
técnico de laboratório de fotografias. A linguagem fotográfica, inclu-
sive, exerceu forte influência na sua arte, especialmente em obras
que se parecem com simples fotografias, mas que contam com a
pintura a óleo, como é o caso da obra City Life (Figura 26). Richter,
também, realizou obras abstratas e, atualmente, vive nos EUA.
Figura 26 City Life, Gerhard Richter, 2000, óleo s. fotografia, 12,2 x 12,2 cm.
Gérard Garouste
Gérard Garouste, nascido em 1946, surgiu no cenário da
pintura francesa no final da década de 1970. Na década de 1980,
celebrizou-se por uma pintura figurativa de temática mitológica
e alegórica.
Balaão–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Robert Combas
Nascido em 1957, Robert Combas realiza uma pintura de
tendência expressionista com ênfase na figura humana. Observe
na Figura 28 uma de suas obras.
Jean-Charles Blais
Jean-Charles Blais, nascido em 1956, também tem como
uma das principais características de seu trabalho a tendência ex-
pressionista, especialmente para a representação do corpo huma-
no, como, por exemplo, na obra Belo (Figura 29).
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 167
EUA
Os Estados Unidos também participaram do “retorno” à
pintura ocorrido na década de 1980. Recorrendo muitas vezes à
narração e a imagens teatrais e alimentando-se do cruzamento da
cultura de rua com a cultura erudita da pintura em tela (casos de
Jean-Michel Basquiat e Keith Haring), os artistas surgidos neste
contexto, mais do que um grupo – se os víssemos assim perce-
beríamos tratar-se de um grupo muito mais heterogêneo do que
o da Transvanguarda ou o da Figuração Livre – podem, devido às
suas fortes especificidades individuais, que dificultam muito a
aproximação crítica de suas estéticas, ser encarados mais como
uma “geração”. Entre os artistas mais importantes desta geração
figuram nomes como o de Julian Schnabel, Jeff Koons, Eric Fischl e
Cy Twombly e Jean-Michel Basquiat.
Grafite–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O uso de tinta em spray popularizou-se nos EUA a partir de aproximadamen-
te 1969, quando adolescentes das periferias das grandes cidades, como Nova
York e Los Angeles, começaram a pichar muros e paredes, tanto de residências
quanto de espaços comerciais e públicos. Durante um primeiro momento, todo o
“trabalho” feito com spray reduziu-se a nomes e siglas. Mais tarde, começaram a
aparecer imagens mais trabalhadas, geralmente ziguezagues, estrelas, tabulei-
ros e arabescos. Pouco depois, na virada da década de 1970 para a década de
1980, apareceu então o elemento que seria o grande incentivador do grafite: o
movimento Hip-hop (Figura 30).
O Hip-hop é a cultura de rua surgida nas grandes metrópoles americanas para
legitimar e “dar uma cara” a jovens representantes das minorias étnicas. A prin-
cípio, tratava-se de um movimento exclusivamente ligado à cultura negra. No
entanto, aos poucos, mesmo tendo se mantido a “cara negra”, outras minorias,
como os latinos, foram aderindo ao movimento.
A explosão do Hip-hop em todos os EUA e a sua difusão pelo mundo, já na dé-
cada de 1980, (por exemplo, jovens paulistanos dançavam break – uma das pri-
meiras danças ligadas ao Hip-hop – na estação São Bento do Metrô) ocorreu por
meio do “braço musical” do movimento, o Rythm And Poetry – RAP (Figura 31).
Já por volta de 1985, multiplicavam-se os muros “grafitados” em todo o mundo.
Nos EUA, os primeiros espaços a serem adotados pelos grafiteiros para a sua
arte foram as estações de metrô, incluindo-se aí os próprios trens. É impossível
pensar-se no metrô de Nova York na década de 1980 sem o grafite (Figura 32).
Antes, no entanto, houve bastante perseguição aos artistas de rua.
Ficaram famosos, por exemplo, dois dos primeiros trens a serem “grafitados”: o
Freedom Train (Trem da Liberdade), ilustrado em 1976 por ocasião do Bicente-
nário da Independência dos EUA, e o Trem de Natal, grafitado em dezembro de
1977. Ao chegar às estações, os trens eram aplaudidos espontaneamente, fato
que não poupou os grafiteiros de serem presos por vandalismo. O cenário, como
já vimos, mudou nos anos 1980, quando o grafite começou a entrar nos museus.
Uma espécie de debut desta “incorporação” ocorreu na Documenta de Kassel,
que apresentou trabalhos de dois artistas intimamente ligados à cultura de rua, e
que hoje têm renome internacional: Basquiat e Haring.
A Documenta de Kassel é uma das mais importantes mostras de arte contemporâ-
nea do mundo. Sua primeira edição ocorreu em 1955 e, como o próprio nome diz,
ocorre na cidade alemã de Kassel. Sua periodicidade é de cinco em cinco anos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Basquiat
Falemos, então, de Basquiat (1960-1988). Filho de imigran-
tes haitianos que passou grande parte da vida no Brooklyn, sua
carreira artística começou com grafites em muros e portões de fer-
ro, trabalhos que muitas vezes eram assinados com a sigla SAMO
(Same old shit). Por volta de 1982, Basquiat foi “adotado” pelo
mercado de arte e suas pinturas em tela fizeram-no uma espécie
de “queridinho da América”. A fama do artista aumentou ainda
mais com a sua parceria com Andy Warhol, caminhada que foi in-
terrompida em 1988, quando Basquiat morreu de overdose.
Keith Haring
Keith Haring (1958-1990) foi um artista de formação mais
acadêmica do que Basquiat. Sua carreira ganhou força por meio da
“adoção” do grafite. Tendo estudado artes em Pittsburgh, mudou-
-se para Nova York no final dos anos 1970, quando começou seu
contato com o grafite e com a vanguarda nova-iorquina, na qual
tornar-se-ia um dos principais nomes. A principal marca da arte
de Haring são suas figuras simplificadas, principalmente figuras
humanas, que remetem, entre outras coisas, à arte rupestre e a
elementos da arte africana (Figuras 36 e 37).
Figura 37 Gigantesco muro grafitado por Keith Haring (repare no tamanho do artista, na
parte inferior central da figura, em relação ao muro).
Cy Twombly
Cy Twombly, nascido em 1928, utiliza uma linguagem sim-
bólica muito pessoal, numa síntese de automatismo surrealista,
Expressionismo Abstrato e grafite. Todos esses elementos atuam
em prol de certo conceitualismo, já que os objetivos do artista não
deixam de ser a expressão dos contrastes de espaço, movimento
e tempo.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 173
Julian Schnabel
Outro nova-iorquino, Julian Schnabel, nascido em 1951, ficou
famoso com suas composições realizadas com pedaços de louça
colados, algo que funcionava como pano de fundo para os temas
representados. Os cacos de louça atuavam em prol do contraste
do “velho”, a própria louça, e do “novo”, aquilo que é criado com
tinta fresca, ou seja, uma nova realidade, com novos significados.
Quanto às suas figuras, seja qual for a técnica utilizada, Sch-
nabel desconstrói as imagens de uma maneira irônica e até sub-
versiva.
Atualmente, o artista também é um importante cineasta, e
tem em seu currículo filmes de sucesso como o já citado Basquiat
e O escafandro e a borboleta.
Veja na Figura 39 uma de suas obras.
Eric Fischl
Outro importante nova-iorquino responsável por uma pintura
mais do que figurativa – narrativa, na verdade – é Eric Fischl, nascido
em 1948. Fischl “estourou” para o mundo da arte com a obra So-
nâmbulo (Figura 40), de 1979, que mostra um adolescente se mas-
turbando. A obra foi encarada como uma denúncia do fracasso do
“sonho americano”. Fischl pinta a banalidade da pequena burguesia
americana: os ritos prosaicos da iniciação amorosa, as férias etc. O
que emana das obras é, no entanto, um subtexto de solidão, deses-
pero e horror. Observe outra de suas obras na Figura 41.
Jeff Koons
Jeff Koons, nascido em 1955, é um artista que retrabalha al-
guns conceitos da Arte Pop. Construindo com suas obras um diá-
logo aberto com a sexualidade, inclusive com seus clichês, Koons
(que, simpático a manifestações estéticas fetichistas e até porno-
gráficas, casou-se com Cicciolina – famosa atriz pornô italiana) rea-
liza obras como, por exemplo, Urso e policial (Figura 43), que, de
forte apelo popular, repensa os limites do kitsch e da figuração
contemporânea. Veja também outra de suas obras na Figura 42.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 177
Chuck Close
Dominando uma técnica impressionante, o norte-americano
Chuck Close, nascido em 1940, produz retratos pormenorizados
a ponto de, a certa distância, parecerem gigantescas fotografias.
No entanto, analisando as obras de perto, descobrimos os meios
muito pouco ortodoxos que Close emprega na sua pintura, como
pintar com as próprias impressões digitais funcionando como pon-
tos de pigmento, por exemplo. Procedimentos como este atestam
o tratamento quase “abstrato” da imagem, tratamento que, no
entanto, não deixa de ter como principal – e paradoxal – objetivo
o próprio realismo e efeitos como o da “vibração” desta, algo que
nos faz lembrar de Seurat e seu Pontilhismo, por exemplo (observe
as Figuras 44 e 45).
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 179
Duane Hanson
Já Duane Hanson (1925-1996) trabalhava com obras escultu-
rais, em três dimensões. Em suas figuras de tamanho natural, com
gestos e fisionomias individuais acentuadas, Hanson representava
os estereótipos da sociedade americana, mostrando um pouco da
banalidade das vidas cotidianas tanto dos norte-americanos quan-
to de toda a sociedade ocidental.
Suas obras eram confeccionadas a partir de moldes de cera
de pessoas vivas, em fibra de vidro e complementadas com rou-
pas, perucas e óculos, de modo a quase não ser possível distinguir
as esculturas de pessoas reais. Observe na Figura 46 uma dessas
obras.
Audrey Flack
A também norte-americana Audrey Flack, nascida em 1931, é
outra artista geralmente relacionada pelos estudiosos ao Hiper-realis-
mo. Algo que difere Flack dos outros hiper-realistas é a abordagem de
temas geralmente voltados à temática feminista (Figura 47).
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Bill Viola
O norte-americano Bill Viola, nascido em 1951, é outro dos
grandes nomes da arte contemporânea ligada à linguagem do ví-
deo. Tendo como uma de suas grandes influências o próprio Nam
June Paik, Viola caracteriza-se por abordar em suas obras não ape-
nas questões típicas da contemporaneidade, tais como a televisão
e a passividade dos telespectadores, como também questões de
ordem metafísica.
© U2 - Arte Internacional: do Final da Década de 1960 ao Ano 2000 185
13. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da segunda unidade do Caderno de Refe-
rência de Conteúdo de História da Arte: Arte Internacional e Arte
Brasileira, na qual você teve contato com a chamada “arte pós-
-moderna”, tão comentada e que, a princípio, poderia parecer algo
complexo demais e absolutamente misterioso. Mas você viu que
não é bem assim, e que basta o entendimento de alguns preceitos
e do diálogo destes com a realidade histórico-social que represen-
tam para a compreensão da famigerada pós-modernidade.
Vale ressaltar que, especialmente em relação à arte pós-mo-
derna, cabe a você completar a construção do seu conhecimento.
Isto porque só com esforço próprio e assumindo o papel de agente
do próprio conhecimento é que você poderá dar conta de uma
compreensão realmente ampla de um universo artístico tão rico e
plural quanto o da contemporaneidade.
Na próxima unidade, voltaremos bastante no tempo, pas-
sando a abordar a Arte Brasileira desde os primórdios.
Até lá!
14. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 - Neil Armstrong andando na lua na missão da Apollo 11 em 1969:
disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_ps83EWZOcbc/SMWlOfDVJdI/
AAAAAAAAAy0/8JXZd0SbZF8/s400/Neil_Armstrong_-_Apollo_11_Moon_Landing_
(1969).jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 2 - Jovens no festival de Woodstock, em agosto de 1969: disponível em: <http://
lcmedia.typepad.com/photos/our_favorite_pics/123069woodstock.jpg>. Acesso em: 18
out. 2010.
Sites pesquisados
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index.cfm?ID=2E6B2DDB-C767-66DA-913278F334FA1BE7&artist=56>. Acesso em: 18
out. 2010.
ARTNET. Gerhard Richter – City Life. Disponível em: <http://www.artnet.com/
artwork/424583507/733/city-life.html>. Acesso em: 18 out. 2010.
ARTREGISTER.COM. Seavest Collection / Eric Fischl: Lappind Sounds Along the Shore.
Disponível em: <http://www.artregister.com/SeavestIntroductiontoCollection/
Catalogue/FischlLapping.html>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG ARTEFACT. Kitsch Koons. Disponível em: <http://marixabo.wordpress.
com/2008/03/29/kitsch-koons>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG ATOME. CRASH NYC. Disponível em: <http://atome.wordpress.com/category/
colour>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG COGITAMUNDO. Chuck Close – Arte mais real que a realidade. Disponível em:
<http://cogitamundo.wordpress.com/2009/02/03/chuck-close-arte-mais-real-que-a-
realidade>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG DATA IS NATURE. Nam June Paik. Disponível em: <http://dataisnature.
com/?p=277>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG DESPACHO POP. Cy Twombly. Disponível em: <http://despachopop.wordpress.
com/2009/02/01>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG HANNAH’S SOURCE BOOK. Keith Haring. Disponível em: <http://hrmphoto.
blogspot.com/2008/10/keith-haring.html>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG MEDIABISTRO.COM. Robert Smithson’s Spiral Jetty. Disponível em: <http://www.
mediabistro.com/unbeige/original/SPIRALJ.GIF>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG O MUNDO DA FOTOGRAFIA. Moon Landing. Disponível em: <http://2.bp.blogspot.
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BLOG OLEOPOLIS. Crisis, qué crisis? Disponível em: <http://oleopolis.wordpress.
com/2008/10/27/%C2%BFcrisis-que-crisis>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG RAMDOMHOTMOUSE. Keith Haring – Just because. Disponível em: <http://
randomhotmouse.blogspot.com/2009/02/keith-haring-just-cos.html>. Acesso em: 18
out. 2010.
BLOG RISCO NO TEMPO. Sleepwalker. Disponível em: <http://www.risconotempo.
blogger.com.br/Sleepwalker%20ERIC%20FISCHL.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG THE AMERICAN REVOLUTION. Our Favorite Pics. Disponível em: <http://lcmedia.
typepad.com/photos/our_favorite_pics>. Acesso em: 18 out. 2010.
BLOG POLITICAL PATHOLOGIES. Chile under Pinochet. Disponível em: <http://
politicalpathologies.wikispaces.com/Chile+under+Pinochet>. Acesso em: 18 out. 2010.
BROOKLYN MUSEUM. Exhibitions: Basquiat. Disponível em: <http://www.
brooklynmuseum.org/exhibitions/basquiat/in-italian.php>. Acesso em: 18 out. 2010.
CENTRE POMPIDOU. Balaam, 2005, Gérard Garouste. Disponível em: <http://www.cnac-
gp.net/amisdumusee/popup36.html>. Acesso em: 18 out. 2010.
3
1. OBJETIVOS
• Conhecer o contexto histórico em que foi amalgamada a
ideia de Brasil.
• Compreender como este contexto gerou as manifesta-
ções artísticas do período colonial até a cristalização da
arte acadêmica brasileira.
• Identificar as manifestações artísticas no Brasil do “desco-
brimento” até o início do século 20.
2. CONTEÚDOS
• Introdução: História do Brasil e História da Arte Brasileira
colocadas em paralelo.
• “Descobrimento” do Brasil.
• O início da colonização.
• Ciclo da cana-de-açúcar.
196 © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta terceira unidade do Caderno de Referência de Conteú-
do de História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira, vamos
finalmente começar a abordar a arte brasileira.
Para isso, mudaremos excepcionalmente a maneira de tratar
nosso tema: ao invés de primeiro termos um panorama histórico
do período em questão e, depois, tratarmos só da história da arte,
nesta unidade história e história da arte virão misturadas e inter-
caladas no texto como não acontecera até então.
Tal maneira de abordar o período que vai do “descobrimen-
to”, em 1500, até o início do século 20 (com o advento do Mo-
dernismo, que veremos na próxima unidade) pareceu-nos mais
5. A “DESCOBERTA”
No dia 9 de março de 1500 partia de Lisboa uma frota de
caravelas com cerca de 1500 homens sob o comando de Pedro
Álvares Cabral. No dia 22 de abril, avistaram uma terra desconhe-
cida que foi batizada primeiramente de Ilha de Vera Cruz e, depois,
quando os portugueses perceberam tratar-se de terras continen-
tais, Terra de Santa Cruz. O nome “Brasil” começou a ser usado
como apelido, quando se percebeu haver grande abundância de
pau-brasil por aqui e, aos poucos, foi sendo adotado oficialmente.
Vejamos na Figura 1 uma ilustração de caravela portuguesa.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 201
6. A COLONIZAÇÃO
A cana-de-açúcar
A economia do Brasil colônia caracterizou-se fortemente por
ciclos econômicos que duravam décadas, nos quais um único pro-
duto formava a base de toda a renda aqui conseguida pela metró-
pole portuguesa.
O primeiro ciclo foi o do pau-brasil, no qual quantidades gi-
gantescas da árvore eram extraídas do litoral brasileiro. O segundo
foi o da cana-de-açúcar.
No século 16, o açúcar era um dos produtos mais valorizados
no mercado internacional. Pensando nisso, os portugueses insta-
laram enormes plantações em diversas áreas do litoral nordestino,
construindo também engenhos (Figura 5).
7. A POPULAÇÃO INDÍGENA
Na ocasião do “descobrimento” do Brasil, o primeiro contato
entre portugueses e indígenas foi amistoso. No entanto, quando
os portugueses começaram a se apossar da terra e escravizar os ín-
dios, a situação começou a mudar. Tendo uma cultura própria com
ordem social e padrões religiosos estabelecidos, além de práticas
consideradas absolutamente bárbaras e brutais pelos europeus,
tais como o canibalismo ritual, algumas tribos rebelaram-se e ou-
tras entregaram-se ou fugiram para o interior. Observe na Figura 7
o relato de Hans Staden sobre o canibalismo.
Reforma e Contrarreforma––––––––––––––––––––––––––––––
No século 16, ocorreu a chamada “Reforma” religiosa na Europa, liderada por
clérigos e teólogos oriundos da própria Igreja Católica, mas que discordavam dos
caminhos políticos e mesmo teológicos que esta vinha tomando havia séculos.
A Reforma gerou as religiões “protestantes”, “braços” do Cristianismo que foram
adotados especialmente no norte da Europa.
Já a Contrarreforma foi a reação da Igreja Católica a este processo. Elaborada
entre 1545 e 1563, tomava novas diretrizes políticas e práticas para a manuten-
ção do poderio do Papado: entre essas medidas, estavam a reorganização da
Inquisição (que combatia os “hereges”), o estabelecimento de uma espécie de
comissão de censura que avaliaria o que deveria ou não ser lido pelos católicos
e a criação da Ordem dos Jesuítas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. AS INVASÕES
Em 1555 ocorreu a invasão da Baía de Guanabara pelos fran-
ceses, que foram expulsos somente cinco anos mais tarde, em
1560. De qualquer forma, durante os séculos 16 e 17 foi forte a
presença francesa no Brasil. Apoiados pelos índios tupinambás, os
franceses mantiveram vários focos de luta contra os portugueses,
apoiados por outras nações indígenas, tais como os tupiniquins.
Em 1580, as Coroas de Portugal e Espanha foram unidas,
assim permanecendo durante sessenta anos. Como não houve
centralização política nem territorial, os dois reinos mantiveram
as suas legislações e colônias separadas. Porém, como resultado, o
Brasil passou a ser atacado também pelos países inimigos da Espa-
nha, tais como a Inglaterra e a Holanda.
9. AS BANDEIRAS
Foram organizadas, do início do século 17 até o século 18,
várias expedições ao interior do Brasil conhecidas como “Bandei-
ras”, que vieram a ser as maiores responsáveis pela expansão ter-
ritorial do país. Essas expedições tiveram vários objetivos, entre
eles: a exploração de terras brasileiras para seu melhor conheci-
mento; a captura de índios para serem usados como mão de obra
escrava (o que colocava os bandeirantes (Figura 18) em conflito
com os jesuítas, que defendiam a manutenção da liberdade dos
índios, mesmo promovendo a aculturação e perda de identidades
indígenas decorrentes da “cristianização” que realizavam); e a pro-
cura de metais e pedras preciosas.
11. BARROCO
A partir dos desenvolvimentos promovidos pela renda oriun-
da da extração do ouro, surgiu o primeiro movimento artístico de
real relevância na cultura da colônia: o Barroco, “importado” da
Europa, mas que, por aqui, acabou adquirindo algumas caracte-
rísticas próprias, aparecendo especialmente na arte sacra, a única
área artística em que se permitia o investimento de parte dos re-
cursos oriundos do ouro.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 217
Figura 25 Pintura no teto da Igreja de São Francisco de Assis, (século 18), em Ouro Preto
(MG), Manuel da Costa Ataíde.
Aleijadinho
Antônio Francisco Lisboa (1738-1814) era filho bastardo de
Manoel Francisco Lisboa, um dos artistas mais requisitados de Mi-
nas Gerais no século 18, especialmente para obras arquiteturais,
com uma mulher negra, ou seja, ele era mulato. Apesar disso, re-
cebeu o nome do pai e cresceu a seu lado aprendendo seus ofí-
cios. O apelido de “Aleijadinho” deveu-se a uma doença degenera-
tiva que, no decorrer da vida do artista, foi lhe limitando os
movimentos até obrigá-lo a trabalhar em condições absurdamente
adversas, por exemplo, com as ferramentas amarradas aos braços
(já que os movimentos das mãos foram se perdendo, assim como
os das pernas).
A primeira obra de Aleijadi-
nho foi um busto que ornamenta
um chafariz em Ouro Preto, reali-
zado em 1761. A partir de então,
o artista teve intensa participação
em obras encomendadas a seu pai.
Após a morte deste, continuou sen-
do muito requisitado para o proje-
to de igrejas, oratórios, chafarizes,
retábulos, ornamentação de facha-
das, sacristias e imagens. Boa parte
de seus trabalhos foi executado em
pedra-sabão (introduzida por ele na
arquitetura). Possuía um estilo mar-
cante que o diferenciava dos de ou-
tros mestres do seu tempo. Observe Figura 26 Nossa Senhora das Dores,
o estilo de Aleijadinho na Figura 26. Aleijadinho.
A Inconfidência Mineira
O Ciclo do Ouro permitiu pela primeira vez o surgimento no
Brasil de uma elite urbana, relativamente “esclarecida” em assuntos
econômicos, políticos e culturais, e que não necessariamente tinha
interesses coincidentes com os dos colonizadores portugueses. Tal
elite pôde, devido à sua prosperidade, “ilustrar-se” (com bibliotecas,
filhos indo estudar nas melhores universidades da Europa etc.) e ter
contato com o que de mais moderno havia no mundo em termos de
pensamentos e ideologias, absorvendo, por exemplo, ideias como
as do Iluminismo, que desembocariam na Europa em movimentos
como a Revolução Francesa, por exemplo.
Figura 31 A chegada de Dom João VI à Bahia, Cândido Portinari, 1952, 381 x 580 cm.
Figura 32 Chefe Camacan se preparando para uma festa, Debret, 1820-30, 18,6 x 29,3 cm.
Nicolas-Antoine Taunay
Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) foi outro importante ar-
tista da Missão Francesa. Tendo ocupado um papel de certo desta-
que no meio acadêmico francês e na corte de Napoleão, no Brasil
especializou-se na pintura de paisagens, fascinado com a exube-
rância tropical. São famosas as suas vistas do Rio de Janeiro (Figura
34).
Rugendas
O pintor alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) che-
gou ao Brasil em 1821, fazendo parte da Expedição Langsdorff, que
buscava retratar os costumes e a natureza do Brasil (Figuras 36
e 37). Trabalhou na Expedição até 1824, quando, abandonando a
empreitada, continuou a registrar sozinho as paisagens e os tipos
brasileiros. Desses registros, a maioria são desenhos, às vezes co-
loridos à aquarela.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 231
Figura 39 Lagoa das Aves, no Rio São Francisco, Karl Friedrich Phillip von
Martius, 30,5 x 46,5 cm.
Thomas Ender
Thomas Ender (1793-1875) foi outro dos integrantes da Mis-
são Austríaca, tendo sido incumbido de viajar pelo país registrando
paisagens (Figura 40). Ender, porém, acabou tornando-se na poste-
ridade menos célebre do que outros artistas estrangeiros que pas-
saram pelo Brasil no início do século 19, como Debret e Rugendas.
Batalha do Avaí–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Batalha do Avaí, representada na Figura 43 no quadro de Pedro Américo, ocor-
rida em 1868, foi uma das mais sangrentas da Guerra do Paraguai e terminou
com uma retumbante vitória das forças da Tríplice Aliança sobre os paraguaios.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Abolição da Escravatura––––––––––––––––––––––––––––––––
A Abolição da Escravatura ocorreu no Brasil com a promulgação da Lei Áurea,
em 8 de maio de 1888. A escravidão, porém, já vinha há décadas sofrendo duros
golpes que apenas culminariam com seu fim oficial em 1888.
Na década de 1850, fora proibido o tráfico de escravos para o Brasil, que con-
tinuou clandestinamente, porém bastante enfraquecido. Vinte anos depois, em
1871, foi promulgada de Lei do Ventre Livre, que tornava livres os filhos de es-
cravos nascidos a partir de então, o que em pouco tempo diminuiu drasticamente
a quantidade de escravos e diminuiu a capacidade de produção dos escravos
restantes, que foram envelhecendo ou morrendo.
O que ocorreu em 1888 foi, portanto, o “fim oficial”. Mas não foi o fim dos proble-
mas para os negros brasileiros. Estes ganharam a liberdade, mas junto com ela
veio o completo abandono a que foram relegados pelo Estado.
Sem educação, trabalho ou qualquer espécie de apoio institucional, a população
negra foi abandonada à própria sorte, indo em grande parte para as cidades,
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 237
O Ciclo do Café
O café começou a ser cultivado no Brasil no século 18, mas
apenas nas últimas décadas do século 19 é que se tornou uma das
principais fontes de renda do país. Isto ocorreu quando o plan-
tio veio para as terras do sudeste brasileiro, mais especificamente
para os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que têm o
solo – chamado de “terra roxa” – mais propício para o cultivo.
Concentrando-se principalmente no interior de São Paulo, a
produção logo tornou o estado o mais rico do país. Multiplican-
do as riquezas dos fazendeiros, formou uma riquíssima elite eco-
nômica agrícola que passou a ser conhecida como a dos “barões
do café”. Estes comandavam a produção no campo (com mão de
obra escrava e de imigrantes, já desde antes da abolição da escra-
vatura), mas passavam parte de seu tempo – e, principalmente,
gastavam e investiam – nas cidades. Com isso houve um grande
desenvolvimento urbano nas cidades do interior de São Paulo e,
principalmente, na capital.
São famosos na cidade de São Paulo os “palacetes” dos ba-
rões do café, concentrados principalmente na região central e na
região da Avenida Paulista (Figura 44), que antes de se tornar o
centro financeiro da cidade era repleta de mansões erguidas com
a renda da economia cafeeira.
Avenida Paulista––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Avenida Paulista foi inaugurada em 1891, e ocupada por verdadeiras mansões
construídas pelos “barões do café”. Já no século 20, as moradias foram dando
lugar a prédios como bancos, galerias, shoppings, cinemas e centros de cultura.
Hoje a Paulista é um dos grandes “cartões-postais” da cidade e o principal centro
financeiro do país.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A República Velha
Com a Proclamação da República, o que se buscava era,
como aconteceu muitas vezes na História do Brasil, “mudar para
manter tudo igual” (dito popular). Ou seja, já que a monarquia não
agradava mais à elite agrária brasileira, o regime republicano mos-
trou-se um meio mais eficiente para que esta pudesse governar os
rumos da nação.
O país era comandado especialmente pelas elites paulista
e mineira, responsáveis pelo que ficou conhecido como “Política
do Café com Leite”. Segundo esta política, alternavam-se na pre-
sidência da república políticos paulistas (cujo símbolo era, devido
à grande produção cafeeira, o café) e mineiros (simbolizados pelo
leite, devido à produção mineira de leite, mas, principalmente,
porque o “café com leite” é uma combinação bem brasileira).
Este status quo se manteve relativamente inalterado até
1930, quando a revolução liderada por Getúlio Vargas acabou
transferindo o poder para outras parcelas da elite. Isto, no entan-
to, veremos apenas na próxima unidade.
Passemos, agora, mais uma vez à arte, falando do estabele-
cimento da arte acadêmica no Brasil.
Salões Oficiais––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os Salões Oficiais, chamados no Brasil de Exposições Gerais de Belas Artes,
eram as mostras periódicas promovidas pela Escola Nacional de Belas Artes a
partir de 1840. Havia um júri que era responsável por premiar artistas com via-
gens de estudo nacionais e internacionais e com a aquisição de obras.
No que concerne à curadoria das exposições, esta se guiava sempre por grande
conservadorismo e academicismo, como acontecia na maioria dos salões oficiais
de arte europeus no século 19. Tal tendência só começou a mudar na década de
1930, quando a arte moderna já se consolidava no Brasil.
Em todo o mundo, os Salões Oficiais eram inspirados pelo Salão Oficial francês.
Também conhecido como “Salão de Paris”, foi fundado em 1667 para exibir obras
da famosa Academia Francesa de Pintura e Escultura. A exposição foi chamada
de salão pelo fato de ter sido organizada inicialmente no Salon d’Apollon, do
Museu do Louvre.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vejamos então, individualmente, alguns dos nomes mais re-
presentativos da arte acadêmica brasileira do século 19 e início do
século 20, lembrando que o academicismo só começaria a perder
força por aqui com o advento do Modernismo, no início da década
de 1920.
Victor Meirelles
O catarinense Victor Meirelles de Lima (1832-1903) foi um
dos mais importantes pintores acadêmicos brasileiros. Dono de
uma técnica apurada e especializado na pintura histórica, também
atuou lecionando na Academia Imperial de Belas Artes, como pro-
fessor de Belmiro de Almeida, Zeferino da Costa, Eliseu Visconti e
outros nomes que abordaremos adiante. Uma das obras de Victor
Meirelles é A Batalha dos Guararapes, que ocorreu em Pernambu-
co em 1654, vejamos sua representação na Figura 45.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 241
Zeferino da Costa
João Zeferino da Costa
(1840-1916), que, como vimos an-
teriormente, foi aluno de Victor
Meirelles, depois de uma estadia
na Europa, tornou-se também
professor da Academia Imperial de
Belas Artes. Teve como alunos no-
mes como João Batista da Costa,
Oscar Pereira da Silva, Henrique
Bernardelli, Belmiro de Almeida e
Rodolfo Chambelland. Observe na
Figura 46 o estilo de Zeferino da Figura 46 Moisés recebendo as tábuas
Costa. da lei, Zeferino da Costa, 1868, 117,5 x
90,5 cm.
Pedro Américo
Pedro Américo (1843-1905) talvez tenha sido o mais célebre
pintor histórico brasileiro. Tendo estudado na Academia Imperial
de Belas Artes e, posteriormente, na Academia Francesa, retratou
Almeida Júnior
José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) foi um paulista de
Itú que, em 1869, foi para o Rio de Janeiro estudar na Academia
de Belas Artes. Em viagem a São Paulo, D. Pedro II viu sua obra
e ofereceu-lhe uma bolsa para estudar em Paris, e o artista per-
maneceu seis anos na Europa. Quando regressou, trouxe consigo
obras nas quais já se encontrava presente a figura que mais apre-
ciava, o “personagem brasileiro”.
A crítica analisa a obra de Almeida Jr. como tendo dois mo-
mentos: antes e depois de 1882. O primeiro momento é o da mo-
numentalidade (Figura 47), com cores acentuadas pelos recursos
de luminosidade; e, no segundo momento, os temas brasileiros
se tornaram definitivamente seus assuntos preferidos (Figura 48).
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 243
Benedito Calixto
O paulista de Itanhaém Benedito Calixto (1853-1927) é um
dos mais conhecidos artistas acadêmicos brasileiros da virada do
século 19 para o 20. Tendo frequentado entre 1883 e 1885 a Aca-
demia Julian, em Paris, especializou-se em temas e personagens
históricos e nas paisagens marinhas (Figura 49).
Henrique Bernardelli
Nascido no Chile, Henrique Bernardelli (1858-1936) mudou-
-se para o Rio de Janeiro em 1867. Em 1870, ingressou na Aca-
demia Imperial de Belas Artes, vindo a ser aluno de Zeferino da
Costa e Victor Meirelles e recebendo, em concursos da Academia,
diversos prêmios por seus desenhos e pinturas (Figura 50) e, mais
tarde, tornou-se professor da academia.
Pedro Alexandrino
Pedro Alexandrino (1856-1942) teve como sua grande espe-
cialidade as naturezas-mortas (Figura 51). Discípulo de Almeida Jr.,
teve também importante papel no ensino das artes, tendo entre
seus alunos nomes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, artis-
tas que abordaremos na próxima unidade.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 245
Rodolfo Amoedo
Rodolfo Amoedo (1857-1941) começou a se destacar no ce-
nário da pintura brasileira na década de 1880, depois de ter estu-
dado na Academia Imperial de Belas Artes e, em Paris, na Acade-
mia Julian e na Escola Nacional Superior de Belas Artes, a famosa
Academia Francesa. Voltando ao Brasil, especializou-se na pintura
histórica e começou a lecionar, tendo como alunos nomes como
Eliseu Visconti, Rodolfo Chambelland e Cândido Portinari. Vejamos
na Figura 52 uma das obras de Amoedo.
Belmiro de Almeida
Belmiro de Almeida (1858-1935) foi outro dos mais impor-
tantes artistas brasileiros da virada do século 19 para o século 20.
De formação acadêmica, não deixou, porém, entre muitas viagens
à Europa, de incorporar à sua arte algumas inovações em voga ha-
via algum tempo no velho continente, como o Pontilhismo (Figura
53) que algumas de suas obras do começo do século 20 deixam
transparecer.
Figura 55 O painel de Oscar Pereira da Silva no Teatro Municipal de São Paulo: Uma comédia
ambulante nas ruas de Atenas, 1911, 3,7 x 10,9 m.
Eliseu Visconti
Eliseu D'Angelo Visconti
(1866-1944) nasceu Itália, mas
chegou ao Brasil com menos de
um ano de idade, fixando-se no Rio
de Janeiro. Nesta cidade estudou
na Academia Imperial de Belas
Artes e teve como mestres Victor
Meirelles, Rodolfo Amoedo e
Henrique Bernardelli, entre outros.
Contemplado pela Academia
com uma viagem à Europa, Visconti
visitou a Itália e apaixonou-se pela
arte renascentista. Este estilo de-
terminaria a mudança visual em
suas obras entre 1898 e 1908, com
composições criativas e idealizações
Figura 57 Gioventú, Eliseu Visconti,
poéticas com expressões faciais ex- 1898, 65 x 49 cm.
tremamente delicadas (Figura 57).
Figura 58 Teto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com pinturas de Eliseu Visconti.
Georgina de Albuquerque
Pode-se dizer que Georgina de Albuquerque (1885-1962) foi
uma representante da chegada tardia da influência impressionista
e pós-impressionista ao Brasil. Iniciando seu aprendizado em 1904,
quando já era permitida a entrada de moças na Escola Nacional de
Belas Artes, a artista pouco depois se casou com o também pintor
Lucílio de Albuquerque (1877-1939), casamento que lhe propor-
cionou cursar a Academia Julian e a Academia de Belas Artes em
Paris. De volta ao Brasil, Georgina dedicou-se também a lecionar,
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 251
Rodolfo Chambelland
O carioca Rodolfo Chambelland (1879-1967) foi um pintor
acadêmico de sucesso especialmente nas duas primeiras décadas
do século 20. Tendo estudado na Escola Nacional de Belas Artes,
ganhou um prêmio de viagem ao exterior na Exposição Nacional
de Belas Artes de 1905. Estudou então na Academia Julian em Pa-
ris e, de volta ao Brasil, conseguiu importantes encomendas pú-
blicas, passando também a lecionar na Escola Nacional de Belas
Artes. Observe na Figura 60 uma das obras de Chambelland.
7) Quais artistas dos vistos nesta unidade eu poderia citar como os mais "brasi-
leiros" entre os acadêmicos brasileiros em termos de temática? E em termos
de estilo? Pode-se falar de um "estilo brasileiro" de pintar na nossa arte
acadêmica?
18. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, demos início à abordagem da arte brasileira
e chegamos até a cristalização da arte acadêmica no Brasil. Vimos,
também, como se passou, na virada do século 19 para o 20, a po-
der falar de “arte brasileira”. No entanto, isto não significa que já
tínhamos uma arte produzida no Brasil que realmente falasse das
peculiaridades e profundezas da cultura de nosso país.
Na próxima unidade, veremos como, com o advento do Mo-
dernismo Brasileiro, nossos artistas não apenas passaram a se sin-
tonizar com as vanguardas internacionais como, principalmente, a
olhar e a representar o próprio Brasil em suas obras, isto com uma
força e uma originalidade não vistas por aqui até aquele momento.
Então, até o Modernismo!
19. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 - Ilustração de caravela portuguesa: disponível em: <http://www.areamilitar.
net/DIRECTORIO/IM_mar/CaravelaGuerra_001.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 2 - Imagem de aldeia: disponível em: <http://www.chilebras.achetudoeregiao.
com.br/MT/querencia/querencia.gif/aldeia04.jpg>. Acesso em: 15 abr. 2009.
Figura 3 - Célebre quadro de Victor Meirelles representando a primeira missa no Brasil
(o quadro parece, no entanto, ater-se à representação do que, segundo os relatos
históricos, teria sido a segunda missa), 1860, 270 x 357 cm: disponível em: <http://
mundomaior.files.wordpress.com/2009/01/meirelles_primeira_missa.jpg>. Acesso em:
18 out. 2010.
Figura 4 - Mapa das Capitanias Hereditárias: disponível em: <http://www.juserve.de/
rodrigo/atlas%20historico/Capitanias%20Heredit%E1rias.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 5 - Engenho de cana, Henry Coster, século 19: disponível em: <http://www.
terrabrasileira.net/folclore/origens/africana/engenho.jpg>. Acesso em: 16 abr. 2009.
Figura 6 - O horror da Escravidão: obra de Jean-Baptiste Debret mostrando feitor
castigando escravo, século 19: disponível em: <http://www.terrabrasileira.net/folclore/
origens/africana/escravo.html>. Acesso em: 16 abr. 2009.
Figura 7 - Gravura europeia do século XVI ilustrando o relato de Hans Staden (que
aparece de barba, no topo da imagem): disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/f/f7/Cannibals.23232.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 8 - Evangelho nas Selvas (Padre Anchieta), Benedito Calixto, 1893, 58,5 x 70
cm: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8d/Benedito_
Calixto_-_Evangelho_nas_Selvas%2C_1893_(ost%2C_58%2C5_x_70_cm_-_Padre_
Anchieta).jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 9 - Exemplos de cestaria indígena: disponível em: <http://modovestir.blogspot.
com/2008/09/cestaria-indgena-brasileira.html>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 10 - Peça de cerâmica Marajoara: disponível em: <http://www.usp.br/jorusp/
arquivo/2008/jusp823/ilustras/p09a.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 11 - Exemplo de oca: disponível em: <http://guiavillaboasprogramadeindio.files.
wordpress.com/2009/02/cropped-oca11.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 12 - Exemplo de pintura corporal indígena: disponível em: <http://g1.globo.com/
Noticias/Rio/foto/0,,14470370-EX,00.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 13 - Exemplos da arte plumária indígena: disponível em: <http://www.iande.art.
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Figura 14 - Frans Post, Fazenda de açúcar: disponível em: <http://cgfa.sunsite.dk/p/
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Figura 15 - Frans Post, Cachoeira de Paulo Afonso, 1649, 58,5 x 46 cm: <http://upload.
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Figura 16 - Albert Eckhout, Dança Tapuia, 1641-1644, 295 x 172 cm: disponível em:
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Figura 17 - Albert Eckhout, Negra, 265 x 173 cm: disponível em: <http://www.
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Figura 18 - Ilustração de bandeirantes em seus trajes mais costumeiros, Ivan Wasth
Rodrigues: disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/v2/docs/image/Ivan_
bandeirantes.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 19 - Exemplo de obra barroca: A Descida da Cruz, Peter Paul Rubens, 1611-14,
420 X 31 cm, Catedral de Antuérpia, Bélgica: disponível em: <http://www.duke.edu/
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Figura 20 - Exemplo de entalhe barroco: interior da Igreja de São Bento (século 18), em
Olinda (PE): disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/87/
S%C3%A3o-bento-olinda3.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
© U3 - Brasil: do Descobrimento à Arte Acadêmica 255
Figura 21 - Interior da Igreja de São Francisco (século 18), em Salvador (BA): disponível
em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d3/StFranciscoChurch3-CCBY.
jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 22 - Interior da Igreja de Nossa Senhora do Pilar (século 18), em São João Del Rei
(MG): disponível em: <http://www.helil.net/wp-content/gallery/sjdrpilar/SJDRpilar%20
altarweb.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 23 - Igreja do Rosário dos Pretos (início do século 18), em Salvador (BA):
disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d2/Rosario_dos_
Pretos_Pelourinho_Salvador.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 24 - Igreja de São Francisco de Assis, (século 18), em Ouro Preto (MG), com
projeto de Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho): disponível em: <http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg>. Acesso em: 18
out. 2010.
Figura 25 - Pintura no teto da Igreja de São Francisco de Assis, (século 18), em Ouro
Preto (MG), Manuel da Costa Ataíde: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
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Figura 26 - Nossa Senhora das Dores, Aleijadinho: disponível em: <http://upload.
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Figura 27 - Dois profetas de Aleijadinho no Santuário de Congonhas do Campo, 1795-
1805: disponível em: <http://www.brasilcultura.com.br/imagens/profetas.jpg>. Acesso
em: 18 out. 2010.
Figura 28 - Cristo carregando a cruz, escultura de Aleijadinho em uma das capelas dos
Passos da Paixão no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo,
1796-1799: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/58/
Aleijadinho-cristo-congonha.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 29 - Tiradentes esquartejado, Pedro Américo, 1893: disponível em: <http://
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Am%C3%A9rico%2C_1893).jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 30 - Esquema mostrando a “mensagem subliminar” da obra Tiradentes
esquartejado: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/
d2/Tiradentes_Esquartejado_(Pedro_Am%C3%A9rico%2C_1893).jpg>. Acesso em: 17
abr. 2009.
Figura 31 - A chegada de Dom João VI à Bahia, Cândido Portinari, 1952, 381 x 580 cm:
disponível em: <http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/obrasCompl.asp?notacao
=2404&ind=8&NomeRS=rsObras&Modo=C>. Acesso em: 17 abr. 2009.
Figura 32 - Chefe Camacan se preparando para uma festa, Debret, 1820-30, 18,6 x 29,3
cm: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/Debret37.
jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 33 - Índios Atravessando um Riacho (O Caçador de Escravos), Debret, 1820-1830,
80 x 112 cm: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/
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Figura 49 - Baía de São Vicente, Benedito Calixto, 42 x 72 cm: disponível em: <http://
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18 out. 2010.
Figura 50 - Maternidade, Henrique Bernardelli: disponível em: <http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f8/Bernardelli-mater-mnba.jpg>. Acesso em: 18
out. 2010.
Figura 51 - Natureza-morta, Pedro Alexandrino, 80 x 100 cm: disponível em: <http://
www.faap.br/museu/acervo/pedro_alexandrino.htm>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 52 - O Último Tamoio, Rodolfo Amoedo, 1883: disponível em: <http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Ultimo_tamoio_1883.jpg>. Acesso em: 18 out.
2010.
Figura 53 - O exemplo de obra de Belmiro de Almeida de influência pontilhista: Efeito
do Sol: disponível em: <http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id36.html>. Acesso em: 8
fev. 2011.
Figura 54 - A escrava romana, Oscar Pereira da Silva: disponível em: <http://www.
coresprimarias.com.br/ed_4/imagens/oscar9.jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 55 - O painel de Oscar Pereira da Silva no Municipal de São Paulo: Uma comédia
ambulante nas ruas de Atenas, 1911, 3,7 x 10,9 m: disponível em: <http://www.
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Figura 56 - Porto Feliz, João Batista da Costa, 95,7 x 151 cm: disponível em: <http://
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Porto_Feliz%2C_s.d..jpg>. Acesso em: 18 out. 2010.
Figura 57 - Gioventú, Eliseu Visconti, 1898, 65 x 49 cm: disponível em: <http://www.
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Figura 58 - Teto do Municipal do Rio de Janeiro, com pinturas de Eliseu Visconti:
disponível em: <http://www.flickr.com/photos/claudiolara/29264395>. Acesso em: 18
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Figura 59 - Conselho de Estado com a Princesa Leopoldina e ministros, Georgina de
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Figura 60 - Baile à fantasia, Rodolfo Chambelland, 1913, 149 x 209 cm: disponível em:
<http://www.artenaescola.org.br/midiateca/imagens2/Rodolfo_Chambelland_Baile_a_
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Sites pesquisados
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BLOG DO LELÊ. Lelê e o Leocádio Real. Disponível em: <http://blogdolele.blog.uol.com.
br/arch2007-11-01_2007-11-30.html>. Acesso em: 28 out. 2010.
4
1. OBJETIVOS
• Conhecer o contexto histórico em que nasceu e floresceu
o Modernismo brasileiro.
• Entender como se deu a eclosão modernista no início da
década de 1920.
• Conhecer os caminhos seguidos pelo Modernismo brasi-
leiro para a sua solidificação nas décadas de 1930, 1940
e 1950.
• Identificar as características específicas da arte de cada
um dos mais importantes artistas do Modernismo brasi-
leiro.
2. CONTEÚDOS
• Introdução: o Modernismo e a busca por uma arte verda-
deiramente brasileira.
262 © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira
Le Corbusier (1887-1965)
O franco-suíço Le Corbusier foi um dos arquitetos mais importantes do século
20. Protagonista na ampliação do uso do concreto armado, foi a grande influên-
cia moderna da arquitetura brasileira. Foi responsável por obras em que o rigor
de formas simples, retas ou curvas, era o pano de fundo para a funcionalidade,
concepção que o aproximou muito das teorias desenvolvidas na Bauhaus, por
exemplo.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, abordamos a formação do Brasil en-
quanto país e o surgimento da arte brasileira, seus primeiros pas-
sos quando ainda éramos uma colônia, e depois da nossa indepen-
dência. Para isso, foi adotado um esquema diferente do qual nos
acostumáramos (com uma introdução histórica seguida do texto
sobre especificamente a História da Arte); diferentemente, na uni-
dade anterior, colocamos História e História da Arte caminhando
em paralelo.
Nesta unidade, porém, retornaremos ao esquema antigo.
Isto porque, no período que vamos abordar, do advento do Mo-
dernismo, no início da década de 1920, até a década de 1950, já
havia efetivamente um país, uma História e uma Arte Brasileira,
algo que, como sabemos, não existia em 1500.
De qualquer forma, é bom que relativizemos a expressão
“Arte Brasileira” quando esta se refere à nossa arte acadêmica. Isto
porque, como vimos na unidade anterior, o academicismo brasilei-
ro ainda estava muito ligado aos cânones clássicos, que atrapalha-
vam o desenvolvimento de uma linguagem artística mais efetiva-
mente ligada à cultura e à criatividade nacionais.
Foi apenas com o advento do Modernismo que, abrindo os
olhos para as vanguardas internacionais, os artistas brasileiros pa-
radoxalmente puderam construir sobre bases mais originais e li-
vres uma “Arte Brasileira”. O paradoxo está exatamente aí: olhar
finalmente para o que de mais moderno estava sendo feito no
mundo é o que nos permitiu definitivamente descobrir uma lin-
guagem artística “nossa”.
E é isto que veremos nesta unidade: o advento do Moder-
nismo, seus desdobramentos e sua consolidação na arte brasileira.
Assim, se na introdução da unidade anterior dizíamos “descubra-
mos o Brasil!”, aqui podemos dizer “Redescubramos o Brasil!”
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 267
5. CONTEXTO HISTÓRICO
Ao longo da primeira década do século 20 e no início da
década de 1910, o Brasil, mais especificamente a região sudeste,
dava os primeiros passos da sua industrialização.
Como sabemos, o Brasil era um país essencialmente agrário,
dependente da cultura do café. Porém, a flutuação dos preços do
produto no mercado internacional e as consequentes incertezas
em relação ao futuro do negócio cafeeiro fizeram que os grandes
fazendeiros redirecionassem parte de seu capital para a indústria.
Tendo em mente esta conjuntura, pareceria lógico que o Bra-
sil, nas décadas de 1910 e 1920, efetivasse o seu caminho indus-
trial, certo? Mas não foi isto o que ocorreu.
Isso porque, com a Primeira Guerra Mundial, a hegemonia
sobre toda a economia (incluindo-se aí a brasileira) passou para os
EUA, que se tornaram então nosso principal parceiro comercial. E
esta parceria Brasil-EUA reavivou tremendamente a lucratividade
do negócio cafeeiro no Brasil, o que acabou atrasando a fase mais
aguda da nossa industrialização.
Foi a Revolução de 1930 que proporcionou uma grande mu-
dança de rumos na política e na economia do país. Em termos eco-
nômicos, pode-se dizer que a chegada de Getúlio Vargas ao poder
se deveu ao colapso do modelo baseado quase exclusivamente na
cultura do café, colapso este acelerado, evidentemente, pela crise
econômica mundial resultante da quebra da Bolsa de Valores de
Nova York em 1929.
rior, tornou São Paulo o Estado mais rico do Brasil e a cidade de São
Paulo, a “casa” de uma elite endinheirada que pôde “financiar” e
estimular (mesmo que com muitas críticas, ressalvas e ilhas de gran-
de conservadorismo e provincianismo) a radicalidade modernista.
O “estopim do Modernismo” foi a exposição de Anita Mal-
fatti de 1917. Neste momento já surgia o grupo que mudaria tal
cenário, do qual faziam parte o já citado Oswald de Andrade, Má-
rio de Andrade, Di Cavalcanti e Ferrignac, que abordaremos mais
adiante, entre outros.
O grupo era chamado de “futurista”, porque na época os
acadêmicos brasileiros denominavam de Futuristas todas as obras
que não seguiam os padrões estéticos convencionais. Mesmo para
Oswald, entretanto, ser chamado de futurista não significava per-
tencer à escola italiana deste nome, mas a uma tendência moder-
na e inovadora que rompia com as tradições.
época.
De qualquer forma, a grande contribuição das artes plásticas
ao modernismo brasileiro aconteceria em um período posterior
à Semana de Arte Moderna de 1922, no primeiro momento fa-
zendo-se necessário apenas o rompimento radical com o passado
artístico acadêmico.
Anita Malfatti
Anita Malfatti (1889-1964) nasceu em São Paulo. Tendo seus
contatos iniciais com a arte acontecido ainda dentro de casa, em
1910 ela partiu rumo a Berlim para completar sua formação.
Chegando à Alemanha, matriculou-se na Academia Imperial
de Belas Artes. Aos poucos foi se distanciando do academicismo,
até que acontecesse em 1912 um fato “catalizador”: o contato
com obras de Picasso, Van Gogh e Munch, além das de outros re-
presentantes do Cubismo, Fauvismo e Expressionismo. Na volta a
Berlim, uma maior liberdade no uso das cores e dos pincéis logo se
manifestou na arte da brasileira.
Depois de uma breve passagem por São Paulo em 1914, Ani-
ta foi estudar em Nova York. O ambiente efervescente, para o qual
colaborava a presença de artistas das vanguardas europeias que se
refugiavam da Primeira Guerra Mundial, auxiliou-a na adoção da
gestualidade dramática, da distorção, da fragmentação e da paleta
quase fovista que acabariam por serem suas marcas. Destacam-se
nesta época retratos como A boba (Figura 9).
Depois da sua volta a São Paulo e da sua famosa exposição
de 1917, na qual foi violentamente criticada por Monteiro Lobato,
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 281
Di Cavalcanti
Tendo começado como caricaturista, Emiliano di Cavalcanti
(1897-1976) realizou sua primeira exposição individual em 1922,
momento em que já fazia parte do grupo modernista. Aliás, foi de
Di a ideia inicial da Semana de Arte Moderna, da qual foi criador
do catálogo (Figura 17), do cartaz (Figura 16) e coordenador das
exposições.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 283
Victor Brecheret
O ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955) transferiu-se
para Europa em 1913, para estudar escultura. Em 1919, voltou a
São Paulo, passando a fazer parte da primeira geração modernista
e participando da Semana de Arte Moderna de 1922.
Neste mesmo ano, além de ganhar a medalha comemorativa
do Centenário da Independência do Brasil, teve em suas mãos a
encomenda do governo paulista para a execução do Monumento
às Bandeiras (Figura 21), a obra mais importante que nos deixou.
Mas só mais de trinta anos depois viu o projeto transformado em
realidade, pela ocasião do quarto centenário da cidade de São
Paulo, em 1954.
Ferrignac
Inácio da Costa Ferreira (1892-
1958), que ficou conhecido no meio
artístico como Ferrignac, nasceu em
Rio Claro, São Paulo. Começou sua
carreira como caricaturista e for-
mou-se em Direito. Logo depois, em
meados da década de 1910, viajou à
Europa e tomou contato com as van-
guardas, participando um pouco de-
pois da Semana de Arte Moderna de Figura 24 Índio, Ferrignac, 1929,
1922. A Figura 24 demonstra uma das aquarela e nanquim, 20 x 18 cm.
obras de Ferrignac.
Lasar Segall
O lituano Lasar Segall (1891-1957) foi um dos mais impor-
tantes nomes da primeira geração da pintura modernista brasilei-
ra, abordando com seu estilo expressionista, além dos temas bra-
sileiros, outros “universais” que, em geral, se ligavam ao caráter
social. As Figuras 26 e 27 apresentam duas das obras de Lasar Se-
gall. Observe.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 289
Ismael Nery
Ismael Nery (1900-1934) foi talvez o único representante da
primeira geração de modernistas brasileiros que possa realmente
ter sido chamado de Surrealista, corrente que adotou após passar
pelo Expressionismo e pelo Cubismo. Infelizmente, um desenvol-
vimento ainda maior da sua linguagem artística foi interrompido
pela sua morte prematura, devido a uma tuberculose. A Figura 28
apresenta uma obra de Ismael Nery.
Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral (1886-1973), nascida em Capivari, interior
de São Paulo, cresceu em fazendas de sua rica família, podendo,
entretanto, misturar o “caldo” de cultura popular recebido na in-
fância “caipira” com toda a efervescente cultura europeia do início
do século 20, adquirida em constantes viagens à Europa.
Em 1913, estabeleceu-se em
São Paulo e decidiu estudar pintu-
ra, ingressando na escola de Pedro
Alexandrino e, alguns anos depois,
na Academia Julian, de Paris, na
qual pôde conhecer as obras dos
dadaístas, futuristas e cubistas.
Quando regressou ao Brasil, em
1922, sua pintura ainda não refle-
tia totalmente a influência das ten-
dências modernas, mas isso logo
ocorreria com a aproximação da
artista com o grupo modernista de Figura 29 Retrato de Oswald de Andrade,
Tarsila do Amaral, 1922.
São Paulo, formado por Anita Mal-
fatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade
(com quem ela se casaria) etc. A Figura 29 representa uma das
obras de Tarsila.
Depois de amadurecer sua linguagem pictórica e de lançar,
junto com seus companheiros de movimento, as bases de uma lin-
guagem pictórica modernista realmente brasileira, a partir da dé-
cada de 1920, quando adotou uma pintura de caráter mais social
(representando muitas vezes a classe trabalhadora urbana e rural),
Tarsila foi “coroada” como um dos grandes nomes da pintura bra-
sileira do século 20.
Em meados da década de 1920, depois do primeiro “impac-
to” causado pela Semana de 1922, os modernistas procuravam se
aprofundar na busca de uma linguagem brasileira. Isto deu início
Cândido Portinari
Cândido Portinari (1903-1962) é considerado por muitos
como o mais importante pintor brasileiro de todos os tempos e,
se não o mais importante, ao menos o mais popular e de maior
repercussão internacional.
Nascido em Brodósqui (Figura 33), no interior de São Paulo,
Portinari foi no final da década de 1910 para o Rio de Janeiro, onde
estudou na Escola Nacional de Belas Artes sob orientação de Ro-
dolfo Amoedo, Batista da Costa e Rodolfo Chambelland (pintores
acadêmicos que abordamos na unidade anterior), entre outros.
Viajando para o exterior na virada da década de 1920 para a de
1930, tornou-se, em 1935, o primeiro modernista brasileiro pre-
miado internacionalmente, quando recebeu um prêmio nos EUA
pela obra Café (Figura 34).
Figura 36 Painéis realizados por Portinari em azulejos, na Igreja de São Francisco de Assis no
Conjunto Arquitetônico da Pampulha, Belo Horizonte, 1944.
Guignard
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), apesar de ter nas-
cido em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, cedo mudou-se para a Eu-
ropa e iniciou sua formação artística em Munique na Alemanha,
passando depois alguns anos em Paris e Florença.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 297
Guignard permaneceu em
Minas Gerais até o final de sua
vida. Quanto ao fato de o artista
ser geralmente associado às paisa-
gens, não podemos nos esquecer
de que permearam toda a sua obra
também as naturezas-mortas, as
flores, os temas religiosos, os au-
torretratos e os retratos. Um exem-
plo de seus autorretratos pode ser
conferido na Figura 40.
Figura 40 Auto-retrato, Guignard.
Flávio de Carvalho
Flávio de Carvalho (1899-
1973) foi um dos mais versáteis
artistas do Modernismo brasileiro,
tendo atingido êxito em vários âm-
bitos: como arquiteto, pintor, de-
senhista, escultor e cenógrafo, por
exemplo. A Figura 41 demonstra
uma de suas obras.
Natural de Barra Mansa, no
Rio de Janeiro, foi com os pais ain-
da pequeno para São Paulo e fez
seu estudo superior na Inglaterra,
onde se formou em Belas Artes e
também em engenharia. Além de Figura 41 Auto-retrato, Flávio de
seu trabalho como pintor, merece Carvalho, 1965.
destaque também seu grande ta-
lento como arquiteto.
Cícero Dias
Natural de Pernambuco, Cícero Dias (1907-2003) mudou-se
em 1925 para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Escola Nacional
de Belas Artes. No entanto, o academicismo da escola desagradou
Dias, que a abandonou em 1928. Entre 1925 e 1928, conheceu vá-
rias figuras centrais do Modernismo, como Mário de Andrade, Di
Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.
A produção deste período foi marcada por desenhos e aqua-
relas de certa tendência surrealista. Ainda em 1928, Dias realizou
sua primeira individual no Rio de Janeiro, exposição que no mesmo
ano foi levada ao Recife e a Escada, sua cidade natal. Sua produção
se tornou ainda mais famosa, tendo continuado até a década de
1970. Observe a Figura 42 para conhecer um pouco do trabalho de
Cícero Dias.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 299
Núcleo Bernardelli
O Núcleo Bernardelli, criado em 1931, reunia artistas des-
contentes com o ensino acadêmico de arte no Brasil, por isso seu
nome homenageava os irmãos Bernardelli, Henrique, que abor-
damos na unidade anterior, e Rodolfo, que, quando mestres na
Escola Nacional de Belas Artes, se mostravam mais abertos do que
os outros às inovações.
O grupo instalou-se nos porões da Escola Nacional de Belas
Artes, mas em 1935 foi expulso de lá, devido às pressões dos mais
conservadores na Escola. Continuou suas atividades até 1942 e teve
entre seus membros nomes como Milton Dacosta, José Pancetti, en-
tre outros. Vejamos um pouco sobre a obra desses artistas.
Milton Dacosta
Milton Dacosta (1915-1988) foi um dos mais importantes
modernistas da segunda geração, ou seja, aqueles não contempo-
râneos à eclosão do Modernismo brasileiro, em 1922.
Tendo estudado na Escola Nacional de Belas Artes, chegou
a participar do Núcleo Bernardelli e, depois de viajar para os EUA
e para a Europa, retornou ao Brasil no final da década de 1940,
realizando obras figurativas de formas geometrizadas. Vejamos na
Figura 43 uma das obras de Milton Dacosta.
José Pancetti
O campineiro José Pancetti (1904-1958), outro represen-
tante da segunda geração modernista brasileira, destacou-se pela
técnica pictórica e pelo lirismo de suas obras, entre as quais se
destacam os retratos, as paisagens e, especialmente, as marinhas,
como pode ser observado na Figura 46.
A SPAM e o CAM
Em São Paulo, a movimentação em torno da arte moderna
foi mais intensa do que no Rio de Janeiro. Isso se refletiu na forma-
ção de associações como a SPAM e o CAM.
A Sociedade Pró-Arte Moderna - SPAM, que reunia nomes
como Lasar Segall, Anita Malfatti, Victor Brecheret e Tarsila do
Amaral, entre outros, foi responsável em 1933 por umas das mais
importantes mostras do Modernismo internacional no Brasil nos
anos 1930. Foram expostas obras de nomes como Picasso, Brancu-
si, Gris, entre outros.
Alfredo Volpi
Nascido em Lucca, na Itália, Alfredo Volpi (1896-1988) mu-
dou-se ainda bebê com os pais para São Paulo. Passando pelas
profissões de marceneiro, entalhador e encadernador, tornou-se
pintor e decorador na década de 1910, passando na década de
1930 a fazer parte do grupo Santa Helena.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 305
Francisco Rebolo
Francisco Rebolo Gonzáles (1902-1980), “sócio-fundador”
do Grupo Santa Helena, especializou-se em representar a cidade
de São Paulo, suas redondezas e paisagens em geral segundo uma
linguagem modernista concisa e extremamente viva. Devemos,
ainda, salientar uma curiosidade: o artista chegou a ser jogador
de futebol do Corinthians e foi ele o responsável pela versão do
distintivo do time que é usada até hoje, com os remos e a âncora
(mesmo tendo a versão atual passado por revisões que refinaram
seu design). As Figuras 50 e 51 apresentam duas obras de Francis-
co Rebolo.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 307
Mário Zanini
Mario Zanini (1907-1971) nasceu em São Paulo. De 1924 a
1926, frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, e depois da fundação
do Grupo Santa Helena, em 1934, participou de diversas exposi-
ções, individuais e coletivas.
Clóvis Graciano
Paulista de Araras, Clóvis
Graciano (1907-1988) foi outro
que começou sua vida artística no
Grupo Santa Helena. A paisagem,
os desenhos com modelos vivos e
as naturezas-mortas eram temas
obrigatórios de suas composi-
ções, cuja paleta muito se asse-
melhava à de seus companheiros.
Dentre as obras de Clóvis Gracia-
no, está a Dança das bandeirolas Figura 53 Dança das bandeirolas, Clóvis
(Figura 53). Graciano, 1943.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 309
Figura 54 Mural de Clóvis Graciano no Edifício Nações Unidas, na Avenida Paulista, em São
Paulo, 1959.
Fulvio Pennacchi
Fulvio Pennacchi (1905-1992) nasceu na Itália, ali iniciando
sua formação artística. Chegou ao Brasil em 1929 e passou então
a trabalhar como ceramista, pintor e professor de desenho, inte-
grando nas décadas de 1930 e 1940 o Grupo Santa Helena. Os te-
mas preferidos de Pennacchi eram os relativos à Bíblia, mas havia
também um enorme gosto pelos temas “caipiras” brasileiros, em
obras que representavam as festas populares e as pessoas do inte-
rior, como mostra a Figura 55.
Os museus
Até meados da década de 1940, o Brasil sofria de grande ca-
rência de museus. E, no caso de museus que se prestassem a exibir
obras de arte moderna, esta carência era ainda maior. Por isso,
como já vimos, grande parte dos artistas brasileiros que puderam
desenvolver uma linguagem modernista só conseguiu ter contato
com a arte moderna internacional por meio de viagens ao exterior.
No Brasil, a possibilidade de apreciação de obras de vulto,
especialmente modernista, dependia da boa vontade de agrupa-
mentos de artistas na organização de exposições esporádicas que
trouxessem obras dos EUA e, especialmente, da Europa.
Este cenário começou a mudar na década de 1940, com o
aparecimento do Museu de Arte de São Paulo, do Museu de Arte
Moderna de São Paulo e do Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro. A seguir, vejamos sobre cada em deles.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 311
O MASP
O Museu de Arte de São Paulo - MASP (Figura 56) foi o pri-
meiro grande museu “moderno” do Brasil. Fundado em 1947,
teve como seu grande mecenas o jornalista Assis Chateaubriand e
como diretor, Pietro Maria Bardi.
Parque do Trianon–––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O Parque do Trianon, chamado de Parque Tenente Siqueira Campos, foi inaugu-
rado em 1892, junto com a abertura da Avenida Paulista. O apelido de “Trianon”
deve-se a ter havido na frente do parque nas primeiras décadas do século 20,
onde hoje se encontra o MASP, o Belvedere Trianon, construção projetada por
Ramos de Azevedo do qual se via todo o Vale do Anhangabaú. Em 1957, o Bel-
vedere Trianon foi demolido para dar lugar ao MASP (Figura 57).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O MAM-SP
O Museu de Arte Moderna de São Paulo surgiu como uma
organização de caráter privado, em meados de 1948, embora sua
exposição de abertura tenha ocorrido apenas em março de 1949.
Em seu início, o MAM (Figura 58) dependia muito das coleções
particulares de Francisco Matarazzo Sobrinho, um de seus funda-
dores. Posteriormente, foi ganhando força e passando a abrigar
um dos maiores acervos de arte moderna e contemporânea da
América Latina. O edifício que hoje cedia o Museu, na marquise
do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi inaugurado em 1968.
Parque do Ibirapuera–––––––––––––––––––––––––––––––––––
Considerada uma das mais importantes áreas verdes de São Paulo, o Parque do
Ibirapuera foi inaugurado por ocasião das comemorações do IV Centenário da
fundação da cidade de São Paulo, em 1954.
Possui uma área de 1,6 milhões de m² e no seu interior encontram-se importan-
tes prédios públicos, vários museus, jardins, lagos e espaços esportivos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 313
Figura 58 O MAM-SP.
O MAM-RJ
O MAM do Rio de Janeiro foi inaugurado em janeiro de 1949,
em condição de precariedade: não possuía acervo e as instalações
resumiam-se a duas salas na sede de um banco.
Entretanto, apoiado pelos artistas, o MAM-RJ (Figura 59) se
tornaria ponto obrigatório de referência no meio cultural carioca,
promovendo exposições, cursos e eventos culturais. Deve-se des-
tacar também o seu edifício-sede, projetado por Affonso Eduardo
Reidy na década de 1950.
Figura 59 O MAM-RJ.
As Bienais
A 1ª Bienal de São Paulo (Fi-
gura 60) foi inaugurada em 20 de
outubro de 1951. A ideia partiu de
Ciccillo Matarazzo e, antes de ter
sua sede própria no Parque do Ibi-
rapuera, a primeira edição foi rea-
lizada no Trianon, na Avenida Pau-
lista. Lá foi construído um pavilhão
que foi apelidado de “caixotão”.
O dinheiro para a realização
da mostra saiu na sua maior par-
te do bolso de Matarazzo, com al-
guma colaboração dos governos
municipal, estadual e federal. Já a
segunda edição contou com maior Figura 60 Cartaz da Primeira Bienal
Internacional de São Paulo.
colaboração do dinheiro público,
devido às comemorações do IV
Centenário da cidade de São Paulo,
em 1954.
No catálogo da 1ª Bienal,
justificava-se a necessidade da
realização de uma mostra de arte
internacional no Brasil. Segundo o
texto, a cidade de São Paulo havia
crescido e, consequentemente, ha-
via aumentado o número de artis-
tas e o público interessado em arte
moderna. O MAM surgira como
núcleo de estímulo para as criações
artísticas nacionais, mas logo se
fez necessário ampliar a discussão
para um contexto internacional. Figura 61 Cartaz da Segunda Bienal
Internacional de São Paulo.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 315
MoMA–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O Museum of Modern Art - MoMA foi fundado em 1929. Pouco depois já era o
mais famoso e frequentado museu de Nova York, possuindo uma coleção que
rapidamente se tornaria uma das mais importantes do mundo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A primeira Bienal foi um grande sucesso. A segunda (Figura
61), inaugurada em dezembro de 1953 e durando até fevereiro de
1954, foi um sucesso ainda mais surpreendente, contando com a
presença de alguns dos maiores nomes da arte moderna interna-
cional.
Bienal de Veneza––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ocorrendo desde 1895, a Bienal de Veneza é até hoje a principal mostra perió-
dica de arte do mundo.
As primeiras edições deram mais destaque às Artes Decorativas, mas tal desta-
que foi abandonado especialmente a partir de 1907, quando começaram a ser
utilizados os pavilhões internacionais, cada um representando um dos países
participantes.
Depois da Primeira Guerra Mundial, a mostra passou a ser uma das grandes
“vitrines mundiais” da Arte Moderna e, a partir dos anos 1950, tudo o que surgiu
de mais inovador nas Artes Plásticas passou por ali.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
12. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da quarta unidade do Caderno de Refe-
rência de Conteúdo de História da Arte: Arte Internacional e Arte
Brasileira, na qual vimos como surgiu e se consolidou o Modernis-
mo no Brasil, dando à nossa arte a maturidade e a identidade que
não apresentara até então.
Na próxima unidade, vamos ver como a partir de meados da
década de 1950 a arte brasileira deu um novo salto com o Concre-
tismo e o Neoconcretismo; e como, nas décadas seguintes, nossos
artistas estabeleceram um diálogo cada vez mais forte com tudo o
que se fazia de mais instigante no cenário artístico internacional,
na chamada Pós-modernidade.
Até lá!
13. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 - Primeira página de jornal noticiando o assassinato de João Pessoa, então
presidente (o que chamaríamos hoje de "governador") da província (que hoje
chamaríamos de "estado") da Paraíba: disponível em: <http://www.jblog.com.br/
hojenahistoria.php?itemid=9360>. Acesso em: 25 out. 2010.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 317
Sites pesquisados
ARTE-SP. Galeria de Arte Ipanema. Disponível em: <http://www.sp-arte.com/catalogo/
catalogo2006/ipanema_06.php?acao3_cod0=a09251f33aa2a18e53c311ad52f26c99>.
Acesso em: 25 out. 2010.
ARTE E EVENTOS. Pintura brasileira. Disponível em: <http://www.arteeeventos.com.br/
paginas_leilao/categoria.asp?iCat=346&offset=114>. Acesso em: 25 out. 2010.
BLOG DIÁRIO BRASIL DIGITAL. Mostra sobre Clóvis Graciano no Espaço Cultural BM&F.
Disponível em: <http://brdigital.blogspot.com/2007/04/mostra-sobre-clvis-graciano-
no-espao.html>. Acesso em: 25 out. 2010.
BLOG DIÁRIO DA REVOLUÇÃO. CLT. Disponível em: <http://bizrevolution.typepad.com>.
Acesso em: 25 out. 2010.
BLOG DO RICARDO NOBLAT. Obra-prima do dia. Disponível em: <http://oglobo.globo.
© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 321
com/pais/noblat/default.asp?a=111&cod_blog=129&ch=n&palavra=&pagAtual=11&pe
riodo=200706>. Acesso em: 25 out. 2010.
BLOG E O PENSAMENTO VOA. Sarah. Disponível em: <http://eopensamentovoa.
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BLOG NAÇÃO E PALAVRA. Aula 18 – Oswald. Disponível em: <http://escritaesociedade.
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BLOG PHOTOGRAFIA. Alfredo Volpi. Disponível em: <http://pincel-photos.
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MATTAR, D. (Org.). No tempo dos modernistas. São Paulo: J. Sholna Reproduções Gráficas,
2002.
MILLIET, M. A. Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. São Paulo: MAM, 2002.
PEDROSA, A. Núcleo histórico: antropofagia e histórias de canibalismo – XXIV Bienal. São
Paulo: Marprint, 1998.
PILAGALLO, O. A história do Brasil no século 20. São Paulo: Publifolha, 2002.
REALE, M. Menotti Dl Picchia. Rio de Janeiro: AC&M, 1988.
ZANINI, W. História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 1983. v. 2.
EAD
Brasil: da Década de 1950
ao Ano 2000
5
1. OBJETIVOS
• Conhecer o contexto histórico do Brasil na segunda meta-
de do século 20.
• Entender como se deu a eclosão do Concretismo e do
Neoconcretismo em um país que buscava se “reinventar”.
• Identificar as principais características do Concretismo,
do Neoconcretismo e dos artistas desses movimentos.
• Entender como o que estava em voga na arte internacio-
nal das décadas de 1960 e 1970 (Arte Pop, Arte Concei-
tual etc.) foi adaptado e redimensionado para a aborda-
gem artística da realidade do Brasil da ditadura.
• Conhecer as principais características da arte surgida a
partir da década de 1980 e as poéticas pessoais de alguns
de seus artistas.
• Identificar as principais características e os principais no-
mes da arte surgida na década de 1990 no Brasil.
326 © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira
2. CONTEÚDOS
• Introdução: a superação da busca de uma identidade na-
cional na arte brasileira da segunda metade do século 20.
• Contexto histórico: suicídio de Vargas, os anos JK, Jânio e
a renúncia, Jango, Golpe Militar de 1964, ditadura, aber-
tura política, décadas de 1980 e 1990.
• Concretismo e Neoconcretismo.
• Artistas concretos e neoconcretos: Waldemar Cordei-
ro, Luiz Sacilotto, Geraldo de Barros, Anatol Wladyslaw,
Maurício Nogueira Lima, Aluísio Carvão, Ivan Serpa, Lygia
Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Amílcar de Castro, Franz
Weissmann.
• Final da década de 1960 e década de 1970: a Arte Con-
ceitual.
• Cildo Meireles, Carmela Gross, Waltércio Caldas.
• Final da década de 1960 e década de 1970: reflexos da
Pop Art no Brasil.
• Rubens Gerchman, Cláudio Tozzi, Nelson Leirner, José
Roberto Aguilar, Antonio Dias, Marcelo Nitsche, Wesley
Duke Lee.
• Década de 1980: a “Geração 80”.
• Leonilson, Leda Catunda, Daniel Senise, Sérgio Romagno-
lo, Lia Menna Barreto.
• A arte da década de 1990: linhas gerais.
• Nuno Ramos, Caetano de Almeida, Adriana Varejão, Dora
Longo Bahia, Edgard de Souza, Jac Leirner, Vik Muniz, Iran
do Espírito Santo, Rosângela Rennó.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Chegamos à quinta e última unidade do Caderno de Referên-
cia de Conteúdo de História da Arte: Arte Internacional e Arte Bra-
sileira. Na unidade anterior, vimos como, por meio do Modernis-
mo, o Brasil pôde digerir elementos das chamadas “vanguardas”
modernistas internacionais para fazer surgir artistas e obras que
apontavam para uma linguagem artística que, por diversos aspec-
tos, pôde finalmente ser chamada de “brasileira”.
Nesta unidade, veremos como, com o advento do Concretis-
mo e do Neoconcretismo, a arte brasileira superou a fase de afir-
5. CONTEXTO HISTÓRICO
Como vimos na unidade anterior, o cenário externo produzi-
do pela vitória dos aliados, apoiados pelo Brasil, e da democracia
sobre o Nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial reverberou no
cenário interno brasileiro, que também pedia mudanças. Teve en-
sejo, então, o fim da ditadura de Getúlio Vargas, com eleições di-
retas em 1945, e foi eleito para a presidência Eurico Gaspar Dutra.
O governo Dutra, indo numa direção contrária à do popu-
lismo getulista, primou pelo saneamento das contas do Estado,
promovendo um desaceleramento na industrialização do país. Nas
eleições de 1950, porém, Vargas candidatou-se à presidência da
república e obteve uma vitória esmagadora.
No novo governo Vargas, tornou-se ainda mais acirrada a
disputa entre nacionalistas-desenvolvimentistas (as correntes
mais à esquerda) e aqueles que viam o projeto nacionalista como
perigosamente “esquerdista” (a elite). Lembremo-nos também de
que na década de 1950 não apenas o Brasil, mas todo o mundo se
dividia ideologicamente, espelhando o auge da Guerra Fria.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 331
Figura 1 O famoso plano urbanístico em formato de avião, realizado para Brasília por Lúcio
Costa.
Figura 4 Reunião de alguns dos principais nomes da Bossa Nova: da esquerda para a direita:
Tom, Vinícius, Bôscoli, Roberto Menescal e Carlinhos Lyra.
Figura 8 Militares saem às ruas da capital e das principais cidades do país no golpe de 1964.
6. CONCRETISMO E NEOCONCRETISMO
No final da década de 1940, a arte brasileira ainda tinha a fi-
gura humana como tema predominante de suas obras. Quanto aos
estilos, apesar da presença de vários deles, o Expressionismo foi o
mais utilizado. Muitos dos artistas expressavam uma preocupação
social, muitas vezes mostrando engajamento, como, por exemplo,
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 343
Concretismo X Neoconcretismo
O Concretismo brasileiro teve início nos primeiros anos da
década de 1950, contando com artistas, especialmente do Rio de
Janeiro e de São Paulo. Em São Paulo, formou-se em 1952 o Grupo
Ruptura (Figura 19), pelos nomes que formariam o “núcleo duro”
do Concretismo Paulista e que desde o final da década anterior
vinham realizando obras ligadas ao abstracionismo geométrico.
Entre eles estavam Luiz Sacilotto (Figura 20), Waldemar Cordeiro
(Figura 21), Geraldo de Barros e alguns outros.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 345
Waldemar Cordeiro
Aprisionar a ideia em formas
pictóricas, pintar o mundo abstrato
dos conceitos no qual não existem
emoções, onde tudo é asséptico:
parece ter sido a intenção da arte
de Waldemar Cordeiro (1925-
1973). O artista, nascido na Itália,
chegou a São Paulo em 1946 e aca-
bou se tornando o principal teórico
do Concretismo Paulista. Vejamos
o estilo de Cordeiro na Figura 26. Figura 26 Idéia visível, Waldemar
Cordeiro, 1955,61 x 61 cm.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 349
Luiz Sacilotto
Luiz Sacilotto (1924-
2003) nasceu em Santo André
- SP. A pintura do início de sua
carreira mostra uma tendência
ao Expressionismo, com ênfase
especial para as cores e, no final
da década de 1940, suas obras já
adotavam a abstração de tendência
construtiva. Em 1952, formou-se o
Grupo Ruptura, e o convívio com os
outros concretistas resultou num Figura 27 Concreção 6047, Luiz Sacilotto,
profundo aprimoramento técnico- 1960.
estético de suas obras. Tal excelência levou-o a participar de seis
Bienais de São Paulo (1951, 1953, 1955, 1957, 1961 e 1967), da
Exposição Nacional de Arte Concreta (São Paulo – 1956 e Rio de
Janeiro – 1957) e de importantes mostras internacionais. Na Figura
27, podemos observar o estilo de Luiz Sacilotto.
Geraldo de Barros
Geraldo de Barros (1923-
1998), paulista de Xavantes, estu-
dou bastante tempo na Europa an-
tes de se tornar um dos principais
nomes do Concretismo brasileiro.
Lá, conheceu Max Bill, e, em 1952,
já de volta ao Brasil e produzindo
arte concreta, integrou o Grupo
Ruptura. Nas décadas seguintes,
conciliou seu trabalho artístico com
o design industrial. Veja na Figura Figura 28 Função diagonal, Geraldo de
28 uma das obras deste artista. Barros, 1952, 60 x 60 cm.
Anatol Wladyslaw
Anatol Wladyslaw (1913-
2004) nasceu em Varsóvia, na Polô-
nia, e mudou-se ainda adolescente
para o Brasil. Na década de 1940,
deu início à sua carreira de pintor
realizando obras figurativas. Entre-
tanto, aos poucos foi caminhando
para o abstracionismo geométrico,
com obras em que predominam as
composições ortogonais e a suges-
tão do desdobramento sucessivo de
planos de cor. Fez parte do grupo Figura 29 Composição, Anatol
concretista no início da década de Wladyslaw, 1952, 55 x 55 cm.
1950 e, na década seguinte, voltou
ao Figurativismo. Observe na Figura
29 uma de suas obras.
Aluísio Carvão
O paraense de Belém Aluísio
Carvão (1920-2001) começou sua
carreira como ilustrador, ainda no
Pará. Em 1949, mudou-se para o
Rio de Janeiro, passando a estudar
pintura com Ivan Serpa e integran-
do, na década de 1950, o Grupo
Frente. Em 1959, foi um dos artis-
tas a assinarem o Manifesto Neo-
concreto e, nas décadas seguintes,
conciliou seu trabalho artístico (Fi-
gura 31) com o de programador vi- Figura 31 Clarovermelho, Aluísio
sual. Carvão.
Ivan Serpa
O carioca Ivan Serpa (1923-
1973) iniciou sua formação artísti-
ca na década de 1940. Na década
de 1950, depois de publicar estu-
dos relacionados ao ensino da arte
para crianças, fundou, com Franz
Weissmann, Lygia Clark, Aluísio
Carvão, Hélio Oiticica e Lygia Pape,
entre outros, o famoso Grupo Fren-
te. Já na década de 1960, o artista
retomou o Figurativismo. Veja uma
de suas obras na Figura 32. Figura 32 Formas, Ivan Serpa, 1951.
Lygia Clark
Pintora e escultora, Lygia Clark (1920-1988) autointitulava-
-se uma “não artista”. Iniciou-se na arte em 1947, no Rio de Janeiro
e, em 1954, passou a integrar o Grupo Frente, a partir do qual de-
senvolveu uma pintura de extração construtivista, restrita ao uso
do branco e do preto em tinta industrial.
Hélio Oiticica
Nascido no Rio de Janeiro em 1937 e morto aos 42 anos na
mesma cidade, Hélio Oiticica iniciou seus estudos de pintura e de-
senho no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954. Nos
dois anos seguintes, participou do Grupo Frente, entrando tam-
bém no movimento neoconcreto.
Oiticica era o mais jovem dos neoconcretos, e realizou uma
experiência muito pessoal e audaciosa. Primeiro, reduziu seu cam-
po de interesse, fazendo variações apenas na intensidade e na tex-
tura de seus quadros. Neste período, se a cor era o motor principal
de outros artistas, em Oiticica a forma foi o elemento mais impor-
tante.
Lygia Pape
A fluminense Lygia Pape (1927-2004) foi outra artista que in-
tegrou o Grupo Frente e assinou depois o Manifesto Neoconcreto.
Já na década de 1960, passou a trabalhar com o audiovisual, não
apenas participando da programação visual de filmes, como tam-
bém fazendo suas próprias experimentações com filmes. A liber-
dade com que a artista manipulava os meios com que trabalhava
e a diversidade de experimentações a partir da década de 1960
atrelam sua estética e carreira às de Lygia Clark e Hélio Oiticica.
Observe nas Figuras 41 e 42 algumas das obras de Lygia Pape.
Amílcar de Castro
O mineiro Amílcar de Castro (1920-2002), escultor, desenhista
e diagramador, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1952. Em 1956,
participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta em São Paulo e
no Rio de Janeiro, e assinou o Manifesto Neoconcreto em 1959.
Em 1968, viajou para Nova York e, em 1971, retornou ao Bra-
sil, fixando-se em Belo Horizonte. A partir de 1973, passou a lecio-
nar. Já a partir de 1990, Amílcar encerrou suas atividades docentes
e passou a dedicar-se unicamente à criação artística, voltando a
pintar e desenvolvendo trabalhos em cerâmica (Figura 43).
Franz Weissmann
Franz Weissmann foi um escultor nascido em Knittelfeld, na
Áustria, em 1914, que veio com a família para o Brasil em 1924 e
até recentemente residia e trabalhava no Rio de Janeiro (o artista
faleceu em 2005). O artista fez parte da primeira geração de con-
cretistas brasileiros, tendo sido referência fundamental para todas
as gerações seguintes de escultores. Vejamos na Figura 44 a escul-
tura Cantoneiras de Franz Weissmann.
Arte Conceitual
A partir da segunda metade da década de 1960, várias das
tendências que surgiram na arte internacional chegaram também
ao Brasil, permeando as poéticas pessoais e os movimentos artís-
ticos surgidos por aqui. Uma dessas tendências foi a Arte Concei-
tual, que abordamos em âmbito internacional na Unidade 2, uma
das que mais influência exerceu sobre os nossos artistas.
Waltércio Caldas
Waltércio Caldas, carioca nascido em 1946, é escultor, dese-
nhista, cenógrafo e figurinista. Destacou-se a partir da década de
1970, em trabalhos que dialogam fortemente com a Arte Concei-
tual, entre outras tendências.
Veja na Figura 48 o estilo deste artista.
Rubens Gerchman
Tendo estudado na Escola Nacional de Belas Artes no
início da década de 1960, Rubens Gerchman (1942-2008)
foi um dos artistas brasileiros mais ligados à linguagem da
Arte Pop. Para isso contribuiu também sua passagem pelos EUA,
na virada da década de 1960 para a década de 1970.
Cláudio Tozzi
O paulistano Cláudio Tozzi, nascido em 1944, é um dos mais
importantes representantes da Arte Pop no Brasil. Em sua arte, en-
contramos não apenas referências à cultura e à visualidade brasi-
leiras (por exemplo, papagaios, como podemos observar na Figura
55), como também ao que acontecia, ou melhor, ao que “explo-
dia”, pelo efervescente mundo do final da década de 1960 e início
da década de 1970 (por exemplo, Che Guevara, demonstrado na
Figura 53 e Astronautas, dispostos na Figura 54).
Podemos citar como uma das grandes influências de Tozzi o
norte-americano Roy Lichtenstein, que abordamos na Unidade 1.
Nelson Leirner
O paulistano Nelson Leirner, nascido em 1932, é desde a dé-
cada de 1960 um dos mais importantes nomes da arte brasileira.
Fortemente ligado aos procedimentos da Arte Conceitual e da Arte
Pop e utilizando-os com um acirrado espírito crítico e provocador,
Leirner tornou-se uma referência de “não conformismo” na arte
brasileira. Também trabalhou lecionando em São Paulo (na FAAP)
e no Rio de Janeiro. Vejamos na Figura 56 uma obra de Nelson
Leirner realizada com colagem de figuras adesivas.
Antonio Dias
Pintor e artista multimídia, Antonio Dias nasceu em Campina
Grande - PB, em 1944. Em 1958 mudou-se para o Rio de Janeiro e
ainda muito jovem entrou para o mundo da arte, “despontando”
com cerca de 20 anos de idade. Suas obras estão entre as que mais
se destacam entre as dos artistas brasileiros no final da década de
1960 e início de 1970. Desde então, Dias vive entre o Brasil e a Eu-
ropa. Vejamos nas Figuras 59 e 60 algumas de suas obras.
Marcelo Nitsche
O paulistano Marcelo Nitsche, nascido em 1942, é um artista
que atua em várias mídias. Começou se destacando, na década
de 1960, por obras que se aproximavam das estéticas de alguns
nomes da Pop Art norte-americana. Depois, passou a trabalhar
pesquisando a gestualidade na pintura, além de produzir escultu-
ras que estão em importantes espaços públicos da cidade de São
Paulo.
Observe duas obras deste artista nas Figuras 61 e 62.
8. DÉCADA DE 1980
Já vimos em nossa introdução histórica que, na década de
1980, o Brasil foi marcado pela abertura política e pela volta da
democracia. O cenário de abertura tornou-se ainda mais flagrante
nas artes plásticas que, ainda mais do que nas décadas anteriores,
foram influenciadas pelo que vinha acontecendo nas vanguardas
artísticas internacionais.
Assim, se internacionalmente a década de 1980 marca um
retorno “pós-moderno” das artes plásticas à pintura, no Brasil não
foi diferente. Surgiu, então, a geração de jovens artistas que foi
chamada de “Geração 80”.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 371
A produção da Geração 80 é
caracterizada especialmente por
grandes telas, pintura vigorosa e o
reencontro com a emoção provo-
cada pela cor e pela gestualidade
das pinceladas. Tal tendência mar-
ca, de certa forma, uma reação ao
intelectualismo e ao hermetismo,
ou seja, à complexidade e à dificul-
dade de captação do sentido das
obras, da geração anterior, muito
mais ligada aos procedimentos da
Arte Conceitual. Vejamos na Figura
64 uma obra de Leonilson, um dos
artistas da Geração 80.
Além disso, não deixaram de
permear a arte da Geração 80 os
diálogos críticos com a realidade
brasileira. Entre os artistas inicial-
mente ligados à pintura surgidos
então podemos citar Leonilson, Figura 64 Todos os rios levam à sua
boca, Leonilson, 1988, 210 x 100 cm,
Leda Catunda, Daniel Senise (Figu- acrílica sobre lona.
ra 65), além de outros.
Leonilson
Surgindo como um dos grandes expoentes da Geração 80,
Leonilson (1957-1993) logo abandonou os vínculos com qualquer
classificação ou “rótulo” deste tipo para se tornar um dos artistas
mais importantes do Brasil nas últimas décadas.
Sua arte tem um caráter muito pessoal, manifestado tanto
em termos estilísticos quanto temáticos, já que não havia para o
artista separação entre arte e vida, o que faz com que seus traba-
lhos lembrem, às vezes, um “diário”. Há, também, muito lirismo e
romantismo emanando de suas obras.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 373
Leda Catunda
A paulistana Leda Catunda, nascida em 1961, devido ao seu
papel de destaque, é considerada uma espécie de “musa” da cha-
mada Geração 80. Tendo estudado na FAAP, fez sua primeira ex-
posição individual no Rio de Janeiro, em 1985. A partir de então,
foi mesclando seu interesse inicial pela pintura com um grande ta-
lento como assemblagista, celebrizado em mostras no Brasil e no
exterior. Observe nas Figuras 70 e 71 algumas das obras da grande
“musa” da Geração 80.
Daniel Senise
O carioca Daniel Senise, nascido em 1955, foi outro nome
de destaque da Geração 80. Ele realiza uma pintura que transita
pelo Abstracionismo e pelo Figurativismo e que, segundo os estu-
diosos, se caracteriza pela ambiguidade e pelo jogo de “revelar e
ocultar”. Vejamos o estilo de Daniel Senise na Figura 72.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 375
Figura 72 Misty, Peach, Vision, Petal I, Daniel Senise, 2004, 215 x 215 cm.
Sérgio Romagnolo
O paulistano Sérgio Romag-
nolo, nascido em 1957, é um re-
presentante “escultórico” da Ge-
ração 80. A “marca registrada” da
sua estética é a realização de figu-
ras moldadas em argila e cobertas
com plástico derretido, muitas
vezes releituras de esculturas de
obras famosas, como os profetas
realizados por Aleijadinho (Figura
73) em Congonhas do Campo, por Figura 73 Exemplo de releitura de
exemplo. profeta de Aleijadinho: Jeremias, Sérgio
Romagnolo, 1992, plástico moldado.
9. DÉCADA DE 1990
Falarmos da arte brasileira mais recente, aquela que tomou
corpo a partir da década de 1990, é uma tarefa difícil. Isto porque,
como sabemos, quanto maior a proximidade histórica com um as-
sunto, maior é a dificuldade de abordá-lo sistematicamente. Por
isso mesmo, decidimos chegar à década de 1990 e não continuar
até a arte dos dias atuais, porque a falta de distanciamento torna-
ria o trabalho praticamente impossível.
Podemos dizer que, de maneira geral, há um conjunto de
conceitos e atitudes que permeia as poéticas pessoais surgidas na
década de 1990, tais como:
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 377
34 com scars–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na obra 34 com scars (Figura 77), Leonilson toca-nos “falando” de si mesmo.
Para tanto, registra a sua idade (34 anos) e mostra-nos como foram 34 anos
cheios de cicatrizes (scars), mas o faz com grande delicadeza, em um pequeno
pano e com poucos pontos de bordado.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
4) Em contrapartida, muitas vezes os artistas investem em
um jogo ambíguo de exposição e anonimato; ou seja:
lado a lado com a subjetivação, caminha em sentido
contrário uma dissolução ou escamoteamento do artista
enquanto personagem abordado na obra.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 379
Figura 79 Sem título, Nuno Ramos, 1994, 321 x 663 x 235 cm.
Nuno Ramos
Além de artista plástico, o paulistano Nuno Ramos, nascido
em 1960, é poeta e formado em filosofia. Suas obras tridimensio-
nais começaram a aparecer da metade para o fim da década de
1980; e é justamente nelas que se encontra uma grande amostra
do processo do artista, que integra fragmentos em conjuntos bas-
tante orgânicos (Figura 80).
Caetano de Almeida
Pintor e gravador (artista especializado na realização de
gravuras), Caetano de Almeida, paulista de Campinas nascido em
1964, foi, durante a década de 1980, aluno de Nelson Leirner no
curso de artes plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado.
Atualmente, continua se dedicando tanto à gravura quanto à pin-
tura. Algumas de suas obras mais famosas são releituras do pintor
francês Jean-Marc Nattier (Figura 81).
Adriana Varejão
A carioca Adriana Varejão, nascida em 1964, destaca-se es-
pecialmente por suas pinturas. Estas dialogam, entre outros as-
pectos, com elementos do período colonial brasileiro, tais como
azulejos (Figura 82) ou mapas.
Figura 83 Sem título (da Série “Imagens Infectas”), Dora Longo Bahia, 2000,
Serigrafia e relevo (chapa perfurada de metal), 44,2 x 44,2 cm.
Edgard de Souza
Outro importante artista contemporâneo brasileiro formado
na FAAP, o paulistano Edgard de Souza, nascido em 1962, é um dos
nomes atuais de nossa arte mais fortemente ligados aos procedi-
mentos da Arte Conceitual. Tal ligação se deu também por forte
influência de Nelson Leirner. Não podemos, porém, deixar de des-
tacar o talento de Souza no campo da escultura (Figura 84).
Jac Leirner
Jac Leirner, nascida em 1961, trabalha geralmente retirando
dos objetos o seu valor de uso e de mercado. Com isso, atua como
se substituísse algo como a “alma” comercial – suponhamos, para
fins didáticos, que cada pequeno objeto, mesmo industrializado,
do nosso mundo, tenha algo não visível e não bi ou tridimensional
que chamaremos, errada e propositalmente, de “alma” – dos ob-
jetos por outra mais nobre, uma “alma” artística.
Observe na Figura 85 uma das obras deste artista.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 385
Vik Muniz
O paulistano Vik Muniz, nascido em 1961, tem como um dos
principais recursos de sua estética a realização de releituras de
obras célebres de toda a História da Arte Ocidental. Essas releituras
são, em geral, realizadas com materiais inusitados, tais como açúcar,
calda de chocolate (Figura 88), terra, lixo ou fios, transformando ele-
mentos banais do cotidiano em objetos preciosos, o que configura a
verdadeira “alquimia” da arte de Muniz. Atualmente, ele é um dos
artistas brasileiros mais conhecidos internacionalmente.
Figura 86 Pollock pintando em seu estú- Figura 87 Pollock de chocolate, Vik Mu-
dio em 1950. niz, 1997.
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© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 387
Rosângela Rennó
Artista mineira nascida em
1962, Rosângela Rennó trabalha,
entre outras mídias, com pinturas
e relevos, mas também com a ima-
gem fotográfica (Figura 90), os acon-
tecimentos “jornalísticos” e o texto,
oferecendo a estes elementos uma
transmutação de significados que
aparece como um recurso bastante
enriquecedor da sua obra. Figura 90 A última foto, Rosângela
Rennó.
3) Com a chegada da ditadura militar, a arte brasileira foi afetada? Por que e
como?
5) Entre as questões levantadas pela arte da década de 1990, quais tocam mais
a minha sensibilidade? Por quê?
12. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 - O famoso plano urbanístico em formato de avião, realizado para Brasília por
Lúcio Costa: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9c/
Brasilia_-_Plan.JPG>. Acesso em: 9 fev. 2011.
Figura 2 - A Praça dos Três Poderes sendo construída: disponível em: <http://www.
Figura 33 - Superfície Modulada – série B nº 1, Lygia Clark, 1958, 100 x 100 cm: disponível
em: <http://www.sp-arte.com/userfiles/02_dan_clark.jpg>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 34 - Bicho, Lygia Clark, 1960: disponível em: <http://dimensaoestetica.blogspot.
com/2007/05/dimenso-esttica-por-lygia-clark.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 35 - Trepante, Lygia Clark: disponível em: <http://mps.onne.com.br/0e89327b53
14ee26c9e0d9c4b68aebcb.jpg>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 36 - Diálogo: óculos, Lygia Clark, 1968: disponível em: <http://www.mediaartnet.
org/assets/img/data/1790/bild.jpg>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 37 - Metaesquema, Hélio Oiticica, 1958, 55 x 63,7 cm: disponível em: <http://
www.studio-international.co.uk/studio-images/oiticica/Meta4_b.jpg>. Acesso em: 26
out. 2010.
Figura 38 - Grande núcleo, Hélio Oiticica, 1960-66: disponível em: <http://www.
artknowledgenews.com/files2007a/HelioOiticica.jpg>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 39 - Parangolé P4 Capa 1, Hélio Oiticica, 1964: disponível em: <http://www.
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Figura 40 - Vista externa da instalação "Tropicália", de Oiticica, 1967: disponível
em: <http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo4/g4/
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Figura 41 - Obra de Lygia Pape de 1957: disponível em: <http://www.modernamuseet.
se/feature/2008/Rio/pape.jpg>. Acesso em: 1º maio 2009.
Figura 42 - Caixa de baratas, Lygia Pape, 1967: disponível em: <http://artebrasileira1960.
blogspot.com/2007/11/lygia-pape.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 43 - Escultura de Amílcar de Castro no jardim do MAC-USP: disponível em:
<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/00/Jardimmac-amilcardecastro.
jpg>. Acesso em: 9 fev. 2011.
Figura 43 - Cantoneiras, Franz Weissmann, 1975, escultura na frente do MAM-SP:
disponível em: <http://esculturasemsaopaulo.blogspot.com/2007/10/cantoneiras-
franz-weissmann-knittelfeld.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 45 - Amostra do Projeto Cédula – que tinha a ideia de colocar informações ou
opiniões críticas em cédulas de dinheiro e devolvê-las à circulação, como forma de
promover a circulação de informações e a liberdade de expressão, Cildo Meireles,
1970: disponível em: <http://www.tate.org.uk/images/cms/16523w_godfrey_02.jpg>.
Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 46 Parla!, Cildo Meireles, 1982: disponível em: <http://www.macvirtual.usp.br/
mac/templates/projetos/seculoxx/modulo6/cildo/parla.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 47 - Carimbos, Carmela Gross, 1978: disponível em: <http://artebrasileira1970.
blogspot.com/2007_11_01_archive.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 48 - Como funciona a máquina fotográfica?, Waltércio Caldas, 1977, fotografia,
40 x 30 cm: disponível em: <http://artebrasileira1970.blogspot.com/2007/06/waltrcio-
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Figura 49 - Não entre à esquerda, Maurício Nogueira Lima, 1964: disponível em: <http://
artebrasileira1960.blogspot.com/2007_05_01_archive.html>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 50 - Multidão, Cláudio Tozzi, 1968: disponível em: <http://www.marmitexto.
© U5 - Brasil: da Década de 1950 ao Ano 2000 393
Figura 83 - Sem título (da Série "Imagens Infectas"), Dora Longo Bahia, 2000, serigrafia
e relevo (chapa perfurada de metal), 44,2 x 44,2 cm: disponível em: <http://www.
pedacodavila.com.br/imagens/fotos/foto59-1.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2010.
Figura 84 - Sem título, Edgard de Souza: disponível em: <http://www.cosacnaify.com.br/
loja/internas/edgard.jpg>. Acesso em: 26 out. 2010.
Figura 85 - Adesivos, Jac Leirner: disponível em: <http://www.universes-in-universe.de/
car/habana/bien7/cabana3/d-leirner.htm>. Acesso em: 26 out. 2010.
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