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de Platão a Peirce
LUCIA SANTAELLA
Estética:
de Platão a Peirce
EDITORA C0D3S
Estética: de Platão a Peirce.
Copyright © 2017, Lucia Santaella.
EDITORA C0D3S
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Editor, revisor, diagramador e ilustrador: Thiago Mittermayer | Fonte da capa: Civane Norm criada por
Jeremy Dooley
Catalogação:
SANTAELLA, Lucia. Estética: de Platão a Peirce. São Paulo: Editora C0D3S, 2017.
Para Brooke Williams e John Deely sob cujo teto, num inverno
inimaginavelmente gélido, mas envolvida no calor, carinho, alegria e
desprendimento de suas amizades límpidas, este livro começou a ser escrito.
SUMÁRIO
ABERTURA
INTRODUÇÃO GERAL
PRIMEIRA PARTE
As estéticas filosóficas: introdução
1. As aparições do belo
2. A gestação do gosto e do sublime
3. A emergência da estética
4. O apogeu da estética
5. A multiplicação das estéticas
SEGUNDA PARTE
A estética de C. S. Peirce: introdução
NOTAS FINAIS
REFERÊNCIAS
ABERTURA
Peirce não deixou nenhum tratado sobre estética. Aliás, não obstante
tenha, quando jovem, estudado, com muito cuidado e paixão, as cartas Sobre
a educação estética da humanidade, de Johan Christoph Friedrich von
Schiller (1759-1805), e fosse um grande conhecedor da obra de Kant, não
obstante tivesse um grande interesse pelas artes e fosse bom conhecedor da
literatura, por várias vezes, ele se declarou um ignorante em estética. Se ele
próprio não ocultou sua ignorância, como justificar este estudo monográfico
que aqui pretendo apresentar ao leitor?
Muito bem, tudo isso para dizer que a estética peirceana é uma entre
várias disciplinas que se configuram no interior de uma arquitetura filosófica
concebida como ciência. Por tudo que possa soar estranho à primeira vista, a
estética é, para Peirce, uma disciplina filosófica e científica cujo conteúdo só
pode se tornar compreensível quando examinado nas múltiplas relações
existentes entre a estética e as demais disciplinas filosóficas, do mesmo modo
que o diagrama filosófico peirceano como um todo só pode se tornar
compreensível nas relações que a filosofia estabelece com áreas científicas
extrafilosóficas. O estudo dessas relações, tendo em vista o desenho do perfil
específico da estética na filosofia científica de Peirce, será, conforme já foi
sugerido, o assunto da segunda parte.
Havendo no estado da arte, uma tal divisão entre os intérpretes, ela será
tomada também como uma das referências deste livro. Assim sendo, o nono
capítulo estará voltado especificamente para a discussão de uma estética
semiótica de linha peirceana. Em resumo, o livro seguirá a seguinte estrutura:
As Estéticas Filosóficas, primeira parte; A Estética Filosófica de Peirce,
segunda parte. Os cinco capítulos da primeira parte seguirão uma sequência
tanto quanto possível histórica, no sentido mais simples da palavra história,
quer dizer, numa cronologia quase linear, que só será deliberada ou
involuntariamente interrompida sob força das necessidades criadas pela
argumentação de algumas ideias. Os cinco capítulos da segunda parte tratarão
da estética peirceana em profundidade, desde suas relações com o quadro
mais amplo da obra e das outras disciplinas filosóficas até os dilemas que
tiveram que ser enfrentados para que a estética se sustentasse como uma
filosofia científica. Serão também trabalhadas as relações entre estética e
semiótica. Visualmente, a primeira parte pode ser comparada a uma linha
horizontal e a segunda a uma linha vertical. O livro traz a esperança de que o
virtual ponto de encontro dessas duas linhas possa produzir no leitor algumas
faíscas de iluminação.
INTRODUÇÃO
De acordo com Dickie et all (1977, p. 6), a Poética não exibe a justeza de
estrutura, o rigor dos argumentos e a sistemática da exposição que são típicos
de outras obras aristotélicas, porque os manuscritos que deram origem a essa
obra vieram muito provavelmente de uma série de notas de palestras a partir
das quais ele pretendia escrever um tratado completo. De todo modo, é o
primeiro estudo minucioso dos princípios estruturais das obras de arte, o
primeiro tratado sistemático a lidar com a arte poética como um fazer
genuíno do qual se origina um todo orgânico, ideia matriz na concepção da
obra de arte que tem perdurado por mais de vinte séculos.
A arte não imita coisas, ideias ou conceitos. Ela mostra como a natureza
trabalha e assim o faz através da construção de suas próprias criações, daí seu
poder transfigurador. As obras não são réplicas ou cópias, mas ficções
reveladoras, produtos da imaginação criativa orientada para o fazer,
imaginação produtiva. A arte está voltada para os princípios formativos que
operam na natureza e na vida, imita-os e os encarna em estruturas feitas pelo
homem. Na junção da téchne, sabedoria na operação com os meios, com a
poiesis, capacidade criadora, o poeta é capaz de revelar poeticamente
verdades concernentes à natureza e à vida que não apareceriam sem a sua
intervenção. A arte, sob esse ponto de vista, tem muito pouco ou nada a ver
com a exigência de correspondência a qualquer modelo preestabelecido, mas
sim com o estabelecimento de representações convincentes, internamente
procedentes, quer dizer, verossimilhantes. E eis aí, na verossimilhança, mais
um dos conceitos originados em Aristóteles, indispensável à teoria e crítica
de arte e literatura até os nossos dias.
Ao final de sua tese, Umberto Eco conclui que o mundo medieval entrou
em crise não apenas devido às dificuldades de conciliação das forças opostas
que lutavam em seu interior, mas porque a realidade foi se tornando cada vez
mais prática e as pessoas não encontravam, nas abstrações medievais,
instrumentos de conhecimento para sua vida cotidiana. O esplendor do belo
inteligível de uma certa forma, se viu sombreado pela irrupção do prosaico.
Não foi a França, mas a Alemanha que viu nascer a primeira exposição
rigorosamente cartesiana da estética. Ela veio com o tratado Aesthetica,
escrito em latim e publicado em 1750, por Baumgarten (1961). Em 1735, nas
suas Reflexões filosóficas acerca da poesia, Baumgartem (1954) via a
estética como a equivalente sensual da lógica, quer dizer, a estética estava
para a sensorialidade, conhecimento inferior, do mesmo modo que a lógica
estava para o pensamento, conhecimento superior. Já no primeiro parágrafo
da Aesthetica, esta era tomada como a scientia cognitionis sensitivae, “teoria
das artes liberais, gnoseologia inferior, arte de pensar belamente, arte da
razão análoga”. O que ele queria investigar não era nem o mero gosto, nem as
meras sensações — o sentimento que se registra num sujeito em resposta a
um estímulo —, mas um modo de conhecimento. Como seus mestres
racionalistas, especialmente Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), ele
havia aprendido a dividir o conhecimento em dois tipos: aquele que nos dá
ideias claras para a vida prática e aquele que nos dá ideias distintas através do
exame das partes elementares das coisas. Também aprendeu a distinguir entre
as funções superiores e inferiores da psiqué. Mas Baumgarten voltou sua
atenção para uma espécie de conhecimento intermediário, um modo de
percepção em que o todo não é reconhecido para propósitos práticos, nem
pode ser submetido aos procedimentos analíticos da ciência ou filosofia.
Utilizando definições formais, axiomas, provas e corolários, o autor visava
demonstrar que a percepção sensitiva tem uma estrutura formal própria, cujas
perfeições a ciência estética tem por função revelar. Tomando a razão teórica
por modelo, buscava dar legitimidade para a estética, invocando para isso a
razão analógica, como forma de saber sobre aquilo que a esfera da arte revela
e de que a razão por si mesma não pode dar conta. Nesse novo contexto, o
belo ressurgiu convertido em finalidade, em objeto teórico de uma nova
disciplina, a estética, que é “a perfeição do conhecimento sensitivo enquanto
tal”, perfeição que não é outra coisa senão a beleza (Jiménez, 1992, p. 30-31).
Não há nada que a natureza possa fazer que não tenha um propósito. Por
outro lado, um dos traços mais inerentes à mente é o de se aproximar de
qualquer coisa que seja sob a rubrica do propósito, ou melhor da finalidade.
Só a forma da finalidade, segundo Kant, pode satisfazer as condições da
concordância universal, implícita em nossos julgamentos do belo, que devem
ser públicos ou interpessoais, reguladores e válidos em si mesmos. Para Kant,
o julgamento do belo é uma das espécies de julgamento reflexivo, quer dizer,
aquele julgamento de um particular em busca de um conceito ou regra
universal. Já o julgamento determinado é aquele em que o universal é dado e
sob o qual um particular é englobado. Os julgamentos práticos são
determinados, quer dizer, temos um conceito determinado concernente ao que
é útil ou prudente, por exemplo, e aplicamos o conceito a uma situação
particular. Mesmo uma escolha particular pressupõe uma regra determinada,
a do imperativo categórico. Os julgamentos cognitivos também pressupõem
propósitos determinados, que são descobertos através da investigação
empírica de certos assuntos ou pela análise racional. O belo, por sua vez,
pressupõe o que Kant chamou de conceito indeterminado. Como resolver no
entanto, o paradoxo entre a finalidade selando toda experiência humana e a
falta de um propósito definido e determinado no julgamento estético?
A partir dessa passagem, Coleman nos diz que os nichos próprios ao belo
e o sublime pareceriam ser: 1. um conceito empírico ou 2. um conceito puro;
3. uma noção ou 4 uma ideia. Mas há razões para Kant não ter colocado o
belo em nenhuma dessas quatro “espécies”. O belo não poderia ser um
conceito empírico, nem poderia ser um conceito puro, pois julgamentos do
belo não são singulares, nem conotam um “traço que várias coisas têm em
comum”. Não sendo nem empírico, nem a priori, nem uma noção, nem uma
ideia da razão, e não sendo nem mesmo um ideal, a que gênero, então,
pertence o belo?
Se for assumido que alguns objetos belos são produzidos por pessoas que
agem propositadamente para produzi-los assim, então uma explicação para a
criação da beleza se torna necessária. Quando produzimos propositadamente
qualquer coisa que seja, o produto de tal produção se ajusta, de um modo ou
de outro, a um conceito que lhe é antecedente. Qual é o conceito utilizado
para a produção de um objeto belo? Nenhum, é claro, pois, se houvesse um
tal conceito, ele seria o mesmo a ser utilizado para julgar os objetos. E Kant
já havia argumentado sobejamente sobre a inexistência de regras prontas para
a apreciação do belo. Então, como pode alguém produzir propositadamente
algo belo? Somente se houver uma capacidade especial para isso, diferente de
qualquer capacidade comum, quer dizer, uma habilidade para o fazer que está
de acordo com algo semelhante a um conceito, mas que não é um conceito.
Kant chamou de gênio essa capacidade ou talento. E aqui foi encontrado o
delicado ponto de compatibilidade entre o julgamento do gosto e o fazer do
gênio, para os quais se faz necessário, antes de tudo, o equilíbrio entre as
exigências da finalidade sem fim da forma, de um lado, com a liberdade da
imaginação, de outro.
Num belo artigo onde busca explicar por que a beleza é um símbolo da
moralidade em Kant, Cohen (1982, p. 221-236) toma como ponto de partida
uma interpretação bastante sugestiva daquilo que o objeto belo é e faz. Há um
sentido em que um objeto belo não tem qualquer característica, assim como
há um sentido em que o julgamento do belo não diz respeito a nenhum
objeto. Há três modos através dos quais as coisas fazem sentido para nós: 1.
quando algo nos dá prazer sensório; 2. quando contemplamos algo a fim de
compreendê-lo; 3. quando utilizamos algo para alguma finalidade. No caso
do objeto belo, não se trata de nenhuma dessas três alternativas e, não
obstante, ele faz sentido para nós, um sentido ou coerência, portanto, que é,
em princípio, inexplicável. Cohen levanta, então, a hipótese de que o
julgamento do gosto, em Kant, é o caso limite, ao mesmo tempo que é o
emblema da habilidade humana para extrair sentido das coisas. Tendo como
referência nossa capacidade para julgar em termos de interesses, conceitos e
propósitos, no julgamento do gosto, Kant destacou apenas um desses
aspectos: o propósito ou finalidade, mas caracterizou esse propósito de modo
perturbador. O belo, ele disse, é a finalidade de um objeto, na medida em que
é percebido no objeto sem qualquer representação de finalidade. Ao ser
julgado, portanto, o objeto exibe a finalidade sem fim. O belo desperta a
harmonia de nossas faculdades cognitivas, harmonia que é atingida sem o uso
de conceitos. Ora, sem conceitos, não podemos considerar o objeto em
termos de qualquer finalidade. Mesmo assim, ele tem finalidade para as
nossas faculdades cognitivas. Mera congruência sem qualquer conteúdo
material. O belo exibe apenas a forma da finalidade Após essa exposição,
Cohen levanta a pergunta crucial qual é a similaridade formal que pode haver
entre o objeto belo e a vontade do bem?
Não obstante sua admiração, existiam pontos com os quais Schiller sentia
que Kant estava em falta. Era fácil dizer que o belo consistia apenas na
forma, ou definir uma resposta estética pura como prazer desinteressado, se
um arabesco, digamos, era o modelo de que se partia. Como ficavam,
contudo, as artes representativas? Como ficava a tragédia com sua imemorial
encenação de urgências vitais expressas no sacrifício, morte, renascimento?
Como ficavam as artes cujos materiais não despertam prazer, mas, ao
contrário, evocam os tabus e medos mais viscerais não menos do que as mais
altas esperanças e árduas lutas morais? E o prazer do jogo livre da
imaginação, só poderia ser atingido na ausência de interesses vitais e, mais do
que isso, perturbadores? Enfim, onde localizar, na experiência estética, os
estados febris da existência humana?
Se a arte pode educar, ela tem de acertar contas também com o caos. Não
importa quão belas as formas possam ser, elas não irão além da periferia de
nossa vida sensível, se não enfrentarem também as paixões e pulsões que
estão nas raízes indômitas da vontade e do desejo. O escrúpulo com as
definições ascéticas não levou Kant ao abandono das conexões mais
profundas da arte com a vida, deixando cuidadosamente fora de alcance as
zonas mais obscuras e incompreensíveis da psiqué humana? Como construir
uma crítica do ato moral puro sobre uma visão tão parcial das forças que
movem a humanidade? Como pode, além disso, a liberdade, a mais
insubordinada dentre todas essas forças, ser expressa no modo imperativo?
A arte em uma limitação que só pode ser superada pela filosofia, porque,
para atingir a verdadeira identidade do conhecedor e do conhecido, a arte
ainda precisa de um elemento limitador de externalidade, quer dizer precisa
de uma forma sensória para se conhecer a si mesma, ficando, assim, presa
numa separação. Muito embora essa separação não seja tão extrema quanto a
separação ou dualidade irremediável da imitação, a verdadeira forma do
autoconhecimento não está no autoconhecimento sensório da arte, mas no
autoconhecimento racional da filosofia.
Não há, contudo, uma oposição entre filosofia e a arte porque a obra de
arte torna concreto um significado universal. A forma da obra de arte nasce
dela de modo imanente. Sua concretude não é nem uma particularidade
empírica nem uma forma universal desencarnada. Seu processo de
concretização é um processo de formação ativa, onde os dualismos do
particular e universal, do sensível e inteligível não operam de modo
arbitrário. A arte é, mais propriamente, um universal poético que produz a
emergência e concreção (poiesis) do significado universal da Ideia, a
encarnação concreta do seu ser. Sendo a aparência a emergência concreta e,
portanto, a revelação sensória do universal, a obra de arte é, para Hegel, um
universal concreto. O concreto é o individual, mas o individual é a união da
particularidade e da universalidade.
É certo que faltou a Santo Tomás de Aquino, por sua vez, um sistema
dialético de integração do universal e do particular, mas é na sua metafísica
do belo que se encontra a concepção de beleza mais próxima da hegeliana.
Evidentemente, a estética hegeliana foi fundada em território pós-kantiano,
no qual o conceito de transcendência está inseparavelmente atado à questão
da subjetividade, referindo-se, então, às condições próprias do sujeito
conhecedor que tornam possíveis o conhecimento e não mais se referindo,
como acontecia na tradição aristotélico-tomista, estritamente ao
conhecimento dos traços universais dos objetos. Mas se examinarmos o belo
como uma imagem concreta da Ideia, levando-se em conta a noção hegeliana
do concreto universal, encontraremos, em seu pensamento, alguns
fundamentos para juntar o sentido de transcendência de Kant com o sentido
do transcendente que vem da tradição aristotélico-tomista. É nesse contexto
que a negação do belo como uma mera abstração, mas, ao mesmo tempo, a
afirmação de seu caráter cognitivo deve ser compreendida.
A beleza, na sua forma mais apropriada e no seu conteúdo mais apto, não
é mais a finalidade da arte. Em vez de tentar expressar a verdade
externamente, a arte romântica compreende que a verdade do pensamento é
independente da contingência, fisicalidade e externalidade. Não importa qual
conteúdo externo é usado nessa arte, pois mesmo os mais prosaicos objetos
da vida cotidiana podem ser utilizados uma vez que a verdade não mais
depende deles. Por isso mesmo, a música é a forma-chave da arte romântica.
Sua tarefa não é ecoar a objetividade, mas sim o modo como o eu interior se
move dentro de si mesmo, de acordo com sua subjetividade, no interior de
sua alma. Cada uma das formas românticas da arte, pintura, música e poesia,
fornece um tipo de síntese próprio para as formas prévias da arte. A pintura
absorve as representações dos ambientes arquitetônicos e os utiliza como
cenário para as representações humanas emprestadas da escultura. A poesia,
então, combina qualidades essenciais da pintura e da música para atingir a
perspectiva mais inclusiva de todas as formas de arte.
Embora tenha ficado longe de produzir uma obra tão monumental quanto
a de Hegel, não há como ignorar Schopenhauer, quando se deseja
compreender o estado de espírito que passaria a dominar a filosofia a partir
do século XIX. São ecos da Vontade, por exemplo, que irão aparecer no
vitalismo de Henry Bergson (1859-1941). No outro lado do Atlântico, o
norte-americano George Santayana (1863-1952) nitidamente também beberia
nas fontes de Schopenhauer, que, lido à luz de Platão, iria lhe dar inspiração
para produzir, em 1896, o seu Senso do belo (Santayana, 1955). Contudo,
mais dominante do que esses dois filósofos, na insinuação de uma filosofia
que se tornaria inseparável da crítica da própria filosofia, foi, sem dúvida,
Nietzsche. Ora, sem a referência a Schopenhauer, torna-se quase impossível
compreender por onde Nietzsche iniciou sua análise da arte. Em 1871, mais
de vinte anos antes que Santayana produzisse o reaparecimento do belo no
seu canto de cisne tardio, com O nascimento da tragédia, Nietzsche (1927) já
havia dado início à sua devastadora crítica da metafísica, colocando em crise
definitiva as antigas confianças na razão filosófica.
De acordo com Bubner (1980, p. 25), se há uma obra em nosso tempo que
merece uma comparação moderada com a monumental estética de Hegel, na
profundidade de sua reflexão e na riqueza dos detalhes concretos de suas
análises, esta obra é a Teoria estética, de Adorno (1980). Seu pessimismo em
relação a qualquer progresso da racionalidade humana, aliado à desconfiança
tipicamente marxista em qualquer teoria pura, o levou a considerar a estética
como única saída possível para o ceticismo radical. Mantendo o antigo valor
hegeliano da verdade, mas deslocando a prioridade desse valor da filosofia
para experiência estética, Adorno evidenciou que a filosofia deve aprender
com a estética que o pensamento conceitual não é tudo. Aо revelar uma
verdade que lhe é própria, a arte evidencia quão dilatado é o reino da verdade
e quão pouco território desse reino é ocupado pelas reflexões conceituais. Há
muito para ser compreendido que escapa às formas de controle do
pensamento filosófico tradicional.
O que se pode concluir de tudo isso é que o número das teorias estéticas,
substituídas em grande medida, neste século, por teorias da arte, foi
crescendo numa tal ordem que se pode afirmar, como o fez Margolis (apud
Osborn, ibid., p. 5). que aquilo que chamamos de estética não é de modo
algum um ramo da filosofia, mas muito mais um sistema bastante solto de
questões concernentes ao nosso interesse nas artes. Ele teria razão se não
tivesse sido desdito pelo ressurgimento da preocupação com o estético ou
antiestético que começou a invadir a paisagem cultural contemporânea, mais
fortemente a partir dos anos 80, nos acirrados e controversos debates sob o
nome de pós-moderno, pós-modernismo ou pós-modernidade.
INTRODUÇÃO
A partir de Kant, seu cometimento com a lógica seria levado até o fim de
seus dias. Muito diferentemente de Kant, contudo, Peirce concebeu a lógica
como lógica da ciência, a arte de entender os métodos de investigação
utilizados pelas mais diversas ciências. A semiótica ou doutrina dos signos,
da qual ele foi o moderno fundador, aconteceu, na sua vida, como uma
consequência da sua investigação dos mecanismos de pensamento e
raciocínio que estão nas bases, dando suporte aos métodos através dos quais
as ciências conduzem suas investigações para atingir os resultados por elas
almejados. Muito cedo, Peirce se deu conta de que não há nenhuma forma de
pensamento e, consequentemente, nenhuma forma de raciocínio que possa se
realizar apenas através de símbolos. Daí sua preocupação com o estudo
preliminar de todos os tipos possíveis de signos, como meio para
compreender os tipos de raciocínio que estão na base dos métodos. Assim
sendo, conforme será melhor visto nos próximos capítulos, ele passou a
dividir a ciência semiótica em três ramos: 1. gramática pura ou especulativa,
2. lógica crítica ou lógica propriamente dita e 3. retórica especulativa ou
metodêutica. Entre esses três, o primeiro, que diz respeito ao estudo dos
signos propriamente dito, e que é, de resto, a parte mais conhecida de sua
semiótica (infelizmente muitas vezes tomada como o todo da semiótica
peirceana), funciona apenas como um estudo preliminar, uma propedêutica
para a investigação dos métodos de raciocínio, da força de seus argumentos e
da validade de suas conclusões, investigação esta que ocupa o coração da sua
semiótica, sendo chamada de lógica crítica, a qual, por sua vez, dá sustento à
finalidade última da semiótica, a saber, a metodêutica ou ciência do método
utilizado pelas inteligências científicas.
Mas, enfim, o que tudo isso tem a ver com a estética? É o que o leitor
deve estar, com toda a razão, se perguntando. Para apressar uma parcela da
resposta, a estética é uma das disciplinas filosóficas e científicas, dentro da
arquitetura filosófica de Peirce, que, por sua vez, é apenas uma parte,
cumprindo determinados tipos de finalidades no interior de um imenso
diagrama das ciências. Se a primeira leitura filosófica que Peirce fez na vida
foi a de uma obra sobre estética, paradoxalmente, a estética só chegou muito
tardiamente a ocupar um lugar na construção de sua filosofia científica. Pode-
se dizer que a estética chegou por último, para ocupar, incrivelmente, o
primeiro e mais relevante lugar entre todas a disciplinas filosóficas por ele
concebidas. Sob esse aspecto, o da primazia, prioridade do papel que a
estética tem a desempenhar na filosofia, Peirce se aproximaria de
Schopenhauer, Nietzsche e Adorno, muito embora não tenha partido, como
os dois primeiros, de uma aversão em relação a uma pretensa natureza
negativa da razão da qual a estética nos permitiria escapar, nem compartilhou
do pessimismo adorniano quanto à vocação instrumentalista da razão.
Nas notas por ele deixadas para uma autobiografia intelectual e que
Kenneth Laine Ketner organizou e trouxe à publicação, em 1983, fica
relativamente claro que o ponto de partida privilegiado, espécie de chave de
abertura para a compreensão de qualquer aspecto de sua obra, está na
classificação das ciências de que, como já foi mencionado, sua arquitetura
filosófica é uma parte. Essa mesma indicação voltou a ser insinuada no longo
manuscrito (L 75) que Peirce escreveu para requerer uma bolsa de estudos ao
Instituto Carnegie. A bolsa foi sumariamente recusada, por razões de
perseguição pessoal e não por falta de mérito, conforme foi
documentadamente demonstrado na biografia de Peirce que J. Brent (1993)
publicou recentemente. De todo modo, o manuscrito ficou e funciona como
um belíssimo roteiro para a leitura das intrincadas interconexões que as partes
da obra entretêm com o todo. Vem daí a insistência enfática que tenho dado à
arquitetura filosófica dentro do diagrama das ciências, em todos os meus
trabalhos sobre Peirce.
Ele passou longos anos tentando chegar a uma classificação das ciências
que o satisfizesse. Conforme já discuti longamente em um outro livro
(Santaella, 1992, p. 59-99), especificamente no capítulo sob o título de
“Tempo da Colheita”, essa satisfação foi difícil de ser atingida porque a
classificação não existia como uma parte solta de sua obra, mas dependia,
para ter qualquer coerência, do encontro de soluções para problemas cruciais
que ele passou anos tentando resolver. A classificação das ciências e sua
arquitetura filosófica estavam completamente baseadas na lógica das três
categorias fenomenológicas. Ora, embora estivesse trabalhando nas
categorias desde seu ensaio inaugural “Sobre uma nova lista de categorias”,
de 1867, foi só na passagem do século que ele veio lhes dar crédito, o que
serviu como guia para a formulação de um diagrama das ciências e, dentro
dele, de sua filosofia, que fosse mais confiável. Numa apresentação muito
sintética, as ciências foram divididas em ciências da descoberta, da revisão e
aplicadas. Priorizando as primeiras, ele as dividiu, em ordem decrescente de
abstração, em: 1. Matemática, 2. Filosofia e 3. Ciências especiais. Quanto
mais abstrata a ciência, mais ela é capaz de fornecer princípios para as menos
abstratas. Do mesmo modo que a filosofia extrai da matemática muitos dos
seus princípios, é da filosofia que as ciências especiais recebem seus
princípios. Estas se dividem em dois grandes tipos: 1. físicas e 2. psíquicas,
apresentando, cada um desses tipos, um grande número de subtipos,
ramificações e gradações. Uma vez que a estética não foi concebida por
Peirce como uma ciência especial, não será dada aqui qualquer atenção para a
discussão do quadro das ciências especiais. É necessário, porém, chamar a
atenção para o fato de que, embora não sendo prioritariamente uma ciência
especial, devem existir, segundo Peirce, estéticas aplicadas, questão que será
detalhada mais à frente.
Filosofia
1. Fenomenologia
2. Ciências Normativas
2.1. Estética
2.2. Ética
2.3. Lógica ou Semiótica
2.3.1. Gramática Pura
2.3.2. Lógica Crítica
2.3.3. Metodêutica
3. Metafísica
Assim sendo, só o esquema por si mesmo já pode servir como fonte para
nossa compreensão de alguns dos caracteres fundamentais que podemos
esperar que a estética tenha. Como ciência normativa, ela é uma ciência
puramente teórica. Sendo aquela que imediatamente sucede à fenomenologia,
são as descobertas desta ciência, no caso, a descoberta das categorias, com
alguma ajuda da matemática, que fornecerão os princípios fundamentais da
estética. O que o esquema por si mesmo não pode explicar é que princípios
são esses, ficando a pressuposto que, para conhecê-los, tem-se que estudar a
fenomenologia, antes de se entrar na estética. Vem daí a rápida descrição que
apresentei acima das categorias, pois, sem isso, ficaria impossível entender o
próprio diagrama. Por pertencer à segunda divisão da filosofia, a estética
possuirá um dualismo fundamental em comum com as outras ciências
normativas, mas diferentemente das outras, ela tem a primeiridade como
traço distintivo. De que consiste o dualismo das ciências normativas é uma
questão que o diagrama por si mesmo não responde, do mesmo modo que
não responde de que consiste o traço específico e distintivo da primeiridade
da estética. Este último, aliás, foi uma das grandes dificuldade que Peirce
teve de enfrentar para chegar à sua concepção da estética.
Toda ação supõe fins, mas os fins, sendo gerais, estão no modo de ser do
pensamento-signo que não está simplesmente na consciência, mas permeia
todos os fenômenos. Qualquer outra coisa que qualquer coisa possa ser, ela
também é um signo: esse era o mote peirceano. O universo inteiro está
impregnado de signos. O seu novo entendimento do pragmatismo o levou a
considerar que seu aspecto mais relevante está no fato de que o pragmatismo
busca os fins. Esse fim, ou aquilo que é o bem humano supremo, consiste
num processo de evolução no qual os existentes crescentemente vão dando
corpo aos ideais que são reconhecidos como razoáveis. Esta seria a chave
para a estética, mas Peirce só chegaria com clareza a ela aos 71 anos, quatro
antes de sua morte. Antes disso, muitas incertezas tiveram que ser
trabalhadas.
Normativo é, assim, o estudo do que deve ser, o que exclui de seu campo
tanto a compulsão incontrolada, quanto o determinismo rígido. Com as
ciências normativas, Peirce estava repensando os fins, propósitos, valores,
metas e ideais que atraem e guiam a conduta deliberada (Santaella, 1993, p.
217). A tarefa das ciências normativas, em síntese, estava em descobrir
“como Sentimento, Conduta e Pensamento devem ser controlados supondo-se
que eles estejam sujeitos, numa certa medida, e apenas numa certa medida, ao
autocontrole exercido por meio da autocrítica e da formação propositada de
hábitos, tal como o senso comum nos diz que eles, até certo ponto, são
controláveis” (MS 655, p. 24).
Peirce começou a ver, cada vez com mais clareza, que “não podemos
evitar perguntas sobre o que deve ser a aplicação última, na verdade, a meta
suprema, o ideal maior que nos seduz e no qual devemos nos empenhar”
(Bernstein, 1990, p. l97). Descobrir qual seria a natureza dessa sedução ou
força de atração última na sua pureza é o que ele passou a considerar como
sendo o objetivo da estética, passando a acreditar que seria não apenas
possível responder a essas questões, como seria possível dar a elas respostas
científicas.
Cada ser humano, por mais simples e desintelectualizado, por assim dizer,
que ele possa ser, é sempre movido, consciente ou inconscientemente,
explícita ou confusamente, por um ou vários ideais maiores ou menores. São
as metas que buscamos alcançar, os planos feitos a longo prazo, os sonhos
que acalentamos e que conduzem nossos passos. Se as condições de
adversidade e a luta pela sobrevivência nua e crua não se tornaram tão brutas
e assoberbantes a ponto de transformarem o ser humano num mero escravo
do existir cotidiano, se a vida foi benévola o suficiente para não machucar o
corpo ou o espírito com dores irremediáveis, bem do fundo do nosso ser, vem
uma questão. Não importa quão vago, incerto ou inadvertido possa ser o
modo como ela se apresenta, trata-se sempre daquela interrogação crucial que
não cessa de interpelar cada um de nós: “o que justifica a minha vida?”.
Além disso tudo, há ainda uma questão que Peirce não podia
negligenciar: o ideal que a estética teria por tarefa determinar não poderia ser
incompatível com as descobertas que ele, no período da elaboração das
relações entre as ciências normativas, estava fazendo a respeito de seu novo
pragmatismo, que, de resto, só se definiria mais acabadamente na medida
mesma em que o ideal estético encontrasse alguma definição. De acordo com
o pragmatismo, esse ideal não deveria ser um resultado estático, mas algo que
tivesse um caráter processual, um fim que pudesse sempre antecipar uma
melhoria constante e interminável nos seu resultados. Conforme já foi
mencionado no capítulo anterior, o pragmatismo já lhe ensinara que o ideal
deve se constituir num processo de evolução através do qual os existentes
mais e mais dão corpo a uma classe de gerais, que no curso do seu
desenvolvimento, mostram-se razoáveis (CP 5.433). Não é difícil ver que os
ventos do passado não sopravam a favor das exigências a que a estética
peirceana devia atender, nem os ventos idealismo metafísico, de um lado,
nem os de seus subvertores, de outro.
Essa passagem é importantíssima porque ela nos leva a assistir à luta que
Peirce travava para encontrar, ensaiando em várias línguas, a palavra exata
que correspondesse ao nível de generalidade máxima de uma qualidade
imediata, positiva e simples na sua imediaticidade, independente de qualquer
pressão, dualidade ou materialização, de qualquer efeito, qualquer reação,
vividez ou afecção. Enfim, algo perfeitamente livre e indeterminado na sua
liberdade, puramente admirável, em si e por si mesmo, sem qualquer razão
ulterior que lhe tolhesse a liberdade de ser, sem nenhum imperativo, de
qualquer espécie que seja, nem o imperativo frágil, e à primeira vista
imperceptível, da própria beleza.
Do mesmo modo que a ética não está diretamente preocupada com o que
é certo e errado, mas sim com aquilo que deveria ser o alvo do esforço
humano, a estética não está voltada para o que é belo ou não-belo, mas sim
para aquilo que deveria ser experimentado por si mesmo, em seu próprio
valor. Peirce sabia, nos diz Curley (1969, p. 95), que é difícil, quase
impossível, descrever verbalmente a qualidade de uma experiência como
essa, experiência que, quase impossivelmente, não deveria ter nenhum traço
de dualidade. Que a beleza não podia ser essa qualidade, nem mesmo a
beleza etérea, eterna e imutável de Platão, fica suficientemente claro, quando
compreendemos que o belo pressupõe necessariamente o seu contrário,
sendo, portanto, dual. Ora, essa qualidade e essa experiência, a do admirável,
que Peirce lutava com as palavras para apresentar, corresponde justamente,
como já foi visto, ao ideal em direção ao qual todo empenho ético deve se
dirigir.
Outro conceito que a tradição havia tornado tão pesado quanto o do belo,
na sua aparência de leveza, era o conceito que, casado com a beleza,
compunha o par mais poderoso da estética: o prazer. Em uma dentre as
inúmeras passagens em que Peirce refutou a natureza de sentimentos
elementares para a dor e o prazer, imortalizados por Kant, a discussão tem
início do seguinte modo:
Se a distinção entre Boa ou Má Lógica é um caso especial [da distinção entre] Boa e Má Moral, no
mesmo ato, a distinção entre Boa e Má Moral é um caso especial da distinção entre o Bem e o Mal
estético. Ora, admitir isso não é apenas admitir o hedonismo, o que nenhum homem na integridade
dos seus sentidos, e que não tiver sido cegado por alguma teoria ou algo pior, pode admitir, mas,
também, tendo a ver com a distinção essencialmente Dualista do Bem e do Mal — que é
manifestamente um caso da Categoria do Segundo —, busca-se a origem de tal distinção no
Sentimento Estético, que pertence à Categoria do Primeiro (CP 5.110).
De acordo com essa afirmação, a estética não é mais uma questão de pura
primeiridade, embora esteja relacionada a essa categoria. A simpatia
intelectual seria fruto, assim, dessa bela mistura entre primeiro e terceiro de
que a obra de arte seria um dos exemplares mais privilegiados, mixagem mais
que perfeita da gratificação, prazer, felicidade, e até mesmo júbilo, alegria,
que se esgotam em si mesmos, com a razão que sempre olha para a frente,
para um futuro sem fim, esperando infinitamente melhoria e o
aperfeiçoamento dos seus resultados (CP 1.611-14).
Curley (1969, p. 102) diz que Peirce estava bem consciente de seu
conhecimento limitado de estética, para ser capaz de responder ao bom
estético satisfatoriamente, por isso ele teve o bom senso de colocar nos seus
pensamentos o rótulo de “sugestões”. A primeira delas é a de que o objeto
esteticamente bom deve ser definido na categoria da primeiridade, o que,
aliás, já retira, de saída e felizmente, qualquer possibilidade de se
encontrarem respostas precisas e definidas sobre o bom estético: “À luz das
categorias, devo dizer que um objeto, para ser esteticamente bom, deve ter
uma multiplicidade de partes relacionadas umas às outras de um modo tal que
confere uma qualidade imediata, simples e positiva à sua totalidade” (CP
5.132).
O segundo aspecto diz respeito à indagação mais do que natural que deve
estar na cabeça do leitor, sobre os modos como o crescimento da
razoabilidade concreta pode se dar. Já tive oportunidade de formular, em
outras ocasiões, a hipótese de que a arte e a ciência devem ser os meios
privilegiados para esse crescimento. A questão da ciência, tive a ocasião de
aprofundar num outro trabalho (Santaella, 1993). Quanto à relação da estética
peirceana com as artes, esse é justamente o assunto que será apresentado no
próximo capítulo.
8. A ESTÉTICA E AS ARTES
Não sendo definido a priori, nem sendo buscado sob efeito de qualquer
tipo de força externa, quer esta força seja operada pela violência, quer pelas
formas mais sutis (e, por isso mesmo, psiquicamente mais opressivas) de
submissão consentida, o ideal tem o “perfil indeterminado, necessariamente
ambíguo e potencial, característico de tudo aquilo que continuamente recua
porque só pode ser alcançado numa aproximação assintótica” (Santaella,
1992, p. 127-128). Ora, para Peirce, só na razoabilidade, ou razão criativa —
aquela que incorpora a complexidade dos elementos da ação, surpresa,
conflito, dúvida, insight, emoção e, até mesmo o principalmente, os
sentimentos mais vagos e incertos — pode ser encontrado o atributo próprio
desse ideal. Mas como é que esse ideal pode crescer?
Em síntese, signo é algo que, ao representar uma outra coisa, seu objeto,
produz um efeito, o interpretante, na mente daquele que recebe esse objeto
indiretamente, quer dizer, pela mediação do signo. Como os efeitos têm
naturezas várias, Peirce foi levado a classificar esses interpretantes.
Conforme já desenvolvi em outros trabalhos (Santaella, 1995), as
classificações são várias, mas aquela que nos interessa aqui é a divisão dos
interpretantes ou efeitos produzidos pelo signo em emocional, energético,
lógico. O emocional está ligado ao sentimento, primeiro efeito que o signo
perceptível ou imperceptivelmente sempre produz. O energético, como o
próprio nome diz, está ligado a um esforço, a uma ação física ou mental. O
interpretante lógico corresponde ao nível geral, coletivo do interpretante.
Parece claro que o hábito tem a natureza de uma lei. Trata-se, porém, de
uma lei muito flexível, em cuja concepção se encontra um outro traço da
extrema originalidade de Peirce. A lei do hábito é a lei da mente.
Diferentemente das leis físicas, no entanto, para Peirce (1992, p. 292), “a lei
da mente se assemelha às forças não conservadoras da física, tal como a
viscosidade e coisas do tipo, que são devidas à uniformidade estatística no
encontro de trilhões de moléculas”. Isto quer dizer que a lei da mente é
móvel, aberta, volátil, do que decorre que a lei do hábito é a lei de adquirir
novos hábitos. Consumou-se aí, na plasticidade da mente, na sua tendência
para adquirir novos hábitos, o encontro daquilo que Peirce tanto buscou, o
interpretante lógico último cuja natureza, para estar de acordo com o
pragmatismo evolucionista, não poderia ser estática. Entendendo por
mudança de hábito as modificações de uma pessoa em relação à ação do
pensamento, da conduta e do sentimento, nada estaria mais apto do que tal
mudança para preencher a função de um futuro condicional com uma
referência geral de natureza hipotética; nada, enfim, poderia estar mais apto
para entrar em sintonia com a tendencialidade, a natureza evolutiva do
interpretante final pragmatista, cuja direção é guiada pelo ideal estético.
É claro, a partir do que foi discutido até aqui, que Peirce não via com
bons olhos o isolamento e exclusividade da qualidade de sentimento na obra
de arte. Onde houver exclusivismo, isolamento, atomização ou exagero de
qualquer categoria, como já foi mencionado, lá haverá uma espécie de sopa
biótica propícia ao aparecimento dos fanatismos cegos e das distorções da
irracionalidade ou da hiper-racionalidade, que é apenas o outro lado do
irracionalismo. De um modo geral, o que as obras de arte fazem é justamente
escapar de qualquer um desses exageros, a ponto de podermos lançar a
hipótese de que elas são exatamente aqueles tipos de signos que misturam as
três categorias de maneira mais idealmente harmônica. Que Peirce estava de
acordo com essa hipótese pode ser entrevisto na passagem em que,
mencionando a qualidade estética, ele dizia que se trata aí “da impressão total
inanalisável de uma razoabilidade que se expressou numa criação. É um puro
Sentimento, mas é um sentimento que é a impressão de uma Razoabilidade
que Cria. É uma Primeiridade que realmente pertence à Terceiridade na sua
realização da Secundidade” (MS 310, p. 9).
Não fica difícil, em função das indicações acima, postular que as obras de
arte, por serem objetos privilegiados de revelação do ideal, devem ser — não
obstante sua aparente fragilidade discursiva e ideológica, ou talvez como
fruto dessa mesma fragilidade — o modo mais poderoso de crescimento da
razoabilidade concreta. A forma como isso se dá está indicada em um outro
escrito de Peirce, onde ele afirmou que, “se a conduta deve ser
cuidadosamente deliberada, o ideal deve ser um hábito de sentimento que
cresceu sob a influência de um curso de autocrítica e heterocrítica, a estética
sendo a teoria da formação deliberada desses hábitos de sentimento” (CP
1.573-1.575). Se assim for, então a arte é um dos ou o mais privilegiado
dentre os objetos de estudo da estética.
Sem que Peirce, ele mesmo, estivesse consciente do fato, sua estética, se
levada às consequências que ela permite entrever, realizaria quase à perfeição
o sonho de Schiller da educação estética da humanidade, sonho, aliás, que,
sob uma outra aparência, a da educação dos sentidos humanos, foi também
sonhado por Marx. O mais importante é que a estética peirceana está
indissoluvelmente atada à ética e à lógica. Os objetos estéticos, no dizer de
Peirce, porque materializam, dão corpo ao ideal da razão criativa, atraem e
fisgam as outras duas ciências normativas, ao mesmo tempo em que há
nesses objetos algo da ordem da ação e do pensamento. As obras de arte não
são apenas ambíguas encarnações de qualidades de sentimento, mas formas
de sabedoria, de um tipo que fala à sensibilidade, ao mesmo tempo em que
convida a razão a se integrar ludicamente ao sentir.
Se a estética está ligada como carne e osso à ética e à lógica, deve haver
algo de lógico na estética e algo de estético na ciência, ao mesmo tempo em
que a ética diz respeito, em ambas, ao modo como seus produtos se
direcionam para o ideal. Que existe uma ligação da estética com a lógica, do
artista com o cientista e vice-versa, ficará mais claro a partir do próximo
capítulo, quando for apresentada a questão da abdução, ou dom para a
descoberta, que é parte essencial do ser humano, tanto quanto é do pássaro o
dom de voar. Além disso, contudo, há uma hipótese imediata que surge, a
partir do que foi exposto neste capítulo, que propõe que a estética e os objetos
de arte, em que ela se materializa, lidam com sentimentos-guias, enquanto a
lógica e seus produtos precípuos, que a ciência cria, funcionam como meios
propícios para a efetivação desses sentimentos no mundo. A arte guia,
enquanto a ciência fornece os meios para que a razoabilidade cresça em
direção ao ideal, sempre futuro, sempre em aberto. Não é senão como fruto
dessa abertura e dessa futuridade que a arte é sábia sem saber.
É verdade que, tanto quanto Marx, a estética peirceana não previu, com a
profundidade que a história do século XX está exigindo, a dimensão da
miséria e a força da perversidade humana, vindo daí uma das razões para a
assoberbante atualidade de Freud. Em que medida a dominância da
perversidade é apenas uma condição histórica, de modo que o sonho de Marx
e os ideais postulados por Peirce terão ainda condições de ser sonhados, é
uma indagação que não se pode, pelo menos por enquanto, responder, mas
que, nem por isso, pode deixar de ser feita.
9. A SEMIÓTICA DE PEIRCE
Assim sendo, muito mais do que se pode imaginar à primeira vista, os três
tipos de raciocínio são de fundamental importância não apenas para entender
os procedimentos dos métodos científicos, mas também os processos de
pensamento empregados tanto pelo artista ao criar seus objetos estéticos,
quanto pelos receptores no ato de apreensão e talvez compreensão desses
objetos. Dentre os três tipos de raciocínio, a abdução é a responsável por
todas as descobertas e iluminações, onde quer que elas ocorram, num
laboratório científico, no atelier de um artista, ou no dia-a-dia de qualquer
pessoa comum. Os argumentos abdutivos formulam sinteticamente
explicações tentativas para todas as situações nas ciências, nas artes, ou fora
delas, em que algo surpreendente se apresenta, reclamando uma resposta.
Quando algo produz surpresa, a abdução é o processo de pensamento que
surge, engendrando uma conjectura. Esse processo tem a forma de uma
inferência que, embora seja frágil, é lógica, ao mesmo tempo em que brota no
flash de um insight. Por mais que sua definição pareça incorrer na
contradição dos termos, trata-se, de fato, de um instinto racional de uma
inferência lógica que é simultaneamente, um insight, trata-se, enfim, de uma
adivinhação que é a representante mais legítima da capacidade criadora da
razão e que a razão, paradoxalmente, não pode explicar.
Nöth encerra seu texto com as teorias dos códigos estéticos que podem
ser encontradas mais particularmente nas obras de Iuri Lótman (1922-1993) e
Eco. Para o primeiro, a pluralidade dos códigos artísticos está baseada nos
modelos das teorias da informação e da comunicação. As mensagens estéticas
são inovadoras porque se baseiam numa estética da oposição segundo a qual
o receptor tenta decifrar a mensagem inovadora da obra, tomando por base
um código diferente daquele utilizado pelo criador. Com isso, o texto artístico
pode adquirir significados diferenciais para o criador e o receptor. Segundo
Eco, as mensagens inovadoras são geradas em processos de codificação e
sobrecodificação, sendo o código estético resultante de uma dialética entre
mensagens inovadoras e convencionais, as primeiras abertas e as segundas
fechadas.
No entanto, não foi, de modo algum, para um tal tipo de propósito que a
semiótica foi originada, nem foi dessa ordem a relação prioritária
originalmente determinada para a estética e a semiótica. Tanto uma quanto a
outra, conforme já foi sobejamente discutido neste livro, foram concebidas
como ciências normativas, as mais teóricas dentre todas as ciências possíveis,
só perdendo em abstração para a matemática e a fenomenologia. A
generalidade de ambas, aliás das três, com a inclusão da ética,
consequentemente, é de tal ordem que elas jamais poderiam desempenhar o
papel de ciências aplicadas. São, ao contrário, ciências heurísticas, quer dizer,
ciências da descoberta elaboradas num nível exclusivamente teórico, de
abstração máxima. Ciências dessa ordem, sem nenhum vínculo com as
aplicações práticas, podem parecer impossíveis ou inócuas, se não se levar
em consideração que, para Peirce, cada ciência é em si mesma incompleta, só
se viabilizando nas relações que ela estabelece com as demais. Assim sendo,
o papel que as ciências heurísticas e teoréticas, num extremo, têm a
desempenhar é distinto das funções das ciências aplicadas, no outro extremo,
o que não quer dizer que elas não sejam interdependentes.
Cinco anos mais tarde, foi a vez de J. Jay Zeman publicar o artigo “O
Signo Estético na Semiótica de Peirce”. Um dos traços positivos do texto está
em apontar, com propriedade, para a fundação da semiótica na estética, o que
corrige a errônea interpretação anterior de Hocutt de que a estética peirceana
está fundada na lógica. Outro traço positivo encontra-se na ênfase que o autor
coloca na fenomenologia, discutindo a importância das categorias de
primeiridade, secundidade e terceiridade para se pensar em questões estéticas.
Infelizmente, abandonando no meio do caminho suas discussões sobre qual
poderia ser o caráter do signo estético à luz da semiótica peirceana, Zeman
passou a presumir esse caráter a partir da noção de experiência estética de
Dewey. Se tal opção contribui para a compreensão da estética deste último,
nada nos adianta sobre o entendimento da estética de Peirce, prestando a esta,
de fato, um mau serviço, visto que gera o equívoco de que poderia não haver
diferença entre ambas.
Mais três anos, e um outro artigo voltado para “Peirce e a Escola de Praga
sobre o Papel Fundamental do Signo Estético” era publicado por Kim Smith.
Embora não tenha nada de novo, trata-se de um texto mais bem cuidado e
mais moderno, no sentido de que começa a levar em consideração algo que
passou a se tornar uma constante desde os anos 80: a consciência de que não
se pode discutir, sob pena de distorções, nenhum fragmento da obra peirceana
isolando-o do todo. A partir de uma leitura relativamente fiel à complexidade
do ícone, Smith passa a colocar toda a ênfase da questão estética no efeito de
unidade que o ícone produz no intérprete.
Sendo um quali ou quase-signo, algo só pode ser um ícone. Uma vez que
uma propriedade monádica, como é aquela das qualidades, é não-relacional,
não fazendo referência direta a algo externo, mas apenas se apresentando na
sua talidade, tal qual é, o quali-signo que, na relação com seu objeto é um
ícone, só pode se referir a algo externo em virtude de caracteres que lhe são
próprios e que ele possuiria de qualquer modo, independentemente da
existência de qualquer outra qualidade que possa ser semelhante a ele. É
verdade que o quali-signo icônico só funciona como signo quando essa
semelhança é estabelecida. Contudo, não é a semelhança que faz do ícone o
que ele é, mas apenas a qualidade da aparência que lhe é própria.
Foi isso o que sempre ensinei, limitando-me ao fato estético, que não precisa de definição. O fato
estético é algo tão evidente, imediato e indefinível quanto o amor, o gosto da fruta, a água.
Sentimos a poesia como sentimos a presença de uma mulher, uma montanha ou uma baía. Se ela é
sentida de imediato, por que diluí-la em outras palavras, que certamente serão mais frágeis do que
nossos sentimentos?
Antes de mais nada, devo confessar que, cada vez mais, tenho perdido a
noção da medida em que meus trabalhos apresentam uma fidelidade estrita às
palavras e ao pensamento de Peirce. É evidente que fidelidade completa não
existe. É a própria semiótica, de resto, a primeira a nos evidenciar que toda
leitura e toda interpretação é inalienavelmente um processo de tradução. Há,
consequentemente, sempre uma distorção, para piorou para melhor, avanços
ou recuos, um pouco de verdade e um pouco de mentira em qualquer
interpretação da palavra do outro. Entretanto, o que estou tentando colocar
aqui em discussão não é uma concepção ingênua de fidelidade, mas o fato de
que, quando convivemos, por muitos anos e muito intimamente, com a obra
de um autor, chega-se a um determinado ponto nessa convivência em que se
instala um grau de familiaridade e cumplicidade tal com o pensamento do
outro que já não somos mais capazes de marcar os limites — se é que isso,
em qualquer momento, seja possível — entre onde começam as ideias que
são nossas e não do outro, até onde o outro, de fato, chegou a formular
aquelas ideias e em que medida somos nós que estamos afirmando a partir de
um lugar onde não havia originalmente senão sugestões e indícios.
Numa breve síntese, sua estética pode ser vista, conforme já foi mais ou
menos claramente discutido, sob pelo menos três aspectos, ou melhor, dois
aspectos, sendo que o primeiro deles se subdivide em dois níveis. Tal como
ele a concebeu explicitamente, ela é uma disciplina filosófica que tem por
função determinar qual é a meta suprema da vida humana, uma meta para ser
adotada deliberadamente, sem nenhuma imposição de nenhuma espécie. Ora,
para ser uma adesão livre, deve ter por finalidade um estado de coisas que se
auto-recomenda independentemente de qualquer consideração ulterior. A
pista para encontrar algo tão raro, Peirce foi buscar no kalós grego, algo que
toda alma vagamente deseja e muito mais vagamente percebe — um ideal
admirável, tendo a única forma de excelência que uma ideia desse tipo pode
ter: a excelência estética.
Mas qual é afinal esse ideal? Não levou muito tempo para ele ser definido
como sendo a essência da razão em si mesma. Faz parte dessa essência a sua
incompletude inelutável. É como a personalidade de uma pessoa, dizia
Peirce, que consiste nas ideias em que ela vai acreditar e, com base nessas
crenças, não importa quão imprecisas elas sejam, essa pessoa vai agir e
produzir, fazendo suas ideias se desenvolverem nos momentos em que as
ocasiões efetivamente surgirem (CP 1.615). Quando essas ideias estarão
plenamente, completamente realizadas? Nunca. É mais ou menos em função
disso que a morte de todo ser humano, por mais tardia, sempre parece
precoce. Assim é a razão. Sua essência é nunca estar completa. E suas
realizações parciais, cabem a nós desenvolvê-las, fazê-las crescerem.
De fato, poucas teorias estão tão bem equipadas para pensar os desafios e
sutilezas da experiência estética e das produções artísticas em geral quanto a
semiótica peirceana, em primeiro lugar, porque ela está fundada sobre uma
fenomenologia não-racionalista, não-logocêntrica, que leva em consideração
toda e qualquer experiência, desde o sentimento mais tenro e o pensamento
mais incerto até uma ideia abstrata, tanto quanto possível precisa e altamente
elaborada da ciência, sem excluir a faticidade dos nossos encontros concretos
com o mundo, faticidade esta considerada e integrada dentro de uma teoria da
percepção rica e complexa. Em segundo lugar, e consequentemente, porque
se trata de uma semiótica que faz um mergulho em profundidade no universo
dos signos, o que lhe dá um grande poder discriminatório para a análise de
processos sígnicos das mais diversas espécies, e nos mais variados graus de
misturas. Além disso ainda, porque foi dentro da semiótica que se deu o
nascimento do conceito originalíssimo de abdução, o quase raciocínio
responsável por todas as descobertas e iluminações humanas, cujos processos
são imprescindíveis para a estética, tanto do ponto de vista da produção
quanto da recepção de fatos e objetos estéticos, ou melhor, de signos
estéticos, para sermos mais fiéis à letra e ao espírito da semiótica de Peirce.
Apesar das dificuldades que as posições defendidas por Peirce, com toda
certeza, apresentam para nós atualmente, após os questionamentos
necessários, Bernstein defende, no seu texto, que Peirce estava “lutando com
uma questão crítica — questão essa que continua nos perseguindo até hoje”.
Bernstein enfatiza o verbo “lutando” porque, quando entendemos essa luta,
podemos compreender mais profundamente o que Peirce estava tentando
articular.
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