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E URBANISMO I
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Gestão Educacional:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios Diagramação:
não vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande
responsabilidade sobre as escolhas que Revisão Textual:
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Gabriela de Castro Pereira
acadêmica e profissional, refletindo diretamente Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
em nossa vida pessoal e em nossas relações Luana Ramos Rocha
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação Produção Audiovisual:
e conhecimento advindos de profissionais que Heber Acuña Berger
possuam novas habilidades para liderança e Leonardo Mateus Gusmão Lopes
sobrevivência no mercado de trabalho. Márcio Alexandre Júnior Lara
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I
ARQUITETURAS PRIMÁRIAS
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
1 - POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DA ARQUITETURA? ...................................................................................... 5
2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS ................................................................................................................................. 9
2.1. O MENIR ............................................................................................................................................................... 9
2.2. A CAVERNA ........................................................................................................................................................ 10
2.3. A CABANA .......................................................................................................................................................... 15
2.4. O EGITO .............................................................................................................................................................. 17
2.4.1. MARCO GEOGRÁFICO ..................................................................................................................................... 18
2.4.2. MARCO HISTÓRICO ....................................................................................................................................... 18
3 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA EGÍPCIA .................................................................................................. 19
3.1. ORTOGONALIDADE ............................................................................................................................................ 19
3.2. VERTICALIDADE ............................................................................................................................................... 20
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 26
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade, nos perguntamos sobre a importância da história da arquitetura
como um campo disciplinar no ensino arquitetônico, ou seja, por que estudar a história da
arquitetura? Tal questionamento decorre de um olhar sobre os edifícios e as cidades do passado,
não somente a partir de um protocolo temporal, mas como meio de iluminar e esclarecer nossas
presentes urbes e suas construções. “É na história onde se pode e se deve encontrar o sentido da
ação e a reflexão arquitetônica. Iluminando o presente desde o passado e convertendo seu campo
intelectual em uma verdadeira sala de cirurgia” (PEREIRA, 2010, p. 13).
Nesta perspectiva, a história da arquitetura torna-se veículo e instrumento necessário,
tanto no ato de concepção projetual, quanto no ato de crítica arquitetônica. Em síntese, ancorada
na experiência e desenvolvimento dos territórios, a disciplina dinamiza as variáveis de espaço,
tempo e lugar, abordando o saber histórico como forma
Munido desses apontamentos iniciais, a primeira parte dessa unidade reflete sobre as
relações entre a história e a arquitetura, mais particularmente sobre as razões que validam o
estudo da história arquitetônica.
A partir dessa contextualização, a apostila resume, numa visão geral, o desenvolvimento
da arquitetura ocidental, desde as chamadas arquiteturas primárias até a idade do humanismo.
Assim, iniciamos um percurso sequencial e contínuo, guiados por uma linha histórica sensitiva
às ideias de projeto e que buscará ensinar, de forma clara e simples, o passeio evolutivo dos
espaços, da paisagem e dos modos de habitar.
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Neste sentido, fica claro que o ato de historiar a arquitetura pode tomar diferentes
caminhos e pesos de funções, aí as diferentes posições da história da arquitetura. Pode-se analisar,
por exemplo, a memória de um edifício de modo unitário, fragmentado das contextualizações
sociais, religiosas, culturais e econômicas, conforme concluída por uma ficha técnica proposta
pelo alvo prático, ou pela compreensão de valores mais subjetivos que definem a construção
como resultado de uma significância mais ampla, seja ela diante do contexto histórico e/ou pelo
apego estético vigente.
Por certo, mesmo que os historiadores tomem partidos que não englobam profundamente
os três alvos observados, a história da arquitetura, a todo momento, manterá um fio condutor
único: o entendimento da gênese e das transformações das arquiteturas e seus ambientes no
tempo. E deverá, sempre, posicionar como pergunta capital o porquê estudar atualmente os
objetos, os espaços e a paisagem arquitetônica mediante categorias passadas. Nesta perspectiva, a
questão que coloca a história dentro de um campo disciplinar que se compromete com o ensino
de projeto – que é a própria proposta do curso acadêmico de arquitetura e urbanismo – valida
razões que estreitam os vínculos do estudo da história com a produção do espaço edificado, a
arquitetura propriamente dita. Posto isto, basta, a partir de então, posicionarmos tais razões.
Para seguirmos esse caminho, tomaremos como referência os escritos do professor de
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2ª razão – Precisar o sentido original dos próprios conceitos: para elucidarmos essa
razão basta apontarmos para o próprio exemplo utilizado pelo autor. Segundo ele, por exemplo,
o sentido que um templo grego teve para os helênicos não é o mesmo sentido que esse templo
teve para os romanos, para os medievais, para os renascentistas, para os neoclássicos ou para
os que vivem na modernidade. E é, justamente, a diferença de utilização desses sentidos, e não
suas semelhanças, nos períodos históricos indicados, que melhor se faz para compreender o
seu conceito original: o templo primário. Portanto, essa segunda razão é um aprofundamento
da anterior, pois busca, além de entender primeiramente os conceitos antigos, estabelecer seu
sentido primário, de onde surgiu e suas principais características.
5ª razão – Reescrever a história: Brandão (2012) afirma que sempre é preciso reescrever
os conceitos históricos, tendo em vista o presente. Ao fazermos tal exercício, o da “reescritura”,
estamos resgatando e mantendo vivas as ideias do passado. Para Brandão (2012, p. 32),
Para além dessa questão, de se manter vivo o passado e suas características, reescrever
a história da arquitetura direciona possibilidades de se pensar o projeto arquitetônico, seja por
meio do tempo, do lugar ou do espaço em que ele se dará. A obra realizada pelo arquiteto que
revive os aspectos históricos será balizada pelo olhar criativo existente em outra obra do passado.
Olha-se para o passado a fim de construir e melhorar o futuro! E isto vale para a arquitetura
também.
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10ª razão – Reinterpretar e apropriar conceitos históricos: a última razão apontada pelo
professor Carlos Brandão referente a importância do estudo da história da arquitetura se dá pela
“capacidade de reinterpretar conceitos e formulações, contaminá-los e contagiá-los com outros
contextos e tradições, aos quais eles originalmente não se ligam” (BRANDÃO, 2012, p. 34). Para o
autor, essa liberdade de miscigenação que se permite à arquitetura pode ser considerada um fator
local nosso – brasileiros. Brandão posiciona que somos tardios no aprofundamento da história,
em relação à Europa e aos Estados Unidos, pois nos faltam bibliotecas e fontes que nos permitam
um trabalho exaustivo a fim compará-las, amadurecê-las e fazê-las interagir reciprocamente.
Neste sentido, temos mais liberdade em lidar e agir com os conceitos históricos, pois eles não
materializaram na nossa cultura a ponto de não poderem ser reinventados. Assim, a produção no
campo da teoria arquitetônica brasileira e seus resultados se depararam, por meio de conceitos
reinventados, fortalecidos, justamente, pelo estudo e transformação da história da arquitetura.
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Por certo, a essas dez razões que valorizam o estudo da história da arquitetura poderiam
ser acrescidas outras que ajudariam a conformar a prática arquitetônica e urbanística, assim
como afirma Brandão (2012) ao finalizar seu artigo. Para o autor, ainda que a análise da
arquitetura do passado não seja suficiente para garantir uma boa resolução dos nossos problemas
contemporâneos, é ela que instiga a função do construir.
Posto isto, passamos, a partir dessas razões, a construir a origem da história da arquitetura.
Neste primeiro momento começaremos, então, falando, de forma geral e ampla, das arquiteturas
primárias, cujos princípios representam, de forma polarizada, o desenvolvimento histórico
arquitetônico e urbanístico da humanidade.
2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS
2.1. O Menir
Figura 1 – Círculo megalítico de Stonehenge em Salisbury na Grã-Bretanha. Fonte: Google Images (2018).
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De acordo com Pereira (2010), o menir é o monumento mais primitivo e simples que
existe, em sua definição originária, uma estrutura indefinida, construída por motivos simbólicos
ou comemorativos. Em síntese, podemos afirmar que o menir é qualquer monólito pré-histórico
cravado verticalmente no solo, cuja importância está validada “como símbolo, como signo,
como significação; uma arquitetura não habitável, mas com capacidade comunicativa intrínseca”
(PEREIRA, 2010, p. 21).
Para entendemos melhor, façamos uma analogia e, com ela, uma pergunta: podemos
considerar uma árvore como um menir natural? Pereira (2010), em sua explanação sobre as
arquiteturas iniciais da humanidade, aponta que, obviamente, uma árvore em si não é arquitetura.
Contudo, sua inserção na paisagem, conforme as circunstâncias e o contexto de sua implantação,
contruibui para a transcedência de sua condição vegetal em condição arquitetônica, uma vez que
a mesma pode carregar funções simbólicas que tornem a paisagem, antes natural, em paisagem
humana e social. O autor, para exemplificar essa transformação, aponta que a árvore tem sido,
e continua sendo, objeto de culto quase sagrado por diversos povos. Para os celtas, o carvalho
era a árvore sagrada; para Atenas, Delfos ou Jerusalém, as oliveiras eram consideradas divinas e
espirituais. As próprias palmeiras carregam, por exemplo, sua simbologia icônica, tanto para os
egipcíos de 5 mil anos atrás quanto para os povos mais contemporâneos. No Brasil, por exemplo,
2.2. A Caverna
Diferentemente do menir, aquele monumento primitivo, a noção de caverna possibilita
uma visão da arquitetura, não apenas como símbolo, mas como abrigo. Vejamos: assim como a
árvore pode ser considerada um menir natural, uma vez que transcende sua condição vegetal
em condição arquitetônica a partir da sua simbologia, a caverna também pode transformar seu
estado geológico natural em arquitetura por ter a mesma função de uma edificação – o abrigo,
a ideia de refúgio. Assim, a caverna, como arquitetura, torna-se uma necessidade aos primeiros
habitantes da terra – os homens pré-históricos – por oferecerem um local de morada e, também,
de proteção dos animais e das intempéries climáticas.
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• Cavernas funerárias: fazem referência à casa dos mortos, ou seja, às residências pensadas
para a eternidade. Essas cavernas constituem a arquitetura do período megalítico ou de grandes
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Com o passar dos anos, as funções das cavernas foram se aprimorando e se adequando
construtivamente ao contexto arquitetônico do seu tempo. No período do homem não mais
pré-histórico teríamos, como exemplos de cavernas funerárias, os hipogeus (criptas) ou speos
egipcios. Destaque para Abu Simbel (Figuras 4 e 5), localizado no sul do Egito, e o templo
funerário de Hatshepsut.
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Em seu caráter mais contemporâneo, José Pereira (2010) faz uma referência à noção
de caverna funerária citando o monumento do Valle de los Caídos, localizado em San Lorenzo,
na Espanha. Esse monumento foi construído em memória dos nacionalistas espanhóis mortos
na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939, sendo, também, local de sepultamento do ditador
Francisco Franco.
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[Como se configura a morada dos mortos nos dias atuais? Existem memoriais
que representam, simbolicamente, grandes perdas de pessoas, sejam por
meio de desastres naturais, grandes acidentes ou perdas em guerras? Esses
memoriais procuram retratar a memória dos antepassados por meio de
esplêndidas ou discretas arquiteturas? Na verdade, a arquitetura religiosa, bem
2.3. A Cabana
Em verdade, “o comportamento instintivo dos primeiros seres humanos de se proteger
das intempéries e predadores, encontrar abrigo para descansar e renovar as forças foi o que
provavelmente originou a criação do que hoje denominamos por habitações ou moradia”
(REBELLO; LEITE, 2007, s.p). Em tese, um lugar para permanecer e sobreviver diante dos
desafios do meio.
É notório que a manifestação arquitetônica do morar iniciou-se com a apropriação
das cavernas, sejam naturais ou esculpidas nas montanhas. Contudo, embora a dinâmica de
sobrevivência tenha sido marcada pelo nomadismo, o desenvolvimento da sociedade e dos novos
hábitos do trabalho, proporcionado pela ação agrícola, definiu fortemente a fixação do homem
em lugares específicos. Para além disso, “pouco a pouco o descobrimento progressivo de formas e
materiais para utilizar na confecção de objetos utilitários foi reafirmando a possibilidade de viver
fora dos abrigos naturais” (PEREIRA, 2010, p. 25).
Nesta perspectiva progressiva, o homem passa a construir sua própria morada – a cabana
– que, em resumo, compreende-se como “resultado da evolução de um recinto indiferenciado
revestido como uma barraca de campanha, cujas paredes e cobertura foram resolvidos com um
mesmo elemento em comum” (PEREIRA, 2010, p. 27). A estes elementos está associado o uso de
galhos, troncos e ossos de animais como componentes estruturais e folhas, palha, terra e pele de
animais como revestimentos de cobertura (REBELLO; LEITE, 2007).
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Pode-se afirmar que nesta noção preliminar do habitar está a essência da arquitetura,
aquela que se realiza pelas necessidades do homem e não mais da mãe Terra. De fato, essa essência
está ligada à edificação da cabana, que, segundo Vitrúvio, é um espaço que protege o fogo que
aquece a família. Para o arquiteto, a primeira habitação seria resultado eficaz do fogo protegido
(MIGUEL, 2002).
Nas palavras de Benevolo (2015, p. 15), o que se documenta pelos arqueólogos a respeito
dos estabelecimentos mais antigos são, sobretudo, os resíduos deixados pelas atividades humanas:
“as sobras dos alimentos, os fragmentos provenientes dos trabalhos com pedras e da madeira,
e entre eles os produtos acabados, usados e depois abandonados ou enterrados”. Para o autor,
a descoberta desses objetos distribuídos em torno do núcleo da fogueira indica a presença do
homem e da gênese da habitação primitiva.
A palavra lar é uma corruptela de lareira. A lareira primitiva que faz do seu fogo
o elemento inseparável da cabana rústica. O fogo que reúne ao seu redor todos
os integrantes de um laço familiar, sendo, de um modo figurativo, um manto que
aquece e une a todos num mesmo instante. A identificação do fogo está presente
nas cabanas rústicas como o elemento mais semelhante à vida (MIGUEL, 2002,
s.p).
Para além do fogo como elemento construtor da noção de abrigo, na evolução da cabana
primitiva surgiria uma primeira diferenciação entre dois importantes pontos construtivos: o
suporte (a vedação) e a cobertura.
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No caso das primeiras cabanas, o suporte era contínuo e, ao mesmo tempo que firmava
a sustentação do abrigo, também servia de vedação e cobertura. Um exemplo claro dessa
composição estrutural pode ser visto na cabana em Terra Amata, nos arredores de Nice (Figura
10). É a primeira obra de edificação até agora conhecida, que remonta acerca de 300 mil anos
(BENEVOLO, 2015, p. 14).
Como se pode tomar nota, o início do ambiente construído para o habitar “não é apenas um
abrigo na natureza, mas um fragmento da natureza transformado segundo um projeto humano”
(BENEVOLO, 2015, p. 16). As necessidades do homem em se proteger e se aquecer, alinhadas
à uma existência territorialmente mais estática, bem como, o desenvolvimento de produção de
alimentos em todas as fases da agricultura neolítica, a fabricação de objetos e as possibilidades de
comunicação, arquitetaram os princípios que orientaram a concepção e construção primária dos
edifícios. Tais ações, tomaram governo em outras civilizações, como, por exemplo, os egípcios.
2.4. O Egito
Por certo, não poderíamos deixar de caracterizar o Egito como parte fundamental das
arquiteturas primárias relacionadas nessa unidade. O Egito é parte integrante do desenvolvimento
da herança arquitetônica dos edifícios e das estratégias que configuram a trajetória dos espaços
urbanos e suas arquiteturas. Como afirma Pereira (2010, p. 29), “a singularidade do Egito o
transforma em um verdadeiro laboratório arquitetônico” onde as problemáticas da arquitetura
podem ser reduzidas, simplificadas e estudadas. Podemos dizer, neste sentido, que dois marcos
configuram as singularidades que fizeram do Egito um espaço tão peculiar: o marco geográfico e
o marco histórico. Trataremos a seguir dos principais apontamentos relacionados a esses marcos.
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• Ciclo biológico do Rio Nilo: com a chegada do mês de julho, o rio Nilo recebe as
águas derretidas que se acumularam, no inverno, nas montanhas da África centro-oriental,
transbordando e enchendo sua extensão com uma aluvião. A partir do mês de dezembro, as
águas passam a recuar e desvendam um solo fértil e eficaz para a agricultura. Esse ciclo, de cheia,
transbordo e recuo da água, configura-se propositalmente no renovo das terras produtivas do
Egito e, portanto, espaço adequado para o florescimento da implantação de assentamentos
urbanos.
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Esse isolamento geográfico fez com que a civilização egípcia progredisse de modo muito
peculiar, os métodos de se viver e produzir eram repassados de geração a geração, uma vez que o
intercâmbio com outras nações não era facilmente permitido. Pereira (2010) aponta que o Egito
presenciou 2 mil anos de civilização e que, mesmo com as transições entre dinastias e impérios,
ela se manteve isolada, quase sempre limitada às margens do Nilo.
A partir desses marcos é possível perceber que o Egito possui singularidades. Primeiro,
relacionadas ao seu posicionamento geográfico, o qual permitiu a proteção contra invasores e
estabilidade de sobrevivência, por meio da fertilidade proporcionada pelo rio Nilo. Segundo, pelo
isolamento da civilização que, durante muitos anos, se desenvolveu por meio de um progresso
livre de intercâmbio e influências estrangeiras, devido as dificuldades de mobilidade e acesso às
suas terras. Na verdade, com essas condições geográficas e históricas, o Egito fundamenta sua
arquitetura e seu urbanismo, servindo, conforme justifica o professor José Pereira (2010), como
um grande laboratório.
3.1. Ortogonalidade
Basicamente, o desenvolvimento e materialização dos espaços e dos edifícios egípcios se
dá por meio das relações entre dois eixos lineares. Um que pode ser definido como eixo maior e
outro que se caracteriza como eixo menor.
• Eixo maior, o Nilo: como visto anteriormente, o rio Nilo é o principal canal de
desenvolvimento da civilização egípcia e, de fato, está ligado ao processo de vida desta civilização.
Uma das suas principais características está diante de sua formalidade linear, ou seja, de sua
grande extensão territorial na forma de linha, de eixo. Neste sentido, o curso do Nilo aponta uma
risca unidirecional que se limita de sua foz ao norte e sua desembocadura ao sul. Esta presença
significativa do rio faz com que o mesmo seja definido como um eixo, neste caso, o eixo maior.
• Eixo menor, o Sol: assim como o Nilo, o sol é um dos grandes componentes de
conformação da cultura egípcia e, consequentemente, dos seus edifícios. O curso diário deste
astro determinará um eixo transversal ao rio Nilo, cujos extremos são o leste, por onde o Sol
nasce, e o oeste, por onde ele esconde. Nesta perspectiva, na cultura do Egito, o leste possui uma
relação com a vida, enquanto o oeste, com a morte. Esse fato é tão característico que a parte
oriental do território egípcio era voltada às cidades dos vivos e a parte ocidental era destinada às
cidades dos mortos (PERERIA, 2010). Assim, torna-se claro que o ponto fixo de orientação dos
egípcios é o leste, o nascer do sol e da vida.
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Por certo, as relações entre esses dois eixos característicos, do espaço e da natureza egípcia,
conduziram para a formação de uma simples estrutura geométrica. O eixo maior estabelece uma
direção de norte a sul, enquanto o eixo menor indica uma orientação contrária, perpendicular,
que se define de leste a oeste. A união entre esses eixos estabelece, virtualmente, uma trama
retilínea que, em muito, contribuiu para o desenvolvimento e planejamento das sociedades
agrícolas egípcias, as quais necessitavam parcelar e delimitar suas terras antes e depois das cheias
do Nilo. Assim, as primeiras linhas eram traçadas nas superfícies do solo configurando um
desenho em xadrez, uma forma reticulada, um princípio primário da arquitetura.
Com efeito, a lógica de limitar as terras por meio da geometria reticular também se dará
na lógica da construção da casa e da implantação das construções no território urbano, conforme
veremos em outras unidades e disciplinas. O que nos atentaremos agora é um outro princípio
primário da arquitetura egípcia, a verticalidade.
3.2. Verticalidade
Com a configuração da retícula, baseada nas relações de ortogonalidade entre o eixo maior
e menor, é possível desenhar em um plano horizontal, ou melhor, é possível configurar o desenho
de um plano horizontal. De fato, é essa ideia de plano nivelado, preso ao solo, que se define toda a
gênese da arquitetura. É por meio do plano, no qual caminhamos, que se estabelecem as relações
de movimento e repouso que constroem os espaços e os edifícios onde moramos ou transitamos.
De todo modo, existe uma outra relação que, também, é parte inicial da configuração arquitetura
e, neste caso, característica essencial das construções egípcias, o plano vertical.
De acordo com Pereira (2010), a diretriz vertical para os egípcios possui uma significância
vital que faz referência a uma relação cósmica. Para eles, a direção vertical resulta de uma relação
simbólica do plano horizontal, no qual estamos fixados, com a parte celeste visível, ou seja, com
o firmamento, com o céu.
Neste sentido, as formas que conduzirão a materialidade da arquitetura egípcia estarão
atreladas com suas características horizontais e, também, com sua simbologia vertical. Não é
por acaso que Pereira (2010, p. 38) afirma que “as formas absolutas mais usadas no Egito são as
relativas à horizontal e à vertical”. Para o autor, a horizontalidade expressa o sentido racional ou
intelectual, é por onde o homem caminha e encontra os limites. Já a verticalidade está atrelada a
uma simbologia que representa o infinito, que se materializa no céu e, portanto, nunca encontra
barreiras ou obstáculos, tornando-se um símbolo sublime.
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Esse tipo de construção iniciou-se cerca de 3.000 a.C., com os túmulos para sepultamento
de faraós ou nobres. Em um primeiro momento com as chamadas mastabas e, posteriormente,
com as pirâmides propriamente ditas.
As mastabas era construções piramidais de planta retangular, com paredes inclinadas.
Possuíam uma capela no nível térreo e, abaixo deste nível, implantava-se o sepulcro. Basicamente
eram construções com 6 metros de altura, com comprimento de 30 metros e largura de 15
metros. A seguir ilustramos o aspecto formal da Mastaba de Abidos e o diagrama interno de
funcionamento (Figuras 13 e 14).
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Figura 14 – Diagrama de uma mastaba - Azul: a capela funerária, Vermelho: o poço, Verde: a câmara mortuária e
o seu sarcófago, Medidas médias de uma mastaba: Comprimento 30 m, Largura 15 m, Altura 6 m. Fonte: Google
Images (2018).
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a ideia de alcançar os céus, de chegar ao lugar mais alto como ponto de encontro
com o sobrenatural, aparece já definitivamente expressa nas pirâmides de Gizé,
(cerca de 2.200 a.C.), que constituem algumas das maiores e melhores amostras
de toda arquitetura da humanidade.
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• Lotiforme: capitel em forma de flor de lótus. Possui o fuste composto por talos de lótus
como se estivessem amarrados. A flor de lótus desenhada em seu capitel é geometricamente
estilizada.
• Protodórica: não possui base e seu capitel é formado por um suporte quadrangular, o
fuste, espaço entre a base e o capitel, geralmente, possui desenhos de ranhuras.
• Salão hipostilo (teto sustentado por colunas): a segunda parte do templo é uma sala
coberta, cheia de colunas.
A partir da configuração dessas partes, bem como os variados tipos de desenhos alinhados
nos capiteis das colunas, é possível perceber que a configuração espacial do templo do antigo
Egito. Este “desenvolve como ideias básicas o oásis fechado, a ordem ortogonal, a massa megalítica
e o percurso. Cada um concretiza simbolicamente alguma experiência existencial fundamental
e, todas reunidas, elas constituem uma representação do cosmos egípcio” (PEREIRA, 2010, p.
42). As grandes salas rodeadas por altos muros e colunas estilizadas, por exemplo, refletem,
metaforicamente, os paredões rochosos por onde flui o Nilo; as colunas, com seus vários tipos de
linguagem, por sua vez, remetem à imagem cósmica de alcance ao firmamento; e a gradação dos
espaços é alimentada pela disposição das mesmas, sempre em primeiro plano, a fim de lembrar,
constantemente, as características celestes.
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4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história
da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao
estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como
início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que,
de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas
e culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito.
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ENSINO A DISTÂNCIA
Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história
da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao
estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como
início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que,
de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas e
culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito.
Neste pequeno percurso, percebemos como as noções e disposição dos espaços se
desenvolveram nesse início de construção arquitetônica e como, desde o princípio, a noção
de símbolo estava presente nas construções. O abrigo, seja para o homem, para os deuses ou
para os mortos, era cercado de simbolismos que resultavam em espaços muito mais voltados às
representações simbólicas do que as características funcionais dos recintos. O Egito é, portanto,
um grande laboratório de toda essa experiência. A partir do rio Nilo, sua fonte de vida e energia,
construiu sua arquitetura ortogonal, ritmada e cheia de elementos simbólicos, voltada aos nobres,
deuses e faraós, cujas configuração arquitetônicas e urbanísticas ressoará em outras civilizações e
em outros tempos. A arquitetura nascia!
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I
A ARQUITETURA CLÁSSICA
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 29
1 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA GREGA .................................................. 30
1.1. ESCALA HUMANA .............................................................................................................................................. 30
1.2. ORDEM CLÁSSICA ............................................................................................................................................ 32
1.2.1. ORDEM DÓRICA .............................................................................................................................................. 35
1.2.2. ORDEM JÔNICA .............................................................................................................................................. 36
1.2.3. ORDEM CORÍNTIA ......................................................................................................................................... 37
1.3. O TEMPLO GREGO ............................................................................................................................................ 38
1.3.1. O PARTENON ................................................................................................................................................... 40
2 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA ROMANA .............................................. 42
2.1. O PANTEON ....................................................................................................................................................... 43
2.2. PLURALIDADE DE EDIFICAÇÕES .................................................................................................................... 44
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 49
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Em continuidade com o percurso cronológico a qual dispomos a estrutura dessa apostila,
assimilaremos, nesta segunda unidade, o que se entende por arquitetura clássica. Isto é, a
arquitetura concebida pelos gregos e toda aquela que viu, nesta sociedade, valores de inspiração
para edificar suas construções, como por exemplo, os romanos. Benevolo (2014, p. 17) já dizia
que “a principal dificuldade no estudo da arquitetura grega, reside no fato de grande parte da
nossa cultura e sobretudo do nosso modo de entender os valores artísticos resultar precisamente
dos gregos”. Para o autor, não conseguimos manter uma atitude neutra em relação a realidade
arquitetônica grega daquela época, das enormes consequências que dela resultaram nos dias de
hoje. Segundo Zevi (2011, p. 53), talvez seja por essas questões que precisamos compreender a
história por meio dos “múltiplos coeficientes que informam a atividade edificatória através dos
séculos”.
Desta forma, a compreensão das contribuições propiciadas pelos gregos e, por conseguinte,
pelos romanos, não se basta no estudo isolado da edificação. Devemos, também, explorar os
mecanismos que ditaram a formação daquela civilização. Nesse sentido, não se pode negar que
a cultura clássica, assim como outras linguagens arquitetônicas, é resultado de um conjunto de
pressupostos sociais, intelectuais, técnicos, figurativos e estéticos, os quais configuram a arte e a
técnica arquitetônica (ZEVI, 2011).
No decorrer desta unidade, iremos enriquecer nosso conhecimento por meio da arquitetura
desses povos. Do mesmo modo, reconheceremos prédios essenciais que sintetizam esta cultura.
Iremos caminhar juntos por entre as colunas ou abóbadas e conhecer estas civilizações, sobre
suas tecnologias, seus conceitos espaciais e suas contribuições, que se fazem presentes até nossa
atualidade.
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Na verdade, essa ideia do “homem como medida do universo” promoveu uma concepção
especial da arquitetura, mesmo porque, o homem em si é configurado, fisicamente, por meio
de várias partes (cabeça, tronco, perna...) que, ao todo, configuram sua existência material.
Cada membro desse corpo possui uma medida, que, quando juntas, é balizada por aspectos de
proporções. “Como no corpo humano existe uma proporção entre o braço, o pé, a palma da mão,
o dedo e as partes restantes, o mesmo se dá nas construções clássicas” (PEREIRA, 2010, p. 50).
Neste sentido, o homem grego configurou-se como módulo arquitetônico, isto é, como
um elemento de medida padrão. Portanto, ao tornar-se módulo, o homem grego estabeleceu uma
correspondência entre as partes do seu corpo com as partes que concebem a própria edificação.
Segundo Pereira (2010), essas correspondências, também denominadas de proporções, podem
ser definidas de forma estática ou de forma dinâmica. A primeira, é uma relação direta entre uma
medida do homem com a obra, enquanto a segunda é a derivação de novas medidas a partir de
variações harmônicas da medida inicial. Para exemplificar a ideia da proporção dinâmica, temos
a utilização da proporção áurea no Templo Parthenon, em que o todo pode ser entendido por
meio da derivação de uma unidade – o retângulo áureo.
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• Pedestal: construção sobre a qual se ergue uma coluna. Normalmente, composto por
uma cornija, um dado (também chamado de corpo) e uma base (plinto) (CHING, 2010).
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Legenda
01 – Base/Plinto (estrutura
normalmente quadrada).
07 – Friso.
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Legenda
01 – Fuste (apresenta canais ou ranhuras
arredondadas que ornamentam o fuste da
coluna clássica. A essas ranhuras também
se dá o nome de caneluras ou sulcos.
Geralmente, uma coluna dórica apresenta
03 – Arquitrave Lisa.
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Legenda
01 – Pedestal: base (apresenta uma
base mais larga, possibilitando o
recebimento de uma maior carga. Em
sua base é possível identificar o toro, que
é uma moldura convexa semicircular, e
a escócia, que é uma moldura côncava e
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O templo grego não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada
impenetrável dos deuses. Os ritos se realizam do lado de fora, ao redor do
templo, e toda a atenção e o amor dos escultores-arquitetos foram dedicados
a transformar as colunas em sublimes obras-primas plásticas e a cobrir de
magníficos baixos-relevos lineares e figurativos as traves, os frontões e as paredes
(ZEVI, 2011, p. 65).
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Por outro lado, o templo grego não se limitava apenas ao seu espaço interno, pelo
contrário, sua maior atenção se dava na face externa por meio da sequência colunas estabelecidas
para sua ornamentação e sustentação. Neste panorama espacial, o vão entre a parede e as colunas
é chamado de perístilo (basicamente a mesma ideia dos pátios rodeados por colunas dos templos
egípcios).
Legenda
01 – Naos/Cela.
02 – Pronaos.
03 – Opistódomo.
04 – Perístilo.
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1.3.1. O Partenon
com perístilo com frontões octastilos, pronaos com duas fileiras de colunas e
naos ou cela de três naves formada por duas colunatas que se sobrepõem para
alcançar a altura necessária para manter as proporções. No fundo da cela se
encontrava a estátua da deusa Palas Atenas esculpida por Fídias, em um recinto
com teto sustentado por quatro colunas, um resquício do antigo mégaron. O
templo possuía um rico opistódomo posterior, destinado ao tesouro da deusa,
onde também se guarda o tesouro público (PEREIRA, 2010, p. 64-65).
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O Partenon, assim como os demais templos gregos, não eram ambientes de função apenas
religiosa, eles se configuravam como espaços políticos e, neste ponto, o significado governamental
do templo era tão importante quanto sua expressão divina. Em síntese, os templos configuravam-
se como arquivos públicos do tesouro e dos importantes documentos firmados com os povos
estrangeiros. Esses templos, por sua vez, localizavam-se nas partes mais altas da cidade, na
acrópole, um recinto murado da cidade grega.
[Para visualizar um pouco mais sobre os templos e a sociedade grega, veja o vídeo
“Os Segredos do Partenon”. Aprofunde-se a respeito deste ícone da arquitetura
clássica através de diferentes perspectivas realizadas in loco e também visualize
as animações que representam esta obra quando ainda não estava degradada. Os
segredos do Partenon. 2013.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=txblqQDwxrs>.
Acesso em: 19 out. 2018.]
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2.1. O Panteon
Assim como a arquitetura grega, em sua magnitude, é apresentada por meio da
arquitetura do Partenon, a arquitetura romana também imprime em um templo a união de
todos os fundamentos que definiram os aspectos e a linguagem de sua própria arquitetura, o
Panteon. De acordo com Pereira (2010. p. 76), é o próprio contraste entre esses dois templos
que irão definir a “natureza tectônica e extrovertida da arquitetura grega e a natureza plástica e
introvertida da arquitetura romana”. Ainda que o Panteon tenha sido um exemplar único do seu
modelo arquitetônico, é por meio dele que se chega à perfeição de elementos espaciais, simbólicos
e construtivos, que, futuramente, seriam utilizados nas grandes obras com cúpulas clássicas,
no caso, as catedrais bizantinas e as basílicas românicas da idade média, conforme veremos na
próxima unidade.
Em síntese, o projeto do Panteon foi idealizado por um arquiteto sírio chamado Apolodoro
de Damasco e iniciou-se por volta do ano 118 d.C., sendo findado em meados dos anos 125 d.C.
Espacialmente, a edificação é, praticamente, uma esfera gigantesca de 43 metros de diâmetro.
Seu resultado formal é uma cúpula sustentada por paredes que remontam a ideia de um cilindro,
cuja altura equivale ao raio da própria cúpula. A planta, portanto, conforma-se a partir de um
Figura 29 – Planta baixa, corte e elevação do Panteon. Fonte: Google Images da História da Arte (2018).
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Para a liberdade física dos espaços centrais, ou seja, para a não existência de colunas ou
pilares para o sustento da cobertura, a arquitetura romana utiliza-se das abóbadas que, nada mais
são que uma construção em forma de arcos. Como material de execução utilizam-se as pedras
e os tijolos. Devido às proporções formais e físicas, bem como o peso do material utilizado para
sua materialização, as abóbadas descansam suas forças nas próprias paredes do edifício. Esse
fato exige paredes extremamente espessas, denotando uma certa monumentalidade para a sua
arquitetura.
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Mas, segundo Pereira (2010), o edifício mais representativo da arquitetura romana não
é o teatro e, sim, o anfiteatro. Podemos afirmar que o anfiteatro é um teatro duplo, como se
as plantas de dois teatros normais se juntassem e formassem apenas um. O anfiteatro possui
uma planta elíptica, tendo, ao seu redor, a existência de arquibancadas dispostas em andares. A
parte central do anfiteatro é chamada de arena, configurando o espaço dos grandes espetáculos,
principalmente os de lutas. O Coliseu, grande anfiteatro romano, exemplifica bem a valorização
destas atividades marciais ao acomodar, em seu interior, mais 50 mil espectadores.
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A domus era a residência mais tradicional e costumava ter um ou dois pavimentos que
se voltavam para um átrio e um pátio interno. Basicamente, os pavimentos da domus eram
fechados, fazendo com que suas aberturas voltassem para o interior do seu pátio. Por certo, a
parte mais típica da casa romana era a configuração do átrio, ambiente interno que, por meio
de uma claraboia, recebia iluminação natural. Neste ambiente também se configura o santuário
da residência ao guardar neste recinto as memórias dos antepassados. Um ponto fundamental
na configuração do átrio é que a partir dele se acessa tanto a sala de estar e jantar da residência
quanto o quarto conjugal (PEREIRA, 2010).
Figura 36 – Planta de uma residência típica romana. Fonte: IPAT (2015). HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 2
Por sua vez, a insula é uma habitação constituída por meio da sobreposição de várias
habitações idênticas, separada por abóbadas ou pisos de madeira. Em tese, sua altura, inicialmente,
não era definida, no entanto, a partir do decreto do Rei Augusto, as insulas passaram a ter, no
máximo, vinte e cinco metros de altura.
Por fim, a villa se configura como uma casa de fazenda, similar à domus, mas com suas
principais características voltada para o exterior e, também, com um traçado mais espontâneo
em relação à disposição dos ambientes. Os exteriores dessas residências eram bem enriquecidos
com pórticos e colunatas, para além disso, todos os ambientes eram projetados voltados para a
paisagem. Este tipo de edificação deu origem aos palácios romanos.
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3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I
ARQUITETURA MEDIEVAL
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 52
1 - ARQUITETURA MEDIEVAL ................................................................................................................................ 53
1.1. ARQUITETURA PALEOCRISTÃ ......................................................................................................................... 53
1.2. ARQUITETURA BIZANTINA .............................................................................................................................. 55
1.3. ARQUITETURA ROMÂNICA ............................................................................................................................. 59
1.4. ARQUITETURA GÓTICA .................................................................................................................................... 65
2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 70
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INTRODUÇÃO
Pereira (2012) explica sobre introdução ao estudo da história da arquitetura, que, para
definirmos um movimento arquitetônico, é possível considerar seus edifícios mais importantes.
Como visto, contemplamos as cavernas e pirâmides fúnebres dos egípcios e os templos dos
deuses gregos e romanos. Por certo, são arquiteturas que representam e definem o primeiro
período esquemático para o estudo da história da humanidade, a Idade Antiga. Neste momento,
nossa apostila passa para a segunda periodização convencionada para facilitar o entendimento
da história – a Idade Média ou, também, conhecida como Era Medieval.
Esse período durou, aproximadamente, dez séculos, que compreendem do século V ao
século XV. Teve, como início, a marcação temporal do fim do Império romano do Ocidente a
partir das invasões bárbaras e finalizou-se com a Queda de Constantinopla, encerrando, assim,
o fim do Império Romano do Oriente e o início do Renascimento na Europa. Nestes dez séculos
que marcam o período chamado de Idade Média, dois contextos são importantes: o primeiro
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1 - ARQUITETURA MEDIEVAL
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Nesta ordem espacial, a igreja passa a ser composta por elementos que ressoam em sua
arquitetura religiosa até os dias atuais.
• Coro: é a região da abside, o altar, espaço onde todos os fiéis direcionam o olhar.
• Nave: é a parte do corpo da igreja, local onde os cristãos sentam para participarem do
ritual da celebração.
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Figura 40 – Planta e corte da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla. Fonte: Pinterest (2018).
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Internamente, a Igreja de Santa Sofia (Figura 40) é profusamente decorada, daí a influência
do oriente na arquitetura bizantina. Os vários mosaicos, colunas e relevos presentes em seu
interior representam cenas religiosas, bem como, exaltam a autoridade e postura do imperador,
visto na época, como um verdadeiro representante de Deus.
Figura 42 – Parte interna da decoração da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla. Fonte: Bontempo (2014).
Desta forma, a arquitetura religiosa bizantina explode a escala das igrejas primitivas
paleocristãs e configura uma nova forma de organizar o espaço interior por meio da solução
nuclear e de encontro das absides. A grande característica desse tipo de arquitetura se dá pela
conformação das cúpulas.
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ENSINO A DISTÂNCIA
As cúpulas eram elementos de cobertura que se davam pela construção de quatro arcos
curvilíneos sobre as paredes, o espaço entre esses arcos configuravam triângulos que, juntos,
promoviam uma base circular. Por meio dessa base circular, conforme a Figura 43, fixava-se o
elemento curvo – a cúpula.
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Essas inovações e mudanças trouxeram um novo caráter para uma arquitetura que se
opunha à estética bizantina de séculos anteriores. Vejamos, a partir das características elencadas
por Zevi (2011), como essas inovações configuraram as mudanças de espaços religiosos.
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2. Segundo, em relação ao jogo das naves: deixar o espaço mais complexo e menos
unitário. Separação do espaço religiosos em partes mais demarcadas. Segundo Zevi (2011),
articular o edifício de forma a deixá-lo mais complexo em detrimento de uma visão espacial
unitária. Exemplo: Catedral de Ivrea.
3. Terceiro, em relação ao engrossamento das paredes: para Zevi (2011), significou injetar
no invólucro mural o sentido de peso, de uma gravidade dominante. Nas palavras de Pereira
(2010), a arquitetura românica deixa de atuar em termos de superfície ou pele e começa a se
expressar por meio da lógica estrutural. O engrossamento das paredes denotam essa participação
do esqueleto da estrutura como equivalência estética, isto é, o sustento aparente do corpo da
edificação.
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4. Quarto, em relação ao gosto pelo material bruto: de acordo com Benevolo (2014),
na arquitetura românica prefere-se por deixar a vista a construção em tijolo ou terracota, o que,
de fato, é uma grande inovação estética do período. O autor assinala que, na antiguidade, e no
Oriente cristão não é comum o gosto pela estrutura a vista; os gregos revestiam as suas colunatas
de estuque, os romanos utilizavam o mármore para adornar suas estruturas e os bizantinos se
utilizavam dos murais para fortificar os aspectos de poder nas vedações de suas igrejas. A ideia
dos construtores românicos era deixar à mostra a estrutura, tanto no exterior quanto no interior
das edificações, como forma dos observadores entenderem a profundidade da estrutura para lá
da superfície. Exemplo: Igreja de San Pietro, em Toscanella
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Nesta configuração, o abside também era ladeado por naves laterais que auxiliavam
espacialmente o recebimento de um maior número de pessoas para as cerimônias religiosas.
Ainda como desdobramento da arquitetura das basílicas primitivas, a arquitetura românica
anexou as torres e os campanários em sua fachada principal, o que, por certo, contribuiu para um
reforço da sua monumentalidade. Antigamente, o campanário se erguia isolado da edificação da
igreja.
Quanto à circulação interna, as igrejas românicas, além do grande corredor ou espaço
central organizado pela nave, contemplavam, em seu interior, uma espécie de corredor em
torno da abside. A esse corredor dava-se o nome de deambulatório, cuja função era conduzir os
peregrinos ao longo das capelas que se formavam como anexas à estas absides. Esse percurso dos
fiéis era para contemplar as relíquias das igrejas dispostas nas capelas.
Por fim, uma importante característica das igrejas românicas é, de fato, o uso dos arcos e
abóbadas para compor a parte estrutural da igreja. Neste sentido, esses elementos funcionavam
como estruturas de vedação e de sustentação da cobertura. Um possível motivo para o retorno
do uso dos arcos e das abóbadas romanas, define-se pela aparência e complexidade mais luxuosa
que esses elementos resultam na arquitetura dos edifícios. Por certo, a utilização desse sistema
construtivo determinou alguns apontamentos estéticos para a arquitetura. Um deles é que as
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Vale notar que este sistema construtivo na época medieval era feito por meio de
experimentos. Os construtores destas igrejas, os nossos atuais “mestres de obra”, eram treinados
através das corporações de ofícios. Embora tivessem profundo conhecimento construtivo, lhe
faltavam o entendimento matemático e físico das estruturas. O processo intelectual do desenho,
do projeto, do estudo da estrutura e da aproximação do arquiteto com esses meios se dará, em
maior ênfase, nos séculos posteriores, no período Renascentista, conforme veremos na próxima
unidade.
Para finalizarmos as questões que envolvem o estudo dessa arquitetura sobressalente do
período medieval, é importante assinalarmos que seu desempenho arquitetônico se deu por toda
a Europa. Houve um processo de internacionalização da arquitetura românica que, nos diversos
países em que estabeleceu contato, conseguiu exprimir, de forma particular, as características
arquitetônicas e espaciais dos seus devidos lugares. Pode-se afirmar que o processo de ressonância
do estilo românico para os diversos países do continente europeu se deu por dois motivos: o
primeiro, pela reforma do monastério francês de Cluny, que propagou o estilo para diversas
abadias correspondentes e, segundo, pelas peregrinações dos fiéis que, ao entrarem em contato
com as mais diversas basílicas, acabavam carregando de volta uma influência arquitetônica para
a igreja do seu local de origem.
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ENSINO A DISTÂNCIA
A partir do século XII, a arquitetura da idade média passou a configurar edifícios cada vez
mais audaciosos. Em uma primeira justificativa, devido ao fato que a sociedade medieval passava
por profundas mudanças no cenário econômico: uma transição do período agropecuário feudal
para um momento de disputa comercial. As cidades passam a ser o lugar de destaque destas
disputas e não mais o campo produtor. Em uma segunda justificativa, pelo desenvolvimento
do campo técnico da construção. Todo esse processo de estruturação e novos aprendizados da
engenharia refletiram em uma arquitetura mais complexa: a arquitetura gótica.
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ENSINO A DISTÂNCIA
Uma das questões que definiu esse estilo arquitetônico é o contexto econômico, social e
cultural da Alta Idade Média, período do seu nascimento (1150 a 1200). Nesta ocasião, as cidades
estavam cada vez mais densas por meio da deslocação das pessoas do campo para os burgos.
Alinhado a esse crescimento demográfico, o desenvolvimento econômico e cultural das cidades
também aumentava, o que, por certo, exigiu tipos de construções mais variadas e com outras
tecnologias construtivas. Benevolo (2014) nos aponta que para além dos clientes tradicionais
que sustentavam as construções arquitetônicas da época, outros novos passaram a demandar
obras, como, por exemplo, as novas ordens religiosas criadas no século XII e XIII – cistercienses,
dominicanas e franciscanas. Neste grupo de fregueses também se acrescentava as novas dinastias
francesas que buscavam, cada vez mais, imprimir, na arquitetura das igrejas, um simbolismo
de poder, riqueza e fé religiosa. Dentro deste contexto de desenvolvimento urbano e variações
de solicitações arquitetônicas, os construtores acreditavam que se aumentava a necessidade de
uma tecnologia e de um repertório construtivo comum que pudesse dialogar com esse momento
desenvolvimentista.
De acordo com Benevolo (2014, p. 113), não é possível caracterizar o estilo gótico por
meio da presença ou criação de novos ou ressonantes elementos construtivos, como abóbadas
e arco e, também, não se deve caracterizá-los por meio de orientações figurativas que possam
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Figura 53 – Ogiva simétrica baseada em um triângulo equilátero. Fonte: Google Images (2018).
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Figura 55 – Abadia gótica de Westminster, Londres (iniciada em 1245). Fonte: Civitatis (2018).
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2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como conteúdo desta unidade se fez presente o estudo das “Eras das Igrejas” – o período
medieval. Um tempo na história da humanidade marcado pelo poder da religião católica e
intensas disputas por pontos territoriais, bem como um período do passado caracterizado pelo
advento do comércio europeu, adensamento das cidades e novos posicionamentos culturais e
artísticos. Como soma desse contexto, a arquitetura se mostrou como arte e técnica de abrigar e
universalizar os princípios religiosos ditados pelo clero atuante. Bem como de se mostrar como
técnica a partir da evolução de novos sistemas e formas de construções: o arco pleno, ogival;
a estrutura dependente ou independente da vedação; os grandes vãos para receber os vitrais;
o transcepto e as coberturas abobadadas de arestas ou de berço. Da simplicidade da basílica
paleocristã à dimensionalidade das igrejas góticas, vimos uma arquitetura que se materializou
pelas possibilidades de arranjos formais e estruturais que fossem permitidos e ousados na época.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I
ARQUITETURA RENASCENTISTA
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 73
1 - O HUMANISMO ................................................................................................................................................... 73
1.1. O RENASCIMENTO ............................................................................................................................................. 73
1.2. A LINGUAGEM CLÁSSICA NOS SÉCULOS XV E XVI .......................................................................................75
1.3. O MANEIRISMO ................................................................................................................................................ 81
1.4. A CONTRARREFORMA ..................................................................................................................................... 83
2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 84
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INTRODUÇÃO
Na unidade anterior vimos que o último estilo da arquitetura medieval – o estilo gótico
– ganhou grande ênfase ao produzir inúmeras edificações por todo o continente europeu. Por
certo, o repertório estilístico dessa arquitetura se ampliou fixando-se em cada parte do continente
do Velho Mundo. Contudo, com o passar do tempo, a alta disciplina e os controles escolásticos
que determinavam essa arquitetura pela Europa passaram a enfraquecer-se, prejudicando, a
longo prazo, seu processo compositivo. É válido lembrar que a arquitetura gótica foi um estilo
que se universalizou ao configurar suas mais diversas catedrais dentro dos mesmos parâmetros
arquitetônicos.
Dentro deste contexto, a arquitetura renascentista surge por entre as lacunas da arquitetura
gótica que perdia suas forças e difusão. Na verdade, crescia por entre os intelectuais da época um
novo método de controle das questões arquitetônicas. Este método, por sua vez, não se articulava
tanto com o pensamento denso e complexo dos pressupostos criados pela arquitetura cristã
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1 - O HUMANISMO
1.1. O Renascimento
Em primeiro lugar, é preciso entender que o Renascimento foi um movimento intelectual
e cultural que teve início em meados do século XIV. Inicialmente, configurou-se na Itália,
na região Toscana das cidades de Florença e Siena e, posteriormente, prolongou-se por toda
a Europa. Nesta época, o continente europeu passava por grandes transformações ditadas,
principalmente, pelas transições do feudalismo para o capitalismo, acarretando, neste sentido,
grandes mudanças nas estruturas medievais vigentes. Notoriamente, não apenas a cultura, a
sociedade, a economia, a política e a religião iriam experimentar o âmbito dessas mudanças, mas
também as artes e a arquitetura que tanto nos interessa. Mesmo porque, o termo renascimento,
dentro da historiografia da humanidade, é mais utilizado para salientar os efeitos causados nas
artes, nas ciências e na filosofia.
Quanto ao nome do movimento – Renascimento – definiu-se em virtude de uma intensa
abordagem aos valores da antiguidade clássica, o renascer do mundo antigo. Os pensadores
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Pode-se afirmar que os textos de Vitrúvio foram responsáveis por colaborar com uma
possível alteração sobre a posição profissional do arquiteto. Segundo Benevolo (2015, p. 401),
os arquitetos desse período “são especialistas de alto nível, independentes das corporações
medievais e ligados aos comitentes por uma relação de confiança pessoal. Tornam-se agora
especialistas autônomos, desligados da comunidade da cidade, e aptos a trabalhar em qualquer
local”. Alinhado a esse contexto, também pode-se afirmar que as atividades profissionais, dos
Nesta nova ordem de concepção do edifício, Pereira (2010) aponta que era muito comum
o uso de maquetes para auxiliar o projeto arquitetônico, sendo um meio figurativo de representar
a realidade. Em decorrência disto, o surgimento do desenho perspectivado, capaz de retratar
a realidade de forma consistente, foi uma colaboração muito expressiva do renascimento. “A
perspectiva cientifica reduz a realidade a uma ordem matemática na qual a arquitetura depende
rigorosamente de um esquema geométrico prévio, e se pode deduzir a forma de cada elemento
da posição que ocupa nesse esquema” (PEREIRA, 2010, p. 142).
Segundo Benevolo (2015), a perspectiva científica é fundamental na concepção
arquitetônica, pois propicia ao observador um desenho igual àquele que seria visto aos olhos
reais. Assim, o desenho perspectivado passa a ser um precioso instrumento para conceber e
materializar a arquitetura.
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ENSINO A DISTÂNCIA
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ENSINO A DISTÂNCIA
Como visto na Figura 58, a cúpula projetada por Brunelleschi impressiona pela sua
monumentalidade e proporção. Com um diâmetro externo de 54 metros e uma altura de 114
metros até a lanterna, a cúpula é, até hoje, a maior estrutura abobadada já construída desde a
Antiguidade.
Vale afirmar que o projeto desta cobertura foi formado não somente por uma cúpula,
mas por duas. A primeira delas localiza-se na parte interna da igreja e a segunda, projetada
para resistir as intempéries. Até o momento, pouco se sabe sobre como Brunelleschi conseguiu
edificar, de fato, um elemento desta proporção, pois o mesmo não deixou desenhos que clareiam
as hipóteses que são afirmadas pelos estudiosos. No entanto, as informações que são repassadas
são que o projetista não utilizou moldes de madeira em formato de arcos como forma de alinhar
os tijolos e, assim, configurar a cúpula. Segundo historiadores, a técnica utilizada por Brunelleschi
é chamada de “espinha de peixe”. Nesta técnica, um tijolo é implantado na horizontal, enquanto
um outro tijolo é colocado em cima do anterior na posição vertical e assim sucessivamente.
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ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 59 – Esquema da técnica estrutural utilizada para a construção da cúpula. Fonte: Portobello
Pereira (2010) aponta que, apesar do alarde técnico e da importância para a cidade de
Florença que a materialização da cúpula de Brunelleschi proporcionou, não foi na igreja da Santa
Maria Del Fiore que o mesmo imprimiu a nova linguagem humanista. Para o autor, a expressão
dessa linguagem arquitetônica se deu nos projetos das igrejas de São Lourenço e na Igreja do
Espírito Santo.
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Figura 62 – Fachada da Capela Sistina do Vaticano, Leon Battisti Alberti. Fonte: Babel Cultural (2015).
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Segundo Zevi (2011, p. 102), o prédio constitui, até certo ponto, a declaração dos princípios
que Bramante julgava necessários na composição de uma arquitetura dita como renascentista, são
eles: “absoluta afirmação central, valorização máxima das relações dimensionais entre as partes
do edifício, isto é, do elemento proporcional, e sólida plasticidade.” Por certo, essas características
iriam ecoar nos próximos projetos do arquiteto em Roma, inclusive para a Catedral de São Pedro
do Vaticano.
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Figura 64 - Planta da Catedral de São Pedro. Proposta de Bramante. Fonte: Google Images (2018).
Figura 65 – Fachada Capela Sistina do Vaticano. Projeto de Carlo Maderno Fonte: Move Notícias (2018).
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1.3. O Maneirismo
Em primeiro lugar, o Maneirismo é um movimento de transição entre o Renascimento e
o Barroco. Sua origem se deu por contrapontos à arte desenvolvida no renascentismo. Em tese, foi
um movimento que se colocou em oposição à formalidade e perfeição clássica. Ainda mais que
no Renascimento, o Maneirismo pregava a utilização de elementos clássicos com maior liberdade
de concepção e materialização, fazendo surgir soluções condizentes com o período de grande
desenvolvimento artístico e intelectual. Suas características principais denotam questionamentos
relacionados aos valores clássicos em favor da originalidade de cada artista, da complexidade das
formas menos rígidas e mais dinâmicas.
Em relação ao espaço arquitetônico religioso, a arquitetura maneirista procurou alongar
mais as igrejas, se opondo ao formato centralizado e quadrado que se implantou em grande parte
das igrejas renascentistas. A cúpula, acima do transepto deixa de ocupar o espaço central da
basílica e passa a pertencer somente como cobertura do transepto.
Adiante, Pereira (2010) evidencia o projeto a Rotonda, de Palladio, em que este cria
um bloco isolado central, que é elevado em uma paisagem; apresenta quatro faces, dadas como
pórticos externos simétricos.
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Figura 67 – Villa Capra, também conhecida como “a Rotonda”. Fonte: Wordpress (2018).
Como visto nas Figuras 67 e 68, na obra arquitetônica da Rotonda, Palladio criou um
bloco central de planta simétrica. A elevação do edifício dá origem a quatro jogos de escada que
direcionam para o mesmo lugar, o pavimento principal da residência. A ideia de grandes e várias
escadas para se chegar a um mesmo espaço é uma das características da arquitetura maneirista.
Em suas faces externas, quatro frontões gregos marcam os acessos e expõem as seis colunas de
ordem jônica.
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1.4. A Contrarreforma
O movimento de contrarreforma é definido como o último período maneirista. Deu-se
a partir da finalização do Concílio de Trento, em 1563, e da aplicação de seus decretos sobre a fé
e a disciplina da igreja ao mundo católico em oposição à corrente protestante que se desenvolvia
no século XVI, principalmente a Reforma Protestante de Lutero, em 1517. Por meio dessas
reuniões, fixadas na cidade de Trento, a igreja Católica reafirmava suas doutrinas, ou seja, seus
dogmas, suas verdades absolutas, como forma de sustento e combate aos princípios reformistas
protestantes.
No contexto arquitetônico, Pereira (2010) aponta que a arquitetura do período da
contrarreforma tem sua melhor expressão na idealização do Escorial (1561-1584). A partir de
um conceito ideal sobre a arquitetura daquele tempo, “o modelo escorialense propõe uma nova
cidade alternativa que é, ao mesmo tempo, cidade ideal humanista e atualização contrarreformista
de cristã” (PEREIRA, 2010, p. 153). A noção de reunir vários edifícios em um mesmo local,
proporcionou, para a arquitetura, uma nova forma de expressão de poder. Por certo, essa forma
de implantação traria impactos para a lógica urbana e de sua paisagem.
Em síntese, a ideia do modelo escorialense emitiu, na época, uma proposta de composição
unitária, ou seja, a reunião de várias edificações entre si e implantadas em um mesmo território
como forma de organizar um grande complexo. No programa desse complexo encontramos
biblioteca, colégio, igreja e convento. Cada qual separados ou integrados em um mesmo prédio,
de acordo com as suas devidas condicionantes de funcionamento.
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Pereira (2010) afirma que a influência do Escorial na arquitetura da Europa dos séculos
XVI e XVII é bastante evidente, tanto nas próximas composições, como o caso dos escoriais
de Versalhes e Mafra, quanto na clara possibilidade de racionalizar uma grande quantidade
de edifícios complexos e com funções diferentes reunidos e inseridos como parte da estrutura
urbana.
2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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