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HISTÓRIA DA ARQUITETURA

E URBANISMO I
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Gestão Educacional:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios Diagramação:
não vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande
responsabilidade sobre as escolhas que Revisão Textual:
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Gabriela de Castro Pereira
acadêmica e profissional, refletindo diretamente Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
em nossa vida pessoal e em nossas relações Luana Ramos Rocha
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação Produção Audiovisual:
e conhecimento advindos de profissionais que Heber Acuña Berger
possuam novas habilidades para liderança e Leonardo Mateus Gusmão Lopes
sobrevivência no mercado de trabalho. Márcio Alexandre Júnior Lara

De fato, a tecnologia e a comunicação Gestão da Produção:


têm nos aproximado cada vez mais de pessoas,
Kamila Ayumi Costa Yoshimura
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis.
Fotos:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a
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Distância, a proporcionar um ensino de qualidade,
capaz de formar cidadãos integrantes de uma
sociedade justa, preparados para o mercado de
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I

ARQUITETURAS PRIMÁRIAS
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
1 - POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DA ARQUITETURA? ...................................................................................... 5
2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS ................................................................................................................................. 9
2.1. O MENIR ............................................................................................................................................................... 9
2.2. A CAVERNA ........................................................................................................................................................ 10
2.3. A CABANA .......................................................................................................................................................... 15
2.4. O EGITO .............................................................................................................................................................. 17
2.4.1. MARCO GEOGRÁFICO ..................................................................................................................................... 18
2.4.2. MARCO HISTÓRICO ....................................................................................................................................... 18
3 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA EGÍPCIA .................................................................................................. 19
3.1. ORTOGONALIDADE ............................................................................................................................................ 19
3.2. VERTICALIDADE ............................................................................................................................................... 20
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 26

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INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade, nos perguntamos sobre a importância da história da arquitetura
como um campo disciplinar no ensino arquitetônico, ou seja, por que estudar a história da
arquitetura? Tal questionamento decorre de um olhar sobre os edifícios e as cidades do passado,
não somente a partir de um protocolo temporal, mas como meio de iluminar e esclarecer nossas
presentes urbes e suas construções. “É na história onde se pode e se deve encontrar o sentido da
ação e a reflexão arquitetônica. Iluminando o presente desde o passado e convertendo seu campo
intelectual em uma verdadeira sala de cirurgia” (PEREIRA, 2010, p. 13).
Nesta perspectiva, a história da arquitetura torna-se veículo e instrumento necessário,
tanto no ato de concepção projetual, quanto no ato de crítica arquitetônica. Em síntese, ancorada
na experiência e desenvolvimento dos territórios, a disciplina dinamiza as variáveis de espaço,
tempo e lugar, abordando o saber histórico como forma

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fundamental para o conhecimento da composição e da construção das
edificações, atendendo aos problemas que cada sociedade e seus arquitetos
tentaram resolver, e focando aquelas questões que explicam o porquê das
permanências e evoluções (PEREIRA, 2010, p.13).

Munido desses apontamentos iniciais, a primeira parte dessa unidade reflete sobre as
relações entre a história e a arquitetura, mais particularmente sobre as razões que validam o
estudo da história arquitetônica.
A partir dessa contextualização, a apostila resume, numa visão geral, o desenvolvimento
da arquitetura ocidental, desde as chamadas arquiteturas primárias até a idade do humanismo.
Assim, iniciamos um percurso sequencial e contínuo, guiados por uma linha histórica sensitiva
às ideias de projeto e que buscará ensinar, de forma clara e simples, o passeio evolutivo dos
espaços, da paisagem e dos modos de habitar.

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1 - POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DA ARQUITETURA?


Primeiramente, o exercício acadêmico de se refletir sobre as relações entre a Arquitetura
e a História não é simples. Afinal, a disciplina da História da Arquitetura nem sempre esteve em
uma posição muito clara (CASTRIOTA, 2013), visto as inúmeras intenções dos trabalhos dos
historiadores no decorrer do tempo e de suas memórias.
Para clarificar essas intenções, assim como Castriota (2013) utilizou em seu artigo,
tomamos como ponto de partida uma síntese de objetivos básicos sobre a história da arquitetura
proposta de Watkin (1980) em The Rise of Architectural History. Este expõe que os objetivos de
se investigar a história arquitetônica podem ser divididos em três grandes alvos: o prático, o
histórico e o estético.
Em primeiro lugar, o alvo prático busca, por meio da história, construir um mapeamento
dos edifícios, ou seja, sistematizar e identificar questões relacionadas às origens das edificações,
como: constatar as datas de construção e conclusão da obra, identificar o autor, o construtor e
entender a finalidade do edifício e seu papel principal. Em termos de trabalho, podemos afirmar
que esse objetivo busca, de forma específica, catalogar as edificações por meio de suas fontes

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primárias.
Para o alcance desse objetivo, Castriota (2013) aponta que existe um fator favorável
se compararmos com a História da Arte, por exemplo. De acordo com ele, o historiador da
arquitetura não teria demasiada problemática em catalogar um edifício, uma vez que as edificações
permanecem constantemente no mesmo lugar, sem deslocamentos físicos. Diferentemente dos
objetos de artes que, em muitos casos, se deslocam geográfica e culturalmente dos seus âmbitos
de origem, dificultando reais identificações de sua gênese.
O segundo objetivo da história da arquitetura proposto por David Wartkin é o alvo
histórico. Ao contrário do alvo prático, o alvo histórico, de acordo com Wartkin, interessa em
descobrir por que a edificação foi construída e para qual ou quais funções ela foi usada no
decorrer dos tempos. Para Castriota (2013), essa tarefa teria suas dificuldades “na medida em que
o historiador que pesquisa o assunto não é geralmente um membro da sociedade e da cultura que
produziram o edifício, sendo necessária uma minuciosa consulta às fontes” (CASTRIOTA, 2013,
p. 74). Nessa dimensão de descobrimento, o historiador teria que se respaldar nas interpretações
das consultas religiosas, sociológicas e culturais que envolvem o edifício em questão. Ao mesmo
tempo, desconsiderar a interpretação pessoal do cliente e do autor, cuja subjetividade nem sempre
está documentada nas fontes que interessam os arquitetos, como: desenhos, escritos, croquis,
relatos, maquetes.
O terceiro objetivo, que envolve o estudo da história da arquitetura é o alvo estético, que
é o mais complexo e subjetivo de esclarecimento, uma vez que suas intenções procuram, não mais
catalogar ou entender a finalidade do edifício, mas sim, analisar e identificar os significados das
obras arquitetônicas e os motivos que impulsionaram as mudanças estilísticas das construções
no decorrer do tempo (CASTRIOTA, 2013). Para a conclusão desse alvo, o historiador mergulha
em questões maiores de entendimento da arquitetura, como o pensamento social, econômico e
cultural que abrange o contexto ou o período que se analisa a estética das edificações.

Para Watkin, os historiadores se concentrariam, geralmente, em um desses alvos,


ou numa combinação deles, sendo, a seu ver, os melhores historiadores aqueles
que tentam, de uma forma ou de outra, combinar os três alvos e os balancear
apropriadamente, a fim de apresentar a melhor documentação e interpretação da
arquitetura de um lugar ou de um período (CASTRIOTA, 2013. p. 74).

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Neste sentido, fica claro que o ato de historiar a arquitetura pode tomar diferentes
caminhos e pesos de funções, aí as diferentes posições da história da arquitetura. Pode-se analisar,
por exemplo, a memória de um edifício de modo unitário, fragmentado das contextualizações
sociais, religiosas, culturais e econômicas, conforme concluída por uma ficha técnica proposta
pelo alvo prático, ou pela compreensão de valores mais subjetivos que definem a construção
como resultado de uma significância mais ampla, seja ela diante do contexto histórico e/ou pelo
apego estético vigente.
Por certo, mesmo que os historiadores tomem partidos que não englobam profundamente
os três alvos observados, a história da arquitetura, a todo momento, manterá um fio condutor
único: o entendimento da gênese e das transformações das arquiteturas e seus ambientes no
tempo. E deverá, sempre, posicionar como pergunta capital o porquê estudar atualmente os
objetos, os espaços e a paisagem arquitetônica mediante categorias passadas. Nesta perspectiva, a
questão que coloca a história dentro de um campo disciplinar que se compromete com o ensino
de projeto – que é a própria proposta do curso acadêmico de arquitetura e urbanismo – valida
razões que estreitam os vínculos do estudo da história com a produção do espaço edificado, a
arquitetura propriamente dita. Posto isto, basta, a partir de então, posicionarmos tais razões.
Para seguirmos esse caminho, tomaremos como referência os escritos do professor de

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história da arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Antônio Leite
Brandão, que, em seu artigo intitulado Por que estudar história da arquitetura?, desenvolveu dez
razões que validam tal questionamento.

1ª razão – Entender os conceitos antigos: para Brandão (2012), o estudo da história da


arquitetura é importante porque desenvolve e aprofunda nosso conhecimento sobre conceitos
antigos, ao mesmo tempo que testa a potencialidade deles para a compreensão dos termos
contemporâneos. Para o autor, os conceitos que regem as questões arquitetônicas, ou seja, aqueles
que se relacionam com a concepção das edificações e das cidades, não se paralisam no tempo,
mas transformam-se, visto que a história dos edifícios e das cidades não se faz por substituição de
estilos, e até mesmo dos seus conceitos, pelo contrário, a passagem dos séculos apenas aprofunda
e recria tais conceitos. Assim, o diálogo entre conceitos antigos e suas aplicações no mundo atual,
especialmente os que foram criados na linguagem clássica – conforme veremos nas próximas
unidades –, configura o que Carlos Brandão (2012, p. 31) chama de “Transtemporalidade”.
Segundo ele, uma estratégia pela qual aproximamos “tempos, espaços, culturas e disciplinas
distintas e distantes” para esclarecer e entender a universalidade dos conceitos. Será, por exemplo,
que a ideia de polis, utilizado para caracterizar o modelo das antigas cidades gregas, se aplica nas
cidades de hoje? Ou teria mais aproximação o conceito de metrópole do mundo contemporâneo
com o termo urbs, que definia conceitualmente as cidades romanas? Para responder tais questões,
estudamos e validamos esses conceitos por meio da história da arquitetura.

[Para mais informações sobre o conceito de “Transtemporalidade” como


procedimento historiográfico ver: BRANDÃO, C. A. L. Transtemporalidade
(conclusão e conferência). Revista Interpretar a arquitetura, Belo Horizonte:
UFMG, nº15, 2010. Disponível em: <http://www.arq.ufmg.br/ia>.]

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2ª razão – Precisar o sentido original dos próprios conceitos: para elucidarmos essa
razão basta apontarmos para o próprio exemplo utilizado pelo autor. Segundo ele, por exemplo,
o sentido que um templo grego teve para os helênicos não é o mesmo sentido que esse templo
teve para os romanos, para os medievais, para os renascentistas, para os neoclássicos ou para
os que vivem na modernidade. E é, justamente, a diferença de utilização desses sentidos, e não
suas semelhanças, nos períodos históricos indicados, que melhor se faz para compreender o
seu conceito original: o templo primário. Portanto, essa segunda razão é um aprofundamento
da anterior, pois busca, além de entender primeiramente os conceitos antigos, estabelecer seu
sentido primário, de onde surgiu e suas principais características.

3ª razão – Compreender os conceitos “clássicos”: muitas vezes nos deparamos diante de


um objeto ou de uma situação que caracterizamos como clássica. Por exemplo, podemos apontar
uma cadeira e afirmar que seu design é clássico. Da mesma forma que podemos desfrutar de
um jantar em uma abordagem clássica e, até mesmo, podemos nos vestir de maneira clássica.
Na verdade, o que é clássico? A noção deste conceito guarda para si milhares de possibilidades
de sentidos que só se revelam diante do passar de gerações futuras ou por meio de observações
de outrem. Para Brandão (2012, p. 32), é “essa capacidade de doar vários sentidos a vários

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intérpretes” que faz do objeto um clássico. Para além disso, o conceito de ser/estar clássico serve
como matéria-prima para a construção de valores que cada época elabora para o espaço que
pretende construir.

4ª razão – Eleger os clássicos: da mesma forma que o estudo da história da arquitetura


aponta como objetivo a compreensão do conceito de clássico, como visto no ponto anterior, ele
também coloca a importância deste estudo como forma de eleger as obras clássicas.

5ª razão – Reescrever a história: Brandão (2012) afirma que sempre é preciso reescrever
os conceitos históricos, tendo em vista o presente. Ao fazermos tal exercício, o da “reescritura”,
estamos resgatando e mantendo vivas as ideias do passado. Para Brandão (2012, p. 32),

reescrever a história e seus elementos contemporâneos não é apenas modo de


aprofundá-las e reconstruí-las segundo nossos horizontes, os quais são distintos
das épocas anteriores: é o meio de dar vida a própria história, se não a quisermos
congelada, ou reduzida a um catálogo de formas ou de casos eruexpostos...

Para além dessa questão, de se manter vivo o passado e suas características, reescrever
a história da arquitetura direciona possibilidades de se pensar o projeto arquitetônico, seja por
meio do tempo, do lugar ou do espaço em que ele se dará. A obra realizada pelo arquiteto que
revive os aspectos históricos será balizada pelo olhar criativo existente em outra obra do passado.
Olha-se para o passado a fim de construir e melhorar o futuro! E isto vale para a arquitetura
também.

6ª razão – Ampliar conhecimento arquitetônico e urbanístico: uma das razões para


o estudo da história da arquitetura se dá pelo macro conhecimento que adquirimos a respeito
dos edifícios e cidades que se desenvolveram ao longo do tempo. E, através desse conhecimento,
entender as inúmeras estratégias projetuais que consolidaram a edificação e desenvolvimento
dessas obras e dessas cidades. Por meio da história da arquitetura é possível aprender todos os
pontos que as questões arquitetônicas possam explorar e oferecer.

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7ª razão – Promover a validade dos conceitos e teorias: o estudo e a operação


historiográfica de entender o passado arquitetônico e urbanístico e, por meio dele, posicionar
os aspectos arquitetônicos dos dias de hoje é uma forma de promover a validade de conceitos
e teorias que foram criadas anteriormente e que podem, em muitos casos, contribuir com as
operações construtivas atuais. Segundo o professor Carlos Brandão (2012), a história que lida com
conceitos universais, como é o caso da arquitetura, se faz pelo aprofundamento e ressemantização
dos conceitos e teorias do passado, e não por substituição. Por exemplo, o conceito original e
primário de um edifício religioso cristão foi sendo reescrito e convivendo através dos séculos
com novas linguagens, novas escalas, novas técnicas construtivas, novos modos do habitar e
novas concepções de desenvolvimento da sociedade. O conceito do edifício não foi substituído,
mas validado por meio do conhecimento historiográfico.

8ª razão – Criticar os conceitos e práticas oriundos da história: de acordo com Brandão


(2012, p. 34), o estranhamento entre os conceitos e práticas arquitetônicas sobre os aspectos do
passado e os aspectos do presente, “se feitos com rigor e tendo sempre claro o contexto em que
foram criados, permite renovar e conferir frescor as novas análises”. Para o autor, esse “frescor”
está relacionado com a construção de novos estudos teóricos que visam entender outros valores

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dos edifícios e das cidades que temos ao nosso redor. Brandão acredita que, para entender esses
valores nas edificações e nos espaços urbanos, é preciso a crítica que se valida por meio de dois
conceitos: o “asseio”, que diz respeito aos aspectos estéticos da obra, e o “decoro”, que diz sobre
a conveniência e articulação da arquitetura com os demais edifícios existentes, com o contexto
urbano e com os usos adequados. Portanto, uma das razões que se manifesta a importância do
estudo da história da arquitetura se faz pela crítica estética e funcional entre os edifícios e cidades
remotas e atuais.

9ª razão – Diversificar a arquitetura e o urbano: a aproximação entre o estudo


da história do passado e o presente confere, para a arquitetura e o espaço urbano, inúmeros
estratos “de tempo, culturas, desejos e práticas” (BRANDÃO, 2012, p. 34). Segundo o autor, é
justamente por meio desses contágios, aproximações e possíveis estranhamentos que se inicia a
crítica arquitetônica e urbanística. Para o autor, a ausência desse debate entre o passado e o futuro
seria uma forma de feudalizar nosso tempo e nosso espírito, ou seja, os conceitos e as teorias
primárias que constroem a arquitetura e o urbano seriam encurralados sem possibilidades de
críticas e questionamentos. Assim, o diálogo que existe entre os tempos remotos e atuais permite
uma diversificação da arquitetura e do urbano, seja em seus conceitos de “asseio” ou “decoro”,
conforme apontados no ponto anterior.

10ª razão – Reinterpretar e apropriar conceitos históricos: a última razão apontada pelo
professor Carlos Brandão referente a importância do estudo da história da arquitetura se dá pela
“capacidade de reinterpretar conceitos e formulações, contaminá-los e contagiá-los com outros
contextos e tradições, aos quais eles originalmente não se ligam” (BRANDÃO, 2012, p. 34). Para o
autor, essa liberdade de miscigenação que se permite à arquitetura pode ser considerada um fator
local nosso – brasileiros. Brandão posiciona que somos tardios no aprofundamento da história,
em relação à Europa e aos Estados Unidos, pois nos faltam bibliotecas e fontes que nos permitam
um trabalho exaustivo a fim compará-las, amadurecê-las e fazê-las interagir reciprocamente.
Neste sentido, temos mais liberdade em lidar e agir com os conceitos históricos, pois eles não
materializaram na nossa cultura a ponto de não poderem ser reinventados. Assim, a produção no
campo da teoria arquitetônica brasileira e seus resultados se depararam, por meio de conceitos
reinventados, fortalecidos, justamente, pelo estudo e transformação da história da arquitetura.

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Por certo, a essas dez razões que valorizam o estudo da história da arquitetura poderiam
ser acrescidas outras que ajudariam a conformar a prática arquitetônica e urbanística, assim
como afirma Brandão (2012) ao finalizar seu artigo. Para o autor, ainda que a análise da
arquitetura do passado não seja suficiente para garantir uma boa resolução dos nossos problemas
contemporâneos, é ela que instiga a função do construir.
Posto isto, passamos, a partir dessas razões, a construir a origem da história da arquitetura.
Neste primeiro momento começaremos, então, falando, de forma geral e ampla, das arquiteturas
primárias, cujos princípios representam, de forma polarizada, o desenvolvimento histórico
arquitetônico e urbanístico da humanidade.

2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS

2.1. O Menir

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Figura 1 – Círculo megalítico de Stonehenge em Salisbury na Grã-Bretanha. Fonte: Google Images (2018).

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De acordo com Pereira (2010), o menir é o monumento mais primitivo e simples que
existe, em sua definição originária, uma estrutura indefinida, construída por motivos simbólicos
ou comemorativos. Em síntese, podemos afirmar que o menir é qualquer monólito pré-histórico
cravado verticalmente no solo, cuja importância está validada “como símbolo, como signo,
como significação; uma arquitetura não habitável, mas com capacidade comunicativa intrínseca”
(PEREIRA, 2010, p. 21).
Para entendemos melhor, façamos uma analogia e, com ela, uma pergunta: podemos
considerar uma árvore como um menir natural? Pereira (2010), em sua explanação sobre as
arquiteturas iniciais da humanidade, aponta que, obviamente, uma árvore em si não é arquitetura.
Contudo, sua inserção na paisagem, conforme as circunstâncias e o contexto de sua implantação,
contruibui para a transcedência de sua condição vegetal em condição arquitetônica, uma vez que
a mesma pode carregar funções simbólicas que tornem a paisagem, antes natural, em paisagem
humana e social. O autor, para exemplificar essa transformação, aponta que a árvore tem sido,
e continua sendo, objeto de culto quase sagrado por diversos povos. Para os celtas, o carvalho
era a árvore sagrada; para Atenas, Delfos ou Jerusalém, as oliveiras eram consideradas divinas e
espirituais. As próprias palmeiras carregam, por exemplo, sua simbologia icônica, tanto para os
egipcíos de 5 mil anos atrás quanto para os povos mais contemporâneos. No Brasil, por exemplo,

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as ávores de baobá, trazidas da África, são sagradas aos cultos das religiões africanas e não podem
ser cortadas ou cerradas. “Em todos esses casos, a árvore manifesta sua origem como marco
referencial, como menir, e se conserva orgulhosa e isolada na esfera da arquitetura” (PEREIRA,
2010, p. 22).
Por certo, a partir dessa significação, podemos entender a árvore como um menir
natural, capaz de ser símbolo e transmitir significados. Contudo, a ideia de menir adquire seu
desenvovimento máximo como ponto arquitetônico a partir dos monolíticos pré-históricos. Um
forte exemplo é o círculo magalítico de Stonehenge em Salisbury na Grã-Bretanha (Figura 01).
Ainda que historiadores e arqueólogos busquem entender seus reais significados, a estrutura
desse monumento carrega um forte carater astronômico por meio das marcações das estações do
ano. No solstício de verão, no dia 21 de junho, por exemplo, é possível ver o sol nascer no meio
da maior pedra que compõem a estrutra neolítica.
A partir dessa ideia de que o menir é uma estrutura monolítica estática capaz de se tornar
símbolo e impor significados é que podemos registrar demais exemplos ao longo da história, até
mesmo atingindo nosso período contemporâneo. As pirâmides egípcias, os obeliscos romanos,
as colunas e torres clássicas e os próprios arranha-céus modernos “que em suma pretendem ser
colunas elevadas sob um pedestal”, podem ser considerados verdadeiros menires históricos com
seus variados significados, tonando-se símbolos vivos de representações de suas respectivas
cidades e seu tempo (PEREIRA, 2010, p. 23).

2.2. A Caverna
Diferentemente do menir, aquele monumento primitivo, a noção de caverna possibilita
uma visão da arquitetura, não apenas como símbolo, mas como abrigo. Vejamos: assim como a
árvore pode ser considerada um menir natural, uma vez que transcende sua condição vegetal
em condição arquitetônica a partir da sua simbologia, a caverna também pode transformar seu
estado geológico natural em arquitetura por ter a mesma função de uma edificação – o abrigo,
a ideia de refúgio. Assim, a caverna, como arquitetura, torna-se uma necessidade aos primeiros
habitantes da terra – os homens pré-históricos – por oferecerem um local de morada e, também,
de proteção dos animais e das intempéries climáticas.

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Com o desenvolvimento histórico, algumas mudanças conduziram para um efetivo uso


permanente e estático da caverna, ou seja, não mais como um abrigo provisório, mas como
estrutura fixa. Pereira (2010) nos informa que, com o término da Era Glacial e a substituição da
caça pela agricultura e pecuária como meio de subsistência, os povos passaram do nomadismo ao
sedentarismo. Fixaram-se em lugares que pudessem contribuir para sua sobrevivência por meio
do uso da terra e manutenção dos animais. Do mesmo modo, aliada a essa ideia de permanência,
a noção de manutenção dos mortos também colaborou com as manifestações das primeiras
arquiteturas de caráter fixo. Nesse sentido, podemos dividir o conceito dessas arquiteturas
primárias em duas partes: as cavernas totêmicas e as cavernas funerárias.

• Cavernas totêmicas: construções ou escavações de caráter representativo, mágico e


funcional. Exemplo: Caverna totêmica de Altamira que fica no município de Santillana del Mar,
na comunidade de Cantábria ao norte da Espanha. Uma caverna que sustenta uma das maiores
obras-primas das artes rupestres do período Magdaleniano (14.500 e 12.000 a.C.).

• Cavernas funerárias: fazem referência à casa dos mortos, ou seja, às residências pensadas
para a eternidade. Essas cavernas constituem a arquitetura do período megalítico ou de grandes

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blocos de pedras. Em geral, são construções acima ou abaixo da terra que se reduzem à espaços
chamados de câmaras, locais onde são depositados os corpos. Exemplo: Caverna funerária de
Menga ou também chamada de Cova ou Dólmen de Menga. Essa caverna é considerada uma
das grandes obras megalíticas, com 27,5m de comprimento que conduzem a uma câmara
funerária de formato ovalado. Essa caverna, assim como outras, tinha a função de sepultamentos
coletivos. Essa ideia se deu a partir de quando o ser humano começou a cultuar os mortos. Nesses
espaços também eram realizados rituais e cerimônias relacionados à fertilidade e à memória dos
antepassados (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – Entrada do Dólmen de Menga. Fonte: Um Brasileiro na Espanha (2016).

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Figura 3 – Interior do Dólmen de Menga. Fonte: Um Brasileiro na Espanha (2016).

Com o passar dos anos, as funções das cavernas foram se aprimorando e se adequando
construtivamente ao contexto arquitetônico do seu tempo. No período do homem não mais
pré-histórico teríamos, como exemplos de cavernas funerárias, os hipogeus (criptas) ou speos
egipcios. Destaque para Abu Simbel (Figuras 4 e 5), localizado no sul do Egito, e o templo
funerário de Hatshepsut.

Figura 4 – Criptas de Abu Simbel. Fonte: Egipto: la Arquitectura (2015).

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Figura 5 – Criptas de Abu Simbel. Fonte: Egipto: la Arquitectura (2015).

Do mesmo modo, os mausoléus romanos representavam a monumentalidade funerária


que se dava às construções simbólicas destinadas aos mortos. Como exemplos significativos
temos as construções dos mausoléus de Augusto, no Campo de Marte, em Roma, e os mausoléus
de Adriano, próximo ao Vaticano, conhecido, atualmente, como Castelo de Santo Ângelo.

Figura 6 – Mausoléu de Augusto. Fonte: Google Images (2018).

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Figura 7 – Mausoléu de Adriano. Fonte: Google Images (2018).

Em seu caráter mais contemporâneo, José Pereira (2010) faz uma referência à noção
de caverna funerária citando o monumento do Valle de los Caídos, localizado em San Lorenzo,
na Espanha. Esse monumento foi construído em memória dos nacionalistas espanhóis mortos
na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939, sendo, também, local de sepultamento do ditador
Francisco Franco.

Figura 8 – Valle de los Caídos. Fonte: Republica de las Ideas (2018).

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Como visto brevemente, os lugares dos mortos transformaram-se, ao longo da história,


em grandes monumentos arquitetônicos que trazem, em sua essência, a simbologia religiosa
presente em seu tempo. Das cavernas funerárias de grandes pedras aos monumentais castelos,
pirâmides, cemitérios, memoriais e abadias, que retratam a importância ao culto da memória dos
antepassados. Contudo, não somente a morada dos que já se foram se desenvolveram de maneira
espetacular, mas, principalmente, a dos vivos, conforme veremos a seguir, por meio da noção de
cabana, o núcleo do início de toda atividade arquitetônica.

[Como se configura a morada dos mortos nos dias atuais? Existem memoriais
que representam, simbolicamente, grandes perdas de pessoas, sejam por
meio de desastres naturais, grandes acidentes ou perdas em guerras? Esses
memoriais procuram retratar a memória dos antepassados por meio de
esplêndidas ou discretas arquiteturas? Na verdade, a arquitetura religiosa, bem

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como sua representatividade simbólica, sempre foi um grande tema que abraça a
arquitetura. Devemos olhar para a produção desses tipos e modelos de espaços
a fim de construirmos repertórios que buscam retratar a vida ou a morte por meio
de símbolos e significados.]

2.3. A Cabana
Em verdade, “o comportamento instintivo dos primeiros seres humanos de se proteger
das intempéries e predadores, encontrar abrigo para descansar e renovar as forças foi o que
provavelmente originou a criação do que hoje denominamos por habitações ou moradia”
(REBELLO; LEITE, 2007, s.p). Em tese, um lugar para permanecer e sobreviver diante dos
desafios do meio.
É notório que a manifestação arquitetônica do morar iniciou-se com a apropriação
das cavernas, sejam naturais ou esculpidas nas montanhas. Contudo, embora a dinâmica de
sobrevivência tenha sido marcada pelo nomadismo, o desenvolvimento da sociedade e dos novos
hábitos do trabalho, proporcionado pela ação agrícola, definiu fortemente a fixação do homem
em lugares específicos. Para além disso, “pouco a pouco o descobrimento progressivo de formas e
materiais para utilizar na confecção de objetos utilitários foi reafirmando a possibilidade de viver
fora dos abrigos naturais” (PEREIRA, 2010, p. 25).
Nesta perspectiva progressiva, o homem passa a construir sua própria morada – a cabana
– que, em resumo, compreende-se como “resultado da evolução de um recinto indiferenciado
revestido como uma barraca de campanha, cujas paredes e cobertura foram resolvidos com um
mesmo elemento em comum” (PEREIRA, 2010, p. 27). A estes elementos está associado o uso de
galhos, troncos e ossos de animais como componentes estruturais e folhas, palha, terra e pele de
animais como revestimentos de cobertura (REBELLO; LEITE, 2007).

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Figura 9 – A cabana primitiva. Fonte: Vitruvius (2002).

Pode-se afirmar que nesta noção preliminar do habitar está a essência da arquitetura,
aquela que se realiza pelas necessidades do homem e não mais da mãe Terra. De fato, essa essência
está ligada à edificação da cabana, que, segundo Vitrúvio, é um espaço que protege o fogo que
aquece a família. Para o arquiteto, a primeira habitação seria resultado eficaz do fogo protegido
(MIGUEL, 2002).
Nas palavras de Benevolo (2015, p. 15), o que se documenta pelos arqueólogos a respeito
dos estabelecimentos mais antigos são, sobretudo, os resíduos deixados pelas atividades humanas:
“as sobras dos alimentos, os fragmentos provenientes dos trabalhos com pedras e da madeira,
e entre eles os produtos acabados, usados e depois abandonados ou enterrados”. Para o autor,
a descoberta desses objetos distribuídos em torno do núcleo da fogueira indica a presença do
homem e da gênese da habitação primitiva.

A palavra lar é uma corruptela de lareira. A lareira primitiva que faz do seu fogo
o elemento inseparável da cabana rústica. O fogo que reúne ao seu redor todos
os integrantes de um laço familiar, sendo, de um modo figurativo, um manto que
aquece e une a todos num mesmo instante. A identificação do fogo está presente
nas cabanas rústicas como o elemento mais semelhante à vida (MIGUEL, 2002,
s.p).

Para além do fogo como elemento construtor da noção de abrigo, na evolução da cabana
primitiva surgiria uma primeira diferenciação entre dois importantes pontos construtivos: o
suporte (a vedação) e a cobertura.

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No caso das primeiras cabanas, o suporte era contínuo e, ao mesmo tempo que firmava
a sustentação do abrigo, também servia de vedação e cobertura. Um exemplo claro dessa
composição estrutural pode ser visto na cabana em Terra Amata, nos arredores de Nice (Figura
10). É a primeira obra de edificação até agora conhecida, que remonta acerca de 300 mil anos
(BENEVOLO, 2015, p. 14).

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Figura 10 – A cabana primitiva em Terra Amata. Fonte: Pinsdaddy (2018).

Como se pode tomar nota, o início do ambiente construído para o habitar “não é apenas um
abrigo na natureza, mas um fragmento da natureza transformado segundo um projeto humano”
(BENEVOLO, 2015, p. 16). As necessidades do homem em se proteger e se aquecer, alinhadas
à uma existência territorialmente mais estática, bem como, o desenvolvimento de produção de
alimentos em todas as fases da agricultura neolítica, a fabricação de objetos e as possibilidades de
comunicação, arquitetaram os princípios que orientaram a concepção e construção primária dos
edifícios. Tais ações, tomaram governo em outras civilizações, como, por exemplo, os egípcios.

2.4. O Egito
Por certo, não poderíamos deixar de caracterizar o Egito como parte fundamental das
arquiteturas primárias relacionadas nessa unidade. O Egito é parte integrante do desenvolvimento
da herança arquitetônica dos edifícios e das estratégias que configuram a trajetória dos espaços
urbanos e suas arquiteturas. Como afirma Pereira (2010, p. 29), “a singularidade do Egito o
transforma em um verdadeiro laboratório arquitetônico” onde as problemáticas da arquitetura
podem ser reduzidas, simplificadas e estudadas. Podemos dizer, neste sentido, que dois marcos
configuram as singularidades que fizeram do Egito um espaço tão peculiar: o marco geográfico e
o marco histórico. Trataremos a seguir dos principais apontamentos relacionados a esses marcos.

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2.4.1. Marco geográfico


• Linearidade do Rio Nilo: o Egito configurou-se por meio de um longitudinal curso
d’água, o Rio Nilo, com mais de dois mil quilômetros de extensão. As cheias do Nilo eram regulares
e fertilizavam as terras em uma extensão lateral de, no máximo, 20 quilômetros, na maior parte do
seu percurso. Essa unidimensionalidade territorial da ocupação das cheias caracterizava, ainda
mais, a linearidade do rio “fazendo do espaço egípcio quase um eixo linear, um oásis longitudinal,
em que a vida se desenvolve até onde chega a ação benfeitora das águas e dos aluviões fluviais”
(PEREIRA, 2010, p. 30).

• Ciclo biológico do Rio Nilo: com a chegada do mês de julho, o rio Nilo recebe as
águas derretidas que se acumularam, no inverno, nas montanhas da África centro-oriental,
transbordando e enchendo sua extensão com uma aluvião. A partir do mês de dezembro, as
águas passam a recuar e desvendam um solo fértil e eficaz para a agricultura. Esse ciclo, de cheia,
transbordo e recuo da água, configura-se propositalmente no renovo das terras produtivas do
Egito e, portanto, espaço adequado para o florescimento da implantação de assentamentos
urbanos.

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[Era necessário descobrir, exatamente, quando se produziam as cheias do Nilo,
com o intuito de aproveitá-lo ao máximo. Assim, os encarregados das irrigações
mediram e estudaram cuidadosamente o nível das águas do rio dia a dia e
descobriram que, em média, as cheias ocorriam a cada 365 dias. Isso levou os
habitantes do Nilo a elaborarem um calendário simples, no qual se baseia, ainda
hoje, o nosso calendário, com pequenas modificações (PEREIRA, 2010, p. 30).
Da mesma forma, o estudo das cheias do Nilo proporcionou o desenvolvimento
da ciência do cálculo e da geometria, uma vez que as divisões de terras eram
desmarcadas com as cheias, obrigando os egípcios a criarem métodos e fórmulas
que determinassem novamente as marcações das propriedades individuais
apagadas pelo transbordo do rio.]

2.4.2. Marco histórico


• Isolamento habitacional: as irrigações do Nilo, de fato, proporcionaram o
desenvolvimento de uma grande civilização às suas margens. Essa civilização, por sua vez, viveu
durante muito tempo isolada e protegida, devido ao posicionamento geográfico de sua localização.
Vejamos: a leste e a oeste da extensão do Nilo havia um deserto, o Saara, cujas dificuldades para
sua travessia eram latentes; ao norte localizava-se o mar Mediterrâneo, cuja mobilidade de
travessia também era dificultada por não existir, nas primeiras épocas, barcos adequados para
o transporte de exércitos; e ao sul situava-se a Primeira Catarata que, igualmente, bloqueava a
passagem dos inimigos.

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Esse isolamento geográfico fez com que a civilização egípcia progredisse de modo muito
peculiar, os métodos de se viver e produzir eram repassados de geração a geração, uma vez que o
intercâmbio com outras nações não era facilmente permitido. Pereira (2010) aponta que o Egito
presenciou 2 mil anos de civilização e que, mesmo com as transições entre dinastias e impérios,
ela se manteve isolada, quase sempre limitada às margens do Nilo.

A partir desses marcos é possível perceber que o Egito possui singularidades. Primeiro,
relacionadas ao seu posicionamento geográfico, o qual permitiu a proteção contra invasores e
estabilidade de sobrevivência, por meio da fertilidade proporcionada pelo rio Nilo. Segundo, pelo
isolamento da civilização que, durante muitos anos, se desenvolveu por meio de um progresso
livre de intercâmbio e influências estrangeiras, devido as dificuldades de mobilidade e acesso às
suas terras. Na verdade, com essas condições geográficas e históricas, o Egito fundamenta sua
arquitetura e seu urbanismo, servindo, conforme justifica o professor José Pereira (2010), como
um grande laboratório.

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3 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA EGÍPCIA

3.1. Ortogonalidade
Basicamente, o desenvolvimento e materialização dos espaços e dos edifícios egípcios se
dá por meio das relações entre dois eixos lineares. Um que pode ser definido como eixo maior e
outro que se caracteriza como eixo menor.
• Eixo maior, o Nilo: como visto anteriormente, o rio Nilo é o principal canal de
desenvolvimento da civilização egípcia e, de fato, está ligado ao processo de vida desta civilização.
Uma das suas principais características está diante de sua formalidade linear, ou seja, de sua
grande extensão territorial na forma de linha, de eixo. Neste sentido, o curso do Nilo aponta uma
risca unidirecional que se limita de sua foz ao norte e sua desembocadura ao sul. Esta presença
significativa do rio faz com que o mesmo seja definido como um eixo, neste caso, o eixo maior.

• Eixo menor, o Sol: assim como o Nilo, o sol é um dos grandes componentes de
conformação da cultura egípcia e, consequentemente, dos seus edifícios. O curso diário deste
astro determinará um eixo transversal ao rio Nilo, cujos extremos são o leste, por onde o Sol
nasce, e o oeste, por onde ele esconde. Nesta perspectiva, na cultura do Egito, o leste possui uma
relação com a vida, enquanto o oeste, com a morte. Esse fato é tão característico que a parte
oriental do território egípcio era voltada às cidades dos vivos e a parte ocidental era destinada às
cidades dos mortos (PERERIA, 2010). Assim, torna-se claro que o ponto fixo de orientação dos
egípcios é o leste, o nascer do sol e da vida.

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Por certo, as relações entre esses dois eixos característicos, do espaço e da natureza egípcia,
conduziram para a formação de uma simples estrutura geométrica. O eixo maior estabelece uma
direção de norte a sul, enquanto o eixo menor indica uma orientação contrária, perpendicular,
que se define de leste a oeste. A união entre esses eixos estabelece, virtualmente, uma trama
retilínea que, em muito, contribuiu para o desenvolvimento e planejamento das sociedades
agrícolas egípcias, as quais necessitavam parcelar e delimitar suas terras antes e depois das cheias
do Nilo. Assim, as primeiras linhas eram traçadas nas superfícies do solo configurando um
desenho em xadrez, uma forma reticulada, um princípio primário da arquitetura.

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Figura 11 – Esquema de retícula: conjunto de linhas paralelas que se cortam. Fonte: o autor.

Com efeito, a lógica de limitar as terras por meio da geometria reticular também se dará
na lógica da construção da casa e da implantação das construções no território urbano, conforme
veremos em outras unidades e disciplinas. O que nos atentaremos agora é um outro princípio
primário da arquitetura egípcia, a verticalidade.

3.2. Verticalidade
Com a configuração da retícula, baseada nas relações de ortogonalidade entre o eixo maior
e menor, é possível desenhar em um plano horizontal, ou melhor, é possível configurar o desenho
de um plano horizontal. De fato, é essa ideia de plano nivelado, preso ao solo, que se define toda a
gênese da arquitetura. É por meio do plano, no qual caminhamos, que se estabelecem as relações
de movimento e repouso que constroem os espaços e os edifícios onde moramos ou transitamos.
De todo modo, existe uma outra relação que, também, é parte inicial da configuração arquitetura
e, neste caso, característica essencial das construções egípcias, o plano vertical.
De acordo com Pereira (2010), a diretriz vertical para os egípcios possui uma significância
vital que faz referência a uma relação cósmica. Para eles, a direção vertical resulta de uma relação
simbólica do plano horizontal, no qual estamos fixados, com a parte celeste visível, ou seja, com
o firmamento, com o céu.
Neste sentido, as formas que conduzirão a materialidade da arquitetura egípcia estarão
atreladas com suas características horizontais e, também, com sua simbologia vertical. Não é
por acaso que Pereira (2010, p. 38) afirma que “as formas absolutas mais usadas no Egito são as
relativas à horizontal e à vertical”. Para o autor, a horizontalidade expressa o sentido racional ou
intelectual, é por onde o homem caminha e encontra os limites. Já a verticalidade está atrelada a
uma simbologia que representa o infinito, que se materializa no céu e, portanto, nunca encontra
barreiras ou obstáculos, tornando-se um símbolo sublime.

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Um exemplo claro dessa diretriz vertical é a representações dos obeliscos, cuja


significância representa o desejo de perfurar as nuvens e se chegar ao céu. O termo obelisco
significa “apontar” e, geralmente, eram construídos a partir de uma única pedra e materializados
como um monumento comemorativo. Um dos mais antigos e preservados é o Obelisco de Sesotris
I, em Heliópolis, no Egito (Figura 12).

Contudo, não é somente nas


construções dos obeliscos egípcios
que encontramos a idealização de
permear os céus. Mesmo porque, as
possibilidades de relações e expressões
entre as diretrizes horizontais e verticais
seriam materializadas em construções
ainda maiores, as chamadas pirâmides.
Para Pereira (2010), é neste formato de
edificação que os egípcios conseguem,
de fato, expressar, com maior clareza,
as noções de plano horizontal com as

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ideias simbólicas do plano vertical. É
nesta construção que a clareza de apontar
o edifício para o céu torna-se imagem
característica do Egito.
O início da arquitetura egípcia,
que possui como resultado uma imagem
piramidal, está, obviamente, relacionada
ao estudo da geometria, em que, de forma
gradativa, desenvolveu-se como método
de solução às condicionantes geográficas
do seu território. Por outro lado, a forma
de pirâmide formaliza a verticalidade em
Figura 12 – Obelisco de Sesotris I, em Heliópolis, Egito. direção ao cosmo e, portanto, essencial à
Fonte: Pinterest (2018). cultura do Egito.

Esse tipo de construção iniciou-se cerca de 3.000 a.C., com os túmulos para sepultamento
de faraós ou nobres. Em um primeiro momento com as chamadas mastabas e, posteriormente,
com as pirâmides propriamente ditas.
As mastabas era construções piramidais de planta retangular, com paredes inclinadas.
Possuíam uma capela no nível térreo e, abaixo deste nível, implantava-se o sepulcro. Basicamente
eram construções com 6 metros de altura, com comprimento de 30 metros e largura de 15
metros. A seguir ilustramos o aspecto formal da Mastaba de Abidos e o diagrama interno de
funcionamento (Figuras 13 e 14).

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Figura 13 – Mastaba de Abidos. Fonte: Pinterest (2018).

Figura 14 – Diagrama de uma mastaba - Azul: a capela funerária, Vermelho: o poço, Verde: a câmara mortuária e
o seu sarcófago, Medidas médias de uma mastaba: Comprimento 30 m, Largura 15 m, Altura 6 m. Fonte: Google
Images (2018).

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Algum tempo após o desenvolvimento desses sepulcros em um único pavimento, as


mastabas começaram a ser sobrepostas umas às outras, configurando o que podemos chamar de
pirâmide escalonada ou pirâmide em degraus. Um grande exemplo desse tipo de construção é o
conjunto funerário de Zoser, em Sakkara, construído para o faraó Djoser e seu ministro e arquiteto,
Imhotep. Esse complexo contêm a primeira pirâmide erguida no Egito, cuja composição é feita
por seis mastabas empilhadas, alcançando 62 metros de altura em uma base de 109 x 125 metros.

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Figura 15 – Pirâmide de Djoser. Fonte: Google Images (2018).

Como estamos percebendo, as construções piramidais do Egito Antigo desenvolviam-se


arquitetonicamente e ganhavam, com o passar de longos períodos, ampla escala monumental,
à medida que a nação se tornava mais rica e populosa (BENEVOLO, 2015). Aumentava-se,
assim, de tamanho e altura. Podemos, de fato, imaginar o tempo árduo que se demorava para a
finalização dessas construções. Embora os espaços internos permanecessem simplificados para
o sepultamento dos nobres e seus ministros, a parte externa ganhava altura e, cada vez mais, se
direcionava a arquitetura para apontar o céu. Como justifica Pereira (2010, p. 41),

a ideia de alcançar os céus, de chegar ao lugar mais alto como ponto de encontro
com o sobrenatural, aparece já definitivamente expressa nas pirâmides de Gizé,
(cerca de 2.200 a.C.), que constituem algumas das maiores e melhores amostras
de toda arquitetura da humanidade.

Essas pirâmides, construídas trezentos anos depois da Mastaba de Abidos, representavam


a forma geométrica absoluta e simplificada da admissão da linha vertical em relação a linha
horizontal. Na união entre os extremos dessas linhas configurava-se o triângulo e, por meio dele,
a caracterização do espaço geométrico triangular e piramidal, cuja estrutura de sustentação se
dava pelo seu próprio ângulo de inclinação.

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Figura 16 – Pirâmides de Gizé. Fonte: Google Images (2018).

Por certo, não somente de construções fúnebres que se caracterizou a arquitetura do


Egito Antigo, com todas suas nuances simbólicas e geométricas, advindas da dádiva do Nilo
e do cosmo celeste. Pelo contrário, os edifícios voltados ao culto dos deuses e dos faraós – o
templo – também reiteram, perfeitamente, todo idealismo, estrutura e característica do estilo
arquitetônico egípcio.
Em síntese, os espaços que configuram o templo sagrado egípcio são determinados por
uma ideia de sequência, “pela sucessão ordenada de peças relacionadas de modo que cada uma
determine a seguinte” (PEREIRA, 2010, p. 43). De modo específico, essa sucessão de espaços
sequenciais que configuram um caminho linearmente processional, indicam um percurso que
leva o transeunte da ideia das cidades dos vivos à cidade dos mortos. Basicamente, da mesma
forma que se orienta as margens do rio Nilo, conforme vimos anteriormente.
De modo formal, são três partes que configuram o templo egípcio:

• Pátio peristilo: é o primeiro espaço de configuração do templo. Seu acesso se dá por


um pórtico monumental, também conhecido como pilono. Este pátio é aberto e, por sua vez, é
o maior espaço do templo e configura-se envolto por colunas. Um peristilo (pátio rodeado por
colunas).
A respeito dos formatos das colunas egípcias é possível classificá-las em cinco tipos, de
acordo com a configuração do seu capitel (base superior da coluna) e o desenho do fuste (parte
da coluna entre a base inferior e o capitel).
• Palmiforme: capitel cujo formato lembra o desenho de uma palmeira.

• Papiriforme cerrado: capitel em forma de papiro fechado.

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• Lotiforme: capitel em forma de flor de lótus. Possui o fuste composto por talos de lótus
como se estivessem amarrados. A flor de lótus desenhada em seu capitel é geometricamente
estilizada.

• Protodórica: não possui base e seu capitel é formado por um suporte quadrangular, o
fuste, espaço entre a base e o capitel, geralmente, possui desenhos de ranhuras.

• Papiriforme aberto: capitel em forma de papiro aberto.

• Hathórico: capitel configurado por um rosto humano, representatividade da deusa


Hathor. É a mais luxuosa das colunas.

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Figura 17 – Representação das colunas egípcias Fonte: Egiptologia Brasil (2014).

• Salão hipostilo (teto sustentado por colunas): a segunda parte do templo é uma sala
coberta, cheia de colunas.

• Recinto: um espaço mais fechado e menor, que representa a imagem do santuário.

A partir da configuração dessas partes, bem como os variados tipos de desenhos alinhados
nos capiteis das colunas, é possível perceber que a configuração espacial do templo do antigo
Egito. Este “desenvolve como ideias básicas o oásis fechado, a ordem ortogonal, a massa megalítica
e o percurso. Cada um concretiza simbolicamente alguma experiência existencial fundamental
e, todas reunidas, elas constituem uma representação do cosmos egípcio” (PEREIRA, 2010, p.
42). As grandes salas rodeadas por altos muros e colunas estilizadas, por exemplo, refletem,
metaforicamente, os paredões rochosos por onde flui o Nilo; as colunas, com seus vários tipos de
linguagem, por sua vez, remetem à imagem cósmica de alcance ao firmamento; e a gradação dos
espaços é alimentada pela disposição das mesmas, sempre em primeiro plano, a fim de lembrar,
constantemente, as características celestes.

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Figura 18 – Representação de um templo egípcio e suas partes. Fonte: Pequeños Científicos en un Gran Universo
(2015).

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história
da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao
estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como
início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que,
de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas
e culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito.

Figura 19 – As Pirâmides do Cairo. Fonte: Historiazine (2016).

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Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história
da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao
estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como
início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que,
de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas e
culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito.
Neste pequeno percurso, percebemos como as noções e disposição dos espaços se
desenvolveram nesse início de construção arquitetônica e como, desde o princípio, a noção
de símbolo estava presente nas construções. O abrigo, seja para o homem, para os deuses ou
para os mortos, era cercado de simbolismos que resultavam em espaços muito mais voltados às
representações simbólicas do que as características funcionais dos recintos. O Egito é, portanto,
um grande laboratório de toda essa experiência. A partir do rio Nilo, sua fonte de vida e energia,
construiu sua arquitetura ortogonal, ritmada e cheia de elementos simbólicos, voltada aos nobres,
deuses e faraós, cujas configuração arquitetônicas e urbanísticas ressoará em outras civilizações e
em outros tempos. A arquitetura nascia!

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02
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I

A ARQUITETURA CLÁSSICA
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 29
1 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA GREGA .................................................. 30
1.1. ESCALA HUMANA .............................................................................................................................................. 30
1.2. ORDEM CLÁSSICA ............................................................................................................................................ 32
1.2.1. ORDEM DÓRICA .............................................................................................................................................. 35
1.2.2. ORDEM JÔNICA .............................................................................................................................................. 36
1.2.3. ORDEM CORÍNTIA ......................................................................................................................................... 37
1.3. O TEMPLO GREGO ............................................................................................................................................ 38
1.3.1. O PARTENON ................................................................................................................................................... 40
2 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA ROMANA .............................................. 42
2.1. O PANTEON ....................................................................................................................................................... 43
2.2. PLURALIDADE DE EDIFICAÇÕES .................................................................................................................... 44
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 49

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INTRODUÇÃO
Em continuidade com o percurso cronológico a qual dispomos a estrutura dessa apostila,
assimilaremos, nesta segunda unidade, o que se entende por arquitetura clássica. Isto é, a
arquitetura concebida pelos gregos e toda aquela que viu, nesta sociedade, valores de inspiração
para edificar suas construções, como por exemplo, os romanos. Benevolo (2014, p. 17) já dizia
que “a principal dificuldade no estudo da arquitetura grega, reside no fato de grande parte da
nossa cultura e sobretudo do nosso modo de entender os valores artísticos resultar precisamente
dos gregos”. Para o autor, não conseguimos manter uma atitude neutra em relação a realidade
arquitetônica grega daquela época, das enormes consequências que dela resultaram nos dias de
hoje. Segundo Zevi (2011, p. 53), talvez seja por essas questões que precisamos compreender a
história por meio dos “múltiplos coeficientes que informam a atividade edificatória através dos
séculos”.

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 2


A arquitetura corresponde a exigências de natureza tão diferentes que descrever
adequadamente o seu desenvolvimento significa entender a própria história da
civilização, dos numerosos fatores que a compõe e que com a predominância ora
de um ora de outro, mas sempre com a presença de todos, geraram as diferentes
concepções espaciais (ZEVI, 2011, p. 53).

Desta forma, a compreensão das contribuições propiciadas pelos gregos e, por conseguinte,
pelos romanos, não se basta no estudo isolado da edificação. Devemos, também, explorar os
mecanismos que ditaram a formação daquela civilização. Nesse sentido, não se pode negar que
a cultura clássica, assim como outras linguagens arquitetônicas, é resultado de um conjunto de
pressupostos sociais, intelectuais, técnicos, figurativos e estéticos, os quais configuram a arte e a
técnica arquitetônica (ZEVI, 2011).
No decorrer desta unidade, iremos enriquecer nosso conhecimento por meio da arquitetura
desses povos. Do mesmo modo, reconheceremos prédios essenciais que sintetizam esta cultura.
Iremos caminhar juntos por entre as colunas ou abóbadas e conhecer estas civilizações, sobre
suas tecnologias, seus conceitos espaciais e suas contribuições, que se fazem presentes até nossa
atualidade.

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1 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A


ARQUITETURA GREGA
A compreensão do contexto social, geográfico, e até mesmo político de um determinado
território ou civilização, é determinante para que se entenda os porquês das concepções
arquitetônicas. Para ilustrar esta afirmação, podemos relembrar a importância geográfica que o
Rio Nilo representou para a arquitetura e o urbanismo egípcio, bem como, as crenças divinas que
os mesmos promoviam em relação ao Faraó – representante político e religioso daquela nação.
Logo, para entendermos os gregos e suas materializações arquitetônicas, devemos, antes de tudo,
iniciar analisando as realidades e convicções que foram determinantes para a concepção de sua
arquitetura. A estas denominamos escala humana e ordem clássica.

1.1. Escala Humana

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 2


A princípio, pode-se afirmar que houve uma importante mudança de orientação
ideológica que distinguiu o pensamento egípcio do pensamento grego. Enquanto a primeira
civilização colocava o cosmo como ponto determinante de toda sua filosofia, os gregos apontavam
o homem como a medida de todas as coisas. Neste sentido, o mundo, a partir dos gregos, passa
a ser regido pelo homem como referência e não mais alimentado por uma realidade intrínseca
a um ser divino, conforme visto na civilização egípcia. A esta noção do homem como o centro e
a medida de todo Universo se dá o nome de antropomorfismo ou, em termos arquitetônicos, de
escala humana.
Para Pereira (2010, p. 48), “se o homem é a medida de todas as coisas, a escala humana
determinará a proporção ou o cânone de beleza” de tudo aquilo que esteja relacionado com os
mesmos: seja a arquitetura ou a própria valoração da verdade, da justiça, da bondade e da estética
que o rodeia. Daí, a ideia do homem grego tornar-se o ponto de referência do contexto social
daquela civilização.
No âmbito da arquitetura, a noção do homem como centro do universo é bem oportuna,
uma vez que os edifícios trarão em sua forma uma adaptação das medidas corporais do homem
físico. Portanto, um dos primeiros ensinamentos para o entendimento da arquitetura grega é
conhecer as próprias medidas do homem.
Sendo assim, a escala humana tornou-se um dos pontos mais relevantes da arquitetura
grega, uma vez que a medida do homem determinou os parâmetros de proporção e ordens
de beleza. Assim, se fez necessário que o homem grego conhecesse as medidas de seu próprio
corpo, desenvolvendo, por conseguinte, padrões de medidas (pés, polegada, palmo, jornada...)
utilizadas, consequentemente, nas concepções espaciais dos seus edifícios.

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Figura 20 – Esquema antropocêntrico renascentista, de Leonardo da Vinci. Fonte: A
Beleza dos Diagramas (2015).

Na verdade, essa ideia do “homem como medida do universo” promoveu uma concepção
especial da arquitetura, mesmo porque, o homem em si é configurado, fisicamente, por meio
de várias partes (cabeça, tronco, perna...) que, ao todo, configuram sua existência material.
Cada membro desse corpo possui uma medida, que, quando juntas, é balizada por aspectos de
proporções. “Como no corpo humano existe uma proporção entre o braço, o pé, a palma da mão,
o dedo e as partes restantes, o mesmo se dá nas construções clássicas” (PEREIRA, 2010, p. 50).
Neste sentido, o homem grego configurou-se como módulo arquitetônico, isto é, como
um elemento de medida padrão. Portanto, ao tornar-se módulo, o homem grego estabeleceu uma
correspondência entre as partes do seu corpo com as partes que concebem a própria edificação.
Segundo Pereira (2010), essas correspondências, também denominadas de proporções, podem
ser definidas de forma estática ou de forma dinâmica. A primeira, é uma relação direta entre uma
medida do homem com a obra, enquanto a segunda é a derivação de novas medidas a partir de
variações harmônicas da medida inicial. Para exemplificar a ideia da proporção dinâmica, temos
a utilização da proporção áurea no Templo Parthenon, em que o todo pode ser entendido por
meio da derivação de uma unidade – o retângulo áureo.

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Figura 21 – Templo Parthenon (Século V a.C.), projetado por Calícrates e Ictinos, e decorado pelo escultor Fídias,
com ilustração do esquema de proporções dinâmicas, referenciado na seção áurea. Fonte: Medium (2016).

Em oposição a escala humana existe a escala monumental. De acordo com o


historiador José Pereira, a escala monumental é aquela que se constitui a partir
da derivação de parâmetros (medidas) próprios, ou seja, é alheia a proporção
humana. Embora se tenha a ideia de que arquiteturas que extrapolam o sentido
de medida do homem, na concepção dos seus espaços, passam a sensibilizar
negativamente os usuários, é possível afirmar que a arquitetura monumental
não necessariamente se comporta como opressora. Ernst Gombrich (2015), por
exemplo, ao falar do monumental Panteon diz: “conheço poucos edifícios que
transmitam uma impressão de tão serena harmonia. Não existe a menor sensação
de peso opressivo”.

1.2. Ordem Clássica


Já se escreveu que “ordem” é “a disposição regular e perfeita das partes, que
concorrem para a composição de um conjunto belo”. A ordem é a lei ideal
da arquitetura concebida como categoria absoluta, que atua como sistema
de controle indireto e, ao mesmo tempo, como a gramática da arquitetura,
garantindo sua comunicabilidade e transmissibilidade e dando lugar ao que
denominamos de linguagem clássica (PEREIRA, 2010, p. 51).

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De fato, conforme indicado no trecho, a noção de ordem na arquitetura se estabelece por


meio de um sistema de controle. Em outras palavras, por meio de regras ideais que podem se
traduzir concretamente de formas distintas (PEREIRA, 2010, p. 52). Ainda que possam existir
variações em sua materialização, o objeto, quando fixado por meio de uma “ordem”, delimita um
aspecto comum entre eles. Esta possibilidade de padronização de elementos economiza atenção
e, ao mesmo tempo, permite um aprofundamento e uma dinamização das soluções ou de outras
características que lhe são pertinentes.
Na arquitetura grega, essa noção de regra geral se deu pela configuração do seu sistema
construtivo, em específico, pelo arranjo formal das colunas que configuravam a estrutura dos
edifícios. A esta caracterização distinta entre as colunas se deu o nome de ordem dórica, jônica
e coríntia.
Antes de caracterizarmos cada uma destas ordens, necessitamos entender, primeiramente,
as partes gerais que configuram a forma de uma coluna grega, bem como sua implantação na
configuração total do edifício clássico. Ao todo, temos as seguintes partes:

• Pedestal: construção sobre a qual se ergue uma coluna. Normalmente, composto por
uma cornija, um dado (também chamado de corpo) e uma base (plinto) (CHING, 2010).

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• Coluna: suporte cilíndrico composto por um capitel, um fuste com caneluras e,
normalmente, uma base (pedestal) (CHING, 2010).

• Entablamento: parte horizontal de uma ordem clássica, apoia sobre as colunas.


Normalmente, são compostos por uma cornija, um friso e uma arquitrave (CHING, 2010).

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Legenda
01 – Base/Plinto (estrutura
normalmente quadrada).

02 – Dado/Corpo (parte localizada


entre a base e a cornija de um pedestal). A
união dos elementos 01 e 02 conformam
o Pedestal.

03 – Cornija (moldura saliente que


serve de arremate).

04 – Fuste (parte central de uma coluna,


compreendia entre o capitel e a base).

05 – Capitel (parte superior da coluna,


tratado de forma distinta em cada ordem

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clássica). A união dos elementos 03, 04 e
05 conformam a Coluna.

06 – Arquitrave (parte superior de um


capitel. Viga que unifica a sequência de
colunas).

07 – Friso.

08 – Cornija. A União dos elementos 07


e 08 conformam o Entablamento.

Figura 22 – Partes que configuram a arquitetura de uma


coluna grega. Fonte: adaptado de Ching (2010).

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1.2.1. Ordem dórica


A ordem dórica surgiu no século VII a.C. e é considerada a mais antiga e simples de
todas elas. As colunas desta ordem configuraram-se por meio de uma estética descomplicada
e proporcionalmente ligada a ideia do corpo masculino e seu arquétipo robusto. Daí o
entendimento que este tipo de coluna foi empregado, prioritariamente, nas edificações gregas
que homenageavam apenas os deuses masculinos (PEREIRA, 2010). Em termos formais, a ordem
dórica caracteriza-se por um fuste acanelado desprovido de base, um capitel em formato de
almofada e um entablamento composto por uma arquitrave lisa, um friso de tríglifos e métopas
e uma cornija.

Legenda
01 – Fuste (apresenta canais ou ranhuras
arredondadas que ornamentam o fuste da
coluna clássica. A essas ranhuras também
se dá o nome de caneluras ou sulcos.
Geralmente, uma coluna dórica apresenta

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vinte sulcos em sua composição).

02 – Capitel (sem adorno. Possui


em sua estrutura o ábaco, que é uma
laje chata quadrada, e o equino, que é
moldura circular onde se apoia o ábaco –
se assemelha a uma almofada).

03 – Arquitrave Lisa.

04 – Tríglifos (blocos verticais na


arquitrave que separam as métopas).

05 – Métopas (painel liso ou decorado


por meio de figuras esculpidas de pessoas
ou animais entre os tríglifos).

06 – Cornija (moldura saliente que


serve de arremate da parte superior da
coluna).

Figura 23 – Partes que configuram a arquitetura de uma coluna


grega da ordem dórica. Fonte: adaptado de Ching (2010).

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1.2.2. Ordem jônica


A ordem jônica caracteriza-se por um capitel mais adornado, bastante distinto da
simplicidade adotada pela ordem dórica. Estes capitéis são compostos por volutas, tipo de
ornamento em espiral e semelhante a um pergaminho enrolado. A própria cornija superior,
também, se configura caracteristicamente ornamentada por meio de dois elementos: os dentículos
e os ávalos. Esta configuração de coluna foi desenvolvida na parte oriental grega, na região de
Jônia e representava, segundo Vitrúvio, o feminino e à delicadeza da mulher.

Legenda
01 – Pedestal: base (apresenta uma
base mais larga, possibilitando o
recebimento de uma maior carga. Em
sua base é possível identificar o toro, que
é uma moldura convexa semicircular, e
a escócia, que é uma moldura côncava e

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profunda entre dois filetes).

02 – Fuste (coluna canelada com filetes


que separam duas caneluras adjacentes).

03 – Capitel: voluta (ornamento em


espiral semelhante a estrutura de um
pergaminho).

04 – Arquitrave fácia (configuração de


três faixas horizontais).

05 – Cornija: dentículos (pequenos


blocos retangulares, pouco espaçados
entre si. Configuram uma moldura).

06 – Cornija: ávalo (sucessão de formas


ovais e pontiagudas, distribuídas de
forma alternadas).

Figura 24 – Partes que configuram a arquitetura de uma coluna


grega da ordem jônica. Fonte: adaptado de Ching (2010).

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1.2.3. Ordem coríntia


A ordem coríntia é a mais ornamentada de todas as ordens clássicas e, assim, a mais
prestigiada pelos romanos. Seu capitel, elemento característico de distinção de todas as ordens,
é configurado por um grafismo tridimensional que representa o desenho de brotos e folhas de
acanto. Quanto ao “gênero”, a ordem coríntia pode ser vista como uma representação da delicadeza
feminina, por certo, devido sua esbelteza e representação bastante adornada do capitel. Vale
notar que a ordem coríntia, devido sua opulência arquitetônica, transmitia, em seu uso, ideias de
abundância e luxo.
Legenda
01 – Fuste (coluna canelada com filetes
que separam duas caneluras adjacentes).

02 – Capitel: acanto (ornamento que


reproduz as folhas grandes e dentadas de
uma planta mediterrânea de mesmo nome.
A campânula é a parte que constitui o fundo

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de um capitel).

03 – Arquitrave fácia (pequenos


blocos retangulares, pouco espaçados
entre si. Configuram uma moldura mais
ornamentada que a jônica que, basicamente,
configura-se por meio de tiras lidas).

04 – Cornija: modilhão (consolo


ornamental, normalmente na forma de
um rolo com acanto. Utiliza-se este tipo de
ornamento de série).

Figura 25 – Partes que configuram a arquitetura de uma colu-


na grega da ordem coríntia. Fonte: adaptado de Ching (2010).

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[Para mais informações sobre as colunas gregas e o seu desenvolvimento para


além das ordens, ver: MARTINS, S. R.; IMBROISI, M. H. Impressionismo. Disponível
em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/cariatides-no-
museu-acropole/#more-11929>.]

Como visto, as ordens dórica, jônica e coríntia, representadas pela linguagem da


composição das suas colunas, estão relacionadas, diretamente, com as partes que suportam a
cobertura. Constituindo-se como modelos que implicam no que chamamos de sintagmas
canônicos. Assim, cada ordem terá seu sintagma representado pela relação da base, da própria
coluna, do capitel e do entablamento. Em conjunto, esses elementos configuram a linguagem e o
vocabulário clássico dos diversos edifícios que compôs a arquitetura grega e romana, conforme

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veremos adiante.

1.3. O Templo Grego


Segundo Pereira (2010, p. 61), “as primeiras manifestações conhecidas da arquitetura
grega são as pequenas cabanas construídas no campo ou em lugares sagrados relacionados aos
deuses”. Somente no século VII a.C. surge, de fato, o templo grego, como proposta arquitetônica
de manifestação e representação divina. Na verdade, este tipo de edificação era construído como
santuário das divindades da antiga Grécia e não possuíam, em seu interior, espaços para abrigar
cultos, o que, por certo, denotou uma atenção maior para a representação da sua arquitetura
externa em relação ao seu espaço interno.

O templo grego não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada
impenetrável dos deuses. Os ritos se realizam do lado de fora, ao redor do
templo, e toda a atenção e o amor dos escultores-arquitetos foram dedicados
a transformar as colunas em sublimes obras-primas plásticas e a cobrir de
magníficos baixos-relevos lineares e figurativos as traves, os frontões e as paredes
(ZEVI, 2011, p. 65).

Inicialmente, o templo helênico foi caracterizado por pequenas dimensões, em específico,


formado por uma base retangular isolada por paredes e uma cobertura de telhado duas águas que
se projetava no exterior da edificação em forma de triângulo ou frontão adornado por esculturas.
Em sua concepção espacial interna, o templo grego configurava-se por um espaço
central, também chamado de naos ou cela, local onde se fixava a estátua divina para se impor
em destaque. Este espaço, ora recebia um tratamento singelo o reduzindo a uma capela, ora
ganhava monumentalidade espacial configurando-se pela composição de três naves separadas
por uma sequência de colunas. Na frente do espaço central, locava-se o pronaos, que nada mais
é que a representação de um pórtico, um vestíbulo aberto. Em sintonia com este espaço, Pereira
(2010, p. 61) afirma que era “frequente se construir do outro lado da cela outro recinto fechado,
ou opistodomos, geralmente sem comunicação com a cela, mas sim com o exterior. Esse cômodo
servia para abrigar o tesouro do santuário”.

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Por outro lado, o templo grego não se limitava apenas ao seu espaço interno, pelo
contrário, sua maior atenção se dava na face externa por meio da sequência colunas estabelecidas
para sua ornamentação e sustentação. Neste panorama espacial, o vão entre a parede e as colunas
é chamado de perístilo (basicamente a mesma ideia dos pátios rodeados por colunas dos templos
egípcios).

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Figura 26 – Esquema de planta de um templo grego. Fonte: adaptado de The Pursuit of Beaty (2015).

Legenda
01 – Naos/Cela.

02 – Pronaos.

03 – Opistódomo.

04 – Perístilo.

Posto a estrutura base do edifício que caracterizou o espaço e a arquitetura grega,


passamos ao estudo daquele que se definiu como maior exemplo e modelo perfeito de edificação
desta postura arquitetônica: o Partenon.

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1.3.1. O Partenon

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Figura 27 – Partenon. Fonte: Infoescola (2018).

O Partenon trata-se de um templo projetado pelos arquitetos Ictno e Calícrates, dedicado


a Atena, deusa grega da sabedoria e das artes (447 - 438 a.C.). Edificou-se na acrópole de Atenas
por iniciativa de um governante da cidade, chamado Péricles. Sua construção iniciou-se no ano
de 447 a.C. e findou-se quinze anos depois.
De forma esquemática, Pereira (2010) afirma que o Partenon é uma caixa dupla de ordem
dórica. Na parte exterior configura-se uma caixa octastila, isto é, composta através de oito colunas
em sua face menor. Enquanto na parte interior a caixa é configurada por meio de seis colunas,
motivo que, automaticamente, a denomina de hexastilo. As dimensões do templo são 60mx30m,
o que define que seu comprimento é o dobro de sua largura.
Em resumo, o historiador José Pereira descreve que o Partenon pode ser considerado um
exemplo perfeito da arquitetura grega,

com perístilo com frontões octastilos, pronaos com duas fileiras de colunas e
naos ou cela de três naves formada por duas colunatas que se sobrepõem para
alcançar a altura necessária para manter as proporções. No fundo da cela se
encontrava a estátua da deusa Palas Atenas esculpida por Fídias, em um recinto
com teto sustentado por quatro colunas, um resquício do antigo mégaron. O
templo possuía um rico opistódomo posterior, destinado ao tesouro da deusa,
onde também se guarda o tesouro público (PEREIRA, 2010, p. 64-65).

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Figura 28 – Planta baixa do Partenon e sua elevação lateral. Fonte: História das Artes Visuais (2014).

O Partenon, assim como os demais templos gregos, não eram ambientes de função apenas
religiosa, eles se configuravam como espaços políticos e, neste ponto, o significado governamental
do templo era tão importante quanto sua expressão divina. Em síntese, os templos configuravam-
se como arquivos públicos do tesouro e dos importantes documentos firmados com os povos
estrangeiros. Esses templos, por sua vez, localizavam-se nas partes mais altas da cidade, na
acrópole, um recinto murado da cidade grega.

[Para visualizar um pouco mais sobre os templos e a sociedade grega, veja o vídeo
“Os Segredos do Partenon”. Aprofunde-se a respeito deste ícone da arquitetura
clássica através de diferentes perspectivas realizadas in loco e também visualize
as animações que representam esta obra quando ainda não estava degradada. Os
segredos do Partenon. 2013.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=txblqQDwxrs>.
Acesso em: 19 out. 2018.]

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2 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A


ARQUITETURA ROMANA
Enquanto os gregos se limitavam em apresentar uma expressão arquitetônica definida
pelas ordens e suas composições um tanto rígidas na concepção dos templos, a arquitetura
romana se desprende dessas limitações e oferece uma pluralidade de temas arquitetônicos, bem
como, de um maior despojamento arquitetônico do seu sistema construtivo. Para Pereira (2010),
os romanos não apenas revolucionaram a abordagem sobre a arquitetura doméstica, os palácios e
as casas, mas multiplicaram os conteúdos de lazer que uma boa arquitetura pública pode edificar.
Na arquitetura romana, nota-se os projetos de termas, basílicas, teatros, anfiteatros, circos,
cisternas, aquedutos e pontes. É a partir dessa pluralidade de referências que a arquitetura dos
romanos dilata e ganha destaque.
Pereira (2010) também afirma que uma das mais importantes contribuições da arquitetura
romana é sua extrema criatividade, tanto para a prática formal de concepção dos edifícios, quanto
para a área técnica que aborda os processos construtivos. Para o autor, é essa condição que faz

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da obra romana uma enciclopédia morfológica da arquitetura, por meio do uso de uma escala
monumental e de uma concepção espacial que define os grandes volumes. Alinhado a essa estética,
também se nota a criatividade dessa civilização por meio de novas técnicas construtivas, como,
por exemplo, o uso dos arcos e das abóbadas e não mais apenas restrito aos frontões e coberturas
de duas águas, vastamente utilizados na configuração dos edifícios gregos. É possível afirmar que
esses fatores, realmente, alteraram o panorama da arquitetura ocidental da antiguidade.
Em relação a ampliação do repertório técnico e das novas abordagens de construção,
pode-se afirmar que, da arquitetura grega para a arquitetura romana, houve uma grande
mudança. Para os gregos, por exemplo, a coluna era o elemento mais importante. Era nesse
corpo estrutural que eles imprimiam as características das ordens que definiriam a arquitetura
daquele edifício. Por conseguinte, a coluna, além de caracterizar arquitetonicamente a edificação,
também serviria como estrutura da cobertura. Por outro lado, na arquitetura romana a coluna
é reduzida a motivos linguísticos, ou seja, condicionantes de expressão de uma linguagem e não
mais como elemento fundamental na estrutura do templo. Os romanos preferem usar as paredes
como elemento estrutural, utilizando a coluna, em sua maior parte, somente como adorno.
Em síntese, a arquitetura romana incorpora, como parte integrante dos seus jogos de
composição, o uso de arcos e abóbadas. Esses elementos, por sua vez, caracterizam um sistema
construtivo bastante denso – encorpado –, devido ao sistema de pedras encaixadas que deram
origem, naquela época, às propostas circulares dos arcos e abóbadas. Para o sustento dessas
estruturas, as paredes deveriam ser reforçadas. Esse engrosso do elemento de vedação garantiu,
embora não permitisse grandes aberturas, uma grandiosidade e uma plasticidade única para a
arquitetura romana.
Com base nessas considerações iniciais sobre os fundamentos e características que
sinalizam a arquitetura romana da antiguidade, estudaremos, a seguir, a arquitetura do seu
templo mais significativo: o Panteon.

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2.1. O Panteon
Assim como a arquitetura grega, em sua magnitude, é apresentada por meio da
arquitetura do Partenon, a arquitetura romana também imprime em um templo a união de
todos os fundamentos que definiram os aspectos e a linguagem de sua própria arquitetura, o
Panteon. De acordo com Pereira (2010. p. 76), é o próprio contraste entre esses dois templos
que irão definir a “natureza tectônica e extrovertida da arquitetura grega e a natureza plástica e
introvertida da arquitetura romana”. Ainda que o Panteon tenha sido um exemplar único do seu
modelo arquitetônico, é por meio dele que se chega à perfeição de elementos espaciais, simbólicos
e construtivos, que, futuramente, seriam utilizados nas grandes obras com cúpulas clássicas,
no caso, as catedrais bizantinas e as basílicas românicas da idade média, conforme veremos na
próxima unidade.
Em síntese, o projeto do Panteon foi idealizado por um arquiteto sírio chamado Apolodoro
de Damasco e iniciou-se por volta do ano 118 d.C., sendo findado em meados dos anos 125 d.C.
Espacialmente, a edificação é, praticamente, uma esfera gigantesca de 43 metros de diâmetro.
Seu resultado formal é uma cúpula sustentada por paredes que remontam a ideia de um cilindro,
cuja altura equivale ao raio da própria cúpula. A planta, portanto, conforma-se a partir de um

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espaço centralizado que têm, por meio de sua cobertura, uma abertura que garante a entrada
de luz natural. É neste ponto que podemos notar uma das principais características que faz do
Panteon um edifício tão significativo. Enquanto a arquitetura grega voltava sua atenção para o
exterior dos edifícios, aja vista as inúmeras colunas que os rodeavam e proporcionam grandes
percursos ao seu redor, a arquitetura romana se volta para dentro e cria espaços internos de
grandes proporções, sem grandes interferências estruturais.

Figura 29 – Planta baixa, corte e elevação do Panteon. Fonte: Google Images da História da Arte (2018).

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Para a liberdade física dos espaços centrais, ou seja, para a não existência de colunas ou
pilares para o sustento da cobertura, a arquitetura romana utiliza-se das abóbadas que, nada mais
são que uma construção em forma de arcos. Como material de execução utilizam-se as pedras
e os tijolos. Devido às proporções formais e físicas, bem como o peso do material utilizado para
sua materialização, as abóbadas descansam suas forças nas próprias paredes do edifício. Esse
fato exige paredes extremamente espessas, denotando uma certa monumentalidade para a sua
arquitetura.

2.2. Pluralidade de Edificações


A tradicional basílica romana, para além do templo, também pode ser considerada como
um referencial arquitetônico do período clássico. Se tomarmos como exemplo a Basílica Ulpia,
notaremos que é um edifício público com inúmeras funções. Como característica espacial, as
basílicas romanas costumavam possuir planta retangular e ter uma grande nave central cercada
por colunatas, o que muito se assemelha a ideia interior do templo grego. Para Pereira (2010,
p. 78-79), “transferir as colunatas para o interior significa caminhar pelo espaço fechado e
fazer convergir toda decoração à potencialização desse espaço”. Vale lembrar que é este tipo de

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edificação que será utilizado na concepção das primeiras igrejas primitivas, conforme veremos
na próxima unidade.

Figura 30 - Planta da Basílica romana de Trajano (Ulpia). Fonte: Flickr (2018).

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Figura 31 – Elevação da Basílica Ulpia. Fonte: Wikimedia (2018).

Outra importante contribuição romana para a história da arquitetura foram as concepções


arquitetônicas das termas. Este equipamento governamental promovia o acesso à higiene e à
vida pública por meio do lazer em piscinas. Fisicamente, esses edifícios eram compostos pelo

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frigidarium – a piscina de água fria –, o tepidarium – a sala de calefação – e o caldarium – onde
aconteciam os banhos com água quente. Além desses ambientes, as termas romanas contavam
com salas de massagem, estádio e alojamento para os atletas. Por serem gratuitos, era grande o
número de usuários que se dispunham a frequentar este equipamento urbano. Segundo Pereira
(2010), o desenvolvimento espacial das terma resultou em um dos edifícios mais complexos de
toda a antiguidade.
Pereira (2010) também destaca outras edificações representativas da arquitetura romana,
entre elas as edificações para espetáculos, definidas pelos circos, teatros e anfiteatros. Segundo
ele, o teatro, como forma de arte, já era uma criação dos próprios gregos que constituíram esse
edifício para as manifestações religiosas dedicadas ao deus Dionísio. Arquitetonicamente, o teatro
era composto por três modestas partes: o cenário, a orquestra circular e a cávea (arquibancada),
que se implantavam ao ar livre. Por certo, os romanos, ao edificarem seu teatro, utilizaram-se
das plantas dos teatros gregos, contudo, aumentaram sua complexidade por meio das inovações
dos seus sistemas construtivos. Enquanto nos teatros gregos a arquibancada se implantava sobre
uma encosta natural, no teatro romano a arquibancada é estruturada por uma série de sistemas
de arcos e outros elementos, ou seja, sua construção não está alinhada com a topografia natural
do local onde está implantado. Outro ponto de diferença é validado pela própria arte cênica que,
com os anos, tornavam-se cada vez mais estruturada, bem como as atividades de lutas, exigindo
espaços maiores para suas apresentações. O teatro romano passa a ser edificado em andares e a
sua monumentalidade aumentada da escala dos gregos. O cenário parte do teatro atrás do coro,
ganha grande monumentalidade na concepção dos romanos.

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Figura 32 – Teatro Grego. Fonte: Desenho clássico (2016).

Figura 33 – Teatro Romano. Fonte: Google Images (2018).

Mas, segundo Pereira (2010), o edifício mais representativo da arquitetura romana não
é o teatro e, sim, o anfiteatro. Podemos afirmar que o anfiteatro é um teatro duplo, como se
as plantas de dois teatros normais se juntassem e formassem apenas um. O anfiteatro possui
uma planta elíptica, tendo, ao seu redor, a existência de arquibancadas dispostas em andares. A
parte central do anfiteatro é chamada de arena, configurando o espaço dos grandes espetáculos,
principalmente os de lutas. O Coliseu, grande anfiteatro romano, exemplifica bem a valorização
destas atividades marciais ao acomodar, em seu interior, mais 50 mil espectadores.

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Figura 34 – Coliseu, anfiteatro romano. Fonte: Popular Mechanics (2016).

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Outro elemento importante de configuração da arquitetura romana é o monumento
decorativo, que consiste na união do arco e da coluna para configurar, juntos, um pórtico de
expressão simbólica. Enquanto, na Grécia, a escultura é mais utilizada para imprimir e resguardar
sua memória, na arquitetura romana se utiliza do “monumento decorativo” como estratégia
simbólica e de memória. Para Pereira (2010), o monumento decorativo possui grande relação
com a conceituação de um menir clássico. O arco de Triunfo de Constantino, em Roma, é um dos
exemplos destas estruturas cerimoniais e simbólicas. Estes arcos, por sua vez, foram disseminados
com diferentes significados, podendo ser marcos de vitórias e até representações simplificadas de
demarcações de determinados acessos.

Figura 35– Arco de Constantino, Roma. Fonte: Viajar a Itália (2018).

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Em relação às edificações domésticas, a arquitetura romana também apresentou


pluralidades, chegando a configurar três formas:
• a domus – habitação de cidadãos.

• a insula – edifícios de apartamentos.

• a villa – casa no campo ou nos arredores da cidade.

A domus era a residência mais tradicional e costumava ter um ou dois pavimentos que
se voltavam para um átrio e um pátio interno. Basicamente, os pavimentos da domus eram
fechados, fazendo com que suas aberturas voltassem para o interior do seu pátio. Por certo, a
parte mais típica da casa romana era a configuração do átrio, ambiente interno que, por meio
de uma claraboia, recebia iluminação natural. Neste ambiente também se configura o santuário
da residência ao guardar neste recinto as memórias dos antepassados. Um ponto fundamental
na configuração do átrio é que a partir dele se acessa tanto a sala de estar e jantar da residência
quanto o quarto conjugal (PEREIRA, 2010).

Figura 36 – Planta de uma residência típica romana. Fonte: IPAT (2015). HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 2

Por sua vez, a insula é uma habitação constituída por meio da sobreposição de várias
habitações idênticas, separada por abóbadas ou pisos de madeira. Em tese, sua altura, inicialmente,
não era definida, no entanto, a partir do decreto do Rei Augusto, as insulas passaram a ter, no
máximo, vinte e cinco metros de altura.
Por fim, a villa se configura como uma casa de fazenda, similar à domus, mas com suas
principais características voltada para o exterior e, também, com um traçado mais espontâneo
em relação à disposição dos ambientes. Os exteriores dessas residências eram bem enriquecidos
com pórticos e colunatas, para além disso, todos os ambientes eram projetados voltados para a
paisagem. Este tipo de edificação deu origem aos palácios romanos.

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[Como podemos relacionar a tradicional casa em que vivemos com as construções


tradicionais das residências domésticas romanas? As casas atuais são
configuradas por meio de pátios? As mesmas possuem átrios que configuram o
acesso principal da residência, bem como articula-se como um espaço simbólico
dentro do projeto?]

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Nesta unidade aprendemos um pouco sobre aquilo que podemos definir como
arquitetura clássica, a arquitetura dos gregos e dos romanos. Percebemos como as condicionantes
sociais, geográficas e arquitetônicas são importantes para a concepção de uma linguagem
arquitetônica. Além disto, vimos o desenvolver de uma arquitetura que, agora, passa a ser fonte
para nossos projetos e para nossa atualidade. Adiante, estudaremos outros períodos históricos
que buscaram, no mundo clássico, determinados valores estabelecidos por esta cultura. Valores,
estes, fundamentarias para o planejamento arquitetônico que, de fato, sempre estarão em nossa
sociedade como fonte de conhecimento.

Figura 37 – Pórtico de Cairo, Roma. Fonte: Estilos Arquitetônicos (2018).

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Por fim, podemos destacar nessas considerações finais as principais contribuições da


arquitetura grega: o estabelecimento da escala humana, a criação da ordem e, em seguida, a
formação de uma linguagem clássica e o desenvolvimento de uma arquitetura com proporção e
unidade. Para a representação da arquitetura romana destaca-se o uso da escala monumental, a
liberdade de elementos sem sistemas de controle, a pluralidade das edificações e o desenvolvimento
construtivo por meio das abobadas e dos arcos.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I

ARQUITETURA MEDIEVAL
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 52
1 - ARQUITETURA MEDIEVAL ................................................................................................................................ 53
1.1. ARQUITETURA PALEOCRISTÃ ......................................................................................................................... 53
1.2. ARQUITETURA BIZANTINA .............................................................................................................................. 55
1.3. ARQUITETURA ROMÂNICA ............................................................................................................................. 59
1.4. ARQUITETURA GÓTICA .................................................................................................................................... 65
2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 70

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INTRODUÇÃO
Pereira (2012) explica sobre introdução ao estudo da história da arquitetura, que, para
definirmos um movimento arquitetônico, é possível considerar seus edifícios mais importantes.
Como visto, contemplamos as cavernas e pirâmides fúnebres dos egípcios e os templos dos
deuses gregos e romanos. Por certo, são arquiteturas que representam e definem o primeiro
período esquemático para o estudo da história da humanidade, a Idade Antiga. Neste momento,
nossa apostila passa para a segunda periodização convencionada para facilitar o entendimento
da história – a Idade Média ou, também, conhecida como Era Medieval.
Esse período durou, aproximadamente, dez séculos, que compreendem do século V ao
século XV. Teve, como início, a marcação temporal do fim do Império romano do Ocidente a
partir das invasões bárbaras e finalizou-se com a Queda de Constantinopla, encerrando, assim,
o fim do Império Romano do Oriente e o início do Renascimento na Europa. Nestes dez séculos
que marcam o período chamado de Idade Média, dois contextos são importantes: o primeiro

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 3


denota um período de constantes guerras e, neste sentido, por meio de diversas conquistas e
divisões territoriais, o segundo, exprime um período caracterizado por grande influência da
Igreja Católica, que passou, enquanto instituição cristã, a influenciar diversos aspectos da cultura
europeia, principalmente a arquitetura.
Pereira (2012, p. 103) afirma que “de maneira análoga àquela como se definiu o templo
grego como cabana clássica, a igreja medieval pode ser definida como a cabana cristã”, tornando-
se, deste modo, o principal edifício de estudo e representação da arquitetura da Idade Média.
Enquanto os templos clássicos se caracterizavam por uma arquitetura plástica e
escultórica, a igreja medieval definiu sua imponência pela arquitetura do espaço interior, que
condicionava, consequentemente, sua estética externa. Um dos grandes pontos da arquitetura do
período medieval é que o conjunto dessas “cabanas cristãs” geraram o que podemos definir como
os primeiros estilos – classificação dos edifícios de acordo com suas características, formais,
estéticas e materiais – da parte ocidental. A saber, o estilo românico e o estilo gótico.
Assim, a partir das igrejas e seus estilos arquitetônicos, entenderemos a arquitetura
medieval e suas principais características.

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1 - ARQUITETURA MEDIEVAL

1.1. Arquitetura Paleocristã


O edifício cristão católico, o qual conhecemos hoje, tem sua gênese com a definição do
cristianismo como religião oficial do império. Este ato político, em primeiro lugar, se deu pelo
Imperador Constantino, aproximadamente trezentos anos após a morte de Cristo. Neste entremeio,
a religião cristã, difundida, inicialmente, pelos apóstolos, sofreu inúmeras perseguições, o que
dificultou a possibilidade de construírem obras públicas para o ato religioso.
As primeiras construções paro o abrigo do ritual católico se deram pelas chamadas
basílicas paleocristãs, que, em síntese, têm sua origem na basílica romana. Arquitetonicamente,
esta construção religiosa preliminar se constitui a partir de duas empenas com as colunatas
ritmadas e paralelas. No apoio dessas colunatas, fixam-se as treliças para o sustento de uma
cobertura simplificada de duas águas. De acordo com Pereira (2010), essa arquitetura não tinha
muita preocupação com o espaço unitário do edifício, sendo, muitas vezes, construída por meio

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 3


do aproveitamento de materiais e de elementos construtivos de outros lugares, como pilares e
capitéis.
Como exposto, as primeiras igrejas paleocristãs adotaram a postura formal dos grandes
salões das basílicas romanas, mas constituíram seu espaço de uma forma um pouco diferente.
Em primeiro lugar, o arquiteto cristão eliminou uma abside que, segundo Ching (2010, p. 148),
é a “projeção semicircular ou poligonal de um edifício, normalmente abobadada e utilizada
especialmente no santuário ou na extremidade leste de uma igreja”. Ao eliminar esse espaço, a
abside dá lugar ao acesso principal que deve orientar-se sempre a oeste. Neste sentido, a cabeceira
da igreja fica, sempre que possível, voltada ao pôr do sol, como forma de iluminar o percurso do
homem até o altar. Este percurso também constitui a diferença espacial com as basílicas romanas
que se limitavam a um grande espaço central gerado pela localização de duas absides frontais
uma a outra.
Zevi (2011) aponta bem essas diferenças ao afirmar que os cristãos, ainda que se espelharem
nas formas arquitetônicas gregas e romanas, não as copiaram como modelo, mas selecionaram,
entre a autonomia contemplativa helenística e a cenografia romana, o que seria importante para
eles em ambas essas experiências anteriores. Desta forma, reuniram, na igreja paleocristã, a
“escala humana dos gregos e consciência do espaço interior romano” (ZEVI, 2011, p. 71). A igreja
cristã não é um edifício misterioso que armazena a representação de uma divindade, para o autor,
em certo sentido, também não representava a casa de Deus, mas, em primeiro momento, a igreja
se tornava o lugar de reunião, de comunhão e de oração dos fiéis. Neste sentido, pode-se afirmar
que os cristãos se espelharam muito mais na basílica romana do que no templo grego ou romano
para conceberem seu edifício arquitetônico. A caráter social e de coletividade da basílica romana
era o que mais se aproximava da ideia da igreja: congregar fiéis em um mesmo espaço.
A partir da escolha, a basílica paleocristã reduziu as dimensões da basílica romana por
considerarem que uma religião do íntimo e do amor necessitava de uma maior aproximação com
a escala humana, para Bruno Zevi (2011), a igreja exigia um “palco físico humano”. Por certo,
essas mudanças, ainda que poucas, conduziam uma nova maneira de encarar a problemática
espacial dos edifícios.
Por comparação, vejamos as plantas espaciais da Basílica Romana de Trajano (Figura 38)
e da igreja paleocristã de Santa Sabina (Figura 39).

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A Basílica Romana é simétrica, ou seja, mantém ambos os lados de composição do


edifício de maneira igual – “colunatas de frente para colunatas, e abside de frente para abside”
(ZEVI, 2011, p. 71). O acesso da basílica romana se dá pelo lado maior (conforme apontado na
imagem) e aproxima o usuário da grande parte central que define seu espaço interior. Enquanto
na Igreja de Santa Sabina, algumas composições espaciais se alteram em relação ao espaço basilical
romano. Primeiro, que a igreja cristã contempla uma única abside, a outra é retira para dar
ordem ao acesso principal que se implanta no lado menor do edifício. Neste sentido, percebemos
que houve um deslocamento do acesso que rompe com a dupla simetria do espaço central da
basílica tradicional, dando ênfase no eixo longitudinal que, para a simbologia cristão, direciona o
caminho do homem. Ao acessar esse espaço que configura um corredor até o altar, abrangemos
todo o espaço da basílica que está disposto no sentido longitudinal do edifício.

Os gregos haviam alcançado a escala humana numa relação estática de proporção


entre coluna e estatura do homem; mas a humanidade do mundo cristão aceita
e glorifica o caráter dinâmico do homem, orientando todo o edifício segundo
o seu caminho, construindo e encerrando o espaço ao longo do seu caminhar
(ZEVI, 2011, p. 72).

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Figura 38 – Planta da Basílica romana de Trajano (Ulpia). Fonte: adaptado de Flickr (2018).

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Figura 39 – Planta da Igreja Paleocristã de Santa Sabina Fonte: adaptado de Pinterest (2018).

Nesta ordem espacial, a igreja passa a ser composta por elementos que ressoam em sua
arquitetura religiosa até os dias atuais.
• Coro: é a região da abside, o altar, espaço onde todos os fiéis direcionam o olhar.

• Nave: é a parte do corpo da igreja, local onde os cristãos sentam para participarem do
ritual da celebração.

• Alas: são os corredores laterais (a princípio separadas por um segmento de colunatas)

Assim, as igrejas primitivas, chamadas de igrejas paleocristãs, constroem os princípios


formais e espaciais que irão gerenciar toda a trajetória da história da arquitetura deste tipo de
equipamento religioso. Para Zevi (2011), o tema basilical de edificação das igrejas primitivas
exalta-se no período bizantino, sendo, portanto, a primeira arquitetura a ser estudada.

1.2. Arquitetura Bizantina


A arquitetura bizantina é marcada pelo período que rege o Império Romano do Oriente
com capital em Constantinopla, antiga colônia grega de Bizâncio e atual cidade de Istambul. Por
este motivo, o Império Romano do Oriente também é chamado de Império Bizantino.
Para Pereira (2010), vale notar que, na arquitetura religiosa bizantina, existiram dois tipos
principais de edificações:
• Igreja longitudinal: advinda da igreja paleocristã. Exemplo: Basílica de Santo Apolinário
em Ravena.

• Igreja centralizada: adquire um novo desenvolvimento tipológico a partir da


aproximação das absides como meio de formar um núcleo central. Exemplo: Igreja de Santa
Sofia em Constantinopla.

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Sem dúvidas, para os historiadores da arquitetura, o melhor exemplo da evolução


arquitetônica, marcada por esse período, deu-se pela concepção e construção da Igreja de Santa
Sofia (Figura 40). Esta foi encomendada pelo Imperador Justiano – responsável pelo advento
de mais de 30 igrejas bizantinas nos anos 500 d.C. – aos arquitetos Artêmio de Trales e Isidoro
de Mileto. A igreja projetada por eles constituiu um grande espaço central coberto por uma
gigantesca cúpula apoiada em outras semicúpupulas. Nesta composição centralizada, tenta-se
unir a proposta de duas absides laterais de forma que, juntas, configurem um espaço centrípeto
(PEREIRA, 2010). De acordo com Zevi (2011), nas edificações de esquema central que compõem
a maior parte dos edifícios bizantinos – particularmente na trilogia máxima da era justiana
formada pelas igrejas dos santos Sergio e Bacco, de Santa Sofia e de Santo Vitalle – a postura
espacial é a mesma. Nega-se as relações verticais e provocam-se o ritmo dos elementos a partir da
dilatação do espaço. O núcleo central da basílica é dominante sobre os outros espaços regulares
que dilatam o edifício para além desta configuração nuclear.

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Figura 40 – Planta e corte da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla. Fonte: Pinterest (2018).

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Internamente, a Igreja de Santa Sofia (Figura 40) é profusamente decorada, daí a influência
do oriente na arquitetura bizantina. Os vários mosaicos, colunas e relevos presentes em seu
interior representam cenas religiosas, bem como, exaltam a autoridade e postura do imperador,
visto na época, como um verdadeiro representante de Deus.

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Figura 41 – Parte interna da decoração da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla. Fonte: Ecclesia News (2016).

Figura 42 – Parte interna da decoração da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla. Fonte: Bontempo (2014).

Desta forma, a arquitetura religiosa bizantina explode a escala das igrejas primitivas
paleocristãs e configura uma nova forma de organizar o espaço interior por meio da solução
nuclear e de encontro das absides. A grande característica desse tipo de arquitetura se dá pela
conformação das cúpulas.

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As cúpulas eram elementos de cobertura que se davam pela construção de quatro arcos
curvilíneos sobre as paredes, o espaço entre esses arcos configuravam triângulos que, juntos,
promoviam uma base circular. Por meio dessa base circular, conforme a Figura 43, fixava-se o
elemento curvo – a cúpula.

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Figura 43 – Esquema de cúpula. Fonte: Concreto em curva (2016).

Figura 44 – Esquema de configuração da cúpula pendente. Fonte: Concreto em curva (2016).

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1.3. Arquitetura Românica


É legítimo, segundo Bruno Zevi (2011), passarmos, de forma esquemática, do período
oriental bizantino para o período ocidental românico e, portanto, tratarmos desta última
arquitetura que se desenvolveu temporalmente no ocidente a partir do século X, na chamada
Baixa Idade Média. A possibilidade dessa aceleração de percurso, que “ignora” os séculos VIII, IX
e X, denota-se pelo fato que os primeiros séculos da Idade Média ocidental foram marcados por
inúmeras guerras por disputas de territórios, fazendo com que as civilizações vencidas tivessem
suas construções destruídas pelo adversário. Neste aspecto, a população migrava constantemente
em busca de segurança e abrigo, sendo que as construções que se edificavam eram de madeira
e espacialmente simples, salvo os castelos que possuíam uma estrutura mais fortificada. De
todo modo, neste período, não se encontra o desenvolvimento de nenhuma cidade importante
no ocidente, a maior parte dos centros eram compactos e de baixa densidade populacional.
Obviamente, resultado das inúmeras mortes e problemas sanitários que este período caracterizou
historicamente.
A partir do século X a cultura medieval arquitetônica e artística estava mais consistente,
principalmente, pelo legado deixado pelo Imperador Carlos Magno que, nos anos 800, fundou

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uma academia literária e estabeleceu oficinas em que eram criados objetos artísticos. No mesmo
contexto, as ordens religiosas vitalizaram a arte, a arquitetura e a pintura nos mosteiros. Por certo,
este período pode ser considerado o tempo de gestação do estilo românico, o primeiro estilo do
oriente.
Deste estilo observa-se, segundo Zevi (2011), algumas características fundamentais na
arquitetura das igrejas:
1. Elevação do presbitério: elevação da parte que precede o altar.

2. Jogo das naves: posicionamento das naves em torno do vão absidal.

3. Engrossamento das paredes: acentuação visual das igrejas em relação de peso e


sustentação.

4. Material bruto: o gosto por materiais rústicos.

Essas inovações e mudanças trouxeram um novo caráter para uma arquitetura que se
opunha à estética bizantina de séculos anteriores. Vejamos, a partir das características elencadas
por Zevi (2011), como essas inovações configuraram as mudanças de espaços religiosos.

1. Primeiro, em relação à elevação do presbitério: para o autor, elevar o presbitério


significou interromper o comprimento do ambiente. O caminho linear direcionado para o homem
concebido nas igrejas paleocristãs encontra, na elevação do altar, uma barreira de continuidade.
Exemplo: Igreja de San Vicenzo, Milão.

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Figura 45 – Parte interna Igreja de San Vicenzo, em Milão. Fonte: Flickr (2011).

2. Segundo, em relação ao jogo das naves: deixar o espaço mais complexo e menos
unitário. Separação do espaço religiosos em partes mais demarcadas. Segundo Zevi (2011),
articular o edifício de forma a deixá-lo mais complexo em detrimento de uma visão espacial
unitária. Exemplo: Catedral de Ivrea.

Figura 46 – Planta da Catedral de Ivrea. Fonte: Libero Comunity (2018).

3. Terceiro, em relação ao engrossamento das paredes: para Zevi (2011), significou injetar
no invólucro mural o sentido de peso, de uma gravidade dominante. Nas palavras de Pereira
(2010), a arquitetura românica deixa de atuar em termos de superfície ou pele e começa a se
expressar por meio da lógica estrutural. O engrossamento das paredes denotam essa participação
do esqueleto da estrutura como equivalência estética, isto é, o sustento aparente do corpo da
edificação.

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4. Quarto, em relação ao gosto pelo material bruto: de acordo com Benevolo (2014),
na arquitetura românica prefere-se por deixar a vista a construção em tijolo ou terracota, o que,
de fato, é uma grande inovação estética do período. O autor assinala que, na antiguidade, e no
Oriente cristão não é comum o gosto pela estrutura a vista; os gregos revestiam as suas colunatas
de estuque, os romanos utilizavam o mármore para adornar suas estruturas e os bizantinos se
utilizavam dos murais para fortificar os aspectos de poder nas vedações de suas igrejas. A ideia
dos construtores românicos era deixar à mostra a estrutura, tanto no exterior quanto no interior
das edificações, como forma dos observadores entenderem a profundidade da estrutura para lá
da superfície. Exemplo: Igreja de San Pietro, em Toscanella

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Figura 47 – Igreja da San Pietro, em Toscanella. Fonte: Google Images (2018).

Por meio da apresentação dessas quatro características é possível considerar que o


estilo românico, arquitetonicamente, se deu por edificações robustas, comumente construídas
em pedras. Alinhada a essa robustez, destaca-se um sistema construtivo, aparente que se difere
da simplicidade das igrejas primitivas. A construção românica medieval utiliza-se dos arcos e
das abóbadas que se aproximam do estilo construtivo dos romanos. Para além disso, devemos
assinalar que um grande aspecto da arquitetura românica é a sua monumentalidade. As igrejas
se destacavam nos vilarejos, visto que a maior parte das construções nas cidades da idade média
eram compactas e simples. Deste modo, as igrejas passaram a ser pontos de referências, tanto para
os moradores dos vilarejos quanto para os viajantes que perambulavam de cidade em cidade. Do
mesmo modo, esse destaque espacial, no meio urbano, sublinhava uma identidade arquitetônica
para as cidades por meio da arquitetura monumental da igreja.
Em termos espaciais, a arquitetura românica das igrejas do período medieval contemplava
a organização dos seus espaços por meio de um desdobramento da organização espacial das
basílicas paleocristãs. De modo geral, a igreja românica configurava-se por meio de uma nave
central que se prolongava direccionalmente à uma abside. Neste abside, localizava-se o coro, o
altar.

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Nesta configuração, o abside também era ladeado por naves laterais que auxiliavam
espacialmente o recebimento de um maior número de pessoas para as cerimônias religiosas.
Ainda como desdobramento da arquitetura das basílicas primitivas, a arquitetura românica
anexou as torres e os campanários em sua fachada principal, o que, por certo, contribuiu para um
reforço da sua monumentalidade. Antigamente, o campanário se erguia isolado da edificação da
igreja.
Quanto à circulação interna, as igrejas românicas, além do grande corredor ou espaço
central organizado pela nave, contemplavam, em seu interior, uma espécie de corredor em
torno da abside. A esse corredor dava-se o nome de deambulatório, cuja função era conduzir os
peregrinos ao longo das capelas que se formavam como anexas à estas absides. Esse percurso dos
fiéis era para contemplar as relíquias das igrejas dispostas nas capelas.
Por fim, uma importante característica das igrejas românicas é, de fato, o uso dos arcos e
abóbadas para compor a parte estrutural da igreja. Neste sentido, esses elementos funcionavam
como estruturas de vedação e de sustentação da cobertura. Um possível motivo para o retorno
do uso dos arcos e das abóbadas romanas, define-se pela aparência e complexidade mais luxuosa
que esses elementos resultam na arquitetura dos edifícios. Por certo, a utilização desse sistema
construtivo determinou alguns apontamentos estéticos para a arquitetura. Um deles é que as

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abóbadas e os arcos configuravam uma estrutura muito pesada, o que acarretou o engrossamento
das paredes para sua melhor sustentação. Neste sentido, as igrejas possuíam poucas aberturas,
uma vez que sua estrutura de vedação se dava, basicamente, de forma contínua, não permitindo
grandes vãos para iluminação. Daí a aparência arquitetônica escura e fechadas das igrejas
românicas.
A edificação das abóbadas exigia um sistema construtivo complexo e mais dispendioso
do que as coberturas em treliças de madeira comumente utilizadas nas igrejas paleocristãs. Por
outro lado, além de configurarem maior dramaticidade arquitetônica, o uso das abóbadas em
pedra barrava a ação do fogo, fazendo com que esse equipamento religioso tivesse uma vida útil
maior.
De maneira sintética, podemos afirmar que a abóbada é o resultado estrutural de um
ajuste de pedras talhadas que configuram um arco. Elas podem ser de dois tipos: a abóbada de
berço e a abóbada de aresta, ambos utilizados na composição dos edifícios medievais românicos.

• Abóbada de berço: também é chamada de abóbada de canudo, cilíndrica ou de canhão.


Este tipo de estrutura configura-se por meio do ajuste de uma sequência de arcos que se apoiam
nas paredes laterais durante uma extensão determinada. As desvantagens do uso desse tipo de
abóbada é que ela dispende um teto totalmente feito de pedras, o que poderia provocar possíveis
desabamentos. Uma outra desvantagem está em não permitir grandes aberturas nas paredes que
sustentam sua extensão abobadada. Por outro lado, o sistema construtivo é livre de ações do fogo.

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Figura 48 – Abóbada de berço. Fonte: Pinterest (2018).

• Abóbada de aresta: abóbadas cujo resultado estrutural se dá pelo cruzamento de duas

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abóbadas de berço perpendicularmente uma à outra. Este tipo de composição de estrutura tinha
como objetivo reforçar o espaço abobadado por uma estrutura mais compacta

Figura 49 – Abóbada de aresta. Fonte: Múltiplos estilos (2009).

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Figura 50 – Sequência de abóbadas de aresta da Catedral de Duham na Inglaterra. Maior construção românica do
período medieval. Fonte: Discover Britain (2018).

Vale notar que este sistema construtivo na época medieval era feito por meio de
experimentos. Os construtores destas igrejas, os nossos atuais “mestres de obra”, eram treinados
através das corporações de ofícios. Embora tivessem profundo conhecimento construtivo, lhe
faltavam o entendimento matemático e físico das estruturas. O processo intelectual do desenho,
do projeto, do estudo da estrutura e da aproximação do arquiteto com esses meios se dará, em
maior ênfase, nos séculos posteriores, no período Renascentista, conforme veremos na próxima
unidade.
Para finalizarmos as questões que envolvem o estudo dessa arquitetura sobressalente do
período medieval, é importante assinalarmos que seu desempenho arquitetônico se deu por toda
a Europa. Houve um processo de internacionalização da arquitetura românica que, nos diversos
países em que estabeleceu contato, conseguiu exprimir, de forma particular, as características
arquitetônicas e espaciais dos seus devidos lugares. Pode-se afirmar que o processo de ressonância
do estilo românico para os diversos países do continente europeu se deu por dois motivos: o
primeiro, pela reforma do monastério francês de Cluny, que propagou o estilo para diversas
abadias correspondentes e, segundo, pelas peregrinações dos fiéis que, ao entrarem em contato
com as mais diversas basílicas, acabavam carregando de volta uma influência arquitetônica para
a igreja do seu local de origem.

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Figura 51 – Catedral de Duham na Inglaterra. Maior construção românica do período medieval. Fonte: Alamy
Stock Photo (2016).

A partir do século XII, a arquitetura da idade média passou a configurar edifícios cada vez
mais audaciosos. Em uma primeira justificativa, devido ao fato que a sociedade medieval passava
por profundas mudanças no cenário econômico: uma transição do período agropecuário feudal
para um momento de disputa comercial. As cidades passam a ser o lugar de destaque destas
disputas e não mais o campo produtor. Em uma segunda justificativa, pelo desenvolvimento
do campo técnico da construção. Todo esse processo de estruturação e novos aprendizados da
engenharia refletiram em uma arquitetura mais complexa: a arquitetura gótica.

1.4. Arquitetura gótica


O próximo momento da arquitetura medieval, entendido como arquitetura gótica, define-
se como uma expressão artística mais homogênea e fácil de delimitação. Enquanto a arquitetura
bizantina e românica se espalhava pelo território europeu e tomava particularidades locais como
ponto de apoio à sua linguagem estética, a arquitetura gótica desenvolvia-se, primeiramente, em
um centro geográfico específico, na Ile de France (BENEVOLO, 2014).

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Uma das questões que definiu esse estilo arquitetônico é o contexto econômico, social e
cultural da Alta Idade Média, período do seu nascimento (1150 a 1200). Nesta ocasião, as cidades
estavam cada vez mais densas por meio da deslocação das pessoas do campo para os burgos.
Alinhado a esse crescimento demográfico, o desenvolvimento econômico e cultural das cidades
também aumentava, o que, por certo, exigiu tipos de construções mais variadas e com outras
tecnologias construtivas. Benevolo (2014) nos aponta que para além dos clientes tradicionais
que sustentavam as construções arquitetônicas da época, outros novos passaram a demandar
obras, como, por exemplo, as novas ordens religiosas criadas no século XII e XIII – cistercienses,
dominicanas e franciscanas. Neste grupo de fregueses também se acrescentava as novas dinastias
francesas que buscavam, cada vez mais, imprimir, na arquitetura das igrejas, um simbolismo
de poder, riqueza e fé religiosa. Dentro deste contexto de desenvolvimento urbano e variações
de solicitações arquitetônicas, os construtores acreditavam que se aumentava a necessidade de
uma tecnologia e de um repertório construtivo comum que pudesse dialogar com esse momento
desenvolvimentista.
De acordo com Benevolo (2014, p. 113), não é possível caracterizar o estilo gótico por
meio da presença ou criação de novos ou ressonantes elementos construtivos, como abóbadas
e arco e, também, não se deve caracterizá-los por meio de orientações figurativas que possam

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representar noções simbólicas de verticalismo, por exemplo. Segundo o autor, o estilo gótico deve
ser entendido por meio de uma discussão que entenda que os construtores do estilo selecionaram
e generalizaram pontos que se desenvolveram a partir da experiência românica. Para ele, o
resultado formal dos edifícios góticos já estava presente no aparato dos estilos anteriores, mas
agora “coerentemente elaborados e reunidos em um sistema dotado de comunicabilidade
universal”.
Vejamos, a partir das constatações de Benevolo (2014), algumas observações a respeito
da caracterização do movimento gótico.
Organização espacial: os edifícios representativos da arquitetura gótica (as igrejas)
ainda continuam sendo edificados por meio de uma organização espacial simétrica. Contudo,
as exceções aparecem em maior volume a partir desse momento, principalmente nas edificações
inglesas. Neste período, a quebra do paradigma simétrico começa a se destacar nas variações
das plantas e das fachadas dos edifícios. Neste contexto, é valido notar que os edifícios de planta
central são cada vez menos frequentes, o que, por certo, denota uma maior concepção de edifícios
definidos por eixos de orientação.
Sob a organização espacial é possível dizer, também, que na arquitetura gótica passa a
surgir constantemente o transepto: parte transversal da igreja que se articula para o exterior da
nave central, formando a espacialidade de uma cruz em planta. Este transepto possui a mesma
distância que a nave principal e sua cobertura, em abóbada, permanece com a mesma altura
da nave, assim, não há quebra da continuidade do ritmo da cobertura. Em síntese, o transepto
salienta como função o entendimento da largura da igreja.

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Figura 52 – Planta da igreja de Chartres, iniciada em 1194. Fonte: Pinterest (2018).

1. Estrutura: diferentemente da arquitetura românica, o estilo gótico separa elementos


de estrutura de elementos de vedação. As funções da parede, em sustentar a cobertura e isolar
a edificação, são, definitivamente, distintas, possibilitando maiores aberturas e crescimento em
altura do próprio edifício. O sistema estrutural é validado por um conjunto de pilares, contrafortes
e arcobotantes ritmados e o sistema de vedação é constituído por painéis leves, de pedra ou em
vidro.
2. Elementos construtivos: no movimento gótico existe uma generalização dos elementos
construtivos que se repetem continuamente. A abóbada de aresta, por exemplo, é replicada
nos mais diversos formatos de planta. Essa é uma questão inovadora, uma vez que, no estilo
românico, as abóbadas de arestas se limitavam às plantas quadradas. No estilo gótico, utiliza-se a
abóbada de aresta para cobrir qualquer edifício, tornando-se um elemento construtivo universal
para solucionar todas as articulações de cobertura das edificações.
Para além das abóbadas, a arquitetura gótica se utiliza do arco ogival para composição
da estrutura dos edifícios. Para Benevolo (2014), a opção pela utilização do arco em ogiva não se
deu para diminuir tanto os impulsos causados pela cobertura abobadada, mas para uma maior
elevação do edifício, uma vez que a curvatura desse tipo de arco é mais verticalizada. Para ele,
o arco em ogiva também permite uma maior flexibilidade de projeto, visto que a altura padrão
deste tipo de arco independe da distância entre as paredes.

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Figura 53 – Ogiva simétrica baseada em um triângulo equilátero. Fonte: Google Images (2018).

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Figura 54 – Arco ogival. Fonte: Flickr (2003).

4. Repertório decorativo: a arquitetura gótica elimina o repertório de adorno da


arquitetura românica (cornijas, capitéis etc.). Desaparece a necessidade de muitos efeitos
plásticos dado a profundidade tridimensional concebida pela organização espacial e disposição
das estruturas ogivais. Utilizam-se as cantarias à vista, mas os monumentos escultóricos são
mais reduzidos. Quando expostos externamente ao edifício são fixados nas saliências do mesmo,
possibilitando, a partir de cada escultura e sua mímica, um maior dinamismo para a arquitetura.
As paredes, por sua vez, são revestidas com grandes vitrais multicores, visto que a vedação passa
a ser independente da estrutura, possibilitando a abertura de grandes vãos.

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Figura 55 – Abadia gótica de Westminster, Londres (iniciada em 1245). Fonte: Civitatis (2018).

É possível acrescentar que a arquitetura gótica adequou as diversas imposições de rituais,


prescrições e simbolismo religioso de cada região, sem comprometer ou diferenciar os aspectos
universais propostos por essa mesma arquitetura. Para Benevolo (2014), o estilo gótico não
aboliu as diferenças culturais de lugar para lugar, mas, a partir desse movimento, deixa de existir
uma cultura francesa, alemã ou lambarda para dar lugar a uma cultura europeia e, nesse sentido,

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equacionar a universalidade proposta pela arquitetura gótica. O autor aponta que o novo método
construtivo utilizado por esta arquitetura chega rapidamente a todos os países do continente
durante a primeira metade do século XVIII. unificando as diversas escolas e tradições locais. A
partir de então, a arquitetura desse movimento toma caminhos próximos em cada país, visto que
o sistema construtivo e a organização espacial condiziam com as possibilidades de edificação e
comprometimento interno com os rituais religiosos presentes nas catedrais que se edificavam por
meio dessa arquitetura.
Mais uma vez, o edifício religioso, como representação do poder e da fé, mostrava a
identidade e o exercício de projeto.

Figura 56 – Catedral de Amiens (iniciada em 1220). Fonte: Google Images (2018).

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2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Figura 57 – Fachada da Catedral de Chartres, com destaque para os arcos ogivais de acesso (iniciada em 1194).
Fonte: Culturizando (2018).

Como conteúdo desta unidade se fez presente o estudo das “Eras das Igrejas” – o período
medieval. Um tempo na história da humanidade marcado pelo poder da religião católica e
intensas disputas por pontos territoriais, bem como um período do passado caracterizado pelo
advento do comércio europeu, adensamento das cidades e novos posicionamentos culturais e
artísticos. Como soma desse contexto, a arquitetura se mostrou como arte e técnica de abrigar e
universalizar os princípios religiosos ditados pelo clero atuante. Bem como de se mostrar como
técnica a partir da evolução de novos sistemas e formas de construções: o arco pleno, ogival;
a estrutura dependente ou independente da vedação; os grandes vãos para receber os vitrais;
o transcepto e as coberturas abobadadas de arestas ou de berço. Da simplicidade da basílica
paleocristã à dimensionalidade das igrejas góticas, vimos uma arquitetura que se materializou
pelas possibilidades de arranjos formais e estruturais que fossem permitidos e ousados na época.

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04
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
E URBANISMO I

ARQUITETURA RENASCENTISTA
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 73
1 - O HUMANISMO ................................................................................................................................................... 73
1.1. O RENASCIMENTO ............................................................................................................................................. 73
1.2. A LINGUAGEM CLÁSSICA NOS SÉCULOS XV E XVI .......................................................................................75
1.3. O MANEIRISMO ................................................................................................................................................ 81
1.4. A CONTRARREFORMA ..................................................................................................................................... 83
2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 84

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INTRODUÇÃO
Na unidade anterior vimos que o último estilo da arquitetura medieval – o estilo gótico
– ganhou grande ênfase ao produzir inúmeras edificações por todo o continente europeu. Por
certo, o repertório estilístico dessa arquitetura se ampliou fixando-se em cada parte do continente
do Velho Mundo. Contudo, com o passar do tempo, a alta disciplina e os controles escolásticos
que determinavam essa arquitetura pela Europa passaram a enfraquecer-se, prejudicando, a
longo prazo, seu processo compositivo. É válido lembrar que a arquitetura gótica foi um estilo
que se universalizou ao configurar suas mais diversas catedrais dentro dos mesmos parâmetros
arquitetônicos.
Dentro deste contexto, a arquitetura renascentista surge por entre as lacunas da arquitetura
gótica que perdia suas forças e difusão. Na verdade, crescia por entre os intelectuais da época um
novo método de controle das questões arquitetônicas. Este método, por sua vez, não se articulava
tanto com o pensamento denso e complexo dos pressupostos criados pela arquitetura cristã

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 4


medieval, mas pelo retorno do uso de uma estrutura mais simples de conhecimento, a estrutura
da própria Antiguidade Clássica. Em síntese, uma arquitetura mais autônoma.
Pereira (2010, p. 131) informa que essa volta à arquitetura e linguagem clássica se
baseará em duas premissas fundamentas: em primeiro lugar, pelo uso das figuras geométricas
elementares e das relações de matemáticas simples e não mais tão complexas como a métrica
gótica e a segunda, pelo retorno ao uso das ordens clássicas, tanto de tradição grega quanto de
tradição romana. Assim, “em sua concepção de mundo, o Renascimento estabelece uma oposição
entre o velho e o antigo: entre as arquiteturas medievais entendidas como variáveis e a arquitetura
clássica entendida como categórica, como um valor absoluto”.
Neste sentido, aprenderemos, nessa unidade, como a arquitetura demonstrou sua ênfase
criativa ao reestabelecer a composição arquitetônica utilizadas nas primeiras civilizações da
humanidade, a grega e a romana. Buscaremos, por meio da análise e demonstração dos principais
edifícios construídos nessa época, validar as principais características que ressoam no campo
disciplinar da arquitetura chamada renascentista. A história arquitetônica continua e, nesta etapa,
demonstra como a arquitetura do passado pode estabelecer uma arquitetura do futuro.

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1 - O HUMANISMO
1.1. O Renascimento
Em primeiro lugar, é preciso entender que o Renascimento foi um movimento intelectual
e cultural que teve início em meados do século XIV. Inicialmente, configurou-se na Itália,
na região Toscana das cidades de Florença e Siena e, posteriormente, prolongou-se por toda
a Europa. Nesta época, o continente europeu passava por grandes transformações ditadas,
principalmente, pelas transições do feudalismo para o capitalismo, acarretando, neste sentido,
grandes mudanças nas estruturas medievais vigentes. Notoriamente, não apenas a cultura, a
sociedade, a economia, a política e a religião iriam experimentar o âmbito dessas mudanças, mas
também as artes e a arquitetura que tanto nos interessa. Mesmo porque, o termo renascimento,
dentro da historiografia da humanidade, é mais utilizado para salientar os efeitos causados nas
artes, nas ciências e na filosofia.
Quanto ao nome do movimento – Renascimento – definiu-se em virtude de uma intensa
abordagem aos valores da antiguidade clássica, o renascer do mundo antigo. Os pensadores

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que vitalizavam esse movimento acreditavam que a antiguidade clássica constituía um modelo
eficiente de valorização da racionalidade, da ciência e da natureza. De acordo com os historiadores,
olhar para os tempos antigos era uma forma de devolver ao presente os estragos produzidos
para a sociedade desde a época da queda do império romano. Neste processo de revisão do
contexto clássico, colocou-se, novamente, o homem como o centro das medidas do universo, o
centro da Criação. Deste modo, configurou-se a principal corrente de pensamento desta época:
o humanismo.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que o humanismo é uma filosofia moral que coloca
o homem no centro do mundo, ou seja, estabelece para o homem uma escala de importância
que independe dos valores religiosos ou hierárquicos. Este movimento tratou de discutir uma
série de variedades em relação às posturas morais e éticas, atribuindo à noção de racionalidade
sua principal ênfase de lidar com os aspectos da vida. O homem renascentista, em seu sentido
filosófico, não necessita criar vínculos com o sobrenatural, assim como se criava na Grécia,
e, também, não necessita apelar à uma autoridade superior. O renascimento dá um maior
valor ao uso da razão individual e das análises empíricas, ou seja, aquelas que são observadas
(subjetivamente) para depois serem concluídas.
Nesta perspectiva, é possível entender que a arquitetura e seus parâmetros de concepção
e construção de estruturas edificáveis sofrerão mudanças. O edifício, a partir do pensamento
humanista, não necessita responder, obrigatoriamente, à uma série de condições escolásticas.
Não necessita portanto, de maneira postular, ter ligações com os cosmos ou com qualquer outra
divindade. Do mesmo modo, não deve ser resultado de consultas às autoridades do passado.
Contudo, é válido afirmar que o humanismo não descartou essas ideias e fontes, mas passou a
questioná-las e reexaminá-las à luz das proposições dos pensamentos vigentes e também por meio
de novos textos sobre arquitetura que foram redescobertos, a saber: os dez livros de Vitruvius.

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[Para uma melhor compreensão dos textos de Vitruvius,


acesse: <http://www.fau.usp.br/dephistoria/labtri/2.10livros.html>.]

Pode-se afirmar que os textos de Vitrúvio foram responsáveis por colaborar com uma
possível alteração sobre a posição profissional do arquiteto. Segundo Benevolo (2015, p. 401),
os arquitetos desse período “são especialistas de alto nível, independentes das corporações
medievais e ligados aos comitentes por uma relação de confiança pessoal. Tornam-se agora
especialistas autônomos, desligados da comunidade da cidade, e aptos a trabalhar em qualquer
local”. Alinhado a esse contexto, também pode-se afirmar que as atividades profissionais, dos

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engenheiros, pedreiros e empreiteiros e dos arquitetos passam a ser separadas e, portanto, melhor
reconhecidas. Neste caso, os arquitetos se distanciam das estruturas e passam a desenhar o
edifício, enquanto que os engenheiros se fixam na prática e na técnica de construção.
A partir dessa separação e valoração da eficiência do arquiteto, o ato de conceber
um edifício também mudou. É desta época o surgimento do projeto como parte de uma
necessidade de racionalização da construção e, conjuntamente, por meio da distinção consoante
entre as esferas arquitetônicas de conceber, compor e executar. Desta forma, o projeto deve ter
um pesar cientifico para que seja o meio ideal de comunicação entre a figura e a obra.
Benevolo (2015, p. 401) enumera três pontos pertinentes do trabalho do arquiteto
renascentista e, consequentemente, sobre seu projeto, são eles:
• Definição de todos os elementos da construção: desta forma, por meio do projeto, o
arquiteto pode prever toda concepção espacial da edificação, distinguindo o projeto e a execução.

• Considerar as propriedades da obra – físicas, métricas e proporcionais: é nesse


momento que se insere as definições de materiais e escalas.

• Correspondência com a antiguidade clássica: a arquitetura deve se configurar


adicionando elementos da arquitetura clássica, como as colunas e todas as partes que a configuram:
base, fuste e entablamento.

Nesta nova ordem de concepção do edifício, Pereira (2010) aponta que era muito comum
o uso de maquetes para auxiliar o projeto arquitetônico, sendo um meio figurativo de representar
a realidade. Em decorrência disto, o surgimento do desenho perspectivado, capaz de retratar
a realidade de forma consistente, foi uma colaboração muito expressiva do renascimento. “A
perspectiva cientifica reduz a realidade a uma ordem matemática na qual a arquitetura depende
rigorosamente de um esquema geométrico prévio, e se pode deduzir a forma de cada elemento
da posição que ocupa nesse esquema” (PEREIRA, 2010, p. 142).
Segundo Benevolo (2015), a perspectiva científica é fundamental na concepção
arquitetônica, pois propicia ao observador um desenho igual àquele que seria visto aos olhos
reais. Assim, o desenho perspectivado passa a ser um precioso instrumento para conceber e
materializar a arquitetura.

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[Para contextualizar-se mais sobre o humanismo e suas fortes relações com as


contribuições históricas existentes e seus reflexos literários e estéticos, veja:
RIGONATTO, M. Humanismo.
Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/humanismo.
htm>.]

1.2. A Linguagem Clássica nos Séculos XV e XVI


Na idade do humanismo, como posiciona Pereira (2010), existe, de fato, a reformulação

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dos paradigmas da arquitetura clássica, em vista da readoção construtiva das ordens gregas e
romanas, que, neste momento, se conformam com menos rigorosidade. Benevolo (2015, p. 403)
afirma, também, que neste tempo fundou-se “uma arquitetura baseada na razão humana e no
prestigio dos modelos antigos, capaz de organizar e controlar todos os espaços necessários a vida
do homem, mas baseado em formas mais simples e repetidas, facilmente reconhecíveis”. Denota-
se, assim, que a arquitetura chamada de renascentista pode ser vista como uma arquitetura
universal, livre para criar novos modelos e, ainda, tida como a única possível da época.
Como exemplo dessa arquitetura, que se apresentava como um renascer arquitetônico
clássico, temos, incialmente, os trabalhos do projetista Brunelleschi (1377-1446), em Florença.
De acordo com Benevolo (2014), Brunelleschi foi o primeiro projetista a se debruçar sobre a
arquitetura clássica a fim de procurar métodos que pudessem ser transpostos para este início
da idade moderna. Foi ele próprio que desenvolveu as técnicas de criação da perspectiva linear
com ponto de fuga qualificando o entendimento do edifício, para além dos experimentos de
sua materialização física. Por meio desses estudos, Brunelleschi conseguiu alinhar os elementos
clássicos em uma nova proposta que não perdesse a estética e composição clássica. Dentro de
sua arquitetura, introduziu a abóbada romana por meio da composição de uma só peça. Por
certo, seus estudos em relação às formas e proporções clássicas transformariam a linguagem
arquitetônica da época baseada em sistemas mais precisos e estudos científicos.
Assim como nos demais períodos que sucedem a época renascentista, são nos edifícios
religiosos que a arquitetura se materializa com maior presença e força de difusão. Para o período
renascentista, não foi diferente. A abóbada da Igreja Santa Maria Del Fiore, em Florença, seria a
primeira grande obra de vinculação assertiva desta arquitetura.

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Figura 58 - Imagem da Cúpulo de Brunelleschi. Fonte: Infoescola (2018).

Como visto na Figura 58, a cúpula projetada por Brunelleschi impressiona pela sua
monumentalidade e proporção. Com um diâmetro externo de 54 metros e uma altura de 114
metros até a lanterna, a cúpula é, até hoje, a maior estrutura abobadada já construída desde a
Antiguidade.
Vale afirmar que o projeto desta cobertura foi formado não somente por uma cúpula,
mas por duas. A primeira delas localiza-se na parte interna da igreja e a segunda, projetada
para resistir as intempéries. Até o momento, pouco se sabe sobre como Brunelleschi conseguiu
edificar, de fato, um elemento desta proporção, pois o mesmo não deixou desenhos que clareiam
as hipóteses que são afirmadas pelos estudiosos. No entanto, as informações que são repassadas
são que o projetista não utilizou moldes de madeira em formato de arcos como forma de alinhar
os tijolos e, assim, configurar a cúpula. Segundo historiadores, a técnica utilizada por Brunelleschi
é chamada de “espinha de peixe”. Nesta técnica, um tijolo é implantado na horizontal, enquanto
um outro tijolo é colocado em cima do anterior na posição vertical e assim sucessivamente.

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Figura 59 – Esquema da técnica estrutural utilizada para a construção da cúpula. Fonte: Portobello

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Figura 60 – Esquema da técnica estrutural utilizada para a construção da cúpula. Fonte: Portobello (2018).

Pereira (2010) aponta que, apesar do alarde técnico e da importância para a cidade de
Florença que a materialização da cúpula de Brunelleschi proporcionou, não foi na igreja da Santa
Maria Del Fiore que o mesmo imprimiu a nova linguagem humanista. Para o autor, a expressão
dessa linguagem arquitetônica se deu nos projetos das igrejas de São Lourenço e na Igreja do
Espírito Santo.

Nelas desaparece qualquer reminiscência formal gótica e surgem as formas


clássicas em toda a sua plenitude: a coluna e a pilastra romana coroada por
capitéis clássicos, o entablamento emoldurado, o arco de meio ponto, a cúpula
sobre pendentes, etc. (PEREIRA, 2010, p. 146).

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Figura 61 – Igreja do Espirito Santo, Felippo Brunelleschi. Fonte: II Novo Reporter (2018).

Consoante à arquitetura de Brunelleschi deve ser destacado também as propostas


arquitetônicas de Leon Battista Alberti (1402-1472) que, dentro de suas obras, passou a reviver o
uso do arco do triunfo proveniente da cultura romana. Como exemplo dessa utilização, podemos
apontar a fachada da Capela Sistina, em Roma.

Figura 62 – Fachada da Capela Sistina do Vaticano, Leon Battisti Alberti. Fonte: Babel Cultural (2015).

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Em continuidade com a sequência clássica de cidades e artistas que manifestaram a


arquitetura renascentista, podemos, agora, falar de Roma e, também, do artista Bramante (1444-
1514). Este foi responsável por reformular a gramática clássica e reviver a antiga arquitetura grega
e romana nos tempos renascentistas. Como obra de representação podemos apontar a construção
do Tempietto de São Pedro, sendo a mesma uma capela construída para ser um manifesto. Em
aspectos formais, esse pequeno templo é uma releitura de um templo romano circular. Nesta
arquitetura cada coluna da ordem dórica tem sua pilastra correspondente fixada na vedação do
edifício. Como suporte da cobertura, o templo é protegido por uma cúpula semiesférica.
Assim, com base em sua ótica construtiva e filosófica, Bramante se apropria da arquitetura
clássica para projetar seu edifício, sem tornar-se um mero imitador da arquitetura romana. Para
Gombrich (2015, p. 298), a obra “assume a forma de um pequeno pavilhão circular implantado
sobre um lanço de escadas, coroado por uma cúpula e circundada por uma colunata da ordem
dórica.” Para além disto, o autor complementa dizendo sobre a leveza e a harmonia alcançadas
por meio da balaustrada e da colunata decorativa que se expõem pelo lado externo da edificação.

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Figura 63 – O tempietto, igreja de São Pedro, Roma. Fonte: Artslife (2018).

Segundo Zevi (2011, p. 102), o prédio constitui, até certo ponto, a declaração dos princípios
que Bramante julgava necessários na composição de uma arquitetura dita como renascentista, são
eles: “absoluta afirmação central, valorização máxima das relações dimensionais entre as partes
do edifício, isto é, do elemento proporcional, e sólida plasticidade.” Por certo, essas características
iriam ecoar nos próximos projetos do arquiteto em Roma, inclusive para a Catedral de São Pedro
do Vaticano.

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Figura 64 - Planta da Catedral de São Pedro. Proposta de Bramante. Fonte: Google Images (2018).

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Encarregado de realizar um novo projeto dessa Catedral, Bramante explodiu a escala do
edifício e propôs uma igreja de tamanho colossal. Nesta proposta, a cúpula é o ponto de partida
para a concepção do edifício, bem como, a adoção de uma planimetria em formato de cruz grega.
Nas palavras de Pereira (2010, p. 151), “Bramante projetou uma igreja quadrada, com
capelas simetricamente dispostas em torno de um gigantesco átrio em forma de cruz. Esse átrio
seria coroado por uma imensa cúpula, assente em arcos colossais”. Nesse projeto também se
nota o resgate do arco do triunfo em sua fachada e a equidade da cúpula às medidas do Panteon.
Por fim, o arquiteto morre antes de finalizar a obra, deixando para os próximos construtores e
arquitetos as possibilidades de sua materialização.

Figura 65 – Fachada Capela Sistina do Vaticano. Projeto de Carlo Maderno Fonte: Move Notícias (2018).

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1.3. O Maneirismo
Em primeiro lugar, o Maneirismo é um movimento de transição entre o Renascimento e
o Barroco. Sua origem se deu por contrapontos à arte desenvolvida no renascentismo. Em tese, foi
um movimento que se colocou em oposição à formalidade e perfeição clássica. Ainda mais que
no Renascimento, o Maneirismo pregava a utilização de elementos clássicos com maior liberdade
de concepção e materialização, fazendo surgir soluções condizentes com o período de grande
desenvolvimento artístico e intelectual. Suas características principais denotam questionamentos
relacionados aos valores clássicos em favor da originalidade de cada artista, da complexidade das
formas menos rígidas e mais dinâmicas.
Em relação ao espaço arquitetônico religioso, a arquitetura maneirista procurou alongar
mais as igrejas, se opondo ao formato centralizado e quadrado que se implantou em grande parte
das igrejas renascentistas. A cúpula, acima do transepto deixa de ocupar o espaço central da
basílica e passa a pertencer somente como cobertura do transepto.

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Figura 66– Planta de um igreja maneirista. Fonte: Clique Arquitetura (2016).

Dentre os arquitetos maneiristas, destaca-se Andrea Palladio (1508-1580). Esse arquiteto


criava composições a partir de jogos geométricos revisados frente a Antiguidade. O mesmo aplica
em suas obras elementos como colunas e pórticos em escala monumental. Ao falar de Palladio,
Bruno Zevi diz que

Nos poetas autênticos, a aspiração à simetria, o ideal central da rotunda, o gosto


por uma matéria carnosa nunca se separa dessa clareza espacial e dessa cultura
de leis métricas que o princípio do século XV havia aprofundado: por essa razão,
suas obras são consistentes e graves, mas nunca inertes. (ZEVI, 2011, p. 113)

Adiante, Pereira (2010) evidencia o projeto a Rotonda, de Palladio, em que este cria
um bloco isolado central, que é elevado em uma paisagem; apresenta quatro faces, dadas como
pórticos externos simétricos.

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Figura 67 – Villa Capra, também conhecida como “a Rotonda”. Fonte: Wordpress (2018).

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Figura 68 – Villa Capra, também conhecida como “A Rotonda”. Fonte: Smarthistory (2018).

Como visto nas Figuras 67 e 68, na obra arquitetônica da Rotonda, Palladio criou um
bloco central de planta simétrica. A elevação do edifício dá origem a quatro jogos de escada que
direcionam para o mesmo lugar, o pavimento principal da residência. A ideia de grandes e várias
escadas para se chegar a um mesmo espaço é uma das características da arquitetura maneirista.
Em suas faces externas, quatro frontões gregos marcam os acessos e expõem as seis colunas de
ordem jônica.

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Figura 69 – Villa Capra, também conhecida como “A Rotonda”. Fonte: Smarthistory (2018).

1.4. A Contrarreforma
O movimento de contrarreforma é definido como o último período maneirista. Deu-se
a partir da finalização do Concílio de Trento, em 1563, e da aplicação de seus decretos sobre a fé
e a disciplina da igreja ao mundo católico em oposição à corrente protestante que se desenvolvia
no século XVI, principalmente a Reforma Protestante de Lutero, em 1517. Por meio dessas
reuniões, fixadas na cidade de Trento, a igreja Católica reafirmava suas doutrinas, ou seja, seus
dogmas, suas verdades absolutas, como forma de sustento e combate aos princípios reformistas
protestantes.
No contexto arquitetônico, Pereira (2010) aponta que a arquitetura do período da
contrarreforma tem sua melhor expressão na idealização do Escorial (1561-1584). A partir de
um conceito ideal sobre a arquitetura daquele tempo, “o modelo escorialense propõe uma nova
cidade alternativa que é, ao mesmo tempo, cidade ideal humanista e atualização contrarreformista
de cristã” (PEREIRA, 2010, p. 153). A noção de reunir vários edifícios em um mesmo local,
proporcionou, para a arquitetura, uma nova forma de expressão de poder. Por certo, essa forma
de implantação traria impactos para a lógica urbana e de sua paisagem.
Em síntese, a ideia do modelo escorialense emitiu, na época, uma proposta de composição
unitária, ou seja, a reunião de várias edificações entre si e implantadas em um mesmo território
como forma de organizar um grande complexo. No programa desse complexo encontramos
biblioteca, colégio, igreja e convento. Cada qual separados ou integrados em um mesmo prédio,
de acordo com as suas devidas condicionantes de funcionamento.

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Figura 70 – Perspectiva do Escorial, Espanha Fonte: Bp. Blogspot (2018).

Pereira (2010) afirma que a influência do Escorial na arquitetura da Europa dos séculos
XVI e XVII é bastante evidente, tanto nas próximas composições, como o caso dos escoriais
de Versalhes e Mafra, quanto na clara possibilidade de racionalizar uma grande quantidade
de edifícios complexos e com funções diferentes reunidos e inseridos como parte da estrutura
urbana.

2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 71 - A expulsão de Heliodoro do templo, Rafaello. Fonte: Unicamp (2018).

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As grandes contribuições presentes no humanismo são excelentes fundamentos que


subsidiam nossa forma de projetar até hoje. Neste sentido, nos deparamos, ao longo desta unidade,
com muitos pontos de relevância, os quais podemos citar: o desenvolvimento da perspectiva, a
busca por uma unidade pautada no homem como apreciador desta arquitetura, no instrumento
de controle que facilita sua propagação construtiva que foi baseado no mundo clássico.
Do mesmo modo, percebemos uma arquitetura que se viu livre para buscar influências
ou estratégias já utilizadas em tempos remotos, ao mesmo tempo que articulava a linguagem
antiga às suas tecnologias e ao contexto social presente.
Por fim, concluímos que é possível mesclar a escala monumental e humana, de acordo
com as sensações e as vistas cênicas que se interessam.

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I | UNIDADE 4

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