Você está na página 1de 56

vielas

vielas
um projeto de requalificação para
as vielas da comunidade de
Paraisópolis

alleys
a requalification project for the alleys
of the community of Paraisópolis

universidade de são Paulo


faculdade de arquitetura e urbanismo
trabalho final de graduação

carolina menezes mendes vieira


orientador: leonardo loyolla
são paulo 2018
agradecimentos
Agradeço primeiramente a minha mãe
guerreira, por sempre me apoiar e incen-
tivar em minhas escolhas, e servir de es-
pelho para que eu siga meus sonhos sem
desistir jamais. Ao meu pai, que me obser-
va e protege do ceu. A minha madrinha e
a minha avó pelas palavras sempre doces.

Agradeço meus colegas Caio, Debora,


Fabiana, Gabriela, Heloisa, Julia e Renata pelo
apoio físico, mental musical e arquitetônico.

A Luiza e a Juliana por ouvirem e aguen-


tarem minhas lamurias diárias durante todo
esse tempo ( seja aqui ou na Alemanha).

Finalmente agradeço as minhas incríveis


professoras Catharina e Karina por me faze-
rem gostar muito de desenho urbano, princi-
palmente no que concerne a vida na comu-
nidade e também despertar a empatia pelo
próximo que está dentro de cada um de nós.

Ao meu orientador Leonardo agrade-


ço toda a atenção e paciência e por ilumi-
nar meu caminho durante todo esse ano.

2 | VIELAS VIELAS| 3
O presente Trabalho Final de Graduação
do curso de Arquitetura e Urbanismo será This final thesis of the Architecture and
abordada a deficiência de espaços livres na Urbanism course will address the deficiency
comunidade de Paraisópolis, São Paulo e a of free spaces in the community of Paraisópo-
consequente apropriação das rua e vielas pe- lis, São Paulo and the consequent appropria-
los seus moradores . tion of the streets and by its residents.
Após análise da situação atual e do uso After analyzing the current situation and
das vielas em um recorte que abrangem três the use of the lanes in a site that cover three
quadras em uma área central da comunidade, blocks in a central area of the
​​ community, a
resumo será desenvolvido uma proposta de requalifi- abstract proposal will be developed to requalify a set of
cação de um conjunto de vielas, conectando lanes and alleys, connecting the three blocks
as três quadras e encurtando caminhos. Da and shortening paths. From the proposed new
proposto de novo percurso, surgem novos es- route, new organic spaces will appear within
paços orgânicos no interior dessas quadras, these blocks, stimulating the living and the lei-
estimulando o estar e o lazer dos moradores sure of the residents of the surroundings.
do entorno.
Keywords: Paraisópolis - free spaces - fave-
palavras-chave: Paraisópolis - espaços li- la - alleys - requalification -connection
vres –favela - vielas – requalificação- conexão

4 | VIELAS VIELAS| 5
1.introdução 09

2.favela 13
2.1 favela 14
2.2 por que intervir 16
2.3 espaços livres na periferia 18

3.paraisopolis 27
3.1 a cidade paraíso 28
3.2 origem 30
3.3 aspectos demográficos 34
3.4 aspectos físicos 36
3.5 esporte e lazer 38
3.6 bairros 40

4. o recorte 43
sumário 4.1 antonico 44
5. vielas 49
5.1 levantamento 51
5.2 tipologias 54

6. referencias 71

7. o projeto 79
7.1 primeiros estudos 80
7.2 definição do traçado 82
7.3 diretrizes de projeto 84

8. conclusão 93

9. bibliografia 94

6 | VIELAS VIELAS| 7
1.introdução

8 | VIELAS VIELAS| 9
1. introdução
No denso ambiente construído das fave- de espaços livre nas favelas consolidadas e quadras da comunidade, mas que poderiam
las, a prioridade espacial é dada à habitação. torna-se específica quando as questões de ser implantadas em qualquer outro setor da
Espaços públicos, então, desenvolvem-se mobilidade e do dia-a-dia na favela se entre- Paraisópolis, levando-se em conta pequenas
informalmente nos lugares que sobram na laçam a ela. Essas questões correspondem adaptações. As intervenções de infraestrutura
paisagem urbana e se mesclam com lugares a dificuldade de transitar no espaço público englobam melhorias nas condições preexis-
privados. Lajes, vias públicas, vielas e esca- comum da rua e das vielas e também da tentes de iluminação, circulação e acessibili-
darias são adotadas como lugares para co- apropriação por parte da comunidade que já dade, drenagem da chuva e armazenamento
nhecer pessoas, conversar, passar o tempo e acontece nesses espaços e que poderia ser de lixo das vielas dessas quadras. A diretriz
até fazer comércio. ainda mais efetiva, melhorando a qualidade geral de projeto e a conexão dessas três qua-
Nas favelas o espaço público é o coração de vida, a segurança e o conforto. dras pelo seu miolo, reconectando vielas e
de uma comunidade, criado do ato de “cons- A metodologia para a análise e proposta abrindo novos espaços para criação de espa-
truir lugares”. Alimentado por um sentimento é basicamente empírico, sustentado por visi- ços de estar e lazer.
de orgulho, esses espaços reforçam a cone- tas de campo nas quais o desenho, o registro
xão entre as pessoas e os lugares coletivos fotográfico e as conversas informais com a
que compartilham dentro de uma vizinhança, comunidade são as principais ferramentas de
demonstrado na infinidade de maneiras na observação, transcrição e análise do objeto
qual os espaços são utilizados, apreciados e de estudo. Uma vez sistematizadas, e partin-
mantidos. Por extensão, a construção de uma do de revisão bibliográfica, as informações de
comunidade emerge ao lado desse movimen- campo conduzem a uma discussão acerca da
to, aumentando a solidariedade dos morado- apropriação das vielas existentes e como re-
res e solidificando o valor e a necessidade qualificar esses espaços de forma a fomentar
destes espaços. A intimidade social entre os ainda mais a vitalidade inerente a eles assim
moradores das favelas e das relações forma- com melhorar as condições de conforto e se-
das devido à proximidade física e circunstân- gurança.
cias são, de certa forma, inigualáveis.O tra- O objetivo deste trabalho e criar uma
balho parte desta problemática geral, a falta serie de proposições para um conjunto de 3

10 | VIELAS VIELAS| 11
2.favela
2.1 favela
2.2 por que intervir
2.3 espacos livres

12 | VIELAS VIELAS| 13
2.1 favela
O Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- adjetivos para seus moradores. pando da movimentação do capital, mas que
tística (IBGE), como parte do Censo Demo- Em 2002 foi adotada pela ONU uma de- não encontram oferta acessível de moradia
gráfico 2010, realizou uma pesquisa sobre finição internacional de favela\slum que a ca- no mercado legal da cidade e não veem esse
os aglomerados subnormais no País, anali- racteriza como um local com acesso inade- déficit ser amparado pelo Estado.
sando os dados das favelas, invasões, gro- quado à água potável, acesso inadequado à A favela é uma expressão coletiva de
tas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, infraestrutura de saneamento básico e outras imensa complexidade e para poder compre-
mocambos ou palafitas. Essas áreas abrigam instalações, baixa qualidade das unidades ender melhor a área de intervenção e a poste-
os lares de 11.425.644 pessoas, ou 6% da po- residenciais, alta densidade e insegurança rior intervenção é necessário o entendimento
pulação brasileira. O estudo feito pelo IBGE quanto ao status de propriedade. Dessa for- de alguns questionamentos: O que são as-
mostra que 5,6% (3.224.529) do total de do- ma, sua caracterização se restringe ao aspec- sentamentos precários? Por que se fazem ne-
micílios brasileiros estão localizados nessas to físico e legal do assentamento sem tocar cessárias intervenções de qualificação nessa
áreas. Em todo o País foram identificadas nas questões sociais.” É necessário distinguir cidade ilegal e sua regularização? Qual a ori-
6.329 favelas espalhadas em 323 municípios. irregularidade de precariedade e de carência\ gem dos processos de segregação urbana
A região Sudeste, a mais populosa do vulnerabilidade social. Nem todos os assenta- brasileira e seus desdobramentos na dinâmi-
País – com 77,6 milhões de habitantes -, é a mentos irregulares são precários, nem todos ca urbana atual? Como os espaços públicos e
que concentra o maior número de lares den- os precários comportam população em situ- livres surgem e se constroem nessa lógica de
tro de favelas, 49,8% do total no País, com ação de carência ou vulnerabilidade social.” formação da cidade?
maiores incidências nos Estados de São Pau- (BUENO, 2003)
lo (23,2%) e Rio de Janeiro (19,1%). Em se- Hoje as favelas são lugares menos pre-
guida aparece o Nordeste, com 28,7%, Norte, cários do que eram duas ou três décadas
com 14,4%, Sul, com 5,3%, e o Centro-Oeste, atrás, ao passo que vão se estabelecendo,
com 1,8%. os barracos de madeira se transformam em
Por mais presente que seja na realidade edificações de alvenaria que muito se confun-
brasileira, a palavra favela carrega consigo dem e se misturam com alguns bairros de pe-
um estigma de lugar ilegal, inseguro e degra- riferia da metrópole, seus moradores são tra-
dado tanto no seu aspecto físico como social balhadores empregados, muitos no mercado
trazendo muitas vezes os estigmas desses formal, que produzem e consomem, partici-

14 | VIELAS VIELAS| 15
2.2 por que intervir
A consolidação das cidades informais, se se constroem esses assentamentos precários, ca e acessível e menos desigual. Dessa forma,
dá em um primeiro momento em terrenos pú- são gradualmente degradados, casando perdas na tentativa de mitigação dessas problemáticas
blicos, privados ou comunais na maioria das da biodiversidade e poluição. Referente à ques- históricas decorrentes desse modo de constru-
vezes de maneira irregular, sem registro for- tão política, a ausência de poder público nes- ção e consolidação da cidade, têm sido realiza-
mal de propriedade e com uso de materiais sas áreas faz com que aconteça uma espécie dos nas cidades da américa latina conjuntos de
rudimentares. Com o passar dos anos novos de coronelismo político, em que se prevalece a intervenções urbanísticas, arquitetônicas e so-
materiais são introduzidos, a cidade informal troca de favores entre políticos, chefes do tráfico ciais. Essas melhorias devem ser pensadas por
se expande e alguns serviços públicos são im- e população, os primeiros prometendo sempre nós arquitetos, não só para melhorar a cidade,
plementados na área. entretanto é importante mudanças estruturais nesses assentamentos. mas sim nas pessoas que ‘ao usufruir daquele
constatar que mesmo com alguns serviços de E por último a problemática econômica se faz espaço e em conjunto com elas. O espaço deve
infraestrutura, essas áreas continuam sendo presente devido à ilegalidade jurídica das mo- considerar a realidade do morador e suas ne-
núcleos de precariedade urbana, vivendo as radias, o que gera perda de potencial receita, cessidades para assim oferecer mais dignidade,
margens da cidade formal e sendo marcadas uma vez que a população é excluída dos siste- segurança e qualidade de vida.
como territórios da irregularidade. Do ponto de mas oficiais de impostos sobre a propriedade,
vista jurídico, a falta de reconhecimento legal não pagando tributação. Outros fatores como o
da posse da propriedade pode acarretar na histórico de formação da sociedade e da distri-
impossibilidade da provisão de infraestruturas buição fundiária também contribuem fortemente
e de serviços na área, além de insegurança para a configuração atual dos assentamentos
de posse e manutenção das comunidades precários. Por essa razão os custos da informa-
no local, dificultando o acesso à moradia. Em lidade são bastante elevados, o que torna obri-
relação as condicionantes sociais, a imagem gação do poder público em intervir nessas áreas
das favelas como território disseminador da a fim de reduzir as problemáticas existentes e
violência acaba estigmatizando seus morado- impedir a proliferação de novas áreas precárias.
res e com isso, a oferta de trabalho é negada, Os investimentos nessas regiões se fazem
excluindo-os socialmente. Nos aspectos am- necessários para a garantia e o direito de exer-
bientais, os terrenos frágeis como em encos- cício de moradia e cidadania. Intervir nesses es-
tas íngremes e leitos e nascentes de rio,onde paços é construir uma cidade mais democráti-

16 | VIELAS VIELAS| 17
2.3 espacos livres na periferia
O tema central deste trabalho está vol- memória, conforto e conservação ambiental, são coletiva da vida comunitária, da visibilida- gerando situações de becos e vielas no inte-
tado pra compreensão dos espaços livres na etc. O sistema de espaços livres de cada ci- de dos diferentes grupos sociais, do espaço rior da quadra.
comunidade, sua formação, dinâmica e apro- dade apresenta um maior ou menor grau de da afirmação ou da confrontação, espaços de As vias resultantes desses parcelamen-
priação. Este item aborda o conceito de espa- planejamento e projeto prévio, um maior ou participação e comunicação. tos ficam sendo destinadas ao uso coletivo, e
ço livre público urbano para em seguida defi- menor interesse da gestão pública num ou além da circulação são apropriadas de forma
ni-lo em assentamentos precários. noutro subsistema a ele relacionado. A noção espaços livres em assentamentos distinta pelos moradores devido a carência de
de sistema de espaços livres aqui adotada precarios áreas livres nas habitações e no próprio bair-
espaços livres públicos abrange um escopo muito maior que o do “sis- A concepção dos espaços livres em áre- ro precário. As ruas, becos e vielas possuem
Os espaços livres urbanos, como Miran- tema de áreas verdes”. Espaços livres e áreas as precárias se da de forma distinta daquela grande potencialidade de sociabilização, po-
da Magnoli (1982) já definira, são os espaços verdes frequentemente ainda se confundem conhecida na cidade formal. Sua construção dendo esses pequenos espaços, quando al-
livres de edificação; todos eles: quintais, jar- no Brasil; muito em função da cultura anglo- e consolidação em assentamentos precários vos de intervenção, assumirem formas de
dins públicos ou privados, ruas, parques, rios, -saxônica na área de paisagismo, presente se da primeiramente a partir da ocupação convívio e lazer dos usuários.
mangues e praias urbanas, etc. Sao espaços nos quadros técnicos e acadêmicos do país, espontânea dos lotes para a construção de Outra consequência dessa apropriação
sem o qual não se concebe a existência das que privilegia os parques e demais áreas ver- moradias, de forma orgânica. Geralmente es- desordenada dos lotes e ladras e a carência
cidades, estão por toda parte, mais ou menos des e nem sempre observa a maior complexi- ses assentamentos possuem alta densidade de áreas verdes, que além de oferecem um
processados e apropriados pela sociedade; dade dos sistemas de espaços livres urbanos. construtiva, poucos vazios e um desenho or- espaço ao lazer, poderiam amenizar o calor e
constituem, quase sempre, o maior percentual O espaço livre publico pode ser consi- gânico da malha, com vias curvas e estreitas. a poluição desses bairros.
do solo das cidades brasileiras. Todos os es- derado como “o espaço da vida comunitária A lógica de implantação dessas ocupa- Espaços livres públicos são ainda de ex-
paços livres urbanos são objeto de interesse por excelência” (Magnoli,2006). Nele são rea- ções esta firmada no maior aproveitamento trema importante como espaços políticos de
da área de paisagismo, indo, portanto, muito lizados as atividades de apropriação publica e do solo, buscando uma grande quantidade exercício da cidadania e civilidade , possibili-
além dos jardins (Magnoli, 1982).Os espaços utilidade publica e dão identidade a uma cida- de habitações por metro quadrado. Dessa tando a reunião de movimentos sociais e ma-
livres urbanos formam um sistema, apresen- de ou bairro. forma, os espaços livres são gerados a partir nifestações, possibilitando a troca de debates
tando, sobretudo, relações de conectividade, Palcos do espetáculo urbano e das ati- de espaços residuais desse tipo de ocupação e opiniões.
complementaridade e hierarquia. Entre seus vidades, os espaços livres públicos podem predatória da quadra. Os resultados desses
múltiplos papéis, por vezes sobrepostos, es- ser compreendidos como símbolos da identi- agrupamentos da quadra tradicional configu- a rua como extensão da casa
tão a circulação, a drenagem, atividades do dade coletiva e da manifestação da historia e ram espaços livres no interior do lote, sendo Na cidade formal, a partir do século XX
ócio, convívio público, marcos referenciais, acontecimentos políticos, espaço da expres- quintais das casas, de uso privativo e acabam com a elaboração de novos planos urbanos

18 | VIELAS VIELAS| 19
para o traçado das cidades modernas, a rua como as feiras ao ar livre e barraquinhas de ras e os usos distintos desse ambiente públi- vida pública. Observam-se nas grandes me-
passou a ter um caráter essencialmente de alimentos. co criam relações de sociabilidade essenciais trópoles algumas praças monumentais, com
circulação, de pessoas e veículos, de largura Os fatores que tornam as vias grandes pois possibilitam trocas comerciais, socias e desenhos marcantes, mas que permanecem
consideráveis e extremamente funcionalista. corredores de sociabilidade podem ser atribu- culturais. vazias, subutilizadas, criando locais de perigo
Para Jane Jacobs a perda da função da rua ídos pela demanda por espaços nas residên- Outro espaço muito utilizado com exten- para a população. Muitas delas são localiza-
como articuladora de usos, se deu por meio cias: como as habitações são extremamente são da atividade dos moradores nas comuni- das em espaços onde a vida pulsa e pode-
do entendimento e execução das vias como pequenas, faltam espaços para o desenvol- dades e a área da laje. A laje traz inúmeras riam estar servindo à população não apenas
elementos de separação das atividades, ne- vimento das atividades domesticas como lo- possibilidades para o seu dono, valendo res- como um belo lugar para se ver, mas como
gando a forma tradicional de desenvolvimento cais para estender a roupa ou espaço para saltar que nem sempre o dono da construção um lugar para se viver, para interagir com ou-
da cidade e suas relações. A rua da cidade as crianças brincarem. Dessa forma, calca- e dono da laje, uma vez que a mesma é muito tras pessoas. Segundo Janes Jacobs (2000):
formal perdeu então seu papel de sociabili- das e vielas servem como uma extensão da valorizada para expansão. Pode ser compar- “É tolice planejar a aparência de uma cidade
dade, a medida que esta não proporcionava casa para a realização dessas atividades. tilhada entre os moradores de uma edificação sem saber que tipo de ordem inata e funcional
mais encontros e trocas sociais, apenas a As portas, janelas e degraus das residências servindo de lavanderia, área para estender as ela possui. Encarar a aparência como objeto
passagem de um ponto ao outro do território. oferecem apoio a essas atividades cotidia- roupas e área de lazer. O lazer, como churras- primordial ou como preocupação central não
Entretanto, na cidade informal, as rela- nas de descanso e do olhar, sendo também cos e outros festas são os principais eventos leva a nada, a não ser problemas”. A praça
ções de sociabilidade da rua foram mantidas locais para sentar e trocar conversas. Outras nessas lajes e muitas podem ser ate aluga- contemporânea, quando marcada por um de-
conforme os assentamentos foram se configu- funções estão ligadas a apropriação provada das. sign fundamentado apenas na visualidade
rando sem nenhuma forma de planejamento por comércios, uma vez que calcas abrigam da paisagem, quase nunca é capaz de esta-
ou ordenação dos espaços. A escala adotada mesas e cadeiras does estabelecimentos. As pracialidades belecer-se como lugar de convívio na esfera
na formação desses espaços foi a escala hu- ruas também podem ser fechadas para a re- O espaço público para ter vida não neces- pública, da ação comunicativa, da vita activa
mana, e os construtores, seus próprios mora- alização de atividades temporárias, como fei- sita apenas ser um belo lugar, definido por um (Queiroga, 2003).
dores, resultando em locais de extrema socia- ras, festas e manifestações. bom desenho ou uma vista interessante. Isso Como uma categoria de entendimento
bilidade e contato humano. Outra condição que favorece sua apro- não é suficiente e nem condição necessária. dos lugares, conceitua-se o termo ”pracialida-
Outros espaços de uso coletivo, como priação é a falta de equipamentos de lazer, Da mesma maneira que muitos espaços pri- de” (Queiroga, 2001): situações de pracialida-
praças, quando existentes de tornam agluti- cultura e esporte nessas localidades, resul- vados negam o espaço público, existem mui- des poderão ocorrer em diferentes logradou-
nadores de pessoas e uso e conferem cen- tando no encontro de jovens nas ruas para ati- tos projetos de espaços públicos que visam à ros, além daqueles oficialmente denominados
tralidade ao bairro, concentrando atividades vidades recreativas e lúdicas nas ruas e vielas passagem e locomoção e não à permanên- praças ou largos, em razão de apropriações
comerciais para sobrevivência dos moradores dos assentamentos. A conversa, as brincadei- cia de indivíduos nos locais, enfraquecendo a eventuais ou cotidianas que transcendem a

20 | VIELAS VIELAS| 21
funcionalidade mais específica do sistema de
objetos e transformam em espaço de encon-
tro e convívio públicos, de manifestações po-
pulares, da política lato sensu, da constituição
cultural dos lugares, da razão comunicativa,
vivida cotidianamente. Verificam-se, portan-
to, locais que apresentam forte pracialidade e
que não necessariamente precisam ser pro-
priedade pública, mas que se transformam
em espaços de encontro e de manifestação
pública.
Assim se apresentam inúmeros campos
de futebol nas periferias metropolitanas, ao
menos aos domingos; alguns edifícios, dado
seu amplo acesso público, entre outros. Na
periferia, a ausência de espaços projetados
para ócio e convivência faz que situações de
“pracialidades” ocorram com grande freqüên-
cia. Esses espaços são produzidos pelos pró-
prios moradores que fazem da frente de um
barzinho, ou do campinho de futebol, um am-
biente acolhedor, concebidos e executados
por meio de um design popular.

22 | VIELAS VIELAS| 23
“Eu venho andando todo dia. Demoro 50 minutos.”
“Um problema muito grande é mobilidade. (Kerollay aponta para Tamires
com o pé enfaixado)”
“Falta muita coisa aqui na Paraisópolis, falta um lugar pra gente passar
tempo, se divertir.”

Kerollay, Priscila, Liciane e Tamires


alunas do Ballet de Paraisópolis, entrevistadas
durante a fase de pesquisa

Imagem 1: Da esquerda para direita,Kerollay, Priscila,Lliciane e Tamires aguardando o ensaio


Fonte: Acervo Pessoal 2017

24 | VIELAS VIELAS| 25
3.paraisópolis
3.1 a cidade
paraíso
3.2 origem
3.3 aspectos
demográficos
3.4 aspectos físicos
3.5 bairros
3.6 esporte e lazer

26 | VIELAS VIELAS| 27
3.1 cidade paraíso
A Paraisópolis que, com população esti- sui laços com seu entorno, dito for- desco, Santander e Banco do Brasil ali ins-
mada em 57 mil habitantes1), lado a lado com mal, em função de trabalharem nele talados colaboram para a transformação e
Heliópolis, está atualmente entre os maiores muitos dos moradores do Complexo. percepção da importância econômica do di-
conjuntos de bairros precários do município Existem áreas em Paraisópolis que têm namismo do Complexo, cujo comércio possui
de São Paulo, sendo emblemático por sua lo- um nível de consolidação maior do que ou- mercados, hortifrutigranjeiros, perfumarias
calização no distrito do Morumbi, na Subpre- tros, sendo que existem trechos urbanizados que sorteiam carro zero km no final de ano,
feitura do Butantã, Zona Oeste do município em sua totalidade, com infraestrutura e equi- além do milho e churrasquinho “na calçada”.
de São Paulo, que faz dele um enclave num pamentos, dentre os quais os novos conjuntos Paraisópolis é conhecida também pela
entorno de bairros paulistanos de classe mé- habitacionais; mas há áreas com condições oferta de eventos e espaços culturais e se
dia alta. piores no que diz respeito à presença de re- tornou a “Paraisópolis das Artes”, que pos-
Em função de sua população e varieda- síduos e lançamento de dejetos; há setores sui um Circuito Cultural que é feito a pé pelo
de de situações socioespaciais, podemos di- onde não se recomenda caminhar sem a com- Complexo. Pode-se visitar a oficina de Ber-
zer que o Complexo de Paraisópolis (que en- Paraisópolis panhia de lideranças locais; por outro lado, bela,a casa de garrafa Pet e até o Gaudi
globa a favela Jardim Colombo, Porto Seguro Zona Sul há lojas e ruas frequentadas por pessoas que Brasileiro. Temos ainda diversas ONG’s de
Vila Andrade
e a Paraisópolis) se configura praticamente não moram no Complexo, como a Melchior educação, cultura e esporte, como o premia-
como uma cidade, maior inclusive do que Giola, Ernest Renan a Pasquale Galluppi, vias do ballet, a orquestra e os leões do rugby.
muitas cidades brasileiras e que tem, assim, de comércio intenso, instaladas na cumeada
pluralidade característica de qualquer núcleo que divide aquele trecho de Paraisópolis em
urbano. duas vertentes: a do Grotinho e a do Grotão.
Trata-se de uma cidade que pos- Morar em Paraisópolis é não precisar “ir
à cidade” para fazer compras. Encontra-se
1 Segundo dados oficiais da Prefeitura da Cidade de tudo por lá: manicures e cabeleireiros, pet
de São Paulo/ Secretaria de Habitação/ Habita SAMPA,
são 17.159 domicílios. Se considerarmos uma média n
Imagem 2 : Localização da favela de Paraisópolis
shops com entrega a domicílio, restaurantes,
de 3,3 pessoas/domicílio, tem-se uma população apro- lojas de roupas, clínicas odontológicas, clí-
Fonte: Elaborado pela Autora
ximada de 56,6 mil habitantes (A média vem dos dados
nica de saúde particular,creches e comércio
do Censo 2010). Contudo, a União de Moradores e do
Comércio de Paraisópolis estima um total de 100 mil de todo o tipo. Bancos privados como o Bra-
habitantes, segundo os atendimentos da sede.

28 | VIELAS VIELAS| 29
3.2 origem
O Complexo está implantado em lotea- dimensões fixas de 200 m x 100 m, implanta- que provocou um adensamento no local e ve intensificação do movimento migratório.
mento irregular que teve seu início em 1921 dos em malha ortogonal que desrespeita por contribuiu para o surgimento de duas outras Famílias vindas de estados da região nordes-
através da União Mútua Companhia Constru- completo a topografia (imagem topografia) favelas: Jardim Colombo e Porto Seguro. te passaram a ocupar o lugar, instalando-se
tora e Crédito Popular S.A., em parte da an- marcante da região, com encostas íngremes Paralelamente, na década de 1970, hou- rapidamente, formando grandes agrupamen-
tiga Fazenda do Morumbi. Hoje está junto a e fundos de vale. No entanto, a falta de in-
um dos bairros mais ricos e com distinção so- fraestrutura fez com que muitos proprietários
cioeconômica da cidade de São Paulo, numa abandonassem seus lotes, que passaram a
região marcada pela proximidade com o Es- ser ocupados irregularmente.
tádio do Morumbi e pelas avenidas Giovanni No final da década de 1960, o cresci-
Gronchi e Morumbi, onde estão dois grandes mento imobiliário da região intensificou a ocu-
cemitérios (Getshemani e Morumbi) que re- pação irregular de Paraisópolis. Nessa épo-
presentam uma mancha de áreas verdes con- ca, a região do Morumbi passou a concentrar
tíguas ao Complexo, mas de acesso restrito. moradias de alto padrão, que ofereciam tra-
No projeto original do loteamento não houve balho para a população que ali residia. Em
destinação de espaços públicos, com exce- 1968, foi aprovada a Lei de Zoneamento Ge-
ção do sistema viário que, hoje, em função ral do Município, a qual contemplou a área de
da ocupação por parte de construções, tem assentamento de Paraisópolis. Concomitan-
larguras reduzidas e estreitas calçadas que temente, houve a construção do Estádio do
não cumprem sua função de mobilidade com Morumbi, que durou de 1952 a 1970, época
qualidade no deslocamento dos moradores. em que o bairro estava em desenvolvimento e
A ocupação do espaço tem origem em havia escassas áreas construídas.
um loteamento, ocorrido em 1921, de parte Nas décadas seguintes, obras públicas
da antiga Fazenda do Morumbi, propriedade no entorno da região (Águas Espraiadas,
da família Dedenrichesen .O loteamento foi Brooklin, Real Parque) provocaram o êxodo
n
Imagem 3: Projeto original do loteamento de Paraisópolis, apesar de irregular, oficializado em 1968 pela lei municipal
aprovado em meados de 1922 e apresen- de várias famílias que residiam nessas regi-
7.810 e ocupação atual sobreposta ao traçado original
tava 2.200 lotes, inseridos em quadras com ões e foram morar em Paraisópolis, situação Fonte: PORTAL VITRUVIUS. Projeto Urbano do Córrego do Antonico. Projetos, São Paulo, ano 12, n. 1

30 | VIELAS VIELAS| 31
tos de habitações populares. 1990 várias organizações não governamen- IPTU. Poucos proprietários quiseram requerer
Esse rápido adensamento causou proble- tais começaram a atuar em Paraisópolis. na justiça, e os processos existentes encon-
mas estruturais, pois não havia instalação de Em 1994, a prefeitura propôs a remo- tram-se quase todos arquivados, favorecendo
recursos de saneamento básico, iluminação, ção das famílias de Paraisópolis para o Pro- a regularização por meio de ação judicial de
calçamento e organização das ruas. jeto Cingapura visando a implantação de um usucapião.
Em 1975, a prefeitura elaborou um pla- plano viário, porém novamente os moradores No entanto, em 2005, a prefeitura passou
no de reurbanização que previa, com con- rejeitaram a proposta. Em 1998, a prefeitura a permitir que donos de terrenos do loteamen-
cordância dos proprietários, a desapropria- executou obras de urbanização no local e ela- to original de Paraisópolis que tivessem dívi-
ção do espaço, que não foi concretizada por borou um projeto de lei para operação urbana das de IPTU ou outras multas com a prefeitura
causa da falta de recursos orçamentários e em Paraisópolis, mas o projeto não foi apro- pudessem doar esses lotes à municipalidade
financeiros. Em 1979, o governo do Estado vado. em troca do perdão dessas dívidas. Nesse
realizou 20% das ligações de energia elétrica Nos anos 2000, orientada pela União dos momento foi iniciado um processo de urbani-
em Paraisópolis. Moradores, a população local se mobilizou zação e regularização dos imóveis construí-
Nos anos de 1980, enquanto continua- para obter do poder público melhoria da infra- dos ilegalmente.
va o movimento migratório, um arranjo entre estrutura. Como resultado, a prefeitura insta-
as elites moradoras do entorno e o poder pú- lou redes de água, esgoto e drenagem, pavi-
blico ameaçou remover Paraisópolis para a mentação das vias (ruas, escadas e vielas),
construção de um complexo viário. Em 1983 iluminação pública, rede de telefonia, entre
foi criada a União dos Moradores da Favela outros serviços resultantes do Programa de
de Paraisópolis como reação a essa iniciati- Reurbanização de Favelas. Apesar de todas
va. Embora tenha sido criada uma comissão essas melhorias, em razão da desorganiza-
integrada, vinculada ao gabinete do prefeito, ção dos lotes (moradia que ocupa partes de
para realizar estudos de urbanização da área terrenos diferentes) e da ocupação de terreno
e de remoção das famílias, nenhuma ação particular, o documento de posse da habita-
foi praticada. O crescimento demográfico de ção era difícil de adquirir. Imagem 4: Vista da
Paraisópolis a partir
Paraisópolis e a articulação interna dos mo- O abandono dos lotes pelos proprietários da Avenida Giovanni
radores dificultavam a remoção da favela. No originais na maior parte das vezes foi acom- Gronchi
final da década de 1980 e no começo da de panhado pela desistência do pagamento do Fonte: Acervo Pessoal
2013

32 | VIELAS VIELAS| 33
3.3 aspectos demográficos
A localização da comunidade de Parai- Uma mudança significativa no perfil da Famílias X Tempo de Moradia Habitantes x Faixa Etária
sópolis em meio aos bairros nobres da cida- comunidade é em relação aos migrantes e 1% 1% 1%

de de São Paulo coloca seus moradores em ao naturais do município que a compõem. 12% menos de um ano
14% 0 a 14 anos
16%
1 a 3 anos
uma posição relativamente privilegiada no Hoje os migrantes são apenas 30% da po- 10%
33%
15 a 39 anos
3 a 5 anos
40 a 64 anos
mercado de trabalho. Com uma densidade pulação, sendo que 77% já residem em São 24% 5 a 10 anos
64 anos ou mais
24% 10 a 15 anos
demográfica de 746hab/ha eh 10 vezes mais Paulo há mais de 10 anos. Esse fenômeno 51% sem informação
13% mais de 15 anos
densa do que a cidade como um todo. foi identificado por Pasternak1 nas favelas sem informação
Segundo a Associação de Moradores, de modo geral, sendo comum encontrar de
78 % da população economicamente ativa duas até três gerações de uma família viven-
de Paraisópolis trabalha no distrito do Mo- do na mesma comunidade. Em Paraisópolis
rumbi e redondezas,com um rendimento mé- 53% das famílias estão instaladas no local a
dio de ate 2 salários mínimos. pelo menos 5 anos enquanto apenas 16%
Em relacão à idade, mais da metade está há menos de um ano.
da população tem entre 15 e 39 anos, e 33 As famílias têm em média 4 membros.
% tem entre 40 e 64 anos, sendo então um
grande contingente de força de trabalho, Renda per Capita Famila X N de componentes
2%
que produz e consome.
14% 14%
32% 0 a 0,5 SM 21% 1 pessoa
8%
>0,5 a 1 SM 2 a 4 pessoas
14% >1 a 1,5 SM 5 a 7 pessoas
> 1,5 a 2 SM 8 a 10 pessoas
63%
32% > 2 SM

Imagem 5: Dados do IBGE


Censo de 2015
1 PASTERNAK, Suzana. Espaço e População nas
Favelas de São Paulo,2016. Fonte: Elaborado pela Autora

34 | VIELAS VIELAS| 35
3.4 aspectos físicos
Os limites físicos de Paraisopolis se confi- Antonico limitando-se a cota mais alta onde
guram por barreiras topográficas. A região e encontra a avenida Giovanni Gronchi. Ao
bastante acidentada, com declividades pre- sul ergue-se uma crista na cota media 805m
dominantes de ate 30%, mas que em alguma que contorna duas grotas, depressões geo-
áreas podem ultrapassar 60%. gráficas chamadas Grotão, na cota média de
A favela teve seu inicio com ocupações na 755m, e Grotinho, na cota media 770, as ul-
pequena planície que hoje e denominada timas a serem ocupadas e as mais precárias
Centro, passando depois para as margens da comunidade devido ao difícil acesso e a
dos córregos Brejo e Antonico, no caso do grande declividade.

n
Imagem 7: Mapa físico de
Paraisópolis com seus se-
tores.
Fonte: GOMES, Julia.
Paraisópolis: O Espaço
Imagem 6: Esquema das tipologias de quadra de Paraisópolis. O bairro do Morumbi seguiu as curvas de nível existentes Público na Urbanização
enquanto o loteamento de Paraisópolis ignorou a declividade natural e criou um traçado ortogonal, o que resultou em la- de Favelas, 2016.
deiras muito inclinada.
Fonte; GOMES, Julia. Paraisópolis: O Espaço Público na Urbanização de Favelas,2016

36 | VIELAS VIELAS| 37
3.5 bairros calcadas com áreas verdes e espaços de
convivência no trecho do córrego e para isso
que sofre com incêndios de grande porte. Ao
invés do traçado original, rígido e ortogonal,
Paraisópolis tem a dimensão populacional centro foram removidas as habitações lindeiras ao que nesta região resultaria em declividades
de uma cidade do interior, e por isso e com- O setor mais antigo de Paraisópolis e córrego, resultando na diminuição do risco muito altas, percebe-se vias mais orgânicas
preensível que tenha áreas com característi- também o com melhores condições topográfi- de alagamento e da poluição do córrego que muitas vezes construídas pelos próprios mo-
cas bem diversas. Assim favela se divide em cas e mais consolidado, e composto principal- antes servia de esgoto para essas casas na- radores. Atualmente está em construção o
5 “bairros” ou setores, são eles: mente por edificações de alvenaria, normal- quele momento. Atualmente vários trechos Parque Sanfona, que segue o traçado natural
mente com 2 a 3 pavimentos e com melhores foram tomados por novas construções e en- das cruvas de níveis, em um área outrora ocu-
condições de habitabilidade. O traçado viário tulho criando um estrangulamento caótico e pada por muitas construções de madeira que
e um dos mais preservados e bem cuidados desordenado para quem passa de ônibus e sofria com deslizamentos frequentemente.
pelas ações de urbanização da Prefeitura. carro pela região. Foram os setores que receberam a
Apresenta uma variedade de comércios A avenida Hebe Camargo se tornou uma maior parte das intervenções e equipamentos
e serviços , como a unidade local das lojas importante meio para mobilidade, pois possi- produzidos pelo plano de urbanização, ressal-

Antonico Brejo Casas Bahia, que emprega majoritariamente bilitou a inserção de novas linhas de ônibus e tando o polo educacional-uma FATEC, duas
Centro moradores locais, muitas lojas de construção micro-ônibus para atender a comunidade. EMEI’s um CEU e uma creche-, e a maioria
e restaurantes. E também onde estão loca- dos conjuntos habitacionais construídos.
lizadas diversas ONG`s e projetos socias e
grotinho e grotão
uma unidade do hospital Albert Einstein para
São os setores correspondentes às gro-
atender a comunidade. Ainda nesse períme-
tas, áreas com declividades muito acentua-
antonico
tro esta localizada a sede da União dos Mora- O bairro do Antonico sera tratada no pro-
das. São os mais degradados da comunida-
Grotão dores, o Bom Prato e a feira livre. ximo capitulo, sendo a regiao escolhida para
de, apresentam muitas habitações precárias
Grotinho feitas de chapas de madeira e papelão sem
a intervencao.

brejo ligações de esgoto e água, ocupando as en-


E composto pelas edificações que mar- costas e os fundos de vale, onde ocorrem ris-
geavam o córrego do Brejo, que foi canaliza- co de desabamento e alagamento. Pela sua
do a época da construção da Avenida Hebe configuração e uso de materiais é uma área
n
Imagem 8: Paraisópolis e seus bairros. Sem escala. Camargo. Devido a abertura desse via tam-
Fonte: Elaborado pela autora. bém foram construídas uma ciclovia, amplas

38 | VIELAS VIELAS| 39
3.6 esporte e lazer
O distrito da Vila Andrade, na qual está O entorno da comunidade de Paraisópo-
localizado a comunidade de Paraisópolis está lis é muito rica em áreas verdes e arborizadas,
localizado na zona sul da capital tem a pior que contrastam com seu interior. As áreas
colocação em quantidade de equipamento verdes próximas fazer parte de empreendi-
publico esportivo municipal com apenas um mentos privados como condomínios e são de
centro de esportes para 172 mil moradores, acesso restrito. Os parques públicos mais pró-
segundo o Mapa da Desigualdade 2017.1 ximos são o Parque Burle Marx e o Chácara
O bairro é vizinho do Estádio do Morumbi do Jockey.
e de muitas quadras de tênis e futebol par- O percurso para o parque Burle Marx,
ticulares. Segundo, Joildo Santos, tesoureiro que está mais ou menos a uma distância de 3
e diretor de comunicação da União dos Mo- km,em um dia de domingo, demora:
radores e do Comércio de Paraisópolis são 8 min de carro
poucos os espaços existentes para a prática 48-53 min de transporte público
esportiva e são usados de forma intensa pe- 39 min andando
los moradores. 2 16 min de bicicleta
O equipamento mais utilizado e que e
ponto de referencia na comunidade e o Cam- O percurso para o parque Chácara do Jo-
po da Palmeirinha. O campo abriga jogos de ckey, que está mais ou menos a uma distância
futebol, campeonatos externo s e ainda varias de 4 km,em um dia de domingo, demora:
ongs com a Rugby para todos, que ensina 12 min de carro
menino e meninas a jogar rugby, alem de au- 46-50 min de transporte público
las de ingles, acompanhamento fisico e nuti- 47 min andando
cional. 19 min de bicicleta3

1 http://www.nossasaopaulo.org.br/tags/mapa-da-
-desigualdade Imagem 9: Obra de construção do Parque Sanfona. O local era ocupado e corria risco de deslizamento. Após remoções,
foi ocupado novamente até a ocorrência de um incêndio em 2017.Obras foram retomadas em 2018.
2 http://32xsp.org.br/2017/11/07/educacao-tambem- 3 Dados simulados no Google Maps, para uma ma-
-e-feita-pelo-esporte-diz-morador-da-vila-andrade/ nha de domingo Fonte: Acervo Pessoal 2018

40 | VIELAS VIELAS| 41
4. o recorte
4.1 antonico

42 | VIELAS VIELAS| 43
4.1 antonico
Ao se adentrar o Complexo Paraisópolis cido como Antonico, no meio de várias qua- nas bordas das quais vemos mo-
nos dias de hoje, olhar suas encostas ocupa- dras completamente tomadas por edificações, radias consolidadas mas que,
das, observar a grande densidade das casas em grande parte “consolidadas” em alvenaria. à medida que se avança no seu
avermelhadas agrupadas entre si, implanta- Ainda no que se refere à apontada plu- interior através de vielas, tornam-
das junto ao sistema viário estreito e frenéti- ralidade de situações socioespaciais em Pa- -se precárias e sem infraestrutura.
co, torna-se quase impossível imaginar como raisópolis, há a ocupação com uso predomi- Nas ruas Pasquale Gualuppi está
era a paisagem daquela região décadas atrás. nantemente residencial ao longo do córrego um importante corredor comer-
Também difícil pensar que cruza o Complexo do Antonico, que atravessa Paraisópolis no cial e de serviços que atraem a
por mais de um quilômetro, o córrego conhe- miolo das quadras do loteamento original, comunidade e visitantes de fora.
A região do Antonico é alvo
de inundações, devido as constru-
ções que obstruem os córregos e
incêndios periódicos, estes últimos
em função da ausência de rede ofi-
cial de energia elétrica associada
a moradias precárias em madeira.
Para elaboração do proje-
to foram escolhidas três quadras
subsequentes localizadas nesta
região, totalizando cerca de 6 hec-
tares e com uma desnível de 30
m a partir do córrego do Antoni-
co até seu ponto mais alto. Estas
quadras possuem grandes densi-
dades mas também muitos vazios
Imagem 10: Pequena horta na região do córrego do Antonico interquadras no formato de vielas Imagem 11: Esquina com vasos na região do córrego do Antonico
Fonte: Acervo pessoal 2018 Fonte: Acervo pessoal 2018

Imagem: Autora Imagem: Autora


44 | VIELAS VIELAS| 45
Rua Itajubaquara

Rua Pasquale Gallupi


e pequenas vilas. Estão em uma situação que
pode generalizar os aspectos mais comuns
da comunidade: falta de equipamentos, calça-
mento precário,falta de infra-estrutura e áreas
de lazer. São ladeadas pelas ruas Pasquale
Gualuppi e Itajubaquara, paralelas a avenida
Giovanni Gronchi e as ruas Rodolfo Lotze , Mel-
Rua Rodolf Lotze
chior Giola e das Jangadas transversalmente.
As quadras foram escolhidas como mo-
delo por apresentarem um gama de confli-
Rua Herbert Spencer
tos e potencialidades que podem ser iden-
tificados em quase toda a Paraisópolis.

Rua Melchior Giola

Rua das Jangadas

Imagem 12: Área


de Intervenção
Fonte: Elaborado
pela Autora

46 | VIELAS
n VIELAS| 47
5.vielas
5.1 levantamento
5.2 tipologias

48 | VIELAS VIELAS| 49
5.1 levantamento setor da favela, mas em alguma áreas suas
Paraisópolis possui dois tipos contrastan- calçadas foram tomadas por barracos, peque-
tes de vias, o primeiro e representado pelas no comércios, carros e placas, dificultando o
vias que compõem a malha ortogonal, produto intenso fluxo de pedestres que acaba dispu-
do parcelamento original do terreno, e se as- tando o espaço com carros, motos e micro-ô-
semelham muito as vias da cidade formal, as- nibus que ali circulam.
faltadas e com delimitação de fluxos-calcada O segundo tipo de via existente são as
e leito carroçável. São as portas da favela- se vielas, objeto central de estudo deste projeto.
conectando as avenidas Giovanni Gronchi e Fruto do adensamento desordenado das qua-
Hebe Camargo – e seu elemento estruturan- dras, são espaços residuais entre as constru-
te, dividindo o terreno em quadras regulares ções e estão em constante mudança. As vielas
e facilitando a permeabilidade e orientação traduzem o crescimento orgânico e constante
em um tipo de ambiente que em outros casos com escadarias e becos sem saída.
se apresenta caótico e labiríntico. Devido ao Durante as visitas de campo foram le-
descaso do projeto original com as caracterís- vantadas as ruas e vielas existentes nesses
ticas do sítio, são ruas de altas declividades. quadras, registrando suas qualidades físicas
De modo geral se apresentam como o e de apropriação pelo moradores, através de
principal concentrador de fluxo da favela, e mapas e fotos. Após analíse e combinação de
as edificações lindeiras são as que apresen- características foram determinadas sete tipo-
tam as melhores condições, por muitas vezes logias de vias. Foram levadas em considera-
sobrados, em sua grande maioria com reves- ção a largura das vielas, a iluminação, a infra-
timento e que concentram em seus térreos estrutura existente mas principalmente suas
atividades comerciais como lojas, dentistas, particularidades, características e qualidades
cabeleireiros, cursos de inglês e lojas de ma- marcantes. Uma viela pode ser larga e ao
teriais de construção para as habitações que mesmo tempo não ser confortável e estimular
não param de verticalizar. seu uso pelos moradores enquanto uma viela
Suas características originais foram man- mais estreita pode estimular encontros ou até
tidas em maior ou menor grau dependendo do brincadeiras de crianças.

50 | VIELAS VIELAS| 51
sem nome
sem nome
sem nome sem nome sem nome
O mapa total 39 vielas, suas caracterís- Rua Rodolf Lotze
ticas e nomes quando possível. Muitas vielas 304

acicaba
tem números como nomes, enquanto outras

lupe
levam o nome do seu morador mais antigo, do bocão

Largo Pir

a
quale Gu
além de nomes indígenas e poéticos.O mapa
ao lado localiza todas as vielas e seus nomes. sem nome

Rua Pas
sem nome

sem nome
como funciona o correio? do bambu sem nome
O morador Weydisson Nascimento dos sem nome sem nome
sem nome sem nome
Santos informou que a entrega dos correios Rua Herbert Spence
sem nome r
60 do zeze
ocorre normalmente. Quando o carteiro não
sem nome
encontra a casa, a correspondência e deixada beco do toninho
sem nome

baquara
em uma caixa de correios “comum e partilha-

alupe
sem nome
da”.Ao dar seu endereço os moradores colo-

quale Gu
Rua Itaju
quatigar
cam o numero da cada, e o nome ou número
mandaguari

Rua Pas
da viela como complemento
do lula
5
sem nome
sem nome saltogrande
Rua Melchior Giola

19-a sem nome

alupe
aquara
sem nome
sem nome

quale Gu
b
Rua Itaju

lupe
uale Gua
sem nome

Rua Pas
Imagem 13:

Rua Pasq
Vielas levanta-
viela porecatu
das
Fonte: Elabora- do sonho
do pela Autora do natal sem nome
Esc: 1:1000 Rua das Jangadas
cristal sem nome

n
52 | VIELAS VIELAS| 53
5.2 tipologias
a rua democrática
A rua na favela é cenário das mais di- jovens e adolescentes que vêm de outras
versas atividades. via para os caminhões comunidades curtir o famoso baile da DZ7.
de cimentos, motos carros e bicicletas. Ser- A rua principal de comércio no setor do 7m
ve de caminho também para pedestres, que Antonico é a Pasquale Gallupi que corta qua-
na escassez de calçadas ou total ausên- se toda a extensão da favela, paralelamente
cia destas desviam com maior tranquilidade a avenida Giovanni Gronchi, vindo desde a
de todos os obstáculos. Não existem faixas parte nobre do Morumbi até a região do Gro-
de pedestres ou placas de proibido estacio- tão. Tem os mais variados tipos de comércio e
nar. Ao longo do meio fio diversas barracas servem toda a Paraisópolis. Conforme segue-
oferecem. De finais de semana a rua ainda -se pelas ruas transversais, a quantidade e o
é tomada por uma extensa feira que vende tamanho dos comércios vão diminuindo, no-
frutas, legumes, pastel e até miúdos de boi, tando-se pequenas barbearias e lojinhas de
a noite esse cenário muda e as ruas são to- roupas. As esquinas geralmente têm as cons-
madas pela batida do funk e o burburinho de truções maiores e abrigam bares e botecos

Imagem 15: Corte genérico da tipologia Rua. Escala 1:100. As ruas têmrua
umademocrática 1:100
largura média de 7m.
Fonte: Elaborado pela Autora

Imagem 14 :Rua Pasquale Ga-


luppi em um dia de semana.
Fonte: Acervo pessoal

54 | VIELAS VIELAS| 55
a viela como passagem
Nas ruas da Paraisópolis com intenso melôs, estacionamento de motos e também
comércio e serviços como a Rua Ernest Re- como um quintal das casas próximas, onde as
nan e a Pasquale Gallupi, existem vielas lar- crianças podem brincar com mais segurança.
gas entre as construções de 3 e 4 pavimen- As passagens costumam ser escuras e
tos. Essas vielas geralmente não têm portas cobertas, porém pela sua extensão não geram
de casas nem janelas e servem como uma desconforto. As empenas cegas possibilitam
passagem para uma ramificação de outras uma série de intervenções, sendo muito fre-
vielas. A passagem é usada como espaço de quente usadas de “telas” por grafiteiros locais.
estar por senhores de idade, espaço para ca-

3m

sem nome
Rua Rodolf Lotze

cicaba

lupe
Largo Pira

quale Gua
Rua Pas
Rua Herbert Spence
r do zeze

Imagem 16: Corte ge-

baquara

lupe
nérico da tipologia Viela

quale Gua
Rua Itaju
como Passagem. Escala
mandaguari
1:100.

Rua Pas
As vielas têm uma largu-
ra média de 2-3 m. Rua Melchior Giola
Fonte: Elaborado pela Imagem 18: Porecatu
Imagem 17: Viela Sem Nome
Autora Fonte: Acervo Pessoal 2018
Fonte: Acervo Pessoal 2018

lupe
baquara
sem nome

quale Gua
viela como passagem

Rua Itaju

pe
1:100

uale Gualu
Rua Pas

Rua Pasq
viela porecatu

sem nome
Rua das Jangadas
56 | VIELAS VIELAS| 57
a viela que promove a socialização
São vários os motivos que incitam o estar, violão ou observar o movimento da rua. Nas
o encontro em um espaço. Vielas um pouco esquinas das ruas com essas vielas surgem
mais largas, iluminadas e mais planas são um pequenos comércios e barzinhos criando um
lugar propício para o estar e por vezes ser- movimento ainda maior no local. Em alguns
vem de ponto de encontro. Às vezes o convi- locais existem árvores que protegem do sol
te de alguns degraus mais confortáveis con- e pequenos bolsões onde as crianças jogam
segue reunir um grupo de amigos para tocar bola, andam de bike e brincam tranquilamente.

sem nome sem nome

Rua Rodolf Lotze


304

cicaba

lupe
Largo Pira

quale Gua
Rua Pas
sem nome

sem nome
sem nome
Rua Herbert Spence
r

baquara

lupe
quale Gua
Rua Itaju
quatigar

Rua Pas
Imagem 19: Corte Rua Melchior Giola

genérico da tipologia
Viela que Promove a

lupe
baquara
Socialização. Escala sem nome

quale Gua
1:100.

Rua Itaju

pe
le Gualu
As vielas têm uma

Rua Pas

ua
Rua Pasq
larguras médias bem
variáveis.
do natal
Fonte:Elaborado pela Rua das Jangadas
sem nome Imagem 20: Viela Sem Nome Imagem 21: Viela Sem Nome
Autora Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018

58 | VIELAS VIELAS| 59
a viela que gera conflitos
A viela dos conflitos consegue abrigar to- de pessoas ao mesmo tempo que tem uma
dos os tipos de situação possível…. carros es- boa parte da sua largura ocupada por usos
tacionados, adolescentes em bikes e motos, das casas, servindo de terraço e até garagem
lixo espalhado na entrada, vasos obstruindo paras as mesmas. É caótica e por isso não
o caminho. Essa tipologia é uma pequena incita o estar. Os vizinhos entram em confli-
amostra, resumo da pluralidade das ruas da to por disputa de espaços, barulho e sujeira.
comunidade. Costuma ter um fluxo intenso

Rua Rodolf Lotze

cicaba

lupe
Largo Pira

quale Gua
Rua Pas
1.8 m sem nome
do bambu

Rua Herbert Spence


r

baquara

pe lu
Imagem 22: Corte ge- sem nome

quale Gua
Rua Itaju
nérico da tipologia Viela

Rua Pas
que Gera Conflitos.
Escala 1:100.
sem nome
As vielas têm uma lar-
Rua Melchior Giola
gura média de 1.8-2m. nova esperança
Fonte: Elaborado pela Imagem 23: Viela Sem Nome Imagem 24: Viela do Sonho-

lupe
Autora

baquara
Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018

quale Gua
viela que gera conflitos

Rua Itaju

pe
uale Gualu
1:100

Rua Pas

Rua Pasq
do sonho

Rua das Jangadas


60 | VIELAS VIELAS| 61
a viela que causa desconforto
Vielas estreitas com poucas luzes são está próximo gerando uma sensação de in-
comuns em todas as quadras da Paraisópo- segurança muito grande e por vezes hospe-
lis. São resquícios das expansões das casas dando usos ilícitos, portanto o desconforto
que avançam sobre os escassos espaços não é somente físico, mas principalmente
livres, impedindo a entrada da luz natural e psicológico. Durante o dia serve de labirinto,
artificial, dependendo assim da iluminação in- de espaço para as brincadeiras das crianças
direta das casas. Soma-se a isso o percurso que conhecem cada curva e canto escondido.
cheio de curvas, onde não se enxerga quem

cracolândia
sem nome

0.8 m
Rua Rodolf Lotze

cicaba

lupe
Largo Pira

quale Gua
sem nome

Rua Pas
sem nome

Rua Herbert Spence


r

baquara

lupe
quale Gua
Rua Itaju

Rua Pas
5
Imagem 25: Corte genérico saltogrande
Rua Melchior Giola
da tipologia Viela que Causa
Desconforto.

pe
Escala 1:100.

baquara

lu
quale Gua
As vielas têm uma largura

Rua Itaju

pe
uale Gualu
médiad e 0.8-1.5m. Fonte: Imagem 26: Viela Sem Nome Imagem 27: Viela Sem Nome

Rua Pas

Rua Pasq
Elaborado pela Autora Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018
viela que causa desconforto
1:100 cristal Rua das Jangadas

62 | VIELAS VIELAS| 63
a viela que pensa na acessibilidade
Locomover-se no terreno da Paraisópolis lado, existem vielas com corrimãos (apesar
não é fácil. Para tentar amenizar a situação do calçamento ser inexistente ou muito ruim).
alguns moradores se mobilizam para tornar Muitas vezes a intervenção acontece só no
mais acessível algumas das vielas, motiva- começo das vielas, geralmente não são vie-
dos muitas vezes por algum parente que te- las muito largas e lembram corredores, tendo
nha dificuldade de locomoção morando em poucas saídas abertas para elas e desembo-
sua casa. Além de escadas e rampas lado a cando em vielas um pouco mais largas.

Rua Rodolf Lotze

acicaba
Largo Pir

pe
le Gualu
ua
Rua Pasq
viela sem nome
Imagem 28: Corte genérico da
Rua Herbert Spencer

tipologia Viela que Pensa na


Acessibilidade.

aquara
Escala 1:100.

pe
Rua Itajub

le Gualu
As vielas têm uma larguras

ua
Rua Pasq
médias bem variáveis. Imagem 29: Viela 19-A Imagem 30: Viela Sem Nome
Fonte: Elaborado pela Autora Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018
viela sem nome Rua Melchior Giola

viela 19-a

aquara

Gualupe

Gualupe
Rua Itajub
64 | VIELAS VIELAS| 65

Pasquale

asquale
a viela organizada
Na comunidade existem vielas que fun- e organizada. De acordo com o corretor de
cionam como vilas, independente da sua imóveis Fernando Manga, os moradores hoje
dimensão. Essas vielas têm portão que ge- em dia procuram casas no miolo da quadra
ralmente permanece aberto de dia e por se- para evitar o barulho dos bailes funks que
gurança é fechado a noite. Os relógios de ocorrem de sexta e segunda e por seguran-
água ficam na entrada juntamente com a cai- ça. Há também o interesse de moradores que
xa de correio e latas de lixo. Por funcionar compram várias casas na mesma viela e ver-
como uma vila é bem cuidada por seus mora- ticalizam para vender e alugar, criando assim
dores, que se organizam para deixá-la limpa uma organização condominial muito rentável.

Rua Rodolf Lotze

cicaba

lupe
Largo Pira
do bocão

quale Gua
Rua Pas
Imagem 31: Corte genérico da
tipologia Viela Organizada. sem nome
sem nome
Escala 1:100. sem nome Rua Herbert Spence
r
60
As vielas têm uma larguras sem nome
beco do toninho
médias bem variáveis.

baquara

pe
Imagem 32: Viela Sem Nome Imagem 33: Viela do Lula

lu
Fonte: Elaborado pela Autora

quale Gua
Fonte: Acervo Pessoal 2018

Rua Itaju
Fonte: Acervo Pessoal 2018

Rua Pas
do lula

Rua Melchior Giola

66 | VIELAS VIELAS| 67

pe
a
a viela do hexa
A tradição das bandeirolas e ruas pinta- mufladas por filtros verdes e amarelos.
das na periferia e mesmo em áreas nobres, Durante as últimas visitas a Paraisópolis,
com os ídolos e a bandeira do Brasil parece foi possível identificar pequenas intervenções
discreta,com menor intensidade nessa Copa nas vielas menores, geralmente decoradas
da Rússia. A impressão que fica é que os bra- por um ou outro morador mas nada que confi-
sileiros estão menos empolgados com este gurasse a mobilização de grupos maiores para
Mundial. Historicamente, o futebol entusiasma intervenções maiores no espaço público.
o povo brasileiro a despeito de qualquer cri-
se política ou econômica do país. O sociólo-
go Murad cita o exemplo da Copa de 1970:
apesar de entrelaçada a um regime político
controverso, a seleção conquistou o apoio até
de quem era contra a ditadura militar.1 O país
passa por um momento de descontentamento
geral na política o que acaba resultando em
um distanciamento daquilo que representa
nosso país, a seleção brasileira.
Outro motivo para não ver o asfalto pin-
tado de verde e amarelo é que a rua foi subs-
tituída pela internet como principal espaço de
confraternização social. As redes sociais afas-
tam as pessoas uma das outras também fisi-
camente. Hoje em dia as comemorações vem
em postagens de Facebook e Instagram, ca-

1 https://esporte.uol.com.br/futebol/copa-do-mun-
do/2018/noticias/2018/05/21/cade-as-ruas-pintadas-esta-
mos-mesmo-menos-empolgados-com-a-copa-em-2018.
htm
Imagem 34:Viela Sem
Nome.
Foto tirada durante vi-
sita no mês de junho.
Fonte: Guilherme Mello
68 | VIELAS VIELAS| 69
6. referências

70 | VIELAS VIELAS| 71
vila ipojuca núcleo santo onofre
rio de janeiro taboão da serra
DBB-arquitetura da convivência barossi nakamura arquitetos
O grafiteiro Rui Amaral, responsável, jun- A ideia é que a cada quatro meses no-
O diagnóstico e proposta de urbanização
tamente com os amigos Tupynaodá e John vos artistas estampem os muros com o apoio
da favela Santo Onofre de autoria dos arquite-
Howard, pelo Beco do Batman, na Vila Ma- da incorporadora Idea!Zarvos, que além de
tos Antonio Carlos Barossi e Milton Nakamu-
dalena criou uma intervenção urbanística 
na incentivar a ocupação criativa, também, fará
ra, partiu de uma leitura espacial não restrita
Travessa Paschoal Astolpho, na Vila Ipojuca. melhorias significativas no bairro, no qual
às carências infra estruturais do núcleo, mas
A ideia é revitalizar a região e criar no local pretendem construir novos empreendimentos
incorporou o levantamento de todas as resi-
uma galeria de grafite viva, que e renovada a com a mesma linha de design e arquitetura
dências e as avaliou em termos de condições
cada quatro meses. que já trabalham.
de habitabilidade e das possibilidades de me-
lhorias e/ou consolidação da região, dando
sua atenção aos espaços compartilhados e
coletivos.

Imagem 36 e 37: Croquis


do Projeto
Fonte: www. barossi-
nakamura.arq.br

Imagem 35:
Fonte: http://arquiteturadaconvivencia.squarespace.com

72 | VIELAS VIELAS| 73
luz nas vielas
brasilândia
coletivo boa mistura
Na Vila Brasilândia, bairro de periferia lo- vamente na Brasilândia: dessa vez, para levar
calizado na Zona Norte de São Paulo, o cole- ‘mágica’ e ‘poesia’ ao local. A fim de realizar o
tivo espanhol Boa Mistura criou o projeto Luz trabalho, o grupo se valeu da técnica artística
nas Vielas, uma inspiradora série de palavras conhecida como anamorfismo, que oferece
inscritas nos muros da comunidade. As inter- ao observador apenas uma opção de ponto
venções urbanas são extremamente coloridas de vista para a visualização da imagem com
e têm o objetivo de transformar as ruas e criar, clareza: tal qual uma ilusão de ótica, de qual-
ou fortalecer, vínculos entre as pessoas que quer outra perspectiva o desenho se revela
nelas circulam. deformado e incompreensível. Não apenas as
A intervenção teve início em 2012, quan- paredes, mas também as portas e janelas das
do foram feitos os grafites ‘amor’, ‘beleza’, ‘do- vielas ganharam um banho de cores fortes
çura’, ‘firmeza’ e ‘orgulho’. Cinco anos depois, para destacar as palavras tingidas de branco
no início de 2017, o coletivo desembarcou no-

Imagem 38: Antes da intervenção Imagem 39 a 45: Vielas apos intervenção


Fonte: Coletivo Boa Mistura Fonte: Coletivo Boa Mistura

Fotos: Coletivo Boa Mistura

74 | VIELAS VIELAS| 75
passagens do jardim angela
são paulo
estúdio +1
O concurso PASSAGENS JARDIM ÂN- tem uma visão muito integradora, propondo a
GELA teve como objetivo a revitalização de transformação das áreas das passagens em
três passagens da região do Jardim Ângela, locais de encontro, novas centralidades, es-
distrito da região sul de São Paulo, para me- paços de troca e dispositivos de conexão, que
lhora de qualidade da mobilidade local (mi- ponderem suas características e potencialida-
cromobilidade de pessoas e bens) e sua in- des e respeitem a pluralidade da população
tegração com o eixo de transporte público da que ali habita.
região.
O objetivo geral do concurso foi identificar
e promover a realização de projetos e ativida-
des inovadores que recuperassem o sentido
social e a caminhabilidade destas passagens,
com alternativas inclusivas e replicáveis que
provoquem o maior impacto urbano e social
com a menor intervenção possível.
O concurso aconteceu segundo perspec-
tiva do Programa Passagens, com a orienta-
ção do IVM internacional e participação ativa
de moradores e organizações locais.
O projeto ganhador, do Estúdio +1 não
tem título, mais três palavras chaves: respeito,
urbanidade e provocação. Indo além de uma
simples melhoria das passagens, a proposta Imagem 46: Pranchas do Concurso
Fonte: Cidades em Movimento

76 | VIELAS VIELAS| 77
7. o projeto

78 | VIELAS VIELAS| 79
7.1 primeiros estudos
Após as visitas e levantamentos das três
quadras foi possível analisar melhor o recorte
e compreender suas necessidades mais la-
tentes.
Com o mapa de cheios e vazios e as ca-
racterísticas das vielas foram traçados possí-
veis caminhos novos, sempre com a premissa
de atravessar a quadra e conectar ruas dife-
rentes .
O mapa a direita é um estudo dos pos-
síveis percursos e bolsões a serem criados e
requalificados.

Imagem 47: Mapa de es-


tudo, papel vegetal sobre

80 | VIELAS
base em escala 1:1000.
n VIELAS| 81
7.2 definição do traçado
Para definir o traçado final optou-se por então o mecanismo proposto seria a criação
aquele que traria mais beneficio ao pedestre, de 4 terrenos de 250 m2 nessas quadras,
que encurtasse mais a distancia percorrida também através da remoção e subsequente
a pé. Dessa forma foram escolhidas 5 vielas relocação no mesmo local. Nestes terrenos
(Vielas Sem Nome e Beco do Toninho) direta- seriam erguidas edificações de 4 andares,
mente abertas para a rua e que estivessem em com comercio na fachada com frente para as
uma parte mais central da quadra. Nenhuma ruas. Os apartamentos teriam de 40 a 60 m2.
das vielas possuía conexão que atravessasse
a quadra toda e, portanto, foram necessárias
algumas remoções visando também a criação
dos bolsões de lazer e estar. Entretanto o per-
curso traçado interviu da forma menos agres-
siva possível, respeitando e aproveitando ao
máximo os pequenos espaços e respiros exis-
tentes.
Mantiveram-se em sua maioria as lar-
guras originais das vielas e os bolsões foram
criados e alargamentos pré-existentes.
Foram removidas no total 38 famílias a
serem relocadas dentro do perímetro das 3
quadras. Nas comunidades e principalmente
na Paraisópolis existe uma dependência mui-
to grande do morador com a sua localidade,
pois envolve a presença de outros familiares
que o ajudam, uma proximidade com o traba-
lho, creche e outro serviços.
Não existe terreno disponível no entorno
Imagem 48: Mapa com o
traçado final e bolsões em
vermelho e remoções em
amarelo.

82 | VIELAS n VIELAS| 83
7.3 diretrizes de projeto
1.Transformar a viela em logradouro ga-
rantindo assim mais dignidade para seus mo-
radores
Instalação de numeração nas casas
Placas com nome da rua
Caixas de correio separadas por habita-
ção
Acabamento das moradias (reboco e pin-
tura)
2.Garantir um percurso mais seguro e
acessível dentro da arquitetura do possível
Escadas confortáveis, dentro da norma
Rampas, quando possível dentro da incli-
nação apropriada
Corrimãos duplos
Canaletas para bicicletas, carrinhos de
venda, mala de rodinhas e carinhos de bebe
3.Projetar uma infraestrutura de qualida-
de e fácil manutenção
Nova iluminação
Lixeiras de grande capacidade com tam-
pa
Drenagem da escadaria eficiente
4. Espaços de lazer e estar no percurso
Foco em cultura, esporte e lazer

Imagem 49: Grafitti na Viela Porecatu


Fonte: Acervo Pessoal 2018
84 | VIELAS VIELAS| 85
1. vias de pedestre
A primeira proposição visa transformar a do Executivo, de forma a possibilitar sua loca- IV - distrito; enquanto muros e empenas cegas serão ce-
viela em uma via de pedestres, e, portanto, lização inequívoca na malha viária da Cidade. V - região administrativa; didas a coletivos de arte para a realização de
um logradouro identificado pelo poder Execu- Parágrafo único. Excetuam-se do dispos- VI - setor(es) fiscal(ais); grafites e outros tipos de intervenções artísti-
tivo. to neste artigo, a critério da Prefeitura: VII - quadras fiscais lindeiras aos pontos cas.
De acordo com DECRETO Nº 49.346, I - os logradouros que não constituem en- de início e término do logradouro, em cada se-
DE 27 DE MARÇO DE 2008 dereçamento; tor atingido;
Regulamenta a Lei nº 14.454, de 27 de II - os logradouros do tipo viela e viela sa- VIII - denominações ou designações an-
junho de 2007, que consolida a legislação mu- nitária; teriores, se houver;
nicipal sobre a denominação e a alteração da III - as áreas verdes ou espaços livres e IX - número do expediente administrativo
denominação de vias, logradouros e próprios os canteiros centrais que, por sua importân- e número cadastral de loteamento, se houver;
municipais, bem como revoga os dispositivos cia, localização, tamanho e demais caracte- X - dispositivo legal relativo à oficialização
e decretos que especifica. rísticas do logradouro ou à sua anterior denominação,
IV - via de pedestre é o espaço destinado quando for o caso.
à circulação exclusiva de pedestres, com lar- Para a identificação são necessários de
gura mínima de 2,00m entre os alinhamentos; acordo com o artigo quinto do decreto: A situação de regularização fundiária na
V - viela é o espaço destinado à circula- Paraisópolis ainda não atingiu todos os seus
ção de pedestres, interligando dois logradou- Art. 5º. O ato legal pelo qual será iden- moradores, principalmente os dos miolos de
ros sem acesso de lotes para ela, com largura tificado o logradouro deverá conter, além da quadra. A transformação da viela em via oficial
de até 4,00m entre os alinhamentos; denominação ou designação, todos os dados poderia incentivar essa regularização, dando
técnicos necessários à sua perfeita individua- assim mas dignidade ao seus moradores.
Pelo Decreto, a Prefeitura não reconhece lização e localização, conforme a seguir indi- Como consequência números de casas e
vielas como logradouros, portanto as mesmas cado: caixas de correio serão instaladas para faci-
n’ao tem identificação na malha viária da cida- I - CODLOG; litar o recebimento de cartas e encomendas
de. II - pontos de início e término; e a localização de moradores e visitantes da
III - situação do ponto inicial, mediante comunidade.
Art. 3º. Todos os logradouros do Municí- indicação de logradouros ou de referenciais Ainda no que concerne as habitações, as
pio de São Paulo serão identificados por atos próximos, quando for o caso; casas devem receber reboco e revestimento,

86 | VIELAS VIELAS| 87
2.percurso seguro, acessível e conectado 3. infraestrutura
A segunda diretriz é a mais essencial para lixeiras postes de 4m de altura, locados a uma distan-
o sucesso do projeto. Para o pedestre esco- O lixo acumulado na boca das vielas, cia de 8 a 10 m entre si. As lâmpadas são de
lher esse novo percurso ele deve ser atrativo, calcadas e ruas produz sujeira, mau cheiro e LED. Em curvas muito fechadas e lugares de
confortável e oferecer segurança. atrai cachorros e ratos. Para solucionar este possível penumbra foram estipulados postes
Para vencer o desnível de 35 metros fo- este problema são propostas lixeiras com ca- adicionais, assim como na área de leitura.
ram projetadas 25 escadas. As escadas têm pacidade de 800 litros e dimensões de 1.00m
6 degraus de 17cm de espelho e 29 cm de x 0.9m x 0.9m. A EcoUrbis que faz a coleta na drenagem
pisada. Em uma de suas extremidades exis- região de Paraisópolis recolhe lixo todos os Para escoar a água da chuva foram pro-
te uma canaleta metálica com largura de 60 dias uteis da semana, de forma que as lixeira jetadas grelhas em chapa de aço perfurado
cm para o transporte de bicicletas, malas de são suficientes para atender a necessidades (dimesnoes 25cm x 29cm) q ue seguem todo
rodinha, carrinhos de feira e ate carrinhos de do moradores das novas via de pedestres até o novo caminho. Os degraus das escadas têm
bebê. Nos espaços mais estreitos e extensos arredores. uma inclinação de 2% assim como os patama-
foram projetadas rampas com inclinação mé- As lixeiras têm tampa resistente com res direcionando a água pluvial para a grelha
dia de 10% prezando pelo conforto, mas não amortecedores e puxadores galvanizados que pode estar posicionada centralmente ou
conseguindo atender a norma de acessibilida- para evitar a deterioração. Os pés da lixeira no perímetro. Em patamares mais extensos e/
de ABNT NBR 9050 2015. são parafusados a uma base de concreto para ou irregulares o piso tem inclinação para as
Os corrimãos tem altura dupla de garantir estabilidade e evitar vandalismos.No chapas localizadas no centro. Cada quadra
0.72m e 0.92 de acordo com a norma, aten- fundo da lixeira há um sistema de escoamen- tem seu próprio sistema que leva a água cole-
dendo a ABNT NBR 9050 2015. Foram loca- to para água de modo a permitir a limpeza. tada para o sistema de coleta de água pluvial
dos de forma a garantir pelo menos 1.20m de As lixeiras estão dispostas em duplas ou já existente na rua da cota mais baixa.
área de circulação, em extremidades das es- trios na entrada das vielas, sendo uma das Além disso a cor vermelha das chapas da
cadas quando muito estreitas ou nos centros. unidades para lixo comum e outra para lixo uma continuidade e conexão a intervenção,
reciclável. No caso dos trios são duas para indicando e sugerindo o caminho a ser percor-
lixo comum e uma para lixo reciclável. rido, mesmo na rua, onde o asfalto e pintado
para indicar a conexão.Os patamares sao em
Iluminação piso intertravado cinza enquanto todo o resto
Para a iluminação foram determinados do percurso e em concreto

88 | VIELAS VIELAS| 89
Lixeirais com Paginamento 5 lances de escadas a pintura do asfalto com a oficialização
As chapas per-
Rua dss Jangadas

e 10 rampas

Rua Melchior Giola


e da calçada confere das vias de pedestre

Rua Rodolfo Lotze


capacidade de piso para

Rua Herbert Spencer


para 800 litros evitar o acu- furadas para as canelas de 60 cm união as quadras e junto a prefeitura, as
drenagem tem 55 novos pos- de largura facilitam o
4 trios mulo de agua indica ao caminho casas ganham nú-
dimensoes de tes de LED de transporte de carri-
2 duplas nas entradas manutenção de bai- meros, facilitando
25cm x 29cm 4m de altura nhos, e biciletas
1unitaria das casas xo custo e fácil serviços de entrega

Corte
Escala 1:600

n
Planta
90 | VIELAS VIELAS| 91
Escala 1:600
4. espaços de lazer e estar
Ao requalificar estruturalmente a viela, para todas as idades. Além da área do cine- Melchior Giola e a Herbert Spencer foram co- mais tem fins medicinais. A escolha por esse
foram criados espaços mais amplos, grandes ma, grandes mesas em concreto armado com locados pequenos mobiliários esportivos, dos tipo de horta se dá também pela facilidade de
patamares entre as escadas com muitas em- prateleiras voltadas para o percurso do pedes- mais comuns, como uma cesta de basquete cultivo e pela pouca insolação das áreas.
penas cegas. Para incentivar a sua utilização tre, hospedam livros doados, de forma a ge- e uma barra para as bailarinas do Ballet de
e o estar foram escolhidas três categorias de rar interesse e curiosidade do passante. Para Paraisópolis se alongarem e treinarem movi-
uso: esporte, cultura e saúde. Todos os itens proteger os livros das chuvas, as prateleiras mentos básicos. Aqui o piso é recoberto de
são dependentes entre si, a esporte e a cultu- estão recuadas 10 cm do tampo. O outro lado cimento queimado para permitir este uso. O
ra contribuindo para a saúde física e mental. da mesa tem banquinhos de concreto, para projeto todo serve como um grande parque de
Cada quarteirão recebeu um tipo de in- quem quiser utilizar um notebook, ou estudar. skate para os adolescentes.
tervenção, que se adequasse melhor a forma Os mesmos banquinhos foram distribuídos
gerada. nas três quadras, aproveitando-se dos muros saúde
das casas e criando assim uma pequena va- Na área mais precária entre as quadras
cultura randa pública. da Rua Herbert Spencer e Rua Rodolf Lotze
A requalificação da quadra de cota mais Todo o mobiliário é feito em concreto ar- designou-se um uso que já era preexistente na
alta, entre a Rua da Jangada e a Rua Mel- mado, seguindo o mesmo padrão em todas área: pequenas hortas adaptadas. O diferen-
chior Giola gerou um patamar largo e rode- as quadras. Seu peso e durabilidade resistem cial aqui são os pequenos canteiros elevados
ado de empenas cegas bem em seu centro. a vandalismo e a intempéries e já havendo a para proteger de animais como cachorros e
Aproveitando-se dessas características foi forma, são de fácil e barata execução. ratos e para denota-los de canteiros de flores
determinada como a quadra da Cultura, pois comuns. Para permitir o acesso de crianças
sua empena cega, pintada de branco, projeta esporte ou pessoas mais baixas foram acrescenta-
filmes, shows, jogos de futebol . O projetor fi- A Paraisópolis já e uma comunidade rica dos degraus em um dos lados do canteiro. Há
caria guardado, sendo reponsabilidade da As- em ongs de incentivo ao esporte, sendo possí- bastante espaço para ultizar esta horta como
sociação de Moradores da Paraisópolis. Para vel praticar desde Esgrima ao Rugby. Por ser palco de aula escolares ou mesmo wokshops
tornar mais confortável a exibição, foi projeta- muito extensa esses equipamentos ficam mui- das ONGS que incentivam as hortas nas lajes.
da em concreto uma arquibancada, que fora tas vezes isolados, não permitindo sua visita A designação como quadra da saúde em
desses momentos cria um espaço acolhedor, sempre. Para complementar a vida esportiva do fato de ali serem plantadas pequenas ervas
como uma sala de estar, área de encontro das crianças e jovens, na quadra ente a Rua e temperos, que servem não só para cozinhar

92 | VIELAS VIELAS| 93
das jangadas
x
melchior giola

cultura
cinema a céu aberto
biblioteca

Escala 1:50
94 | VIELAS VIELAS| 95
melchior giola
x
herbert spencer

esporte
ballet
basquete
skate

Escala 1:50
96 | VIELAS VIELAS| 97
herbert spencer
x
rodolf lotze
saúde
horta comunitária
jardins

Escala 1:50

98 | VIELAS VIELAS| 99
8. conclusão

100 | VIELAS VIELAS| 101


8. conclusão
Como vimos, a comunidade de Paraisó- de projetos existentes dos mais variáveis, mas
polis carece de espaços de lazer de qualidade. muitos engavetados. Entendendo um pouco
A sua alta densidade e declividade, resultado dessa dinâmica política, de interesses e midi-
da sua ocupação agressiva e desordenada áticas, tentamos manter o foco desde o início
deixou poucos resquícios de espaços livres. na arquitetura do possível. Nada adianta ter
Dessa forma suas ruas e vielas são usadas um projeto bonito, caríssimo, feitos por arqui-
não somente para o deslocamento, mas para tetos internacionais para ficar exposto na pa-
o comércio, lazer, trabalho e como extensão rede da Associação de Moradores. A proposta
dos usos residenciais. A apropriação desses aqui apresentada é um ensaio de possíveis
espaços se dá de forma muito diversa daque- requalificações das vielas, sem ideias mirabo-
la da cidade planejada, é orgânico, adaptável lantes, mas ideias que com pouco mais de
e cheio de vida pois as “pracialidades” vão se aprofundamento poderia ser executadas por
criando e consolidando onde menos se espe- etapas e em pouco tempo, de forma usar o
ra. Dentro dessa lógica orgânica de formação mínimo de recursos possíveis.
dos espaços cabe a nós arquitetos não inter- Fora do âmbito de um trabalho final de
vir, estipular, enrijecer esses usos, mas sim graduação, ideia tem muito a ser desenvolvida
garantir o mínimo de conforto, acessibilidade e trabalhada, o que, naturalmente, faz parte do
e segurança para que o espaço possa ser ofício do arquiteto: criar ideias e trabalhá-las,
tomado e usado por todos, através de ferra- para que possam atingir um propósito, tentan-
mentas participativas e inclusivas. O arquiteto do trazer um pouco de conforto à humanidade
sabe que a mudança de uma parede de lugar, dentro do dentro do seu domínio.
uma iluminação mais eficiente, uma escada
mais confortável pode influenciar fisicamen-
te, psicologicamente e principalmente social-
mente, um indivíduo e uma comunidade.
A Paraisópolis é uma comunidade mui-
to urbanizada e consolidada, com uma gama

102 | VIELAS VIELAS| 103


9.bibliografia
FERREIRA DOS SANTOS, Carlos Nelson e VOGEL, Arno. Quando a rua vira casa: A apropria- MAGNOLI, Miranda Martinelli (2006). Espaço livre-objeto de trabalho. In: Paisagem e Ambiente
ção de espaços de uso coletivo em um centro de bairro. 3ª edição. São Paulo: Projeto, 1985 n21,2006. São Paulo: FAU/USP-p.175-198.

FRUGOLI JUNIOR, H. São Paulo: espaços públicos e interação social. São Paulo: Marco Zero, MAGNOLI, Miranda. Espaços livres e urbanização: Uma introdução a aspectos da paisagem
Sesc, 1995 metropolitana. 1982. Tese
(Livre-Docência) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Pau-
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. Trad. Carlos Rosa. São Paulo: Martins Fontes, lo, 1982.
2000.

QUEIROGA, Eugenio Fernandes; A megalópole e a praça: o espaço entre a razão de domina- normas
ção e a ação comunicativa. São Paulo, 2001. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 2015:Acessibilidade a
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,Universidade de São Paulo. edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

QUEIROGA, Eugenio Fernandes; Praças e pracialidades em design: da visualidade da paisagem


à visibilidade dos lugares. In: ISEMINÁRIO DE SEMIÓTICA APLICADA AO DESIGN. Anais... Rio websites
de Janeiro: PUC-Rio. 2003.(CD-ROM) http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.as-
p?alt=28032008D%20493460000
QUEIROGA, Eugenio Fernandes; BENFATTI, Denio Munia. SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES http://concurso.cidadeemmovimento.org/finalistas/estudio-1/
URBANOS: CONSTRUINDO UM REFERENCIAL TEÓRICO. In: Paisagem Ambiente: ensaios - http://concurso.cidadeemmovimento.org
n. 24 - São Paulo - p. 81 - 88 - 2007. http://32xsp.org.br/2017/11/07/educacao-tambem-e-feita-pelo-esporte-diz-morador-da-vila-
-andrade/
MAGNOLI, Miranda Martinelli (2006). Espaço livre-objeto de trabalho. In: Paisagem e Ambiente http://www.nossasaopaulo.org.br/tags/mapa-da-desigualdade
n21,2006. São Paulo: FAU/USP-p.175-198.

MAGNOLI, Miranda. Espaços livres e urbanização: Uma introdução a aspectos da paisagem


metropolitana. 1982. Tese(Livre-Docência) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universida-
de de São Paulo, São Paulo, 1982.

104 | VIELAS VIELAS| 105


imagens rência de um incêndio em 2017.Obras foram retoma- Imagem 21: Viela Sem Nome Fonte: Elaborado pela Autora
das em 2018. Fonte: Acervo Pessoal 2018 Imagem 32: Viela Sem Nome
Imagem 1: Da esquerda para direita, Kerollay, Prisci-
Fonte: Acervo Pessoal 2018 Imagem 22: Corte genérico da tipologia Viela que Fonte: Acervo Pessoal 2018
la, Liciane e Tamires aguardando o ensaio
Imagem 10: Pequena horta na região do córrego do Gera Conflitos. Imagem 33: Viela do Lula
Fonte: Acervo Pessoal
Antonico Escala 1:100. Fonte: Acervo Pessoal 2018
Imagem 2 : Localização da favela de Paraisópolis
Fonte: Acervo pessoal 2018 As vielas têm uma largura média de 1.8-2m. Fonte: Imagem 34:Viela Sem Nome.
Fonte: Elaborado pela Autora
Imagem 11: Esquina com vasos na região do córrego Elaborado pela Autora Foto tirada durante visita no mês de junho.
Imagem 3: Projeto original do loteamento de Paraisó-
do Antonico Imagem 23: Viela Sem Nome Fonte: Guilherme Mello
polis, apesar de irregular, oficializado em 1968 pela
Fonte: Acervo pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018 Imagem 35:
lei municipal 7.810 e ocupação atual sobreposta ao
Imagem 12: Área de Intervenção Imagem 24: Viela do Sonho Fonte: http://arquiteturadaconvivencia.squarespace.
traçado original
Imagem 13: Vielas levantadas Fonte: Acervo Pessoal 2018 com Imagem 36 e 37: Croquis do Projeto
Fonte: PORTAL VITRUVIUS. Projeto Urbano do Cór-
Fonte: Elaborado pela Autora Imagem 25: Corte genérico da tipologia Viela que Fonte: www.barossinakamura.arq.br
rego do Antonico. Projetos, São Paulo, ano 12, n. 1
Fonte: Elaborado pela Autora Causa Desconforto. Imagem 39 a 45: Vielas apos intervenção
Imagem 4: Vista da Paraisópolis a partir da Avenida
Imagem 14 :Rua Pasquale Galuppi em um dia de se- Escala 1:100. Fonte: Coletivo Boa Mistura
Giovanni Gronchi
mana. As vielas têm uma largura média de 0.8-1.5m. Fonte: Imagem 46: Pranchas do Concurso
Fonte: Acervo Pessoal 2013
Fonte: Acervo pessoal Elaborado pela Autora Fonte: Cidades em Movimento
Imagem 5: Dados do IBGE Censo de 2015
Imagem 15: Corte genérico da tipologia Rua. Escala Imagem 26: Viela Sem Nome Imagem 47: Mapa de estudo, papel vegetal sobre
Fonte: Elaborado pela Autora
1:100. As ruas têm uma largura média de 7m. Fonte: Acervo Pessoal 2018 base em escala 1:1000.
Imagem 6: Esquema das tipologias de quadra de Pa-
Fonte: Elaborado pela Autora Imagem 27: Viela Sem Nome Imagem 48: Mapa com o traçado final e bolsões em
raisópolis. O bairro do Morumbi seguiu as curvas de
Imagem 16: Corte genérico da tipologia Viela como Fonte: Acervo Pessoal 2018 vermelho e remoções em amarelo.
nível existentes enquanto o loteamento de Paraisó-
Passagem. Escala 1:100. Imagem 28: Corte genérico da tipologia Viela que Imagem 49: Grafitti na Viela Porecatu
polis ignorou a declividade natural e criou um traçado
As vielas têm uma largura média de 2-3 m. Pensa na Acessibilidade. Fonte: Acervo Pessoal 2018
ortogonal, o que resultou em ladeiras muito inclinada.
Fonte: Elaborado pela Autora Escala 1:100.
Fonte; GOMES, Julia. Paraisópolis: O Espaço Públi-
Imagem 17: Viela Sem Nome As vielas têm uma larguras médias bem variáveis.
co na Urbanização de Favelas,2016.
Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Elaborado pela Autora
Imagem 7: Mapa físico de Paraisópolis com seus se-
Imagem 18: Porecatu Imagem 29: Viela 19-A
tores.
Fonte: Acervo Pessoal 2018 Fonte: Acervo Pessoal 2018
Fonte: GOMES, Julia. Paraisópolis: O Espaço Públi-
Imagem 19: Corte genérico da tipologia Viela que Pro- Imagem 30: Viela sem Nome
co na Urbanização de Favelas, 2016.
move a Socialização. Escala 1:100. Fonte: Acervo Pessoal 2018
Imagem 8: Paraisópolis e seus bairros. Sem escala.
As vielas têm uma larguras médias bem variáveis. Imagem 31: Corte genérico da tipologia Viela Orga-
Fonte: Elaborado pela autora.
pela Autora nizada.
Imagem 9: Obra de construção do Parque Sanfona.
Imagem 20: Viela Sem Nome Escala 1:100.
O local era ocupado e corria risco de deslizamento.
Fonte: Acervo Pessoal 2018 As vielas têm uma larguras médias bem variáveis.
Após remoções, foi ocupado novamente até a ocor-

106 | VIELAS VIELAS| 107


108 | VIELAS

Você também pode gostar