Você está na página 1de 83

LAZER FLUTUANTE NA BILLINGS

universidade de são paulo


faculdade de arquitetura e urbanismo
trabalho final de graduação II

aluna: ana carolina ayres gimenez [2973521]


orientador: prof. dr. josé tavares correia de lira

caderno_TFG_FINAL.indd 1 1/7/2008 01:49:07


Agradecimentos

Ao orientador José Lira, pela interlocução e incentivo constantes;

A Luciana Ferrara , pela generosidade com que me cedeu materiais e


compartilhou sua experiência em “mananciais”;

A Klara Kaiser, Alexandre Delijaicov e Renato Tagnin, pela oportuni-


dade de discutir o trabalho;

Aos meninos do galpão que desde os tempos da cratera têm me


acompanhado direta ou indiretamente nos projetos, especialmente
ao núcleo de onde esse trabalho surgiu: Gabriel Manzi, João Yama-
moto, Lucas Girard e Tiago Oakley,

Aos engenheiros Tomás e Luiz Alexandre, civil e naval respectiva-


mente, pelas orientações técnicas;

A minha equipe de colaboradores Carolina Montoia, Cecília Goés,


Diego Bis, Fabio Gionco, Gabriel Manzi, João Sodré, Juliana Braga,
Luiz Florence, Rafael Urano e Tiago Oakley,

Aos Gimenez Antônio e Malu que tornaram a empreitada possível;

E especialmente a Beatriz, que eu ainda não peguei no colo.

caderno_TFG_FINAL.indd 2 1/7/2008 01:49:07


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 3

1. BREVE HISTÓRICO 5

1.1. Alguns aspectos do crescimento da cidade no período 6


de atuação da Light

1.2. A retificação dos rios e a constituição das represas 9

1.3. As represas como lugar da habitação 15

2. DE COMO AS MARGENS DA BILLINGS SE CONSTITUÍRAM 17


EM ESPAÇOS DA CIDADE

3. ÁGUAS PARA QUÊ? 23

4. A BILLINGS HOJE 25

5. O ENFRENTAMENTO DE QUESTÕES EM DIFERENTES 33


ESCALAS

5.1. Introdução 33

5.2. Escala metropolitana 34

5.3. Escala local 37

5.4. Os equipamentos flutuantes 37

A PRAINHA EM SÃO BERNARDO 43

O PARQUE COCAIA 48

A PARADA LOS-ANGELES-RODOANEL 56

PORTO PEDREIRA 64

A FÁBRICA 70

BIBLIOGRAFIA 78

CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES 80

caderno_TFG_FINAL.indd 1 1/7/2008 01:49:07


2

caderno_TFG_FINAL.indd 2 1/7/2008 01:49:07


APRESENTAÇÃO

Este trabalho nasceu da vontade de um grupo de amigos de enfrentar projeto infelizmente foi abandonado, mas ressurgiu aqui com a pre-
a questão da industrialização da construção no projeto de arquitetu- ocupação de retomar suas margens e águas como lugares públicos
ra. Animados em desenvolver um projeto para o concurso de pré-fa- por excelência, criando novas apropriações e dando suporte para
bricados em 2005, nos colocamos, como alunos da FAU, o desafio de práticas já existentes, que não contam com infra-estrutura adequa-
desenvolver um sistema construtivo que através da reprodutibilidade, da. Espaços dessa natureza, privilegiados para a realização do lazer
da padronização e da grande escala pudesse responder à alguma das e da sociabilidade em suas variadas formas, fizeram - e ainda fazem
inúmeras demandas da cidade. 1 – parte da minha vivência pessoal.

A herança da vertente moderna da crença na industrialização da Os equipamentos flutuantes por outro lado me levaram a pensar o
construção com a perspectiva de produzir avanço nas estruturas pro- programa de lazer de uma maneira menos estanque, menos con-
dutivas ainda produz ecos na nossa escola. Para nós, naquele mo- finada a clubes fechados, Iate clubes e clubes de Vela, alternativas
mento, desenvolver um sistema construtivo que pensasse uma maior exclusivistas e elitistas que foram, ao longo dos anos, a maneira do-
integração entre indústria e construção significava desenvolver um minante de realização do lazer nas represas e que demonstra sinais
projeto que contribuísse para repensar o canteiro tradicional e refletir de decadência haja vista a quantidade de clubes abandonados ou de-
sobre uma escala da produção material da arquitetura capaz de en- teriorados. Entre eles destaca-se o Santa Paula Iate Clube cuja gara-
frentar os problemas urbanos atuais. gem de barcos foi desenvolvida por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
(1961), e que atualmente é utilizado como depósito de lixo.
De maneira quase intuitiva nos debruçamos sobre a represa Billin-
gs, seja pela diversidade de abordagens possíveis, seja pela natureza À medida que me debruçava sobre a história de construção e opera-
metropolitana dessa imensa massa d’água, que fatalmente introduz ção da represa, mais ficavam claras outras dimensões, ainda mais
a necessidade de enfrentamento naquela escala, qualquer que fosse perversas, das formas como rios e represas foram transformados, o
o programa. grau de tecnicização que sofreram esses espaços antes dedicados às
práticas coletivas de lazer e reprodução material e cultural da vida.
Optamos por desenvolver equipamentos públicos flutuantes que ti- O mesmo rio Tietê que em 1924 era palco da travessia de São Paulo
vessem uma mobilidade tal, que pudessem ser implantados numa a nado, hoje tem por função escoar o esgoto da cidade e estruturar
diversidade de situações refletindo dessa maneira a complexidade e a circulação metropolitana, funções desempenhadas de modo alta-
heterogeneidade de ocupação das margens da represa. O programa mente problemático.
de lazer nasceu da idéia de retomar a Billings como a “praia” de São
Paulo, imagem freqüente no imaginário dos paulistanos, mas que A represa não escapou a essa tecnicização: nasce do projeto de ge-
não se realiza em projetos sensíveis a essa forma de apropriação. O ração de energia na Usina de Cubatão. Se hoje, ao visitá-la e navegar
por suas águas identificamos aqui e ali fraturas nessa apropriação
técnica de suas águas, constituindo possibilidades efetivas de apro-
priação coletiva dos seus espaços, hegemonicamente ela é vista em
1. Em 2005 a ABCP organizou o 4º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto sua função técnica de infra-estrutura metropolitana, para produção
para Estudantes de Arquitetura para o qual formamos uma equipe. Entre os integran- de água e energia elétrica. Num emaranhado ideológico que coloca
tes estavam João Yamamoto, Lucas Girard, Gabriel Manzi e Tiago Oakley. Acabamos entre dois pólos a necessidade de preservação de suas águas − para
desistindo de participar do concurso. Naquele ano o 1º colocado foi outro aluno da produção hídrica e por preocupação “ambiental” − e a necessidade
FAU-USP, Pablo Iglesias, que venceu o concurso propondo o uso de componentes pré- de aumento de produção de energia com a retomada da reversão do
fabricados para a construção de um projeto habitacional na orla de Santos. Pinheiros, sobra pouco espaço para discutir a vivência da represa em

caderno_TFG_FINAL.indd 3 1/7/2008 01:49:07


sua dimensão coletiva, recreativa, integradora. Não se trata aqui de A represa é, majoritariamente, uma zona de trânsito. Trânsito das
cair na armadilha de entrar em um dos pólos de conflito, mas sim de águas em direção a Cubatão, de mercadorias que vêm e vão do porto
repensar o lugar da represa para os moradores da Região Metropoli- de Santos, das águas que abastecem o ABC, dos oleodutos que pas-
tana de São Paulo. sam pelas margens e sobem a serra para abastecer os centros con-
sumidores. É através de seu território que se estabelecem relações
Os reservatórios possibilitam uma gama enorme de projetos ligados funcionais entre São Paulo e Santos que imprimem a um só tempo
ao lazer. O percurso adotado para definir melhor um programa de a característica de intermediação e separação entre as metrópoles.
usos cabível para a diversidade de situações encontradas na represa Duas ferrovias, duas rodovias e um anel rodoviário em construção.
foi, em primeiro lugar, fazer uma aproximação histórica de algumas Uma zona de passagem 2. Mas quais outras dimensões pode ter a
questões que consideramos relevantes abordar. Sem a pretensão de represa?
encerrar o assunto, investigamos o papel estrutural que a represa teve
nos processos de expansão urbana como uma das protagonistas na As investigações procuram apontar caminhos para um ensaio de
formação do capital produtivo necessário ao desenvolvimento urbano projeto de lazer para a Billings, evidentemente sem encerrar o as-
industrial da região metropolitana de São Paulo. Do ponto de vista ter- sunto. Partimos de um olhar distanciado, para entender na escala
ritorial e político-econômico, a constituição e operação do projeto da da metrópole de São Paulo quais conexões necessárias, quais arti-
serra de Cubatão, do qual a Billings faz parte, são reveladoras da in- culações possíveis para concretizar o lazer em escala metropolitana.
serção periférica e dependente do país na economia capitalista. Nes- Em seguida elegemos 4 situações que procuram abordar as dinâmi-
se sentido, fizemos uma breve referência às operações da Cia Light cas presentes nas margens da represa: as margens densamente e
no território da Grande São Paulo. Na tentativa de complementar essa precariamente ocupadas do braço Cocaia, a barragem de pedreira,
investigação, procuramos entender quais mecanismos de crescimen- a travessia do rodoanel no corpo principal da Billings e a Prainha de
to urbano resultaram na configuração atual da represa como lugar de São Bernardo do Campo. Finalmente nos detivemos no “porto-praia-
habitação sem que suas margens tenham sido incorporadas à cidade estaleiro” na barragem de pedreira, embrião do projeto de lazer para
propriamente dita, sem que tenham passado por um processo de ur- a Billings e fundamental para a existência do programa, que articu-
banização compatível com a densidade e a taxa de crescimento dos lado a outras situações, procura se constituir como um sistema de
bairros às suas margens . Com isso, investigamos a situação dessas equipamentos públicos de lazer para a Grande São Paulo.
bordas onde se amontoam pessoas vivendo mal e buscando comida,
trabalho, existência, nas vizinhanças.

Uma segunda aproximação tratou de definir melhor os espaços exis-


tentes na Billings hoje. A dimensão total da lâmina d’água, aproxi-
madamente 10.000 hectares ou 100 km2, inviabiliza que nos detenha-
mos em cada um dos seus espaços. Assim, além de navegar por suas
águas, conversar com moradores, fazer visitas a uma diversidade de
lugares, entre eles assentamentos precários, as obras do rodoanel,
equipamentos públicos próximos às margens − notadamente CEUS
Alvarenga, Navegantes e SESC Interlagos −, procuramos complemen-
tar a caracterização da área recorrendo a diversas fontes. Nos detive-
mos em estudos de licenciamento ambiental do rodoanel trecho Sul,
no Plano regional estratégico da Capela do Socorro, em estudos reali-
zados pelo Lab Hab para implantação de parques lineares no Grajaú,
em diagnósticos sócio-ambientais da bacia da Billings realizados em
2000 e 2002 pelo Instituto Sócio Ambiental , no estudo de desenho de
paisagem urbana para assentamentos de baixa renda no braço do Rio
Grande feito em parceria com Agência Canadense para o Desenvol-
vimento Internacional, FAU-USP e município de Santo André, entre 2. LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da Grande São Paulo.Rio de Ja-
outros. Essa segunda aproximação nos deu subsídios para escolher neiro: Instituto Brasileiro de Geografia, Departamento de Documentação e Divulgação
as áreas mais propícias para utilização dos equipamentos de lazer. Geográfica e Cartográfica, 1971, p. 332.

caderno_TFG_FINAL.indd 4 1/7/2008 01:49:08


1. BREVE HISTÓRICO

“A vida dos rios só teve algo a ver com a vida dos homens ou, a vida
dos homens só teve algo a ver com a vida dos rios, quando come-
çou-lhe a ser atribuída a condição de recurso natural” 1

A construção da represa Billings está associada ao processo de for-


mação do capital produtivo necessário ao desenvolvimento urbano
industrial da região metropolitana de São Paulo. Como parte do sis-
tema de produção de energia elétrica proposto pela companhia an-
glo-canadense The São Paulo Tramway, Light and Power Company
Limited − Cia Light como ficou conhecida entre nós – teve suas águas
represadas no ano de 1927, um ano após o início das operações da
Usina hidrelétrica Henry Borden. 2

O sistema de geração de energia se aproveita do desnível da serra do


mar, lançando as águas do reservatório do Rio das Pedras em direção
a Cubatão, onde foi implantada a Usina hidrelétrica. O sistema idea-
lizado por Asa White Kenney Billings no início dos anos 20, incluía
ainda o aproveitamento das águas do Tietê para aumentar a vazão
do Rio das Pedras. A engenhosidade consistia no bombeamento de
suas águas para um de seus afluentes, o Rio Pinheiros, a reversão do
curso deste Rio e o represamento do Rio Grande ou Jurubatuba, que
passaria a receber as águas bombeadas do Tietê através do Pinhei-
ros. Em 1928, a Light construiu a barragem de pedreira represando o
Rio Jurubatuba e iniciando a formação da reservatório da Billings.

No início dos anos 40, após o término da construção das usinas ele-
vatórias de Traição e Pedreira, o sistema passou a operar e iniciou-se
a reversão do Rio Pinheiros. Essa operação também se mostrou útil
para o controle de enchentes e afastamento de efluentes domésticos
e industriais da cidade.

Ao longo das décadas a operação reproduziu-se sem maiores altera-


ções no sistema até 1992, quando a reversão foi proibida pela Secre-

1. Apud NOBREGA, Mello “ A História do Rio Tietê” in: SEABRA (1987:12) Odette. Os me-
andros dos rios nos meandros do poder. Tese apresentada a FFLCH-USP, São Paulo,
FFLCH-USP, 1987. p.12.
2. Informações obtidas no site oficial da Empresa Metropolitana de Águas e Energia
S.A. [http://www.emae.com.br/]. Acesso em novembro de 2007.

caderno_TFG_FINAL.indd 5 1/7/2008 01:49:11


taria do Meio Ambiente 3 levando-se em consideração a fragilidade do do mercado de terras, isto é, na transferência de valores mobiliários
maior manancial de água de São Paulo frente às cargas poluidoras para valores imobiliários, quanto na alteração da relação da cidade
dos rios Tietê e Pinheiros. A capacidade de geração de energia da com seus recursos hídricos. No que toca sua relação com o mercado
Henry Borden é suficiente para iluminar uma cidade de 2 milhões de de terras,a empresa relacionou-se de forma ativa, seja na produção
habitantes. Com a proibição, houve uma diminuição da capacidade direta de terras urbanas, mas também indireta através de associa-
de geração de energia do sistema de 889 MW para aproximadamen- ções com empresas de loteamento, estendendo linhas de bonde con-
te 222MW. forme fosse o interesse das empresas envolvidas. 5

A história assim enunciada não leva em consideração o significado e Tais empresas, faziam a cidade avançar em todos os sentidos, esta-
os inúmeros conflitos que resultaram da concessão à Light para pro- belecendo novos limites para a cidade que eram definidos pela exis-
dução de energia elétrica utilizando-se os recursos hídricos de São tência de loteamentos. Nesse sentido, contribui para a urbanização
Paulo. Esse processo relaciona-se com o momento de industrializa- dispersa de São Paulo, como descreve LANGENBUCH:
ção e metropolização de São Paulo, reproduzindo tanto em termos
político-econômicos, como territoriais a lógica da inserção periférica “Os moradores suburbanos em potencial encontravam, já em 1930, em torno
e dependente do país na economia capitalista. de São Paulo, um cinturão vasto, se bem que descontínuo, de loteamentos
que, por todos os quadrantes, se estendia para além dos mais afastados
A atuação da Light, como concessionária de serviços públicos im- “bairros-isolados”, (...) O mapa da Sara Brasil, de 1930, infelizmente restrito
prescindíveis ao desenvolvimento industrial paulista, participou dire- ao município de São Paulo, mostra a verdadeira profusão de loteamentos
tamente desse processo. Seus efeitos podem ser apreciados na es- que circundava a cidade, mais numerosos em suas vizinhanças imediatas,
truturação do território metropolitano. Inicialmente, pela extensão de mas ainda aparecendo em porções afastadas do município (...)” 6
sua atuação na escala urbana, com a integração de uma série de mu-
nicípios dando condições, através de suas intervenções, de expansão Para BONDUKI 7, as origens do crescimento horizontal da cidade
da malha rodoviária e viária, com a construção das vias marginais4 e de São Paulo já podem ser notadas no começo do século 20. Neste
a formação de um imenso estoque fundiário-urbano. Mais adiante, período, o processo se inicia pela valorização de terrenos centrais e
incorporada na lógica da especulação imobiliária e ocupação por dis- em razão da expectativa de ganhos futuros na compra de lotes dis-
tintas atividades e estratos sociais. tantes do centro. Esse processo era visto pelos compradores como
uma alternativa de investimento, ainda não como uma alternativa de
produção da casa própria. Para tornar-se uma modalidade habitacio-
nal, segundo o autor, deveria haver entre outras coisas, um recuo na
1.1. ALGUNS ASPECTOS DO CRESCIMENTO DA CIDADE NO PERÍODO produção rentista de moradias de aluguel, e também financiamento
DE ATUAÇÃO DA LIGHT e acessibilidade para a classe trabalhadora, condições não verificá-
veis neste período. O resultado deste crescimento em direção a zonas
Na história da Light, os impactos urbanos da crise do café nas pri- rurais foi a expansão da área urbanizada da cidade, sem o correspon-
meiras décadas do século 20 tanto podem ser observados na ativação dente crescimento demográfico.

> 3. Desde outubro de 1992, a operação desse sistema atende às condições estabelecidas 5. BACELLI (1982) descreve como se deu a relação entre Cia Light e a Cia City em alguns
01 | Retificação do Rio Grande-Jurubatuba. na Resolução Conjunta SMA/SES 03/92, de 04/10/92, atualizada pela Resolução SEE- empreendimentos em São Paulo.
02 | Construção da Elevatória de Traição. SMA-SRHSO-I, de 13/03/96, que só permite o bombeamento das águas do Rio Pinhei- 6. O autor chama atenção, ao longo do texto, para o estabelecimento de marcos abs-
03 | Construção da Barragem de Pedreira. ros para o Reservatório Billings para controle de cheias, reduzindo em 75% aproxima- tratos em períodos evolutivos de crescimento da cidade, que são referências, formas
damente a energia produzida em Henry Borden. Idem, ibidem. de representações da realidade, mas podem ter interpenetrações entre períodos dis-
4. O plano viário elaborado por Prestes Maia em 1929 entre as principais avenidas de tintos. O período (1890-1930) é para o autor, o momento onde se lançam as bases para
04 | Barragem de Pedreira. Vôo aéreo, 2005. fundo de vale só foi possível de ser implantado após as obras de retificação e drenagem a metropolização da cidade. Ver LANGENBUCH (1971).
05 | Turbinas da Barragem de Pedreira. das várzeas empreendida pala Cia Light. As vias marginais, cuja importância no plano 7. BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil : arquitetura moderna,
da circulação de mercadorias e estabelecimento da relação da RMSP com o resto do lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo : Estação Liberdade/FAPESP,
país configura-se até hoje com o principal o anel viário metropolitano. 2004.

caderno_TFG_FINAL.indd 6 1/7/2008 01:49:15


É notável também o que LANGENBUCH (1971) caracterizou como “su-
búrbios - estação”, que se configuravam como núcleos distantes do
centro cujo crescimento se dava no entorno das estações de trem e
bonde. Esse crescimento muitas vezes era precedido da formação
de um núcleo industrial próximo onde os operários eram paulatina-
mente atraídos pelo custo relativamente baixo dos terrenos e pela
vizinhança das fábricas. No entanto, neste período já se verifica o que
o autor classifica como suburbanização residencial, comandada pela
ferrovia, mas não necessariamente associada à presença de indús-
trias.

Se o bonde ou o trem se caracterizavam por produzir espaços ur-


banos de habitação no período de 1890-1930, a orientação dada por
esses eixos associa-se à dinâmica trazida pelo sistema de ônibus no
final da década de 20, fundamental para a formação da periferia “a
tal ponto que, posteriormente, seria muito comum a associação de
empresas de ônibus e empresas de loteamento” 8

Nos anos 40 esse tipo de moradia começa a ser mais freqüente como
alternativa para a classe trabalhadora, mas não chega a ser repre-
sentativo. Esta é a década de transição, onde se criaram as condições
indispensáveis para possibilitar o acesso financeiro (em prestações) e
de transporte (ônibus) aos loteamentos periféricos. Somente a partir
desta década, com a criação da CMTC, as camadas populares ocupam
em massa as periferias longínquas da cidade, através de loteamentos
periféricos. Essa alternativa foi se definindo como uma solução bara-
ta, segregada e compatível com a remuneração dos trabalhadores.

No que toca à questão da legalidade e da compatibilidade de tais lo-


teamentos com a legislação de parcelamento do solo (1923) e poste-
riormente do código de obras (1934), é notável o descumprimento de
ambos. Para atender à demanda a que se destinavam os loteamentos
periféricos, os loteadores não legalizavam os loteamentos e pouco
investiam em benfeitorias urbanas. Por outro lado, não sendo lotea-
mentos aprovados e implantados em ruas não oficiais, estava dada a
justificativa para excluir uma grande demanda por recursos públicos.
Com um grande estoque de terras produzidas desta forma, viabili-
zava-se o auto-empreendimento com alternativa habitacional para a 06 | Planta anônima cuja autoria é atribuída a Augusto Gomes Cardim , intendente de obras públicas da Câmara Municipal em 1897. Retrata período que precede a descrição de
população de baixa renda. Langenbuch. Para dar conta do conjunto de arrebaldes e arredores de São Paulo foi elaborada na escala 1:20000, refletindo a explosão de crescimento da metrópole do café.
Mostra o surgimento de bairros inteiros isolados unidos ao centro pela via férrea. A cidade crescerá muito a partir do registro cartográfico anterior (Jules Martin 1890) e neste
Durante os anos 50 e 60 mudanças na conjuntura política permitiram momento está com população em torno de 200.000 habitantes, ocupando uma área muito mais ampla e abragente do que seria necessário e funcionalmente conveniente, sendo
que os primeiros bairros periféricos recebessem melhorias urbanas. comum a prática de aquisição de lotes com fins lucrativos. Na expectativa de valorização, o investimento no mercado de terras passa a ser uma maneira de emprego do capital.
Entretanto, foi um processo que aconteceu descontinuamente, aos Ver: Irineu Idoeta, p.94.

8. Idem, ibidem, p.285.

caderno_TFG_FINAL.indd 7 1/7/2008 01:49:18


saltos, cobrindo grandes áreas de uma vez. Mais que planejamento,
a razão da descontinuidade justificava-se pelo clientelismo. E foi du-
rante tais anos que se aperfeiçoou o sistema de transporte coletivo
permitindo a extensão deste tipo de moradia para lugares cada vez
mais distantes.

Do ponto de vista da economia, a produção doméstica de moradia ga-


rantiu as altas taxas de acumulação na economia paulista em razão
da redução do custo de reprodução da mão de obra. A generaliza-
ção desta modalidade de produção habitacional eleva o número de
proprietários na cidade de São Paulo, chegando, em 1970, ao notável
valor de 54% dos domicílios paulistas. 9

No texto de Raquel Rolnik e Nabil Bonduki que integra a coletânea “A


produção capitalista da casa no Brasil industrial” os autores descre-
vem para o final da década de 70, de que maneira se multiplicava a
mesma solução gestada nos anos 40. Assim, as soluções produzidas
pelos próprios trabalhadores asseguraram a produção de moradia
para o enorme contingente que realizou a grande expansão industrial
e econômica entre tais décadas.

Os autores apontam para o período um deslocamento dos investi-


mentos estatais para áreas de transportes e energia em detrimento
da reprodução da força de trabalho, reduzindo o investimento em bens
de consumo coletivo que são, por natureza, investimentos estatais:
”Tais bens exigem um grande investimento , sem possibilidades de
retorno, ou seja, o capital imobilizado neste setor é totalmente desva-
lorizado, o Estado é o único agente capaz de assumir a sua produção,
pois é sua função criar condições gerais para a produção capitalista,
entre elas a reprodução da força de trabalho” 10. A atuação do Estado
neste período se restringiu a delimitação, através de legislação, de
padrões mínimos de urbanização, que não eram cumpridos em razão
do valor que agregariam ao preço final dos terrenos.

BIDERMAN, GROESTEIN e MEYER (2004) apontam ainda uma outra


dimensão da atuação do poder público no crescimento das periferias
de São Paulo neste período:

“ O poder público contribuiu de diferentes modos para a constituição do pa-


07 | Evolução urbana. O período de 1962-1980 é decisivo na ocupação na porção sul da RMSP, embora a tendência permaneça drão periférico de urbanização. Por um lado, fechou os olhos à clandesti-

9. Idem, Ibidem, p. 307.


10. BONDUKI, Nabil & ROLNIK, Raquel “Periferia da grande São Paulo: Reprodução
do espaço como expediente de reprodução da força de trabalho”, p.124 In: A produção
capitalista da casa ( e da cidade) no Brasil industrial org. Ermínia Maricato. São Paulo:
Alfa ômega, 1982.

caderno_TFG_FINAL.indd 8 1/7/2008 01:49:21


nidade e irregularidade no parcelamento do solo, permitindo a construção
abusiva do espaço metropolitano; por outro lado, praticou, desde meados da
década de 1970, uma política de construção de grandes conjuntos habitacio-
nais de interesse social nas periferias metropolitanas, reafirmando, dadas
as características dos espaços produzidos, os atributos associados àquele
padrão” 11 (grifos nossos)

A essa forma de produção da cidade vem se acrescentar a utilização


de terrenos impróprios ao loteamento, gerando situações em que a 08 | Conjunto habitacional no Grajaú.
condição periférica é agravada pelas condições físicas do sítio onde 09 | O mapa elaborado pela Light faz um registro dos mananciais de São Paulo e vizi-
o loteamento é implantado. Este assunto abordaremos mais adiante nhanças antes do represamento dos rios Grande e Jurubatuba. Sem data.
no item 1.3.

1.2. A RETIFICAÇÃO DOS RIOS E A CONSTITUIÇÃO DAS REPRESAS

“(...) nos fundamentos efetivos da riqueza paulistana há que des-


tacar o complexo hidrológico-topográfico do Estado, o qual permi-
tiu um notável aproveitamento hidrelétrico, suficientemente aces-
sível e volumoso para os esforços de industrialização (...) se é que
o chão e os climas paulistas forneceram as bases de uma notável
atividade agrária (...), o clima e as águas dos planaltos paulistas
estão garantindo o aproveitamento de um bom potencial ener-
gético indispensável para o desenvolvimento de uma civilização
industrial, a despeito do sensível processo de desindustrialização
que vem acontecendo nos últimos anos na capital paulista” 12

As questões relativas ao atendimento da demanda por serviços públi-


cos na Primeira República eram preferencialmente resolvidas através
de concessões pelo governo de Estado e Prefeituras para exploração
comercial destes serviços. Segundo ANCONA 13 o estabelecimento do
monopólio dos serviços de transporte pela Light em 1900 e posterior-
mente o fornecimento de energia em 1909 deriva desta política.

Como concessionária monopolista, a Light iniciou uma série de


transformações no território paulistano, cujas implicações têm des-

11. BIDERMAN, Ciro; GROESTEIN, Marta Dora; MEYER, Regina. São Paulo Metrópole.
p. 66. São Paulo: Edusp, 2004.
12. AB´SABER, Aziz Nacib. “São Paulo: o chão, o clima e as águas” p.87-88 in:
AB´SABER, Aziz Nacib, São Paulo: ensaio entreveros. São Paulo: Edusp, 2004.
13. ANCONA, Ana Lúcia. Direito ambiental, direito de quem? Políticas públicas do meio
ambiente na metrópole paulista. Tese de doutoramento apresentada a FAU-USP em
2002, p. 131.

caderno_TFG_FINAL.indd 9 1/7/2008 01:49:24


dobramentos atuais. Entre as primeiras mudanças introduzidas pela
companhia em conseqüência da concessão para a produção de ener-
gia elétrica foi a construção da represa Guarapiranga entre 1907-1910,
cujas águas eram reguladas através do leito do Pinheiros e Tietê de
forma a alterar a vazão da Usina Hidrelétrica de Santana do Parnaíba
hoje conhecida como Edgar de Souza.

O segundo grande projeto de geração de energia se aproveitando dos


recursos hídricos de São Paulo, a Usina de Cubatão, reunia elemen-
tos muito favoráveis a empresa, como discorre o engenheiro Edgard
de Souza, superintendente geral da Light a partir de 1924:

“Esse projeto reúne 4 condições favoráveis dentro do território paulista e de


difícil consórcio: grande altura de queda, grande descarga, grande reserva
de águas e grande proximidade aos centros de consumo. Além disso, certas
condições locais também favorecem seu estabelecimento. Tal é o fato de
coincidir a localização e enorme zona inundada em terras um pouco impró-
prias à agricultura, quase desabitadas, embora próximas à Capital, e por-
tanto de reduzido valor. Se se tratasse de zona agrícola, como as do interior
do Estado, o custo de aquisição poderia ser tão elevado que tornaria o plano
inexeqüível. Outra condição extremamente favorável é a do regime pluvio-
métrico, porquanto os ventos do atlântico, carregados de umidade, produ-
zem abundante precipitação nas cumeadas da Serra e no planalto adjacente
em quantidade raramente excedida em qualquer outra região, chegando às
vezes a precipitação ultrapassar 6 metros” 14

Afora as vantagens enunciadas pelo superintendente da empresa,


o projeto revelou-se extremamente lucrativo, já que potencializava
ganhos e praticamente eliminava perdas. O projeto coincide com o
“apagão” de 1925, quando fábricas diminuíram ritmo, iluminação pú-
blica ficou praticamente extinta e bondes tiveram tráfego restringi-
do 15. Um ano após a aprovação do projeto, inaugurou-se a primeira
10 | O caminho do dinheiro e da tecnologia. turbina. Essa aprovação em caráter de urgência deve ter facilitado o
descontrole sobre as operações da Light em relação a implantação
11 | 1a hipótese: aproveitamento do Tietê a montante. do projeto e suas modificações.
12 | Projeto final, 1a etapa.
13 | Projeto concluído. O projeto fora idealizado com a ligação dos tributários do Tietê ao
Rio Grande, mas revelou-se mais econômico para a empresa apro-

14. Apud SOUZA, Edgar de. História da Light – primeiros 50 anos. São Paulo: Eletro-
paulo, 1982. Publicação póstuma de material elaborado em 1949 in: FILARDO JUNIOR,
Angelo Salvador. Territórios da eletricidade : a Light em São Paulo e o projeto da Serra
de Cubatão - 1925-1950. Dissertação de mestrado apresentada a FAU-USP, São Paulo:
FAU-USP, 1998.
15. FILARDO JUNIOR (1998), p. 59.

10

caderno_TFG_FINAL.indd 10 1/7/2008 01:49:32


veitar as águas do Tietê à jusante com o aumento da capacidade do
Rio das Pedras, de vertente marítima. Isso implicava grandes trans-
formações no território paulista, desde a retificação e reversão de
seus principais rios como o aumento, em relação ao primeiro pro-
jeto, da superfície alagada. A empresa sequer respeitou as cotas de
alagamento estabelecidas no segundo projeto aprovado, que previa
a lâmina d’água na cota 738. O projeto executado elevou a lâmina à
cota a 745, gerando a necessidade de barrar outros rios de vertente
marítima. A empresa ainda teve a liberdade de desenvolver a execu-
ção progressivamente, pois podia estabelecer prazos de conclusão
em função da flutuação de demanda, direito garantido pelos termos
da concessão. Dessa maneira o sistema foi aumentando de capaci-
dade ao longo dos anos, com um boom no final da década de 40,
terminadas as obras de reversão do Tietê e Pinheiros. Somente em
1950 a sexta e última turbina foi inaugurada, com a cidade novamente
a beira de um apagão.

Os desmandos da Cia Light são relatados por SEABRA (1987) para


quem não existia legislações de regulação das concessões cedidas à
Light, o que tornava a regulação de suas atividades muito difícil para
os órgãos públicos. Assim, os serviços empreendidos obedeciam à
lógica e racionalidade da empresa, em um confronto desigual com os
interesses públicos 16. Outro subproduto dessa atuação da companhia
nas várzeas do Pinheiros e Tietê foi a produção de um imenso estoque
de terras urbanas, que se tornaram propriedade da empresa através
da obra de saneamento e retificação. Essas terras foram revendidas
em hasta pública, ocasião em que a Light auferiu ganhos em dobro:
cobrava na venda dos terrenos e na tarifa de energia o valor do inves-
timento realizado. Há indícios que a empresa ainda acumulava um
patrimônio imobiliário para constituir reserva de valor nas operações
de implantação de linhas de bonde e iluminação pública 17. 14 | Limite da linha de enchente de 1929.

16. Essa racionalidade se expressa de modo muito claro quando se definiu a área de
abrangência necessária para as obras de retificação do Pinheiros para integrar o siste-
ma de produção de energia da Henry Borden. Na tese referida, Odette Seabra descreve
o processo pelo qual a Light operou a represa Guarapiranga para aumentar as cheias
dos Rios Pinheiros e Tietê durante a enchente de 1929 com o intuito de aumentar a área
passível de desapropriação para a obra de retificação do rio Pinheiros. A concessão
previa que as terras alagáveis do Pinheiros deveriam ser alvo de desapropriação para
a obra.
17. Conferir texto de Maria Luisa Pasches “Bondes, terrenos e especulação” que retra-
ta as operações da Light na compra de terrenos que seriam em princípio de utilidades
pública como por exemplo depósito de materiais para instalação de trilhos, estaciona-
mento de bondes, colocação de postes, que no entanto ficavam desocupados in: Histó-
ria e energia, São Paulo:Eletropaulo / Departamento de Patrimônio histórico, 1995.

11

caderno_TFG_FINAL.indd 11 1/7/2008 01:49:33


15 | O bairro da Cidade Jardim em direção a Santo Amaro, 1930. Em primeiro plano,
à esquerda, o Clube Pinheiros.
16 a 18 | Frames de filme institucional da Light de época.

12

caderno_TFG_FINAL.indd 12 1/7/2008 01:49:44


No tocante ao manejo dos recursos hídricos paulistanos, a Light de-
sempenhou um significativo papel na inserção de rios e várzeas na
dinâmica urbana. Com o crescimento da cidade, ambos foram ga-
nhando outro significado. De lugar de atividades extrativistas para a
população ribeirinha que vivia o ritmo natural do rio, passando pelos
barqueiros que extraiam areia nas margens e várzeas, passou para
o lugar da tecnologia de produção hidrelétrica. Esse potencial, como
sugere AB´SABER na epígrafe, foi fundamental para a constituição
da cidade capitalista industrial.

Essa transformação do significado dos rios foi progressiva. As lavras


nas margens do Pinheiros foram diminuindo com o estabelecimento
do monopólio da Light, que interferia na navegabilidade do rio abrin-
do e fechando as comportas da Guarapiranga conforme os interes-
ses da empresa de produção de energia, prejudicando muitas vezes
as atividades dos barqueiros. A diminuição das operações de lavra
por particulares, permitiu, por algum período, que a Light assumisse
essa atividade em condições de monopólio.

No Tietê, essa atividade foi tornando-se empresarial, com a introdu-


ção das dragas e empresas grandes na atividade. Cessou pouco tem-
po depois da inauguração da Nitroquímica de São Miguel em 1935,
que, associada a outras atividades industriais próximas ao Tietê po-
luíram suas águas e contaminaram as lavras.

Entre os anos de 1925 e 1947 a Light conseguiu a concessão para exe-


cutar todo tipo de obra que aumentava a capacidade de geração de
energia na usina de Cubatão. O interesse da empresa nesse momen-
to concentrava-se n a atividade de geração de energia. Para as ques-
tões a serem tratadas neste tfg, o conjunto de intervenções feitas
neste período até a retificação do Pinheiros na década de 40 servem
para demonstrar que a empresa redefiniu o papel dos rios e massas 19 | Cocho no rio Tietê, sem data.
d’água em função de novos imperativos econômicos, destituindo an- 20 e 21 | Casa de Válvulas, Cubatão, 2008.
tigas vocações e funções culturais como a do lazer e da recreação. 22 a 24| Frames de filme Capela do Socorro, o balneá-
ro paulistano, dirigido por Pedro Gorski em 2007.
A constituição da represa Billings está associada a esse momento
da história de São Paulo, quando rios se tornaram canais e represas
para geração de energia. A Billings é, a princípio, o reservatório que
transfere o volume das águas do Pinheiros para o Rio Das Pedras
na beira da Serra do Mar. Evidentemente, dada sua extensão, novos
usos e destinações aparecem ao longo da história. Trataremos disso
no próximo item.

Gostaríamos de recuperar a distinção que Odette Seabra faz dos pro-


cessos de retificação dos rios que contribuíram para a formação do
sistema hidrelétrico . Enquanto o Pinheiros revelou estratégias de va-
lorização articuladas no interior do monopólio da Light, o Tietê foi um

13

caderno_TFG_FINAL.indd 13 1/7/2008 01:49:51


25 | Encontro dos canais Billings e Guarapiranga.
26 | Draga do EMAE.
27 | Vista do rio Pinheiros na altura da av. Berrini.
28 e 29 | Encontro dos rios Tietê e Pinheiros, encenações da
peça BR-3 do Teatro da Vertigem, 2006.

14

caderno_TFG_FINAL.indd 14 1/7/2008 01:50:01


clássico processo de investimento público profundamente mediado
por interesses privados. A cidade crescia em direção ao Tietê, en-
quanto a várzea do Pinheiros permanecia relativamente desocupada.
O tempo de duração das obras revela a diferença entre os processos.
No caso do Tietê, a autora elenca 3 principais motivos:

a) correspondente às decisões técnicas tomadas no âmbito da Comis-


são de Saneamento do Estado de São Paulo (CSE), como expressão
da política sanitária do governo estadual, cujo objetivo era melhorar
o escoamento do rio Tietê;

b) correspondente às decisões técnicas tomadas no âmbito da Co-


missão de Melhoramentos do Tietê, constituída na Prefeitura do Mu-
nicípio de São Paulo. Seus objetivos explícitos eram de retificar o rio,
tendo em vista a necessidade de eliminar as inundações que assola-
vam a cidade;

c) correspondente às decisões técnicas que integraram o rio e as


várzeas às políticas públicas de âmbito nacional, como o programa
nacional de transportes, já na fase final da retificação 18.

Já a retificação do Pinheiros demora quase 15 anos para se concluir,


prazo que foi sendo definido pelos interesses da Companhia Light,
cuja demora na entrega da obra escondia o planejamento de inves-
timentos da empresa em função do crescimento das demandas por
energia, que só justificaram o término das obras ao final da década
de 40.

1.3. AS REPRESAS COMO LUGAR DA HABITAÇÃO

Os sítios com sérias restrições ao uso habitacional ou com restrições


legais são apontados por MARICATO (1996) como os lugares destina-
dos a moradia das populações pobres em vários períodos da história
brasileira. Essa condição, associada a outras formas de exclusão no
espaço da cidade são tratadas em “metrópole na periferia do capita-
lismo” de forma a esclarecer essa condição face à estrutura econô-
mico-social brasileira.

Na década de 50, início do período de maior crescimento urbano de


São Paulo, há uma valorização dos terrenos centrais, cuja localiza-
ção como mercadoria valorizada, já aponta para o binômio riqueza-
pobreza na materialidade urbana. Assim, os terrenos precários são

18. SEABRA, Odette. Os meandros dos rios nos meandros do poder. Tese apresentada 30 | Preços da terra. O baixo valor dos terrenos na região Sul tem favorecido a expansão em direção aos mananciais. Em 1999, o valor máximo
a FFLCH-USP, São Paulo, FFLCH-USP, 1987, p.113-114. por metro quadrado era de R$ 31,90/m2 no distrito da Capela do Socorro, particularmente no Grajaú e Cidade Dutra.

15

caderno_TFG_FINAL.indd 15 1/7/2008 01:50:02


ocupados pela classe trabalhadora neste período. À medida que a
cidade crescia, as margens dos rios foram sendo ocupadas por usos
urbanos, pois a pressão por novos espaços era sentida nas popula-
ções de baixa renda:

“ O período entre 1886 e 1918 é marcadamente caracterizado pela presen-


ça dos cortiços como a solução mais comum de habitação popular (...) São
Paulo nesse período é uma cidade relativamente densa(...) Em 1914 foi atingi-
da a taxa de 110 hab/ha. Em bairros como o Brás, a Moóca, o Bexiga, e outros
tipicamente operários, esta densidade se elevaria substancialmente” 19

A ocupação dos baixos terraços e das várzeas, no entanto estabelece


outros significados para as cheias naturais do rio Tietê: passam a
ser enchentes. Eram os mais pobres, que habitavam as baixadas, os
mais atingidos.

“ Viveriam esses imigrantes, moradores das várzeas, entre o que é hoje a


ponte da Casa Verde e o Limão, muitas desventuras ligadas às cheias episó-
dicas do rio. Da sujeição a que ficavam expostos esses moradores, pois que,
nas cheias, água e lixo se expraiavam pelos seus quintais, e até pelo interior
das casas, foi nascendo uma conotação pejorativa para designá-los como
varzeanos. Eram sujos, eram os mais pobres” 20

Os flagelados dos rios de ontem estavam em situação análoga a uma


boa parte dos moradores de loteamentos periféricos e na área de
mananciais de hoje. Em alguns casos, há um agravamento dessas
condições de moradia em razão da própria inserção deste tipo de lo-
teamento na cidade. Além da precariedade urbana que o loteamento
periférico apresenta, como brevemente expusemos no item 1.1, al-
guns moradores ocuparão as áreas públicas de loteamentos irregu-
lares em áreas lindeiras a córregos, com declividades acentuadas,
em linhas de drenagem, sujeitos a enchente ou que apresentam
erosão acentuada: “É nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário
privado e nas áreas públicas situadas em regiões desvalorizadas que
a população trabalhadora pobre vai instalar-se: beira de córregos,
encostas dos morros, terrenos sujeitos a enchentes ou outros tipos
de risco, regiões poluídas ou áreas de proteção ambiental onde a vi-
gência de legislação de proteção e ausência de fiscalização definem
a desvalorização” 21

19. BONDUKI, Nabil. “Origens do problema da habitação popular em São Paulo” in:
Espaço e Debates, São Paulo: Neru, 1982, p.106.
20. SEABRA (1987), p.104
21. MARICATO (1996) p.58.

16

caderno_TFG_FINAL.indd 16 1/7/2008 01:50:02


2. DE COMO AS MARGENS DA BILLINGS SE
CONSTITUÍRAM EM ESPAÇOS DA CIDADE

Os 100 km2 alagados da Billings abrangem, em sua área de drena-


gem, os municípios de Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Diadema,
Santo André, São Bernardo do Campo e São Paulo.

As tentativas de ocupação da região são anteriores a criação da re-


presa e remontam as primeiras iniciativas do Brasil independente in-
centivar a imigração européia. Em 1827 e 1828 chegaram a Santos os
primeiros grupos de colonos alemães, dentre os quais destacaram-
se uma centena deles que ocuparam a região da cratera de Colônia1,
no Distrito de Parelheiros, mas que posteriormente se espalharam
pela região Sul do município. Ainda no século XIX, os alemães povoam
as regiões de Gramado, Cipó, Casa Grande e Bororé (em parte nomes
dados aos rios contribuintes da represa Billings). Alguns, devido aos
ofícios aprendidos na Europa encontram trabalho na vila de Santo
Amaro ou na capital. Os colonos que permaneciam na Colônia, no
entanto se viam desassistidos e pouco prosperaram.

No período entre o final do século XIX até 1935 2, o município de Santo


Amaro teve uma dinâmica econômica considerável, sendo fornecedor
de madeira, carvão e gêneros alimentícios à Capital. Essa condição
pôde ser alcançada dada sua a fácil acessibilidade do município atra-
vés da estrada de Ferro de Trens e Carris construída em 1886 e poste-
riormente sua substituição pelo bonde da Light em 1900 3. A linha de
bonde, por sua vez, fez surgir diversos bairros em seu entorno.

A construção da represa no rio Guarapiranga em 1907 trouxe nova


dinâmica à região. Além de sua função original (ver item 1.2) serviu
de espaço de lazer para os paulistanos que ali construíram cháca-

1. Essa foi a primeira experiência de implantação de uma colônia no império brasilei-


ro ver: MARTINS, Rodrigo. APA Bororé subsídios à implantação: praticando geografia
com a teoria dos geossistemas. Trabalho de Graduação Individual apresentado ao De-
partamento de Geografia da FFLCH/USP, São Paulo, 2003.
2. Quando Santo Amaro foi anexado ao município de São Paulo.
3. MARTINS (2003) , p.61. 31 | Implantação dos trilhos de bonde em direção a Santo Amaro, 1903.

17

caderno_TFG_FINAL.indd 17 1/7/2008 01:50:09


ras de recreio, clubes e etc. Posteriormente, em 1928 a construção dos a esse Instituto. Aquela empresa realizou não só o loteamento, mas a
da av. Washington Luíz em 1928, interligando a capital às áreas das construção das casas. Tratava-se de um grande conjunto residencial (com
represas, possibilitou a construção de residências de alto padrão e cerca de 500 unidades inicialmente) caracterizado por extrema homoge-
balneários nas proximidades das represas. neidade no tamanho e estilo das casas, dotado de infra-estrutura urbana,
como ruas pavimentadas, iluminação pública, água e esgoto, além de um
O decreto estadual 6.983/1935, que anexou Santo Amaro ao município pequeno centro comercial. Na época em que foi construída, Cidade Dutra
de São Paulo, considerava a hipótese de tornar a região um pólo de encontrava-se completamente isolada, mas representou uma experiência
lazer e indústria. A grande acessibilidade (por bonde, trem e avenidas pioneira na região. Logo foram estabelecidas linhas de ônibus para atender
marginais e Washington Luiz), proximidade com as redes de trans- ao novo bairro que passou a exercer função polarizadora no desenvolvimento
missão da Usina Henry Borden e o potencial paisagístico das repre- de seus arredores” 5
sas eram os fatores considerados.
A inexistência de grandes espaços em áreas urbanas nesta região
Em 1957 é concluído o ramal ferroviário da antiga Estrada de Ferro acabou por tomar os terrenos dos caipiras alemães, de solo esgotado
Sorocabana, então FEPASA, que interligava a linha Júlio Prestes-Mai- por roças rudimentares. Lotear suas propriedades foi a saída vista
rinque com a Santos-Mairinque, através das várzeas dos rios che- pelos proprietários de terra frente ao aumento de impostos territo-
gando em Interlagos, Grajaú, Itaim, Colônia Paulista e Barragem, en- riais com a mudança de estatuto de suas propriedades, que progres-
trando nesta região dos mananciais pelas crista de divisão das bacias sivamente se tornaram urbanas.
da represa Billings e Guarapiranga. “Este ramal, além do transporte
de cargas também serviu ao transporte de passageiros, uma partindo O surgimento de bairros periféricos na região iniciou-se pela Cida-
de Osasco a Jurubatuba, que é expandida até Evangelista de Souza no de Adhemar, Campo Limpo e Jardim São Luiz. Processo semelhante
período da década de 1970, sendo extinta na mesma década, e depois acontecia nos outros municípios vizinhos da RMSP, com surgimento
retomada a expansão, porém agora até a região de Casa Grande (es- de loteamentos periféricos nos municípios do ABC paulista. Entre os
tação Varginha), que é desativada em 2000. E outra partindo da Barra anos 70 e 80 houve um expressivo crescimento urbano nesta porção
Funda até Santos, que circula nas décadas de 1970 e 1980”4. da metrópole com o aumento de loteamentos e favelas nos manan-
ciais. No que se refere a esse crescimento, LANGENBUCH descreve:
Com a intensificação da industrialização e aumento do parque indus-
trial de Santo Amaro, houve um incremento na demanda por traba- “Cidade Dutra e Cidade Ademar, hoje, se acham cercadas por núcleos su-
lhadores, atendida pelos fluxos de mão de obra de outras partes da burbanos, esta foi mesmo absorvida pelo crescimento da cidade; quando
cidade e do país. Como rapidamente descrevemos no item 1.1, nesse foram construídos, contudo (década de 1940), achavam-se completamente
período já se ensaiava o atendimento dessa demanda por moradia isolados, constituindo o eixo de desenvolvimento urbano. (...) É de se supor
através dos loteamentos periféricos, solução que será amplamente que a presença pioneira de ambos tenham contribuído para o grande desen-
utilizada nesta região. Em menor quantidade, havia alguns loteamen- volvimento suburbano (hoje periurbano no primeiro caso) que os arredores
tos construídos e organizados pela indústria local, como é o caso de de ambos conheceram, pois cedo foram estabelecidas linhas de ônibus a
Cidade Dutra: eles destinados” 6

“Cidade Dutra é um outro exemplo de bairro popular que surgiu na déca- O ABC paulista teve como impulso de crescimento urbano a presença
da de 40. Os bairros citados acima (vila São José e Rio Bonito) haviam se do binômio ferrovia -terrenos grandes unidos facilmente ao porto de
formado num desenvolvimento mais espontâneo da população em torno de Santos, dos quais dependia de peças para o crescimento industrial.
entroncamentos de estradas ou de vilas rurais pré-existentes, que passa-
ram a ser servidas por linhas de ônibus. Cidade Dutra, ao contrário, foi pla-
nejada e construída pela empresa Auto-Estrada S.A., com financiamento do
Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Serviços de Transporte (IAPST), 5. Histórico da Subprefeitura de Capela do Socorro produzido pela Prefeitura Municipal
com o objetivo de atender a demanda habitacional dos trabalhadores liga- de São Paulo [disponível em www.prefeitura.sp.gov.br] Acesso em novembro de 2007.
6. LANGENBUCH (1971), pp. 224-225 e p. 265. Ambos (Cidade Adhemar e Cidade Dutra)
tem formação distinta em relação a grande massa de subúrbios de formação mais
espontânea, mas podem ter funcionado como facilitadores de crescimento naquela
4. Idem, ibidem, p. 66 direção. No entanto, são, na categoria do autor, subúrbios criados.

18

caderno_TFG_FINAL.indd 18 1/7/2008 01:50:09


A continuação desse processo favoreceu o crescimento denominado suas grandes áreas rurais transformadas em loteamentos com pro-
por LANGENBUCH de suburbanização residencial, processo que será dução de terrenos a baixo custo que passaram a abrigar a população
dinamizado com a construção de auto-estradas, e o desenvolvimento trabalhadora. Uma boa parte de seus terrenos próximos a barragem
do equipamento energético e formação de reservas de mão de obra. de Pedreira já havia sido ocupada pela população mais pobre em ra-
zão da desvalorização que a operação de bombeamento das águas do
Neste contexto e com a possibilidade de perda das represas 7 para Rio Pinheiros gerou, tornando o local mal-cheiroso e degradado.
abastecimento público de água, elaborou-se um documento, a Lei de
proteção aos Mananciais, que visava o controle de uso e ocupação do O crescimento populacional é um importante indicativo dessa dinâ-
solo, estabelecendo parâmetros e usos permitidos, sem no entanto mica. Em 1960 o distrito tinha 30.000 habitantes, passou a 261.230 em
especificar as maneiras concretas de realização dos mesmos. 1980 e estimativas do censo apontavam que em 2.000 havia 563.922
habitantes. Em termos percentuais, trata-se de um crescimento de
As represas passaram a ser vistas como espaços de preservação dos 768% nos primeiros 20 anos e novo crescimento de 115% nos últi-
recursos hídricos levando a promulgação das Leis estaduais 898/75 mos 20 anos 9. Boa parte dessa demanda foi atendida com o auto-
e 1.172/76, de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de provimento de moradia, exceção feita aos loteamentos destinados a
São Paulo. A promulgação da lei, no entanto, não reverteu a situação outras faixas de renda, como aqueles implantados na margem direita
de crescimento urbano nos mananciais e contraditoriamente teve um da Guarapiranga.
papel importante na desvalorização dos terrenos onde incidia, o que
ativou um mercado de terras clandestino que através de loteamentos Houve também outras modalidades de produção de habitação, atra-
ilegais manteve a direção anterior de ocupação pouco planejada na vés das iniciativas do Estado. Entre 1965-1976 10 a COHAB construiu
região. dois conjuntos habitacionais na região: Conjunto Habitacional Bri-
gadeiro Faria Lima/Bororé para uma população estimada em 13.510
Embora LANGENBUCH refira-se a um panorama do início da década habitantes (divididos em 1334 apartamentos e 1368 casas) e o Conjun-
de 70, parece antever o processo que teria continuidade nas próximas to Habitacional Grajaú construído por mutirão para 410 habitantes.
décadas: Somados, o atendimento não chega a 1% do total de habitantes no
período.
“Ainda hoje são terras que pertencem ao grupo do cinturão urbano interca-
lar, áreas que não são rurais, ou deixaram de ser, mas onde nota-se algu- A porção das margens a Sul do rodoanel ainda guarda as caracterís-
mas chácaras de produção agrícola, chácaras recreativas freqüentemente ticas descritas por LANGENBUCH para o cinturão urbano intercalar,
de cunho residencial e aspecto deteriorado (...) As hortas comerciais, em com exceção de alguns lugares de entrocamento com eixos viários,
geral, se implantam aí em terrenos arrendados, enquanto as chácaras re- notadamente a via Anchieta, onde se estabeleceu o bairro de Riacho
creativas – de modo geral – são conservadas até o momento em que boa Grande e se desenvolvem atividades de lazer, com pouquíssima infra-
oportunidade especulativa interesse seus proprietários pelo respectivo lo- estrutura, relacionadas à represa. São subúrbios residenciais operá-
teamento. Grandes extensões de terra aguardam tal oportunidade sem ne- rios, desvinculados funcionalmente da Billings, que se alternam com
nhuma utilização presente: glebas ermas são comuns no “cinturão de urba- chácaras recreativas, lojas de pesca, pesqueiros e clubes de recreio
nização intercalar”. 8 particulares. Nas margens banhistas, pescadores, lixo e esgoto. Essa
condição de suspensão ou indefinição da função de grandes porções
Um dos bairros que particularmente representa melhor essa dinâmi- desse território indica a urgência de se determinar de maneira mais
ca é o distrito da Capela do Socorro. O desenvolvimento industrial de precisa usos e funções compatíveis. Ao que parece, a função lazer,
Santo Amaro teve grande influência na região, que teve rapidamente pensada na lei 1172/76 de maneira pouco clara e para consumidores

7. FERRARA, Luciana Nicolau. A Microbacia como unidade de recuperação de assen-


tamentos populares em área de proteção a manancial. 2003. Trabalho de Conclusão
de Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo). Universidade de São Paulo. Orien- 9. Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo [www.prefeitura.sp.gov.br acesso em
tadora: Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins, p.11. novembro de 2007]
8. LANGENBUCH (1971), p. 298. 10. Fonte: Laboratório de Urbanismo da Metrópole [LUME]

19

caderno_TFG_FINAL.indd 19 1/7/2008 01:50:13


determinados 11, já que estabelece um padrão de ocupação que aten-
deria poucas pessoas, precisa ser repensada para atender a escala
de lazer metropolitano em que a represa se insere e dessa forma
estabelecer padrões de urbanização compatíveis com tal escala.
>
32 | Gráfico de crescimento da Billings e da Guarapiranga.
33 e 34 | Ocupação típica do Grajaú, 2008.

35 e 36 | Galeria de águas pluviais do Rodoanel, munícipio de São Bernardo, 2008.


37 e 38 | Demolição no Parque Los Angeles para obras do Rodoanel, munícipio de São
Bernardo, 2008.

11. A lei 898/1975 disciplina o uso do solo para a proteção dos mananciais e define
toda área de incidência da mesma. É neste momento que a Billings, e outros rios e
reservatórios na RMSP são incluídos na área de proteção aos mananciais. No que diz
respeito às margens da represa, será a Lei 1772/76, complementar a 898, que esta-
belecerá normas e restrições de uso do solo nos terrenos onde incide. Pela lei 1772
os corpos d’água, reservatórios e seus afluentes primários, as faixas entre 20 e 50
metros a partir da linha de contorno dos corpos d’água são áreas enquadradas na 1ª
categoria, ou seja, de maior restrição sendo permitido somente pesca, excursionismo
(exceto campismo) natação, esportes, desde que prescindam de quaisquer edificação.
A lei não explicita no entanto como viabilizar essas atividades sem que um mínimo de
infra-estrutura seja implantado. A segunda categoria de área, menos restritiva, esta-
belece baixas densidades de ocupação, tanto menor quanto maior a proximidade das
faixas na 1ª categoria. Embora a justificativa fosse de evitar a degradação ambiental
estabelecendo densidades em função de um cenário onde não se previa coleta e tra-
tamento de esgoto e portanto o sistema hídrico teria que ser capaz de regenerar-se
“naturalmente”, concretamente isso significa que poucas pessoas teriam acesso ao
lazer na represa.

20

caderno_TFG_FINAL.indd 20 1/7/2008 01:50:24


39 a 44 | Heterogeniedade de ocupações nas margens da Billings, munícipio de São
Bernardo, 2008.

21

caderno_TFG_FINAL.indd 21 1/7/2008 01:50:40


45 | Antes da Lei de proteção aos mananciais já havia um processo intenso de ocupação nas bacia da Billings. A promulgação da Lei 898/75 não reverteu o quadro. Um ano antes da promulgação da Lei,
observa-se a profusão de núcleos urbanizados na bacia, que entre os anos 1974 e 1980 se pulverizaram. Neste período, também ocorre a expansão das manchas urbanas já existentes. Entre os anos 1985
e 1992 o braço do Alvarenga e a península do Cocaia já estão urbanizados e novos núcleos surgem mais a Sul, notadamente na cratera de colônia. O período de 1992-1995, nota-se um crescimento dos
núcleos em São Bernardo próximos às balsas dos braços Pedra Branca e Taquecetuba.

22

caderno_TFG_FINAL.indd 22 1/7/2008 01:50:43


3. ÁGUAS PARA QUÊ?

Ao longo do século XX, São Paulo assistiu ao apagamento da memó- Expõe claramente o problema de utilização das águas no Estado e
ria de usos e funções que se estabeleciam na água. Num intervalo particularmente na Grande São Paulo, que colocam entre dois pólos
curto de tempo, os rios se tornaram “urbanos” e nessa transforma- distintos o abastecimento e a produção de energia. Com a adoção do
ção foram afastados do cotidiano das populações 1. Alvo de obras de modelo de captação de água a longas distâncias 3 , em oposição ao
engenharia que transformaram rios em represas, água em potencial modelo de Saturnino de Brito 4, os rios urbanos, destituídos de suas
hidrelétrico, em pouco mais de cinqüenta anos os recursos hídricos funções originais e sequer utilizados para abastecimento de água,
foram identificados quase que exclusivamente com energia, indús- tornaram-se úteis como canais de afastamento de esgoto. Aliado a
tria, esgoto, saneamento e enchentes. essa postura, adotou-se a política de utilização dessas águas para
a produção de energia elétrica, “argumentava-se: se a água poluída
Se recuarmos um pouco na história, podemos identificar posturas é imprópria para o consumo humano, ela não é inadequada para a
que levaram a essa identificação das águas em seu sentido técnico. produção de energia” 5.
No que toca a questão energética, comentamos no item 1.2 a origem
da represa como para a produção de energia. Aqui faremos um breve
comentário da represa para produção de água potável.

No final do século XIX São Paulo já enfrentava crises de abastecimen-


to de água. Servida somente pelas adutoras da Cantareira e Ipiran- sem tratamento adequado na mesma represa. Nos limites da barragem do Rio Grande
ga, as ligações de água não davam conta do crescimento da cidade. e Rio Pequeno separados do corpo principal pela barragem Anchieta, há uma maior
Nesse momento houve uma crise de abastecimento que modificou o fiscalização de ocupações e tratamento de esgoto em alguns pontos, situação inversa
modelo privado de produção de água. Através da Repartição de águas ao outro lado da represa, onde também há captação de água. O aumento do custo de
e Esgoto, o patrimônio privado da antiga Companhia Cantareira de produção de água potável em função da piora da qualidade é depois socializado na
águas e esgoto é estatizado. forma da conta de água. Essa situação tende a chegar ao esgotamento da possibilidade
de se produzir água para que haja um investimento em sentido contrário.
As crises de abastecimento se repetiram ao longo do século XX e 3. Sendo exceção a construção da adutora de Santo Amaro em 1929 com o aprovei-
tiveram como origem direta o déficit entre demanda e produção 2. tamento das águas represadas da Guarapiranga e em 1958 a captação das águas da
Billings para abastecimento do ABC, dois casos em que a crise de abastecimento
associada no primeiro caso a uma crise mundial, impusera medidas em curtíssimo
prazo de tempo.
1. São Paulo (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. A água no olhar da História. São 4. No começo do século XX, o engenheiro sanitarista dividira a cidade em quatro zonas
Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 1999, pp. 8-20. altimétricas para racionalizar a caótica rede de distribuição e fez um estudo compa-
2. O déficit entre demanda e produção tem origens diversas. Não nos cabe aqui fazer rativo das possíveis fontes de reforço de suprimento de água: Cotia, Rio Claro e as
uma análise da reincidência de crises de abastecimento, mas vale como uma pequena águas profundas da várzea do Tietê. De imediato ele revelou sua preferência por esta
reflexão sobre um modo de funcionamento do Estado que leva a repetição de situações última forma de intervenção, deixando as outras para o futuro por serem mais difíceis
emergenciais em oposição a um planejamento ao longo do tempo. No caso especí- e de custo mais elevado. Naquele momento engenheiros, sanitaristas e médico eram
fico da represa Billings, cabe uma avaliação sobre a atuação da Sabesp na represa. majoritariamente favoráveis a captação de água em bacias protegidas, nas nascentes
A empresa centralizou a atuação no âmbito do saneamento com a incorporação de distantes e afastadas da população. Em 1905 iniciou-se a obra da adutora do Cambuçu,
empresas municipais de abastecimento e tratamento, com a justificativa de aumentar no Tremembé, na época bastante afastada da zona urbana de São Paulo. Cf. A água no
a capacidade de investimento e dessa maneira aumentar a produção de água da Billin- olhar da História. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 1999, p.119.
gs. O fato é que a Sabesp capta água, faz a distribuição e muitas vezes lança esgoto 5. Idem, ibidem, p.123. 46 | Barragem Anchieta, São Bernardo, 2008.

23

caderno_TFG_FINAL.indd 23 1/7/2008 01:50:46


A emergência da questão do abastecimento de água recolocou a ne- As saídas para o conflito entre produção de energia e preservação da
cessidade de aproveitamento das águas da Billings no final da década qualidade das águas da represa ainda não tiveram respostas satisfa-
de 50. Com a piora da qualidade da água da Billings, separou-se o tórias. O tratamento proposto pela EMAE para tratamento do Pinhei-
braço do Rio Grande com a barragem Anchieta até que finalmente ros, a flotação de suas águas, não é comprovadamente eficiente, em-
na década de 90, impôs-se grandes restrições à operação de bom- bora seu diretor afirme que sim 9.Nos parece uma armadilha encarar
beamento. Mais recentemente com a necessidade de aumentar a o tratamento do Rio profundamente mediatizado pelos interesses da
vazão da Guarapiranga, iniciou-se a exportação das águas da Billings empresa em produzir energia. De forma que esse debate deveria ser
para aquela represa6. O aproveitamento da água para abastecimento recolocado com uma ação integrada de tratamento do esgoto e coleta
e geração de energia não é, em princípio, contraditório, mas da ma- de lixo em São Paulo. Na atual conjuntura, a empresa é praticamen-
neira como se configurou o sistema de geração de energia através da te parceira das empresas de limpeza urbana, dada a quantidade de
Billings sem que se pensasse o tratamento de esgotos em São Paulo lixo que é retirada das grades das usinas elevatórias de Pedreira e
colocou as duas atividades em campos opostos. Traição.

A resolução de 1992 em conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente


e a Secretaria de Energia e Saneamento, que reduziu o bombeamen-
to somente a casos de emergência para evitar grandes enchentes,
introduziu grandes prejuízos a proprietária da represa, EMAE 7, em-
presa pública titular das concessões da Light para o aproveitamento
das águas do Alto Tietê. Essa empresa originada da privatização da
Eletropaulo 8, tem muitas despesas decorrentes da manutenção per-
manente das instalações de reversão e pouca receita dada a redução
das operações de bombeamento. Assim, houve um desequilíbrio nas
receitas da empresa sem ações compensatórias. A proprietária da
represa defende o uso de suas águas para produção de energia, pro-
jeto absolutamente legítimo e que oportunamente reacende o debate
sobre o tratamento das águas dos rios urbanos de São Paulo.

6. Em 1958 iniciou-se o processo de utilização das águas do rio grande, o maior tributá- 9. Cito o Diário do Grande ABC de 08/04/2008:
rio da Billings, para o abastecimento de água para o ABC paulista. Em 1982, esse braço “As críticas cravadas por ambientalistas estão relacionadas, segundo o diretor da
foi separado do corpo central da Billings para diminuir os efeitos da contaminação Emae, ao temor pelo desconhecido. ‘O primeiro é o medo por precaução, que coloca as
daquelas águas pelo corpo central da Billings. Em 2000, a Sabesp iniciou a operação pessoas em alerta. Em segundo lugar, há a questão ideológica. Teve gente que chegou
de exportação para a Guarapiranga de água da Billings, no braço taquecetuba, com o aqui e disse que o bombeamento para a Billings não deveria acontecer nem com água
objetivo de aumentar a vazão daquela represa. Esta é uma operação bastante contro- Perrier. Ouvi com meus próprios ouvidos. É o extremo do preconceito. Por último, há a
versa levando-se em consideração que a represa Billings acumulou, ao longo dos anos questão da vaidade. Quem gostaria de estar participando e não está,critica’, diz.
de operação dos sistema de bombeamento das águas do Pinheiros, uma quantidade Segundo o diretor da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), Antonio Bo-
significativa de poluentes industriais dentre os quais destacam-se os metais pesados, lognesi, a Billings está fora de perigo. Amostras iniciais mostram que a qualidade da
cuja ingestão por seres humanos é cumulativa e cancerígena. Esses materiais se de- água tratada pelo sistema e bombeada para a represa é equivalente à registrada atu-
positaram no fundo da represa, chegando a espessura de 7m em alguns pontos. Ver almente pelo manancial. Bolognesi afirma que o resultado do tratamento mostra que
CAPOBIANCO (2002). o projeto é viável para a despoluição do rio, aumento da capacidade de abastecimen-
7. Condição bastante reveladora do caráter técnico que tem a represa. to público da represa e ampliação da quantidade de energia gerada na Usina Henry
8. Empresa Metropolitana de Àguas e Energia, herdeira de parte do “espólio” da Light. Borden, na Baixada Santista”. O problema reside no fato de que a qualidade da água
Depois da estatização e nova privatização, através da venda da Eletropaulo, esta foi registrada atualmente no manancial é bastante ruim em alguns pontos, e portanto não
47 | EMAE, Flotação, 2008. cindida em 4 empresas visando a venda: duas empresas de distribuição, uma de trans- pode ser parâmetro da qualidade da água bombeada. Outro fato é que a flotação é um
48 | EMAE, Bombeamento do lixo, 2008. missão e a Emae, única das quatro empresas, deficitária diga-se de passagem, que tratamento físico que não retira todos os poluentes da água, como pudemos verificar
49 | EMAE, Grades Pedreira, 2008. ainda tem capital público, ver FILARDO (1999) p.107. em visita no dia 19 de Maio deste ano.

24

caderno_TFG_FINAL.indd 24 1/7/2008 01:50:53


4. A BILLINGS HOJE

Envolvida por uma população de 350.000 pessoas próximas às mar-


gens, a represa Billings recebe uma carga de aproximadamente 1000
ton/dia de esgoto sem tratamento além de descargas periódicas de
esgoto industrial 1, o que torna o tratamento de água cada vez mais
caro e complexo nos lugares onde é feita a captação2.

A descarga de esgoto no volume que acontece atualmente, é um im-


portante indicativo de necessidade de enfrentar em grande escala o
problema de implantação de infra-estrutura sanitária nas margens
represa. Mas não é só a questão de infra-estrutura sanitária que salta
aos olhos. A viabilização da represa como lugar do lazer implica re-
pensar as margens como estruturadoras dessa atividade.

São inúmeras as dinâmicas presentes nas margens e arredores do


reservatório nos seis municípios que têm parte do seu território na
bacia de drenagem da Billings.

Para efeito deste trabalho, nos concentramos em mapear sua forma-


ção dentro de um sistema de produção hidrelétrica e sua apropriação
como espaço urbano destinado a habitação. Não nos detivemos na
questão ambiental no sentido ecológico e tampouco na discussão so-
bre o estratégico lugar da represa como maior manancial de água da
RMSP. Esses dois pontos são de extrema importância para compre-
ender a importância e necessidade de gerir esse recurso de maneira
adequada a garantir não só a geração de água em quantidade e quali-
dade suficientes para controlar o processo de importação de água de
bacias cada vez mais distantes de São Paulo, garantir a biodiversida-
de de um sistema ecológico em vias de extinção, mas principalmente
garantir a qualidade ambiental dos que ali habitam.

As inúmeras atividades econômicas que acontecem às margens da


Billings , muitas vezes às margens da legalidade, são descritas pelo
relatório do Instituto Sócio-Ambiental intitulado “Billings 2000: ame-

1. Segundo consta no relatório elaborado pela Agência Canadense para o Desenvolvi-


mento Internacional em parceria com a Prefeitura de Diadema e FAU-USP em 2001.
2. Contradição maior é a mesma empresa que faz a captação e distribuição de água, a
Sabesp, poluir a represa devolvendo as águas servidas na Billings. 50 | Vista do Grajaú= a partir de vôo de helicóptero, 2005.

25

caderno_TFG_FINAL.indd 25 1/7/2008 01:50:55


51 | O levantamento feito pelo LUME em 2004 revela a carência de equipamentos de lazer na RMSP a medida que se aproxima das
periferias, entre elas, as periferias Sul. Contraditoriamente, a represa é um grande equimento de lazer em potencial. Vale lembrar
que neste levantamento não estão considerados os CEUs.

26

caderno_TFG_FINAL.indd 26 1/7/2008 01:51:02


aças e perspectivas para o maior reservatório de água da região me- mento das águas 4 e não lhes foi dado outra alternativa de desloca- 52 | Manutenção das balsas, 2008.
tropolitana de São Paulo”. Trata-se de um referencial para discutir as mento se não uma precária balsa que quebra com freqüência. 53 | Parque Estoril, 2008.
questões ambientais strictu sensu. 54 | Pier na Prainha, 2008.
O lazer nas águas em geral se realiza de modo problemático por fal- 55 | Orla seca na Prainha, 2008.
A questão do uso das águas da Billings para abastecimento público e ta de infra-estrutura adequada de suporte. Exceção feita ao Parque 56 | Pedalinhos na Prainha, 2008.
geração de energia foi um dos fatores que trouxeram a tona os con- Estoril, no braço separado da represa, onde a prefeitura de São Ber-
flitos de interesses entre diferentes setores econômicos. Parece-nos nardo implantou um parque municipal, os demais lugares utilizados
um grande contra senso a impossibilidade de se utilizar o recurso para a função lazer não contam com infra-estrutura adequada, a não
de maneira a atender às demandas energéticas e por abastecimento ser nos clubes particulares. O caso da Prainha, em São Bernardo do
pela simples razão de que o esgoto de São Paulo não é tratado. Houve Campo, é exemplar da precariedade de modo como o lazer público
um enorme acúmulo de trabalho social na produção de um sistema em grande escala se realiza na represa: pescadores, banhistas, es-
bastante eficiente de produção energética. No entanto, por uma op- portistas não têm sequer banheiros para utilizar nos animados fins-
ção absolutamente equivocada de tornar rios urbanos canais de es- de-semana na represa 5. Com uma ocorrência significativa de mortes
coamento de esgoto a céu aberto, não se pode operá-lo. Neste senti- por afogamento 6, a utilização da represa para uso recreativo expõe
do, discutir a reversão das águas do Pinheiros sob o ponto de vista da a necessidade de repensar as condições de realização deste tipo de
qualidade de suas águas se revela um horizonte muito estreito. lazer, seja nos lugares onde ele já se consolidou ou em lugares po-
tenciais.
Por outro lado, a vocação deste patrimônio social está além de sua
destinação econômica, seja ela para produção energética ou de água. Para entender melhor a dinâmica nos diferentes lugares da represa,
O represamento das águas dos rios paulistanos, a reversão das águas elaboramos os mapas a seguir.
, bombeamento, uso econômico e suas águas contribuíram para a
transformação de natureza em capital social enquanto espaços in-
teiramente mediados pela técnica. Quais são as outras dimensões 4. Reportagem da BBC Brasil sobre as dificuldades dos moradores em votar na épo-
possíveis? ca das eleições:” O bairro que na verdade é uma península tem 90% de seus limites
cercados pela água da Billings. Apenas por um lado há uma precária estrada de terra,
Há uma potencialidade de significação das margens que é negligen- atravessando mananciais e áreas remanescentes da Mata Atlântica, ligando o Bororé
ciada e atualmente pouco se realiza. Trata-se de uma discussão que ao resto da cidade de São Paulo. No entanto, nenhum ônibus passa por lá. Como todo
raramente entra nas agendas de ambientalistas e urbanistas. Como mundo, os ônibus embarcam nas balsas mantidas pela Emae, a porção da eletropaulo
então repensar o sentido histórico das margens dos rios e represas que continuou estatal depois da privatização. A estatal herdou da Light a obrigação
em espaços de recreação para o conjunto de cidades da região me- assumida nos anos 20, quando a represa foi inundada, de manter o transporte para
tropolitana de São Paulo? as áreas que ficariam isoladas.Mas parte do isolamento continua, mesmo dentro da
maior cidade da América do Sul”. Reportagem de Paulo Cabral publicada em http://
A questão precisa ser recolocada quando pensamos o uso recreativo www.bbc.co.uk/portuguese. A esse problema, acrescenta-se o fato de que as balsas
das águas da represa. Em depoimento à arquiteta Thea Standerski3, da EMAE estão continuamente em manutenção pois além de antigas, a tecnologia
um morador do bairro Pintassilva, situado às margens da Billings no empregada de manter a tração nas margens e operar as balsas por cabos metálicos
município de Santo André, quando interrogado se haveria algo de bom mergulhados na água faz com que o rápido desgaste destes deixe os moradores, em
naquele bairro, se ele gostava da vista que tinha, respondeu que a algumas situações, sem transporte por mais de um dia.
única coisa boa do bairro era o ônibus que o levava para Santo André. 5. A estimativa é de que até 5000 pessoas freqüentem a prainha em São Bernado do
A frase é reveladora do papel da represa na vida dessas pessoas que Campo em finais de semana de verão. Não há banheiros públicos disponíveis para os
tiveram como opção construir precariamente suas casas nas mar- usuários e os precários quiosques atendem de maneira improvisada o público que
gens da Billings: as casas não dão a frente para a represa, e sim as freqüenta a “praia” desde do começo da manhã até a madrugada.
costas. A Billings é muitas vezes a porta dos fundos, vista como um 6. Segundo a Secretaria de Segurança Pública entre Janeiro de 2007 e Janeiro de 2008
lugar perigoso, sujo, um obstáculo à mobilidade. Em alguns lugares, foram registradas 14 mortes por afogamento na Billings, fora os salvamentos que nos
como é o caso da Ilha do Bororé, as pessoas mal conseguem votar, finais de semana de verão chegam a 6 casos divididos entre as duas “praias” da Billin-
porque estão ilhadas numa península que se formou com o represa- gs: Parque Estoril e Prainha. As duas ocorrências mais registradas pelos bombeiros
na Billings são: afogamento em curso - quando a vítima está se debatendo na água
ou afundando; e busca de corpo submerso, que é feita a partir de denúncias. Fonte:
3. Em trabalho apresentado a disciplina da pós graduação “Estúdio da Paisagem” http://ssp.sp.gov.br/]. Acesso em maio de 2008.

27

caderno_TFG_FINAL.indd 27 1/7/2008 01:51:09


57 | Mapa das micro-bacias da Billings

28

caderno_TFG_FINAL.indd 28 1/7/2008 01:51:12


58 | Mapa dos braços Cocaia - Alvarenga - Grota Funda - Corpo Central.

59 a 61 | Aspectos do braço Cocaia, 2008.


62 | Aspectos do braço Alvarenga, 2008.

29

caderno_TFG_FINAL.indd 29 1/7/2008 01:51:16


63 | Mapa dos braços Rio Grande - Rio Pequeno.

64 | Ocupação no braço Rio Grande, 2008.


65 | Pesque-e-pague no braço Rio Grande, 2008.
66 | Pescaria no braço Rio Grande, 2008.
67 | Restaurante flutuante no braço Rio Pequeno, 2008.

30

caderno_TFG_FINAL.indd 30 1/7/2008 01:51:23


69 | Mapa dos braços Capivari - Pedra Branca - Rios das Pedras

70 e 71 | Reservatório Rio das Pedras, 2008.


72 | Balsa no braço Capivari, 2008.

31

caderno_TFG_FINAL.indd 31 1/7/2008 01:51:31


73 | Mapa dos braços Bororé - Taquecetuba.

74 | Ocupação no braço Bororé, 2008.


75 | Cratera, 2004.
76 | Captação de água no braço Taquecetuba, 2008.
77 | Estrada de Ferro Sorocaba, 2008.

32

caderno_TFG_FINAL.indd 32 1/7/2008 01:51:36


5. O ENFRENTAMENTO DE QUESTÕES EM
DIFERENTES ESCALAS

5.1. INTRODUÇÃO

A proposição de um programa de lazer na Billings para nós implica-


va investigá-lo do ponto de vista metropolitano e por conseqüência
pensar em uma intervenção que assumisse essa natureza. Optamos
por desenvolver equipamentos flutuantes transportáveis pela água,
possibilitando a implantação destes em diversos lugares da represa.
Assim, o programa flutuante permite que várias partes da Billings
sejam incorporadas como pontos de lazer. Essa apropriação aponta
também para a reorganização das margens de modo que possam dar
suporte para o programa. A escala de produção destes equipamentos
nos levou a adotar processos mais racionalizados de construção e
dessa maneira pensar o lugar onde seriam produzidos: a fábrica de
pré moldados.

Na tentativa de explorar o valor paisagístico da Billings, pensamos


em criar um sistema que tornasse margens e águas habitáveis e fruí-
veis. As margens foram pensadas aqui como praias ou piers, dotadas
de infra-estrutura, para que as pessoas possam efetivamente usu-
fruir destes espaços. As águas dão suporte ao programa na medida
em que possibilita que os equipamentos flutuem próximos as mar-
gens, estejam em movimento ou sejam transportados entre piers e
marinas ao longo da represa.

O grande programa de lazer em potencial aparece ao lado de gran-


des porções da região sul da metrópole sempre apontada como lugar
de todas as carências. Estava em nosso imaginário de lazer na re-
presa a possibilidade de retomar o espaço público para o desfrute de
uma paisagem privilegiada, retomá-lo como lugar realização da vida
coletiva não associada ao consumo ou ao trabalho. Pensamos as-
sim em lugares de encontro, de trocas, do convívio e de passagem do
tempo, cuja realização poderia ser mais espontânea, no cotidiano,
mas que também poderia acontecer de modo mais generalizado nos 78 e 79| Croquis de estudo.
finais de semana.

33

caderno_TFG_FINAL.indd 33 1/7/2008 01:51:38


5.2. ESCALA METROPOLITANA

A primeira questão que se colocou para o enfrentamento de um pro-


grama de lazer em escala metropolitana foi a constatação de que o
padrão de acesso à represa é bastante precário dentro do município
de São Paulo. Essa situação se repete nos municípios vizinhos, com
exceção de São Bernardo, que tem dois grandes eixos viários cru-
zando a represa: Anchieta e Imigrantes. Precisamente em torno de
um de um desses eixos se configurou a “prainha”, espaço próximo à
rodovia Anchieta dedicado à recreação nos finais de semana. Embora
algumas mudanças tenham acontecido recentemente com a exten-
são da linha da CPTM até a estação Grajaú e a construção do com-
plexo Jurubatuba, em ambos os casos, não existe a previsão de estas
infra-estruturas atenderem uma futura demanda de transporte com
destino à represa. A mesma situação se repete com o rodoanel, que
não prevê nenhuma parada próxima a mesma.

O complexo Jurubatuba consiste na continuação da Avenida das Na-


ções Unidas que segue paralela à linha da CPTM até a transposição
do rio Pinheiros próximo a barragem de Pedreira. Em maio deste ano
inaugurou-se a ponte Vitorino Goulart que deve beneficiar o trânsito
de veículos para a margem esquerda da Billings, e entre os bairros de
Campo Grande, Cidade Ademar, Pedreira, Santo Amaro, Cidade Dutra
e Grajaú, fluxo antes dividido entre as pontes do Socorro e Interla-
gos. No entanto, para acessar as travessias, essa porção da cidade
tem apenas 2 vias estruturais: A Belmira Marim e a Teotônio Vilela.
Futuramente, a Teotônio Vilela terá acesso ao rodoanel. Na margem
direita, no entanto, a avenida perde a continuidade e praticamente
termina na rua Mar Paulista, uma rua estreita que margeia a represa
e dá acesso aos bairros Cidade Ademar e Alvarenga, chegando até
Diadema.

Assim, propusemos que a chegada de São Paulo à represa fosse feita


através de um ramal da linha CPTM que tivesse por estação final a
orla próxima a barragem de pedreira. É necessário pensar a con-
tinuidade do complexo Jurubatuba com a Rua Mar Paulista em di-
reção a Diadema para possibilitar o acesso dos bairros próximos à
Pedreira tomando o cuidado de não transformar este acesso numa
grande obra viária que interrompa a passagem para às margens. Se-
ria, portanto uma avenida com limites de velocidade, com paradas
constantes e em alguns casos com transposição em níveis diferentes
para pedestres.

A vontade de fazer do porto uma referência, o marco zero do progra-


ma de lazer metropolitano, nos levou a estender um ramal da CPTM e
de cargas em direção ao centro das cidades de Diadema, São Bernar-
80 | Sobrevôo na Billings, 2007. do e Santo André. Essa proposta aponta diretrizes para essas linhas,

34

caderno_TFG_FINAL.indd 34 1/7/2008 01:51:41


35

caderno_TFG_FINAL.indd 35 1/7/2008 01:51:42


no entanto, não se configura como projeto propriamente dito, uma
vez que o estudo de traçado e implantação é de uma complexidade
tal que demanda uma pesquisa específica em transportes urbanos.
De toda maneira, as linhas tem o papel de articular o território, e
possibilitar o acesso em massa à represa, podendo escoar a produ-
ção da fábrica de pré-moldados que implantamos próxima à Usina de
Piratininga. A fábrica produz os elementos flutuantes para o progra-
ma de lazer na Billings e outros equipamentos de urbanização que
serão utilizados na urbanização de bairros próximos a represa. Com o
acesso a estrada de ferro Santos-Jundiaí, através do ramal de cargas
e de passageiros proposto, a produção da fábrica pode ter aplicação
em outras frentes de urbanização ou bacias de águas calmas que
comportem o programa de lazer flutuante. 1

Ainda na escala metropolitana, pensamos outros três pontos de inte-


resse na Bacia. A escolha dos mesmos se deveu ao fato de represen-
tarem dinâmicas que extrapolam os limites municipais e que ligados
ao Porto-Pedreira constituem o eixo principal do programa de lazer
metropolitano pensado para a região. São eles: o Parque Cocaia, Pa-
rada Los-Angeles –rodoanel e Prainha. Eles não encerram todas as
possibilidades de implantação do programa de lazer associado aos
flutuantes, mas são representativos de situações que no seu conjunto
configuram um sistema de equipamentos públicos de lazer para a
metrópole. Como sistema, se articulam com equipamentos já exis-
tentes através da água: CEU Navegantes, Sesc e Caminhos do Mar 2.

1. O ramal impõe a necessidade de reestruturação da Santos Jundiaí e a construção do


ferroanel. A empresa que detém a concessão da Santos-Jundiaí, a MRS, é obrigada a
dividir com os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) o uso da li-
nha. A operadora tem liberdade de passagem apenas da meia-noite às 4h. No restante
do dia, tem autorização para cruzar a Santos-Jundiaí em alguns horários. Carga e pas-
sageiros disputam a insuficiente infra-estrutura, o que segundo o presidente da em-
presa é uma grande limitação para o crescimento do fluxo de carga. O Ferroanel tramo
Sul não é o único projeto de relevância para mudar a situação e melhorar o sistema
logístico em São Paulo. A empresa concessionária defende a construção do Ferroanel
Norte, que ligará a região de Campinas a Itaquaquecetuba. A linha teria 70 quilômetros
de extensão e amenizaria um grande “gargalo” da companhia: a necessidade de todos
os trens vindos do interior de São Paulo terem de cruzar a capital paulista. [Fonte:
http://www.novomilenio.inf.br/santos] Acesso em Jjunho de 2008.
2. Já existe em operação um programa de lazer denominado “caminhos do mar” or-
ganizado pela EMAE em parceria com o Governo do Estado que consiste na descida da
serra a pé pela estrada velha de Santos.

36

caderno_TFG_FINAL.indd 36 1/7/2008 01:51:42


5.3. ESCALA LOCAL

O transporte fluvial inclui também outros pontos prevendo a cons-


trução de pequenas marinas que se integrem ao programa de lazer.
Esses pontos são em sua maioria núcleos mal urbanizados e com
pouca infra-estrutura. A marina pode servir de acesso ao programa
de lazer, mas também como uma frente de implantação de infra-
estrutura nesses núcleos. São os lugares do lazer cotidiano, mas
também entrepostos, referências urbanas, pontos de embarque e de-
sembarque, de oferta de serviços públicos, de parada dos flutuantes,
de organização da atividade pesqueira, recolhendo-se aí o lixo que é
deixado nas margens pelos pescadores. Devem ser localizadas nos
fundos dos braços, aproveitando-se dessa situação para a implanta-
ção de infra-estrutura sanitária para tratamento localizado do esgoto
da bacia. Deve-se aproveitar as ligações fluviais também para fazer
transporte de lixo coletado nessas pequenas marinas e encaminhá-
lo para a estação de transbordo de Santo Amaro ou para as diversas
usinas de reciclagem que existem próximas a barragem de pedreira.
Parte do processamento do lixo pode ser feita nas próprias barca-
ças na água e encaminhadas para outras usinas de transbordo ou de
reciclagem ao longo do Pinheiros e do Tietê. Vale mencionar aqui a
possibilidade de reverter uma das turbinas de Pedreira para um ele-
vador de barcos, como fora pensada no plano da Light de navegação
entre o Tietê e a represa Billings e que acabou sendo substituído pela
quinta turbina para aumentar a vazão de bombeamento. Trocando-se
as turbinas por outras de tecnologia mais atual, não se compromete
a vazão de bombeamento e possibilita a navegação entre rios e re-
presa.

5.4. OS EQUIPAMENTOS FLUTUANTES

Os flutuantes foram pensados para se adaptarem à diversidade das 81 a 83 | Referências de construções em argamassa armada.
margens da Billings, podendo ser transportados entre diferentes 84 | Esquema de ancoragem.
pontos nas margens. Propõe, de início, um olhar para a represa a
partir do ponto de vista das águas. Buscam, pela abrangência do pro-
grama, democratizar o uso de lazer em condições propícias e plane-
jadas para tal fim.

Desenvolvemos algumas unidades-tipo: a piscina, o tele-centro e o


cinema-teatro. A idéia que os une é a possibilidade de ter a represa
como cenário de algumas atividades sobre os flutuantes, que não ne-
cessariamente terão a especificidade de uma sala de teatro ou cine-
ma, mas que tiram partido dessa condição única de ter a paisagem
da represa ao redor.

37

caderno_TFG_FINAL.indd 37 1/7/2008 01:51:49


A chegada destes equipamentos nas margens marca uma relação
com o continente: Os portos são referenciais urbanos que estrutu-
ram o território. Os equipamento são pontes no sentido que unem as
margens da Billings, fazem com que se relacionem. Por outro lado,
o programa de lazer não se une a nenhum lugar específico, podendo
se instalar em vários lugares diferentes. Através de uma embarcação
de apoio e reboque os equipamentos se deslocam na represa. Dessa
forma, os equipamento têm uma autonomia restrita, pois dependem
da margem para serem utilizados.

Tecnicamente desenvolvemos o programa através de um


módulo pré-moldado que articulado a outros será o embasamento
flutuante do equipamento ou dos piers. Cada módulos é protendido
para ganhar eficiência no desempenho em durabilidade. Posterior-
mente, esses módulos têm uma segunda protensão no sentido do
comprimento da embarcação e são ligados, no outro sentido, por pa-
rafusos e porcas. Na parte superior optamos por usar materiais que
possibilitem mais leveza a estrutura, como a madeira e o aço. Para
tanto, os módulos do embasamento devem prever as conexões pos-
teriores, sendo concretados insertos metálicos como esperas para
receber o programa da unidade.

85 | Croquis de estudo.
86| Croquis de estudo.
87 | Croquis de estudo.

38

caderno_TFG_FINAL.indd 38 1/7/2008 01:51:52


88 | Forma inflável.
89 | Flutuantes: insertos.
90 | Flutuantes: insertos pilar
91 | Flutuantes: ancoragem.
92 | Referência de flutuante na China.
93 | Palco do Sesc Interlagos.

39

caderno_TFG_FINAL.indd 39 1/7/2008 01:51:58


94 | Estudo de programa: catamarã.
95 | Estudo de programa: piscina água clorada.
96 | Estudo de programa: piscina água da represa.
97 | Estudo de programa: área para projeções.
98| Estudo de programa: cabine multimídia

40

caderno_TFG_FINAL.indd 40 1/7/2008 01:52:04


41

caderno_TFG_FINAL.indd 41 1/7/2008 01:52:05


99 | Perspectiva construtiva do módulo flutuante.

42

caderno_TFG_FINAL.indd 42 1/7/2008 01:52:05


A PRAINHA EM SÃO BERNARDO

A prainha em São Bernardo é um dos poucos lugares consagrados


do lazer cotidiano na represa. Localizada num lugar acessível e im-
portante, chega a receber 5000 banhistas nos finais de semana de
sol. Nos dias de semana, os moradores de Riacho Grande, como é
conhecido o bairro onde está a prainha, pescam nas margens próxi-
mas à Anchieta.

Riacho Grande está próximo das novas frentes de crescimento de São


Bernardo e como tal tem sofrido com políticas de uso e ocupação que
tendem ao esgotamento da possibilidade de uso da represa para as
atividades de lazer. No braço separado pela barragem Anchieta, cujo
acesso é feito pela rodovia Índio Tibiriçá, a preocupação da Sabesp na
manutenção da qualidade da água para captação que é feita próxima
a barragem, tem gerado políticas de controle de novas ocupações e
implantação de infra-estrutura sanitária. Já no braço “sujo”, o que
impera é a total falta de investimento e planejamento.

Sendo assim, a prainha, que fica do lado “sujo”, atende precariamen-


te a demanda de pescadores e banhistas que procuram as margens
da represa para passar o tempo. Não há banheiros públicos e os pre-
cários quiosques atendem de maneira improvisada o público que fre-
qüenta a praia. Canos de cobre trazendo esgoto não tratado dividem
espaço com as crianças que ali se banham. Nos animados finais de
semana, carros e pessoas se amontoam na estreita faixa de terra que
separa o muro do último lote antes da faixa non edificandi da represa.
Esse lote hoje abriga uma pista de kart. O conflito de uso das águas
entre banhistas e lanchas fez com que recentemente a prefeitura de
São Bernardo disponibilizasse bóias para separar a área de banhistas
da área de embarcações.

A proposta buscou organizar as demandas espaciais dessas ativi-


dades. Como pressuposto inicial, pensamos resolver a questão sa-
nitária com a construção de dois interceptadores na cota próxima
a água para que o esgoto não atinja a represa sem tratamento. Os
coletores de águas pluviais e de esgoto encaminham essas águas
para uma pequena estação de tratamento nas proximidades da praia.
Essa proposta, que atualmente é financeiramente viável, será ado-
tada também nas outras intervenções como solução típica, evitando
as grandes obras de infra-estrutura sanitária que não se concluem,

43

caderno_TFG_FINAL.indd 43 1/7/2008 01:52:19


> e que prevêem a exportação do esgoto para grandes estações de tra-
100 a 109 | Usos na orla de Riacho Grande. tamento.

110 | Alvaro Siza, Matosinhos, Piscina de Lessa. Adotamos a cota 745.00 (RN EPUSP) para o nível d’água, que é a cota
111 | Estudo para banheiros públicos. mais freqüente da represa. Para atender a demanda dos banhistas,
alargamos um faixa de praia e propusemos um pequeno pavilhão
onde haverá banheiros, vestiários públicos, lanchonetes e bares. Os
flutuantes desenham uma praia protegida e separada da Marina, que
por sua vez ganha um acesso direto da rodovia Anchieta e uma cober-
tura com vagas secas na margem.

A pista de kart será transformada em um estacionamento para ôni-


bus e automóveis, evitando assim que os carros disputem a orla com
banhistas. Os piers propostos foram pensados como praças para a
pescaria e parada dos flutuantes.

44

caderno_TFG_FINAL.indd 44 1/7/2008 01:52:26


1 GARAGEM DE BARCOS
2 ALÇA DE ACESSO ANCHIETA
3 ESTACIONAMENTO
4 PAVILHÃO DE SERVIÇOS
5 PRAIA PROTEGIDA
6 FLUTUANTES
7 DUCHAS/RIACHO
8 LAGO

45

caderno_TFG_FINAL.indd 45 1/7/2008 01:52:30


46

caderno_TFG_FINAL.indd 46 1/7/2008 01:52:36


47

caderno_TFG_FINAL.indd 47 1/7/2008 01:52:42


O PARQUE COCAIA

As margens do braço Cocaia e a península que separa este braço do


braço Bororé são hoje a parte mais densa da represa. Os loteamen-
tos “urbanos” que foram se superpondo ao longo do tempo deixaram
alguns poucos interstícios de mata ou pasto. Com exceção do tre-
cho onde passa o linhão da Eletropaulo, praticamente não há glebas
que não tenham sido desmembradas em lotes de 100m2 , 150 m2 ou
menores . Esses loteamentos são na sua grande maioria bastante
precários, mal servidos de infra-estruturas urbanas de modo geral.
Suas ruas, muitas vezes de terra, são absolutamente monótonas,
sem árvores, sombras ou qualquer outra coisa diferente das casas.
Construídas em bloco de concreto aparente no térreo, não raro as
casas chegam a 3 pavimentos, e quando não há o segundo andar em
bloco cerâmico, ali se vê as esperas para o próximo pavimento que
virá. Nas linhas de drenagem, córregos ou margens propriamente
ditas, a precariedade se acentua dada as condições absolutamente
inapropriadas de moradia.

Pensar um programa de lazer associado à represa implica uma orga-


nização das margens de forma com que as pessoas possam se apro-
ximar da água. É necessário garantir que não haja nenhuma casa
abaixo da cota 747.00 (máximo maximorum RN EPUSP) . Essa é a
cota onde implantaremos o parque na orla do braço Cocaia. O parque
tem por objetivo qualificar a chegada à represa e simultaneamente
implantar a infra-estrutura necessária para utiliza - lá como equipa-
mento de lazer. Nesse sentido, busca também recolocar a necessida-
de de investimento em melhorias urbanas neste trecho metrópole. A
escolha deste lugar para intervenção foi pensada como possibilidade
de se propor uma forma de urbanização das margens que pudesse
ser adotada em outras circunstâncias similares, que não chegam a
densidade do Cocaia, mas que se encontram em situação semelhan-
te.

O parque foi pensando com um conjunto de equipamentos próximos


às margens (banheiros públicos, quadras, anfiteatros, chuveiros, etc)
e piers que receberão ocasionalmente os equipamentos flutuantes.
Pensamos em unir, através de uma passarela flutuante, o SESC In-
terlagos à outra extremidade do braço, para melhorar o acesso a este
equipamento. O tratamento das margens prevê que todo esgoto pro-
112| Ocupações nas margens do braço Cocaia. duzido seja tratado nesta microbacia e que a implantação do parque

48

caderno_TFG_FINAL.indd 48 1/7/2008 01:52:43


preveja melhoramentos nos loteamentos para resolver o problema
da drenagem superficial e separá-lo do esgoto doméstico, possibi-
litando tratamentos distintos. Essas deverão, após tratamento, ser
encaminhadas para a represa.

O parque das margens também prevê que se criem áreas mais per-
meáveis na cota 747.00 e que tais áreas incorporem algumas glebas
ainda não loteadas ou em início de loteamento, como é o caso da
ponta da península do cocaia e a gleba próxima ao SESC Interlagos.

49

caderno_TFG_FINAL.indd 49 1/7/2008 01:52:58


>
113 a 120 | Referências de orlas nas cidades de Matosinhos, Montreaux, Berlim e
Paris.

121 e 122 | Estudos para orla do braço Cocaia.


123 e 124 | Crianças brincando no sesc interlagos, 2007.

50

caderno_TFG_FINAL.indd 50 1/7/2008 01:53:05


1 MIRANTE/FAROL/RESTAURANTE
2 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO
3 VESTIÁRIOS/SANITÁRIOS
4 PASSARELA FLUTUANTE/PLATAFORMA DE EMBARQUE
5 SESC INTERLAGOS
6 ANFITEATRO/TEATRO FLUTUANTE
7 PARQUE COCAIA
8 PARADAS FLUTUANTES
9 ÁREA DE CULTIVO

51

caderno_TFG_FINAL.indd 51 1/7/2008 01:53:10


52

caderno_TFG_FINAL.indd 52 1/7/2008 01:53:13


53

caderno_TFG_FINAL.indd 53 1/7/2008 01:53:17


54

caderno_TFG_FINAL.indd 54 1/7/2008 01:53:24


55

caderno_TFG_FINAL.indd 55 1/7/2008 01:53:31


A PARADA LOS-ANGELES-RODOANEL

O rodoanel trecho sul, com inauguração prevista para o dia 27 de


março de 2010, tem em construção duas pontes sobre a Billings: uma
no braço Bororé e outra no corpo central. Pensado no estilo mais
convencional de obra viária, não propõe nenhuma relação com a pai-
sagem da represa e proximidades.

Sem entrar no mérito do licenciamento ambiental da obra, que apre-


senta vários problemas, nos colocamos o desafio de pensar essa es-
trutura associada ao programa de lazer flutuante. Do ponto de vista
da acessibilidade, esse programa pode ser acessado das diversas
partes da metrópole pelo rodoanel. Por outro lado, deve-se pensar
que uma estrutura deste porte irá gerar mudanças no território que
devem ser pensadas e orientadas para direções desejadas.

Pensamos aqui numa parada de estrada, um balneário para os moto-


ristas que quiserem fazer um intervalo antes de seguir viagem. Essa
parada também pode ser acessada por água, através do transporte
fluvial previsto entre os pontos que escolhemos. Onde a construtora
Queiroz Galvão, concessionária deste trecho da obra, aterrou irregu-
larmente a represa, propusemos que fosse construído um estaciona-
mento para a parada de caminhões e carros que passam pelo rodoa-
nel. Nas margens, pensamos, como diretriz de ocupação, a constru-
ção de hotéis e pousadas para esses viajantes poderem ficar algum
tempo desfrutando da represa.

Na baía protegida que se formou após a construção da represa, pro-


pusemos a implantação de uma praia, que atenderia viajantes e mo-
radores do bairro parque Los Angeles, por onde passa o rodoanel.

125 | Início das obras da ponte sobre o corpo central, 2007.

56

caderno_TFG_FINAL.indd 56 1/7/2008 01:53:32


57

caderno_TFG_FINAL.indd 57 1/7/2008 01:53:48


>
126 a 131 | obras do rodoanel, 2008.

132 e 133 | Ponte Gallata, Istanbul, 2007.


134 | Estudo para parada rodoanel.

58

caderno_TFG_FINAL.indd 58 1/7/2008 01:53:56


1 PRAIA
2 PIER/FLUTUANTES
3 ESTACIONAMENTO

59

caderno_TFG_FINAL.indd 59 1/7/2008 01:54:01


60

caderno_TFG_FINAL.indd 60 1/7/2008 01:54:01


61

caderno_TFG_FINAL.indd 61 1/7/2008 01:54:02


62

caderno_TFG_FINAL.indd 62 1/7/2008 01:54:15


63

caderno_TFG_FINAL.indd 63 1/7/2008 01:54:31


PORTO PEDREIRA

A barragem e sua orla próxima são hoje o exemplo de um potencial


programa lazer da represa que precisa ser repensado . Situada próxi-
ma a linha nova da CPTM construída sobre a antiga E.F. Sorocabana,
pedreira concentra todo lixo e esgoto que é depositados nos braços
da represa. Ainda assim, as pessoas costumam passar o tempo an-
dando pela orla ou descansando no talude próximo à água.

Porta de entrada da represa, a orla próxima à barragem de pedreira


foi pensada para se constituir como uma praia-parque fluvial. Lugar
de chegada do ramal da CPTM que propusemos estender até o par-
que, será o primeiro programa a ser implantado. A linha possibilita
o acesso metropolitano ao programa e desenha a separação entre o
lote industrial da fábrica de pré-moldados e o parque da orla.

Pensamos em redesenhar a orla aterrando um trecho de talude que


está muito próximo a rua mar paulista, garantindo assim uma faixa
de praia mais generosa. Essa faixa desenvolve-se na cota 747.00 e
quando está próxima água vai descendo em uma rampa suave, como
nas praias de baixa declividade. Embora tenha sido pensada para a
cota mais freqüente da represa (745.00) a rampa permite que em pe-
ríodos de estiagem, ainda se tenha acesso a água.

Junto à praia, estão os programas complementares e de apoio: qua-


dras, vestiários, restaurantes, banheiros públicos. Na península sul,
incorporamos ao programa um grande lote que atualmente abriga
uma torre de telefonia celular. Neste lote implantamos o restaurante
panorâmico, vestiários e estacionamento. Como diretriz futura, assim
que a infra-estrutura do parque estiver pronta, pensamos em cons-
truir um lugar de estadia próximo ao restaurante.

A implantação dos piers possibilita a atracação dos flutuantes e de


embarcações de todo o tipo, consolidando o uso das águas e margens
como espaços privilegiados para o lazer metropolitano.

135 a 140 | orla próxima a barragem de Pedreira, 2008.

64

caderno_TFG_FINAL.indd 64 1/7/2008 01:54:48


65

caderno_TFG_FINAL.indd 65 1/7/2008 01:54:51


66

caderno_TFG_FINAL.indd 66 1/7/2008 01:54:56


67

caderno_TFG_FINAL.indd 67 1/7/2008 01:55:00


68

caderno_TFG_FINAL.indd 68 1/7/2008 01:55:02


69

caderno_TFG_FINAL.indd 69 1/7/2008 01:55:04


A FÁBRICA

A fábrica tem papel central na viabilização do lazer flutuante na Billin-


gs. Será através dela que se produzirão os elementos flutuantes, mas
também os equipamentos de urbanização que serão utilizados para
reorganizar às margens que irão recebê-los. É a espinha dorsal do
projeto, pois visa atender a demanda metropolitana de equipamen-
tos de lazer e urbanização. Pensada originalmente para produção de
pré-moldados pesados (os flutuantes), a fábrica pública deve funcio-
nar como um pólo de difusão da tecnologia de fabricação de pré-mol-
dados em concreto e micro-concreto de alto desempenho 3, podendo
fornecer qualificação para pequenas empresas de fabrico de peças
pré-moldadas, orientando-as na produção de pequenas peças para
urbanização e instalação de infra-estruturas urbanas. Aproveitando-
se da facilidade do transporte fluvial, a fábrica pode, através de seu
espaço, embarcar essas peças para serem usadas nas frentes de ur-
banização. A tecnologia de utilização de peças pré-moldadas neste
caso, além das vantagens econômicas na produção, na facilidade de
montagem e na qualidade final das intervenções, possibilita a chega-
da através da água a lugares de difícil acesso por terra. Dessa forma,
possibilita a implantação da infra-estrutura necessária a viabilidade
do programa de lazer nas margens, seja nos 4 pontos eleitos, seja em
menor escala nas pequenas paradas ao longo da represa.

3. O termo é aqui adotado fazendo uso da tese de Paulo Eduardo Fonseca Campos que
trouxe novos parâmetros para a pré-fabricação com argamassa armada. Por adotar
agregados miúdos, a argamassa armada já seria um micro concreto. O estudo buscou
melhorar o desempenho do material para além das características já conhecidas de
elevado desempenho estrutural e viabilidade econômica. Para tanto fez uso de super
plastificantes e sílica na massa para diminuir a porosidade da matriz em sintonia com
os avanços ocorridos na família dos concretos usuais, particularmente nos de alto
desempenho. Assim, o micro concreto de alto desempenho seria um substituto a ar-
gamassa armada Ver: CAMPOS, de Paulo Eduardo Fonseca: Da argamassa armada ao
microconcreto de alto desempenho: perspectivas de desenvolvimento para a pré-fa-
bricação leve. Tese de doutorado apresentada a FAU-USP, São Paulo: FAU-USP, 2002.

70

caderno_TFG_FINAL.indd 70 1/7/2008 01:55:14


>
141 a 144 | Fábrica de aduelas do metrô, 2008.

145 a 147 | Estudos para a cobertura da fábrica, 2008.

71

caderno_TFG_FINAL.indd 71 1/7/2008 01:55:19


72

caderno_TFG_FINAL.indd 72 1/7/2008 01:55:19


73

caderno_TFG_FINAL.indd 73 1/7/2008 01:55:20


74

caderno_TFG_FINAL.indd 74 1/7/2008 01:55:23


75

caderno_TFG_FINAL.indd 75 1/7/2008 01:55:26


76

caderno_TFG_FINAL.indd 76 1/7/2008 01:55:26


77

caderno_TFG_FINAL.indd 77 1/7/2008 01:55:27


BIBLIOGRAFIA

AB’SABER, Aziz Nacib. São Paulo: ensaios entreveros . São Paulo: EDUSP: Imprensa CAPOBIANCO, João Paulo Ribeiro. Billings 2000: ameaças e perspectivas para o maior
Oficial, 2004. reservatório de água da região metropolitana de São Paulo. São Paulo: Instituto Só-
cioambiental, 2002.
ANCONA, Ana Lúcia. Direito ambiental, direito de quem? Políticas públicas do meio
ambiente na metrópole paulista. Tese de doutoramento apresentada a FAU-USP em CTRS. Catalogo de peças. Salvador: Centro de Tecnologia da Rede SARAH, SSA, 198-
2002.
DELIJAICOV, ALexandre. Os rios e o desenho urbano da cidade : proposta de projeto
BIDERMAN, Ciro; GROESTEIN, Marta Dora; MEYER, Regina. São Paulo Metrópole. São para a orla fluvial da Grande São Paulo. Dissertação de mestrado apresentada a FAU-
Paulo: Edusp, 2004. USP, 1998.

BACELLI, Ronei. Presença da companhia city em são Paulo e a implantação do pri- ELETROPAULO. Cidade da light: edição bilingue portugues-ingles comemorativa dos
meiro bairro jardim, 1915-1940. Dissertação de mestrado apresentada a FFLCH-USP, 5.000.000 de ligações = The city of the Light Company: 1899-1930; bilingual edition
1982. portuguese-english 5.000.000 consumers commemorative.vSão Paulo: Eletropaulo,
1990.
BERARDI, Maria Helena Petrillo. Santo Amaro: história dos bairros de São Paulo. São
Paulo: Secrataria da Educação e Cultura, 1969 FERRARA, Luciana Nicolau. A Microbacia como unidade de recuperação de assenta-
mentos populares em área de proteção a manancial. 2003. Trabalho de Conclusão de
BONDUKI, Nabil, “Origens do problema da habitação popular em São Paulo” in: Espa- Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de São Paulo. Orienta-
ço e Debates, São Paulo: Neru, 1982. dor: Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins.

__________. Origens da habitação social no Brasil : arquitetura moderna, lei do inqui- FILARDO JUNIOR, Angelo Salvador. Territórios da eletricidade : a Light em São Paulo
linato e difusão da casa própria. São Paulo : Estação Liberdade/FAPESP, 2004. e o projeto da Serra de Cubatão - 1925-1950. Dissertação de mestrado apresentada a
FAU-USP ,São Paulo: FAU-USP, 1998.
BRAGA, Juliana. Tempo Livre na Móoca. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação
em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de São Paulo. Orientador: José Tavares HANAI, João Bento de. Construções de Argamassa armada : fundamentos tecnológi-
Correia de Lira. cos para projeto e execução. São Paulo : Pini, 1992.

BRUNA, Paulo Júlio Valentino. Arquitetura, industrialização e desenvolvimento. São IDOETA, Irineu. São Paulo vista do alto : 75 anos de aerofotogrametria. São Paulo :
Paulo: Editora Perspectiva, 1976. Érica, 2004.

CAMPOS, Paulo Eduardo Fonseca. Industrialização da construção e argamassa arma- IGLECIAS, Pablo. Casa Caranguejo. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em
da : perspectivas de desenvolvimento. Dissertação de mestrado apresentada a EPUSP Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de São Paulo. Orientador: Alexandre Delijai-
em 1989. cov.

__________. Da argamassa armada ao microconcreto de alto desempenho : perspec- KOURY, Ana Paula. Arquitetura construtiva: proposições para a produção material da
tivas de desenvolvimento para a pré-fabricação leve. Tese de doutorado apresentada a arquitetura contemporânea no Brasil. Tese de doutoramento apresentada a FAU-USP
FAU-USP, São Paulo: FAUUSP, 2002 em 2005.

78

caderno_TFG_FINAL.indd 78 1/7/2008 01:55:27


LABORATORIO de HABITAÇÃO e ASSENTAMENTOS HUMANOS da FAU/USP. Pesquisa SEABRA, Odette. Os meandros dos rios nos meandros do poder. Tese apresentada a
e análise de aplicação de instrumentos em planejamento urbano ambiental no mu- FFLCH-USP, São Paulo, FFLCH-USP, 1987.
nicípio de São Paulo- Produto 5-Relatório I:Caracterização de áreas de estudo para a
implantação de Parques Lineares. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universida- SZMRECSANYI, Maria Irene de Queiroz Ferreira “Lazer e consumo : espaços públicos
de de São Paulo, 2006. e semipúblicos” In: Bruhns, Heloisa Turini (*); Gutierrez, gustavo Luis (*) orgs. Repre-
sentações do lúdico: II ciclo de debates “lazer e motricidade”. Campinas: Autores e
LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da Grande São Paulo. Rio de Janeiro: Associados, pp.5-192, 2001.
Instituto Brasileiro de Geografia, Departamento de Documentação e Divulgação Geo-
gráfica e Cartográfica, 1971. TACHIBANA, Toshi Ichi. Método de avaliação do desempenho dinâmico de uma pla-
taforma semi-submersível. Tese (Livre Docência) apresentada a EPUSP, São Paulo,
LATORRACA, G. João Filgueiras Lima, Lelé. São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro Maria 1994.
Bardo, Lisboa: Editora Blau 1999.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Seção de
LIMA, João Filgueiras. Escola transitória. Brasília: MEC/CEDATE, 1984. Produção de Bases Digitais – CESAD. Fonte básica: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Secretaria de Economia e Planejamento. Sistema Cartográfico Metropolitano
MARICATO, Ermínia. Metrópole na periferia do capitalismo. São Paulo: HUCITEC, da Grande São Paulo. São Paulo, [1974]. Escala 1:10.000
1996.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Projeto Bairro Pintassilva. Trabalho apresentado pelo
MARTINS, Rodrigo. APA Bororé subsídios à implantação : praticando geografia com a grupo Calabura a disciplina Estúdio da Paisagem. Pós Graduação FAU-USP, 2001
teoria dos geossistemas. Trabalho de Graduação Individual apresentado ao Departa-
mento de Geografia da FFLCH/USP, São Paulo, 2003 orientadoresProf. Dr. Felisberto
Cavalheiro in memorian e Prof. Livre-Docente Jurandyr Luciano Sanches Ross

MORI, Klara Kaiser. A degradação do litoral paulistano: apontamentos sobre uma


questão regional (mimeo). CDHU http://www.habitacao.sp.gov.br/

OSEKI, Jorge Hajime “A fluvialidade em rios paulistas” In: Costa, Lúcia Maria Sá An- Empresa Metropolitana de águas e energia http://www.emae.com.br/
tunes, org.. Rios e paisagens urbanas em cidades brasileiras. Rio de Janeiro: Viana &
Mosley / PROURB, 2006, pp. 77-95. SEMPLA http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/

PASCHES, Maria Luisa “Bondes, terrenos e especulação” in: História e energia, São Instituto Sócioambiental www.socioambiental.org
Paulo: Eletropaulo / Departamento de Patrimônio histórico, 1995.
COHAB http://www6.prefeitura.sp.gov.br/empresas_autarquias/cohab
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei : legislação, política urbana e territórios na cidade de
São Paulo. São Paulo: FAPESP: Studio Nobel, 1997. SCAC- Fundações e estruturas pré-moldadas http://www.scac.com.br

SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. A água no olhar da História. São
Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 1999.

SÃO PAULO (Cidade). Prefeitura do Município. Secretaria de Planejamento Urbano.


Planos regionais estratégicos - PRE: município de São Paulo. Subprefeitura Capela do FILMOGRAFIA
Socorro. São Paulo: PMSP/SEMPLA, 2004.
Capela do socorro, o balneário paulistano, de Pedro Gorski. São Paulo, 2006, 26’.
Guarapiranga : recuperação urbana e ambiental no município de São Paulo. São Paulo
: Marcos Carrilho Arquitetos, 2000. São Paulo S/A, de Luis Sergio Person. São Paulo, 1965, 111’.

79

caderno_TFG_FINAL.indd 79 1/7/2008 01:55:27


CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES

CAPA: Cristiano Mascaro, Salvador, 1987. FIGS. 37 a 44: Carolina Gimenez, 2008.
FIG. 1: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in Eletropaulo, FIG. 45: ISA
1990. FIG 46 A 49: Carolina Gimenez, 2008.
FIG. 2: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in Secretaria do FIG. 50: Vôo LABHAB, 2005.
Meio Ambiente, 1999. FIG.51: LUME.
FIG. 3: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in: CAPOBIANCO, FIG.52: Carolina Gimenez, 2008.
João Paulo Ribeiro. Billings 2000: ameaças e perspectivas para o maior reservatório FIG.53: Prefeitura de São Bernardo do Campo
de água da região metropolitana de São Paulo. São Paulo: Instituto Sócioambiental, FIG.54 a 58:Carolina Gimenez, 2008.
2002. FIG.59 a 62: Dersa, 2008.
FIG. 4: Vôo Aéreo, LabHab FAU-USP, 2005. FIG.63:Carolina Gimenez, 2008.
FIG. 5: Carolina Gimenez, 2008. FIG.64:Dersa, 2008.
FIG. 6: Anônima in: IDOETA, Irineu. São Paulo vista do alto : 75 anos de aerofotogra- FIG.65:Carolina Gimenez, 2008.
metria. São Paulo : Érica, 2004. FIG.66:Dersa, 2008.
FIG. 7: Laboratório de Urbanismo da Metrópóle LUME. FIG.67 a 69: Carolina Gimenez, 2008.
FIG. 8: Carolina Gimenez, 2007. FIG.70: André bonacin, 2008.
FIG. 9: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited: Guarapiranga: re- FIG.71 a 73:Carolina Gimenez, 2008.
cuperação urbana e ambiental no município de São Paulo. São Paulo : Marcos Carrilho FIG.74:Dersa, 2008.
Arquitetos, 2000. FIG.75:Luiz Florence, 2004.
FIGS. 10-14: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in: FILARDO FIG.76:Dersa, 2008.
JUNIOR, Angelo Salvador. Territórios da eletricidade : a Light em São Paulo e o projeto FIG.77:Luiz Florence, 2004.
da Serra de Cubatão - 1925-1950. Dissertação de mestrado apresentada a FAU-USP FIG.78 e 79:Carolina Gimenez, 2008.
,São Paulo: FAU-USP, 1998. FIG.80: André bonacin, 2008.
FIG. 15: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in: Eletropaulo, FIG.81 a 83: Bento de Hanai, 1992.
1990 FIG.84: Tachibana,1994.
FIGS. 16 a 18: Filme institucional da Light acervo da Cinemateca in: Capela do socorro, FIG.85 a 91: Carolina Gimenez, 2008.
o balneário paulistano, de Pedro Gorski. FIG.92: National geographic, 2008.
FIG. 19: Autor desconhecido pela autora. FIGS. 93 a 108:Carolina Gimenez, 2008.
FIGS. 20 e 21: Carolina Gimenez, 2008. FIG.109: Nilson Kabuki, s/d.
Imagens 16 a 18: Filme Capela do socorro, o balneário paulistano, dirigido por Pedro FIGS. 110 e 111:Carolina Gimenez, 2008.
Gorski em 2007. FIG.112:Dersa, 2008.
FIGS. 25, 26 e 27: Carolina Gimenez, 2008. FIGS. 113 a 116:Carolina Gimenez, 2008.
FIG. 28 e 29: Edouard Fraipont, 2006. FIGS. 117 e 119: Juliana Gotilla
FIG. 30: Igasa geoprocessamento, 1999 in: SÃO PAULO (cidade). Prefeitura do Muni- FIGS. 118, 120 a 124: Carolina Gimenez, 2008.
cípio. Secretaria de Planejamento Urbano. Guarapiranga : recuperação urbana e am- FIG.125:Vôo SMA, 2007.
biental no município de São Paulo. São Paulo: Marcos Carrilho Arquitetos, 2000. FIGS. 126 a 147:Carolina Gimenez, 2008. -
FIG. 31: The São Paulo tramway, Light and Power Company Limited in: Eletropaulo,
1990.
FIG. 32: Ong Planeta Sustentável.
FIG. 33: Carolina Gimenez, 2008.

80

caderno_TFG_FINAL.indd 80 1/7/2008 01:55:27


81

caderno_TFG_FINAL.indd 81 1/7/2008 01:55:27

Você também pode gostar