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“NINGUÉM PODE ACHAR QUE IRÁ PLANEJAR NOSSAS

CIDADES OLHANDO DADOS, PLANILHAS, MANIPULANDO


MAQUETES OU INVENTANDO CIDADES DE SONHOS. VOCÊ
PRECISA SAIR E ANDAR…”

JANE JACOBS, 1957


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS

PROCESSOS
PROJETUAIS
PARTICIPATIVOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO À


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO COMO REQUISITO
PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ARQUITETA E URBANISTA
SOB A ORIENTAÇÃO DO PROFESSOR BRUNO LIMA

RECIFE 2016
PARA AQUELES QUE NÃO SABEM PARA ONDE VÃO,
MAS TRILHAM O CAMINHO COM ENTUSIASMO E COM O DESEJO
DE FAZER O MELHOR.
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor arquiteto e urbanista Bruno Lima, pela dis-


ponibilidade e pela leveza para permitir que esse caminho fosse trilhado de ma-
neira livre desde o início.

Aos professores e amigos da UFPE e da UCL-LOCI Bruxelas, pelos conheci-


mentos transmitidos.

À equipe do Laboratório da Paisagem, pelo cotidiano de risos e aprendi-


zado.

À equipe do escritório O Norte, pelo acolhimento e pelos ensinamentos


essenciais à minha formação.

Aos entrevistados, Lula, Mike, Natan, Rafael, André, Amanda, Isabelle, Ge-
orge e Betânia, pela disponibilidade e pelas mensagens de extrema relevância
para o trabalho.

Aos amigos Ana Ísis, Mike e Rachael, pelo incentivo e pelas sugestões cer-
teiras.

Aos amigos Thaís, Talita, Gustavo, Carol, Mayara e Matheus por participa-
rem de momentos inesquecíveis nesses anos de formação.

Aos parceiros na arquitetura e na vida Júlia, Adriel, Aline e Alê (in memo-
riam), pelas gargalhadas nos dias difíceis.

À Sil, pelo apoio e atenção.

À Gabriel, pelo companheirismo, pela confiança e pelo carinho.

À minha mãe, Irenise, ao meu pai, Willher e à minha irmã, Ilena, pelo
amor e paciência em todos os momentos.
RESUMO

No livro “Quando o ambiente é hostil” (2009) a pesquisadora Lúcia Leitão realiza um chamado aos cidadãos
e sobretudo aos arquitetos, para refletirem sobre o modo de construir e vivenciar as cidades visando descobrir
alternativas para combater à crescente negação aos espaços públicos. Nos últimos anos alguns eventos nos levam
a crer que o chamado da pesquisadora foi ouvido, uma série de intervenções participativas nos espaços públicos
estão sendo criadas pela sociedade civil e por grupos de arquitetos e artistas revelando o desejo de experimentar
a cidade como um laboratório de reflexão sobre propostas de melhorias para longo prazo. Nesse sentido, esta
investigação tem como objetivo a compreensão do papel do arquiteto em processos projetuais participativos, a
identificação das metodologias utilizadas e o entendimento das potencialidades e desafios que envolvem estes
processos. A pesquisa propõe um passeio dividido em três momentos, iniciando pela compreensão de conceitos
e práticas relativos a participação a partir dos estudos de Paulo Freire, Jeremy Till, Yanki Lee e do Grupo Morar de
Outras Maneiras (MOM – UFMG), seguido pela identificação de metodologias através da pesquisa de um breve
panorama histórico de práticas de projeto participativo. Uma segunda fase composta pela compressão do contex-
to atual da participação relacionada às intervenções do Urbanismo Tático conceituado por Mike Lydon. Finalizan-
do com a análise de três ações participativas realizadas na Região Metropolitana do Recife pelos grupos: Atelier
Vivo, A Cidade Precisa de Praias e Casa Amarela Saudável e Sustentável. A pesquisa revela que estas intervenções
participativas na cidade apresentam metodologias pautadas sobretudo na criação de simulações de cenários de
transformação que vão sendo pouco a pouco concebidas, experimentadas e questionadas pelos usuários. Esta
abordagem tem o potencial de provocar a criação de produtos de maior qualidade por estarem adequados à
vivência dos usuários e tem um impacto positivo enquanto processo, por gerar reflexões coletivas a respeito dos
espaços urbanos, possibilitando o fortalecimento da participação cidadã pela criação de afeto, identificação e
responsabilidade com os lugares. Além de promover um novo olhar sobre os produtos e processos, a participação
estabelece uma outra postura para o arquiteto, que no lugar de realizar projetos definidos e fechados, se abre
para a co-criação baseada na vivência cotidianas das cidades.

Palavras-chave: Intervenções urbanas; Papel do arquiteto; Processos projetuais participativos.


SUMÁRIO

14 COMPREENSÃO DE TERMOS
15 INTRODUÇÃO
17 O TRABALHO 19 PARTE 01:
19 1.1 O PROCESSO PROJETUAL TRADICIONAL
21 1.2 A PARTICIPAÇÃO
21 1.2.1 CONCEITUANDO A PARTICIPAÇÃO
25 1.2.2 UM OLHAR SOBRE A PARTICIPAÇÃO
29 1.3 BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA PARTICIPAÇÃO
29 1.3.1 CONTEXTO INTERNACIONAL
38 1.3.2 CONTEXTO NACIONAL
44 1.3.2 CONTEXTO REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
51 1.4 O PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO
75 PARTE 03:
75 3.1 CONSTRUINDO A ANÁLISE
78 3.2 ANÁLISE DAS INTERVENÇÕES
78 3.2.1 DESIGN BUILD NO ALTO DA SÉ - ATELIER VIVO
96 3.2.2 PRAIA DE SANTA LUZIA - A CIDADE PRECISA DE PRAIAS
112 3.2.3 HORTAS COMUNITÁRIAS - CASA AMARELA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL
127 3.3 SÍNTESE
57 PARTE 02:
57 2.1 O CONTEXTO ATUAL DA PARTICIPAÇÃO
61 2.2 O URBANISMO TÁTICO
63 2.2.1 UM OLHAR SOBRE O URBANISMO TÁTICO
64 2.3 INTERVENÇÕES PARTICIPATIVAS EM PRÁTICA
64 2.3.1 COLETIVO BRUITS DU FRIGO 139 CONSIDERAÇÕES FINAIS
68 2.3.2 COLETIVO A BATATA PRECISA DE VOCÊ 143 LISTA DE FIGURAS
71 2.4 O PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO 146 BIBLIOGRAFIA
EM INTERVENÇÕES NA CIDADE 151 ANEXOS
COMPREENSÃO DE TERMOS

ARQUITETO: USUÁRIO: FINANCIADOR: FISCAL: CONSTRUTOR:

AQUELE QUE PROJETA, AQUELE QUE VIVENCIA OS ES- AQUELE QUE CUSTEIA AS DESPE- AQUELE ENCARREGADO PELA AQUELE QUE CONSTRÓI O PRO-
IDEALIZA OU FANTASIA ALGO, PAÇOS EM SEU COTIDIANO, SAS DO PROJETO MESMO SEM SER FISCALIZAÇÃO DOS PROJETOS, JETO MANEJANDO OS MATERIAIS
SEJA UM SISTEMA, UM MÉTODO, COMPREENDENDO SEUS LIMITES USUÁRIO DIRETO OBSERVANDO O CUMPRIMENTO ATRAVÉS DE TÉCNICAS ESPECÍFI-
UM OBJETO, UM EDIFÍCIO OU UMA E POTENCIALIDADES PELA EXPE- DAS NORMAS LEGAIS CAS
CIDADE RIÊNCIA

PROCESSO PROJETUAL: PROCESSO PROJETUAL TRADICIONAL: PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO:


SEQUÊNCIA DE AÇÕES DIRECIONADAS À REALIZAÇÃO DE UM PRO- REALIZAÇÃO DE PROJETO ATRAVÉS DE MÉTODOS QUE OBJETIVAM REALIZAÇÃO DE PROJETO ATRAVÉS DE MÉTODOS QUE OBJETIVAM
JETO A CONSTRUÇÃO DE ALGO IDEALIZADO PELO ARQUITETO A CONSTRUÇÃO COLETIVA DE ALGO, COM PARTICIPAÇÃO DO AR-
QUITETO E DO USUÁRIO

16 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


INTRODUÇÃO

As inquietações acerca do tema da participação tir do intercâmbio em Bruxelas tive a oportunidade de


no processo projetual surgiram ao longo da formação aprofundar essas leituras através da disciplina “Sócio
na graduação. Durante minha pesquisa de iniciação Antropologia do Habitat” ministrada pelo professor
científica intitulada “A conservação do projeto do Par- Pierre Vanderstraeten, onde o objetivo era compreen-
que 13 de Maio: uma história fragmentada” a fase de der como se dava a apropriação dos espaços pelos usos
realização de questionários com os funcionários e com e as percepções dos usuários para gerar escolhas pro-
os usuários do parque revelou a total diferença entre jetuais mais adequadas ao modo de vida da sociedade.
o discurso dos arquitetos e a ideia de espaço que per-
meia a mente do cidadão comum. Deixadas de lado as O estímulo à associação do estudo da sociedade
compreensíveis diferenças pela existência do saber téc- e o processo de produção projetual passou a ser uma
nico, de alguma maneira todos falavam sobre a cidade, grande inspiração para mim, logo, veio a intenção de
mas os entendimentos não se cruzavam, grande parte realizar um trabalho de conclusão de curso que buscas-
dos usuários pouco refletiam sobre a qualidade fun- se a pesquisa de métodos de projeto em que o usuário
cional e estética dos espaços públicos e equipamentos fosse considerado como elemento ativo na construção
urbanos, assim como os arquitetos preocupados com a do espaço, para mim, era necessário favorecer diálogos
visão da arquitetura como obra de arte, não tinham a e reflexões, pensar um modo de fazer arquitetura mais
atenção voltada para a vivência daquele elemento no próximo das pessoas. Motivada pela busca de práticas
cotidiano. e conceitos cheguei à definição do tema geral: proces-
sos projetuais participativos.
A preocupação com a forma e a vivência dos
espaços foi trabalhada no livro “Quando o ambiente Através de leituras sobre o panorama histórico
é hostil” de autoria da professora Lúcia Leitão, chefe da participação pude informar-me sobre métodos que
do Núcleo de Estudos da Subjetividade na Arquitetura permitem aos usuários comunicar com mais clareza
(NusArq) da Universidade Federal de Pernambuco. Lei- suas necessidades e desejos, além de outras experiên-
tão (2009) disserta sobre como nossos traços culturais cias em que havia a inserção do usuário no campo da
identitários de centralismo, domesticidade e privati- concepção e da reflexão sobre as possibilidades espa-
vismo, evidenciados pelo sociólogo Gilberto Freire, in- ciais. Foi neste momento da pesquisa que tive acesso
fluenciaram na criação desta oposição entre os espaços as experiências e estudos do Grupo Morar de Outras
privados, valorizados e os espaços públicos, despreza- Maneiras da Universidade Federal de Minas Gerais,
dos e rejeitados. O livro esclarece o entendimento de onde havia uma forte reflexão sobre o papel do arqui-
que a cidade é um pouco do que nós somos e de que teto como produtor de interfaces entre o espaço e os
nós também somos influenciados pela cidade. A par- usuários, ou seja, o arquiteto passaria a ser um criador

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de instrumentos e táticas que dessem ao usuário um tribuem para o surgimento de uma relação mais afetiva
poder maior de participação na realização de projetos. entre os cidadãos e a cidade?

Ao longo das pesquisas, conheci o trabalho do A pesquisa parte da compreensão dos temas
Coletivo Bruits du Frigo através de uma palestra na Uni- através do estudo dos conceitos envolvidos, mas se de-
versidade Federal de Pernambuco e percebi a existên- bruça principalmente na investigação de experiências
cia de novas reflexões sobre metodologias projetuais práticas, tendo como foco a análise de três experiên-
participativas voltadas sobretudo para o uso dos espa- cias de intervenção participativas realizadas na Região
ços públicos. Estimulada por uma visão renovada da Metropolitana do Recife no período de 2015 à 2016. O
participação que se estende à problemática da cidade trabalho pretende compreender as metodologias ava-
como um todo, passei a ter como foco o estudo de uma liando sobretudo o papel do arquiteto, o engajamento
metodologia projetual contemporânea baseada na ex- dos usuários e a relação das pessoas com a cidade.
perimentação de cenários através de intervenções efê-
meras na cidade.

Visando o olhar para si para reformular os modos


de ação, construí essa pesquisa exploratória que busca
responder as seguintes indagações: como o arquiteto
trabalha em processos projetuais tradicionais? Quais
são os exemplos de metodologias ou projetos que bus-
caram uma relação mais próxima entre o arquiteto e os
usuários? Qual é o diferencial dessa nova metodologia
onde arquitetos e usuários se propõem a repensar a ci-
dade através da experimentação de intervenções parti-
cipativas? Quais são as reflexões que essa nova postura
na maneira de produzir a cidade proporciona? Quais os
desdobramentos futuros dessa metodologia baseada
na prototipagem de soluções? Estas intervenções con-

18 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


A primeira parte é centrada na relação dos ar- Se somou à segunda parte o conteúdo apreen-
quitetos com os usuários, sendo composta pela funda- dido como ouvinte nas palestras do Coletivo Bruits du
mentação teórica sobre a participação e compreensão Frigo e do Grupo A Batata Precisa de Você, na ocasião
das experiências práticas já realizadas por alguns ar- do Urban Thinkers Campus Recife realizado pelo INCI-
quitetos. Na participação, as reflexões de Paulo Freire, TI/ UFPE em parceria com a ONU-Habitat – Programa
Jeremy Till, Yanki Lee e do Grupo Morar de Outras Ma- das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos.
neiras (MOM – UFMG) são esplanadas. Um olhar mais
detalhado sobre as análises de Lee (2006) nos auxilia a A terceira parte é constituída pela análise dos
compreender os fatores importantes para a avaliação três casos que exploram a intervenção efêmera como
da participação. Em seguida foi objeto de estudo um método projetual participativo na Região Metropolita-
breve panorama histórico da temática da participação, na do Recife. Inicialmente foi trabalhada a configuração
experiências internacionais e nacionais foram analisa- do roteiro semi-estruturado das entrevistas realizadas
das visando compreender principalmente os contextos com os condutores ou facilitadores do processo de in-
em que ocorrem estas iniciativas, seus objetivos e as tervenção e os participantes através da interpretação
metodologias aplicadas. dos fatores colocados pelos especialistas Yanki Lee e
Mike Lydon. Além destes fatores outros elementos des-
O TRABALHO Na segunda parte a cidade passa a fazer parte do cobertos na leitura sobre as experiências práticas tam-
processo metodológico de maneira mais direta, sendo bém passaram a configurar a abordagem da análise.
repensada por arquitetos e usuários através de inter-
venções participativas. Nesta parte foi investigado o A análise parte principalmente da palavra e da
Este documento foi realizado como a narrati- memória dos envolvidos em três intervenções urbanas
momento de retomada do espaço público que deu ori-
va de um processo, onde o leitor irá acompanhar os com características distintas: a intervenção “Design
gem a uma visão renovada com relação a experiências
passos para a exploração dos temas em análise. Essa build no Alto da Sé” estruturada pela equipe Atelier
de projeto participativo. O Urbanismo Tático, também
narrativa tem relevância por contribuir com a investiga- Vivo, a intervenção “Praia de Santa Luzia”, realizada
conhecido como “urbanismo de guerrilha”, “protótipos
ção dos desdobramentos relacionados as novas expe- pelo coletivo A Cidade Precisa de Praias e a intervenção
ágeis”, “reparação da cidade”, “Urbanismo Emergente”
rimentações metodológicas para a produção dos espa- “Hortas comunitárias de Casa Amarela” desenvolvida
ou puramente táticas urbanas foi alvo de aprofunda-
ços. O trabalho busca entender a postura do arquiteto, pelo Grupo Casa Amarela Saudável e Sustentável. A
mento por representar essa nova metodologia base-
dos usuários e a relação destes com a cidade através da compreensão de cada intervenção isoladamente é su-
ada em intervenções efêmeras na cidade. Nesta fase
análise de intervençoes participativas na cidade que se cedida por uma síntese que procura encontrar as con-
foram estudados os princípios do Urbanismo Tático,
utilizam de uma metodologia que propõe a criação da sonâncias e as dissonâncias entre elas, destacando a
apontados por Mike Lydon, sócio fundador da empresa
cidade de uma maneira mais afetiva e responsável pela visão, o contexto, os procedimentos, a participação e
The Street Plans Collaborative e responsável pelo sur-
colaboração e pela criatividade. A pesquisa é constituí- os impactos sociais.
gimento da discussão sobre termo Urbanismo Tático,
da por três partes identificadas por cores distintas.
aspecto de lhe deu destaque na Bienal de Veneza de
2012.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 19


PARTE 01:
1.1 O PROCESSO PROJETUAL TRADICIONAL

Para compreender o processo projetual partici-


pativo antes é preciso ter em mente os elementos e as
interações próprias ao processo projetual tradicional,
que neste trabalho tem como recorte as construções
que são idealizadas por arquitetos.

Segundo a reportagem do Fantástico de outu-


bro de 2015 (SERRA, 2015) somente cerca de 20 % das
construções realizadas por brasileiros são feitas através
do trabalho de um arquiteto, visto que grande parte
das obras são realizadas pelo próprio usuário. Através
desse dado é possível constatar que a inserção do ar-
quiteto no mercado tradicional está relacionada a uma DE QUE ETAPAS DE PROJETO ESTAMOS FALANDO?
pequena parcela da população. Nestes processos nor- INICIATIVA:
malmente o objetivo é a construção de um projeto DECISÃO INICIAL DE REALIZAR O PROJETO
adequado as necessidades e desejos do financiador, DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES:
que pode ser também usuário. O processo tradicional FASE DE DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES, TENDO
COMO BASE A INTERPRETAÇÃO DE PROBLEMAS, POTENCIALIDA-
é marcado pela autonomia do arquiteto, que normal- DES E DESEJOS
mente controla todo o desenvolvimento do projeto.
CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES:
ETAPA DE CRIAÇÃO DO PROJETO, DEFINIÇÃO DO CONCEITO PRIN-
Visando a compreensão deste processo com CIPAL E DE CENÁRIOS COM POSSÍVEIS SOLUÇÕES

mais clareza foi construído um diagrama em croqui APROVAÇÃO:


simplificado desse tipo específico de processo projetu- FASE DE AVALIAÇÃO DAS SOLUÇÕES E DE TOMADA DE DECISÃO

al tradicional com a presença de um arquiteto. O cro- DETALHAMENTO:


qui tem como foco as fases de realização e os agentes MOMENTO EM QUE O PROJETO É DETALHADO PARA SER CONS-
TRUÍDO
envolvidos em cada fase, o que nos permite entender a
CONSTRUÇÃO:
dinâmica de construção do projeto. FASE DE MATERIALIZAÇÃO DAS IDEIAS NO TERRENO

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 21


Considerando um processo simplificado, as eta- mentado o projeto.
pas para a realização de um projeto são basicamente
sempre as mesmas. A iniciativa é a fase que pode ser O processo projetual tradicional é caracterizado
realizada por diferentes agentes, podendo ser uma de- por uma maior distância entre o arquiteto, os usuários
cisão de um arquiteto ou de um financiador, que por e a cidade. Mesmo assim, pode haver uma visão sen-
vezes é o próprio usuário. sibilizada voltada para a interpretação dos problemas
e oportunidades já que o objetivo é a configuração de
Existem casos em que o arquiteto toma a iniciati- soluções benéficas aos usuários e à cidade.
va e realiza estudos para a definição do problema e das
soluções buscando posteriormente um financiador que
possa dar viabilidade a construção de suas ideias. Em
DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL TRADICIONAL
outras situações são os financiadores que buscam os
arquitetos para a realização de projetos para determi-
nados usuários, como por exemplo, nos casos em que o
governo encomenda projetos de habitação de interes-
se social para uma determinada comunidade.

Ainda há aqueles projetos em que o usuário tam-


bém é o financiador, como em projetos residenciais por
exemplo. É neste tipo de processo projetual tradicional
em que as opiniões do usuário, são mais presentes ao
longo do processo, pois ele participa da demanda, ele
aponta o programa de necessidades e ele faz a tomada
de decisões para a aprovação do projeto. Nos outros
dois casos a participação dos usuários se restringe ao
momento de consulta de necessidades para configurar
o diagnóstico do projeto.

De maneira geral tradicionalmente, o espaço


físico é conhecido pelo arquiteto através de visitas na
presença dos usuários, através de fotos e mapas, além
de dados estudados em documentações. O entendi-
mento e a reflexão sobre a cidade se dá principalmente
a partir desses dados, em alguns poucos casos há uma
vivência mais intensa da realidade em que será imple-
Figura 1. Processo Tradicional.png
22 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
1.2 A PARTICIPAÇÃO
1.2.1 CONCEITUANDO A PARTICIPAÇÃO

A produção projetual tradicional por ser mais O arquiteto, escritor e educador Jeremy Till, che- ou mês, as rotinas podem ser sempre feitas, des-
distanciada da experiência do usuário acaba por ge- fe da Central Saint Martins e Pro Vice-Chanceler da Uni- feitas ou variadas.
rar certas vezes conflitos entre o espaço produzido e versity of the Arts London em 2012, faz uma metáfora
o modo de apropriação pela sociedade. Um dos exem- no entre a arquitetura e uma mesa de jantar para falar Sendo assim, para representar a dinâ-
plos mais simples onde podemos averiguar estes con- das tensões que envolvem a vida cotidiana e a arquite- mica do jantar, de acordo com Wigglesworth e
flitos são em parques urbanos onde são definidos os tura, uma confrontação entre sonho e realidade (WIG- Till (1998), é preciso se distanciar da imagem
caminhos e as áreas de estar levando em consideração GLESWORTH e TILL, 2001). da mesa planejada, limpa e ordenada, pois esta
aspectos compositivos, mas as linhas de desejo para a imagem é desfeita assim que a comida chega à
travessia pelo usuário muitas vezes são desfavorecidas. Juntamente com Sarah Wigglesworth ele co- mesa. A partir desse momento o tempo desven-
meça demonstrando a representação padrão de uma da a ordenação da mesa. A utilização do espa-
mesa de jantar vista em planta, é uma imagem que re- ço que é a ação de jantar destrói toda a ordem,
trata um momento de harmonia, no qual as relações como se a vida invadisse o espaço e a arquitetu-
estão intactas, na mesa os pratos e as cadeiras estão ra não pudesse acomodar o cotidiano, por não
ordenados em função do corpo humano e a geometria contemplar a nova ordem. Para ele, o registro
dita cada movimento. A questão é que esta representa- do final na refeição é uma representação mais
ção só existe na imaginação, em um mundo onde não genuína da descrição do espaço, onde são re-
existem pessoas, este tipo de representação define o conhecidos os acontecimentos e mais relevante
modo como os arquitetos sonham com o seu trabalho. ainda, são reconhecidos os desenhos que pos-
sibilitaram a ocorrência de determinadas vivên-
Wigglesworth e Till (2001) colocam que a re- cias.
presentação em arquitetura reforça as ideias de disci-
plina, ordem e controle, por convenção desenhamos
de modo a manter a clareza das ideias, baseados em
um plano simples, com geometria pura e expressões
idealizadas da realidade. Mas o que interessa é enten-
der como estes padrões de desenho são sentidos na
vivência do espaço. E dentro desta reflexão podemos
concluir que o desenho do ambiente não define impe-
rativamente os comportamentos das pessoas, mesmo
que existam rituais repetidos a cada hora, dia, semana
Figura 2. Conflito entre o design e a experiência do usuário.png Figura 3. RepresentaçõesdamesadejantarporWiggleswortheTill(2001).png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 23
Neste artigo fica clara a preocupação de refletir diálogo e da vivência estabelece um processo de cria-
sobre o modo tradicional de fazer arquitetura, asso- ção coletiva. Apesar de ser voltado para o processo pe-
ciado à diagnósticos e concepções padronizadas e nos dagógico os estudos de Freire podem ser aplicados à
leva a pensar o plano sob uma nova perspectiva, não arquitetura, nos fazendo compreender a base do signi-
somente como uma representação de objetos estáti- ficado da participação.
cos, mas como o planejamento da vida e das ações no
espaço. Sob esse ponto de vista as experiências do usu- Segundo Freire (2005) para que a participação
ário devem ser retratadas com cuidado pelo arquiteto. aconteça é necessário o envolvimento de todos desde
Foi essa visão que levou Jeremy Till à participação, na a elaboração do conteúdo programático, que deve re-
esperança de que através do processo participativo fos- tratar os interesses do grupo. O processo se inicia no
se possível fazer uma arquitetura capaz de acomodar o momento em que a população aponta temas significa-
cotidiano, uma arquitetura para a experimentação da tivos para o grupo e a partir desses temas o técnico su-
vida. gere temas que se desdobram para compor a temática
inicial, ampliando a discussão para uma dimensão des-
O significado de participação está relacionado a conhecida da população e de relevância para o técnico.
fazer parte de algo, e em se tratando de processos pro- A troca de conhecimentos entre a população e os téc-
jetuais participativos em arquitetura, tem ligação com nicos vai sendo realizada através das discussões e dos
o engajamento dos usuários no processo de produção questionamentos que surgem das temáticas, ou seja, o
do espaço, envolvendo-os na tomada de decisão, com processo parte da população e não da criação de diag-
a intensão de criar os espaços que as pessoas realmen- nósticos e propostas dos técnicos.
te desejam e necessitam. Mas a participação não se
interessa somente pela criação de produtos de maior Levando em conta o método freiriado “dialógi-
qualidade, ela tem relevância pelos seus métodos, o co” antes de se produzir lugares se produz conheci-
processo tem tanta importância quanto o produto, por mento através da construção participativa, há uma co-
levar à crítica e a reflexão em torno da ação do arquite- munhão de conhecimentos que contribui para pensar
to e em torno da experiência do usuário, empoderan- em espaços totalizantes. Para Freire (2005) o processo
do ambos pela construção de um novo conhecimento de participação ideal compreende três etapas: o auto-
num processo coletivo. conhecimento, o reconhecimento do grupo e por fim,
a síntese cultural.
Um dos estudiosos de maior referência nacional-
mente que tem reflexões relacionadas à participação O autoconhecimento seria a busca por uma
e ao empoderamento é o pedagogista e filósofo Paulo compreensão crítica da sua relação com o espaço e as
Freire. Em seu livro “A Pedagogia do Oprimido” de 2005 imagens ligadas a ele, carregadas de crenças, valores,
Freire discorre sobre o processo educativo fazendo re- imagens socialmente transmitidas e compartilhadas.
ferência a participação como caminho que através do Através da percepção de ideias compartilhadas por cer-

24 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


tas pessoas é possível conformar grupos organizados, do arquiteto que para elas deveria deixar de lado o de-
atividade que compõe a segunda etapa. Neste contexto sign de produtos para se voltar para o design de instru-
o grupo compartilha as experiências nos espaços e dis- mentos (interfaces) para processos nos quais o usuário
cute dificuldades que podem ser combatidas em con- se torna produtor do seu próprio espaço.
junto. No terceiro momento através da síntese cultural
o grupo avalia suas preferências e prioridades com o Para facilitar a concepção de espaços por pesso-
auxílio do técnico que questiona alguns preconceitos as sem treinamento específico, o MOM desenvolveu
na intenção de conciliar diversas imagens para alcançar uma ferramenta chamada Interface de Espacialidade.
o bem comum. Trata-se de um jogo de componentes leves, modulares
e encaixáveis, que pode ser montado e modificado pelo
No processo projetual este método pode ser ex- público-usuário continuamente e com grande facilida-
plorado de diversas maneiras. Na fase de diagnóstico de. Tal interface possibilita que qualquer pessoa cons-
por exemplo, podem ser explorados diferentes supor- trua e experimente espaços em escala real, conforme
tes e instrumentos, ferramentas de desenho, de discus- suas preferências e necessidades como ilustrado pela
são, de composição e de representação para construir maquete física e pelo modelo digital (BALTAZAR e KAPP,
o cenário de problemas e potencialidades de um espa- 2006).
ço. Cada novo instrumento utilizado abre alternativas
de possibilidades para contribuírem em situações di-
ferentes, gerando processos criativos. Além disso esta
abordagem propõe um processo de empoderamento
dos cidadãos. Figura 5. Maquete física ferramenta Interface de Espacialidade.png

A palavra empoderamento vem do inglês em-


powerment e significa uma aquisição de emancipação
individual e também de consciência coletiva necessária
para a superação de uma determinada dependência
social e política. Sendo assim, as pessoas passam a re-
fletir e ter um olhar crítico sobre sua realidade e sobre
seu papel social.

Com relação à inserção dos usuários na concep-


ção de projetos, o Grupo Morar de Outras Maneiras
(MOM) da Universidade Federal de Minas Gerais, li-
derado pelas pesquisadoras Ana Paula Baltazar e Silke
Kapp, também se debruçou na reflexão sobre o papel Figura 4. Maquete digital da ferramenta Interface de Espacialidade.png Figura 6. Espaço definido pela ferramenta Interface de Espacialidade.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 25


Ao longo de experimentos e workshops de estu-
do o MOM percebeu que os espaços gerados a partir
da Interface de Espacialidades podem:

1- Ser transformados em dados digitais, tornan-


do-se a base para um projeto técnico;

2- Ser usados temporariamente para lazer ou


abrigo emergencial;

3- Servir de gabarito de obra em processos de


autoconstrução;

4- Auxiliar processos pedagógicos de compreen-


são e comunicação de idéias espaciais;

5- Ser usada autonomamente por qualquer pes-


soa ou grupo para fins não previstos quando de sua
concepção.

O trabalho do MOM demonstra empiricamente


como o arquiteto pode desenvolver ferramentas e ins-
trumentos que possibilitem a participação dos usuários
na concepção dos espaços.

Para que o processo ocorra é necessário que os


técnicos tenham uma postura aberta, questionando
seus preconceitos e sua maneira de pensar os espa-
ços, construindo também novos conhecimentos em
conjunto. Os problemas mais comuns que impedem a
realização de projetos participativos são: a postura au-
toritária do técnico, que conduz os processos de deci-
são de forma a valorizar apenas seu conhecimento e o
desinteresse da população, que por desgaste físico e
emocional não se engajam inteiramente no processo.
Figura 7. Interface de Espacialidade grupo MOM – UFMG.png

26 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


1.2.2 UM OLHAR SOBRE A PARTICIPAÇÃO

A postura do técnico é um dos aspectos essen- usado pelos designers para projetar. A partir deste
ciais estudados no doutorado “Design Participation princípio ela define fatores característicos que permi-
Tactics: involving people in the design of their built en- tem localizar a ação, no campo do mundo dos usuários,
vironment” realizado em 2006 pela pesquisadora Yanki no campo do mundo dos especialistas ou entre os dois
Lee, diretora do HKDI DESIS Lab for Social Design Rese- campos, quando de fato ocorre para ela, a colaboração
arch em Hong Kong, com Master em Arquitetura pelo e a emancipação.
Royal College of Art (RCA) em Londres e PhD em design
participativo pela Hong Kong Polytechnic University. Para conduzir a análise, Lee (2006) criou uma
tabela de classificação baseada em cinco fatores que
Lee (2006) coloca que sua pesquisa surgiu da permitem localizar a intervenção. A análise de deter-
necessidade de entender a distinção entre o design minada ação é feita através da composição da tabela
“para” pessoas e o design “com” as pessoas. Este es- seguindo a classificação de acordo com cada fator, ao QUAIS SÃO OS FATORES COLOCADOS POR YANKI LEE?
tudo propôs uma reavaliação na forma tradicional de final é possível saber se aquela intervenção está mais
produção de espaços, através do estudo de táticas de relacionada ao mundo dos especialistas, ao mundo dos 1. AUTONOMIA:
projeto participativo em que ocorresse de fato a cola- usuários ou se ocorreu de fato a colaboração entre os REVELA QUEM É O CONDUTOR DO PROCESSO, QUE PODE SER
O DESIGNER, O DESIGNER COM AJUDA DO USUÁRIO, O USUÁRIO
boração. dois domínios de conhecimento. COM AJUDA DO DESIGNER OU O USUÁRIO.

2. OBJETIVOS:
Para a autora, o projeto participativo é um ca- REVELA QUAL O OBJETIVO DA AÇÃO EM FUNÇÃO DO SEU CONDU-
TOR. O OBJETIVO DE INOVAÇÃO É NORMALMENTE CONDUZIDO
minho para melhorar a relação arquiteto-usuário, uma PELO DESIGNER, O OBJETIVO DE COLABORAÇÃO É NORMALMEN-
forma de inspirar arquitetos a fazer produtos utilizáveis TE CONDUZIDO PELO DESIGNER COM A AJUDA DO USUÁRIO, O
OBJETIVO DE EMANCIPAÇÃO NORMALMENTE É CONDUZIDO PELO
e desejáveis aos usuários. Através de sua pesquisa ela USUÁRIO COM A AJUDA DO DESIGNER E O OBJETIVO DE MOTIVA-
percebeu que diferentes sociedades e objetivos geram ÇÃO É CONDUZIDO APENAS PELO USUÁRIO E VISA O ESTIMULO A
REALIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES.
diferentes metodologias e táticas de participação, o
que faz com que o termo participação tenha uma gran- 3. NÍVEIS :
REVELA O NÍVEL DO TAMANHO DO GRUPO ENVOLVIDO NO PRO-
de abrangência. JETO, PODE SER INDIVIDUAL, UM GRUPO PEQUENO OU UMA CO-
MUNIDADE.

A ênfase do trabalho de Yanki (2006) se encontra 4. ESTÁGIOS:


na criação de uma ferramenta de análise para o design REVELA O ESTÁGIO ATÉ O QUAL O PROJETO FOI DESENVOLVIDO,
PODE SER O ESTÁGIO DE CONSCIENTIZAÇÃO, PERCEPÇÃO, TOMA-
participativo. Ela se inspirou no conceito de espaço so- DA DE DECISÃO OU IMPLEMENTAÇÃO.
cial definido por Lefebvre (1970, apud LEE, 2006) no 5. ESCALAS:
qual o espaço concreto representa o espaço da vida REVELA A ESCALA DO PRODUTO GERADO NA INTERVENÇÃO, PO-
DENDO SER TER A ESCALA DE UM OBJETO, DE UM SISTEMA, DE UM
e da experiência, associado à vivência do usuário e o EDIFÍCIO OU DE UM BAIRRO.
espaço abstrato é o espaço da visão e da geometria Figura 8. Tabela de classificação dos tipos de participação por Yanki Lee.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 27


COMO FUNCIONA A TABELA DE YANKI LEE?

Figura 9. Tradução tabela Yanki Lee (2006).png


28 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Através da tabela de classificação dos tipos de ticipação comunitária, design colaborativo e design
participação desenvolvida por Lee (2006) podemos inclusivo ocorrem processos em que há uma mistura
apreender quais são os fatores mais relevantes para entre as dimensões conhecidas pelos usuários e pelos
definir os projetos nos quais a participação é realiza- arquitetos. Nestas alternativas ocorre a situação ideal
da de uma maneira mais efetiva. Para ela, os princípios em que são criadas soluções coletivas para os proble-
que tem mais influência na definição do tipo de parti- mas.
cipação são a iniciativa e o objetivo, que determinam
inclusive as metodologias que poderão ser aplicadas. O aspecto relevante do trabalho de Lee (2006) é
esta preocupação também revelada por Wigglesworth
Ela cita por exemplo a participação em processos e Till (2001) com o papel do arquiteto, para ela o arqui-
de tomada de decisão de iniciativa pública, nos quais o teto deve conhecer e investigar as diferentes maneiras
objetivo consiste em incentivar a cidadania ativa atra- possíveis de desenvolver seu trabalho, visando a utiliza-
vés de informativos sobre responsabilidades, através ção e a criação de métodos adequados à cada tipo de
de votações em possibilidades de projetos e a partir situação. Seu doutorado demonstra um plano de ação
de trabalhos voluntários. Um outro tipo de participa- para os arquitetos que se interessam em realizar pro-
ção que ela coloca é a participação comunitária que jetos participativos baseados na ferramenta de análise
normalmente é organizada de “baixo para cima” por da participação.
cidadãos comuns ou organizações sociais que realizam
atividades de desenvolvimento comunitário.

Ao analisar esses tipos de participação, Lee


(2006) concluiu que normalmente em projetos de par-

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 29


DE QUE PARTICIPAÇÃO ESTAMOS FALANDO?

Figura 10. Síntese parte 1.png


30 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
1.3 BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA PARTICIPAÇÃO

Através dos conceitos e teorias explanados po-


demos ter em mente algumas diretrizes do que a parti- 1.3.1 CONTEXTO INTERNACIONAL
cipação significa para o processo projetual. No entanto
uma busca mais intensa voltada para o entendimento
da prática da participação se faz necessária. O debate que envolve a participação ganha força
a partir de 1950 quando o caráter autoritário das in-
Por essa razão investimos numa breve investi-
tervenções modernas se mostra mais fortemente nas
gação do panorama histórico da participação que teve
grandes cidades. Os arquitetos modernistas tomados
como foco, sobretudo, compreender os objetivos do
pelas ideias do determinismo e do poder de transfor-
processo, as etapas em que ocorreram a participação
mação social do espaço, passam a projetar ambientes
e as metodologias aplicadas em cada caso. Consideran-
para uma sociedade ideal, se distanciando do enten-
do a carência de bibliografia específica voltada para a
dimento do modo de vida da época. Neste período o
descrição dos processos projetuais dos casos estuda-
usuário não era considerado como produtor do espaço,
dos, a avaliação dos três aspectos em foco foi realizada
ele era um ser passivo, que deveria apenas se adaptar
a partir da interpretação de dados sobre os projetos,
ao espaço arquitetônico pronto e acabado.
configurando como um conhecimento ainda em cons-
trução que pode vir a ser melhor investigado em pes- As críticas ao papel social do arquiteto come-
quisas futuras. çaram a ter força dentro do próprio Congresso Inter-
nacional de Arquitetura Moderna (CIAM) quando o
grupo de arquitetos Team X passaram a questionar os
princípios modernistas sobretudo com relação a pro-
dução voltada para os interesses da elite, despreo-
cupada com a identidade, com a vida comunitária ou
com a real apropriação do espaço. Apesar do debate
iniciado pelo Team X ocorrer dentro do próprio CIAM,
as críticas relacionadas ao autoritarismo dos modernis-
tas frente à participação dos usuários ganharam força
em toda a Europa, merecendo destaque o pensamento
participacionista estabelecido pelo grupo Internacional
Situacionista (IS).

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 31


CASO DE ESTUDO 1:
SITUACIONISTAS
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
A IS era formada por artistas, pensadores e ati- seu caráter ativo e direto. Através da deriva é possível
MOTIVAÇÃO vistas que pregavam a mobilização dos habitantes con- enriquecer a analise espacial e comportamental, confe-
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
tra a alienação e a passividade da sociedade. Para eles rindo maior complexidade às analises teóricas formais.
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES o meio urbano era o terreno de ação para a produção
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO: de novas formas de intervenção, suas críticas estavam O método da deriva consiste em se deixar levar
voltadas sobretudo para o urbanismo funcionalista dos pelo lugar passando rapidamente por diversas ambi-
arquitetos modernos que era visto de forma autoritá- ências através da indução de certos movimentos. Esta
ria, pela imposição de planos em contraposição à uma observação de ambiências deve ser feita de modo
construção coletiva das cidades. completo, avaliando diferentes conformações de dia
e de noite. Para fazer o contato com os moradores os
Segundo Jacques (2003, p. 19) os situacionistas pesquisadores propunham questionários com algu-
se posicionavam de forma completamente oposta aos mas perguntas relativas aos acessos, aos movimentos
modernistas na medida em que os arquitetos moder- no lugar, aos limites do bairro e aos sentimentos que
nos acreditavam que a arquitetura e o urbanismo pode- o bairro provoca. Segundos os situacionistas, a deriva
riam modificar a sociedade, enquanto os situacionistas deveria ser realizada de maneira intensa, os pesquisa-
tinham a convicção de que a própria sociedade deveria dores deveriam se entregar às solicitações do terreno
mudar a arquitetura e o urbanismo. Apesar das críticas e das pessoas que eles poderiam encontrar (JACQUES,
à radicalidade da postura situacionista, suas teorias e 2003, p. 22).
práticas são singulares e inovadoras podendo servir de
inspiração para experiências de apreensão do espaço
urbano. A essência das suas ideias está na compreen-
são da população como construtores, transformadores
e vivenciadores dos espaços.

Como legado de ordem prática os situacionistas


deixaram a técnica da deriva que é encarada como um
modo de comportamento que se difere da leitura de
fotos, mapas, estatísticas e pesquisas sociológicas por

32 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CASO DE ESTUDO 2:
PROJETO “LA MÉMÉ” – LUCIEN KROLL
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
COLABORAÇÃO

ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:


DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES E APROVAÇÃO

A investigação de métodos e práticas relaciona- METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:

das à participação foi muito estimulada neste período


de discussões, de acordo com Baltazar e Kapp (2010)
alguns jovens arquitetos europeus se envolveram nos
debates dos anos 50 e buscaram experimentar em seus
projetos abordagens participativas, ainda que de ma-
neira bem diferenciada. Arquitetos como Lucien Kroll,
Ralph Erskine, Christopher Alexander, N. Jonh Habraken
e Walter Segal tentaram inserir o usuário no processo
de concepção e construção do projeto, a ideia que per-
meia essas ações é a visão do usuário como transfor-
mador e idealizador de espaços.

Kroll, Erskine e Alexander desenvolveram pro-


jetos com participação direta dos usuários, há uma
intensa valorização de características individuais na
medida em que o projeto é personalizado para um de-
terminado usuário (BALTAZAR e KAPP, 2010). É o caso
do projeto de Kroll para a moradia estudantil La Mémé
na Universidade de Louvain na Bélgica, que contou
com a participação intensa dos estudantes através de
debates e juntos, arquiteto e comunidade, propuseram
um edifício de sete pavimentos com uma organização
fluida e dinâmica, criando espaços para interação so-
cial, apartamentos e espaços comerciais no térreo. O
projeto evitou o posicionamento regular dos pilares,
estabelecendo diferentes tamanhos, formas e posições
de espaços que ficam evidenciados através da fachada.
Figura 11. Projeto “La Mémé” Lucien Kroll.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 33
Preocupado em atender uma grande variedade
de conformações espaciais adequada aos diferentes
tipos de usuários, Habraken propõe seu método par-
ticipativo baseado em sistemas modulares com um
processo conformado por duas etapas: a primeira que
era a construção do suporte deveria ser realizada de
modo coletivo, enquanto a segunda, que é a criação
do recheio, deveria concretizar desejos individuais.
Os suportes são as partes fixas do edifício: estrutura
portante, infraestrutura, circulações, áreas coletivas,
dentre outras; e os recheios são os elementos flexíveis
como por exemplo fechamentos, pontos de luz e água,
dentre outros componentes (BALTAZAR e KAPP, 2010).

CASO DE ESTUDO 3:
TEORIA DOS SUPORTES – HABRAKEN
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
COLABORAÇÃO

ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:


CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES

METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:

Figura 12. Teoria dos suportes Habraken.png


34 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
CASO DE ESTUDO 4:
MÉTODO SEGAL – WALTER SEGAL
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
EMANCIPAÇÃO

ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:


CONSTRUÇÃO

METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO: Neste contexto, uma das experiências mais acla-
madas de design participativo ocorreu em meados
da década de 60 e foi proposta pelo arquiteto Walter
Segal. De acordo com Jones (2005) Segal definiu um
método de autoconstrução que insere o usuário na
produção do espaço através de um sistema modular
que usa madeira e outros materiais de uso cotidianos
encontrados em lojas que seriam facilmente adotados
por qualquer grupo. Ele desenvolveu um planejamen-
to que através de módulos coordena a construção que
pode ser realizada pelo usuário permitindo o aumento
ou a diminuição de certos cômodos, garantindo a fun-
cionamento com maior flexibilidade.

O método Segal foi pensado para ser de fácil ma-


nipulação pelos usuários, construído num gride de 60
cm, a construção usa porcas e parafusos, permitindo
futuras alterações e abertura de portas e janelas em
qualquer lugar. A qualidade e o baixo custo do projeto
possibilitaram a adoção do projeto para a construção
de habitações sociais no bairro de Lewisham, em Lon-
dres.
Figura 13. Construção do bairro de Lewisham pelo método Segal.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 35


As experiências citadas anteriormente têm um manter um debate constante com as comunidades en-
caráter experimental interessante por se constituírem volvidas, esclarecendo as opções de projeto e procu- CASO DE ESTUDO 5:
como propostas de pequena escala em intervenções rando diversas formas de representação para auxiliar
de caráter pontual, mas pouco a pouco a participa- na compreensão. Infelizmente, muitas vezes a cons- EXPERIÊNCIA DO SAAL
ção dos usuários passa a ser associada a realização de trução da participação foi dificultada pelo desinteresse
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
programas governamentais de provisão de moradia de dos moradores por desconhecimento ou descrença no COLABORAÇÃO
larga escala e sob esta perspectiva, passa a englobar processo.
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
uma maior complexidade na discussão da participação. DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO
Nestes processos de a participação foi explorada atra- DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO E CONSTRUÇÃO

vés de debates sobre a demanda e sobre os produtos METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:


projetuais e a partir de processos de autogestão pelos
futuros moradores em sistemas de mutirão.

Um desses programas de construção de moradia


ocorreu na década de 70 em Portugal e é conhecida
como operação do Serviço Ambulatório de Apoio Local
(SAAL). No momento de abertura política do país após
a Revolução dos Cravos em 1974 o arquiteto Nuno Por-
tas estava à frente da Secretaria de Estado de Habita-
ção e Urbanismo e procurou estabelecer um processo
para a construção de moradia apoiado na participação
dos moradores na escolha do terreno, do desenho do
projeto e na construção.

A experiência do SAAL continua sendo estudada


pelo diálogo estreito entre os arquitetos e os usuários,
onde os técnicos tinham uma postura crítica sobre o
saber profissional se colocando de modo ativo, aceitan-
do e criticando as circunstâncias da própria formação e
estimulando o envolvimento dos usuários por acreditar
que o controle das zonas degradadas cabia a própria
população (SOUZA, 2010, p. 46).

Segundo Cavalcanti (2014) para facilitar o pro-


cesso participativo os arquitetos do SAAL tentaram
Figura 14. Experiência do SAAL.png
36 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
CASO DE ESTUDO 6:
RURAL STUDIO
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
tivo está no fato de que os estudantes passam a morar
COLABORAÇÃO na região durante o período do programa, vivenciando
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
de perto o cotidiano dos clientes e criando relações
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES E APROVAÇÃO com o lugar numa proposta imersiva.
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
Todos os projetos são realizados na comunidade
de Hale County numa área de é conhecida pelas raízes
agrárias. O programa se concentra principalmente na
construção de casas conhecidas como “The 20K Home”
que devem ser feitas com $20.000, sendo $ 12.000
para materiais e US $ 8.000 para o trabalho. As pro-
postas revelam uma preocupação com a sustentabili-
dade, sendo baseadas na reciclagem e na reutilização
de materiais. Além de projetos inteiramente novos, o
Rural Studio tem investido na criação de pesquisas com
O Rural Studio surgiu em 1993 como um progra- a comunidade para o aprimoramento de casas modelo
ma educativo de design-build ou design-construção as- e para gerar propostas de reforma ou reparo no que foi
sociado a Universidade de Auburn no Texas. Seus cria- construído.
dores, D. K. Ruth e Samuel Mockbee, tinham o objetivo Figura 15. Samuel Mockbee com beneficiária do programa Rural Studio.png
de tirar os alunos da sala de aula e levá-los para uma Em 2001, após o falecimento de Samuel Mo-
experiência prática onde eles poderiam criar e execu- ckbee, Andrew Freear o sucedeu como diretor. Até
tar projetos para a comunidade carente do ocidente o momento o Rural Studio já construiu mais de 150
do Alabama, na região de Black Belt. A filosofia Rural projetos e educou mais de 600 “cidadãos arquitetos”.
Studio sugere que todos, ricos ou pobres, merece o be- Diversos programas educativos no mesmo modelo já
nefício de um bom design. foram criados baseados no Rural Studio, eles mostra-
ram o compromisso de trabalhar perto dos clientes,
A abordagem do design-build parte da realização compreendendo seus desejos e necessidades confor-
de todo o ciclo construtivo do design, onde o arquiteto mando um produto de qualidade funcional e estética
realiza desde a definição de soluções, a captação de re- num processo de valorização dos cidadãos.
cursos até a construção dos projetos. O fator participa-
Figura 16. Butterfly-house Rural Studio.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 37
Na América do Sul também ocorreram experiên- No Uruguai ocorreram as Cooperativas de Ha- lisadas pelos técnicos.
cias participativas no campo da construção de habita- bitação por Ajuda Mútua, que serviram de inspiração
ção social. Na primeira fase do concurso do Proyecto para muitas iniciativas brasileiras de mutirão autogeri- A Elemental passou a realizar o projeto através
Experimental de Vivienda (PREVI) em Lima os arquite- do. Uma particularidade crucial no caso uruguaio era o de desenho participativo, primeiramente juntos chega-
tos foram desafiados a construir projetos flexíveis, pos- fato de que a cooperativa que ganha o financiamento, ram à conclusão de que construindo as casas em lotes
sibilitando futuras expansões pelos moradores. Segun- e após a construção da casa a propriedade passa a ser unifamiliares isolados só poderiam alojar 30 famílias,
do Barros e Pina (2012, p. 13, apud OLIVEIRA, 2014, p. da cooperativa que dá ao associado o direito de uso da em edifícios geminados poderiam alojar 60 famílias,
31) o projeto de Christopher Alexander tinha alta quali- casa por tempo indeterminado, ou seja, o cooperado mas para alojar 100 famílias era necessário construir
dade pela exploração de diferentes padrões de lingua- não pode alugar ou vender a casa. Outro aspecto rele- em altura permitindo que os usuários realizassem futu-
gem arquitetônica em que a implantação, a extensão vante é a que a lei habitacional instituiu a obrigação das ras expansões se necessário. Apesar de uma família de
e as divisões internas da casa poderiam ser escolhidas cooperativas em contratar assessorias técnicas, que classe média necessitar de uma casa de aproximada-
pelo usuário dentro de um universo de possibilidades atuavam no campo jurídico, na educação cooperativa, mente 70 m² para viver com qualidade, eles só tinham
definido pelo arquiteto. no aspecto financeiro, econômico, social e também de dinheiro para construir 36 m² para cada família. Foi en-
auxílio à concepção e a gestão de projetos de arquite- tão que eles optaram por no lugar de construir uma
tura (BARAVELLI, 2006, p. 64 apud OLIVEIRA, 2014, p. casa pequena, construir metade de uma casa grande. A
32). metade de casa que deveria ser feita deveria ser aquela
CASO DE ESTUDO 7: de maior custo, que os habitantes não teriam condi-
Na atualidade a postura em relação à partici- ções de realizar individualmente.
LINGUAGEM DE PADRÕES – CHRISTOPHER ALEXANDER pação no desenho de projetos ainda vem sendo de-
senvolvida buscando novos caminhos, um dos projetos
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO: mais bem sucedidos foi o Quinta Moroy dos arquitetos
EMANCIPAÇÃO
da Elemental Arquitetura no Chile, realizado em 2004.
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
APROVAÇÃO
O desafio se constituiu em construir 100 casas para
moradores de um assentamento informal localizado no
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
centro da cidade de Iquique através do programa go-
vernamental “Vivienda Social Dinamica Sin Deuda”.

Os arquitetos optaram por manter as famílias no


mesmo terreno, mas para isso deveria gastar somen-
te 7.500 dólares por família na compra do terreno,
nas obras de infraestrutura e na construção da casa.
Segundo Alejandro Aravena (2014) após alguns estu-
dos eles decidiram que a melhor alternativa era incluir
a população no processo, dessa forma os moradores
poderiam entender as restrições e as alternativas ana-
Figura 17. Construção do projeto Quinta Monroy da Elemental Arquitetura.png
38 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
CASO DE ESTUDO 8:
PROJETO “QUINTA MONROY” – ELEMENTAL ARQUITETURA
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
Aravena coloca que no processo eles tentaram
COLABORAÇÃO compreender o poder de autoconstrução que estava
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
exposto nas favelas e assentamentos informais. Sen-
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO do assim decidiram realizar a estrutura, os banheiros,
DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO E CONSTRUÇÃO
a cozinha e as escadas enquanto as famílias ficaram
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO: responsáveis pelas outras áreas. O projeto contou com
a participação dos futuros moradores em toda sua re-
alização através de discussões explorando representa-
ções variadas do projeto e o resultado final demonstra
a total mistura entre as ideias dos arquitetos e das pes-
soas, que se completaram em todo o processo.

Figura 18. Projeto Quinta Moroy construção continuada pelos moradores.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 39


1.3.2 CONTEXTO NACIONAL

No período em que o modernismo começou a larga escala. O projeto se baseava no processo de ma-
ser questionado internacionalmente, no Brasil também nufatura, no uso de materiais baratos e na aplicação
se iniciavam as críticas à pratica da arquitetura moder- de técnicas que necessitavam de poucos recursos para
na. Vilanova Artigas que era mentor da “Escola Paulista serem realizadas. Eles acreditavam que o arquiteto de-
Moderna” passou a criticar os projetos modernos que veria favorecer a participação da população através do
eram excessivamente voltados para os interesses da canteiro, no desenvolvimento de uma estética popular
burguesia, para ele o arquiteto deveria lutar ao lado do e no consumo da arquitetura como bem material (KOU-
povo, realizando bons projetos através da interpreta- RY, 2003, p. 52).
ção e do entendimento dos desejos da população (SE-
GAWA, 2010, p. 145).

Segundo Koury (2003, p. 47) as colocações de


Artigas iniciaram um debate que teve em sequência a CASO DE ESTUDO 9:
participação dos arquitetos paulistas Sérgio Ferro, Flá-
vio Império e Rodrigo Lefévre, conhecidos por confor- REFLEXÕES SOBRE O CANTEIRO – ARQUITETURA NOVA
mar o grupo Arquitetura Nova. Este grupo teve desta-
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
que pelo enfoque ideológico e político no modo de ver EMANCIPAÇÃO
a produção arquitetônica, de acordo com Sérgio Ferro
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
o modo de produção valorizava o conhecimento técni- CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES
co do arquiteto e restringia a participação do operário, METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
que por sua vez, focado em uma única parte do pro-
cesso não compreendia a realização do todo, a crítica
dos arquitetos revelava sobretudo a monopolização do
conhecimento pelos técnicos e a setorização do traba-
lho no canteiro.

As experiências do Arquitetura Nova, na déca-


da de 60, utilizavam técnicas construtivas elementares
aplicadas pela população, empregadas em novos sis-
temas de construção que poderiam ser realizados em

40 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Com o crescimento das cidades brasileiras, as
discussões sobre a participação passaram a ser volta-
das para a temática da favela. No universo das artes
plásticas, de acordo com Pulhez (2008, p. 101) a obra
do artista plástico Hélio Oiticica demonstra seu caráter
de participação pelo entendimento da força popular
das favelas. Através do cotidiano da vida no Morro da
Mangueira no Rio de Janeiro ele apreende a habili-
dade de improviso e de reinvenção da população e a
partir desse mergulho na realidade da favela, ele passa
a questionar o papel do artista e do espectador, enca-
rando o artista como o profissional que desencadeia
experiências coletivas, estimulando a reflexão e parti-
cipação.

A prática do arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos


Santos se assemelha à investigação realizada por Oitici-
ca, o arquiteto conforma o grupo Quadra Arquitetos e Figura 19. Desenho do morador e desenho do arquiteto projeto da Comunidade Brás Pina.png
realiza assessorias técnicas envolvendo a comunidade
da favela no processo. Na segunda metade da década
de 60 desenvolveram o projeto Brás Pina que teve sua
urbanização baseada no empirismo e na relação de
CASO DE ESTUDO 10:
parceria entre o arquiteto e o morador. PROJETO “BRÁS PINA” – QUADRA ARQUITETURA
No processo, os moradores apresentavam dese- OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
nhos aos técnicos na tentativa de integrar seu modo COLABORAÇÃO

de construir a moradia ao saber acadêmico. Pulhez ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
(2008, p. 109) coloca que para Nelson, era necessário DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES E APROVAÇÃO

trabalhar com a população de modo a contribuir com a METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:


orientação de conhecimento técnicos, mas de modo a
agregar conhecimentos que não possuíam, o enrique-
cimento da experiência vinha do processo de descons-
trução e construção de ideais.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 41


CASO DE ESTUDO 11:
PARTICIPAÇÃO – ESTATUTO DA CIDADE
De acordo com Baltazar, Kapp e Lopes (2010) o como elemento crucial para a formulação, a execução OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
discurso de Jonh Turner também está relacionado à va- e o acompanhamento de planos, programas e projetos COLABORAÇÃO
lorização da favela como solução dos problemas sócio do Plano Diretor. ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
espaciais. Ele defendia a autonomia da população no DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES E APROVAÇÃO

processo de construção dos ambientes, contrastando Neste momento em termos legais a participação METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
com o modo de produção extensiva de habitações pelo deveria ser realizada através de audiências públicas,
Estado. As críticas à posição do Estado, estimularam debates, publicidade dos documentos, informações e
uma ação estratégica, que foi a retirada do governo nas acesso aos documentos. Porém, o efeito deste avanço
ações de provisão de moradia e o início de processos é pequeno diante do fato de que estas iniciativas nunca
de planejamento participativo. Infelizmente, a partici- atraíram a maioria da população. Sob o ponto de vista
pação da população era regulada restrita, e controlada prático outras alternativas de participação são um pou-
pelos técnicos. Grande parte dos processos de pla- co mais eficientes, ainda que sejam situações pontuais.
nejamento participativo reduziram a participação ao
ingresso de mão-de-obra nos mutirões em que todas
as decisões eram tomadas externamente, sem contar
com a interação dos moradores.

O período de ditadura militar que ocorreu de


1964 a 1985 causou uma interrupção na realização
de projetos participativos, visto que essa prática não
tinha nenhuma relação com a política dos dirigentes.
Somente na década de 80, com o crescimento dos mo-
vimentos populares no período de redemocratização
do país, grande parte dos discursos passam a colocar a
participação da população como o principal elemento
do governo democrático. Sendo a Constituição de 1988
um marco legal que estabeleceu diversos instrumentos
para permitir a participação popular direta na admi-
nistração pública. Através do Estatuto da Cidade, ins-
tituído em 2001, a participação é novamente colocada

42 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Segundo Oliveira (2014, p. 18) em São Paulo, a terreno pequeno e íngreme. Através do processo parti-
gestão da prefeita Luiza Erundina (1989 – 1993) conso- cipativo foi possível chegar ao programa de necessida-
lida a prática do mutirão autogerido. Neste momento des que incluía áreas verdes e um centro comunitário.
há uma mudança no controle da gestão, os mutirões
conferiam aos usuários o controle das decisões, facili- O processo foi conduzido através de conversas
tando a partilha de conhecimentos entre a população iniciais com os futuros moradores para levantar “temas
e as assessorias técnicas, os moradores definiam o pro- geradores” que surgem a partir de suas vivências de
jeto, negociavam com o governo, organizavam o can- mundo, segundo a abordagem freiriana. Normalmente
teiro, escolhiam os fornecedores e trabalhadores, além as temáticas tem relação com modos de morar, organi-
de gerir a obra. Neste contexto surgiu o coletivo Usina zação social dos grupos e com os desejos que a popula-
que realiza assessorias técnicas em projetos de habita- ção tem para o projeto. Ao longo das conversas vão se
ção popular há mais de 20 anos. desmistificando alguns valores ao mesmo tempo que
são introduzidas necessidades esquecidas pela popula-
O trabalho do USINA merece destaque por bus- ção, dessa forma o programa vai sendo construído de
car experiências territoriais alternativas, procurando maneira mais completa.
subverter a lógica do capitalismo através da experiência
espacial, social, técnica e estética contra hegemônicas.
O grupo atua principalmente junto aos movimentos so-
ciais tendo uma estrutura horizontal formada principal-
mente por arquitetos. Sua prática é focada sobretudo
no empoderamento das comunidades assistidas, não
se restringindo à entrega de moradias, mas auxiliando
os beneficiários a formarem uma visão crítica da pro-
blemática habitacional e a se posicionarem em relação
à luta pelos seus direitos (OLIVEIRA, 2014, p. 56).

O projeto Paulo Freire se localiza na cidade de Ti-


radentes em São Paulo e teve seu processo iniciado em
1999 e a construção finalizada em 2010. Neste empre-
endimento o USINA realizou o processo participativo
de mutirão autogerido juntamente com a Associação
Comunitária Paulo Freire para a provisão de habitação
para 100 famílias. O desafio inicial se deu pela neces-
sidade de construir habitações com área maior que 40
m² com orientação adequada e espaços coletivos num
Figura 20. Construção do Projeto Paulo Freire com assessoria técnica do USINA.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 43
CASO DE ESTUDO 12:
PROJETO “PAULO FREIRE” - USINA
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
EMANCIPAÇÃO

ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:


DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO
DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO E CONSTRUÇÃO

METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:

Figura 21. Mutirão do Projeto Paulo Freire com assessoria técnica do USINA.png

Visando adotar plantas de habitações maiores acordo com suas necessidades e preferências, como
que o padrão foi decidido implantar edifícios com uso sala e cozinha maiores ou sala e cozinha integradas.
de estrutura metálica, garantindo a criação de grandes
vãos e a liberação do espaço térreo com a suspensão A estrutura metálica permitiu agilizar o tempo
das unidades habitacionais. A adoção de edifícios per- de realização da obra, facilitando a execução de etapas
mitiu maior adensamento do conjunto, os edifícios têm posteriores, otimizando o trabalho dos mutirantes e
sete pavimentos com acesso pelo terceiro pavimento. trabalhadores contratados. O uso de metal na provisão
Foram contempladas diferentes configurações familia- de moradia popular significou uma quebra de paradig-
res através de quatro tipologias distintas, com área de mas, aspecto que dificultou sua aprovação e causou
aproximadamente 56m². atraso no início da obra. Posteriormente o processo foi
interrompido diversas vezes por atraso de pagamento
O emprego de uma estrutura independente em pela Prefeitura de São Paulo. No ano de 2010 a obra
relação às paredes internas abriu a possibilidade da foi finalmente concluída trazendo um sentimento de
“planta-livre” e, dentro de alguns limites, cada família vitória aos moradores que tanto lutaram pela sua re-
pôde configurar os ambientes dos apartamentos de alização.

44 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


A partir de 2000 uma série de programas gover- modalidade Entidades realiza praticamente o mesmo
namentais passa a encorajar a criação de processos papel do Programa Crédito Solidário procurando se di-
participativos principalmente para a provisão de mo- ferenciar da produção empresarial apostando na pro-
radias populares. Em 2004 foi criado o Ministério das dução habitacional auto gestionária empreendida por
cidades e em 2005 o Sistema Nacional de Habitações organizações comunitárias e movimentos populares,
de Interesse Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Ha- preconizando a participação dos futuros moradores em
bitação de Interesse social (FNHIS), elementos que todo o processo de conquista e construção das mora-
reconheceram as associações e as cooperativas como dias.
promotoras da habitação, descentralizaram os recursos
e permitiram principalmente a participação popular Entretanto, grande parte dos empreendimentos
organizada em todas as etapas do processo. O Progra- são viabilizados em áreas mal servidas de infraestrutu-
ma Crédito Solidário também foi criado em 2005, mas ra, equipamentos e acesso a empregos, consolidando
passou a funcionar efetivamente em 2007 financiando a ocupação de áreas periféricas precárias, segregadas
exclusivamente empreendimentos habitacionais auto através de grandes quadras em espaços descontínuos,
gestionários para famílias com renda até três salários. áreas livres sem uso que se tornam limites intranspo-
níveis e sistemas viários restritivos. As desigualdades
Posteriormente em 2008 o Programa de Habi- além de estarem estabelecidas no espaço físico são so-
tação de Interesse social – Ação de Apoio à Produção bretudo construídas através das distâncias sociais, nos
Social da Moradia foi aprovado no conselho Gestor do acessos desiguais e diferenciados a serviços sociais,
FNHIS para permitir aos movimentos de acessarem di- aos polos de emprego, aos equipamentos de consumo
retamente aos recursos públicos para gerir os proces- e aos centros e subcentros da cidade (SANTO AMORE,
sos de produção de moradias. Tudo caminhava para SHIMBO E RUFINO, 2015).
a elaboração de processos participativos no setor de
habitações sociais, mas com o contexto da crise eco-
nômica mundial o Ministério das Cidades teve seu pa-
pel formulador enfraquecido e numa postura de ação
imediatista o governo apostou no potencial econômico
da produção de habitação em massa e criou em 2009
o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) (SANTO
AMORE, SHIMBO E RUFINO, 2015).

O Programa Minha Casa Minha Vida que anuncia


a sua terceira fase de realização para o ano de 2016 já
foi responsável pela criação de mais de 2 milhões de
unidades habitacionais no Brasil. Dentro do PMCMV a
Figura 22. Casas construídas no Programa Minha Casa Minha Vida.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 45
1.3.2 CONTEXTO REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

A Região Metropolitana do Recife (RMR) apre- Em 1940 diante do enorme crescimento popula-
senta um histórico de lutas por acesso a habitação com cional, carência de empregos e desigualdade de renda
peculiaridades no processo de ocupação do espaço a população pobre que estava localizada em áreas de
metropolitano, destaca a pesquisadora Maria Ângela ocupação de margens de rios e morros, à margem do
Souza (2007), coordenadora do Observatório de Políti- mercado formal, começam a se articular às lutas sociais
cas Públicas e Práticas Sócio Ambientais Souza da UFPE. e criam movimentos de bairro para ter acesso à direi-
A RMR teve seu crescimento realizado sobretudo em tos básicos, como melhorias urbanas e equipamentos
aterros em áreas de maré, nas faixas litorâneas e sobre sociais (ALENCAR e SA, 2011).
as terras de antigos engenhos de açúcar que até o final
do século XIX margeavam os mangues da região.

Neste processo de expansão, as áreas planas, se-


cas, e aterradas adquiriram grande valor imobiliário e
ficaram destinadas a população de alta renda enquanto
as áreas de baixios sujeitas a inundação e terrenos de
altas declividades passaram a ter valor imobiliário mais
baixo e ficaram destinados a população de baixa renda.
Este crescimento resultou num sistema de alta desi-
gualdade no acesso ao solo e a ausência da intervenção
pública nas zonas de moradia da população mais pobre
torna mais precária as condições gerais de habitabilida-
de (SOUZA, 2007).

46 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CASO DE ESTUDO 13:
PROJETO “CAJUEIRO SECO” – ACÁCIO GIL BORSOI
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
EMANCIPAÇÃO

Um dos projetos participativos mais bem re- ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
conhecido ocorreu em Jaboatão dos Guararapes, no DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO E CONSTRUÇÃO

período de 1962 a 1964. O projeto de Cajueiro Seco METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:


realizado pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi foi desenvol-
vido através da incorporação do “saber local”, no qual o
arquiteto criou um sistema de painéis pré-moldados de
taipa que eram utilizados pelos moradores para a cons-
trução da casa através de mutirões autogeridos. Segun-
do Souza (2010, p. 310) o processo deu autonomia aos
usuários, trazendo empoderamento e estimulando a
criatividade na criação dos espaços. É possível perce-
ber que há proximidades entre a experiência desenvol-
vida por Borsoi e o método criado por Segal na medida
em que o planejamento do projeto é pensado pelo ar-
quiteto que orienta o morador, deixando o processo de
decisão e construção dos espaços para o usuário.

Em Cajueiro Seco, as peças pré-moldadas foram


desenvolvidas através do processo construtivo de tai-
pa de pau-a-pique, as divisórias e paredes externas são
padronizadas como material de suporte em painéis de
madeira e a cobertura é feita de argamassa de argila e
areia. Para Borsoi, o processo deveria ocorrer de “baixo
para cima”, os arquitetos deveriam orientar a popula-
ção para que eles pudessem desenhar sua casa e gerir
o processo. Figura 23. Pré-fabricação em taipa projeto Cajueiro Seco.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 47


As reinvindicações das associações e os diálogos de novos programas são criados e no âmbito técnico e instrumentos legais de participação popular, o PREZEIS
e organizações populares e as autoridades municipais acadêmico são realizados levantamentos dos assenta- vem sendo diluído e tendo seu espaço político substitu-
foram incentivados até o período do golpe militar em mentos de baixa renda iniciando um processo de nego- ído por outros canais de participação, como por exem-
1964. A partir deste momento, ameaçados e perse- ciação com as lideranças comunitárias. plo o Orçamento Participativo e o Programa Prefeitura
guidos pela ditadura, os movimentos passaram a ser nos Bairros (ALENCAR E SA, 2011).
apoiados por intelectuais, políticos, técnicos de órgãos Sendo assim, em Janeiro de 1983 a Prefeitura
públicos e grupos religiosos, tendo destaque a partici- do Recife sancionou a Lei 15.511 de Uso e Ocupação
pação da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de do Solo, na qual se reconhece a existência de 27 ZEIS,
Olinda e Recife liderada por Helder Câmara. Zonas Especiais de Interesse Social, constituídas por CASO DE ESTUDO 14:
assentamentos espontâneos, habitados por população PARTICIPAÇÃO - PREZEIS
Segundo Alencar e Sa (2011) na década de 1970 de baixa renda, e que localizando-se em áreas passíveis
estes movimentos alcançaram mais importância atra- de ocupação serão objetos de urbanização e regulariza- OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
vés do “Movimento Terras de Ninguém” que fomentou ção fundiária regidos por normas urbanísticas especiais MOTIVAÇÃO

a luta pela moradia e fez com que muitas entidades para evitar sua transferência para outros interesses ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
surgissem para realizar ocupações em terrenos urba- imobiliários e assegurar a permanência da população DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES E APROVAÇÃO

nos, ampliando os assentamentos populares no núcleo (DE LA MORA E MORA, 2003). Após a realização de METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
do Recife. Outro movimento de grande relevância des- reuniões com os líderes das 27 comunidades das ZEIS
tacado por De La Mora e Mora (2003) é o “Movimento foi criado o Plano de Regularização das Zonas Especiais
Teimosinho” que surgiu em 1979 e reivindicava a resis- de Interesse Social (PREZEIS) incluído na Lei Orgânica
tência da ocupação pela população de baixa renda no Municipal em 1990.
bairro de Brasília Teimosa em oposição ao projeto da
Prefeitura e do Governo do Estado que pretendia im- No caso do PREZEIS tanto De La Mora e Mora
plantar grandes hotéis, marinas e restaurantes de luxo (2003) quanto Souza (2007) destacam a participação
na área. popular como um mecanismo de gestão democrática e
de inclusão social dos excluídos da cidade, os represen-
Na segunda metade da década a política do Ban- tantes das comunidades se destacam como comunica-
co Nacional de Habitação (BNH) promove pela primeira dores dos saberes das camadas populares e são auxi-
vez uma estratégia dirigida à urbanização de assenta- liados através de assessoramento técnico nos aspectos
mentos pobres, aspecto que marca a década de 1980 institucionais do formato, composição, competências e
como um momento particular no quadro da política funcionamento dos mecanismos de gestão que asse-
habitacional da RMR (SOUZA, 2007). A Autora destaca guram o aperfeiçoamento e consolidação de sua par-
que a reformulação do BNH inicia um processo de des- ticipação.
centralização da política habitacional, envolvendo uma
maior participação da esfera local, estadual e munici- Infelizmente, mesmo com o reconhecimento
pal, na gestão dos programas. Neste período uma série do PREZEIS pelo Plano diretor da cidade como um dos

48 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CASO DE ESTUDO 15:
De acordo com os Alencar e Sa (2011) mesmo
PARTICIPAÇÃO – ORÇAMENTO PARTICIPATIVO com a existência de programas participativos o poder
público continuou sendo, na maioria dos casos, o prin-
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
EMANCIPAÇÃO cipal agente dos processos, centralizando a tomada
de decisões e a gestão das construções de habitações,
ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
APROVAÇÃO porém, passou a existir uma maior organização de
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
base nos movimentos de moradia, onde a autonomia
da população tem crescido gradualmente, além disso,
tem-se construído alianças com outros atores (ONG’S e
assessorias técnicas) o que tem influenciado positiva-
mente para viabilizar o acesso direto e mais efetivo aos
recursos públicos e a gestão de projetos.

O Orçamento Participativo (OP) foi adotado em Atualmente a Região Metropolitana de Recife


Recife a partir de 2001 e visava a realização de uma (RMR) apresenta um território de aproximadamente
gestão democrática para emancipação da população, 2.800 Km² onde se localizam 14 municípios com uma
pretendia ir além do âmbito consultivo e promover população de 3.914.317 habitantes que acordo com o
mudanças na sociedade recifense, tornando-a crítica, Censo Demográfico 2010 apresenta 23,2% de seus ha-
presente e com poder ativo. Nesse momento há uma bitantes concentrados em domicílios em aglomerados
mudança referente a visão da participação que deixa subnormais que abarcam uma grande diversidade de
de estar associada as camadas de baixa renda e se es- assentamentos irregulares, conhecidos como: favela,
tende a toda a população da cidade. Em termos meto- invasão, comunidade, vila, mocambo, palafita, entre
dológicos a participação da população no processo se outros. A região é marcada pelo 6º maior déficit habita-
dava pela realização de reuniões para a apresentação cional absoluto do país, estimado no ano de 2012 pela
do método do OP e pela votação em ações nas plená- Fundação João Pinheiro em parceria com o Ministério
rias. das Cidades em 103.861 habitações.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 49


Nos últimos anos nota-se um retorno dos pro- tacados pelas pessoas. Segundo os organizadores todo
gramas governamentais que estimulam a participação o material colhido durante as oficinas será consolidado CASO DE ESTUDO 16:
de toda a população da cidade para a criação de pro- pela a equipe técnica do projeto e contribuirá para a
jetos estratégicos, dentro deste conjunto de ações o construção de um planejamento de médio e longo pra- OFICINA DE FUTURO – RECIFE 500 ANOS
Projeto Recife 500 Anos objetiva construir um plane- zos para os próximos 22 anos.
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
jamento para a cidade que será consolidado em 2037. COLABORAÇÃO
Em sua primeira etapa participativa o projeto organizou Apesar de tentar estabelecer a participação da
em 2015 as Oficinas de Futuro do Recife, promovidas população, estes processos são marcados por uma alta ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO
pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) complexidade de ação por se desenvolverem em toda DE SOLUÇÕES E APROVAÇÃO

em parceria com a Prefeitura do Recife. a extensão da cidade. Este aspecto que acaba por difi- METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
cultar a compreensão das ações pela população, cau-
A Oficina de Futuro do Recife buscou discutir sando um envolvimento superficial. É possível também
com a população o futuro da capital tomando como notar uma maior iniciativa de participação por parte da
base as especificidades e vivências dos moradores. Fo- população de renda baixa que por seu histórico de lu-
ram organizados seis encontros, um em cada Região tas estão mais envolvidas nos processos de reinvindica-
Político Administrativa (RPA) da cidade, sendo Santo ção e de busca por melhorias.
Amaro o bairro que acolheu o encontro da RPA 1. A
metodologia do primeiro encontro foi iniciada através
de uma palestra que explanou o motivo da reunião
com os moradores. Através de uma apresentação lú-
dica e dinâmica Guilherme Cavalcanti, diretor executi-
vo da ARIES, pediu que os participantes imaginassem
e sonhassem com o Recife em 2037 e que o fizessem
pensando no seu cotidiano, nas suas atividades diárias,
como sua vida poderia ter mais qualidade através de
mudanças simples e passíveis de serem realizadas num
horizonte de 20 anos.

Em seguida os participantes foram divididos em Figura 24. Reunião da Oficina de Futuro do Recife na RPA 1.png
equipes para discutir sobre qual cidade do futuro es-
peram ter em 2037, temas como mobilidade, equipa-
mentos culturais e educativos e arborização foram des-

50 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


O Colab é uma plataforma digital que faz a li- para receberem, controlarem reclamações e soluciona-
gação entre a população e a prefeitura. A ideia surgiu rem problemas relacionados aos serviços públicos. O
diante da grande quantidade de reclamações sobre aplicativo foi criado na cidade de Recife em 2013 e a
problemas nas cidades, a respeito do trânsito, ilumina- prefeitura de Curitiba foi a primeira parceira. Em 2013, CASO DE ESTUDO 17:
ção, dentre outros aspectos nas redes sociais, que fize- ganhou o prêmio de melhor aplicativo urbano do mun-
ram com que os criadores pensassem na elaboração de do pela New Cities Foundation, mostrando o potencial APLICATIVO “COLAB”
uma plataforma específica para fazer a ligação entre a que fez com que a plataforma crescesse, sendo utiliza-
população e os órgãos de decisão sobre a cidade. da por mais de 30 prefeituras em 2016. OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
COLABORAÇÃO

A sociedade civil pode acessar através do na- A plataforma permite o contato fácil e rápido, ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO
vegador no Desktop ou pelo aplicativo em dispositi- além de ter uma abordagem mais dinâmica que ajuda a DE SOLUÇÕES E APROVAÇÃO
vos móveis e fazer postagens relacionadas com três quebrar a formalidade comum em ambientes governa- METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
eixos: fiscalização, proposição e avaliação. O eixo de mentais. Através dela a prefeitura tem a possibilidade
fiscalização é o mais acessado, nele são apontados os de resolver com inteligência e eficiência os problemas
problemas vivenciados no cotidiano, por exemplo, a que afligem a cidade, é preciso apenas compromisso
existência de ciclovias interditadas por obras, imóveis por parte dos municípios. Em Curitiba, por exemplo, o
ocupados por sem tetos e terminais de ônibus em mal Colab propicia o “Dia do Bairro”, quando várias secre-
estado. O eixo de proposição é onde os cidadãos tem a tarias se reúnem para resolver problemas de um bairro
possibilidade de fazer sugestões de ações ao poder pú- específico.
blico, como a instalação de uma rotatória em uma via
para facilitar o trânsito ou a criação de uma calçada. O
eixo de avaliação permite aos os cidadãos a análise de
serviços públicos, que vão desde a limpeza urbana até
o funcionamento de determinada escola, por exemplo.

Cada um dos eixos apresenta categorias a serem


escolhidas como por exemplo, no eixo proposição é
possível fazer sugestão sobre: cidadania, empreende-
dorismo, mobilidade urbana, tecnologia, cultura, es-
porte e lazer, saúde e bem-estar, turismo, educação,
meio-ambiente, segurança e urbanismo. Além de ter
informações sobre a sua cidade os cidadãos podem
acessar publicações referentes ao mundo todo. O Co-
lab também contém ferramentas que podem ser utili-
zadas pelas prefeituras como um sistema de ouvidoria,
Figura 25. Plataforma Colab.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 51
O QUE O PANORAMA NOS LEVA A PENSAR?

Através deste breve panorama é possível per- de participantes é de comunidade e serão discutidos
ceber que nas experiências de projeto do SAAL em projetos de grande porte, como edifícios ou bairros,
Portugal, do projeto Quinta do Moroy da Elementar percebe-se uma maior dificuldade de efetivar a partici-
Arquitetura, no projeto Paulo Freire do grupo USINA e pação. Nestas situações os cidadãos são convidados a
no projeto de Cajueiro Seco de Acácio Gil Borsoi a par- participar de um processo de grande extensão no qual
ticipação dos usuários foi mais efetiva e relevante pela eles tem pouco controle ou conhecimento. A partici-
inserção dos usuários em quatro etapas do projeto: pação acaba por se concentrar mais em alguma etapa
diagnóstico de problemas e potencialidades, concep- afetando o estágio de desenvolvimento do processo.
ção de soluções, aprovação e construção.
Se a participação se concentra no diagnóstico
Corroborando com as teorias de Yanki Lee (2006) de problemas o estágio é a conscientização, se ela se
destes quatro projetos de exemplo, os dois internacio- concentra na fase de construção o estágio é de imple-
nais têm como objetivo a colaboração e os dois nacio- mentação. Isto nos leva a concluir que em alguns pro-
nais tem como objetivo a emancipação. Logo, são nes- cessos a participação ocorre em determinadas fases do
tes projetos em que o processo foi realizado no campo projeto, mas não são efetivadas em fases de tomadas
da colaboração pela mistura entre a esfera de conheci- de decisão, aspecto que abre espaço para críticas ao
mentos dos técnicos e a esfera de conhecimento dos processo e o questionamento da sua validade enquan-
usuários. to processo participativo.

As metodologias utilizadas em cada etapa são Através do panorama também podemos com-
variadas e por vezes uma mesma metodologia pode preender que a autonomia pode ser por vezes do ar-
ser aplicada em diferentes etapas. Na lógica do que quiteto ou do usuário, em alguns momentos pode ser
aponta o Grupo MOM, o vocabulário de metodologias partilhada num processo controlado pelos dois e em
não é limitado, permitindo a cada arquiteto a adoção outros sistemas a autonomia é dividida, uma fase é de
de métodos já experimentados por outros técnicos ou autonomia do arquiteto e outra fase do projeto é de
a criação de novas abordagens e instrumentos. autonomia do usuário.

Outros princípios analisados por Yanki (2006)


também são relevantes para a compreensão da parti-
cipação no panorama. Em casos onde o nível do grupo

52 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


1.4 O PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO

A partir das leituras anteriores é possível ter em Visando garantir a participação são criadas novas
mente um registro do processo projetual participativo ferramentas e metodologias que permitem a reflexão
e suas diferenças com relação ao processo projetual e a troca de ideias entre arquiteto e usuários. Nos 17
tradicional. Os aspectos mais relevantes que destacam casos de estudo do panorama é possível interpretar
o projeto participativo são: o objetivo, a postura do ar- quais foram as atividades metodológicas utilizadas para
quiteto, o papel do usuário como especialista, a fase inserir a visão do usuário no processo, essa leitura nos
de inserção do usuário no processo e as metodologias permite ver que é possível usar estas ferramentas em
utilizadas. projetos para aproximar o arquiteto dos usuários.

Em projetos participativos o objetivo está mais Na maioria dos 17 projetos e sistemas estuda-
voltado para a vivência de um processo de qualida- dos o projesso projetual possuiu as mesmas etapas que
de, em lugar do foco na construção de um produto de compõem o processo projetual tradicional, o que faz
qualidade. Como coloca Freire (2005), nesse processo estes processos serem participativos é justamente a
deve ocorrer a construção de um novo conhecimento mudança das metodologias utilizadas para a realização
por parte do arquiteto e dos usuários. Para isso, há uma de cada etapa. Por esta razão, investimos na criação
mudança na postura do arquiteto, que deixa de contro- de um diagrama simplificado em croqui para sintetizar
lar o projeto como um todo, para dar lugar a experiên- quais foram as metodologias utilizadas em cada etapa,
cia e o conhecimento dos usuários. O usuário é enten- criando um vocabulário que pode servir para experi-
dido como especialista, na condição de vivenciador do mentações práticas no campo da participação em pro-
cotidiano, sua participação é essencial para a troca de jetos de arquitetura e urbanismo.
conhecimento e para a elaboração de um projeto que
atenda às suas necessidades, sem levar em conta uni-
camente a visão do arquiteto.

A partir dessas premissas é possível garantir a


participação dos usuários em diversas etapas do pro-
cesso projetual, como podemos constatar através dos
ensinamentos do Grupo MOM - UFMG. De acordo com
os objetivos específicos do projeto são decididas as
etapas em que os usuários irão participar.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 53


DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO

EM QUE ETAPAS DO PROCESSO PROJETUAL OS USUÁRIOS PARTICIPARAM?

Figura 26. Processo Participativo.png


54 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
QUAIS FORAM AS METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS UTILIZADAS NA ETAPA DE DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES?

Figura 27. Métodos diagnóstico.png


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 55
QUAIS FORAM AS METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS UTILIZADAS NA ETAPA DE CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES?

Figura 28. Métodos concepção.png


56 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
QUAIS FORAM AS METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS UTILIZADAS NA ETAPA DE APROVAÇÃO?

QUAIS FORAM AS METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS UTILIZADAS NA ETAPA DE CONSTRUÇÃO?

Figura 29. Métodos aprovação e construção.png


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 57
PARTE 02:
2.1 O CONTEXTO ATUAL DA PARTICIPAÇÃO

Grande parte das cidades não tem seus espaços uma base para a criação de novas práticas iniciadas de
construídos com base num planejamento participativo, “baixo para cima” pela população, que realiza mudan-
a maioria tem um planejamento urbano desenvolvido ças urbanas experimentais e graduais como caminhos
por poucos atores, que se lançam no desafio de com- para alcançar os resultados almejados.
preender todas a complexidade que envolve a confi-
guração do espaço urbano. Infelizmente, a tomada de Em uma entrevista para Safatle e Cabral (2015)
decisão no projeto de planos urbanos muitas vezes não na revista Página 22, o político e professor titular da
é alcançada pelo usuário, o que leva a consolidação de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universida-
intervenções que pouco representam os anseios da po- de de São Paulo, Nabil Bonduki, destacou que apesar
pulação. da lógica privatizadora sob a qual foram desenvolvidas
a maioria das cidades brasileiras, com a cultura de va-
Segundo Almeida e Macêdo (2015) esse tipo de lorização ao automóvel, a existência de condomínios
planejamento tradicional leva a construção de cidades fechados e edifícios murados com cercas elétricas, nos
com espaços urbanos sem memórias, sem troca, sem últimos 15 anos assistimos à uma mudança lenta que
união, sem proximidade, isto é, espaços sem relacio- vem formando outra mentalidade voltada para a cria-
namentos, individualistas e inadequadas aos usuários. ção de modelos de cidade mais sustentáveis.
Nestes locais as necessidades dos indivíduos e as rela-
ções das pessoas com o ‘lugar’ não são consideradas De acordo com Bonduki (SAFATLE e CABRAL,
no processo de idealização. 2015) a participação da juventude é intensa neste pro-
cesso pela sua predisposição para ocupar espaços pú-
No livro “Cidades para Pessoas” Jan Gehl (2013) blicos que é mais forte do que para as outras faixas etá-
destaca a necessidade de mudança na forma de reali- rias. Segundo ele, a juventude já não cabe na casa dos
zar o planejamento das cidades, em vez de planejar a pais, mas ao mesmo tempo não tem renda suficiente
disposição dos edifícios como se fossem vistos da jane- para ter sua própria casa e por esta razão tem maior
la do avião é necessário projetar olhando os edifícios tendência de ir para a rua. Também está numa idade
através da rua, tendo em vista a escala humana. O pen- de intensa sociabilidade, de experimentação, e conhe-
samento de Gehl se inicia na investigação do cotidiano cimento de novas pessoas, logo, se conformam coleti-
das pessoas, passando para a definição dos espaços e vos culturais, para se dedicar a criação, desde a banda
dos edifícios que os delimitam, essa metodologia de de garagem ao áudio-visual. Um aspecto que auxilia na
planejamento centrada no estudo da vida se tornou utilização dos espaços públicos é a grande variedade de

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 59


dispositivos móveis, como o laptop, o tablet e o celular, tos para criar espaços de convivência, sociabilidade e
que permitem que as pessoas se conectem estando em reivindicar por mudanças nos serviços e nos espaços
qualquer lugar. públicos. O grande momento de impacto que revela
estas questões foi o Movimento Passe Livre (MPL) que
O professor de planejamento urbano, coorde- ocorreu em junho de 2013, mas já vinha sendo formu-
nador do Laboratório de Habitação e Assentamentos lado anos antes, que defendia a adoção de tarifa zero
Urbanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da para os transportes coletivos. A visibilidade do MPL foi
Universidade de São Paulo (FAU/USP) João Sette Whi- alcançada através de protestos em São Paulo, mas logo
taker, em entrevista à Cabral (2015) na revista Página se estendeu para todo o país gerando uma onda de
22, destaca, assim como Bonduki, a participação dos manifestações em diversas cidades, trazendo à tona, a
jovens da iniciativa de novos movimentos e interven- prática da reivindicação de transformações através de
ções urbanas. Ele avalia, que a pressão por participação passeatas na rua.
na construção de uma cidade melhor não vem mais das
classes populares, como nos anos 1960 e 1970, mas
sim de jovens de classe média alta, que através de ins-
tituições de ensino superior tiveram a possibilidade de
realizar intercâmbios em cidades do exterior e passam
a cobrar pela melhoria da qualidade de vida no Brasil.

Em conformidade com o que aponta Whitaker, a


inspiração para a ocupação da cidade e a reivindicação
por melhorias mais profundas no Brasil surgiram atra-
vés de inspirações internacionais. Uma série de movi-
mentos de revolta contra a corrupção, a desigualdade,
a tirania e os mercados financeiros, como a Primavera
Árabe, o protesto Occupy Wall Street e os protestos
dos Indignados espanhóis foram episódios ocorridos a
partir de 2010 que mostraram a mobilização da socie-
dade em torno de problemas enfrentados em todo o
mundo, que aos poucos foram incentivando manifesta-
ções em diversos países.

No Brasil, o rebatimento das ideias de ocupação


da cidade por movimentos sociais e da livre circula-
ção passa a estar associada a uma série de movimen-
Figura 30. Movimento Passe Livre 2013.png
60 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Algumas das manifestações e intervenções, se-
gundo Whitaker (CABRAL, 2015), tem um viés mais eli-
tista, mas outras nem tanto, e dessa maneira há uma
junção das novas reivindicações com outras reivindica-
ções populares mais antigas, como os movimentos por
moradia, saúde, saneamento básico, pela educação,
dentre outros. Para ele, essa pressão é positiva por ge-
rar reflexão, conscientização e discussões em torno da
cidade, ele acredita que com a continuação deste tipo
de mentalidade, haverá grandes diferenças em 10 ou
15 anos.

Para Nabil (SAFATLE e CABRAL, 2015), estas ocu-


pações, manifestações e intervenções no espaço públi-
co ainda não se configuram como um Novo Urbanismo,
mas demonstram uma nova cultura urbana que vem se
implantando, na busca de valorização ao espaço públi-
co, de priorização ao transporte coletivo e ao transpor-
te não motorizado, de incentivo a criação de fachadas
ativas (abertos as calçadas, para gerar ambientes de
convivência e dinâmica).

Para alcançar estas mudanças em profundidade,


Nabil acredita que ainda há um longo caminho pela
frente, visto que as visões ainda estão e conflito e exis-
tem movimentos contra estas iniciativas. Figura 31. Movimento Ocupe Estelita.png

No cenário recifense, o movimento ocupe teve pesquisadora Lúcia Veras, membro do Laboratório da
como lugar de ação o Cais José Estelita, terreno locali- Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco e
zado no centro da cidade numa antiga área pública fer- autora da tese de doutorado “Paisagem-Postal: A ima-
roviária de frente de água. O Movimento Ocupe Estelita gem e a palavra na compreensão de um Recife urbano”
surgiu em 2008 pela revolta diante da possibilidade de tese premiada em 2015 pela CAPES como melhor tese
implementação de um projeto imobiliário que preten- da área de Planejamento Urbano e Regional/ Demogra-
de construir 12 torres no terreno do Cais, destruindo fia.
uma paisagem-postal da cidade, que foi estudada pela

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 61


A ocupação efetiva do terreno se iniciou em comum. As ações revelam a busca por melhores con-
2014 com o início da destruição dos galpões existentes dições de vida que tem levado os cidadãos à desenvol-
no terreno para a construção das torres. A população verem suas próprias intervenções nas cidades, focadas
além de se apropriar simbólica e fisicamente do lugar, sobretudo na melhoria dos espaços utilizados em seu
gerou uma serie de discussões e debates em torno do cotidiano.
tema dos processos de decisão tomados pelo governo
para definir o futuro da cidade. A ideia principal é trazer a escala humana da ci-
dade, abrindo espaço para os pedrestres e bicicletas,
No artigo “Ocupe Estelita e o novo ativismo ur- construindo parques e praças, melhorando o transpor-
bano” escrito em 2015 a urbanista e professora da Fa- te coletivo, espalhando bancos pelas calçadas, convi-
culdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade dando as pessoas para ocuparem os espaços públicos
de São Paulo, Raquel Rolnik comenta a questão crucial existentes com mais intimidade e afeto. Este ativismo
que envolve este tipo de urbanismo especulativo, no urbano revela o desejo das pessoas de viverem em ci-
qual não são as necessidades dos habitantes nem seus dade voltadas para as pessoas, mas sem colocar tudo
desejos que determinam o destino dos lugares, mas abaixo, elas tentam transformar a cidade através de
sim as expectativas dos investidores em relação a pos- processos contemporâneos de ressignificação dos es-
síveis retornos financeiros que as áreas podem render paços públicos.
no futuro.
São iniciativas articuladas em rede que buscam
Segundo Rolnik (2015) o movimento foi deixan- dar novos significados ao território urbano a partir
do claro quais eram as necessidades e os desejos para de intervenções temporárias, eventos organizados de
o lugar através da vivência, da realização de feiras, de- forma colaborativa ou práticas que exploram a experi-
bates, workshops, shows, encontros e instalações ar- ência sensível do espaço. Diversos métodos e termino-
tísticas que foram atraindo cada vez mais moradores logias são associadas a este tipo de ação cidadã no es-
do Recife e da região para “viver” o Estelita, aproprian- paço urbano, todas elas têm relação com a construção
do-se do local, as pessoas foram transformando-o em do empoderamento do cidadão e com a participação
área pública de fato. E este afeto pelo espaço serviu de todos para a elaboração de novos conhecimentos,
como estímulo para o crescimento de outras ações de através deste trabalho investigamos a abordagem do
ocupação e intervenção coletiva no espaço urbano. chamado Urbanismo Tático.

A partir dessas intervenções o protagonismo


individual ganhou ânimo renovado para ser explorado
em iniciativas de inteligência coletiva, onde um cole-
tivo se reúne para trocar seus conhecimentos e com-
petências individuais para reelaborá-los em benefício

62 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


2.2 O URBANISMO TÁTICO

O termo Urbanismo Tático, segundo Steffens demonstrar um interesse pela reconstrução e pela me- 2- Esta forma de fazer a cidade não requer ne-
e Vergara (2013), foi registrado pela primeira vez em lhoria dos bairros em que viviam. Além disso, a cultura cessariamente de urbanistas, podendo ser construída
1996 para designar um protótipo realizado em curto de compartilhamento de informações via internet per- pela iniciativa de grupos de pessoas empoderadas
prazo que pode trazer informações potenciais para a mitiu a difusão de experiências e práticas de interven-
criação de um planejamento de longo prazo. Se consti- ção urbana. 3- O desafio do urbanismo tático na América La-
tui como uma nova metodologia de planejamento que tina está em reconhecer o valor de ações informais no
tem como base a construção da cidade a partir de in- As práticas são realizadas a partir de operações espaço público e apoiá-lo através de políticas públicas
tervenções locais que permitam uma reflexão do con- táticas que reprogramam e reativam os usos dos es- urbanas inclusivas
texto global. paços urbanos, o termo tático é utilizado em alusão à
uma manobra de guerra, define-se por uma ação estru-
A metodologia é voltada sobretudo para o inte- turada com um objetivo singular e de curto prazo. Estas
resse do usuário, ela pode ser estruturada e realizada micro intervenções urbanas acabam por questionar o
pela sociedade civil assim como pode ser uma iniciati- papel do arquiteto, que passa a enxergar os problemas
va de organizações sem fins lucrativos ou instituições urbanos como chances para ação criando intervenções
governamentais que querem testar ideias e promover na escala do bairro, utilizando os recursos locais atra-
mudanças a curto prazo. vés de investigações experimentais (ROSA e SOBRAL,
2012).
Apesar de ter sua nomenclatura estabelecida
na década de 90, no livro “Urbanismo Tático 2” Mike De acordo com Vergara (2013) os projetos de
Lydon revela programas e iniciativas relacionadas as urbanismo tático experimentam ações de curto prazo
propostas de intervenção urbana nos anos de 1914 em para pôr à prova a viabilidade da criação de mudan-
Nova York e em 1950 em Londres. Segundo Lydon, a ças de longo prazo, e para gerar a consciência de que é Figura 32. Urbanismo Tático em São Paulo - Grupo Basurama.png
partir de 2008 o contexto de vida nos Estados Unidos possível melhorar a vida nas cidades. Ao oferecer estes
influenciou o crescimento destas iniciativas, o que fez projetos como prova de possibilidades, as cidades e os
com que o termo Urbanismo Tático viesse à tona. cidadãos parecem ter encontrado uma maneira mais
rápida e inteligente para atrair a intervenção neces-
Mike Lydon (2012) avalia que a grande recessão sária para suas comunidades. Ele destaca três pontos
pós 2008 provocou uma desaceleração no crescimen- importantes do urbanismo tático para as cidades lati-
to norte-americano e influenciou os cidadãos a assu- no-americanas:
mirem o protagonismo e a procurarem concentrar es-
forços em iniciativas menores com mais potencial de 1- O urbanismo tático pode ser entendido como
mudança. Neste momento, muitos jovens americanos um protótipo de curto prazo que pode dotar de infor-
passaram a viver em bairros degradados e passaram a mação necessárias ao planejamento à longo prazo
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 63
Estas intervenções urbanas propõem a combi- forma simples e com poucos recursos, as ações suge-
nação entre ações cotidianas, rápidas e de baixo custo rem usos alternativos e com frequência inesperados,
com planejamento à longo prazo como fórmulas efica- nos quais a participação do usuário funciona na fase
zes para a construção da cidade. Não só como ferra- de concepção, montagem e na fase de teste de uso do
menta de validação no presente das ideias para longo espaço.
prazo, mas também como meios para articulação e
ativação da sociedade sobre temas relevantes que tem Normalmente são criadas intervenções espon-
rebatimento na qualidade dos espaços urbanos. tâneas ou arquiteturas efêmeras, tais iniciativas envol-
vem projetos de agricultura urbana, hortas coletivas,
Tanto por sua simplicidade, como pela agilidade, cinemas a céu aberto, praças, parques, playgrounds,
uma das virtudes do urbanismo tático é sua lógica de espaços de cultura e prática esportiva, salas de leitura,
“aprender fazendo”, estas ações por mais simples que vendedores ambulantes, feiras livres. Com frequência
sejam, incentivam de alguma forma as pessoas a se ativam espaços vazios, permitindo uma leitura da cida-
organizar, tomar decisões e empoderar-se uns aos ou- de que revela o potencial de espaços até então desa-
tros, transformando os cidadãos comuns em agentes e creditados.
vivenciadores ativos do desenvolvimento de seus bair-
ros. Desta forma, o Urbanismo Tático pode ser encara-
do como um instrumento para eliminar barreiras que
impedem as pessoas de desenvolver suas capacidades,
como por exemplo, a desconfiança na classe política,
a falta de envolvimento cidadão, ou os problemas am-
bientais, econômicos e sociais enfrentados no dia-a-dia
(STEFFENS e VERGARA, 2013).

Myke Lydon (2012) ressalta que algumas inter-


venções mesmo sendo simples tem um alto poder de
argumentação e servem para alertar as autoridades
públicas das necessidades da população. Em Baltimo-
re, Maryland, uma faixa de pedestres foi pintada pela
população ilegalmente, o que fez os governantes ava-
liarem a situação do bairro, decidindo, por fim, pela
permanência da faixa de pedestres.

Diversos coletivos têm mostrado a capacidade


de enfrentar a complexidade destas intervenções de
Figura 33. “Intersection Repair” por Mark Lakeman em Portland.png
64 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
2.2.1 UM OLHAR SOBRE O URBANISMO TÁTICO

Visando analisar algumas intervenções urbanas


sob o ponto de vista da metodologia do Urbanismo QUAIS SÃO OS FATORES COLOCADOS POR MIKE LYDON?
Tático, foram aprofundados os estudos de Lydon so-
1- VISÃO:
bre os sete padrões ou características que definem as AS INTERVENÇÕES SÃO REALIZADAS COMO PARTES DE PROCESSO
intervenções colocados por Lydon no vídeo “Tactical DE LONGO PRAZO, QUE TEM UM OBJETIVO MAIOR.

Urbanism Xpo 12” para o CityWorks em 2012 e em suas 2- CONTEXTO:


publicações sobre Urbanismo Tático. AS INTERVENÇÕES SÃO FEITAS DE MODO A OFERECER SOLUÇÕES
PARA O CONTEXTO LOCAL, APROXIMANDO-SE DAS NECESSIDADES
DA POPULAÇÃO.
A construção desses padrões foi realizada atra- 3- AGILIDADE:
vés da análise de intervenções que apresentavam ca- AS INTERVENÇÕES SÃO REALIZADAS A PARTIR DE UM COMPROMIS-
SO DE CURTO PRAZO COM PERSPECTIVAS REALISTAS.
racterísticas semelhantes e tinham como objetivo a
realização de intervenções de curto prazo e de baixo 4- VALOR:
AS INTERVENÇÕES ASSUMEM PEQUENOS RISCOS COM POSSIBILIDA-
custo visando a criação de mudanças de longo prazo. DES DE GRANDES RECOMPENSAS.

5- COMUNIDADE:
Os pontos destacados por Mike Lydon permitem AS INTERVENÇÕES PROCURAM ESTABELECER O DESENVOLVIMEN-
a avaliação mais precisa das características que devem TO DO CAPITAL SOCIAL, A CONSTRUÇÃO DA CAPACIDADE DE OR-
GANIZAÇÃO E O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE LOCAL.
estar presentes nas intervenções analisadas para que
estas se configurem como novas táticas urbanas. As 6- PROCEDIMENTO:
AS INTERVENÇÕES UTILIZAM A CIDADE COMO LABORATÓRIO DE
possibilidades de participação efetiva nas táticas de EXPERIMENTAÇÃO.
intervenção ficam claras através da sua abordagem de 7- LEGALIDADE:
caráter simples, associado ao contexto local, com obje- AS INTERVENÇÕES TÊM GRAUS VARIADOS DE FORMALIZAÇÃO, PO-
DENDO SER SANCIONADAS, QUANDO APROVADAS POR ALGUMA
tivos realistas realizados numa logística rápida de baixo AUTORIDADE; NÃO SANCIONADAS, QUANDO NÃO SÃO LEGALI-
custo, além disso, uma atenção especial é dada a busca ZADAS OU APROVADAS POR AUTORIDADES E SEMI-SANCIONADAS,
QUANDO ESTÁ ENTRE AS FORMAS NÃO SANCIONADAS E SANCIO-
pelo desenvolvimento do capital social, ponto que afir- NADAS POR NÃO SER RADICAL A PONTO DE SER ILEGAL, MAS TAM-
ma a natureza participativa das intervenções. BÉM NÃO APRESENTAR UMA AUTORIZAÇÃO CLARA.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 65


2.3 INTERVENÇÕES PARTICIPATIVAS EM PRÁTICA

Para entender como acontecem na prática as


intervenções que se baseiam na metodologia do Ur- 2.3.1 COLETIVO BRUITS DU FRIGO
banismo Tático passamos ao estudo de dois grupos de
referência, um internacional e outro nacional.
Em uma palestra realizada na Universidade Fe- nhecimento dos moradores, buscando a participação
Muitos outros grupos que realizam experiências
deral de Pernambuco em outubro de 2015 o coletivo no processo de descoberta de demandas e sobretudo
urbanas de caráter participativo poderiam compor esta
francês “Bruits du Frigo” relatou sua prática de trabalho no momento da construção.
parte da pesquisa, dentre eles: o coletivo Basurama, o
que mistura território, arte e população, tendo como
grupo Lotes Vagos, o coletivo Poró, o grupo Lab Rua, As demandas por projetos normalmente surgem
foco a proposta de formas alternativas de imaginar e
dentre outros. A escolha por estes dois grupos se fez de grupos organizados da sociedade ou do próprio co-
de fabricar o cotidiano, associando diferentes pessoas.
pelo desejo de manter a narrativa do percurso, visto letivo que decide intervir em alguma área. Para facilitar
que os dois grupos estiveram em Recife durante a pes- O coletivo surgiu na cidade de Bordeaux em o conhecimento e o entrosamento com a comunidade
quisa e me deram a possibilidade de conhecer seu tra- 1997 pela iniciativa de jovens estudantes que se pre- eles realizam as mais diversas experiências, para eles o
balho de perto. ocupavam com o fato do ensino da arquitetura estar processo de encontro com a população deve ser infor-
distante da realidade da vida cotidiana na cidade. Cin- mal, despido de todo o caráter técnico e profissional,
co estudantes tiveram a ideia de conformar um coleti- deve-se estabelecer um contato através de uma ativi-
vo associando pessoas do campo da arquitetura e das dade mais lúdica, como um jantar por exemplo.
artes plásticas para realizarem experiências no âmbito
dos espaços públicos, compreendendo de perto como A partir dos primeiros contatos são realizadas
a população vivencia estes lugares e trabalhando com reuniões, oficinas, e mutirões coletivos nos quais os
a sociedade em prol da construção de vivências e inter- moradores são peça-chave. Um dos membros do cole-
venções coletivas. tivo, Yvan Detraz relatou que em uma das intervenções
eles chegaram ao terreno com todos os materiais para
Para os integrantes do grupo o projeto de arqui- construir a intervenção sem nunca ter feito contato
tetura e urbanismo surge como um pretexto para in- com os moradores, dois dias depois todos já sabiam
centivar as pessoas a se indagarem e refletirem sobre o porque eles estavam ali e estavam envolvidos para
espaço, eles são ferramentas para que a sociedade pos- participar da experiência. Em outros projetos, Detraz
sa agir, reivindicar e construir suas histórias na cidade. relatou que a necessidade de mergulhar no cotidiano
Considerando esta visão sobre o papel do arquiteto, o das pessoas era tão grande, que integrantes do grupo
coletivo estrutura suas ações com base no intenso co- passaram a morar no bairro do local de intervenção.

66 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


A participação é abarcada de diferentes manei-
ras pelo coletivo. No projeto “Le jardin du paradis vert”
por exemplo, o grupo foi convidado pelo centro sócio
cultural “Le perduis” na cidade de La Rochelle para in-
tervir numa área de jardim e horta afim de conceber o
paisagismo e adicionar novos possíveis usos. A partici-
pação se deu através de workshops com jardineiros e
com os usuários do centro para determinar os usos e os
desejos e num segundo momento ocorreu o mutirão
participativo para a realização da obra.

Através de quatro projetos de pequena escala


o coletivo pode realizar o desejo do centro que já vi-
nha reivindicando a construção dessa estrutura há dez
anos para o prefeito. Essa proposta apresenta um dos
métodos de ação do grupo que se constitui em primei-
ramente construir o projeto e planejar as instalações
de infraestrutura, mesmo que estas ainda não tenham Figura 34. Confraternização na realização do projeto “Le jardin du paradis vert”.png
sido fornecidas pelo governo, para que depois os usuá-
rios possam cobrar do poder público a regularização e
a legalização do projeto.

As estruturas construídas foram: uma pérgola


com espaço coletivo central para acolher 40 pessoas
com uma cozinha, um vestiário e espaços de armário;
uma creche para acolher as mães e as crianças de todo
o bairro; um salão para os jovens com espaço para des-
cansar e repousar e micro salões pensados como pe-
quenos módulos próximos à horta para os jardineiros.

Figura 35. Projeto “Le jardin du paradis vert” Bruit du Frigo.png


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 67
No projeto “Poïpoïgrotte” em Lyon o coletivo
criou um espaço de expressão onde os visitantes são
artistas, o espaço foi idealizado como uma gruta pré-
-histórica onde as pessoas são convidadas a deixar seu
registro sob forma de desenho ou texto nas paredes
deixando livre sua imaginação.

Nesta intervenção a participação da população


foi estimulada num segundo momento como uma ex-
tensão do processo de construção do projeto as pesso-
as puderam deixar sua reflexão do que elas gostariam
de mostrar para as outras gerações, fosse uma ideia,
um lugar, uma receita, uma paisagem, um sonho, um
poema, uma história ou qualquer outra marca.

A intervenção de caráter efêmero durou 1 mês


e ficou aberta durante o período da manhã e da tarde,
permitindo ao visitante a intensa apropriação do es-
paço. É interessante verificar a adesão da sociedade a
proposta inusitada do coletivo.

Figura 36. Antes e depois do projeto “Poïpoïgrotte” Bruit du Frigo.png


68 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
CASO DE ESTUDO 18:
O caráter experimental das propostas coloca-
das pelo coletivo guarda relação com os princípios da BRUITS DU FRIGO
metodologia utilizada no urbanismo tático. O Bruits du
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
Frigo busca a criação de cenários diferenciados para os COLABORAÇÃO
lugares que possam surgir através do encontro com as
PROCEDIMENTO:
pessoas que vivem aquele espaço em seu cotidiano. CIDADE COMO LABORATÓRIO
Eles trabalham com a possibilidade de testar soluções, ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:
realizando-as de maneira prática, de baixo custo e em DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO, PROTOTIPAGEM E EXPERIMENTAÇÃO
escala local. METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:

O fato do grupo nem sempre realizarem projetos


no espaço urbano demonstra que não existem limites
para esse novo enfoque metodológico, que começou
a ser sistematizado com o nome de Urbanismo Tático,
mas que por sua natureza recente ainda está em cons-
trução, admitindo a todo momento novas perspectivas.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 69


2.3.2 COLETIVO A BATATA PRECISA DE VOCÊ

No Brasil, grande parte das ações de coletivos Na publicação “Ocupe Largo do Batata: como
que realizam o método do Urbanismo Tático estão fo- fazer ocupações regulares no Espaço Público” (GORE-
cadas sobretudo no estímulo ao uso do espaço público CKI; KARPISCHEK; MONTUORI; SOBRAL e VICINI, 2015)
como meio de discussão sobre a cidade e sobre políti- os integrantes afirmam a intenção do coletivo de re-
cas públicas. A cidade de São Paulo é uma das cidades alizar experiências e protótipos para discutir a gestão
brasileiras que reúnem mais coletivos com realizações compartilhada dos espaços públicos, a participação
de intervenções no espaço urbano. Dentre estes gru- permeia toda a ideia da ocupação. Desde o início da
pos, o coletivo “A Batata Precisa de Você” se destaca intervenção já foram realizadas oficinas para a cons-
pela regularidade das ações em um mesmo território e trução de mobiliário, festas juninas, festivais, rodas de
pela forte mobilização da população. conversa dentre outros eventos.

Em uma palestra realizada na edição brasileira


da campanha urbana mundial da ONU-Habitat, Urban
Thinkers Campus (UTC) em Recife, a integrante do cole-
tivo, Laura Sobral falou sobre o surgimento das inquie-
tações que tiveram relação com as manifestações do
Movimento Passe Livre em 2013.

Laura contou que em meio as disputas e impas-


ses sobre a luta pelo direito à cidade e pela qualidade
dos serviços públicos, um grupo de 10 pessoas passou
a ocupar o Largo do Batata em janeiro de 2014 mu-
nidos de algumas cadeiras de praia e guarda-sóis se
tornando rotineira sua permanência nas sextas-feiras.
Ao longo do tempo os integrantes construíram mobiliá-
rios intensificando as intervenções que transformaram
o espaço num lugar de diversão, cultura, descanso e,
principalmente, de discussão, tornando esse espaço
um verdadeiro laboratório público a céu aberto.

Figura 37. A Batata Precisa de Você.png


70 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
O funcionamento da ocupação se dá nas sextas-
-feiras, a partir das 18h, quando as pessoas chegam ao
Largo de Pinheiros carregando elementos para dar o
conforto básico àquele espaço: guarda-sóis, cadeiras
de praia, almofadas, cangas, redes e tendas. A agenda
de atividades é aberta e em grande parte organizada na
internet. O envolvimento dos moradores e frequenta-
dores das proximidades do Largo se dá principalmente
pela continuidade das ocupações, somando cada vez
mais pessoas ao movimento.

Os integrantes do coletivo acreditam que estas


intervenções pontuais organizadas em espaços urba-
nos por práticas coletivas oferecem uma reflexão crítica
sobre o papel do arquiteto ou do urbanista, pois abrem
espaço para que a população construa sua cidade, sem
a necessidade de projetos, plantas ou extensos estudos
prévios.

A metodologia de ação do grupo leva em con-


Figura 38. Ocupação do grupo A Batata Precisa de Você.png
ta inicialmente a observação do entorno e a identifi-
cação do território assim como suas potencialidades.
Deve ser feito um diagnóstico sobre o local não ape- gar o espaço público, devem ser estimuladas atividades
nas pelos técnicos, mas também pelas pessoas que se culturais, esportivas e de lazer nestes locais. A existên-
utilizam daquele determinado espaço. Este diagnóstico cia de mobiliário em ambientes públicos também é es-
deve ser realizado como um processo colaborativo, no sencial para que o lugar se torne confortável e não ape-
qual as pessoas pensam sobre o que seria interessante nas um local de passagem. Através da criação de locais
para aquele lugar e sobre o que elas sentem falta. Nes- de estar se possibilita a existência de trocas entre as
te momento são criadas articulações com os possíveis pessoas, conversas, brincadeiras, é estabelecida a es-
interessados na ocupação, deve ser iniciado o processo trutura para que as pessoas possam realizar atividades
de estruturação dos encontros e as estratégias de co- fora dos espaços privados, como ler, praticar esportes,
municação internas e externas. descansar e encontrar amigos.

Visando a criação de interações entre os espaços


e as pessoas e a modificação do modo de ver e enxer-

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 71


CASO DE ESTUDO 19:

A BATATA PRECISA DE VOCÊ


OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO:
MOTIVAÇÃO

PROCEDIMENTO:
CIDADE COMO LABORATÓRIO

ETAPA PROJETUAL COM PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS:


DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES, CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES, APROVAÇÃO, PROTOTIPAGEM E EXPERIMENTAÇÃO Figura 39. Mobiliário na ocupação A Batata Precisa de Você.png
METODOLOGIAS PARA A PARTICIPAÇÃO:
A prototipagem desse mobiliário nas ações do “A
Batata Precisa de Você” foi importante para verificar a
adesão das pessoas à diferentes atividades, e aprender
sobre as dinâmicas do lugar. Ao longo da ocupação o
grupo já produziu um bom mapeamento de uso do lu-
gar que pode ser empregado para o planejamento de
mobiliários permanentes ou no projeto de remodela-
ção do Largo.

A flexibilidade da ação é um ponto importante


nas intervenções do coletivo, eles deixam claro que o
mobiliário criado pode ser modificado, remodelado,
adaptado, garantindo que o design permita a participa-
ção e o movimento natural de transformação da cidade
e de seus habitantes.

O coletivo considera suas ações como experiên-


cias em um laboratório que devem ser constantemente
repensadas e criticadas, além de serem replicadas em
outros lugares. Elas devem fomentar discussões e de-
bates sobre a cidade e sobre a forma de utilização e
construção dos espaços.

72 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


2.4 O PROCESSO PROJETUAL PARTICIPATIVO EM INTERVENÇÕES NA CIDADE

A retomada do Espaço Público trouxe uma visão intervenções urbanas os produtos são de curto prazo, sido experimentadas e tem mais relação com a busca
renovada para a participação. A busca pelo encontro devem ser realizados de maneira rápida e com baixo de uma vivência mais lúdica e intensa entre as pessoas
e pela vivência nos espaços livres de comum acesso custo, logo, não precisam ser detalhados e construí- envolvidas e os lugares escolhidos para a intervenção.
na cidade fizeram com que as pessoas buscassem se dos para serem perenes. As etapas de detalhamento
reunir nestes locais para discutir seus problemas, pre- e construção são substituídas por etapas de prototipa- Para compreender melhor esse processo proje-
cariedades e potencialidades. Para fazer mais, algumas gem e experimentação. Além disso, nem sempre a pro- tual participativo que é realizado a partir de interven-
pessoas decidiram não somente discutir, mas intervir, totipagem é realizada após a aprovação pelos usuários, ções na cidade criamos um diagrama simplificado em
mudar a realidade à curto prazo, mesmo que através como o foco é a avaliação de soluções, muitas vezes a croqui com as etapas de realização da intervenção e os
de intervenções efêmeras, na tentativa de agir em prol prototipagem é uma das primeiras coisas a ser feita, agentes envolvidos.
do coletivo, sem mais esperar por propostas dos órgãos para então ser questionada e continuar a se modificar
planejadores da cidade. visando a melhor configuração para o usuário. É preciso levar em conta que a maioria das ex-
periências realizadas até então revelam intervenções
Esta perspectiva do processo projetual participa- Além da vivência da cidade ser estimulada em que trazem algumas reflexões para o planejamento de
tivo a partir de intervenções realizadas na cidade guar- todo o processo, a troca de conhecimento entre arqui- longo prazo das cidades, mas ainda não foi consolidada
da as mesmas intenções que a participação discutida tetos e usuários também é a base das intervenções de uma metodologia projetual subsequente à intervenção
nos capítulos anteriores, o objetivo continua a ser a urbanismo tático. A iniciativa ganha um peso de gran- que se proponha a resolver de maneira igualmente
troca de conhecimento para a construção coletiva. A de importância por revelar quem foi o grupo de atores inovadora o planejamento de longo prazo.
grande diferença que esse processo soma a experiên- que se inquietou e se preocupou com os problemas ou
cia projetual é a inserção da vivência intensa da cidade, potencialidades de determinado ambiente da cidade.
nestas intervenções o procedimento é utilizar a cidade Existem inúmeros exemplos de intervenção urbana
como laboratório, e sendo assim, todas as fases de pro- que são realizadas pelos usuários sem a presença de
jeto são realizadas em contato com a cidade. um arquiteto.

O processo projetual participativo a partir de A participação é estimulada em todas as etapas


intervenções é diferente do processo projetual tradi- e muitas das metodologias já explanadas anteriormen-
cional devido a diferença entre os produtos finais. Em te são exploradas, algumas novas metodologias tem

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 73


DE QUE NOVA METODOLOGIA ESTAMOS FALANDO?

Figura 40. Síntese parte 2.png


74 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL A PARTIR DE INTERVENÇÕES NA CIDADE

Figura 41. Processo Intervenções Participativas.png


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 75
PARTE 03:
3.1 CONSTRUINDO A ANÁLISE

A análise tem como objetivo a compreensão das


relações entre o arquiteto, o usuário e a cidade através
do processo de produção do espaço que pensa o urba-
nismo a partir de intervenções na cidade. A investiga-
ção pretende identificar possíveis caminhos e diretrizes
para a realização das intervenções além de apontar
desdobramentos que podem ser aprofundados em fu-
turas pesquisas.

O trabalho se debruça sobre a análise de três in-


tervenções realizadas na Região Metropolitana do Re-
cife por grupos que exploram as temáticas da participa-
ção e da vivência dos espaços urbanos. As intervenções
ocorreram no período de 2015 e 2016 e revelam uma
tendência de exploração do trabalho do arquiteto como
facilitador do encontro entre os usuários e a cidade.

As ações foram escolhidas visando o entendi-


mento da diversidade de abordagens e processos, am-
pliando os olhares sobre as iniciativas, as formas de re-
alização e as metodologias utilizadas.

A primeira intervenção analisada foi a ação “De-


sign Build no Alto da Sé” conduzida pela equipe de
arquitetos do Atelier Vivo. Esta ação teve como sítio
uma área livre abandonada do Sítio Histórico de Olinda

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 77


resultando na criação de mobiliários urbanos e outros a fundamentação teórica levantada até o momento em
componentes para melhorar a vida cotidiana dos mo- comparação com a experiência prática de cada grupo
radores. analisado. Os critérios de análise foram construídos
através da interpretação dos fatores de investigação da
A segunda intervenção investigada foi a “Praia de participação apontados por Yanki Lee com os aspectos
Santa Luzia” realizada pelo grupo de artistas, também característicos da metodologia do Urbanismo Tático
composto por arquitetos, do coletivo A Cidade Precisa abordados por Mike Lydon.
de Praias, que é uma junção do coletivo Praias do Capi-
baribe com o coletivo A Batata Precisa de Você, já ana- Para resgatar o processo da intervenção urbana
lisado neste trabalho. A ação se deu nas margens do buscamos sobretudo a realização de entrevistas com
Rio Capibaribe na Comunidade de Santa Luzia e contou os condutores ou estimuladores dos processos e com
com a ativação de um espaço de lazer através de ele- os participantes e população envolvidos na interven-
mentos lúdicos, estabelecendo um novo cenário para o ção. Além disso, outros documentos foram analisados
uso dos espaços. como: fotos, publicações, matérias de jornal e textos
divulgados em páginas na internet e nas redes sociais
E a terceira intervenção avaliada foram as “Hor- pelos grupos de intervenção.
tas comunitárias de Casa Amarela” uma ação de inicia-
tiva de moradores pertencentes ao grupo Casa Amare- As entrevistas foram realizadas através de dois
la Saudável e Sustentável que decidiu utilizar uma área tipos de roteiros semi-estruturados, o modelo 1 para
abandonada para o plantio de alimentos que pudes- os condutores do processo e o modelo 2 para os par-
sem ser utilizados pela vizinhança. ticipantes. Buscou-se uma apreensão qualitativa em
lugar do foco quantitativo, por esta razão o roteiro foi
Para investigar as intervenções fizemos uso de composto por questões abertas estruturadas em três
diagramas de processo projetual e de critérios de aná- fases do processo projetual: planejamento, realização
lise que servem para guiar o entendimento das ações. e avaliação de resultados.
Os diagramas foram construídos tendo como base toda

78 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


FATORES DA PARTICIPAÇÃO POR YANKI LEE FATORES DO URBANISMO TÁTICO POR MIKE LYDON CRITÉRIOS DE ANÁLISE
1. AUTONOMIA: 1- VISÃO:
REVELA QUEM É O CONDUTOR DO PROCESSO, QUE PODE SER AS INTERVENÇÕES SÃO REALIZADAS COMO PARTES DE PROCESSO 1- VISÃO
O DESIGNER, O DESIGNER COM AJUDA DO USUÁRIO, O USUÁRIO DE LONGO PRAZO, QUE TEM UM OBJETIVO MAIOR. REVELA AS INTENÇÕES E OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO.
COM AJUDA DO DESIGNER OU O USUÁRIO.
2- CONTEXTO: 2- CONTEXTO
2. OBJETIVOS: AS INTERVENÇÕES SÃO FEITAS DE MODO A OFERECER SOLUÇÕES IDENTIFICA AS CARACTERÍSTICAS MAIS ESPECÍFICAS DO SÍTIO DE
REVELA QUAL O OBJETIVO DA AÇÃO EM FUNÇÃO DO SEU CONDU- PARA O CONTEXTO LOCAL, APROXIMANDO-SE DAS NECESSIDADES INTERVENÇÃO E DA POPULAÇÃO.
TOR. O OBJETIVO DE INOVAÇÃO É NORMALMENTE CONDUZIDO DA POPULAÇÃO.
PELO DESIGNER, O OBJETIVO DE COLABORAÇÃO É NORMALMEN- 3- PROCEDIMENTO
TE CONDUZIDO PELO DESIGNER COM A AJUDA DO USUÁRIO, O 3- AGILIDADE: RELATA A ABORDAGEM DA INTERVENÇÃO ATRAVÉS DOS PONTOS:
OBJETIVO DE EMANCIPAÇÃO NORMALMENTE É CONDUZIDO PELO AS INTERVENÇÕES SÃO REALIZADAS A PARTIR DE UM COMPROMIS- - CONDUÇÃO
USUÁRIO COM A AJUDA DO DESIGNER E O OBJETIVO DE MOTIVA- SO DE CURTO PRAZO COM PERSPECTIVAS REALISTAS. - APOIO
ÇÃO É CONDUZIDO APENAS PELO USUÁRIO E VISA O ESTIMULO A - DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS E POTENCIALIDADES
REALIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES. 4- VALOR: - CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES
AS INTERVENÇÕES ASSUMEM PEQUENOS RISCOS COM POSSIBILIDA- - CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS E PROTÓTIPOS
3. NÍVEIS : DES DE GRANDES RECOMPENSAS. - PRODUTOS
REVELA O NÍVEL DO TAMANHO DO GRUPO ENVOLVIDO NO PRO- - EXPERIMENTAÇÃO
JETO, PODE SER INDIVIDUAL, UM GRUPO PEQUENO OU UMA CO- 5- COMUNIDADE: - CONTINUIDADE
MUNIDADE. AS INTERVENÇÕES PROCURAM ESTABELECER O DESENVOLVIMEN-
TO DO CAPITAL SOCIAL, A CONSTRUÇÃO DA CAPACIDADE DE OR- 4- PARTICIPAÇÃO
4. ESTÁGIOS: GANIZAÇÃO E O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE LOCAL. FAZ REFERÊNCIA AOS ASPECTOS RELACIONADOS AO PROCESSO DE
REVELA O ESTÁGIO ATÉ O QUAL O PROJETO FOI DESENVOLVIDO, PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS NA REALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO
PODE SER O ESTÁGIO DE CONSCIENTIZAÇÃO, PERCEPÇÃO, TOMA- 6- PROCEDIMENTO: ATRAVÉS DOS PONTOS:
DA DE DECISÃO OU IMPLEMENTAÇÃO. AS INTERVENÇÕES UTILIZAM A CIDADE COMO LABORATÓRIO DE - RELAÇÃO ENTRE OS TÉCNICOS E A POPULAÇÃO
EXPERIMENTAÇÃO. - RELAÇÃO COM A PREFEITURA
5. ESCALAS:
REVELA A ESCALA DO PRODUTO GERADO NA INTERVENÇÃO, PO- 7- LEGALIDADE: 5- IMPACTO SOCIAL
DENDO SER TER A ESCALA DE UM OBJETO, DE UM SISTEMA, DE UM AS INTERVENÇÕES TÊM GRAUS VARIADOS DE FORMALIZAÇÃO, PO- REVELA OS IMPACTOS GERADOS PELA INTERVENÇÃO A PARTIR DOS
EDIFÍCIO OU DE UM BAIRRO. DENDO SER SANCIONADAS, QUANDO APROVADAS POR ALGUMA PRODUTOS E DOS PROCESSOS VIVENCIADOS
AUTORIDADE; NÃO SANCIONADAS, QUANDO NÃO SÃO LEGALI-
ZADAS OU APROVADAS POR AUTORIDADES E SEMI-SANCIONADAS,
QUANDO ESTÁ ENTRE AS FORMAS NÃO SANCIONADAS E SANCIO-
NADAS POR NÃO SER RADICAL A PONTO DE SER ILEGAL, MAS TAM-
BÉM NÃO APRESENTAR UMA AUTORIZAÇÃO CLARA.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 79


3.2 ANÁLISE DAS INTERVENÇÕES
3.2.1 DESIGN BUILD NO ALTO DA SÉ - ATELIER VIVO

O QUE É O ATELIER VIVO?

O Atelier Vivo é um coletivo de design-build (de- do Rural Studio, projeto educativo que foi abordado
sign e construção) que realiza oficinas comprometidas como estudo de caso na primeira parte desse trabalho.
com o ensino do design e da construção como proces- A partir destes contatos uma série de novos projetos
sos complementares. O objetivo do grupo é a troca de foram surgindo, voltados para a criação de programas
conhecimentos entre os arquitetos e os construtores, de design-build no Brasil que acolhessem estudantes
tendo em vista que normalmente o arquiteto realiza estrangeiros. Um desses programas foi o Brazil Studio,
projetos sem ter conhecimento da prática em constru- coordenado pela arquiteta Megan Wash, professora da
ção e o construtor também trabalha sem conhecimen- Universidade de Washington em colaboração com o es-
to sobre os aspectos voltados para o design. A inspi- critório O Norte.
ração para realizar esse trabalho vem da vontade de
conciliar a tensão entre a os conceitos, a expressão e a O programa Brazil Studio durou 4 anos e reali-
experiência artística, com questões pragmáticas como zou o intercâmbio de estudantes estrangeiros que se
o tempo, a logística, as etapas e a gestão. fixaram em uma comunidade em Salvador para realizar
a prática em oficinas de design-build. Algumas dessas
O grupo surgiu de uma iniciativados arquitetos oficinas contaram com a presença de Jack Sanders.
Lula Marcondes e Michael Philips. Em sua trajetória de Infelizmente com a crise em 2008 os projetos foram
formação Lula teve a oportunidade de realizar o mes- perdendo força. Somente em 2014 numa articulação
trado no Texas em 2005, quando passou a conhecer a com Jack Sanders, Lula foi apresentado ao arquiteto
abordagem do design-build, voltada para a ideia do ci- australiano Michael Philips. Michael foi coordenador
clo de construção dos espaços, onde o arquiteto seria durante 3 anos do programa de Design Build na Univer-
responsável por toda a cadeia de construção, desde a sity of South Australia e veio para o Brasil com o intuito
idealização até a materialização do que foi concebido. de participar e realizar oficinas. No período de janeiro
de 2015 até junho de 2016 ele se instalou em Recife e
O estudo do design-build levou a criação de uma juntamente com Lula planejou o coletivo Atelier Vivo.
rede de contatos, e Lula pode conhecer de perto o tra-
balho de Jack Sanders, parceiro de Samuel Mockbee
Figura 42. Atelier Vivo.png
80 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
ONDE FOI FEITA A INTERVENÇÃO?

Figura 43. Vista de Olinda.png Figura 45. Vista da Igreja da Sé e do pátio tirada da Rua Bispo Coutinho.png

O município de Olinda se localiza a norte do mu- A parte mais alta da colina histórica é conhe-
nicípio de Recife, e faz parte da Região Metropolitana cida como Alto da Sé, uma das regiões mais visitadas
de Recife. De acordo com o Censo Demográfico do do município. A rua principal desta área é a Rua Bispo
IBGE 2010, o município comporta uma população de Coutinho, onde se localizam diversos pontos turísticos
397.268 habitantes num território de 43,55 km². Olin- como a Caixa D’água, patrimônio arquitetônico moder-
da, diferentemente de Recife que tem como caracterís- no concebido por Luiz Nunes e a Igreja da Sé. Ao lado
tica o solo plano, é composta por colinas, aspecto que da rua existe um pátio onde acontecem diversas ativi-
destaca a beleza das construções nos pequenos mon- dades culturais, associadas as lojinhas e barracas que
tes e permite a visualização de um belo recorte do mar. vendem artesanato.

A cidade teve uma grande importância históri- Exatamente abaixo dessa rua existe uma pe-
ca por abrigar os portugueses e holandeses no início quena viela estreita, uma rua de pedestres conhecida
da colonização quando ainda era vila. Este aspecto lhe como Rua Bispo Coutinho de Baixo, foi nela que se deu
rendeu em 1982 o título de Patrimônio da Humanidade a primeira intervenção do grupo Atelier Vivo.
pela Unesco, devido a beleza da composição paisagísti-
ca do casario colonial juntamente com a vegetação dos
quintais.
Figura 44. Localização do município de Olinda.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 81
VISÃO

A intenção dos técnicos com a intervenção foi


fazer os alunos vivenciarem o ciclo de construção com-
pleto, comprometidos com a criação de beleza apoiada
na necessidade local. As propostas levaram em consi-
deração as preocupações e aspirações da população,
além da criação de produtos preocupados com a efici-
ência e a sustentabilidade.

Natan Nigro, arquiteto colaborador do coletivo,


fala que a escolha do sítio para a intervenção foi mui-
to feliz por ir de encontro a redescoberta dos espaços
públicos nos últimos anos. A intenção de ativação do
espaço abandonado surgiu em segundo plano, mas
permitiu a ampliação das discussões e dos objetivos do
grupo:
[...] A intensão da gente era promover a
reativação do espaço. A gente foi traba-
lhar num espaço público que é uma viela,
uma rua que não passa veículos, só pes-
soas a pé ou de bicicleta, e ela tem vários
problemas de convivência, de violência, de
falta de atividade do poder público, então
a ideia da gente era promover pequenas
transformações na rua que pudessem pro-
mover o espaço, ativar o uso dele e prin-
cipalmente fazer com que os moradores
percebessem, um olhar pra aquele espa-
ço, e dizer “olha, aquele espaço é nosso e
a gente pode utilizar ele de diversas ma-
neiras e com pouquíssimo recurso, com
pouco material, a gente pode de fato pro- Figura 46. Busca por matérias no ferro-velho na oficina design-build.png
mover este espaço” [...] (NIGRO, N.)

82 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CONTEXTO

A área de intervenção foi uma rua estreita que


não permite a passagem de carros, somente de pedes-
tres. Esta rua é frequentada por moradores da região,
por frequentadores de uma escola Waldorf e por turis-
tas ocasionais. Pela falta de visibilidade, a rua recebe
pouca ou nenhuma manutenção, na época da interven-
ção o local estava mal iluminado e com vegetação alta,
aspecto que contribuía para a imagem de abandono e
o aumento do sentimento de insegurança com a ocor-
rência de atividades indesejáveis.

A intervenção no Alto da Sé partiu do olhar de


Lula como arquiteto e como cidadão. Por um lado, ha- Figura 47. Fotos do local da intervenção de design-build.png
via o desejo de fazer uma oficina que proporcionasse o
aprendizado em contato com a cidade através do con-
fronto das ideias com os problemas urbanos reais, por
[...] Lula é o elo, ele é o acadêmico, uma Um aspecto essencial para a intervenção foi o
outro lado, havia o desejo de fazer a experiência numa
pessoa que propôs, e ele era o morador, estabelecimento do contato com a população, a partir
comunidade que os arquitetos conhecessem bem, para
veio dos dois. Agora obviamente, que a do momento em que Lula enxergou a possibilidade de
facilitar o contato com a população, como Michael con-
partir de que ele montou isso pra gente, a realizar a intervenção na Rua Bispo Coutinho de baixo,
ta em entrevista. Foi então que o coletivo decidiu pela
galera adorou ne “Oxe, que massa!” que é ele conversou com os moradores que conhecia para
criação de soluções para problemas existentes na Rua
muito difícil isso partir do morador. Quan- saber o que eles achavam da ideia e se eles poderiam
Bispo Coutinho de baixo, rua em que Lula morou por
do que a comunidade diz “Poxa, tem um apoiar a iniciativa. A população já vinha fazendo even-
muito tempo e que poderia ser beneficiada pelo proje-
problema aqui, eu vou chamar os alunos tos para a transformação da rua prontamente aceitou
to. Rafael, morador da Rua Bispo Coutinho de baixo fala
de arquitetura pra eles virem fazer uma a sugestão e se colocou como parceira da intervenção.
um pouco sobre essa iniciativa:
intervenção aqui e usar como instrumento
de educação”, é muito difícil, existe, mas é
difícil [...] (PONTUAL, R.)

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 83


PROCEDIMENTO

Condução:

O processo do Alto da Sé foi conduzido por 4


coordenadores com a participação de 14 estudantes
universitários que trabalharam juntos durante 12 dias.
Lula destaca que o processo de criação foi intenso ba-
seado na proximidade entre os participantes e o sítio,
para ele seria interessante que os estudantes pudes-
sem morar no local da intervenção, infelizmente nesta
intervenção não foi possível.

Apoio:

Para dar viabilidade a ação uma moradora cedeu


sua residência como base para a intervenção, os estu-
dantes chegavam cedo pela manhã, tomavam o café da
manhã na casa e ficavam até o jantar, saiam do sítio
no turno da noite. Esta disponibilidade em ajudar con-
firma o fato de que haviam pessoas interessadas em
garantir a realização da ação, a intervenção foi bem re-
cebida pela maior parte dos moradores.

Figura 48. Almoço durante a Oficina Design-build no Alto da Sé.png


84 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Planejamento de execução:

Natan comentou que a oficina teve um planeja-


mento que permitiu a vivência da metodologia dentro
de uma a organização de tempo de trabalho definida,
visto que era necessário realizar o diagnóstico em con-
junto com os moradores, debater, seguir com a con-
cepção das propostas e depois construir os objetos.

[...] os processos vão além da metodologia


de como analisar o espaço, como propor
solução, a organização do tempo de tra-
balho, a programação das tarefas, então
a gente trabalhou com duas semanas de
oficina. Uma semana de projeto e uma
semana de produção. E ai, a gente tinha
que toda a hora ficar alerta no nosso cro-
nograma de trabalho, então nos dois pri-
meiros dias a análise, conversa com os
moradores, no terceiro dia a gente senta
pra traçar o diagnóstico, no quarto dia a
gente tinha que ter o trabalho de voltar e
conversar com os moradores pra definir
de novo o diagnóstico, ai quinto e sexto
dia trabalhar com a proposta e conseguir
fechar [...] (NIGRO, N.)

Diagnóstico de problemas e potencialidades:

Para dar início a idealização da intervenção os


condutores utilizaram uma metodologia conhecida
como SWOT ou FOFA, em português, que visa montar
um quadro com as reflexões dos alunos sobre 4 aspec-
tos do sítio: forças, oportunidades, fraquezas e amea-
ças. A partir deste quadro são encontradas as soluções
para o lugar.
Figura 49. Mapa com avaliação FOFA ou SWOT oficina design-build.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 85
Concepção:

As propostas foram concebidas segundo a orien-


tação de que deveriam ser de execução simples, para
possibilitar ao próprio aluno a realização dos objetos.
A proposição principal era a criação de micro interven-
ções usando madeira de demolição, ferro e tinta, que
pudessem ter como impacto a potencialização de ativi-
dades que já ocorressem na área e que trouxessem ao
espaço um aspecto de cuidado, fazendo reduzir a ocor-
rência de atividades indesejadas. A sustentabilidade
também era um critério de intervenção, deveria haver
o mínimo de perdas de material.

Produtos:

O produto de curto prazo da intervenção contou


com a criação de sinalizações na entrada de baixo do
caminho no Portal da Misericórdia, a melhoria de um
ponto de encontro de moradores em torno de uma es-
cadaria, que ficou conhecido como Largo da Amizade, a
criação de um espaço de descanso na frente da Escola
Waldorf, o Pátio da Escola e a transformação do espaço
Portal da Sé, uma escadaria e passarela de pedestres
conectada ao mirante do Alto da Sé.

Figura 51. Caminhada de conhecimento do sítio na oficina design-build.png Figura 50. Discussão das ideias na oficina design-build.png
86 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Figura 52. Lugar onde ocorreu a celebração da oficina design-build.png Figura 53. Cinema na celebração da oficina design-build.png

Experimentação:

Os projetos foram finalizados e culminaram em


uma confraternização com moradores da área, com di-
reito a cinema ao ar livre e show da banda local Quar-
teto Olinda. Para Lula a intervenção foi muito intensa e
didática, a realização do evento de finalização foi muito
relevante para atrair a atenção dos moradores para o
local e mostrar o potencial do lugar. Sobre o fechamen-
to da intervenção Lula diz:

[...] excelente, excelente, contou com show


no final, cinema, rolou um filme massa, a
gente conseguiu fechar na data na hora,
fez convite, acabou com uma celebração
na rua inteira, um forró que aquela rua
nunca viu eu acho, na vida. Foi, foi incrível. Figura 54. Show de forró na celebração da oficina design-build.png
Chega deu saudade [...] (MARCONDES, L.)

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 87


Continuidade:

Após 12 dias de ação a continuidade da inter-


venção veio através de outras oficinas para manter o
cuidado e a reflexão sobre as intervenções realizadas.
O workshop “Mural Studio” por exemplo, também foi
realizado na rua Bispo Coutinho de baixo e foi proposto
como uma atividade de criação de murais e pinturas
nas paredes que compõem a rua para mais uma vez
fortalecer o caráter de segurança social para o lugar.

Com o passar do tempo alguns elementos da


intervenção já se desgastaram ou foram destruídos e
tudo isso leva os participantes a repensarem os pro-
dutos da intervenção, os materiais e as escolhas que
foram feitas. O coletivo planeja realizar uma outra in-
tervenção mais prolongada no mesmo lugar em 2016
como uma continuação desta primeira. De acordo com
Lula é essencial voltar e analisar a intervenção, pois ela
nunca está acabada, sempre pode melhorar:

[...] então a gente tem que repensar isso,


ninguém tem resposta, é, você chegou
numa etapa mas aquilo vai ser observado,
é o urbanismo tático, entendesse?! Uma
maneira barata de ver até onde vai o van-
dalismo, até onde vai o erro nosso, aí ano
que vem a gente sabe ó, não funciona, não
durou um ano. Isso é massa, o método
não é dura somente 11 dias, ele fica, ele é
só o início [...] (MARCONDES, L.)

Figura 55. Intervenção do Mural Studio na Rua Bispo Coutinho de Baixo.png


88 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
PARTICIPAÇÃO

Relação entre os técnicos e a população:

A participação na intervenção foi estabelecida [...] na verdade, a intervenção foi toda


sobretudo no diagnóstico de problemas e potencia- baseada nesse diálogo. Esse eu acho que
lidades. Segundo Lula, a conversa com os moradores era o cerne da intervenção, a intervenção
permitiu o entendimento do cotidiano e identificação toda foi feita baseada no depoimento dos
do potencial da área. A interpretação do lugar pelos moradores. Eles escolheram um trecho,
usuários revelou que, apesar da má reputação da área conversaram com todo mundo e cada um
abandonada, as crianças da escola preferiam passar disse seus pontos críticos, aí a partir daí
por essa rua, conhecida por eles como “Bosque encan- foi que desenharam um plano de interven-
tado”. Esta visão lúdica sobre o caminho passou a ser o ção. A construção foi feita pelos alunos,
conceito da intervenção, que teve como título “O Ca- mas um morador ajudava, de repente se-
minho do Bosque”. O morador Rafael confirmou essa dia um equipamento, mas de fato quem
atenção que foi dada pelos técnicos aos conhecimen- botou a mão-na-massa foram os alunos
tos da população: [...] (PONTUAL, R.)

Figura 57. Ideia para o “Caminho do bosque” na oficina design-build.png Figura 56. Elemento lúdico suspenso no Caminho do Bosque oficina design-build.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 89


Para Natan, a participação dos moradores na
criação de propostas para os seus bairros deveria ser
mais estimulada, pois ainda é uma prática pouco rea-
lizada:
[...] o fato da gente trazer os moradores
pra fazer com a gente o diagnóstico do lu-
gar, é um ponto que conta nesse sentido,
a gente teve a oportunidade de trazer as
pessoas que iriam usufruir daquele espa-
ço pra dentro de todo um processo, então
eles estavam presentes na hora do diag-
nóstico e estavam presentes na hora da
finalização das propostas de intervenção,
eles puderam opinar sobre o processo des-
de o começo. O que é muito difícil, num
espaço público, você ter a oportunidade
de participar de uma avaliação do que um
espaço precisa pra melhorar e as propos-
tas, se seu bairro vai passar por uma refor-
ma urbana. É muito difícil você tá próximo
desse processo e do resultado, o que é que
vai ter no final [...] (NIGRO, N.)

Figura 58. Construção e implantação dos totens oficina design-build.png


90 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
O grupo chama atenção para o fato de que é
preciso refletir e considerar as demandas dos usuários
tendo em mente que não é possível fazer todas as me-
lhorias que a população precisa. Nesse caso o arquiteto
deve ter sensibilidade para captar a essência e encon-
trar a solução mais simples e de maior impacto. Outro
aspecto relevante é a manutenção do olhar do técnico
voltado para o cotidiano, pois a visão treinada é capaz
de encontrar problemas e potencialidades que os usu-
ários podem desconsiderar. Ou seja, em processos par-
ticipativos a visão do usuário não substitui a visão do
técnico, elas devem ser somadas, configurando uma
abordagem mais interdisciplinar e completa.

Essa sensibilidade do arquiteto foi colocada por


Lula ao analisar a intervenção no Portal da Sé, onde fo-
ram criados bancos conectados a escadaria que leva ao
mirante do Alto da Sé:
Figura 59. Pintura na escadaria oficina design-build.png

[...] Até hoje eu passo, o banquinho tá lá, a


galera tá no banquinho, a gente percebeu
uma sutileza, eu acho que foi massa da
nossa parte, ali a gente entendeu que tem
um ponto de interface sabe?! Já acontece,
é só você potencializar uma besteira, ajei-
tar uma lixeira, pintar uma escada, botar
um banco, o pessoal se vê... porque eles fi-
cavam na escadaria, de costas um pro ou-
tro, era só botar um banco do outro lado
pra você ficar de frente. Tava lá, a sopa
tava feita, a comida tava feita, precisava
de um prato legal, tinha um prato derru-
bado e tal, entendesse?! Então aí basta a
gente perceber isso [...] (MARCONDES, L.)

Figura 60. Criação do banquinho na oficina design-build.png


LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 91
Outro aspecto relacionado a participação levan-
tado pelo grupo é a responsabilidade de trabalhar em
prol da comunidade, o arquiteto Michael coloca que
para ele essa dinâmica precisa ser bem pensada para
longo prazo, porque as pessoas esperam por resultados Relação com a prefeitura:
positivos para o cotidiano e o arquiteto não pode pen-
sar no processo somente como uma boa problemática Os condutores da intervenção não buscaram o
para gerar produtos, ele deve ter em mente que todo o apoio da prefeitura por considerar que isso traz bu-
processo tem impacto na vida das pessoas: rocracia e complexidade para uma ação que tem por
princípio a simplicidade. Segundo Lula a escolha do lu-
gar da intervenção foi muito feliz por ser um ambiente
[...] Para mim a coisa que eu sempre lem- abandonado, se fosse no pátio do Alto da Sé, num local
bro que o momento que você mexe com de maior visibilidade, ele acredita que a fiscalização po-
a comunidade você tem que ter a res- deria chegar para dificultar ou até impedir o trabalho.
ponsabilidade de longo prazo, a pior coi-
sa que você pode fazer é chegar lá, “aah, Natan destacou a dificuldade do poder público
faz alguma coisa e deixa lá”, eu acho que e das instituições em favorecer a participação popular:
quando você trabalha com a comunidade
é bom fazer o plano pra fazer várias inte-
rações, então por isso que a gente ainda
não tem feito, a gente tem a maior von- [...] a gente ainda tem muita dificuldade
tade de fazer, mas a gente tá esperando do poder público querer escutar o que as
para ter um plano mais completo. É uma pessoas querem, e não é só a questão do
nova dinâmica, a gente tem que lembrar poder público, eu acho que até as nossas
que esse trabalho envolve outros tipos de instituições não estão bem preparadas
pessoas, a gente tá tratando com pessoas pra a participação popular, acho que a
e vidas, então a gente tem um certo en- gente deveria avançar muito nisso, a gen-
tendimento de espaço, de ideias criativas te não pode ficar só em audiência públi-
de como resolver e de dar uma certa ale- ca, tem que ir além disso, ela tem que ser
gria, mas não é que a gente sabe tudo so- mais propositiva e as pessoas tem que se
bre ações em comunidades, eu acho que a organizar melhor, em associações de bair-
gente tem que sempre tomar um cuidado ro, em organizações sociais, pra poder rei-
com isso de não deixar a alguma coisa que
Figura 61. Paisagem com intervenção no Caminho do Bosque.png vindicar, acho que só dessa maneira que
traz mais ganho pra nós do que pra comu- a gente vai poder chegar [...] (NIGRO, N.)
nidade [...] (PHILIPS, M.)

92 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


IMPACTO SOCIAL

O morador Rafael, lamenta o fato de que as in- Rafael destaca que a participação da população Quanto as reações da população depois da rea-
tervenções, mesmo sendo benévolas e interessantes, em intervenções como essa é algo que para ele depen- lização da intervenção o arquiteto colaborador Natan
ainda tem pouco impacto na modificação de proble- de do sentimento de comunidade e muda de pessoa também percebe disparidades:
mas maiores. Ele avalia que a continuidade da ação é para pessoa. Existem pessoas que tem interesse por
necessária para permitir a continuação do processo cuidar do que é público e estão abertas para esse tipo [...] vê como a gente lida com men-
educativo com a população, para que as pessoas real- de ação, enquanto existem outras que não se interes- talidades bem diversas, teve um
mente voltem seu olhar para a cidade: sam. Rafael dá exemplos do perfil dos vizinhos que senhor que disse, “é, eu acho que a
compõem a Rua Bispo Coutinho: intervenção aqui tem que ser botar
[...] uma ação dessa, obviamente que essa grade, bota grade aqui, bota grade
ação é uma ação benévola, foi feita com [...] lá na rua tem várias pessoas que cui- ali!, resolve o problema, ninguém
pouco recurso, foi feita nas coisas míni- dam do jardim lá na frente da sua casa, na faz xixi, ninguém pixa, ninguém vem
mas, mas tá muito aquém das necessida- rua da gente não passa carro, então vez usar droga aqui, nada, e ai outra
des maiores, foi pouco tempo, porque o por outra a gente tá se mobilizando pra moradora veio, “aah, a gente ado-
grande lance de uma ação dessa é tipo, trocar uma lâmpada, pra dar uma gua- rou a pintura!” Depois a gente fez
educar, fazer com que os moradores en- ribada, só que já tem um outro que bota uma oficina de Mural Studio lá, fez
xerguem através dessa ação. Isso, o pes- metralha, lixo em quantidade na frente de umas pinturas, uns murais na rua,
soal não consegue fazer em uma semana um terreno baldio que tem lá por exem- e aí eles adoraram a iniciativa, pe-
não [...] (PONTUAL, R.) plo. O que se pretendia com o resultado diram que voltassem pra fazer mais
dessa intervenção eu acho que era fazer em outros lugares, então a avalia-
com que as pessoas olhassem melhor pra ção é bem diversa né, tem gente
aquele espaço. Só que tem muita gente que achou que não fez nenhuma
alheia mesmo [...] (PONTUAL, R.) diferença, e teve gente que adorou,
que pediu pra gente voltar a fazer
de novo lá [...] (NIGRO, N.)

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 93


Nota-se no depoimento de Natan que as pesso-
as costumam apresentar 3 padrões de reação: existem
aquelas que não acreditam que a intervenção pode
gerar mudanças mais efetivas, existem aquelas que fi-
cam satisfeitas com a intervenção mas ainda se sentem
dependentes da iniciativa de outros grupos e existem
pessoas que ficam motivadas e buscam reagir, partici-
pando da ativação do espaço de alguma outra maneira.

No caso do Alto da Sé Rafael comentou que al-


gumas pessoas da vizinhança do local da intervenção já
estavam envolvidas em ações de valorização do espaço
público que promovessem o encontro entre a popula-
ção. Dentre essas ações, o cinema da Rua Bispo Cou-
tinho de baixo foi uma das mais duradouras, com seis
meses de exibição. Rafael destaca que para transfor-
mar as pessoas e o lugar, além de intervenções pontu-
ais como a do Atelier Vivo, é necessário existir células
permanentes de ativação do espaço público no local,
para ele o cinema tem essa função na área:

[...] a gente tinha um cinema lá na Bispo


Coutinho de Baixo, o lugar lá que a gente
fazia a projeção foi beneficiado nessa in-
Figura 62. Intervenção de design-build no Alto da Sé.png
tervenção, mas nunca mais teve o cinema,
a gente tá doido pra fazer, já tá com todo o
equipamento, com tudo, a gente vai reto-
mar. Aí tipo, esse é uma célula permanen-
te, de tá se encontrando e de tá jogando
essas sementinhas, tem que ter uma cé-
lula permanente entendesse?! Mas tipo,
só com uma intervenção num vai não [...]
(PONTUAL, R.)

94 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Natan comentou sobre a importância de ações [...] muitas vezes você não precisa ser ne-
de iniciativa da população, para ele a reflexão que en- cessariamente arquiteto urbanista pra tá
volve este tipo de intervenção não precisa estar vin- fazendo isso, pra tá fazendo esse tipo de
culada aos órgãos públicos ou aos técnicos arquitetos prática, o urbanismo tático, pra tá promo-
urbanistas, o maior ganho de longo prazo na execução vendo o espaço, você só precisa procurar
desse tipo de intervenção é a reflexão em torno do es- quem tá desenvolvendo isso pra colaborar,
paço público e a mudança da relação entre as pessoas porque eu acho que a que a charada den-
e este espaço com o crescimento da responsabilidade, tro dessa coisa que tá acontecendo, esse
do afeto e da identificação. movimento em todo o mundo é de que as
pessoas estão assumindo que o espaço
público é delas e elas precisam ocupar de
alguma maneira. Elas estão procurando
maneiras alternativas de ocupar ne, e não
só viver naquele mundo de consumir, ir no
shopping e ficar no consumo, vamos apro-
veitar a vida de alguma maneira, deixar
de assistir televisão, levantar a bunda da
cadeira e sentar na praça [...] (NIGRO, N.)

Figura 63. Ação dos participantes na oficina de design-build.png

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 95


DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL DA INTERVENÇÃO DESIGN BUILD NO ALTO DA SÉ
Figura 64. Processo Alto da Sé.png
96 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 97
3.2.2 PRAIA DE SANTA LUZIA - A CIDADE PRECISA DE PRAIAS

O QUE É O A CIDADE PRECISA DE PRAIAS?

O coletivo A Cidade Precisa de Praias surgiu de lúdicos e atividades como shows, debates, exposição
um programa de residência de 15 dias onde dois co- de filmes, dentre outras ações.
letivos se uniram: o coletivo recifense Praias do Capi-
baribe e o coletivo A Cidade Precisa de Você, de São Depois de realizarem diversos eventos mensais
Paulo, que surgiu através da iniciativa A Batata Precisa nas margens do Rio, o coletivo Praias do Capibaribe
de Você. Visando trocar conhecimentos e experiências passou a refletir que mais do que proporcionar even-
sobre intervenções nos espaços públicos, os dois cole- tos e criar novas atividades, seria interessante criar pla-
tivos se reuniram de 20 de abril até 5 de maio de 2015, taformas de encontro para agregar outros coletivos e
passando 8 dias em São Paulo e 7 dias em Recife. Na se- ações que já estavam ocorrendo na cidade, foi aí que
mana sediada em Recife eles realizaram uma interven- o coletivo deixou de realizar eventos mensais para se
ção na comunidade de Santa Luzia seguindo o modelo associar a intervenções com outros grupos que parti-
de outras ações já realizadas pelo Praias do Capibaribe lhassem das mesmas ideias de reflexão em torno do
na cidade. espaço público.
Figura 65. A Cidade Precisa de Praias.png

O Praias do Capibaribe surgiu do projeto “Eu O formato passou a ser então a mistura entre as
quero nadar no Capibaribe, e você?” que revelava o pessoas que vivem nas margens do Rio Capibaribe e
desejo de alguns cidadãos em nadar no Capibaribe as pessoas de coletivos que estavam propondo alguma
e mais tarde passou a englobar a vontade de refletir intervenção, para juntos pensarem todo o evento de
sobre como melhorar a qualidade de vida do cidadão maneira horizontal, sem ser o evento de um ou do ou-
recifense. Nas ações são construídas praias fluviais tro, mas uma ação conjunta. Foi dentro desse padrão
efêmeras à margem do rio, tendo como objetivo pro- que surgiu a associação com o coletivo A Batata Precisa
mover a criação de vivências e resgatar o convívio da de Você para gerar a intervenção na comunidade de
população com o rio. As intervenções partem da ideia Santa Luzia.
de transformação das relações entre as pessoas e o rio
mais do que da mudança do espaço propriamente dito,
o coletivo pretende recriar laços através de elementos

98 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


ONDE FOI FEITA A INTERVENÇÃO?

A comunidade de Santa Luzia se situa no bair-


ro da Torre localizado no norte do município de Recife
na Região Político Administrativa 4. A comunidade é
composta por moradias que abrigam famílias de renda
baixa, na porção mais próxima ao Rio Capibaribe uma
série de casas precárias feitas de madeira estão insta-
ladas próximas a uma grande área livre. Do outro lado
do Rio está o Parque de Santana que é ligado a comuni-
dade através de uma ponte de pedestres que define o
limite entre o bairro da Torre e o bairro do Cordeiro, na
Figura 67. Comunidade à esquerda da ponte e área livre à direita.png porção oeste da ponte se localiza o assentamento de
palafitas, enquanto na porção leste se encontra a área
livre de lazer.

Esta área livre de lazer recebeu um projeto de


intervenção da prefeitura para se configurar como uma
praça. A praça apresenta duas quadras esportivas, uma
estação de reciclagem de lixo e uma extensa área com
gramado, canteiros para árvores e bancos de concreto.
Foi exatamente este espaço que foi alvo da intervenção
do grupo A Cidade Precisa de Praias.
Figura 66. Localização do bairro da Torre no município de Recife.png Figura 68. Vista da área de lazer à direita da ponte de pedestres.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 99
VISÃO

A intenção para a criação desta intervenção


veio de uma inquietação de André Moraes, arquiteto e
membro do grupo Praias do Capibaribe:

[...] tem um equipamento na beira do Rio,


tem uma área gigante, que foi desapro-
priada algumas vezes, tem o mangue, tem
a ponte, se a gente conseguir fazer uma
ação que articule isso aqui, essa praça gi-
gante que foi desapropriada, que hoje é
uma praça, e a prefeitura que fez um pro-
jeto e a população destruiu porque não
era o que eles queriam. A gente poderia
juntar isso, e nesse processo de juntar,
conseguir um apoio de alguma iniciativa
para lincar e não ser um projeto apenas
pontual, fazer uma ação [...] (MORAES, A.)

O objetivo principal era a ativação do espaço pú-


blico nas margens do Rio através da criação de experi-
ências lúdicas e espaços de lazer com poucos recursos.
O foco dessa intervenção era criar relações de afeto,
identidade e responsabilidade entre as pessoas e o es-
paço, motivando a criação de propostas futuras pelos
próprios moradores. Essa postura focada nas pessoas
parte da ideia de base dos dois coletivos envolvidos
que acreditam que o que faz um espaço ser público é o
uso que se faz dele, não sendo essencial a existência de
um mobiliário específico, ou de uma definição urbana,
antes de tudo é preciso que as pessoas tenham vonta-
de de ocupar aquele espaço. Figura 69. Margem do Rio Capibaribe na comunidade de Santa Luzia.png

100 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CONTEXTO

Segundo Amanda Florêncio, arquiteta urbanista Por esta razão a atenção na fase de comunicação
participante da intervenção, havia uma grande expec- precisa ser redobrada, infelizmente na intervenção não
tativa na criação dessa intervenção pois a comunidade houve muito tempo para realizar debates com a popu-
de Santa Luzia é muito valorizada pelas suas potencia- lação sobre a proposta, isso causou um certo incômodo
lidades. É uma comunidade organizada, numa área pri- e desconfiança por parte de alguns moradores, mesmo
vilegiada em relação a cidade e ao Rio, localizada no assim existiram algumas pessoas que se envolveram e
centro da sua extensão, tem uma infraestrutura bem reagiram bem a proposta como conta Amanda:
implantada e uma área de lazer às margens do Rio.

Devido às características da área o grupo se lan- [...] A dificuldade é o processo de comuni-


çou na articulação com os líderes da comunidade para cação, de deixar claro quem são essas pes-
dar viabilidade à intervenção. Segundo André um mês soas de fora e o que elas estão construin-
antes do período de intervenção se iniciaram os con- do nesse espaço, que é um espaço que é
tatos com os moradores para pensar a rede de possi- meu, assim como é da comunidade, acaba
bilidades, depois o grupo viajou para São Paulo e ao que quem se interessa pelo assunto vai fi-
retornar perceberam que essa rede de contatos ainda car sabendo o que é, vai se engajar, quem
não estava tão bem articulada, mas era necessário dar não se interessa, cria uma aversão né, e
continuidade ao plano de ação. muitas vezes tem um pouco de receio, de
medo mesmo, o que é que esse povo tá
Em se tratando de intervenções em comunida- aqui, no meu quintal, fazendo o que? Pra
des o contato com os moradores tem maior relevância que? Mas, ao mesmo tempo, a criança né
pela continuidade entre o espaço público e a moradia que é livre desses pudores todos, se apro-
é, a intervenção tem um impacto mais intenso no coti- pria do espaço, tem essa interação, essa
diano das pessoas, sobre isso Amanda diz: coisa de: “Eita, uma tela pra gente!” [...]
(FLORÊNCIO, A.)
[...] quando você faz uma intervenção no Figura 70. Início da intervenção na comunidade de Santa Luzia.png
Coque ou em Santa Luzia, ela tá dentro da
casa da pessoa, que a comunidade tem Amanda comentou em entrevista um pouco so- também pode se converter em um risco, na medida em
isso, não tem diferença da sua casa e do bre esse medo que permeia as ações que se propõem a que algumas das comunidades de renda baixa da cida-
espaço público, tudo é bem apropriado. ir para áreas de comunidade. As pessoas têm medo de de do Recife se localizam em áreas muito privilegiadas
Então, o que tá sendo feito ali é no quin- perder suas casas, de serem removidas de seus bairros, paisagisticamente, próximas das margens do rio, áreas
tal da casa das pessoas que moram ali [...] para elas qualquer mudança e até a melhoria pode ser que são visadas pelo mercado imobiliário.
(FLORÊNCIO, A.) vista como uma ameaça. A visibilidade da comunidade

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 101


PROCEDIMENTO

Condução:

A condução do processo foi feita de maneira


horizontal, segundo André esses movimentos de inter-
venção são experimentais e por isso são rígidos ou pla-
nejados, estando abertos a espontaneidade:

[...] A gente tem que deixar mais espaço


aberto pra espontaneidade, porque essa
espontaneidade que ao meu ver pode Figura 71. Limpeza do terreno na ação em Santa Luzia.png
trazer inovação e pode trazer coisa mais
emergente, sabe, mais coisa que sai do Diagnóstico e concepção:
chão, do que coisa que sai da cabeça de
um arquiteto [...] (MORAES, A.) No primeiro dia as pessoas se reuniram para fa-
zer a limpeza da área de lazer, alguns moradores esta-
vam presentes e ajudaram. O diagnóstico foi levantado
Apoio:
através de conversas informais, sem a necessidade de
Através das fotos é possível perceber que hou- consultas quantitativas por meio de questionários, por
ve certa adesão da população a proposta mesmo que exemplo. Aos poucos os técnicos foram idealizando o
a rede de contatos não estivesse totalmente consoli- que poderia ser construído e foram comprando mate-
dada. Uma senhora, por exemplo, ofereceu sua casa riais e contatando pessoas da comunidade e de fora
como base de produção e juntamente com outras pes- dela para se juntarem à proposta. Cada um se dedicava
soas se dispôs a organizar os almoços para quem estava aquela intervenção que lhe interessasse ou propunha
trabalhando. alguma atividade relacionada ao que sabia fazer.

102 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Mão-na-massa:

André destacou a presença de crianças na pro-


dução e de alguns adultos que também ajudaram com
a mão-na-massa:

[...] Então a gente construiu o deck... a


galera participava, no primeiro dia foi lim-
peza, crianças e adultos limpando, depois
construir o deck, “eita, faltou madeira!” aí
a galera conseguiu as madeiras pra gente,
então foi massa, esse processo todinho as-
Figura 72. Idealização das propostas para a comunidade de Santa Luzia.png
sim [...] (MORAES, A.)

Assim como outros grupos que se propõe a fazer


essas intervenções no espaço público, André aponta a
busca por enxergar possibilidades de experimentação
na cidade, testando soluções:

[...] Uma linha que eu tô seguindo porque


eu acredito muito é que eu tenho cada vez
fugido do planejamento e do desenho do
projeto, para encarar a cidade como um
laboratório de experimentação e pensar a
educação na rua, a educação na praça e
realmente entrar em contato com a popu-
lação [...] (MORAES, A.)

Figura 73. Construção da rede feita com nós no mangue em Santa Luzia.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 103
Produto:

Tudo foi construído de maneira simples e com


baixo custo, pequenas coisas como bandeiras de sina-
lização na ponte, um balanço na árvore, um píer com
pallets, dentre outros elementos. É interessante veri-
ficar nas fotos a curiosidade das crianças que sempre
Figura 74. Presença das crianças na intervenção de Santa Luzia.png
contribuem ou estão por perto para ver algo sendo
construído ou para experimentar os protótipos. A es-
cala da intervenção foi adequada a dimensão da praça
de lazer nas margens do Rio, diversos elementos foram
construídos, conformando uma ambiência lúdica atra-
vés de elementos simples. Sobre as soluções Amanda
diz:

[...] então era trazer pra Santa Luzia um


espaço público de qualidade, com baixo
recurso e mostrando, olha, se vocês se
juntarem enquanto vizinhos você podem
fazer isso, porque tudo que a gente tá fa-
zendo aqui é uma solução simples, é uma
tela com nó de pescador que é lançado na
margem do rio e você pode deitar entre o
mangue. Ou então um espaço que tem um
Figura 76. Construção do píer na comunidade de Santa Luzia.png
deck, que você possa ter contato com a
água do rio, foi feito também um tobogã,
que dava numa piscina de plástico apro-
veitando a inclinação do próprio terreno,
sempre no sentido do lazer [...] (FLORÊN-
CIO, A.) Figura 75. ConfecçãodasbandeirasefaixasnaaçãodeSantaLuzia.png

104 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Experimentação:

A construção dos protótipos durou 7 dias e o re-


sultado de curto prazo foi desfrutado no último dia que
se configurou como um momento de celebração onde
diversos grupos tiveram espaço para expor seus traba-
lhos, como atividades de massagem e ioga, apresenta-
ção de vídeos culturais, exposição de poemas, espetá-
culos de dança, aulas de bioconstrução, dentre outras
atividades. O evento recebeu um grande número de
pessoas e permitiu que muitas pessoas conhecessem
um pouco da comunidade, os moradores disfrutaram
de uma ambiência lúdica diferenciada, que deu uma
outra face aquele espaço subutilizado no dia-a-dia.
Figura 78. Celebração da intervenção na comunidade de Santa Luzia.png

Figura 77. Exposição de vídeos na celebração em Santa Luzia.png Figura 79. Espetáculos de música e dança na celebração em Santa Luzia.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 105
[...] claro que uma pessoa com conheci-
PARTICIPAÇÃO mento técnico e tal de planejamento pode-
ria dar outros encaminhamentos, mas eu
acho que a pessoa que mora é a que tem
Relação entre os técnicos e a população: mais domínio daquele lugar sabe, num sei
se eu tô sendo meio “anti-arquiteto”, mas
A participação é explorada na intervenção atra- geralmente eu sou mais a favor quando o
vés do processo de mão-na-massa, é possível perceber movimento envolve diferentes classes, di-
que o diagnóstico e a definição do produto foram pré- ferentes profissões, porque no fundo todo
-concebidos pelo grupo de técnicos e artistas que tem mundo é gente, todo mundo tem casa, ou
a ideia de ativar o espaço através do lazer. A estratégia quer ter, ou quer cuidar da sua casa, então
principal do grupo é, portanto, envolver a população a partir do momento que você cuida da ci-
na construção dos elementos da intervenção, para es- dade, desse espaço como sua casa, a coi-
timular que eles mesmos possam imaginar e realizar sa funciona. Agora quando você vem com
outras intervenções futuras. uma hierarquia profissional aí, eu acho
que esse tipo de ação, pra mim é a coisa
Nesse caso, o produto estabelecido não é fruto mais de base assim, mais essencial é não
de um debate com os moradores, ele surge como um ter hierarquia de profissão. Eu entendo o
cenário que pretende fomentar a percepção de que arquiteto como um facilitador, um guia,
a transformação pode ser feita de maneira simples e que detém o conhecimento técnico, mas
rápida pelos próprios moradores. Nesse sentido, o ar- o conhecimento de vivência daquele lugar,
quiteto não está ali para mostrar que ele é mais com- tipo: “eu sei a hora que bate o sol aqui,
petente para fazer a cidade, mas sim pra mostrar que só eu sei que tipo de planta vai sustentar
existem coisas que podem ser feitas por qualquer ci- aqui, porque o sol só bate até meio-dia”.
dadão, porque a responsabilidade com a qualidade de Então esse tipo de vivência, a sutileza, ou
vida é uma questão que deve ser enfrentada por todos. então “eu sei quais são as pessoas que ge-
ralmente rondam esse espaço, eu conheço
Nesse caminho o arquiteto é apenas um facilita- meus vizinhos, eu sei as dificuldades e as
dor, um guia, que detém o conhecimento técnico, mas potencialidades deles”, então o planejador
não é a arquitetura ou o objeto urbano o elemento es- e o arquiteto num tem esse conhecimento
sencial da proposta. Segundo Amanda: [...] (FLORÊNCIO, A.)

106 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


De certa maneira, esse conhecimento de cotidia- [...] a galera dizia: “poxa! Triste eles terem
no dos moradores que é comentado por Amanda, não feito isso!”, porque acabou que deu erra-
foi explorado na intervenção em Santa Luzia, aspecto do, só que ao meu ver deu certo sabe, ao
que gerou reflexões na análise pós-intervenção. Nos meu ver deu certo, gerou reflexão sobre
dias precedentes a finalização da intervenção os mora- essa necessidade de realmente não ser
dores se surpreenderam ao constatar que todo o mobi- um projeto tão pontual, ser um projeto
liário criado foi destruído e os materiais foram levados que englobe mais a comunidade. Tem que
para servir a outro uso por pessoas da comunidade. partir deles a necessidade, entendeu?!
André narra como eles souberam da notícia: A gente tem que tá mais como suporte,
aberto a troca, muito mais do que che-
Uma casa que tinha aqui na frente, a se- gar com alguma solução, que não foi... a
nhorinha fez as comidas que a gente al- gente construiu lá, mas mesmo assim, as
moçava todo dia, então, tinha uma rela- soluções não foram construídas por uma
ção de certa forma estabelecida. Só que conversa geral, foi construída a partir de
a gente fez a ação no domingo e depois conversas da gente com algumas pessoas
foi embora porque já era o plano de ir e presentes [...] (MORAES, A.)
a gente precisava descansar e não tinha
mais energia. Uma semana depois a se-
Para Amanda ficou o recado que a participação
nhorinha ligou pra gente, pra dizer “ó, foi
não pode se restringir a mão-na-massa, a participação
destruído, tudinho!”, ai mandou a foto
da população na definição do diagnóstico de necessi-
pelo whatsapp, todo o material de ma-
dades e da proposta é essencial para a identificação
deira, tudo separadinho, os tonéis, tudo
com a intervenção e para a sua continuidade:
Figura 80. Construção de banco a partir de uma carroça em Santa Luzia.png
flutuante, que a gente já tinha da Praia
desde a época do Derby, tudo destruído
e já separado também. E a galera pegou [...] tinha madeira boa lá, tela boa, então
o material pra fazer palafita. Ai hoje, tá você também num pode julgar, a pessoa
tudo meio ocupado de palafita [...] (MO- tá lá vivendo numa condição sub humana
RAES, A.) e vê aquele material pra lazer, ele pensa:
Não se sabe ao certo quem destruiu a interven- “primeiro minha casa, depois a gente vê
ção, se foi alguém envolvido na ação ou não, mas esse o lazer!” Aí fica a questão, do que é que
fato nos leva a refletir sobre as decisões que foram a gente precisa né? Quem é que tá pre-
tomadas no percurso. André colocou que muitos dos cisando, sou eu ou é a comunidade?! [...]
integrantes do coletivo ficaram frustrados e desanima- (FLORÊNCIO, A.)
dos com a notícia, mas para ele esse fato serviu de aler-
ta para a construção de novas reflexões principalmente
a respeito da participação da população no processo:
Figura 81. Pessoas usufruindo do banco em Santa Luzia.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 107
Nas reflexões de André essa discussão da neces- pintar a ponte, sabe? Pensar em coisas
sidade básica da população deveria ser ter sido mais que talvez, sejam necessárias. Porque
forte, eles deveriam dar ênfase no processo de cons- no fim das contas, a grande contribuição
trução de consciência coletiva. Esse objetivo de moti- que o urbanismo tático traz, é o processo,
var as pessoas a intervirem apesar de ser a essência da sabe, é o processo, muito mais do que os
intervenção saiu um pouco de foco nos dias de ação, produtos estabelecidos. Então ficou claro
porque as pessoas passaram a se concentrar na neces- pra mim essa questão de da necessidade
sidade de criação de um produto pronto e menos no do local sabe, tem que sair do lugar e do
debate e na sensibilização dos moradores. Em entre- lugar que eu digo não é só da nossa com-
vista André falou um pouco da desconstrução de uma preensão do lugar, é da compreensão das
ideia pré-concebida para o produto e nas possíveis mu- pessoas que vivem no lugar, isso pra mim
danças que faria se tivesse a oportunidade de intervir é o principal [...] (MORAES, A.)
novamente em Santa Luzia:
Através dessa intervenção ficou clara a relevân-
cia do engajamento da comunidade, da comunicação e
[...] antes de pensar e ações de Urbanismo da participação na definição do diagnóstico e na con-
Tático que são meramente ativadoras de cepção da proposta para a criação de intervenções com
um espaço ou qualquer coisa assim, que processos onde ocorra de fato uma reflexão em torno
é valido, tem que ver qual é a ação que do sentimento de identificação entre a comunidade e
é básica, entendeu?! Tem que pensar nas os lugares. A abordagem participativa precisa ir além
ações que realmente são necessidades, se da mão-na-massa para começar a gerar uma energia
eu fosse fazer uma ação dessa, como a de educativa no sentido da consciência coletiva.
Santa Luzia, eu não ia fazer do mesmo jei-
to, eu não ia fazer uma moradia, porque
não sei se seria o ponto inicial, mas talvez,
iniciar uma discussão e talvez ativar pe-
quenas coisas. Ao invés de fazer um tobo-
gã de água e um deck, que tem outro deck
aqui na frente já pronto, ou trazer uma
galera da comunidade que trouxeram uns
brinquedos infláveis e botaram lá, invés de
fazer um grande evento que mostra pom-
posidade, que na hora que você tira aque-
le negócio mostra frustação, talvez fosse
construir uma lixeirazinha, se necessário,
ou pintar um murinho lá, que tá feio, ou
Figura 82. Tobogã criado na intervenção na comunidade de Santa Luzia.png
108 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Relação com a prefeitura:

Santa Luzia é uma das áreas de intervenção Até o momento o projeto do Parque Capibaribe
do projeto Parque Capibaribe que é uma parceira da tem criado intervenções como cenários de teste incen-
Universidade Federal de Pernambuco com a Prefeitu- tivando o diálogo com a população e a criação de um
ra do Recife que pretende criar um parque linear nas engajamento entorno da realização e da fiscalização
margens do Rio Capibaribe a ser inaugurado na come- das obras do projeto. Infelizmente, embora os técnicos
moração dos 500 anos da cidade do Recife, em 2037. e a população tenham o interesse de quebrar a rigidez
Inicialmente a comunidade era uma das cotadas para dos processos de execução da prefeitura, ainda existe
receber a primeira construção do projeto, mas essa uma certa resistência por parte dos órgãos que dificul-
decisão foi modificada. Amanda destaca a necessidade ta a participação cidadã.
de realizar conversas com a população para definir o
diagnóstico da área e o programa de necessidades mais
específico se o projeto for compreender a comunidade:

[...] a comunidade ela não se resume ao lí-


der comunitário, então acho que se for ha-
ver o projeto é preciso ter muitas conver-
sas e mostrar o projeto, e fazer atividades
que as pessoas consigam se expressar o
que seria necessário, fazer esse, se expres-
sar do que seria necessário naquela área,
porque vai ser pra longo prazo. E esse fe-
edback poderia acontecer dessa forma: o
Parque Capibaribe poderia testar alterna-
tivas através de intervenções efêmeras, já Figura 83. Evento “Domingo no Baobá” nas margens do Rio Capibaribe.png Figura 84. Pessoas no evento “Domingo no Baobá” do Parque Capibaribe.png
que já teve uma intervenção lá como es-
paço de lazer, talvez eles venham a dizer
“não, a gente não precisa de espaço de
lazer a gente precisa de moradia.” Eu acho
que esse tipo de evento leva eles a terem
clareza, ver possibilidades de mudança
naquele espaço né [...] (FLORÊNCIO, A.)

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 109


IMPACTO SOCIAL

Infelizmente, não existe uma fórmula para se Além de provocar o encontro e a afetividade en-
chegar a sentimento de comunidade, inúmeras vezes a tre as pessoas, a intervenção proporciona um impacto
semente plantada nas intervenções não tem a força ne- rápido que possibilitam a criação de uma memória que
cessária para mudar a realidade imediata. O que acon- se agrega a vivência das pessoas:
tece normalmente é que a vivência é guardada pelos
poucos que a experimentaram e aos olhos dos outros a
análise da ação se faz considerando a estética dos pro-
Eu já fui em Santa Luzia depois, e como
dutos, sem levar em conta as trocas entre as pessoas.
é interessante você ir num dia que não
Sobre isso, André fala sobre outras intervenções com a
tá tendo intervenção “eita ó, num funcio-
mesma proposta que são consideradas de baixa qua-
na nada, no lugar que teve a intervenção
lidade por serem avaliadas segundo seus resultados
hoje é só um gramado ou então quando
plásticos:
chove a terra fica mais ativa” e perceber o
potencial de fazer uma coisinha assim, um
E é difícil encarar enquanto processo, por-
estalo e mudar aquela área, então eu acho
que muitas vezes estamos acostumados a
que a intervenção ela tem esse papel de
trabalhar com produtos. A gente fez três
transformar espaços de maneira rápida,
workshops aqui e as pessoas que cos-
efêmera e bum! De repente, muda a re-
tumam trabalhar com projeto de arqui-
alidade dali. O que pode ser a mais, pode
tetura, de paisagismo, acharam que foi
ser muita coisa, plantar essa semente da
péssimo, acharam ruim, só que num era o
criação de novos espaços de acordo com a
projeto, era conseguir misturar pessoas e
necessidade deles, hoje tá parado, porque
as pessoas estarem realmente envolvidas
eles não sentiram necessidade, mas se
com afetividade, tanto que agora aca-
amanhã tiver uma festa de carnaval pode
bou os eventos, e a galera tá marcando,
ser que eles ocupem aquele lugar, porque
a galera da França da vindo, a galera de
eles já criaram na história de lugar deles
Natal tá vindo, pra semana que vem, che-
que aquele lugar pode ter um evento, en-
gam segunda-feira pra terminar de pintar
Figura 85. Uso do banco na praia de Santa Luzia.png tão isso ai, possibilitar esse tipo de visão
o prédio lá atrás, sem ter dinheiro sem
desse lugar diferente, isso é interessante
nada, que a gente não tem material, não
[...] (FLORÊNCIO, A.)
tem mais nada [...] (MORAES, A.)

110 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Em se tratando do sentimento de apropriação memória e criou uma relação com aquele
do lugar, ainda que a destruição da intervenção tenha espaço diferente, aí no outro dia sai uma
sido um acontecimento frustrante, para Amanda, de notícia, não nessa sequência, mas sai uma
certo modo a intervenção cumpriu sua função: notícia no jornal dizendo que parte da co-
munidade de Santa Luzia foi, sofreu um
incêndio, e aí então você já concatena os
fatos: “poxa, isso aconteceu, isso foi lá,
[...] eu não sei falar muito bem sobre o
teve esse evento, é nesse lugar da cidade”,
sentimento de apropriação daquele espa-
então você começa a criar espaços na ci-
ço. Mas de toda a forma a partir do mo-
dade de apropriação nesse sentido sabe
mento que a comunidade ou parte dela
[...] (FLORÊNCIO, A.)
né, se apropria das madeiras, da tela que
tava ali, pra dar outro uso, é uma forma de
apropriação também dessa intervenção.
Você pode olhar dessa forma: “ah é meu,
né, num é pra gente, a gente num tem que
usar da melhor forma que a gente preci-
sa?!” Então eu acho que teve êxito nesse
sentido. Nem tudo que a gente acha que é
melhor pra gente é melhor pra outra pes-
soa, que seja melhor pra quem mora ali,
se apropriar. Então eu acho que quanto a
essa apropriação aconteceu isso, e outra
coisa pelo que eu já conversei com pesso-
as que foram nesse dia é conhecer uma
área da cidade que não existia no mapa
mental delas e que hoje existe. Quando se
fala na comunidade Santa Luzia pronta-
mente se vem esse evento na cabeça, que
eu acho que esse tipo de evento, ele gera
uma interação com o espaço público, que
pode mudar a apropriação da cidade pe-
los moradores. Um dia você num sabia o
que era essa comunidade de Santa Luzia, Figura 86. Pessoas atravessando do Parque de Santana à Santa Luzia.png
nem onde ela tava localizada na cidade do
Recife, aí outro dia você foi pra um even-
to que aconteceu lá, você guardou uma

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 111


DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL DA INTERVENÇÃO PRAIA DE SANTA LUZIA
Figura 87. Processo Santa Luzia.png
112 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 113
3.2.3 HORTAS COMUNITÁRIAS - CASA AMARELA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL

O QUE É O GRUPO CASA AMARELA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL?

O Grupo Casa Amarela Saudável e Sustentável, é


conformado pelos moradores do bairro e se concentra-
va principalmente na realização de reuniões e debates
visando o encaminhamento de planejamentos à prefei-
tura, sobretudo com relação a melhoria da Biblioteca
Pública de Casa Amarela. Com a iniciativa para a reali- Figura 88. Casa Amarela Saudável e Sustentável.png
zação da horta, o grupo ganhou ânimo e passou a reali-
zar diversos eventos e reuniões que envolvem deman-
das sobre os equipamentos públicos do bairro, além de
debates sobre saúde, sustentabilidade, cultura e lazer.

O papel da horta, neste aspecto, foi incentivar


a realização de melhorias mais imediatas pela própria
população através de iniciativas de baixo custo, para
em paralelo reivindicar por processos de planejamen-
tos de responsabilidade da prefeitura. Essa postura é
incentivada em diversas experiências do urbanismo tá-
tico onde a intervenção serve para atrair o olhar dos
órgãos públicos para problemas de pequena escala as-
sociados ao cotidiano da comunidade, problemas que
normalmente não estão no foco das decisões públicas.
Figura 89. Foto de um mutirão na Horta Souto Maior.png
114 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
ONDE FOI FEITA A INTERVENÇÃO?

O bairro de Casa Amarela se situa na região nor-


te da cidade do Recife, na Região Político Administra-
tiva 3. De acordo com o Censo Demográfico de 2010
realizado pelo IBGE, o bairro tem área territorial de 188
hectares com uma população residente de 29.180 ha-
bitantes, apresentando uma densidade demográfica de
155,09 habitantes por hectare. O bairro que é um dos
mais populosos da cidade, tem valor do rendimento
nominal médio mensal dos domicílios de R$ 4.236,69
(Censo Demográfico IBGE, 2010). Figura 91. Bairro de Casa Amarela.png

Casa Amarela é conhecido pela forte presença


do comércio, principalmente em seu Mercado Público
que é intensamente utilizado pela grande variedade de
produtos populares que apresenta. Além disso, o bairro
conta com a existência de diversos grupos culturais, a
edição especial número 2 da Revista Algo Mais destaca
os grupos Bloco Afro Raízes do Quilombo, a banda de
Reggae Brasáfrica, o grupo Hip Hop Mago MC e blocos
carnavalescos como a Troça Carnavalesca Mista Quem
Fala de Nós Não Sabe o Que Diz.
Figura 92. Primeira horta comunitária de Casa Amarela.png

A força de grupos culturais na área é fortaleci-


da pelo aspecto histórico, nos anos 1960 a maior área Figura 90. Localização do bairro de Casa Amarela na cidade do Recife.png
livre do bairro, o Sítio da Trindade, foi a base da orga-
nização do Movimento de Cultura Popular (MCP), que
era formado por estudantes universitários, artistas e
intelectuais com o objetivo de desenvolver ações co- localizam na ponta à leste do bairro, bem próximas uma
munitárias de educação com ênfase na cultura popular da outra. A primeira, chamada Horta Souto Maior tem
(Edição Especial 2, Revista Algo Mais). cerca de 580 m² enquanto a segunda, Horta Arnoldo
Magalhães, fica localizada numa porção de um terreno
Em 2015 se iniciaram as intervenções para a abandonado de cerca de 2.390 m².
construção das hortas comunitárias no bairro, elas se
Figura 93. Segunda horta comunitária de Casa Amarela.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 115
VISÃO

A ideia para criar a horta surgiu pela iniciativa Como o desejo de intervir tem como base a me-
uma moradora do bairro, Isabelle Santos (estudante de lhoria de um espaço em desuso, vê se a preocupação
museologia de 25 anos), que encantada com os exem- com a cidade em primeiro lugar, o sentido de respon-
Figura 94. Área abandonada antes da realização da Horta Souto Maior.png plos de agricultura urbana em São Paulo, Rio de Janeiro sabilidade com a melhoria de vida para a comunidade
e Brasília enxergou a possibilidade de criar uma horta é forte ao ponto dos participantes enxergarem a pos-
na frente do edifício onde mora, numa área abando- sibilidade de converter a intervenção em um modo de
nada. Para encontrar outras pessoas com o mesmo subsistência e geração de renda para quem precisa.
interesse Isabelle colocou a ideia nas redes sociais do Considerando a classificação de Yanki Lee podemos
Grupo Casa Amarela Saudável e Sustentável, e dessa constatar que a intervenção urbana da horta comuni-
maneira o grupo cresceu e se fortaleceu, iniciando a tária tem como objetivo a motivação, visto que ela é re-
intervenção. alizada pelos usuários do local que incentivam a partici-
pação de todos para a melhoria do espaço em comum.
O objetivo da ação é a transformação de um
espaço abandonado em uma horta-praça, um espaço O objetivo para longo prazo é a criação de um
de lazer para o encontro entre pessoas que é ao mes- espaço de lazer educativo, onde as pessoas possam
mo tempo local de cultivo mantido pelos moradores. aprender sobre as plantas e os alimentos cultivados,
O participante George Camilo, que se desloca de Sítio através de palestras e oficinas sobre agricultura urba-
dos Pintos para ajudar nos mutirões de Casa Amarela, na, bio-cosméticos e possíveis usos que podem ser fei-
destaca o desejo de converter a horta num espaço que tos a partir da plantação. A este respeito George coloca
gera conhecimento e sustento para aqueles que não a importância de atingir as crianças e os adolescentes,
tem uma boa condição financeira: fazendo com que elas tenham contato com a horta,
duas à três vezes por semana através de oficinas, assim
[...] a gente tem uma geladoteca agora, elas podem ir crescendo e aprendendo, criando afini-
as pessoas podem vir pegar um livro, levar dade e cuidado com o espaço.
pra casa, ler, botar outros livros. A gente
também pretende depois, fazer pequenos
lotes de alimentos, para famílias do bair-
ro que tem baixa renda poderem utilizar,
plantar, vender, consumir e gerar renda
pra eles mesmos [...] (CAMILO, G.)
Figura 95. “Geladoteca” ou biblioteca em geladeira na horta .png
116 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
CONTEXTO

A maioria dos participantes são pessoas entre 25 Este mesmo comentário foi feito por George, muito forte, aos poucos as pessoas vão despertando,
e 30 anos moradores da área, mas também existe um que aponta a desconfiança como um dos obstáculos a na entrevista ela comentou a ação de pessoas que tem
pequeno número de pessoas de outros bairros que se participação da população: começado a buscar maneiras de fortalecer a vivência
somaram ao grupo e participam das ações. na horta:
[...] sempre que tem um trabalho de horta
[...] tem uma escola que vai participar, tra-
De acordo com Isabelle a quantidade de envol- tem uma desconfiança, a comunidade não
zer os alunos pra aula de horti-fruti, uma
vidos no primeiro encontro para a criação da primeira acredita que alguém vai plantar, “Ah, eles
matéria que tem na escola. Ai tão orga-
horta foi cerca de 60 participantes, atualmente a cada vão me dar hortaliças”, ninguém acredita
nizando pra trazer os alunos pra horta
encontro mensal cerca de 30 pessoas comparecem ao nisso, “Ah, eles vão moldar aquele terre-
pra participar. Então assim, aos poucos a
mutirão, mas há muito para ser feito, e uma adesão no baldio da minha casa, que eu sempre
comunidade vai participando, é meio de-
maior dos moradores é essencial para o grupo. Infe- vi, ninguém acredita que a mudança vai
morado, mas aos poucos tá tendo mais
lizmente, todos os participantes entrevistados mostra- acontecer. Aí falta um engajamento da po-
consciência de preservar a natureza [...]
ram uma preocupação com a existência de uma par- pulação realmente, imagina se todo mun-
(GUEDES, B.)
ticipação mais efetiva da população de moradores na do que morasse num círculo de 5 km vies-
criação e na manutenção das hortas. se. Era potencializado 10 mil vezes. Falta
o engajamento realmente da população,
Segundo Isabelle, muitas pessoas usufruem do porque a gente tem um grupo grande?!
espaço criado pelo grupo, mas não participam ativa- Tem! Mas a gente quer a coisa horizontal,
mente da realização dos mutirões. Ela afirma que não é pra todos, falta as pessoas entenderem,
existe um sentimento de coletividade por parte da abraçarem a ideia de que isso aqui é pra
maioria dos moradores, muitos deles não veem razões todos, não é pra alguns. Eu acho que vai
para a melhorar um espaço abandonado ou para culti- muito da questão cultural também, da
var alimentos que podem ser utilizados por todos: gente, de sempre desconfiar [...] (CAMILO,
G.)
[...] uma das coisas que o pessoal pergun-
tava “Ah, a gente vai plantar pras pessoas Mesmo com o individualismo e com a descon-
colherem?”, é justamente essas coisas a fiança, o grupo continua a realizar a intervenção. Para
gente tem que desconstruir na gente, esse a artista plástica Betânia Guedes, a continuação da
egoísmo, de que a gente tem que fazer só intervenção é necessária ao estímulo da participação,
pra gente, a gente não faz só pra gente, tá as pessoas vão aos poucos aderindo e se somando ao
fazendo, até pra quem não quer [...] (SAN- grupo a partir da consolidação da experiência. Ela diz
TOS, I.) que apesar da participação da comunidade não ser
Figura 96. Criação de placas de sinalização na Horta Souto Maior.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 117
PROCEDIMENTO

Planejamento:

A realização da intervenção é acompanhada por pessoa se utiliza dos seus conhecimentos para prestar
uma fase de planejamento realizada via redes sociais algum serviço na horta:
e através de aplicativos para mandar mensagens em
grupo. O planejamento é focado no mínimo, o grupo
[...] fizeram uma topografia, teve um to-
acorda quando será o encontro, quais as ferramentas
pógrafo que também mapeou, pronto é
necessárias, a divisão de equipes para fazer o mutirão
assim, cada um ajuda no que pode [...]
e no dia de intervenção que a maioria das decisões são
(GUEDES, B.)
tomadas. Segundo Isabelle, existe um esforço do grupo
em procurar realizar o mínimo de planejamento, para
que as ideias não fiquem muito definidas no papel e Com relação ao planejamento de longo prazo
depois sejam difíceis de serem concretizadas. para a intervenção segundo a participante Betânia as
Figura 98. Foto dos bancos doados pelo INCITI na Horta Souto Maior.png
pessoas se dividem em grupos que realizam as ativida-
É possível perceber a importância das redes so- des de “mão-na-massa” na horta e as pessoas que se
ciais para a articulação e a divulgação deste tipo de engajam em resolver questões burocráticas de reivindi-
intervenção. Como afirmou Mike Lydon, a presença cação à prefeitura.
destes meios fez com que as ações estejam a mão de
qualquer pessoa que tem a possibilidade de pesquisar Apoio:
referências e testar experiências em seu bairro.
A intervenção conta com colaborações e apoio
Condução: de alguns grupos, como por exemplo, a Pastoral da
Saúde e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA)
A condução do processo vem sendo realizada de que já cedeu adubo e a Empresa de Manutenção e Lim-
maneira horizontal, sem hierarquias, todos os partici- peza Urbana (EMLURB) que disponibilizou material de
pantes colaboram com as decisões e podem contribuir compostagem para o plantio. O laboratório INCITI de
como puderem para as realizar as atividades. Conside- Pesquisa e Inovação para as Cidades da Universidade
Figura 97. Prototipagem de mobiliário na Horta Souto Maior.png rando esse aspecto, é possível entender que cada pes- Federal de Pernambuco – UFPE ajudou a intervenção
soa participante se sente parte essencial da horta, de doando diversos bancos que foram criados numa ofici-
certa maneira eles enxergam que a horta é um refle- na de intervenção urbana no centro do Recife.
xo de suas ações, a moradora Betânia coloca que cada
118 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Diagnóstico e concepção Mutirão:

O diagnóstico e a concepção das soluções são Na data do mutirão a ação é realizada ao longo
realizados coletivamente no dia da intervenção através de todo o dia, a construção da horta se faz em contato
da conversa e do debate entre os participantes, a me- com o terreno, as pessoas levam as mudas e as ferra-
todologia utilizada é principalmente a prática do muti- mentas e definem como será o divido o trabalho. No
rão autogerido. Assim que se decide o que e como será horário do almoço há uma pausa, em que todos podem
feito, se passa para a fase de mão-na-massa com a lim- conversar e descansar para depois voltar ao trabalho,
peza do terreno, o plantio e a prototipagem de cantei- no fim do dia as pessoas também se reúnem para a
ros, bancos, placas de sinalização, bicicletário, lixeiras, etapa de experimentação, para desfrutar do encontro
dentre outros equipamentos. e falar sobre o trabalho realizado e sobre o que ain-
da deve ser feito. Na primeira horta a continuidade da
A realização da intervenção pelos próprios mora- ação está definida, os mutirões ocorrem em cada pri-
dores faz com que as transformações realizadas sejam meiro sábado do mês. Na segunda horta a definição da
sentidas pelos próprios agentes da ação no cotidiano, continuidade ainda não foi consolidada.
isto fortalece a ideia de que é possível sim melhorar a
cidade através de pequenas ações mesmo sem ter uma
formação associada a criação de espaços.

Nas hortas, os mutirões ocorrem basicamente


sem a presença de arquitetos, portanto não há uma
reflexão mais específica quanto aos aspectos: compo-
sição dos espaços, estética, o traçado dos caminhos, a
escolha de cores e a localização do mobiliário. A inter-
venção se faz através da observação de referências e
inspirações e de maneira mais intuitiva, o foco maior é
a resposta as questões funcionais relacionados as ne- Figura 99. Cultivo na Horta Souto Maior.png Figura 100. Colheita de alimentos na Horta Souto Maior.png
cessidades dos usuários.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 119


Produto:

O grupo tem quase 1 ano de intervenção e até o


momento o resultado de curto prazo tem rebatimento
no contexto local e conta com criação de uma horta
comunitária composta por bancos e espaços de estar
além de áreas de plantio onde as pessoas podem co-
lher: batata doce, macaxeira, tomate, berinjela, abobri-
nha, ervas aromáticas dentre outros alimentos.

Experimentação:

Além das atividades de cultivo e plantação, ou-


tras atividades se agregam à experiência na horta, já
ocorreram treinos de ioga, festas de carnaval, oficinas
de arte para a criação de placas de sinalização, brechós,
dentre outros eventos. Para arrecadar dinheiro para as
intervenções já ocorreram bingos, que também foram
momentos de descontração na horta. Os participantes
estão livres para sugerir e realizar qualquer evento na
horta, desde que as pessoas estejam comprometidas
com a manutenção do bom estado da horta.

Figura 101. Treino de ioga na Horta Souto Maior.png

120 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


PARTICIPAÇÃO

Relação entre os técnicos e a população: Infelizmente, os técnicos que têm investido na ção não estão inseridos na vivência e na experimenta-
proposição de projetos para longo prazo, não se debru- ção cotidiana do fazer a horta.
A participação na intervenção é pautada na co- çam mais intensamente sobre a reflexão em torno das
laboração entre a população, a intervenção conta com ações imediatas, de certa maneira, o que se faz hoje Esta atuação afeta o processo e o produtos das
a presença dos usuários em todas as suas etapas.Isa- na horta é pensado por um grupo da população e o intervenções, visto que os técnicos poderiam trocar
belle chama atenção para a diferença no processo de projeto de futuro é concebido pelos técnicos em conta- conhecimentos com os usuários para construir um es-
construção da praça que leva as pessoas a terem uma to com a população. Isso demonstra uma postura mais paço de maior qualidade urbanística e paisagística, ao
relação de afeto com a horta: aberta da população, disposta a construir a horta no mesmo tempo que os arquitetos teriam a possibilidade
presente e discutir sua realização no futuro e uma pos- de aprender com os usuários sobre as qualidades fun-
tura um pouco mais fechada dos técnicos, que apesar cionais essenciais a vida cotidiana.
[...] você vê ai várias praças abandonadas
porque são espaços em que os moradores de se engajarem no debate participativo com a popula-
não foram ouvidos, pra saber o que eles
queriam e simplesmente criaram aque-
les bancos de cimento, botaram aquelas
coisas bem mecânicas, que as pessoas só
tão ali, passeando com o cachorro e tal,
acabou, não fazem mais nada ali. E esse
outro modelo, você se envolve muito mais
assim sabe, emocionalmente com o espa-
ço, então você vai cuida muito mais, você
não vai deixar que ninguém também faça
nada pra destruir [...] (SANTOS, I.)

Embora a realização da horta não tenha técnicos


de arquitetura acompanhando os mutirões, existe uma
equipe de arquitetos e estudantes que vem realizando
um projeto para longo prazo da horta Souto Maior. A
conformação do projeto de longo prazo tem sido par-
ticipativa, pautada sobretudo na realização de debates
sobre o projeto.

Figura 102. Exposição do projeto Horta Souto Maior por Luciana Raposo e equipe.png
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 121
Relação com a prefeitura:

Na conformação da horta, há um interesse em A visibilidade da intervenção vem ganhando for-


manter o contato com a prefeitura para viabilizar de- ça e gerou uma visita do prefeito do Recife Geraldo Júlio
mandas do presente e ideias de projeto para o futuro. as duas hortas em abril de 2016. Nesta ocasião a pre-
A realização da horta traz mudanças imediatas e ajuda feitura se comprometeu em oferecer a infraestrutura
a pressionar ações dos órgãos públicos. Isabelle desta- adequada para que os cidadãos pudessem continuar a
ca a relação entre o grupo e a prefeitura: ocupar as áreas. Além disso, a prefeitura se responsabi-
lizou pela realização de campanhas de conscientização
sobre limpeza urbana através da Empresa de Manuten-
[...] eu acho que a prefeitura não proíbe
ção e Limpeza Urbana (EMLURB).
a gente de fazer as modificações não. A
prefeitura até ajuda assim, com uma ter- Segundo Isabelle a prefeitura tem considerado a
ra, com um negócio, só que eles pedem o horta como uma possibilidade de criar um novo mode-
projeto, é um projeto bem minucioso, a lo de praça que possa ser adotado para toda a cidade,
gente tá elaborando, porque a gente tam- uma praça pública misturada com horta. Essa alternati-
bém entende que mexer com órgão pú- va revela o risco da generalização de uma solução local
blico também requer isso, então a gente levada como uma cópia para o contexto global.
também não se irrita muito com isso não,
porque sabe que são duas mãos [...] (SAN- É preciso compreender que o processo de apren-
TOS, I.) der com micro-intervenções requer uma habilidade de
pensar no macro para avaliar qual a essência daquela
experiência que pode ser partilhada na cidade. O rele-
vante em ações como as hortas comunitárias de Casa
Amarela é entender o papel de cada um na construção
e na manutenção dos espaços públicos e favorecer o
encontro e a criação de relações de responsabilidade.
O produto ou a solução local, que neste caso é a horta,
funcionou bem nesse contexto, mas não significa que
deve ser uma solução multiplicada na cidade, sem ser
avaliado o contexto de inserção.

Figura 103. Prefeito Geraldo Júlio nas hortas em abril de 2016.png


122 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
IMPACTO SOCIAL

Grande parte dos participantes enxergam o tra-


balho na horta como um momento de aprendizado, la-
zer e solidariedade, a consciência ecológica é um valor
que eles tentam integrar a sua vida e utilizam a horta
como o espaço de dedicação ao meio ambiente. Sobre
este ponto, Betânia coloca:

[...] eu sinto uma alegria muito grande em


ver a horta indo pra frente. Olha, eu ve-
nho do Sítio da Trindade as vezes, aí vou
lá, pego umas folhinhas de couve, pego
tomate, maxixe, eu colho e levo pra casa,
entendeu? É bem legal porque estamos
precisando plantar mais, é isso, aos pou-
cos é que vai atingindo os objetivos [...]
(GUEDES, B.)

Figura 104. Mutirão na Horta Arnoldo Magalhães.png


George destaca a horta como ambiente de cons-
trução de amizade, segundo ele já ocorreram casos em
que pessoas se conheceram na horta e descobriram
que são vizinhas há muito tempo, além disso há um
sentimento de afetividade que se constrói com a pró-
pria horta, Betânia conta que o marido dela é aposen-
tado e dedica duas horas todos os dias para o cultivo
na horta. Estas histórias que se constroem na horta e
com a horta ficam marcadas na memória das pessoas
e traduzem o afeto e a identificação que as mesmas
tem com o lugar, o procedimento de vivenciar novas
experiências em contato com a cidade permite a res-
significação do valor destes espaços pelos habitantes.
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 123
Isabelle considera que para o tempo de inter-
venção os resultados já são muito positivos, ela destaca
a apropriação da horta pelas pessoas que estão envol-
vidas no processo de construção:

[...] eu acho que está no caminho, pra oito


meses mesmo, eu acho que a gente já con-
seguiu bastante, pra dar sequência ao ob-
jetivo final que é esse de tornar o espaço
bem educativo. E quando eu vejo assim,
que já várias pessoas já pegaram a ideia
e querem fazer em seus bairros, e levam
mudas pras suas casas, enfim... vejo dire- Figura 105. Horta Souto Maior após as intervenções.png
to o povo colhendo as ervinhas pra botar
no tempero da comida no almoço. Eu acho
que já atingiu os objetivos da intervenção
[...] (SANTOS, I.)

Betânia também comenta o envolvimento das


pessoas com a melhoria do bairro:

[...] falta muito, muito ainda, mas isso ai é


com o tempo, eu acho que o que a gente
realmente quer é que a comunidade tenha
consciência de participar para melhorar o
espaço do bairro, olhe, tem pessoas que
vem de outro bairro, vem do Rosarinho,
vem do Espinheiro, vem aqui participar,
porque são pessoas que visam o melhor
pra comunidade [...] (GUEDES, B.)

Figura 106. Horta Arnoldo Magalhães após as intervenções.png


124 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
Isabelle deixa uma pista quanto a essa essência Nestes processos, mesmo que o produto leve
que deve ser estimulada, revelando que o processo de anos para ser realizado, a participação na intervenção
intervenção, a iniciativa e os objetivos são mais impor- muda algo nas pessoas a cada mutirão, a forma como
tantes do que os produtos determinados: se enxerga a cidade pode ser modificada e ser preen-
chida por mais reflexões e até por um certo otimismo.
Para George a participação na intervenção tem relação
[...] eu acho que a partir das mobilizações com a busca por um novo modo de vida, uma nova ma- [...] a participação na intervenção muda a
as pessoas despertaram pra essas área neira de enxergar suas ações no mundo: forma como eu enxergo a cidade e como
abandonadas, que ninguém faz nada, e eu enxergo as coisas, quando você come-
poxa, “é meu também!” se apropriar dis- ça a trabalhar com horta você já não vê o
so e começar a fazer mesmo, sem esperar pneu como lixo, você vê o pneu como uma
pelo poder público, acho que despertou possibilidade de ser um canteiro, você já
isso na cidade, sabe! “Poxa, eu acho que não enxerga aquela caixinha de suco ou a
eu posso fazer muito mais do que esses caixinha de leite como lixo, você já enxer-
poderes!” Porque a gente fica só esperan- ga aquilo ali como uma sementeira. Então
do, esperando, esperando, sempre tercei- tudo pode ser reaproveitado, tudo pode
rizando a culpa, a gente também tem uma ser inserido num espaço só, e o melhor de
parcela de culpa em várias coisas. Então tudo é que a partir desse equipamento,
a gente também tem que fazer o que nos que a gente vai transformando mudan-
cabe [...] (SANTOS, I.) ças, é como realmente uma mandala, é
tudo circular, eu começo a mudar aquele
espaço que era ocioso, ai eu já começo a
me preocupar com a questão do lixo, co-
meço a me preocupar com o espaço de
convivência da comunidade, começo a me
preocupar comigo mesmo, será que a mi-
nha alimentação tem sido a mais saudável
possível?! É como uma mandala [...] (CA-
MILO, G.)

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 125


DIAGRAMA DO PROCESSO PROJETUAL DA INTERVENÇÃO HORTAS COMUNITÁRIAS DE CASA AMARELA
Figura 107. Processo Casa Amarela.png
126 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 127
3.3 SÍNTESE

As três intervenções analisadas exploraram uma


metodologia de projeto participativa pautada nas ba-
ses do Urbanismo Tático, onde intervenções pontuais
buscam criar debates sobre possíveis projetos futu-
ros. Uma visão comparativa permite observar algumas
semelhanças e diferenças interessantes a serem des-
tacadas para a conformação de eixos de reflexão ou
princípios que podem servir de guia para futuras in-
tervenções. Considerando o caráter exploratório des-
sa metodologia e sua possibilidade de se expandir,
se transformar e evoluir, os princípios aqui colocados
devem representar ideias de possibilidades, mas não
devem ser vistos como limitantes, eles são um ponto
de partida para quem deseja criar outras metodolo-
gias de ação na cidade. Os princípios serão explanados
de modo a comentar os 5 pontos que conformaram a
investigação: visão, contexto, procedimento, participa-
ção e impacto social.

Estes cinco pontos além de estarem associados


aos critérios colocados por Lee (2006) e Lydon (2012),
corroboram com a análise de outros especialistas. O
pesquisador Juan Freire (2010), por exemplo, define
os pontos básicos da metodologias das intervenções
como: colaboração, realização de ciclos de divergência
e convergência para a ideação de alternativas, experi-
mentação pela construção de protótipos a serem testa-
dos e melhorados, construção de propostas centradas
no usuário e abordagem integradora pelo diagnóstico
de problemas sob diferentes perspectivas.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 129


VISÃO

De maneira geral a intenção principal das inter- desenvolvimento do arquiteto. Enquanto a Intervenção neza de 2016. O projeto foi uma iniciativa da Fundação
venções é levantar o debate sobre a cidade. Segundo a em Santa Luzia teve como objetivo a criação de uma Vale e do Ministério das Cidades para apoiar a auto-
pesquisadora Águas (2012) a relação entre participação relação de afeto e identificação entre os moradores e gestão na construção de 500 moradias populares em
e cidadania é o que motiva estas ações. O objetivo além a margem do Rio Capibaribe, estando mais relaciona- Parauapebas no Pará.
de gerar soluções é provocar e envolver a população da com as pessoas. Por último a Intervenção em Casa
em torno de reflexões acerca da tomada de decisões Amarela tinha como eixo a ativação de um espaço No projeto Selo de Qualidade MCMV os usuários
de planejamento. Estas intervenções são conceituadas abandonado, estando mais centrada no espaço públi- participaram de oficinas para compor as decisões em
pelo urbanista e político Jaime Lerner como acupun- co. Estas abordagens diferenciadas provocaram esco- três escalas: do bairro, das quadras e da moradia. Gru-
turas urbanas, segundo ele, as agulhadas, ou ações lhas de distintos métodos de ação, o que revela a na- pos de 50 pessoas utilizaram ferramentas como ma-
locais podem gerar boas energias, fazendo as pessoas tureza variada de ações aparentemente semelhantes. quetes para definir a melhor conformação urbana com
entenderem e planejarem sua própria cidade. Sob esse os elementos essenciais para a qualidade da ocupação.
aspecto, a transformação de pequenos espaços viram Embora as intervenções estejam quase sempre As simulações geraram desenhos que servirão de ins-
uma plataforma para falar de diversas coisas, como: relacionadas à projetos de espaços públicos, o proces- piração e guia para os técnicos elaborarem a proposta
meio ambiente, saúde, sustentabilidade, lazer, acesso so participativo que elas propõem podem ser utilizados detalhada. Esse tipo de dinâmica também é utilizada
a arte, afetividade, sociabilidade, respeito, responsabi- em diversas situações de projeto onde a participação pelo grupo USINA para a configuração de oficinas parti-
lidade cidadã, organização comunitária, dentre muitos dos usuários na construção da solução é essencial, em cipativas com os futuros moradores dos edifícios habi-
outros assuntos. projetos de escolas, de hospitais e edifícios habitacio- tacionais. O interessante neste aspecto é perceber que
nais, por exemplo. O potencial da metodologia está as ferramentas descobertas através do panorama histó-
Nas intervenções não é diferente, uma série de principalmente na prototipagem que num sentido mais rico e da análise das intervenções podem servir como
temas são abordados embora cada intervenção tenha amplo é a prática de criar simulações de cenários de base para a realização de experimentos em diferentes
um foco principal que acaba por influenciar a escolha intervenção que podem compreendidos de maneira escalas de trabalho, o que confirma a relevância em es-
de condução do processo e as metodologias aplicadas. mais efetiva pela população para gerar debates e re- tudar intervenções de menor escala que sintetizam e
A intervenção do Alto da Sé, por exemplo, teve como flexões sobre a solução. Esta abordagem que foi utiliza- geram reflexões sobre processos mais complexos.
foco a realização de um processo educativo para estu- da nas três intervenções em análise foi explorada por
dantes de arquitetura que procuraram resolver proble- exemplo, no projeto Selo de Qualidade do Minha Casa
mas reais da população, estando mais voltada para o Minha Vida, projeto brasileiro exposto na Bienal de Ve-

130 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


CONTEXTO

O conhecimento do contexto é um dos fatores ação do grupo Atelier Vivo, que desde o início mostrou
de maior relevância no desenvolvimento de interven- a preocupação em realizar a ação em um lugar que
ções participativas. Pois para alcançar os objetivos de fosse bem conhecido pelos técnicos. Um dos aspectos
educação, conscientização e reflexão as ações precisam colocados pelos arquitetos do grupo foi o comprometi-
de um alto grau de envolvimento dos participantes. A mento. Em ações participativas a população espera por
partir da análise das três intervenções foi possível cons- resultados de impacto, por isso é fundamental o empe-
tatar que as intervenções que são de iniciativa da pró- nho na busca pela melhor solução. Para somar esforços
pria população ou que são iniciadas por técnicos que em busca da melhoria da qualidade de vida os técnicos
conhecem bem a comunidade são aquelas em que podem procurar a colaboração com a população atra-
normalmente há um maior engajamento da população vés de associações de bairros, lideranças comunitárias,
para participar e contribuir com a proposta. Esse envol- organizações não governamentais, dentre outros gru-
vimento tem relação com o sentimento de comunida- pos com pessoas interessadas em desenvolver experi-
de que leva as pessoas a investirem nas intervenções ências nesse sentido.
como forma de doar um pouco do seu tempo e aten-
ção para a cidade. Uma intervenção de exemplo que mostra como
o projeto pode evoluir com a ajuda dos moradores foi
A intervenção Praia de Santa Luzia foi a ação que a experiência Vila Flores, que também compõe o Pavi-
revelou a necessidade de refletir com mais atenção so- lhão brasileiro na Bienal de Veneza de 2016. O projeto
bre o contexto. Ao final da ação os próprios técnicos realizado pelo grupo Goma Oficina Plataforma Cola-
avaliaram que a falta de uma relação mais intensa entre borativa trata-se de uma requalificação de edifícios de
técnicos e moradores prejudicou o diagnóstico do pro- uso industrial como um centro cultural com estabeleci-
blema. Sendo assim, é preciso ter cuidado para que o mentos comerciais e de serviço. O escritório chegou a
entusiasmo e a vontade de ativar determinado espaço um impasse quando se deparou com o fato de que não
não se sobreponha a fase de conformação de uma rede havia recurso financeiro para realizar o restauro e a re-
de contatos bem consolidada com os moradores do adequação dos edifícios. Os arquitetos tiveram a ideia
lugar. Quando a população não é sensibilizada muitas de realizar eventos para captar renda e investir aos
vezes as soluções tem mais relação com ideias pré-con- poucos nas melhorias dos ambientes. O processo con-
cebidas de técnicos do que com as reais necessidades tou com debates com os vizinhos para o entendimento
da comunidade, interferindo na qualidade do produto de como eles interpretavam o espaço e quais eram as
e do processo participativo. necessidades e aos poucos com o aluguel de algumas
salas, os inquilinos passaram a ter a possibilidade de
Sobre isso podemos destacar positivamente a discutir o que eles precisavam e suas preferências para

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 131


a conformação do lugar. A apropriação pelos vizinhos to que a visibilidade na mídia de melhorias em áreas
e inquilinos geraram a constituição de uma associação de moradia da população de baixa renda pode atrair o
cultural pelos usuários que são responsáveis pela ges- mercado imobiliário, aumentando as chances de ocor-
tão do espaço. Vila Flores se tornou um aglutinador das rer gentrificação, quando há a expulsão dos moradores
mais diversas iniciativas, como espetáculos de dança, de baixa renda devido à valorização da terra. Essas re-
exposições de arte e festivais de gastronomia. flexões foram colocadas pelo arquiteto Gabriel Kogan
(2016), que levantou algumas críticas referentes a pos-
O envolvimento dos participantes de acordo com sível utilização dessas intervenções como instrumentos
as entrevistas levaram a compreensão de que existem para a especulação de terras por empresas privadas.
pessoas que tem um interesse natural por participarem
de ações como essas, por já terem um desejo de trans- A pesquisadora Natalia De’ Carli (2014) através
formação para a cidade e por acreditarem que elas da análise da experiência Canning Tonw Caravanserai
também são responsáveis por essas mudanças. Nor- em Londres, enxerga exatamente o contrário do que
malmente, são essas pessoas que conformam o grupo é colocado por Kogan (2016). Ela avalia que essas in-
inicial de participantes. Como as intervenções são rea- tervenções surgem como novas dinâmicas urbanas
lizadas no espaço público, a visibilidade das atividades que apontam para a resistência e a luta contra a gen-
gera curiosidade e faz com que aos poucos, outras pes- trificação, a segregação, a especulação e a privatização
soas se agreguem à ação. Desse modo, há uma relação através da reconciliação, mesmo que temporal, com os
direta entre o envolvimento dos participantes, a dura- espaços públicos, fortalecendo as comunidades e tes-
ção e a continuidade da intervenção. Podemos verificar tando a adaptabilidade de bairros muitas vezes aban-
este fato ao estudar o caso das Hortas Comunitárias de donados. Para De’ Carli (2014) a transformação dessas
Casa Amarela e o caso da Batata Precisa de Você em intervenções em projetos de longo prazo deve ser bem
São Paulo. Essas duas ações mostram que o desinteres- pensada para que não deem lugar a propostas monó-
se e a desconfiança inicial com relação as intervenções tonas e controladas que representem tudo o que elas
podem ser substituídos pelo desejo de somar e ajudar tentam afastar. Estes apontamentos nos levam a com-
de alguma maneira no fortalecimento da ação. preender proque estas intervenções continuam a ser
questionadas. É preciso ter em mente de que elas não
No entanto, esta mesma visibilidade pode ser são replicáveis em qualquer situação, sendo necessário
vista de maneira negativa, no caso da Praia de Santa o apoio da população e a avaliação dos impactos po-
Luzia o medo também foi colocado como um dos fa- sitivos e negativos que o engajamento nesse processo
tores que dificultava o envolvimento nas intervenções. pode provocar.
Este medo por parte da população é compreensível vis-

132 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


PROCEDIMENTO

Condução do processo:

Esta escolha da condução do processo, como já Portanto, a definição de como será feita a con-
foi dito, está integrada ao objetivo da ação e ao grupo dução interfere no tipo de participação dos usuários e
que tomou a iniciativa. Das três intervenções aquela também tem efeitos na construção dos produtos, sen-
que contou com um processo mais definido foi a rea- do necessário avaliar qual o direcionamento mais ade-
lizada pelo grupo Atelier Vivo, que por ter como obje- quado para cada situação. De um modo geral é possível
tivo a realização de um processo educativo através da perceber que cada fase ou aspecto da intervenção está
vivência de problemas reais necessitava de uma gestão relacionado com outros elementos e provoca mudan-
do tempo mais delimitada pelos técnicos que condu- ças sobretudo no processo de participação. Por esta
ziam as etapas. Este aspecto provocou uma diferença razão é relevante lembrar que como Yanki Lee (2006)
na interação dos usuários com a intervenção, de modo deixa claro através dos seus estudos, a participação é
que nesta ação a participação dos usuários ficou mais um conceito muito abrangente que depende da cultura
localizada na fase de diagnóstico. Em contrapartida, a onde está inserida e que pode ser explorada de diver-
intervenção da Praia de Santa Luzia, que também con- sas maneiras, com metodologias mais abertas a partici-
tava com arquitetos, tinha seu diagnóstico e objetivo pação e outras mais fechadas.
previamente definidos, fazendo com que a participa-
ção dos usuários ficasse mais restrita ao processo de
mão-na-massa. Com relação a construção das Hortas
Comunitárias de Casa Amarela percebe-se uma organi-
zação horizontal baseada na divisão de tarefas de acor-
do com o interesse de cada participante onde todas as
etapas são realizadas pelos usuários.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 133


Diagnóstico e concepção:

Na fase de diagnóstico de problemas e potencia- talece a característica aberta e transparente necessária olhar sensível do arquiteto voltado para a observação
lidades a colaboração entre os usuários e os técnicos ao processo projetual participativo, característica essa das pessoas nos espaços. É importante ter em mente
permite a conformação de um cenário mais completo, que muitas vezes não é do interesse dos técnicos ou que a participação dos usuários não deve substituir a
onde são colocadas as avaliações cotidianas dos mo- dos órgãos públicos responsáveis pelo planejamento, investigação treinada do arquiteto, pois existem suti-
radores juntamente com os conhecimentos específicos que preferem realizar os projetos de acordo com pro- lezas que só o usuário vai saber assim como existem
referentes a diversos campos profissionais. Quanto as cedimentos e prazos padrões, de maneira mais contro- aquelas que serão percebidas pelo arquiteto. Foi essa
ferramentas, uma série de dinâmicas e instrumentos lada sem interferências. visão do especialista que garantiu por exemplo a reali-
podem ser utilizados para estimular a criação de aná- zação do banquinho perto da escadaria na intervenção
lises e diagnósticos pelos usuários. Alguns desses ins- Para aqueles que tem o diagnóstico pré-defini- do Atelier Vivo, os arquitetos perceberam que aquele
trumentos estão presentes nas práticas estudadas no do, a abordagem pode levar a concepção de soluções e era um ponto de encontro e conversa que poderia ser
panorama histórico, como por exemplo: a criação de a criação de simulações de transformação para depois mais confortável, eles potencializaram um espaço que
um mapeamento das sensações dos usuários durante o através da experimentação revelar uma análise pós-in- para os usuários já estava resolvido.
percurso pelo sítio, a elaboração de desenhos pelo usu- tervenção mais completa. Este modelo foi utilizado na
ário que representem os problemas e potencialidades intervenção em Santa Luzia, existe um diagnóstico ini- A relevância dos conhecimentos do arquiteto
de cada lugar, a utilização de questionários, a criação cial e uma avaliação pós-intervenção que pode gerar também pôde ser sentida na fase de concepção das
de narrativas do cotidiano pelos usuários ou a elabo- novas propostas. propostas. No caso do Atelier Vivo houve uma preocu-
ração de imagens e maquetes com possíveis cenários pação no sentido de criar soluções funcionais, mas com
futuros para levantar debates. As possibilidades para a inserção do usuário no um caráter estético diferenciado. Isso mostra que o in-
diagnóstico já foram objeto de investigação de grupos vestimento no processo não anula a investigação do
Nas Hortas Comunitárias de Casa Amarela, por de realizam intervenções participativas. O escritório produto. Pois a componente estética também comuni-
exemplo, foi possível constatar a presença de biólogos australiano Co-design Studio elaborou uma cartilha de ca e estimula a apropriação dos usuários. De certa ma-
que contribuem ensinando a população aspectos refe- ferramentas conhecida como “Rapid Urban Revitalisa- neira estamos acostumados a considerar que em pro-
rentes ao cultivo. Na Intervenção do Alto da Sé, o diag- tion” que contém métodos, materiais e atividades que jetos participativos a função ganha maior importância
nóstico foi realizado através da proximidade com a área podem ser feitas visando a criação de intervenções ur- e a forma acaba por ter segundo plano, mas a postura
por meio de caminhadas, de conversas com moradores banas. A pesquisadora Águas (2012) também descre- de alguns arquitetos mostra que é possível explorar a
e posteriormente os debates e diálogos surgiram a par- ve algumas abordagens no campo do design voltadas inovação formal em processos projetuais participati-
tir de algumas proposições. para o design centrado no usuário, como por exemplo vos, como por exemplo a atuação do grupo USINA e do
a desenvolvida por Tim Brown e pela empresa IDEO, escritório Elemental em diversos projetos de habitação
É importante salientar que é mais interessante chamada Design Thinking, onde são realizadas ativi- de interesse social.
que os produtos não sejam previamente definidos. dades focadas na criação de perguntas, observações,
Como coloca Freire (2005) a método participativo dia- pesquisas e prototipagem para formular produtos mais
lógico parte da conformação coletiva desde a elabora- eficientes para os usuários.
ção do objetivo da intervenção, levantando os desejos
e intenções dos indivíduos com clareza para criar uma Além da demanda direta ao usuário, outro as-
síntese do que será a meta do grupo. Este princípio for- pecto relevante a ser colocado é a necessidade do

134 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


Prototipagem:

A prototipagem de soluções tem como foco a ções participativas na cidade mostram que é possível
criação de um cenário de intervenção. Esta simulação a criação coletiva de soluções rápidas e de baixo custo
pode ser imagens e montagens, maquetes, vídeos com que permitem se aproximar da melhor configuração
modelos eletrônicos ou intervenções físicas com ele- paulatinamente. É curioso perceber que esse proces-
mentos como: bancos, lixeiras, jardins, abrigos, pon- so de concepção e construção é mais seguro e enxerga
tos de iluminação, ou seja, pequenos elementos que no fracasso a possibilidade de evolução das propostas,
podem provocar a visualização de possíveis melhorias ele permite a investigação de alternativas mais ousadas
para um lugar. De acordo com Freire (2010) o protótipo ou inusitadas sem a ameaça de perda do investimento.
rápido permite que as ideias sejam postas a prova pe- Além disso, as experimentações fazem com que o usu-
los usuários saindo do campo abstrato, dando lugar a ário passe por um processo de contato co m o produto,
um processo de aprendizagem e comunicação contínu- onde aos poucos o lugar vai sendo apropriado, passan-
os. A experimentação e a avaliação possibilitam a con- do a fazer parte das suas histórias pessoais.
figuração de uma proposta de longo prazo para o local.

A criação de testes provoca então uma mudan-


ça profunda no modo de trabalho do arquiteto que se
engaja nesses processos. Longe da produção tradicio-
nal dos espaços onde o arquiteto sozinho define um
projeto definitivo para determinado lugar através da
interpretação de dados e de observações, as interven-

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 135


Relação com a prefeitura:

No artigo “Do design ao co-design uma opor-


tunidade de design participativo na transformação do
espaço público” a pesquisadora Sofia Águas destaca
que o projeto do espaço público influencia a relação
do cidadão com o espaço, sendo este um suporte fun-
PARTICIPAÇÃO damental para a construção da identidade do lugar, por
esta razão ela defende a colaboração de saberes e pers-
pectivas para a discussão sobre a cidade. Águas (2012)
afirma que os usuários devem participar do processo
Relação entre os técnicos e a população: de decisão como um todo e não ter sua participação
restrita ao momento de avaliação da discussão final,
A participação nestas intervenções ocorre no Considerando os tipos de participação, perce- como ocorre na maioria das audiências públicas.
processo projetual, pela inserção dos usuários no diag- besse uma tendência atual de valorização da colabora-
nóstico, na mão-na-massa ou no processo como um ção em lugar da emancipação. Na emancipação há um De Molina (2011) no texto “Participación y pla-
todo. O interessante é que essa participação tem por sentido de aprendizado para a libertação, ou seja, em cebo” discorre sobre os riscos dos projetos participati-
objetivo gerar mais participação através da cidadania. posse daquele conhecimento os usuários não teriam vos serem encarados como elementos de legitimação
Esse fato leva a repensar alguns dos pontos colocados mais a necessidade de contatar um técnico. Enquan- política pautados num sistema de participação falsa,
por Yanki Lee (2006). Embora a iniciativa de cada uma to a colaboração vai no sentido contrário, de que cada onde os condutores tem por objetivo a manipulação
das intervenções seja clara, os objetivos de cada ação participante depende do conhecimento do outro para da população. No artigo “A Ladder of Citizen Participa-
não obedecem obrigatoriamente às indicações colo- a construção da solução. Com relação aos problemas tion” Arnstein já colocava em 1969 as possibilidades
cadas por Lee, mostrando que os processos ainda es- urbanos, significa admitir que em situações complexas da camuflagem de processos autoritários pela parti-
tão em experimentação e não tem um caráter rígido a contribuição de diferentes olhares é essencial. Essa cipação. Entretanto, a diferença está no fato de que
regular. No caso da Praia de Santa Luzia, por exemplo, visão tem sido explorada no campo das inovações digi- antigamente a participação era proveniente em sua
a iniciativa veio de técnicos, mas não estava ligada a tais e tecnológicas com a criação de aplicativos ou pro- maioria das instituições, e na atualidade cada vez mais
inovação, nem a colaboração como coloca Lee (2006), dutos que recebem informações dos próprios usuários são as próprias comunidades que tomam a iniciativa
o objetivo era a motivação da população através da para conformar uma base de dados, como por exemplo para realizar projetos participativos e buscam o apoio
criação de um evento. Em se tratando da ação do Alto o Colab, investigado no panorama histórico. para desenvolver o processo. Através dos novos modos
da Sé havia diferentes objetivos, com relação a popu- de comunicação em rede, o prazer lúdico relacionado
lação o objetivo dos técnicos era a colaboração e com a participação e a crescente maturidade dos cidadãos
relação aos estudantes o objetivo era a emancipação. com relação a democracia, há uma maior exigência de

136 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


reciprocidade das instituições que gerenciam as cida- promete com a ajuda na fiscalização das obras. Este que foi construída pelos moradores de Barra Mansa
des (DE MOLINA, 2011). aspecto permite uma vigilância regular pelos próprios que esperaram vinte anos pelas ações da prefeitura. A
moradores do bairro que podem supervisionar o uso ponte que era orçada em 270 mil reais pela prefeitura
Nas intervenções, a relação entre os participan- dos materiais, o cumprimento dos prazos e a utilização foi realizada por 5 mil reais e construída em um mês
tes e os órgãos públicos é polêmica do ponto de vista dos recursos. A parceria com os técnicos realizadores pela própria população, alguns forneceram dinheiro e
econômico e tem gerado críticas às ações participativas do projeto vem sendo desenvolvida através de even- outros ajudaram no mutirão.
na cidade. Gabriel Kogan (2016) coloca que estas inter- tos, onde os arquitetos urbanistas paisagistas deram
venções procuram solucionar problemas dos espaços aos usuários a possibilidade de opinar sobre as ativi- Esses casos nos mostram que a colaboração e a
públicos que deveriam ser resolvidos pelos órgãos mu- dades desejadas para a área e fomentaram a ocupação divisão de tarefas pode ser o caminho para a realização
nicipais, o que representa uma externalização de gas- do espaço das margens com a realização de atividades das transformações que queremos na cidade. No cam-
tos, onde os cidadãos comuns ou empresas privadas lúdicas para as crianças. po da arquitetura novas explorações práticas caminham
tomam a iniciativa de arcar com os custos de operação na direção do cerne da questão colocada por exemplo,
e manutenção de áreas livres de responsabilidade pú- Quando baseada na partilha de responsabilida- na Teoria dos Suportes de Habraken, onde existe uma
blica. Esta questão passa pelo entendimento do que é des a parceria entre a administração pública e a socie- base suporte que pode ser fornecido pelo governo e
a prefeitura, que pode ser considerada como uma enti- dade civil pode causar uma manutenção mais efetiva um recheio que pode ser de responsabilidade dos usu-
dade sem corpo e sem alma que tem diversos encargos dos espaços urbanos, gerando inclusive mais consciên- ários. Ainda não se sabe ao certo os ganhos que estas
e obrigações ou que pode ser vista como uma porta- cia cidadã. Na cidade de Curitiba por exemplo, Jaime intervenções podem trazer à longo prazo, parece existir
-voz de uma vida comunitária na qual todos têm papéis Lener criou durante seu mandato uma campanha cha- um longo caminho pela frente que pode gerar avanços
para assumir como gestores. mada “Sombra e Água Fresca”, onde a prefeitura rea- se o município começar de fato a apoiar estas iniciati-
lizava o plantio das árvores, fornecendo a sombra e a vas ou que pode gerar a extinção dessa abordagem se
A Associação dos Moradores e Usuários do Bair- população tinha o compromisso de irrigar as árvores, o investimento da população não for valorizado pelos
ro Das Graças conhecida como “Por Amor As Graças” fornecendo água fresca. órgãos responsáveis.
na cidade do Recife é um dos grupos que tem revela-
do o desejo de partilhar os deveres com a prefeitura Outra questão é que a realização dessas inter-
sobretudo através da reivindicação e da fiscalização venções tem revelado de maneira clara os custos e o
das obras do Projeto Parque Capibaribe, realizado pela tempo necessários para a implantação de melhorias
Prefeitura do Recife em parceria com a Universidade possíveis e simples, denunciando os eventuais orça-
Federal de Pernambuco. O conjunto de moradores vem mentos superfaturados e cronogramas mal formula-
realizando uma série de reuniões e manifestações para dos. Uma matéria publicada em junho de 2016 no Jor-
cobrar da prefeitura a realização do projeto e se com- nal Folha de São Paulo explana o caso de uma ponte

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 137


IMPACTO SOCIAL

Os processos projetuais participativos geram uma cidade, o que é que tá envolvido nisso, o
como impacto a motivação para a criação de um sen- que deve ser pensado, como pessoas produ-
timento de comunidade e para a educação voltada à toras de cidade, não como pessoas passivas
cidadania. Esse objetivo é perseguido através da cons- e reféns de um conhecimento técnico isola-
trução de células de colaboração vinculadas as carac- do, partido [...] (SELO DE QUALIDADE MCMV,
terísticas de cada lugar, para que as pessoas se iden- 2016)
tifiquem e tenham o desejo de melhorar as condições
de moradia dos seus bairros. A efetivação da intenção
dos grupos de moradores e técnicos só é consolidada
quando há envolvimento da população com a propos- Nas intervenções mesmo que os produtos sejam
ta. Em alguns casos é possível perceber que a interven- efêmeros aquela vivência marca uma memória. Nas
ção deixou de fato alguma semente de transformação, três intervenções ficou clara a importância do processo
como por exemplo no cinema da Rua Bispo Coutinho de realização, que gera encontros, gera conhecimentos,
ou na intervenção das hortas de Casa Amarela que irá gera reflexão, identificação de realidades e possibilida-
completar um ano de atividade. des. A Praia de Santa Luzia mesmo tendo seus produ-
tos destruídos ao final da intervenção deixou sementes
Através da análise ficou claro que os ganhos da nas crianças, a memória de um dia de lazer e a certeza
realização de intervenções participativas na cidade não de que aquele espaço guarda um enorme potencial.
estão nos produtos, que são efêmeros e frágeis, mas A doutora em arquitetura De’ Carli (2014) afirma que
estão sobretudo na vivência dos processos. O depoi- estes experimentos urbanos, temporais, emergentes e
mento da arquiteta Rosane Biasotto no vídeo Selo de táticos, podem promover a justiça social e o encontro,
Qualidade MCMV (2016) da Bienal de Veneza 2016 sin- incubando sonhos que passam a ser coletivos e forta-
tetiza as razões para investir nesses processos de diálo- lecem a luta por uma cidade mais inclusiva e comum a
go e co-criação entre o arquiteto e o usuário: todos.

Quanto ao resultado de longo prazo, pela natu-


Esse diálogo foi muito rico, foi rico para os reza recente das investigações teóricas e práticas com
arquitetos, foi rico para as famílias que se relação ao tema ainda não temos certeza de quais se-
apropriaram da ideia do que é construir

138 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


rão os futuros desdobramentos, mas já é possível iden- perceber que a horta foi o elemento ativador dessa
tificar algumas diretrizes de reflexão. Esses processos consciência coletiva em Casa Amarela, mas que em
apontam para a necessidade de investir em projetos outras áreas da Região Metropolitana do Recife os ele-
participativos de maneira mais efetiva, onde os usuá- mentos ativadores podem ser outros. A grande ques-
rios podem intervir de modo propositivo indo além da tão é perceber que o potencial das intervenções reside
legitimação de decisões tomadas pelos planejadores na colaboração entre pessoas e no debate em torno da
ou órgãos públicos. A transformação da cidade requer transformação dos espaços urbanos.
colaboração e ajuda mútua, não se trata mais de re-
duzir a participação em audiências voltadas somente Assim como Mike Lydon, uma série de investiga-
para a legitimação de decisões preestabelecidas. Estes dores vem ampliando uma discussão que começou a
instrumentos devem ser somados a uma rede de al- ter destaque na Bienal de Veneza de 2012 no Pavilhão
ternativas que tenha uma área de abrangência maior, dos Estados Unidos com o tema “Spontaneous Inter-
visto que todos os usuários têm o direito e o dever de ventions: design actions for the common good”. A cada
compartilhar a responsabilidade pela melhoria de vida dia aumentam as iniciativas voltadas para a realização
nas cidades. de intervenções práticas que mostram o ímpeto cole-
tivo a favor de uma cultura da colaboração no lugar
Por estar adequada a escala de compreensão de uma cultura da competência. Em 2016, a Bienal de
dos usuários as intervenções locais permitem a cola- Veneza “Reporting From the Front” potencializa a di-
boração para a resolução de problemas por processos vulgação de novas estratégias e experimentações que
que podem ser de inciativa da própria população. Mas buscam trazer esperança mostrando alternativas para
quando ampliados para a escala global as soluções de- questões complexas como segregação, desigualdade,
vem ser cuidadosas para identificar bem aquilo que é periferias, desastres naturais, crises habitacionais, imi-
fruto de uma situação particular e própria de determi- grações, crime, tráfico, desperdício, poluição e partici-
nado lugar e aquilo que tem um caráter de dimensão pação comunitária. Essas intervenções revelam sobre-
urbana, que pode ser desenvolvido numa escala maior. tudo uma tendência de resistência aos problemas e a
Nas Hortas Comunitárias de Casa Amarela por exem- busca por tentar enxergar a realidade de maneira pro-
plo, a prefeitura e a população revelaram o desejo de positiva, procurando saídas e alternativas, visualizando
multiplicar a criação de praças-hortas pela cidade, sem em problemas, possíveis soluções.

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 139


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No artigo “Micropolíticas do urbanismo ou por pesquisadas em diferentes ementas de di-


uma outra Historiagrafia urbanística” a pesquisadora ferentes faculdades brasileiras) e nas pu-
Portela (2015) destaca a relevância de buscar o apren- blicações da área (basta ver a quantidade
dizado de outras práticas no campo da arquitetura e ur- de textos que analisam a obra da Zaha
banismo como forma de ampliar a capacidade de lidar Hadid ou Rem Koolhas comparada aos
com os problemas e potencialidades das cidades bra- de Carlos Nelson Ferreira dos Santos ou
sileiras. Ela busca romper com o estudo unidirecional Sérgio Ferro). Esse urbanismo padroniza-
dos processos hegemônicos focalizando a investigação do e hegemônico cria estruturas/normas/
das práticas de arquitetos que propuseram processos formas nas cidades que parecem esfregar
diferenciados dos estabelecidos, sob este aspecto ela sal na ferida daqueles outros que não são
coloca: seus poucos ‘autores’ e sim seus milhões
de ‘praticantes’ que buscam, por exemplo,
As cidades contemporâneas estão cada a sombra de uma árvore na cidade do es-
vez mais formalizadas pela rigidez de um paço vivido, como Milton Santos diria, ou
urbanismo que se impõe através de mo- espaço praticado, como diria Ana Clara
delos hegemônicos e que raramente valo- Torres Ribeiro. (PORTELA, 2015)
riza as práticas do campo que promovem
linhas de fuga com o já estabelecido. Na
historiografia tradicional é a ‘verdade’ Este trabalho partilha a inquietação colocada por
dos urbanistas ligados ao que chamamos Portela (2015), buscando a compreensão dos proces-
de Maioria é que são muito mais publica- sos e metodologias que normalmente se encontram à
das, divulgadas, teorizadas. As gagueiras, margem no campo da arquitetura, urbanismo e paisa-
as crises, a crítica que contradizem o sa- gismo. No desenvolvimento de uma profissão que nor-
ber predominante das práticas do pró- malmente tem como foco principal os produtos, essa
prio campo são pouco difundidas pelas pesquisa busca olhar na direção da descoberta de pro-
matérias de história e teoria oferecidas cessos. O aprendizado através de práticas e conceitos
nas faculdades (vide uma rápida pesquisa de processo projetual participativo permitiu enxergar
da autora em bibliografias de referência

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 141


como o modo de fazer em urbanismo, arquitetura e alcançar o olhar multifacetado e a colaboração neces-
paisagismo pode ser o elemento potencializador do sária a transformações das cidades. Como coloca Lydon
que o produto representa. Estes procesos podem nos (2012) as intervenções participativas na cidade lançam
ensinar mais sobre o espaço vivido, sobre a cultura, mão de metodologias abertas, rápidas e de baixo custo
sobre muitos aspectos que extrapolam o domínio da oferecendo a possibilidade para as pessoas agirem de
arquitetura, mas que estão fortemente relacionados maneira propositiva, apresentando possíveis cenários
com o espaço da vivência do usuário, espaço este que de mudança, alertando os órgãos públicos e gerando
conforma nosso campo de ação profissional. consciência cidadã através da criação de espaços e pro-
dutos efêmeros.
A pesquisa se iniciou com um olhar mais amplo
na descoberta da essência do processo projetual par- Estas intervenções sintetizam muito bem um
ticipativo e posteriormente partiu com um olhar mais dos maiores desafios da profissão do arquiteto, a ten-
específico voltado para a avaliação de intervenções de tativa de utilizar a criação de produtos simples, belos
menor escala, experiências pontuais ligadas ao con- e funcionais como base para a construção de transfor-
texto local. Esta escolha se fez pela percepção de que mações sociais profundas e complexas. A singularidade
apesar da diferença de complexidade que envolve as dessas intervenções está no fato de que na tentativa de
intervenções e as experiências participativas de escala alcançar essas mudanças, os arquitetos estão abrindo
mais ampla, ambas pretendem chegar ao mesmo ob- mão da criação de produtos precisamente definidos
jetivo, que é trazer um impacto social efetivo para a e autorais, para criar ferramentas e metodologias de
comunidade envolvida no processo. As preocupações interface com os usuários na esperança de que a se-
com a otimização e o teste do produto existem, mas a mente de mudança seja plantada durante o processo
intenção mais relevante nestas propostas é a criação de realização da intervenção (FREIRE, 2010). Essa prá-
de um processo que permita o desenvolvimento de um tica revela o compromisso social na busca por utilizar
sentimento de comunidade, eles pretendem estabele- o processo projetual como meio para fortalecer a co-
cer uma identificação do usuário com o seu espaço de munidade e ainda permite o enriquecimento profissio-
vivência, para que assim, as pessoas tenham interesse nal do arquiteto pelo engajamento no entendimento
em conservar e melhorar seus espaços. da vivência dos espaços como gerador de soluções de
impacto social.
Estas intervenções, ainda que pontuais, apon-
tam para o desejo dos arquitetos e da população em Sob esse ponto de vista, o papel do arquiteto é
motivar a participação cidadã, elas investem na criação agir como um catalizador que conecta as pessoas aos
de debates e na experimentação de cenários de inter- lugares através de processos de co-criação que geram
venção para fomentar a discussão sobre as cidades. reflexões, criam propostas, realizam debates, visua-
Esta expansão do debate das Universidades ou do cam- lizam problemas e idealizam soluções. Segundo LEE
po profissional para o cotidiano dos cidadãos pretende (2006) longe de prezar pela anulação do conhecimento
142 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS
técnico em detrimento do conhecimento do usuário, Rio Capibaribe para discutir soluções juntamente com claro, mas um caminho que foi enriquecido pela parti-
o processo participativo propõe a junção dessas infor- técnicos das mais diversas áreas. Essa experiência pode cipação em palestras, mutirões, pela realização de ofi-
mações para a configuração de um produto mais com- ser foco de investigações futuras para a compreensão cinas e pela reflexão constante. A própria pesquisa foi
pleto. Essa prática é de extrema relevância para quem da relação entre a intervenção pontual e os desdobra- um processo aberto onde o encontro com determina-
lida com o espaço, pois quando falamos de uma cidade mentos de longo prazo, além de permitir a avaliação das práticas e conceitos me fizeram definir e redefinir o
estamos tratando de uma complexidade de elementos da criação da identificação através da experimentação, rumo inúmeras vezes.
que não podem ser resolvidos por um corpo técnico visto que as intervenções têm como foco principal a
exíguo, por esta razão a palavra colaboração tem cada criação de um contato entre as pessoas e o rio. Três mensagens conclusivas fecham essa pes-
vez mais força na atualidade. quisa e procuram abrir novas portas. A primeira delas
Além da possibilidade de investir na análise de é o convite à experimentação, as intervenções partici-
A natureza recente dessas experimentações intervenções, outras pesquisas podem se valer dos pativas na cidade mostram o desejo de olhar para os
aponta para o crescimento de investigações futuras princípios de intervenção para criar outras ferramentas processos e os produtos de maneira crítica com um es-
com base na metodologia. Na Região Metropolitana do e metodologias participativas, realizando um trabalho pírito aberto ao questionamento, a proposição, a proto-
Recife diversas oficinas participativas vêm sendo rea- prático experimental. Novos trabalhos podem se de- tipagem e também ao fracasso. A segunda mensagem
lizadas pautadas na criação de debates sobre os pro- bruçar sobre a lacuna que existe no resgate do históri- é a necessidade da desconstrução, a realização dessas
blemas e soluções para a cidade, na prototipagem com co de processos participativos e muito ainda pode ser intervenções pressupõe a desconstrução de uma visão
simulação de soluções e na criação de eventos para ge- feito para definir princípios de análise da participação. tradicional sobre o trabalho do arquiteto, para a cons-
rar interações nos espaços urbanos. As iniciativas par- Outra possibilidade é a criação de critérios ou de sis- trução de um outro cenário onde o arquiteto procura
tem de diversos grupos como por exemplo o Fab Lab temas que permitam avaliar os impactos da interven- uma maior proximidade com as pessoas e com a vida.
Recife que atua com design participativo na produção ção depois de um tempo mais longo de vivência, nesse Por último deixamos a mensagem do sonho, essas al-
de artefatos urbanos inteligentes, o Laboratório de Ob- caso o olhar do usuário serviria como base para a cria- ternativas surgem no contexto mundial de crise para
jetos Urbanos Conectados (L.O.U.Co) criado pelo Porto ção de uma análise pós-ocupação que possibilitasse a dizer que o compromisso e a perseverança com a me-
Digital para a experimentação, o desenvolvimento, a identificação dos reais ganhos e das possíveis falhas lhoria da qualidade de vida nas cidades resiste e que
prototipagem de soluções focadas no bem-estar nas ci- nos processos. esse sonho motiva a busca por novos caminhos.
dades, assim como os Urban Labs realizados pelo INCI-
TI como oficinas para a participação cidadã, construção De maneira geral a realização deste trabalho
de mobiliário urbano e desenvolvimento de práticas e permitiu um aprofundamento sobre as possibilidades
abordagens sobre os espaços públicos. de atuação profissional. A exploração desse universo
de alternativas é fundamental para a utilização de pro-
Neste contexto, as práticas do INCITI merecem cessos adequados a cada proposta de projeto. É um
destaque pela proposta de aliar a realização de um pro- conhecimento que pode ser agregado ao vocabulário
jeto de longo prazo para a cidade, o Parque Capibari- metodológico já existente do profissional e pode ser-
be, com intervenções de Urbanismo Tático focadas na vir de base para a criação de novas estratégias. Nesse
construção de debates participativos onde a população trabalho a estratégia foi a investigação e a descoberta
tem a possibilidade de se aproximar da problemática do de um caminho, nem sempre previamente definido ou
LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 143
LISTA DE FIGURAS

Pg. 18  Figura 1. Processo Tradicional.png Fonte . Croqui da autora


Pg. 19  Figura 2. Conflito entre o design e a experiência do usuário.png Fonte . http://blog.uxeria.com/en/ux-usability-design-the-best-of-october-2015/
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Pg. 97  Figura 70. Início da intervenção na comunidade de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 98  Figura 71. Limpeza do terreno na ação em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 99  Figura 73. Construção da rede feita com nós no mangue em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 99  Figura 72. Idealização das propostas para a comunidade de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts

146 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


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Pg. 100  Figura 75. Confecção das bandeiras e faixas na ação de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 100  Figura 76. Construção do píer na comunidade de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 101  Figura 77. Exposição de vídeos na celebração em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 101  Figura 78. Celebração da intervenção na comunidade de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 101  Figura 79. Espetáculos de música e dança na celebração em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 103  Figura 80. Construção de banco a partir de uma carroça em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 103  Figura 81. Pessoas usufruindo do banco em Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 104  Figura 82. Tobogã criado na intervenção na comunidade de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 105  Figura 83. Evento “Domingo no Baobá” nas margens do Rio Capibaribe.png Fonte . https://www.facebook.com/incitiorg/posts/589560987877246
Pg. 105  Figura 84. Pessoas no evento “Domingo no Baobá” do Parque Capibaribe.png Fonte . https://www.facebook.com/incitiorg/posts/589560987877246
Pg. 106  Figura 85. Uso do banco na praia de Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 107  Figura 86. Pessoas atravessando do Parque de Santana à Santa Luzia.png Fonte . https://www.facebook.com/acidadeprecisadepraias/?fref=ts
Pg. 108  Figura 87. Processo Santa Luzia.png Fonte . Croqui da autora
Pg. 110  Figura 88. Casa Amarela Saudável e Sustentável.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 110  Figura 89. Foto de um mutirão na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
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Pg. 111  Figura 92. Primeira horta comunitária de Casa Amarela.png Fonte . http://www.recife.pe.gov.br/ESIG/
Pg. 111  Figura 93. Segunda horta comunitária de Casa Amarela.png Fonte . http://www.recife.pe.gov.br/ESIG/
Pg. 112  Figura 94. Área abandonada antes da realização da Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.google.com.br/maps
Pg. 112  Figura 95. “Geladoteca” ou biblioteca em geladeira na horta .png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 113  Figura 96. Criação de placas de sinalização na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 114  Figura 98. Foto dos bancos doados pelo INCITI na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 114  Figura 97. Prototipagem de mobiliário na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 115  Figura 99. Cultivo na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 115  Figura 100. Colheita de alimentos na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 116  Figura 101. Treino de ioga na Horta Souto Maior.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 117  Figura 102. Exposição do projeto Horta Souto Maior por Luciana Raposo e equipe.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 118  Figura 103. Prefeito Geraldo Júlio nas hortas em abril de 2016.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 119  Figura 104. Mutirão na Horta Arnoldo Magalhães.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
Pg. 120  Figura 105. Horta Souto Maior após as intervenções.png Fonte . https://www.facebook.com/casaamarelasaudavelesustentavel/
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152 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS


ANEXOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA – Grupo: Condutores/ Facilitadores do processo PARTE 2: REALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Entrevistador: 7. Você estima que quantas pessoas estavam envolvidas na intervenção? Qual foi o
__________________________________________________________________ perfil dos participantes?
Data: _____/_____/_____ Dia da semana: ___________ Nº Entrevista: _________ ( ) Crianças 0 – 15 anos ( ) Jovens 15 – 25 anos ( ) Adultos 25 – 60 anos
Nome da intervenção em análise: ( ) Idosos
___________________________________________________________________ 8. Onde foi realizado o processo de intervenção? (Justifique)
_________________________________________________________________
IDENTIFICAÇÃO 9. Houve contato com a população do local? Como foi?
1. Nome entrevistado: _________________________________________________________________
__________________________________________________________________ 10. Como foi conduzido o processo de intervenção? (Justifique)
2. Profissão: __________________ 3. Idade: ______________________________ _________________________________________________________________
4. Onde nasceu: ________________________ 5. Onde mora: ________________ 11. Que atividades e metodologias foram exploradas? (Justifique)
6. Escolaridade/formação: _________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 12. Houve dificuldades no desenvolvimento do processo? (Justifique)
7: Permite ser citado na lista de entrevistados: ( ) sim ( ) não. _________________________________________________________________
Obs:_______________________________________________________________
PARTE 3: AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
ENVOLVIMENTO 13. Qual foi a duração da intervenção? Houve continuidade na ação?
1. Há quanto tempo você realiza intervenções urbanas? ________________________________________________________________
____________________________________________________________ 14. Qual foi o produto desenvolvido em curto prazo na intervenção?
2. Como surgiu o interesse para realizar este tipo de intervenção? ________________________________________________________________
___________________________________________________________ 15. Houve reflexões de possíveis mudanças de longo prazo para o local? Se sim,
quais? ___________________________________________________________
PARTE 1: PLANEJAMENTO DA INTERVENÇÃO 16. Como você avalia os resultados da intervenção? Suas expectativas foram
3. Como surgiu a iniciativa para a realização desta intervenção em particular? atingidas? (Justifique)
___________________________________________________________ _________________________________________________________________
4. Quais foram os objetivos e as expectativas da intervenção? 17. Como você avalia o nível de participação dos envolvidos no processo? (Justifique)
___________________________________________________________ _________________________________________________________________
5. Como a intervenção foi planejada? ( ) Inexistente ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto
___________________________________________________________ 18. Você acha que a realização da intervenção teve algum efeito na forma como você
6. A intervenção teve apoio de outras organizações? Quais? enxerga a cidade hoje? (Justifique)
___________________________________________________________ _________________________________________________________________
19. Você acha que a realização da intervenção teve algum efeito sobre a população
local? (Justifique)
__________________________________________________________________
20. Você acha que a realização da intervenção teve algum efeito no planejamento
urbano da cidade? (Justifique)
__________________________________________________________________

LUÍSA ACIOLI DOS SANTOS 153


ROTEIRO DE ENTREVISTA – Grupo: Participantes/ População local 5. Vocês deram suporte ou apoio à intervenção? Se sim, como? Se não, por
Entrevistador: que? ______________________________________________________
__________________________________________________________________ 6. Como vocês souberam que a intervenção iria ser realizada?
_______ ___________________________________________________________
Data: _____/_____/_____ Dia da semana: ______ Nº Entrevista: _____________
Nome da intervenção em análise: PARTE 2: REALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO
_________________________________________________________________ 7. Vocês costumavam utilizar o local onde foi realizada a intervenção? Se
sim, como? Se não, por que?
IDENTIFICAÇÃO ___________________________________________________________
1. Nome entrevistado: 8. Vocês participaram do processo de intervenção? (Justifique)
__________________________________________________________________ ___________________________________________________________
2. Profissão: __________________ 3. Idade: __________________ Se sim:
4. Onde nasceu: ________________________ 5. Onde mora: ________________ a. Como foi conduzido o processo de intervenção? Vocês tiveram
6. Escolaridade/formação: autonomia? (Justifique) ____________________________________
__________________________________________________________________ b. Como foi decidido o que iria ser realizado? _____________________
7: Permite ser citado na lista de entrevistados: ( ) sim ( ) não. c. Quais foram as dificuldades enfrentadas por você no processo?
Obs:______________________________________________________________ (Justifique) ______________________________________________

ENVOLVIMENTO PARTE 3: AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO


1. Você já realizou ou participou de intervenções urbanas? 9. Como você avalia os resultados da intervenção? Suas expectativas foram
___________________________________________________________ atingidas? (Justifique)
a. Se sim, como surgiu o interesse para participar deste tipo de ___________________________________________________________
intervenção? _____________________________________________ 10. Para você qual foi o nível de participação da população no processo?
b. Se não, por que? (Justifique) __________________________________________________
________________________________________________________ ( ) Inexistente ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto
11. A intervenção mudou algo no seu dia-a-dia? O que?
PARTE 1: PLANEJAMENTO DA INTERVENÇÃO ___________________________________________________________
2. Como surgiu a iniciativa para a realização da intervenção? 12. Depois da intervenção você passou a pensar em possíveis mudanças de
___________________________________________________________ longo prazo para o local?
3. Quais foram suas expectativas com relação à intervenção? ___________________________________________________________
___________________________________________________________ 13. Você acha que a participação na intervenção (ou o produto da
4. Você e o restante da população participaram do planejamento da intervenção) mudou a forma como você enxerga a cidade hoje?
intervenção? Se sim, como? ____________________________________ (Justifique) _____________________________________________

154 PROCESSOS PROJETUAIS PARTICIPATIVOS

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