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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

TRACY RAMOS DE OLIVEIRA

COSTURA URBANA: ARQUITETURA PARASITA COMO ELEMENTO DE


ARTICULAÇÃO NO CENTRO DE CURITIBA

CURITIBA
2022
TRACY RAMOS DE OLIVEIRA

COSTURA URBANA: ARQUITETURA PARASITA COMO ELEMENTO DE


ARTICULAÇÃO NO CENTRO DE CURITIBA

Monografia apresentada à disciplina Orientação de Pesquisa


(TA204) como requisito parcial para a conclusão do curso de
graduação em Arquitetura e Urbanismo, Setor de Tecnologia,
da Universidade Federal do Paraná – UFPR.

Orientadora: Prof.ª. Dra. Andréa Berriel Mercadante Stinghen.

CURITIBA
2022
FOLHA DE APROVAÇÃO

Orientador (a):
______________________________________________________________

Examinador (a):
______________________________________________________________

Examinador (a):
______________________________________________________________

Monografia defendida e aprovada em:

Curitiba, _______ de _________________ de 20__.


RESUMO

Partindo da premissa de que a cidade se apresenta tal qual um organismo vivo e


em constante evolução, crescendo sobre si mesma inúmeras vezes, e originando um
tecido denso, consistente e heterogêneo, sendo sua diversidade, principal característica,
reside no encontro entre sua massa edificada com as ambiências, sensações e estímulos
à vida individual e da coletividade. A singularidade da mesma baseia-se na relação entre
as diversas camadas do tempo que a compõe e ações de seu principal agente, o homem.
Portanto, a investigação entre as possibilidades de intervenção no edificado preexistente
em detrimento de novos caminhos projetuais se faz urgente. Como uma das possíveis
respostas às questões levantadas acima, a Arquitetura Parasita, com base teórica
científica, busca funcionar tal qual um corpo externo ao objeto hospedeiro, tendo como o
resultado um jogo arquitetônico evocativo. O presente trabalho busca iniciar a discussão
sobre novas formas de intervir e coexistir com as preexistências sem que uma das partes
seja prejudicada no processo, e apresenta bases teóricas que orientarão a leitura e a
atuação sobre um recorte urbano densamente edificado e consolidado, a Praça General
Osório e seu entorno construído, para posterior desenvolvimento de projeto arquitetônico
apoiado em sua atual situação.

Palavras-chave: Organismo. Arquitetura Parasita. Acupuntura Urbana. Vazios urbanos.


Praça Osório.
ABSTRACT

Starting from the premise that the city presents itself as a living organism in
constant evolution, growing over itself countless times, and originating a dense, consistent
and heterogeneous tissue, its diversity, its main characteristic, resides in the encounter
between its mass with the ambiences, sensations and stimulation for individual and
communal life. Its uniqueness is based on the relationship between the various layers of
time that compose it and the actions of its main agent, the man. Thus, the investigation
between the possibilities of intervention in the pre-existing building in detriment of new
projectual paths becomes urgent. As one of the possible answers to the questions raised
above, the Parasite Architecture, with scientific theoretical basis, seeks to function as an
external body to the host object, having as a result an evocative architectural game. The
present research aims to initiate the discussion about the new ways of intervening and
coexisting with pre-existences without one of the parts being harmed in the process, and
presents theoretical bases that will guide the reading and the action on a densely built and
consolidated urban clipping, the Praça General Osório and its surroundings, to the
development of an architecture project in the future.

Palavras-chave: Organism. Parasite Architecture. Urban Acupuncture. Urban Voids.


Praça Osório.
.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – EDIFÍCIO ABANDONADO NO CENTRO DE CURITIBA, PARANÁ .......... 14


FIGURA 2 - INTERVENÇÃO “EMPENA VIVA” .............................................................. 17
FIGURA 3 – PROJETO “ESPAÇOS DE PAZ” ............................................................... 20
FIGURA 4 – BUBBLE DRAWINGS ................................................................................ 22
FIGURA 5 – THE WALKING CITY, RON HERRON ....................................................... 27
FIGURA 6 – MASSA DE CORPOS PRIVADOS NO ESPAÇO PÚBLICO ..................... 32
FIGURA 7 – FAVELA DA MARÉ, RIO DE JANEIRO ..................................................... 35
FIGURA 8 - CONJUNTO RESIDENCIAL ORIGINAL ..................................................... 39
FIGURA 9 – AMPLIAÇÃO DOS APARTAMENTOS ....................................................... 40
FIGURA 10 – O JARDIM DE INVERNO ........................................................................ 41
FIGURA 11 - ESTRUTURA AUTOPORTANTE ............................................................. 42
FIGURA 12 – CONJUNTO HABITACIONAL APÓS INTERVENÇÃO ............................ 43
FIGURA 13 – A CASA PARÁSITO................................................................................. 45
FIGURA 14 – MODULAÇÃO DA CASA PARÁSITO ...................................................... 46
FIGURA 15 – RELAÇÃO DA PROPOSTA COM A CIDADE .......................................... 47
FIGURA 16 - MUSEU CARILLO GIL ANTES DA INTERVENÇÃO ................................ 49
FIGURA 17 – INTERVENÇÃO PARACAIDISTA ............................................................ 50
FIGURA 18 – ESTRUTURA DA INTERVENÇÃO .......................................................... 51
FIGURA 19 – PRIMEIRO PAVIMENTO DO APARTAMENTO....................................... 51
FIGURA 20 - DIAGRAMA DE SÍMBOLOS DE ESCALA E DE VELOCIDADE............... 55
FIGURA 21 - MAPEAMENTO DA "STRIP" EM LAS VEGAS ......................................... 56
FIGURA 22 - TABELA DE HOTÉIS E CASSINOS ......................................................... 57
FIGURA 23 - ENTRADA DO ENGLISH DEPARTMENT ANTES DA INTERVENÇÃO .. 59
FIGURA 24 - INTERVENÇÃO MORE BALLS FOR KLAPPER HALL ............................ 59
FIGURA 25 - INTERVENÇÃO HOUSE UP A BUILDING ............................................... 60
FIGURA 26 - ANÁLISE DOS ELEMENTOS DO ESPAÇO ............................................ 62
FIGURA 27- PARC DE LA VILLETE, BERNARD TSCHUMI 1982 ................................ 63
FIGURA 28 - PRAÇA OSÓRIO SÉCULO XIX................................................................ 68
FIGURA 29 - PRAÇA OSÓRIO SÉCULO XXI................................................................ 69
LISTA DE FICHAS

FICHA 1 – ENTORNO EDIFICADO IMEDIATO ............................................................ 72


FICHA 2 - PÚBLICO X PRIVADO ................................................................................. 74
FICHA 3 - MASSAS EDIFICADAS ................................................................................ 76
FICHA 4 - VAZIOS URBANOS...................................................................................... 78
FICHA 5 - CAMINHOS E ARTICULAÇÕES .................................................................. 80
FICHA 6 - ATÉ 3 PAVIMENTOS ................................................................................... 82
FICHA 7 – EDIFÍCIOS COM ATÉ 7 PAVIMENTOS ...................................................... 84
FICHA 8 – EDIFÍCIOS ACIMA DE 7 PAVIMENTOS ..................................................... 86
FICHA 9 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO .......................................................................... 88
FICHA 10 - NUMERAÇÃO DE LOTES DO RECORTE ................................................. 90
FICHA 11 – IMAGENS DOS EDIFÍCIOS ...................................................................... 92
FICHA 12 - CONCENTRAÇÃO DE PESSOAS ............................................................. 94
FICHA 13 - CONCENTRAÇÃO DE VEÍCULOS ............................................................ 96
FICHA 14 - FEIRINHAS TEMÁTICAS ........................................................................... 98
FICHA 15 - OCORRÊNCIA DE ALAGAMENTOS ....................................................... 100
FICHA 16 - PERCURSO TURÍSTICOB ...................................................................... 102
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. A CIDADE 10

2.1 A DETERIORAÇÃO DOS CENTROS URBANOS 11

2.1.1 Os vazios urbanos 15

2.1.2 A Acupuntura Urbana 18

2.2 O PARASITISMO NA ARQUITETURA 22

2.2.1 O papel das vanguardas arquitetônicas 24

2.2.1.1 O Modernismo 25

2.2.1.2 O Pós-modernismo 26

2.2.2 O parasita urbano 29

2.2.2.1 O parasita arquitetônico 30

2.2.2.2 As favelas e ocupações informais 34

2.2.2.3 Arquitetura Parasita e a cidade 37

3. ANÁLISE DIRIGIDA 38

3.1 A GENTILEZA AO PREEXISTENTE: CITÉ DU GRAND PARC 39

3.2 FOCO PARASITÁRIO: CASA PARÁSITO 45

3.3 O PARASITA MARGINAL: O PARACAIDISTA 49

4. METODOLOGIA: RELAÇÃO COM AS PREEXISTÊNCIAS 54

4.1 ANÁLISE FORMAL E PROGRAMÁTICA 54

4.2 RELAÇÃO COM O ESPAÇO PÚBLICO 58

4.3 MAPEAMENTO E REPRESENTAÇÃO EM CAMADAS 61

4.4 ANÁLISE DAS INTERFACES URBANAS 64

5. ANÁLISE DA REALIDADE 66

5.1 A DELIMITAÇÃO DO RECORTE 67


5.1.1 O mapeamento como ferramenta de leitura 70

5.2 AS POTÊNCIAS 104

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 105

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107


1. INTRODUÇÃO

Debruçar-se sobre a cidade como território de intervenção parte da premissa de


que esta é tal qual um organismo vivo e em constante evolução, crescendo sobre si
mesma inúmeras vezes, e dando origem a um tecido denso, consistente e heterogêneo.
Assim, a diversidade do espaço urbano se apresenta através do encontro entre a sua
massa edificada, a imagem visível, com as ambiências, sensações e estímulos à vida
individual e da coletividade.
A quimera que reside em torno das cidades baseia-se no fato de que as mesmas
são construídas sob as pegadas das gerações anteriores, partilhando de conhecimentos
e histórias que se integram à atmosfera citadina e à idealização do futuro. Desta forma,
ações como a demolição de artefatos arquitetônicos ou partes da cidade de maneira
desmedida resultam em cortes na memória coletiva, deixando profundas marcas. A
completa negação do passado apaga os sinais da identidade de gerações anteriores,
suprimindo assim o que há de mais importante no tecido urbano, a sua diversidade.
Portanto, ações como a reabilitação e a reciclagem de espaços e partes da cidade
surgem através do cruzamento das camadas do tempo, o constante crescimento urbano
e a relação de pertencimento entre o homem, a massa construída e a cidade.
Como uma das possíveis respostas às questões levantadas acima, surge a
Arquitetura Parasita que, com base teórica científica, funcionaria como um corpo externo
ao objeto hospedeiro, neste caso as preexistências, tendo como o resultado a concepção
de espaços que avançam para além das paredes preestabelecidas e que personificam,
não somente a tensão de novos organismos e formatos, mas também a fuga visual
através de um jogo arquitetônico evocativo (RAMOS, 2014).
Desta forma, o edifício preexistente ganha um novo caráter, através do qual os
limites são ultrapassados e trabalhados com o intuito de responder às necessidades não
só de um novo programa, como também de quem vai utilizar o espaço e,
consecutivamente, da cidade. Portanto, o edifício e a parede, que antes eram elementos
rígidos, ao entrarem em contato com as ferramentas de corte, preenchimento e união,
passam a dispor de uma dimensão plástica (RAMOS, 2014).
8
Tendo essas percepções em vista, o trabalho em questão busca iniciar a
discussão sobre novas formas de intervir e coexistir com as preexistências sem com que
uma das partes seja demasiadamente prejudicada no processo, mas sim que o conjunto
urbano edificado seja potencializado através de ações pontuais de intervenção
arquitetônica, tanto na esfera privada quanto na esfera pública.
Em busca da potencialização de uma região da cidade já tida como positiva,
procura-se investigar a relação da massa edificada preexistente com o contexto em que
se insere, e identificar as possibilidades de intervenção no espaço através do uso do
artifício da Arquitetura Parasita. Através deste conceito, na primeira parte do trabalho –
A cidade – busca-se compreender a relação das dinâmicas socioespaciais, presente
entre os edifícios e a cidade, com as novas necessidades presentes nos centros urbanos.
A partir dos espaços intersticiais, também buscou compreender a influências destas
áreas na criação de novos projetos arquitetônicos.
A Análise Dirigida apresenta projetos que fundamentam suas estratégias pelas
potencialidades do entorno e o trabalho hábil com as preexistências. O capítulo traz
perspectivas de leitura do território urbano que balizam a inserção de novas propostas
em áreas consolidadas. Os casos escolhidos também utilizaram ferramentas e
estratégias de projeto para melhor abordar a massa construída preexistente, promovendo
a criação de novos espaços, sem utilizar do artifício de completa demolição.
A Metodologia traz algumas referências de como abordar a análise das
preexistências em um contexto urbano e como sugerir propostas arquitetônicas que
respeitem a identidade destes elementos. Esses exemplos auxiliaram na formação dos
critérios da Análise da Realidade do trabalho em questão, que tem como objetivo iniciar
o processo de compreensão do recorte urbano, e traz os dois primeiros passos da
metodologia de análise, a delimitação do recorte e o levantamento da área .
Em síntese, o presente trabalho tem como intenção iniciar a investigação da
relação dos edifícios preexistentes nos arredores da Praça General Osório com o
contexto em que se inserem, buscando a potencialização da região da cidade através do
uso do recurso da Arquitetura Parasita.

9
2. A CIDADE

Mesmo ao mais desatento dos olhares é possível observar o quão diversificada a


cidade se apresenta: no encontro de seus diversos edifícios, monumentos e ruínas,
observa-se as camadas do tempo através da sua arquitetura (ROSSI, 2001). Crescendo
sobre si mesma inúmeras vezes, a sobreposição de tempos no mesmo espaço deu
origem a áreas tão importantes para as cidades quanto os próprios edifícios, os
chamados vazios urbanos, também conhecidos como não-lugares. Observados nas
empenas cegas, em coberturas não utilizadas, nos miolos de quadra inocupados, em
lotes subutilizados, e outros espaços ociosos, esse novo conjunto de lugares promovem
questões quanto a sua relação com a massa construída, e quais as formas de
apropriação destes novos elementos (MATTEI, 2018).
A cidade, organismo vivo que constantemente renasce, é uma malha urbana
criada a partir do poder conferido pelo não natural ao natural (MAU, 2004), dando origem
a um tecido denso e consistente, derivado do enraizamento do homem no espaço. Sendo
assim, a cidade não é mais do que o cartão de identidade de quem a inala, vive e constrói
(SALGUEIRO, 2011), tendo como o homem seu protagonista e ator de sua construção e
mudança. Dentro deste aspecto, ações como a reabilitação e reciclagem de espaços
surgem através do cruzamento da sobreposição das camadas do tempo, o constante
crescimento das cidades e necessidades coletivas e individuais, e a relação de
pertencimento entre o homem, o edifício e a cidade.
Caracterizada por ser este tecido vivo, denso e rico justamente pelo agrupamento
de artefatos arquitetônicos de diversas épocas, a cidade não se limita apenas à imagem
visível do espaço, mas também traduz em ambiências, sensações e estímulos a vida
individual e da coletividade (ROSSI, 2001). Desta forma, ações como a demolição de
artefatos arquitetônicos ou partes da cidade de maneira precipitada são como cortes na
pele, deixando marcas profundas. A completa negação do passado em detrimento da
construção do futuro desata os nós tecidos por cada pessoa que passou pela cidade,
perdendo-se assim o que há de mais importante no tecido urbano, sua diversidade
(RAMOS, 2014).

10
Deste modo, ações com foco urbanístico ou voltadas especificamente aos
edifícios, mas que propõe o fortalecimento da relação entre as preexistências e as
propostas futuras devem ser vistas como práticas necessárias para a continuação da
pluralidade presente nas cidades (RAMOS, 2014).
Vale salientar que a cidade não deve ser experienciada como um objeto inanimado
e indiferente a passagem do tempo (RAMOS, 2014) mas, de modo a ser traduzida em
seu estado sublime, a mesma precisa ser palco de experimentos e, dentro do campo da
arquitetura, exprimida em uma conjugação infindável de ocupações e espaços, onde os
paradigmas sobre o habitar e viver possam ser transpostos (SALGUEIRO, 2011).
Considerando assim a cidade como o palco de experimentos, Koolhas e Mau
(1998) propõe que o futuro da arquitetura, em especial nas áreas centrais, tendo em vista
os processos e dinâmicas socioespaciais que ocorrem nas mesmas, irá consistir de
mutações e aglomerações com artefatos do passado, a fim de desenvolver novos
espaços destinados a suprir as necessidades decorrentes do aumento da densidade
populacional e do déficit habitacional. Ainda, tendo em vista as novas formas de relação
humana, que através dos avanços tecnológicos começaram a se estender para além dos
espaços físicos, as noções de habitar e como o fazer mudaram (RAMOS, 2014), o que
promove subsídio para novas experimentações e propostas.
Em seguida serão exploradas reflexões a respeito das características atuais das
áreas centrais e a relação com novas formas de produzir arquitetura. Nesse âmbito,
busca-se compreender as relações entre a massa construída e os vazios urbanos,
tomando como objeto de análise a relação entre os elementos e a cidade. Este capítulo
introduz as questões que fundamentam a pesquisa e compõem a discussão necessária
para o desenvolvimento dos capítulos posteriores.

2.1 A DETERIORAÇÃO DOS CENTROS URBANOS

O acelerado crescimento das cidades brasileiras, observado através do


vertiginoso aumento populacional, bem como pela expansão do tecido urbano com a
ocupação gradativa das áreas periféricas, contribui para a emergência de novas

11
dinâmicas nestes espaços, sobretudo nas áreas centrais, consideradas o coração das
cidades. Ainda que compreendido como sendo um fenômeno antigo e de maior
expressão após a Revolução Industrial, durante o século XVII, o crescimento do tecido
urbano no Brasil se deu de forma mais acentuada durante as décadas de 1960 e 1970
(PÓLIS, 2001).
A partir dos anos 1970, observa-se nas cidades a existência de estruturas
espaciais que experimentam um intenso e rápido processo de urbanização e, por
consequência, o aumento da concentração populacional (MATOS, 2000). Este novo
conjunto de aglomerações, resultante da expansão das áreas centrais, promove o
aumento da pluralidade nas cidades com a introdução de novas dinâmicas socioespaciais
e questões urbanas a serem discutidas (GADENS, 2010).
Em oposição ao que se vinha apresentando como dinâmica socioespacial, nos
últimos anos, em especial em cidades de médio e grande porte, a população com maior
poder aquisitivo está deslocando-se para as áreas periféricas, especialmente a procura
de condomínios fechados, muitas vezes enclaves fortificados1 (GADENS, 2010), sob a
justificativa de maior segurança. Deste modo, os núcleos centrais que anteriormente
agrupavam grande parte da população com maior concentração de renda, passaram por
um processo de gradativo abandono e esvaziamento, especialmente no campo
habitacional, ocasionando a subutilização de sua infraestrutura e admitindo a presença
de uma significativa população flutuante, cujo o objetivo é o estudo ou a prestação de
serviço nestas áreas (FERREIRA, 2004).
Conforme Gadens (2010), no cenário nacional existem duas principais vertentes
para a discussão da reversão do quadro apresentado, a primeira delas apresenta a
proposição do incentivo a atividade de cunho habitacional nos núcleos centrais, no
entanto, a proposta encontra incompatibilidade com os interesses do setor imobiliário que
não observa qualidade arquitetônica e/ou econômica nos artefatos encontrados dessas
regiões. A segunda vertente se baseia em projetos de reestruturação urbana, como a
requalificação de trechos, todavia, com base em experiências de outras cidades

1 “São propriedade privada para uso coletivo e enfatizam o valor do privado ao mesmo tempo em
que desvalorizam o que é público e aberto na cidade” (CALDEIRA, 2000, p. 258).
12
brasileiras, existe a tendência à elitização destas áreas e a expulsão de certos atores
sociais do espaço público.
Dentro deste aspecto, e tendo como premissa de que a cidade é tal qual um
organismo vivo, a discussão sobre ações com foco urbanístico ou voltadas
especificamente aos edifícios, mas que propõe a relação entre as preexistências com as
propostas futuras (RAMOS, 2014) é imprescindível para a promoção do revigoramento
das áreas centrais sem com que haja a heterogeneidade dos espaços, mas sim a
manutenção da diversidade formal e espacial, o que caracteriza a cidade por ser um lugar
rico (ROSSI, 2001).
Deste modo, observa-se que o processo de deterioração das áreas centrais está
relacionado a um ciclo de dinâmicas socioespaciais, e que levam ao processo de
readequações sócio funcionais onde, dentro de um determinado espaço de tempo, novas
atividades econômicas, modos de utilização do espaço e o perfil de usuários que se
apropriam das regiões mudam, assim como um organismo vivo que passa por mudanças
ao longo de sua existência (GADENS, 2010).
No caso da maior parte das cidades brasileiras de médio e grande porte, os
núcleos centrais passaram a acomodar atividades econômicas e prestadoras de serviço
de caráter popular, que levam ao adensamento e intensificação do uso de maneira
flutuante (FERREIRA, 2004), de modo a garantir o suprimento das necessidades destas
atividades. Essa dinâmica pode ser observada ao se percorrer estas áreas fora dos
períodos de utilização do comércio e outros serviços que, pela concentração de uma
gama específica de usos do solo, não apresenta vitalidade em outros momentos.
Segundo Gadens (2010), é possível observar que em Curitiba a readequação
sócio funcional, por se relacionar com a intensiva utilização de seu espaço, em especial
por um perfil de usuário de camadas mais populares, faz com que, diferente de outros
núcleos centrais, esta área não entre em um total processo de deterioração. Desta forma,
a mudança de usos corrobora com a permanência da centralidade da região, e o poder
de atração que o núcleo central gera é refletido no setor imobiliário e nas condições de
acessibilidade e mobilidade presentes na região. No entanto, como grande parte da
apropriação acontece em decorrência da prestação de serviços, é possível observar a
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existência de edifícios subutilizados (Figura 1) e o esvaziamento demográfico da região
central, ainda que menos acentuada em relação aos últimos anos (GADENS, 2010).

FIGURA 1 – EDIFÍCIO ABANDONADO NO CENTRO DE CURITIBA, PARANÁ

FONTE: CIRCULANDO POR CURITIBA2 (2015).

Tendo em vista a cidade como um organismo vivo e em constante mudança, se


faz necessário a promoção da diversidade socioespacial a fim de buscar a maior
integração dentro e entre as cidades e seus cidadãos. Assim, a discussão sobre as
diferentes formas de ação com foco urbanístico, como requalificações, ou voltadas
especialmente a edifícios, como reabilitações e reciclagem, mas que pressupõe a
vinculação entre as preexistências com as propostas futuras, devem ser vistas como
práticas necessárias para a continuação da pluralidade presente nas cidades (RAMOS,
2014).
Dentro deste aspecto, faz-se necessária a compreensão do papel que os espaços
intersticiais e os não-lugares possuem para a compreensão do espaço público, e como
estes elementos da paisagem urbana podem contribuir para a melhoria das dinâmicas

2 2Disponível em: <http://www.circulandoporcuritiba.com.br/2015/09/o-predio-abandonado-no-


centro.html>. Acesso em: 15 de mar. 2022.
14
socioespaciais presentes nas áreas centrais, especialmente em uma porção do centro
de Curitiba, espaço de estudo do presente trabalho.

2.1.1 Os vazios urbanos

O acelerado crescimento das cidades brasileiras e a ocupação gradativa de novas


regiões, conforme apresentado anteriormente, pode originar dinâmicas e processos de
readequações sócio funcionais. Conforme Gadens (2010), na maioria das cidades
brasileiras de médio e grande porte, este processo culmina na redução no número de
moradores das áreas centrais e a existência de imóveis vazios, além da degradação do
patrimônio histórico, aumento da concentração de atividades informais e mudanças no
perfil socioeconômico dos usuários da região.
Com a finalidade da garantia da existência em plenitude de todas as partes que
compõem o organismo vivo que é a cidade, Jacobs (2001) defende a disseminação da
pluralidade de usos dentro do espaço urbano a fim de dificultar o surgimento de dinâmicas
de deterioração física e sensorial de certas regiões, e promover a apropriação do espaço
público pela comunidade. Assim, Jacobs (2001), salienta a importância da interação
social para a manutenção da identidade local e garantia da vitalidade dos espaços, sendo
estes dois pensamentos elementos fundamentais para o planejamento urbano e ações
de intervenções em artefatos arquitetônicos.
Dentro deste aspecto, a sobreposição de tempos no mesmo espaço e a
característica de constante mudança do organismo vivo que é a cidade, deram origem a
áreas com o mesmo grau de importância para as dinâmicas socioespaciais quanto a
massa construída, os vazios urbanos, também conhecidos como não-lugares, que
compõe uma gama de novas possibilidades de intervenção arquitetônicas, a fim de
reverter os processos de deterioração das regiões centrais e promover um novo olhar a
cidade (MATTEI, 2018).
De modo a endossar a compreensão do papel que os vazios urbanos apresentam
nas cidades, é importante o esclarecimento das palavras: espaço e lugar. Ainda que
ambos os sentidos possam facilmente ser confundidos, o termo espaço remete a um

15
conceito geométrico e vetorizado, onde elementos precisos e mensuráveis, como a
altura, largura, profundidade, área e volume, auxiliam no seu embasamento e
compreensão (MACIEL, 2014). Deste modo, o espaço é caracterizado por uma natureza
inerte, onde os objetos se articulam, mas possuem suas próprias delimitações.
O termo lugar, em contrapartida, é antropológico, impalpável, subjetivo à
compreensão individual e relacionado às noções do tempo, onde as ações e
conhecimentos do homem passam a acumular significados (MACIEL, 2014). Sendo
assim, o lugar pode ser considerado um palco para as manifestações, individuais ou
coletivas, socioculturais do cotidiano, e embora os objetos se disponham distintamente
em relação aos demais, os mesmos estabelecem uma interação.
A partir de tais premissas e da permeabilidade entre os conceitos, a cidade se
constrói como o poder conferido pelo não natural sobre o natural (MAU, 2004), dando
origem assim a um tecido denso e consistente. Segundo o antropólogo Marc Augé (2012),
os lugares possuem três propriedades fundamentais: a identidade, o conceito de relação
e a história, e o que não se encaixa nestas características é chamado pelo autor de não-
lugar. Estes ambientes não estabelecem relações com os usuários e não os direciona ao
caminho da constituição de uma memória.
Dentro deste aspecto, o cruzamento da sobreposição das camadas do tempo, o
constante crescimento das cidades e necessidades coletivas e individuais, e a relação
entre o homem, o edifício e a cidade, originaram os vazios urbanos (SILVA, 2019), que
são observados em sua forma mais convencional através de miolos de quadra
inocupados, lotes e/ou edifícios subutilizados ou abandonados, e em sua forma atípica,
em empenas cegas, coberturas não utilizadas, e outros espaços.
Apresentando-se de diversas formas, os vazios urbanos possuem o mercado
imobiliário como um dos principais agentes responsáveis por sua formação, uma vez que
desencadeiam uma dinâmica de retenção de terras com a finalidade de ganhos futuros e
geram a chamada especulação imobiliária3. Esta reserva de terras provoca a formação

3 “Uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros
setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos públicos na
infraestrutura e serviços urbanos” (FILHO, 2001, p. 48).
16
de alguns vazios urbanos, ocasionando a diminuição da oferta de terra urbanizada e
resultando na elevação artificial do valor do solo urbano nas áreas centrais e estratégicas,
promovendo também na segregação social através dos deslocamentos de pessoas com
menor poder aquisitivo para áreas periféricas (GADENS, 2010).
Deste modo, os núcleos centrais que anteriormente agrupavam grande parte da
população com maior concentração de renda, passam por um processo de gradativo
abandono e esvaziamento, direcionado a desocupação parcial ou total, ou a substituição
do perfil populacional (FERREIRA, 2004).
Vale salientar a importância destes lugares não convencionais como elementos
fundamentais para a promoção da costura urbana e pluralidade de usos e formas de
apropriação da cidade, como no exemplo abaixo (Figura 2), em que a Via Elevado
Presidente João Goulart, também conhecida como Minhocão, em São Paulo, é utilizada
aos finais de semana como parque linear, promovendo assim lugares de encontro e lazer,
ativando inclusive as fachadas e empenas cegas do entorno.

FIGURA 2 - INTERVENÇÃO “EMPENA VIVA”

FONTE: NITSCHE ARQUITETOS4 (2015).

4 Disponível em: <http://www.nitsche.com.br/empena-viva>. Acesso em: 16 de mar. 2022.


17
Segundo Pit, Steller e Streng (2007), as cidades podem ser lidas como organismos
vivos, compostos por sistemas, dentre eles destacam-se o sistema físico e o mental. O
primeiro sistema compreende a rede de infraestrutura dos centros urbanos, como as vias,
pontes e viadutos, e ambientes construídos. O segundo sistema, o mental, engloba as
relações individuais e coletivas, entre o homem e os ambientes que o cercam.
Desta forma, levando em consideração o conceito de cidade como um organismo
vivo e em constante mudança, os vazios urbanos se apresentam ao corpo como fissuras
no sistema imunológico dos centros urbanos. A espera de ações para sua integração
com o restante da cidade, os não-lugares mostram-se como provocações contra as
barreiras erguidas pelo sistema de imunidade, a fim de oferecer novas oportunidades de
apropriação e compreensão do espaço urbano.

2.1.2 A Acupuntura Urbana

Conforme apresentado anteriormente, a cidade, considerada um organismo vivo


e em constante mudança (MATTEI, 2018), apresenta áreas tão importantes quanto os
próprios edifícios, os vazios urbanos. Estes elementos da paisagem, pontualmente
localizados na malha urbana, passam a compor uma rede interligada por toda a cidade.
Alinhado com este pensamento, o conceito de Acupuntura Urbana, apresentado por
Lerner (2011), busca o estabelecimento da diversidade espacial e transformação urbana
através de ações pontuais e estratégicas.
A Acupuntura Urbana é uma teoria de caráter ambientalista que busca, com base
nos princípios da medicina tradicional chinesa, o diagnóstico e o tratamento das cidades,
estabelecendo relações entre os sintomas e as causas das problemáticas, de modo a
restabelecer e equilibrar os diversos ciclos de energia presentes nos centros urbanos
(TELES, 2018). Deste modo, a teoria considera as cidades como organismos vivos e
propõe intervenções pontuais e seletivas em áreas de maior necessidade e potencial,
assim como os meridianos do corpo humano, que deverão funcionar como catalisadores,
promovendo assim a melhoria da qualidade da região (CASAGRANDE, 2013).

18
O termo foi disseminado pela primeira vez pelo arquiteto espanhol Manuel de Solà-
Morales, através de uma série de mudanças urbanísticas que revolucionaram e abriram
Barcelona, na Espanha, para o mar, antes da realização das Olimpíadas de 1992 e, vem
sendo ressignificado e empregado em diversas obras arquitetônicas e urbanísticas ao
longo das últimas décadas (TELES, 2018). Abrangendo projetos com elevado grau de
reversibilidade, a proposta da Acupuntura Urbana permite que correções e melhorias
sejam efetuadas a qualquer momento, o que assegura dinamismo para a gestão das
localidades e a adaptação das ações às necessidades de seus usuários.
Com escala variável, esse tipo de urbanismo é uma alternativa a grandes
intervenções realizadas de cima para baixo, que normalmente requerem pesados
investimentos, lenta tramitação burocrática e não possuem relação com a comunidade
local (LERNER, 2011). As iniciativas propostas pelo conceito não contam,
necessariamente, com grandes orçamentos ou intervenções, mas propõe o benefício
imediato das localidades através de ações pontuais com base no conhecimento das
diferentes realidades dos tecidos urbanos.
Para Casagrande (2013), o caminho das ações da Acupuntura Urbana devem
basear-se em um processo de aprendizagem e consciencialização para a reconexão
coletiva urbana, sendo vital a metodologia multidisciplinar de pesquisa e projeto em
conjunto com o conhecimento local e a memória coletiva da cidade. Nas redes de hortas
comunitárias espontâneas, por exemplo, Casagrande (2013) observou o ápice da
Acupuntura Urbana caracterizada por intervenções pontuais, que visam estabelecer o
contato entre a consciência coletiva urbana e os sistemas de vida da natureza. Uma vez
que o objetivo das ações é resolver as descontinuidades energéticas e os problemas por
estas causados, de forma a contaminar a maior área possível da cidade, procura-se na
ocupação de espaços vazios estabelecer a continuidade na ligação à cidade.
Segundo Lerner (2011), intervenções pontuais, como o estímulo de uma picada
de agulha ao corpo, possuem a capacidade de recuperar a energia do local, incitando
reações da população e promovendo uma série de novos acontecimentos positivos em
cadeia. Além disto, tendo em vista que a formação das cidades e a interação do homem
culmina em dinâmicas socioespaciais contrastantes, as cidades apresentam uma série
19
de conflitos e problemáticas. Desta forma, a Acupuntura Urbana propõe meios de atenuar
as problemáticas existentes nas cidades e estimular regiões "adormecidas", como áreas
de um corpo com má circulação sanguínea.
Não somente através de obras arquitetônicas e/ou de cunho urbanístico, mas
também por meio do estímulo de novos hábitos e a promoção de condições positivas
para a transformação da região, ações de Acupuntura Urbana em comunidades
vulneráveis, como o projeto “Espaços de Paz”, do escritório venezuelano Pico Estudio
(Figura 3), normalmente são seguidos por uma série de outras intervenções nesse
mesmo âmbito, reforçando o reconhecimento do potencial transformador de
intervenções específicas, estratégicas e localizadas como princípio norteador dos
projetos.
FIGURA 3 – PROJETO “ESPAÇOS DE PAZ”

FONTE: ARCHDAILY BRASIL5 (2020).

Dentro deste aspecto, intervenções que possuam a capacidade de estimular a


autoestima das comunidades, de modo a promover a união da população em prol de um
único objetivo, são consideradas os melhores exemplos de Acupuntura Urbana

5 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/951774/o-que-e-acupuntura-urbana>. Acesso


em: 16 de mar. 2022.
20
(LERNER, 2011). Quando propostas, o ponto de maior importância dentro destes
projetos é a receptividade e envolvimento da população, de modo que a mesma precisa
reconhecer-se no projeto de modo a que o mesmo possa cumprir a sua função social.
Dessa forma, mesmo que em escala reduzida se comparada às problemáticas das
cidades, a Acupuntura Urbana é uma prática que possui a finalidade de ação imediata e
local, buscando proporcionar melhorias na localidade em que se insere e promover o
estímulo em outras áreas (TELES, 2018). Bem como outros conceitos surgidos nas
últimas décadas, que buscam abordar soluções práticas e específicas para as cidades,
a Acupuntura Urbana, se constitui como uma possibilidade de complementar os
processos estruturais de mudança urbana.

21
2.2 O PARASITISMO NA ARQUITETURA

De modo a compreender o conceito da Arquitetura Parasita, faz-se necessário o


entendimento da proveniência do termo e da relação com a área de estudo das ciências
biológicas. A palavra parasita6 refere-se a um organismo que, na sua própria natureza,
vive de relações simbióticas e da dependência de outrem, além disso, pressupõe um
corpo que se propaga além de si mesmo e, através da reprodução e da hereditariedade,
crescendo através de redes e corpos exteriores (Figura 4).

FIGURA 4 – BUBBLE DRAWINGS

FONTE: CHARLOTTE X. C. SULLIVAN7 (2008).

Os organismos parasitários são seres vivos que retiram de outros seres os


recursos necessários para sua sobrevivência, sendo assim, nesta associação apenas
uma das partes se beneficia, enquanto o outro ser se prejudica de alguma forma
(RAMOS, 2014). Deste modo, o termo mais indicado para se referir às formas de
intervenção discutidas neste trabalho deveria ser Arquitetura Mutualística, visto que
dentre as diversas formas de interação entre os seres vivos o mutualismo se apresenta

6Parasita, segundo o dicionário: BIOLOGIA: Diz-se de ou organismo que vive em outro organismo
(hospedeiro), retirando seu alimento e geralmente causando-lhe dano. Disponível em:
<https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/parasita/>. Acesso
em: 28 de mar. 2022.
7Disponível em: <http://www.charlottexcsullivan.com/index.php?/halecounty/bubble-drawings/>.

Acesso em: 27 de mar. 2022.


22
como a conformação mais positiva para ambas as partes, onde duas espécies se
associam objetivando o benefício mútuo (MATTEI, 2018). Todavia, o termo parasita
pressupõe intervenções radicais, alinhando-se com a intenção de constituir uma
provocação ao sistema imunológico das cidades.
A aplicação do conceito de parasitismo no estudo da arquitetura possui raízes nos
manifestos publicados pelo arquiteto e teórico alemão Oswald Mathias Ungers, que em
um contexto de discussão sobre quais deveriam ser as formas de atuação dos arquitetos
e urbanistas na reconstrução as cidades européias no pós-guerra, discute em seu livro
Grossformen im Wognungsbau8 (1966) as relações com as preexistências e a contenção
da diversidade urbana (KABBARA, 2018).
Em sua análise, Ungers (1966) discute os efeitos da arquitetura como forma de
preenchimento, e qualifica o uso de intervenções informais e não planejadas, capazes de
formar um senso de comunidade que pode transcender o indivíduo sem destruir a
liberdade de individualização, descrevendo assim a ideia de “cidade dentro de uma
cidade”, como um auto-contido e lugares altamente desenvolvidos capazes de formar um
sistema complexo de ações pontuais, produzindo uma variedade de configurações
espaciais e sensoriais (GIVEN, 2021).
Desta forma, a arquitetura viral se apresenta como responsável pelo transplante
arquitetônico das ideias discutidas, onde uma massa edificada é utilizada tal qual um
corpo hospedeiro, que ao se libertar da sua utilização anterior, transforma-se em um novo
espaço, através da justaposição do passado e do presente, exercida a partir do jogo de
corpos, formas e volumes.
Bem como um organismo vivo, que está em um processo constante de evolução,
as cidades dependem de diversos fatores para o seu desenvolvimento, dentre eles os
socioeconômicos, os ambientais e culturais, e serão mais resistentes a processos
prejudiciais que conduzem à decadência urbana quanto mais estreita for a relação entre
seus órgãos e sistemas (RAMOS, 2014). Assim, como no corpo onde um foco infeccioso
em um órgão ou sistema pode despertar uma cadeia de problemas, nas cidades, uma

8 Grandes Formas na Construção Residencial, tradução livre In: UNGERS, Oswald. Grossformen
im Wohnungsbau. Technical University of Berlin, Lehrstuhl für Entwerfen und Gebäudelehre, 1966.
23
área degradada pode influenciar toda a região, acarretando no abandono e deterioração
dos espaços, produzindo áreas debilitadas, que deverão passar por um processo de
requalificação (LERNER, 2011).
Assim sendo, a Arquitetura Parasita ou Mutualística apresenta-se como uma ação
dentro do contexto de Acupuntura Urbana, com o objetivo de revalorizar o espaço
construído de forma a dinamizar, reenergizar ou revitalizar áreas debilitadas ou
moribundas. Bem como apresentado por Lerner (2011), o importante é que as
intervenções ocorram de maneira rápida e precisa e, caso não resulte efeitos, a obra
precisa ser reversível, assim a Arquitetura Parasita propõe a criação de estruturas
flexíveis e temporárias podendo ser determinadas como um transiente adaptável de
forma exploradora da arquitetura, forçando relações com as edificações hospedeiras a
fim de as completar, e assim oferecer respostas para os problemas nos órgãos ou
sistemas das cidades.
Segundo Pit, Steller e Streng (2007), as cidades podem ser lidas como organismos
vivos, compostos por sistemas e, o parasita arquitetônico, de modo a produzir mudança,
deve constituir-se de uma provocação para despertar o sistema imunológico das cidades,
promovendo discussões e inquietações as novas formas de arquitetura e apropriação do
espaço. Desta forma, caracterizada pela solidificação dos conceitos biológicos, a
Arquitetura Parasita propõe a intervenção em uma massa edificada, alinhado ou não com
a sua forma de utilização, de modo a promover a transformação do espaço através da
justaposição das camadas do passado e do presente, dos jogos de corpos, formas e
volumes, buscando promover a discussão de novos modos de apropriação da cidade.
Em seguida serão exploradas reflexões a respeito da relevância das vanguardas
arquitetônicas no processo de desenvolvimento da Arquitetura Parasita, e quais as suas
aplicações nos centros urbanos.

2.2.1 O papel das vanguardas arquitetônicas

As vanguardas arquitetônicas possuem um papel fundamental no percurso


evolutivo da Arquitetura Parasita. Por meio da introdução de novas reflexões quanto às

24
cidades e sua massa construída e, consequentemente, quanto às formas de produção e
apreensão da arquitetura frente às mudanças socioculturais, as vanguardas promoveram
uma nova visão de ruptura capaz de responder à ânsia pelo novo, ao gosto da sociedade
e ainda às novas necessidades que surgiam (MONTANER, 2001). A relação do
Modernismo e do Pós-Modernismo com o desenvolvimento do pensamento parasitário
na arquitetura será investigada a seguir.

2.2.1.1 O Modernismo

Segundo Solà-Morales (1999), a trajetória o Movimento Moderno esteve pautado


no paradigma tecnológico-psicológico, onde a ênfase na racionalidade técnica, com base
nos processos projetuais, resultou em um momento histórico cujo discurso distanciava-
se das narrativas construídas até então. Assim, fundado a partir das vanguardas
históricas, o movimento direcionou-se para uma concepção ideológica e clara vocação
doutrinária, onde destaca-se a questão do determinismo histórico e do funcionalismo
arquitetônico.
O determinismo histórico, também chamado de historicismo, relaciona-se aos
valores de transcendência impressos ao movimento que, pautado por uma consciência
coletiva e carregando em si uma ideia de progresso e emancipação social, julgava estar
inaugurando um novo processo histórico (LASSANCE, BRONSTEIN e OLIVEIRA, 2010).
A estética mecanicista e a disciplina pautada na lógica de produção em massa,
foram privilegiadas pela associação da arquitetura com os avanços da indústria,
promovendo assim o destaque das questões relacionadas à eficácia e à técnica. Assim,
com o auxílio da tecnologia, a Arquitetura Modernista possibilitaria a produção de
intervenções capazes de criar novas condições para o habitar, proporcionando uma justa
harmonia entre vida individual e coletiva, frente ao ambiente urbano insalubre da cidade
europeia pré-industrial (LASSANCE, BRONSTEIN e OLIVEIRA, 2010).
O funcionalismo arquitetônico, defendido pelo movimento, manifesta-se com mais
força nas propostas realizadas após a Segunda Guerra (1939-1945), quando são
materializados inúmeros experimentos de ordem prototípica para a arquitetura e para as
cidades (SOLÀ-MOLARES, 1999), em decorrência do arrasamento sofrido, privilegiado
25
um pensamento urbano com base na ideias de zoneamento, discutido na Carta de Atenas
(1933). Vale ressaltar que a radicalização do viés tecnicista quanto às intervenções
urbanas é gradualmente questionada nos últimos Congressos Internacionais da
Arquitetura Moderna (CIAM’s), desencadeando uma revisão no interior do próprio
movimento.
Contrapondo-se à objetivação funcionalista privilegiada no início das discussões
do movimento, uma atitude de base fenomenológica, presente nos anos seguintes nas
formulações do Team X, condensa a defesa de uma arquitetura organicista como crítica
à estética e à produção modernista (SOLÀ-MOLARES, 1999). Destaca-se também a
vertente mais radical, de caráter niilista, na crítica à cidade moderna e ao urbanismo
racional empreendida pelos Situacionistas na década de 1960.
Sendo assim, alinhado ao crescente pensamento fenomenológico, o paradigma
tecnológico-psicológico passa a entrar em crise, principalmente após as discussões dos
últimos CIAM’s, abrindo assim o caminho para a contraproposta desenvolvida nas
décadas seguintes.

2.2.1.2 O Pós-modernismo

Com o movimento Pós-moderno, o privilégio à sintaxe e ao conceito passar a ser


substituído pela associação da arquitetura à narrativa, alinhando seu discurso com o
pensamento pós-estruturalista, direcionando o valor da obra, que antes se encontrava no
processo, para a relação texto/obra (LASSANCE, BRONSTEIN e OLIVEIRA, 2010). Com
ideias e estratégias projetuais diferentes das defendidas pelo Movimento Moderno,
movimento surge na década de 1960, no contexto histórico da contracultura, tecendo a
crítica ao estilo internacional, ao passo que avaliava a importância do contexto histórico
e local no desenvolvimento de novos projetos de arquitetura (RAMOS, 2014).
Associado a um contexto de congruência grandes mudanças sociopolíticas,
transformações nos modos de pensar e construir as cidades com o advento da tecnologia
de massa, facilitações quanto ao consumo de bens e formas de comunicação, e
relacionando-se às artes plásticas de modo a subsidiar o distanciamento da pureza
formal antes defendida, o Pós-Modernismo passou então a buscar a incorporação da
26
memória e história local como recurso de projeto, aproximando a obra do contexto na
qual a mesma se insere (RAMOS, 2014).
Assim, inspirados pela visão do futuro, o grupo Archigram torna-se um produto de
uma época que se apropria da construção coletiva de um otimismo tecnológico, propondo
assim uma resposta crítica perante à arquitetura moderna, racional e funcional produzida
até então (RAMOS, 2014). Partilhando de um pensamento contrário ao trabalho que
vinha sendo proposto, o grupo adota uma identidade arquitetônica híbrida, tanto em seu
conteúdo, quanto na forma, associando a arquitetura a um produto de consumo e
desenvolvendo e diferentes estudos nos quais se estudava o espaço mínimo e a casa
tradicional (FIGURA 5), a qual adotava a forma embrionária de cápsulas (MONTANER,
2001), procurado a inclusão e a proliferação de formas e a desordem.

FIGURA 5 – THE WALKING CITY, RON HERRON

FONTE: MOMA9 (2013).


Diluindo as barreiras entre a arquitetura e as artes plásticas, o movimento passou
então a depositar no edifício o valor de monumento e de centro de ordenação do lugar,
impulsionando assim a busca por novas formas de percepção dos espaços e da cidade,

9Disponível em: <https://www.moma.org/collection/works/814>. Acesso em: 30 de mar. 2022.


27
deixando esta de ser invólucro existencial para tornar-se um apanhado de
acontecimentos, dinâmicas, cenários e ações efêmeras (PINTO, 2007).
Os conceitos discutidos pelo movimento Pós-Modernista, especialmente os de
caráter desconstrutivista, transfiguravam para a arquitetura os ideias de proliferação e
desordem, promovendo uma base sólida para o avanço da Arquitetura Parasita que,
alinhada a estas formulações, busca, através de suas morfologias inusitadas, promover
a discussão de novos modos de apropriação da cidade e, consequentemente, modos
inusitados de ocupar os espaços públicos.

28
2.2.2 O parasita urbano

A arquitetura oriunda da aglutinação de novas interfaces e estruturas a um corpo


preexistente adquire os valores de parasita e parasitismo na sua concepção (RAMOS,
2014). A incorporação de novos conceitos de articulação espacial que combatem as
limitações existentes, um dos potenciais da Arquitetura Parasita, permite a reconversão
de edifícios resultantes de uma arquitetura rígida em espaços contemporâneos aliados a
novos programas. Assim, esta forma de arquitetura propõe a apropriação da cidade
através de intervenções pontuais e radiais, com o intuito de despertar não apenas a
metrópole, mas também seus habitantes para novas formas de responder às
necessidades atuais.
O parasita é um organismo que, em sua essência, vive de relações simbióticas e
da dependência de outro ser (FERREIRA, 1973). A transposição deste pensamento para
a arquitetura reside na adição espacial a uma massa edificada preexistente, baseando-
se na manifestação extrema de contrastes, não somente físicos como também temporais,
onde a promoção do conflito busca introduzir uma nova configuração mais adequada aos
hábitos atuais.
Dentro deste aspecto, observa-se várias tipologias e possibilidades de atuação na
arquitetura, todavia, o resultado tem como ponto comum os espaços vazios e
subutilizados da cidade. A relação entre o hospedeiro e o hóspede pode ocorrer de
diversas formas: a relação entre ambos pode ser explícita, quando a estrutura é uma
extensão do edifício, metafórica, quando a mesma possui uma base autônoma,
fossilizada, quando a preexistência perde sua função original, e transportável, quando a
estrutura nova é temporária e removível (RAMOS, 2014). Ainda, segundo Mattei (2018),
quanto à localização das intervenções, existem cinco agrupamentos para os mesmos:
entre empenas cegas, sobre as coberturas subutilizadas, anexados à massa edificada,
entrelaçados a edifícios e aéreos.
Em seguida serão exploradas reflexões a respeito das características da
Arquitetura Parasita em seu contexto citadino e sua aplicação nas favelas e
aglomerações.

29
2.2.2.1 O parasita arquitetônico

Bem como um organismo vivo, que está em um processo constante de evolução,


as cidades dependem de diversos fatores para o seu desenvolvimento, dentre eles os
socioeconômicos, os ambientais e culturais, e serão mais resistentes a processos
prejudiciais que conduzem à decadência urbana quanto mais estreita for a relação entre
seus órgãos e sistemas (TELES, 2018). Assim, como no corpo onde um foco infeccioso
em um órgão ou sistema pode despertar uma cadeia de problemas, nas cidades, uma
área degradada pode influenciar toda a região, acarretando no abandono e deterioração
dos espaços, produzindo áreas debilitadas, que deverão passar por um processo de
requalificação (LERNER, 2011).
Paulatinamente, os espaços intersticiais entre os edifícios, ou os não-lugares
presentes nos mesmos, tornam-se relevantes para as dinâmicas do espaço urbano e,
dão origem a um novo olhar da arquitetura, renovando o pensamento sobre a cidade
(MATTEI, 2018). Assim, a Arquitetura Parasita apresenta um novo pensamento quanto
às relações entre a massa construída e os espaços públicos, servindo como um mediador
entre as mudanças nos vários fatores de desenvolvimento das cidades e os seus órgãos,
almejando alcançar novas possibilidades para o funcionamento dos sistemas urbanos
(RAMOS, 2014). Dentro deste aspecto, ações como a reabilitação e reciclagem de
espaços surgem através do cruzamento da sobreposição das camadas do tempo, o
constante crescimento das cidades e necessidades coletivas e individuais, e a relação
de pertencimento entre o homem, o edifício e a cidade.
Desta forma, frente a complexidade das dinâmicas socioespaciais presentes nos
centros urbanos, vê-se a necessidade do afastamento do campo de atuação da
arquitetura e urbanismo a fim de subsidiar concepções projetuais mais qualificadas
perante a situação atual das cidades. Assim, a Arquitetura Parasita busca questionar a
posição tradicional do arquiteto no processo de concepção e construção de espaços
(SOLFA e SANTOS, 2014), almejando atribuir, para além de qualquer vínculo autoral ou
espacial, uma espécie de “vida própria” à arquitetura.

30
Sob este aspecto, e entendida como uma ação, a Arquitetura Parasita possui a
capacidade de se autorreproduzir e multiplicar, assim como um vírus, através das ações
dos usuários (SOLFA e SANTOS, 2014). Neste sentido, as propostas projetuais não
devem ser compreendidas como ações únicas, mas sim elementos capazes de despertar
a população, colocando-a como agente de transformação das cidades, e estimulando
reflexões acerca dos edifícios e espaços públicos de uso cotidiano.
De forma a subsidiar o entendimento do papel da Arquitetura Parasita nos centros
urbanos, faz-se necessária a compreensão das esferas públicas e privadas. O arquiteto
norte-americano Vito Acconci, nos livros Making Public: the writing and reading of public
space (1993) e Public space in a private time (1995), identifica e diferencia dois tipos de
espaços públicos nos quais as pessoas se reúnem.
O primeiro deles, geralmente de caráter institucional e ligado a uma entidade
pública ou corporação privada, constitui-se pela imposição de regras de conduta
explícitas e implícitas que o público, para ter o direito de usá-lo, deve seguir (SOLFA,
2014). Desta forma, o espaço se constitui mediante a instauração de um contrato, que
releva as convenções de uso, dita ordens e formas de comportamento através de
informações direcionadas diretamente aos usuários, que tendem a assimilá-las de forma
quase inconsciente.
Em contrapartida, a segunda morfologia de espaço constitui-se onde a
comunidade se reúne precisamente porque não tem o direto, apropriando-se dele e o
tornando público à força (ACCONCI, 1993). Por possuir muitas vezes um caráter
temporário, este tipo de espaço abriga inúmeros conflitos e contém inevitavelmente
traços da esfera privada, visto que a distinção entre os domínios se torna borrada pela
ausência de convenções.
Segundo Acconci (1993), enquanto o espaço público institucionalizado possui
características de homogeneidade e união, o segundo espaço, tornado público visto a
necessidade da comunidade, tende a multiplicidade, heterogeneidade e instabilidade.
Assim, a tendência contemporânea de dissolução da distinção entre as esferas públicas
e privadas com o intuito da criação de áreas de transição, chamadas de “intervalos” por
Hertzberger (1999), desencadearia novas formas de compreender e projetar espaços
31
públicos, visto que a presença física deixaria de ser um fator determinante para a sua
concepção.
Ainda, segundo Acconci (1995), os espaços físicos delimitados nas cidades e
intitulados públicos, como as praças, são áreas remanescentes do pensamento e forma
de apropriação do espaço do século XIX, e na era contemporânea tais locais não podem
mais ser representados pelo signo da permanência visto que a circulação passou a ser
um item essencial – circulação incessante de pessoas, de imagens e objetos em espaços
onde os indivíduos conectados virtualmente recebem toda a informação necessária sem
que seja obrigatório o contato direto com outros.
Desta forma, com a diminuição constante do contato físico entre as pessoas no
espaço público, estas o adentram carregando em seu corpo uma espécie de “casulo”
invisível, do qual dificilmente ausentam-se (SOLFA, 2014). Assim, o espaço público,
sendo Acconci (1995), passaria a ser composto por uma massa de corpos privados,
munido de objetos e interesses individuais (Figura 6).

FIGURA 6 – MASSA DE CORPOS PRIVADOS NO ESPAÇO PÚBLICO

FONTE: AUTORA (2022).

Uma vez que o espaço público institucionalizado é estável e possui uma


localização específica na cidade, um indivíduo pode utilizá-lo por um determinado período
de tempo, mas sempre se desvencilhar do mesmo para que outros possam o usufruir,
32
sendo assim o espaço, algo externo a ele, não lhe pertencendo. Em contrapartida, o
espaço tornado público, ao não ser definido apenas pela sua delimitação territorial, mas
também pelas ações momentâneas que o constituem, deste modo um lugar (MACIEL,
2014), pode ser transportado pelo indivíduo a outras partes da cidade, pois este está
atrelado ao corpo de quem o constrói (SOLFA, 2014).
Deste modo, em decorrência da rigidez presente nos espaços públicos
institucionalizados, segundo Acconci (1995), as novas formas de intervenção na cidade
precisam colocar-se no meio dos caminhos, espremendo-se e se ajustando às estruturas
preexistentes, adicionando, subtraindo, multiplicando ou dividindo o que existe, dando
origem assim as intervenções de cunho parasitário.
O adjetivo parasita refere-se a intervenções arquitetônicas que necessitam
totalmente de preexistências para serem construídas, visto que é com base nestas
massas que as propostas criam sentido (SOLFA, 2014). Entretanto, a compreensão de
arquitetura viral, derivada palavra vírus10, surge a partir da constatação de que alguns
projetos apresentam o direcionamento para conceitos depositados nas relações
simbióticas, onde as palavras vírus, parasita e parasitismo, ganham uma dimensão
humana, caracterizando algo que se propaga além de si mesmo e, através da reprodução
e da hereditariedade, cresce através de redes e de corpos exteriores.
Desta maneira, a Arquitetura Parasita caracteriza-se pela solidificação dos
conceitos biológicos, onde uma massa edificada é utilizada como um corpo hospedeiro
que, alinhado ou não com a sua forma de utilização, transforma-se em um novo espaço
através da justaposição das camadas do passado e do presente, dos jogos de corpos,
formas e volumes, e busca, através de suas morfologias inusitadas, promover a
discussão de novos modos de apropriação da cidade e, consequentemente, modos
inusitados de ocupar os espaços públicos.

10 Vírus, segundo o dicionário: BIOLOGIA: Organismo infeccioso diminuto sem capacidade


metabólica independente. São reprodutivos apenas no interior das células hospedeiras; FIGURA:
Mal de natureza moral capaz de contagiar. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/v%C3%ADrus/>. Acesso em: 27 de mar. 2022.

33
2.2.2.2 As favelas e ocupações informais

As favelas podem ser classificadas como agrupamentos virais, construídos a partir


de estruturas que organicamente crescem sobre a cidade e si mesmas (RAMOS, 2014).
Despontando por volta do século XIX, no Brasil, a crise da habitação vincula-se com a
eclosão manufatureira-industrial, principalmente na Região Sudeste. Neste período
observa-se o declínio da produção agroexportadora de açúcar, café e algodão, bem como
a abolição da escravatura e o aumento dos fluxos migratórios de trabalhadores expulsos
do campo, intensificando assim a demanda por moradias nas áreas urbanizadas
(SOUZA, 2001).
Manifestando-se de maneira acentuada durante o início do século XX, o fenômeno
da favelização insere-se em um contexto de equilíbrio dos centros urbanos, onde
predomina a relação de aluguel de casas, arrendamentos e aforamentos de terras, da
parte da população com maior concentração de riquezas para os estratos sociais de baixa
e média renda (SOUZA, 2001). Em um primeiro momento, devido a intensa demanda por
novas habitações, ocorreu a elevação dos preços dos aluguéis, bem como obras de
cunho higienista nos centros da cidade de modo a afastar a população de baixa renda
destas áreas para as periferias imediatas. Assim, as ocupações populares resultantes
deste processo caracterizam-se por altas densidades, condições sanitárias precárias e
uma” desordem” aparente.
Segundo Souza (2001), neste contexto predominava-se a ideia de que ao passo
que a sociedade capitalista fosse emergindo, a pobreza e as favelas seriam assimiladas.
Contudo, no Brasil, as ocupações informais cresceram proporcionalmente ao processo
de privatização da habitação, mantendo-se como alternativa habitacional e direito à
cidade a parcela da população constantemente excluída.
Tendo isto em vista, as favelas constituem-se através de um processo
arquitetônico e urbanístico vernacular singular, e diferem-se, quase que completamente,
da forma projetual tradicional da arquitetura dita formal e erudita. Assim, compondo uma
estética particular, as favelas e ocupações informais possuem uma identidade espacial
própria, mesmo sendo diferentes entre si (JACQUES, 2003).

34
Segundo Jacques (2003), as favelas e ocupações irregulares apresentam três
elementos fundamentais para a sua compreensão. O primeiro deles, a fragmentação, se
manifesta nas estruturas das construções. Em um primeiro momento, o objetivo do
construtor na favela é abrigar a si e a sua família, desta forma os barracos são construídos
a partir de fragmentos de materiais heteróclitos, muitas vezes encontrados pela cidade,
e este abrigo inicial, mesmo que precário, constitui a base para a futura evolução da
habitação. Tão logo o morador conquista melhores condições econômicas, o mesmo
passa a promover melhorias na edificação, buscando assim aumentar o barraco até
progredir para a habitação em alvenaria. Como não existe um projeto preestabelecido,
as construções nas favelas apresentam a característica de evolução constante, assim
como um organismo vivo em constante mutação.

FIGURA 7 – FAVELA DA MARÉ, RIO DE JANEIRO

FONTE: ARCHDAILY11 (2021).

O segundo elemento observado por Jacques (2003) nas favelas é o labirinto. Ao


analisar a escala urbana das favelas, observa-se que os espaços livres entre as
construções dão origem a becos e vielas, formando naturalmente a figura do labirinto.

11 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/958598/redes-da-mare-a-favela-na-


pandemia?ad_source=search&ad_medium=projects_tab&ad_source=search&ad_medium=searc
h_result_all>. Acesso em: 30 de mar. 2022.
35
Dispondo de um tecido maleável e flexível, o organismo das favelas traduz-se em
movimento, tendo em vista que o mesmo está em um constante processo de
transformação e, ao contrário da malha urbana formal, seu traçado é formado
exclusivamente pelo uso.
O último elemento pontuado por Jacques (2003), com base na obra “Mil platôs” de
Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997), associa o termo rizoma12 à ideia de crescimento,
da ocupação e formação dos territórios urbanos informais. Assim, estabelecendo um
paralelo entre o processo de favelização com ervas-daninhas, que nascem discretamente
nas bordas, mas logo ocupam a totalidade dos vazios, Jacques (2003), argumenta que
as favelas transbordam os terrenos que ocupam, sobretudo pelas relações diversas
estabelecidas com o resto da cidade, principalmente as trocas culturais e coletivas, mas
também, de uma maneira mais sutil, pelas relações individuais. Assim, as favelas seguem
uma lógica de formação ainda mais complexa que os espaços formais, pois estão
constantemente em transformação, nunca parando de crescer e sobretudo, não são tão
fixas como as cidades tradicionais, sejam estas planejadas ou não.
As três figuras conceituais discutidas por Jacques (2003), resultam na estética
particular das favelas, um espaço do movimento, não ligado apenas ao próprio espaço
físico, mas sobretudo ao movimento do percurso, à experiência de percorrê-lo, e ao
mesmo tempo, ao movimento do próprio espaço em transformação. A própria ideia do
espaço-movimento impõe a noção de ação e está diretamente ligada aos seus atores,
que precisam constantemente apropriar-se do espaço de modo a preservá-lo.
Sob este aspecto, bem como a Arquitetura Parasita, as favelas possuem a
capacidade de se autorreproduzir e multiplicar, assim como um vírus, através das ações
dos usuários, tendo como hospedeiro, neste caso, as próprias ocupações, evoluindo e
crescendo infinitamente sobre si mesma. Neste sentido, intervenções projetuais formais

12 Rizoma, segundo o dicionário: BOTÂNICA: Caule subterrâneo, comum em plantas vivazes, rico
em reservas e caracterizado por possuir nós, botões, gemas e pequenas folhas com escamas; com
capacidade para produzir novos ramos folíferos, floríferos e raízes, armazena alimento para ser
utilizado pela nova planta. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/rizoma/>. Acesso em: 28 de mar. 2022.
36
e informais não devem ser compreendidas como ações únicas, mas sim como partes do
organismo da favela.

2.2.2.3 Arquitetura Parasita e a cidade

Ao passo que a cidade, tal qual um organismo vivo, cresce sobre si mesma, os
espaços intersticiais entre os edifícios e os não lugares tornam-se relevantes para as
dinâmicas do espaço urbano, e dão origem a um novo olhar da arquitetura frente às
necessidades atuais. Desta forma, frente a complexidade das dinâmicas socioespaciais
presentes nos centros urbanos, a Arquitetura Parasita apresenta um novo pensamento
quanto às relações entre a massa construída e os espaços públicos, servindo como um
mediador entre as mudanças nos vários fatores de desenvolvimento das cidades e os
seus órgãos, almejando alcançar novas possibilidades para o funcionamento dos
sistemas urbanos (RAMOS, 2014).
O parasita é um corpo que se comporta tal como um vírus, anexado a um
hospedeiro, propagando e reproduzindo-se com diferentes corpos, criando assim uma
rede, para o seu próprio sustento. Propondo o questionamento da posição tradicional
do arquiteto no processo de concepção e construção de espaços (SOLFA e SANTOS,
2014), a Arquitetura Parasita busca atribuir, para além de qualquer vínculo autoral ou
espacial, uma espécie de “vida própria” à arquitetura frente a complexidade das
dinâmicas socioespaciais presentes nos centros urbanos.
Fundamentado na concepção parasitária, as intervenções promovem o
estabelecimento de uma relação de coexistência em harmonia e sintonia com o
hospedeiro, buscando a incorporação da memória e valores de origem da massa
edificada a ser reabilitada ou reciclada, estabelecendo laços entre o edifício e o lugar.
Sob a ótica da arquitetura, o parasita é empregado como um método reanimador,
alinhado à Acupuntura Urbana (TELES, 2018) possibilitando a melhoria radial de áreas
do meio urbano através da intervenção.

37
3. ANÁLISE DIRIGIDA

Neste capítulo serão analisados exemplos práticos para a fundamentação de


estratégias projetuais que apresentam um novo pensamento quanto às relações
espaciais entre a massa construída, intervenções e os espaços públicos, de modo a
subsidiar a leitura da preexistências para a inserção de projetos de cunho parasitário na
malha urbana. As propostas apresentam também ferramentas e estratégias projetuais de
como abordar edifícios preexistentes sem que ocorra o arrasamento da memória do local.
Os casos a serem estudados assemelham-se com o que Lerner (2011) define como
Acupuntura Urbana, de modo que reconhecem nas cidades suas possibilidades e
reforçam os traços positivos do tecido urbano, buscando recuperar a energia do local e
incitando reações da população, promovendo uma série de novos acontecimentos
positivos em cadeia.
O projeto de reciclagem do conjunto de habitação social Cité du Grand Parc,
projetado pelo escritório Lacaton & Vassal em parceria com Christophe Hutin
Architecture, é um exemplo de generosidade para com a cidade e os moradores, pois
impede a demolição do conjunto e confere a todas as habitações novas qualidades de
espaço e vida, inventariando com muita precisão as qualidades existentes que devem
ser preservadas e complementam as que são necessárias. A Casa Parasita, obra do
escritório equatoriano El Sindicato, tem como ponto de partida a discussão sobre
questões de densidade das cidades e a dificuldade no acesso à habitação por parte da
população, desta forma utilizam a Arquitetura Parasita como forma de promover a justiça
urbana social. Por fim, a intervenção “O Paraquedista”, do artista Héctor Zamora, propõe
o acoplamento da proposta a uma preexistência em declínio e, tendo como ponto de
partida a dinâmica da área escolhida, busca incitar o interesse na região para com o
edifício.

38
3.1 A GENTILEZA AO PREEXISTENTE: CITÉ DU GRAND PARC

Contra o interesse inicial do governo francês em demolir conjuntos habitacionais


das décadas de 1950 a 1970 e concentrando-se em projetar de dentro para fora de modo
a priorizar o bem-estar dos habitantes do edifício, ao lado de Frédéric Druot e Christophe
Hutin, Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal propuseram a reciclagem de 530 unidades
habitacionais em três edifícios modernistas de habitação social dos anos 1960 (Figura 8),
no Grand Parc em Bordeaux, França, no ano de 2017 (PINTOS, 2020).
Observando no conjunto edificado um enorme potencial para resgatar a
autoestima do bairro e de seus moradores, os arquitetos propuseram modificações
internas, com a participação dos habitantes, e o acréscimo de novas estruturas acopladas
às fachadas, ampliando a área dos apartamentos e modificando o aspecto visual do
conjunto (FONTÃO, 2020).

FIGURA 8 - CONJUNTO RESIDENCIAL ORIGINAL

FONTE: LACATON E VASSAL13 (2013).

Diante das características preexistentes, os arquitetos optaram por propor as


intervenções através da óptica de seus moradores, tendo em vista a melhoria da
qualidade de vida dos mesmos. Para tal, o conjunto edificado foi palco de remodelações

13 Disponível em: <https://www.lacatonvassal.com/index.php?idp=80>. Acesso em: 01 abr. 2022.


39
nas unidades habitacionais, as instalações sanitárias e elétricas foram reformadas, os
elevadores foram substituídos por equipamentos maiores e modernos, o hall de acesso
foi reconfigurado, transformando-se em um ambiente amplo e convidativo, e os jardins
receberam um novo projeto de paisagismo (PINTOS, 2020). Em decorrência das
intervenções, o desempenho energético dos edifícios como um todo também foi
aprimorado, principalmente pela adição das varandas e um novo sistema de isolamento
térmico da fachada.
Sendo o ponto principal no projeto, a inserção de varandas (Figura 9 e 10)
proporcionou grande mudança na dinâmica dos edifícios. Caracterizando-se pela adição,
a uma estrutura base ocupada pelas funções elementares ao habitar – sala, quartos,
cozinha e casa de banho – de um segundo volume sem programa, o jardim de inverno,
a intervenção buscou encostar uma segunda estrutura independente, onde se localizam
as varandas, quase como uma segunda pele, em redor da fachada do edifício original
(SILVA, 2018).

FIGURA 9 – AMPLIAÇÃO DOS APARTAMENTOS

FONTE: ARCHDAILY14 (2020).

14 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/933180/transformacao-de-530-unidades-


habitacionais-em-bordeaux-lacaton-and-vassal-plus-frederic-druot-plus-christophe-hutin-
architecture>. Acesso em: 01 abr. 2022.
40
FIGURA 10 – O JARDIM DE INVERNO

FONTE: ARCHDAILY15 (2020).

Partindo do pressuposto de que todas as famílias deveriam permanecer em suas


residências durante as obras, o projeto não contou com intervenções na estrutura
existente, escadas ou pisos, executando apenas acréscimos e ampliações
suficientemente grandes para serem totalmente aproveitadas (PINTOS, 2020). A
transformação confere a todas as habitações novas qualidades de espaço e vida, listando
com muita precisão as qualidades existentes que devem ser preservadas e as que faltam
devem ser complementadas.
Permitindo ao utilizador usufruir de espaços fluídos, em termo de utilização e
mobilidade, bem como de uma habitação confortável de forma económica e sustentável,
conservando ao máximo a estrutura original do edifício, a proposta permitiu que parte do
orçamento pudesse ser utilizado em outros lugares, como recursos para os usuários.
Através das extensões foi possível ampliar o espaço de cada família, possibilitando
conferir aos apartamentos espaços ao ar livre, como acontece em residências maiores.
Um dos principais preceitos utilizados na concepção do projeto foi o da
participação dos moradores nas discussões e decisões projetuais, uma vez que as

15 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/933180/transformacao-de-530-unidades-


habitacionais-em-bordeaux-lacaton-and-vassal-plus-frederic-druot-plus-christophe-hutin-
architecture>. Acesso em: 01 abr. 2022.
41
dinâmicas do espaço são construídas pelos mesmos. O habitar e o modo de o fazer é
tema central, e este relaciona-se às formas de desenvolvimento da vida, não somente no
âmbito privado, mas também quanto à vida coletiva. Assim, durante a concepção e as
etapas de execução do projeto, assembleias foram realizadas para entender os
processos socioespaciais presentes nos edifícios e quais eram as mudanças esperadas
pelos moradores (PINTOS, 2020).
Através do pressuposto de que a prática arquitetônica se personifica na geração
de espaços e situações (PLENO, 2018), os escritórios Lacaton & Vassal e Christophe
Hutin Architecture propuseram espaços generosos e otimizados com a inserção da
estrutura independente das varandas (Figura 11), quase como que uma segunda pele,
de modo a emancipar a liberdade dos moradores e melhorar a qualidade de vida,
possibilitando o contato direto com o ambiente externo. Ainda assim, propondo uma obra
de grande impacto urbano e na qualidade de vida dos moradores, a intervenção não se
esqueceu das questões econômicas, que não se traduzem em poupar no orçamento,
mas sim em fazer o máximo com o mínimo de recursos.

FIGURA 11 - ESTRUTURA AUTOPORTANTE

FONTE: A+T ARCHITECTURE PUBLISHERS16 (2020).

16Disponível em:
<https://aplust.net/blog/transformation_of_cit_du_grand_parc_lacaton__vassal_druot_hutin_borde
aux_france/>. Acesso em: 01 abr. 2022.
42
Outro conceito essencial ao projeto foi a compreensão que não somente através
da construção de novos edifícios se altera a imagem da cidade e a qualidade dos espaços
para seus habitantes (RAMOS, 2018). A cidade pode ser transformada a partir de
situações e projetos simples, sem necessariamente a monumentalidade visual, mas
estes têm de ser necessários à cidade e sua população, gerando dinamismos, uma nova
imagem, caráter e forma de atuar na e da cidade. Deste modo, a proposta, especialmente
a adição das varandas (Figura 12) nas fachadas, tem como premissa a oposição a ações
como a demolição de artefatos arquitetônicos, de modo a preservar o que há de mais
importante no tecido urbano, sua diversidade.

FIGURA 12 – CONJUNTO HABITACIONAL APÓS INTERVENÇÃO

FONTE: LACATON E VASSAL 17 (2020).

Na investigação do processo projetual do Cité Du Grand Parc destacam-se duas


características: a gentileza e o cuidado da intervenção para com o conjunto edificado
preexistente, e a reocupação com o papel dos edifícios para com a cidade.
Tendo em vista o conceito de Arquitetura Parasita analisado anteriormente, pode-
se afirmar que o projeto do Cité Du Grand Parc compreende que não somente através
da construção de novos edifícios se altera a imagem da cidade e a qualidade de seus

17 Disponível em: <https://www.lacatonvassal.com/index.php?idp=80>. Acesso em: 01 abr. 2022.


43
espaços, mas a reciclagem de artefatos arquitetônicos e o acréscimo de estruturas
parasitárias ao seu corpo também é capaz de promover a melhoria da qualidade de vida
de quem o habita e criar novas dinâmicas com o espaço público. Percebe-se, através de
característica marcante, o destaque dado a estrutura autoportante responsável pela
inserção das varandas, que redesenha as limites do edifício e cria relações positivas entre
os habitantes e o restante da cidade. A equipe, portanto, priorizou a articulação do
conjunto edificado com o contexto de sua inserção, potencializando assim uma situação
que já era positiva – sua localização.
Já a segunda característica refere-se à noção de Acupuntura Urbana apresentada
antes, pois é possível evidenciar, através das falas e da abordagem projetual dos
arquitetos, uma preocupação com o papel do conjunto edificado para com a cidade. Isto
é, o intuito projetual não era apenas a reciclagem dos edifícios e a melhoria de sua saúde,
mas oferecer novas possibilidades de apropriação do espaço para os moradores,
compatível com as necessidades atuais, e utilizar a reciclagem do conjunto como ponte
e potencial para resgatar a autoestima do bairro.
Por fim, bem como um organismo vivo que está em um processo constante de
evolução, o conjunto Cité Du Grand Parc, como destaca Lerner (2011), caracteriza-se
por possuir a capacidade de estimular a autoestima da região onde está inserido, de
modo a promover a união dos moradores em prol de um único objetivo, além de modificar
as dinâmicas socioespaciais intrínsecas ao edifício.

44
3.2 FOCO PARASITÁRIO: CASA PARÁSITO

Tal qual os organismos parasitários, seres vivos que retiram de outros seres os
recursos necessários para sua sobrevivência (RAMOS, 2014), a obra Casa Parásito, do
escritório equatoriano El Sindicato, associa-se estruturalmente a um edifício com o intuito
de aproveitar-se de sua localização e infraestrutura para proporcionar as condições
adequadas para a habitação. Em um momento em que muitas cidades estão enfrentando
a escassez de moradias acessíveis, faz-se necessária a reflexão quanto à forma
convencional de construção dos espaços, especialmente no campo habitacional.
Inspirados pela citação do ex-político uruguaio José Mujica18, o escritório propôs
a construção de uma habitação de 12m² (Figura 13), que empoleirada no telhado de um
edifício preexistente, fornece apenas as estruturas básicas para resolver as
necessidades básicas de habitabilidade de um jovem ou casal considerando banheiro,
cozinha, cama, espaço de armazenamento e espaço de estar – comer, trabalhar,
socializar –, garantindo todo as funções de uma casa em uma pequena área (OTT, 2020).

FIGURA 13 – A CASA PARÁSITO

FONTE: EL SINDICATO19 (2019).

18 “'pobre não é quem tem pouco, mas quem precisa de muito para viver”. Disponível em:
<https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/pepe-mujica-presidente-mais-pobre-do-
mundo.html>. Acesso em: 07 de abr. 2022.
19 Disponível em: <https://www.elsindicatoarquitectura.com/casaparasito>. Acesso em: 03 abr.

2019.
45
A intervenção consiste em três módulos criados por quatro pórticos estruturais de
madeira com o formato “A”, que combinam os espaços livres de objetos utilitários para
maximizar o uso do volume e reduzir sua área construída, de modo que o espaço versátil
do retângulo central possa ser usado de acordo com a atividade executada. Os arquitetos
propuseram o acesso a todas as áreas funcionais da habitação a partir do módulo central,
privilegiando a realização das atividades em pé, como a cozinha, o banheiro e a área de
convívio social (Figura 14). Adjacentes a este núcleo, os) triângulos e romboides20
menores, resultantes da forma da habitação, fornecem locais para o armazenamento e o
dormitório, além de proporcionar estabilidade à estrutura (OTT, 2020).

FIGURA 14 – MODULAÇÃO DA CASA PARÁSITO

FONTE: EL SINDICATO21 (2019).

De forma a propor a unidade no projeto, os acabamentos de pisos, as paredes e


os painéis externos foram revestidos com chapas de tiras de madeira orientadas (OSB),
além disto, de modo a promover a melhoria do isolamento térmico, entre a estrutura de
madeira e os revestimentos foi utilizado uma camada de isolamento de fibra de coco

20 Romboides, segundo o dicionário: GEOMETRIA: Em forma de losango; paralelogramo.


Disponível em: < https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/romboide/>. Acesso em: 04 de abrr. 2022.
21 Disponível em: <https://www.elsindicatoarquitectura.com/casaparasito>. Acesso em: 03 abr.

2019.
46
(OTT, 2020), promovendo um conceito amplamente discutido pelo escritório, o da
inclusão de materiais reciclados nos processos construtivos de modo a baratear os custos
e possibilitar a reutilização de materiais (EL SINDICATO, 2019).
Outro aspecto importante para a concepção do projeto foi a presença da luz nos
espaços, tendo em vista que o intuito da proposta é ser seja difundida como modelo de
habitação de baixo custo e rápida construção, a iluminação dos espaços é essencial
(Figura 15). As fachadas leste e oeste, que recebem luz solar direta o ano todo, são
envolvidas por painéis de aço, de modo a bloquear a incidência direta, e as fachadas
norte e sul são revestidas de vidro translúcido, possibilitando a entrada da luz natural e
estabelecendo a relação de contato entre a habitação e a cidade (EL SINDICATO, 2019).
De acordo com os arquitetos, embora seja possível construir o projeto em terrenos
urbanos ou rurais sem construções existentes, a intervenção tem como pressuposto a
conexão com telhados subutilizados em ambientes urbanos sólidos, onde exista a
possibilidade de ligar a infraestrutura da casa às redes. Desta forma, a casa contribui
para o adensamento da cidade numa escala reduzida, com o mínimo de investimento
econômico e utilização de recursos (EL SINDICATO, 2019).

FIGURA 15 – RELAÇÃO DA PROPOSTA COM A CIDADE

FONTE: EL SINDICATO22 (2019).

22Disponível em: <https://www.elsindicatoarquitectura.com/casaparasito>. Acesso em: 03 abr.


2019.
47
Ao analisar o projeto do escritório El Sindicato para a Casa Parásito salienta-se a
relevância de três prioridades: a utilização da forma parasitária de articulação para a
promoção do acesso à habitação – relacionando as maneiras de articulação da proposta
em questão com as preexistências, o aproveitamento dos espaços – relacionado a forma
e ao tamanho do módulo habitacional, e a contribuição para o aumento da densidade, de
maneira sutil, nos centros urbanos.
A primeira relaciona-se ao olhar atento às dinâmicas socioespaciais dos centros
urbanos da América Latina, e observa nas mesmas a importância dos vazios urbanos,
especialmente das coberturas subutilizadas. Desta forma, e alinhado aos conceitos da
Arquitetura Parasita, ao apresentar a habitação conectada à cobertura de uma
preexistência, o escritório El Sindicato reforça a necessidade da relação entre todas as
construções no meio urbano, e como a conversa entre elas pode promover a melhoria
das dinâmicas das cidade e da qualidade de vida de seus moradores. Tal qual um
parasita, que necessita de um corpo hospedeiro para sua existência, a Casa Parásito
propõe a articulação espacial com seu hospedeiro através da ligação das instalações
elétricas e hidráulicas de ambas, a fim de combater as limitações existentes.
A segunda prioridade do projeto, que é o aproveitamento dos espaços, paira sobre
a questão do quanto é necessário para o desenvolvimento das atividades básicas. O fato
de a proposta articular-se entorno do módulo central, no formato de um retângulo, de
modo a maximizar o uso do volume e reduzir sua área construída, facilita a inserção do
projeto em outros locais, alinhado com o intuito do escritório possibilitar a disseminação
da habitação nos centros urbanos.
A terceira prioridade ter como o objetivo o aumento da densidade, de maneiro sutil,
nos centros urbanos, relacionando a intervenção com a conexão com telhados
subutilizados em ambientes urbanos sólidos, onde exista a possibilidade de ligar a
infraestrutura da casa às redes existentes, contribuindo assim para o adensamento da
cidade numa escala reduzida, com o mínimo de investimento econômico e utilização de
recursos, com o foco em materiais reciclados e de fácil acesso.

48
3.3 O PARASITA MARGINAL: O PARACAIDISTA

Partindo do pressuposto de que a cidade é um organismo vivo, e que edifícios e


partes do tecido urbano em processos de degradação funcionam como focos infecciosos
para a chegada de parasitas, o artista mexicano Héctor Zamora, a partir de uma
abordagem curatorial, buscou estabelecer uma presença institucional no exterior do
Museu de Arte Carillo Gil (Figura 16), em 2004, como estratégia da arte contemporânea
com o intuito de atrair novos públicos ao espaço (VISCONTI, 2016).
A intervenção, denominada de “Paracaidista, av. Revolução 1608bis”
(paraquedista, tradução livre), propôs a promoção do uso de técnicas de construção
popular espontânea com materiais de baixo custo, fruto de longas pesquisas do artista
nos subúrbios da capital mexicana, sinalizando o interesse do mesmo pelos modelos
informais da arquitetura e organização social (VISCONTI, 2016). Adquirindo um aspecto
marginal, a intervenção (Figura 17) interrompeu a visualidade do edifício do museu e a
de seu contexto urbano, tendo sido casa do próprio artista durante três meses, a mesma
se tornou um ponto de referência da arte ao ar livre produzida no México (VISCONTI,
2016).
FIGURA 16 - MUSEU CARILLO GIL ANTES DA INTERVENÇÃO

FONTE: GOVERNO DO MÉXICO23 (2022).

23Disponível em: <http://sic.gob.mx/ficha.php?table=museo&table_id=794>. Acesso em: 04 abr.


2019.
49
FIGURA 17 – INTERVENÇÃO PARACAIDISTA

FONTE: ARCHDAILY24 (2017).

A intervenção baseia-se em uma sucessão de peças metálicas estruturais (Figura


18) que obedecem a um estudo geométrico para a sua suspensão da fachada, e culmina
em um espaço habitável de 75 metros quadrados estruturados ao longo de um corredor
(JEREZ, 2017), que foi morada do artista durante um período de três meses, o mesmo
tempo de vida da instalação parasitária no exterior do museu. A entrada localiza-se ao
redor de uma escultura que acompanha permanentemente o exterior do museu, e conta
com uma pequena área fechada com porta independente e endereço postal onde os
cidadãos, na época, podiam enviar correspondências.
No primeiro andar estão localizadas as áreas de convivência social (Figura 19),
como a sala de estar, cozinha e sanitários, e no andar superior foram construídos dois
quartos, um para hóspedes e outro para o artista (JEREZ, 2017). A intervenção de caráter
parasitário instala-se na parte exterior do museu tal qual as obras de arte que residem
em seu interior, mas ao mesmo tempo configura-se como uma casa com condições de
vida convencionais baseadas em algumas técnicas de autoconstrução amplamente
utilizadas em assentamentos precários ou informais no México e na América Latina.

24Disponível em: <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/885188/la-arquitectura-parasitaria-de-


hector-zamora>. Acesso em: 04 abr. 2019.
50
FIGURA 18 – ESTRUTURA DA INTERVENÇÃO

FONTE: ARCHDAILY25 (2017).

FIGURA 19 – PRIMEIRO PAVIMENTO DO APARTAMENTO

FONTE: ARCHDAILY26 (2017).

25 Disponível em: <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/885188/la-arquitectura-parasitaria-de-


hector-zamora>. Acesso em: 04 abr. 2019.
26 Disponível em: <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/885188/la-arquitectura-parasitaria-de-

hector-zamora>. Acesso em: 04 abr. 2019.


51
Associando-se também a figura do paraquedista, que salta de um avião e desliza
pelo ar em busca do local ideal para seu pouso, a intervenção de Héctor Zamora se
agarra energicamente à fachada do museu, sem com que interfira na pele do edifício, e
cresce periodicamente como um parasita, que se instala pouco a pouco até se espalhar
por quase todo o canto do museu (VISCONTI, 2016).
Em um primeiro momento, a obra de Héctor Zamora despertou tanto desacordo
no público que não só o projeto foi processado por tamanha audácia, como o museu
também ficou fechado por um período. No entanto, após o tempo de assimilação da
intervenção pela cidade, o museu se apropriou da imagem parasita do projeto e
conseguiu tirar partido da forte denúncia do artista de que não estava a tocar em território
de ninguém. A dualidade do projeto baseia-se no fato de estar preso ao corpo do museu,
contudo o apartamento suspenso não ficava dentro do mesmo, então a instituição não
tinha muita jurisdição sobre o espaço. Além disto, a obra foi construída em local público,
mas como não chegou ao solo, o governo também não conseguiu uma maior
regulamentação sobre o projeto (JEREZ, 2017). Desta forma, procurando brechas nas
legislações e discutindo questões sobre os espaços públicos e privados, o artista
conseguiu construir uma casa temporária.
Ao analisar o projeto da intervenção Paracaidista, av. Revolução 1608bis sob as
lentes das bases conceituais apresentadas anteriormente, pode-se afirmar que a primeira
característica se refere ao que Ungers discute em seu livro Grossformen im
Wognungsbau (1966) (Grandes formas na construção residencial, tradução livre) como
sendo as intervenções informais e não planejadas uma forma de arquitetura de
preenchimento, capaz de formar um senso de comunidade que pode transcender o
indivíduo sem destruir a liberdade de individualização e questionar princípios e verdades
tidas como absolutas. O artista aceitou a condição do contexto e associou a intervenção
aos limites da preexistência, para que assim a habitação pudesse existir. Tendo em vista
que a Arquitetura Parasita é definida pela associação de dois elementos em prol de um
benefício mútuo, compreende-se que a intervenção cumpriu o seu papel ao incitar e
direcionar os olhos da cidade para o museu que se encontrava em um estado de

52
degradação e abandono, e também promover a discussão sobre as formas tradicionais
de arte e arquitetura.
A segunda característica da intervenção, que é destacar-se na paisagem urbana,
rompendo a monotonia cotidiana e direcionando as atenções dos moradores a um
espaço que estava se direcionando ao esquecimento, é concordante com os
pensamentos de Lerner (2011). Ao sintetizar o projeto em volumes orgânicos
conformados pelas possibilidades plásticas que os materiais lhe conferiram, o artista cria
um ponto de densidade no contexto urbano, aceitando assim a preexistência na qual se
insere e reforçando as características da região. Assim o projeto conserva a sua
identidade parasitária enquanto mantêm-se conectadas com o seu entorno, articulando
a cidade e promovendo um raio de interesse ao seu redor.

53
4. METODOLOGIA: RELAÇÃO COM AS PREEXISTÊNCIAS

A fim de realizar a investigação da relação dos edifícios preexistentes da região


selecionada entre si e para com o espaço público, faz-se necessário a escolha de um
recorte com diversidade espacial suficiente para o aferimento da análise, para em
seguida selecionar edifícios representativos que simbolizam categorias de edifícios mais
amplas, tendo em mente que o que será de fato analisado é a relação do edifício em
questão com o panorama em que está inserido, buscando destacar elementos que
potencialidades de agir como peças chave para a inserção de obras de cunho parasitário,
para a posterior proposta projetual.
Desta forma, propõem-se a análise do método de compreensão da relação entre
a massa construída e o espaço público discutido pelos arquitetos Robert Venturi, Denise
Scott Brown e Steven Izenour em Aprendendo com Las Vegas (2003), a metodologia de
trabalho do escritório Acconci Studio, quanto ao desenvolvimento de propostas
arquitetônicas que quebram as barreiras da arquitetura tradicional em detrimento da
busca de novas relações socioespaciais traduzidas em projetos de cunho parasitário, e
a forma de compreensão entre o espaço público e o privado discutido através das lentes
do mapeamento e representação em camadas do arquiteto Bernard Tschumi.

4.1 ANÁLISE FORMAL E PROGRAMÁTICA

Idealizada a partir de uma viagem acadêmica promovida pelos arquitetos Robert


Venturi, Denise Scott Brown e Steven Izenour em 1968 em conjunto com os estudantes
da faculdade de arquitetura da Universidade de Yale, a publicação Aprendendo com Las
Vegas caracteriza-se por ter sido uma as primeiras tentativas de se produzir um estudo
analítico de um recorte territorial, sem com isso emitir nenhum juízo de valor, desta forma
a análise não buscava compreender singularmente a cidade de Las Vegas, mas sim o
simbolismo da forma arquitetônica produzida na cidade norte-americana (SCOTT-
BROWN, 2003).

54
Por meio da análise da Las Vegas strip27, os autores buscaram compreender o
papel do simbolismo na forma arquitetônica, rejeitando a atribuição de valores morais ao
território de pesquisa em questão. Assim, através do apontamento de construções
consideradas representativas, os arquitetos, juntamente ao grupo de estudantes,
analisaram os principais tipos de edifícios presentes na área e, a partir disto, produziram
uma série de documentos, em especial diagramas, que justapuseram as construções à
ícones da arquitetura mundial (Figura 20), obtendo semelhanças metodológicas entre os
objetos bastante distintos.

FIGURA 20 - DIAGRAMA DE SÍMBOLOS DE ESCALA E DE VELOCIDADE

FONTE: VENTURI, SCOTT-BROWN, IZENOUR (2003).

27 Corresponde ao trecho da Las Vegas Boulevard no qual se concentram a maior parte dos hotéis
e cassinos da região, sendo assim caracterizada por uma quantidade massiva de comunicação
visual.
55
Entre as estratégias utilizadas para o mapeamento, o grupo partiu da dualidade
apresentada no mapa de Nolli28 através da leitura bidimensional da strip, contrastando os
espaços públicos com os privados, esclarecendo assim a proporção entre os contrastes
de Las Vegas (Figura 21). No entanto, por meio de recombinações dos componentes e
parâmetros do mapa – o asfalto, os carros, as edificações e o espaço cerimonial – a strip
pode ser lida em suas várias camadas. Ainda assim, Scott-Brown, Venturi e Izenour
(2003) pontuam como os mapas tipo-figura fundo, ou os de distribuição de usos, não
eram capazes de demonstrar toda a animação e iconografia da cidade, visto que as
qualidades ambientais de Las Vegas dependem de elementos que não podem ser
representados desta forma, como a iluminação dos espaços.

FIGURA 21 - MAPEAMENTO DA "STRIP" EM LAS VEGAS

FONTE: VENTURI, SCOTT-BROWN, IZENOUR (2003).

Por meio da análise, foi possível observar que há uma grande duplicidade
presente nos espaços abertos da cidade. Ainda que a strip em si consista em um
elemento público, a mesma está repleta de áreas privadas, como os letreiros e luminosos.
Os estacionamentos, por exemplo, foram classificados como elementos abertos ao

28“O mapa constitui-se em um documento que auxilia o entendimento e estudo do espaço urbano,
e permite distinguir três categorias: os espaços privados, os espaços públicos e os espaços
privados acessíveis ao público”. (BALULA, 2011, p. 100).
56
público, no entanto são estruturas privadas que dependem do funcionamento e reportam-
se a espaços privados (VENTURI, SCOTT BROWN, IZENOUR, 2003). Dessa forma, a
strip pode ser vista como um elemento que sintetiza muitos aspectos de Las Vegas,
principalmente essas dualidades – o que justifica a escolha da via como alvo do estudo.
Após o reconhecimento dos elementos mais representativos da strip, o grupo
propôs a classificação dos mesmos em categorias e desenvolveram uma tabela síntese
destes elementos, que consistia no nome do cassino, seguido por uma planta de
cobertura tipo Nolli, um corte que destaca a escala da forma arquitetônica em relação ao
entorno, e por fim algumas partes dos edifícios a serem retratadas por fotos – panorama,
frente, lateral, partes, entrada e estacionamento (VENTURI, SCOTT BROWN, IZENOUR,
2003).
FIGURA 22 - TABELA DE HOTÉIS E CASSINOS

FONTE: VENTURI, SCOTT-BROWN, IZENOUR (2003).

O objetivo da pesquisa era, através da leitura das construções vernáculas na strip,


buscar qualidades para a atuação urbana pautada na cultura pop como alternativa,
fundamentada na mensagem arquitetônica acima da forma. O resultado da pesquisa
reflete a celebração da cultura de massa a partir do simbolismo estudado em um nível de
superfície iconográfica, e serviu como fundamentação para a elaboração de orientações

57
sobre o que seriam medidas positivas de embelezamento da cidade, que os arquitetos
enviaram ao Comitê de Embelezamento de Las Vegas. Segundo Scott-Brown, Venturi e
Izenour (2003) a essência urbana da cidade essência está justamente no eco da cultura
pop, que transborda através de comunicação visual e decoração cliché, e as intervenções
futuras devem seguir está linha, preservando o caráter original e singular de Las Vegas.

4.2 RELAÇÃO COM O ESPAÇO PÚBLICO

Vito Acconci, um artista provocador dos anos 1970, baseou sua produção artística
e arquitetônica no debate entre o que é considerado assunto pertencente à esfera pública
e o que deveria ser restrito a esfera privada, produzindo obras que questionam a posição
tradicional do arquiteto no processo de concepção e construção dos espaços (SOLFA,
2017). Segundo Acconci (2001), a arquitetura dificilmente poderia inserir-se em um
contexto de preexistências consolidadas de forma harmoniosa, tendo em vista que o
espaço já contém todo o design que necessita, assim, suas intervenções buscam colocar-
se no meio dos caminhos, espremer-se e ajustar-se às estruturas preexistentes,
adicionando, subtraindo, multiplicando ou dividindo o que é oferecido.
A ideia de identificar, analisar e refletir sobre o espaço preexistente, realizando
sobre ele uma ação que desestabiliza sua ordem, tal qual um organismo atingido
repentinamente por uma doença, deu origem às intervenções parasitas que nortearam a
produção do arquiteto na década de 1990. Segundo Sobel (2002), trata-se da concepção
de atos de arquitetura, pois o foco da intervenção reside na ação do arquiteto que
intervém, comenta e transforma o espaço, e não no objeto físico em si.
Idealizada de modo a intervir no espaço público em frente a um edifício de valor
histórico, o English Department do Queens College, em Nova Iorque, em 1993, a
intervenção More Balls for Klapper Hall parte da leitura do local de intervenção, onde,
ladeando a escada de acesso principal, esferas de concreto sobre pedestais marcavam
a entrada (Figura 23), remetendo à figura de dois guardas – a posição das esferas
influenciava na forma de aproximação das pessoas, deixando-as cautelosas. A proposta
consiste em explicitar e neutralizar a condição espacial criada pelas esferas

58
preexistentes, como a simetria e seu caráter simbólico e decorativo submetendo o local
a um “ataque” por uma grande quantidade de esferas de concreto, que se rebelam contra
a função às quais as esferas originais foram projetadas (Figura 24).

FIGURA 23 - ENTRADA DO ENGLISH DEPARTMENT ANTES DA INTERVENÇÃO

FONTE: ARCHITIZER29 (2022).

FIGURA 24 - INTERVENÇÃO MORE BALLS FOR KLAPPER HALL

FONTE: ARCHITIZER30 (2022).

29 Disponível em: <https://architizer.com/projects/more-balls-for-klapper-hall/>. Acesso em: 11 abr.


2022.
30 Disponível em: <https://architizer.com/projects/more-balls-for-klapper-hall/>. Acesso em: 11 abr.

2022.
59
Associando-se com a proposta de Acconci em projetar espacialidades que
favoreçam o desenvolvimento de atividades que se colocam entre a esfera pública e a
privada, as esferas propostas funcionam como mobiliário, isolando-se e ao mesmo tempo
se integrando ao espaço onde se encontram, promovendo o ideário de quebra da unidade
e heterogeneidade do ambiente (SOLFA, 2017). Tendo sido submetidas a um processo
de corte e extração de algumas partes, as esferas se transformaram em nichos, bancos,
portais e espaços de refúgio para um indivíduo ou para um pequeno grupo.
Estratégia semelhante foi utilizada nas propostas Park up a Building e House up a
Building, em 1996, para o Centro Galego de Arte Contemporânea em Santiago de
Compostela. Com o intuito de promover o debate sobre o impacto das empenas e muros
cegos nas cidades, e servir de exemplo para a ocupação desses não lugares, o escritório
propôs um espaço de convívio, a praça, e um de uso doméstico, a casa, para serem
pendurados nos muros cegos do museu (ACCONCI, 2017). Ambas as propostas foram
concebidas a partir de um sistema modular, o qual seria anexado nas paredes ou
empenas cegas, formando uma espécie de escada com largos degraus, possibilitando a
apropriação do espaço conforme as necessidades do usuário (Figura 25).

FIGURA 25 - INTERVENÇÃO HOUSE UP A BUILDING

FONTE: WARD (2002).


60
As intervenções propostas por Vito Acconci possuem como essência os preceitos
da Arquitetura Parasita. Tal qual um parasita, as obras penetram no sistema imunológico
das preexistências para adicionar a elas uma nova camada semântica, que ao passo que
as preserva também as transforma em outra coisa. A discussão promovida pelas ideias
do arquiteto busca questionar o posicionamento tradicional quanto ao processo de
concepção e construção de espaços, almejando atribuir à arquitetura uma espécie de
vida própria para além de qualquer vínculo autoral ou espacial (SOLFA, 2017).

4.3 MAPEAMENTO E REPRESENTAÇÃO EM CAMADAS

Idealizado a partir da necessidade de mapear todas as camadas presentes em um


território, o livro Design with nature, de 1968, do arquiteto Ian McHarg traz à tona a criação
de um sistema baseado em dados geoespaciais que busca revelar relações e determinar
locais apropriados para intervenções futuras (DESIMINI E WALDHEIM, 2016). O método
apresentado traduz-se no conceito de layering, que consiste em mapear camadas,
sobrepondo informações e relações espaciais diversas em um mesmo sistema
representativo.
O sistema difunde a compreensão de que as cidades são compostas por camadas
independentes e sobrepostas, cuja articulação é imprescindível para a garantia do
funcionamento do todo, formando assim uma lógica fragmentária que visa a
desierarquização do espaço através de atribuição de níveis de importância a cada uma
das partes (MORO, 2018). Segundo Montaner (2017, p. 100), o arquiteto Bernard
Tschumi relaciona o processo de mapeamento descrito acima com formas de leitura do
espaço, buscando promover a ideia de fragmentos e camadas em seus projetos.
Conforme Tschumi (1998), e influenciado pelo pensamento pós-estruturalista, a
arquitetura existe unicamente através do mundo no qual se localiza e, se neste espaço
as características fragmentárias se sobrepõem, a arquitetura deveria refletir estes
fenômenos. Desta forma, propor intervenções a partir do método de camadas, em
detrimento de um todo, se faz como uma consequência da compreensão fragmentária da
cidade.

61
Em sua publicação, The Manhattan Transcripsts (1981), Tschumi propõe a
interpretação arquitetônica da realidade de Manhattan, Nova York, buscando revelar
aspectos normalmente removidos da representação urbana convencional. A proposta
busca trazer um novo olhar a outras camadas que compõe a leitura do espaço, como a
relação entre o mesmo e seu uso, entre a forma e o programa, entre os objetos e seus
eventos (TSCHUMI, 1994). Em seu livro, o arquiteto apresenta o termo “notação
arquitetônica”, que descreve seu processo de projeto, e trata-se da leitura e
representação da realidade através de três elementos fundamentais: o evento, o espaço
e o movimento (Figura 26).

FIGURA 26 - ANÁLISE DOS ELEMENTOS DO ESPAÇO

FONTE: TSCHUMI (1994).

O primeiro elemento destacado, o evento, traduz-se na ocorrência ou no incidente


efêmero que pode atribuir usos particulares ao espaço, sem que estes, necessariamente,
mudem ou gerem grande impacto no uso principal. O espaço, segundo componente
elencado, é definido como um produto social, que representa a estrutura sociopolítica do
meio urbano e sofre mudanças conforme a sociedade evolui. Por fim, o movimento,

62
exprime a ação ou o processo que compõe a ocorrência de um incidente no espaço
(TSHCUMI, 1994, p. 9).
No projeto do Parc de La Villete (1982-1990), em Paris, Bernard Tschumi
apresenta uma proposta composta por camadas distintas e sem hierarquia, que se
sobrepõe dando origem a uma lógica de entorno próprio na colisão dos três elementos
citados acima, formando o corpo do parque (MONTANER, 2001). A metodologia
incorporada na elaboração do projeto é composta de uma leitura muito aprofundada das
dinâmicas da metrópole contemporânea em questão, caracterizada pela constante
transformação devido às inter-relações, colisões e fragmentações, e representa-se na
aplicação do conceito de layering, tanto como análise quanto como forma (Figura 27).

FIGURA 27- PARC DE LA VILLETE, BERNARD TSCHUMI 1982

FONTE: ARCDAILY31 (2022).

31 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-160419/classicos-da-arquitetura-parc-de-la-


villette-slash-bernard-tschumi>. Acesso em: 13 abr. 2022.
63
As três relações de compõem o conceito “notação arquitetônica”, incorporado na
leitura da realidade de Manhattan e no projeto do Parc de La Villete, traduzem-se em
uma representação de três camadas sequenciais da cidade que, além de representar
experiências, tempos sequenciais, movimentos e intervalos, a metodologia questiona as
formas de representação tradicionais – plantas, cortes, elevações – como elementos
suficientes para compreender o espaço e as dinâmicas do projeto. Influenciado pelas
artes do cinema, Tshumi utiliza a fotografia, assim como esquemas, diagramas e
colagens, para testemunhar os eventos que ocorrem no espaço de análise (TSCHUMI,
1994), e podem ser compreendidos como uma forma de utilizar as camadas, neste caso
camadas de representações diferentes, que não precisam necessariamente se sobrepor,
mas cada uma traz em si um conjunto de significados importantes para o projeto.

4.4 ANÁLISE DAS INTERFACES URBANAS

A análise das interfaces urbanas presente em Aprendendo com Las Vegas (2003)
busca compreender a metodologia por trás dos edifícios da cidade, através de uma
aproximação isenta da crítica arquitetônica quanto ao valor das construções, mas sim o
seu papel e sua relação com o meio onde se encontra. O processo de projeto presente
nas obras de Vito Acconci busca promover a análise do espaço, especialmente da esfera
pública, a fim de propor intervenções que subvertam a compreensão tradicional do local
e que se coloquem no meio dos caminhos preestabelecidos, espremendo-se e ajustando-
se às estruturas preexistentes. Já o processo analítico presente nas obras apresentadas
de Bernard Tschumi promove a leitura do espaço através de outras formas de
representação e compreensão, diferente das tradicionais, em busca do entendimento de
outras das dinâmicas socioespaciais que possam colaborar para a elaboração das
propostas projetuais.
O presente estudo propõe a aproximação do recorte proposto através da
representação em camadas, análoga à adotada nos casos metodológicos anteriores. O
intuito da pesquisa é a observação e compreensão das interfaces urbanas propostas
pelas construções selecionadas para com o espaço público em questão, a fim de

64
entender como potencializar as condicionantes do entorno, promovendo o conceito de
Acupuntura Urbana discutido anteriormente. Também busca-se compreender como o
recurso da Arquitetura Parasita pode ser incorporado no recorte em questão.
A partir disso, o entendimento e sistematização desses edifícios se dão a partir
dos passos:
a) Delimitação do recorte;
b) Mapeamento e representação em camadas da área em questão;
c) Definição de categorias para análise, com base no levantamento realizado;
d) Seleção e investigação formal desses artefatos arquitetônicos no sítio e análise
da interface de seus limites.

Tendo essas percepções em vista, o trabalho em questão busca iniciar a


investigação da relação dos edifícios preexistentes nos arredores da Praça General
Osório com o contexto em que se inserem, obtendo uma análise representativa do recorte
selecionado enquanto essência espacial, e identificar as possibilidades de intervenção
no espaço através do uso do artifício da Arquitetura Parasita.

65
5. ANÁLISE DA REALIDADE

A partir do estudo das práticas de leitura do espaço através de formas não


convencionais de apreensão, torna-se claro que, para a busca de suportes para a
intervenção arquitetônica no recorte proposto, é necessário compreender as camadas
semânticas que formam o espaço. Este processo foi iniciado por um ato de
reconhecimento da dinâmica do recorte proposto a partir da própria vivência da autora.
O processo de mapear os arredores da Praça General Osório se apresenta como
uma ferramenta do processo projetual. Assim, optou-se por iniciar a análise através do
mapa de figura-fundo, um método binário que possibilita a leitura clara e imediata da
informação mapeada através da representação da contraposição da malha urbana com
a estrutura edificada da cidade (BALULA, 2011), como forma de avaliar as possibilidades
de interpretação do território. No entanto, ao recombinar diferentes parâmetros que vão
além das massas edificadas, é possível gerar uma multiplicidade de produtos visuais,
cujos significados podem revelar leituras inusitadas da cidade.
As primeiras análises evidenciaram os espaços facilmente reconhecidos, frutos da
dimensão física da cidade, como o mapeamento de cheios e vazios, aberturas e
fechamentos, passagens e obstáculos. Após a compreensão do conjunto “visível” de
elementos, passou-se a representar camadas mais abstratas com o mapeamento de
eventos – cotidianos ou esporádicos, observando assim como as relações palpáveis
podem ser alteradas por manifestações humanas.
A análise dos mapas desenvolvidos nesta pesquisa não objetiva somente
apresentar e categorizar tipologias de espaços ou ações, pelo contrário, entende-se o
mapeamento como uma ferramenta capaz de enfatizar as diferenças da cidade em uma
estratégia semelhante à lógica diagramática apresentada. De modo a obter diretrizes
para as próximas etapas projetuais que se aproximem dos conceitos discorridos nos
capítulos anteriores, utiliza-se do mapeamento e representação fotográfica como formas
de reconhecer as qualidades dos elementos que compõem o recorte espacial estudado,
para além dos limites e juízos de valor pré-concebidos. É importante ressaltar que a

66
análise do recorte não será finalizada no presente capítulo, sendo que continuará durante
o trabalho final a ser desenvolvido no próximo semestre.
5.1 A DELIMITAÇÃO DO RECORTE

Para a delimitação de uma área para o desenvolvimento do exercício da abordagem


projetual foi escolhido como território a região central de Curitiba. Dada a impossibilidade
de se mapear toda a cidade, o Centro foi elencado como macro recorte pois reúne uma
série de dinâmicas socioespaciais que podem ser reconhecidas em outras áreas da
cidade, além de caracterizar-se como o início da urbanização da capital paranaense, e
por tal, ser composta pela justaposição de fragmentos, memórias, intervenções e
apropriações do espaço. Ademais, a região concentra grande parte das manifestações
públicas e eventos que ocorrem na cidade, alcançando um estado de constante
mudança.
Deste modo, tendo em vista o macro recorte apresentado, como objeto de análise foi
delimitada a região da Praça General Osório e seu entorno imediato, em decorrência da
associação entre uma afinidade pessoal da autora para com o território, e a abrangência
arquitetônica e espacial presente no local proposto. Há algumas particularidades nesse
recorte que tornam a sua abordagem vantajosa, e que simultaneamente permitem a
aproximação entre as análises de diferentes escalas, dentre eles a relação entre as
interfaces dos edifícios presentes para com o espaço público em questão, a consolidação
da região e a característica da área de agir como um elemento de Acupuntura Urbana,
tanto por ser caráter permanente quanto pela apresentação de elementos sazonais.
Até a metade do século XIX, a região constituída pela Praça General Osório
apresentava-se como uma área alagadiça, em decorrência das constantes cheias do rio
Ivo. Com o avanço dos preceitos do urbanismo higienista, na década de 1870, o local
passou por transformações físicas, como o calçamento, que o ligavam com às demais
áreas do centro e reduziam os impactos dos alagamentos constantes (VIEIRA, 2010).
Em 1878, após novas obras, houve a criação da praça (Figura 28), sob o nome de Largo

67
Oceano Pacífico, mas a mesma foi rebatizada um ano depois em homenagem ao
comandante brasileiro General Osório, figura importante na guerra do Paraguai32.

FIGURA 28 - PRAÇA OSÓRIO SÉCULO XIX

FONTE: JORNAL FOLHA DO BATEL33 (2020).

Ao longo dos anos, a Praça General Osório foi palco de diversas formas de
manifestação da população curitibana, transformando-se em cenário para a realização
de atividades de lazer, entretenimento e eventos de ordem política, além de dispor como
função a distribuição de água para a população, especialmente em períodos de estiagem
(BOLETIM CASA ROMÁRIO MARTINS, 2006).
No início do século XIX, após mais uma de suas reformas, a praça recebeu
tratamento paisagístico de influência francesa – influência do art nouveau – com o
acréscimo de canteiros e um chafariz, com algumas estátuas. Durante o período da
ditadura, a praça era usada como local de tribuna livre e nos anos 80, foi palco do
movimento Diretas Já – o que aumentou a sua importância política. Nos anos 90 a Praça
Osório passou por uma série de intervenções que a caracterizou como está hoje (Figura

32 Informações retiradas da matéria feita pela Gazeta do Povo, disponível em:


<https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/praca-osorio-um-oasis-na-curitiba-
concreta>. Acesso em 15 abr. 2022.
33 Disponível em: <https://www.jornalfolhadobatel.com.br/praca-general-osorio/>. Acesso em: 15

abr. 2022.
68
29), com o espaço para os engraxates na Boca do Brilho, um novo playground e um novo
espaço de recreação esportiva (VIEIRA, 2020).

FIGURA 29 - PRAÇA OSÓRIO SÉCULO XXI

FONTE: JORNAL FOLHA DO BATEL34 (2020).

A fim de investigar a relação da massa edificada preexistente com o contexto em


que se insere, a Praça General Osório, optou-se por definir como objeto de estudo o
entorno imediato edificado em torno da praça. A decisão de definir o recorte dessa
maneira parte da proposta do estudo buscar iniciar a discussão sobre novas formas de
intervir e coexistir com as preexistências sem com que uma das partes seja
demasiadamente prejudicada no processo.
O entorno imediato edificado da Praça Osório configura uma área densamente
construída, que conta com tipologias variadas de edifícios – o que foi, inclusive, um dos
fatores determinantes para a escolha desse recorte. As quadras existentes no recorte
proposto caracterizam-se por possuírem edifícios de distintas escalas, podendo variar
bastante o número de pavimentos, sendo que os menores normalmente são mais
antigos. Entretanto, o tipo de uso que os edifícios abrigam varia pouco. A grande maioria
dos pavimentos térreos, com poucas exceções, apresenta o uso destinado a serviços e

34Disponível em: <https://www.jornalfolhadobatel.com.br/praca-general-osorio/>. Acesso em: 15


abr. 2022.
69
comércio. Quando a construção é verticalizada, isso normalmente se dá com a presença
de uso residencial ou comercial nos pavimentos superiores, mas também pode
apresentar uso institucional ou hoteleiro.

5.1.1 O mapeamento como ferramenta de leitura

Buscando compreender as dinâmicas socioespaciais no recorte em questão, a


Praça General Osório e seu entorno edificado imediato, foi desenvolvido um conjunto de
fichas que ilustram algumas experimentações em termos de mapeamento do território
delimitado. Cada uma delas reúne um mapa como protagonista, acompanhado de uma
breve descrição e, eventualmente, imagens que possam clarificar a representação
cartográfica. As imagens são apresentadas de forma monocromática e em tamanho
reduzido, para evidenciar seu caráter de apoio às informações contidas nos mapas e não
a principal fonte de informação dos elementos ou eventos arquitetônicos.
Tendo em vista que a praça se apresenta como catalisador da vivência humana
do recorte apresentado, foram ensaiados mapas que tentam compreender uma
diversidade de elementos, das mais variadas esferas, que compõe a ocupação desse
espaço, para posteriormente compreender como podem influenciar na proposição de
intervenções que se associem e/ou coexistam com as preexistências sem com que uma
das partes seja demasiadamente prejudicada no processo.
O primeiro conjunto de mapas, intitulados “cidade palpável”, relaciona-se com a
leitura física e de elementos visíveis do espaço. A análise busca expor a relação da
massa construída com o espaço público, questionando relações de adensamento,
verticalidades, porosidade, continuidade espacial e infra estruturas ocultas. Ao extrapolar
os limites de lotes e analisar a paisagem urbana através de seus elementos – sejam
objetos ou edificações – pretende-se redesenhar as possibilidades de espaços cheios e
vazios no território.
O segundo compilado, chamado de “cidade sensível”, visa representar as
camadas mais abstratas com o mapeamento de eventos – cotidianos ou esporádicos,
destacando objetos arquitetônicos que, independentemente de seu reconhecimento e

70
utilidade, desempenham algum papel relacionado com a visão e identificação das
pessoas com o território analisado. Além disso, o conjunto apresenta de que maneira
determinados eventos, naturais ou artificias, decorrentes ou não da apropriação humana,
podem afetar características espaciais do meio urbano e redesenhar, constantemente,
as representações físicas do recorte estudado.

71
FICHA 1 – ENTORNO EDIFICADO IMEDIATO

Cidade palpável

O mapa a seguir retrata a localização dos lotes – preenchidos de preto – pertencentes


ao entorno imediato edificado à Praça General Osório, objeto de estudo. A massa
construída em questão caracteriza-se por apresentar tipologias variadas de edifícios e
diferentes escalas, conforme demonstrado nas fichas a seguir, o que contribui para a
diversidade espacial do local. Além disso, o espaço em questão apresenta o contraste
entre as camadas do tempo de inserção das obras arquitetônicas e o espaço público da
praça, que foi e ainda é palco de diversas formas de manifestação da população
curitibana.

FIGURA 01: Mapa de abrangência do entorno edificado a ser estudado. FONTE: IPPUC (2020), modificado
pela autora (2022). // FIGURA 02: Imagem aérea da Praça General Osório. FONTE: GAZETA DO POVO.
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/praca-osorio-um-oasis-na-
curitiba-concreta/>. Acesso em: 18 de abr. de 2022.

72
FONTE: AUTORA (2022).
73
FICHA 2 - PÚBLICO X PRIVADO

Cidade palpável

O mapa a seguir apresenta a contraposição da malha urbana com a estrutura edificada,


ou seja, a relação entre os espaços públicos com os privados. Foram destacados todos
os lotes caracterizados pelo uso privado, com o preenchimento em preto, e deixados em
branco todas as áreas públicas, incluindo lotes, praças e o sistema viário. Desta forma,
evidencia-se que, dentro do recorte proposto, a maioria dos lotes são de uso privado,
mas a região, em detrimento de suas características, apresenta uma alta taxa de
espaços públicos, especialmente relacionados ao trânsito de pedestres –
pedestrianização da Rua XV de novembro em 1972 (SINGERSKI, 2020).

FIGURA 01: Mapa de lotes públicos e privados. FONTE: IPPUC (2020), modificado pela autora (2022).

74
FONTE: AUTORA (2022).

75
FICHA 3 - MASSAS EDIFICADAS

Cidade palpável

O mapa a seguir representa a porosidade do tecido urbano. Tendo em vista a análise das
projeções das edificações que preenches os lotes, para além de seus limites cadastrais,
é possível perceber as lacunas e os espaços intersticiais que se formam com o
assentamento das camadas do tempo e as modificações nas construções. Assim o mapa
demonstra que tais espaços, geralmente, não se relacionam com as demais áreas da
cidade, mas a sua articulação com o espaço público possibilitaria novas apreensões e
formas de ocupação.

FIGURA 01: Mapa da porosidade urbana. FONTE: IPPUC (2022), modificado pela autora (2022).

76
FONTE: AUTORA (2022).

77
FICHA 4 - VAZIOS URBANOS

Cidade palpável

O cruzamento da sobreposição das camadas do tempo, o constante crescimento das


cidades e necessidades coletivas e individuais, e a relação entre o homem, o edifício e a
cidade, originaram os vazios urbanos (SILVA, 2019), que são observados em sua forma
mais convencional através de miolos de quadra inocupados, lotes e/ou edifícios
subutilizados ou abandonados, e em sua forma atípica, em empenas cegas, coberturas
não utilizadas, e outros espaços. O mapa a seguir expõe a localização dos terrenos ou
construções – preenchidos de preto – que se enquadram na descrição acima.

No recorte ao lado foram identificados 16 lotes destinados a estacionamentos.


9 edifícios que não apresentam nenhum uso no momento.
1 edifício abandonado.

FIGURA 01: Mapa de vazios urbanos. FONTE: IPPUC (1997), modificado pela autora (2022). Disponível em: <
https://curitibaemdados.ippuc.org.br/Curitiba_em_dados_Pesquisa.htm>. Acesso em: 18 de abr. de 2022 //
FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora.

78
FONTE: AUTORA (2022).

79
FICHA 5 - CAMINHOS E ARTICULAÇÕES

Cidade palpável

Compreendendo que a cidade transborda para além dos limites impostos pelas
interfaces dos edifícios, o mapa a seguir mostra como são as articulações no contexto
em questão, destacando áreas privadas, mas que possuem livre passagem ao público
(Figura 02 e 03). A calçada, principal componente do espaço público no recorte, funciona
como um objeto ou estrutura que articula e conecta uma série de outras superfícies
caminháveis.

FIGURA 01: Mapa de articulações urbanas no nível térreo. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela
autora (2022). // FIGURA 02: Galeria Tijucas. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 03: Acesso ao edifício
Moreira Garcez. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 04: Acesso pedestrianizado para Rua Comendador
Araújo. FONTE: AUTORA (2022).

80
FONTE: AUTORA (2022).

81
FICHA 6 - ATÉ 3 PAVIMENTOS

Cidade palpável

Em grande maioria, os edifícios de até 3 pavimentos observados no recorte proposto


caracterizam-se por serem construções mais antigas e por abrigarem o uso destinado
a serviços e comércio no térreo e sobreloja. O mapa a seguir retrata a localização –
preenchidos de preto – destes elementos no recorte proposto.

Foram identificadas 18 edificações, pertencentes ao entorno edificado imediato, que


possuem até 3 pavimentos.
4 delas são destinadas a estacionamento.

FIGURA 01: Mapa de edifícios com até 3 pavimentos. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora
(2022). // FIGURA 02: Edifício de esquina, sem uso no momento. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 03:
Edifício de esquina, uso comercial. FONTE: AUTORA (2022).

82
FONTE: AUTORA (2022).

83
FICHA 7 – EDIFÍCIOS COM ATÉ 7 PAVIMENTOS

Cidade palpável

De modo a ressaltar a existência de um limite para a interação entre as construções e


a rua, o mapa a seguir retrata a localização dos edifícios – preenchidos de preto – que
possuem até 7 pavimentos. A análise revela a conexão entre a horizontalidade presente
na Praça General Osório e no trecho da Rua XV de Novembro que faz parte do recorte, e
a dimensão vertical dos edifícios, sendo que o vínculo visual, especialmente do pedestre,
passa a ser prejudicado próximo ao sétimo pavimento.

Foram identificadas 4 edificações, pertencentes ao entorno edificado imediato, que


possuem até 7 pavimentos.
2 delas são destinadas ao uso comercial no térreo + habitação nos demais pavimentos.
1 destina-se ao uso hoteleiro.
1 destina-se ao uso exclusivo ao comércio/ serviços.

FIGURA 01: Mapa de edifícios com até 7 pavimentos. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora
(2022). // FIGURA 02: Edifício de esquina de uso comercial + habitacional. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA
03: Edifício de uso comercial + habitacional. FONTE: AUTORA (2022).

84
FONTE: AUTORA (2022).

85
FICHA 8 – EDIFÍCIOS ACIMA DE 7 PAVIMENTOS

Cidade palpável

Como apresentado na ficha anterior, o vínculo visual entre o pedestre e os edifícios


passa a ser prejudicado próximo ao sétimo pavimento. O recorte estudado, entorno
imediato edificado à Praça General Osório, apresenta a dualidade entre a maioria dos
edifícios não possuírem acima de 3 pavimentos, e um número quase equivalente possuir
acima de 7 pavimentos, o que, juntamente com a massa vegetal da praça, cria barreiras
visuais. Todavia, as empenas cegas formadas por estes edifícios apresentam
possibilidades de intervenção e novas formas de apreensão do espaço preexistente.

Foram identificadas 15 edificações, pertencentes ao entorno edificado imediato, que


possuem até 7 pavimentos.
2 delas são destinadas ao uso comercial no térreo + habitação nos demais pavimentos.
1 destina-se ao uso hoteleiro.
1 destina-se ao uso exclusivo ao comércio/ serviços.

FIGURA 01: Mapa de edifícios acima de 7 pavimentos. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora
(2022). // FIGURA 02: Edifício de esquina, sem uso no momento. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 03:
Edifício de esquina, uso comercial. FONTE: AUTORA (2022).

86
FONTE: AUTORA (2022).

87
FICHA 9 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Cidade sensível

Tendo em vista o patrimônio histórico, o recorte proposto apresenta apenas 2 Unidades


de Interesse de Preservação, e relaciona-se com a Rua XV de Novembro, que é
considerada Patrimônio Estadual desde 1974.

FIGURA 01: Mapa de patrimônios. FONTE: IPPUC (2011), modificado pela autora (2022). // FIGURA 02: Edifício
Moreira Garcez. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 03: Rua XV de Novembro. FONTE: AUTORA (2022). //
FIGURA 03: Edifício de esquina de uso comercial. FONTE: AUTORA (2022).

88
FONTE: AUTORA (2022).

89
FICHA 10 - NUMERAÇÃO DE LOTES DO RECORTE

Cidade palpável

O mapa a seguir apresenta e elenca os edifícios pertencentes ao entorno imediato da


Praça General Osório.
.

FIGURA 01: Mapa de numeração de lotes no recorte. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora
(2022).

90
FONTE: AUTORA (2022).

91
FICHA 11 – IMAGENS DOS EDIFÍCIOS

Cidade palpável

O mapa a seguir apresenta e elenca os edifícios pertencentes ao entorno imediato da


Praça General Osório.
.

Foram listadas 46 construções ao total.


38 delas são edificações.
6 delas são banquinhas de revista, jornal e/ ou flores
1 playground.
1 módulo da Guarda Municipal de Curitiba.

FIGURA 01: Quadro com as fachadas do edifícios no entorno imediato da Praça Osório. FONTE: AUTORA
(2022).
92
FONTE: AUTORA (2022).
93
FICHA 12 - CONCENTRAÇÃO DE PESSOAS

Cidade sensível

Durante todo o ano, um conjunto de eventos tradicionais e de outras ordens ocupa os


arredores da Praça Osório, interferindo assim na sua paisagem e nas dinâmicas
socioespaciais do espaço. No geral, o recorte conta com feiras, ambulantes,
manifestações e apresentações. No entanto, a maioria dos eventos limitam-se ao
horário comercial, o que impacta na falta de vitalidade urbana na região, especialmente
nos finais de semana quando não há a ocorrência de eventos. O mapa a seguir mostra
alguns eventos que ocorrem no recorte e o possível fluxo de pedestres.

FIGURA 01: Mapa de concentração de pessoas. FONTE: AUTORA (2022). // FIGURA 02: Feirinha de
Primavera. FONTE: G1 PARANÁ (2021). Disponível em:
<https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2021/10/10/feiras-de-primavera-das-pracas-osorio-e-santos-
andrade-em-curitiba-terminam-na-terca-12.ghtml>. Acesso em: 19 de abr. de 2022 // FIGURA 03:
Concentração para Zoombie walk. FONTE: CURITIBA CULT (2016). Disponível em:
<https://curitibacult.com.br/mais-de-20-mil-mortos-vivos-participaram-do-zombie-walk-2016/>.
Acesso em: 19 de abr. de 2022 // FIGURA 04: Protesto contra reforma trabalhista. FONTE: G1 PARANÁ
(2017). Disponível em: <https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/centenas-de-pessoas-se-reunem-na-
boca-maldita-para-protestar-contra-as-reformas-trabalhista-e-da-previdencia.ghtml>. Acesso em: 19
de abr. de 2022 // FIGURA 05: Natal Palácio Avenida. FONTE: G1 PARANÁ (2020). Disponível em:
<https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2020/10/08/natal-no-palacio-avenida-2020-em-curitiba-tera-
apresentacao-unica-e-virtual-por-causa-da-pandemia.ghtml>. Acesso em: 19 de abr. de 2022
94
FONTE: AUTORA (2022).
95
FICHA 13 - CONCENTRAÇÃO DE VEÍCULOS

Cidade sensível

O mapa a seguir mostra a ocupação do espaço em questão por veículos em horários de


pico, seja nas vias ou em estacionamentos, de modo a evidenciar a intensidade da
concentração de automóveis nas imediações da Praça Osório. Apesar de possuir grande
parte do espaço pedestrianizado, os congestionamentos são frequentes na região, além
de impactar nos percursos dos pedestres, o grande fluxo dificulta o trajeto dos
trabalhadores no início e fim do expediente.

FIGURA 01: Mapa de concentração de veículos. FONTE: GOOGLE MAPS (2022), modificado pela autora
(2022).

96
FONTE: AUTORA (2022).

97
FICHA 14 - FEIRINHAS TEMÁTICAS

Cidade sensível

Ao longo do ano e a aproximação com datas comemorativas ou o início das estações, a


paisagem da Praça Osório e modificada, o que antes era vegetação, contemplação e
chafariz, torna-se um burburinho constante, com aromas variados e barracas de feiras.
A tradição das feiras na praça promove dinâmicas socioespaciais diferentes das
corriqueiras, colocando o espaço como ponto focal do centro da capital durante algumas
semanas. O mapa a seguir demonstra a localização das feirinhas e o impacto delas no
recorte.

FIGURA 01: Mapa das feirinhas da Praça Osório. FONTE: PMC (2022), modificado pela autora (2022). //
FIGURA 02: Feirinha de Primavera. FONTE: G1 PARANÁ (2021). Disponível em:
<https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2021/10/10/feiras-de-primavera-das-pracas-osorio-e-santos-
andrade-em-curitiba-terminam-na-terca-12.ghtml>. Acesso em: 19 de abr. de 2022 // FIGURA 03: Feirinha
de Natal. FONTE: PMC (2021). Disponível em: <https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/feiras-das-pracas-
osorio-e-santos-andrade-comecam-nesta-sexta-e-vao-ate-23-de-dezembro/61524>. Acesso em: 19 de
abr. de 2022 // FIGURA 04: Feirinha de Páscoa. FONTE: TRIBUNA PARANÁ (2022). Disponível em:
<https://tribunapr.uol.com.br/noticias/curitiba-regiao/feiras-de-pascoa-de-curitiba-comecam-nesta-
sexta-nas-pracas-osorio-e-santos-andrade/>. Acesso em: 19 de abr. de 2022 // FIGURA 05: Feirinha de
Inverno. FONTE: CLUBE GAZETA DO POVO (2017). Disponível em:
<https://clube.gazetadopovo.com.br/noticias/outros/feira-de-inverno-da-praca-osorio/>. Acesso em: 19
de abr. de 2022

98
FONTE: AUTORA (2022).

99
FICHA 15 - OCORRÊNCIA DE ALAGAMENTOS

Cidade sensível

A região central de Curitiba apresenta o subsolo ocupado por rios, dentre eles o rio Ivo,
que, juntamente a estruturas de drenagem ineficazes e ao avanço da ocupação humana
na região, são responsáveis por um histórico de décadas de alagamentos constantes.
Tais eventos cíclicos possuem a capacidade de alterar momentaneamente a paisagem
do espaço, assim como interferem nas dinâmicas socioespaciais. O mapa a seguir
sobrepõe alguns momentos de alagamentos no recorte – quanto maior a escala de cinza
mais vezes a área passou por tais eventos.

Em 1947 as chuvas criaram um piscinão público na Praça Zacarias.


Em 1968 as imediações da Praça Osório ficaram alagadas.
Em 1999 um alagamento elevou em 70 cm o nível da Rua XV¹.

¹FONTE: GAZETA DO POVO, 2018. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-


cultura/enchentes-de-antigamente-fotos-dos-alagamentos-que-cobriram-as-principais-ruas-de-
curitiba/>. Acesso em: 19 de abr. de 2022 // FIGURA 01: Mapa da sobreposição das enchentes. FONTE:
GAZETA DO POVO (2018), modificado pela autora (2022). // FIGURA 02: Alagamento na Praça Zacarias.
FONTE: GAZETA DO POVO (2018) // FIGURA 03: Alagamento na Av. Luiz Xavier. FONTE: GAZETA DO POVO
(2018) // FIGURA 04: Alagamento na Rua XV de Novembro. FONTE: GAZETA DO POVO (2018) FIGURA 05:
Alagamento na Praça Zacarias. FONTE: GAZETA DO POVO (2018).

100
FONTE: AUTORA (2022).

101
FICHA 16 - PERCURSO TURÍSTICOB

Cidade sensível

O mapa a seguir demonstra o percurso da linha turismo de Curitiba, e quais imediações


do recorte proposto podem ser observadas do passeio, tanto de dentro do ônibus – linha
tracejada preta – quanto à pé – linha tracejada cinza claro –, visto que durante o trajeto
os turistas podem descer em determinados pontos, andar pela cidade e aguardar um
próximo ônibus.

A passagem da linha turismo custa R$ 30,00¹


A Rua XV é um dos pontos ao longo do percurso de 45km e 3 horas em que é possível
descer do ônibus.

¹FONTE: G1 PARANÁ, 2022. Disponível em: < https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2022/04/16/linha-


turismo-de-curitiba-tem-tarifa-reduzida-para-r-30-ate-este-domingo-17.ghtml>. Acesso em: 19 de abr.
de 2022 // FIGURA 01: Mapa da linha turismo no recorte de estudo. FONTE: URBS (2022), modificado pela
autora (2022). Disponível em: <https://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/transporte/linha-turismo>. Acesso em:
19 de abr. de 2022 // FIGURA 02: Rua 24 horas. FONTE: FOTOGRAFANDO CURITIA (2018). Disponível em:
<https://www.fotografandocuritiba.com.br/2018/04/rua-24-horas.html>. Acesso em: 19 de abr. de 2022 //
FIGURA 03: O bondinho da Rua XV. FONTE: FOTOGRAFANDO CURITIA (2016). Disponível em: <
https://www.fotografandocuritiba.com.br/2016/05/o-bondinho-da-rua-xv.html>. Acesso em: 19 de abr. de
2022.

102
FONTE: AUTORA (2022).

103
5.2 AS POTÊNCIAS

104
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da premissa de que a cidade se apresenta tal qual um organismo vivo e


em constante evolução, é possível observar o crescimento da mesma sobre si, dando
origem a um tecido denso, consistente e heterogêneo que, conforme Rossi (2001), é
capaz de traduzir-se também em aspectos sensoriais, como ambiências e estímulos a
vida individual e coletiva. A discussão sobre a intervenção nas cidades, especialmente
em partes consolidadas do tecido urbano, traz à tona o fato de que as mesmas são
construídas sob as pegadas das gerações anteriores, partilhando assim de
conhecimentos e histórias que se integram à atmosfera citadina e à idealização do futuro.
Desta forma, a atitude de se operar rigidamente em um território que se apresenta
como indeterminado pela condição contemporânea é contraditória. Assim, esta pesquisa
se apresenta como um processo que visa a possibilidade de atuação menos rígida e
direta sobre a cidade, especialmente sob a luz dos conceitos da Arquitetura Parasita e
da Acupuntura Urbana, buscando antes compreender as dinâmicas e camadas – visíveis
ou não – de um espaço, para em seguida representá-las de modo a refazer as
percepções do meio urbano.
O presente trabalho não visa encerrar uma discussão sobre as formas de
intervenção no tecido consolidado e em preexistências, tampouco, apresentar uma
solução arquitetônica que exprima a condição contemporânea da metrópole curitibana.
Sendo assim, o estudo de ações arquitetônicas que exprimam a característica de articular
os espaços da cidade se fez fundamental para compreender como a arquitetura e o
urbanismo têm se colocado cada vez mais abertos à apropriação dos usuários.
Segundo Lerner (2011), intervenções pontuais, como o estímulo de uma picada
de agulha ao corpo, possuem a capacidade de recuperar a energia do local, incitando
reações da população e promovendo uma série de novos acontecimentos positivos em
cadeia. Assim, entender a condição temporal das cidades e da massa construída, e que
é possível habitar todos os espaços, inclusive os que são incomuns, é fundamental para
a articulação dos núcleos urbanos.

105
A partir dos conceitos teóricos e processos metodológicos estudados, almeja-se
uma atuação arquitetônica que consiga tirar proveito do caráter contemporâneo da
cidade, devolvendo aos usuários a possibilidade de se habitar e se aproximar da
arquitetura e cidade, além de servir como um potencializador para a região. Dessa forma,
apresenta-se como diretriz projetual o desenvolvimento e exploração do mapa como
ferramenta prospectiva e como um guia para intervenções posteriores.
Os mapas desenvolvidos na análise do território não se apresentam como um
produto acabado da pesquisa, mas sim um processo exploratório e não finalizado. As
séries de mapas apresentam-se incompletas, assim como cada mapa em sua
individualidade, repletos de lacunas e questionamentos. O objetivo é visualizar bases que
possam posteriormente auxiliar na continuidade do processo de mapeamento, com intuito
de descobrir novas “janelas” para a atuação arquitetônica em relação ao meio urbano
consolidado.

106
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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