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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA
Concepção, Aplicação e Projeto

MICHELLE HARUMI OSHIRO

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título


de graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Orientadora: Profº. Drº Augusta Justi Pisani

1
SÃO PAULO
2019
AGRADECIMENTO

Figura 1 - Agradecimento
Imagem da autora.

2
À Deus por ser a força da realização desse sonho.

Aos meus pais, irmãos e familiares por sempre me apoiarem e aconselharem.


Agradeço por me ensinarem a sempre seguir em frente e a enxergar cada
momento da melhor maneira possível. Pela força, dedicação e paciência, pelo
amor e atenção, minha eterna gratidão.

Aos meus professores e orientadores por toda dedicação para que este
trabalho e formação fosse concretizado. Pela disponibilidade e conhecimen-
tos transmitidos. Em especial aos meus orientadores: Maria Augusta J. Pisani
e Francisco Petracco; pelas críticas, conselhos e orientações ao longo do de-
senvolvimento deste trabalho.

Aos meus amigos e companheiros por caminharem comigo nessa jornada


rumo à graduação. Obrigada pelos momentos altos e baixos, divertidos e
tristes; pelos conselhos, abraços em grupo e apoio.

Agardeço à todos que diretamente ou indiretamente fizeram parte dessa fase


da minha vida, o fim de um novo começo.

Obrigada.

3
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO Introdução 8

1.1 Histórico 13
CONCEITUALIZAÇÃO

1 SOBRE A
SUSTENABILIDADE
1.2 Importância da Sustentabildiade 18

NA ARQUITETURA 1.3 Análise Crítica sobre a Sustentabilidade 26

1.4 Referências 34

QUESITOS 2.1 Energia e Arquitetura 46

2 AMBIENTAIS:
ENERGIA, ÁGUA E
MATERIALIDADE
2.2 Água e Construção

2.3 Materialidade e Concepção Arquitetural


50

52

4
3.1 Introdução 56

3 O PROJETO 3.2 Contextualização

3.3 Cidade Compacta e Objeto


57

59

3.4 Complexo Habitacional Sustentável 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS 88

REFERÊNCIAS Bibliografia Teórica 90

5
6
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO

7
INTRODUÇÃO

Figura 2 - Introdução.
Imagem da autora.

8
Esse trabalho discute a questão da sustentabilidade na quitectura Cooperativa; Taisugar´s Circular Village,
construção civil, apresentando levantamentos e em- Taiwan Sugar Corporation; e Projeto Nova Luz, Pre-
basamentos teóricos sobre a questão; questionamentos feitura de São Paulo. Explora as bibliografias teóricas
de sua aplicação na arquitetura; discutindo-os junto levantando dados, análises, especulações e concei-
ao trabalho de projeto Edifício Multiuso Sustentável, o tos que explicam e teorizam a arquitetura sustentáv-
qual acopla em sua arquitetura soluções para o proble- el, sua concepção e aplicação na cidade. Analisa
ma da relação entre construção e meio ambiente. possibilidades de terreno de projeto e experimenta
técnicas sustentáveis, conforto dos ambientes e im-
A incorporação de práticas sustentáveis na construção plantação do Edifício Multiuso Sustentável.
civil é uma tendência crescente no mercado. Os
governos, consumidores, investidores e associações Ademais, apostando na melhora da qualidade de vida
alertam, estimulam e pressionam o setor da construção e na conscientização da população sobre a importân-
a incorporar essas praticas em suas atividades. Porém, cia da construção sustentável, a pesquisa põe em dis-
qual a importância da sustentabilidade na sociedade? cussão a relação entre arquitetura, sistemas constru-
Sua definição e o modo como é aplicada/certificada é tivos e meio ambiente. E, é a partir de análises de
realmente sustentável? E, como acoplar esse conceito edifícios verdes, do modo como à sustentabilidade
na arquitetura? é aplicada no país que o estudo tem como intuito:
criticar a maneira como a sustentabilidade é aplicada
É por meio dessas indagações que a pesquisa analisa na construção civil; explorar os métodos sustentáveis,
o estudo de projetos já existentes, como o Eldorado apresentando soluções para o problema da produção
Business, Aflalo e Gasperini Arquitetos; Habitação de resíduos no meio ambiente; e elaborar o projeto
Cooperativa de Barcelona, La Boqueria LaCol Ar- Multiuso acoplado ao tema.

9
Adotar um projeto racional com componentes re- energia e materiais. Abordando propostas de estruturas
cicláveis traz benefícios ambientais, econômicos e morfológicas compactas, adensamento populacional;
sociais. Pois, minimiza a extração de matéria prima, transporte público; resíduos e reciclagem; energia;
diminui a produção de resíduos sólidos no meio am- água; diversidade e pluralidade socioeconômica, cul-
biente e o consumo de energia elétrica; e proporcio- tural e ambiental (GONÇALVES e DUARTE, 2006).
na o desenvolvimento das cidades satisfazendo as
utilidades do presente sem comprometer as futuras A construção civil é um dos setores de atividades
gerações de atenderem suas próprias necessidades. humanas que mais consomem recursos naturais e
Ou seja, a construção sustentável deve estar presente que geram consideráveis impactos ambientais, como
em todo o ciclo de vida do empreendimento, desde a produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos
sua concepção até sua requalificação, desconstrução (CIB, Conselho Internacional da Construção). Sen-
ou demolição, mostrando aspectos e impactos para do responsável por 40% do consumo de energia
serem trabalhados e encaminhados na implantação de mundial, 16% da água potável, 25% da madeira das
um projeto viável para a atual e futura geração. florestas, 50% das emissões de CO2 (LAMBERTS,
2007).
A discussão sobre a arquitetura sustentável reforça o
papel do edifício como um elemento do projeto ur- No Brasil construir com sustentabilidade é enfren-
bano e da sustentabilidade da cidade, pois abrange a tar desafios sociais como a concentração de renda e
escala urbana, discute, aborda e propõem questões de a enorme desigualdade econômica e social, o difícil
localização e infraestrutura, qualidade ambiental dos acesso a educação de boa qualidade e ao saneamento
espaços internos e impacto na qualidade do entorno ambiental, o déficit habitacional e a situação de risco
imediato; otimiza o consumo de recursos como água, de grandes assentamentos, além da degradação dos

10
meios construído e natural, e dos acentuados proble- Porém, elaborar habitação sustentável é trabalhar com
mas de mobilidade e acessibilidade (ROMERO, 2006). o bem estar e saúde dos cidadãos, que convivem e
permanecem no lugar por um bom período do dia,
O conceito de arquitetura sustentável é acessível a chegando a um terço das horas diárias. Conforme
poucos, pois é visado pelo mercado imobiliário como Maria Augusta Justi Pisani, 2016; autora do texto Sus-
forma de marketing, ocasionando o investimento de tentabilidade na Habitação: Posturas e certificações;
projetos corporativos e a não execução de habitações produzir uma habitação mais sustentável beneficia a
sustentáveis, as quais devido à cultura de exclusão de saúde e o bem estar físico e mental da população, prin-
grande parte da população no mercado crescem ir- cipalmente a dos menos favorecidos, os que não têm
regularmente em áreas de risco, de proteção ambien- acesso a várias atividades esportivas e de lazer e en-
tal e de mananciais. E, quando construídos pelos em- contram-se impossibilitados de permutar seus espaços
preendedores da construção civil encontram-se fora habitacionais se assim o desejarem.
dos locais de infraestrutura e do mercado de trabalho.
Portanto, a arquitetura quando sustentável trata da
Apesar da existência de certificações para habitações dimensão social, contribui para diminuir a pobreza,
sustentáveis no país, como o AQUA - HQE (Haute promove a igualdade social nas cidades, minimiza o
Qualité Environnementale) e o Referencial GBC Bras- seu impacto no meio ambiente e cria habitações mais
il Casa, ainda há o não investimento pelos profis- eficientes e menos impactantes para o meio ambiente.
sionais da área, os quais apontam o custo elevado das Apresentando-se como condicionante definitiva de
ações sustentáveis nas residências sociais, que pos- sua ação sobre o meio, promovendo objetivos em lon-
suem limitações orçamentárias. go prazo e intervindo com eco eficiência na relação do
homem e meio ambiente.

11
12
CAPÍTULO 1
Conceitualização sobre
a sustentabilidade na
arquitetura

13
1.1 H I S T Ó R I C O
Figura 3 - Histórico.
Imagem da autora.

14
O tema da sustentabilidade é discutido na construção tais e teve participação de 113 países. Porém, o con-
civil há anos, sendo modificada e aprofundada con- ceito foi consagrado apenas em 1987 com o lançamen-
forme as necessidades do presente e do futuro. Desde to do relatório da ONU na Noruega por Brundtland
os primórdios dos anos 1972, ano da Crise do Petróleo, (NAÇÕES UNIDAS, 2018).
o assunto sobre edifícios energicamente mais eficientes
começou a ganhar força. Nos anos 1987 foi divulgado A década de 1990 foi marcada por uma visão de futuro,
o relatório Brundtland, o qual afirma às necessidades onde a atuação do presente deve ser movida tendo em
do presente, sem comprometer o atendimento às das vista às consequências posteriores, ocasionado devi-
gerações futuras. E, discutida em grandes conferências do ao embasamento das transformações, Relatório
mundiais, como o Rio+10, em Johannesburgo no ano de Brundtland ou “Nosso Futuro Comum” – “Our
de 2002. Common Future” (United Nations, 1987), o qual vem
orientando às políticas ambientais na maior parte dos
O termo utilizado na primeira conferência da ONU países. Ademais, tem como objetivo um triplo dividen-
(Organização das Nações Unidas) 1972 em Estocol- do: eficácia econômica, equidade social e prudência
mo foi “ecodesenvolvimento”, primeira atitude mun- ambiental, tratando-se de uma abordagem estratégica
dial a tentar preservar o meio ambiente, tendo como e política fundada sobre a nação de solidariedade no
objetivo conscientizar a sociedade a melhorar a relação espaço e no tempo (CHARLOT – VALIDIEU, 2004).
com o meio ambiente, atendendo as necessidades do
presente sem comprometer as gerações futuras. Diver-
sos temas foram abordados e discutidos por mais de
400 instituições governamentais e não governamen-

15
O desenvolvimento sustentável é o desen- cionamento dos investimentos, a ori-
volvimento que encontra as necessidades entação do desenvolvimento tecnológi-
atuais sem comprometer a habilidade das co e a mudança institucional estão em
futuras gerações de atender suas próprias harmonia e reforçam o atual e futuro
necessidades. potencial para satisfazer as aspirações
Um mundo onde a pobreza e a desigual- e necessidades humanas.
dade são endêmicas estará sempre à (Relatório Brundtland, “Nosso Futuro
crises ecológicas, entre outras...O desen- Comum, 1999, np”)
volvimento sustentável requer que as
sociedades atendam às necessidades hu-
manas tanto pelo aumento do potencial
produtivo como pela garantia de opor-
tunidades iguais para todos. Nas décadas seguintes o grande tema em debate das
Muitos de nós vivemos além dos recuros conferências mundiais, como a Rio92, no Rio de Janei-
ecológicos, por exemplo, em nossos pa- ro em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo, 2002; foi o
drões de consumo de energia...No míni- desafio de melhorar o nível de consumo da população
mo, o desenvolvimento sustentável não mais pobre e diminuir a pegada ecológica e o impac-
deve pôr en risco os sistemas naturais que to ambiental dos assentamentos humanos no planeta.
sustentam a vida na Terra: a atmosfera, Onde se firmou protocolos internacionais que objeti-
as águas, os solos e os seres vivos. vavam rever as metas e elaborar mecanismos para o
Na sua essência, o desenvolvimento sus-
desenvolvimento sustentável. Porém, essas reuniões
tentável é um processo de mudança no
qual a exploração dos recursos, o dire-
foram marcadas por disputas ideológicas e econômi-
cas; problemas ambientais não resolvidas e ações sub-

16
sequentes aquém das expectativas. Um importante in- plexa, integrando diferentes áreas do conhecimento
dicador foi comprovado em 1997 por meio do Earth (NAÇÕES UNIDASM, 2018, np).
Council, divulgando que o uso dos recursos naturais
já superava 20% em capacidade de suporte global e Conforme Defrise (1998), o adjetivo sustentável foi
que o planeta foi sustentável até 1980 (MEADOWS, sendo empregado ao longo do tempo, ele foi sendo
2004). associado a outros conceitos, como: crescimento sus-
tentável, moradia sustentável, cidades sustentáveis,
Em Setembro de 2015, todos os países se reuniram na sustentabilidade ambiental, ecológica, sustentabili-
sede da ONU, Nova York, e definiram os novos dade cultural, desenvolvimento sustentável e entre
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODM) outros. Portanto, o desenvolvimento sustentável ba-
como nova agenda de desenvolvimento sustentável seia-se em princípios e ações que consideram igual-
que finaliza o trabalho, prestando suporte a governos mente os aspectos ambientais, sócios culturais e
locais e regionais para a implementação da Agenda econômicos. Neste trabalho adotaremos os termos: ci-
2030 em âmbito local. Apresenta estratégias que po- dades sustentáveis, moradia sustentável e arquitetura
dem ser adaptadas a contextos específicos e a neces- sustentável.
sidade de diferentes cidades e regiões. Hoje o concei-
to apoia-se no desenvolvimento de um modelo que
enfrenta e propõe soluções aos principais problemas
ambientais, sem renunciar à tecnologia moderna e à
criação de edifícios que atendam as necessidades de
seus usuários. Além do mais, é multidisciplinar e com-

17
1.2 I M P O R T Â N C I A D A
S U S T E N TAB I LI DAD E Figura 4 - Diagrama.
Imagem da autora.

18
1.2.1 Sustentabilidade na Cidade

Uma cidade sustentável é muito mais A pobreza, o atendimento às necessidades básicas


do que um desejável conjunto de de saúde alimentação e moradia está na pauta da
construções sustentáveis. Ela deve incor- discussão global sobre os problemas ambientais; as
porar parâmetros de sustentabilidade no quais estão englobadas no conceito de equidade, que
desenvolvimento urbano e privado.
atualmente, é inseparável do modelo de desenvolvi-
(LEITE, 2012, p.132)
mento sustentável (ROMERO,2012).

Na escala urbana a questão da sustentabilidade está


A conscientização crescente das significativas inter- presente em diversas discussões e propostas que abor-
ferências dos sistemas humanos sobre os sistemas dam: estruturas morfológicas; resíduos e reciclagem;
naturais, com consequente desequilíbrio e possíveis energia; água; diversidade e pluralidade socioeco-
impactos irreversíveis sobre os referidos sistemas tem nômica, cultural e ambiental. Tratando-se assim de
sido ocasionada pela busca constante de um modelo uma visão multidisciplinar e complexa que integra
construtivo sustentável alicerçado numa visão crítica diferentes áreas do conhecimento de arquitetura, en-
da organização da sociedade humana impulsionada genharia, paisagismo, saneamento, química, elétrica,
por diversos problemas de caráter ambiental e so- biologia, sociologia, psicologia, filosofia e medicina.
cial, a existência de grandes populações vivendo em Relacionando projeto, ambiente e tecnologia, dentro
condições precárias e o caráter altamente consumista de um determinado contexto ambiental, cultural e so-
da sociedade atual (ROMERO, 2012). cioeconômico.

19
Ou seja, o planejamento esta cada vez mais asso-
Para mais, a sustentabilidade influencia abordagens ciado à qualidade de vida, à ecologia e ao controle
de projeto na arquitetura, extrapolando as questões de poluição e à eficiência energética. Pois, con-
de conforto ambiental e suas relações com a eficiência forme Leite; Awad, 2012; uma cidade sustentáv-
energética, recursos para a construção e a operação el deve praticar ações diferentes aos do século
do edifício, como materiais, energia e água que vêm 1920, “expansão com esgotamento”. Ela deve
sendo extrapoladas para minimizar os impactos am- incorporar parâmetros de sustentabilidade no
bientais. Por isso, conforme Alva (1997), apud, Zam- desenvolvimento urbano público e privado que
brano (2007), para que o crescimento econômico seja otimizam o uso das infraestruturas e promovam
uma condição e não uma consequência das mudanças maior sustentabilidade – eficiência energética,
nas cidades sustentáveis deve-se haver a reorganização melhor usos das águas e redução da poluição,
dos espaços, a geração de novas economias externas, a promoção de relativamente altas densidades de
eliminação das deseconomias de aglomeração, a modo qualificado, com adequado e planejado
melhora da qualidade de vida das populações e a su- usos misto do solo, misturando as funções urba-
peração das desigualdades socioeconômicas. nas (habitação, comércio e serviços).

Uma das condições básicas para uma cidade sus-


tentável é a adequada gestão dos recursos am-
bientais nela presentes: os recursos hídricos, as
condições climáticas, o solo, o relevo, a vegetação,
etc. A exploração dos recursos ambientais acima
dos limites, o descaso sobre estes limites e sobre a
capacidade de suporte do ambiente às atividades
urbanas leva invariavelmente à deterioração am-
biental, à perda de qualidade de vida e ao aumento
de consumo de recursos necessários para suprir as
“deseconomias” advindas de tal cenário.
(ZAMBRANO, 2007, p.38)
20
A questão do adensamento urbano, com vistas à A reestruturação das cidades é possível quando
redução do raio de impacto das cidades sobre o há a união da regeneração produtiva dos ter-
campo é bastante frequente nas discussões acerca ritórios metropolitanos com os novos processos
do desenvolvimento urbano sustentável. Aspec- de inovação, economia e inovação. Deve-se reci-
tos relacionados à consolidação urbana, a den-
clar o território por meio do processo do desen-
sificação, a densidade média ideal, e associada a
volvimento urbano sustentável, ou seja, deve-se
questionamentos sobre transportes públicos, efi-
cientes, maiores áreas urbanas para pedestres, crescer para dentro da cidade e não mais substi-
intensificação do uso de bicicletas entre outros, tui-la ou expandi-la (LEITE; AWAD; 2012).
estão na pauta das discussões contemporâneas. O
debate sobre adensamento urbano se insere como
estratégia para combater o espalhamento urbano,
para reduzir a pressão das cidades sobre o campo.
Vazios urbanos e falta de continuidade da mal-
ha existente e a baixa densidade em determina-
das regiões, ocasionada por lotes excessivamente
grandes, configuram-se na maioria das vezes
em desperdícios de infraestrutura e transportes.
Estas áreas representam um grande potencial para
crescimento ou redistribuição na cidade, principal-
mente para atender à demandas de habitação pop-
ulares, sem que seja necessário se expandir hori-
zontalmente e suprir novas áreas de infraestrutura
e transportes alargando cada vez mais as periferias
das cidades.
(ZAMBRANO, 2007, p.42)

21
1.2.2 Sustentabilidade na Arquitetutura

A arquitetura sustentável pode ser construção civil. Este transforma a natureza


entendida como uma conceituação revisa- conforme o desejo e o design do homem des-
da da arquitetura em respostas aos novos de a antiguidade. Estima-se que as atividades
interesses contemporâneos sobre os efeitos humanas, como suas construções, serviços e
das atividades humanas.
transporte, usam mais de 50% das fontes mun-
(WILLIAMSON, T.,RADFORD,A.,BEN-
diais de energia. E que o setor da indústria
NETTS,H., 2003, np)
civil seja responsável pelo consumo de 40%
dos recursos naturais, 40% da energia e 40%
das emissões poluentes (SJOSTROM, 2000,
apud JOHN 2001).

Por isso, conforme Kronka, 2002, autora da


tese Arquitetura de Baixo Impacto Humano e
Ambiental; a ação insustentável do homem afe-
Foi apenas em 1992 no Rio de Janeiro na Conferência das ta a natureza, ocasionando grandes poluições
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimen- e problemas ambientais, cabendo, assim, aos
to (Eco 92 ou Rio 92) que a discussão sobre a sustentabi- profissionais da construção civis contribuições
lidade na arquitetura começou a ganhar força e em 1987 não só quanto aspecto ambiental, mas princi-
foi consagrado com o lançamento do relatório da ONU palmente quanto aos sociais. Pois, esta “nova
na Noruega por Brundtland. arquitetura” só será viável com base em novos
paradigmas que permitam aspectos funcio-
Hoje a busca pelo desenvolvimento sustentável está cada nais, bioclimáticos e operacionais das edifi-
vez mais presente nos setores da sociedade, como na cações mais eficientes.
22
Todas as atividades humanas deverão A utilização de sistemas especiais de insta-
ser realizadas, nos próximos anos, do lações e soluções de menor impacto ambi-
ponto de vista de seu impacto ambien- ental, aliadas às mudanças de comporta-
tal e sua sustentabilidade. A arquitetu- mento, incentivado pelas novas propostas
ra não é exceção, devendo mudar os arquitetônicas, como ponto de partida
atuais padrões de projeto e construção para a “sustentabilidade”, trariam reduções
de maneira a contribuir para a garan- “significativas” no consumo de água, de
tia de suporte e conservação da quali- energia e de materiais construtivos, além
dade ambiental. Um duplo esforço deve de vantagens ambientais, sociais, culturais
ser feito em nosso país para garantir e econômicas.
concomitantemente a sustentabilidade (KRONKA, 2002, p.4)
e qualidade ambiental e a integração
das classes menos favorecidas da
população. O contexto de impactos, esgotamentos dos recursos
(DEL CARLO, 1999, np) naturais e agravamentos das crises sociais e econômicas
têm feito com que as questões relacionadas com o ambi-
ente urbano e com as edificações se tornem cada vez mais
rígidas e complexas. E, portanto, a questão da sustenta-
Assim, a construção sustentável possui concei- bilidade não deve ser pensada dissociada, como um úni-
tos e praticas usualmente relacionado a ações co problema, deve ser abordada em todas as suas impli-
e metas nos meios decisórios do desenvolvi- cações, nas esferas das atividades humanas, pois discutir
mento sustentável, devendo ser uma resposta a e construir com sustentabilidade nas cidades brasileiras
estas. Sendo o principal meio decisório destas significa enfrentar várias questões, como a concentração
ações e metas integradas com dimensões am- de renda e a enorme desigualdade social e econômica, o
bientais, sociais e econômicas; a Agenda 21, déficit habitacional e a situação de risco de grandes as-
incluindo a definida pela ONU e por iniciati- sentamentos, além da degradação dos meios construídos
vas nacionais, locais e setoriais (triple bottom e natural, e dos acentuados problemas de mobilidade e
line). acessibilidade.
23
1.2.3 Sustentabilidade na Habitação
No campo da arquitetura, o movimento
moderno trouxe mudanças significativas no
processo construtivo e significativo da mora-
Nenhuma política pública é eficaz se o dia. Tornando o simbolismo, a ornamentação
aprendizado de nossos filhos não encon- e o artesanato com menos peso em relação a
trar um abrigo, uma casa e um ambiente fabricação seriada, o uso de materiais e equi-
socialmente apropriado para consolidá-lo. pamentos industrializados, o funcionalismo,
A habitação é um dos pilares mais impor- as condições de conforto e de higiene, os quais
tantes da nossa existência. Deve estar em ganham mais peso nas decisões projetuais
ambiente sustentável em todos os sentidos. (KAAP, 2005 apud PERIM, 2014).
Deve representar o abrigo seguro, inserin-
do-se de modo harmônico no espaço con-
Diante a sinalização do meio científico sobre
textual de funções permitindo o acesso aos
o risco de escassez de recursos no planeta, em
locais de exercício de funções básicas não só
à sobrevivência, mas também à evolução. E 1970 a questão do meio ambiente e a busca
mais, conviver sem conflito com o meio am- de um desenvolvimento sustentável voltaram
biente, respeitando-o e preservando-o. a ser pauta nas conferências mundiais, sendo
(NETO, np, 2010) a última realizada 26 anos depois, em Istam-
bul, sobre os assentamentos humanos, com
o tema “Adequada habitação para todos e o
desenvolvimento de assentamentos humanos
A casa tem papel fundamental e complexo, pois ao mes-
em urbanização”. O documento resultante
mo tempo em que é abrigo concreto, é proteção, segu-
foi a Agenda Habitat, que traz diretrizes para
rança e espaço significativo. É nela que se formam as di-
alcançar o desenvolvimento sustentável em
mensões simbólicas, é onde o homem se fixa no espaço
todas as cidades, com a meta de melhorar o
físico, produz sua subjetividade e constrói seus sonhos
padrão de vida de pelo menos 100 milhões
(GONÇALVES, 2009).
de moradores em assentamentos precários no
24
mundo para o ano de 2020 (PERIM, 2014). tentáveis do que os praticados no mercado imobiliário.
E, conforme JOHN e PRADO, 2012, apud, PISANI,
No Brasil, somente em meados de 1940 a habitação 2016; as principais certificações nacionais de sustent-
de interesse social começou a ser discutida, ademais abilidade direcionados à habitação são: o Referencial
as iniciativas para o movimento de habitação para a GBC Brasil Casa (Green Building Council – Brasil);
população de baixa renda provinham de investidores o Sistema Aqua – HQE, certificado pela Fundação
privados. Atualmente, nota-se o déficit habitacional Vanzolini e Cerway – Referencial de Avaliação da
no país, fruto da desordenação urbana e da ausên- Qualidade Ambiental de Edifícios Residenciais em
cia de infraestrutura capaz de suportar o aumento da Construção, implantado em Junho de 2016; e o Selo
população nas cidades (BONDUKI, 1994). Casa Azul.

A construção de habitação no país demonstra as Apesar dos documentos resultantes dos eventos mun-
grandes dimensões do desperdício e de produção de diais se mostrarem importantes para o desenvolvimen-
resíduos, ocasionados pelas grandes quantidades de to sustentável e assentamentos humanos adequados,
recursos naturais consumidos, tendo em vista que 1 nota-se a carência de avaliação e de monitoramento
metro quadrado de construção utiliza uma tonelada dos sistemas e mudanças propostas, ocasionando o
de materiais (SOUZA; DEANA; 2007, apud PERIM, número mínimo de projetos e obras com tais proces-
2014). sos.

Com o objetivo de reduzir os impactos ao meio ambi-


ente e incentivar a produção de habitação sustentável,
diversas certificações de sustentabilidade foram im-
plantadas no mercado mundial, dentre as quais en-
contram-se: BREAMM (Building Establishment En-
vironmental Assestment Method); LEED (Leadership
in Energy and Environmental Design), que fornecem
contribuições para a produção de projetos mais sus-
25
1.3 A N Á L I S E C R Í T I C A S O B R E
A S U S T E N TA B I LI DAD E Figura 5.
Imagem da autora.

26
1.3.1 Introdução
A construção civil representa um dos setores de ativi- ecológica vai além do clichê: arquitetura como for-
dades humanas que mais causam danos sobre o meio ma eclética, pitoresca, marginal e testemunhal. Ela é
ambiente, promovendo impactos econômicos e soci- necessária globalmente e correta socialmente, poden-
ais, e, por isso, é fundamental entender os parâmetros, do ser mais atraente do ponto de vista estético, concei-
suas práticas, teorias e processos de projeto para o de- tual e cultural.
senvolvimento sustentável de um país.
Além do mais, a indefinição do termo implica no
O Brasil é responsável por diversos danos ambientais surgimento de significados inconvenientes, levando
causados por tecnologias ultrapassadas e processos alguns profissionais a adotarem-no como forma de
ineficientes. A ausência de modulação, a grande pro- vangloriação de seus projetos ditos como sustentáveis,
dução de resíduos e poluentes e o mau uso de matéri- sem que haja características dignas do adjetivo (CÂN-
as primas não renováveis são alguns dos processos DIDO, 2012).
visíveis atrasados e com falta de compromisso com o
meio ambiente (ROTH; GRACIA, 2009, apud PERIM, Sendo a não definição causada pela falta de cultura
2014). e educação de qualidade sobre o assunto, conforme
Roberto Fernandez, apud, Hickel, 2005; a mídia in-
No entanto, a arquitetura sustentável é comumente fluencia na cultura que está cada vez mais volátil e
tratada de forma estética ou funcionalista e não re- ligada a uma hipótese da realidade em permanente
cebem a atenção merecida. Conforme Josep Maria movimento. O que, junto à falta de interatividade das
Montaner apud Denis Kern Hickel, 2005; o desafio diferentes disciplinas, gera a defasagem cultural e ar-
atual consiste em demonstrar que a arquitetura quitetônica de profissionais da área.

27
1.3.2 Aplicação do conceito na Arquitetura

Para que a sustentabilidade A arquitetura sustentável tem papel de destaque em diversas áreas de pesquisa,
deixe de ser apenas um con- prática e crítica que vão desde questões de ordens técnicas, como avanços so-
ceito formal e passe a ser apli- bre modelos de ciclo de vida dos materiais e componentes construtivos; até de
cado como novo paradigma ordem prática, ilustradas no comprometimento profissional de especialistas de
da arquitetura, ela deve ser arquitetura e engenharia, os quais visam a questão ambiental. Esta, motivadora
entendida como tema de cul- da apropriação de soluções tecnológicas diferenciadas, testadas e aplicadas para
tura contemporânea, afetando uma maior qualidade ambiental e menor impacto das edificações.
e transformando a teoria e a
prática do desenho, reformu- Conforme Joana Gonçalves e Denise Helena Duarte (2006), autoras do texto
lando-o frente à onipotência Arquitetura Sustentável: Uma integração entre ambiente, projeto e tecnologia
tecnológica e anti-sustentável. em experiências de pesquisa, pratica e ensino; há quase três décadas entidades
Deve-se pensar em um ensino internacionais vêm trabalhando quanto a materiais, consumo de energia e im-
com disciplinas da construção pacto ambiental de edificações. Investem na certificação de projetos e edifíci-
civil, preparando os futuros os embasados em legislações e critérios de desempenho. Essas se constituem
profissionais para o mercado em um sistema de avaliação no qual é quantificado o grau de sustentabilidade
sustentável, visando-os como de um projeto de acordo com determinados critérios de desempenho, que po-
parte de um todo dentro do dem englobar desde consumo de energia até tópicos como o impacto ambiental
ensino e da prática da ar- gerado por tintas, por exemplo.
quitetura, e, portanto, evitan-
do o descompasso e a escas- Diversas certificações são detectadas no mercado mundial, as quais listam
sez da interatividade entre as exigências e fornecem contribuições para a produção de projetos mais sus-
diferentes disciplinas. tentáveis do que os praticados pelo mercado imobiliário. Tais como: o BREAMM

28
(Building Research No caso do Brasil, o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e
Establishment Envi- Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), apresentam algumas
ronmental Assessment práticas para sustentabilidade na construção, sendo as principais:
Method), criado em
1990 no Reino Unido;
o LEED (Leadership
in Energy and Envi- • Aproveitamento de condições naturais locais;
ronmental Design),
estruturado pela US • Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural;
Green Building Coun-
cil (USGBC), dos Es- • Implantação e análise do entorno;
tados Unidos; o CAS-
BEE (Comprehensive • Não provocar ou reduzir impactos no entorno: paisagem, temperaturas
Assessment System e concentração de calor, sensação de bem estar;
for Built Environment
Efficiency), editado • Qualidade ambiental interna e externa;
no Japão em 2001; e a
DGNB (Deutsche Ge- • Gestão sustentável da implantação da obra;
sellschaft fur Nachhal-
tiges Bauen), lançada • Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários;
na Alemanha em 2007
(PISANI, 2016). • Uso de matérias primas que contribuam com a eco eficiência do

29
processo;
A falta de um modelo sustentável ocasiona diversas
• Redução do consumo energético; linguagens arquitetônicas que conforme Zambrano,
2008; são identificadas e categorizadas por alguns
• Redução do consumo de água; autores como Gauzin-Muller (2001) e Williamson
(2003). O primeiro analisa e destaca os low -techs, os
• Reduzir, reutilizar, reciclar e dispor cor- high-techs, como sendo as posições mais externas e
retamente os resíduos sólidos; confrontantes. E, entre estas, os humanistas ecológi-
cos, a ecologia democrática e social e o minimalismo
• Introduzir inovações tecnológicas sempre que ecológico. Já o segundo, observa três tipos de imagens
possível e viável; traduzidas da sustentabilidade para a linguagem ar-
• Educação ambiental: conscientização dos en- quitetônica: a imagem natural, a imagem cultural e a
volvidos no processo. imagem técnica, com possibilidades de sobreposição
de imagens.

Apesar das normas existirem, ainda não há um modelo Portanto, o conceito de desenvolvimento sustentável
único para a arquitetura sustentável e métodos univer- na arquitetura está em construção. Uma vez que não
sais para a elaboração do projeto. Contudo, existe sim se sabe claramente o que é economia, cultura, política
um conjunto de fatores que vêm redefinindo os edi- ou construção sustentável deve-se desvendar a ciência
fícios europeus, tais como o aproveitamento de recur- do processo multifuncional (ISOLDI, 2007).
sos como a energia solar e a luz natural (GONÇALVES
e DUARTE, 2006).

30
1.3.3 Questionamentos sobre sua aplicação

O conceito da sustentabilidade é discutido, aplica- Ademais, foram criadas diversas organizações, que
do, reformulado e executado há anos na arquitetura; tem como intuito aplicar o conceito na arquitetura de
conhecido como um sistema construtivo que altera forma a servir como guias de construção sustentável,
o entorno de maneira a atender as necessidades do apesar de serem de fácil compreensão, são focadas nas
homem, garantindo qualidade de vida e preservação características ambientais e sociais de determinadas
do meio ambiente e dos recursos naturais. Porém, o regiões, como o LEED, criado pelo USGBS nos Esta-
modo como é certificada, estudada e argumentada são dos Unidos. Ou seja, há ineficiência do uso das fer-
realmente sustentáveis ou é apenas um jogo de mar- ramentas que, conforme Bueno; Rossignolo (2004);
keting econômico? são causadas devido a uma falha avaliativa das prer-
rogativas de uso desses métodos, com o único intuito
Conforme Patrício; Goubinhas (2004) apud Bueno; de obtenção de um título ou certificação para elevação
Rossignolo (2011); o embasamento da construção do valor comercial, e nem sempre da real tentativa de
sustentável, Edifício Verde, trouxe amplas pos- melhoria do desempenho ambiental e energética.
sibilidades de rentabilidade ao mercado imobiliário.
Avalia e rotula a parte da criação de dezenas de Méto- Outro fator é que a avaliação da sustentabilidade na
dos de Avaliação da Eficiência Energética e Ambiental construção ocorre majoritariamente em edifícios
do Edifício, em diferentes países e variados critérios corporativos e comerciais. No caso das habitações
e métodos de ponderação e certificação. Estas muitas existem poucas ferramentas disponíveis no mercado,
vezes implantadas somente em situações muito de- havendo um número reduzido de projetos e obras que
limitadas, de condições climáticas, sociais ou em edi- passaram por tais processos. Conforme Silva (2004),
fícios de usos específicos. o LEED for Homes, lançado pelo US Green Building

31
Council, em 2008, necessita de avaliação de sua apli- Como resultado tem-se a fabricação de moradia com
cabilidade no contexto brasileiro por questões climáti- baixa qualidade arquitetônica, concebidas sem con-
cas, sociais e pela diferença de materiais e dos métodos sideração de qualquer singularidade dos moradores.
construtivos. Há o reducionismo na leitura das realidades concer-
nidas o que provoca a repetição indiscriminada de
No Brasil, segundo Motta (2001), ao longo da história padrões em implantações rígidas e inflexíveis (MAR-
brasileira a habitação se tornou uma questão comer- JOLET, 2012). Ademais, os sistemas e mudanças
cial. Os programas habitacionais tratam a moradia propostas nos selos sustentáveis carecem de avaliação
como um objeto de mercado, vendo-a como fonte de e monitoramento que gerem subsídios técnicos e
renda para o investidor e não mais como um dever científicos, os quais alimentam os novos processos de
do Estado e um direito inconstitucional. Notável na projeto e forneçam habitações mais eficientes e menos
construção de habitação voltada para a classe média, impactantes para o meio ambiente (PISANI, 2016).
as quais atraem as empresas da construção civil e dis-
torcem a política habitacional, ocasionando “a incom- O sucesso do desempenho ambiental e energético do
patibilidade existente entre finalidade social da políti- edifício não depende apenas da síntese entre concei-
ca habitacional e o modo empresarial de produção da tos arquitetônicos, fundamentos do conforto ambi-
moradia”. ental, técnicas construtivas e de operação predial, e a
eficiência energética incorporados em um novo ou na

32
reabilitação de um edifício. Deve-se ter junto a estes entre ambiente, aspectos técnicos econômicos, con-
o cumprimento de padrões de ocupação previamente texto cultural, estética, conforto e qualidade de vida
definidos e o comportamento e as expectativas dos dos moradores. Portanto, “o fazer arquitetônico” deve
usuários (GONÇALVES e DUARTE, p.55, 2006). ser discutido no âmbito acadêmico, incorporando
a sustentabilidade não como uma subordinação da
arquitetura e sim, como um paradigma do fazer ar-
Outra questão da aplicabilidade da arquitetura sus- quitetônico.
tentável é a não conscientização dos arquitetos sobre
a questão nas Universidades. Já que é frequentemente
tratada de maneira individual e como matéria optati-
va, e não, como disciplina inserida e integrada na teo-
ria e na prática. Conforme Villela (2007); a arquitetura
sustentável deve ser transdisciplinar e interdisciplinar,
acoplando diferentes áreas e estudos para que haja de
fato a sustentabilidade no edifício. Ou seja, ao con-
trário do que ocorre nas matérias do ensino médio,
a arquitetura necessita de um diálogo frequente que
constrói a sustentabilidade formada pela integração

33
1.4 R E F E R Ê N C I A S P R O J E T U A I S
Figura 6 - Referências.
Imagem da autora.

34
Os projetos a seguir fo-
ram selecionados como
obras referenciais, pois
possuem características
que ampliam e aprofun-
dam os conhecimentos a
respeito do projeto Multi-
uso Sustentável, explicado
e detalhado no próximo
capítulo.
Apesar de implantarem
as características sus-
tentáveis de maneiras
diferentes, detalhando e
exemplificando as tecno-
logias, legislações, mate-
rialidades e disposições;
Figura 7 - Eldorado Business Imagem 8 - Habitação Cooperativa, Imagem 9 - Projeto Nova Luz, 2005.
permitem o estudo des- Tower, 2009. 2017. Imagem: Nilbberth Silva, 2011.
tas e o entendimento de Imagem: Finestra, 2008. Imagem: Equipo Editorial, 2017.
como, onde e porque im-
plantá-las nos projetos ar-
quitetônicos.

35
1.4.1 Eldorado Business Tower (2009)

Localizado em terreno de fácil acesso, ao lado do Shopping Eldorado e da Ferrovia Hebraica, o empreendimento
foi o primeiro edifício da América Latina a receber o certificado Platinum. As categorias utilizadas para pontuar o
empreendimento foram: Sustentabilidade, Eficiência em Água, Energia e Atmosfera; Materiais e Recursos, Quali-
dade Ambiental Interna, Inovação e Processos de Design.

FICHA TÉCNICA MOTIVO DA ESCOLHA DA OBRA

Arquitetos Com o intuito de analisar a aplicação


Aflalo e Gasperini Ar- tecnológica sustentável em edifícios, o
quitetos Eldorado Business Tower foi o primeiro
projeto estudado. Pois, além de estar na
cidade de estudo, São Paulo, é o primei-
Localização ro projeto da América Latina a receber o
Av. das Nações Unidas, certificado LEED; aplicando as soluções
São Paulo tecnológicas de maneira a diminuir os
impactos ambientais.
A obra permite o estudo e aprofunda-
Dados mento das técnicas sustentáveis, per-
Área construída: mitindo o entendimento do funciona-
128.645 ² mento das mesmas, para aplicação no
projeto Complexo Multiuso Sustentável
Nº Pavimentos: 32 + 4 Figura 10: Eldorado Business. na Luz que tem como foco o adensmento
subsolos Imagem: Estado de São Paulo. e, portanto, a habitação.

36
CONCEITOS ANALISADOS ANÁLISES

Cobertura verde: Diminui


a radiação do calor para o
interior

Sustentabilidade Pintura reflexiva: Controle do


Conforto
índice de refletância do raio
solar

Elemento translúcido e opaco:


Menor radiação solar
Figura 11 - Carta Solar

Figura 12 - Eldorado
Imagem: Google
Earth, 2018
SãoPaulo.

MATERIALIDADE

Infraestrutura adequada para a coleta


seletiva;
Figura 12 - Carta dos

Seleção e aplicação de materiais com alto


Ventos São Paulo.

conteúdo reciclado;

Utilização de produtos com madeira certi- Figura 14 - Eldorado.


ficada FSC (95%) Imagem: Estado de São Paulo.

37
1.4.2 Habitação Cooperativa de Barcelona (2017)

FICHA TÉCNICA

Arquitetos
La Boqueria

Localização
Carrer dÉspronceda, 131. Barcelona, 2017 Figura 15 - Cooperativa Barcelona.
Imagem: Lacol.

MOTIVOS DA ESCOLHA DA OBRA CONCEITOS ANALISADOS

A Cooperativa Barcelona foi escolhida como estu-


do, porque assim como o Complexo Multiuso Sus-
Conforto Construção Programa Sustentabilidade
tentável, também trabalha com a sustentabilidade
na habitação. Servindo como análise da aplicação do
conceito na arquitetura, a qual explora as tecnologias

Figura 16 - Carta Solar

Figura 167- Carta dos


conforme o lugar, no caso, Barcelona. Ademais, ob-

Ventos Barcelona.
serva-se o método construtivo e os programas que
ajudam na compreensão de como elaborar um edi-

Barcelona.
fício residencial.

38
ANÁLISES

Conforto/Estratégia Urbana e Ambiental Construção


Legenda
Proteção solar
Centralidade das nos pavimentos
instalações para A_Circulação vertical: Estrutura
superiores.
melhor eficiência. metálica de 27 toneladas reciclável.

B_Habitação e espaços comunitários:


Capitação de Estrutura de madeira desmontável e
água da chuva e reciclável.
iluminação solar.
Caixa acústica e
proteção contra C_Estrutura de concreto
os raios solares. Redução da de-
manda energética. Fachada dupla em sistema pré fabri-
cado.
Figura 18 - Estudo do conforto Pele exterior: estrutura leve
Imagem: Lacol Pele interior: estrutura modular

Fachada Norte com sistema modular


Programa pré fabricado.
Potencializador de ventilação cruzada
O edifício cooperativo habitacional, apresenta e da capitação de iluminação natural.
além das áreas de moradia; espaços de lazer
comum e encontro da comunidade. Apresenta-
dos no esquema acima, a qual pontua os locais Fachada Sul com dupla proteção
públicos: Área destinada às entidades do Bairro, visual
Central de instalações, Lavanderia e armazena- Controle de captura solar
mento conjunto, biblioteca, espaço de cuidados Pele externa com estrutura metálica e
e refúgio, circulação vertical externa e horta pele interna modulada com aberturas
com espaço de lazer e permanência. e fechamentos de vedação
39
1.4.3 Projeto Nova Luz (2005)

O projeto Nova Luz apresentado pela Prefeitura de São Paulo consiste na reutilização da área, propondo solução
urbanística através de: levantamento de dados locais, conversa com os moradores e usuários do Bairro, plano dire-
tor, conceitos como a cidade compacta, uso adequado do solo e entre outros.

METODOLOGIA DO PROJETO

• Ampla análise e pesquisa


da área;

• Criação de uma inter-


venção inclusiva com opor-
tunidade para todos os grupos so-
cioeconômicos;

• Uso Multiuso;

• Miscigenação das faixas


etárias;

• Uso adequado do solo;

• Aumento das áreas de lazer Figura 19 - Sistema de área verde.


e verde Imagem: Prefeitura de São Paulo.

40
MOTIVA DA ESCOLHA DA Conforto
OBRA

O estudo da Nova Luz tem


como objetivo analisar e
aprofundar os conhecimen-
tos da área de implantação
do projeto Complexo Multi-
uso Sustentável, o que propi-
cia o entender da região, suas
características potenciais e
frágeis. Além disso, propor-
ciona o entender e aplicar o
sistema de integração de fa-
tores, como conforto, usos
multiplos, materialidade e
entre utros no projeto a ser Figura 20 - Insolação.
elaborado neste trabalho. Imagem: Prefeitura.

A análise do micro clima potencializa aspectos de conforto ambiental nas áreas


CONCEITOS ANALISADOS públicas, propiciando sombras e iluminação adequada que proporcionam am-
bientes agradáveis e melhores condições de lazer e estar. O que concede através
de sombreamento de ruas e pátios, implantação dos edifícios conforme orien-
Conforto Programa Sustentabilidade tação leste - oeste e painéis de energia solar na cobertura.

41
Programa Sustentabilidade

ENERGIA NOS EDIFÍCIOS


_Reduz a demanda energética de novos edifícios, fornece sistemas ener-
geticamente eficientes de aquecimento, ventilação e condicionamento de
ar.

_Fornece e reduz as neccessidades energéticas dos edifícios por meio da


geração local e da exaustão de ozônio atmosférico.

ÁGUA
_Implanta a gestão de água da chuva e a redução do uso de água potável.
Figura 21 - Multiuso
Imagem: Prefeitura. _Reduz o desperdício de água potável, por meio do uso da água pluvial.

Por meio da implantação de âncoras e conexões MATERIALIDADE DOS PRÉDIOS


_Reduz a emissão do CO2 associadas à produção e ao transporte de
que o projeto cria variação de escalas, privacidade e materiais.

ambientação. Ademais, propiciam diferentes tipos _Planeja a construção, armazena e separa materialidade para reciclagem e
propicia melhor ciclo de vida das obras.
de usos, atraindo usuários variados e possibilidades

de recreação do espaço público.

42
3.1.4 Conclusão

Ao analisar as obras constata-se a melhor com- Portanto, a análise das obras tem papel fundamen-
preensão do modo como a sustentabilidade e sua con- tal para a compreensão da importância da sustenta-
cepção podem contribuir na eficiência da edificação e bilidade na arquitetura, pois permite aprofundar os
na redução do impacto ambiental. É por meio dessas conhecimentos sobre o conceito de importância na
que se estudou e aprofundou o conhecimento sobre as vida cotidiana e na natureza. Ademais, trazem tec-
técnicas sustentáveis na construção civil, como a cap- nologias sustentáveis de maneira sucinta e explicati-
tação da água da chuva que contribui para a redução va, o que torna as análises dinâmicas e interpretativas,
do desperdício da água potável; os elementos constru- possibilitando a incorporação e experimentação das
tivos, como materiais e técnicas viáveis na elaboração tecnologias e suas aplicações no Projeto.
de uma obra sustentável; e de que maneira pode-se
construir a circularidade e moradia saudável na socie-
dade.

Os conceitos sustentáveis analisados nessas e em out-


ras referencias foram incorporados no Projeto, detal-
hado no capítulo 3; tanto em sua concepção quanto
em seus detalhamentos, trazendo a importância do
sustentável na arquitetura e na sociedade; agregan-
do qualidade e eficiência na edificação. Assim, con-
tribuindo para a melhoria da qualidade de vida para
as pessoas.

43
44
CAPÍTULO 2
Quesitos ambientais:
energia, água e materialidade

45
2.1 E N E R G I A E A R Q U I T E T U R A
Figura 22.
Imagem da autora.

46
Com a crescente aproximação ao esgotamento dos re- o desenvolvimento maior é o impacto local, como
cursos naturais, tem-se cada vez mais a busca de al- poluição de rios, solos e materiais particulados no ar.
ternativas de desenvolvimento sustentável e, portanto, E quanto maior o desenvolvimento, maior a concen-
de energias renováveis e/ou alternativas, como solar, tração de gás carbônico na atmosfera. Ou seja, o uso
eólica e geotérmica. Os quais abrangem diferentes ti- de tecnologias que não resultem em tantos problemas
pos de aplicações e distinto desenvolvimento e comer- ambientais e aplicações coerentes de estratégias espe-
cialização. cíficas devem fazer parte para o desenvolvimento do
mundo.
Conforme José Goldemberg (1998), a energia e o de-
senvolvimento de um país estão relacionados. Sendo
a primeira importante e influenciadora na segunda;
quanto maior o consumo de energia comercial per
capita melhor a economia e a qualidade de vida da
sociedade. Sendo: o consumo de energia abaixo de 1
tonelada equivalente de petróleo por ano (TEP) cor-
respondente a baixa expectativa de vida; e mais de 2
TEP/capita igual a melhores condições sociais.

Conforme os gráficos 1, 2 e 3, Goldemberg (2003), o Gráfico 1 - Impactos ambientais em função da renda


Gráfico 2 - Concentração urbana e renda per capita
impacto ambiental é indissociável ao desenvolvimento Gráfico 3 - Emissão de CO2 e renda per capita
que varia de país para país. Nota-se que quanto menor Fonte: Goldemberg

47
Não diferente disso, a construção civil
também deve conciliar em sua obra o
uso de recursos renováveis e alterna-
tivos, como o estudo e implantação da
iluminação natural, ventilação, aprovei-
tamento e reuso das águas pluviais, des-
carte da materialidade adequada e entre
outros. Pois, sua produção e execução
muitas vezes são geradores de polu-
entes como resíduos sólidos, líquidos e
gasosos. Ademais, é um dos setores de
atividades humanas que desenvolvem Figura 23 - Ilustração da
a cidade, influenciando em seu cresci- emissão de CO2.
mento. Os projetistas devem incorpo- Imagem: Hawtone, 2003.
rar em suas obras novos e renovados
mecanismos que além de permitirem
a acessibilidade, segurança, saúde e
produtos; minimizem o seu impacto
ambiental, permitindo a eficácia e ade-
quação do projeto e melhor desenvolvi- Figura 24 - Consumo de
mento do estado. energia.
Imagem: Hawtone, 2003.

48
Conforme Renato de Melo Rocha (2016); para que Proálcool (Programa Nacional do Álcool, 1975), o
haja a redução dos custos de manutenção e diminuição Procel (Programa Nacional de Conservação de Ener-
do volume de resíduos, os edifícios projetados e con- gia Elétrica, 1985) e o Conpet (Programa Nacional da
struídos devem incorporar critérios da qualidade Racionalização do Uso dos Derivados de Petróleo e
ambiental e da eficiência energética que levem em do Gás Natural, 1991). Nota-se a carência de políti-
consideração os princípios sustentáveis. Assim, ao cas fiscais que promovam o desenvolvimento e a uti-
mesmo tempo em que a qualidade ambiental de um lização destas tecnologias; e a falta de competitividade
edifício é objeto organizacional de elementos naturais em relação às convencionais (VOSGUERITCHIAN,
e artificiais de cada local; é questão funcional de or- 2006).
dem do espaço, edifício ou meio urbano; pois a re-
flexão acerca dos problemas ambientais das cidades se
insere em um contexto apreendido entre espaço verde
urbano e padrões de edificação e concentração popu-
lacional, este parte cultural e social de cada sociedade.

Apesar da utilização da energia renovável beneficiar a


economia por meio da redução de gastos; o social, na
diminuição da escassez de combustíveis; e o ecológi-
co, através da redução da exploração dos recursos e
emissão de resíduos. E da existência de programas
que favorecem o uso da energia renovável, como o

49
2.2 Á G U A E CONSTRUÇÃO
A água esta presente em nosso dia a dia, sendo funda- de água não se restringe ao processo de construção
mental para a vida das espécies. É solvente universal, apenas. É utilizada posteriormente em acessórios,
auxiliadora na prevenção de doenças e protetora do como bacias sanitárias, lavagem de áreas públicas e
organismo. Porém não é distribuída igualmente na so- entre outros; chegando a ser responsável por 16% de
ciedade e é usada de forma inadequada, ocasionando toda água potável consumida pelo setor urbano.
desperdícios e poluição por esgotos domésticos, eflu-
entes industriais, resíduos e entre outros. Por isso, a O uso das tecnologias em edifícios como o aprovei-
fim de amenizar os problemas ocasionados pela ação tamento de águas pluviais, o reuso de águas cinza e a
do homem, a implantação de tecnologias de captação instalação de componentes economizadores de água;
e reuso de água da chuva esta cada vez mais presente amenizam os problemas de disponibilidade de água
nos edifícios. potável e diminui a sua demanda. O que propicia o
uso racional e a conservação dos recursos hídricos
Conforme Barros (2000) e Santos (1993), o aproveita- para as futuras gerações (ABNT BNR 15527:2007).
mento da água pluvial é milenar, tendo relatos de sua
prática na Grécia Antiga, com a disposição de esgotos Conforme Tomaz (2005), o reuso das águas cinza, o
e sua utilização na irrigação; e, hoje, se difundiu de uso de tecnologias e o desenvolvimento de estratégias
maneira a mitigar os problemas ambientais causados devem ser desenvolvidas e incentivadas na construção
pela não conscientização, falta de controle e gestão da civil. Pois, a primeira é uma alternativa que consiste
poluição e de resíduos em áreas urbanas. na reutilização da água cinza proveniente de tanques,
banheiras, lavatórios e máquinas de lavar roupa. Já
Conforme a Agência Nacional de Águas, o consumo os componentes economizadores contribuem para

50
a redução do consumo de água, independentemente
ou não, da ação do usuário ou da mudança de seu De acordo com dados levantados pela Agência Na-
comportamento. Sendo seus principais componentes cional de Águas (ANA, 2012), o setor urbano é
os arejadores, os pulverizadores e os prolongadores, responsável por 26% do consumo de toda água bruta
usados em torneiras. E, por ultimo, as estratégias es- e a construção civil por 16% de toda água potável.
tão vinculadas ao uso final da água, o que permite a Além disso, os elementos pós-construção também
avaliação dos principais componentes responsáveis agregam nesse valor, como por exemplo, os vasos con-
pelo uso dela e a priorização do desenvolvimento de vencionais que consomem aproximadamente 70% do
tecnologias mais eficazes. total utilizado. O que ressalta a importância do reuso
e captação das águas pluviais, uma vez que o uso ade-
Conforme estudos realizados pela SABESP, o consu- quado de fontes alternativas de água colaboram para a
mo de água tratada para fins não potáveis atinge índi- mitigação dos impactos no meio ambiente; chegando,
ces que variam de 48% e 55%. Portanto, a água plu- conforme CBCS (2012) apud Santos (1993), de 30 a
vial pode substituir pontos de água tratada em uma 40% a menos degradação. Portanto, reusar a água sig-
residência, proporcionar economia de até 55%. E, nifica proteger o meio ambiente; economizar, reduzir
conforme Scherer & Fenfrich (2004), diminuir o im- e proporcionar melhores processos industriais e inves-
pacto ambiental, principalmente com relação aos re- timentos em infraestrutura; e diminuir a demanda nas
cursos hídricos e proporcionar economia no uso da águas de superfície e subterrâneas.
água potável.

51
2.3 MATERIALIDADE E CONCEPÇÃO ARQUITETURAL
O detalhamento e escolha dos materiais na construção Essa busca por materiais mais leves e baratos e o de-
civil sofreram modificações ao longo dos tempos. Até senvolvimento de projetos planejados permitiram o
meados do século XVIII, os desenhos técnicos não menor uso dos recursos naturais e consequentemente
apresentavam informações sobre a materialidade do a diminuição do impacto ambiental. Conforme Ribei-
edifício, uma vez que eram escolhidos conforme o ro (2003), a etapa de uma construção está ligada ao
critério econômico, localização e transporte do mate- meio ambiente. Suas etapas executivas produzem efei-
rial. Foi apenas na metade do século XIX com a pro- tos e impactos ambientais que ocorrem em diferentes
dução industrial que a disponibilidade dos materiais processos e em distintos espaços e tempo, indo desde a
aumentou, e, portanto, a utilização de exportados, produção do material e do edifício, seu uso e operação
como vidro belga, madeira escandinava, mármore até a sua demolição.
italiano e entre outros estavam cada vez mais pre-
sentes; ocasionando a necessidade do detalhamento e A produção dos materiais construtivos devastam
precisão de informação do uso de materiais. áreas, perfuram o solo para obtenção da matéria pri-
ma, como minérios, combustíveis fósseis e madeira;
Hoje a escolha dos materiais construtivos varia con- ocasionando a dissociação com a paisagem e sérios
forme o seu peso, quanto maior o peso da construção, problemas ambientais, e, por isso, os efeitos da ex-
mais reforço estrutural deve haver. Ademais, a ar- ploração desses recursos devem ser minimizados por
quitetura deve conciliar o projeto, a materialidade e a meio de políticas de reabilitação difundidas e incen-
estrutura para que a obra flua de maneira a incorporar tivadas dentro da indústria (VOSGUERITCHIAN,
diversos conhecimentos; e atinja a qualidade da forma, 2006).
do uso, da economia, da manutenção e do conforto
arquitetural (LOPES, BOGÉA e Rebello, 2006, p.35).

52
A escolha do material adequado ao projeto propor- ramentas de avaliação do desempenho ambiental
ciona a racionalização do seu uso e o melhor planeja- (KIBERT, 2005).
mento da obra, permitindo explorar a materialidade
conscientemente por meio de informações quanto ao A produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos
seu comportamento físico, químico e mecânico. Essas provocados pela materialidade e construção de uma
condições e informações contribuem para um melhor obra torna a sua escolha e planejamento de suma im-
domínio sobre todas as questões que envolvem o ma- portância ao meio ambiente. Conforme John (2007),
terial, tais como: forma de apresentação, utilização e a construção civil consome cerca de 75% dos recur-
desempenho (FERREIRA, 2012). sos extraídos da natureza, sendo a maior parcela de
fontes não renováveis. E para agravar a situação, a
Apesar de sua importância na obra, a escolha do mate- produção, transporte e usos dos materiais contribuem
rial a ser implantado envolve incertezas e variáveis sub- para a poluição e emissão de gases estufa. É por meio
jetivas. Os diferentes perfis ambientais e a formação de de estratégias e critérios de avaliação que a execução
mitos e fatos incompletos, decorrentes a lacunas dos das obras pode ser realizada, de maneira a reduzir o
conhecimentos em relação a tais materiais, complicam impacto ambiental, assim contribuindo para a dura-
o processo de escolha adequada do insumo a ser usada bilidade, eficácia e desenvolvimento sustentável das
no projeto e seu entorno. E, devido à impossibilidade cidades.
dos elementos de cumprirem com todos os requisitos
indicados, como: eficiência energética, modo de fab-
ricação e processamento, durabilidade, manutenção
e entre outros; a seleção de sua implantação torna-se
mais complexa, necessitando, muitas vezes, de fer-

53
54
CAPÍTULO 3
O Projeto

55
3.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo abordaremos sobre o projeto Edifício Multiuso Sustentável, este aborda a importância da relação
entre a sustentabilidade e a construção civil, discutindo onde, por que e como construí-lo de maneira a reduzir
o impacto sobre o meio ambiente. Ademais, trata sobre o adensamento do centro de São Paulo, um dos polos
econômicos da cidade, o qual, conforme estudos e dados analisados e levantados, apresenta potencialidades de
infraestrutura urbana e de mercado de trabalho.

A apresentação do capitulo está separado em:

3.2. Contextualização 3.3 Cidade compacta e objeto 3.4 Edifício Multiuso Sustentável

Apresenta um breve estudo sobre Discute sobre a cidade compacta, Sai da apresentação geral e aprox-
o local de implantação do proje- abordando as vantagens e desvan- ima o lugar com o objeto, apre-
to, Bairro da Luz, contando sua tagens de sua aplicação na cidade; sentando-o dinamicamente
história e arquiteturas marcantes. e sua contribuição na questão da através de croquis, analises e es-
Estas exemplificadas e analisadas. sustentabilidade. tudos volumétricos, estruturais e
sustentáveis.

56
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO
Localizado na zona central de São Paulo, o Bairro da Anos após a obra do Mosteiro da Luz em 1802, di-
Luz foi por décadas conhecido como Campos Guaré, rigido pelo Frei Antônio de SantÁnna Galvão e
significando na língua indígena: Matas em terras construído em taipa de Pilão; iniciou-se a construção
alagadas. É caracterizado por dois rios que atravessam da ferrovia “The São Paulo Railway Company” em
a região, Rio Tamanduateí e Rio Tietê, os quais pro- 1860, primeira estrada de ferro do estado de São Pau-
porcionaram riqueza e mudanças à região. Ademais,
lo, criada pela iniciativa do Barão de Mauá. Terminada
passou de um local elegante e referencial, século 1950;
em 1865, a estação serviu para ecoar a produção cafee-
para uma área decadente, a partir da metade do século
XX. ira do interior do Estado para o Porto de Santos, rede-
finindo a área central da cidade e se tornando ponto de
Ocupado durante anos por fazendas e pastagens ligação para o trafego urbano e comercial de São Paulo
nos campos alagados, a região denominada Campos (OLIVEIRA, 2014).
Guaré servia como local de comércio e descanso para
os bandeirantes, proporcionados pelos dois principais Conforme o artigo A expansão da cidade a partir da
rios da cidade de São Paulo, Rio Tamanduateí e Rio região do Centro Novo e Bela Vista escrito por São
Tietê, os quais alagavam a região em seu período de Paulo São, após a produção cafeeira e a modernização
cheia. Para conte-las iniciou-se as maiores obras de
da paisagem paulistana, São Paulo passou por dois
engenharia da antiga São Paulo: Aterro de Santana e
movimentos: expansão e verticalização; o que per-
Construção da Ponte Grande que depois de séculos
permitiram a urbanização local (FILHO, 2013, apud, mitiu o surgimento de novas centralidades, como o
JORGE, 1998). Centro Novo e a Avenida Paulista. Ocasionando o
declínio do centro velho devido a migração da popu-
lação para outras áreas da cidade em desenvolvimento.
57
O percurso da primazia urbana foi do Centro para Devido à expansão urbana e ao declínio do uso
a Paulista nos anos 1960-1970, e para a Faria Lima residencial, o bairro é caracterizado por proble-
e a Berrini-Marginal do Pinheiros em tempos mais mas sociais e econômicos que contribuem na visão
recentes . Não cabe detalhar os processos que esti- negativa do lugar. Entretanto, conforme o Projeto
veram na raiz dos deslocamentos socieconômicos e
Nova Luz, proposto pela Prefeitura de São Paulo, o
urbanos para estas regiões. Basta mencionar a saída
local tem elevado potencial de requalificação social,
das camadas de renda média e alta fundamental-
mente para o Vetor Sudoeste da cidade, que recebeu econômica e ambiental, pois se localiza em um ponto
vultosos investimentos públicos como alargamento estratégico com potencialidades, como infraestrutu-
de avenidas, construção de pontes e viadutos, linha ra, acessibilidade e cultura.
de metrô, além de novas formas de consumo, em es-
pecial shopping centers A região é conhecida pelos patrimônios históricos:
(KOWARICK, 2009, p.106). Pinacoteca, Museu de Arte Sacra, Parque da Luz e
Estação da Luz. Além de ruas comerciais que po-
tencializam o mercado de trabalho, inserindo tra-
balhadores de diversas regiões no local, atraindo
Conforme Gilberto Pinto Cardoso Filho (2013), até clientes a procura de produtos mais em conta. E,
1911, o Jardim da Luz era ponto de encontro das elites também pelo fácil acesso disponibilizado pelo trans-
paulistanas e atrativo para os moradores da cidade. porte publico: Estação de trem interligada com o
Porém com o desenvolvimento dos novos centros e, metrô; ônibus muito presentes na Luz, ponto final
consequentemente, a migração das classes mais abasta- de diversas linhas da capital e de cidades da grande
das, a região central recebeu nova atividade econômica São Paulo. Para mais, possui avenidas importantes
e um vazio populacional que não foi por completo devi- que ligam diferentes regiões, como a Avenida Tira-
do às classes mais pobres que se instalaram nos edifícios dentes, a Avenida do Estado e Avenida Prestes Maia.
desabitados, com alugueis baratos ou de ocupação por A primeira interliga o centro às Marginais do Rio Ti-
movimentos de luta por moradia. ete; e os outros, importantes corredores rodoviários
da capital.
58
3.3 CIDADE COMPACTA E OBJETO
Pensando no tempo de deslocamento casa-tra- tivando o pedestre a caminhar pelos espaços da cidade ou a
balho, o projeto Edifício Multiuso Sustentável andar de bicicleta em substituição ao carro.
trabalha com o uso e ocupação do solo urbano,
permitindo uma melhor adequação do lote na ci- A criação da moderna cidade compacta exige a rejeição do
dade através do uso misto, o qual implantado na modelo de desenvolvimento monofuncional e a predominância
do automóvel. A questão é como pensar e planejar cidades, onde
Luz, região com infraestrutura, permite a redução
as comunidades prosperem a mobilidade aumente, como bus-
das necessidades de deslocamentos motorizados car a mobilidade do cidadão sem permitir a destruição da vida
e com densidades passíveis de alocar a totalidade comunitária pelo automóvel, além de como intensificar o uso de
da população nas áreas dotadas de infraestrutu- sistemas eficientes de transporte e reequilibrar o uso de nossas
ra. Proporcionando dinâmica dos espaços, menor ruas em favor do pedestre e da comunidade. A Cidade Compac-
congestionamento de automóveis, melhor quali- ta abrange todas essas questões. Ela cresce em volta dos centros
dade de vida e segurança. de atividades sociais e comerciais localizadas junto aos pontos
nodais de transporte público, pontos focais, em volta dos quais
A população residente tem mais oportunidades para in- as vizinhanças se desenvolvem. A cidade Compacta é uma rede
teração social, bem como uma melhor sensação de segu- destas vizinhanças, cada uma delas com seus parques e espaços
rança publica, uma vez que se estabelece melhor o senso públicos, acomodando uma diversidade de atividades publicas e
de comunidade – proximidade, usos mistos, calçadas e privadas sobrepostas.
espaços de uso coletivo vivos – que induz à diversidade (ROGERS, 2001, np).
socioterritorial – uso democrático e por diversos grupos
Ademais, os prédios não precisam ser tão verticais e nem
de cidadãos do espaço urbano.
(LEITE, 2012, p.136).
tão horizontais; com o planejamento e a implantação
adequada da obra, o projeto promove eficiência energéti-
Adensar a região por meio de atividades sobrepos- ca, igualdade social e diversidade de usos, serviços e
tas, permite maior convivência e reduz as neces- espaços públicos seguros e ativos, favorecendo a interação
sidades de deslocamentos em automóveis, incen- social.
59
3.4 C O M P L E X O H A B I T A C I O N A L
S U S T E N T Á V E L Figura 25.
Imagem da autora.

60
3.4.1 LOCAL
Com o intuito de proporcionar o adensamento, levan- A região da Luz foi escolhida por apresentar dados sig-
tou-se a densidade demográfica das regiões de São Paulo, nificativos da relação densidade/nº de trabalho, chegan-
constatando as áreas de pouco adensamento, conforme do a 2 empregos por habitante e concentração demográfi-
figura 16. Comparando-os com o numero de pessoas que ca bruta equivalente à 220 hab/ha. Possibilitando assim,
se deslocam para cada região e os porquês da migração que a implantação do projeto seja viável para a região,
diária (tabela 1), apuramos as principais áreas potencias permitindo a entrada de moradores e diversidade socio-
para o adensamento, e, portanto, implantação do projeto econômica, a partir da produção de diferentes perfis de
Complexo Multiuso Sustentável. habitação e de renda. E, permitindo a aproximação dos
trabalhadores ao seu local de serviço. Ademais, a área
possui boa infraestrutura urbana, saúde, educação e cul-
tura.

Figura 26 - Censo Demográfico.


Fonte: Geosampa, 2018.

Figura 27 - Censo demográfico


Figura 28 - Infraestrutura
Figura 29 - Educação
Fonte: Geosampa, 2018.

Tabela 1 - Origem Destino, 2007. Tabela 2 - Dados Luz.


Fonte: Pesquisa Origem Destino. Fonte: Pesquisa Origem Destino.
61
Figura 30 - Terrenos analisados para Projeto. Figura 31 - Terrenos escolhido.
Fonte: Google Maps Modificado (2018). Fonte: Google Maps Modificado (2018).

A quadra escolhida tem como elementos: edifícios com gabaritos variáveis entre 1 à 8 pavimentos (figura 31); esta-
cionamento com mais de 8865 m² de área no centro do lote; comércio no térreo em todos os prédios; e acesso a
quadra apenas pela Av. Tiradentes e Rua João Teodoro. Já em seu entorno nota-se grande movimento de pedestres
na Rua São Caetano, mais conhecida pelo nome de Rua das Noivas; e Av. Tiradentes; estas com comércios carac-
terísticos da região.

62
Figura 32 - Gabarito.
Fonte: Imagem da autora.

63
3.4.2 PARTIDO
Para a elaboração do Edifício Multiuso Sustentável foram levados em conta acessibilidade, sustentabilidade, con-
forto, materialidade, construção e entorno. Além disso, estudou-se o Eldorado Bussiness Tower, Taisugar´s Village,
Nova Luz e entre outros, como referencias projetuais.

Figura 33 - Conceitualização.

64
O Projeto localizado na Luz, esta implantado sobre uma Zona de Centralidade, ou seja, porção do território voltada
à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais ou de bairros, destinadas ao aden-
samento construtivo e demográfico médio, à manutenção das atividades comerciais e de serviços existentes e à
promoção da qualificação dos espaços. Pensando nisso, no entorno e nas pesquisas realizadas, o projeto propõe:

• Adensar: Otimização do tempo de deslo- • Interligar: Conexão da quadra com as vias,


camento casa-trabalho, permitindo acesso a região permitindo o adentrar do pedestre ao projeto, quadra
do centro, polo econômico de São Paulo com pouco efetiva; incentivando o caminhar.
número de moradores em relação ao numero de tra-
balho. E, local com infraestrutura, saúde, educação e • Atrair: Implantação da praça central e dos di-
cultura. versos usos, que dão maior segurança e vida ao local,
incentivando o espaço público.
• Qualificar: Substituição do estacionamento
fatual pelo edifício multiuso sustentável, propiciando • Conscientizar: Relação do conceito sus-
o uso adequado do terreno, melhor qualidade de vida tentabilidade com a arquitetura, aplicando e exploran-
e segurança à região. do métodos sustentáveis, os quais buscam solucionar
o problema da produção de resíduos e agregação ao
• Remodelar: Retirada de edifícios com gabarito meio ambiente; propõem melhor eficácia da obra, tor-
baixo, com pouco ou nenhum uso; proporcionando a nando-a modelo de construção sustentável, que infor-
melhor apropriação do lote e a compensação por meio ma, mostra e conscientiza o usuário sobre o conceito
do uso diversificado e deslocamento dos comércios na arquitetura.
retirados para dentro da quadra.

65
Figura 34 - Proposta.
66
Para o desenvolvimento do Complexo, estudou-se as pré-existências, analisando-as de maneira a classificar os que
permanecem e os que serão substituídos ou requalificados. Na imagem a seguir, figura 34, tem-se a quadra original
com seus prédios atuais; e a figura 35, o lote modificado com prédios térreos, precários e/ou com uso não funcional
ou vazio retirados para a requalificação da quadra por meio do uso misto, Projeto Multiuso Sustentável.

Figura 35 - Terreno original. Figura 36 - Terreno modificado.

67
3.4.3 VOLUMERIA
A implantação da edificação foi realizada por meio Figura 36: Volume único com geometria simples, a
da análise de volumes, elaborados através da propos- qual conversa com o entorno sem se destacar por
ta e estudo da iluminação, ventilação e conforto; para a sua forma e sim, pelos diversos usos e permanên-
otimização do impacto no meio ambiente causado pela cias dos espaços criados.
edificação. As imagens a seguir mostram os estudos e
conceitos aplicados na elaboração da volumetria e im- Figura 37: Jogo dos volumes para estudo da dis-
plantação do projeto. posição volumétrica no lote, no qual encontram-se
pré existências e características da região, como:
edifícios com volumes simples e gabarito baixo;
e entorno imediato comercial, principalmente na
Rua São Caetano.
Inicialmente projetou-se um edifício multiuso no
centro da quadra com volume simples, retangular;
em seguida para a implantação das propostas: inter-
ligar por meio da quadra aberta; relacionar através
da continuação do comércio existente para dentro
da quadra; e atrair por meio dos usos públicos; o
volume simples ganhou dinâmica, proporcionan-
do ângulos de visão diferentes que atraem o olhar;
possibilidades de caminhos que acessam a quadra;
e atividades no térreo, permitindo usos diversos.

Figura 37 Figura 38
Estudo volumétrico. Estudo implantação.
68
Figura 39 - Perspectiva.
69
3.4.4 PROGRAMA
O programa do Projeto foi elaborado a fim de Figura 40 - Programa.
proporcionar melhores condições de vida e bem
estar aos seus usuários. É por meio de praças,
comércios, acessibilidade, sombreamento, ilu-
minação e ventilação natural, parques e entre
outros que o Multiuso Sustentável trabalha tra-
zendo o convívio público, segurança e conforto
na região. Encontra-se na obra o jogo dos pavi-
mentos que trazem dinâmica e diversidade de
usos ao projeto. Nota-se também, a existência Para atrair o olhar e incorporar dinâmica local implantou-se
de praças e áreas de lazer em diferentes pisos, no centro da quadra a área verde e a praça coberta em pilo-
os quais aproximam os usuários à natureza e ti, que permitem o livre acesso e uso do espaço conforme a
permitem a fuga da correria do dia a dia ex- necessidade de cada usuário. Ao seu redor, foram posiciona-
istente nas grandes cidades, principalmente, dos comércios, que vão desde cafés até lojas âncoras, como
na região de São Paulo. mercado, padaria e etc; os quais dão continuidade à carac-
terística comercial regional, existente principalmente na Rua
A busca por dinâmica, requalificação do uso São Caetano (Rua das Noivas). Lembrando que as lojas do lote
do solo, segurança, acessibilidade e conforto retirados por causa do projeto serão incorporadas ao Multiu-
dos usuários trouxe como solução a implan- so Sustentável.
tação do programa diversificado, constituí-
do por: Áreas verdes de lazer e permanência, Assim, o térreo é constituído por: comércio, praça, área de
Creche, Comércio, Habitação com tipologias lazer e permanência, circulação vertical e horizontal e bici-
diferentes, Restaurantes e Serviço. Posiciona- cletário. Além de jardins de chuva, piso intertravado e ilumi-
dos conforme figura 40. nação por placas solares.
70
Figura 41 - Planta térreo.
71
72
Figura 42 - Vista térreo.
73
Ainda com a intenção
de atrair o público, o
primeiro pavimento
constitui-se de res-
taurantes, que for-
mam uma praça de
alimentação com
vista para as áre-
as de lazer e verde
do térreo. Ademais,
fazem parte do an-
dar salas de serviço,
voltados para o aten-
dimento ao público,
como clínico geral,
dentista, cabeleireiro
e entre outros; im-
plantados próximos
a Rua São Caetano
e a praça descoberta
do pavimento.

Figura 43 - Perspectiva In-


terna. Vista primeiro pavi-
mento

74
Figura 44 - Primeiro Pavimento.
75
A creche pertence ao segundo pavimento junto à área Com o objetivo de trazer o adensamento à região,
de coworking. A primeira, constituída por salas de aula, implantou –se a habitação, a qual encontra-se a par-
lavabos, refeitório, sala multiuso, espaço de recreação, tir do quarto pavimento, possuindo quatorze andares
biblioteca, administração, diretoria e almoxarifado, lo- com dezesseis apartamentos cada e três tipologias
caliza-se acima da praça de alimentação, próximo às diferentes, permitindo o miscigenar de diferentes es-
ruas mais tranquilas da região, Rua João Teodoro e tilos de vida e família.
Rua Dutra Rodrigues, o que permite maior segurança
às crianças e bem estar. Já a segunda, possui grande Permitindo maior lazer aos moradores, a cobertu-
espaço de trabalho compartilhado com vista para a ra habitacional é composta por uma área de lazer e
praça central e próxima a praça elevada, assim, locali- espaço para festas e convivência. Ademais, possui
zando-se perto da Rua São Caetano, rua movimentada captação de água e produção de energia predial por
pelos comércios existentes. meio da cobertura verde, piso intertravado e placas
solares.
A fim de trazer maior conforto, lazer e refúgio do
dia a dia da cidade, o terceiro pavimento, cobertura
do prédio social, é composto por duas áreas de lazer
e permanência: a primeira, próximo a Rua João Teo-
doro, pública; e a segunda, próximo a Rua São Caetano,
privada, voltada para os moradores da habitação. Am-
bos recebem radiação saudável, período da manhã, até
às 10 horas; o que no caso, não ocorre na praça central,
térreo; a qual recebe insolação no período mais crítico,
das 12 horas às 15. Além disso, o pavimento trabalha
com a captação e reuso de água através do piso inter-
travado e das áreas verdes.
76
Figura 45 - Segundo Pavimento.
77
Figura 46 - Terceiro Pavimento.
78
Figura 47 - Área de lazer .
79
Figura 48 - Quarto Pavimento.
80
Figura 49 - 18 Pavimento.
81
3.4.5 SUSTENTABILIDADE NO PROJETO
O Projeto Multiuso Sustentável tem como proposta Portanto, para a elaboração da implantação e do
trazer para o edifício os quesitos da construção sus- volume da obra, realizou-se a análise de três volumes
tentável. As características trabalhadas na obra vão possíveis para o terreno em três horários diferentes
desde a análise do entorno e do terreno até as minu- (9 horas, 14 horas e 18 horas) e nas quatro estações.
cias de detalhes construtivos de tecnologias já usadas O primeiro, volume simples, ocupa o solo de forma
em outros edifícios considerados sustentáveis pelo regular, criando espaços contínuos e previsíveis. O
mundo, como o Eldorado Business Tower, o projeto segundo, jogo de volumes, acompanha o terreno e o
urbano Nova Luz e entre outros. trajeto do sol, ocupando quase que por inteiro o es-
paço disponível no lote. E, por último, volumetria
Acreditando na melhora da qualidade de vida da escolhida, joga com blocos unidos que conectam as
população e na conscientização sobre a importância ruas, permitindo acessibilidade e surpresa por meio
da sustentabilidade, o Projeto Multiuso foi implantado dos diferentes ângulos de visão proporcionados pela
levando em consideração a vida local: edifícios, uso do própria disposição volumétrica. A imagem a seguir
solo, dinâmica local, iluminação e ventilação natural e mostra as análises de insolação nos períodos das 9,
entre outros fatores que contribuem para a disposição 14 e 18 horas nas quatro diferentes estações do ano:
do edifício no terreno, o qual já possuía pré existên- primavera, verão, outono e inverno. E, o estudo de
cias, retiradas ou não do lote, conforme analises de ventilação natural.
qualidade e interferência regional, explicados no item
3.4.3. O que permite a requalificação do solo, uma vez
que a quadra ganha maior dinâmica, vida, densidade,
segurança e conversa com o entorno e o meio natural.

82
Figura 49 - Estudo das Implantações.

83
Figura 50 - Estudo das Implantações.
84
Figura 51 - Implantações de estudo.

Implantação I Implantação II Implantação III

Possui ótima radiação solar, re- Diferente do primeiro, a radiação Similar ao segundo, recebe sol
cebendo –a no período desejável, é predominante nos horários mais nos horários mais quentes e som-
manhã; e sombreada nos horári- quentes do dia durante o ano breamento no período desejável.
os de sol a pico. Portanto, não há todo, portanto, necessário barrei- Como solução para a implantação
necessidade de sombrear a região ras naturais. Ademias, os ventos escolhida, elevou-se as praças,
com grande massa de árvore. En- não ultrapassam os 11 m/s. permitindo acesso e radiação no
tretanto, os ventos chegam a 14 horário da manhã. Além disso, os
m/s, sendo necessário a implan- ventos variam, chegando a 7 m/s à
tação de barreiras. oeste e 11 m/s ao sul e leste.
85
Ainda na implantação do projeto, colocou-se áreas de lazer e permanência, as quais trabalham com a água por
meio de pisos permeáveis e jardim de chuva. E, iluminação através de postes sem fio com captação da luz solar e
placas fotovoltáicas.

O poste fotovol-
taico ilumina as
áreas públicas
com LED de alta
eficiência e baixo
consumo. Poden-
do estar em fun-
cionamento por
12 horas por dia,
com autonomia
de 3 dias sem sol.
Figura 52 - Piso Intertravado.
Imagem: LajJucas, 2018.

O piso drenante permite o escoamento da água Altura: 10 m


da chuva, impedindo o acúmulo da chuva sobre
sua superfície. Resistente ao tráfego de veículos, Figura 53 - Poste com placa fotovoltaica. Potência da lu-
atérmico e antiderrapante são resistentes e ideias Imagem: Ecosoli, 2018. minária: 120w
para áreas externas de grande circulação.

86
Implanta-se também, o tecgarden, sistema construti- Para trazer maior conforto aos usuários, trabalhou-se
vo que permite o aproveitar da água das chuvas sem com brise vegetal na área da habitação e brise de ma-
o uso de energia elétrica, bombas ou qualquer tipo de deira no social. O primeiro fixado modularmente por
mecanismo de automação ou manual; aumenta a área haste de aço galvanizado e com instalação de plantas
verde, contribuindo para a redução de poluentes em trepadeiras conduzidas via cabos inoxidáveis, estes
suspensão; retém a água pluvial, admitindo a irrigação além de protegerem a fachada da insolação, embe-
por capilaridade e o plantio de plantas de pequeno a lezam e autossustentam, por meio da autoirrigação.
grande porte; e aumenta a vida útil da impermeabi- Ademais, colaboram para a diminuição da poluição,
lização da laje e reduz a ilha de calor. melhoram a qualidade e umidade do ar e promovem o
isolamente acústico e térmico.

Figura 56 - Foto brise.


Figura 54 - Tec Garden. Figura 55 - Brise Vegetal. Imagem: MM Arquitetura

87
Vista da área de lazer para a
fachada leste do edifício multiu-
so, o qual possui nos pavimentos
superiores, habitacional, brise
vegetal com haste de aço galva-
nizado.

Figura 57 - Perspectiva.
Imagem da autora.
88
O segundo, brise de madeira ri- Outras tecnologias sustentáveis implantadas no
pado, instalado nas fachadas edifício são: cobertura verde, placas fotovoltáicas e
públicas, servem para cortar a materialidade estrutural. As duas primeiras colocadas
incidência de raios solares no na cobertura da obra, permitem o reuso da água e o
interior do edifício, permitindo aproveitamento da luz natural como fonte de energia. Já
maior conforto, principalmente, o terceiro, utilizou-se a estrutura mista, concreto e aço,
na área da creche e dos escritóri- Figura 56 permitindo eficácia e rapidez na execução do projeto e
os. Ao mesmo tempo, servem menor geração de resíduos sólidos do que a construção
como elemento decorativo e suas tradicional.
ripas permitem certa privacidade
e ventilação natural no ambiente. A cobertura verde
capta a água da chu-
va, funciona como
isolante térmico e
como purificador da
Figura 62 - Cobertura Verde. poluição urbana.
Figura 57

Figura 59 - Detalhe facha- O painel apesar de


da social. caro, torna-se viável
Imagem da autora.
devido sua vida útil,
Figura 60 - Detalhe fix- 25 e 30 anos; o que
ação do brise. gera retorno financei-
Imagem: Design Tec.
ro em 4 a 6 anos, ou
Figura 61 - Brise de seja, 24 e 26 anos de
madeira. economia.
Figura 58 Imagem: CBA Decks. Figura 63 - Placa Fotovoltaica.

89
CONSIDERAÇÕES
FINAIS Figura 64.
Imagem da autora.

90
Apesar de sua importância, o conceito da sustentabili- como reuso e captação da água da chuva, ventilação
dade ainda é postergada em relação à outros conceitos e iluminação natural, requalificação do uso do solo e
arquitetônicos e não como parte de um todo dentro do entre outros. Mostra sua importãncia na construção
ensino e da prática. Isso se deve aos seus significados civil, acoplando -o na arquitetura e no ensino superior,
diferentes que levam ao surgimento de projetos ditos alinhando-o junto às outras disciplinas, como: projeto,
sustentáveis, quando na verdade não possuem carac- teoria e entre outros.
terísticas adequadas. Além disso, há a falta de in-
teratividade entre as disciplinas, gerando a defasagem Engloba muito mais do que estética ou funcionalis-
cultural e a não formação de profissionais preparados mo, reforça aspectos urbanos e traz benefícios soci-
para o mercado da construção sustentável. ais, ambientais, econômicos e sociais. Pois, considera
não apenas o volume e função do edifício; estuda o
Pensando nisso, o estudo presente analisa a questão entorno, implantando a obra de maneira a respeitar
da sustentabildiade na construção civil, identificando as pré existências; requalifica a quadra, trazendo usos
normas, referências teóricas e projetuais, tecnologias e diversificados e acessibilidade; analisa o meio natural,
aspectos sustentáveis existentes. Ademais, apresenta o trabalhando com a ventilação e iluminação natural; e
Projeto Multiuso Sustentável, ora proposto, que acopla reduz a produção de resíduos no meio ambiente, in-
em sua concepção aspectos levantados e estudados, o corporando materialidades e tecnologias sustentáveis.
que permite a busca da melhor elaboração projetual
e, portanto, um modelo arquitetônico sustentável na Portanto, elaborar o projeto permitiu o aprofunda-
região de São Paulo. mento sobre o conceito, possibilitando explorá-lo
de maneira a integrá-lo com as diferentes disciplinas
A execução do projeto permitiu o aprofundamento aprendidas durante os cinco anos da graduação. Po-
e a melhor compreensão do conceito na construção dendo buscar e explorar nos trabalhos e nas aulas de-
civil. É por meio desses estudos que a obra ganha bases senvolvidas parte do conhecimento necessário para
para sua implantação e concepção, acoplando tecno- desenvolve-lo de maneira a contribuir não somente no
logias, materialidade, ambiente e usos que qualificam meu aprendizado como também nos conhecimentos
a obra, trazendo aspectos sustentáveis para o edifício, gerais, acoplando sociedade, cultura e ambiente.
91
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