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FACULDADE DE ARQUITETURA | UNIVERSIDADE DE LISBOA

O HABITAT URBANO. Novas formas de viver Marvila.

Ana Rita da Cruz Valente

Mestrado Integrado em Arquitetura, especialização em Arquitetura

Proposta para Projeto Final de Mestrado

Orientador: Professor Associado Carlos Lameiro


Co-orientador: Professor Auxiliar José Luís Crespo

Lisboa, Dezembro de 2014


ÍNDICE

TEMA, SUBTEMA, TÍTULO, SUBTÍTULO ................................................................ 2

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 2

2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 3

3. QUESTÕES DE TRABALHO / HIPÓTESES ........................................................ 5

4. CONCEITOS-CHAVE........................................................................................... 6

5. ESTADO DOS CONHECIMENTOS ..................................................................... 6

6. METODOLOGIA................................................................................................. 12

7. CALENDARIZAÇÃO .......................................................................................... 13

8. ESTRUTURA DO PROJECTO FINAL DE MESTRADO ..................................... 15

9. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 16

1
TEMA: REQUALIFICAÇÃO DO HABITAT URBANO
SUBTEMA: Reapropriação de terrenos expectantes para a qualificação do espaço nas
cidades
TÍTULO: O HABITAT URBANO
SUBTÍTULO: Novas Formas De Viver Marvila

1. INTRODUÇÃO
A zona Oriental da cidade de Lisboa teve o início do seu apogeu na segunda
metade do século XIX, altura em que a urbe assistiu a um crescimento da frente
ribeirinha para uso industrial e atividades portuárias, aliado a uma crescente
movimentação de bens e pessoas. Os antigos palácios, quintas e conventos dão lugar
às fábricas, vilas e pátios.
Anos mais tarde, na década de 60, a freguesia de Marvila estava fortemente
caracterizada pelas suas fábricas e armazéns, por uma atmosfera particular de
laboração industrial e portuária em convívio estreito com a residência operária. Aqui,
devido à proximidade casa-fábrica, viviam-se relações fortes de bairro e bairro-cidade.
Marvila e Beato eram espaços de socialização urbana, de integração da população
recém-chegada à cidade, zonas de aculturação, localidades dinâmicas de vivência e
partilha.
Com a desindustrialização que se deu nas décadas de 80/90, há uma relocalização
de empresas e industrias na periferia da cidade e muitas das fábricas que aqui
existiam são desativadas. Perdendo-se a atividade económica, a vitalidade
demográfica decresce, as relações com a cidade perdem consistência e os lugares
perdem o antigo dinamismo, ficando um “cemitério de fábricas”.
Perante o cenário que pouco se alterou desde o final do século XX, surgem novos
projetos para recriar o ambiente vívido na freguesia, como o programa “Viver Marvila”,
a ação “Lisboa Capital do Nada” e a reabilitação da Fábrica de Braço de Prata. São
estas novas iniciativas que aos poucos evidenciam o valor patrimonial dos antigos
palácios, conventos, fábricas e armazéns; atraindo novos grupos sociais, novas faixas
etárias e novas culturas a um lugar que se encontra marcado por uma população
envelhecida.
Com base nos projetos anteriormente referidos e depois de uma análise do local
conclui-se que a freguesia precisa de uma nova forma de pensar o habitat urbano e a
sua envolvente. As propostas deverão passar pela articulação e a relação entre os
espaços edificados de habitação e trabalho e o espaço público virado à partilha.

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2. OBJETIVOS

Numa perspetiva diferente daquilo que se tem vindo a desenvolver por alguns
ateliers para a mesma freguesia, por exemplo a urbanização dos Jardins do Braço de
Prata (habitação de luxo), o trabalho pretende explorar novas formas de qualificar o
habitat urbano.
1. Revitalizar um local que está fortemente ligado ao passado industrial
Porquê?
A cidade industrial deixou testemunhos do impacto que esta época teve no
desenvolvimento das cidades. Marvila é um exemplo vivo daquilo que foram as
alterações profundas causadas pela indústria e de que modo elas transformaram a
relação da cidade com o rio, e ainda das consequências que a desindustrialização
trouxe para a proliferação de terrenos expectantes espalhados ao longo da frente
ribeirinha.
Como?
 Devolvendo a frente ribeirinha que se afastou de Marvila com as sucessivas
alterações da costa para usos industriais e portuários.
 Qualificando o espaço público, que atualmente é composto apenas por zonas de
circulação viárias.
 Contrariando o envelhecimento da população atraindo novos residentes

2. Devolver a frente ribeirinha às pessoas


Porquê?
As sucessivas transformações do aterro de Braço de Prata para dar espaço aos
usos industriais e portuários afastaram a freguesia da sua frente de água. Uma vez
que não é possível contrariar a conquista que foi feita ao mar é importante
encontrar outras formas de relacionar o local com a água mesmo que à distância do
olhar.
Como?
 Trabalhar com a diferença de cotas existentes para criar relações visuais cidade-rio
 Criar espaços de vazios urbanos qualificados capazes de abrir linhas de vista sobre
o Mar da Palha

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3. Qualificar o espaço público
Porquê?
O desenvolvimento desta área da cidade não a equipou com espaços públicos de
qualidade. Atualmente, depois de ter sido uma freguesia com tanta dinâmica entre
vizinhos, Marvila não dá espaço às relações interpessoais entre os residentes
Como?
 Usufruindo de espaços residuais para criar zonas de domínio público potenciando a
relação e partilha entre os habitantes
 Desenvolver áreas de jardins públicos, uma vez que a zona não é provida de um
único espaço verde qualificado para usufruto público
 Desenhar uma proposta urbana que obrigue ao percorrer de percursos pedonais,
de modo a apelar ao encontro entre as pessoas evitando que a “entrada em casa”
seja feita por automóvel diretamente na garagem sem que os vizinhos se cruzem.

4. Atrair novos residentes


Porquê?
O trabalho propõe contrariar o envelhecimento da população, deste modo a forma
de evitar este fenómeno é atraindo novas faixas etárias e grupos sociais (jovens
adultos, estudantes, investigadores, …).
Como?
 Criar um programa de habitação não corrente (cohousing, coworking, SOHO)
 Conjugar estas novas formas de habitar, devidamente adaptadas à nossa cultura,
para restituir a ideia de vida em comunidade
 Potenciar o desenho de espaços comuns interiores que relacionem os novos
habitantes com os residentes atuais, a importância da relação “intergeracional”
 Aproximar o local de trabalho e residência para fomentar a vivência de bairro não
só no período noturno e fins-de-semana, mas também mantendo a atividade
durante o dia.

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3. QUESTÕES DE TRABALHO / HIPÓTESES

Questão de partida:
Poderão novas formas de habitação partilhada contribuir para a (re)qualificação de
Marvila e atrair novos residentes?
A requalificação ao intervir em Braço de Prata tenciona inspecionar até que ponto a
introdução de conceitos inovadores de habitação, já postos em prática noutros países,
poderão, depois de adaptados, resultar para contrariar o ambiente envelhecido
instalado atraindo populações mais jovens.

De que modo a (re)qualificação de um espaço urbano pós-industrial poderá


estabelecer novos padrões de organização e utilização dos territórios urbanos?
A apropriação de espaço, que agora é residual, para torná-lo uma zona de domínio
público qualificada e dotada de equipamentos arquitetónicos que satisfaçam as
necessidades da população-alvo, poderá contribuir para a reorganização dos usos
desse mesmo território e alterar a sua relação com a cidade.

Será o desenho de espaços públicos capaz de fomentar a vivência de bairro


durante todo o dia?
A transformação dos espaços públicos desqualificados em locais capazes de
albergar usos coletivos poderá ser um fator que venha a despoletar ainda mais a
dinâmica em comunidade, agora tímida, da freguesia de Marvila. E ainda contribuir
para a vivência de bairro ao longo de todo o dia, contrariando a tendência das zonas
habitacionais para se tornarem “locais-dormitório”.

Porquê a habitação como uso primordial a implantar para atrair residentes e


revitalizar a zona?
Como todas as cidades, a habitação é o uso que mais se assume no ambiente
urbano. Sem habitação não existe cidade porque ela é o motor essencial capaz de
albergar e atrair os habitantes de qualquer metrópole.
No entanto, a cidade não é feita apenas de zonas habitacionais e para que funcione
em todos os seus sectores é necessário conjuga-los, dotando a urbe de equipamentos
multifuncionais que consigam combinar várias funções de modo a rentabilizar o
espaço e vitalizar a zona.

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4. CONCEITOS-CHAVE

Re)qualificar, Cidade pós-industrial, cidade/rio, cohousing, comunidade e partilha

5. ESTADO DOS CONHECIMENTOS

Espaços residuais - Wikström


Requalificação urbana – Isabel Guerra, Dulce Moura, João Seixas e Maria João
Freitas
Cidades ribeirinhas – Pedro Paredes, João Nunes e Ágata Sequeira
A cidade pós-industrial
Focando Marvila – Coelho em “Os resistentes de Marvila”; Viver Marvila”, “Lisboa
Capital do Nada” e a Fábrica de Braço de Prata
Ideia de comunidade/vizinhança/partilha – Platão e Thomas More
Teorias urbanísticas do séc. XIX – Leonardo Benevolo em “As origens da urbanística
Moderna”
Cohousing – Holtzman, McCamant & Durrett, Scotthanson e Lietaert

Na cidade foram deixados, ao longo do tempo, espaços residuais que hoje são alvo
de reflexão no modo como articulá-los com o tecido urbano envolvente. O tema da
requalificação do habitat urbano obsoleto tem sido alvo de vários estudos, discussões
e projetos que procuram repensar as zonas degradadas da cidade. Wikström (2005),
foca a problemática dos espaços intersticiais que ficaram “desligados” no espaço
urbano mas que, ao mesmo tempo, não deixam de ser ocupados e utilizados das mais
diversas formas pela população. As áreas residuais são evidentes barreiras na
articulação dos espaços que por elas são separados, mas podem ser vistas também
como oportunidades de criação de espaços com novas funções. Pode concluir-se que
algumas áreas consideradas perigosas e “feias” que escaparam ao olhar e à
intervenção do arquiteto, são estruturas potencialmente capazes de suportar
atividades e funções compatíveis e enquadradas com o desenho da cidade densa.
Com uma consciência da potencialidade destas áreas surge uma série de objetivos
que visam: i) (re)qualificar fisicamente os espaços em declínio; ii) promover a
valorização do espaço público; iii) contribuir para uma melhoria da articulação destas
áreas com o tecido urbano envolvente, através do aumento da sua atratividade
económica e social, potenciando esta área como uma centralidade no contexto
urbano. Há uma procura pela “(re)introdução de qualidades urbanas, de acessibilidade

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ou centralidade” (Guerra et al., 2006, pp. 21) que remete à necessidade de novos
padrões de organização e utilização dos territórios.
Assim, a interpretação do território esquecido é uma preocupação atual que existe
nas grandes metrópoles no mundo ocidental, focando-se essencialmente nas zonas
ribeirinhas que revelam ser as que mais sofreram com o desenvolvimento das cidades
resultante em grande medida da reorganização das atividades económicas,
nomeadamente a restruturação e da desativação das atividades industriais. No caso
de Lisboa, onde a proximidade ao rio é inegável, a devolução da cidade à frente de
água é cada vez mais uma inquietação e uma prioridade de atuação.
Desde a pré-História que a sedentarização da população junto ao rio Tejo não se
altera, no entanto a estrutura urbana foi-se modificando consecutivamente ao longo do
tempo com o aumento da população (Paredes, 2011).
No final do séc. XVI há uma primeira alteração do modo como a cidade se relaciona
com o rio, através da criação dos primeiros aterros pós-Descobrimentos. Em 1755, o
terramoto e as intervenções de Marquês de Pombal, dão uma nova centralidade às
atividades corporizada na Baixa Pombalina. Com o desenvolvimento industrial, a
migração da população das áreas rurais e do interior do país para a cidade, assim
como, as novas necessidades ligadas à atividade industrial pedem a transformação
das antigas estruturas urbanas em modernas áreas de produtividade fabril.
Principalmente na segunda metade do séc. XIX, com o surgimento do caminho-de-
ferro, as zonas ribeirinhas são locais que detêm as características fundamentais para
a implantação de toda a logística adjacente às crescentes trocas económicas, o que
resulta num papel fundamental da atividade portuária para o desenvolvimento da
capital. Em 1887, a partir de extensos terrenos conquistados à água, dá-se a
inauguração das obras do novo Porto de Lisboa capaz de acolher cada vez mais
tráfego marítimo e navios de maior porte.
Perante uma extensa frente de rio, são Alcântara e Marvila as zonas que mais se
alteram com os novos usos. No segundo caso, a construção do aterro a nascente do
Braço de Prata em 1942, gera uma mudança drástica de um passado dominado por
palácios da aristocracia e conventos de ordens religiosas, para uma atmosfera
particular de laboração industrial e portuária em convívio com a residência operária.
Aqui, conforme referem Nunes e Sequeira (2011), devido à proximidade da casa-
fábrica, viviam-se estreitas relações de bairro e bairro-cidade. Marvila e Beato eram
espaços de socialização urbana, de integração da população recém-chegada à
cidade, zonas de aculturação. Paralelamente, a criação da linha férrea para além de
dinamizar a vivência nestes lugares potencia uma segregação espacial cada vez mais
evidente.

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Na segunda metade do séc. XX, décadas de 80 e 90, há um processo de
desindustrialização. As empresas e as indústrias são relocalizadas nas periferias e
muitas das fábricas que davam vida à zona oriental de Lisboa são desativadas,
decrescendo a atividade económica, a vitalidade demográfica e as relações com a
cidade perdem consistência. Parecendo que “um mar de chaminés e de gente” se
tenha transformado num “cemitério de fábricas” e num “pequeno mundo de
resistentes” (Coelho, 2006).
Ao contrário de Alcântara, Marvila resiste às investidas imobiliárias e mantém o seu
património industrial, ainda que esquecido. Só alguns anos mais tarde há uma tomada
de consciência de que os edifícios e lugares degradados são efetivamente um tecido
vivo que sustenta a composição da História da cidade. “Se se destruir tudo ficam sem
vestígios materiais que ilustrem como decorreu o processo de industrialização em
Portugal. Ficam amputados de memórias marcantes do séc. XIX e XX”1.
Atualmente em Marvila existem intenções e atuações de ação pública,
exemplificados no programa “Viver Marvila”, a ação “Lisboa Capital do Nada” e a
reconversão da Fábrica Braço de Prata. Paralelamente a quantidade de espaços que
ainda estão deixados ao abandono revela a potencialidade deste território para uma
requalificação de inegável interesse.
Partindo da ideia de (re)qualificar, propõem-se novas formas de pensar o habitar
Marvila. Numa freguesia onde predomina uma população envelhecida, fortemente
marcada por uma memória coletiva do que este sítio foi no passado, importa ter como
ideia base a importância de trazer novos habitantes ao lugar, (re)apelando ao espírito
de comunidade, e criar novos focos de interesse para (re)dinamizar o sítio.
Apoiando a importância do (antigo) sentido de vizinhança, Platão (séc. IV a.C.)
defendia que a comunidade ideal era onde tudo era organizado coletivamente.
Thomas More argumenta a mesma ideia acrescentando que a vivência em “bairro”
com jantares em comunidade e atividades de lazer partilhadas aproxima-se do ideal.
Na segunda metade do séc. XIX desenvolvem-se teorias urbanísticas no decorrer
das alterações que a Revolução Industrial despoletou nas cidades. O declínio das
relações sociais nesse novo mundo industrial, leva a uma procura de conceitos
utópicos que tragam de volta o sentido de vivência partilhada. Como por exemplo,
Owen e o movimento cooperativo inglês, ou Fourier e a conceção do Falanstério, até à
aplicação prática de Godin e o Familistério (Benevolo, 1994). Ideias de melhorar as
condições de vida na habitação, partilhando uma série de espaços comuns que

1
Cidadania Lx, blogue do Movimento Forum Cidade de Lisboa, Zona Oriental: Património Industrial ameaçado
pela degradação e futuro incerto, acessível em http://cidadanialx.blogspot.com/2008/05/zona-oriental-
patrimnioindustrial.html (2008)

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potenciariam a relação entre os residentes, num voltar a recuperar o modo de viver
nas cidades. A aproximação à natureza foi também tomada em conta uma vez que o
crescimento da cidade moderna não olhava a fronteiras no consumo do espaço rural,
e o ambiente que se vivia nos grandes centros era cada vez mais insalubre. Estes
conceitos tiveram cada vez mais adeptos na sociedade da altura e foram
impulsionadores das medidas que hoje conhecemos como os primeiros tratados
urbanísticos para as cidades.
Parecendo distante no tempo, esta ideia de viver em comunidade atravessa séculos
e mantém-se a opinião generalizada de que a vida partilhada traz mais felicidade ao
Homem. Por isso, estas utopias não desapareceram com o passar dos anos, na
verdade mais recentemente, no séc. XX (anos 60) surge na Dinamarca uma nova
tipologia de habitação, que rapidamente se expande pela Holanda, Suécia e Estados
Unidos (Holtzman, 2010).
O termo cohousing é tratado por McCamant & Durrett (1988), referindo que o nome
é recente mas o conceito já vem de trás, vem de influências das antigas teorias
utópicas de comunidades ideais, do feminismo e das sociedades pré-industriais onde
pequenas comunidades viviam e sustinham-se partilhando recursos, propriedade e
aspirações. A inovação está no ir além do viver em comunidade, é um apoiar-se mútuo
aliviando os fardos do dia-a-dia do séc. XXI.
O que é então o cohousing? Segundo Scotthanson (2004) são muitas as
semelhanças com os modelos utópicos do séc. XIX, mantêm-se as parcelas
individuais familiares que depois são apoiadas por espaços comuns onde se
desenrolam uma série de atividades partilhadas. Obedece a uma série de padrões no
seu desenho apesar de poder ser adaptável ao sítio e existir diferentemente em
contexto urbano, suburbano ou rural. Prevalece a ideia da não entrada do carro no
centro da comunidade; a centralidade dos espaços comuns, obrigando à passagem
pelos mesmos para chegar “à casa”; a boa visibilidade das áreas de partilha de modo
a conferir segurança ao desenho; minimizar as áreas privadas e maximizar as
publicas, abrindo-se a todos mesmo não sendo residentes. Nunca esquecendo a
importância de manter a privacidade de cada morador, os espaços privados não
deixam de ter um carácter relevante no desenho desta tipologia.
Analisando não só o desenho do cohousing do ponto de vista arquitetónico, mas
pensando também nas influências que terá na vivência dos seus moradores e do
contexto urbano envolvente, há uma procura em combater o isolamento social que se
verifica na atualidade, o crescimento exponencial da população e a má distribuição de
recursos pela sociedade. Consiste no criar uma comunidade a partir de um processo
participativo, através de um desenho de bairro e uma série de instalações comuns que

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potenciam a coesão social, que transmitem segurança e nos relembram da antiga vida
em vila. É uma tipologia habitacional mais económica a longo prazo e valoriza as
relações entre gerações diferenciadas. “A diferença geracional é importante, cria o
balanço necessário para a sustentabilidade da comunidade futura” (Hotzman, 2010, p.
12).
O sucesso deste tipo de habitação é devido ao seu grau de flexibilidade, adapta-se
ao contexto cultural, segundo Lietaert (2010). No seu ponto de vista, o cohousing
combina necessidades da vida moderna com uma possível solução para alguns dos
problemas da sociedade actual. As cidades que antigamente eram vistas como sítios
vibrantes e ricas em relações interpessoais são hoje sítios perigosos que consomem
tempo e energia aos seus habitantes. A distância ao trabalho, as condições de
trabalho flexíveis e o individualismo prejudicam o sentido de vivência partilhada, os
tipos de família são diferentes daqueles que existiam antes e a falta de espaços
públicos é notória, cada vez mais nos encontramos com o outro em locais de
consumo.
O cohousing é flexível o suficiente para poder receber os mais diversos tipos de
famílias: jovens, pais solteiros, casais em idade de reforma até aos idosos.
Ora, todas estas características apontam para a resposta chave aos problemas de
Marvila. Num lugar onde a população idosa já está instalada, é importante chamar
novos residentes. Tanto com a criação de nova habitação, motor de qualquer cidade,
mas também com o fornecimento de novos tipos de espaços que estão cada vez mais
a ser procurados: como a casa-atelier, espaços multiusos, habitação apta a receber
transformações para diferentes usos de compartimentos ao longo do tempo. Ao
mesmo tempo que os espaços comuns seriam também muito importantes, para
responder ao facto da população idosa não ter lugares de convívio para estabelecer as
suas relações interpessoais e poder conviver com outras gerações.
Este conceito pode ser erradamente confundido com a ideia de condomínio
fechado. Por isso parece importante esclarecer qual é a diferença entre a comunidade
da co habitação e os condomínios fechados. Na verdade são muitas as semelhanças
mas as diferenças dão-lhes um carácter completamente diferente, os condomínios
procuram: a segurança pela vigilância e não pelo conhecimento do vizinho; procuram
fugir do contacto com o contexto exterior e o sentido de comunidade é uma
característica secundária na vivência dos seus residentes; e a motivação para a sua
criação passa por especulações no mercado imobiliário e não por necessidades do
lugar (Ruiu, 2014). Nenhuma destas características foca o objetivo a implementar no
sítio de Braço de Prata, em Marvila, pelo contrário, afasta-se do que é pretendido.

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Concluindo, a análise do sítio mostrou que é necessária uma intervenção pela área
de espaços desqualificados que foram deixados ao longo do tempo pela evolução dos
usos do território. Pela sua localização e carácter histórico, a zona de Braço de Prata
revela-se uma área de potencial implementação de uma requalificação urbana por
poder facilmente responder aos objetivos que a este conceito se agregam. Quanto ao
definir o tipo de estratégia/uso/projeto a implementar, a análise social do espaço dá
pistas daquilo que poderá ser mais pertinente (re)criar para devolver o sentido de lugar
a esta freguesia. Daí que surge a procura pelos conceitos utópicos do séc. XIX e a sua
adaptação aos nossos dias: a co habitação como uma possível solução para alguns
dos problemas que Marvila enfrenta hoje.

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6. METODOLOGIA

A metodologia adotada será uma metodologia de casos de estudo com uma


abordagem de carácter qualitativo e quantitativo. Tanto o projeto a ser elaborado como
outros de referência serão base para uma análise em profundidade e intensiva de
modo a apreender semelhanças, particularidades e diferenças. Para o entendimento
do fenómeno em análise mobilizam-se várias técnicas de recolha e análise de
informação: análise documental, observação direta, entrevistas …
A primeira fase da metodologia compreende uma pesquisa documental que visa a
definição conceptual da investigação e a criação de um âmbito de estudo. Será a base
da componente projetual e ajudará a responder aos futuros intuitos do projeto. Nesta
fase recai principalmente a análise de documentos teóricos e recurso a casos de
estudo mais práticos de relevância nacionais e internacionais. Essencialmente basear-
se-á na recolha, seleção e crítica de textos, imagens e documentários.
A fase 2 compreende uma análise do sítio que se dividirá em 3 avaliações: i)
estrutura urbana, ii) história do local e iii) análise social e humana. Para tal serão
consultados documentos históricos, planos já implementados e projetos propostos
para a zona, acompanhando com visitas ao terreno para recolha de dados in situ.
A terceira fase concretizar-se-á em quatro desenhos esquemáticos que irão
transparecer as conclusões retiradas de uma primeira aproximação aos problemas e
potencialidades de Marvila (semelhante a um diagnóstico SWOT). Assim, i) desenho
de deteção de situações, ii) de articulação entre situações e elementos dispersos pelo
território, iii) identificação e proposta de princípios estruturantes e a sua relação com
as situações e elementos existentes, iv) ideias de projeto e síntese concetual.
A fase 4 deixará a análise e passará a haver uma proposta de soluções ainda que
de cariz esquemático. Em primeiro lugar exigirá a uma redução da área do terreno que
antes se tinha vindo a analisar, e depois, perante uma zona de limites mais
controlados, será concebida uma proposta que terá como base as reflexões, ideias e
resultados obtidos nas duas fases anteriores. Para tal exige a consulta de casos de
estudo e referências de estratégias implementadas noutros locais com problemáticas e
potencialidades semelhantes à zona de intervenção.
Depois do encontro de uma proposta com linhas gerais será delineado um
programa de espaços com determinadas funções que se considerem adequadas à
requalificação do local, concretizando-se assim a quinta fase.
Nas fases 6 e 7, a partir da proposta esquemática, serão analisadas, desenvolvidas
e consolidadas as hipóteses anteriormente colocadas, aprofundando-se a proposta à
escala do território e à escala do edificado.

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As fases 8 e 9, de consulta de casos de estudo e referências, acontecem
repetidamente ao longo de toda a elaboração do Projeto Final de Mestrado. Sempre
que uma nova fase se inicia é necessária a consulta de documentos e referências
bibliográficas ou o estudo e análise de exemplos de outros projetos que se debrucem
sobre temáticas semelhantes. Estas duas fases podem ser divididas segundo a
seguinte abordagem: i) projetos de referência de carácter geral, que funcionarão como
linhas guias para soluções de conjunto urbano; ii) referências mais específicas ligadas
à resolução de problemas pontuais de arquitetura, materialidades, etc…
Nas fases 10, 11 e 12 o trabalho irá compreender o desenho arquitetónico da
solução, resolvendo-se problemas específicos da arquitetura da proposta desde a
escala base (esc. 1/200) até à escala mais próxima de execução (esc. 1/20).
A elaboração do documento escrito que irá acompanhar o projeto, fase 13, também
decorrerá ao longo do tempo uma vez que acompanha as descobertas feitas à medida
que o projeto avance.
Na fase 14, e última, serão executadas as peças finais de apresentação do projeto.

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SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN
Fase
2014 2014 2014 2014 2015 2015 2015 2015 2015 2015

1 - Abordagem conceptual

2 - Análise do Sítio (Esc. 1/10000 e 1/2500)

3 – Desenho Conceptual (Esc. 1/2500)

4 – Proposta Esquemática (Esc. 1/2500 e 1/1000)


7. CALENDARIZAÇÃO

5 – Análise do Programa (Esc. 1/1000)

6 – Desenho Urbano (Esc. 1/1000 e 1/500)

7 – Estudo Prévio (Esc. 1/500)

8 – Casos de Estudo

9 – Referências

10 – Projeto Base (Esc. 1/200)

11 – Projeto Final (Esc. 1/100 e 1/50)

12 – Projeto de Execução (Esc. 1/50 e 1/20)

13 – Documento Escrito

14 – Peças Finais

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8. ESTRUTURA DO PROJECTO FINAL DE MESTRADO

Agradecimentos

Resumo

Abstract

Índice geral

Índice de figuras/quadros

Lista de Abreviaturas

Introdução: I. Justificação temática

II. Objetivos

III. Metodologia

IV. Organização sequencial da Tese

Capítulo I Enquadramento teórico e contextualização

Capítulo II Casos de estudo

Capítulo III Análise do território

Capítulo IV Relatório do Projeto Final de Mestrado

Conclusão

Bibliografia

Anexos

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9. BIBLIOGRAFIA

Manuais / Planos para consulta

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1968
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA; Plano Diretor Municipal. Regulamento; CML,
Departamento Planeamento e Reabilitação Urbana, Divisão de Planeamento
Territorial; Lisboa, 2012
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA; Estratégia de Reabilitação Urbana de Lisboa –
2011/2024; CML, Departamento Planeamento e Reabilitação Urbana, Divisão de
Planeamento Territorial; Lisboa, 2011
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA; Uma praça em cada bairro. Caderno; CML,
Departamento Planeamento e Reabilitação Urbana, Divisão de Projetos e Estudos
Urbanos; Lisboa, 2014
NEUFERT, Peter; Arte de Projetar em Arquitetura; Gustavo Gili; Barcelona, 2011
TUTT, Patricia e David Adler; New metric handbook; Butterworth-Architecture;
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Livros

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ALDAY, Inaki et al.; Aprendiendo de todas sus casas; Edicións UPC; Barcelona,
1996
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Lisboa, 1994
FOLGADO, Deolinda e Jorge Custódio; Caminho do Oriente. Guia do Património
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Michigan, U.S.A; Michigan, 2002
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MONTEYS, Xavier e Pere Fuertes; Casa Collage, Un Ensayo Sobre la Arquitectura
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Dissertações

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