Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARQUITETURA E URBANISMO
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Primeiramente, deixo uma frase de Novakowski
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios
não vale a pena ser vivida.” PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Cada um de nós tem uma grande Diagramação:
responsabilidade sobre as escolhas que Alan Michel Bariani
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Thiago Bruno Peraro
acadêmica e profissional, refletindo diretamente
em nossa vida pessoal e em nossas relações Revisão Textual:
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação
Camila Cristiane Moreschi
e conhecimento advindos de profissionais que Fernando Sachetti Bomfim
possuam novas habilidades para liderança e Patrícia Garcia Costa
sobrevivência no mercado de trabalho. Renata Oliveira
De fato, a tecnologia e a comunicação Produção Audiovisual:
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Adriano Vieira Marques
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis.
Márcio Alexandre Júnior Lara
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Osmar da Conceição Calisto
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade,
capaz de formar cidadãos integrantes de uma Gestão de Produção:
sociedade justa, preparados para o mercado de Cristiane Alves
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA
E URBANISMO
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................4
1. A FORMA NOVA A PARTIR DA FORMA EXISTENTE...............................................................................................5
1.1 MÉTODO INOVATIVO................................................................................................................................................8
1.2 MÉTODO NORMATIVO........................................................................................................................................... 14
1.3 MÉTODO TIPOLÓGICO........................................................................................................................................... 15
1.4 MÉTODO MIMÉTICO.............................................................................................................................................. 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 18
WWW.UNINGA.BR 3
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
WWW.UNINGA.BR 4
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 5
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 2 – Villa Moissi, Lido (1923) – arquiteto Adolf Loos. Fonte: Atlas of Interiores (2014).
WWW.UNINGA.BR 6
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 7
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 8
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 9
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O edifício Larkin foi demolido em 1950. Desde 1939, a empresa que ocupava as
instalações projetada por Wright passava por dificuldades financeiras promovidas
pela Grande Depressão de 1929, no EUA. A empresa já havia vendido alguns dos
seus edifícios, mas em 1949 a edificação concebida por Wright foi vendida para
uma outra empresa que anunciou a demolição do prédio que aconteceu verdadei-
ramente em 1950, embora existissem protestos para a permanência do legado de
Wright. Como resgate a essa obra, o arquiteto espanhol David
Romero recriou em imagem 3d super-realista o projeto do Edifí-
cio Larkin. As imagens podem ser encontradas em: VALENCIA,
N. David Romero recria obras desaparecidas de Frank Lloyd
Wright em imagens realistas. ArchDaily Brasil, 2017. Disponível
em: https://www.archdaily.com.br/br/805679/david-romero-
-recria-obras-desaparecidas-de-frank-lloyd-wright-em-ima-
WWW.UNINGA.BR 10
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Nas palavras de Jorn Utzon, as cascas que formam a cobertura do edifício deveriam
parecer-se com as velas dos barcos que transitam pela baía de Sydney, local da implantação do
projeto. Essas velas na cor branca seriam o contraste com o mar azul. Neste sentido, a forma do
edifício buscou uma relação analógica com um artefacto não arquitetônico: a vela de um barco,
um navio. Observem que a edificação não parece um navio propriamente dito, ela apenas possui
uma referência visual com o objeto. Esse tipo de analogia quando trabalhada cuidadosamente
resulta em edificações escultóricas e alinhadas visualmente com o conceito do projeto.
WWW.UNINGA.BR 11
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Outro exemplo a ser considerado nesse tipo de analogia estrutural é o projeto do Centro
Carpenter de Le Corbusier. Neste projeto, do ano de 1961, o arquiteto explora formalmente a
composição do edifício como dois pulmões separados por uma rampa. Segundo Queiroz (2007),
o edifício do Carpenter Center será o primeiro projeto em que Le Corbusier promove a curva
como elemento de ruptura com a forma retangular e com a trama de pilares. A promoção da
curva resultou em um formato estrutural de uma parte do corpo humano que para o arquiteto
possuía um significado importante: os pulmões para a cidade representavam metaforicamente
um modelo de cidade que necessita respirar e circular livremente (CORBUSIER, 2000).
WWW.UNINGA.BR 12
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 6 – Casa Tigbourne Court, Surrey, Inglaterra 1899 – Arquiteto Edwin Lutyens. Fonte: Archinform (1994).
Figura 8 – Corte esquemático Casa Ville Savoye, Poissy, França 1928 – Arquiteto Le Corbusier. Fonte: Heyarqui
(2019).
WWW.UNINGA.BR 13
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Posto esse primeiro método de geração de forma por meio de processo analógico,
passamos à discussão do segundo método: o método normativo.
WWW.UNINGA.BR 14
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Cubo
• Pirâmide
• Paralelepípedo
• Cilindro
O método normativo, a partir do uso dos sistemas de normas estéticas aqui apresentados,
contribui para a configuração de uma arquitetura que busca uma ordem formal entre as partes
constituintes do edifício. Trabalhar com sistemas reguladores possibilita uma maior gerência e
concepção final da forma, uma vez que criam estratégias de regulamentação de espaços, a partir
da malha, sistemas de proporção e utilização de formas geométricas simplificadas.
Quando você começa a projetar, você inicia seu projeto pela forma do edifício ou
Para ilustrar a definição de tipo, pode-se pensar no tipo ‘casa-pátio’, que, grosso
modo, seria imaginado como um volume de qualquer forma, com um vazio em
seu interior, também de qualquer forma. O importante aqui é a relação entre o
volume e o vazio que ele contém, a qual pode tornar qualquer forma quando
materializada (MAHFUZ, 1984, p. 30).
WWW.UNINGA.BR 15
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 16
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 17
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo criativo que envolve a criação de formas na arquitetura pode ser classificado
por meio de diferentes métodos de abordagem, a partir da vinculação de analogias com a forma
arquitetônica. Com efeito, uma maneira possível de entender que as formas na arquitetura podem
e são criadas por meio das relações e composições de outras formas edilícias já existentes.
Os quatro métodos propostos por Mahfuz (1984) e apresentados nesta unidade
caracterizam caminhos que não podem ser tratados isoladamente, mas são complementares
diante das várias condicionantes que incidem no processo de projeto: como o entorno físico,
o meio social, a identidade cultural e a composição simbólica que formaliza a concepção da
arquitetura. De todo modo, em termos processuais, a forma de projetar envolve mais que um
dos caminhos formais propostos nesta unidade, ao mesmo tempo que direciona o projetar para
um campo de composição, relação e união destes métodos, mesmo que desvinculados de certas
WWW.UNINGA.BR 18
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA
E URBANISMO
COMPOSIÇÃO E CARÁTER
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................20
1. COMPOSIÇÃO........................................................................................................................................................... 21
1.1 RELAÇÕES ESTRUTURAIS MORFOLÓGICAS ....................................................................................................... 21
1.2 RELAÇÕES ESTRUTURAIS FUNCIONAIS.............................................................................................................25
2. CARÁTER...................................................................................................................................................................27
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................36
WWW.UNINGA.BR 19
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
WWW.UNINGA.BR 20
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. COMPOSIÇÃO
A composição de uma música nada mais é que a organização dos elementos definidores
de um determinado som: as notas musicais, a letra, o ritmo, os instrumentos, o timbre do
cantor, arranjos, harmonia etc. Todos esses elementos, quando juntos e organizados, resultam
em um artefato, neste exemplo, a música. Para uma exemplificação mais simples, observamos a
composição de uma mesa de refeição. É preciso organizar os elementos necessários para esta ação:
pratos, talheres e copos, por exemplo. Quando estes três elementos (ou mais) estão organizados,
podemos dizer que eles “compõem” a mesa. Em um sentido mais geral, o ato de compor é a
gerência de partes que conformam um determinado produto, no caso da arquitetura, o edifício e
o espaço urbano.
Edson Mahfuz define que “[...] a noção de composição sempre foi baseada no entendimento
que qualquer artefato arquitetônico é um todo constituído por partes” (MAHFUZ, 1995, p.52). Do
mesmo modo, compreende que as partes que formam o artefato validam-se por algum princípio
WWW.UNINGA.BR 21
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 22
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 2 – Maquete do projeto Convento das Irmãs Dominicanas (1965-1969) – Arquiteto Louis Kahn. Fonte: La
Mantia (s/d).
• Geométricas: São relações de organização das partes que configuram uma edificação
a partir de um ponto, uma linha, um sistema de coordenadas, ou a partir de um sólido
elementar.
WWW.UNINGA.BR 23
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por um ponto – De acordo com Mahfuz (1995), a organização das partes de uma
edificação, por meio de um ponto, configura uma centralidade e, deste modo, é uma
composição estável e concentrada. Em sua maior parte, são composições geradas
a partir de um elemento, volume ou espaço dominante. Existem, ao menos, três
modos de trabalhar essa organização: 1. Centralidade: onde existe um espaço central
dominante, sendo os demais espaços subordinados ao espaço central. 2. Pátio - átrio:
onde existe um espaço central livre, mas não dominante. 3. Radial: onde existe um
espaço central configurado por alas definindo espaços abertos entre elas.
Por uma linha - a organização das partes de uma edificação por meio de uma linha
configura um sentido de sucessão ou direção. A sucessão trabalha a configuração de
um eixo dominante, por sua vez, chamada de organização axial ou linear, enquanto
a direção é promovida por meio da organização em sequência dos espaços, chamada
de organização sequencial.
Por coordenadas – a organização das partes de uma edificação, por meio de um
sistema de coordenadas, tem como característica básica a repetição de direções e
WWW.UNINGA.BR 24
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Função prática.
• Função teórica.
• Função simbólica.
• Função estética.
WWW.UNINGA.BR 25
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Essas tipologias de funções possuem uma relação com o que Mukarovski chama de
componente dominante, que nada mais são do que o sujeito e o objeto. Veja o quadro a seguir:
WWW.UNINGA.BR 26
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Horizonte 03 – propósito social: quando o edifício e suas partes são determinadas pela
estrutura social à qual pertence o cliente e o arquiteto ─ questões econômicas, culturais,
sociais e simbólicas. Cada indivíduo se enquadra dentro de uma estrutura social e a
interação dessas estruturas direcionam a composição da obra arquitetônica.
• Horizonte 04 – propósito individual: quando o edifício e suas partes são determinadas
por um posicionamento individual, isto é, a arquitetura não é resultado dos horizontes
anteriores. Ela é resultado de princípios que quebram ou distorcem os padrões, as regras e
as normas que tenham sido estabelecidas pelos horizontes anteriores. Neste caso, a função
arquitetônica se materializa pela individualidade de expressão, concepção e comunicação
da obra diante da realidade.
Mahfuz (1995) aponta que esses quatro horizontes funcionais convivem em um
posicionamento hierárquico entre eles, e que a interação ─ ou para melhor dizer: a determinação
do uso determinante de um deles ─ sobressai em diferentes edifícios, épocas e lugares. Neste
sentido, cabe ao arquiteto o controle desses horizontes dentro do seu processo de concepção
arquitetônica.
2. CARÁTER
WWW.UNINGA.BR 27
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ao abordar o conceito de caráter, Mahfuz (1995) aponta uma série de questionamentos que
interligam a relação própria do arquiteto com sua obra e, consequentemente, com o seu método
de concepção. Do mesmo modo, o autor aponta para as possíveis análises que possamos fazer
sobre as diversas características impressas em projeto, que resultam em um edifício arquitetônico.
Vejamos a seguir o que ele questiona:
• Autor 01 – Norberg-Schulz: para este autor, o que define o caráter de um edifício é a sua
“atmosfera”. De acordo com ele, a existência de caráter arquitetônico se dá pela concepção
da forma e substância dos elementos constituidores do espaço. Neste contexto, o caráter
transpassa a ideia somente física da arquitetura e abre caminho para demais sensações
(sentidos) que possam contribuir para a criação da “atmosfera” de um determinado
espaço. Um autor que também irá tratar a noção de “atmosfera” na arquitetura é o arquiteto
Peter Zumthor. Em seu livro “Atmosferas”, Zumthor dialoga de forma despretensiosa
sobre nove atmosferas que ele busca trabalhar em suas obras, entre elas, estão o uso do
material, as relações do exterior com o interior, o som do espaço, a ideia de intimidade no
ambiente, entre outras.
WWW.UNINGA.BR 28
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Autor 02 – Jean Louis Nicolas Durand: para este autor, o que define o caráter de um
edifício é a sua distribuição, ou seja, ao arranjo dos espaços constituintes da edificação.
Em termos técnicos, parece uma íntima aproximação com a ideia de composição. Neste
caso, o caráter é resultado de um processo compositivo que caracteriza uma ordenação
evidente e particular para a obra arquitetônica.
WWW.UNINGA.BR 29
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 4 – Casa de praia Juquehy (1998) – arquiteto Álvaro Puntoni. Fonte: KON (2021).
WWW.UNINGA.BR 30
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 31
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 32
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 33
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 34
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 35
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
WWW.UNINGA.BR 36
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA
E URBANISMO
FORMA PERTINENTE:
O QUATERNO CONTEMPORÂNEO
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................38
1. AS CONDIÇÕES DA FORMA.....................................................................................................................................39
2. O QUATERNO CONTEMPORÂNEO.........................................................................................................................40
2.1 PROGRAMA ............................................................................................................................................................40
2.2 LUGAR.....................................................................................................................................................................43
2.3 CONSTRUÇÃO........................................................................................................................................................47
2.4 ESTRUTURAS FORMAIS........................................................................................................................................50
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................54
WWW.UNINGA.BR 37
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
WWW.UNINGA.BR 38
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. AS CONDIÇÕES DA FORMA
WWW.UNINGA.BR 39
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2. O QUATERNO CONTEMPORÂNEO
2.1 Programa
Toda arquitetura é concebida para o homem exercer uma função, seja trabalhar, circular,
morar ou recrear - funções essas atreladas especialmente à modernidade. A arquitetura é o espaço
de abrigo para o cumprimento das mais variadas funções e ações humanas. Podemos dizer que a
arquitetura é uma instituição concebida para o homem.
WWW.UNINGA.BR 40
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
É comum dizer que toda arquitetura nasce de um problema; da mesma forma, é possível
dizer que todo edifício se concebe a partir de uma necessidade. Em outras palavras, a arquitetura
é normalmente concebida por meio de uma utilidade específica ou através de um conjunto
de utilidades necessárias ao mundo. A forma de organizar espacialmente essas necessidades é
chamada na arquitetura de programa. Para Mahfuz (2004, p. 23), “[...] o programa é o maior
vínculo que um projeto mantém com a realidade”. Portanto, atender a essa realidade de abrigar
funções necessárias ao homem é o objetivo da arquitetura, e a maneira de articular essas
necessidades em um determinado espaço e edifício é o sentido do projeto arquitetônico.
Mahfuz (2004, p.23) diz que “[...] mais do que uma fria lista de espaços, um programa
arquitetônico deveria ser visto como uma relação de ações humanas que sugerem a construção
de situações elementares”. Nesse ponto, o autor nos leva para a reflexão de um procedimento
comum do início do projeto: a formatação dos espaços que irão compor a edificação. Nesse
contexto, é tarefa do arquiteto pensar o edifício a partir de uma lista de espaços a que geralmente
chamamos de “programa de necessidades”. Em uma estratégia de concepção habitual de projeto,
traçamos uma lista de ambientes que irão compor aquela edificação. Contudo, essa lista não
necessariamente deve ser pensada apenas como uma mostra quantitativa de espaços, mas ela deve
Programa Arquitetônico
Lista de programa de necessidades Propostas de ações determinantes
Sala Conversar; Descansar; Confraternizar; Assistir;
Ler; Reunir.
Cozinha Alimentar; Recrear; Cozinhar.
Quarto Descansar; Dormir; Relaxar; Cuidar-se.
Varanda Contemplar; Observar; Pausar; Conversar;
Recrear.
Escritório Trabalhar; Estudar; Reunir.
Quadro 1 – Quadro de contraponto para formatação de um programa arquitetônico. Fonte: O autor.
Quando pensamos o programa de necessidades a partir de ações humanas, as
possibilidades de concepção projetual podem gerar maiores novidades para o projeto. Imagine
que você está concebendo o programa de um edifício e detecta que a edificação está condicionada
a receber espaços para “reunir”. Ao pensar dessa forma, você pode conceber um espaço de
reunião ou vários espaços de reuniões. Esses espaços podem ser amplos para receber grupos de
pessoas; pequenos para trocas mais individuais; conectados com o ambiente externo; restritos ao
ambiente interno; podem ter uma grande mesa, uma bancada de trabalho ou podem ter apenas
poltronas organizadas de forma a promover uma conversa coletiva; pode ser um banco solto em
um jardim; pode até mesmo ser uma pérgula em um campo gramado. Veja bem: eu não pensei
em projetar uma sala ou um escritório que serviriam como ambientes comuns e normalizados
para se realizarem reuniões, mas eu pensei no espaço em si, que, no decorrer do processo de
projeto, talvez não teria nem a configuração clássica de uma sala ou um office.
WWW.UNINGA.BR 41
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 42
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2.2 Lugar
A relação com o lugar é fundamental para a arquitetura; pode-se dizer com
certeza que nenhum projeto de qualidade pode ser indiferente ao seu entorno. Se,
por um lado, a arquitetura é sempre construída em um lugar, por outro lado, ela
constrói esse lugar, isto é, modifica a situação existente em maior ou menor grau
(MAHFUZ, 2004, p. 24).
WWW.UNINGA.BR 43
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A rua Lindo Vale está localizada na cidade do Porto, próxima ao centro histórico e em
uma área de intensa vida urbana. A rua é composta por 135 lotes, sendo que todos, à exceção de
duas parcelas, são ocupados por edifícios das mais variadas atividades, mas predominantemente
residenciais. Alguns dos terrenos dessa rua possuem duas frentes: uma frente para a Rua do Lindo
Vale e a outra para a Rua Costa Cabral. A largura dos lotes varia entre 4 e 21 m, e a sua profundidade
varia entre 7 e 56 m. A regularidade da rua, com o passar do tempo, tornou-se variável, com
edifícios de alturas entre um e quatro andares, o que faz com que o perfil transversal da rua
seja também inconstante. Todos os edifícios ao longo da via seguem os mesmos alinhamentos
prediais (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2016).
A casa Lindo Vale foi projetada para um lote com 5 m de largura e 45 m de comprimento
(Figura 3). Segundo Oliveira e Monteiro (2016, p. 11), em um “[...] lote extremamente estreito e
comprido que levanta todo um conjunto de constrangimentos espaciais”.
WWW.UNINGA.BR 44
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Em termos formais, a casa foi projetada mantendo a atual relação entre os edifícios e
a rua. A casa segue o alinhamento das fachadas dos edifícios próximos, assim como a altura
da maioria das edificações. O volume total da residência também segue a forma de um tipo
habitacional típico da rua: dois setores iluminados e ventilados nos dois extremos da casa e
um terceiro setor não iluminado e ventilado, localizado no interior da edificação. Esse tipo de
organização volumétrica é comum nas habitações unifamiliares dos séculos XIX e XX da cidade
do Porto (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2016). Quanto à linguagem formal do projeto, as relações
com o entorno são circunstanciais ao projeto. A estética formal adotada pelos arquitetos tende
- Se os arquitetos optassem por realizar uma - Os arquitetos optam por não realizar uma forma
relação expositiva direta com o terreno, a que segue o formato do terreno, mas uma forma
casa seria linear e estreita, obedecendo ao que segue a tipologia das casas existentes no bairro
mesmo formato do lote. desde o século XIX. Essa tipologia define uma casa
mais concentrada na frente do lote, deixando um
extenso jardim nos fundos.
- Se os arquitetos optassem por realizar uma - Os arquitetos optam por seguir as circunstancias
relação expositiva direta com a forma das que moldaram as casas na rua ao longo dos
edificações do entorno, a casa poderia ser de últimos dois séculos. A casa de 3 pavimentos com
1, 2, 3 ou 4 pavimentos, conforme as mais dois setores iluminados nos extremos e um setor
variadas edificações existentes na rua. Em no miolo da residência. Esse é o formato da casa
relação aos recuos, a casa segue um relação típica da rua ao longo da história. Nesse sentido,
expositiva direta, onde todos os edifícios são os arquitetos seguiram uma relação circunstancial
alinhados com a calçada e as laterais do com a forma dos edifícios do entorno, e não a
muro. cópia direta de uma edificação vizinha.
WWW.UNINGA.BR 45
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Se os arquitetos optassem por realizar uma - Os arquitetos optam por seguir as relações
relação expositiva direta com a linguagem circunstanciais entre o lugar e o espírito do
das edificações do entorno, a casa seria uma seu tempo, ou seja, os tempos atuais da casa, o
típica casa do século XIX, com várias janelas século XXI. Existe uma interpretação estética e
setorizadas e regulares na fachada, sacadas espacial que modifica a janela estreita e pequena
ornamentadas, revestimentos da época, do entorno para uma janela ampla e aberta da
molduras nas aberturas, detalhes gráficos atualidade. A materialidade da casa reforça a
em elementos decorativos. propriedade do revestimento, mas opta pela cor
branca relativa à linguagem contemporânea
utilizada. Os detalhes ornamentados do entorno
dão lugar à simplicidade da composição das linhas
retas, que determinam a estética da fachada da
casa.
Por esses três pontos (formato do terreno, forma dos edifícios do entorno e linguagem
formal), podemos verificar as diferenças de posicionamento se os arquitetos tivessem alimentado
uma relação direta com o lugar em vez de estabelecer uma aproximação circunstancial com as
características desse mesmo lugar. A análise da rua demonstrou um resultado formal do projeto.
Ela definiu a implantação da residência no lote, o formato volumétrico e também estratégias
de concepção da linguagem da casa, que invertem as características do entorno sem retirarem
a essência dos elementos que sempre apareceram na formação estética da rua: as janelas e os
materiais símbolos do seu tempo. Essa análise vai ao encontro da fala do professor Edson Mahfuz
(2006), ao dizer que a atenção ao lugar deve ter como resultado a sugestão de uma estrutura visual
para o projeto, porém, de forma autônoma e não imitada. A residência Lindo Vale possui uma
identidade própria, com o reconhecimento das percepções lidas pelos arquitetos a respeito do
lugar.
Mahfuz também diz que uma das consequências negativas de fundamentar o projeto em
relações literais e diretas com o seu entorno é a desvalorização da sua qualidade de objeto e a perda
do papel ativo que essa arquitetura pode desempenhar na própria constituição e modificação
do lugar e da cidade. Se copiamos diretamente o que existe no entorno, a cidade vira órfã do
progresso arquitetônico.
WWW.UNINGA.BR 46
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Para conhecer melhor o projeto da Casa Lindo Vale, é possível consultar o site
dos arquitetos. Lá, eles irão expor as mais diversas publicações que já foram
realizadas sobre a casa, além de permitirem o download de um livro digital
exclusivo sobre os aspectos históricos, formais e construtivos da residência. A
casa é objeto de estudo a respeito das transformações morfológicas da rua, ou
seja, pesquisas que analisam a mudança da forma de algum espaço ou edifício ao
longo da história. Esses estudos se debruçam desde as concepções formais até
os aspectos legislativos, que também moldam e limitam as estratégias de projeto,
sobretudo quando se trata de áreas históricas em cidades muito antigas, como é
o caso da casa Lindo Vale.
Vitor Oliveira já esteve várias vezes no Brasil participando de eventos
destinados à pesquisa morfológica, principalmente nos congressos
PNUM, da Rede Lusófona de Morfologia Urbana. Inclusive, um
2.3 Construção
A parte construtiva, seus sistemas e elementos devem ser vistos como propriedades
legítimas de conceber a forma de um projeto, e não meramente como possíveis solucionadores
técnicos de problemas arquitetônicos. Pilares, vigas, pórticos, treliças e materiais são elementos
integrantes da arquitetura e podem ser atribuídos ao projeto em seu estágio inicial de concepção
formal. “A importância da construção para sua arquitetura pode ser medida pela afirmação de
que não há concepção sem consciência construtiva” (MAHFUZ, 2004, p. 24). Para o autor, é essa
consciência que separa a arquitetura da pura geometria e até mesmo daquela arquitetura que
não assume os elementos estruturais como parte de sua concepção. É a partir do entendimento e
aplicabilidade de uma estrutura que a geometria formal de um projeto se concebe e possivelmente
também se torna visível.
A estrutura física e a estrutura visual de um edifício possuem estreitas relações. Você deve
concordar que o desenvolvimento de um projeto consiste no ajuste constante entre a estrutura
portante, aquela que sustenta a edificação, e o aspecto visual da obra. Quando esses ajustes
possuem contato desde o início do projeto, o resultado tende a seguir de forma complementar.
É possível dizer que a estrutura formal do edifício coincide com a parte estrutural da edificação.
Nesse sentido, a estrutura pode desempenhar na arquitetura uma função tanto estética quanto
de organização espacial. A estrutura passa a ser uma disciplina que irá orientar todo o processo
de projeto.
O Pavilhão de Aulas da Universidade de Alicante, na Espanha, projetado pelo arquiteto
Javier Garcia-Solera, é um exemplo um tanto peculiar, mas bem sugestivo para demonstrar como
a estrutura da edificação pode ser uma disciplina para a concepção compositiva da forma de uma
edificação.
WWW.UNINGA.BR 47
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 4 – Axonométrica da planta do Bloco de Aulas da Universidade de Alicante. Fonte: Aguirre (2015). FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA E URBANISMO | UNIDADE 3
WWW.UNINGA.BR 48
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 5 – Ordem estrutural das fundações existentes no terreno para o projeto do bloco de aulas da Universidade
Figura 6 – Organização formal do Bloco de Aulas da Universidade de Alicante. Fonte: Aguirre (2015).
O projeto de Javier foi composto por sete blocos obedecendo às dimensões e sentidos
das fundações já existentes. Portanto, a forma do edifício foi resultado da preconcepção de uma
ordem estrutural e construtiva, que passou a ser trabalhada pelas decisões tomadas pelo arquiteto.
Uma das decisões foi a separação desses blocos de aula por pátios lineares. A ligação entre eles
se deu por meio de pontes metálicas que conformaram o sistema de circulação linear por toda
a extensão do edifício. Cada um dos sete blocos é composto por um sistema de paredes e lajes
de concreto, que são apoiadas diretamente na trama das fundações que já existiam no terreno. A
materialidade também segue a escolha de revestimentos compatíveis com o orçamento e o tempo
de execução da obra.
WWW.UNINGA.BR 49
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Até o momento, vimos três fundamentos que, quando utilizados no processo compositivo
da obra arquitetônica por meio dos termos que lhe foram apresentados nesta unidade, podem
gerar o caminho para o resultado de uma forma mais pertinente ao lugar, ao programa e aos
aspectos construtivos. Esses fundamentos colocam a arquitetura em um campo de análise e
observação, apontando o arquiteto como o observador primário desses fundamentos. A síntese
da forma está em explorar esses fundamentos, mas, para se chegar a essa síntese, é necessário,
segundo Mahfuz, um quarto fundamento, o qual ele chama de “estrutura formal”.
WWW.UNINGA.BR 50
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A construção formal pode ser definida com mais precisão como o procedimento
por meio do qual se obtém a síntese dos vários subsistemas que compõem uma
obra de arquitetura, em uma estrutura formal que possua identidade, sentido
e consistência. Se trata de um procedimento que vai armando a forma como
se tratasse de um quebra-cabeças, passo a passo, num processo de tentativa e
erro, ao invés de adotá-la como uma totalidade importada de outra situação
(MAHFUZ, 2004, p. 81-82).
Figura 7 – Projeto da Residência para as duas filhas de Lúcio Costa. Fonte: Cheregati (2007).
WWW.UNINGA.BR 51
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Exemplo 3: Projeto da Residência Heitor Almeida, feito pelo arquiteto João Batista
Vilanova Artigas.
Frase que define a estrutura formal do projeto: edifício em forma de barra, composto
por dois blocos retangulares paralelos, ligados por uma circulação em rampa e uma
pérgula, que gera um pátio central.
Figura 9 – Estrutura formal do projeto da Residência Heitor Almeida, feita pelo arquiteto João Batista Vilanova
Artigas. Fonte: Cheregati (2007).
WWW.UNINGA.BR 52
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 53
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
WWW.UNINGA.BR 54
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA
E URBANISMO
CATEGORIAS ESPACIAIS
PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................56
1. CATEGORIAS ESPACIAIS.........................................................................................................................................57
1.1 CATEGORIA 01 – O ESPAÇO PRÉ-MODERNO: A PLANTA COMPARTIMENTADA..............................................57
1.2 CATEGORIA 02 – O ESPAÇO WRIGHTIANO: A PLANTA ABERTA.......................................................................62
1.3 CATEGORIA 03 – O ESPAÇO NEO-PLÁSTICO: A PLANTA TRANSFORMÁVEL..................................................65
1.4 CATEGORIA 04 – O ESPAÇO RAUNPLAM: A PLANTA ESPACIAL......................................................................68
1.5 CATEGORIA 05 – O ESPAÇO LIVRE 01: A PLANTA LIVRE..................................................................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................74
WWW.UNINGA.BR 55
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
...o lugar é o espaço ocupado, ou seja, habitado, uma vez que uma de suas
definições sugere sentido de povoado, região e país. O termo habitado, de habitar,
neste contexto, acrescenta à ideia de espaço um novo elemento, o homem. O espaço
ganha significado e valor em razão da simples presença do homem, seja para
acomodá-lo fisicamente, como o seu lar, seja para servir como palco para as suas
atividades (REIS-ALVES, 2007).
A citação anterior precisa ser lida com atenção. Ela traz um esclarecimento vital para
um arquiteto e urbanista: a responsabilidade de construir lugares é a de edificar o espaço
que será ocupado e habitado pelo homem, tornando-o não apenas um simples recinto, mas o
configurando como um lugar. Essa noção espacial diz muito sobre a habilidade a ser desenvolvida
pela arquitetura e pelo urbanismo, a de propiciar acomodação física para o homem (a ideia do
WWW.UNINGA.BR 56
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. CATEGORIAS ESPACIAIS
Categorias espaciais
Categoria Representantes
1. Espaço pré-moderno Arquiteto Andrea Palladio
WWW.UNINGA.BR 57
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Como visto, Palladio se debruça sobre a arquitetura clássica para construir seu tratado e,
nesse sentido, aborda um fundamento constante em sua escrita: a noção da beleza na arquitetura.
“Para Palladio, os edifícios teriam que ser dotados de beleza, porque precisam ser como corpos
completos e bem definidos, nos quais todos os membros possuem uma relação entre si” (STUMPP,
2013, p. 69). Assim como Alberti e Vitruvius, Palladio faz uma analogia entre o corpo humano e
a arquitetura, sendo a correspondência entre eles a construção da ideia da beleza arquitetônica.
WWW.UNINGA.BR 58
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Monika Stumpp, em sua pesquisa sobre as obras de Palladio, comenta que existem claras
evidências dessa configuração simétrica como fundamento da bela arquitetura (STUMPP, 2013).
No primeiro livro, quando o arquiteto aborda a compartimentação dos espaços internos da
edificação, ele direciona a ideia de que os ambientes de um edifício deveriam estar distribuídos
nas laterais de um espaço central, de modo que os da direita fossem correspondentes com os
ambientes da esquerda. Assim, a composição seria a mesma entre uma e outra parte. Stumpp
(2013, p. 71) também sinaliza que o mesmo critério de organização simétrica dos espaços deveria
ser realizado na distribuição das janelas: “as janelas da esquerda deveriam corresponder às da
direita, e as superiores, às inferiores”.
Mas Palladio vai além do critério simétrico para a organização do espaço arquitetônico.
Ele também define as dimensões dos espaços a partir de métodos calculáveis, assim como define
quais poderiam ser os tipos de cobertura. Vamos nos concentrar no Quadro 3 para o entendimento
dessas definições.
• Método 02 (c=L+L/3)
Dimensionamento do compri-
• Método 03 (c=L+L/2)
mento dos espaços
• Método 04 (c=L+2L/3)
• Método 05 (c=2L)
• Método 01 (H=(L+c) /2)
Dimensionamento do pé-direito
• Método 02 (H=√L.c)
dos espaços
• Método 03 (H=(L.c) / (L+c) /2)
• Forros planos
Tipos de teto
• Forros abobadados
• Tipo 01 – abóbada aresta
WWW.UNINGA.BR 59
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O Quadro 3 mostra como a arquitetura do século XVI deveria ser realizada. Normalmente,
seguindo caminhos padronizados com as dimensões dos espaços definidas por métodos,
cálculos proporcionais e tipos de coberturas aconselháveis. Palladio, através do seu tratado e da
sua própria prática arquitetônica, irá disseminar fortemente esses princípios. Segundo Mahfuz
(2008), a convergência e ressonâncias desse ideário resultaram no que poderia ser categorizado
como espaço pré-moderno. Para ele, são espaços com características bem definidas, como:
Figura 1 – Villa Rotonda. Arquiteto Andrea Palladio (1567-1592). Fonte: ArchEyes (2020).
WWW.UNINGA.BR 60
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Fundamentos Análise
• A residência foi projetada por um único volume
cúbico que configura quatro fachadas iguais, cada
Forma regular uma com um pórtico saliente.
• A organização dos espaços internos se dá por
espaço central: o salão circular com uma cúpula.
• Os espaços são independentes e não possuem
relações entre si.
Forma autossuficiente
• Todos os espaços estão inseridos dentro do volume
cúbico – a forma única.
• A circulação entre os espaços não gera movimento,
não existe fluidez ao caminhar pelo edifício. Cada
Forma estanque
espaço se estabelece como um ponto de parada, e
não de transição.
WWW.UNINGA.BR 61
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
• Redução das paredes: os espaços são gerados a partir de poucos elementos de vedação,
sejam eles internos ou externos. Essa redução deve considerar somente a questão mínima
estrutural do edifício.
WWW.UNINGA.BR 62
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 3 – Casa Darwin Martin. Arquiteto Frank Lloyd Wright (1903-1905). Fonte: ARCH162 (2018).
WWW.UNINGA.BR 63
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 64
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A terceira categoria espacial tem seu surgimento com a própria arquitetura de Wright,
por se tratar de uma arquitetura anticúbica, resultante da articulação de planos (MAHFUZ,
2008). No espaço wrightiano, foi possível perceber a desconstrução do cubo e o espraiamento dos
espaços pelo terreno, até mesmo configurando uma circulação mais diagonal e alongada do que
reta e concisa. No espaço neoplástico, os planos (paredes, muros, coberturas, pisos…) passam
WWW.UNINGA.BR 65
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 6 – Planta e imagem interior da Casa Schroder. Arquiteto Gerrit Rietveld (1924). Fonte: ArchDaily (2021).
WWW.UNINGA.BR 66
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O exemplo anterior deixa clara a composição dos espaços, que passam a ter uma
manipulação geométrica dos seus planos a fim de configurar ambientes ora integrados ora mais
restritos. O Quadro 6 traz uma síntese de análise do projeto.
Quadro 6 – Análise da categoria espacial da Casa Schroeder, do arquiteto Gerrit Rietveld. Fonte: O autor.
WWW.UNINGA.BR 67
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 68
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 8 – Corte da Casa Muller. Arquiteto Adolf Loos (1928-1930). Fonte: Woodring (2014).
WWW.UNINGA.BR 69
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Quadro 7 – Análise da categoria espacial da Casa Muller, do arquiteto Adolf Loos. Fonte: O autor.
Adolf Loos, através dos seus projetos, traz um caráter inovador para a configuração dos
espaços internos de uma edificação. As plantas ganham dinamismo e movimento. Os espaços são
concebidos pelo arquiteto através da manipulação do plano de piso e do plano de cobertura em
diferentes níveis. A ideia não é configurar um espaço labiríntico, mas ordenar a espacialidade do
edifício por meio de delimitações que não são barreiras rígidas. Esse dinamismo de configuração
espacial é escondido por uma forma geométrica elementar que determina o corpo da edificação.
O edifício visto de fora revela um certo movimento existente na configuração dos seus espaços
internos.
Podemos dizer que a proposta desses espaços sinaliza uma sequência de ambientes
que emitem mais surpresas do que tradição. A organização espacial, o modo de circular e a
integração entre os ambientes tornam-se resultados de manipulações formais, que conduzem
uma configuração ritmada e integrada entre os espaços.
WWW.UNINGA.BR 70
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A síntese do movimento modernista, tanto nas artes quanto na arquitetura, revelava uma
rejeição ao tradicional, ao arcaico, às coisas do passado e propunha uma nova estética ao se opor
aos padrões da época. A sociedade cada vez mais desigual e o advento da revolução industrial e
tecnológica apontavam para um horizonte de inovação, e não de tradição. Para os modernos, essa
inovação se daria pelo uso racional dos materiais, das tecnologias e dos espaços.
Ao que nos interessa nesta unidade (o aprendizado sobre a configuração dos espaços),
temos a ideia de “planta livre”. Esse termo é proposto pelo arquiteto Le Corbusier, em 1926,
quando ele formula os cinco pontos que seriam os fundamentos e diretrizes essenciais para a
arquitetura moderna. São eles: o pilotis, a fachada livre, o terraço jardim, as janelas em fita e a
planta livre.
A ideia de planta livre nada mais é que a independência entre a estrutura e a vedação.
Nesse sentido, os espaços internos da edificação se integram diretamente e tornam-se mais
flexíveis, proporcionando ao arquiteto liberdade para projetar os espaços internos, sem barreiras
estruturais. Podemos dizer que a ideia de planta livre é um avanço do sistema estrutural Dom-
ino, proposto também por Le Corbusier. Em sua essência, esse sistema é “[...] constituído por
uma malha homogênea de pilares e lajes superpostas, o que possibilita a independência entre
Figura 9 – Villa Savoye. Arquiteto Le Corbusier (1928-1931). Fonte: GudKova e Gudkov (2017).
WWW.UNINGA.BR 71
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 10 – Plantas da Villa Savoye. Arquiteto Le Corbusier (1928-1931). Fonte: Daudén (2020).
Com efeito, uma proposta arquitetônica que alterou os padrões da época ao imprimir
uma arquitetura sem ornamentos e objetiva. Veja o que a arquiteta Julia Daudén analisa sobre a
obra:
WWW.UNINGA.BR 72
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 73
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
WWW.UNINGA.BR 74
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
AGUIRRE, J. Aulario III de la Universidad de Alicante (1998 - 2000), Javier García -Solera Vera
Análisis de proyecto arquitectónico. Estoa, v. 5, n. 8, 2015. Disponível em: https://publicaciones.
ucuenca.edu.ec/ojs/index.php/estoa/issue/view/90. Acesso em: 13 out. 2021.
ARCHDAILY. Clássicos da Arquitetura, ópera de Sidney/ Jorn Utzon. Escrito por Adelyn
Perez. Tradução de Eduardo Souza. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/784303/
classicos-da-arquitetura-pera-de-sydney-jorn-utzon. Acesso em: 26 jun. 2021.
ARCHDAILY. Clássicos da Arquitetura, ópera de Sidney/ Jorn Utzon. Escrito por Adelyn
Perez. Tradução de Eduardo Souza. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/784303/
classicos-da-arquitetura-pera-de-sydney-jorn-utzon. Acesso em: 26 jun. 2021.
ARCHEYES. Casa Ville Savoye, Poissy, França 1928 – Arquiteto Le Corbusier, 2020. Disponível
em: https://archeyes.com/the-villa-savoye-le-corbusier/. Acesso em: 24 jan. 2021.
ARCHEYES. Casa Ville Savoye, Poissy, França 1928 – Arquiteto Le Corbusier, 2020. Disponível
em: https://archeyes.com/the-villa-savoye-le-corbusier/. Acesso em: 24 jan. 2021.
WWW.UNINGA.BR 75
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
ARCHEYES. Villa Capra La Rotonda / Andrea Palladio. 2020. Disponível em: https://archeyes.
com/villa-capra-la-rotonda-andrea-palladio/. Acesso em: 5 nov. 2021.
ARCHIDAILY. Casa Muller. Arquiteto Adolf Loos (1928-1930). 2016. Disponível em: https://
www.archdaily.com.br/br/758902/em-foco-adolf-loos?ad_medium=gallery. Acesso em: 8 nov.
2021.
ARCHIDAILY. Planta e imagem interior da casa Schroder. Arquiteto Gerrit Rietveld (1924).
2021. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/429812358172024277/. Acesso em: 5 nov.
2021.
ARCHINFORM. Casa Tigbourne Court, Surrey, Inglaterra 1899 – Arquiteto Edwin Lutyens.
1994. Disponível em: https://www.archinform.net/projekte/6823.htm. Acesso em: 24 jan. 2021.
ARCHINFORM. Casa Tigbourne Court, Surrey, Inglaterra 1899 – Arquiteto Edwin Lutyens.
1994. Disponível em: https://www.archinform.net/projekte/6823.htm. Acesso em: 24 jan. 2021.
ARE.NA. Planta do projeto Convento das Irmãs Dominicanas (1965-1969) – Arquiteto Louis
Kahn. 2017. Disponível em: https://www.are.na/block/909160. Acesso em: 5 jul. 2021.
ARE.NA. Planta do projeto Convento das Irmãs Dominicanas (1965-1969) – Arquiteto Louis
Kahn. 2017. Disponível em: https://www.are.na/block/909160. Acesso em: 5 jul. 2021.
ARGAN, G. C. Sobre a tipologia em arquitetura. In: NESBITT, K. Uma nova agenda para a
arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac & Naify, 2008.
ARGAN, G. C. Sobre a tipologia em arquitetura. In: NESBITT, K. Uma nova agenda para a
arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac & Naify, 2008.
ATLAS OF INTERIORS. Villa Moissi, Lido (1923) – arquiteto Adolf Loos, 2014. Disponível
em: http://www.atlasofinteriors.polimi.it/2014/03/20/adolf-loos-villa-moissi-venice-italy-1923/.
Acesso em: 21 jan. 2021.
ATLAS OF INTERIORS. Villa Moissi, Lido (1923) – arquiteto Adolf Loos, 2014. Disponível
em: http://www.atlasofinteriors.polimi.it/2014/03/20/adolf-loos-villa-moissi-venice-italy-1923/.
Acesso em: 21 jan. 2021.
WWW.UNINGA.BR 76
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, R. M. Tipo e caráter no discurso da arquitetura. Revista do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, n° 37, v.22, p. 20-33, 2015. Disponível
em: https://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/102175. Acesso em: 20 jun.2021.
GUDKOVA, T. V.; GUDKOV, A. A. Spatial Modernist Architectural Artistic Concepts. IOP Conf.
Series: Materials Science and Engineering, v. 262, 2017. Disponível em: https://iopscience.iop.
org/article/10.1088/1757-899X/262/1/012152. Acesso em: 8 nov. 2021.
HEYARQUI. Corte Casa Ville Savoye, Poissy, França 1928 – Arquiteto Le Corbusier, 2019.
Disponível em: https://www.heyarqui.com/villa-savoye/. Acesso em: 24 jan. 2021.
HEYARQUI. Corte Casa Ville Savoye, Poissy, França 1928 – Arquiteto Le Corbusier, 2019.
Disponível em: https://www.heyarqui.com/villa-savoye/. Acesso em: 24 jan. 2021.
ID 161. Edifício Larkin (1904) – arquiteto: Frank Lloyd Wright. Disponível em: https://
objectspacebuildingplace.wordpress.com/2015/08/18/larkin-building/. Acesso em: 17 jan. 2021.
ID 161. Edifício Larkin (1904) – arquiteto: Frank Lloyd Wright. Disponível em: https://
objectspacebuildingplace.wordpress.com/2015/08/18/larkin-building/. Acesso em: 17 jan. 2021.
KIM, N.H. A study on Le Corbusier’s Carpenter Center for the Visual Arts: Focused on
Experience os Architectural Promenade. Architectural Research, v.14, p. 67-73, 2012.
WWW.UNINGA.BR 77
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
KIM, N.H. A study on Le Corbusier’s Carpenter Center for the Visual Arts: Focused on
Experience os Architectural Promenade. Architectural Research, v.14, p. 67-73, 2012.
KON, N. Casa de praia Juquehy (1998) – arquiteto Alvaro Puntoni, s/d. Disponível em: http://
www.nelsonkon.com.br/en/casa-no-sertao-de-juquehy/. Acesso em: 06 jun 2021.
KON, N. Casa de praia Juquehy (1998) – arquiteto Alvaro Puntoni, s/d. Disponível em: http://
www.nelsonkon.com.br/en/casa-no-sertao-de-juquehy/. Acesso em: 06 jun 2021.
KON, N. Casa Paulo Mendes da Rocha (1960) – arquiteto Paulo Mendes da Rocha, s/d. Disponível
em: http://www.nelsonkon.com.br/en/casa-paulo-mendes-da-rocha/. Acesso em: 6 jun 2021.
KON, N. Casa Paulo Mendes da Rocha (1960) – arquiteto Paulo Mendes da Rocha, s/d. Disponível
em: http://www.nelsonkon.com.br/en/casa-paulo-mendes-da-rocha/. Acesso em: 6 jun 2021.
KON, N. Parque Guinle (1920) – arquiteto Lucio Costa s/d. Disponível em: http://www.
nelsonkon.com.br/en/parque-guinle/. Acesso em: 6 jun. 2021.
KON, N. Parque Guinle (1920) – arquiteto Lucio Costa s/d. Disponível em: http://www.
nelsonkon.com.br/en/parque-guinle/. Acesso em: 6 jun. 2021.
WWW.UNINGA.BR 78
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
MAHFUZ, E. Nada provém do nada: a produção da arquitetura vista como transformação de
conhecimento. Revista Projeto, São Paulo, n.69, p. 89-95, 1984.
MAHFUZ, E. Retângulos paralelos – uma estratégia fértil. Vitruvius, n. 219.02, 2019. Disponível
em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/19.219/7292. Acesso em: 13 out. 2021.
OLIVEIRA, V.; MONTEIRO, A. C. Casa Lindo Vale. Portugal: Urban Forms, 2016.
PINTEREST. Casa Schroder. Arquiteto Gerrit Rietveld (1924). 2021. Disponível em: https://
br.pinterest.com/pin/429812358172024277/. Acesso em: 5 nov. 2021.
SILVETTI, M. Casa em Tunísia (1963) – arquiteto Jorge Silvetti, sem data. Disponível em: http://
www.machado-silvetti.com/. Acesso em: 12 jan. 2021.
WWW.UNINGA.BR 79
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
SILVETTI, M. Casa em Tunísia (1963) – arquiteto Jorge Silvetti, sem data. Disponível em: http://
www.machado-silvetti.com/. Acesso em: 12 jan. 2021.
WOODRING, J. Corte da Casa Muller. Arquiteto Adolf Loos (1928-1930). 2014. Disponível
em: https://www.behance.net/gallery/15467339/Case-Study-Villa-Muller-(InkMylar). Acesso
em: 8 nov. 2021.
WWW.UNINGA.BR 80