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Urbanismo
Gordon Cullen
Paisagem Urbana
EèihsmjShóa
Introdução ............................................................................................................................................. 9
Introdução à Edição de 1971 15
DEFINIÇÕES
Visão serial ........................................................................................................................................... 19
Local ...................................................................................................................................................... 23
Conteúdo ................................................................................................................................................ 59
A tradição funcionalista ..................................................................................................................... 89
APLICAÇÕES
Pracetas para todos os gostos ............................................................................................................ 99
105
Delimitação ........... 108
Linhas de força . . . 113
Pés e Pneus ........... 123
Restrições ................ 125
O Pavimento ......... 130
Desurbanismo 134
A «regra geral» . . . 142
Iluminação pública 146
Publicidade de rua . 153
A parede .................. 157
O clima inglês 164
Precedentes ilustres 166
Integração da árvore 170
177
Aqui e Além ......................................................................................................................................... 184
Imediaticidade ....................................................................................................................................... 191
Posfácio .................................................................................................................................................. 195
índice Remissivo .................................................................................................................................. 199
Do projeto ao edifício, do habitat ao espaço envolvente,
do campo à cidade, do funcional à vanguarda, do piroso ao estético,
da utopia à realidade — o campo de análise é im enso.
A razão de ser desta coleção reside na abordagem ,
sob os ângulos mais diversos, das questões fundam entais
da arquitetura e do urbanism o. M as isso não im plica,
naturalm ente, a exclusão de estudos referentes
a outras épocas, sobretudo quando eles contribuem
para m elhor com preenderm os a nossa.
& Arquitetura
Urbanismo
A publicar:
Formas Urbanas de Jean Castex, Jean-Charles Depaule e Philippe Panerai
Paisagem Urbana
Gordon Cullen
Paisagem Urbana
tfJUaitinsJinitpsMmjEH*.
Título original: Townscape
® Architectural Press, 1971
Tradução de Isabel Correia e de Carlos de Macedo a partir da edição de 1983
Revisão de Carlos de Macedo
Capa de Fernando Camilo
Direitos reservados para todos os países
de Língua portuguesa por EDIÇÕES 70
LIVRARIA MARTINS FONTES
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 — São Paulo
IN T R O D U Ç Ã O
com que pareça mais real e maior: em lugar de um tem plo grande aparecerá
com o um tem plo m onum ental. A diferença de significado entre grandeza e
m onum entalidade dá-nos a m edida desta correlação.
Existe, sem dúvida algum a, um a a r t e d o r e l a c i o n a m e n t o , tal com o existe uma
arte arquitectónica. O seu objectivo é a reunião dos elem entos que concorrem
para a criação de um am biente, desde os edifícios aos anúncios e ao tráfego,
passando pelas árvores, pela água, por toda a natureza, enfim , e entretecendo
esses elem entos de m aneira a despertarem em oção ou interesse. Um a cidade é
antes do mais uma ocorrência em ocionante no m eio-am biente. Senão, atente-se
na pesquisa e nos esforços dispendidos para a tom arem um a realidade: ]
contingentes de dem ógrafos, sociólogos, engenheiros, peritos de tráfego, etc., |
em penhados no concerto de uma infinidade de factores que possibilite a criação
de uma organização funcional, viável e saudável. É um trem endo em preendi
mento humano!
Porém , se ao cabo de todo esse esforço a cidade se apresenta m onótona,
incaracterística ou am orfa, ela não cum pre a sua missão. É um fracasso. É como
em pilhar lenha para uma fogueira e esquecer de lhe deitar fogo.
Prim eiro que tudo há que afastar a ideia de que a em oção e a anim ação que
procuram os nas cidades surgem autom aticam ente das soluções científicas
fornecidas pelos hom ens da Técnica (ou a parte técnica do cérebro). A ceitam -se,
naturalm ente, essas soluções, mas sem perm itir que actuem com o vínculo.
A liás, nem isso seria possível, já que qualquer solução científica se baseia no
aproveitam ento óptimo de factores médios: há m édias de com portam ento
hum ano, m édias clim atéricas, de segurança, etc., seu carácter flutuante, não
poderão nunca fornecer soluções taxativas — tanto podem ser acom odatícias
como antagónicas.
Pode portanto concluir-se que de entre várias soluções científicas preconizá
veis para uma cidade se pode adoptar indiferentem ente qualquer um a com igual
êxito: é aqui que reside a cham ada flexibilidade da solução científica, e é
precisam ente no modo c o m o é u t i l i z a d a e s s a f l e x i b i l i d a d e que entronca a arte do
relacionam ento. Com o adiante se verá, não se pretende ditar um a form a para o
aglom erado urbano ou o m eio-am biente. Apenas se deseja descobrir m eios que
perm itam m a n o b r a r d e n t r o d o s l i m i t e s d e t o l e r â n c i a . O que significa que há que
procurar mais além do cam po estritam ente científico, novos valores e novos
critérios.
Atente-se prim eiro no sentido da vista, pois é quase inteiram ente através dele
que apreendem os o que nos rodeia. Quando abrim os a porta a alguém , não é raro
que deixem os entrar para além do visitante, uma rabanada de vento que faz
esvoaçar tudo e causa um reboliço geral.
Em certa m edida, é o que se passa com a visão: quando olham os para uma
coisa vemos por acréscim o um a quantidade de outras coisas. Se olham os para o
relógio para ver as horas não podem os deixar de reparar no papel de parede, na
talha de mogno da m oldura, na m osca que se passeia pelo vidro, e nos ponteiros
em ponta de florete. É um m otivo que até Cézanne poderia ter aproveitado.
A liás, para além da sua utilidade, a visão tem o poder de invocar as nossas
rem iniscências e experiências, com todo o seu corolário de em oções, facto do
qual se pode tirar proveito para criar situações de fruição extrem am ente intensas.
São aspectos paralelos com o este que nos interessam pois se realm ente o
m eio-am biente suscita reacções em ocionais — dependentes ou não da nossa
10
r
2. LOCAL. Este segundo ponto diz respeito às nossas reacções perante a nossa
posição no espaço. É fácil de exemplificar: quando entram os num a sala
pensamos «Estou cá fora», depois «Estou a entrar Ali para dentro» e finalm ente,
«Estou Aqui dentro». Este tipo de percepção integra-se num a ordem de
experiências ligadas às sensações provocadas por espaços abertos e espaços
fechados que nas suas m anifestações m órbidas são a agorafobia e a claustrofo
bia. À beira de um precipício de 150 m etros tem -se uma percepção de
localização bem definida enquanto no fundo de uma caverna se experim enta
certam ente uma sensação de clausura.
Uma vez que o nosso corpo tem o hábito de se relacionar instintiva e
continuam ente com o m eio-am biente, o sentido de localização não pode ser
ignorado e entra, forçosam ente em linha de conta na planificação do am biente
11
(tal com o para o fotógrafo qualquer fonte de luz, por mais inoportuna que seja).
A liás, na nossa opinião, trata-se de um factor que ganha até em ser explorado.
Im aginem os, por exem plo, o percurso de um visitante num a vila de m ontanha
do Sul da França: sobe penosam ente uma ladeira íngreme e tortuosa para chegar
à terreola do cimo da m ontanha. Cheio de sede, dirige-se a um restaurante para
tom ar uma bebida no terraço. Ao acercar-se deste, porém , verifica deslum brado,
ou horrorizado, consoante o caso, que o terraço se projecta sobre um precipício
de 350 metros: os elem entos de limitação (rua) e a revelação súbita (terraço)
conferem ao factor altura um carácter mais dramático e real.
Se, de um modo geral, na cidade não surjem contrastes tão m arcados, o
princípio m antém -se. Há uma reacção em ocional típica quando nos encontram os
muito abaixo do nível médio do terreno ou muito acim a dele. Há uma outra
perante o encerram ento — num túnel, por exem plo — e outra ainda perante a
abertura da praça pública. Tudo isto nos faz supor que, se os nossos centros
urbanos forem desenhados segundo a óptica da pessoa que se desloca (quer a pé,
quer de autom óvel) a cidade passará a ser uma experiência em inentem ente
plástica, percurso através de zonas de com pressão e de vazio, contraste entre
espaços am plos e espaços delim itados, alternância de situações de tensão e
mom entos de tranquilidade. Essa sensação de identificação ou sintonia com o
m eio-am biente, esse sentido de localização perante a posição que se ocupa numa
rua ou num largo que faz pensar: «Estou Aqui» ou «vou entrar para A li», ou
ainda «vou sair Daqui», m ostra claram ente que ao postular-se a existência de um
Aqui se pressupõe autom aticam ente a de um Além , pois não se pode conceber
um sem o outro. Alguns dos m ais belos efeitos urbanísticos residem , justam ente
na form a com o é estabelecida a interrelação de am bos. G ostaria de referir o caso
concreto do percurso entre Central Vista e Rashtrapathi Bhawan ', em Nova
Deli, onde me encontro presentem ente a escrever esta Introdução: um pátio
enorm e, lim itado de am bos os lados por edifícios m inisteriais e ao fundo pelo
Rashtrapathi Bhawan; sendo o conjunto ligeiram ente sobre-elevado e o acesso
feito por uma rampa.
Ao fundo da ram pa um gradeam ento alto separa o transeunte do edifício
central. Eis o cenário geral. Porém , ao iniciar-se o trajecto em Central Vista,
apenas se vêm integralm ente os dois M inistérios, já que o Rashtrapathi Bhawan
se encontra parcialm ente encoberto pela ram pa, apenas oferecendo à vista a sua
parte superior. Com tal efeito de truncagem aparece isolado e mais rem oto. Fica
protelada a visão com pleta do edifício, definindo-se assim a sua posição com o
Além , por oposição à do observador, situado Aqui. À m edida que se sobe a
ram pa, o Rhastrapathi Bhawan vai sendo gradualm ente revelado, só se desvenda
por com pleto o m istério quando se está bem na frente do edifício e ao mesmo
nível deste. E já neste ponto depara-se agora com um gradeam ento de ferro
forjado, cortina que mais um a vez se entrepõe ante o Aqui e o Além . Uma
sequência verdadeiram ente extraordinária, conquanto tenha sido objecto de certa
controvérsia 2. ,
12
3. CONTEÚD O. Relaciona-se este último aspecto com a própria constituição
da cidade: a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua
personalidade e tudo o que a individualiza. Se se considerar que a m aior parte
das cidades é de fundação antiga, apresentando na sua m orfologia provas dos
diferentes períodos de construção patentes nos diferentes estilos arquitectónicos
e nas irregularidades do traçado, é natural que evidenciem uma am álgam a de
materiais, de estilos e de escalas.
Contudo tem -se a sensação de que, se fosse possível reconstruí-la por inteiro
se faria desaparecer toda a confusão e surgiriam cidades novas mais belas e mais
perfeitas. Criar-se-ia um quadro ordenado, arruam entos de traçados direitos e
edifícios de alturas e estilos concordantes. Se houvesse inteira liberdade de acção
provavelmente criar-se-ia sim etria, equilíbrio, perfeição, concordância, conven
cionalismo. Não é essa a concepção popular da finalidade do planeam ento
urbano?
E o que é convencionalism o? Tentem os explicá-lo através de um a imagem.
Imaginemos uma reunião social numa casa particular, com m eia dúzia de
pessoas que não se conhecem entre si. A prim eira parte da noite passa-se em
conversa de circunstância sobre temas de carácter geral: o tem po, as notícias do
dia, etc.. Passam -se cigarros entre os convidados, que insistem cerim oniosa
mente em acender os cigarros uns dos outros, m as, no fundo, tudo isto é apenas
um jogo de boas m aneiras, uma exibição da m aneira com o as pessoas deveriam
com portar-se... É extrem am ente maçador! Eis o que entendem os por convencio
nalismo. T odavia, à m edida que se vai dissipando este form alism o com eçam a
emergir do espartilho da boa educação ortodoxa seres hum anos autênticos. Então
descobre-se, por exem plo, que a ironia benevolente da senhora X é o contra
ponto perfeito da exuberância algo ingénua do M ajor Y, e o serão tom a-se
divertido e anim ado. O conform ism o inicial deu lugar a uma aceitação tácita por
parte de todos da disparidade, dentro dos limites da tolerância e da convivência,
como é evidente.
Do ponto de vista do urbanista é difícil evitar o convencionalism o; mas tentar
escapar-lhe com artifícios é, concerteza, pior do que a m onotonia que se
procurava inicialm ente evitar. Considere-se com o exem plo um program a de
realojamento para 5.000 pessoas. Todos os indivíduos são tratados de modo
idêntico, todos recebem o mesmo tipo de casa. Se assim é, com o diferenciar?
Numa perspectiva mais geral é óbvia a diferença entre a habitação tropical e a de
climas mais tem perados; entre o tipo de construção que se encontra em zonas
argilosas e, em zonas onde abunda a pedra; constata-se até que a religião e as
convenções sociais fazem variar o tipo de construção. E quanto mais se estreita o
campo de observação, m aior deve ser a sensibilidade aos parâm etros locais. Há
uma grande falta de sensibilidade na construção de cidades, uma tendência
generalizada para recorrer a tanques e carros blindados onde apenas faz falta uma
espingarda telescópica.
Dentro de um enquadram ento geralmente aceite, que tenha por objectivo criar
lucidez e não anarquia, é possível jogar com todos os cam biantes de escala,
estilo, textura e cor, e conjugá-los por forma a criar um todo que beneficie a
com unidade. Se isso acontece o m eio-am biente não será um produto do
conform ism o mas sim da interacção entre o Aqui e o Além .
Facilm ente se verifica que um contraste de cores bem conseguido não só põe
em evidência a consequente harm onia, com o tam bém a m aior intensidade que
13
daí advém para cada cor. Existe numa tela de Corot (cujo título não me ocorre de
m om ento) uma paisagem quase m onocrom ática onde, no meio de verdes
som brios se vê uma pequena figura vermelha. No entanto essa pequena m ancha é
talvez a coisa mais verm elha que eu já vi.
As estatísticas são coisas redutivas. Arrancadas ao universo real e convertidas
em projectos e estes por sua vez em edifícios, ficam sem vida, m eros esquem as
tridim ensionais que se pretende fazer habitar por pessoas. A m aior dificuldade ao
tentar colonizar um tal deserto e transform á-lo, não em paisagem para estôm agos
am bulantes, mas sim num habitat para seres hum anos passa por descobrir como
ponto de aplicação, a entrada para o castelo. Descobriram -se três entradas: a do
m ovim ento, a da localização e a do conteúdo. A visão perm itiu constatar que o
m ovim ento não é apenas progressão facilmente m ensurável e útil para a
planificação, mas se divide em duas com ponentes distintas: o ponto de vista e a
imagem em ergente. O hom em tem em todos os m om entos a percepção da sua
posição relativa, sente a necessidade de se identificar com o local em que se
encontra, e esse sentido de identificação, por outro lado, está ligado à percepção
de todo o espaço circundante. O convencionalism o é uma fonte de tédio
enquanto que a aceitação da disparidade se revela uma fonte de anim ação.
Finalm ente, no meio da aridez estatística da cidade-esquem a, descobriram -se as
duas facetas de uma m esm a realidade, quer para o m ovim ento (pontos de vista
imagem em ergente) quer para o local (Aqui - Além) quer para o conteúdo
(Isto - Aquilo). Há apenas que reagrupar tudo isto num padrão novo, nascido do
ardor e vitalidade da im aginação hum ana.
Eis as regras do jogo, os seus parâm etros. Falta o mais difícil: a A rte de Jogar.
Como em qualquer jogo, podem os recorrer a uma série de lances e jogadas
ditadas pela experiência adquirida. Nas páginas que se seguem , procurám os
sistem atizar esse conhecim ento em três categorias fundam entais e analisá-lo a
partir de exem plos concretos.
14
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO DE 1971
15
O ponto crítico,
em que a
coluna m aciça
termina para dar
lugar à coluna
esguia.
f€ * S
16
depressa. Q uer se trata do estôm ago, quer do cérebro, as coisas processam -se
dentro dos limites da condição hum ana. Terem os, pois, de proceder a determ i
nadas alterações organizativas por form a a conciliar da m elhor m aneira a
aceleração do progresso com a noção de escala hum ana.
A prim eira coisa a fazer é popularizar o mais possível a Arte do M eio-Am-
biente, partindo do princípio que uma m aior participação em ocional das pessoas
conduzirá necessariam ente ao aperfeiçoam ento do jogo: este é o cerne da
questão. O problem a que se põe é o de a opinião pública identificar planeam ento
adm inistrativo com algo de insípido, técnico e inacessível, e «bom urbanismo»
com ruas largas e direitas ladeadas por filas alinhadas de árvores de copas
arredondadas. E pronto! Ora é precisam ente o contrário! A m aneira com o se
constrói o ambiente é potencialm ente, uma das fontes de prazer mais generaliza
das e mais estim ulantes. De nada serve insurgirm o-nos contra a fealdade se não
nos aperceberm os de que os sapatos que parecem apertados são, na realidade,
botas de sete léguas.
Exem plificação? O exem plo que passo im ediatam ente apresentar é o da
catedral de Sées, perto de Alençon, p. 16. Os construtores do gótico davam
extrema im portância à questão do peso, à form a de apoio do ponto culm inante
das estruturas — a abóbada — sustentando com segurança o seu peso até ao
solo. Nesta construção, o peso divide-se em duas partes distintas. As paredes são
sustentadas por grossas colunas cilíndricas enquanto a abóbada, isto é, o orgulho
de toda a estrutura, parece apoiar-se em colunas tão extraordinariam ente
delgadas que dir-se-ia actuarem com o pára-raios da sua força de gravidade,
descarregando-a em terra firme. Se as paredes são sustentadas pelo hom em , a
abóbada é certam ente sustentada pelos anjos. «Com preendo o peso, sou forte»,
«transcendo o peso, sou etérea». «Nascemos juntas da m esm a terra, apoiamo-
-nos m utuam ente». E têm vivido lado a lado, ao longo dos séculos, em perfeita
harmonia.
Quando se com preende este jogo, este diálogo, fica-se de tal modo envolvido
nessa harm onia que pouco interessa saber nom es de pessoas ou o que fizeram e
quando o fizeram . Basta saber que foi alguém com um certo atrevim ento.
Eis o Jogo do M eio-A m biente, o jogo que se processa continuam ente à nossa
volta. Com o se vê não falo de valores absolutos, de beleza, de perfeição, de arte
com «A» grande, ou de moral. O m eio-am biente que procuro descrever é como a
conversa am ena entre pessoas vulgares falando em linguagem sim ples. Aparte
algum as excepções notáveis, a terra parece estar a encher-se de loiras apatetadas,
feitas em série, e a ser tem perada de «confetti».
Só quando se estabelecer o diálogo o público saberá deter-se para ouvir. Mas
enquanto não chegar o dia feliz em que as pessoas m anifestarão perante o
urbanista o m esm o entusiasm o que hoje m anifestam perante os jogadores de
futebol ou as «estrelas» da canção popular os risos escarninhos que porventura se
ouçam são indício do grau de alienação a que se chegou, e é preciso tom ar
m edidas preventivas de dois tipos.
A prjm eira consiste em decom por o am biente. É mais difícil lutar por um
princípio geral do que defender casos particulares. Através da divisão do
am biente nas suas partes constituintes, o ecologista poderá lutar pelos parques
nacionais, os municípios pelas zonas verdes e as entidades com petentes pela
conservação do patrim ónio. Em certa medida isto já com eça a verificar-se.
17
A segunda passa pelo escalonam ento no tempo de todos esses aspectos De um
™ geral ^ a j e i t a a ser encarada com d e s a g u o m esm o
perante a evidencia de que se trata de uma m elhoria. Nas cidades a continuidade
e uma característica desejável. Por conseguinte, enquanto num a zona em
xpansao o licenciam ento pode ser autom ático, nas zonas históricas mais
ST:
que^vocês estão aí.^ ^ em eSPec,áculos *Eu bem *
18
DEFINIÇÕ ES: VISÃO SERIAL
19
20
WESTMINSTER Estas três sequências, Oxford, Ipswich
e W estminster procuram captar, no
meio limitado e estático da página
impressa, um pouco da emoção e da
sensação de descoberta que
experimentamos ao atravessarmos uma
cidade. Oxford: o cubo (1), o
cilindro (3) e o cone (4), vão surgindo
sucessivamente aos nossos olhos como
o desenrolar de um drama de
geometria de sólidos. Temos a
sensação de estar a desvendar um
mistério, de poder vir a descobrir
sempre mais alguma coisa se
continuarmos a andar. Ipswich: um
modesto arco funciona como elemento
de separação no terreno que estamos a
explorar. De um lado a parte da rua
em que nos encontramos; para lá do
arco, o espaço aonde iremos
desem bocar, transitando então para
uma nova ambiência. Westminster: a
complexidade das sucessivas
contraposições de torres, pináculos e
mastros, a multiplicidade de
alinhamentos e agrupamentos sempre
diferentes e a súbita convergência de
enfáticas verticais num nó intrincado,
são apenas algumas das recompensas
que se oferecem a um olhar crítico e
v.v.Yâ sempre atento (não a um olhar
!ife | preguiçoso, bem entendido).
21
Esta sequência de Nova Deli (leia-se
da esquerda para a direita) mostra
claramente a função dos desníveis e
dos elementos de separação com
características de transparência na
visão serial; neste caso o que poderia
ser uma única fotografia reproduzida
quatro vezes, sendo, de cada vez,
ampliada a parte central para se obter
um plano cada vez mais próximo do
edifício terminal é, na realidade, uma
sequência de quatro pontos de vista
absolutamente distintos e diferenciados
(veja-se descrição respectiva, na
Introdução).
22
LOCAL
23
24
T e rritó rio ocupado (Página oposta)
Abrigo, sombra, conveniência e um
ambiente aprazível são as causas mais
frequentes da apropriação de espaço, as
condições que levam à ocupação de
determinados locais. O facto de se
assinalarem esses locais com elementos de
carácter permanente pode contribuir para
indicar os tipos de ocupação que existem
na cidade e criar um meio-ambiente que
não seja fluído e monótono, mas sim
estático e equipado. Para exemplo,
vejam-se as fotografias da página oposta,
mostrando como uma ocupação periódica
(momentos de convívio à saída da missa?)
se insere de uma forma permanente no
tecido urbano através do recurso ao
pavimento. Como mobiliário para esta
apropriação tem os, por exemplo,
desenhos no pavimento, postes de
iluminação, abrigos, enclaves, pontos
focais e recintos. Ainda que o grau de
ocupação do território seja relativamente
fraco, o facto de haver no mobiliário
sinais permanentes dessa ocupação
confere à cidade um carácter mais
humano e diverso, da mesma maneira que
as persianas nas janelas enriquecem os
edifícios a nível de textura e proporção
mesmo quando não recebem luz do sol.
V iscosidade
26
r
Enclaves
Recintos
27
I
Ponto focai
28
Unidades urbanas
29
Paisagem Interior e
Compartimento Exterior
30
Compartimentos e recintos
exteriores
31
Recintos múltiplos
Edifício-barreira
32
O Espaço Intangível
33
'
Delimitação do Espaço
34
Vista para o exterior de um
recinto
35
Além
36
Aqui e Além
38
Focalização
Truncagem
39
suficientemente o encanto desse
imediatismo. Observa-se um efeito
algo semelhante quando, entre uni
determinada estrutura e o
observador, existe um plano
intermédio incaracterístico, uma
vasta extensão que não cativa o
olhar, como é o caso desta vista
sobre Horse Guards a partir do
parque de St. Jam es, ou da
perspectiva sobre o Supremo
Tribunal, em Chadigarh, visto da
margem oposta do lago.
Desníveis
40
Entrelaçamento
41
Silhueta
Divisão de espaços
Perspectiva Velada
43
toma-se mais intensa devido a uma
cortina de folhagem que tom a mais
remoto o mundo para além dela. A
Catedral de St. Paul's, vista de
Cheapside, dá-nos outro exemplo
de uma perspectiva velada, em que
se utiliza a folhagem para ,ocultar a
catedral até ao momento em que
transpomos o arvoredo e
deparam os, subitamente, e de muito
perto, com a sua imensa fachada
encimada por uma cúpula. O
carácter dram ático deste efeito
deve-se unicamente ao facto de
depararmos, inesperadamente, com
algo que até ao momento nos havia
sido ocultado.
Iniciativa local
44
Perspectiva delimitada
Deflexão
45
Saliências e reentrâncias
Acidentes
46
Pontuação
Estreitamentos
Ondulação
48
Delimitação
49
Recessão
50
r
Expectativa
Examinaremos seguidamente
aqueles aspectos do Aqui e do
Além em que o primeiro é
conhecido, mas não o segundo:
o Além é desconhecido, infinito,
misterioso, ou está envolto numa
escuridão insondável. Consideremos
primeiramente o caso da
expectativa: As duas imagens da
esquerda não podem deixar de
despertar a nossa curiosidade
quanto ao cenário com que iremos
deparar no tinal da rua.
51
Infinito ■
52
Mistério
53
1
Vão insondável
54
Ligaçao e conexão: o pavimento
55
Caminhos para peões
Continuidade
56
57
1
Barreiras
58
r
CONTEÚDO
Categorias
METRÓPOLE
CIDADE
ARCÁDIA
59
A categoria determinante é a última
de baixo, o solo virgem, ou
«hinterland». Quando há extensões
muito vastas desta última, a atitude
tradicional de «laissez-faire» face á
exploração e desenvolvim ento do
solo, não constititui grande
preocupação, uma vez que ainda é
possível manter o equilíbrio.
Mas quando o próprio «hinterland.,
está tomado, verifica-se uma
situação inteiramente nova: todos
retrocedem sobre si mesmos e a
expansão de uma categoria- só pode
fazer-se à custa das outras; Por
outras palavras, esgota-se a
possibilidade de livre expansão, e
tom a-se então, necessário encarar o
ambiente como um conjunto
integrado de actividades da mesma
maneira que o sufrágio universal
veio obrigar os políticos a encarar a
sociedade como uma interacção
permanente de relações, e não
como um sistema em que os
privilegiados exploravam as massas
incultas. Em relação à Inglaterra,
pelo menos, vimo-nos forçados a
desenvolver a arte do
relacionamento para podermos
sobreviver como nação civilizada.
Nas próximas três páginas dão-se
alguns exemplos das vantagens, e,
em certos casos, dos aspectos
negativos inerentes a este
fenómeno.
PARQUE
Z ONA IN D U ST R IA L
ZONA R U R A L
SOLO VIRGEM
60
Individualização da paisagem
61
Justaposição
62
r
Imediaticidade
63
1
Identificabilidade
64
Pormenores
65
Cidade secreta
Ao longo das próximas páginas
examinaremos os diversos tipos de
qualidades que individualizam uma
vila ou cidade. Trata-se de uma
selecção muito pequena, que se
destina unicamente a estim ular no
leitor o desejo de descobrir e
explorar por si próprio. Nesta
imagem de Birmingham,
coexistem, lado a lado, dois
mundos completamente diferentes:
a rua movimentada e ruidosa que
atravessa a zona do comércio e dos
negócios e que, em determinada
altura, segue até à ponte sobre o
canal, cuja bacia é silenciosa e
deserta como uma cidade secreta.
Urbanidade
M anchester Square pode
considerar-se uma síntese da
qualidade e do carácter da vida
urbana: proporção, elegância e alta
densidade, a par do requinte de um
jardim público com vegetação
exuberante.
66
Complexidade
Correcção
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Rudeza e vigor
68
Extravagância
69
Nostalgia
O pavão branco
70
Exposição e isolamento
Intimidade
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Ilusão
Metáfora
72
encarada como um Coliseu,
enquadra-se perfeitamente no
espírito de 1900, que levava a
preocupação de elaborar e
ornam entar ao ponto de conceber
estes gasóm etros em traje de rigor;
e a casa deste inglês (em baixo)
poderia perfeitamente ser o seu
castelo. Embora não sejam perfeitos
(e poderíamos apontar outros ainda
mais banais) estes exemplos
constituem, mesmo assim, uma
linha de orientação para o
«designer».
Por altura da preparação do Festival
of Britain foi-me pedida uma
solução decorativa para Whitehall
Court, edifício que confrontava
directamente — embora, da
margem oposta do Tamisa — a
zona de maior movimento do
festival. A parte superior da
construção formava um feixe de
torres, flechas e espigões, e
tratava-se, na realidade, de uma
estrutura romântica e heráldica.
Havia que tom ar essa interpretação
evidente, o que procurei fazer
colocando numerosas bandeiras e
estandartes por entre os intrincados
elementos do coroamento, e uma
iluminação que deixava no escuro a
base do edifício: à noite apenas se
destacava a silhueta de uma
estrutura heráldica pairando sobre o
rio.
73
Indício
Animismo
74
Omissão significativa
Objectos significativos
75
O edifício como escultura
1.1
são regidos por novos padrões. O
farol da figura de cima ergue-se,
isolado, na vastidão da costa, coni
a sua base Ben Nicholson e os
volumes interpenetrantes da
estrutura superior.
I
I
76
Geometria
77
Sobreposição de usos
Ainda no âmbito deste tipo de
relacionamento, veremos agora que Isto e
Aquilo podem coexistir. Desde que se
começou a levar o planeamento urbano a
sério, uma das principais diligências tem
sido a do alojamento das pessoas em
casas arejadas e com sol, situadas longe
da sujidade, do ruído e do mau cheiro da
indústria. Mas apesar de ninguém se opor
seriamente a isto, o facto é que a
segregação e o zonamento continuam a
praticar-se, pondo em risco as grandes
unidades da nossa vida social. No West
End londrino há cada vez mais escritórios
e menos residências e teatros, verifica-se
uma comutação permanente de autênticos
exércitos de pessoas, e uma grande
78
Contrastes
79
Relacionamento
80
Escala
A escala, tanto em edifícios como
em estruturas e árvores, é dos
instrumentos principais na arte da
justaposição, e já anteriormente nos
referimos a este meio a propósito
de recessão. Escala não é
4 . - .. * Jg£ dimensão, mas sim a dimensão que
J ,-c . £ '&e sA' ^ S um edifício reivindica,
im plicitamente, aos nossos olhos.
Na grande maioria dos casos são
coisas inseparáveis, um edifício
grande tem uma escala grande e um
pequeno, uma escala pequena. É
nas fronteiras entre ambos e na
forma como as relaciona, que deve
intervir a perícia do arquitecto. Em
baixo, à direita, o edifício de
escritório aparenta ser mais vasto
devido à manipulação da escala.
Em cim a, à esquerda, a
justaposição de duas escalas
completamente diferentes — sólida
e maciça a da parede de silhar,
h w «" » • ■ mais m odesta, mas não menos
afirmativa, a da barraca — pode
considerar-se uma boa síntese desta
qualidade. Tanto a parede como a
barraca têm as suas escalas
próprias, ficando, no entanto,
valorizadas pelo facto de serem
vistas em conjunto; o que é grande
tom a-se maior, o que é pequeno,
mais pequeno. Verifica-se uma
situação semelhante em relação ao
projecto para as imediações da
Catedral de Liverpool (em baixo, à
esquerda) em que é patente uma
justaposição entre o doméstico e o
monumental.
81
Escala em mapas
scalc o_
Continued («V agueando por Londres»)
«A Cabeça do Rei e O ito Sinos»
82
Distorção
83
Escala em mapas
82
Distorção
83
T
Integração de árvores
84
Neste exemplo sueco (em cima), as
árvores são o papel de parede vivo
que decora a vasta geometria dos
silos de cereais.
O último exemplu, talvez o mais
corrente, é-nos proporcionado pelo
decorador de exteriores. A árvore
foi colocada no centro da vila
exactamente da mesma forma que
uma jarra de flores no centro de
uma mesa, e pela mesma razão:
porque é verde e fresca e contrasta
com a estrutura permanente que a
rodeia.
85
1
Caligrafia
86
Publicidade
87
Integração discreta
— i. e ., a intromissão do homem
na natureza sem causar excessiva
perturbação. São de particular
interesse hoje em dia, em que até
os locais mais agrestes do país
estão a ser invadidos pela
construção, as duas fotografias que
apresentamos, e que ajudam a
sublinhar as dificuldades inerentes a
esta questão. A imagem da costa da
Córsega, em cim a, é notável na
medida em que as construções se 1
inserem perfeitamente na atmosfera
agreste da paisagem pela forma
compacta como estão dispostas e I
pela sua localização perigosa,
mesmo à beira dos penhascos. Se 1
estivessem uma centena de metros
mais atrás, tudo estaria perdido;
teríamos apenas um subúrbio
pretencioso e impertigado (o que se
nos afigura ser justam ente o erro de
algumas centrais nucleares em fase
de construção nos locais mais
isolados do país).
88
A TRADIÇÀO FUNCIONALISTA
A quarta e última secção desta relação
de exemplos refere-se não tanto às
várias jogadas possíveis, como às
qualidades intrínsecas das c o is a s __
construções, pontes, pavimentos,
lettering, pormenores, etc., que em
conjunto constituem o ambiente
construído.
Vamos tentar explicar melhor. Vamos
supor que estamos num «pub» londrino
que encerra às 23 horas. A certa altura
o dono anuncia «última rodada», e,
pouco depois, «vamos fechar!». Neste
momento, poderá pegar no pano com
que esteve a limpar os copos toda a
noite, e estendê-lo sobre as torneiras
da máquina de cerveja. É este tipo de
gesto que melhor representa a tradição
funcionalista, é inequívoco, conciso, e
revela uma profunda economia de
meios; colocar sobre o balcão um
cartaz com as palavras «Desculpe,
demasiado tarde» seria recorrrer a uma
solução pretenciosa, ambígua e
complicada. A tradição funcionalista,
pelo contrário, está imbuída de uma
certa astúcia popular.
E stru tu ra s
Aqui, tudo o que é intrínseco às
coisas, fala por si. Na pequena ponte
sobre o Tam isa, a relação entre os
ângulos é inteiramente convincente, e
significativas placas de metal
destacam-se pintadas a negro. Oficinas
como as da figura da esquerda, que se
constroem desde o Séc. XVIII,
revelam bem a legitimidade da
tradição. O confronto destes exemplos
com o da ponte grosseira e pesada d;
fig. acima, destina-se a acentuar os
aspectos de singeleza, vigor e precisão
dessa tradição.
89
G u a rd a s
90
r
G rad eam en to s
91
Degraus
92
Preto e branco
A ornamentação na construção
recorre frequentemente à pintura a
preto e branco, processo que para
além da sua função própria confere
às estruturas mais nitidez e um
aspecto rematado.
Isto verifica-se sobretudo quando o
factor segurança tem uma
im portância capital, como, por
exemplo, nos portos ou na estrada.
Este porm enor do porto de Lyme
Regis mostra-nos a utilização de
paredes brancas como forma de
sinalização. A vivacidade e alegria
do preto e branco está bem patente
na pequena barraca de praia na
figura inferior. Na figura do meio,
os dois grosseiros quadrados
caiados no muro funcionam
também como sinal, e a sua
geometria, embora incipiente,
leva-nos a concluir que estão ali
com um fim determinado e não por
mero acaso.
Textura
Um número excessivo de
arquitectos tem andado demasiado
ocupado, nos últimos anos, com o$
projectos em grande escala —
planos directores, planos nacionais
planos cósm icos, etc., excluindo,
muitas vezes os interesses de
âmbito local e particular. Em
consequência disto, o arquitecto
começou a perder a capacidade de
ver directamente (as coisas) pois
apenas (as) vê mentalmente. Em
muitos aspectos é como uma
criança, que após o período inicial
de prazer desinibido que lhe
proporciona a experiência visual
directa, vê o seu interesse visual
atrofiado pela sua preocupação de
aprender (ou seja. pela sua
crescente capacidade intelectual)
com efeitos desastrosos para as suas
> . capacidades criativas. A
consciência dos aspectos técnicos
pesa grandemente sobre o
arquitecto, cuja noção de
responsabilidade pode assumir a
dimensão e as características de
uma imposição em vez de funcionar
como um estimulante. Uma
arquitectura verdadeiramente
expressiva e viril só poderá
florescer quando, na prática, os
imperativos de ordem social se
conjugarem com a satisfação
pessoal, com o prazer suscitado
pelo próprio processo criativo, para
94
além da consideração do objectivo
em vista. Não há qualquer motivo
para que essa alegria espontânea
seja tida como perniciosa, já que
sem o prazer sensual a prática da
arquitectura degenera
inevitavelmente numa rotina sem
sentido, ou, quando muito, num
exercício de mera agilidade
intelectual. Nesta perspectiva, os
exemplos de texturas que
apresentamos surgem-nos como um
estímulo a descobrir o panorama
quotidiano.
Lettering
95
pelos leiloeiros, autoridades
portuárias e pintores de montras e
tabuletas. Em contraste com a
selecção de indicativos robustos e
viris das figuras da esquerda e
página anterior, os dois exemplos
da direita constituem exactamente o
oposto. O tipo de letra bastonada
> «I
CAUTION.
MEN
WORKING
OVERHEAD
96
Clareza
97
A rua
98
a praceta privada: fechada
99
a praceta privada: aberta
100
101
7
102
a praceta quadrangular: praceta municipal
103
/
a praceta quadrangular: a praceta local
mudança discemível na utilização e carácter dos equivale a dizer que no encontro entre um táxi e
limites do largo parece razoável sugerir uma alte um peão, o táxi não se meterá à frente do peão. A
ração generalizada de carácter de modo a recuperar tentativa de preservar alguns metros quadrados de
a intensidade que um trânsito de extrema densidade zonas pretensamente verdes, secas e cheias de
pode produzir. Ou seja , o monumentalismo deverá gatos, em largos públicos de menores dimensões,
invadir aquele espaço, com os seus recursos à não vale com certeza a pena. Parece mais com pen
geometria e a sistemas axiais, a fontes, bancos e sador pavimentar toda a zona, como no caso de
esculturas, e assim produzir um efeito cosmopolita Temple Courts, o que sublinhará a atmosfera local
claro e indiscutível. e a propriedade aos peões; realçará igualmente o
facto de que estes largos se tornaram propriedades
Com a reorganização do trânsito e a fragmenta de todos. A praceta pública representa o suporte ou
ção da cidade em unidades funcionais identificá padrão neutro que variará de acordo com as condi
veis, o movimento de veículos em cada zona ções do local. Poderá ser a escala da cidade como
limitar-se-à àqueles que de facto se justifica que aí no caso de RusselI Square, exclusiva como em
estejam, eliminando-se, em grande parte, os fluxos G rosvenor Square, popular com o Leicester
de atravessamento. Ainda assim, em determinados Square, ou sossegada e local como neste exemplo
largos, deverá ser dada prioridade ao peão — o que de Manchester Square.
104
PONIO FOCAL reunu. Em todas as épocas com excepção da nossa,
é isto . O Poultry Cross em Salisbury, que vemos
A noção de cidade como um local de reunião, de na figura 2, e em figuras nas páginas seguintes,
co n ta c to social, de ponto de encontro, foi assumida serve-nos como exemplo do tipo de processos que,
como incontroversa através da história da nossa nos nossos tem pos, podem pôr em perigo os
civilização até ao século XX. Essa reunião poderia tradicionais locais de reunião.
surgir tanto no Forum de Pompeia como à volta do A observação sugere que um objecto fixo pode
pelourinho, sem no entanto perder o seu carácter atrair objectos móveis: na figura 1, em Minehead,
de ritual próprio do homem; tratava-se simulta Somerset, as árvores atraíram para junto de si uma
n e a m e n te de um rito e de um d ire ito .1 Nem sequer, balança e uma placa gravada. Toma-se óbvio que
de uma maneira geral, se tomava necessário expli os motivos desta disposição se encontram no de
car se os motivos dessa reunião eram litúrgicos ou sejo de ser am im ado e de não ocupar espaços livres
profanos. O homem é gregário e é natural que se com objectos isolados sobre os quais as pessoas
i N. T. (both a rite and a righl, no original). poderiam tropeçar.
105
No entanto, o objecto mais móvel numa cidade é pos, como se vê na fig. 3 da pág. anterior, em
o ser humano e, por razões possivelmente diferen Orvieta, Itália. Porque o homem é gregário, rrtas para
tes, ele próprio necessita de poder ancorar-se nas o ser totalmente necessita do pretexto, do incidente
várias actividades exteriores, comerciais, recreati ou duma âncora. No caso de uma árvore, poder-se-ia
vas e sociais. Prever unicamente espaços livres de dizer que ela providencia sombra e abrigo, e no caso
modo a que estas actividades possam simplesmente de um mercado coberto, poder-se-ia dizer o mesmo.
existir não é em si suficiente. O espaço livre como No entanto a âncora é mais do que uma atracção
elemento duma cidade é essencial, mas necessita unicamente de carácter utilitário. Por construção é
também de ser povoado com objectos de modo a imóvel, e logo, por tradição de uso, toma-se num
separar os fluxos dissociados de pessoas em gru ponto de encontro por todos aceite.
106
r
O Poultry Cross é uma construção interessante,
e também bastante antiga, e dadas estas duas
características, a feliz relação entre planeta e saté
lite, entre âncora e pessoas, encontra-se em grande
perigo. O processo é o seguinte: cada vez mais
trânsito é forçado através das vias e os espaços
livres são cobiçados pelos engenheiros. Perante
isto apercebem -se de Poultry Cross, figura 5, e do
precioso passeio que a envolve. A única razão que
os impede de confiscarem imediatamente esse
espaço é a obstinada construção, que se descobre
ser uma valiosa peça arquitectónica, e que se deve
proteger. É então vedada, figura 6, e o trânsito
aproxima-se. Divorciada agora da sua função,
aguarda apenas a sua retirada final para um parque
público, enquanto que nas cidades as multidões
circulam , o trânsito aumenta um pouco de veloci
dade, e mais uma fatia da cidade do peão é
arrancada, figura 7, e mais uma vez se perde uma
âncora num espaço livre. Felizmente nada disto
aconteceu ainda em Salisbury, mas poderá não
tardar.
107
T
DELIMITAÇÃO
108
A fotografia acima, duma cena típica de aldeia Só pela comparação com casos em que estes
(East Chiltington), traduz a aplicação da noção de recursos não são explorados, como quando há total
espaço delimitado. A construção mais avançada conformidade com o traçado da via, (ver figura
contém eficazmente o olhar enquanto o percurso da acima), é possível apercebermo-nos da diferença
estrada continua. E no entanto, não tomamos entre a noção de espaço delimitado e uma simples
tantas vezes este tipo de recurso apenas como um mudança de direcção.
dado?
HOTEL CROWN
109
T
1 — O perfil quadrado e
maciço do edifício do
Crown Hotel está
voltado para a rua
principal do lado do rio
Stour. E o que nós
vemos não é um alçado
lateral, como poderíamos
esperar, mas o alçado
principal. Aqui está
exactamente o tipo de
entrada que uma cidade
mercantil deveria ter,
com uma construção
(hotel) que, obstruindo a
perspectiva,
simultaneamente nos
convida a entrar, e nos
enche de expectativa em
relação ao que se
encontra do outro lado.
A passagem estreita...
2 — ... alarga-se à
medida que a rua
continua em direcção ao
centro e a perspectiva é
bloqueada pela inflecção
súbita da rua principal
para a direita. A noção
de delimitação
transforma uma linha
numa superfície, uma
estrada num local, largo
ou praça.
3 — Um local, contudo,
que é despretencioso e
humano na escala, e que
não é estático. O largo
propriamente dito cria
um recinto estático, cujo
efeito imediato é
convidar o transeunte a
acomodar-se, nem que
seja num banco de*
jardim ; a delimitação
cria também um recinto,
que o olhar (e o corpo),
é forçado a percorrer, e
logo a transitar para o
seguinte. À medida que
este se materializa, o
último desintegra-se.
110
4 — À medida que se
circula, a cidade é-nos
revelada; não toda de
uma vez, mas com
coerência. (A letra A é
um ponto de referência
para a fotografia a
seguir, em baixo. Aqui o
próximo tema é
introduzido na qualidade
de um novo elemento
cénico aparecendo
obliquamente.
5 — E temos agora um
exemplo claro do tipo de
sequência tomada
possível pela utilização
da noção de delimitação.
O súbito alargamento e a
inflecção na estrada,
produzem mais uma
sensação de superfície,
do que de linha, e o
olhar toma-se consciente
da chegada através do
súbito aparecimento dos
paços do município. Na
realidade, no entanto,
não há um largo. Tudo
isto se passa na ma.
111
6 — E à medida que a
nossa imagem do local
se com pleta, a torre da
igreja, como climax, é-n^
finalmente revelada.
Graças à inflecção na
estrada, ela actua como
derradeiro elemento de
recinto antes d e ...
7 — ... entrarm os na
larga rua principal em
que tudo nos é revelado.
Esta é a conclusão da
sucessão de espaços
delimitados que
formavam uma série de
acontecimentos visuais
dramáticos numa
sequência coordenada
que nos oferece, numa
deliciosa escala
doméstica, um troço
exemplar de paisagem
urbana. Acidental ou
premeditado? Àqueles
que invariavelmente
respondem acidental,
deveremos recordar que
os irmãos Bastarei
arquitectos,
reconstruíram a cidade
na sua totalidade, após
um incêndio que a
devastou no século
XVIII.
112
Sul inglesa são utilizadas para demonstrar o tipo de
LINHAS DE FORÇA
acção que pode ser empreendido pelo urbanista
A função essencial de uma cidade deve tomar-se consciente do significado dessa relação, de modo a
evidente, após uma simples vista de olhos pela criar ou a preservar um ambiente urbano de quali
planta. Isto resulta obviamente porque a organiza dade.
ção dos seus elementos reflecte certas linhas de Começaremos com Brixham, um local onde o
força que representam igualmente uma combina encontro entre mar e terra forma um anfiteatro
ção de circunstâncias que estiveram na origem da natural contendo o porto, e a morfologia da cidade
cidade. Inversamente, quando uma cidade se re não pode evitar seguir a sua linha de força domi
vela incaracterística e amorfa, este fracasso pode, nante — neste caso a organização de uma comuni
em geral, ser localizado em qualquer falha na dade em tom o da navegação, a qual justifica a sua
relação entre forma e função, em que as linhas de existência. Nisto reside o carácter de Brixham,
força se tomaram confusas, ou desapareceram. Isto carácter esse que se encontra já expresso de forma
explica o carácter amorfo de tantas cidades recen inequívoca e vigorosa. Tudo o que resta ao urba
tes, mas indica também a oportunidade oferecida nista é intensificar visualmente o resultado, por
ao urbanista. Uma vez que a sua missão é de, em forma a extrair um máximo de dramatismo e de
qualquer caso, resolver conflitos e localizar fun lógica.
ções vivas, e uma vez que a metodologia que segue Em Fowey, o nosso segundo exemplo, a linha
é inevitavelmente uma de particularização, o êxito de força tem ainda como carácter dominante a
com que ele identificar e interpretar visualmente as actividade intensa ao longo da costa mas, aqui, as
mais significativas linhas de força determinará em construções e penhascos descem directamente para
grande parte se a cidade irá ser morfologicamente a água, e na ausência dum cais contínuo, uma
caracterizada e inteligível. barreira nasce entre a população e aquilo que
Esta oportunidade surge mais facilmente em representa de facto a verdadeira linha de força, a
relação à cidade, por exemplo uma cidade tipica costa. Escadarias do interior ocasionalmente dão-
mente marítima, em que as linhas de força têm -lhe acesso, mas não existe um paredão marginal
uma relação óbvia e imediata com as linhas de contínuo. Aqui aparece-nos unicamente como ne
demarcação no sentido geográfico. A verdadeira cessária, a articulação entre estes vários pontos de
«raison d ’être»1 da cidade costeira é a linha ao acesso, e surgiria então o verdadeiro carácter de
longo da qual se encontram terra e água, e isso Fowey, e claro estmturado.
explicará talvez que nas cidades costeiras a perso Looe é um caso mais complexo, em que várias
nalidade resista melhor do que em quaisquer ou linhas de força operam simultaneamente, e a tarefa
tras. Nas páginas seguintes três cidades da costa do urbanista será de as separar e assegurar a cada
uma a sua expressão topográfica própria, enrique
1 N .T . em francês no original. cendo desta forma o carácter da cidade.
113
114
Brixham
Um excelente exemplo
de animação e carácter
que surgem quando as
linhas de força naturais,
decorrentes da origem e
função do aglomerado,
encontram um eco
imediato na sua
topografia. O porto (pág.
anterior) é o centro real
do aglomerado,
construído em socalcos
ao longo da enseada que
forma um anfiteatro
natural. É
simultaneamente um
centro social e laborai;
115
os visitantes passeiam ao em relação ao porto, de
longo do cais e encaram modo a que a paisagem
a lota como um resplandescente da
espectáculo aberto; velas beira-mar não seja
coloridas e alegres obstruída por filas
pavilhões combinando-se escuras de viaturas
com os reflexos do sol estacionadas. O urbanista
nas asas das gaivotas pode, contudo, trabalhar
criam o efeito ao nível do conjunto
estimulante duma construído, procurando
animada atmosfera obter a máxima
industrial coerência visual. Uma
perm anentemente en fête- das estratégias possíveis
Nestas circunstâncias não é através da sua criação,
resta mais ao urbanista uma vez que
que manter um olhar presentemente a maioria
atento certificando-se das construções
que a presente faixa envolvendo o porto de
compacta e contínua de Brixham é em tons de
construções envolventes castanho e de cinzento
não é alterada; e (pág. anterior). O efeito
providenciar o fomento unificante da criação é
de lugares de mostrado na figura de
estacionamento ocultos cima.
116
Fowey
Como em Brixham, a
configuração topográfica
de Fowey reflecte de
maneira assaz
aproximada a «Raison
d ’ê tre-do
aglomerado: uma faixa
construída ao longo da
beira-mar. Mas no
presente caso, em lugar
duma linha de enseada
acompanhada por uma
linha de construção,
temos antes uma faixa
construída ao longo da
margem de um estuário.
A grande virtude de
Brixham, e que lhe
confere muita da sua
vitalidade, é o facto da
linha onde mar e terra se
encontram, ser uma linha
arquitectónica assim
como social; uma linha
co m o e ao longo da qual se
misturam marinheiros e
camponeses. Fowey, por
outro lado, falha no
sentido em que a faixa
construída, actua como
uma barreira, não
admitindo o acesso á
água num ou noutro
ponto isolado.
A primeira tarefa do
urbanista será então criar
uma linha contínua de
acesso, de modo a
revitalizar a linha da
beira-mar — ver
propostas nesse sentido
nas páginas seguintes. O
princípio que ele deverá
seguir é o de uma única
linha física ao longo da
beira-mar (como por
exemplo a estrada no
topo da encosta, que na
figura acima se encontra
oculta por um muro) não
é o suficiente; deverão
pelo contrário, existir
contactos vivos e íntimos
ao longo dessa linha,
como se propõe na
figura ao lado.
117
A arquitectura ril
Fowey m ergulha, com lógiCa
dramatismo, directamente no
estuário; em muitos casos o
paredão prolonga-se e constitUl
a parede da própria habitação
Mas só em alguns pontos é 1
permitido o acesso público à
água, com o resultado de que
Fowey perde a oportunidade
de captar o máximo de
vitalidade e carácter uma vez
que o ponto socialmente mais
intenso se localiza justamente
ao longo da margem.
O objectivo do urbanista
deverá ser o de garantir uma
margem excitante sem no
entanto destruir a continuidade
arquitectónica. Uma maneira
de o conseguir seria
construindo um caminho de
peões, acompanhando as
sugestões da própria
topografia, articulando os
acessos já existentes de modo
a constituir um passeio
contínuo. As fotografias
mostram como este passeio
apareceria a diferentes níveis
em que o acesso é
presentemente inexistente.
Semelhante passeio
integrar-se-ia perfeitamente na
actual estrutura de Fowey, que
funciona essencialmente
voltada para o peão.
Looe
118
Na frente para o mar há
uma praia (n.° 1 na figura
em cima) protegida num
dos lados por um pontão
artificial e no outro por
um prolongado braço
rochoso. Na frente para o
rio funciona a lota (à esq.
n.° 2a) semelhante à de
Brixham. A zona de Looe
que consideramos
mediocre é a extensão da
beira-rio situada antes de
High Street se afastar para
a margem para penetrar
no interior do aglomerado
e em direcção à praia.
Seria neste ponto que o
carácter linear da margem
deveria estar mais
acentuado, onde a
população devia ter
maiores oportunidades de
viver uma vida de
beira-rio, tanto física
como materialmente. Mas
de facto aqui a linha da
margem perdeu-se
deixando uma «terra de
ninguém», usada pelas
autoridades locais para
prover estacionamentos.
119
120
'■* '**: > í,
Um conto moral. Em
cima: a idílica paisagem
do rio imediatamente a
montante de Looe;
bosques cerrados até à
borda da água. Ao lado:
o aglomerado
propriamente dito;
simultaneamente virado
para o rio e para o mar,
mas denso e compacto, o
que nos parece muito
importante nestas
situações. Tanto ao
longo do rio, como do
mar, a ocupação da
encosta faz-se por
terraços, plataformas
sucessivas. Em baixo: o
princípio linear
abandonado: as encostas
próximas arruinadas com
construções isoladas,
com influências
negativas sobre a própria
vila de Looe; nas
encostas por trás da vila,
a ocupação em terraço
foi abandonada,
perdendo-se assim o
ênfase sobre a linha à
quai Looe, obedecendo à
atracção invisível da
beira-mar, devia toda a
sua personalidade.
121
122
PÉS E PNEUS imperativos técnicos do contacto entre o pavimento
e o pneu do automóvel.
^ vida na rua é enquadrada por paredes, estrada O movimento no interior de um edifício é
céu. O céu, em permanente m udança, as empe- sobretudo pedestre, sendo os choques ocasionais e
velhas e esboroadas, ou novas e brilhantes; as tragédias ainda mais raras. No impasse ou no
variedade de estilo e de perfil, de textura, cor e pátio exterior, esta relação é ainda aceitável, pois o
carácter. O pavimento: monotonia asfaltado. carro só ocasionalmente aí penetra e não interfere
Encabeçado pelo carro de bombeiros e pela com o peão. Mas à medida que o universo do peão
anibulância, penetrando por toda a parte, o auto se vai reduzindo a estreitas faixas de passeiodum
móvel tem-se insinuado nas nossas cidades, traves- lado e doutro duma grande artéria, ele que tome
jas, jardins e praças. A riqueza e variedade do cuidado; a segurança e intimidade que encontra no
aviniento foi submersa num fluxo automóvel e os interior transforma-se com demasiada rapidez no
habitantes aventuraram-se a sair dos prédios por desespero dos acossados.
sua conta e risco, avançando de ilha em ilha, Temos assim duas consequências da invasão
procurando passadeiras, semáforos e faixas sepa geral das nossas cidades pelo automóvel:
radoras. a) o desaparecimento da diversidade e da perso
Se considerarmos que os arruamentos ocupam nalidade das superfícies pavimentadas;
cerca de um terço da superfície dum quarteirão b) a invasão das zonas reservadas a peões.
normal, ficamos com uma ideia do desperdício a O ponto a), todavia, não está de modo algum
que esta idade mecanizada nos obriga. Em lugar implícito na existência do trânsito automóvel, uma
duma harmonia entre paredes exteriores e pavi vez que se a eficiente organização do mesmo fosse
mentos, em que o pavimento faria a articulação ou estudada, uma solução poderia ser encontrada que
distinção entre elementos arquitectónicos e seria a contemplasse a utilização de diferentes materiais
expressão dos diferentes espaços entre edifícios, de pavim entação, consoante o uso que se lhes
fica-se com a ideia de que os edifícios são maque pretende conferir. Um lápis de cor é mais facil
tas escarrapachadas sobre uma ardósia. mente encontrado no interior da sua caixa se o
Existe uma vasta gama de materiais possíveis de exterior do lápis corresponder à cor da mina, em
aplicar, na revitalização das superfícies pavimen vez de ter simplesmente o nome da cor lá escrito.
tadas da cidade, na imposição do cumprimento do Da mesma maneira, um código universal de
código de circulação automóvel e, porque indicam cores e padrões indicando ruas de sentido único,
afectação a diferentes usos, na adopção de com estacionam entos, atravessamento de peões, etc.,
portamentos padrões. permitiria uma leitura mais fácil da rua, introdu
Lages de pedra ou de betão demarcando zonas zindo simultaneamente uma nova estética funcio
unicamente para peões, calçada, mosaicos, tijo nal na paisagem urbana.
leiras, saibros, relvados. Podem ser claros ou Em primeiro lugar, um sistema de prioridades
escuros, irregulares ou lisos, simples ou complica para dirigir e enquadrar os fluxos motorizados. Em
dos. As possibilidades para o desenho são imensas. seguida, um código para impôr este sistema, ao
No entanto actualmente são todas sacrificadas aos qual as convenções fariam parte integrante da rua e
serviriam para enaltecer os edifícios à sua volta.
Por exemplo, uma rua ou um largo reservado a
Reservado a peões faixas de calçada peões poderia ser protegido por uma faixa de
delimitando crs acessos calçada delimitando os seus acessos. O código
Por vezes há ocasiões no meio das quais um seria: nenhum veículo pode atravessar a calçada.
em que é desejável lajedo assegura a Os desenhos das páginas anterior e seguinte vêm
garantir absoluta passagem de peões (uma ilustrar essa intenção.
prioridade ao peão, por vez que a calçada
exemplo em tom o de irregular, não facilita o
catedrais, e em casos movimento de peões). A
especiais como escolas, calçada é>aqui
largos e alojamentos para considerada como
a terceira idade. No alternativa ao relvado.
entanto é essencial No interior destas faixas
garantir o acesso a de protecção o urbanista
ambulâncias e a carros tem a liberdade de
de bombeiros, o que escolher o material e o
elimina a hipótese de padrão. O código seria:
barreiras físicas. O para veículos
desenho da página motorizados, a calçada
anterior ilustra um significa CIRCULAÇÃO
código adequado — PROIBIDA.
123
aos que têm algum motivo
para lá estar.
Existem dois pontos a realçar
neste caso: (a) A escassez de
movimento automóvel terá
como consequência o sublinhar
do carácter essencial doméstico
e residencial de toda a zona.
(b) Os condutores que de facto
penetrarem na zona, estando
«em casa», terão o cuidado e a
admitindo esta situação, atenção que dificilmente
Prioridade a peões admitimos igualmente qualquer surgem quando se está em
trânsito. Desta forma, uma rua território estranho, isto é,
Ninguém nega o direito à que teria o movimento de uma quando não tememos ser
existência do trânsito rápido dúzia de autom óveis, dos seus reconhecidos e fazemos o que
corno parte integrante da vida habitantes, passa a estar bem nos apetece. O çódigo
urbana. É no entanto a invasão ocupada durante todo o dia seria: a área a pavimentar com
generalizada deste tipo de com trânsito de atravessamento lajes significa prioridade a
trânsito, a sua apropriação que a utiliza como atalho, ou peões. Demarcações no
arrogante de todas as vias de para contornar um cruzamento pavimento, no caso de
circulação, que nos leva a importante. O exemplo acima existirem, seriam deixadas ao
protestar. Parece-nos muito (em que o ponto de vista critério do urbanista. No
humano e compreensível a corresponde à seta do mapa), desenho, é utilizada uma
vontade de levar o automóvel mostra-nos uma rua, ou largo, estreita faixa de calçada (0,5
até à porta de casa, mas em que o movimento é restrito m), com marcos intervalados.
124
RESTRIÇÕES ções, não absolutamente indispensáveis, se tradu
ziu como que no eliminar das restrições; abri
ram-se perspectivas dum mundo de circulação
Os materiais à disposição do urbanista, pedras, mais livre. Actualmente, e à medida que as restri
cimento, madeira, metal, alcatrão, relva, em vá ções se acumulam de novo, as autoridades munici
rios estados, protegida ou não, e elevações, água, pais começam novamente a lembrar-se — entre
pessoas, são afinal os materiais de que este mundo outras coisas — das suas vedações, e isto tom a o
é feito. A sua missão urbana é dispor e seleccionar momento oportuno, para o enunciado do que
estes blocos de matéria de maneira a, preenchendo poderia ser chamado uma teoria das restrições. A
as necessidades da raça humana em termos de vedação é uma maneira de criar uma restrição, mas
abrigo e comunicações, lazer e ritual, criar uma as restrições são de muitos tipos. Por vezes são
paisagem urbana à escala humana; uma paisagem unicamente de ordem moral, como no caso de um
urbana humanizada. Embora muitos problemas se relvado delimitado por um lancil de pedra, que é
possam situar ao nível das grandes opções, como como uma ordem implícita de «não pisar a relva».
por exemplo a localização de artérias principais, na Aonde o espaço e o distanciamento são considera
verdade a sua concretização depende frequente dos desejáveis, esta parece ser uma solução aceitá
mente de ligeiros pormenores de traçado, o que vel, embora a aceitação de restrições de carácter
talvez os arquitectos, por entre as várias formações moral pressuponha uma sociedade disposta a cum
cuja actividade concorre para a imagem final da prir este tipo de convenções.
cidade, sejam os únicos com a percepção total do Expedientes de carácter mais operacional são o
seu significado. Chamada aqui como ilustração fosso escondido e a água, mas há casos em que os
deste princípio, a RESTRIÇÃO é uma situação imperativos tanto paisagísticos como funcionais
reduzida pela maioria dos urbanistas a uma mera exigem um obstáculo visual ou uma sensação de
questão de vedações, gradeamentos, sebes ou cer delimitação, e nestes casos gradeamentos ou muros
cas. Assim perspectivado, o problema parece de poderiam eventualmente contribuir positivamente
simples resolução, mas a sua aplicação na cidade para a resolução do problema. Os apontamentos
pela mão insensível dos engenheiros dos serviços que se seguem tentam, não tanto enunciar princí
municipais, resulta num dos casos mais flagrantes pios gerais, como explorar os recursos visuais da
do crime visual. Uma das consequências interes restrição encarada como uma das muitas cartas na
santes da guerra foi que o retirar de muitas veda manga do arquitecto.
125
Gradeamentos
Desde a guerra, altura em que os largos perde,
ram quase na totalidade os seus gradeamentos em
ferro fundido, muitas alterações ocorreram . Come.
çou pelos abrigos, à superfície ou semienterrados
e em seguida a relva cedeu o lugar a grandes
lamaçais. Com o fim da guerra as forças da ordem
impuseram-se uma vez mais sob a forma de veda-
ções de arame e cercas de madeira. Acontecia com
frequência, no entanto, que embora as proprieda-
des não tivessem sido alienadas, as pessoas a quem
estes privilégios se destinavam, tinham sido subs
tituídas por escritórios, em baixadas, clubes, esco
las ou outros moradores. Muito raramente conse
guiram até hoje os proprietários satisfazer as novas
exigências introduzidas por uma sociedade em
mudança e as consequentes movimentações da
população urbana. Uma vez satisfeitas as novas
exigências postas às pracetas, determinadas ques
tões irão surgir quanto ao seu traçado e manuten
ção. Nas páginas seguintes são enunciadas pro
postas que dizem directamente respeito a ambas
estas questões.
126
Plantio
Na fotografia à direita,
Belgrave Square após o
retirar dos gradeamentos
e antes da colocação
duma vedação mais
austera. Esta sebe
espessa e arbórea, cujo
alinhamento é garantido
por estacas, e mais altas
que um homem, teria
constituído adequada
garantia de salvaguarda
dos prazeres interiores
do jardim , desde que
convenientemente
cuidada e mantida.
Constitui na época uma
contribuição real à
paisagem urbana
envolvente — densa
vegetação, transbordante
e inatacada pela
concepção ornamental do
jardineiro municipal.
À esq. um troço do
gradeamento corrido de
Bedford Square. Um
bom exemplo duma
restrição física, bem
desenhada, e, neste caso,
valendo muito a pena
manter.
127
R estrições ocultas
c!L U iA
129
Woodstock
131
130
In stitu in d o
o código
V *
O passeio atravessa a
rua, e um bom aviso,
tanto para o peão como
para o condutor, é dado
pela faixa de calçada,
entre o betuminoso e as
lages do passeio. Apenas
um exemplo de como
vários m ateriais, se
codificados, poderiam
ser instituídos,
contribuindo para um
códido visual da estrada,i,
estabelecendo
convenções,
comportam entos e
limites.
M ateria is
Articulação do
movimento, através de
um contraste mais
intenso entre superfícies
e da introdução de
técnicas direccionais. A
rua é a mesma, mas as
lojas cederam o lugar à
habitação, de modo que
a calçada regressa
marginando as lages do
passeio. O resultado
confirma a
independência do
pavimento em relação ao
edificado.
Descontracção
133
134
DESURBANISM O
135
O ambiente resultante do isolacionism o pode ser suficientem ente largos para conter as m ultidões que
analisado na perspectiva aérea parcial de A deyfield, em fazem compras em Oxford Street; M as a dez xelins a
H em el H empstead N ew T ow n, (fig . 5 ), que revela uma jarda quadrada'? Seguramente que não. Plantar relva
tão generosa ocupação do so lo , ou antes, não então? Mas a relva tem que ser cortada. Plantar flores?
ocupação, que a infeliz dona de casa se vê reduzida a Também exigem manutenção. (Fig. 8, H em el).
fazer as suas compras em lojas itinerantes, (fíg. 6). A
utilidade do com ércio deste tipo nas planícies
canadianas é com preen sível, mas encontrá-lo numa
pequena cidade inglesa só vem demonstrar que se
perdeu totalm ente o c ontrolo da esca la do
desen volvim ento. Outro problem a derivado deste
m esm o gigantism o de escala é a questão de saber o que
fazer com todo o so lo que não é ocupado com 1 Um xelim , ao câm bio em Julho 79, equivalia
construção (fig. 7, Stevenage). Fazer ruas? Basta aproximadamente a 5 escudos; 1 jarda = 0 ,9 1 4 metros.
fazê-las relativamente estreitas. Fazer passeios então? N ão esquecer que a 1 .a edição deste livro data de
Se a rua é estreita, o s passeios deverão ser largos, 1961. (N . do T.)
136
9
Seja com o for, a impressão principal da desurbanização som brias, sujas e asfixiantes que sejam as cidades mais
é a do descam pado, a sensação que os pequenos antigas, na sua maioria mantêm esta virtude, que
ed ifícios de 2 p iso s são de longe dem asiado representa o elem ento essencial sem o qual uma cidade
insignificantes e temporários para poder com petir com não será cidade, e com o qual a falta de ar é um mal
a monum entalidade dominante dos esp aços. A quilo a m enor cham em os-lhe a «essência» do urbano. Onde se
que m enos convida é a um passeio a pé; o pobre peão encontra nas novas cidades? Ou será que as novas
enche-se de desespero perante uma infinidade terrível cidades são concebidas com o negativo das cidades
de exten sões ritmadas por grandes lagos de cim ento. tradicionais, e portanto com o negativo da «essência»
D eve ser deixado claro, que o carácter fortemente urbana? N ão encontram os nelas traços d isso. Em seu
crítico destas observações não é dirigido aos lugar, constatam os o crescim ento de um n ovo ideal,
arquitectos, uma v ez que na sua maioria, o s edifícios que poderia ser descrito com o da «baixa-mar»; o culto
em si são bem conseguidos; pena é , que no Plano do isolacionism o. É com o se o m ovim ento para fora da
Geral o s arquitectos sejam vítim as das suas próprias cidade se realizasse por pessoas evitand o-se
com issões qu e, inexplicavelm ente, alim entam esta cuidadosam ente um as às outras, e fazendo de conta que
febre de dispersão, juntamente com a ideia de que não estão sozinhas. O resultado é um paradoxo, o paradoxo
é m uito agradável ter vizinhos, e de que a cidade ideal do isolam ento concentrado, a antítese directa da
seria aquela que ocupa — ou desocupa — um «essência» do urbano, que resulta com o consequência
descam pado (fig. 9 , Stevenage). do im pulso social. M udando do isolacion ism o físico ,
Uma das características essenciais de um aglom erado para aquilo a que se poderia chamar de isolacionism o
traduz-se num encontro de pessoas e serviços tendente p sico ló gico, encontram os um exem p lo esclarecedor no
a gerar um «calor cív ico » . Por muito sobreocupadas, tratamento dado a uma velha igreja em Harlow N ew
137
• * t im
2,1 4
138
fow n (cidade nova de H arlow, fig. 10). Os urbanistas
eSforçaram-se claramente por tirar partido desta
^ .existên cia, mas pensar-se-ia que uma construção
jesta natureza seria tomada com o um centro para
jstimular o desen volvim ento, im pondo-se com o local
j e reunião, papel que as igrejas sempre
desempenharam no urbanismo em Inglaterra. Pelo
contrário, foi rodeada por zonas verdes, quando m esm o
peus não ex ig e m ais que um a cre1; e todas as
habitações têm as traseiras viradas para ela. D e tal
maneira que m esm o os pontos de vista mais
interessantes sobre a igreja (embora interrompidos
abruptamente, f ig . / / ) , parecem involuntários. Noutro
exemplo, uma rua com ercial, em Stevenage (fig. 12),
mostra-nos com o se lançou aos ventos um outro
possível centro ou local de reuniões. É claramente
auto-apagado, na sim ples continuação do alinhamento
das habitações. Ern lugar de servir c o m o um local de
congregação, tranforma-se num alinham ento
prolongado, em que os edifícios fazem bicha uns atrás
dos outros. Ainda outro aspecto da desintegração pode
ser encontrado nas moradias em H em el, fig. 13.
Quando se registam variações de tip ologias, tendem a
surgir relações entre os elem entos edificad os que
podem ser utilizados de forma eficaz para animar o
conjunto. A qui, pelo contrário, fica-se com a ideia de
que os ed ifícios desconfiam uns dos outros, que a
colaboração mútua é assaz imprecisa,
pelo contrário, quando os ed ifício s são idênticos, sem
preocupações de alinham entos e de cotas, não se obtém
uma variedade mas sim uma m onotonia, lam entável e
triste. A A A ... O O O ...
... O nosso últim o exem plo é o centro cív ico de
Adeyfield, H em el Hem pstead, fig. 14, onde tem os a
grata ilusão de um largo contendo, sensatam ente lojas,
cafés, cinem a e igreja. N o entanto, em lugar de um
largo com o clím ax do bairro, o seu ponto central e
principal, este é relegado para um lado, evitando, na
medida do p ossível, uma relação directa com as
habitações que em princípio deve servir, (fig. 15.).
Interlúdio em Blanchland
As novas cidades aqui referidas estão em oposi
ção absoluta com toda a tradição do urbanismo
inglês, ou, de resto, com qualquer urbanismo. O
urbanismo inglês tem sido tradicionalmente mais
«aberto» (no passado), que o urbanismo europeu2,
mas este tipo de espaços descobertos contradiz e
compromete toda a ideia de cidade. Pelo contrário,
Blanchland no Northumberland, embora não passe
de uma aldeia, apresenta características urbanas
muito evidentes. Com base na fotografia aérea
(página seguinte), foi esboçada a seguinte sequên
cia de pontos de vista de modo a ilustrar as suas
características essenciais.
(fig. 16), aproxim ação da entrada. A abertura revela
uma existência urbana, na paisagem rural.
(fig. 17), entrada, com o percurso bloqueado, à frente,
por uma construção, o que sugere a noção de recinto, a
espaços ainda por descobrir.
(fig. 18), ao virar a esquina, o espaço alarga 1 U m acre = 0 ,4 0 5 hectares. G od’s acre (o acre de
surpreendentemente, terminando numa garganta escura D eus) é o cem itério. (N . d o T. )
e convidativa. 2 Entenda-se «do resto da Europa. (N. do T. )
139
(fig. 19), neste recinto encontram os o com ércio a
lado e um p asseio, largo, que se enche de bancas cnj
dias de mercado.
(fig. 20), enquanto que, se nos voltarm os, o recinto
d om éstico é-nos revelado.
(fig. 21), a saída. Ainda aqui, não nos é apresentada
uma perspectiva interm inável, mas sim uma perspectjy
enquadrada pelo edificado.
140
22,23
geral» nas compras não é substituído para compras
A «REGRA GERAL >
criteriosas; da mesma maneira o sistema da «regra
E m In g la terra , o p ro p rietá rio a u s e n te é a m a io r geral», em urbanismo não é um substituto eficaz
m a ld iç ã o d a p a is a g e m rural. O a n tig o p r o p r ie tá r io , para a prática de uma arte da paisagem. Felizmente
o h o m e m q u e a c r io u , fo i e x tin t o à fo r ç a d e o espaço rural não foi ainda inteiramente abando
im p o s t o s , e o s n o v o s p r o p r ie tá r io s , a s a u to rid a d e s nado. Ainda sobrevivem aquelas aldeias que e s tu
m u n ic ip a is o u c e n tr a is, h a b ita m na c id a d e o u n o s dam humildemente o seu pedaço de campo e que
s e u s a r re d o r e s. C o n s e q u e n te m e n t e , o s e n tid o d a estão preparadas para o defender contra o bulldozer
p róp ria r e s p o n s a b ilid a d e , q u e n a s c e d o c o n h e c i desenfreado do urbanismo da «regra geral». Ire
m e n to e d o a m o r a u m a d e te r m in a d a p a r c ela mos descrever aqui um desses casos.
r ú s tic a , n ã o e s tá p r e se n te , e é s u b s titu íd o p o r um Bingham’s Melcombe, a casa de campo da
c o n tr o lo g e r a lm e n te b e n é f ic o , m a s rem o to : é a família Dorset, é confortável e aconchegada. Tem
d ife r e n ç a e n tr e um pai e um p a d ra sto . (É fr e q u e n te em si própria um certo «charme» e encontra-se
e n c o n tr a r -s e u m a a ld e ia q u e p e lo s e u ar arru m a d i- aninhada informalmente num vale espaçoso. 0
n h o e c u id a d o , im e d ia ta m e n te s e d e m a r c a d o facto de ser um edifício classificado2 é uma indica
p a n o ra m a g e ra l d e d e c a d ê n c ia , d e sa r r u m a ç ã o e ção do seu reconhecido valor. O vale em si, é de
d e s c u id o e v ir -s e a d e s c o b r ir q u e a in d a é da uma grande beleza, e, tanto quanto sabemos,
r e s p o n s a b ilid a d e d e u m a fa m ília ). encontra-se proposto para classificação como
A isto se acrescenta que as autoridades, quase sendo do «mais alto valor paisagístico». Mas não
por definição, estão mais interessadas na arte de se trata aqui de duas entidades separadas, edifício e
governar que na arte de urbanizar, e o que acontece vale. Se se destrõi o enquadram ento, atinge-se o
à paisagem será a resultante política das várias edifício, e pela mesma ordem de ideias, se se
forças em presença. Por um lado há pressões que substitui o edifício por uma central de energia, o
nascem das necessidades em habitação, estações vale é atingido. Nas terras do proprietário, ao
eléctricas, electrificação ferroviária, instalações fundo, a rematar a perspectiva sobre o vale, era
militares, aeroportos, estradas e parques de esta claramente visível um alinhamento totalmente in
cionam ento, transmissores de rádio, exploração de congruente de moradias. O proprietário plantou
minérios, etc.. E por outro lado há pressões prove uma faixa de castanheiros que funcionam como
nientes de grupos que tentam preservar a paisa cortina, de modo a ocultá-las e a preservar a
gem, como o C .P .R .E .1. unidade do vale.
Não é portanto supreendente que as autoridades, A ameaça seguinte, a qual de resto nos diz aqui
na sua tentativa para conciliar estas pressões numa mais directamente respeito, surgiu quando se des
única resultante, recorram a grandes princípios cobriu que a Central Electricity Authority3 se
que, duma maneira geral, ou funcionam ou tentam propunha fazer pelo vale uma nova linha de Alta
fazer do mal o menos: a «regra geral» em urba Tensão já que acontecia estar no caminho entre
nismo. Poole e Yeovil. Como resultado de reuniões entre
Isto no entanto não pode passar dum alibi para o as três partes interessadas, o proprietário, o Gabi
paisagista imaginativo. É executado por proprietá nete de Planeamento da Autarquia, e a Central
rios ausentes que têm apenas um conhecimento Electricity Authority, concordou-se num trajecto
marginal da arte da paisagem. É natural que tudo alternativo que evitava o vale e atravessava terras
isto acabe por conduzir a abusos e escândalos. aráveis com uma cota mais alta e escassos habi
Talvez possamos esclarecer esta situação com um tantes. Acordo esse que foi posteriormente rescin
pequeno exemplo. A família Smith, de uma ma dido e, na altura em que estas linhas foram
neira geral, come o carneiro assado ao domingo. A escritas, a situação era essa.
sr.a Smith, no entanto, como boa dona de casa, se Não faz sentido! Pelo menos, não faz sentido
não encontra um carneiro com bom aspecto, com enquanto não nos apercebermos de que a Autarquia
pra outra coisa qualquer. A sr.a Smith adoece e o está a tentar preservar o valor de Dorset, e que tudo
sr. Smith vai às compras. Ele não sabe quase nada indica que a «regra geral» a aplicar aqui é que se os
sobre como fazer compras, mas sabe que geral postes de electricidade agridem, devem permane
mente ao domingo comem carneiro. De tal maneira cer escondidos. Consequentemente devem evitar o
que insiste em comprar uma perna de carneiro, que horizonte e, custe o que custar, atravessar os vales.
acaba por ser um desastre. O sistema da «regra É preciso com er cameiro assado aos domingos
1 C ouncil o f the Preservation o f Rural England, orga 2 Scheduled building, no original, o que significa que
nização privada fundada em 1926, v isa a protecção da se encontra entre o s cerca de 170 0 0 0 «listed buildings»,
paisagem rural contra a realização de certas obras (estra ou seja ed ifícios de reconhecido interesse arquitectóni
das, explorações m ineiras, redes eléctricas), mas assum e cos. (N. do T.)
igualm ente um papel actuante no esforço de preservação
de pequenas cidades e aldeias, e d os seus ed ifício s e 3 Empresa pública distribuidora de energia eléctrica.
m onum entos históricos. (N. do T.)
142
r
143
«REGRA GERAL.»
Perspectiva do jardim de
Bingham’s Melcombe,
mostrando como os
postes de A. T. viriam
desfigurar o
enquadramento dum
importante e classificado
solar.
Os postes de A. T.
acompanhando a estrada
do vale. A imposição da
«regra geral» assegura
que seriam vistos pela
maioria das pessoas, a
maioria das vezes.
Perspectiva do vale
mostrando como a
paisagem bucólica seria
estilhaçada pelos'postes
de A. T ., os quais
incidentalmente, devido
à necessidade de seguir
em linha recta sempre
que possível, teriam
tendência a cortar curvas
e a provocar, portanto, o
abate de árvores.
144
a d a p t a b il id a d e
Os postes de A. T.
afectariam esta casa
isolada, mas já que se
trata da escolha de um
mal menor, poucas
pessoas poderiam
seriamente sustentar que
este é um mal maior.
A estrada, durante
grande parte do seu
percurso, é protegida por
uma sebe alta que oculta
a linha de A. T. que a
acompanha por trás.
145
ILUM INAÇÃO PÚBLICA nando os edifícios ridículos e miniaturizados 0u
como em Kingsway, p. 148, falha como contributo
Nesta secção vamos dirigir a nossa atenção mais para a complexidade da paisagem (que uma rede
para o impacto provocado pela instalação de siste decente tem obrigação de fazer por ser demasiad0
mas modemos de iluminação pública urbana do tímida e insignificante.
que, propriamente, para o desenho das peças e dos Unidade cinética: Ou seja, a unidade do movj.
candeeiros. É, evidentemente impossível dissociar mento. A maioria das redes, encontram -se, claro
estes dois aspectos, já que, como em qualquer em vias que de uma maneira geral transmitem uni
outro aspecto da paisagem urbana, há duas facetas movimento linear. Mas, e os estudiosos da paisa
que nos dizem respeito: primeiramente, o desenho gem urbana sabem-no bem, há muitos outros tipos
em si, e, em segundo lugar, a relacionação ou de recintos urbanos: praça, «croissant»3, rotunda
montagem dos elementos desenhados. No entanto, espaços delimitados, etc., que representam espa
e de mom ento, devemos louvar o trabalho do ços de algum modo estáticos. Nesses locais tor
Council O f Industrial D esign1 no aperfeiçoamento na-se importante que as redes, sobretudo de dia,
do desenho das peças, e concentrarmo-nos no não venham interferir e destruir esta qualidade
efeito global da montagem das instalações. estática, envolvendo monumentos no seu próprio
Há dois lados a considerar nesta questão: as movimento.
normas técnicas de instalação, e as exigências Rigor: há alturas e lugares em que é difícil
paisagísticas. reconciliar sequer uma rede ortodoxa com um
Instalações recentes (pós-guerra) na Grã-Breta determinado espaço. Pense-se numa ponte recente,
nha baseiam-se no princípio da «visão em silhueta» uma peça esculpida em betão arm ado, e por muito
ou da luminosidade da superfície das ruas. Uma que se tente, o sistema tradicional de iluminação
vez que é economicamente impossível simular a através de fontes de luz colocadas sobre postes,
luz do dia, em que a superfície da via e os objectos vem contrariar as qualidades próprias dessa estru
que se encontram sobre ela são vistos tridimensio- tura. Vêm também à ideia certos lugares como o
nalmente e com cor, a alternativa é usar uma conjunto de Radcliffe Camera em O xford, e volta a
intensidade mais fraca de luz, de modo a fazê-la parecer difícil reconciliar a prática profissional
reflectir sobre a superfície da via de maneira habitual, com o caso particular. Por outras pala
uniforme, de tal modo que qualquer objecto sobre vras, e como os nossos exemplos virão demons
ela seja visto como uma silhueta que o olhar pode trar, de quando em quando tom a-se necessário
interpretar como sendo homem, cão, carro, obstá recorrer a soluções que fogem às regras, mesmo
culo, etc. (como vem descrito no British Standard que isso signifique algum sacrifício, e um desafioà
Code o f Practice CP 1004:1952).2 inventividade. Se, por conseguinte, o urbanista
O sistema baseia-se numa iluminação uniforme avançar estes pontos como essenciais para a cria
da superfície da via; não deverão existir zonas de ção e preservação de valores urbanos, e simulta
escuridão. Para se obter este^efeito, as fontes de luz neamente o engenheiro electrotécnico sustentar
devem ser localizadas com um certo rigor umas em que a «iluminação eficiente» vem em primeiro
relação às outras, sobretudo em curvas. A altura, lugar, e não for possível qualquer compromisso,
inclinação e localização começam a assumir uma teremos então chegado a um impasse. Felizmente a
certa inevitabilidade. Juntem-se a isto as recomen situação não é estática. Mesmo assumindo a vali
dações do Code O f Practice no tocante às cotas dade permanente da visão em silhueta, uma insis
(das fontes de luz) para vias do Grupo A (7,5 m) e tência do «Code o f Practice», em 7,5 m e 4,5 m,
do Grupo B (4,5 m), e tem os, em toda a sua respectivamente para vias dos Grupos A e B,
autoridade e inevitabilidade um modem o sistema aparece-nos como a enunciação forçada de uma
de iluminação pública, que desfila através da regra que nem sempre poderá ser aplicada.
cidade como um exército de formigas guerreiras. Parece evidente que o essencial está em atin
Observemos agora o outro lado da questão, o gir-se uma iluminação superficial uniform e, e não
lado da paisagem urbana. Uma instalação rígida e em especificar como se pretende atingir tal ilumi
sem escrúpulos, e a realidade das cidades e vilas, nação. O sistema, no entanto, encontrou o seu
são obviamente incompatíveis. Duma maneira ge Waterloo em Malborough (W ilts) onde se criou um
ral há três exigências que o urbanista coloca ao
engenheiro electrotécnico.
Obter: unidade de escala
unidade cinética ’ O rganism o criado em 1944 com a finalidade de
rigor introduzircfes/g/JÉ7\s qualificados na indústria, e estabelecer
standards aprovados em design industrial (N. d o T .). |
Unidade de escala: a rede deve acompanhar a 2 C ódigo que reúne o conjunto de normas inglesas em
escala da via ou do recinto. Transgredir este vigor para cada actividade sectorial. (N . d o T .).
princípio acabará por resultar numa rede que ou 3 v. d. Royal C rescen t. em Buxton C r e s c e n t ; o edifício
chama atenção sobre si própria como consequência disposto ao lóngo dum alinham ento em c r o is s a n t (N. do
da sua altura ou envergadura esm agadora, tor T .).
146
r
cedente. Embora High Street seja uma via do a luz. Porque ninguém melhor do que ele sabe a
Grupo A, as fontes de luz foram montadas a uma flexibilidade que as suas soluções podem assumir.
cota relativa de 6,00 m de modo a preservar a Encarar o projecto de uma instalação eléctrica
unidade de escala, após insistência nesse sentido como uma ciência exacta, parece-nos forçado, e
■a „R oyal Fine Arte C om ission.1 Tanto mais que a conduz a opções dogmáticas. Encarar uma instala
visão em silhueta» é em si, uma forma pouco ção eléctrica como um elemento desligado do
"atisfatória de iluminação. Se uma silhueta estiver tecido urbano, conduz inevitavelmente a abusos,e
atrás de uma segunda silhueta, só será visível uma oportunidades perdidas, e considerar a luz como
delas, e estaremos então perante o perigo dos sendo de uma outra natureza, em relação à luz das
motoristas serem incapazes de localizar a tempo montras, dos projectores de iluminação de facha
neões que surjam por trás de autocarros. Actual das, ou da iluminação de casas particulares, vem
mente, no entanto, já se encontram em fase de contribuir para a esterilidade da paisagem. O que
comercialização fontes de luz mais potentes, que se tom a necessário fázer, então, é integrar a
asseguram uma maior aproximação à visão tridi iluminação pública no tecido e na personalidade
mensional normal. Com a implantação destas própria de cada aglomerado, tanto de dia como de
novas fontes mudará seguramente toda a compli noite, manipulando a luz e as suas fontes com
cada disposição das actuais fontes de «visão de inteiro conhecimento e dedicação a esses mesmos
silhueta», já que quanto mais abundante for a luz, aglomerados e cidades.
maior flexibilidade se pode esperar do conjunto da
rede.
A moral de tudo isto começa a tom ar-se óbvia.
Nós limitamo-nos a fazer um apelo à flexibilidade. 1 C om issão com carácter consull iv o .cria d a em 1924, para
0 engenheiro electrotécnico, mal tenha a compre assistir a D epartamentos do Estado através de parecer sobre
ensão da paisagem urbana, responde, manipulando questões de ■•importância artística p ú b lica-. (TV. d o T.).
«Code o f Practice»
t A L .60T
# O T fL A visão silhueta, na qual a
i w u í / «e> superfície iluminada das
vias nos transmite, como
silhuetas, os objectos que
sobre ela se encontram, é
inequivocamente a pior
alternativa. Conseguir uma
iluminação em que não se
perca a noção do
tridimensional foi
considerado como pouco
plausível. A Fig. 1, mostra opções de iluminação cor
o absurdo de se tentar obter escassa sensibilidade, ou
uma visão normal através da mesmo brutais, num
iluminação artificial; daí o universo (fig. 3) em que
«Code of Practice», baseado tudo se rege pelas suas
na «visão silhueta» (fig. 2), próprias leis, deixando
que nas nossas cidades, pouco espaço para uma
resulta frequentemente em visão de conjunto.
147
As unidades
na paisagem:
escala
A unidade cinética é
talvez mais difícil de se
analisar, mas não deixa,
no entanto, de ser
essencial para a
paisagem. Na fig. 10, à
esq., temos uma aldeia,
em que a rua de
comércio transmite uma
noção de recinto, dada
pelos edifícios recuados,
e, para além da ponte, a
nossa perspectiva é
obstruída por
arborização. A paisagem
é estática, enquanto que
a rede de iluminação,
adaptada na fig. 11, a
atravessa de um lado ao
outro. A unidade cinética
é estilhaçada.
10
11
149
Rigor
150
Para uma maior
flexibilidade
Iluminação experimental
junto a St. Pancras
utilizando fontes mais
potentes, vem sugerir
que nos afastamos da
* m
teoria da «visão
silhueta».
20, após
Flexibilidade
As figuras 22 e 23 (em baixo) mostram a mesma largo do município iluminado por fontes
cena com diferentes efeitos de iluminação. Da colocadas em postes, a 7,50 m, e iluminação em
esq. para a direita: uma via com as fontes a consola na paragem de autocarro. Publicidade
6,00 m de altura, de modo a conservar a iluminada com projectores, bem como um bloco
arborização. Perspectiva obstruída por vitral de de apartamentos. Monumento à Guerra iluminado
igreja. Uma lanterna vertical, a 10,50 m por projectores colocados dentro da água que o
funcionando como farol para condutores nos rodeia. Edifício com fachada — cortina contendo
principais cruzamentos. Iluminação em consola já o sistema de iluminação do espaço público
no pequeno edifício recuado. A torre da igreja envolvente, iluminando-se interiormente ao cair
iluminada por lâmpadas de nevoeiro, de sódio. O da noite.
22. 23
152
portante do séc. XX para a paisagem urbana. De
PU BLIC ID A D E DE RUA
noite veio criar uma paisagem inteiramente nova.
Estranhos padrões pairam nos céus, imensos anún
Os anúncios e publicidades nas ruas, embora cios transmitem as últimas notícias, luzes brilham,
quase totalmente ignorados pelos urbanistas, cons sobem e descem , deixando o citadino perfeita
tituem uma contribuição (bastante óbvia e fre mente fascinado, enquanto o urbanista, aparente
quente) para a paisagem urbana. Toma-se muito mente, se mantém imperturbável. Toma-se quase
difícil, folheando os desenhos de perspectiva de desnecessário referir que toda esta publicidade
possíveis cidades novas, encontrar qualquer refe deve ser cuidadosamente controlada, e que o tipo
rência à publicidade. E no entanto esta parece ser, de obscenidade das figs. em cima se devem evitar a
no meio de tanta coisa, a contribuição mais im todo o custo.
153
Mas pôr de parte toda a publicidade, aquando do sentativos de grande parte das objecções levanta
arranjo urbanístico das novas cidades, seria um das à publicidade exterior, no campo ou na cidade.
pretenciosism o, reminiscente dos tempos em que o Argumento 1. O cavalo branco de Uffmgton e o
projectista ignorava tudo o que escapasse ao seu Gigante de Ceme Abbas são incongruentes.
gosto pessoal. Quando, pela primeira vez os vemos, são chocan
Os quatro grandes argumentos utilizados geral tes. E no entanto não vêm desfigurar a paisagem,
mente para contrariar a publicidade de rua, são os pelo contrário, justificam -na pela incongruência de
seguintes: escalas. Mas se o Cavalo Branco anunciasse uma
1. Os anúncios são incongruentes e portanto marca de W hisky, e o valoroso Gigante um pro
contrários ao bem-estar das populações. duto para tornar as pessoas mais jovens», seriam
2. Invadem os espaços públicos, e os habitantes incongruentes num outro sentido. Temos assim
não têm outro remédio senão reparar neles. dois tipos de incongruências, uma visual, e outra
3. Banalizam o ambiente e vêm degradar o ética. Voltando à cidade: em Vanity Fair, com as
gosto popular. suas lojas e ruas cheias de gente, teatros e salões de
4. Distraem os condutores e os utentes das vias. dança, o segundo tipo de incongruências desapa
rece como por encanto. As pessoas continuam a
Vale a pena analisar estes argumentos um por gostar de comprar e vender, de anunciar e reparar.
um, uma vez que podem ser considerados repre Faz parte da nossa civilização. A publicidade é
154
págs. 154 e 155
A decoração de edifícios
airavés da publicidade
escrita ou desenhada, pode
jer mais organizada ou mais
informal, mas de qualquer
forma traduz-se num
acréscimo de riqueza em
cor e forma, que pode
resultar encantador.
* è z .
aceite como um factor normal da vida nas cidades. gosto popular, que já de si, não é particularmente
Resta-nos assim, apenas a incongruência visual e educado, mas tem um grande mérito, a sua vitali
aí está algo que seguramente o urbanista se deveria dade. Encerrar a publicidade numa camisa de
apressar a aceitar como uma importante ajuda. Se forças, restringi-la, não virá beneficiar o gosto
for possível ao leitor encarar a cidade como uma popular, e por outro lado, retira-lhe a sua vitali
paisagem construída pelo homem, podemos tentar dade. A saída está seguramente em deixar que
transpor os cavalos brancos e os gigantes das todos se manifestem, já que a expressão é em si
montanhas para um tipo de publicidade de pedra e uma forma de educação. Desta maneira, a popula
cal, sem perda de integridade. ção e a publicidade evoluirão em conjunto.
Argumento 2. É inteiramente verdade que a Argumento 4. Os anúncios vêm distrair os
publicidade invade espaços públicos, mas parece condutores. Quando tal acontece, são de facto
também difícil encontrar outros locais onde se prejudiciais, e o urbanista deve tomá-lo em consi
possa convenientemente localizar. deração, mas estes perigos são frequentemente
Argumento 3. A publicidade vem degradar o exagerados pela facção antipublicidade.
155
utilizadas durante a guerra em algumas
exposições para tirar partido de situações e
locais. A dramática mudança de escala do
gigante de Cerne Abbas encontra-se aqui
transposta para o tecido urbano.
Em baixo, à direita: mudança de escala; a
modesta moradia transformada em bijou pelo
imenso lettering. Por vezes um falhanço, mas
sempre cheio de possibilidades visuais.
Em baixo, à esq.: Pano de fundo para a vida do
dia-a-dia.
•V .' Já
156
A PAREDE
Qualquer actividade conforma-se, de alguma dade, uma tentação, aos que têm a construção no
maneira, com os limites do mais apropriado, e neste sangue, tal como uma folha virgem de papel
caso o tratamento que se dá às paredes é seme representa uma aventura para o artista. O controlo
lhante. No entanto, o primeiro aspecto deste trata adequado parece residir no ênfase que se quer dar,
mento que nos ocorre é a tentativa de tirar o máximo ou na reavaliação que se pretende fazer, de uma
partido, dentro dos mencionados limites. Assim, e função. Os padrões geométricos repetitivos (azu
para tomar um exemplo tradicional, é frequente lejos, por exemplo), foram provavelmente evoca
encontrar-se uma parede de sílex*, as pequenas dos pela representação lírica, embora dramática,
pedras arredondadas constituindo-se numa textura da estrutura tradicional. Mas actualmente, a varie
agradável. No que diz respeito a esta parede, o dade de métodos construtivos, de que dispomos
aspecto principal é o da textura, e neste sentido ela permite encarar o desafio do vazio sob perspectivas
é caiada, não é cinzenta, ou vermelha ou azul, mas diferentes e mais apropriadas. O meandro tem tido
branca, porque deste modo se extrai o máximo um certo êxito no presente; é não direccional e
partido dos contrastes luz/sombra na textura. Den ambicioso de espaço e pode ser aplicado nos
tro destas limitações, no que respeita aos materiais grandes blocos nos quais reforça o sentido do porte
do construtor local, e da arquitectura popular, no e homogeneidade.
que respeita ao «mais adequado», este é o máximo A pintura mural tal como é habitualmente aceite,
partido que é possível obter. Parece-me possível isto é, uma versão ampliada da pintura de cavalete
afirmar, em última análise, a presença deste não se encontra no âmbito desta análise, embora se
derradeiro efeito, duma maneira ou doutra, em considere que o tratamento de uma parede é
qualquer situação de desenho urbano bem conse sempre, num certo sentido, uma pintura mural.
guido. Será este então o primeiro aspecto de Mas, para sermos claros, o tratamento de uma
disposição; o segundo, que pode eventualmente parede, no sentido em que aqui o entendemos,
não passar de uma faceta do primeiro, diz respeito nasce do intrínseco na construção, seja ele reflexos
ao que se poderia chamar o desafio do espaço num vidro, o padrão de uma estrutura metálica, ou
vazio. Trata-se de uma concepção extremamente uma simulação na construção.
simples, mas difícil de explicar, porque sujeita a Uma descrição visual destes argumentos, com
interpretações erradas. O perigo está em ser-se pilada a partir de exemplos tradicionais e moder
tomado como adepto da ornam entação, na qual o nos, encontra-se nas páginas seguintes.
verdadeiro significado de uma estrutura é camu
flado através de um tratamento irrelevante das
superfícies. Mantém-se, no entanto, como certo,
que uma superfície vazia oferece uma oportuni * N. do T.: wall built of flints.
157
Olhar em pormenor
158
Cativar o olhar
1, o oposto da
vulgaridade — preto e
branco, soleira em
bronze polido,
enriquecida com uma
faixa de azulejo. É um
gesto para com a rua,
desenhado para ser visto,
composto por elementos
estruturais, dos quais se
tira o maior partido.
159
2, 3
4, 5
160
Tirar partido das
superfícies
Dois exemplos de
padrões inventados
(figs. 6 e 7), um beiral
trabalhado, e uma
entrada. Utilizando
recursos mobilizados
para um determinado
espaço/tem po, foram
criadas imagens que nos
retêm o olhar — um
beiral, um soco, uma
moldura de porta e um
pilar saliente. A intenção
é clara: parafraseando
motivos funcionais, o
espaço nu foi reanimado.
O olhar não escorrega,
mas, pelo contrário,
6 delém-se, intrigado, e
neste caso não pela
„ textura, mas pelo motivo
‘ inventado. Podem-se
encontrar mais exemplos
nas páginas seguintes.
Esta faceta do tratamento de
superfícies implica um mais
elevado grau de talento visual.
Aqui, o ênfase recai sobre o
desejo primitivo de preencher
vazios, embora a definição de
vazio tenha variado
obviamente através dos
tempos.
Dada uma superfície virgem, a
maneira mais fácil de a
preencher será com uma linha
contínua, cursiva, reminiscente
dum garatujo infantil. Não é
surpreendente que o exemplo
da fig. 8 , onde se vê uma
faixa de reboco pintado,
represente uma antiga arte
rural. Na tig. 9, encontramos
as 8, 9 (na exposição de Paris de
to 1937) uma versão
1°> 11 contemporânea desta mesma
ideia.
Duas variações tendo a pedra
como motivo. Na fig. 10,
desatentos ao realismo, e de
ânimo leve, utiliza-se o trompe
l’oeil para simular a pedra e
para a tornar um elemento
poderoso no tratamento da
superfície. Na fig. 11,
encontramos um exemplo a
meio caminho entre a textura e
o padrão inventado, uma vez
que as juntas, exageradas,
formam um desenho linear que
se impõe como o motivo
dominante.
V irar o m a io r parV\do
164
orienta de acordo com o
vento, de m odo a
dim inuir-lhe o s efeito s, e o
sol que houver poderá
aquecê-la por irradiação. É
feito em p e rs p e x ' m oldado,
com o lem e de alum ínio, e
montado sobre uma calha
de bronze: mostra-se
adequado para jardins,
coberturas em terraço,
p asseios, pon tões, ou, na
realidade, para qualquer
sítio. N a fig . e vem os esta
m esm a ideia, um pouco
mais desen volvid a, com
aquecim ento solar através
da cobertura. Tanto a
cadeira reclin ável, mais
íntima (fig. g ), com o o
com partim ento (fig. f), são
em p e rsp e x e alum ínio. A brigos
com ar condicionado.
Podem ser de vários tipos,
o m ais sim ples dos quais
resulta duma m odificação
do abrigo natural, pela
introdução de aquecim ento
solar através da cobertura
(fig . f), e duma ventilação
eficaz. N um pontão, num
parque, na South Bank, em
g
Leicester Square ou nos
f Prince’s Gardens, uma
m oeda de sixpence na
ranhura dará direito a duas
horas de sol sintético, e a
chuva nas ruas
providenciará o espectáculo
grátis no exterior. A brigos
m ecânicos. Qualquer janela
pode ser considerada um
abrigo m ecânico, uma vez
que se pode fechar quando
o tem po está m uito frio, ou
de chuva.
Há muitas actividades,
com o com er e dançar, que
se podem perfeitamente
desen volver ao ar livre,
quando o tem po a isso
convida. Estruturas rotativas
ou deslizantes, já utilizadas
em alguns cafés com o o
C olisés nos C am pos E lísios,
tiram o m áxim o partido do
tem po. Por exem p lo, um
salão de baile com paredes
deslizantes (fig s, h e i); um
restaurante e um bar com
paredes deslizantes (figs, j e
k), em que xxx indicam em
planta as zonas em que as
paredes deslizam , as riscas
* p e rsp e x com piexiglass, a zona de bar ou de serviços,
resina acrílica transparente, o ponteado a zona de estar,
tinta ou incolor, com e as setas indicam rampas.
espessuras variando entre 1
e 25 m m . (N . do T .)
165
PRECEDENTES ILUSTRES Beaufoy na Town Planning Review, é o Well Hall
Estate, em Eltham, construído em 1915. O se
gundo destes exemplos, construído em 1953, é
Embora não ainda uma arte popular, poder-se-ia Redgrave Road em Basildon. Embora pequeno, é
chamar legitimamente à paisagem urbana uma um caso exemplar de como se pode fazer unia
nova arte, no sentido em que nunca até agora tinha revolução pacífica no meio de uma selva de regu
sido aplicada à escala nacional. O que, todavia, lamentações e posturas através de uma acentuada
não quer dizer que não tenha sido aplicada neste política visual. Um arquétipo não serve só para
século, individualmente, por arquitectos de grande aferir o desenho, surge também como um inespe
sensibilidade e visão. Uma análise cuidadosa do rado mas agradável estímulo ao urbanista que pode
desenho de conjuntos residenciais urbanos e su imaginar estar a trabalhar isolado. Estes exemplos
burbanos traria à superfície o trabalho de urbanis funcionam exactamente como arquétipos, e como
tas de outro modo desconhecidos. Aqui ficam dois tal, terão sempre lugar em qualquer antologia de
exemplos. O primeiro, já apontado por S. L. G. desenho urbano.
A rquitectos
Mr. (m ais tarde SIR FR ANK) B A IN E S A . J. PITCHER, G
E. PHILLIPS, J. A . B O W D EN E G. PA RKER.
Aqui a densidade varia desde a zona verde urbana à rua
com pacta e densa produzindo súbitos contrastes. Este
esb oço mostra o desenrolar de sucessivas persp ectivas... a
antecipação... surgindo do traçado sinuoso do arruamento.
Uma clareza adicional surge na m aneira co m o a rua está
articulada. O tema é a empena; ( a da direitaj avança
acentuando a curva no arruamento, en quanto por trás uma
outra retém o olhar, de m odo a que a ffep etiçã g} crie um
dim inuendo geom étrico evitando sim ultaneam ente a
m onotonia da rua-padrão
166
A franca utilização de (desníveis! acentuando a sinuosidade da linha, oferece
uma variedade à rua, (em op osiçãõjaos taludes suaves do ajardinado). Eni certas
zonas, a construção é trazida até (m esm o junto à rua, uma heresia chocante na
perspectiva da esco la « isolacionista>s) mas que paga grandes dividendos em
termos de personalidade urbana.
[STAgKEYS
Esta operação falha, todavia, a o / nível dos usos nao residenciais. Há uma
carência im ensa de lojas ou umf p u b j , algum a indicação de que as pessoas levam
uma vida social. Procura-se por todo o lado o toldo ou a tabuleta da loja que nunca
aparece.
Nota
Se o s estatutos podem ser descritos co m o abstrac-
ções jurídicas construídas sobre vários preceden- ||g
tes. então podem os dizer que tanto nesta operação l j
com o em Redgrave Road o s arquitectos co n seg u i
ram repor a variedade nas abstracções, uma vez
que em am bos os casos foram permitidas ex cep
ções a alinham entos, sem as quais o s conjuntos
não teriam resultado.
167
I 9S3 , HD. S A S i L O o N T O W N
168
Embora toda a rua seja abrangida com o uma unidade pelo
olhar, isto é , é sim ples e facilm ente com preensível, pode
no entanto ser comparada a um acorde com posto por
várias notas diferentes. Por um lado a diferenciação entre
rua e p asseio, em que este último e sco lh e o seu próprio
[percurso) e não se encontra inapelavelm ente ligado ao
trânsito. N este esb o ço vêm o-lo subitam ente abandonar o
arruamento em direcção às habitações.
A paisagem urbana é vista aqui não com o decoração, nem com o um estilo ou
estratagem a para preenchimento de esp aços vazios com calçada; é vista com o a arte de
M ORAL utilizar materiais «em bruto» — ca sa s, árvores e ruas — de m odo a criar um ambiente
v ivo e humano.
169
Nesta sequência de três fotografias observamos o encontro do vegetal e do
construído. A verticalidade nua...
170
171
... verticalidade eminente: o fantástico candelabro é como um símile das
leis estruturais da vegetação.
À esq. em baixo,
edifícios e árvores
baixas. Um efeito
construído à medida,
pequeno em escala e
íntimo no carácter.
À direita, edifícios e
árvores altas. Efeitos de
movimento e de ritmo
produzidos pelo acentuar
do elemento vertical.
172
Sombra
Filtro
Aqui o efeito da
folhagem é muito
importante, e de toda a
variedade de folhas,
desde a penugem da
tamargueira ao eucalipto
polido. Folhas
translúcidas ou opacas,
gigantes ou mínimas.
* T
173
•
Papel de parede é
gratuitamente fornecido a
esta casa de vidro na
qual a parede
desapareceu, no sentido
em que actua como
superfície que reflecte as
árvores próximas.
174
f
Traço
Geometria
De maior aplicação em
paisagens tropicais, em
que árvores e plantas
expõem uma estrutura
mais directa; mas a
geometria da construção
combina-se com a
geometria mais fantástica
da biologia.
175
T
Mobile
O efeito de correntes de
ar sobre ramos e folhas
isoladas, pode ser
assemelhado a um
mobile, sobre uma parede
banal.
d e s n ív e is
A arte de jogar com diferentes níveis é uma parte Como fazê-lo? Recorrendo a um desnível, mas a
importante da arte da paisagem urbana. Variações determinação do plano a elevar ou a baixar deverá
no nível do terreno podem ocorrer quer directa depender do efeito psicológico, já mencionado, de
mente, resultantes do perfil do local quer artifi se estar acima ou abaixo do nível de referência.
cialmente, surgindo das solicitações que o urba Haverá então outros aspectos com respeito ao
nista deve satisfazer. Mas seja qual for a sua nível, para além dos aspectos funcionais e psicoló
origem, as nossas reacções aos níveis são acentua gicos? A resposta é sim, e o terceiro aspecto diz
das antes de mais pela sensibilidade particular que respeito às qualidades objectivas e puramente vi
sentimos em relação à nossa posição no mundo. suais inerentes a um mundo que por muitas razões
Qualquer local tem o seu nível de referência, e se recusa a ser plano.
pode-se estar sobre ele, para cima ou para baixo. A mais simples de todas consiste em ver, em
(Será preciso atender também a que cada pessoa estar consciente, da ondulação do terreno — o
transporta habitualmente o seu próprio nível de cultivar do olhar do escultor. Quantos lugares, à
referência). Estar acima do nível de referência primeira vista planos, revelam após mais cuida
produz uma sensação de autoridade e privilégio; dosa inspecção o ondular subtil que dá vitalidade a
estar abaixo, uma sensação de intimidade e protec uma imagem? Isto pode ser mais facilmente aper
ção. cebido se houver um nível que lhe sirva de referên
Estas sensações pressupõem uma relação muito cia, em relação ao qual possa ser medido ou
directa entre o observador e o seu meio ambiente. comparado, ou um indicador— uma guarda (v. d.
O prazer da sensação de autoridade e privilégio é Guardas, pág. 182) que nos revela o que acontece
de uma natureza bastante diferente do prazer de para além do horizonte imediato.
outros efeitos da paisagem urbana — o brilho da O facto de uma superfície inclinada estar em
Escultura
textura de uma parede, ou o perfil de uma letra no maior evidência do que uma superfície horizontal
anúncio de uma loja. No primeiro caso o observa pode ser aplicado de forma útil para criar uma
Aqui temos de novo dor está comprometido; no segundo caso, pode noção de espaço, sobretudo aonde há multidões.
âmbito para a espécie, considerar-se como mais distanciado. E no entanto Os visitantes à South Bank Exhibition lembrar-
seja ela de um ou de ambos são efeitos legítimos e desejáveis que valem -se-ão das encostas relvadas que funcionavam tão
outro tipo. Pode ser a pena explorar. bem em oposição às superfícies pavimentadas, e
escolhida como se Os objectos adquirem significados através da que permaneciam verdejantes justam ente porque
escolhe um objet d ’art. sua relação com níveis. O edifício pseudomonu- não eram pisadas. Esta questão introduz outra
mental é colocado no alto de uma encosta, tal maior, a da elegância do desnível. A transição é
como a estátua é colocada no pedestal. Daí a frequentemente acompanhada por uma confusão de
dificuldade de desenhar edifícios em encosta: não acessórios desnecessários — frisos, guardas e se
há nível de referência, e resultam frequentemente bes — que obscurecem as virtudes reais da sua
na ambiguidade. Para além das relações óbvias, geometria e homogeneidade. Considerar uma en
entre edifícios e níveis há muitas subtilezas a que costa como um espaço vazio, um vácuo visual que
se pode recorrer na prática; encontramos como se deve tentar embelezar, denota precisamente o
exemplo a utilização de um duplo lance de escadas mesmo espírito daqueles que procuram enfeitar as
em St. Paul’s Cathedral, o que permite ao edifício rotundas com pedrinhas.
usar a skyline* londrina como pedestal. Os desníveis devem dar um contributo positivo à
O recurso a desníveis, tem, como é evidente, paisagem urbana. Já se acentuou aqui que o terreno
usos puramente funcionais (v. d. «restrições», é uma unidade na qual se introduzem rupturas com
pág. 125), mas mesmo nas múltiplas utilizações excessiva frequência, e parece apropriado começar
funcionais do desnível, casos há em que se pode a nossa digressão pelos desníveis com a ideia de
escolher entre soluções alternativas, em que a que embora os níveis possam variar, não teremos
questão não poderá, honestamente, ser resolvida necessariamente de ser seus escravos.
exclusivamente com referências a requisitos utili
tários. Assim, por exemplo, pode ser desejável
separar um espaço com cadeiras e mesas, de um
espaço de circulação, num parque ou numa praça. * Linha do horizonte construído. (N. do T.)
176 177
Acima do nível
Embora a terminologia
política situe a posição de
uma pessoa em termos de
esquerda, direita ou centro
uma classificação mais
habitual e natural é a de estar
acima ou abaixo. Situamos
certas pessoas acima de nós
próprios, consideramos outras
como tendo uma mentalidade
baixa. A consciência da
estatura relativa encontra-se
enraizada na natureza humana.
Abaixo do nível
179
Acima do nível uma simples plataforma pela sua localização. O
sobre elevada, mas largo sobreelevado em
Não é somente a vista suficientemente marcada, Agde (em baixo à esq.),
que se tem «de cima», como no molhe de surge-nos de imediato
mas também a noção de Minehead (em cima à como algo de singular,
vantagem, a sensação de esq.). Haverá um local que merece
que se está numa posição seguramente um uma visita, e as
de privilégio, uma boa elemento lúdico e edificações •
posição instintivo em tudo isto, despretenciosas de
independentemente de se porque é exactamente Salamanca (em baixo, à
olhar ou não para a como a paixão infantil dir.), localizadas numa
vista. Pode ser muito de trepar aos muros. As encosta suave, são
excitante e estimulante, duas figuras de baixo evidenciadas pelo
como nos miradouros de mostram-nos que tanto tratamento de canais e
South Bank (em cima, à locais, como edifícios, escadas que vêm
dir.), ou mais modesto, assumem significado exagerar os desníveis.
180
Abaixo do nível
Em contraste com as
superfícies
sobre-elevadas, as zonas
situadas a um nível
inferior assumem um
aspecto de intimidade e
aconchego, que pode ser
aproveitado
funcionalmente para
transmitir uma noção de
privacidade, como nesta
rua em França (desenho
ao lado); ou socialmente,
como na experiência que
dá pelo nome de South
Bank exhibition, (fig.
em cima). Como isto nos
parece correcto — o
pequeno local urbano,
tom ado amigo e conciso
pela superfície
rebaixada!
181
\A
/
/
|b í
X
182
183
AQUI E ALÉM
184
Aqui e além
O recinto construído,
mesmo que elementar,
divide o espaço em
Aqui e Ali. Deste lado
do arco, em Ludlow,
encontramo-nos num
universo presente,
directo e não complicado
— no nosso universo.
O outro lado é diferente,
mantendo de algum
modo uma vida própria
(algo que é retido). E
assim como a popa dum
barco, visível ao dobrar
de uma esquina, nos
indica a proximidade do
mar (vasto, permanente),
também o torreão da
igreja transforma um
simples recinto, (à esq.
em baixo), no jogo do
Aqui e Além (à dir.
em baixo).
185
O corolário de tudo isto
encontra-se na expressão
exterior de volumes interiores.
No caso de um edifício
público, em baixo, o
alinhamento das fachadas da
rua é interrompido por um
corpo mais avançado, que
traduz aquela função.
Igualmente, no corte
transversa] de uma rua de
comércio (em baixo, à esq.),
observamos como, de um
lado, à esq., temos apenas as
montras das lojas, enquanto do
outro, à dir., os toldos e os
carrinhos dos vendedores
delimitam um recinto que Continuidade espacial
transforma a rua, dum discurso
árido de interior/exterior num De uma forma semelhante, embora numa escala
expressivo mercado linear. superior, esta perspectiva do mercado de
Greenwich, em cima, traduz uma continuidade
espacial, uma interligação complexa de volumes
em que as qualidades da luz e dos materiais negam
o conceito de exterior e interior.
Público e privado
Sublinham estas
diferenças as várias
características ligadas a
sectores do ambiente,
características de cor,
carácter, escala, etc...
Neste caso, a mudança
será entre um Aqui
(Victoria Street) e um Ali
privado ou semiprivado
(W estminster Cathedral).
C o rte tra n s v e rs a l
de u m a m a de c o m é rc io
M o n tra s d as lo ja s
T o ld o s
C a rrin tia s _ s
d os v e n d e d o r»
186
Exterior e interior
187
InnmE
I n f in it o
Espaço e infinito
A sensação do infinito
não é normalmente
aparente no céu que se
vê sobre os telhados.
Mas quando subitamente
se vê céu aonde
normalmente seria de
esperar que se andasse,
isto é, ao nível do chão,
surge então uma situação
de choque, e uma
sensação de infinito.
Espaço capturado
As madeiras trabalhadas
erguem-se para agarrar o
espaço, as esbeltas
colunas e a vedação
enquadram-no, as
aberturas nas paredes
expõem-no. Por trás, as
entradas com gelosias
revelam-nos a camada
seguinte de espaço
interior obscurecido, e as
janelas completam-no.
188
Projecção
O espaço, sendo ocupável, provoca a colonização.
Pode tirar-se partido desta reacção, delimitando
espaços de modo a obter os resultados desejados.
Nesta perspectiva do Banco de Inglaterra, o pórtico
grandioso, à esq., impressiona muito mais do que
qualquer edifício majestoso e maciço.
Espaço funcional
Poderá ser mais prudente ter mil escudos no preconizava a cidade como um museu com exposi
banco que na algibeira, mas tê-las no bolso é mais ções separadas, uma palestra acompanhada de
excitante. Água, céu e edifícios não são afectados slides. A chave para o nosso conceito actual de
por considerações de prudência. Estão lá para paisagem urbana reside num argumento simples
serem apreciados aqui e agora, ou nunca mais. Não mas surpreendente que nos diz que os vários
há um Banco de Depósitos Visuais. Ao contacto componentes da paisagem não podem ser dissocia
visual directo entre homem e ambiente chamare dos. E ainda, que os resultados da justaposição são
mos aqui de Imediaticidade, uma qualidade que se em si (pelo menos) tão excitantes como os próprios
assemelha à prática Victoriana de Aberturas. A objectos justapostos — e frequentemente são-no
diferença entre ambas reside obviamente em que a ainda mais. É nesta óptica que tentamos revestir a
paisagem urbana aspira a práticas mais orgânicas palavra Imediaticidade do seu significado próprio e
do que as possíveis no urbanismo victoriano, que distinto.
191
Água deveria ser apreensível do maior número
possível de locais na cidade (o que não
A água fornece-nos o exemplo mais óbvio, significa um horizonte perm anentemente
porque a transição entre esta e a terra constitui coberto de água, mas talvez o brilho da
o maior contraste psicológico. Cidades à rem iniscência, ou a indicação do abism o, ao
beira-m ar deveriam viver sobre o mar, no fundo de uma rua).
sentido em que a presença visível do oceano Para a cidade do litoral, o mar é a sua razão
192
de ser, e mesmo quando os seus habitantes à superfície da água. Estivesse tudo em
vivem em casinhas aconchegadas com o seu segurança, protegido por guardas e canteiros, e
aparelho de rádio, como qualquer família do a água perderia a sua profundidade e brilho, as
interior, nunca é uma cidade do interior; montanhas recuariam, e o vento sopraria
encontra-se à beira do abismo, face a um doutra forma.
horizonte constante mas enigmático. Mas há outras combinações possíveis, a íntima
O mesmo poder-se-á dizer do indivíduo num interpenetração entre jardim e oceano em
cais, só que para este a tensão principal estará Limone, Itália (em cim a), em que os dois
concentrada na linha de demarcação entre terra elementos jogam um com o outro ao longo
e água. É a experiência emocional desta tensão duma linha de demarcação recortada, com
que transmite o sentido da imediaticidade. Esta promontórios, e também através de desníveis:
condição visual e emotiva pode ser melhor o leito do mar sobe, a superfície em terra é um
conseguida omitindo guardas ao longo da linha terraço; todas as perspectivas são exploradas.
de demarcação, como em Norfolk, pág. 190, Mais perto da concepção inglesa está a relação
onde se pode estar junto ao limite, ou mesmo visual directa com o mar, mais violento, e que
debruçado sobre a água, espreitando os barcos se tom a indispensável manter fisicamente
em baixo, apoiado nos postes de amarração. A afastado do edificado. Mas a superfície
imediaticidade poderá ser definida como um pavimentada, e a ausência de guardas, dá-nos
debruçar mental. Uma grande parte do impacto um acesso psicológico imediato ao abismo, em
da imediaticidade surge do grau de contraste, Limone, à esq. Aqui, a calçada reproduz a
como podemos observar em Iseo, em Itália, pequena ondulação, tanto na forma como no
pág. 191. O limite da construção urbana brilho, mas é tão sólida quanto a onda é
(definida como urbano pela presença de líquida, um oposto que reforça a sensação da
candeeiros e árvores), geométrico e proximidade.
infinitamente prolongado, opõe-se directamente
193
Cúpulas
194
P O S F Á C IO
A mensagem deste livro é que há muito divertim ento e m uita vida a encontrar
na paisagem construída. O leitor poderá retorquir, «sim, mas você córreu mundo
para encontrar exem plos. Venha ver onde eu vivo, nos subúrbios de Liverpool
ou de M anchester, nos novos subúrbios de Paris ou nas m alhas ortogonais das
cidades am ericanas. Veja o que se poderá fazer com tudo isto».
De acordo. Mas não andei a correr mundo só para fazer um livro com
ilustrações, que pode ser lido e esquecido. Os exem plos foram m ontados com
um objectivo, objectivo esse que tenta expor a arte da paisagem construída, a
qual se tivesse sido com preendida e levada à prática, teria evitado os desastres
acima referidos. A razão de ser deste livro é tentar m ostrar a pessoas com o o
leitor aquilo que têm andado a perder, e de tentar criar um ponto de partida para
aquilo que poderá vir a ser. M esmo que o leitor viva na mais bonita das cidades,
a m ensagem continua a ser igualm ente necessária: existe uma arte da paisagem
construída. Este é o argumento central da paisagem urbana mas perdeu-se pelo
caminho, foi abafado por «certos urbanistas», que o tentaram desvirtuar e
tipificar. A sua prática tem -se resum ido por um lado ao em prego da calçada, e à
conservação, e por outro lado tem resultado em ultrajes e poluição visual. Nada
disto, se me é perm itido apontá-lo, diz respeito à arte do am biente. E
consequentem ente, dez anos volvidos, torna-se necessário recom eçar. Agora é a
altura de conceber um instrum ento muito mais realista. Graças aos referidos
«urbanistas», o assunto já não é desconhecido. Mas encontra-se associado a
limitações e exortações. O poder gerador central continua ausente. A arte de
com por o ambiente deverá agora ser mais claram ente definida, as suas regras
enunciadas, e os seus produtos típicos tornados fam iliares para um a grande
m aioria da população. Este será o tema do meu próxim o livro.
Há uma certa corrente de opinião que evita a sistem atização estética,
convencida de que um pássaro no ar nunca será o mesmo quando apanhado. Há
uma outra corrente que tem tendência para acreditar que se não foram definidas
notas, e estabelecida uma gram ática m usical, não se conseguirá nunca tocar uma
sim ples m elodia, para não falar já de um M ozart. Isto parece-m e evidente. Sob o
risco de nos repetirm os deixem os bem definido o campo desta actividade.
195
Somos testem unhas da extrem a dificuldade de m udança de uma ordem de
verdades para outra, isto é, da objectiva benevolência das câm aras municipais
para a resposta e experiência pessoal especialm ente quando, neste mundo
enlouquecido, há tão pouco tem po para adaptações.
A principal reivindicação da PAISAGEM URBANA é ter contribuído para o
levantam ente da estrutura do m undo subjectivo. Porque se não estiver registada,
a que é que nos podemos ajustar? A opiniões, m odas, ou à m oralidade pessoal?
Que difícil que é ajustarm o-nos à am biguidade, e que perda de tempo!
C . A nossa prim eira acção para criar um sistem a deverá seguram ente ser a
organização deste campo de m odo a que os fenóm enos possam ser classificados
logicam ente num Atlas do am biente. Até aqui, temos uma coluna de afirm ações,
196
à esquerda. Na linha superior podem os registar as diferentes escalas do ambiente
a que nos vamos referir. Em prim eiro lugar, há o mundo físico do com prim ento,
largura e altura. Em seguida, a dim ensão tempo e em terceiro lugar a ambiência.
Com estes dois vectores, horizontal e vertical, podem os construir um a grelha ou
Atlas elem entar, que, com pressupostos sólidos, deverá poder crescer im ensa
mente.
Tendo chegado ao conceito de Atlas, consideram os então a quarta afirm ativa,
a que diz respeito à organização ou m anipulação. Se considerarm os o Atlas como
um ficheiro de palavras (visuais), então a organização será a arte de juntar uma
palavra a outra de modo a construir um discurso lúcido, que seja inerente ao
problem a específico do desenho. E é este glorioso sentido da com unicação que
nos faz a todos falta. Por am or de Deus, digam algum a coisa!
Pode-se constatar que não é mais com plicado que um livro de receitas: em
prim eiro lugar faz-se uma lista dos ingredientes, em seguida descrevem -se as
suas reacções ao calor ou à água, e em seguida juntam -se e pronto, aí está uma
forma de pão.
A única diferença está em que aparentem ente a m aioria das pessoas tem um
desejo por com ida que justifica o aparentem ente inesgotável fornecim ento de
livros de receitas enquanto que o m eio-am biente não suscita de momento
qualquer desejo. Não é, na realidade, surpreendente. O dialogo parou quando as
virtudes am bientais da arquitectura Victoriana foram substituídas por outras
virtudes mais pessoais com o a verdade, honestidade e auto-expressão. Vê-se
aonde isso nos levou, está tudo aborrecidíssim o. Perdem os o nosso público.
Tem os de juntar, separar, dividir, ocultar, revelar, concentrar, diluir, prender,
libertar, atrasar e acelerar. Jogar a bola de um lado para outro, com eçar a m exer
os m úsculos entorpecidos. Há muito que fazer.
À parte a vida hum ana, há poucas coisas mais com oventes do que o
nascim ento de uma ideia no cérebro hum ano. Subitam ente, no húm us rico do
pensam ento uma ideia afirma-se à luz da com preensão. O telefone entretanto
toca, não, não temos grãos de antracite, só tem os nozes. E a ideia perdeu-se.
Muito frequentem ente perdida para sempre. Os deuses que deitaram os dados
tremem de frustração. O nosso mundo produz continuam ente conceitos, ideias e
soluções, mas uma grande parte murcha e morre enquanto o restante vai juntar-se
à m ontanha de papéis. O que se tom a indispensável é um quadro de referências
em que estas ideias sem residência possam morar; um equivalente am biental para
a «Shelter», a organização privada inglesa que tenta atacar o problem a da
habitação. Na minha opinião, há uma imensa perda de fertilidade que deveria ser
contrariada criando uma agência de coleccionam ento, classificação e recupera
ção de ideias.
Acabam os assim por ter uma caixa de conceitos e um a gam a de jogadas
possíveis, um todo tão coordenado e internamente autojustificável com o um
cristal. Uma arma com a qual podemos arrancar-nos ao isolam ento e entrar em
contacto com os educadores, com os mass-m edia e, finalm ente, com o público.
197
Aberturas — 191
v.d. exposição, desurbanismo, perspectiva
Abrigos — 164-5, 238, 275
v.d. enclaves, apropriação
Acidente — 46
A daptabilidade— 145, 151
v.d. sobreposição de usos
Adro — v.d. igreja
Agricultura — 60
v.d. zona rural
Água — 26, 41, 50, 58, 63, 66, 70-72, 74, 78,
89, 90, 93, 101, 113-21, 150, 183, 190-193
v.d. litoral
Alamedas — v.d. desníveis, imediaticidade,
linha vitral, caminhos para peões, litoral
Além — 36
v.d. Aqui e Além
Alpendres, átrios, pórticos — 26, 41, 81, 84,
110, 172-3, 186-9
Animismo — 74
Anúncios — v.d. publicidade
Apropriação (do espaço) 23-30
Aprumo — v.d. nitidez
Arcadas — 23, 27
Arcádia — 59
Arcos — 1 9 ,2 0 , 31, 35, 37, 52, 56, 167, 185-7
A rticulação— 133, 184-9
Árvores — 24, 27, 28, 34, 38, 43, 58, 69-60,
62, 66, 72, 80, 82, 84-5, 99-105, 120, 124,
127, 129, 167-8, 170-76
Aqui — v.d. Recinto
Aqui e Além — 20, 36, 54, 184-9
Assentos, bancos — 24, 25, 27, 30, 46, 86, 88,
97, 102-3, 164-5, 168
1
ÍNDICE REMISSIVO
Edifício-barreira — 32
v.d. delimitação
edifício como escultura, O — 76
Espaço e infinito — 188
Expectativa — 51
200
Objectos significativos — 75 Rampas — 22. 93. 82-3. 192
Recinto — 27, 29, 31, 32, 34. 35, 37-54,
Olhar em pormenor v d. pormenores 99-11)4, 139-40, 104-5. 179. IXI. 1X4-9
Ondulação — 48. 167. 177-X1
Reentrâncias — 40, 49-50
Ostentação — v.d. ornamentação
v.d. saliências e reentrâncias 40
Rede eléctrica — 60, 142-5
Regra geral — 142-5
Relvado — 35, 38, 80, 99-101, 136
v.d. jardins
Residencial — 59. 88, 121. 123-4, 134-41,
Paisagem — 36, 37, 38, 40, 50, 57, 59, 63, 66, 166-9
77, 84-5, 88, 121, 142-5 R estaurantes— 30, 58, 102. 120. 165
Paisagem interior — 30 v.d. edifícios públicos
Paisagem rural — v.d. zona rural 60 Restrições — 58. 9 0 -1. 125-')
Paisagem urbana — 135 Rotundas — v.d. ponto focal, tráfego
Paredes, muros — 24, 33, 35, 36. 51, 53, 57, Rua — 29, 47, 55, 78, 80. 108-12, 134-41
64, 65. 77, 81, 84-5, 86-7. 93. 94-5, 157-63, v.d. pavimento
165, 176, 180, 183 Rudeza e Vigor — 68, 75
Parques — 43, 50, 60, 72, 99-104, 125-9
v.d. jardins
Passagens — v.d. arcos, estreitamentos,
caminhos para peões
201
Unidade cinética — 149 Vigor — 68, 75, 153
Unidades urbanas — 29, 81, 122-4, 181
v.d. recinto, caminhos para peões, praças
Viscosidade — 26
Urbanidade — 59, 66, 139-41, 191
202
Gordon Cullen
Paisagem Urbana
Paisagem Urbana é um conceito que (rordon Cullen trabalhou em duas empresas
exprime a arte de tornar coerente e de arquitetura, em Londres.
organizado, visualmente, o em aranhado de Foi ilustrador e diretor artístico de
edifícios, ruas e espaços que constituem o exposições na Grã-Bretanha e nas índias
ambiente urbano. Tal concepção foi Ocidentais, antes de se tornar subchefe de
primeiramente Ibrmulada por Gordon redação da rev ista The Archileclural Review,
Cullen em The Archireciural Review, vindo logo após a Segunda Guerra Mundial.
posteriormente a dar forma ao presente Os seus desenhos e artigos acerca de
livro, em 1961. projetos urbanos atraíram nesse período
Esta obra tem exercido profunda influência largo interesse, quer pelas ideias quer pelo
em gerações sucessivas de arquitetos, estilo de apresentação. Na prática, desde
projetistas e outras pessoas particularmente 1956, tem atuado como consultor paisagista
envolvidas no aspeto que as cidades devem junto de numerosas instituições britânicas,
apresentar, (bastará referir que. só de 1975 assim como da Fundação Ford
a 1983, teve oito reim pressões). Todavia, relativamente a projetos urbanos em Nova
trata-se de uma obra que ultrapassa a I)elhi e Calcutá. É membro honorário do
esfera profissional, atingindo um público Real Instituto dos Arquitetos Britânicos
que se interessa em termos gerais pela desde 1970.
estética, pela arte e pela história da
arquitetura.
Outro elem ento importante do livro são os
excepcionais desenhos, com que o autor
ilustra o cenário urbano.