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INTRA-URBANO
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Est e livro é frut o do tr abalho do aut or e de t o da uma equip e e ditorial . por


favor, respe ite nosso t ra ba lho: não faça c õplas .
F l iavic, Villaça

fspa~o
intra-urbano
noBrasil

2n Edição

,t::,APESP
UFRJ/FAU

\ 1929
Espaço era ...,no 8rull
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As cidades
são como as estrelas;
é preciso amá-las
para entendê-las .

Ao Rio de Janeiro
Agradecimentos

À rapesp, ao Lincoln Institute of Land Policy e a Martim O. Smolk a, pelo apoio


que tornou viável esta public ação, e ao Zol pelo lindo trabalho gráfico.
À Profa. Ora. Ana Lucia Ancona, a Adalberto da S. netto Jr., Prof. Antônio Cláudio
M. L. Moreira, Célia Rocha Paes, Denise Antonucci Capelo, Domingos Theodoro
de Azevedo Netto, Fernanda de Macedo Haddad, José Marinho Nery da Silva Jr.,
Profa. Ora. Luci Gati, Marcelo de Brito Albuquerque Ponte s Freitas, Profa. Ora.
Maria Cristina da Silva Leme, Profa. Ora. Sarah Feldman, Sérgio Luís Abrahão e
ao Prof. Wladimir Bartalini, meu sincero muito obrigado pela leitura e debate de
panes do texto e por outras gentilezas.

No Rio de Janeiro
Abrasce - Associação Brasileira de Shopping Centers
À hospitalidade de Almir e Marlene Fernandes

Em São Paulo
Construtora Albuquerque, Takaoka S. A.
Francisca Luiza Gimenez Cardieri e Stella Maris Ataia França, da Emplasa, e
Epaminondas Duarte Jr., do Metrô.

Em Belo Horizonte
EUeteAmélia de Souza, José Moreira de Souza, Maria Laudelina Garcia de
Carvalho, Maria de Lourdes D. Pereira, Yara Marques.

Em Porto Alegre
Oberon da Silva Mello e Marcos Mangan.

Em Saluador
Ana Clara Din.iz Guerra, /\na Fernandes, Cristina Xavier Ferreira, Fernando
Sérgio Teixeira, Liliane Mariano Fcrrcira Antônio HeJiodório Lima Sampaio,
1

Maria das Graças Torreão, Rubênio Sim as, Vitória Regina Sampai o.
À hospitalidade de Suely e Niels Erik Poul Leoni

No Recife
Jan Bitoun, da Prefeitur a Municipal do Recife, Manoel Feliciano da Silva Filho.
José Ângelo Ferreira da Fonseca, do Museu da Cidade do Recife, Teresa do
Amaral, do IBGE-Recife.
Sun1ário

Capítulo 1 Introdução )l

Capllulo 2 Espaço intra-urbano: esse desconhecido 17


A questão semântica 18
Espaços regional e intra -urbano 20
Especificidades do espaço intra-urbano 22
Abordagens dos espaços intra-urbano e regional 26
Espaço e sociedade 45

Capírulo 3 Os processos espaciais de conurbação 49

Capítulo 4 Direções de expansão urbana 69


Introdução ó9
Os setores viários 70
Localização, valor e preço da tcrrn urbana 70
Vias regionais e urbanização 80
O período pré-ferrovi:írio 86
Setores ocefrnicos 107

Capítu lo 5 A est rutura urbana básica 113


A metrópole interior l l •I
São Paulo l 16
Belo I forizonte 118
A metrópole litorânea no
Capítu lo 6 Os seto res industriai s. A articulação c~pacial entre
1netrópol e e região 135

· Capítu lo 7 A segregação urbana 141


O conceito de segregação l •12
Os se tores IS'i
Capí tul o 8 Os bairros residenciais das cam adas de alta ren da 157
O Hio de Janeiro 157
O século XlX 159
O século XX 177
Deslocamentos, incorporação imobiliáric1,forma
urbana e estilos de vida 180
São Paulo 192
Belo l lorizonte 199
Porto Alegre 203
Salvador 207
Recife 211

Capí tul o 9 Os bairros residenciais das carn adas p opul ares 225

Capítu lo 10 Os cent ros princi pais 237


A natu reza do centro principal 237
O valor simbólico do centro 247
O surgimento dos centros principa is 252
Rio de Janeiro 255
São Paulo 261
Porto Alegre 266
Belo Horizonte 267
Os centros principai s e as camadas de alta re nda 270
O centro principal e a nova mob ilidade territorial 277
O centro princip al e as camadas populares 283
O centro do Recife 284

Cap ítu lo 11 Os subccn tros 293


A evolução dos su bcentro s 294
Rio de Janeiro 294
São Paulo 297
Porto Alegre e Belo Horizonte 300
O shopp ing center ;
302

Capí tul o 12 Segregação e es tru turação do espaço int ra- u rbano 311

Cap ítul o 13 Reflexões fina is 327


O consumo e a estruturação do espaço intra -urba no 328
A segregação e o controle do espaço intra-urbano 334
Segregação, contro le do Estado e ideo logia 343
O contro le do espaço intra-urbano e o controle do tempo 352

Referênci as bibli ográficas 363


Capítu lo l

Introdução

O objetivo deste livro é procu rar en t ender as localizações in tra- urb anas, a
constituição e os movimento s do espaço intra- urbano das metrópol es brasileira -
entend ido como uma estrutura territor ial. Serão estudadas as área s metrop olitanas
de São Paulo, Rio de Janeiro , Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
No Cap ítulo 2, são feita s considerações sobre o espaço intra-urb ano e a pou-
ca atenção que tem sido dispen sada ao se u estudo, tanto do ponto de vista teórico
como do empírico. Regist ra- se, particularmente , o pouco intere sse, no Brasil. quan-
to aos est udo s es paciais de nossa s met rópoles e, quando são rea lizado s, têm -se li-
mitado, em geral, às cidades (ou municí pios) centrai s das áreas metropolit a nas. :\l ém
disso, cabe destacar a inexistênc ia de estudos sobre os aspectos comun s aos espa-
ços urbanos da s diversas metrópole s. Afinal, se todos vêm sendo produzidos num
mesmo país, pela mesma fotmaçào social, num mesmo m omento hi stórico - os
últimos 150 ano s-, sob um mesmo modo de produção, atrav és da s me smas rela-
ções sociais e so b o mesmo Esta do, deve haver muito cm comum entr e seus espa-
ços. No en tant o, pou co se te m estudado sob re tais aspectos, com exceção do fato de
rodas as metr ópole s terem , de um lado, uma área central mai s b em atendida por
equipa men tos urbanos e onde mora uma minoria q ue pa rticipa do s frutos do tra-
balho social, e de outro, uma enorme periferia, onde mora a maiori a excluída dessa
participação. De man eira geral. os pauli stas estudam São Paul o; os cariocas, o Rio;
os baianos, Salvador , e assim por dianr e. Quando um es tudioso paulista comenta
com um carioca algum proc ess o espacial que ocorr e em São Paulo , ouve qu ase in-
variavelme nt e co mo rép lica : "Não ... aqui no Rio é diferente ''. Mas, o que não é dife-
rente? e o que há de com um?
Procur amo s ne sta obra dar amp litude e profundidade à análise por meio de
uma dupla abordage m , a saber a análise compara tiva ent re várias metrópol es e a

11
investigação de um amplo período histórico da forma ção de seus espaços, dem,
neira a captar os aspectos efetivamente estruturai s.
Com apoio cm Bastide (1971, 1) chamar emos de estrutura um todo consti1u
do de elementos que se relacionam entre si de tal forma que a alteração de umelE
menta ou de uma relação altera todos os dema is eleme ntos e todas as demais rei,
ções. As estruturas são dotadas de movimento e o grand e desafio intelectualresid
em desvendar a fonte desse movimento. São considerados elemento s dessas estru
turas o cent ro prin cipal da metrópole (a maior aglom eração diversificada de em
pregos, ou a maior aglomeração de comércio e serviços), os sub centros de comércii
e serviços (aglomerações diversificadas de comércio e serviços, réplicas menoresd,
centro prin cipal), os bairro s reside nciai s, ou melhor , os conjunt os de bairro
residenciais segundo as classes socia is e as áreas indu striais. Essa estrutura esti
imbricada a outras estruturas territoriai s, como os sistema s de transportes e desa
neamento. Entretanto, consideramos ser a primeira mai s importante, pois inclui
incorpora e subjuga as demais, mais do que o contr ário, em bora não possa existi1
sem elas.
Essa estrutura territorial mais importante está também articulada a outras ,
não territoriais, como a econômica, a política e a ideológica. Como é sabido, estas1
na concepção original de Marx (1977, 24), estão organi zadas em "base" e "superes-
trutura ". A estrutura territorial é soc ialmente produzida e ao mesmo tempo reage
sobre o social. Evidentement e essas considerações são de enorme amplitudee ge-
neralidade e dar conta desse emara nh ado de inter-relaçõe s é uma epopéia quea
mente humana jamais poderá ambi cionar. Óbvio que não temos tal pretensão.En-
tretanto, nesta obra, procurar-se -á:
l. Detectar traços e movimento s comuns a todas as estruturas territoriaisanali-
sadas; daí a importância da história territorial e da análise comparativade
várias metrópo les. Por exemp lo, o que há de comum entre a distribuição
territorial das classes sociais, além da óbvia distinção entre centro e periferia?
A chamada ''decadência" do centro principal é um proces so comum a todas
as nossas metrópol es. QuaJ sua fonte? Em que consiste na realidade?Qual
sua essência? Que relações há entre o elemento "centro princip al" e outros
elementos das estruturas territorial e socia l?
2. Relacionar os movimento s da estrutura territorial com os das estruturasso-
ciais (lato sensu) e-o que é bem mai s difícil -v ice-versa. Vejaeste exemplo:
que papel desemp enham as classes sociais na estruturação territorial urba-
na? Qual o papeJ que sua segregação espacia l desemp enha na dominação
polílica? E na ideologia urbana? Em que consiste e como se dá essa domina-
ção política através do espaço urbano? Que partkipação tem o espaço pro-
duzido em Copacabana sobre os valores e eslilo de vida de seus moradorese
dos cariocas da zona Sul em geral?
3. Relacionar entre si os movimento s dos diver sos elemento s das estruturas
territoriais urbana s- os vários bairros, o centro urb ano, a estrutura de trans-
porte s, ete-:- e com os de outras est rutura s articuladas.

12
A expressão "estru tu ra urbana" - e sun correlata "ree strnluraçào urbana " -
tem sido vítima de muitos abusos . É freqüentemente utilizada como sinônimo de
cidade enquanto elemento fís ico, de cidade como um todo mat e rial , sem conside -
rar a inter -relação entre seus e lem entos, a liás sem con siderar sequer qu e.ele m e nto s
são esses . Constantemente se usa o termo ree struturação para qualquer alteraç ão
do espaço urbano, sem m aiores preocupaçõe s com os elementos espaciai s da estru -
tura e com as relações existentes entre e les . O simple s registro de transformaçõe s
espaciais não é sufici ente para caracter izar a estruturação ou a ree s trutu ração. É
preciso mostrar como mudanças em um elemento da estrutura provocam mudan-
ças em outros elementos.
Jáhouve época em que se tentou descrever as estru tura s territoriai s urbana s
atrav és de ''modelos" esp ac iais que tiveram grande prestígio intelectual. Pe lo menos
um desses modelos - o de Burgess (1968) - tinha a mbi ções teóricas e pretendia,
inclu sive, dar conta dos movimentos da es trutura urbana. Mais recentemente, os
modelos matemáticos in cor po rara m os movimentos da estrutura, esco lhendo mais
ou menos arbitrariamente, entreta nt o como motor desse movimento, a partir de
um momento inicial em que este é congelado, "forças externas" cuja origem e papel
são pouco questionados.
O modelo de Burgess, da década de 1920, é certamente o mais famoso. Sob
sua influência , e em oposição a ele, foram propostos outros, menos pr etensiosos e
famo sos; o chamado modelo de "seto res", de Hom er Hoyt (1939), e o de "núcl eos
múltiplos", de Harris e Ullman (1945)*. O primar is m o descritivo desses modelos fez
com que tivessem vida curta. O de Hoyt, ent reta nto , é mais útil do qu e parece, desde
que não sejam su perestimados sua finalidade e seu alca nce . Vamos nos utiliz ar bas-
tante de le.
Seguem-se ca pítulo s em que são analisados os processos históricos de cons-
tituição das est rutu ras terr itoriai s m etropo lit an as aqui est ud adas. Inicialm e nt e as
formas metropolitanas co mo um todo, os pro cessos de co nurba ção e as direções
preferenciais de cresci m ento da urbanização. Desde aí, as co ndi ções de tra nsporte
apa recem como fator decisivo na estru tu ração do es paç o urbano.
Em seguida são ana lisados os processos de const itui ção das grandes á reas
onde se seg regam as no ssas bu rgues ias urbanas. Esses processos se destacam como
os mais distintivos de nossas estruturas ter ritoriai s metropolitana s. Nossas m etró-
poles - co m exceção de São Pau lo e do Rio de Janeiro - só na s últimas décadas
começaram a desenvolver áreas indu striai s sig nifi cat ivas. Su as est rutura ções têm
sido dominadas, ent ão, pelos centros pr in cipais, seus sub ce ntro s e por suas á reas
residenciais das camadas de al ta renda. Sã o, por isso, os ele m e n tos das estrut uras
metropolitanas aqui privi legiados .
Co mo as áreas indu st riai s são elemé'l'l.tos c uja s loca lizações são determina-
das por forças externas aos espaços metropolitano s, a seg regação espacia l das ca-

, H. e HJ\GG.rrn: P.Modelosem Geogmfln.


• Para uma visão geral dos modelos, ver a série CI IORLEY . Rio de
loneiro, EDUSP , 1975.

13
n1adas de alta renda surge co mo o elemento interno mai s po der o so no JOgCJ,.., 1Â
ças que determina a es tn 1tur ação do espaço intr a-urbano de n ossas metr0po ~
A obra se fecha com a lgun1a s co nclu sões teórica s sobr e o ma tenal tmµ ·~
apresentado.
Por tratar de tema pouco abordado, es ta é uma obra h e terog én ea, não~Q-· ·
to aos temas propostos, co mo pr incipalmente quanto ao s nh' ei~ d as análise:1.
~
va riam de sde os es tágios m a is rud im enta res - e por isso um po uc o maçan•es-1t
inves tigação científica, co mo a descrição d e tipologia s e a cla ss ificação de pmcew .
(n o in ício da obra ). até níveis teo ri ca m ente mais ambicio sos (no fina fJ.
As exp ressões camadas de alta renda e burgu esias foram uti lizadas c..o:ro ~
nônimos. Por burguesiasentende-se tanto a pequena, média e alca burgues1a~c.o
as bu rguesias industria l, mercantil ou financeira.
Quando houve n ecessi d ade de sepa rar c lasses dentro de sses gra~::e,
conjuntos, utilizaram-se exp re ssões co mo alta burgue sia e classe média . ;\essesu,~.
juntos, reconhece-se a h egemon ia d a a lta burgue sja enquanto cla c;se do:mr.2··e.
"Elites" (se mpre soc ioeco n ômicas), alta bur guesia e classe dominante iambém:·-
ram empregados como s in ô nimo s. Consideramo s que num trab aJho daamp.:_~=
deste, que analisa se is metrópoles p or um p eríodo de mais de um sécu lo, asd~,-
renças ent re esses conceitos pod er iam se r n1inimizada s sem prejuízo da ar:áii~
Se há diferença ent re classes de renda e classes soc iai s, há bem menos dife:t-"c
entre as regiões das cidades por elas ocupadas- que, a]iás, nunca são cma!m~::
homogêneas.
Quando se trata d e quantificar ou medir as classes, em seis metróp oles :r:
longos períodos, não h á co m o escapa r d a u tilização do s indicadore s aqw ut....n ·
dos: faixas de renda e aparência do s bairros o u da s habita ções. Por ourro .?C:l
para os tempos atua is, a fa ixa de renda utilizad a para caracterizar as camadas.:f
alta renda é tão "fo lgada" - acima d e vinte sa lá ri os-mínimos- que ela enquaC'.
satisfatoria m ent e "as burguesias", a burgu es ia , o u a classe domin ame , indeptr:·
dentemente de va riações co n cei tu ais. O importante é q ue na definiçã o e:,pac.:
seja enq u ad rada a classe dominante, que coman d a a estruturação do espico.f
válido admitir que as espac ia'lidade s das classes o u camada s sociai s não ,ar.:::-
significa tivamente segu nd o os vários co n ceitos. Uma rnonografia sobre a ·geo~ ·
fia socia l" do município do Rio de Janei ro, usando téc ni cas da ecologia fatOi,:.,
dado s do censo de 1960 (Morris, l 973, 48), pond e rou 22 variáveis para defimr~
mapear a população segu ndo sta tu s. O mape a m ento revelou uma espacialidaü
d a p opulação de mais alto sta t us exa tam e nt e igual ao qu e já é sabido em terr.:c -
de renda ou classe socia l e simpl es co nh eci me n to s up erficial: a área de mai al:o
sta tu s engloba Flamengo , CaLetc, Botafogo, Urca, Copacabana, Leme, Ipaner.:!
Leb lon e Lagoa e Gávea. Seg u ndo Short (1976, 77). ''o a specto mais consisten:c
que e man a da s eco logia s fa toria is d a c idade tem si do a id e nt ificação de padrot"
de segregação com base n o s tatu s socia l. Embora uma va ri edade de técntc3~:e-
nha sido utili zada e e mbor a as variáveis se lec ionadas tenham sido diferente5 0)
re s ultado s, em ge ral, co nfirm ar am essa de sco be rta. Na verdade, as confirmaçõr

14
têm sido registrada s co m regulnridadc qu ase monót ona".• Se fosse nccc~sária a de-
finição pré via, consensual, quantificáve l e espacializ,ível de clns~c socia l. classe de
renda, elite socioeco nômi ca, alta, méd ia e pequena burgue siêls e classe domi rrnntc,
para seis metr ópoles dura nt e 150 anos, este trabalh o seria inviável.
Uma palavrinha sob re "relações espacia is". Claro que espaços não mantêm
relações sociais entre si. Entret ant o, há certos proce ssos sociais nos quais espaço e
sociedad e estão de tal forma imbricados que é impossível entende r as relações so-
ciais sem uma visão espacial. Isso é particularme nte verdadeiro quando se trata do
espaço intrn-urbano , onde a presença do espaço nas relnções sociais é marcante .
Algumas das conclu sões desta obra contra riam posições fundam entai s do
materiali smo histórico. A soberania do cons umid or - desde que este sejam as ca-
madas de alta renda - na esco lha da localiz ação eleseus bairro s, o primado do con-
sumo na estruturação do espaço intra -urbano (mas não na sun produção ), a relação
entre o setor imobiliário e a classe dominante são alguma s. Isso nos preocupa . Acre-
ditamos, en tretanto , que as evidências empíricas que sustentam aquela s conclu -
sões são fortes. Se elas fertilizarem discussões, daremo-nos por satisfeitos.

• ''Thc mosL consistcnt fcaturc arising from la clo1 ial cco logics of Lheciiy has becn lh e idc 111
iíication of
paucrns ní sc~rcgntion 0 11 thc bas1,;oí social swtu,;.A1Lhuugha varicly of Lcchniqu c!>havc bccn u~cd and
vnnnblcs c;dc ctcd hnvc cliffcrccl,lhe rcs11lts hnvc gcncrnlly confiimcd thls finclin~. l11dccd. confirmi llio 11
has l>ccn reportcd wl th almost rnonot onous rcgularity."

15
,
,
• 1o,...
Capttu 'l

Espaço i11tra-t1rbar10:
e, se desconl1ecido

. 'o :implo campo dos est udo s territoriais, têm hn\'1do na, últimas d •catf. um
cn• ente dt"senvol\'imcnto das investigações r('gionais e uma c;urpn•cndrnrt• · r&.1~ ·
mição do1:;l' tudo c;intra-urbano, . Este!>,pou co de rclevanl c produ11rnrn dt·~dt• n de -
cada d~ 1970 . ~fo ·mo no período entre as dé cadas de 1!)30 e 1970. tor.im fr.tKct s as
ro nm b u1~>t><:,nc,,a área (em bom abundn-;sem as análi-,cs rcgion.,h ). dd<fa,, pm exem -
plo. peln cronom1a e geografia neoclássicas (\Villi am Alon!>o.Brion Bcrry, H. 1: \luth ,
1f. S Pcrloff t~ l owdon\\'1ngo Jr., para citar apenas aJgun!>cxpocnws) . Oec.:omp{>~,e a
cidadt.> em 'hinos elemen tos e produziu-se urna sé ne de t·~tudos atom11ado~ ~obre
tem,~ esp~ctficos. como a densidade demográfi ca, as n.rcn'imdustri ..u,. as comcrriais,
o pn:\ o dn terra . etc; além disso , produztram-c;ea<;con hecida~ tronac; ponttMJs tia
localv.,lçao. Umn frngilvisao de conjunt o, incapaz de ajudar a construçJo de uma h se
tl-órica mat~ amplu wbrc o e'ipaço uura-urbano, foi aprc~entnd,t. Ne,:,c M'nti<lo . pou -
co w m·ançou na, tnn!,tigaçõcs sobre o conjunt o da cidJd t• e ~obre .i urllcula,. o en -
tre ,ua" \'árias área') luncionai, , ou seja, !-.OOrt'
a e:,tnitura intm-urban 1

A \'Í fio aniculadíl e de conjun to fot , aliá\ , n grande con tr ibu1ç ..10 da l'"icol.t dt'
CJucago A.~1cmat1vJ~ d~ formulaçao de modt•lo, e!>pltCHti'.-1 - l1 n d1tu11t.11<la\
pc,r
Chorle)' & l laggett no final do~ ano:>60 (meado~ dn5 ano, 70, nu 8ra;.;1I
J - llH'ram
cun<1durac;ào. pu1s forJm atropelJdas pt•lo-, t•,tudu, terrltonab dt.>bu,c marxistt,
~urgido~igualmente naquela época e que pn<.,saram &.l<luminar o íls,unto ; e\,('S es -
tudo~. <-ntrctamo . vêm ignorctndo qua se totalmente o c~pn~·o intra -urbano Dc\dl'
C'ntno a mah notável tentatt\.a de tcor11nçao d (·~se (':,paço tomo um todo lenha
1do, tal\'eZ, a feita por t.n~telb em 1 a que~tion urba me E~~cauw r, porem . abando-
nou o Lampo de estudo em foco e ninguém o re tomou a partir do ponto em que clt'
o deixou. Pelo menos, a partir dele, não ~e rormou uma co rre nte ou escola de pPn a-
mento sob re o espaço intra -u rbano .

17
Nesta obra procurn -sc desenvolver a tese de que os proce ssos que, delll
lado, podem ser identificados com a estruturação das redes urbana s, com o elemer
to urbano das estruturas espaciais regionai s, ou com o proces so espacial de urbao,
zaçào, e de outro, os proce ss os de estruturação interna do espaço urbano nãose
gucm a me sma lógica, não pa ss am pelas mesma s medi ações (de sde as macroan álise
socioeconômicas até as tran sformações espaciais intra-urbana s) e não podemse
abo rdado s pelo s m es mo s paradigmas teó rico s . Part indo de uma dada formação
~
cial, para se chegar ao espaço intra-urbano, há necessidade de pa ssar pormed ia
ções diferentes das requerida s para chegar ao espaço regional. No entanto, nasúhi
ma s década s têm havido tran sbordamentos eq uivo cados da s análi ses regionais-
que constituem a maioria - para as intra -urbana s.
A fundamentação teórica de se nvolvida para demon s trar essa Leseserá e1
posta a segu ir, organizada em quatro itens, a saber:
• a questão semântica. A(1ui pretende-se explicar por que é utilizada nesta
ob~
a co ntrago sto, a redunclante exp ressão intra -urbano;
• breves considerações sobre a di s tinção entre espaço inLra-urbano e regio
~
• a especificidade do espaço intr a-urbano;
• confu sões na s abordagens do s es paço s intra-urbano e regional.
Seguem-se depois breve s cons id erações sobre a relação entre espaçoeso-
ciedade.

A questão semântica
Trata-se de entender e justificar a expres são inira-urbano. Como verem os
adiante, essa questão não é mera e inconseqüente formalidade .
A expressão int ra-urbano não deveria ser necessá ria, poi s ''espaço urban o·ê
uma expressão satisfatória. Por que , encão, é uti lizada?
A expressão espaço urbano, bem como "estrutura urbana ", "estruturação UI·
bana", "rees truturação urbana " e outras congêneres, só pode se referir ao inrra- ur·
bano . Tal expressão deveria se r, poi s, de s necessária , em face de sua redundância
Porém, espaço urbano - e toda s aque las afins- está hoje de tal forma comprome·
tida com o co mponente urbano do espaço regional que houve necessidadedecTiaJ
outra expre ssão para de signar o espaço urb ano; daí o surgimento e uso de inua·
urbano.
Aquilo que grande parte da recente literatura espacial progre ssista temcha ·
mado de espaço urbano refere-se, na verdade, ou ao proce sso de urbanizaçãogene-
ricamente abordado , ou a espaços regionais, nacionais, continentais e mesmopia·
netário. Nos último ::,casos, o espaço urbano aparece como elemen to de estruturas
espacia is regionai s, nacionai s, continenta is ou plan etá ria .
Co m efe ito, das dua s uma : Oll se est uda o arran jo int erno dos espaçosurba·
no s, ou se estuda o arranjo interno dos es paços regionais, nacionai s ou planetário.
Nos doi s casos, óbvio, o espaço é imra . Portanto, a ex pr essão es paço urbano-n ão
há como ser diferente - só pode referir-se ao espaço intra-u rb ano, assimcomo a

18
expressã o espaço regional se refere ao intra-regional.No entanto , não se usa a ex-
pressão espaçointra-regional./\ redundância da expre ss ão es pa ço int ra- urb a no fica
evidente quando se imagina o uso da expres são espaço intra -regional. Par ec e a b-
surda, não é? Parece, não: é absurda, poi s es paço regional basta, me smo que - com o
é a maioria dos casos - se queira privilegiar o componente urbano no s es tudo s
regionai s. Então a expre ssão intra-urbano lambém deveria ser ab s urda, e es paço
urbano também deveria bastar.
É curioso que pouco ou n ada se fale de estrutura regional,ou de reeslrulllração
regional,enquanto se fala abundantemente de estruturação e ree struturação urba -
nas. Por quê? O que comu m cnte se chama de estruturação urbana não é estrutura -
ção (ou reestruturação) urb ana, mas estruturação (ou reestruturação) regional, poi s
aborda o eleme nt o urbano da estrutura regionaJ, o processo de urbanização enquan-
to processo do espaço regional, seja de urna região, de um país, de vários paíse s ou
do mundo.
Tomem-se, por exemplo, algumas exce lentes obras lançadas recentemente
entre nós: Reestruturaçào urbana: tendências e desafios (Valladare s e Preteceille,
org. 1990), ou Reestruturação do espaço urbano e regional no Brasil (Lavina s et al.
erg. 1993). De que tratam elas? Ou do processo geral da urbanização brasileira , ou
da reestruturação de nossa rede de cidades, ou seja, das cidades enquanto ele-
mentos do espaço regional ou nacional (desmetropolização, desconcentração re-
gional, etc). Por que não reestruturação regionaJ? O que se anali sa nesses livros é a
reestruturação de uma região (o espaço nacional brasileiro), embora o único ele-
mento da região analisado sejam as cidades. São, claramente, estudos de
reestruturação regio nal.
Por outro lado - a não se r que espaço urbano signifi qu e intra-urbano, o que
raramente acontece- não tem sentido falar de "espaço urb ano'' ao lado de "espaço
regional", como na expres são "espaço urbano e regional", abundantemente empre-
gada na literatura especializada, inclusive nas obras acima indicadas. Jáhá década s
que as estruturações (ou reestruturações) regionais, nacionais ou planetária inclu-
em neces sariamente as redes urbanas, pois elas constituem o principal elemento
das estruturas te rrit oriais analisadas. Não cabe, portanto, fala r em "reestruturação
do espaço urbano e regional", mas Lãa-somente em reestruturaçãodo espaço regio-
nal. O fato de, nessas obras, as cidades serem privilegiadas como elemento da estru-
turação regional não autoriza nem justifica a redundância "regional e urbano", pois
toda reestruturação de uma rede urbana {que é o que tais obras analisam) é neces-
sariamente uma reestruturação regional. Por outro Jado , no Brasil urbano de hoje-
para não faJar do Primeiro Mundo - é inc oncebíve l uma reestruturação regional
que não seja simultaneamente também uma reestruturação de rede urbana. No
entanto, fala-se, por exemplo, referindo-se ao estado de São Paulo atua l, em" ... es-
tratégias de desenvo lvimento urbano e regional". A palavra urbano é aí certamente
dispensável, no mínimo por dar a falsa impr essão de que poderia haver no estado
em questão uma es trat ég ia de desenvolvimento urbano qu e não fosse ao mesmo
tempo regiona l, e vice-ve rsa.

19
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\11 lh Z ,ll .1 \'\.J)l\'",',,,ll) lll' ~ll Hl qlll' ll'dUlld<lllft' l'SfhlÇ'O illllcl Urh;1r,o , rn
l ''" tf \ll ' 'l.to ' l' lll ."intk ,1. ço n10 d1, M· 1110 ~. 11.10 e 111t•r .1 t' inconscciüt-nlt- formo .
ltd.Hh· \d1.1tHl' 'Pll ' ll\lls ,l lg1111, clt• ~cu~ dc , dulH.1111C'11ln
!-..tll.tr1w1He prohlcmdticos .

Espaços rc g ional ' intra - urbano


4\ d t~t ,n ç ..to 1tt,11s imprn t,tnlc <'lllll' espa(O inll ,1- urbnno e cspnço reg ional de-
' l\ ,l do~ t 1,1n spo 1t L'~ e d ,1s com1111k,1(ue s. Q11<•r no t' Sp,1ço i ntrn - urb:in o. qu er no rc-
g1011.,I. o dt>:-lol',llll t'lllll til- n1at1..•riae do st·r llu11rn110 tem um poder cstruturndor
be1n rn:uor do qul' l) de s lo ca m ·nto da c 1wrgia ou das inform ações. A es trutura ção
do C""Pª" ' º 1t•g 1onnl c5 clominadn rwlo u~sloenmcnl <Hins i11lornrnçõcs, dn energia, do
c,1p i t ul n111, t .1nt c.: (' d as mer c, tclm in s t•rn gc r.11- l'\ 'Pntunlmc nt c at é da mcr c ndoria
fc>n,-a dt ' Lr.1b..1Jho . O e$p~wo intra - u r b.1110, ao con1rn1io, é cscrnturndo f1indamcntal -
n1 n t e pd,u. cu ndi~ ·ões tlt.• tle sl ocn m l'll l o d o ser hu111a 110, seja enqua nt o portador da
n1ercadori.1 tor~ ·a de trnbrdho - como no desl oca mento ca~n / trnbalh o-, seja en-
q u.,nto con wnid o r - r ' (HOc.lu~·üo cfa forç.1 ele trabnlho, de s locam e nto casn-com-
pr~s. cn"a - lal'cr . esco la , e t c . Ex at.1rnt •11H ' tf ,11 vem, por exempl o, o enorme poder
c-~crul11r-.1dor intra - u rbnno da s area s comerciais e de scrv i,·os, u começar pelo pró -
pr io ce ntr o urbanú . r.1is arcas, m esmo nas cidades imlu strini s, são as que gcra n1 e
atracn1 a mai or <.ptanudn<lc d e de ~loca nwnt o:- (viagen s), pois ac u mu lam os dc s lo-
can 1e nt ob de f 0 1~·.i Ut' t I al>alho - os qu e ali I rJbnl ltam - co m os de co n s umidor es
- o s que n l i fa :l..(~m L'Om p rns t" v: n no · scrvi ~·os.
ao papel Pspnciul dn ~ co m1111icnc;ücs, trnta- sl' de Jss unl o qu e já traz
Quanto
à bnila a con fu soo en tre ~1sanuli-;es do " cspa(OS inlrn - ur bano e regio naJ; j á ten10 s
aqui a oponunidndl• a qu e rtio, que será desenvo lvida logo a se-
d e m c n c ion ~u C!:>s
guir , n1os t rando co mo o do mfnio dos es cudo s i nrrn -urbano s te m s id o prejudicado
p e la i ndc v ida adoçfHJ uc paradigmas, co ncr it os e me todologias típi cos dos est u -
dos region nis.
Trnla -sc de regi s tmr o hábit o cios annli s tas reg ionai s d e utilizar, em análises
i nt ra- urb a n as, estes doi s vocá bul os- tran sporte s e co munic ações-e con sc qüen -
tc n1 c nt e as realid ade~ que expr im em, tão amarrados quanto irm ãos siam eses. Igno-
ra -se a ss in1 o foto de que se us efei t os sobre os espaç os intra-urbano e regional são

20
totalmente distintos. As comun icações têm efeito profundo sobre os espaços regio-
nais, nacionais ou planetário, comparáve l ao dos transportes. Entre outras razões,
pelo Fato de o espaço regional se r, como dissemos, estruturado pelo deslocamento
de energia, pelas comunicações e pe lo transporte de mercadorias, e o dinheiro, uma
das mercadorias mais transportadas ultimamente no espaço regional. tem-se utili-
zado exatamente das comunicações. Esta metáfora , muito utilizada, se aplica bem a
essa situaçã o: as comunicações, tal como os transportes, têm feito com que o mun-
do sc"encolha". As com unicaçõe s, a certa altura da história da técnica, se libertaram
dos transportes. Elas dependiam-pelo menos a grandes distâncias-do tran sp or-
te da mensagem: transporte do jornal, transporte da carta. Foi com a invenção do
telégrafo que as comunicações se libertaram en tão. Harvey (1993, 220), aliás, utili-
za-se de duas iluslrações para mostrar o "enco lhim ento" do mundo: uma através
dos transportes e outra - a propaganda de uma empresa de telecomunicaçõe s -
através das co munica ções.
Entretanto, a estruturação do espaço intra- urb ano é dominada pelo deslo ca-
mento do ser hum ano, enquanto portador da me rcadoria força de trabalho ou en-
quanto consumidor (mai s do que pelo deslocamento das mercadorias em geral ou
do capital constante). Nesses deslocamentos, não há espaço para as comunicações
ou para o transporte da energia. Assim, o de senvolvimento do transporte de energia
e das comu ni cações- que não envolve o deslocamento do se r humano- tem pro-
vocado no espaço intra-urbano efeitos desprezíveis, se é que tem existido. Não co-
nhecemos nenhum estudo com fundamentação teórica e base empírica que mos-
tre, por exem plo, os efeitos que a difusão do telégrafo teve sobre o espaço
intra-urbano. Desconhecemos, igua lmente, qualquer investigação - e muito me-
nos teoria- que tenha abordado os efeitos que a introdução do telefone, ou do fax,
teve sob re o espaço interno das metrópoles. Finalmente, desconhecemo s qua lquer
estudo sob re o impacto intra-urbano de uma das mai s fan tásticas invenções de to-
dos os tempos: a energia elétrica. Conjecturas há, certamente, mas para conjecturas
a mente humana tem a liberdade e o infinito. É curioso registrar, en passanr, e nos -
sas experiências permitem-nos afirmar isto, que a ma ioria dos estudiosos do espaço
reage a essas colocações em geral tão veemente quanto impulsiva e irracionalmen-
te, dada a falta de est udos objetivos e argumentos convincentes contra elas. No en-
tanto, abundam nos estudos espaciais menções aos "efeitos dos transportes e das
comunicações sobre o espaço urbano ou metropolitano ", quando na verdade tais
efeitos deviam ser apenas os do s tran spo rte s, e não os das comunicações. Trata-se
certamente de uma indevida generalização, para o nível intra-urbano, dos estudos
espaciais regionais ou plan etá rio. A esse respeito é de se registrar que tais estudos
têm ignorado amplamente o fato de que, em qualquer ponto do espaço intra -urba-
no ou imramelropolitano, os custos da energia e das comunicações são iguais (ou
apresentam diferenças desprezíveis, quando as têm), tornando esses espaços unifor-
mes ou homogêneos do ponto de vista da disponibilidade de energia e das comu nica -
ções. Com os transporte s, especial m ente o de seres humanos, a questão é totalmente
distinta. No tocante a eles, o espaço intra-urbano é alta mente heterogêneo.

21
lJma scf( u n dn dbt inçüo no s,. dud n por 1.. l>o 11i 1w <· 1 1ph•I 1 ( l '-)90, l 'l) 11-1,t",
aulorcs, no Llcsen vo lv inwn tn dt ' ', ('li ... t.•, tuclo s 1owg1111do n lt11lrn dn e li.1111,,d,11-.u,la
France s a da Re~ul nçi1o, ckp o i~ dl' ele-tin inym con 1( > morl f'lo de ti,·"'"tJOh1i11wnt11e, ( on
junro formm1n por um m odo d' 1eg1tl,,~·no, um 1c'Ai1tu• d<· ar1111111l .1<i,,H>t 11111 hlcHo
hc g •mõnico, pe1gun1am : " ... sl)brt· tj11al p, p.i ~·" ~r·oí-~t,tlko ,e ' '-',tlt'.l.,l ., t1111dadl'ele
um moe.leio <lc u est.·n vo lvinwntn 'I Admiti1t•n10 :-. qll( ~ ,. po ,, lvl' I d1 •,11111{\11r , g10'-\0
mo<l o, tre s nívei s: regional. nncio n al t· i111•1rrndona l" (l.iptt ·lz 1'-l7 /, l 'JW,) e rnno o
es pa ço urb an o o u m et ro p o l i t an o na o ap un• n·, ~o rno s o ln igJ d o s a e onc luil qut• o
es p aço que limit a, qu e c n qu nd1a t c 1ritc,rin l m v nlP um,1 mcl1 opo l e, n.w .,,.11.i no
p ensa m ent o desses nutorPs - um espa ço adPqu a clo h n,n 1li...P d .t u111d,1cl<·de um
mod e lo de de e n vo lvim ento . Ou sc jn, a~ dt 'tL'rrnínac .;ô(•.., lund c.1nH~ntabdt • u111 mo-
d e lo de desenvolvimento podem n nc1M' ::irt lc.:ul a 1 C\pnda lm entt• no n1vt'l i111r,t ur-
bnno. Mai s uma distinção - n scrm n vá lid ns a-; prop o,içne.., clc o.,\P!-. nul<>n' \ ent re
espn ço intra -urban o e reg io nal.
Uma ter ce ira di stin ção en co ntra -se no deli ca do e in cx pJ<n,:1<. lo c.i mpo do \ dei-
to s do es pa ço so bre o soc ial. Bod dy ab orda um n po c;,..,fv t•I d1 ..,linçfH 1 C'lllrr' n, P4'paçoc:
intra - urbano e regional. Seg und o (')e (197G, 1). " . . definir um campo de economia
políti ca 11rbrz 11n !grifo no o riginal ! é nigum ·n t ..u q u e<- tlr11tm !grifo no-..sol dn , cida-
d es( ... ) que os efe itos do espacia l so bre o ~oc i..1I, ão mai s forlC'..,(' ·rn crgc:m como
ó bvio s. O 'urbano ' passa ent ão a ser definido c m 1e 1m o-..e.lo~ ·fei t o:-,pnnH .:ulaH·~do
int ens id ade da s int craçõc!> entre o social e o ·spadnl. pro vocada,; pela forma e pt>·
c ífica d e a ni cuJação espac i al da pr od u çao, da circ u laçao e do con.;;.umo, rw forma-
ção soc inl".
Por fim , uma faixa de penumbra . Trata- se do novo t ip o de "rcgiuo urbnn a",
um mi s to de c idad e e região qu e e rar ia s urgindo no s 1....téldos Unido <;e que pode-
ria esca par à di s tinção aqui fe ita . Seria a regi ão m c t ropolitana ameri ca na co ni em-
porân ea, polinu cle ada, dc sco n cc nlrada e di s persa qu e. seg u ndo Mark Go ltdi cner,
se ria uma forma de " ... espaço d e asse nta men to carac te rí s tica d os E~tado s Uni·
do s .. .'' e qu e ai nd a" ... n ão surgiu , em um se ntid o qualitat ivo, cm outro s paísl',
nem m esmo n a Eu rapa indu s tri a liza d a" (Go tt dic n c r, 198 5, 9) 1• Ne ss a obra , o que
Gottdiener estu da ou men c io n a são proce ssos intra -u rb a n o~. tran s formaçõe s cm
element os da es trutura in tra-urba n a: o ce ntro , a c id ade ccn traJ. os muito ~ centros
(polinucl eação) e a periferia esparsa . Anali sa, portanto, a c-;t ruturn intra -urbana ,
por maj s qu e ela ass um a a esca la d e um a região. Trata-se d e um tipo p articular de
espaço urb a no .

Espec ificidades do esp aço intra- urb a n o


De acordo com I Jarvey {1982, 375). "o es pa ço é um a1ributo mat erial de todo
os valores d e u so··. Na ve rd ade o é também do s produt os n ão produzid os pel o traba·
lho , ou se ja, q uc n ão são va lo res de us o s imple s1nen te por n ão terem vn lor, como O!>
oceanos ou as mon ta nh as . Mas fiquemo s por aq ui. O espaço é at ribu to de um auto·
m óve l, d o co rpo hum ano, d e uma cadeira, de um ed ifí cio ou um co njunt o de cdifi·

22
cios e de uma cidad e inteira. Prosseg ue I larvey (idem, ibid.). "o trnlrnllw ulll t nm rt '·
to produz vnlorcs de uso em determinado s lugares''. Os valon·s de tho ,,1o tamhr111
consumid os cm "determ inados lugares". Te rnos então dois espaços: o <lw,ol>Jt•to-;
em si (produ zidos ou nflo pelo trabalho hum ano) e aqu ele drlerm i nad o pelo s loc.11"
onde estes são produ zidos e co nsumido s.
Aparece ass im a questão da loca lização - os locais onde os produt os 4.,,10
produ zidos e consumid os. A localizaçã o é relação a outro s objeto s ou rnnp111to~
de objetos e a loca lização urb ana é um tipo específico de loca lização: aq uela 1w
qual as relações não pode m existir sem um tipo parti cu lar de contato. aquele qu c-
envolve deslocamentos dos produtor es e dos con sumid ores entre os locai., de
moradia e os de produ ção e con sumo. Com isso, temos dois ou tros tip os de cspH·
ço: os que envolvem deslocamento s - as localizações - e os que nã o envolvem
desloca mentos - os objetos em si. Nestes último s, o espaço é dado por rclaçôrs
visuais ou por contato direto; na localização , as relações se dã o atravé s dos trnns -
porres (de produtos, de energia e de pessoas), das comunicaçõe s e da di sr onib ili-
dade de infra-est rutura. Note-se, entretanto, que o tran sporte de ene rgia. as co-
municações e a infra-estrutura pode m inexistir no espaço urbano , como em aldeias
primitiva s ou em pa rtes de espaço s urbanos algumas década s atrás. O tran sporte
de pessoas não.
Tanto parn o exercício imediato do traba lho como para a reprodu ção ela forçn
de trabalho, a localização urbana 2 é determinada então por dois atributo s. São eles:
• Uma rede de infra.est ru tura: vias, redes de água, esgotos, pavimentaç ão,
ene rgia, etc;
• Possibilidade s de transporte de produtos de um ponto a outro, de deslo ca·
menta de pessoa s e de comu nicação . Dent re essas possib ilidade s, a de desJo.
ca mento do ser humano (para os loca is de trabalho, de compras, de serviços,
de lazer, etc.) dominará a estruturação do espaço intra-urbano, já que , entre
os deslocamentos de matérias e os do ser humano, dominar á o últim o. Por
outro lado, a nec essidade de des locamento do ser human o domin ará as t.lc
comuni cação na estruturação do espaço intra.urbano pois, como vimos, o
custo das com un icações por fax, telefone ou televisão é praricnment e o mes-
mo cm qualquer ponto do espaço urbano.
As condiç ões de deslocamento do ser humano, associada s a um ponto do
territ ório urbano , predominarão so bre a disponibilidad e ele infra-est rutura s desse
mesmo ponto. A acessi bilidade é mai s vital na produ ção de localizações do que a
disponibilidade de infra-estrutura . Na pior das hipóteses, m esmo não havendo infra-
estrutura, uma terra jama is poderá ser considerada urbana se não for aces sível -
por meio do deslocamento diá rio de pessoas - a um conlcxt o urbnno e a um co n-
junto ele atividades urbana s... e isso exige um sistema de tran sport e de passage iros.
A recíproca não é verdadeira. Além disso, a infra-estrutura é produ zida e pode ser
reproduz ida pe lo trabalho humano e estendida a toda a cidad e. J ln países do Pri·
mciro Mundo em que toda terra urbana tem toda infra-estrutura ; a locnlizaçno, dada
pelas possibilidades de deslocamento do ser humano, não . Ela é como as obra s ele

23
arte e antigüidades-são fnito do trabalho hum ano mas não podem ser reproduzida s
pelo trabalho humano (Marx, s.d., L 3, v. 6, 727).
Os produtos específicos resultantes da produção do espaço intra-urbano
não são os objetos urbanos em si; as praças, as ruas ou os edifícios, mas suas loca.
lizações. A produção de edifícios ou de conjuntos de edifícios - A Noite,o
~lartinelli. Barra da Tijuca, Copacabana, o Jardim Amér ica ou a avenida Paulista ,
etc. - enquanto objetos urbanos certamente é produção de es paço. Entretantoo
é tanto quanto a produção de cadeiras, árvores, ou canetas. A produ ção dos obje.
to urbanos só pode ser entendida e explicada se forem cons id eradas suas locali·
zações. A localização é, ela própria, também um produto do trabalho e é ela que
especifica o espaço intra-urbano. Está associada ao espaço intra -urbano comoum
todo, pois refere-se às relações entre um determinado ponto do território urbano
e todos os demais.
O estudo das formas é sen1 dúvida estudo do espaço urbano, mas não é espe-
cífico do espaço urbano. Muito pelo contrár io, as formas são atributo de todo espa-
ço (árvores, cadeiras, canetas). No entan to, para explicar as formas urbana s - os
bairros , as direções de crescimento, a forma da mancha urbana, a verticalização ,
densidades, etc. - é indispensável co nsiderar as relações de determinado ponto,
ou conjunto de pontos, com todos os demais pontos do espaço urban o. Esperamos
mostrar nesta obra que dominam essas relações, que se materializam atravésdo
deslocamento dos seres humanos enquanto cons unüdore s e/ ou portadores de for-
ça de trabalho. É o que, em outra obra (Villa ça, 1985). chamamos de localização
pura. Portanto, a análise específica do espaço intra-urbano não pode limitar-se, por
exemplo, aos estudos da produção de escritórios na avenida Paulista ou de condo-
mínios verticais na Barra da Tijuca e horizontais em Alphaville; nem registrarque
São Paulo cresce mais para o leste e Porto Alegre tem uma forma marcantemente
linear . É preciso explicar por que os condomín ios são ve rti cais e não horizontais,e
vice-versa; em segundo lugar, por que produziran1 as localizações representadas pela
avenida Paulista, Barra da Tijuca ou Alphaville, e não aq uelas representadas pela
avenida Aricanduva, Belfort Roxo, Sapiranga (PA) ou ltaquera.* Não basta explicam
abertura da avenida Rio Branco, no Rio, con10 fruto da especulação imobiliária.O
estudo específico do espaço intra-urbano deverá exp licar por que ela foi abertana
localização que foi e não em outra qualquer. Não basta explicar o desenvolvimento
industrial de São Paulo ao longo das ferrovias, na primeira metade do século XX.É
preciso explicar por que esse de se nvolvimento ocorreu ao lon go de uma ferrovia-
ª que demandava Santos-, e não de outra- a que demandava o Rio. No casodas
metrópoles brasiJeiras, é neces sá rio explicar por que as camadas de alta rendase
localizam em áreas mais centraiis, produzindo grande quantidade de edifíciosde

• Avenida Paulista, Copacabana, Bclfort Hox.oe ítaquera 1150 são pontos ele um espaço geométricc, t:ibulciro
continente. As expre ssões na avenida Paulista e e111Copacabarw silo enganosas, pois veiculam o idéiade
espaço tabul eiro preexistente. A avenida PauJista, enquant o es pa ço socia l e ponto de grandes escritórios,/
um espaço, não está no espaço. As avenidas Paulista e Copacabana de 1920 são um espaço e ns avenidas
Paulista e Copacabana de 1980 são outro. Por isso, dizemos localização representada por ...

24
apan.amcnto e não predomi n anteme n te e m apa rtamentos uburbnnos- como nJ
Rarrn da Tijuca - nem em residências uniíamiliares suburhanas - corno em
\lphaville. Final mente - e aqu i está uma ques tão vital parn ..i compreenc.ào do e-.-
paço intra-urbano brasi leiro-, po r que as camadas de alta renda, quando vão para
o subúrbios- Barra da Tijuca, Nova Lima, na Área Metropo litan a de Belo Hori1.on-
te ou Alphaville - escolhem cer tas localizações su bu rbanac; e não outras, como
Belfort Roxo, Venda Nova ou Jta qu era. Ao mes mo tempo . 6 preciso entender as im -
plicações e as conseqüê n cias d essas loca lizações; cm resumo, é preciso explicar a
localizações intra-urbanas.
Para ilustrar a especificidade do es pa ço int ra- ur bano, vejamos um ponto de
partida tão fundamenta l qua nto eleme n ta r. Quais os processos socioespaciai~ intra-
urbanos mais im portantes e significativos e qu e por isso deve m merecer maior aten-
ção por parte dos estudiosos? As análises e teo rias so b re o dese n volvimento ou es-
truturação (ou reestruturação) regionais já há m uito resp onderam a essa pergunta.
Há um razoâ\'el conse nso quan to à imp ortâ ncia de algun s processos socioespaciais
regionais , como aq ueles ligado s à urb anização, às relações ent re a ind ustrialização e
a urbanização, ao dese nvolvim ento reg ion al des igual (nacion aJ ou planetá rio). adi-
\ isão internacional do traba lho, às relações entr e os mode los de dese nvolvimento
- na definição acima, d e Upi etz - e a es trutura ção territ orial region al, etc. Apenas
para mencionar o caso ma is con heci d o bas tar ia lem brar o p restíg io inte lec lual hoje l
desfrutado pelos est udos reg ionais e plan etário produ zidos co m base nas idéias da_ § ~
chamada Escola Fran ces a da Regulação, os qu ais vão desde o Sunb elt x Snowbelt ~ =i ~
aos centros de crescime nto flexíve l, co mo os tão difundid os casos do vale do Silício, .1~ e
Emília-Romag na, Corre dor M-4 e o ut ros (Bodd y, 1990 ). ~ ~ ~
No entanto, e ao co ntr ár io do qu e vem ocorr end o com os es paços regionaJ e .., i
planetário, não se dese n volveu, n as últimas d éca das, nenhum a co rrente de pe nsa-
mento voltada para os p rocessos soci oespacia is intra- ur ba no s mais significatiV05, e
muito menos para as co nexões entre as tra nsforma ções das esfe ras socioeconomicas
e as espaciais . Estas refe rir-se- iam n ão ape n as aos efe itos d as tra nsformações
socioeconômicas sob re o es paço - q ue é o ram o de investigação mais freqüente e
desenvolvido-, mas tam bém ao opos to, isto é, os efe itos das tra nsformações espa-
ciais sobre a esfera socioeco nõm ica, muito men os freqü ent es. Fina lmente, pode -
riam referir-se também - e mais correLame nt e - à dia lélica sotioespacial (Soja,
1980). Tal dialética, então, é quase total m ent e ignorada .
Cabe então reiterar a pergu nta: q uais os pr ocessos socio<.'spadais intrn -urba-
nos mais significativos e importantes? Por quê? Avcmcmos algum as h iµOte!>C~.
1. Seria a versão intra-urba na do dese n volvimento regio nal e planetáno desi-
gual? Seria c nt ào a do desenvo lvime n to dcsigunl do espaço intra-urbano? Li-
mitar-se-ia esse espaço à questão centro x periferia?
2. Seria uma eve n tual Lcndência das metrópo les no sent ido da descon-
centração polinucleada e da formação de enormes "n uvens urbanas" , como
as ide ntificadas por Gottd iener ( J985). que existiriam apenas nos Estado~
Unidos?

25
3. ' cria n rhamnda "decadência" dos cent ros pr incipai s (CBDs - Central
Busincss Dist rict}?
4. Seria o ur gim ento de novos ce ntro s alternativos aos CBDs?
5. Scrin o dc~loramcnto e/ou a expansão dos centros principai s antigos e a for-
m.,ç no dos chanrndos "centros expa ndido s"?
6. 'eria :1segn'g.1çào urbana? Se ria não só a seg rega ção, ma s a po sição relativa
das a1c:ls seg regada s no espaço urban o, como na descrição de Manchester
feit:i por Engels {l 978. 579) cm Tlie conditi on of th e working class in England
in IR./.f nu nos ele Burgei,s ( 1968, 47) para Ch icago ?
7. Seria o deslocamento espacial das classes soc iai s?
8. erin a verticalização?
rinalmcnce, quais seriam os principais elementos da estrutura espacial intrn-
urban:1 l' por que?

Essas questões eleme ntar es não têm sido sis temati cam ente expostas e de-
cn\'olvidas - muito menos int erpreta da s ou ex plicada s-, na s últimas décadas1
pelos estudiosos de origem marxista (próx ima ou remota), excetuada talvez, como
ja vimos, a efêmera e questionada incursão de Caste lls no assunto, em La questíon
urbnine. Portanto, os temas sob re os quais versam aquelas pergunta s permanecem
aba ndonado s e elas, sem resposta.
Se não há consenso, corrente organizada de pensamento nem investigação
empírica siste mática sobre espaço intra-urbano, como havia, por exemplo , com a
Geografia e Economia urbanas neoclássicas; se é precário o conhecimento desse
espaço intra-urbano; se não há consenso so bre os processos socioespaciais incra-
urbanos mais importantes, e que por isso devem se r estudados, como é possível
acreditar minimamente em qualquer teoria do espaço intra -urbano? Se é limitado o
material empírico e teór ico sistemat iza do e elabora do sobre espaço in tra-urbano,
como aceirnr, para esse espaço, processos socioespacia is, metodologia s, paradi gmas
ou teorias transplantadas das análises regionais?
Para finalizar, aproveitemos as obse rvaç ões acima, sobre o papel dos deslo-
camentos espaciais do se r humano como especi ficador do espaço intra-urbano, para
regi strar que não considera m os as á reas metropolitanas regiões. Como pretende-
mos mostrar nesta obra, são elas asse ntam e nt os, ou co mpartimento s territoriais
estruturado s pelos deslocamentos dos seres humanos enq uanto consumidores ou
portadores da merc ado ria força de trabalho; são, por isso, ci dad es - por maior e
mais imponante s e globais que sejam, e p or mai s que incluan-1 vários muni cípios.
São um tipo particular de cidade, mas são cidades. Não são regiões. Por isso, nesta
obra , só no s utilizamos da expressão área- e não região rnetropolitana.

Abordagens dos espaços intra-urbano e regional


O aspecto central ne s ta questão é o segui nt e: as rela ções, ou as medi ações.
entre as grandes transformações socioeconôrnicas nacionais ou p1ane ttirias e, de

26
um lado , as transformações espaciais regionai s e, de outro, as intra - urbanas são as
mesmas? Por quais mediações passam as relações entre, de um lado, a estruturação
do espaço intra-urbano das diferentes cidades de um paí s e, de outro, as grandes
transformações sociais e econômicas exper iment adas por esse país, o grupo de paí -
ses ao qual este pertence e mesmo a sociedade mundi al? Nossa tese é de qu e tai s
mediações passam fundamental men te pelos traços nacionais definidore s da estru-
tura e do s confli to s de classe e, ainda, pe la dominação política e eco n ômica através
do espaço intra-u rbano . Tais traços se manifestam na estrutura espacial intra -urba-
na por meio da segregação, que passa a ser e nt ão o processo ce ntral definidor dessa
estrutura. Esses traços são bastante inelásticos em face de algumas transformações
sociais e econô mica s nacionais e planetárias.
Nossa análise do espaço intra -urbano de seis metrópole s nacionai s mostra que
a lógica básica de seus espaços pouco se alterou nos últimos cem anos, por mai s que,
nesse período, o capitalismo brasileiro tenha se alterado, seja nacionalmente, seja em
distintas regiões do país. Claro que, se, por exemp lo, o neoliberalismo faz aumentar o
desemprego e a pobreza, as áreas pobres de nossas cidades aumentarão. Essa exp lica-
ção é tão verdade ira e óbvia quanto pobre. No nível intra-urbano é fundamental en-
tender como essas transformações são filtradas em nossa sociedade e traduzida s em
estruturação e reestruturação- e não apenas em alteração-do espaço urbano.
Para mo strar a distinção entre os espaços intra-urbano e regional abordare-
mo s a segui r os pensamentos de alguns not áveis analistas contemporâneos doe s-
paço. Vejamos inicialmente o pensamento nacional sob re a questão , utilizando-nos
do enfoq ue de alguns de nossos mais brilhantes estudiosos.
Queiróz Ribeiro (s.d. ) e Queiróz Ribeiro e Corrêa do Lago (s.d., 9) vêem na pro-
moção imobiliária o elemento de ligação entre, de um lado , as transformações
macroeconômicas n aciona is e, de outro, a ree struturação intra-urbana . Desenvolvem
importante inve st igação sobre a atividade imobiliária no Brasil urbano, assunto mui-
to próximo ao espaço intra-urbano, razão pela qual são impelido s a abordá-lo. Os au-
tores explicam por que os lucros de incorporação, derivando , segundo eles, de trans-
formações no uso do solo, provocam transformações intra-urbanas. Procuram, então,
investigar as conexões entre o recente advento e difusão da "moderna incorporação
imobiliária '' e aquelas transformações. Nesse sentido, chegam inclusive a considerar
essa moderna incorporação a causadora da segregação espacial. ''Adinâmica constru-
tiva empresa rial concen tra- se e reno va intensamente os núcleos urbanos, elitizando
e segregando essas áreas das grandes e médias cidade s, especialmente das cap itais.
No Rio de Janeiro, por exemplo , estima- se que, no período 1980-1988, 73,8% dos in -
vestimentos realizados pelos incorporadore s tenham se localizado nas zonas Norte ,
Sul e na Barra da Tijuca " (Ribeiro , 1992). Em Porto Alegre, as unidades constrnídas no
centro da cidade passam de42 % do total da cidade em 1982 para 65% em 1989 (Rovatti,
1992). Números seme lhant es pod em se r enc ontrado s para São Paulo (Galena, 1992),
Aracaju (Dantas , 1992), Natal (Araújo & Câmara, 1982, e Petit Mello, 1992) e Salvador
(Pinho, 1992). Concl uem Ribeiro e Lago qu e " ... em todas as capi tai s produziu-se o
me smo mod elo de espaço urbano segregado e diferenciado; isto é, a moderna produ -

27
imobiliária? Até que p onto - co mo pretcnd emoc; noc;- a i;egregação é um proce $SO
necessário para o exercício da dom inação social po r mei o do ec;pac;.o urbano, de cor-
rendo, portant o, <lnluta de classes em torno dac;.,vnntag ens e d e van tagenc; do espaço
construído?
Outro caso ilus trativo da s difere n ças de conexão entre a!>tran c;formações eco-
nômicas n acio nai s ou pl anetárias e os es paços urbano e reg ional é fornecrdo por
uma anális e tip ica m ente reg ional : Ncgri e Pacheco (1994, 62) identificam três tipos
de aglom eração ba seada na produ ção ílcxiv el. Prim eiran1e nt e, " ... as indú trias in-
tensivas em design o u rev itali zada s pela introdu ção d e co nt eúdos 'ar tesan a is' (... )
com dois Lipos principais d e localização: ou em áreas pr óxim a da s grand es metró-
poles (a exem plo de Nova forque, Par is, Londre s, etc .) ou em antigos centr os (grifo
nosso] 'arte sa n ais ' {como a Terce ira Itália, parte s da França , Espanha, etc ). Em 5e-
gundo lugar, a indú s tria de 'alta' t ec nolo gia lend e ria a se localizar em áreas
selecio nada s nos subúrbio s da s grandes cidade s ou em áreas anteriorm en te n ão
industrializadas (como no Sunbelt americano )". Finalm ent e (ap oiando-se cm Sco tt
, torper, 1990, 22/23). afirmam que" ... os se rviço s produtivo s e financeiros tende-
riam n localizar-se no centro [grifo no sso] das grandes cidades como ~lanhattan , a
City de Lon dr es ou La Défense em Pari s".
Negr i e Pacheco não anali sa m, nem pretendem anali sar, o espaço intr a -urb a-
no. Deles n os utilizamos pela ó tima oportunidade que oferecem para mostrar adi-
ferenç a entre a abordagem reg ional e a int ra-urbana . Em primeiro lugar, para a aná -
lise regional , uma cidade ce ntral de uma metr ópol e, uma área metrop olitana o u
um a região urb ana é um "centro ". Assi m, a região ela Terceira Itália é chamada de
centro . Entreta nto , os autores também cha mam a City de Lo ndr es de cen tro. ap esar
de se r uma área exígua e de natureza co mpletam ente ruversa se comp arada com
Manhattan ou co m a Terceira Itália. Por ou tro lado - e isso é parti cularment e im-
portante-, pro cu rand o o centro d e Pari s, os se rviços produti vos e finan ce iro s p ro-
curari am ... La Défense, que está a 9 quilômetros do ce ntr o de Pari s. Se na s análises
regionais tamanha s dif erença s en lre "centro s" nã o sã o import anLes, nas análise ·
intra-u rbanas essa confu sã o é inaceitável. lss o p or s i já revela a difer ença enuc as
aná lises regionai s e intra -ur b ana s. Na análi se intra-urbana , não é po ssíve l englobar
La Défense e a City de Londre s sob o mes mo co n ceito d e ce nt ro. No nível incra-
urban o, terí am os que stões da se guin te natur eza: por que os erviços produti vo e
financeiro s aci m a men cio n ados procurariam La Défcn se, e n ão o ce ntro tradi cion,d
de Paris? Por que pro curariam a City (equivalente às rua s Qu inze de Novembro,
Quitanda e Boa Vista. em São Paulo, ou m, rua s Sete de Selemb ro, Quitanda e do
Carmo, no ílio ), e não uma localização suburbana eq uivalente?\ do Centro Empre-
sa riaJ de São Paulo o u um "cenlro novo'' co mo La Défense? Por que. em nossa~ me-
tr ópoles, os centro s lrndicionai s - agora num se ntid o inlrn -urbano - cmram em
de ca dência e surg e m cancros novo s? Por que a alta finança é uma da s pou ca~ ati\ i-
dade s a se manter no s centros velhos não só de noss ns metrópole s, ma s me!,mo no~
do Prim eiro Mundo , como em Wall Strcet , na City? Respos ta a essa~ ques1õe!>int ra-
u rbana s n ão se rá encontrada nem n a acumulação ílexivcl, tamp ouco em qualquer
outra ma cro teo ria do gêne ro. Essas macro teo rias pod em explica r por que os serv iços

29
produtivos e financeiro vão pnra Londre s, Tóquio ou Nova Iorque; podem até expli-
car por que a indü triade pontn vai para a Terceira lttfün, mas não têm condi çôc!)de
t!'\.plicar a localiLnçõc-s intra-urbanjs Jnquele s serv iços, nem sua s impli cnçõc~.
P~hscmos agora para a abordagem de c-studio sos estra nge iros. Mnnu c l Castclls
foi o único dos co nt emporâneo s de origem marxi sta que apre sentou uma proposta
de abordagem tcorica nbiangcnte d o espnço intrn -urbano c m La que stinn 11rúni11 e.
Entrcrnnto , ·ua propo sta não prosperou já que ele pr ópr io abnndonou esse campo
de in, ·e rigaçào sem ter deixado seg uidore s. Ap<>sardis so, tem mantid o algum intc-
rc se nas questõc . referentes ao espaço intra -urbano, embora se m a ambição de
profundidade totalizante demon strada na obra citnda acima.
Fazendo uso de uma contribuição recente de Cas lc lls de 1994, vamos conti-
nuar a tecer com,idcrações sobre um elemento absolutamente fundamental da cs-
tmturn cerritoria l intra-urbana: o centro da cidade ou da metrópole. lni cialmcnLe,
con, ém deixar claro que é nece ssá rio estar atento para o fato de que, co m o acaba-
mos de vc-r, \'ariam muito os conceitos e as realidades repres entadas pela expressão
n...ntro ttrbano; é preciso, poi s, caute la na interpretação desse vocábulo e também
na ua utilização. Ele pode de signar ou os chamados centros tradicionai s (impro-
pnamcnte chamados de "histó ricos"), como o CBD dos americanos; pode designar
uma arca central mais ampla , co mo a que os urbanistas brasileiros chamam dc "cen-
tro expandido"' ; pode até mesmo significar cidade central. especialmente no caso
da-. cidade america nas, que freqüentemente têm área territorial pequenn , tanto
em termos ahsoluto como relativos às extensões das respect ivas áreas mctropolita-
nac;; finalmente, cm análises regionai s, pode significar áreas metropolita nas intei-
ra!>. Referindo-se às cidades da Europa Ocidental, diz Castel ls (1994, 26): ''O centro
de negocios constituj -se de uma infra-estrutura de telecom uni cações, co muni ca-
ções . serviço - urbanos e espaço para escritório, baseados em inst ituições tccno-
log1ca e inc;titucionais . Ele pro spera a partir do proc essa mento de informaçõe s e
funçõe!> de con1role Às vezes é complementado por instalações de turismo e via-
gens . l:Je é o nó do espa ço de fluxos que caracteriza o espaço dominanle elas socie -
dade,; informacionais'".•
lnddentalmeme, é curi oso que Castells não mencione as atividades - ou
instituições - cullurais como a~ específicas dos centros. Não está claro se Caslells
está se referindo a um ··ce ntro expa ndid o" ou a um ce ntro tradicional- o CBD, por
exemplo !\o caso de Nova Jorque, o centro seria a ilha de Manhattan inteira ou apr -
nas a pane ao !>UI do Central Park'? Note-se que ele tamb ém não incluiu a s ín slitui -
ções educac1onah nec:;secentro (se Livcsse incluído , e le estaria, obviamente, se refe-
rindo a um ccmro expan did o), mas apenas at ividades baseadas e m instituiç õc
educacionai s. ~eJa como for, fica claro qu e Castells está se mpr e se referindo a um
centro de uma cidade ou árt!a metropolitana .

• • Jnc bu sin c , i:L"llll r I" mJd ~ up uf ,lll l11f1a,1ruc1111t• oi tclt~co11111rn11lca1ionc;, co mmuni c,11io11 !., 11rhu11
Cf'\lCCSand oUict·.spJcc b:Jr,cd uron ci:dmulogy anti cdu ca11u11::i l in~1iiu1ion-. ll Ihri vt~s 1h1011g h 1nlorn1,1lin11
p mc~ ...tng and co11tml !um:11o n-, li 1, -.omcumr ...complC'mc111 cd by touri <;rn ,mel 11avcl l,acilitie<,, lt 1.. lht1
no<l,. of lhe pa ce of tl"\.,.. rhnt chamc lcr!Lcs tJ1c do mina nt 1,pacc of lnf ormu Uonal sncic tlc-.".

30
Goudiencr abordnrin de outra manrir.1 · rcít•rir- ·-ia , s mC'trópol "s p(llt-
nuclcadac., reconhe cendo ou nJo , que um . e ,o um. do <irl'ntros wna n pr mnp.1I.
Goudiener u ana lmsme.s ccnter.s,no plural. t• n,10 hm111e,s, e11/cr. ,\,,,m .:;cndo.d.1
duas uma: ou Cac;t e ll, e Goudiener 1ealmc1Ht•tlivcrgem, ou <.'lllttO a~ c1dJdcs nortc-
amencan as - que ·ão as estudadas por GolldiC'nl'í- s ,10 realmente d1forcmcs das
da Luropa Ocidental - às quai,; se refere Cas tcll s. l·m qualquer l'Jso, cabem as ~c-
guintes indagações tipicamen te intra-urbana s: ncs!:!Casprcto, como ~ão as cidade,
brasileira~?Quais os processos que vêm ocorrendo cm ~eus t.:elllro..,?No no..,.,ocaso,
o~ grandes equipa ment os metropolitano s exemplificado s por Castelh e~tan.1m ~e.·
localizando no centros tradicionais (ou encos tados a cle5). como o f'elcpono do
Rio de Janeiro? Em caso afirmativo, por quê; se não, por quê ? E~tariam ~e locahlan-
do em centros expandido s - muito afastados dos centros trndicionab - como no s
caso~ das a\enidas Luís Carlos Berrini ou da marginal do rio Pinheiros em São Pau-
1

lo, ou na região do Shopping Iguatemi, em Salvador? Escariam se locnhzando fora


até me mo dos cenlros expandidos. como na região do Centro Empre anal de Jo
Paulo (g1gantesco complexo de escrilórios conslruído na década de 1970 a 15 quil o-
metro5 em ltnha reta do centro principal) , ou junto no Centro Admmi trau vo de
Sal,ado r? Enfim, quais as transformações territoriais por que vem p~ sando o cen-
tros das metrópoles brasileiras e por quê? São elas causadas pe la acumul açao fll!Xl-
\'el, pela realidade pós-fordista, pela globalização das economia s nacionais. ou pela
nova socieda de informacional? Em qualquer caso, nossas menopolc s permane ceri-
am eventualmente com um centro principal apenas, trocando o "velho" ltrad1cio-
nal) por um "novo"? Finalmeme, as principai s questões, especificamente mlra -ur-
banas: por que os ditos centros novos se instalam na regino em que se instalam e
nao em outra qualquer? Qual a razão de sua localiznçào? Quais a!, implicaçõc~ e
com;equências de sua localização?
Ca~tclls discorre ainda sobre outros, processos socioespaciais imm-urhano ;
50bre a 5cgrcgação espacial das elites nas cidades da Europa Oc1dcntal, diz que, l,1,
essa clas!>enão foi para o~ subúrbios - ao contnirio das amcncnnal> - e enuncia,
sem desenvolver, uma hipótese, a nosso ver, correm: a que rrlnciona a locali1.,ação
intra-urbana com a dominação {idém, 26):• "Nas c1da<lcs curopctéls, ao contrário
das americana.,, éll>área!, re!,idenciais realmemc !>oltsticadasccn<lem n apropriar-se
da cuhura e h1~tória urbanas , localizando-~e cm áreas rcab1lnc1da. l>da cidade cen-
tral. enfa11zandoo falo fundamental de que, quando a donu11Jc;aoci,ta claramen te
e">tabclecida e aplicada , a elite não necessita ir para o cxího suburbano, como fi1e-
ram a~ frágeis e amedrontadas elites americana !>par d escapnr cio co nlrolP da popu
laçao urbana (com as significativas exceções de Nova Iorque, São Franci,co e
Boslon )".••
• l•111h1ir;111. ,0 ,ria ttll\ ,! dominaçao ntlfw6 do espaço rul lfmo, ronm rnm luirt•mn, nc~ln oh1,1
.. ' ln l 1111,pt•,111, il•l', , urtllh· rn J\mcma, tltt> ltul y cxthhr\t' rC">ldt·n11,tl Jlt'.h 11•11d ltJ ,1pp 111p11,lll' 111b.1n
1·11lt111r·,111J hh101y, hy lot ,ti 111g in rt•lt11hililJll'<I ;mw , of 1lw cc111 1lw h.t,1\. l,H I lhat
tJI e ri>", 1•1nplu1,11111.:
wlwn do111111,111t,11 ,, <lt•.11lv t '>IJhl h hcd ,111dcnío1ct·u, lh e d1w d,w, n11lnnd lfl i:u 11110 ,\ ,uh111h,111i·:tllt',
J 11h1• Wf',Jl. ,llld h::u 1111 A1i°11•1ic:1 11 dite.", clrcllll ,,.,, ,tp l' Í101111lw c:umrol oi thl' 111h.111 popuL,11 011(wllh the
!Jll(tllíir,1111<·xt,•pt ion ...oí Ncw Yo,k., !)on I m rH. ii,cn and 1\11 , ton ) •

3L
Entretanto, há uma questão mais instigante - e, para nós, questionável -
elaborada por Castells: a relação que se estabe lece entre a estrutura espacial intra-
urbana e as macrotransfonnações socioeconôm icas. Depoi s de uma rápida exposi-
ção sobre a estru tura espacial nas cidades da Europa Ocidental, afirma ele (idem,
28) que "os grandes centros metropolitanos europeus apresentam algumas varia-
ções cm torno da estrutura de espaço urbano que nós res umimo s dependendo de
seu pap el diferenciado na economia européia !grifo nossol. Quanto mais baixa sua
posição na nova rede informaciona l, maior será a dificuldade de sua transição do
estágio indu str ial e mais tradiciona l sua estrutura urbana, com os antigos e consoli·
dados bairros e áreas comercia is desempenhando o pape l determinant e na dinâmi-
ca da cidade. Por outro lado , quanto mais alta sua pos ição na estrutura competitiva
da nova economia européia, maior o papel de seus serviços avançados no distrito
de negócios e mais intensa a reestruturação do espaço urbano. Ao mesmo tempo,
naquelas cidades, em que a nova sociedade européia reloca funções e pessoa s atra-
vés do espaço, imigração, marginalidade e contracu lturas estarão mais destaca-
damente pre se ntes, lutando pelo controle do território à n1edida que as identidades
se tornam crescentemente definidas pela apropriação do espaço".•
Esse trecho é rico e muito se presta à exploração e ao desenvol vimento de
algumas questõe s fundamentais sobre o espaço intra-urbano. É preci so sempre ter
cuidado com o conceito de "centro"; na mais generosa interpretação, essa palavra
designaria uma área bem ampla, ma s certamente não seria sinônimo de "cidade
central", expressão que Castells usa com freqüência. O autor estabelece aí uma clara
correlação entre importância socieoeconômica (o papel diferencial na econonúa
européia) e renovação física da cidade. Não ,analisa , contudo, a locali zação onde
ocorre essa renovação física. Orn,,não se pode analisar transformação de estrutura
intra-urbana sem analisar alterações de localizações intra-urbanas. Segundo Castells ,
a s cidades que ocupar e m uma posição hierárqu ica inferior na nova rede
informacional manterão uma estrutura urbana mais tradicional, com as áreas
residenciai s e comercia is antigas - antigas e consolidadas - desemp en hand o um
pap el determinante na "dinâmica da cidade". Por outro lado, quanto mais alta sua
posição na hierarquia econômica" ... maior o papel de seus serviços avan çados no
distr ito de negócios e mais intensa a reestruturação do espaço urbano'' . Esse raciocí-
nio é incapa z de explicar, por exemplo, as transformações intra -urbana s nos cen-
tros da s metrópole s. Nessas palavras não há espaço para centros velhos ou novos,
nem para a "decadência" de centros nem para o deslocamento de centros. Também

• " ... major Europca n m c tro politan cc ntcr s prc sc nt so me vari:uions around thc s tru cturc o( urban spaccwc
hav c oullincd cfrpending 011Ifmr diffcrcnt ia/ role i11tlze U11ropca1teconomy !grifo fl(Jsso ]. The lowcr thcir
po s ition i11th c ncw infonnalionnl nc1work , lh e ~rc al cr Lhe difficulty o f lhe ir Lran it ion from lh e lnduslri::il
stag c nnd lh t: mor e 11a dition a l wíll bc th ei r url>an s 1ruc lu1c, with o ld cstah lis hc d n e ighborhnod s ,rnd
cormnerciaJ quarlers playing lhe dc1erminon1 rol e in lhe dinami c of lh e city. On lh e orhcr hund , rhc highcr
thcir po s i1io11 in lh e compcliliv c s rru c tur c o f lh e new Europcun cconomy, Lhe grca!er lh e JOlc of thrir
advanccd se rvices in lhe bu sinc ss dis tricl nnd lh e more intcn sc will bc lhe rec s trn c luring of lhe urb.111
spa cc. Al thc sam c lim e, in lho sc citics whcrc lhe ncw Europcon so cicty rclocalc s fun ctiun s and pcnplr
lhroughoul rhc s pacc, immigration, marginality anel counter cu ltur cs w ilJ bc lhe mo s t prc se nt. fighlin~
ovcr lhe con 11ol of the lc rrilory as idcntiUc s be cornc in c rca-.ingly deílncd by lhe appropri: :11ion ofsp:ice."

32
n~ohn espnço par,,~ n·110va\·ao 011lnrali1.11çan
lll'lll d• ,lll',l~ tc'1.,1
d<·rKf.1i,, 1~1m111rnto
de oulros n •nlro,; tt' t-ci.it io" qttt' n,lo o:- ti ttdkionnh n•nl, 01.,p, 111<ip.ii s. 1umb ém aqt11
é pn.•riso C'ltid:ic.lo com () conceito de CS(trlflll1l . c a.,ll'II', 11,,1 no 11\l l cll cll' l'~p .1\0
\trbano - l'S:-iapalavrn rn mo ~inünimn de <.' SJrn~·o rn lrn,m 1'.11,1nm,, 1h10. r,1ru111r.1,
quando Sl' 1efc1c J l'Spa ço til bano, di z 1c• :,pcilo :1loraliza~ \ lo rcl,1tiv,1dn s rlt'nwnr n-.
r!'>paciais e ~u.\s rl'lnçoes, ou M'J, 1, do s r l'l\lt os d<.1 ,wgüt 1Ps (11JoM) o prín dpal, 111.1s
tnmb<.\ m ns ckma is) d,t!-1 t\1e:1srcl'lidcnrii1b scgrl-'gadas t', finalmc11l t\ dt1~ .irl', t t.. 111
d\l ~triai s. Castclls nhorda t rnnsl'ormaçocs d o cspnçn (n·11ovnç.io do 11H•io r on ..,11u1clo)
como "n•r stnll tm1(:lo" d o csp:1<;0.Pode ha vrr rt'novn(no do l'S J'HlÇ'Oo:;('m11rc(•.:;c;aria ·
mente haver rcc strutura~ ·tto. Qt1nm lo, nos pri111 riros vi111c:,nos dci,tc s,~culo, o qun
dro imo bi lidrio do centr o de no~sns cidade~ foi tolalmc nl c renovado co m a dem olr
ç5o dn colonia l e n impla nt açt\o do ncnclrí:ssicoe do rd<:tismo , ru7o hut1walti'l'tlÇao
tr11t11ra11rbnna, µ ois esses ce nt rns nf\n prrclt•ra111sun i mp ortüncin , su:1 po:>i-
11n c>s
çno, sua nnture za nem lorali za~'flo. No c11tnn to. houvr lt ansf<1nn n~·ün do cspttc;o111-
bnno l! intensa alividn clc im obili ária . Qunnd o, em Snlvndo r, na Vit ó rin , C.1mpo Cramll'
ou Grnc;.i,as mans ões são dc>molidns e sub stilufdn s por upn, lam ento s ,Ili lu-xo,ltn
allernção do es pa ço cons tru ído, mns não 11.\nllt'raçi1o dn cst ruturn urb,rna, um n \ C/
que tai s b:1irros mant êm sua nmurc 1.n,class t' socia l e lornli znçfiu c11q11onr o C'lc•mt.•fl
ws rln estrutura t..'spacinl11r/)(l11n.
Volte m os, co ntud o, no texto de Cnstc ll s. Se e vnl ido rorrel:1cionnr - co mo r,11.
Castcll s - n po sição hi crárquicn da cida de co m seu dinamismo irHobi l i6ti o, u Ju é
\'iílidofaze, o mesmo - como1nmbémrnz C,1::;tcll~- rom a lornlizuçiiodi1t-iílrl'íl'í
lhnflmicas em t ermos imobili drios. As.sim, n alta llicrnrqui 11e o di, wmis mo cconô-
mic o- irnobifüírio nno imp li cnrn n cccssn rinmc nt e que o cc 11t1o ttt bnno SL'renovnr.i .
l:m París, por exem plo, esse dinami smo imobi li ,ír io íoi cnnnlin 1do parn fom do t:t'n-
tro - n:-iOél cnsc . f<cssa ltc- sc q11r CnstPlls l nla t·m "di st rilo de tll'gório~", 0 11sejn,
centro num ~C'nlit.lo rest ri lo.
E~sa análbc é va lida para o Bras il? 11,lvt•rin cntn~ rnís alguma r<-'laçt-1c1 t'nll e ,,
p osi(àO hicrMquicn dn cidade n a "novu redl' i11íor111, 1do11nl" l>rasilcit, 1e sua l\stu1-
lu ração inte rna ? Qua l a rclaçao enl rc ,1s lr,111 sfo111rn~ ·úc·s ú l' UJ ricl,1s 110~ rt• nl w s de
no ssas c ldmJes - trndicionai s 0 11PÃJHLntlido s - e n dt'St•n vDlvinwnlo L'1111lucrw1.1
dessas me sma s Li daclcs, se ja no 11fvcl regional, do Mcr co~itl ou i11tt'lll,\l 'ln11,llml ' ll
tt'? Qu.1I n wla~·ão entre a po~i~·:ío '1iNá rq11ica, <Ht qu.llquN 0 111rn tcln~\ lt) l'Olll .1s
11nn sfo mrn çõc 4,~ociocc:o nü111icus plnnc1 ,li lns e ,l rnn11t1lt'n~·.w dt• u111,1 "t•st I ut 111.1
Lradicio nal " de um Indo e unrn 11rnío1 inten sidade na l l.\l'~I ru i u r.i~·.in cio ~SJH1~·0intr.i -
urbnnu , d e o utro , co 1110 lata Ca~tclls? lh.!1w1i11do nos ~i\ qtH'..,l,ll) u•1111~t1: pu, q11.11~
m ediaçõe~ pa ssa m n~ t rnn slo rn1a~õc-, srw inL't·o1w111 ic<1s11adon,11s uu pl,uwt,h ia~
até se mani festarem c m t1nnsforn1a'.-6t•s 11.111s tn1T111,111111.1 u1 l'l.111.1dP 110~, n!>Lid,1
d cs? Pnra nó s, passJm pc l.ic, suns cs 11,1tilita~·oc:-....udt11s, 1wlo tfl'~nivc.'Ide podt•r
econômico e políti co cnl rt• 111,cl,\s•H!s cm JH):;.sa ., lll l' l Io pu les; pa-,-,.1111pel,1 d omi
nação que se chl po 1 meio do l':,pnçu url>.111t1 Míl1tilr..,ln111Sl' l,tll ih, 110 lntn de il
maior i.i c.l,ts classes cJc mnis .ilLa 1cnd.i m·up .11 pn -;it;oe:- cc 1111nb, npn,a , d e J,l ter·
se inicíndo , n n d écada de .1970, um pro ces:·Wdt.:subu rha111z 11ÇHDdc s ns cla ~!>L's; 1w
foto de os ce ntro s de nossas grandes cidades a p resen t arem h á mai s de cem anos
- cm maior ou menor grau - um claro e cont ínu o proce sso de deslocamento
no mesmo sentido que as camadas res idenc iais de ma is alta renda; e no fato de
essas cama da s apresentarem - também há mui t as décadas - uma tendência
de concentração em uma única região de n ossas metrópo les. Como entender
tais processos?
I\1artha Schteigart e Horacio Torres, e m texto a n tigo - Estructura inlernay
centralidad en metropolis latinoamericanas. Estudio de casos, in: Castells, s.d., 253
-, propõem-se a" ... destacar as características d iferenc iais da estrutura jntcrna
das metrópoles latino-americanas com relação às moda lid a d es específicas que ad-
quirem os processos gerais de deserwolvimenlo da sociedade [gr ifo n os so ] nesta área.
São exploradas so bretudo as inter-re lações existentes entre esses p roces sos gerais
e os processos urbano s, enfatizando a caracter ização dos ce n tros cujo pape l e con-
teudo social const ituem e lementos para a defin ição da estrut u ra urbana''. * Em face
disso, estuda m Buenos Aires, Santiago de Chil e e Lin 1a. O prime i ro equívoco está
em admitir-se a priori a existência de u m a corre lação d ireta entre as etapas do
proces so de estruturação intra-u rba n a d essas ci d a d es e as etapas dos proce ssos
globais de desenvolvimento - do processo de in du stria lização, crescimenlo eco-
nômico, imigração européia, etc. - dos respectivos países. Isso se manife sta no
fato de ado tarem, para a história do espaço intra- u rbano , a n1esma periodiza ção e
as mesmas etapas que adotam para o desenvo lvimento n ac io n al. Tem-se aqui um
exemplo da indevida transposição, pa ra a aná lise in tra-urba n a, de premi ssas e
métodos válidos para o estudo do desenvolvime n to nacional. A p remjs s a ser ia vá-
lida se, na melhor das hipóteses, o objeto de a n álise fosse o p r oces s o de urbani za-
ção, mas não outro diferente- o de estruturação intra- urba na. Pelo menos parao
Brasil, essa premissa não se ria válida e temos fundadas razões para suspeitar que
o mesmo se daria para a América Latina. As relações que ex istem ent re, de um
lado, as transformações so cioeconômicas naciona is e p lanetárias e, de outro, a
estruturação do es paço intra-urbano em nossas me trópoles são específicas; não
são as mesmas que existe m entre aque le desenvo lvimen t o e o es paço regional ou
nacional. Além disso, as periodizações podem dife r ir. Po r exemp lo: mostrar emos
adiante que uma das mai s profundas tra n sfo r maçõe s es t ruturais de no ssas metró-
polec; - a chamada "decadência" de seus ce ntro s - está ligada ao abandono des-
ses cemros pela5 camadas d e alta renda e que esse abando n o foi pro voc ado prin-
cipalmente (mas não exclusivamente) pela nova m obil idade territoria l propi ciada
pela difu são do automóve l. Essa difusão e a dita ''decadência'' têm então início,
exceto no Rio de Jan eiro, na década de 1960, ma s realmente se conso lidam na de
1970. Desse ponto de vi5ta, os anos 70 ser iam o ma rco a se r adotado cm uma

• • .. pnncr de manií1c)IO l.15ca1actcríc.t1cas difc1cncrnlc s de lo cs 1rnc l11r.:ic 16n interna ele mctrópoli~
l.111noamcm :anas cn rel:1ci6n con las modalidodc!> cspe cílicns que- adq uir em los fJrOct's~os gc1lí'mh·11/t
dcioirolfo d,• ln ~o, tcdrul lg11fo no-;soj en C!>t a área. ·e cxp lnt :lll sobre todo l:1s i11tcrrc!Jci0Hci. c~b,cnlt',
entre es01-procc-.c;o-; ~cncrJl~ y los proccs'-OSur b anos, ponicnc.lo c l ~1cienw c n la car,:ic1c1izacion de lo~
centro•,.cuyo papel y conten1do soc ial conc;tituycn elemento s p.ira l.i rJcfinición d e la c~lructm a u1bílna•

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periodização da hi stó ria intra-urbana da m aior parte da s metrópole s e me s mo
das cidades médias do Bra sil. No en tan to , em ter m os de de senvol vimento nacio-
nal, o marco notável deveria se r o período de adm ini s tração de Ju sc clino
Kub itscheck , de 1955 a 1960, em vi rtude do impul so econômico e da s tran s for-
mações que provocou no país , dentre as quai s se de s taca a implantação da in-
dústria automobilís ti ca.
Volta nd o à análise do texto de Schteigart e Torres, desta camo s que, com ba se
na co rre lação direta ent re o de senvo lvimento n aciona l e a es truturação intra-ur-
bana, não é possível ir - co m o não foi possível ao s au t ores- nlém de obviedade s
como esta: "A essa épo ca de grande expa n são econô mi ca, corre sponde a con stru -
ção de grandes edifí cios públicos e privados, a abertura de eixo s e avenidas. Ess as
obras, que configurara m basicamente a estrutura espacial do centro metropolita-
no, são clara exp ressão de um poder ol igár qui co que se afi rm a, se moderniza e s e
'europeiza'"(258 )*. Não va mo s tratar das co nsiderações tecidas pelo s autore s, de
que tais obras segu iram m ode los urbanísticos importados da França , uma vez que
iss o também se refere ao espaço intra-urbano, m as não diz respeito à es trutura
intra-urbana. O que cabe destacar é que se ignora (certamente por não ter sido
con siderado relevante ) em que parte do centro das cidades foram feita s aquela s
obra s, e por que foram feitas nessa parte e não em outra qualquer. Ao anali sarmo s
os centros de nossas metrópoles, destacare mo s qu e o est ud o da estrutura intra-
urbana não será satisfató rio se não der conta das localiza ções dos elementos da
estrutura nem d as correlações ent re eles e outros elementos e/ ou parte s da me-
trópole. Veremo s então, para no ssas metrópoles, que o próprio centro tem sua es -
trut ur a e está ela ligada à da metr ópole com o um todo. Para isso é fundamental
saber em que partes do centro são feitos os melhoram ent os, ou seja , qual é a loca-
lização dos melhorame nto s. Ao estudo da estrutura urbana interessa saber por
que esses b airro s e centros exibem cer to arranjo territ o rial. e não ou t ro qualquer,
e qua l a inter -r elação es pacial entr e esses bairros e ce ntro s, ou quais são seu s p a-
péis espaciais. Por outro lado, as etapas do processo de estruturação es pacial da s
cidades de um país devem derivar da análise desse processo e não, nece ss a ria-
mente, da s etapa s do de senvolvimento eco n ôm ico naciona l ou do processo na-
cional de urbanização. É óbvio que o desenvolvimento da infra-estrutura regional
de transporte s está ligado ao perfil e ao d esenvolv im en to da eco no mi a nacional.
ma s por esse ca m in ho explic aríamo s a urbanização e não a estru tura ção intra-
urbana . Para expli ca r essa est rutura , ledam que ser estudados o sistema viár io e
os transporte s urbanos. Por exemp lo: os autores afirmam que , apesar" ... do cres-
cimento assinala d o, a es trutur a b ásica da metrópole. fixada na primeira etapa , não
se alterou em seus asp ectos f u ndamen tais lgrifo no sso!. Mantêm -se os três setore s
principai s definido s por eixos circulató rio s, acen tu ando -se a suburbaniza ção nos

• ''J\ esta época de ~rand c expnn sión econ ó mica, corrc sponrl c la con stm cció n de important es cdif1cios
públi cos y privad os, la ap crlllrn d e cjc'>y ,l\'c.-
nid.1s.. Estas ob1as, qu e h an con fi~urndo bas icam e nt e la
cstru ctu rn cspncial dei cent ro m ct1opolitan o son clair.:icxprc ss ión de um poder olig.írqu lco qu e se ofirm n,
se m oclC'rni zn e se 'é11ro peíza'."

35
·etoresnoroete e oeste,ao contrário da primeira etapa na qual havia sido maiora
rorre:ipondcmc nosetor sul''(261)."
Daprimeirapara a segunda etapa, a estru lura básica da metrópol e não se
alteroucmseusaspeclosfundamentais. Pergunta-se: por que mo tivo então perten-
cema etapa diferentes?Por que existem duas etapas? Fica claro que as etapas fo.
ram dC'finidíls por critériosque não dizem respeito à eslr utura intra-urbana. Por
que c1suburbanizaçãose acentuou nos setores noroe ste e oe ste e não em outros
sctorequaisquer?Porque se acentuou segundo setores e não segundo círculoscon-
ccntrico ?Quala relaçãoentre tais configurações e os demais elementos da estrutu-
raurbana- centro, por exemplo?Uma coisa é explicar o surg imento das classes
sociai·; outraé explicarsua localização e seus efeitos espaciais. Em Buenos Aires,o
•...gmndesarrollode la classemedia dá un peso predominante a estas grupos enla
metropoli apartirde laPrimeraGuerra Mundial( ...). Sua localização abarca um amplo
lequeque rodeiao centro e que estrutura o conjunto de bairros característicos de
BuenosAires.Essetipode configuração dilui as diferenças externas entre setoresdo
espaçourbano, impedindo,dessa maneira, que o centro seja afogado por áreas de-
terioradas. Oscortiçosque subsistem no bairro sul (...) não const ituem na realida-
de, geografica mente, um anel de deterioração ao redor do centro, mas sim um
'bolsão" ' t259).º
Nãobastaconstataressas configurações espaciais. É necessário explicá-lase
aniculara explicaçãocom as transformações do s demais elementos da estrutura
urbana.Ouseja:explicaçãodas transformações de um elemento deve explicartam-
bémastransfomrnções dos demais elementos da estrutura. Ao estudo da estrutma
intra-urba na é irrelevantecomosurge a classe média e qual a origem nacional de seu
~eso'', istoé, poderpolítico.lnteressa saber por que ela se locaJiza onde se localizae
quaisasimplicações disso.Nãose trata apenas de partir do social para explicaro es-
paço,mas,ao contrário,é importante também partir do espaço para explicar o social.
Porexemplo: dadoquea classemédia apresenta determinada localização, pergunta-
se:porquê?Essalocalizaçãoé fruto de seu "peso" (poder político)? Como o poder
políticose manifestana localizaçãodas classes sociais e qual o efeito (se é que há
algum; devehaver)dessaconfiguraçãoespacial na reprodução de tais classes e doseu
poderpolítico?Qualo efeito (se é que há algum; deve haver) de uma determinada
configuração espacialsobreas relações entre o Estado (especialmente no nívellocal)
e asclassessociais?Finalmente·aquestão vital do centro urbano, num aspecto que
seráamplamente abordadoparaas metrópoles brasileiras, pois consiste num elemento

•· ...deicrci,cimien
to sciialado, la eslructura básica de la mctrópoli, fijada en la primcra etapa, 110seha
alteradot11susaspectosfr111dame11talcs !grifonosso!. Se mantienen los tres sectores principales definidos
porejescircula toriosaccntuándosela suburban izació n en los sectores noroeste y oeste, a diferencia dr la
primcro etapaen laqualhabiasido m:1yorla corrcspondicnte al sector sur."
" Ellosse localizanabarcando un amplioabanico que rodca el ce nl ro y que es tructura cl conjunto de
barrioscaractcristicos
de 13uenosAires. Este tipo de configuración dilue las diferencias externas entresectori-s
deiespaciourbanoimpidiendode estamanera cl ahogo d ei cen lro por arcas de deterioro . Los 'conventillos '
qul!subsisten en el barríosur (...) no constituycn cn realidad, geograficamente, un anillo de deterioro
alderndor dei centrosinomásbien un 'bolson'."

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fundamental da estrutura intra- urb ana . De acordo com Schte igart e Torres (262), "a
forte inércia do centro tradiciona l e a existê ncia de um a gran de classe média que
permane ceu em zonas centra is incidiram fortemente na vitalidade atual do cen tro
de Bueno s Aires como nú cleo comercial, cultu ral e de expansão para amplos seto re s
da população. A renovação espontâ nea foi, quase permanentemente, exib indo muito
poucas mo stras de deterioração e obsoletismo (...)".*
Nesse trecho dá-se como explicação exatamente aquilo qu e preci sa ser expli-
cado. Qual a causa da "forte inércia" do centro de Buenos Aires? Está fun dame n tal-
ment e na grande classe mé dia da cidade ou também na localização dessa classe e nos
menores desníveis de classe - se comparados com outras metrópoles latino-ameri-
canas - qu e caracterizam a sociedade argentina? Por qu e essa "grande classe média"
permaneceu nas zonas centrais, em um anel em torno do centro - os círcu los con-
cênt ricos - e não se formou e des locou segundo um setor como a pequena classe
média brasileira? Qual a relação entre taman ho de classe e espacialidade de classe?
Edwa rd W.Soja afirma que (198 0, 207) "a cidade industrial capita lista foi funda -
mentalmente uma máquina de produç ão e, como tal, assumiu uma estrutura espacial
notav elmente uniform e- aquela descr ita de maneira tão perspicaz por Engels, para
Manchester, e mais tarde pelos ecologistas urbano s par a a maioria do mu ndo capita-
lista''.3Se, de um lado, fica claro que Soja fala da estrutura do espa ço intra-urbano , por
ou tro, ele não esclarece - e acreditamos que nem ele, nem ninguém, tenha jamais
estudado essa que stão - a relação entre uma estru tura "not avelmente uniforme' ' e a
natureza industrial e capitalista das cidades a que se refere o autor.
Lipietz e Laborgne (L988, 26) em artigo deno min ado "O pó s-fo rdismo e seu
espaço", no qual abordam o pós -fordi smo e qua se nada o espaço - que surge de
repente, em não mais de meia dúzia de frases, no final do artigo - e conclu em com
a apresentação de algumas características do espaço pó s-fo rdista. Tais caracte ríst i-
cas referem-se a espaços urbano s abstrato s, já que são apenas inferidas de suas con-
sideraçõe s teóricas, ou seja, são hip óteses de prováveis desdobra m ento s espac iais.
"As conseqüências espaciai s parecem ser [grifo nosso]: a via neotaylorista está as-
sociada a uma desintegração territorial e condu z a um a polarização espacial e de ser-
viços as empresas de alto nível no centro [grifo nosso] das grandes cid ades e também
leva à dispersão, em zonas rurai s, de esta belecime nto s especializados ou à formação
de áreas produtivas especializadas e baixos salários; a via californiana estaria associa-
da a uma integração territorial mais estreita( ...)" e, finalmente, a via saturniana indu-
ziria '' ... à formação de áreas-sistemas territoria lmente integradas". A isso se limitrun
as conclu sões espacia is dos autores; cons istem, pois, em hipóteses.
Uma das conclusões é surpreendent e e interessa -nos particularmente. Se-
gundo os autores, a via neotaylori sta levaria a um a conc en traç ão das empresas de
"alto nível" no centro das grandes cidades. Nenhum estudo so bre o espaço intra-

•" ... la fucrtc inerc ia de ! cen tro tradicional y la cx.is lcncia de una gran cla sse media que ha perman ecido cn
zo nas ccntrnlcs han incidido íuerlcmenlc en la vita lidad acllla l dcl ce ntro de 13ue nos Aires co mo núcl eo
come rcial. cu ltural ydc csparcim icnto para ampli as sectores de la pob lación. L1 renovación cxpontánca há
sido casi per manen te, cxibiendo mui po cas mu es tras de deter ioro y o bsolcsccncia (...)."

37
--

urbano e ·obre a logirn de ua prod ução, e muit o mcno, sob re ns relnçõe~entre


espaço intra-urbano e modelo de dese nvolvimen to, foi desc n\'ol\'ido e, srm maio.
res explicações, tiram da análise do m odelo d e dcscnvo lvirn ent o - ~vt"n tunlmcnte
aceitável para a compreen ão do e ·paço regio nal o u p lnn ctnrio - umn roncl11~:io
de natureza estritamente intra- urbnn a: a de qu e n locn liznção d ns t-mp rcsns de alto
ní,·el dar-se-ia no centro das grandes cidades. Nad n, a b olut n m c nt c nadn, das anaJi
.
ses elaboradas auto riza ta l co ncl usão. r-\utori zar inm , i~to s im , a co nclus:ll>de que
aquelas empresas se localiza rimn "n as grnnd es cida d cs ··.1
Gottd iener (1985, 58)-para cita r um aut o r qu e se np rox im n d a análise intrn.
urbana- não e mu ito cla ro so br e a qu es tão da s re la ções e nt re a es trulu rnçàointra.
urbana e as gran des t ra nsfo rma ções soc iocco n ô mi cas. Afirm a d e um Indo" ... que
ocorreram imp orta nt es tran sforma çõ es no p a dr ão es pacial r nn rccs tn t!ura,·ão ,
porque elas são fun ção de tra ns formaçõe s no s is te ma so cial mai s nm plo, e não
por que seja m produto s de proc ess os interno s às pr ó pri as loc alid ades" . !\ essa \1-
são op õe outra . a qu e chama d e ''conv e ncional'' e, p a ra d esc revê- ln. citn Rober1
Park, da Escola de Chicago: "A cidad e é uma unidad e ext ern a m en te orgnniz:ida
num espaço produ zido por suas pr ópria s le is'' (idem, ibid .). Po r o utro Indo, reco-
nhece a exis tência de vário s proces sos int erati vo s important es qu e ta m bém ntu-
am de ntro do ambi ent e urbano e que apr ese ntam ori ge m puram e n te locnl. "Esses
processos, entret anto , são produz idos por n ecess id a de s qu e p o u co têm que Vt.'r
com os luga res enquanto tais e sfio mai s af etado s p elos pro cessos s istémicos ope-
rando em toda a part e, is to é, t anto em ambien tes n1rai s e s uburb a no s como em
amb iente s urbanos " (idem , ibid. ).
As conclu sões de Laborgne e Lipietz refer en t es à loca líznção d as empresasde
alto nível no centro das grande s cidades devem vnler para as metr ó poles norte-nnw-
ricanas, poi s abordam o espaço pós-fordista . Ora , em princípio , deve mos nccitrtra
constatação de Mark Gottdiener (1985 , 1990 ) de que as regiõe s 1netrop olitnnas nor-
te-ameri cana s contempor âneas são hoje po linucl eada s . Trata -se d e uma posiçãode
difícil conte stação, pois constitui uma simp les observa ção e mpíri ca, e não uma teo-
ria. Nesse caso, as"empresas de alto nível" daquelas m e tr ó pol es p od eriam, cm prin-
cípio, localizar-se em qualquer dos seus vário s núcleos (ou ce ntro s). não neccssmi·
amente no centro, como concl uem Laborgn e e Lipiet z. s Mes mo em Süo Paulo que,
afinal, não é tão polinucleada con10 uma metr ó pol e nort e- am eri ca na, as empresas
poderiam localizar-se na avenida Paulista, na aven ida Luís Carlo s 13errini ou no Ccn·
tro Empre sarial, a 17 quilômetros da primeira e a 20 quilómetro s d o ce nt ro da cida-
de, negando assim aquelas conclusõ es.
Prossigamos analisando Gottdiener. Em prim eiro lu gar, é b o m reco rdnt que
esse autor se propõe a explicar única e exclu s ivam e nt e a formn p olinu clc•:1d n e dis·
per sa da metrópole norte-americana , q u e não encontra s itnilnr nem m esmo" ... nn
Europa indu strial izada" (1985, 9). Em segu nd o, fez uso deu mn m etodolo gia indutiva.
qu e parte de regul àridades empiri ca m ente observáv e is, pro curand o, a partir dai,
construir uma teoria. O autor em questão (1990, 59) não vê d e qu e mnn cirn ns iro·
rias que vinculam " ... a reorganização do capital. na s atuai s co ndi çõ es de crise, às

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mudanças soci oespaciai s que reestruturam o ambiente urbano(. ..)" possam expli-
car as mudanças ocorridas na s regiões metropolitanas dos Estados Unido s, caracte-
rizadas fundamentalmente por um processo ao qual ele cham a de "desconcen tra ção"
e pelo desenvolvimento de enormes regiões urbanas polinucleadas e esparsas. Em
contraposição, tenta apresentar um "arcabouço teórico" para subst ituir o que embasa
aquelas teorias e propõ e a tese de que, embora reconhecendo que as mudanças
provocadas pela crise cumprem um papel importante na produção do espaço urba-
no, a desconcentração espacial é" ... conseqüência da articulação contingent e de
seis fatores independentes( ...)" (1990, 61/62), cujas origens remontam a várias dé-
cadas. São eles:
• racismo;
• os gastos militares e a permanente economia de guerra;
• o setor imobiliário como circuito secu nd ário do capital;
• a intervenção ativa do Estado na transferência global do valor;
• o papel da tecnologia e do conhecimento na transformação das forças de
produção;
• a prática de fazer das fontes de mão-de-obra critério para as decisões sob re
localização.

Com relação ao racismo o primeiro fator acima, diz Gottdiener que no s anos
50 e 60 muitas" ... cidades não só experimentaram uma onda de imigração de popu-
lação negra, como também um rápido influxo de hispânicos de Porto Rico e do Mé-
xico . Durante esse mesmo período, a fuga dos brancos para os subúrbios virtual-
mente esvaziou as cidades de famílias de classe média com filhos. Em conseqüência,
já pelos anos 60, as áreas urbanas dos Estados Unidos estavam marcadas por divi-
sões e prob lemas raciais, com urna entrada iníqua de recursos em detrimento dos
bairros das minorias étnicas e raciais . Na Europa nunca houve nada que pudesse ser
comparado aos motins ocorridos em guetos no s Estados Unidos durante os anos 60
e que chama ran1 a atenção do mundo para essa forma de segregação" (idem, ibid).
Idêntica colocação já havia sido feita em obra anterior, quando o autor tentou des-
vendar a causa da sub urbanização. Declarou ele, então , que os gastos militares tive-
ram um profundo efeito sobre o espaço," ... como no caso da construção do sistema
interestadual de auto-estradas ligado à defesa. A pesquisa e a produção ligadas a
interesses militares canalizaram eno rm es gastos estatais para áreas suburbanas, em
detrimento do desenvolvimento da cidade central, ajudando assim a alimentar a
virada demográfica da cidade para os subúrbio s nos anos 50 e 60" (1985, 212) . Se-
gundo o autor, isso ocorreu, em parte, pela necessidade de levar os estabelecimen-
tos militares para longe dos grandes centros de população.
Nas décadas de 1950 e 1960, relata Gottdiener, ocorreram dois importantes
processos espaciais intra-urbanos nos Estados Unidos, marcando ou ace n tuando a
seg regação racial: o influxo de negros e hispânicos, que vieran1 ocupar as áreas mais
centrais das metrópoles, e a fuga da classe média branca, com filhos, para os subúr-
bios. Esse é precisamente o processo socioespacial intra-urbano que precisa ser expli-

39
cado. O autor pane exatamente daquilo que preci sa se r explicado . Por que os po-
bres ocupara m o cen tro e a classe média branca com filho s produziu os subúrbi-
os? Por que não ocorreu o contrário? e Gortdicner n ão explica isso n em se propõe
a explicar. Ern vez disso, admite esse proce sso co mo "dado'' e a partir daf passa a
analisar a "en trada iníqua de recursos em detrimento dos bairros de minorias ét-
nica e raciais".
Em nossas metrópoles , por exen1plo, deu-se o oposto: nas décadas de 1950 e
1960 os pobre s co ntinuaram a nutrir os subúrbio s subequipados, e a classe média
ocupou as vizinhanças do centro. Por quê? No caso brasileiro, a questão espacial
intra-urbana ser ia explicar po r que ocorreu o oposto. No Brasil, a "entrada iníqua de
recursos·· privilegiou as áreas mais centrais.
Da mesma forma, Goudiener não exp lica:
1. por que a vangua rda espacia l urbana produzida pela classe média norte -ame-
ricana nos anos 50 e 60 assumiu a forma de subúrbios com casas unifamiliares.
Essa classe poderia morar em bairros mais centrais como as classes média e
média alta brasileiras. Poderia morar nos subúrbios e ocupar apartamentos
na Barra da Tijuca, por exemplo .
2. por que os pobres americanos moram no centro. Poderiam morar nos subúr-
bios, como fazem os pobres brasileiros.

Vejamos como Gottd iener aborda essas questões (1985, 92 e 242). Depois de
ressaltar que a "... construção e venda de residências unifamiUares (...) representa
uma atividade econômica vital nos Estados Unidos", ele afirma que a "localização
de tais mercadoria s [as casas] ocorre maciçamente nas áreas suburbanas de nossas
regiões n1etropolitanas". Ora, se "dado" for utilizado como ponto de partida, então
toda transformação econôm ica que leva a uma ativação do capital financeiro no
financiamento da casa própria leva necessariamente a casa unifamiliar suburbana
e, po rtanto, à forma metropolitana d is.persa. Da mesma forma, toda ação estatal no
sentido de uma política habitacional que favorece a classe média é uma ação estatal
que promove os subúrbios esparsos. "Asuburbanização da casa própria é quase ex-
clusivamente uma conseqüência da ativa intervenção do Estado", diz Gottdiener
(1985, 243). Em seguida declara: Tem sido freqüentemente repetido pelos analistas
11

convencionais que o desenvolvimento suburbano ocorreu em virtude de uma de-


manda in saciáve l que os americanos têm pela casa unifamiliar". Gottdiener assim
contesta essa afirmação: "No entanto, esse enorme crescin1e nto certamente não te-
ria ocorrido depois da Segunda Guerra Mundial se não fosse a variedade de subsídi-
os governamentais orientados para apoiar a oferta dessa forma particular de mora-
dia ". Em nenhum mom ento Gottdiener se propõe a explicar por que os sub s(d ios
estatais produzem necessariamente uma determinada forma de moradia, e não
outra. No Brasil, o proces so foi inverso. Os subsídios governamentais através do Banco
Nacional da Habitação (BNH) foram responsáveis por uma forma de moradia total -
mente diferente: o apartamento cm bairros mais centrais e os grande conjuntos
habitacionais s uburb anos, também de apartamentos.

40
A conclusão é que nem a ação do Estado - os finan cinme nto s que sus tentam
uma política habitacional- nem os intere sses do cap ital financeiro explicam n for-
ma da moradia ou sua locali zação, ou seja, não explica m a metrópole americana
disper sa tampouco a bra sileira co mpa cta - se comparnda à ameri cana .
O mesmo equívoco que Gottdiener co mete com relação aos subtírbios mani -
festa- se em suas análi ses do s centros das metrópoles. "Mais significat iva é a po sição
que defendo ,, - diz ele - de que "a articulação entre a interv enção cio Estado e o
circuito secundário do capital constitui a linha de frenle da s tran sformaç ões
socioespa ciais, embora não seja a única causa. Assim, por exemplo, se o s is tema
mundial se consolida em torno da localização do capilal finan ce iro nos ce ntro s prin -
cipais ["downtown section s" no original] de Nova Iorque ou Los Angeles, ent ão in-
centivos po líticos e imobiliário s pavimentaiam o caminho para esse as pecto parti -
cula r da reestruturação espacial (1985, 236) ."
Mais adiante (265). em sua constante e convincente crítica ~ts teoria s espaciai s
urbanas convencionais, esse autor sintetiza muito bem s ua crítica ao fetichismo do
espaço: "Segundo nosso ponto de vista, uma ciência das formas do espaço de asse n-
tamento precisa basear-se num conhecimento da articulação entre organ ização soci-
al e espaço. Por si só, os lugares e as formas nada fazem e nada produzem- somente
as pessoas, dentro de redes de organização social, têm esse poder''. Nada poderia ser
mais correto. Isso é pouco, porém. É preciso reconhecer que as articulações entre a
organização social e o espaço devem ser buscadas em níveis diferentes, conforme se
trate do espaço regional ou do intra-urbano ; Gottdiener chama de "vinculações hori-
zontais " às de nível intra-urbano; por exemplo a dominação que, em maior ou menor
escala, o centro u rbano exerce sobre o restante da cidade ou metrópole. Às articula-
ções do espaço urbano com a econom ia, a política e a cultura manifestadas em escala
nacional, chama de "vinculação vertical". Assim, logo a seguir (266), afirma: ºCerta-
mente, centros comerciais fora dos centros velhos ["older CBDs" no original] são auto-
suficientes como escoadouros de mercado , mas tal pensamento. limitado às articula-
ções horizontais, ignora as importantes articulações verticais de cada lugar aos sistemas
hierárquicos da organização capitalista global" .
Esse autor, criticando o que chama de "conventiona1 urban ecology", muito
corretamente se recusa a encarar o efeito dos transportes sobre o espaço urbano
como um determinismo tecnológico, ou seja, como uma força dotada de urna auto-
nomia tal que a tome incontrolável pela sociedade (1985, 74). Para evitar esse risco ,
é necessário articular os transportes urbano s com os interesses da produção e de
classe, analisando, por exemplo, a relação transporte público x privado e a difusão
do automóvel mais em certas classes do que em outras. Tem-se aíum "gancho" para
articu lar o desenvolv imento econômico nacional e o espaço intra-urbano. A articu-
lação, entretanto, é tão verdade ira quanto remota, e há mediações a considerar.
Incidenta lmente, u m registro suscitado por Gottdiener (1985). Se esse autor
pretende desenvolver u m arcabouço teórico que explique as metrópoles poli-
nucleadas (veja a nota 5), q ue, seg u ndo ele, existem apenas nos Estados Unidos , e
se Caste lls (1994) pretende teo rizar acerca apenas da s metrópoles da Europa Oci-

41
dental , cabe a nó s, brasileiro s. procurar teorizar sobre as nossas e, extensivamente,
sobre as latino-americanas. A partir do pensan1ento produzido no hemi sfé rio norte
- pelo menos tal como manifestado por esses dois brilhantes representante s-, é
válido concluir que suas teorias não se aplicam às metrópo]es lati no -a mericana s.
Suas posições soam como um forte indício de que a estruturação espacial intra-
urbana de nossas metrópoles teria determinações diferentes das do Primeiro Mundo.
A abordagem de Harvey mostra como o enfo qu e regional convencional é
inadequado à análise intra-urbana e, ao fazê-lo, reve la un1a pista precio sa para a
sua especificidade. A investigação da produção de configurações espaciais que esse
autor faz em The limits to capital basei.a-se na movimentação espacia l do capital.
"O capital pode mover-se como mercadoria, co 1no dinheiro ou como um proce sso
de trabalho empregando cap ital constante e variáve l de diferente s 'tempos de ro-
tação' "(l 982,376)."'Ora, se nesse contexto , Harvey estuda a urbanização enquanto
um processo de produção e estr utura ção do espaço regional, é razoável, partindo
dessas considerações, admitir a possibilidade de não ser esse o enfoque adequado
para a análise da estruturação do espaço intra-urbano. O próprio Harvey , logo a
seguir, não só confirma essa suspe ita como tan1bém fo rn ece a pista para a solução
da questão. Depois de afirmar que o cap ita] pod e mover-se seg und o diferentes
formas, prossegue ele: "Mais ainda, a relação entre a mobili.dade do capital variá-
vel e aquela dos próprios trabalhadores ("labo ur ers themselves") introdu z uma
outra dimensão na luta de classes, enquanto os problemas que se vinculam à cir-
culação do capital no ambiente const ru ído [itálicos no original] também clamam
por especia l atenção".
Ao analisar o processo de urbanização, por consegu in te os espaços regionais
e planetário (eventualmente do Primeiro Mundo , apenas), Harvey aborda somente
a circulação do capita l e de mercadorias; os deslocamentos da mercadoria força de
trabalho são claramente focalizados no nível regional ou planetário. Quando fala
em transportes, refere-se sempre ao transporte de mercadorias, ou de capital em
suas várias formas, mas nunca ao transporte intra-urbano de passageiros. DeLxaen-
tão uma pista que nos leva à hipótese de que, se desejamos estudar o processo de
estruturação intra-urbana, deve abordar-se n ão a circulação do capital no ambiente
construído, sob qualquer uma de suas formas, mas a circulação dos seres humanos ;
não enquanto capital, mas como consumidores e - talvez - portadores da merca-
doria força de trabalho. Não é o processo de produção e sim o de consumo que mais
interessa ao espaço intra-urbano. Não é a circulação da mercadoria e sim a do con-
sumido r - dos "trabalhadore s propriamente". Diz ele : "A capacidade de movimen-
tar bens (to move goods arround) define a mobilidade do ca pital sob a forma de
mercadoria" [ grifo nosso, 1982,376].** Para o espaço intra -urbano a questão é mo-
ver peoplearound, não goods; em grande parte dos movimentos de pessoas no espa·

• ''Capital can move as commodities, as money o r as a labour process employing co n stant and variablc
capital of differcnt 1urnovcr lime s."
•• "The ability lo move goods arround deflncs lhe mobility of capital in commocUty form !grifo nosso:
1982, 3761,"

42
ço urbano, estas não se movem enquanto capital-variável- nem enquanto mer-
cadoria-força de trabalho-, mas enquanto consumidores. Os movimentos entre
a casa e a escola, as compras, o médico, o lazer: mesmo em seu movimento casa-
trabalho, é questionável que o trabalhador se mova enquanto capital, ou seja, que o
transporte intra-urbano de passageiros seja inserido na esfera da produção. Note-se
que Marx (s.d., 1.2, v. 3, 155), ao inserir o transporte na esfera da produção, estava
considerando o transporte de mercadorias; não estava em absoluto pensando no
transporte do trabalhador entre sua casa e a fábrica, pois esse aspecto ele não estu-
dou. A nosso ver, esse deslocamento se insere na esfera do consumo, não na da pro-
dução. Analisa Harvey:
l. As relações de transporte e a mobilidade elo capital enquanto mercadoria. Uma
anáUse que aborda apenas o espaço regional; em nenhum momento o trans-
porte de consumidores e de "trabalhadores propriamente" é enfocado.
2. A mobilidade do capital variável e da.força de trabalho. Em toda essa análise,
a mobilidade do capital variável e da força de trabalho é encarada no espaço
regional, nacional ou planetário, onde, mesmo em sua mobilidade espacial,
o trabalhador é "um objeto essencialmente dominado pelo capital" (380).

No âmbito intra-urbano, as condições segundo as quais o trabalhador é "um


objeto essencialmente dominado pelo capital" e, como tal, "nada mais que capital
variável" são diferentes do nível regional, nacional ou planetário. O transporte ur-
bano de passageiros não tem recebido da economia política a mesma atenção que
tem sido dispensada ao transporte regional de carga. É importante atender a um
alerta do próprio Harvey: "A força de trabalho é uma mercadoria, mas as condi-
ções que governam sua mobilidade são muito especiais. É a única mercadoria que
pode trazer-se a si própria para o mercado, com suas próprias energias. Portanto,
o termo 'mobilidade do trabalho' ocupa uma posição especial no discurso econô-
mico"(380).*
A afirmação de que "em busca de um emprego e de um salário para viver, o
trabalhador é forçado a seguir o capital, onde quer que ele flua" (381), só vale para o
espaço regional. No nível intra-urbano, o trabalhador já estü no "local" de trabalho,
e não muda de casa toda vez que muda de emprego. O trabalhador tem sua localiza-
ção essencialmente dominada pelo capital-"segue o capital''-quando, em busca
de emprego, muda de cidade, de região (do Nordeste para o Sudeste) ou de país (as
migrações internacionais). No espaço urbano, para "seguir o capital", o trabalhador
exige transporte urbano de passageiros, ao mesmo tempo que é esmagado pela con-
corrência entre classes que disputam a melhor localização intra-urbana. Comove-
remos nesta obra, essa localização é aquela que otimiza suas condições de consu-
mo. Em busca de um emprego, o trabalhador se move no espaço regional; ele muda,

• "Lnbour powcr is a comrnodity, but lhe conditions lhal govcrn ils mobility are vcry spccial. ll is lhe only
commodily thal can bring itsclf 10 markct unclcr ils own s1ean1. Thc tcrm 'mobilily of labour' thcreforc
occupics a spccial posilion in cconornic discoursc."

43
i 'i o-r:nr.ri d0\ erdl'stepnra, ào Paulo. Uma vez em no Paulo, ele lura nãomal\
~ ·a1.tditit 1.formpn'go- poh parai so ele vE>iopnra São Paulo-; luta porprox, •
•adi. ·r.ot'mr~~1 por rt"'d11çc10 do tempo r custo do deslocamento na 111agem d.'l
r1 • ; l<•• ,rr,11\1/J;o . Oµrim('irora. o - a lnt cn da cidaúc do emprcgo-em oht
mtl\mrn1" ,c,ran~w.quesJofoitosurna ou pouca · vezes na vida . O segundocaso
-, 1.1a l'nhia~ :dencia ao trabalho- envolve moviment os que se repelemdta .
i':itL i)I":a:10,edecctda s. e que se ligam à rcproduç5o do trabalhador. Aocomra.
nodo,....i:-pottcde carga. que o capitnl tem constant ement e penetrado e rcrolu.
noni!do 1l)r.l' m crirna rsfera da produção, o transp or te de pa ssageiros urbanos
J)'!'('--entan0lerrciro~tundo.péssimascondições para o trabalh ador. Talcomoocor-
~1:com a habitação.o capital prorurn - embora nem se mpr e cons iga - des\cnci-
Ih!r-,cdrlr. namNiidaem que representa um ônus.
_,rma!mente, Harveyanalisa a mobilidade do capital dinheiro. Nessemo-
!'l'l'nioda- rênfa e àscomunicaçõese ao dinheiro-crédito já que esse tipo dedes-
1

lr).:..mentlt\ o maisusuale essa forma de dinheiro aquela qu e rnais se deslocaes-


1

p!!:1~lmente. o quei so,novamente,é significativo apenas para analisar o espaço


i(\!!10nal. Lomojádissemos,não se tem notícia de nenhum estudo empírico outeó-
ncoqurmostrea míluenciadas transformações nas comunicaçõ es sobre a esmuu-
ração dt-i:sp:içoimra -urbano.Osdeslocamentos de pessoas domin am tão violenta-
menttt s.a cnuturaçãoque os efeitosdos progressos na s comuni cações tornam-se
1mpen:rp11,e1, - se é que existem.
.Eob,1oqu e. emúltimainstância, tudo - inclusi ve o espaço intra-urbano-
estarabgadoao modode produção ou regime de acumulação dominante e Uili
uan~formaçõe~ talcomose manifesta no país onde se situam as cidades cujoses·
parü:.11:i·ra -urbanosse pretendeanalisar. Entretanto/ é óbvio tamb ém que is o ex-
phr2aorre{,rnotempo tudoe nada.A questão central na análise de qualquertipode
e p.a,, ~oualcons1~teem identificar as mediações correta s entre as macrode -
trnruna\oe~ --ocioeconô micase esse espaço sociaL ou seja, as forças saciai que
..1 :amnl'~sa~ mediaçõese suas correspondentes formas de atuaçã o. t\ ideologia ,
po,e\.mplocomomostraremos adiante, desempenha um p apel relativamcme
1

mcno:noc~paço regional.masé fundamental no espaç o intra -urb ano. Esseé outro


~pe{'toddundame ntalimportância na distinção entre espaço intra-urban o e regio-
nc!'.Prcl·~allll'l1!e porestarmuitopróximo dos interes ses do con sumo - mai \i l·
H:!e '-t·nshclme11 te próximo-, o espaço intra-urbano está sujeito n enormecarga
1ch:ológ1ca, o queacontecemenos com o espaço regional. Lcfebvre nos alerrnd~
queu e,paçoP "umprodutoliteralmente repleto de ideologias". E quanto à produ·
çâoidt·o'ógica.qual a relaçãoentre espaço intra-urbano e ideologia? Qual a ideolo·
g1,1 prudutida 1 Quala versão cioreal que veicula? Por quê? E quant o à dominação .
hJ (;)mo a classedominante brasileira, e talvez latino-am ericana, usa o espaço
1

urbanoparafinsdedominaçãoe exlorsão? Isso ve m se dando so mente atravêsda


pi:n!er,a,ubeq111pada e do centro equipado? Sobre questões desse gênero, paira

• Tred10,,trJ1do
d1•umacitaçãoque Soja (1980,2 1O)faz de Lcf ebvre.
um '>ilêncío se pulcral nas análises espaciais. Pretendemo s rontnbuir par.1"qul'lrn:u "
e-,'>c'>iléndo, poic; qu alquer análi se sobre a domina ção - ra m o ,1ciue ,HJlli pn·ten -
dl•mos fn7<'rcom o espaço intra -u rbano - não p od e pre sci nd ir da imc•st1gnç,to d,t
i<lN>logia enquanto in st rumento coa djuvante da domina ção. o tc-sc, ,111, ,..,,quC' r.11~
pergunta s dificilmente ca beri am para o e paço regional.
Noc;c;atese é a de que , para as metró pol es bra sileira s - e quase certamente
tamb ém pa ra as lat ino-amer icana s-, a força nini podero sa (ma s nã o un ira } ,1gm-
do sobre a estruturação do espaço intra -urbano tem origem na luta de da . ..,p-; pela
apropriação diferenciada da s vantagens e dc svantagen do e-;pnço conc;truído e
na c;cgrcgação espacial dela re sultante . Esta, como se rá mo strado , é uma condiçélo
nc ces~ári a para o exercício da do m inaçã o por meio do espaço intra -urban o T,d
csl rutura çào só remotamente se re laciona com as trnnsformaç ões por q uE' te m
p ass ado o capllalismo nacional e mu n di al nas últim as dé ca<las. A do rrnna çéio ,,tra-
vés da estruturação do es paço in tra-urb a no visa prin cipa lm ente à apro p ri.içJo d i-
f crcnciada de s ua s vantage ns locacionais. Trata-se de u m a d isp uta cm torn o de
co nd içõc~ d e co n sumo . As dificul dades p ara se co mpr ee nde r q ue um a d isp urn por
condições de consumo co n s iste n o de t erminant e prin cip a l d o proce sso de
e~trutura ção intra-u rbana deco rre sobre tudo d o fato de não se ca pt a r co m clarezaCIC• ;?1
a dife1en ça ent re es p aço int ra- urb ano e regional. ii ~J:.:1
cs ~
Espaço e sociedade ~ ·; !:
~ ·- õ
Existe uma tendênci a gen era lizada a se acredit ar numa int er-re lação profu n - ~ ~
da entre espaço e formação social; qu e as tran sform ações da es trutu ras sociais pro- ~ .::,
vocam tran sfo rmações no espa ço. Em m eno r grau, há afirm ações - m as poucas
demon straçõe s - de que, in versam ent e, o espaço provo ca tran s forma ções no so-
cial (ver abaixo, ne ste ite m , Soja , 1980; Lefebvre, 1970; Bodd y, 1976; Gott diener, 1985).
A maioria do s estudo s socioespacia is produ zido s na s última s déc ad as parte m d as
tran sfo rma ções na estrutura socia l (p art icularment e das tran sform ações econômi-
cas) para deduzir e exp licar, então, as tran sfo rma ções do es paço.
A esse respeito, é pos sível disting uir três esferas nos es tud os es pacia is, a saber:
1. Os estudos tradicío n a is, p roce d ent es d a Esc ol a de Chi cago, co n tinuara m
pelo s neo-eco log istas ou passa ram p elo s pion eiro s d o in ício na década de
1970, os quais, com sua rev isão c rítica realizada a partir d e uma ba se mar-
xista, revolucionaram inicia lm en te a soci ol og ia ur ba na , d epo is a econo-
mia política e a geografia, e hoje cr iam ca mpo s int erd isci pli nare s de es tu -
do do espaço, agora já filiado s a, o u a fastados de, dif ere nt es "marxismos" .
Pertenc e a ess a esfera, p or exemp lo, a pr est igiada Esco la Fra n cesa d a
Reg ulaç ão . Suas aná lises par tem das t ra nsfo rm ações sociais, econô m icas
e/ ou política s e chegam ao espaço a elas co rre sp ond en te, ou p or ela s p ro-
duzido. Como partem do socia l, co m fort e ênf ase eco n ômica, esses es tu-
do s referem- se muito à produção do es paço; ent re t amo, ap esa r d es!>a ên -
fa se econô mica , quase nada di scor rem sob re o cons um o e mui to m e n os

45
sobrea trocaou circulação do fruto dessa produção . Pouco se manifes-
tam, também,sobre o valor produzido. Tambén1 quase nada discorrern
sobreo efeitodo espaço sobre o socia l.
2. A segundaesferarefere-seaos estu dos dos efeitos do espaço sobre o social.
Essesestudosacham-semenos desenvolvidos. Neste traba lho, aventuramo-
nosumpouconessaárea ao colocar a segregação espacial das classe sociais
comoprocessonecessáriopara o exercício da domina ção política e desi-
gualapropriaçãodos recursos do espaç o enquanto produto do trabalho e
comoforçadeterminanteda estrutura ção intra-urb ana. Estamos aí na esfe.
raeconômica- da distribuição e do co nsumo - sem dúvida, mas a domi-
naçãopolíticae a necessária ideologia se rão também enfatizada s. A con-
clusãoespacial,ou melhor, a concl usão sobre o efeito do espaço sobreo
social,a nossover importante, é que uma certa geografia, uma certa confi-
guraçãoespacial (a segregação) se faz necessária para viabilizar aquela do-
minaçãoe aquelaprodução ideológica . Sem essa con figur ação, seria talvez
impossível-ou extremamente difícil - a dominação e a d esigua l apropri-
ação.Trata-se, portanto, de um estudo <los efe itos do espaço produzido so-
breo social.Estetrabalho pretende mo st rar qu e a segregação é uma deter-
minadageografia,produzida pela classe domi n ante, e por meio da qual essa
classeexercesuadominação- através do espaço urbano. A seg regação é um
processonecessáriopara que haja tal don1inação.
3. Finalmente, há uma terceira esfera, talvez a mai s correta, masque se encon-
tra numestágioextremamente rudimentar: os da s relações dialéticas entre
espaçoe sociedade.A esse respeito, Soja (1980 ) e Gottdiener (1985) discor-
remsobrea necessidadede uma análise dialética da s relações espaço-socie-
dademaspoucoavançaramnesse cainpo.

Sehá umainter-relaçãoentre o espaço e o so cial , deve haver efeitos do espaço


sobreo social.Issonão significaria, em abso luto, conferir autonomia ao espaço nem
cairnoseufetichismo. Lefebvre(1970; citado por Soja, 1980, 210; e por Harvey, 1976,
306),porexemplo, afirma:"Podem as realidades do urbani s mo ser definidas como
algosuperest rutural, na superfícieda base econômica, se ja capitalista, seja socialis-
ta?Não.A realidadedo urbanismo modifica as relações de produção, sem ser sufici-
enteparatransformá-las.O urbanismo torna-se uma força de produ ção, comoa
ciência.O espaçoe a organização política do es paço expressan1 relações sociais,
masaomesmotemporeagemde volta sobre estas" [grifo nosso l .* Martin Boddy
(1976,l),numapassagemjá citada , formu la a seg uinte h ip ótese so bre o efeitodo

'"Canlherealitiesofurbanismbc dcfincdas something supcrst ructural , on the surfacc of Lheeconomic


whcthcrcapitalistorsocialist?
bas1s No.Thcrcalityof urbanism modiftcs Lherelations of pro duclion without
t 10 transforrnlhem. Urbanismbccomcs a force in production, rnther like sc icnce. Space
bcingsufncicn
andthcpoliticalorganizalionof spacc cxprcss social rclalionships but also react back 11ponthem !grifo
nossol."

46
espaço sobre o social: "Definir o campo da economia política urbana* é argumentar
que é dentro I gr ifo nosso] das cidades que os efeitos do espacial sobre o socia l são
mais forte s e emergem como óbvios. O 'urbano' to rna- se definido cm lermos dos
efeitos particulare s das inten sidades das interações entre o socia l e o espacial cons-
tituídos pela forma específica de articu lação espacial da produção, da circulação e
do consumo na formação social".**
Gottdiener (1985, 230) também discorre sobre uma reaç ão do espaço , ao afir-
mar que a "desconcentração" metropolitana , um processo socioespacial, "é ambas
as coisas: um produto da s transformações contemporâneas e um processo de orga-
nização socioespacial que reage de volta sobre outros processo s".*** Logo a seguir,
esse autor menciona, mas não demonstra, uma situação de influência do espaçoso-
bre o social. ****
Para Lefebvre o espaço "reage de volta" sobre as relaçõe s sociais; Boddy de-
clara que dentro [grifo nosso] das cidades "os efeitos do espacial sobre o social se-
riam mais fortes e emergiriam como óbvios". Soja (1980, 207) procura desvendar as
bases de uma dialética socioespacial
As relações entre, de um lado, a produção, a circulação e o consumo do espa-
ço e de outro os efeitos do espaço sobre o social- ou melhor , das relações dialéticas
entre espaço e sociedade- constituem o desafio ainda a ser enfrentado pelos estu-
dos socioespaciais.
Os processos que vamos abordar aqui decorrem do estudo do espaço intra-
urbano das metrópoles brasileiras.Temos, entretanto, fundadas razões para acredi-
tar que tais processos ocorrem também nas demais metrópoles da América Latina .
Na verdade, estamos inclinados a acreditar que as metrópoles latino-an1ericana s
constituem um campo privilegiado de análise do espaço intra-urbano. Com efeito,
o grande desnível social entre as classes nas metrópoles latino-americana s faz com
que nelas seja realçada aquela faceta da lu ta de classe s que é travada em torno das
condições de produção/consumo do espaço urban o, isto é, em torno do acesso es-
pacia l às vantagens ou recursos do espaço urbano.
Os contrastes socia is, econômicos e de poder político característicos das me-
trópoles latino-americanas produzem uma estrutura espacial e uma dinâmica

' Grifo no original. l3oddy cogita a possibilidade d e um co nceito amplo de "eco nomia polít ica", mais de
acordo t;Om a tradição marxista do que, por exemp lo, Gottdic 11c1·, para qu e m "eco nom ia politica " é
prnticamentc um ramo ela eco nomi a. Llssacogi tação está na seguinte manifestaçfio: "Hpoliti ca l cconomy is
dcfincd as lhe scicnce of lhe modcs of prodLtction , anel as implying lhe ccntra lit}' of t\larxian
conceptualiza lion s of the processes of Lhe production and circ ulnlion of commo<litics, dass structun.•,
ideology and thc slatc, Lhen ...".
ª "'lo define a field of urúan .. polilical cconomy is lu argue thal it is witlti11 [grifo no sso) c itic s that thc
cffcct s of thc spatial 011 lhe social are s trongc st ond emerge as o bvíom ,. Thc 'urba11' bccomcs tlcfincd in
tcrms of the particular cffects of lhe inlensily of internctions betwccn lh e soc ial anel lhe spatial. b1nugh1
about by lhe s pccil1c form of spatial artíclilation or production, circulai ion anel co ns ump1ion in lhe socin l
format ion. "
~--'' ... is both , a product of contempora 1y changcs an<l a pro ces,; of sociospalla l 01ganization which rcnc ts
back on othcr processe s."
.-... "The hegcmony o( Late Capi talis t rela1ion s require s th c rccstructuring of spacc jusl as much a, Lhe
lattcr dcpcnds on the socia l forces of Lhe formcr."

47
. n rnuitomais r xnce rbada s 0, por iss o n1 .
1ra-uroê1l• , n1s fác .
___...,_
,p,t13 1111 , , }oledescnvolvidn. eis de
" qur • 01d 1\ J seri-..
t3Ü ' d l' \;lll
l

··~o'll:'lll
n·~ ,u, u1ili1,Hl,t por Gnu diC'll<'t n ão cqui vnlc à n
m('tf\'l', . ..,l·t, 1,,"lht,111:1
à qu.11C'-"c;n 1tor se refere-n ão ex.Iste C<) ossn cxprc<:.-:; 1
____,....,,.n.i \ ~ ; 1 .,rfl"
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h..1no n os, c111rc1
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, '°._nJ:,t.-.rd\\ ·T ,p,111al dialrctir". Annols oi lh e /\ssn ciaiion o f /\m e .
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rn4nt.tn re1,~md.1
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s• ~ott.. ~htamo• · · 1 dno leitor a espec
:u.• r 1mpor1antcrccord:1r 0 1.
- ific idade d a " p tn u cleaç· "
mttro;xwnma:i.mrnc-; 10.1 para ~\'1taqdnc~p 1 a a~ cdo m~ oalr~çocs com as b ras ile iras De ao da regi~
í,att:ümt'l' ne-m mesmoac;mruopo 1cs n ..:uropa 111 us t n 12..1da , a pr ese nt am · 0acordo co
I" 1 "' romrarJ, cl ao das mc1tópoles no ri e-america nas. Essa "po linu : :: il_"',) ' dispcs,; 0~ ?
&fl'ff'lltcdo wi fom1.:1~0 do<.miclcos terciários de nossas metróp oles co m o os c çao e um processo
i :\'M~~ncu \.lnto :\odrê. BoaVi::igcm,Pinh eiros, etc. ' c nt ros de Copacabana,

48
Capítulo 3

Os processos espaciais
de con urbação

J\ exp ressão met rópole, entre nós , es tá por demais assoc iada à imp o rtância
socia l, eco nômi ca e cultu ral de um núcleo ur ba no. Po r exten são, o me smo ocorre
com as expressões área m etropo litana e p rocesso de metr opolízação. Neste traba lho ,
não nos preoc up a ta nto esse as pec to, por m a is imp ortan te qu e ele seja. Neste capí-
tulo, par ticularm ent e, prefe rim os a exp ressão con urbação - fusão de área s urba nas
- por acred ita rm os se r ela mais adequ ad a aos nosso s objeti vos.
A seguir se rá anali sa da a expan são esp acia l d os n úcleo s ur banos e as co n tra-
dições ocorr ida s ent re essa exp ansão e os limi tes p olítico-ad m inistrat ivos mu nici-
pai s. Isso se rá feilo se m co nsidera r a imp ortâ ncia dos n úcleos e, mu ito me n os, o
fato de serem eles o u n ão áreas met ropolit anas "oficiais". Neste traba lho, a Grande
Sant os , a Gra nde Vitória ou a Grand e Fio rian ópo lis são áreas metropo lita nas tanto
quant o o Grande Rio ou a Gra nd e São Pau lo. O co nceito de área metropo litan a q ue
adotam os é o do Burea u of the Census, d os Estados Unido s; é aq uele que na sc e da
co nt radição en tre, de u m lado, as cidades enq uanto en tes físicos e socio econ ôm icos
e, de out ro, as cidade s do ponto de vista p olít ico-a dmi n istrat ivo. Nesse sentido não
h á qu e hierarqui zar ta is núcl eos urba nos .
Serão desc rita s as v{Lria s form as pelas qu ais um a cjdade em cres cimento ab-
so rve e/o u gera outro s núcl eos urba nos à sua volln, às vezes perten ce nte s a outras
unid ades polít ico-a dmini strativ as, forman do um tip o part icular de cid ade. A par-
ticularid ade está no fato de qu e, a uma línica cidad e, passam a corr es ponder, em
term os d e Brasil, ma is de um mu nicíp io. Isso não hav ia en tre nós at é p or volta da
décad a d e l 920. /\té en tão, a u ma cidad e co rres po nd ia u m - e apena s um - muni-
cípio, e vice-versa. Nos Estad os Un ido s, tnis "cida des" sã o chamad as de área s me tro-
po litana s o u SMSA -S tandard Metro po lita n Stati s tica l Areas. No Brasil há in úm e-
ras conurbaçõ cs - Santo s, Flor ianó p olis, Campin as, Vitór ia, Go iâni a, et c. - q ue

49
não são oficialmente considerad as áreas metropolitanas. Nesta obra, tais conur-
bações serão assim chamadas: áreas metropolitana s.*
Nem sempre o crescimento espacial urbano é contínuo. A partir de um certo
tamanho, as cidades tanto crescem contínua como descontinuamente. Nesse caso
ou ela gera novos núcleos a sua volta - como Santo André, Nova Iguaçu , Canoas-,
ou faz crescer núcleos antigos até então estagnados - como São Bernardo, Carapi-
cuíba, Viamão, Sabará .
Desde meados do século XIX algumas importantes cidades da Europa, como
Londres ou Paris, começaram a cr,escer além de seus limites político-administrati-
vos, ou a absorver núcleos urbanos já existentes além desse s limite s. Logo em se-
guida, isso começou a ocorrer nos Estados Unidos e por volta da década de 1920,
também no Brasil. Algumas vezes a absorção ocorria simultaneamente com a conur-
bação; outras não. De qualquer maneira, ambos os processos nem sempre são fá-
ceis de identificar no tempo e no espaço. São Paulo começou a conurbar-se com
São Caetano do Sul na segunda década deste século. São Caetano foi fundada em
1877 (Martins, 1992, 30) e logo depois começou a crescer. Naquela época havia
inúmera s cidades em volta de São Paulo; algumas cresceram e outras não. As que
cresceram o fizeram como manifestação do crescimento de São Paulo. Esse cresci-
mento deveu-se ao fato de essas cidades estarem em posiçõe s estratégicas-jun-
to à estrada de ferro para Santos, no caso de São Caetano. Provavelmente anterior-
mente à década de 1920, o Rio já começara a absorver Niterói; como ambas estão
separadas pelo mar, a conurbação - que certamente existia - não pôde ser ob-
servada como nos outros casos. Santos começou a conurbar-se com São Vicente
por volta da década de 1930.
O que esses casos têm de novo não é certamente o proces so de absorção de
um núcleo por outro, nem o processo de conurbação . Núcleos coloniais como Pi-
nheiros, São Miguel Paulista (em São Paulo) e Santa Cruz (no Rio de Janeiro), para os
padrões do século XVIIIe mesmo do XIX, eram "cidades" vizinhas a São Paulo e Rio.
Eram núcleos bastante autônomos com relação a essas capitais, inclu sive com fun-
dações independentes. Pinheiros, no final do século XIX ou no início do século XX,
já havia sido absorvido por São Paulo e depois a ela conurbou-se. São Miguel Paulista
e Santa Cruz demoraram um pouco mais. O Rio conurbou-se com Nilópolis e São
João de Meriti (outros municípios) antes de conurbar-se com San ta Cruz (mesmo
município). São Paulo conurbou-se com São Caetano do Su l (outro município) an-
tes de conurbar-se com São Miguel Paulista (mesmo município).

• Pelo parágrafo 311do artigo 25 da Const ituição Federal, cabe aos esta dos instituir"regi ões metropolitanas".
Assim, dificultou-se a mensuração de um dos mais importanles processos sociais conlemporâneos- o
da urbanização, em geral, e o da metropoli zaç ão, em particular- , uma vez que passou a depender de
critérios- ou da falta de critér io -díspares de diferentes estados. Confundiu-se o problema técnico dos
núcleos urbano s de delimitação territorial, porlanlo demográfica, econômica e social, com o problem~
político, isto é, a definição de distintas categor ias de núcleos urbanos para fins de po líti cas públicas. E
impossível ao 113GEacatar as delimitações de áreas metropolitanas definidas com difer entes critérios.
Inevitavelmente, o IBGEdeverá deílnir seus próprios critér ios para áreas metropolitanas - de validade
nacional - e usá -los nos censos e em suas pesquisas. Haverá portanto, no Brasil, dois tipos de ;íreas
metropolitanas: as dos estados e as do IBGE.

50
Iniciou-se então wna contradição entre a cidade co m o organis mo físico l!
socioeconômico e a cidade do ponto de vista político-administrativo. Encarado dc:-;se
ponto de vista, o processo de conurbação ocorre quando uma ciclaclC'passa a absor -
ver núcleos urbanos localizados à sua volta, pertençam eles ou não n oul ros municí -
pios. Uma cidade absorve outra quando passa a desenvolver com ela umn ''intensa
vinculação socioeconômica". Esse processo envolve uma série de lran sforn1ê1çõcs
tanto no núcleo urbano absorvido como no que absorve .
. -a década de 19-10o Bureau of the Census, dos Estados Unidos, c:,;tudando
essa questão, passou a denominar o último núcleo- a cidade maior - "cidadc c,·n -
tral", ou seja, aquela a partir da qual se desenvolveram as ditus"inlensas vinculações
socioeconômicas".
Evidentemente essa idéia - a de "inten sa vincu lação sociocco nômi ca" - é
vaga. Pode-se dizer que tanto Niterói como Vassouras ou Juiz de f,ora mantêm uma
intensa vinculação socioeconômica com o Rio de Jan eiro, e qu e Sào Bernardo,
Piracicaba e Ribeirão Preto mantêm tal vinculação com São Paulo. Entretanto, para
esclarecer a questão, já ajuda bastante se essa vinculação se limitar apenas aos vín -
culos de natureza tipicamente intra-urbana. Dentre esses vínculos devem ser desta -
cados os deslocamentos espaciais de pessoas, já que são eles que caracter izam o
espaço intra-urbano em oposição ao deslocamento de cargas. Por outro lad o, den-
tre os deslocamentos de pessoas devem ser destacados os cleslocamenlos rotinei-
ros, sistemáticos, diários ou quase diários, como aqueles entre residência e loca l de
trabalho ou entre residência e escola. Devem também ser considerados os vínculos
manifestados através das telecomunicações, particularmente o telefone, que é o meio
de comunicação mais utilizado dentro das cidades. Embora não seja tipicamente
intra-urbano, pode-se definir uma freqüência de uso do telefone que seja t ipica -
mente intra-urbana. Con siderados de forma relativa-nunca absoluta-, esses flu-
xos permitem isolar as vinculações tipicamente intra -urbana s das demais. Neste caso
então, Vassouras e Juiz de Fora apresentariam uma vinculação menos intensa com o
Rio de Janeiro do que Niterói, e Ribeirão Preto teria vinculação socioeconômica
menos intensa com São Paulo do que São Bernardo. Existe aí a questão ernpíri ca ele
traçar a linha divisória entre o que é e o que não é "intenso''. Parte-se da premissa de
que é sabido o que é a ''cidade do Rio de Janeiro", ou seja, aceiLa-sc sem discussão
que Botafogo, Penha ou Méier são a cidade do Rio de Janeiro; entreta nt o, seria dis-
cutível se Nova Iguaçu , Niterói ou Santa Cruz sê-lo-in m também. Nolc-sc ainda ser
irrelevante o fato de Santa Cruz pertencer à mesma unidade político-ndministrntiva
que o Rio de Janeiro. Claro que, no qu estionamento de lais limites, reside todo o
problema; isso significa que é consenso que os limites político-administrnlivos não
delimitam satisfatoriamente a cidade enq uanto enle socioeco nômi co e físico.
O processo de conurbação não se tem dado entre nós apenas pela absorção
de núcleos urbanos contemporâneos ou gerados pela cidade ce ntral; São Vicente é
anterio r a Santos e São Bernardo - fundada por João Ramalho como Vila de Santo
André-é anterior a São Paulo. Por enqua n to, cabe apenas destacar o contlito entre
os processos socioeconômicos e físicos da urbanização e o proce sso político -admi-

51
nistrativo de delimitação dos municípios. As naturezas totalmente distintas desses
dois processos tornam difícil manter a compatibilidade entre eles, especialmente
em longo prazo.
Tendo em vista que vamos encarar as conurbações metropolitanas como uma
única cidade-que de fato são-, é esclarecedor destacar sua natureza contraditó-
ria e freqüentemente irracional. Observando os núcleos vizinhos a nossas grandes
cidades, nota-se, por exemp lo, que algun s dele s aparentemente geraram municí-
pios porque cresceram. São os casos de Santo André ou Osasco, na Área Metropoli-
tana de São Paulo; São João de Meriti ou Duque de Caxias na do Rio de Janeiro; ou
Canoas na de Porto Alegre. Contudo, houve núcleos urbano s, alguns com séculos de
idade, que cresceram e nunca se tornaram município. Foi o que ocorreu com Santa
Cruz e Campo Grande, no Rio de Janeiro, ou São Miguel Paulista, ltaquera e
Guaianazes,em São Paulo. Alguns núcleos coloniais cresceram e jamai s chegaram a
ser munidpio, como a Freguesia do ó ou São Miguel Paulista, em São Paulo; Santa
Cruz, no Rio de Janeiro; ou Belém Velho em Porto Alegre. Outros, entretanto, apesar
de permanecerem pequenos povoados, foram e continuam sendo município s:
Viamão,na Área Metropolitana de Porto AJegre; Santana do Parnaíba e Bom Jesus de
Pirapora, na de São Paulo. Finalmente houve núcleos que adquiriram e depoi s per-
deram a condição de município - Santo Amaro em São Pau lo, por exemplo-, e
outros que perderam e depois readquiriram essa condição - Contagem, na Área
Metropolitana de Belo Horizonte (veja figuras 1 a 12).
Mesmo admitindo-se a existência de um conjunto de critérios para a delimi-
tação de uma área metropolitana hoje, é forçoso reconhecer que tais critérios não
seriam válidos para outras épocas, uma vez que as vinculações socioeconômicas e
seus níveis de intensidade variam com o tempo. Qual teria sido a área metropolita-
na do Rio de Janeiro em 1890 ou em 1920? É vá lido admitir que Niterói passou a
formar com o Riouma área metropolitana, ao ser por e le absorvido antes que Santa
Cruz?Campo Grande e Santa Cruz, por exemplo, apesar de pertencerem ao municí-
pio do Riode Janeiro, demoraram mais para se int egrar à sua área metropolitana do
que São João de Meriti ou Nilópo lis e mesmo Nova Igua çu. Em São Paulo , do ponto
de vista físico e socioeconômico, Pinheiros, Penha e São Miguel Pauli sta eram, em
meados do século XIX,e para os padrões da época, "cidades" tão autônomas e des-
tacadas da capital quanto Guarulho s ou Santo Amaro. No entanto, estes últimos cons-
tituíam unidades político -adm inistrativas autônomas, isto é, n1.unicípios, e aqueles
não. O censo de 1872 mostra bem a magnitude das populaçõe s das paróquias
sediadas nessas verdadeiras "cidades", tanto no es tado d e São Paulo co1no no do Rio.
Santo Amaro, por exemplo, com mais de 5 mil h abitantes, equivaleria, hoje, se feita
uma proporção com São Paulo, a uma cidade com alguns milhões de habitantes. O
Quadrol mostra alguns exemplos.
Na descrição que segue, a expressão núcleo urbano será empregada para de-
signar o aglomerado urbano que apresenta um mínimo de atividades centra is, se-
jam religiosas, administrat ivas, políticas, sociais ou econômicas, ou seja, que têm
vida própria, por menor que seja, organizada en1 torno de um centro polarizador.

52
Quadro 1 - População de algumas paróquia s{] 872)

SÃO PAULO

Paróquias População

NossaSenhora da Conceição dos Guarulhos 2 605


(Tornou-semunicfpio.)

NossaSenhora do ó 2 023
(Não se tornou municfpio.)

NossaSenhora da Penha de França 1 973


(Não se tornou município.)

Santo Amaro 5 470


(Adquiriu e depois perdeu a condição de município.)

NossaSenhora da Ajuda de ltaquaquecetuba 1 878


(Tornou-semunicípio.)

RIODEJANEIRO

NossaSenhorada Conceição do Porto das Caixas 3 322


(Não se tornou município.)

NossaSenhora da Piedadede lnhomirim 3 982


(Não se tornou município.)

SãoJoão de Mirity 2 524


(Tornou-semunicípio.)

Fonte: Censo de 1872.

Essa expressão é sinônimo de ''aglomerad o urbano nucleado" , para distingui -la dos
"aglome rados não-nucleados", a qu e chama rem os de áreasurbanas;a rigor, não existe
área urbana não polarizada. Entr etanto, usaremos essa expressão para des ignar aqu e-
las parte s da periferia urban a cujos pólos estão muito afastados e freqüentemente
em outro município. Na periferia, po r exemplo, são comuns bairros bastante afasta-
dos de um núcleo signi fica tivo que os polariza. A importância da existê ncia de al-
gum núcleo polarizador no s remete a Burgess (citado em Schnore, 1976, 323), p ara
quem "o processo mais evide n te, encara nd o-se ecologicamente o crescimento de
uma comunidade, é o da expansão radial a partir do ce ntro ".
Feitas essas co nsiderações preliminare s, pa sse mo s às quatro form as princi-
pais pelas quais te m- se m anifestado o processo espacial de conurbação nas áreas

53
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Figural - A.rea Melr opo 1\lana ~~:==-
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do Rºio d e Jane iro
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Figura2 -Arca
, edificada do Ri 1e1ro em 1992

54
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Figura 3 -Área Metropolitana de São Paulo

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Figura 4 -Área edifica da de São Paulo cm 1962 e 1987

55
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Figura 5 - Área ~ietrop olitana de Belo Horizon te

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,e:..11!2
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Figura 6 - Área edificada de Belo Horizont e em 1972 e 1982

56
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Figura 7 - Área Metropolitana de Porlo Alegre

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1igura 8 -Ár ea ed ificada de Port o Alegre cm J 97 1 e 199 1

57
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Figura 10 -J\rea edificada de Salvador em 1989

58
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OCA&.AOIIII
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Pigura 11 - Área Metropolita n a do Recife Figura 12 -Ár eti edificada cio Recife cm 1987

metropolitanas bras ileiras n as últim as dé cada s. O que se pretende nas próximas li-
nhas não é mais do q ue um esfo rço de d esc rição e classificação. Tais formas fre-
qüentemente oco rrem co m um mes m o n úcleo em distintos momentos históricos.
Assim, São Bernardo do Campo e San ta Cru z experimentaram mais de uma dessa s
forma s em períodos his tóricos di ferent es . Po r outro lado, cabe esclarecer que os ti-
po s apresentados são tipos pu ros, e pod e oc orr er de ser difícil enquadrar casos es -
pe cíficos neste ou na qu ele tipo .
A prim eira fo rma é co nst itu íd a por núcleos que nu nca ch egaram a at ingir
plenamente a cond ição de cid ade, pois já n asce ram co mo subürbio. Freqüentemente
sã o núcleo s qu e crescera m rapidam ent e a part ir de u ma estação ferroviária, junto à
qual se formou o pólo. Pode m ter até mai s de 500 m il habitantes, mas não tê m as
características de cidade co mp atíve is co m essa população (veja q uadros 2 e 3,
adiante) . São os casos d e Nova Iguaçu, Duqu e de Cax ias, São João de Merit i,
Nilópolis, Osasco e Ca n oas.
A segunda forma_qu e assu m e o pr ocess o de ab so rção pel a cid ade cen tral é
aquela na qua l o pó lo cen tra l é formado a p osteriori. No in ício ele e ra o u in existe nt e,

59
ou frágil,ou distante.Distingue-seda primeira forma porque, nesta , a força de uma
estaçãoferrO\riáriaproduziuum pólo relativamente forte e organizador. São, no iní-
cio,casostípicosde aglomeraçãourbana não-polarizada - no sent ido em que o
póloestálonge- , chamadadeárea urbana em opo sição a núcleo urbano. Aexpan-
são urbanase manifestaaqui através da formação de uma imen sa periferia , em ge-
ral de baixarenda,com um núcleo local fraco que pouco apre senta além de quitan-
das.farmáciasou padarias.Esse caso ocorre quando a periferia da cidade central,
ou de algumasde suas grandes cidades-subúrbios, "transborda' ' sobre municípios
,izinhosem pontosafastadosde suas sedes. Às vezes esse "transbordamento" vema
formarum novomunicípio,e o pólo local-inclu sive com a instalação da Prefeitura
-s ó entãose forma.Foio que ocorreu com Diadema, em São Paulo, que resultou
dotransbordamentode SãoPaulo sobre o muni cípio de São Bernardo, longe de sua
sede;comAlvorada,na ÁreaMetropolitana de Porto Alegre, que resultou do trans-
bordamentode PortoAlegresobre o município de Viamão, cuja se de era muito dis-
tanteda divisacomPortoAlegre;ou com Contagem, resultante do transbordamen-
to industrial de Belo Horizonte. Este últirno transbordamen to ocorreu num
municípioformadode maneirabastante confusa. 1

Quadro2-Índ ice de emprego no setor terciário


Ciàades-subúrbios,áreasmetropolitanas e cidades do interior (1985)

ESTADO
DORIODEJANEIRO

Areametropolita
na População Empregos no Empregostercíáríos
e murnc1pios residente estimada setor terciário por mil habitantes

Municípios
dointerior
BarraMansa 162 450 7 180 44,20
Campos dosGoytacazes 366 503 14 960 40,82
Petrópolis 248 005 17 325 69,86
Resende 89 321 5 495 61,52
Totais
e média 866 279 44 960 51,9

Municípiossuburbanos
ltaboral 134 340 4 875 36,29
Niterói 414 508 36 414 87,85
SãoGonçalo 685 413 19 316 28,18
Totais
e média 1 234 261 60 605 49,1

DuquedeCaxias 616 066 24 656 40,02


Nilóp
ohs 154 487 5 394 34,92
NovaIguaçu 1182 889 28 606 24,18
SãoJoãodeMeriti 41O 928 15 860 38,60
Totais
e média 2 364 370 74 516 31,52

AreaMetropolitanado RiodeJaneiro 9 233 452 722 O14 78,20

60
,
ESTADO DO PERNAMBUCO
Area metropolitana População Empregos no Empregos terciários
e municlpios residente estimada setor terciário por mil habitantes

Municípios do interior
Caruaru 190 116 8 858 46,59
Petrolina 132 101 5 211 39,45
Vitória de Santo Antão 9 170 3 314 33,42
Totais e média 421 38 7 17 383 41,25

Municfpios subu rb anos


Cabo 113 984 2 409 21, 13
lgarassu 76 194 1 184 15, 54
Paulista 2 13 253 3 935 18,45
São Lourenço da Mata 161 578 1 877 11,62
Totais e média 565 009 9 405 16,65

Area Metropolitana de Recife 2 480 513 132 042 53,23

ESTADO DE SÃO PAULO

Area metropolitana População Empregos no Empregos terciários


e muníclpios residente estimada setor terciário por mil habitantes

Municípios do interior
Bauru 217 447 16 463 75,71
Ribeirão Preto 367 614 34 418 93,63
São José do Rio Preto 227 045 21 824 96, 12
São José dos Campos 349 635 21 315 60,96
Totais e média 1 161 741 94 020 80,93

Mogi das Cruzes 229 140 11 931 52,07

Muicipios suburbanos
Diadema 260 733 1O 338 39 ,65
Mauá 242 354 6 299 25,99
Santo André 581 284 36 087 62,08
São Bernardo do Campo 484 827 31 712 65,41
São Caetano do Sul 156 7 41 16 397 104,61
Totais e média 1 725 939 100 833 58,42

Area Metropolitana de São Paulo 13 817 403 1 093 552 79, 1

61
tS-.1,00 ...
---
e"·'°GRA DE DO SUL
Eirooo ·a"a
.!.te-a..... Popul ação Empregos no Empregos temárlQ5
,r (' cs
e ...... residente estimada setor terciário por mil habitantei

'. 1 -~;: P CS uO nter or


Ca'\ as~~ Su. 250 144 18466 73,82
PêiSS0 J:~'"''";0 132 393 10172 76,83
;ic Gra"ae 157 560 9887 62.75
S3'1tc Ã~gelo 85 472 5841 68,34
Teia s e fT'eOl.3 625 569 44366 70,92

' - .e tfambu ~go 164 474 13962 84,89


Se~ ecooldo 125 586 7788 62,01
-cta•s e m~•a 290 060 21750 74,98

Munic,p,os suburbano s
A'vorada 111 664 1 938 17,36
Canoas 245 424 13 475 54,90
\ ,amão 138 811 2 775 19,99
e mêd,a
T.:ti.a1s 495 899 18 188 36,68

!-rea '~i·ooo 1:ana de Porto Alegre 2524 368 219 182 86,83

\ ot;i_ ~popu~ç.ão foi ~l imada com base na taxa geométrica anual de cresc i mento no período 1980a199
L

Quadro 3 -Altos sa lário e fo1mação superior


Munic1p10s-subú rbio s, áreas metropolitanas e municípios do interior (1991)

'.1unic p os metropoli tano s Municípios interioranos


t.~ "ie·,:,;i;., ·;.~,d~ e Porcentagem dos Area s metropolitanas e Porcentagem dos
....r x,s oo•grupcs(i}• chefes de domicll10 municlpios por grupos (1) chefes de domicilio
com IS anos com renda com 15 ano s com renda
ô'J rri,! s de mensal ~ ou mais de mensal2:
e\:udo a 20 salanos- estudo a 20 saMn~-
mln1mos 1 1m
,.,~~ ~ .~r.·o :.~ .. S.ic 7.0 3,3 Méd ia da Area Metropolitana de 10.2 3,8
e~~.. = -- :~,~
'JrYJ • ... .,.i <' P.;;.t' lo .....~~
1
Campinas (2), R1be1r<'!oPreto. São
José do s Campos, Piracicaba,
Baur u , Rio Claro e ltapetininga

3,2 2,2

' 'f-:,1 de S,.r,,710 PcJ 0,9


:.r:-lqJKP'•~ E'
re-r,,._zGt •?:.-":>r.<~()!.

5.0 2. 1
'
1
f Cfl ...'r ......
,.J 4 8. 7 :u
Âl\'i M~tropol1tana 10. 1 5.3
d• SloP,udo

62
Municípios metropo litanos Município s interioranos
Areas metropohtanase Porcentagemdos Areas metropolitanas e Porcentagem dos
municlpios por grupos ( 1) chefes de domicllío municípios por grupos (1) chefesde domicílio
com 15 anos com renda com 15 anos com renda
ou mais de mensal >. a 20 ou mais de mensal õ!! a 20
salários • salários-
c~tudo estudo
mlnimos mlnimos

Mêdia de Novalgua<;
u, 2,6 0,3 Médiade Peu6pol1s,
Campos, 6,3 1,8
Duquede Caxias, Barra Mansa e Resende
~o Jo.iode Mentt e Nilópohs

Mêd1ade N1ter61(4), 8,6 2,5


sao Gonçalo,ltaboral
e Mancá(5)

Médiad"s reg16es - 0,6


adm1mstrauvasde Campo
Grandee Santa Cruz (3)

Área Metropolitana 1 1,7 3,6


do Rio de Janeiro

Mediade Contageme Selim 2,3 0,8 Média de Juiz de Fora,


R,betràodasNeves 0,5 0,2 Uberaba e Teófilo Otoni 7. 1 2,2

Área Metropolitana 9,2 3,8


de Belo Horizo nte

Mediade Gravata!. 1,6 0 4 Média de Caxias do Sul, 7,2 2,0


V1amlloe Alvorada Pelotas.Rio Grande e
PassoFundo
Médiade Canoas,Esteio, 2.9 0,8
Cachoe1nnha
e Sapuca1a do Sul

Médiade NovoHamburgo(4) e 5,6 2. l


SáoLeopoldo(4)

Área Metropolit ana 9,6 3, 1


de Porto Alegre

Mêd,ade Camaçan, 0,5 0, 4 Média de Jequ1é,Juazeiro 1,5 0,5


Cande1a~e S1moes
FIiho e Serrinha

l.durode Freitas(5) 0,5 3,0

Área Metropolitana 8. 1 3, 3
de Salvador

Méd1Jde Abreu de Lirria, 1,9 0,4 Média de Caruaru, 3.6 0,9


lgarawi. ltarnaraca, Petrohna,Garanhunse
ltap1~umaL' Pauh5la V1tóna de Santo Antào

Cabo 1.2 0,2


Ja!Joal~o(5) 5,0 1,9
Ohm.la(4) 9,0 1.7

Área Metropolitana 8,6 2,8


do Recife

Not.is:
( 1) As á reas m c1ropo 1itanas são as reg iões melropo lita n as exislenles no m 10 indicado.
(2) Compree nd e os seg uinl es muni cíp ios: Campinas, Pau línin, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
(3) Hcgiões ::idminislrnti vas do município do Hio ele Janeiro.
(4) Município s com cidades com tradi ção de autonomia socioeconômica.
(5) Municípios penetra dos por lransbo rdamenLO de bairro s de alta renda da cidade central.

63
Cnmo pc1ifrri:1 urh ann Hpica do Bra s il, ess a "frente " metropolitan a é, em ge.
rnl. lormnda por um co njunto n ão -pol a riza do de bairro s populare s, constiluindo
duranlt' anos, uma seg und a área urbana dentro ele um mesmo município e destaca-
da de ".IW\ ~ceie.
Até rccrn lcmcnt c não havia, no Bras il, o tran s bordamento da área urbanade
11mmunicípio sobre o lcrr il órÉo de outro qu e nã o fosse co ns tilu fdo por bairrospo-
pulnrcs. No-; lÍlt imos de z ou quinze ano s ma is ou m eno s, têm ocorrido casos de
transhordnmcnto de bairro s de alta re nda. Isso aconteceu, por exe mplo , com osde
hairroc; de altn renda de São Pnulo so br e o município de Co tia (Granja Viana); com
os do Rerife so br e o muni cípio <lc Jaboal ão, o u os d e Salvador so b re Lauro de Freitas.
11.l-tnpoderá vir a SC'r a formn de co n stitui ção de um novo tip o d e cidades-subúrbio s
entre nós : a cidn d c-s ubürbio co m um a participa ção atípicam en te alta de camadas
de altn renda . Em alg un s casos, tais camadas apre se ntam dimen sões significativas
- não necessariame nt e prcclomin ância - em cleterm i nada área urbana períférica;
cm função disso, tem hav ido manife s tações de int eresse da s camada s de alta renda
cm transformar essas áreas em município. Conslituem exemplo s as tentativas de
emancipação da Barra da Tíjuca, no Rio de Janeiro , e da Gran ja Viana, em São Paulo
~ e o transbordamen to for de alla renda e dens idade (Jaboatão ou m esmo Alphaville },
um pó lo se forma rapidamente, com ou se m a participação ati va do s empreendedo-
1,•s imobiliários. Se for de baixa densidade (Granja Viana ), a forma ção de sse póloé
ma1~demorada. Nos casos em que os bairro s de alta renda se desenvolvem em
municípios que já atingiram certo porle demográfico - como Alpha ville, em Baruer
-, cs~a classe perma nece ainda minoritár ia. Isso não ocorrerá , por ém, se a áreados
bairro-, de alta renda se desme mbrar.
A terc<>ira
fo rma de absorção é const ituída por aglomera ções que chegarama
<tiingir significa tivo de se nvolvimento enquanto cidades . Principalm ente por esca-
rem afastadas da cida de central, mantiveram, por certo tempo , grande autonomia
socioecon ômica. Nascera m e crescera m co mo uma cidade média típica, a partirde
um núcleo central de se rviços que lambé m se expa ndiu e se diver sificou. Integram
cs-.a forma municípios que tivera m - e e m poucos casos ainda têm - até mesmo
um setor primário de senvo lvid o. Um chego u a ser capita l d e es ta do. AJgunsse in·
dustrializararn, mas os emprego s ini cialmente ofer e cido s n o setor secundário não
resultaram elo foto de terem s urgido como bairros indu s triai s da m etrópole-como
foram os casos de Contage m , Sa nto André e São Bernardo. Ess as cidades apresenta·
ram, ou ainda apresen tam, uma co mpo sição social e econôn1ica semelhante à das
cidades do interior, pob muita s o era m de fato até recentem ente. Nelas aparece,ou
aparecia alé reccnlcmcn te, um a burguesia loc al integrada por aJto s burocratas, gran·
des comercia n tes e mesmo indu striais lo ca is e proprietário s rura is. A estrutura física
dessas cidades se assemel ha à da s cidades interi orana s, con1 un1 centro tradicional
forte, praças centra is e uma variedade de tipo s de bairro s residenci ais, correspondendo
a uma varieda d e de classes soc iai s. São exemplos desse caso Mogi da s Cruzes, Niierõi,
São Leopoldo e Novo J Iam bur go. Cam po Gran d e, reg ião administrati va do municí·

64
pio do Rio de Janeiro, chegou a pertencer a essa categoria até por volta da década de
1970. Embora já tenha sido absorvida pelo Rio, Campo Grand eJaté recent ement e
guardava uma estrutura física, característkas soc ioeconômicas tveja quadros 2 e 3)
e um estilo de vida muito diferentes de subúrbio s típicos como Duque de Caxias,
Nilópolis ou São Gonçalo; em meados da dé cada de 1960, Brasil Gerson se referia a
Campo Grande como "esta que é hoj e uma autêntica e tão simpática cidad e do esta-
do da Guanabara" (1965, 516). Niterói ,rprincipalmente por ter sido capital - e me-
nos por estar separada pelo mar, já antes da ponte, vencida por movimentado siste-
ma de transp01te-, desenvolveu notável capacidade de resistência à absorção pelo
Rio de Janeiro.
Finalmente o quarto tipo de núcleo urbano que sofre o processo de absorção
metropolitana é constituído de cidades muito pequena s, algumas das quai s já foram
mais importantes no século XIX do que são hoje. São velhos núcleo s coloniais, que
ainda não se expandiram (ou só recentemente começaram a se expandir), poi s per-
maneceram à margem da expansão metropolitana. Alguns são sede de município -
nesse caso se inserem Santana do Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus e Itap ecerica da
Serra, na Área Metropolitana de São Paulo; outros não, como Belém Velho, na Área
Metropolitana de Porto Alegre.
Têm sido empregadas até aqui, com freqüência, as expressões absorver ou
processode absorção. São metáfora s que, para adquirir status científico, precisam
ser explicadas.
A absorção é um processo, em geral lento, de crescente transformação de um a
área urbana - nucleada ou não, com mais ou meno s características de cidade -
em bairro ou conjunto de bairro s da metrópole. Esses bairro s ou conjuntos de bair-
ros podem ser industriais ou residenciais ou ambos. Caracteriza-se pelos segu int es
processos fundamentais: em primeiro lugar, a tendência à crescente homog ene ização
socioeconômica em oposição à heterogeneidade que caracteriza a cidade; em se-
gundo, ocorre uma crescente polarização pelo centro metropolitano; e em terceiro,
a inserção no esquema geral da segregação metropolita na. Reduzidas cada vez mais
a bairros - por maiores que sejam-, as cidades-subúrbios tendem a perd er sua
segrega ção própria ou a não desenvolver a segregação apresentada pelas cidades de
inte rior, nas quai s a diversidade social faz apar ece r certa diversidade de bairros se-
gregados. Isso porque passam, lentam ent e, a fazer parte de uma outra cidade - a
metrópole - e a integrar-se na segregação de seu espaço. Aorla marítima de Jaboatão
integra-se à segregação do Recife, Granja Viana à de São Paulo e Lauro de Freitas à
de Salvador. A análi se deve ser sempre l'eita em termos de tendência . Esta será tão
mais observável quanto mais a cidad e-subúrbio est iver próxima de "cidade'' e longe
de "bairro" ou "subúrbio ". Nos casos em que a absorção vem ocorrendo hà muitas
décadas- Niterói, por exemplo, há mai s ele um séc ulo - , a cidade abso rvida torna-
se tão central na área metropolitana que se in sere em seu anel de bairros conso li-
dados de classe média. São os casos de São Caeta no elo Sul, em São Paulo, e de
Niterói, no Rio (cidades que não têm periferia ou a têm fora de se u territór io; veja os

65
e
md1re de~ n cidade no qundros 2 e 3). Taboão d a Serra, São João de Men11
N,lopoh<itendem a evoluirne a direção, embora estejam ainda long e de chegarlá
bm tO<fos o, ca. o cm que a cidades-s ubúrbio s são ou tendem a ser de classe m~-
din e acamada média, ..t>ualto poder aqui sitivo faz com qu e - ao contrár i()das
dema1~- ela· consigam~u tentar um significativo setor terciário.
\ ronurbação mctro polittrna se apresenta a ss im, como um processr;
de,oradorde cidade e produtor de bairro s. Para m os trar essa absorção. foramela.
borado o · quadro 2 e 3, nos quais se realiza um co nfr onto ent re várias cidades
1tpka de interior e \'árias outras representativas dos distinto s tipo s de cidades-su.
burh10 : em ambo' o grupos, para melhor co mpara ção, a maioria tem população
que compreende entre 50 mil e 500 mil habitant es. Foram in cluídos também n,,
confrontoumaspoucas cidades com população maior , duas pequena s áreas metro-
politana (nma pertencente a uma grande área metropolitana - Niterói- e outra
não - Campinas) e grandes conjuntos suburbano s, como o ABCD pauli sta ou a
Bn1xadaFluminense. Para o confronto, foram selecionados doi s indicad ore~
sociocconômicosfacilmente disponíveis em censos para mo strar a homog eneidade
ou a helerogeneidade social: presença de camadas sociais de alta renda e escolan-
dadc ~ uperior.Outro indicador que contrasta a cidade-subúrbio com a do interioré
que grande parte das cidades-subúrbios, principalmente em virtude de sua bíllla
renda, firam crescentemente subjugadas à polarização p e lo setor terciário do cen-
tro principalou de subcentros metropolitanos. Apresentam, então , um setor terciáno
fratoproporcionalme nteà sua populaçãoe, en1decorrência , un1centro urbanotam-
bem proporcionalmente fraco.Os quadros 2 e 3 foran1 montado s para mostrar esses
aspecto O Quadro 2 mostra o número de empregos no se tor terciári o por milhabi-
tantes; no cálculo desse índice foi utilizado o Censo Econômi co de 1985, por sero
ultimoque apresenta dados de emprego. O Quadro 3 compara o nún1ero de chefes
de domicíliocom rendimentos mensais superiores a vint e salários-mínimos e a par-
celada populaçãocom mais de quinze anos de estudo no s muni cípios suburbano~
e nos do interior.
Note-se a posição intermediária de cidades com lon ga tradi ção de autono·
mia ocioeconômica, como Novo Hamburgo, São Leopold o e Mogi das Cruzese a
proeminenteposição da Área Metropolilana de Niterói.

66
Nota
1. A respeito da criação do município de Contagem, NíceaV. Luz (1944, 81) escreveu: "Um do s
maiores obstáculos ao desenvo lvimento indu stria] de Belo Horizonte têm sido as condições
de fornecimento de eletricidade. A usina do Ribeirão das Pedra s, que fornece energia elétrica
à cidade, foi vend ida pelo governo a uma empresa parti cular, que tem explorado a populaç ão,
dificultando a insta lação de indú stria s. Para resolver esse problema o governo atual resolveu
criar um parque industrial nas proximidad es da cidade, poi s, pela situaç ão geográfica, Belo
Horizonte estava indicada para se tornar o centro distribuidor para todo o estado. A força
motriz será fornecida por uma usina hidroelétrica , situada na cachoe ira do Gafanhoto, no
rio Pará. Para evitar questões com a empresa do Rio das Pedras, o local escolhido para a
construção do parque industrial foi de smemb rado do município de Belo Horizonte, passando
a perte ncer ao município de Betim".Por sua vez, de acordo com a Enciclopédia dos municípios
brasileiros, v. XXIY, p. 513, o município de Contagem, instalado "a 1 de junho de 1912, teve
curso normal até 17 de novembro de 1938, data em que foi extinto pelo Decreto-lei n. 118.
Passou a pertencer ao município de Betim, criado na mesma época, e como tal viveu dez
anos, até 1948, quando, pela Lei n. 336 de 27 de dezembro daqu ele ano, emancipou-se, ficando
seu terr itório constit uído da sede munici p al". Por esses trechos percebe-se que, em 1948,
quando da segunda insta lação do municíp io de Contagem, a área da Cida de Indu strial
(originalmente localizada em Belo Horizonte e depois em Betim) passou a integrar o território
do município de Contagem.

67
[21
<2~<2~
Capítulo 4
[Q]~ [Q]ss~

Direções de [Q]~ [Q]~ [Q]~~


expansão urbana
85
~1~1
[Q]

Introduç ão
Com este capítulo inicia-se o estudo das localizações intra-urbanas. Privile-
gia-se a investigação das localizações das classes socia is e sua articu lação com ou-
tros elementos da estrutura urbana, particularmente o centro principal.
A partir deste capítulo, a expressão setor será sempre empregada no sent ido
de setor de círculo ana logamente àque le empregado por Hoyt (1959).
As direções preferenciais da expansão urbana são um assunto caro a geógrafos,
urbanistas e empreendedores imobiliários. É comum, por exemplo, a idéia de qu e
os planos diretores devem "prever" as direções "para onde a cidade deve crescer" e
em função disso devem ser criadas proposta s. Estas, entretanto, nem sempre são
viáveis e as razões qu e as fundamentam nem semp re são objetivas e convincentes.
A questão está também ligada a outro assu nto caro aos est udio sos do espaço
urbano e que pode ser resumido na seg uinle pergunta, freqüenlemente debatida
em congressos, se min ários e salas de aula: o que vem primeiro, o desenvolvimento
urbano ou a infra-estrutura; a dema nd a por in fra-estrutura (a expansão urbana) ou
a oferta dela (as pontes, ferrovias, avenidas, tún eis ou redes de saneamento)?
Neste capítu lo serão investigadas as formas e as direções de expansão
territoria l das metrópoles, ou melhor, da área edifica da mais ou m enos continua-
mente a nossas áreas metropolitanas.
Para a análise pretendid a, as áreas edificadas se rão divididas em setores de
círculo, pois parte-se da hipót ese de que seu crescimen to é altamente influ enciado
pela s vias - rodov ias e ferrov ias - regiona is. Ness e sentido, pretende-se não só
demonstra r essa hipótese, como ta mbém verificar os difere ntes crescimentos ao
longo das diferentes vias, e, ainda, comprovar a hipótese de que, embora as vias

69
regionais não tenham sido construídas para oferecer transporte intra -urbano,elas
acabam oferecendo esse tipo de transporte, e aq uela s region a lm ente mais impor -
tantes passam a ser mais importante s do ponto d e vista intra -urbano e aca bam atra.
indo maior expansão urbana ao longo delas.
Parece haver íntima relação entre as vias regionais d e tr ans port e e o cresci-
mento físico das cidades. As ferrovia s provocam crescin1ento descontínuo e forte.
mente nucleado, em que o núcl eo ou pólo se de se nvolve j unto às estações. Asrodo-
vias- especialmente as expressas - provoc a m um crescimento mais rarefeitoe
descontínuo e menos nucleado que as ferrovias. Iss o se d eve às diferenças de aces.
sibilidade oferecidas pelos dois tipos de via. Na ferrovia, a acessibilidade só se con-
cretiza nas estações; na rodovia, pode se concretiz a r e m qua lqu er ponto.
Outras questões relacionadas com esse assunto sã o as segu int es: há relação
entre o crescimento indus trial ao longo das vias reg ionai s e o crescimento urbano?
Por que, numa cidade como São Pau lo por exemp lo, o de se n volvimento industri~
foi muito mais acentuado ao longo de algumas ferrovias do que ao longo de outras ,
mesmo na ausência de obstáculos topográficos? Por que a urbanização é maisin-
tensa-e diferente- ao longo de certas vias do que ao longo de outras? É o cresci-
mento da urban ização (demanda por tra n sportes) que faz com que se aperfeiçoem
certas vias e sistemas de transportes (oferta), em vez de outros, ou é o ape rfeiçoa-
mento do sistema regional de transportes (oferta) que atrai a urbanização (deman-
da)?Seja qual for a relação entre a oferta e a d emanda, cabe ainda perguntar por
que o crescimento urbano é mais intenso ao longo de certa s via s do que em outras.
Note-seque estamos falando de "expansão" de zonas da cidade, em arranjo territorial
do crescimento urbano. É claro que os transportes ur b anos n ã o provocam cresci-
mento urbano; apenas atuam sobr e o arr anjo territorial des se crescimento.

Ossetores viários

Localização,
valor e preço da terra urbana
Neste trabalho abordaremos constantemente os efeitos do s transpor tes edas
vias de transporte sobre a estruturação urbana. Na verdade, só o homem - as elas·
ses sociais-es trutura as cidades. Dizer, por exemplo, que as ferro v ias o fazemseria
fetichizá-las. Para que isso não ocorra e para não cairmos no determini smo
tecnológicodos transportes (Gottdiener, 1985 , 44), vão ser dedic a da s algumas pági·
nas para proporcionar ao leitor o enten dimento da re lação entre os transportes , as
localizações,a valorização da terra e a estr uturação urbana.
Tratar-se-á neste momento da terra urbana apenas, embora a essência do
assunto aqui abordado- a acessibilidade e as localizações - va lha também parao
espaço regional. Entretanto, a essência a que nos referimos é mais evidente no caso
da terra urbana do que no da terra rural.
É um equívoco a idéia de qu e a terra urbana é dom gratuito da naturez a, de
que por isso não tem valor ou não é possível controlar sua oferta. Tratar a terra dessa

70
maneira é equipará-la ao ar, ou mesmo às águas ta l como se encontram na natureza
- mas não àquela água que sai da torneira em nossas casas. Com a terra é radical-
mente diferente. Considerar a terra urbana produto não produzido, só porque sua
base material o é, é o mesmo que reduzir um produto produzido à sua matéria-
prima. Reduzir a terra urbana a apoio fisico é não só reduzi-la à sua cond ição de
matéria-prima, como também a seu aspecto mais inconseqüente e irrelevante, o
"começo da mobilização do espaço para permitir sua produção", segundo Lefebvre.
Esse autor expôs com clareza o proces so de produção do (valor) espaço, distinguin-
do-o de sua matéria -prima, o solo, no conceito fundiário anligo. A riqueza do texto
justifica uma longa citação.
''A mobilização do espaço para permitir sua produção tem exigências severas.
Ela começa- é sabido - pelo solo, que, de início, precisa ser arrancado da propri-
edade do tipo tradicional, da estabi lidade, da tran smissão patrimonial - não sem
dificuldades e concessões ao proprietário (as rendas fundiárias). A mobilização se
estende a seguir ao espaço, subsolo e volumes acima do solo. O espaço inteiro deve
receber valor de troca lgrifo no original]. Ora, a troca implica intercambiabilidade. A
intercambiabilidade de um bem faz dele uma mercadoria, análoga a uma quantida-
de de açúcar ou de ca rvão; ela exige que o bem seja comparável a outros bens e
mesmo a todos os bens do mesmo gênero . O 'mundo da mercadoria' com seus tra-
ços se estende às coisas e bens produzidos no espaço e, de suas circulações e fluxos,
ao espaço inteiro que toma assim a realidade autônoma (na aparência) da coisa , do
dinheiro.
O valor de troca - Marx, depoi s dos 'clássicos ' , mostrou-o para os produ-
tos-coisa - se exprim'e em dinheiro. Outrora, vendia-se, alugava-se a terra. Hoje,
compra-se e vende-se (mais do que se aluga) um volume: apartamento, habita-
ções, peças, andares, terraços, equipamentos diversos (piscinas, quadras de t ênis,
estacionamento). Cada lugar permutável figura assim no encadeamento das ope-
rações mercantis - oferta e demanda [grifo nosso] formação de um preço (os pre-
ços guardando aliás um vínculo elástico com os 'custos de produção ', isto é, com o
tempo de trabalho social médio necessário para a produção). Neste ca so, como
em outros, diversas causas perturbam e complicam esta relação, notadament e a
especulação ... os preços se afastam dos valores e custos e produção lgrifo n oss o1...
A comparabilidade indispensável foi atingida pela produção de 'células' prati ca-
mente idênticas"(1974, 388-89). *

'" La mobilization de !'espace pour p e rm e tre sa pr o<luc tio n n de s cxige nccs sévcrcs . Ellc commc ncc , 011 le
!>ait, p :.irJe sol, qu ' il faut d'ab o rd arr ac hc r ii la pr opri é té tlc typc traditi onel. à la sta bilil é , n la transm iss ion
pa trimo n iale. No n sa ns difiwlt és et co ncess ions au pr o priéta irc (lcs rent es font"icres). La mobilizmicm s'érend
ensui te à !'es pa ce, sou s -sol ct vo lum es a u-d c.ssu.s clu so l. ~és pu cc e n tlcr do it recevoir vnle1trtl'éc:hange
!grifos no origin al!. Or, l'éc hang e impliqu e l'inl e rc ha n gca bilít é. t:é ch a ngcab ililé d'un b ic n la il de lui un e
marc h a ndi sc, a nal oguc à un e quanlit d d e sucrc ou de ch arb o n; c Uc ex ige qu ' il so it co mp arab lc à d 'au lrcs
bie ns el m ê m c à tout s lcs bicn s du mê mc ge nr c. Le 'mond e de la ma rchandi se', avcc ses tra its, s'étc nd des
choses ct bic ns produits dans l'éspa cc e t de le ur circ ula tion s ct ílu x, à l'es pac c c nli e r, qu i p rcncl ain si la
réal itc auto nom c (cn apparen cc) de la c.:ho sc, de l'a rgc nt .
La va le m d'éclwng e - Marx, apr és lcs 'class iqu cs', l'a monlr é po ur lcs produil s -ch0!>CS- :.'ex prim e e n
arge nL. ]adi s, o n vcnclail, on louail un e lc rre. Aujourd ' hui 0 11 ach c lc c t ven<l (plu s qu 'o n J\C! lou e ) un

71
Destaque-se nesse trecho a sutil dif ere nç a e ntre espaço produ zido e solo(a
terra do tipo tradicional); a distinção entre o espaço socia l - co1no um todo-e as
estrnturase objetos (edifícios, casas, ruas, infr a-es trutura, etc .) qu e dele são elemen.
tos constitutivos;a colocação do espa ço co n10 valor e con10 m ercado ria; a clara colo-
caçãodo espaço como frnto de um proces so de produç ão, c om seu custo de produ.
ção;a existência de oferta e demanda de espaço, tal co mo ex iste ofe rt a e demanda de
águapotáveltratada; a vinculação, no mercado, entre o pr e ço e "um volume" (osobje.
tos dele constitutivos, cada um com se u valor próprio). Co mo veren10s adiante , ain-
da neste item, o valor do espaço n ão se confunde con1 os valores d esses objetos.o
valor do espaço, entretanto, é maior que o so mat ór io d esses valo res, poi s envolveo
valorda forçaproduHvarepresen tada pela e oriunda da ag lom eração. Note- se, final-
mente, que a produção de apartamentos, lotes ou escrit61ios é considerada produ-
ção;portanto, oferta de espaço. Com sua produção atinge-se a comparabilidade ne-
cessáriaà produção de mercadorias, embora, teoricamente, nunca doi s pontos do
espaçosejam iguais.São, no entanto, "célu la s praticamente id ê ntica s".
Há consenso atualmente de que o ,espaço urbano é produ zi do - todo espaço
socialo é,mas vamos nos limitar ao espaço urbano. É produzido pelo trabalho so-
cial dispendido na produção de algo socialmente útil. Logo , esse trabalho produz
um valor.Uma pergunta fundamental que poucos se fazem: qual é o produto desse
trabalho?Há aí dois valores a considerar. O primeiro é o do s produto s em si - os
edifícios.as ruas, as praças, as infra-estruturas. O outro é o valor produ zido pela
aglomeração.Esse valor é dado pela localização dos edifícios, rua s e praças, poisé
essa locaJizaçãoque os insere na aglomeração. A localização se apresenta assim como
um valorde uso da terra -do s lotes, das ruas, das praças, das pr a ia s-va lor que, no
mercado, se traduz em preço da terra. Tal como qualquer valor, o da localização
também é dado pelo tempo de trabalho soc ia lmen te nec essário para produzi-l a,ou
seja, para produzir a cidade inteira da qual a locali zação é part e.
Comoacontece com todo s os produtos do tr a balho, o capitali sm o faz o possí-
vel para transformar esse produto do trabalho em mercadoria. É verdade que nàoo
consegue totalmente, pois não conseg ue reproduzir as aglomeraç ões sociais semas
quais não há localização. Entre tant o, apr oxi mam -se disso cada vez mais , produzin-
do shopping centers e mesmo cidades (novas) inte iras, mas estes, próxima oure-
motamente, sempre dependem de um a ag lomer ação cuja reprodução escapa ao
capitaJ.Embora em teoria nunca haja duas localizações iguais (portanto não total-
mente intercambiáveis), na prática isso não ocorre. O impulso que leva à produção
de shoppings centers, hipermercados e cidades nova s é a tentativa do capital de
produzir e transfonnar as localizações em mercador ias .

volume:appanernent, logcment, picces, étagcs , lcrrasses, équip m entR divers (piscinc, tennis, parkin ~-
Chaquelieuéchangeablcfigureai11sidans l'enc haincmcn l eles opérn Lions ma rchandes- offreet rlema11dt
!grifonosso!forrnationd'un prix (lcs prix gardan t un licn d'n illeu r élasliq u c avcc les 'coú ts de productimí
c'cst-a-dircavcclctempsde travailsociaJmoycn néce ssa irc pour la production}. le i, co mm e ailleurs, diverscs
causestroublcntet cornpliqucntcc rapport, notammcnl la spéc ulntion ... lcs pdx s'éca rtcnt des valeursel
co1itsde prod11ctio11
!grifonosso)... La comparabi lit é indispen sable a été a lt e intc par la productiondes
'cellules'quasimentidentiques."

72
Voltemos a Lefebvre, para falar do "ponto" corno o fruto do t rabalho resultan-
te da produção do espaço.
"O adquirente de espaço continua a adquirir um valor de uso. Qual? Ele não
compra apenas um volume habitável, permutável com outros ... O adquirente é de-
tentor de uma distância, aquela que interliga sua habitação a lugares, os centros de
comércio, de trabalho, de lazer, de cultura, de decisão. Aqui o tempo entra nova-
mente em cena ( idem, 391)."*
A distância é tempo; não apenas tempo de um deslocamento, mas do
somatório de todos os deslocamentos, bem como seus custos e freqüência s para
todos os membros da família. Desenvolveremos essa questão no último capítulo.
A terra urbana é matéria natural trabalhada-altaesofisticadamente-como
um avião ou um aparelho eletrônico. Nas últimas décadas generalizaram-se as ex-
pressões "ambiente construído" -built environment, cadre bâti- e ''produção so-
cial do espaço" referindo-se especialmente a espaço urbano. O aparecimento des-
sas expressões visa veicular justamente a idéia de que o espaço urbano é produto
produzido, não é dom gratuito da natureza; é fruto de trabalho social. A grande ques-
tão então é: se é produto do trabalho, qual o valor produzido? Alguns acreditam que
esse valor são os edifícios, as ruas, as infra-estruturas. Nada mais equivocado. O
valor do espaço é diferente do valor dos elementos que o constituem . A terra urbana
é mera matéria-prima daquele produto, como o alumínio o é do avião. O espaço
produzido tem valor, e seu preço, como o preço dos produtos produzidos em geral,
é a expressão monetária desse valor. Lojkine (1981, 163) chega próximo à essência
da questão quando afirma: "Marx reduz, em O Capital, o valor de uso do solo a duas
funções: a de instrumento de produção (m inas, quedas d' água, terreno agrícola) e
de simples suporte passivo de meios de produção (usina) de circulação (armazém,
bancos) ou de consumo (mo radias, etc .). A própria terra age como instrumento de
produção, o que não é o caso (ou pelo menos se verifica dentro de limites muito
estreitos) de uma usina, onde o terreno serve apenas como fundamento, como lo-
cal, como base de operações delimitadas" (citação de Marx, grifos no original). Ora
- prossegue Lojkine (idem, 164) - "um terceiro valor de uso do solo assume, a
nosso ver, crescente import ância com a socialização das condições gerais de produ-
ção: o que chamamos de capacidade de aglom erar, logo de combinar socialm ente ,
meios de produção e meios de reprodução de uma formação social" [grifos no origi-
nal]. Os dois valores de que trata Marx são totalmente insuficientes para a compre-
ensão do espaço so cial, especialmente o espaço urbano. Em primeiro lugar porque
a terra urbana não é usada como meio de produção. Em segundo, reduzi-la a "su-
porte passivo" significa esvaziá-la de toda sua verdade. "Suporte passivo'' qualquer
terra é, do Saara ü Quinta Avenida, do interior da Amazônia à avenida Rio Branco. O
terceiro valor de uso de que fala Lojkine é então fundamental. En1 outra pa ssagem

• ''l'.a cqu é rcur d'éspacc continue à acheter une val e ur cl'úsa gc Laqu ellel TI n'a ch é tc pa s seul e menl un
vo lume hab itablc, commutablc avec d'autrcs ... l:a cquércur cs l prcncur dune dis lan cc, cclle qui rcli e s on
habitation à de s lieux, lcs centres de commerce , ele travai! d e \ois ir, de cultur c. de décision . lci, le tcmps rc nLrc
cn scênc (idem, 391)."

73
p

lidem . 15-t) da mt\smn obrn, e sse ,1utor considera que esse valor de uso residen
"propril'd,tdl' (lllé tem o próprio usµnço urlw n o rlcft1.:er com que se relncioneme11 rr
si os diferentes rlemt•ntos dn ridndc " [grifos no orig i nnl ]. É o que nós chamam05
de lonli:aç,10 ou po nto . Note-se. entretanto, que Lojkine pnr ece n a tu ralizara lo
c-aliza,·ão: dr fala de uma "capncidnde " ou "p ro priedndc" da terra como quemfa
dfts ··propr iednctt,s" naturnis dos corpos, de que no s faln a física. A capacidadede
aglomrrar n.1o é um dado dn nnturc zn. nã o e tmrn "pr o pri edade"; é um valord
nso produzido .
Queiroz Ribeiro ($.d .. -t0) nega que a te rra tenha valor por não ser um bem
produzido: assim. "não havend o n produç ão d e t er ra não p o d e haver lei da ofena.É
a dema nda por terms que suscita a oferta, o que equivale a di zer que o preço daterr
~ detcnninado pela demanda ". Esse autor reco nh ece a itnp ortâncin da acessibilid a-
de tlocalização ) nos efe itos fiteis rlc aglomeração. "Para os capitais industria l, ban
cário e romercial. a terra urbana tem o pap e l de pern1itir o acesso aos efeitosútei
de aglomeração. Ou sejn, segundo o capital específico. cada terreno panicularpe
mile maior ou menor valori zaçã o pelo acesso que s ua locali zação propiciaao
efeitos títeis de ag lomera ção (s.d., 41 )." É válido obs e rvar qu e não é apenas parao
capim! que a terra permit e acesso ao s e feitos út e is da aglomera ção - para a ío~
de trabalho também, da s residências à esco la, ao la zer, etc. Isso a que Lojkinecha-
ma de capacidade de aglomerar só é po ssí ,·e l se exis tir ess a formid,\vel obra doua-
balho humano que é a cidade, e especialmente seus sisten1as de transporte. A1er
urbana só interessa e nquanto "terra- localização'·, (Villa ç a 1985, 5), ou seja, enqua
to meio de acesso a todo o s ist ema urbano, a toda a cidade. A a cessibilidadeé ovalo
de uso mais impo rtante parn a terra urbana , embora tod a e qualquer terra o tenh
em maior ou menor grau. Os diferente s ponto s do espaço urbano têm diferem
acessibilidades a todo o conjunto da cidade. A a cess ibilid ade de um terrenoao
conjun to urbano revela a quantidade de trabalho socialmente nece ~ário
dispendido em sua produção . Quanto mais ce ntral o terr e no , mais trabalho e:..is
dispendido na produção de ssa centralidade, de sse va lor de uso. Os terrenos.d
periferia têm menos trabalho social in co rp orado en1 s u a produç ão do que oscen
tra is. Daí nossa expre ssão "terra-localização ", ao lado d e "te rr a-matéria" e "terra
ca piral,'' criadas por t\ larx .
A localização ou ponto é o va lor de u so produ z id o pelo trabalho coletir
dispendido da const rução da cidade. A exp ressão ponto é extremamente reliz.Éreal-
meme espantoso como um conceito tão popular , tão co mum, tão impo rtante nanos
sa vida diária não tenha chamado mais a atenção do s es tudi osos do espaço urbano
• Não comprei aquele apartm .nento porque não gostei d o ponto.
• A loja de fulano vai bem porque o ponto é ótilno.
• É um sacrifício buscar as cria n ças naquela escola p orq u e o ponto é péssimo
• O shopping cen ter faz o ponto .

À frent e do estabe lecimento comercial vê-se un1a faixa com a inscrição:"Pn·


sa-se este ponto ". Outra expressão popular extren1ament e fe liz. l'vlos tra que "pas
sa

74
o ponto" significa pagar algo, não pelo terreno, não pela edificação, não pelas suas
instalações. Não é também um aluguel. Paga-se o quê? Paga-se a localização, sem
adquiri-la, porém. É uma espécie de adicional de localização para quem não vai
compra r o terreno.
Sendo receptáculo de contínua acumulação de trabalho humano criador de
valor, a tendência é a de que o preço da terra urbana sempre aumente. Pode, even-
tualmente, oscilar, como em qualquer mercado, mas a tendência é de aumento.
Campos Filho (1992, 60) cita três pesquisas que mostram empiricamente "o cresci-
mento, em valor rea l, do preço médio da terra, ao longo do processo de urbanjza-
ção" em cidades brasileiras: em Belo Horizont e, o preço passou cio índice 100 em
1950para 856 em 1979. No Rio de Janeiro, variou de 100 em 1957 para376 em 1976 e,
em São Paulo, de 100 em 1903 para 867 em 1978.
Milton Santos revela toda a riqueza da localização e a import ância da acessi-
bilidade. "Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, con-
sumidor, cidadão depende de sua localização no terr itório. Seu va lor vai mudando
incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibili-
dade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas
com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm
valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mes-
mas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga pro-
porção, do ponto do território onde se está(1987, 81)."
Todo terreno é único, é verdade. Teoricamente é impossível haver dois terre-
nos com a mesma localização, já que esta é irreproduzível. Entretanto, só mesmo
em casos extre mos e raros (embora haja muitos deles no Rio, por exemplo), a posse
de um terreno envo lve um monopólio. Em geral, só de maneira extrema é possível
dizer que não existem duas locali zações iguais. Na prática, há muitas localizações
tão parecidas que, para fins práticos, podem ser cons iderad as iguais. Toda oferta de
habitação ou escr itórios - pa ra compra, aluguel ou venda - corresponde a uma
oferta de terra e de uma localização. Para fins práticos, a produção imobiliária, legal
ou ilegal, formal ou não, oferece milhares de lotes na periferia, praticamente iguais
un s aos outros. Existe oferta de centenas de apartamentos de dois quartos, muito
parecidos entre si, na zona Sul do Rio ou na zona Norte de São Paulo. A terra -locali -
zação só é monopólio- ou melhor, o monopólio só pesa significativamente no preço
- em casos raros, como a frente para o mar em Ipanema, ou a vista para o Pão de
Açúcar. Toda terra tem, é verdade, algum grau de monopólio, mas na maioria dos
casos esse grau é pequeno na determinação de seu preço. A terra-localização, como
qualquer produto produzido, tem seu preço determinado basicamente pelas con -
dições de sua produção (pelo seu custo de produção, como disse Lefebvre) e pelo
seu valor.
Vamos desenvolver melhor o valor de uso da localização intra-urbana. É o
valor de uso da localização enqu anto parte de uma aglomeração social.
Em diversas passagens de sua obra, Marx refere-se às forças produtivas, sua
natureza e seu papel. Recordemos alguns aspectos desses expedientes que visam

75
(
F

.:i :--n~ ·:hic2d e do trabalho. Um deles é a cooperação,


---:~ ...41.....:- irmã siamesa da
::"\":.~.:-.:" ::-::. ~·ho. ~b:x 'f'Stab-elec-euma distinção entre as formas individuai s (di-
~:-7~':-.:i' -=-~"'.:~:::ic~ ] ")capital ista no ní\'el da unidade produtiva ) e as formas
~ .:'" .:\..X;'t'::-'.:Cl"' !'re1e11demo!- explorar essa distinção.
s::-...-:..:_ A cooperação , na esfe-
::: :-~.:.. .-=:--.: :- .::-3 ~..:.r.10 .1s~ociada às a glomerações, às cidades enquanto aglome-
~ -~ ~ :--~ a ;--n:Ui'"l1iJ,3defJsica entre os trabalhadore s é condição nec essária,
- -
e ·-:::-.,.-::.::_:, :-::~-~r. :.e~ pa.r.1 a C'Oopera çao . -
~, ~:e-:?-~ i C'Oo·peração e à di\isão socia l do trabalho como "causas ge-
-:...~ .:..::~ ~ :: ... .:_ ,?.t_'i:t,!Thidade do trabalho", das quais são oriundas "forças natu-
-....-:...:,.
--:::.5 ~"'---~:- ~ ::-.:~h(1· \.: d. L3. \ ·. 6. 738). Noutra passagem fala do "de senvolvi-
~:.:-..::.··:-:-::- :--~it:iY::3 $OCi~ do rrabal ho ··. englobando, sob essa expressão, além
-~=:!,-.:.:- ~ .:..::j_!ns..1.0 s0ebl do trabalho , a aplicação de maquinário em gran-
..:.:...:--.:-,_
.::-"'~-.::....:. .:.;"::: ·\- .::..:-~4'. Em .-\ ideologia al emã (s. d . v.l, 35 ) Marx e Engels se refe-
~:. :~-;--:::-.:::;3.:- .:x:ffi.J, :-t n,-...1 produti Y-a;colocam essa expressão ent re aspas ao afir-
~~~- - . '"-r-' --:...~: 2.:>:_:::1L ado modo de produção ou estágio de desenvolvimento
-_::--...=:: ~~.::--':':::::..~ ?ermanenteme nte ligados a um modo d e cooperação (...)e
- ~ ~ ~- ..:.:- :..:!i:'X.")i~::ic-lo ê ele mesmo uma ·fo rça produtiva' ". Em Grundrisse
_? - .x:"-.: _~::·-.:::: ·--:-~ .:-orno toda s as forças produtivas do trabalho, co mo aquelas
~ .:r::::?:=::-~ ~ ~11 rle sua in tensidade, portanto de sua extensiva realização,a
~-ic::.:.:::.:- ::~ ::-:: ...~";.2co:-e-s- a cooperaçã o e a divisão do trabalho enquanto con-
- .:-~ ::.=..:.~::>":::.::: ~ tfa ?:Odurhida de do trabalho - aparece como força produti-
!:.;... _-:..:::,- · i .!.. -=,~~"::'! .x-~e::h--a do rrabafüo. seu caráter enquanto trabalho social,é
'3:_--=:::: =-:.
-- - ---:~ ., .:ocaoital"hrrifos
:-.:::-..:.~:i: " ~
no original]."'
!..::-t'.:~..:...:-2.:'.\~!2..T.X ceà:ic.a o capíruJo XI do livro l d e O Capital, onde a ana-
- '5: - :: i:..."1"?-.:= =:...::.2<::? produti\-a. ou seja. a cooperação diretam ente promovida
?=:: .:::::.--:--~.::. :)e.;:.:-4se_e aiirm:uqueo poder de ataque de um esquadrão de cava-
-=.:. _:_r:_~.:::..:. =~
~-.....~ fo:,;.as indhiduais de cada cavalariano, acrescenta: "Do
:=:'!:-.-.: =~..:::.. :::.:~:::::2 ~3.5 ;orça s mecànicas dos trabalhadores isolados difere da
_-_-.:::.::-_- ~..:; ....~se .:::::!$-"'~\U.\c> quando muilas n1ãos agem simulta neam ente na
=~- -.;~-=..:-.==.s.::.,-:sz. - ?OT exemplo. quando é n1isrer levantar mna carga , fazer
.: -::.:-~ :;::-~~ ::-.2...--:..,ê ou rcn10\--er un1. obstáculo .. . Não se trata aqui da eleva-
'!:

.::i.: ~ : .°"...":.::. ;:-~_:::'\'2 ~.:ih~cual arran~s da coo pera ção. ma s a cri nção de uma /Dr-
_-..:;~<i.; ,;--e :x~ ~-::.::i!!C}5so '. a saber. a força cole tiv a'' (O Capim!. L. l. v. l. p. 374).
..::C-=. ~ ::::=-:-::.:- :! es...'2 altura . que ao analisar n cooperação co m vistas às
~~.=,-=-:-:.:..._~ --=- ::=-o e.s:amos tratando das co ndi çõ es gerais de produção,
.:...--:.J.S.
_:-_?-=-.:.~..=:::-.=:-::::> .2. ~~ .?S~izdz - O que desracan1os aq ui é a força co letiva como
:::=. "iDC :- =~ ~~ e:-?--~~::-o :'.:as2.g?omerações en1 coo peração . A u rba n iza ção é uma
: -1 ;::..i.:.:_:::-::. $-"\.:.-=... ::.~::, h:'!d3 .arraYés das aglomerações socialmente produzi-

• - ic ....t.....-:C!!l::::!I'!'
J~ :lfb!,:,-.: 1 :-.. tha:-e wtm::h detennin<' lh e dc-~rc~' of it:- intensit, ·, and hcncc oí
~ !!::f~· '! - ·n·c:. ~ .:s..."=..:!l'.:-, cf "·orl..ers. - th~' coopera 1io~1 .uid che di\ ·isio ·n of labour :is
~..,
-:m,..m :-ir.n. :..".Cl.::J:.I.C,~
:.: ~f ,:1--.::>.:::~:-~~ e-[ J:"l!"to,.u - 3ppears :1s thc p ro â11 til'I' 1x>1,• 1•1 nf ra11itnl.Th,·
.- ,,._-~~ x ":!:: :,: ~:i= .i:s .:::;:u__"l}:-,:,e;as s..-..::...:::.J
.~~our. is then~fore lhe ct>lfL-ctiPr.' ,,,,,w,•r of capit.1I."
das (ao contrário daquelas diretamente produzidas pelo capitalista) como condição
para o desenvolvimento da cooperação, também no nível social (em oposição à co-
operação diretamente produ zida pelo cap itali sta) . Note -se que não é possível asso-
ciar aqui a aglomeração urbana à d esordem ela concor rência que Marx diz existi r na
sociedade. Numa v isão socia l ampla, as cidades são uma força produt iva e, como
tal, trabalham seg undo uma lei , uma lóg ica e não cm desordem. Aprese n tam uma
forma própria de cooperação - traba lhand o segundo uma lóg ica, um "plano ", na
definição de Marx , (s.d. L. l , v. l, p. 374)-, tanto que potencializam a produtividade
do trabalho soc ial. Se as cidades n ão apresentassem essa força co let iva, não teriam
o desenvolvimento que tiveram so b o capita lismo. Portant o, como faz Lojkine (1981,
137), deve -se estender às cidad es o co nc eito d e cooperação "contanto que ele não
seja redu zido apenas à associação dos trabalhadores na unidade de produção, mas
sim que se torne um instrwnento essencia l do de senvo lvi m e nto na produção
social" [grifos no original].
Marx deixa clara a existência de dois excedentes: um oriundo da s forças pro-
dutivas que potencializam o trabalho individual e outro decorrente da s chamadas
"causas gera is da elevação da produtividade do trabalho" ou "força produtiva soc ial
do trabalho". A questão é assim colocada por ele referindo-se à construção de estra-
das, mas propomos a transferência do raciocínio para as aglomerações representadas
pelas cidades. "Co ncentração é sempre acréscimo da parcela da capa cidade de tra-
balho que cada indivíduo pode empregar na con strução de estradas, além de seu
trabalho particular; mas não é somente acréscimo.A unificação de suas forças au-
menta suas força s de produ ção; entretanto , isso não significa de maneira alguma o
mesmo que dizer que todos num e rica mente somados, possuiriam a m esma capaci-
dade d e tra balho que teriam se não trabalhassem em conjunto , portanto, se à soma
de suas capacidades de trabalho não fos se acrescentado o excedente existente so-
mente no e através de seu trabalho unificado e combinado ( 1977, 528; grifos no
original)."*
Esse valor de uso oriundo ela força produtiva social do trabalho da aglomera-
ção cidade cons iste no valor de uso das localizações. No valor de u so dos pontos o u
localizações está incluída uma parcela desse excedente decorrente da força produ-
tiva soc ial do trabalho; sig nifica isso que inclui uma parcela correspondente única e
exc lusivamente ao valor de u so decorrente de sua in serção num a aglomeraç ão cuja
produção se faz' 'segundo um plano ". Há outras parcelas, como o va lor ele uso decor-
rente da infra -es trutura (q ue não depende de de slocame nt o), por exe mpl o. O valor
do pont o, entretanto, é o que mais pesa no valor, e portanto no preço, da lo ca liza-
ção. Por causa dele é qu e um terreno no centro de São Paulo tem muito mais valor

• "Co11ccnlratio11 is nlways lhe a cldilion ofthc parl uf lab our ca pacily wh it:h cac h indivicluul can cmp loy on
road building apn11 lrum his pai ticuhlr work; b11t i1 is 1101011/ytultl ilw11. Tlw unili cation of their forces
in crca ses thcir Jorres o[ prod11ctio11; but Lhis is by no mea ns Lhe sa mc as saying thnt ull of th cm arlclcd
logether , num cric;illy would po ssscss lh e sa mc labo ur capaci ty iíthc y did not work tog,:tlwr,hrnct', il'lo thc
sum oíthcir labour ca p aci lies wcrc not nddcd 1hcsurp/11sexisting on ly in ,md l hrough th cir 1111itcd. co1111Ji11<1rl
labour ."

77
que um no centro de Ca mpinas, apesar de n n1bos tere n1 o n1esmo valor no tocanteà
infra-e trutura Es e valor não se confu nd e, po r co n seg u inte, com o valordosedífí.
cio,, dns rua ·, da infra-es trut u ra, em born o va lor deste s se tran s fira tamb ém parao
\alar do ponto. Est.í ai a espec ific idade do va lor do ponto, da loca lização ("pura")e,
portanw . da terra urbana. Tal va lor é captado co n1 clareza pe lo s di ferenciais de pre-
ço entn ..dots terrenos . um ce nt rn l e o u tro per ifé ri co, d e u ma c idade que não tivesse
nc-nhuma infrn-e truturn, ou e nt ão pe lo o p os to - p e lo d ifere n cia l de pre ço, entre
dai, terreno· , ·ago , um cen tra l e o u t ro p e ri fér ico, d e u ni a c idade onde Lodos os
terreno . ciw•ssem todo os tipos d e infr a - es trutur a (ve ja Vill aça , 1985 ). Há décadas,
Lénm, por exemplo, estabelecia a re laçã o e ntr e va lor d a terra e acessibilidad e,ao
apontar a e peculação fu n diár ia pr o n1ov id a p e los b a n cos, aprove it a n do -se das vias
de tmnsportes, "poi a alta do p reço dos ter re n os, a po ss ibilid a d e de ve ndê -losvan.
rn10-~mcntc c m lotes, etc. d cpe nd c n1 s obr et udo d a co modid ade das comunica ções
com o centro da cidade, e essas co muni ca ç ões estão pr ccisa n1ente n as mãos das
grande compa nhias ligad as a esses m e smo s b a n c o s p e lo s is t e m a d e participa ções
e de repnrtição dos pos tos de dire çã o" (Lê nin, 198 5,82).* No te-se q u e Lênin estáse
rcfrrindo ao transportes q u a ndo fal a d e "cornuni c a ções c o m o ce n tro da cidade".
Se e, 11ves e se referindo re alm e nt e a Mcomunicaç õ e s", n ão pr ecisaria enfatizar que
era com o centro da cida d e, já qu e a "con1odidad e d as c omuni cações" é a mesm a
para qualquer parte d a c idad e.
Os poncos do es p aço intr a- urb a no c ondicionan1 a p art icipação do seu ocu-
pante tanto na força p rodutiv a soci a l repr ese ntada p e la c id a d e c om o na absorção,
ntr'3\ és do consumo, das va nt age n s d a aglomeraç ã o . É esse o va lo r d e u so do ponto
- sua capaci dade de faze r com qu e se re lacionern e ntre s i o s di ve rso s elementosda
cidade. Esse "re lacio n a n1ent d' se dá de diver s a s forma s e por m e io de diversosflu.
.>..os- o transpor te de m erca d or ias, d e c on s u1nidor es, d e for ça de tra balho ouas
comunicações - , os q ua is tê n1 impo r tâ nci a e p a p é is di fe r e nt es c on forme setrate
de e~paço regional ou in t ra -u r b a n o.
Dessas co nsid e rações d ecor re qu e n o es p aço urb a no n ã o h á a re nda diferenci-
al que Marx desenvolve u para as terras ag ríc ol as. É um e quívo c o co n1p ara r a fertilid a·
de da te rra agríco la - "u m dom gra tuit o d a n a tur eza" - co m a loca lização, frutode
trabalho socia lm e nte necessário. Aqu ilo a qu e se c h a rn ar ia de ren d a di ferencialno
espaço urbano é na verdade um d ife rencia l d e va lor. Os t erre n os tê n1 pr eços diferen·
tes porque têm valores d ifere nt es, e n ão p o rq u e p ro d u za n 1 rendas d ifere ntes. Avalori·
1,.açãode um terr e no vago é acréscimo d e va lor res ul ta nt e da pro du ção da cidade ena
ddade. Te rreno vago não gern re n da dif ere n c ia l. A locali z ação , ou a "terra- localização
(Villaça 1985), te m va lor; se u p reço, p o rtan to, é a expressão mone tá ria desse valor.
A~ mudanças de uso o u tran sfo rrn ações urb a n as n ão ge ran1 re nd as diferen·
ciais, mas reajustes o u a tu a lizações d e pr eços da terra , o p reço osc ilan do em torno

• ... car IJ mont~c du pdx dcs tc rrain s, la poss ib ilit é de le s vc ndr c nvn lagcu sc m c nl par lots etc. dépe11dcn
1
su1101uc la co mrnoclité eles com mun ica t ions avcc lc ce nt re de la v ill c c t ces comnrnnications sonl
p!'l'cascmcm JU.X mains dcs grandes co m pa ngni cs li écs à ccs m C:m cs bn nqu cs p ar lc systémc clcporticipnt ions
cr la répJ 11ition dcs postes direccor iaux.''

78
do valor. A terra ainda ocupada por uma residência de dois pavimento s na avenida
VieiraSouto, em Ipanema, está com a realização de seu valor obstruída, entrava da ,
por essa residência. Sua demolição, por exemplo, para nela co nstruir um edifício de
apartamentos, fará com que esse valor seja "liberado"; possibilitará atualizar o pre-
ço do terreno, tornando-o cond izente co m seu valor atual. Somente com a demoli-
ção da residência o preço poderá se r liberado. A demolição, entretanto, é condição
nec essária mas não suficiente para a atualização do preço. Esta só ocorre quando o
terreno for efetivame nte utilizado por uma atividade e um edifíc io condizentes com
seu va lor. No mercado , condições diversas podem fazer com que o preço dos terre-
nos oscile em torno do va lor - como ocorre com os preços em geral. Assim, o
incorporador libera o preço do terreno ao demolir a casa. Define, então-tem con-
dições de fazer oscilar o preço em torno do LJalor- , um preço para a compra do
terreno e outro para su a venda, depois de edificado, decorrendo daí seu lucro. Ape-
nas os terrenos vagos têm seu preço cont inua mente atualizado; só, entretanto, quan-
do estiverem com o uso certo no momento certo, estarão com seu va lor plenamente
realizado. O terreno urbano vago ajuda a elucidar a di stinção entre a renda e o valor
da localizaç ão. A renda diferencial agrícola não existe se não houver atividade pro-
dutiva no terreno, já que ela é captação de parte do valor criado por essa atividade.
Se o terreno urbano vago apre se nta um acréscimo de valor, esse acréscimo deriva
da alteração de sua localização e esta, por sua vez, d e riva do trabalho social
dispendido na produção de todo o espaço urbano. Tal alteraçã o ocorre também na
terra agrícola, e nela também não é renda.
O preço da terra urbana tem, portanto, doi s componentes. Um que decorre
do seu preço d e produ ção, e outro que é um preço de monopólio . Quanto à renda ,
se considerar mo s - como deve ser considerada - a renda absoluta uma forma de
renda de monopólio , a única renda que existe no caso urbano é a renda de monop ó-
lio. Esta, em alguns casos- a minoria- , pode ser enorme, e em outros- a maioria
-, pode ser pequena. Em qualquer caso, contudo, afetará o preço do terreno .
Seja no espaço intra-urbano, seja no regional, a estrutura espacial advém
das transformações dos ponto s: se us atributos, valores e preços, seus usos, os quais
decorrem, em última in s tância, da m elhoria de acessibilidade. Isso ocorre, seja na
exploração de terras valorizada s p e las ferrovias através da s ditas "co mpanhia s de
colonização" (das quais Londrina e Marin gá não são se não alguns portentoso s
exemplos), se ja nas grandes obras urbana s que ou introdu zem novas acessibilida-
de s - a avenida Rio Branco, as várias ave nida s beira-mar e os túnei s, no Rio; a
Nova Paulista, a avenida Luís Carlos Bcrrini ou a Nova Faria Uma , em São Paulo; a
Via de Contorno Norte , em Florianópolis, as já mencionada s renovações dos ce n-
tro s de Porto Alegre e São Paulo na década de 1940 , etc. - , ou aproveitam a aces-
sibilidade já existe nte, como no caso do desmonte do Morro do Castelo, no Rio de
Janeiro.
As acessibilidades variam ainda de acordo com os vefcuJos utilizado s. Variam,
portanto, com as classes so ciai s: com a distinção , por exemplo , entre a acessibilidade
para quem depende de transporte público e para quem possui transporte individual.

79
Sendo os transportes intra -urb anos os maiores determinante s da s transfor-
n1ações do s pontos, as vias d e transportes têm enorme influência não só no arranjo
int e rno das cidades, 1nas também sobre os di ferenc iais de expansão urb ana.Vamos
ver como elas opermn no espaço urbano.

Vias regionais e urban ização


Re iteran1os aq ui que o ob j eto desta obra n ão é o proce sso de urbaniz ação,
mas o de estr uturação do es paço intra-urbano. Portanto, quando se diz, por exem-
plo, que unrn via provoca o crescimento ou desenvolvimento urba n o nesta ou na-
quela direção, esta mos nos referindo ao arranjo espacial do cresc imento, não à sua
causa primeira. É claro que um a via, por s i, n ão provoca nem crescimento nem de-
senvolvime nto urbano.
O prime iro efeito que uma via regional ou terminal d e tr ansporte urbano pro-
voca nos terrenos ad ja centes é a melhoria d e s ua acess ibilid ade e, daí, sua valoriza-
ção. Corno exposto aci ma , essa expressão deve ser tomada no sent ido rigoroso da
teoria do valor- tr aba lho. Há um au1nento d e valor - criação de valor-, que é fruto
do trabalho socía ln1ei1te n ecessár io dispendido na construção da via e na produção
de todos os pontos que a ela po ssa m se r contatados - todos os pontos do espaço
construido. O va lor da terra que passa a ser determinado por uma via é em geral
maior que o da própria via. Como vimos, o valor es pe cífico do espaço urbano-a
localização - não se confunde com o valor da s estruturas - ed ifí cios, redes ou es-
tradas - que o co nstitue m.
Em virtude do au m ento da acess ibilidade, ern últim a instância, ao centro da ci-
dade, aqueles terrenos adjacen tes trarão economia d e transport e a seus eventuais ocu-
pantes; seus valores se alterarão e se u s propri e tário s embolsarão essa valorização.
A garantia de uma demanda e a po ss ibilidad e qu e os proprietários da terra
têm de especu lar fazem com que a terra r u ra l atinja o estágio de potencialmente
urbana, antes, no tempo e no es pa ço, de s u a efe tiva ocupação por atividades ur-
banas. Note-se que estamos falando de acess ibilidad e ao ce n tro e não "proximida-
de à cidade "; não se pode dizer q u e aq uel es ocupantes procur am pr oxim id ade (me-
lhoria de acessibilidade) à cidade: e les proc ur am a c idade. Como manifestação do
crescimento urbano já "são cidade" (do ponto de v ista socia l e eco n ômico) e, quan-
do se localizam naque les pontos , já estão na cidade (do ponto de v is ta espacial)-
e não próximos a eJa. Daí a afirmação de q u e os ocupantes procuram proximidad e
ao centro da cidade.
A simp les proximidade física de um terreno rural à c id ade não o torna poten-
cialmente urbano. É necessário haver acessibilidade, isto é, um s istema de transporte
de passageiros a preços compa tíve is com os que podem ser pagos pe la demanda. Nesse
sistema cabe um destaque às vias, aos terminais e aos pontos de parada dos veículos,
que são os elementos onde se concretiza ou pode se conc retizar a acessibilidade.
Para examinar essa que stão, é ilustrativo focalizar os casos extremos de viase
term inais que não exerce m nenhuma atração sobre a urb anização, precisamente por-
que não oferecem acesso a transporte intra-urbano, n1esmo q u e se lo calize m dentro

80
de cidade s. São os casos- ext remos, repetimos - das aerovias e do s aeroportos, ou
das hidrovias e portos. Um porto ou aeroporto podem até fazer surgir uma cidade em
torno de si, mas não pelos tra nspo rtes que oferecem e sim pelos empregos; estes , sim,
podem vir a gerar um a demanda por tran sporte - que será intra-urbano e nada terá
que ver com o transporte oferecido pelo porto ou aeropo rto. Com o tra nsporte extra-
urbano apenas, sem o transporte intra-urbano de passageiros,não pode ha ver expan -
são urb ana. O oposto oco rre com um a rodovia qu e, ao longo de todo se u percurso,
oferece possibilidade de concret ização de transporte urba no de passagei ros; ou com
uma ferrovia, onde a acessib ilid ade se concret iza som ente nas esta ções. As linhas dos
grandes transat lânt icos não atraem a expansão de uma cidade ao longo do litora l,
contínu a ou intermitentemente, nem a formação de povoados em locais intermediá -
rios da costa. Entretanto, os serviços de lanchas de passageiros ent re cidades, por apre-
sentar possibilidad e de fazer um ponto de parad a em qu alqu er lugar do litoral entr e
elas, podem gera r povoados e futuras cidades.
Nossas ferrovias foran1 co nstruída s para ate nd er a urna demanda regional de
transportes. Não foram construídas para o trans port e urb ano de passage iros. É bem
verdade qu e já em m ea do s do sécu lo XIX havia serv iço ferroviário su burbano no Rio
de Janeiro, ma s não foi esse o moti vo princip al da const ruç ão da ferrovia. As atu ais
estações suburbana s surgiram ou para ate nder a cidades qu e já existi am an tes da fer-
rovia (mesmo que dela afastadas), ou em função de pa radas ca rgueira s ou industriais,
ou então pa ra atend er à expansão urbana junto à ferrovia, em locais onde ainda n ão
havia parada. Mesmo ass im, a população e as indústrias ali se radicavam n a perspec-
tiva de qu e o acesso pud esse um dia se con cretiza r. No primeiro caso, as estações
geraram cidades. Exemplos são Santo André , nascida da estação que atendfa a São
Bernardo, ou Nova Iguaçu, que atendia a Iguassú Velha, ambas localizadas lon ge da
ferrovia. O intenso desenvolvimento urbano em torno das estações - manifestação
descon tínua do crescim ento da cidade cent ral - pa ssou a sup erar o dos povoados
que a elas deram ori gem. A Estação de São Bernardo (que depois veio a ser Santo
And ré) cresceu mai s que a própria São Bernardo , e o m esmo aco nt eceu com Nova
Iguaçu. Em ou tro s casos aind a, as estações eram ape nas paradas para carga, como se
vê pelas segu intes mençõe s feitas a localidades ao longo da então E.F.São Paulo Railway,
as quais, em 1908, estavam ce rtamen te .além do s limites metropolitanos d e então;
atendiam portanto a uma demanda regional ou extra -urb ana. "Na estação imediata ,
Rio Grande, existe uma serraria, o que dá la gar a um pequeno con1ércio de madeiras.
Negocia-se também com lenha e pa lmit os. Não há povoado no logar."Trata -se da sede
do atual município d e Rio Grande da Serra, no alto da Serra do Mar, que mais tarde
viria a integrar a Área Metropolitana de São Paulo. Refetindo-se a outra parada, a
mesma fonte afir m a: "Pirituba é a estação segu int e: se m imp or tânc ia . Exporta le-
nha, pedra s e col la" (Cunha, 1909, 320, 321). Tais localidades não era m atendidas
po r trens de pa ssage iros nem tinham estações de passage iro s, ma s já representa-
vam uma demanda urbana sobre um sistema de tran spo rte extra-urbano.
Os quadros 4, 5 e 6 m ostram a enorme multiplicação das est ações ao longo de
trecho s ferroviár ios pró ximo s a São Paulo e Rio de Jane iro . Essa multipli cação j á

81
representaumademandaintra-urbana, visando atender ao crescimentodacidade
centralao longode uma ferroviaque não foi construída para atender a seutran s.
porteurbano, masque a cidadeaproveitapara essa finalidade. Essesquadro s mos.
tramqueas estaçõesaumentavamem função do avanço da vanguardadaexpansão
urbana;comefeito,na linhaCentro da então Estrada D. Pedro IT,depoisCentral do
Brasil,entreo pontoiniciale Cascadura,surgiram catorze novas estaçõesentre185 8
e 1890,enquantoentre esse ano e 1919 surgiu apenas uma. No entanto,entre
Cascadurae NovaIguaçu(trechoseguinte) surgiram apenas três estaçõesentre185 8
e 1890,e sete no período seguinte; isso mostra que s6 ne ste último períodoavan.
guardaurbanaalcançoua regiãomencionada.
Fenômenosemelhanteocorre com a rodovia. O transporte rodoviáriocontu.
do é maisflexível, pois,em qualquer ponto ao longo da via, o potencialpodecon.
eretizar-se,
oumelhor,podeconcretizar-sea acessibilidade ao centro dacidade.sem
transbordo,inclusiveatravésde um simples ponto de parada que um ônibusinte.
rurbanofaçana árearuralpróximoà periferia urbana. Apartir de enlão,esseponlo
passaa ser servidopor transporteurbano (intra-urbano) oferecidopor umaviain -
terurbana,ou extra-urbana.É a via interurbana transformando-se em viaintra-ur-
bana.Nocasodo automóvel,o veículoé de propriedade individuale privada ,eavia
é pública;o uso do veículodepende apenas de uma decisão individualdeseupro.
prietário.Assim,a simplespresença da via já significa, imediata e automaticamen-
te,melhoriade acesso.Emvirtudedessa facilidade para concretizar o acesso, oau-
tomóvele as rodoviasprovocamum tipo de expansão urbana distintododaferrovia ,
queé maisrarefeitoe menosnucleado.
O sistemainterurbanode transporte, quando apresenta a possibilidade de
oferecertransporteurbanode passageiros,atrai a ocupação urbana nospontosaces-
síveisoupotencialmente acessíveis,visto que altera o valor de uso da terra,gerando
umaofertadenovaslocalizaçõesque são ocupadas por uma parte do excedentede
populaçãoe atividadesgeradasa partir da cidade central em expansão.
Avia regional,surgidaa partir de uma demanda extra-urbana constituio
motorinicialqueprovocaa causaçãocircular,entre oferta e demanda detransporte
urbanode passageirosao longo de seu traçado. Essa via surge em funçãodeuma
demandaestranhae externaà cidade, ou melhor, às necessidades intra-urbanas.A
próprialocaçãointra-urbanade tais vias é ditada pela posição da regiãopore!as
atendidaem relaçãoà cidade. O transporte intra-urbano surge, então,comoum
subprodutodosistemainterurbano. representado por uma parte dessesistema que
a cidaderecebenãosó antesda demanda, mas também gratuitamente.
À medidaque a cidadecresce, ela se apropria e absorve os trechosurbano!
das viasregionais,comonos casosdas rodovias antigas que, com o tempo,setrans·
formaramem viasurbanas.É a mudança de função da via (que passaa tertráfegc
intra-urbano),e nãosua localização(dentro ou fora da cidade), que transformaum i
viaregionalem urbana.
Emalgunscasosessa absorção pode ser total, abrangendo todososelem en
tosdosistemade transportes,e de direito, como aconteceu e acontece comtrechoi

82
de rodovias não expressas que se transformam em ruas- e há inúmeros exemplos
disso em nos sas cidades. A estrada velha para Santos é hoje uma simples rua tanto
em São Paulo como em São Bernardo. Nesses casos a cidade absorve não apenas a
via, mas também sua operação, manutenção e administração, que pas sam para a
alçada dos governos municipais. Em outros, pode haver uma absorção urbana de
fato, mas não de direi lo, como aco nt ece com trechos urbanos de rodovias expressas.
Nesses casos, como no da via Anchieta, até São Bernardo, a maior parte do tráfego
pode ser intra -urbano, porém a via continua se ndo estadual ou federal.

Quadro 4- Estações ferroviárias existentes em períodos selecion ados


RIODE JANEIRO
1. Estrada de Ferro Central do Brasil (antes D. Pedro 11
): linha Centro

em 1858 em 1890 em 1919

Corte Pedro li Pedro li


sao Cristóvão Marítima Marítima
Engenho Novo São Diogo São Diogo
Cascadura e
São ristóvão Lauro Muller
Nova lguassú Derby Club São Cristóvão
Queimados Mangue ira Derby Club
São Francisco Xavier Mangueira
Rocha São Francisco Xavier
Riachuelo Riachuelo
Sampaio Sampaio
Engenho Novo Engenho Novo
Meyer Meyer
Todos os Santos Todos os Santos
Engenho de Dentro Engenho de Dentro
Encantado Encantado
Piedade Piedade
Quintino Bocaiúva Quintino Bocaiúva
Cascadura Encantado
Madure ira Madureira
Deodoro D. Clara
Mesquita Oswaldo Cruz
Nova lguassú Prof. Bento Ribeiro
Queimados Marechal Hermes
Deodoro
V1c. de Albuquerque
Anchieta
Engenheiro Neiva
Mesquita
Nova lguassú
Morro Agudo
Austim
Queimado s

83
Quadro 5 - Estações ferroviá rias ex istentes em períodos se le ci o n ados

RIO DE JANEIRO
2. Estrada de Ferro Central do Brasil: linha auxiliar

em 1914 em 1898

Alfredo Maia São Cristóvão


São Cristóvão Mangueira
Mangueira Dei Castilho
Triagem lnharajá
Heredia de Sá Costa Barros
Vieira Fazenda Andrade de Araújo
Dei Castilho
Cintra Vidal
Terra Nova
Thomas Coelho
Cavalcante
Engenheiro Leal
Eduardo Araújo
Magno
lnharajá
Sapé
Honório Gurgel
Barros Filho
Costa Barros
Thomazinho
Rocha Sobrinho
Andrade de Araújo

Quadro 6- Estações ferroviár ias ex iste n tes e m pe rí o d os se lecionados


SÃO PAULO
Estrada de Ferro Central do Brasil (antes D. Pedro 11)

em 1875 em 1914 em 1967

Norte Norte Roosevelt (Norte)


Penha Guayaúna C. Falcão
ltaquera ltaquera Engenheiro Gualberto
Lageado Lageado Carlos de Campos (Penha)
Poá Poá Vila Matilde
Suzana Suzano Patriarca
Mogy das Cruzes Santo Ângelo Artur Alvim
Mogy das Cruzes ltaquera
1 5 de Novembro
Guaianazes (Lageado)
Ferraz de Vasconcelos
Poá
Calmon Viana
Suzano
Jundiapeba (Santo Ângelo)
Brás Cubas
Mogi das Cruzes
Fontes dos quadros 4, 5 e G: Ministério de Viação e Obras Ptíblicas, EstaLíst icas das Estradas de Ferroda
União e das fiscalizadas pela União relativas ao ano de 1919. p . 34 a 86. As estações foram enquadradas
nos distintos períodos segundo a data de s ua s iuaugurações.
Pnra São Paulo em 1967: Prefeitura Municipa l de São Paulo; Hochtief, Montreal, Deconsult, Sistema
Integrado de Transporte Rápido Coletivo da Cidade de São Paulo. p. 217.

84
No caso da ferrovia, a presença da via não sign ifica automática e necessaria-
mente acesso urbano, inclusive porque a cidade não pode operar o sistema e ofere-
cer os veículos.
Há ainda uma questão a ser esclarecida tocante ao tema da relação entre a via
regional e o crescimento urbano. Por que o crescimento das cidades é tão atraído
pelas vias regionais mais importantes - em geral as que as ligam a regiões ou cida-
des mais importantes - se essa importância, por referir-se a um tráfego regional,
não significa necessariamente melhor atendimento urbano?
Para um dado sistema de transportes, o tempo e o custo dos transportes s5.o
função das qualidades técnicas da via e do serviço e da demanda de transportes que
ela atende, mesmo se for extra-urbana, ou seja, apenas regional. Entre dois pontos
da área rural junto à cidade, a igual distância do centro urbano e junto a du as vias da
mesma natureza (ferrovia ou rodovia e, em alguns casos, até mesmo hidrovia), po-
rém com diferentes volumes de tráfego e de características técnicas e operacionais,
aquele que estiver junto à via com maior volume de tráfego e melhores característi-
cas técnicas apresentará probabilidades maiores de receber transporte intra-urba-
no e, quando isso ocorrer, terá menores tempo e custo de deslocamento ao centro
urbano. Será, por isso, o primeiro a ser ocupado por atividade urbana. As caracterís-
ticas técnicas de um sistema de transporte - via, estruturas complementares e os
serviços - em geral são melhores nas vias de maior volume de tráfego regional.
Entretanto, há casos de vias de melhores característ icas técnicas, atendendo a regiões
de menor demanda regional. Nesse casoi a expansão urbana é atraída mais forte-
mente pelo maior volum e de tráfego. Em São Paulo, por exemp lo, a rodovia Castelo
Branco tem características e técnicas muito melhores que a via Dutra; nem por isso
atrai mais urbanização e indústrias do que essa rodovia.
As vias regionais de transportes constituem o mais poderoso elemento na
atração da expansão urbana; note-se que até aqui não se falou em localização de
indústrias, pois a expansão urbana não está necessariamente correlacionada com
a localização de indústrias. São Paulo mostra-o exemplar men te, como veremos
adiante.
Outro elemento que mais influencia a expansão urbana - agora no sentido
de obstruí-la, e portanto adensar o tecido urbano -são os obstáculos naturais, tais
como serras, zonas de proteção de recursos naturai s, etc. Cida des em vales tendem
a crescer mais no sentjdo do vale do que transversalmente a ele.
No Brasil, até a década de 1970, as grandes vias regionais só atraíam a expan-
são urbana representada pelos bairros das camadas de baixa renda. Com a difusão
do automóvel e das auto-estradas de iJ1teresse regional, algumas daquelas vias pas-
saram a atrair também bairros de alta renda. É o caso da rodovia Castelo Branco, em
São Paulo, mas não da Rio-Sanlos nem da Estrada do Coco, em Salvador. Nessas
rodovias, a região que atravessam já estava marcada para ser de alta renda antes de
elas se tornarem rodovias regionais de alg uma importância. Dada a pequena parti-
dpação dessas camadas no tota l da população, a expansão urbana ao longo das vias
regionais não tem sido significativamente afetada. Como veremos, as frentes de cres-

85
cimento de nossas metrópoles continuam sendo ocupadas sobretudo pelas cama.
das de 111enorrenda.

O período pré-ferroviário
Antes da construção das ferrovias, nos sas cidades cresciam mais ao longodos
prin cipais can1inhos do que em outras direções . A Figura 13 mo st ra que , aindaern
1914, a área edificada de São Paulo desenvolvia claro s tentáculos ao longo dos anti-
gos caminhos, apesar de já haver ferrovia s h á mai s de um quar to de séc ulo.
Salvador , por ocupar un1a ponta qu e avança s obre o mar e pelos acidentes do
sítio, tinha, co1no o Rio, somente duas direções para crescer: a dir eção do interiorda
baí a (do Recôncavo ), ou a direção da orla de alto-mar. A F igur a 14 mostra qu e,jápor
volta da dé ca da de 1870, o crescimento de Salvador era ma is pronun cia do na dire-
ção do interior do que na direção da orla de alto-mar. Para i sso, foram decisivos dois
fatores: os caminhos que levavam ao já povoado Recôncavo e interior da província,
en1 que p ese o fato de a maior parte dos tran sp ort es regionais se r por mar;a
estrat ificação social, com diminuta participação das camadas de alta renda que,
então, já cresciam mais na direção oposta. O caminho par a o int erior era mais im-
portante do que o da orla , que levava para Vila Velha ou Rio Vern1elho. Depois de
afirmar que , na "direção norte" (do interior do Recô ncavo ), a Cidade Alta termin ava
no Con vento da Soledade, prossegue Vilhena (Ce ntro de Estudos de Arquitetura na

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figura 13 -Área edi ficada de São Paulo cm 1914

86
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RJhi, 19,~ \ '.!.95)· "dai para o nort e. cont inuava entre roça s a es trad a principal
qu\· emra na Bahia, chamada vulgarmente 'da s Boiada s', atual Estrada da Liberda.
dl: - pür cmrarempor ela todas as que do s se rtõe s de scern par a a Bahfa". Thale~
dr -\zl"\tdo 09~5. 348) afirma que , co m "a reaber tur a do antigo caminho da Mata
Ct. .,o J ão,. '· em l652, fez-se a ligação d e finitiva do Sertão p e la qu e viriaaser
<1enonnad.1 'e-;trada da boiadas' e pela qual vinham a s reses mai s direta menie
do qur pe!o Rto\"cm1elho.para os currais da n1atança próxi1no s à atual fortaleza
do BJrbalho·. Ra?ões de cgura nça e defesa não podem ser in vocada s par a exph.
caro mJ1or dc~en\olvimento de alvado r para o int er ior na seg und a metadedo
·culo\\ 111e no início do XLX. Em primeiro lugar , ne ssa época, as inva sões jánão
amcaçar~m tanco o paf como no sé culo XVII e, em segundo, as probabilid adesde
ln\J ão pelas praias de alto-mar ou do Recôncav o eran1 praticamente idênticas.
{)e_cre\C~ndoa ah a dor da época, relata Rocha Pita que "na par te hoje denomina.
da. ledade ,. l e ra o forte do Barbalho (...) agora po sto em grandeza competen-
te a defender o desembarque de qualquer inimigo que , quer porTapagipe ou pela
rrn1aGrande ,onde ·altara m em terra os belgas na guerra da Bahia ), a qui ser inva-
dir" , Plla, eirado por Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia, 1979, v. 2, 40).
Ante. do ad\ ento da ferrovia, o crescimento do Rio de Jan eiro em direçãoao
norte foi impu1sionado pela fusão, na periferia urbana de então, e naquela direção,
de dua importa ntes correntes do tráfego que saíam e entravam na cidad e: umase
destma\a a ão Paulo e outra a Minas Gerais (veja figuras 15 e 16). Só muito forada
t.;dade é que essas direções se bifurcavam. É interessante acompanhar o desenvol-
, 1menl0dos setores urbanos associa dos a essas duas direçõ es e a reviravolta que
ofreu o cresc1mentoespacial do Rio de Janeiro en1 face da alteração da importância
ctas\ 1.t~ regionais de transport e ligadas às duas direções em questão .*
TaJreviraYolcamostra muito ben1 o efeito das vias regionais mais importan·
'LS •-i..>breas direções preferenciais da expansão urbana. Os quadro s 7 e 8 permi-
tem-nos concluir que, até a déca da de 1940, o setor de Santa Cruz era mais popu-
lo!,o que o de !\O\'alguassú . fsso revela duas coisas in1portantes: en1 primeiro lugar
que a expansão urbana se manteve preferencialmente ao longo da via qu e ligavaa
cidade a região com a qual mantin ha fluxos mais intensos de t ráfego . Mudandoa
dm:ção dessa região, mudou também - embora lentament e - a expansão urba·
na. Lm segundo lugar, demons tra como é duradoura a expansão urbana ao longo
de um setor, antes da reversão. O setor de Snnta Cruz manteve -se mais populoso
do que o de No\'a lguassú por cerca de ce m ano s após este últirno ter recebidoa
ferro\ ia. O fato de a ant iga rodovia Rio-São Paulo c oincidir en1 grande parte com
o setor de Santa Cruz pouco co ntribuiu para a resistência desse seto r, uma vez
que na maior parte daquele período o tra nsport e rodoviário foi de import ância
insignificante.

• Também aqui,3 grande pred ominância da s ca m adas d e baixa renda na estratificação social vai detcrmin:ir
a predomin ància do crcscimcmo urbano, já que estas são majorit a riam e nt e atraída s p e las vias regionais..

88
Quadro 7 - Rio de Janeiro (século XIX)
População dos setores de Nova Iguassú e Santa Cruz

NOVA IGUASSÚ

Paróquias e freguesias 1872 1890

Santo Antônio da Jacutinga 6 564


NossaSenhora da Piedade de lguassú 4 485 3 576
São João de Mirity 2 524 2 970
Nossa Senhora da Conceição do Marapicu 4456

Total 7 009 17 566

Santa Cruz

Campo Grande 9 686 15 950


Santa Cruz 2 631 1O 954

Total 12 317 26 904 li


!
Fonte: Ministério da IndtísLria, Viação e Obras Públicas, Dirccloria Geral de Estatística, recenseamentos de 1·
1872e l890. 1

Quadro 8-População em alguns setores ferroviários em São Paulo e Rio de Jane iro
(século XX)

Setor Ferrovia Distância ao População total


e direção centro
em km (1) 1920 1940 1950 ,.
RIO DE JANEIRO
""
Nova Iguaçu (2) CB-SP 29 30 573 140 606 268 517
Duque de Caxias (2) Leopoldina MG/ES 20 2 823 74 565 176 306
Campo Grande (3) EFCB Mangaratiba 29 68 911 146 568 242 028

SAO PAULO

Penha-São Miguel (4) CB-Rio 12 1O 782 62 392 148 118


São Caetano-Santo André SJ-Santos 13 12 036 62 440 152 843
Osasco-Barueri (5) S-Sorocaba 15 4 909 17 992 42 752
Pirituba-Perus (6) SJ-Campinas 13 5 195 35 651

(1)

( 1) Distâncias cm linha rela do s centros de São Paulo e Rio alé a .írca mai s adensada do vérlicc mai s central
do setor.
(2) O setor engloba os atuais municípios de Nova Tguaçu, Nilópoli s e São João de Merili . A população de

89
1920 corre s ponde aos e ntão di s trito s lgua ss ú, Cav a , Be lfort Roxo , Qu e imado s, Pa vun a e São Mateus
todos do entã o munic1pio de lguassú. A populaçã o e m 1920 do atua l município d e Duque de Caxiasé~
d o e ntão Dis trit o d e Xcrém .
(3) Refere -se a o territóri o qu e, em 1940 e 195 0, co rr espo ndia às circ un sc ri ções de Sa nta Cruz, Campo Grand e
e RcaJc ngo . Em 1920 esse te rritório se aproximava basta n te do s e nt ão distritos de Campo GrandcfW
di s trito , qu e incluia o s ntí cleos de Campo Grande, Ba n g u e RcaJengo) e Santa Cr u z.
(4) Re fere -se à área que , c m 1940 e 1950, co rr es pondia ao s ubdi s trito da Pe nha e aos distritos de São Migu el
Pauli sta, Gu a ia n azc s e lcaqucra; e m 1950, es s a área corres p o ndi a ape n as ao subdistrito da Penhacao
di s trito de Sã o Miguel. Co m o a análise está se limitando a período s a n ter iores a 1950, o setor foi
c ar:-icteri z.'ldO ap e nas p e lo trec ho Penha-São Mi g u el. Na década d e 1970 esse se to r atingir ia Mogidas
Cni zcs .
(5) Incl ui os atuai s municípios de Osasco, Carap icufba, Bar u e ri, It apev i e Jand ira. Em 1920, essa área
c ompreendia o su b di stri to de Osasco, d o então di s trito de São Paulo, e o distrito de Barueri, do então
município de Para nahyba.
(6) Refere -se à á re a que , c m 1920 e 1950, co rr espon d ia ao s ubdi str it o de Pirituba e ao s di s trito s dcJaraguá
e Pe ru s. Em 1920, e la co r res p o ndia apenas ao então di str ito d e P iritub a.

Fo nt e: FIDGE , Cen s os Demográficos.

Essa superioridade demográfica do setor* de Santa Cruz é um a reminiscên-


cia do p e ríodo anterior ao transporte ferroviário . Foi sem dúvida por essa importân-
cia urba na , de corrente de u m sistema de transportes regionai s a nt er ior (mais quea
necessidade d e ligação com o porto de Mangaratiba), que a regi ão Campo Grande/
Santa Cruz foi brindada com um ramal da Estrada de Ferro Centra1 do Brasil (EFCB ).
Como vimos, a Estrada Real de Santa Cruz era a principal via terrestre qu e ligavao
Rio a impor tan tes regiões vizinhas; não só a São Paulo, ma s a imp ortantes portos
exportadores de ouro, como Angra dos Reis e Parati e a rica s zonas nuais do litoral.
Por outro lado, Iguassú ficava no trecho in icial- que era por mar- d a liga ção com
Mina s . Em meados do século XIX, a direção oeste era ma is urb ani zada que a noroes-
te (Jgua ss ú) . Entretan to , o desenvo lvimento ferroviário na segunda metade desse
século , por razões regionais, passou a priv ilegiar mais a direção noro este (nova dire-
ção da ligação co m São Paulo ), onde surg iu não u ma via , mas um feixe d e vias-ao
qual se integrava inclusive a Estrada de Ferro Leopoldina-, que passou a concen-
trar o tráfego de ligação do Rio com o restante do país. No fin a l do século XIX,as
mell 1oria s ferrov iárias passaram a privilegiar a direção noroe ste (Nova Iguaçu) e as
obra s do ramal de Mangarat ib a/S anta Cruz caminhavam muito lenta m ente. Só em
1878 o ramal atingiu Santa Cr uz, e m 1884, a estação do Matadouro e em 1914 che-
gou a Mang aratiba (Ministério da Viação e Obras Pública s, 19 24, 34-43). Essa via
férrea ass umiu um papel modesto , diferente do que tinha o caminho no séculoX\flíl.
Mesmo a ss im, em nome da demanda já ali instalada pelo sistema d e transporte an-
terior, o ramal foi con s tnúdo com b oas ca racterí sticas técnica s, e mbora, cronologi-
camenl e, com significativo a traso em relação ao desenvo lvim e nto da s ferrovias na
direç ão noroe ste. Paula Pe ss oa (1901, 391 e 392), em 1901, afirmava que o ramal de
Santa Cn1z "parte da esquerda da estação de Sa popemba no km 21,975 e termina no

• íleileramos qu e a expr ess ão setor será s empre utilizada, como em Hoyt, no se ntido d e se tor de círculo.

90
Matadouro, km 56,065 com extensão de 34 090 m todo em bitola de 1,60 me linha
dupla. (...) As condições técnicas desse ramal são iguai s às da primeira secção da
linha do centro".
No h1ício do século XIX, o Rio de Janeiro crescia predominantemente na
direção do int erior (oeste, figuras 15 e 16), pois para essa direção se irradiava a prin-
cipal rede de vias terrestres e marítimas que atendia à cidade. Por s ua com.lição de
capital, de importante porto e por suas condições econõmicas e demográficas, o
Rio já mantinha um intenso tráfego com as regiões vizinhas pr óximas e rcmotas-
Minas, especialmente. Uma parte desse tráfego apresentava uma primeira etapa,
junto à cidade, que era feita por mar e pelos rios que deságuam na baía de Guanabarn.
Essas hidrovias fizeram, assim, nascer povoados como Igua ssú, Estrela, Inhomi rim,
Pilar e outros. Outra parte era feita por terra, com destino a São Paulo (via Santa
Cruz, Angra dos Reis e Parati), ou à rede de florescentes fazendas e engenhos nas
vizinhanças da cidade. Todo esse tráfego e esse sistema viário regional eram recolhi-
dos, já na periferia urbana de então, por um feLxe de vias urbanas de se nYolvido na
direção oeste. Nessa direção desenvolveu-se , portanto , o melhor sistema viá rio ur -
bano e regional que atendia ao Rio de Janeiro. "Um dos mais célebres desses cami-
nhos antigos é o que do Rio demandava Santa Cruz, aberto pelos jesuítas, numa
época que não se pode precisar com rigor , mas sem dúvida no século XVll. (...) t\lais
tarde a estrada é prolongada até Angra dos Reis de maneira a entroncar-se com o
cam inho que, de Parati, dirigia-se para São Paulo. (...) Com a vinda da família real
revitalizou-se(. ..), foi melhorada(. ..), aumentando consideravelmente seu movimen-
to com uma linha regular de diligência." Havia também o Caminho Novo, cujo rotei-
ro "muito se aproxima, no território fluminense, ao que é seguido pela chamada
'linha auxiliar' da Central do Brasil". Do Caminho Novo havia var iantes qu e iam aos
portos da baixada, e não para a cidade do Rio de Janeiro. Só um ia para essa capital;
era o Caminho da Serra, que partia "da ddade do Rio e dirigia-se para o Pono da
Estrela( ...) e subia a serra'' (Matos, 1949, 51).
Convém ressaltar que, no final do século J\.'VIIIe no início do XIX, a expansão
do Rio na direção oeste concretizou-se, apesar das dificuldades do sítio, o que exigiu
enormes investimentos na me lhoria do terreno , pois grande parte da cidade havia
se expandido sob re pântanos. Note-se o poder das vias de transportes em direcionar
a expansão urbana, que predominou embora as características físicas do terreno
não lhe fossem favoráveis. Se características dessa natureza tivessem sido o fator
mais importante no direcionamento da expansão urbana, esta teria predominado
ao longo da orla oceânica, onde os custos de urbanização (ta nto para o setor públi-
co como para o privado) seriam menor es, dada a extensão mais reduzida dos pânta-
nos e lagoa s. Não é possível alegar que dificuldades de sítio limitaram a expansão
urbana para a orla sul. No entanto, um µlano elaborado para o então estado da
Guanabara, no final dos anos 60, a pedido do governador Carlos Lacerda. dá a en-
tender que a topografia teria sido o fator determinante da expansão urbana nas dí -
reções oeste e norte. Referindo-se à segu nd a metade do sécu lo XlX, declara que:
J

-=,C.:~lilC.~
r:»,,i:.
,,..,._,_ ·-
1'J. 'lr• l>l CC>\llt llC E :IC ~

·----
Figura 15- Cidade do Rio de Janeiro cm 1858

r:...'lt. ,..,w:-.:,,.co,.:,,.
~~~~..__
~ :ir "[a'
-.,,.,........,,.,

;,e; ~:ir~
J-'-S

. ~_, ..
-

f igura 16-Cidade do Rio de Janeiro em 1858 (mostrando a localização do Paço São C.-isto,·3"

92
"durante esse período a cidade cobriu completamente as áreas de Flamengo e
Botafogo e sub iu pelas encostas de Laranjeiras; Santa Teresa e Botafogo espalha-
ram-se pelo sul. Ao mesmo tempo a cida d e se de senvo lveu para oeste e norte, onde
a topografia era menos inconveniente, especialme nt e depois do projeto de recupe-
ração da área do Canal do Mangue em 1857" ( estado da Guanabara , 1965,25 ).,..
Por que foi gasto dinheiro na recu p eração do s pântanos de São Diogo (para o
oeste ) e não na urbanização na direção sul? Um eventual confinamento do sítio na
direção sul não teria sido uma limitação significati va; com efeito, a á rea urbanizáye}
existente no Catete , no Flamengo, Botafogo e Laranjeira s era ent ão mais que sufi -
ciente para aloja r a expansão urbana que ocorria a oeste , ocupando e ultrapassando
os pântanos de São Diogo. Em 1964, na en tão região admini strativa de Botafogo
(que eng lobava aqueles bairros ), a área terrHorial urbanizá vel, abaixo da cota de 80
metro s, era de 1001 hectare s, do s quais 701 eram ocupados por edificaçõe s (idem,
ibid., 43). Essa área teria sido mais qu e suficiente par a abrigar o Rio de Janeiro intei -
ro de cem ano s ante s, nas décadas de 1860 ou 1870, já que a sua área urbanizada em
1858 era de 735 hectares. No entanto , a cidade expandiu- se sobre os rerrenos de
piore s condições físicas - os pântanos-, mo stran do que a economia em termos
de tempo e custos de de slocamento s (transportes ) qu e seria feita com o crescimen-
to urbano ao oe ste, junto ao siste ma viário regional, compensava os gastos com ar er-
ros de pántano s. Além disso, cabe sem pre atentar para o conteúdo de classe da ex-
pan são urbana. No final do sé culo XIX, as camadas de mais alta renda já se haYiam
apropriado da zona Sul, tornando mai s difícil - ma s não impos sível - o cresci -
mento, ali, da maioria da população. Orientando-se então para oe ste, a popu lação,
nessa direção, preferiu a proximidade às vias regionai s, onde já havia , desde 1858,
até serviços de tren s suburbano s. Naquela época - mai s que hoje - as camadas
p opu lares dependiam do transporte público. O trem era o mai s imporrante de-
les.colaborando, aJíás, para a segregaç ão espacial.
Por outro lado, não é convincente a lentativa de explicar a preferên cia da di-
reção oe ste pela atração qu e so bre ela teria exercido o Paço de São Cristóvão (Figura
16). Um pa ço isolado não atraí a expansão urbana de centenas de milhares de famí-
lias da c;camadas popu lare s. Poderia Ler atraíd o - como de fato atraiu - algumas
famílias aristo crática s, qu e não chegaram a fazer com que aquele "pedacinho " da
zona Oeste sobrevive sse co mo região nobre. A isso se lin1itou o "poder de atração "
do Paço. Além disso, a cidade já se expandia mai s naquela direção ante s da chegada
de dom João VI. quando pânlano s e lagoa s já haviam sido aterrados. As planta s
cadastrais do início do séc ulo XIX mo stram que mesmo a urbanização que se da va
pum o sul, ao longo da co sla em direção à Lapa, dobrou à direita , contornou os mor-
ros de Sant<>Antônio e do Senado e tomou o rumo oeste, fixando-se ao longo dos

• " IJ11ri111~
1hh p crln d, lh e c;i1y co rnpl c tc ly covcrctl lh e arca s o f Flam engo , and 80 1afogo and grm-v up 1hc
1lop1•,inf l.ar:inj r:irns; Santa 'forcza anel Bota fogo spread to Lhe sou Ih . Al lh e sarn e Lime, Lhe city d eveloped
lo Ih,; wc::,1 a11clnorl li, whcrc lop ogra ph y was lcss prohibili vc, cspccially afler lhe recla mali o n project of
Canal tio M1111r,111;in tf!!)7."

93
cam inhos de Mata -Porcos e Mata-Cavalo s (atu ais ruas Riachu elo e Frei Caneca},atra-
ída por estes. Por outro lado, não devemo s esquecer que a mansão de Elias António
Lopes, doada ao recém-chegado rei, já existia antes de ser Paço, mo strando quepes-
soas abastadas já ocupa vam a região .
No Rio eleJaneiro, a expansão urbana ao longo do ramal de Mangaratíba da
anliga Estrada de Ferro Central do Brasil, foi, a partir da dé ca da de 1940 {Quadro 8
e íigura s 20 e 21), menos intensa que a ocorrida na an tiga Linha Centro da mesma
ferrovia . Isso ocorreu porque houve na Linha Centro mai s melhoria s tecno lógicas
{como de fato hou ve), ou tais melhoria s foram introduzida s ne ssa linha porque aJi
houve mais urbanização, ou seja, mai s demanda? Ou por que , como pretende Abreu
( 1978,164 ), a Linha Centro seri a a única que atravessava terrenos seco s? O ramal
de Mangara tiba - que também atravessa terreno seco - é cerca de vinte anos
mab novo que a Linha Centro. A Estação de Nova Iguaçu, por exemplo, é de 1858,
e a de Santa Cruz é de l 878 (Ministério da Viação e Obras Públi cas, 1924, 34-431.
Também a eletrificação começou na Linha Centro antes que no ramal: iniciada em
1935, chegou primeiro naque la lin ha, até Nova Iguaçu (km 35), enquanto nesse
rnmal para va cm Bangu (km 31). Em janeiro de 1942 , referindo- se aos plan os para
prolongamento da eletr ificação, a Revista Ferroviária (1 1) noticiav a: "Acenrua-se
assim o desnível entre os melhoramento s da Linha Centro e do Ramal, onde a ele-
trificação sequer atingia Santa Cru z". Note-se que esses melhoramentos destina-
vam-se a atender a uma demanda urbana (tr ens de subúrbio ) e não regional, pois
só as linh as suburba nas era m eletrificadas. A p ergunta qu e se faz é: por que a de-
mand<t urbana era mais bem atendida numa linha que na outra? Por que a região
que tinha maior demanda urbana (zona Oeste) não foi priorizada pelo s melhora-
mento s, e sim a região de menor demanda urbana (a Noroeste )? Como captar o
início da "causação circular" respon sáve l pelo fato de haver , hoje , grand e cresci-
mento urbano no setor noroeste do Rio (Nova Iguaçu) e outros dois menor es, um
na direção oeste e oulro em direção ao nord es te (Duque de Caxias), todos gerados
por ferrovias? As análises mostra ram que é a importância regional da via que de-
termina suas melh orias, mais que a demanda urbana, poi s a via region al não rem
o objetivo de atender a essa demanda . Evidentemente deve haver um mínimo de
demanda urbana para ju stíficar as melhoria s.
Com o desenvolvimen to das estrada s de ferro e do estado de São Paulo, o Rio
passou a crescer mais ao longo da s linha s Cen tro e Auxiliar da então Estrada de Fer-
ro CenLrnldo Brasil do que ao longo do Ramal de Mangaratiba ou da Estrada de
Ferro Leop oldin a. A partir de 1940 o prim eiro setor ultrapa ss ou o de Mangaratiba.
/\ direção inicial da expan são urbana do Rio - a de Santa Cruz - conti-
nuou dcmograficamenle muito signifi ca tiva, apesa r do declín io do impul so inici-
al qu e dese ncadeou ali a causação circular e ntr e ofe na e demanda de transporte.
ls&o mostra que a dinf1mica da simbi ose urbani zação - via de tran sporte pode du-
rar mai s de um s6culo. No caso , o se tor continuou a se de se nvolver no final do
séc 1lloXIX (Vjla Militar, Fábrica de; Tecido s Bangu , etc.). Na década de 1920 im-
pla11IOLH iC nesse &ctor a rodovia ílio -São Paulo . Porém, pela precariedad e que o

94
transporte rodoviário de então apresentava, pouca influência ela teve se com parda
à do transporte ferroviário.
Até hoje o setor para Santa Cru z é mai s populo so que aquele gerado pela Es-
trada de Ferro Leopoldina. Essa ferrovia foi inaugurada em 1886 com apenas doi s
trens por dia , indo de São francisco Xavier a Meriti, hoje Duque de Caxias (Cruls,
1965,v.2, 772), todavia com características té cnicas infetiores às do ramal de Santa
Cruz, exatamente por atender a uma região econômica e clemogrníicamente menos
importante. A urbani zação ao longo da Estrada de Ferro Leopoldina só veio ocorrer
bem mais tarde, produzindo Duque de Caxias. Esse se tor tem hoje metade da popu-
lação do setor de Santa Cruz. No entanto, seu vérlice, que corresponde mais ou menos
ao centro de Duqu e de Caxias, está tão distante do centro do Rio quanto o vértice do
setor Santa Cruz-Mangaratiba, que corresponde à região Bangu-Realengo. Alguns
culparão o terreno pantanoso. No entanto, a partir da década de 1960, tanto a in-
dustrialização como a urbanização ignoraram o terreno pantanoso e Duque de Caxias
tinha nada menos que 667 821 habitantes em 1991. Além disso, a parte pantanosa
do município é relativamente pequena, se comparada com a de terreno seco ao lon-
go do qual foi implantada a ferrovia.
Em virtude da sua grande conso lida ção urbana, o setor Mangaratiba-Santa Cruz
adquiriu impulso próprio, mas remonta sua longínqua origem à Estrada Real de Santa
Cruz e à importância da ligação - então extra-urbana-que ela efetuava. Em mea-
dos do século XX, entretanto, o setor Duque de Caxias passou a apresentar um ritmo
de crescimento superior ao de Santa Cruz, embora não o tenha superado, em termos
absolutos, até hoje. Isso porque, por volta de 1920, quando começou a crescer , o pri-
meiro era praticamente despovoado (correspondia mais ou menos ao distrito de
Xerém, então com 2 823 habitantes); em 1940- bem antes da instalação da refinaria
-, já apresentava uma população de 74 565 habitantes e já havia constituído o muni-
cípio de Duque de Caxias. Entre 1940 e 1960, esse setor apresentou um crescimento
demográfico de 227 %, enquanto o setor Campo Grande-Santa Cruz cresceu 156%.
Os anos 60 marcaram uma etapa na rede de transportes da Área Metropolitana
do Rio de Janeiro que se iniciou nos anos 50, com a rodovia Presidente Dutra (com um
traçado diferente do da antiga São Paulo-Rio), e prosseguiu com o desmantelamento
das ferrovias e com a nova Rio-Petrópolis. Essas transformações, entretanto, apesar
da desativação de alguns ramais ferroviários, mantiveram grande concentração espa-
cial de vias regionais importantes, e a direção de São Paulo e interior do Brasil conti-
nuou comandando a expansão territorial do Rio (figuras 2 e 21) . O Quadro 9 mostra o
atual predomínio do setor urbano orientado na diJeção de São Paulo (setor Noroeste).
Nessa divisão por setores, foi delimitada uma zona central - que não é setor-, ao
contrário do que foi feito com São Paulo e Belo Horizonte, como será visto adiante.
Isso ocorreu porque a limitação do sít io natural, no Rio, provocou grande convergê n-
I
cia de vias importantes na direção norte (tanto a noroeste como a nordeste); isso tor-
nou inviável e mesmo desnecessária a extensão dos setores até o centro da cidade.
Antes de concluirmos a análise sobre o Rio de Janeiro, cabe tecer algu111as
considerações acerca do papel da topografia sobre a expansão urbana, no que diz

95
r

Quadro 9- Área Metropolitana do Rio de Janeiro


População da área central e do s setore s (1991)

Area central, setores Area central, setores


e regiões administrativas População e regiões administrativas População

1- Central 721 786 IV - Oeste 1362384


Portuária 44 085 Bangu 595 960
Centro 49 095 Campo Grande 380 942
Rio Comprido 82 344 Santa Cruz 254 500
Botafogo 251 668 ltaguaí 113 057
Copacabana 169 680 Mangaratiba 17 925
Santa Teresa 44 554
São Cristóvão 80 360 V- Leste 1 1 378 729
Niterói 436 155
li - Nordeste 1 866 484 São Gonçalo 779 832
Ramos 283 4 16 ltabo raí 162 742
Penha 3 14 98 1
lnhaúma 208 117 VI - Leste 2 46 545
Ilha do Governador 197 158 Maricá 46 545
Ilha de Paquetá 3 257
Duque de Caxias 667 82 1 VII - Intermed iário 821 373
Magé 19 1 734 Tijuca 194 483
Vila Isabel 198 817
Ili - Noroeste 3 268 306 Jacarepaguá 428 073
Méier 4 14 826
Madureira 373 753 VIII - Sul 378 967
!rajá 210 889 Lagoa 219 964
Pavuna 179 256 Barra da Tijuca 98 229
Anchieta 141 587 Guaratiba 60 774
Nilópolis 158 092
SãoJoão de Meriti 425 772
Nova Iguaçu 1 297 704
Paracambi 36 427

Total 9 814 574

População residente. Fonte: IBGE, censo de 1991,Tabela 1.4 pa ra o mun icípio do Hio de Janeiro e 1.5paraos
demais municípios.

res peit o a mon tanha s, e não mais a pâ ntano s. Tanto no ca so de São Paulo como no
de Belo Horizonte , a topografi a será mencionada, ma s esse não o foi no caso do Rio.
Isso pod erá par e cer es tranho a muito s. Afinal, é ba s tante comentado o papel da to·
pografia na mo delagem da ocupa çã o urbana na zona Sul do Rio.
Em prim eiro lugar cab e regi strar qu e, ao contrário da crença predominan te,
a topografia teve influ ê ncia mínima na expan são urbana do Rio de Janeiro. A zona
SuJ - aquela qu e é condi cionada pela topografia acid e ntada- contém parcela mí·

96
nima da popul ação da área metropolitana: nela incl11indo as regiões administrati -
vas de Lagoa, Barra, Bota fogo e Copacabana, i.,; ua população ai ingia c:m 1~)9 J ,ipcnas
739 541 habitantes, ou seja, 7,54% da popula<,:ãometropolitana. (}uanclo lntlarmo s
da ideologia associada à segregação urbana, voltaremo s a essa quc srno, cn lcn clcn-
do-a melhor. Em segundo lugar, embora ccrl amcnlc exista, o pap el dos aciclenlcs
topográficos no constrangime nto da zona S11 I é bem menor do que se imagina. Nos-
sas orlas marítimas têm provocado grande adcnsarncnto ao longo dela s - as pri -
meiras quatro ou cinco quadras - , mesmo na ausônc ia de obslé'ículos topográílco s,
como bem ilustra m inúmero s casos, cio Balnc6rio Carnboriú a Hccifc, ele Santos a
Forlaleza (Figura 17). Esses casos mostram que, mesmo na ausência de obstáculos
topográficos, é grande o adensamento ao longo elas praia s. Trata-se de um tipo de
adensamento provocado fundamentalmente pela acessibilidade à praia, não por
obstáculo topográfico. Além disso, nossa preocupação com os obstáculo s topográfi -
cos refere-se a quando eles afclam grandes parcelas da mclrópol e, eventualmente
até a metrópole como um lodo.
O crescimenlo explosivo de São Paulo leve iní cio na década de 1870. Enlre-
lanto, tal como ocorreu no Rio, os caminhos continuaram atraindo a urbanização
ainda por várias décadas depois da chegada da ferrovia (Figura 13). Essa figura
também mostra que os tentáculo s mais acentuados eram aqueles cm direção ao
Rio,que mais tarde se transformariam nas avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia,
em direção a Santos e em direção a Campinas, onde a urbanização atingia a Lapa
ao longo da anliga avenida Água Branca. A ferrovia para Santos - a São Paulo
Railway- foi aberta ao tráfego em 1867, e a Estrada de f erro D. Pedro íl, para o
Rio,data de 1875. Os se rviços ferroviários suburbanos foram reduzidos se compa-
rados com os do Rio, mesmo porque, em 1900, por exemplo, o município de São
Paulo tinha 239 820 habitante s e o Distr ito Federal, 811 443 (FIBGE, Anuário Esta-
tístico do 13rnsil,198979). O Quadro 6 mostra que, em 1908, a Estrada de Ferro São
1

Paulo Railway,e ntão já com mais de quatro décadas ele idade, atendia, no planal-
to, apenas à estação de São 13ernardo (Cunha, 1909, 320), cm torno da qual nasceu
Santo André. Em 1915, como mostra o quadro em foco, a Eslrada de Ferro Centra l
do Brasiltinha, entre São Paulo e Mogi das Cruzes, somente seis estações, exclusive
os dois extremos.
Os quadros J O, l J e 12 mostram, sob diferentes formas, o crescimento da popu-
lação elaÁrea Metropolitana de São Paulo segundo setores de círculo (Figura 18).
Procurou -se traçar esses se tores ele maneira a fazer corresponder, cada um
deles, ela melhor maneira possível, a uma - e apenas uma - ferrovia ou rodovia
importante. Proccclimenlo se melhant e foi adotado para Belo l lorizo nle. lsso foi
impossível no Rio (e impo ssível e desnecessário cm Porto Alegre), dada a proximi-
dade das vias ele tran sporte entre si.
O Quadro 11 mostra que:
1. O crescimento rclntivo - ou aumcnlo da participação - nos seto res ferro-
viários cm gera l foi menor que no s rodoviários. O único setor ferroviário cm

97
...

Figura 17 -Vistas do Balneário Camboriú. Copacabana e Suntos.

98
CJ11ndro 10 /\n•:1Mt•tropol it;1na ele São Paulo
Cn•srlm1·11ll1da popul:1<;~10srgun d o setores
, 010 1, I1,1\lllt' / ,1 População
(1 ou H) (' ditt'ç,10
1q1,1 1~'.J/10 1970 1980 1991 Crescimento (%)
40/70 70/91
1 H Htt, 1
11 700 66 789 566 0 77 746 136 1 260 054 8,48 2,23
li 1 H1t1 1% 10'1 3 10 T)6 1 7 17 740 2 7 56 497 3 589 468 5,52 2,0 9
Ili 1 " ·111ltl', l '.>2tl !.,!., 290 4 36 1 507 56 7 1 915 334 2 130 544 5, 19 1,41
1
IV R \ ,11,to, J'.JlJ3 1 99 '115 783 23 7 1 287 248 1 528 588 7,88 1,95
V !'-,1111{11\111,110 Cl/ HO'.:i 177 99 '1 993 835 1 889 568 2 240 495 7.76 2,25
1)3 l)t13
VI I~ '-,ui dn p,l Í'> 105 908 598 027 1 16 1 878 1 603 21 O 5,64 2,68
Vil 1 '!ui do p,1fo.. 1'101 '11 180 94 !:> 64 3 30 5 979 154 1216745 3,56 1,89
VIII I /H C. 1111pint1 'i 68 S'11 107 / 36 688 136 96 8 098 1 199 343 6,39 1,74
1 %3 1) 13'1 0 16 55 7 62 4 884 867 676 499 4 , 16 1,21
101,11 ()11 713 1 473965 8 055 548 12 588 780 15 444 946 5,66 1,92

(Juadro ! ! - Área Mel ropo lil ana de São Paulo


l' nrt iri p a~·fin cios di vN sos setore s na popula ção tota l (%)

5<'10 1, ll,1 l LIIC/cl (1~OU r)


C dllP Ç.°lO 193ll 1940 1970 1980 1991
1- H Rio 5,66 4,69 7,03 5,93 8, 16
11- r - lM 2 1,50 21,82 2 1,32 21,89 23,24
Ili 1 Sc1nto~ 16,69 20,40 18,7 1 15,21 13,79
IV - R San lo<, 6, 12 6,9 8 9,72 10,22 9,90
V - Santo A1nn10 o,
1 71 8,99 12,34 15,09 14,5 1
VI H Sul do p;ifs 5,9 1 7,44 7,42 9,23 10,38
Vll - 1- Sul do püf~ 15,36 12,7 1 7,99 7,78 7,88
VIII 1/R C.1mp111 ,1s 7 ,5 1 7,57 8,60 7,69 7,77
IX - lntc>1
med,:u 10 10,55 9,4 1 6,92 7,03 4,38
lott1I 100,01 100,01 100,05 100,07 100,01

Notn: H :-i~11ilka Sl' IOI I ndovi:írio e F, fc 1roviário.


: :M l mo,VIU AÇI\ , l !.J7U,!M. Parn 1980 e 199 1, novas elaborações do autor a partir de dados dos
F111111•s
<'l' t\So~ do lllCE.

Quudro 12 - Área Metropolitana de São Paulo. Síntese das direçõ es de expansão


urlxma. Participação da popula ção met ropo litana (%)
Dirnçao 1940 1970 1980 1991
Rio 26 ,51 28,35 26,82 3 1,30
Santo!> 27,38 28,43 25,43 23,69
Sul do paíc; 20, 15 15,41 16,91 18, 16
) dlHO Anw10 8, 99 12,34 15,09 14,51
CamµínJs 7,57 8,60 7,69 7,77

99
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Figura 19- Ãrc:i Me1ropnlttana de Belo l lorizonlc · !>CIOrcs

100
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101
ção do Rio, depoi s na de Santos, são os mais populoso s sei ores da metrópole. Revela
assim a tendência da metrópole de crescer cm direção às cidc1des e regiões mais
importantes, ou seja, com as quais mantém maiore s fluxos de tráfego. Em primeiro
lugar, cm direção no vale do Paraíba, Rio de Ja1wiro e Nordeste; em segundo lugar,
, antos - o porto.
Con tantemcnte se fala cm "tendência'' no sentido de movimento provocado
por um força que predomina sobre outras. A expressão pressupõe) sempre, a atua-
ção de várias forças, dentre as qua is uma predomina sobre as demais. Eventualmen-
te a resultantt" - como na física- das úllimas pode até superar a primeira.
Quanto ao efeito da topografia, o sítio acidentado é a única explicação possí-
vel para a frágil pa rticipação do setor da direção de Campinas, principalmente se
lembrarmos de que nele, ha décadas, juntam- se tant o a ferrovia como a rodovia.
Essa direção conduz a grande parte do interior do estado de São Paulo, ao Triângulo
!\lineiro, a fato Grosso do Sul e ao sul de Goiás, regiões sabidamente ricas e que
mantêm com a metrópole paulistana intensos fluxos de tráfego. Seus subúrbios são
atrofiados, cons tituindo um frágil seto r urbano. Nessa direção, a urbanização-es-
pecialmente a industrialização-de São Paulo apresenta alta descontinuidade, pois
na \'Crdade só vai se manifestar em Jundiaí e em Campinas.
A Figura 19 mostra a conu rbaçã o Belo Horizont e-Contagem dividida em se-
tores de círculo, de modo que correspondam, na medida do possível, esses setoresa
ferrovias e rodovias. O Quadro 13 mostra a evolução da população de Belo Horizon-
te segu ndo esses setores no período de 1950 a 1980.
Esse quadro mostra a clara predominância do setor dominado pela ferrovia
para o Rio e pela rodovia para São Paulo (Contagem e Betim). A atração da expansão
urbana pela rodovia para o Rio é neutralizada em parte pela acidentada topografia
da Serra do Curral. É notório que, nessa direção, predominam as camadas de alta
renda, as quais só recentemente começaram a ser atraída s pelas vias regionais.A
significativa participação desse setor - 18% em 1980 - deve-se ao adensamento
das cama das de alta renda contra as encostas da Serra do Curral, movidas pela bus-
ca do sít io atraente e pela necessidade de manterem seu crescimento sempre na
mesma direção (veja no capítulo 8, seção "Belo l Iorizonte"). J\ atração dessas cama-
das por rodovias regionais está apenas se iniciando em Belo Horizonte, precisamen-
te com a supe ração da Serra do Curral e a invasão de Nova Lima pelas camadas de
mais alta renda. Trata-se de tendência ainda incipiente. O mesmo está ocorrendo-
mais inten same nte, mas ainda pouco significat ivamen te em termos metropolita-
nos- com a desenvoJvimento da alta renda de São Paulo, ao longo da rodovia Cas-
telo Branco (Alphaville,Tamboré, Aldeia da Serra).
A atração por outras vias regionais é fraca, já que elas se dirigem a cidades
menos importantes e longínquas, como Brasília e Vitória. Entretanto, o desenvolvi-
mento da região Brasflia-Goiânia-Anápolis tem provocado, mais recentemente, maior
crescimento nessa direção. Infelizmente, porém, não foi possível obter dados do

102
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h,t.tl me,;oo 100,) 1 353 '187 100,0 1 547 595 99,9%

Nutn.,. 1'111,11:11,0. ,1pr-11,1:- 111111111ktpio dt' lll'lo l lori zo11Lt•. Pani 1!)70 e H.)80,inclui Conta gem .
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n·11~11lk IHD1 p:11:1ve ririr.ir essa hip ó tese. Forn cio se tor VI (Oeste, Contagem-Betim )
t' dn Sul. rnlw ll'gis tr:1r a gr,mde parlidpaçfto ela Hegião Norte e, nos setores I e II,
sq :u11dn11111.1 hígica q11t• :-wnínl>orclada no capítu lo 5, na seção "Ametrópole interior".
F111P111 ln /\kgrc - ro 1110cm parle no Hio e ao contrário de Belo Horizonte e
Süo P.111ln , :1 po:-d\·ao costeira e a situação regional fizeram com que as principais
vias 1q~in11 :1is M' .1pwse11tcrn conc c11tradas cm um a única direção-a norte -, atra -
\' l' S d:1quul l' ptl SSf \/\'I ,Jlingir todo o país. As demai s vias regionais que servem Porto
1\kgn· síln IH"rn nwno s importante s.
No l'i11:ll do s<~nilo p,1ssado a zo 11aele imedia la influ ência de Porto Alegre, de-
1rn11i1wd,1 pl'ln Ira11sportc liidroviário, se concen lrava na região de São Leopoldo , ra-
z,111 p1•l:1q11nla estiad a de l'crro, qu e mai s tarde alingiria Novo Hambur go e a reg ião
snw11:1, loi ro 11s trnída na sua dire~·ão. /\s relações ent re Port o Alegre e São Leopoldo
s~n ,111.1li s,1d:1s po1 Singcr ( 19GU,1S7, 158, l 64), para qu e m a capita l gaúcha foi inici-
.t111w11ll'"upl'11as um 111 crcaclo de con s um o para os excedentes agrícolas de São
Ll'Opoldo". /\ pari i1 ela d vc ada uc
l 8GO," urna boa parle dos produtos de São Leopoldo
11k:111~ ·n111(...) o 11wrr,1do na cional vin Parlo Alegre". Posteriormente , o crescimento
dl'ssa rnpi1al vi11c1ilot1-s c ao "dcscnvo lvimcnl o da co loni zação alemã e italiana na
1)1•p1l' Ssao C t·111ral e na zu na serrana do es tado ". Nascia então a base da marcante
li11l'ariLladeque , refor çada pela f'crrovin e depois pela rodovia, daria à metrópol e
ga1h'll:1a forma 11rlrn11nde u111tínico tcnlácufo: o eixo PortoAlegre-Novo Hambtugo
(figuras 7 ' 22). l)a1 a fragilidad e uocresci mento de Porto Alegre nas direções s ul ,
lcstt• t' 111•s1110o<·slt' , onde o Guaíba n ão é maior obstáculo do qu e, por exemp lo, a
1rn(a d a e;u a11r1lia ra .

103
Não e convincente a alegaçao eleque o nípido ne sd111c1110 d11rnpltal gmícha
fora de seu município, cm Canoas, teria sido provorado p<'laspxcc•ssivnsf•xigl 'ncln~
da legislação urbanística do município de Porto /\lrgre. O rápido c.:rcsci1ncnl0de
Canoas é anterior a essa legislação. Sen;lo, vcjnmos: "npcna s n gadnrin povonvaIoda
a região do nosso 1'1 Distrito, onde se expande cm ritmo inusitado a cidade de Ca-
noas quando, a 2G de novembro de L871,teve início a co nstrução da cstradíl de
ferro"(Silva, 1964, 72). Nessn épocn, 13clémVelho, povonclolocalizado no município
de Porto Alegre, porém ao sul, já era freguesia, e Viamão, a leste, já cm cidade. O
primeiro não experimentou um crescimento urbano comparável ao que ocorreu
nas décadas de 1950 a 1970 no restan te do município de Porto Alegre,sujeito;1s
mesmas "excessivas exigências".Pelo contrá rio, estagno u-se./\ PlanLadaPovoaçãoe
TerrenosAdjacentesdaFreguesiadeNossaSenhora rleBeléni,datada de julho ele1855.
existente no setor da mapoteca da Secretaria Municipal eleObras e Viação (SMOV ),
da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, mostra que a praça e o arranjo das casas
existentes em torno da igreja, em Belém Velho no final da década de 1970,eram
idênticos aos existentes em 1855, revelando a estagnação daquele núcleo. Entre1920
e 1940 - antes da legislação urbanística supostamente restritiva - Canoas
desmembrou-se de Gravataí e sua população tota l passou de 2 971 habitantes para
17 630 habitantes, um aumento de 493%, ou seja, a uma taxa geométrica de 9,4%ao
ano; entre 1940e 1950esse crescimento foi de 8,5% ao ano, tendo o município atin-
gido uma população de 39 826 habitantes. O crescimento de Canoas não decorreu
apenas da implantação da estrada de ferrei pois muita s outras cidades gaúchasre-
ceberam estradas de ferro na época, sem apresentar, no entanto, crescimento se-
quer próximo ao de Canoas. Sua excepcional expansão reílete o foto de que foio
crescimento de Porto Alegreque, atraído pela ferrovia, começou a manifestar-semais
na direção norte do que em qualquer outra, transbordando ali os limites do municí·
pio da capital e ali fazendo surgir núcleos urbanos que se transformariam em muni-
cípios (veja o capítulo 3). Entre 1920 e 1970, na atual Área Metropolitana ctePorto
Alegre, foi criado um município a oeste - Guafba -, um a leste - Alvorada-, e
sete ao norte - Canoas, Cachoeirinh a, Sapucaia do Sul, Campo Bom, Sapirnnga,
Esteio e Estância Velha.
O caso de Porto Alegre mostra como o sistema regional de transportes pode
moldar o espaço urbano, fazendo com que se comporte como se fosse constrangido
por fortes - mas inexistentes - obstáculos do sítio ou até mesmo massas nrnríri-
mas. A mancha urbana de Porto Alegre (veja figuras 7 e 22) é claramente mais linear
e alongada que a do Grande Rio, apesar de não ter, como esta, obstáculos que difi-
cu ltem sua expansão para o sul ou leste. Os morros de Santana ou da Polícia,locali-
zados em uma part e da região leste do município de Porto Alegre, não constituem
obstáculo significativo; ocupam pequena parcela do sítio disponível para a expan-
são urb ana, e por esta já estão sendo contornados. Além disso, por volta da década
de 1940, quando Porto Alegrejá invadia Canoas, aque les morros, mesmo que cons-
tituíssem obstáculos, estavam bastante distantes da área urbana de então, não re-
presen tando para ela qualquer constrangimento.

104
Embora dispondo de amplo espaço para expansão a leste e ao sul, a man cha
urban a de Porto Alegre vem se comportando como se estivesse compr imida por
uma imaginária cadeia de montanha s paralela ao Guaíba, ou como se se u sítio fosse
um longo cabo com cerca de 6 quilômetros de largura e 60 quilôm etros de extensão
avançando sobre a água. A grande co ncentração dos fluxos int erurbano s de trans-
pones numa única direção, fazendo com que nela os tempo s e os custos de trans-
portes sejam menores, transformou o sítio natural de Porto Alegre num cabo.
Finalmente, ca be ressaltar que a urbanização ao longo da s ferrovia s não foi
necessariamente provocada pela localização de indú strias. Em alguns casos, d e
fato, a indústria provocou a acelerada expansão urbana, como em São Caetano do
Sul ou em Santo André, em São Paulo , e Contagem e Betim , em Belo Horizonte.
Em outros , entre t anto, o desenvolvimento industrial foi e ainda é muito pequeno
e, no entanto , a população - sem emprego local- é muito grande. Na metrópole
paulistana , o de senvol vimento industrial nos dois ramai s ferroviários que deman-
davam o Rio foi muito pequeno. Todavia, o desenvolvimento urbano - quase ex-
clusivamente residencial - foi enorme, desenvolvendo ali enorme conjunto de
bairro s dormitório s. Só a rodovia para o Rio atraiu indust rias; a ferrovia não. O
Quadro 14 mostra que o número de empregos na indústria no seto r ferroviário em
direção ao Rio era, em 1967, muito menor que no setor em direção a Santos. No
entanto , sua população era maior. Desde 1934, pelo menos, esse setor vem se man-
tendo como o mais populoso da Área Metropolitana de São Paulo.
Os setores ferroviários ainda se destacam no mapa físico e demográfico de
nossas metrópoles, após quatro décadas da implanta ção da indústria automobi-
lística e três décadas da difusão das auto-estradas. São eles pr edomi nan temente
ocupados por população de baixa renda. Por quê? Se o trem, como meio de trans-
porte de passageiros a longas distâ n cias, surgiu no sécu lo passado e manteve-se
durante o início deste, atendendo fundamentalmente às elites, como explicar o
fato de elas não terem ocupado os set ores ao longo das ferrovias e transformado
os serviços suburbanos em meio de transporte das camadas de alta renda, como
ocorreu , por exemplo, nos Estados Unidos até a vulgar ização do automóvel? Hou-
ve, por certo , algum uso do transporte ferroviário de pa ss ageiros urbanos por
parte das elites recifenses, paulistanas e cariocas para as corridas de cavalo, quan-
do eram realizadas no Derby Club (Rio) e no Hipódromo da Moóca (em São Pau-
lo). No Recife, ia-se de trem passar um dia ou um final de semana nos arrabaldes
da cidade. Esse transporte, entretanto, pouco se desenvo lveu no âmbito intra-
urbano. Foi abandonado pelas elites e deixado às camadas populares qu e passa-
ram a depender de seus se rviços cada vez mais precário s. Dadas as enormes di-
mensões das massas populares - e dada sua dependência em relação aos
transportes ferroviários suburbanos-, nossas metrópoles ainda crescem mais
ao longo das ferrov ias.

105
Quadro 14 -Área Metropolitana de São Paulo
Popula ção e emprego na indústria cm setor es ferroviário (1967)

Setor '1) Em direção a Empregos industriais População

São Caetano-Mauâ (2) Santos 76 044 535258


Penha-Ferrazde Vasconcelos(3) Rio 14 286 721 707

fonte: PrefeituraMunicipal de São Paulo, Plan o Urbanístico Béísico (PUíl), São Paul o, v. 2, p. 200.
( 1) As cxt.remidades mais ccntraic;desses setore s - São Cac tnno e Penh a - distam. nrnbas, cerca de 10
quilõmecrosdo centro de São Paulo.
(2, lnclui as unidade~territoriais de São Caetano, Santo André e Mau.i do Pla no Urhanístico Básico.
(31 lnclui as unidadesterritoriais de Penha , São Miguel, Guaianazcs, Tta(Juera, Poá e Pcrraz de Vasconcelos
do Plano Urbanístico Básico.

A precarie dade desse tran sport e em nossas metrópole s fez com que as elites
opta ssem pela proximidade ao centro urbano em área s dep end entes do bonde.
Com ou sem indúst rias, os setores ferroviários foram, então, ocupados pelas
camada s de mais baixa renda . A busca por uma proximidade ao emprego industrial
ao longo da ferrovia explica ap ena s em parte o fato de os setore s ferroviários serem
predominanteme nte ocupado s por tais camadas. Elas procuravam facilidadede
transportes e proximidade , sim; não às zona s industriais, porém, mas ao centroprin-
cipal, por apresentar grand e- a maior - concentração de empregos e subemprego s.
Os grande s setores com poucas indú strias- Nova Iguaçu , no Rio, zona Leste deSão
Paulo e zona Norte de Belo Horizont e - são as piores localizações dessas metrópo-
les, já que estão longe - sempr e em termo s de tempo e de custo e em comparação
com outra s zonas - das indú stria s e do centro principal, que são as maiores con-
cen trações de empre gos. São as localizações que sobraram para os derrotados na
competição espa cial, ou seja, os que não conseguiram nem proximidade ao centro
nem às principa is zonas indu striais. Esses argumentos serão mais desenvolvidos no
capítuJo 6.
A in fluê n cia d a ferrovia foi enorme e, hoje, continua importante na estrutu-
ração territorial das metrópoles bra sileiras. Não apenas no tocant e a direções e in-
tensi dade da expansão territorial , ma s também quanto à distribuiç ão territorialdas
cam adas sociais, ao desenvolvimento, tamanho e natureza dos subcentros de co-
mércio e se rviços, além, evidentemente , de ter influenciado a localização das indús-
trias. É significativo que grandes subcentro s de comé rcio e serviços das nossas re-
giões metropolitan as, até hoje incluído s dentr e os maiores, tenham surgido e/ou
sofrido forte expansão em função da ferrovia. Madureira , Méier, Nova Iguaçu, Du-
que de Caxias (na Área Metropolitana do Rio); Santo André, Osasco, Lapa, Penhae
São Caetan o (na de São Paulo); Canoa s, São Leopoldo e Novo Hamburgo (na de Por-
to Alegre); e o Barreiro (na de Belo Horizonte) são alguns exemplos. Por outro lado,

106
qua se todos esses subcc ntro s sã o eminentemen te populare s. Os que ainda não o
são Lotalmcntc , como os de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Mogi da s Cruzes, ten-
derã o n sê- lo cm poucas décadas, em função da s transformações soc iais da popula-
ção em suas zonas de influênc ia (veja figura s 1 a 12).

Setores oceânicos
Embora de enorme importância na det e rmina ção es pa cial da expan são ur-
bana, as vias regionais de tran s port e n ão são a úni ca força ne ssa determina ção.
Mesmo desempenha ndo eventualmente um papel dcmogréifi ca e territorialmente
secundário, os a tr a tivos do s ítio natural têm constituído importante fator de atração
da expa nsão urba n a. A imp ortância desse fator decorr e especia lment e do fato de ele
- ao contrário das via s regionais - atraírem popula ção de alta renda. Por grande
que seja, a atra tividad e do sítio natural não sup era aquela exercida p ela ace ssi bili -
dade e inserção na es trutura urbana. Em alguns casos - co mo e m São Paulo -
houve época e m que o sít io natura l atraente terminou (veja o capít ulo 8, seção "São
Paulo' '), mas mesmo assim a dire ção de expansão das camadas de alta renda n ão se
alterou. Isso será exposLo adiante. Há, entretanto, outros casos no s quai s o sítio na-
tural não só apresenta grande bele za, como também pare ce int erm inável. Por essas
características transformaram-se em traço típico da metrópol e bra sileira : são os ca-
sos das orlas de alto-mar.
Os exemp los mai s notáveis-que serão por isso d es tacado s aqui-são os de
Recife,Salvador e, ob viamente , o Rio de Janeiro. Contudo, tal como no caso de São
Paulo e das demais metrópoles aqu i estudadas, esses exem plo s se rão plenament e
-
desenvo lvido s some nte no capít ulo 8, quando forem abordados os proces sos histó -::j ~ ...
.
.
ricos de co n stituição dos bairros residenciais de alta re nda. l
. ~
o que h á de p ec uliar na orla d e alto-mar é qu e, ao contrário dos setores rodo- ie
viár ios e fe rro v iá rios, onde a cidade "ganha gratuitamente" um com p on ente vital da
infra -est rutura urbana (um sisten1a de transpo rt es) deci dido, inclu sive quanto a seu
tra çado, por entidades e razões supralocais , a urbani za ção ao longo das or las na s
metr ópo les litorâneas, inclusive e especia lm e nt e a infr a-estrutura de transportes,
deco rre de decisões que atendem a interes se s intra -urbano s. Tais intere sses são os
das camadas de alla renda e se us agentes imobiliário s. Não são as vias regionais de
transportes que "puxa m" (valorizam a terra e prov ocam a expan são urbana ) a urba-
niz ação ao lo ng o das praia s de alto -m ar: são os interesses intra-urbanos que trazem
um sistema viário local e a urbanização . Nesses setores define -se uma área que atrai
o interesse da s ca mada s d e alta renda. Estas, pelo poder políti co que apresentam,
pre ss ionam o Estado , que inves te nes ses setores. A orla oceâ ni ca atua como fator a
atrair a ex pan são urbana antes de haver significativa melhoria do s istema de trans-
porte s regional e mesmo do loc al. Ela faz nascer um se tor em que a demanda ante-
ced e a oferta d e transportes (ao contrário das vias regionai s) e do restante da infra-
estrutura; essa demanda se manifesta inicialment e por meio do interesse no setor
imobiliário enquanto agente daquelas camadas, ou seja, os emp reendedores que

107
conhecem com bastante antecedência as áreas que estão fadadas a serem ocupa-
das por essas camadas. Manifesta-se, também, através do intere sse de poucasfa.
mflias pioneiras que ocupam a região - inclusive com casas de veraneio-; só
mais tarde, e cedendo a pressões políticas das burguesias, é que o Estado introduz
melhorias na infra-estrntura viária e, muito mais tarde, na de saneamento e de
comunicações. Assim ocorreu, por exemplo, nas décadas de 1960 e 1970 tantona
Barra da Tijuca como na orla de Salvador, ou na década de 1920 em BoaViagem
(veja capítulo 13, seção "Asegregação e o controle do espaço intra-urbano") e na
Granja Viana, cm São Paulo. No início dn urbaniza ção das orlas, a terra tem seu
preço elevado não em função de uma accssibil idade que tenha antecedido a de-
manda - como no caso das vias regionais -, mas em virtude de uma demandade
alta renda que incide sobre terras pdvilegiada s e bem loca1izadas, embora com
acessibilidade precária.
Outro exemplo típico é Copacabana, que já estava loteada e já atraía o inte-
resse da alta e média burguesias vinte anos antes da abertura do primeiro túneJ(veja
capítulo 8, seção "O Rio de Janeiro"). Tais terras têm no seu preço um enormecom-
ponente de preço de monopólio (frente para o mar, primeira quadra da praia, se-
gunda quadra, etc.). É claro que algum acesso precisa existir; este, entretanto, é ini-
cialmente muito precário. Depois da primeira melhoria significativa de acesso,
intensifica-se a ocupação urbana que, por sua vez, demanda novas melhorias-
mais túnejs, aterros, novas pistas, etc - e assim por diante. O motor inicialé a
atrat ividade do sítio. O setor ao longo da orla ocennica sul do Rio começou a se de-
senvolver em meados do século passado, na Glória e no RusseJ,apesar de não haver
ali - ao contrário da zona Norte- nenhuma via importante de acesso; haviaape-
nas precários caminhos que demandavam algumas fazendas e engenhos localiza-
dos na Lagoa. Preferida pelas elites, a zona Sul do Rio começou a apresentar uma
impressionante sucessão de melhorias de acesso envolvendo grandes investimen-
tos, jamais vistos em qualquer outra parte da cidade ou em qualquer metrópoledo
país. Da mesma maneira que, até meados do século XIX,não recuara diante dos
atoleiros e morros que se antepunham a sua expansão, construindo praticamente
uma cidade sobre pântanos, a elite carioca e o Estado por ela dominado não recua-
ram, a partir do final do século XIX,diante dos morros graníticos nem do próprio
mar. Até 1905o mar chegava até o Passeio Ptíblico. "Desde 1905 foi o mar dali afasta-
do pela interposição da avenida Beira-Mar. Em 1921-1922,ainda maior aterro se lhe
formou na frente" (Rosa, 1924, 91). A abertura da avenida Beira-Mar iniciou-seem
1905. "Ela teria 5 200 m sempre ao longo da costa, exceto no Morro da Viúva(...) e
segundo os cálculos dos engenheiros municipais custaria 9 240 contos.( ...) Asobras
seriam pagas em apólices da PrefeHura, cujo orçamento( ...) só em 1906é que anda·
ria pela casa dos 26 000 contos" (Gerson,1965, 88). Em l921-1922 foi construídaa
avenida Rui Barbosa, contorna ndo o Morro da Viúva. Em 1892 inaugurou-se o pri·
mciro ttínel para Copacabana; cm l 906, out ro e depois outros ainda. Posteriormen·
te, o gigantesco aterro do Flamengo e cm seguida o da praia de Copacabana coma
nova avenida Atlântica; depois o elevado do Toá e o túnel Dois Irmãos. Essa impres-

108
~m!IACA5CCF1ll!IO
-ro,,:s,-AS
l'l,INTAoo SOll'COccocm-,c:o
ll'Ut~ cc 1112
c.,r.,. oo s~ oo ();t'IIOTo
Cl(OCIWW:O Ili[ 1uJ
oc.<J,OW....
c,___, <,ot

figura 20-i\rcn Mctmpoli1anado Rio de Janeiro: .irca edificndn cm 1922 (Niterói e São Gonçalo em 1933)

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Figura21 -Á rea Metr<>poli tann cio Hio de Janeiro: área ecliílcacla cm 1958

109
sionante sucessão de obras re\·ela não só a atraçã o que a orla oceâ nica do Rion?m
exercendo sobre as camadas de alta renda , ma - principalmente o fato de que o 1m -
peto em lançar terras no mercado imobiliário onde essas camadas constituem ade-
manda não foi contido por dificuldade de acesso. Para \·cnce-I.1s, convoca-se o Es-
tado, inclusive para despender vulto-os recursos.
A história de Salvado r não é essencialmente diferente. Embora não tenha tido
que vencer obstáculos do sítio como no Rio. a expan ·ão da classes de alta rendano
setor oceánico de Salvador comou com a generosa colaboração do E tado em um
ambicioso sistema viário. Tal sistema incluiu não apenas as das da orla propna-
mente, mas também a a,·enida Paralela (Gm·ernador Luís \"iana Filho'. mda a rede
de avenidas de fundo de vale que sen-e as regiões de Garcia. Broras Federação. Gra-
ça, Ondina, Rio Vern1elho, etc. Xo final da década de 1980. a orla recebeu grandes
obras de paisagismo e urbanização , e o sistema \iário ao longo das praias foi signifi-
cativamen te melhorado. No entanto , na década de 1960. o ace·so era precário. mas
as burguesias soteropolitanas já ha, i am se apropriado da orla, embora nela não pre-
dominassem.
Nessas orlas oceânicas , pode e,·enrualmente surgir uma \ia de interesse re--
gional, mas ela independe da urbanização que ali ocorre. embora possa beneficiá-
la. São os casos, por exemplo, da rod ovia Rio-Santos, no caso do Rio, e da esfrad2do
Coco, em Salvador. Essas estradas são pavimemadas somente depois que a ocupa-
ção já foi concretizada pelas burguesias, mesmo que de maneira incipiente.
Essas considerações trazem à baila o limitado desem ·ohimento de um setor
urbano ao longo das margens do Guaíba, em Porto .-\legre. :\ razão básica pelas quais
as burguesias gaúchas não ocuparam maciçamente aquela oda não deYeser bfüca-
d a em eventuais dificuldades de acesso. Como ,imos. as melhorias de acesso s.io
efeito, conseqüéncia da preferência das elites, e não causa. \·eremo · mais aài:mrc
que as burguesias de Pono Alegre preferiram os sítios alws da lndependen ci,1em
deir imento da orla do Guafüa. :\lesmo assim , entretanto , um cenue setor resid~ncial
com alguma participação de camadas médias e acima da média desern-oln:>u-sf
naquela orla, produzindo um setor que pode se enquadrar . em parte . no caso Jqui
examinado, no qual a atração exercida pela costa é que constitui a causa primefroda
urbanização e das melh orias de acesso.
~a zona Sul do Recife, chamam a arenção as várias pomes e especiaJmen-el)
feixe de longas avenidas \"oleadas para o atendimento de uma parte relati\dmeme
pequena da área metropolitana: as a,·enidas Boa\ ·iagem. Conselheiro Aguiar c.3E:1-
genh eiro Domingos Ferreira , sem contar a anmida ~lare chal ~lascarenhas de ~to-
rai s. !\o entamo, já nos primórdios do bonde, com acesso precário. Boa\ i agem era
cobiçada pela aristocracia pernambucana.
ReaJizaram-se as melhorias urbanas em Boa\ 1agem com cama ame<:edê1K1J
em refação a uma ocupação consolidada que podem dar a impressão de que forcll::
as causadoras da ocupação do bairro pelas camadas de alia renda , e não o romr-u:
Essas camadas já estavam "de olho " em Boa\ 1agem na década de 1920 quando e.is
melhorias foram levadas a cabo. Não há dú,ida de que, como afirma Dini: ~torara

1 IO
(1994,7), a avenida Beira-Mar do Recife "é um exemplo bem claro de como as
elitesprocuravam a todo custo modernizar a cidade". A pergunta que se faz é (re-
corde-se que este é um estudo de localizaçõe s): por que as elites resolveram mo-
dernizar a cidade naquele local e não em outro qualquer? É Diniz Moreira quem
responde:"Apartir desse momento, na cidade do ílecife, o mar é associado defini -
tivamentecom o signo da modernidade". Está selada a identidade entre n orlu e os
interesses das elites. Os melhoramentos urbano s de Boa Viagem foram trazido s
pelaselites, e não o contrário. Olhando para o Rio de Janeiro, essas elites já viam o
futuro de Boa Viagem. Segundo o citado autor, essa "modernidade" tran sparecia
na convicção de um cronista local que "comparava o Rio de Janeiro, com sua ave-
nida Copacabana, com o Recife e lamentava o fato de sua cidade não possuir ain-
da uma avenida daquele porte" (idem, ibid.).

i
t

figura 22-Área Metropolitana de Porto J\Jcgre: área edificada cm 1940/44

111
/\ estrutura t1rbanabásica

Esta obrn parte da premissa de que, por terem sido produ zidas pela mesma
formação social , pelo mesmo Estado e no mesmo momento hi stór ico, nossas me-
tropoles devem apresentar importantes traços comuns de organiza ção intra-urba-
na. Tais traços eslão representados na Figura 23, que mostra sínte ses das estruturas
intra-urbana s <le algumas met rópoles bra sileiras. Trata-se de figura s baseadas no
modelo por seto res de círcu lo de Hoyt (1959). Como sínteses que são, tais modelos
reduzem o espaço metropo litano a seus elementos mais fundamen tais, além de exa-
gerar na segregação e na simplifi cação das formas. Os subcentro s de co mércio e
serviços - elementos importan tes da estru tura urbana - são de sp rezados , neles
aparecendo ape nas o centro principal.
É curi oso qu e o modelo de Burgess (1967) tenha se tornad o ma is famoso e
difundido do que o de Hoyt, ape sa r de este corr esponder mais à realid ade do que
aquele. É que Burgess e se us colegas de Chicago tinham maiores ambi ções intelec-
tuais que Hoyt. Tinham, inclu sive, pr etensões a uma teoria da organ ização intra-
urbana , que desenvo lveram sob o nome de "ecologia humana " (Park, 1967, 2). Hoyt
não consegu iu ultrap assar a mera descrição.
Nn verdade, nossas metrópoles tê m uma organização intern a que é u m pou -
co um misto de círc ulo s concênt ricos e de setores de círculo , ape sa r d e os ultímos
predominarem so bre os primeiros e apresentarem maior potencial exp lica tivo -
até hoje pouco utilizad o - dos processos espaciai s intra -urbano s, co mo ,·eremos.
Esta obra procura explorar esse poder explicati vo. O modelo de círculo s co ncê n tri -
cos, entretanto, vale mai s do qu e a simpl es descrição de nos sas metrópol es se ndo
constituídas de centro e periferia. Há ta mb ém urna dispo sição de bairro s d e classe
média em torno do centro em áreas outras que n ão o setor de alta rend a. No Rio,
esses bairros incluem aTijuca, o Rio Comprido, São Cristóvão , a Ilha do Govern ador

11 3
e Nitc:r6i. bn )íl<JPa11l<J , liá e h,rn.,, rmccJJtnH,<JC'>de da<;'if.! média na zon a fone -
",;11Jtmia, ( ..snlarcirn, J,wlirn <,;hJ l',u ilCJ , 'Jrr.;rnt~mb(> , na ;,,m a f ,e5tc -A lto da Moóc.
a
,.·rai w1p<:. Lc,nl wlo , n alui hurg tH''>líJ rrn<Jc:c,Ui ali pre sente.:<;não'>(; organi za cm dr-
<1110 1:íumnm Lrach1n11m1íni<,, "><'to
., <,,ncémt riu,• ,; <•c:, r. CJaro que , cm termos de fa.
mflir1.,Í!-iolad;1c,,f mnfliar,da ;;iJt;t hurgtH",iHp<>dcmr1c.orrcr cm qualquer parte da me-
l 16pol<·. J:n q tw nt o cla<ic:,e e· e;nqmrnlo lrnír ro, por ém, i<-is rJ não é po ssível Como
prc·tc·ndc·nw•)mr1·~1rnr 11c.,,~ ohrn , é a nrganiza çiio por c,etor c'>que dom ina a estrutu-
HH/tO do í!!,JHiÇ<J inl ra urlrnno.
/\ mc:tndol<,gía científica não rode pre scindir d e hoa s obc;ervações, descri-
ey
oc!'><·cJ;,c,c:,i
fJut<i,cs d,, ., pro cc.,~os. Uma nh 1-,crvnç.ã o defeituo sa leva a uma cxplíca-
'rªº igwtlnwntc· clc·fcituosa. /\s con'iiclcrnçõcs dc"itc uipítuJo n ão objetivam ser mui-
to 1m1íc, q11c c:,rr11p)C'
<;dc ,;cri çoc., e dc•liniçõcs de Lipologia s. Para isso, os chamados
modelo.., .,,mp hfi cndo<;clC!c.•slrnturn urbana são útei s, desde que não se pretenda
t rrnr deles nrnis cio quc-podem oferecer.
f'am clcc,cnvol vcr l:'iis modelo<;, cons id erou-se qu e, tendo em vista as limira-
çoc'> do 11wio f f.,ico, ()', metrópole s brasileira s <!prese ntam- se segundo três catego-
rias. rtsque: tôm 'HiOgrnw; p;ira •w desenvolver - São Paulo, Belo 1Jorizonte e Curitiba
, ,,., quc tém J 80 grnus - Hccifc, Forlalcza e Porto Alegre - e as que têm apenas90
graus - Hio dc Janeiro e Srdvaclor. Os modelo s apresentado s na Figura 23 atendem a
c:ssa da~i, ifü.aç,w. bc for feita - c;orno deve ser - a abslrnção da baía da Guanabara,
o Hi<Jde J:uw,ro, fundidc, a Ni.tcróí, terá ü dispo sição lBO graus.

A metrópole in tcrior
'J:1n10 ~ft<JPaulo como Ifolo J Jorizonle apresentam seme lhanças de estrutura
que: prmrii1<:m c•1JCJ1rndrá -las cm t1m mesmo modelo. Na verdade, os pontos em co-
mum a pn :'ic:11t,1cl,,spc,r nmba s as metrópole s são ma io res do que os que aparecem
rrn Hgurn i; L /\líft s, esses pontos ~[lo co mun s a i11úmcras cidades do sul do Brasil
ai rnvc.:•)1;,
1Cfa1,por ferrovias, no fimtl do séc ulo XIX, nas quai s estas se alojaram num
fundo de.; vale, próxi1no no cc nlru, clívidindo o espaço urbano cm duas metades:
ttq uc.:J.1
<mele c;!>lé'Í ,, ccn I rn da cidade e ,1ou Ira .
E·,tc:h "iflO o ~ po11lo s cm <.;onwm :
1. /\ m c tr6pr,Jt: é i11lc;riora1rn;isso significa que dispõe de área para expansão
,m,1ocl;1<;c1s dirc:ç<ws::wograus.
i. í1c;xpnn sfw, o cspnço urbano depara com uma barreira que o
N" início d e.:s11
divide ;,o m ei o: 11111 va le ror 011cle corre um pequeno rio - Arrudas ou
'J:1m111Hl1wlcf , cujc, 1rnn sbordnm c nto f'rcqíicntcmcntc inunda as terras ad·
;:-,,e:11111<
j:1,·c.;111< c se .1loj.ijunto ao ri o. Evidentemente o centro da
1 f'c rrnvi;i q 11
e.idade f icíl c:11111n1 dc!sses doi s lélCl os. O co njunlo vale -ferrovia funciona então
c(11 110 11111<1 l>í1rrnirnque clcf'illC.:- lcnclo como referência o centro da cidade
o " lado de l:'i" (opo sto no u:ntro) e o "lad o ele cá" (o lado onde está o cen·
1ro) . A lrn1,l'irn dívidl ! o espaço urbano cm duas pa rtes que têm custos e tem-
p<,.11de: dc:.-..
Joc.::1111<:1110HOccn lro difcrnn ciaclos. Num estágio inicial da expan·

114
R;O O( JAA'ORO(l""c:lull,e NíT[RÓI)

R~ CE JANElRO(Inclusivo NITERO
I) PORTO/IJCCRE

SÃOP.NJLD OEt.0 HORIZONTC

H~m- n~ oc rnRo
- M~ 1 ll( klHOA1,1.1;
IIU.Cl(HCWSCMSCAMAM , ,11,t,,
D OU1AASAA(AS
RlSlO(NCWS
D .IAW IHOl/'1RWS
CJct"1110

f-igura23 - &ilruturas espaciais de algumas áreas metropolitanas sc~undo o 111


odclo do l loyt

L 15
são urbana - as primeiras d r eada s uoséculo XX- , dados dois pontos a igual
distân cia do centro, porém um localizado além da barreira e outro aquém,o
primeiro apresenta maior temp o e custo de des locamento do que o segundo .
Define-se, então, um lado do espaço urbano mais vanLnjoso que o outro,do
ponto de vista deste fator fundamental qu e 0 a acessibilidade ao centro.
3. Em virtude dessa vantag em, o lado em C]llC cstü o centro tende, inicialmente,
a abrigar maior parcela do cresc imento urbano do que o "lndo <icléí". Veremos
como, no caso de Belo Horizonte, isso foi só inicial e efomc ramcn t·e prejudi-
cado pelo planejamento da cidad e.
4. As camadas de mais alta renda tendem a se concentrar no lado mais vantajo-
so, embora a recípro ca não seja verdadeira, ou seja, no lado onde se localizao
centro há também camadas de baixa rend a. O lado oposto ao centro, entre-
tanto , passa a ficar "fora de mão" e os bairros de alta renda tendem a não
vingar ali, como a região de Pampulha, em Belo Horizonte (veja capítulo 8,
seção "Belo Horizonte").
5. No lado oposto ao centro, num ponto estratég ico parn o qual convergeo sis-
tema viário do "lado de lá"',surge o p rimeiro grande subcentro de comércioe
serviços. Esse subcentro é popular, por atender à população de baixa renda
localizada além-barreira, que não tem acesso econô mico ao centro principal,
j á qu e este pertence às cama das médias e altas. No caso de São Paulo,o
subcentro foi o Brás e, no de Belo Horizonte, a Lagoinha.

Vejamos como e por que esse padrão territorial se formou em São Pauloe em
Belo Horizonte.

São Paulo
Em 1867, quando foi inaugurada, a Estrada de Ferro São Pau lo Railwayveio
acentuar ainda mais a bipartição do espaço disponível para a expansão de SãoPau-
lo. Implantada no vale do Tamaduateí, a ferrovia aumentou a barreira representada
não só pelo rio, mas também por sua ampla várzea inund ável (Figura 13). Comisso,
dificultou-se o acesso ao centro pela região situad a além dessas barreiras- a zona
Leste-, uma vez que sua superação se limitava a algun s locais onde havia pontes,
possibilidade de cruzamento da ferrovia e alerro da várzea. Do lado oposto, ou seja,
a oeste do Tamanduateí, também havia um obstáculo: o vale do Anh angabmí. Esse
vale, porém , apresen tava uma dificuldade de supe ração bem menor do que o do
Tamanduateí. Em primeiro lugar, não havia ferrovia. Em segund o, tTatava-se de um
vale menor, de um córrego menor, com um vale mais fundo e estreito, quase sem
várzea alagável. A expansão urb ana ocorreu, ent ão, predominantemente além do
Anhangabaú, isto é, do mesmo lad o da barreira (Tamanduat ef-ferrovin) onde se en-
contrava o centro. A cidade tinha então, no final do século XIX,três áreas para ex-
pansão:
1. A zo na Leste, plana, e cuja ocupação exigia a tran spos ição cio obstáculo re-
pre sentado pela barreira Tamaduateí-ferrovia-várzea inund ável.

J l6
2. t\ lona Oc•s tc•,qt1l' c•xigiaa tran sposi ção do vale do Anhangabaú .
:1. 1\ < llllll't'iia di\hora de>água<;entre o<;doic;rios (onde aliéísJár.srnva a cidade),
na d11p~·,to do Bixiga e cln Liberdade, que não exigia a transpoc;ição de ne-
nhum ohst.íruln. tratava -sr, cnlretnnto. ele um sítio estreito, vincado de•vales.

A ridncll sc>t•xpnncliut·m todas essas clircçocs, porém , sdccivamenw. A ex-


1

pan~aoalt>mdo J\nhangahmí crn cio mesmo lado da mmor barrcirn onde estava o
rrntro da l'idade. ApP1rnc; isso jtí tornava csc;aárea mais vanlajo<;aqur a do "lado de
!:\". Alrm dh~n, o /\nlwngnba ú era uma barreira mais suave r., uma vc7 transposta,
davaacessoa uma regiao de topografia levemente ondulada, de altitude crei;cente,de
grandl' bclczn nnt11rnle que conduzia ao espigão da região, onde mais tarde se aJoja-
rian nwnick1Paulista. Por outro lado, a direção oposta tinha grandes desvantagens.
Haviaum rio maior, n ferrovia e uma ampla várzea inundável. Superados esses obs-
lnculos,tinhn-sc acesso a uma região plana, sem qualquer atrativo naturaJ. Na pri-
meiraregião surgiram os loteamentos das camadas de mais alta renda. A ségunda
regiãofoidcsprcznda por essas camadas e deixada às classes populares. Uma parcela
minoritária cln classe média ocupou parle da região desvantajosa, fazendo surgir na
décadade J 940, bairros como o AIto da Moóca e o Tatuapé; a alta burguesia, todavia,
restringiu-seil região vantajosa. Como já dissemos, a recíproca não é verdadeira.
Durante várias clécc1das, a cidade de São Paulo organizou-se em apenas duas
partesbastante separndas pela barreira córrego- ferrovia. Até atingir uma população
da ordem de 2 milhões de habitante s, era possível dividir a cidade apenas em leste e
oeste. Essa conformação inicial leve duradoura influência sobre a estrutura urbana:
tanto sobre a distribui ção territorial das classes sociais como sobre o desenvo lvi-
mento dos subcentro s de comércio e serviços. Vamos dedicar outras parte · deste
livroa esse assunto, mas é possível abordá-lo brevement e. A partir do final do século
passado iniciou-se a constituição e o enorme crescimento das camadas populares
urbanas no Brasil, de man eira que o crescimento da cidade na parte pior- o leste
- passou a ser maior que na parte melhor - o oeste. Em 1890, 72% do 60 564
habitantes ele São Paulo moravam a oeste do Tamc1nduatcí e apenas 28% a leste (a
paróquia do Senhor Bom Jesus de Mattozinhos do Brás). Em 1920, 57% e, cm 1950,
40,6%da população de São Paulo se encontra va a oeste, como mostra o Quadro 15.
Isso mostra como a maior participação das camadas populares a leste fez com
que essa região crescesse com maior velocidade que a oeste. Encrernnto, a partir de
1950,já não se podia mais dividir São Paulo apenas cm leste e oeste. Já nesse ano, o
ABCabrigava 8% da população da metrópole e a zona Norte, 11%.
As histórias dos bairros da cidade de São Paulo pouco esclarecem sobre os
bairrose loteament os populare s, enquant o há abund antes informações sobre Cam-
pos Elíscos, l ligicnópolis, Jardim América e avenida Paulista, etc. - a história não é
feitapelos vencedores sobre os vencedore s?) Richard Morse (1970, 259) avalia qu e
"a distribuição de classes na cidade em 1890 era a seguinte: 5% a sup erior, 25% a
médiae 70% a inferior". Por maiores que sejam as reservas que se possam fazer a
essesdados e conceitos, e por mais imprecisos e vagos que possam ser, é forçoso

117
Quadro 15 - Di s Lribuição ter r itorial da cxpnnsão d a população da Área Mctrop0•
lita na da Grand e São Paulo

Sub-regiões 1920 (**) 1934(* *) 1950(* * *)

absolutos % absolutos % absolutos %


A oeste do Tamaduate l 345 226 57, 13 548 470 48. 97 978 066 40,60
A les~e do TamaPduateí 192 893 31,92 368 41 0 32,89 805 506 33,44
Ao norte do Tietê 36 736 6,07 100 727 8,99 278 097 11,54
Sarito Amaro ,~ 26 918 2,40 81 494 3,38
Suburb1os a oeste 4 178 0,69 12 091 1,07 41 326 1,71
Subúrbios a sudeste (ABC) 25 2 15 4 , 17 59 814 5,34 216 159 8,97
)Lburb10s a nordeste (Perus e Jaraguá) 3 504 0,31 8 150 0,33

Total 604 248 100,0 1 119 934 100,0 2 408 798 I00,0

Nota,.
- Dado não disponível.
• Em 19::!0e 1934, incluía os distritos e subdistritos de 1970 de San to J\rnaro, fbirapucra , Capela do Socorro
e ParcU1ciros. quando formavam o município de Santoi\maro.
•• População tot:il. 1\cs~cs anos, o e nt ão município de São ncrnardo elo Campo eng lobava todos os atuais
municípios tio ABC. De todos, some nte a popu lação urbana de São Caetano e Santo André representava ,
cm 193•1,59% do total. ou seja, 35 204 habitante s.
••• População urbana apcnns.
Fonte· IDGR.censos demográficos nacionais para 1920 e l950. Para l931J, Censo do Estado de São Paulo.

reco nhecer que, se 72% da cidade se e ncontrava a oeste doTamanduateí, uma signi-
ficativa parcela das camadas de baixa renda também ali estava.
Quanto à classe média, a sim ple s obse rv ação dos bairros que aparecem nos
mapas da cida de do início do século-Vila Mariana, Vila Clementino, Ipiran ga, Per-
diz es, Cerque ira César, Água Branca, Vila Romana, etc. - indica que a maior parte
de ss a dasse também estava a oeste da cidade.
Finalme nte a oeste e depois a su doe ste, surg irarn os primeiros bairros exclu-
sivos da aristocracia paulistana: Ca mpo s Elíseos, Higienópoli s e avenida Paulista.A
locali zação desses bairros pioneiros defin iu uma tendência qu e, como veremos a-
diante , se manlém até hoje, quando a alta bur g u es ia atinge Aldeia da Serra, os vários
/\lphaville s, Granja Viana e ltapecer ica da Serra, já fora do n1unkípio de São Paulo.
Para concluir a ap resentação da s regularidade s espaciais comuns à estrutu-
ração inicial de São Paulo e Belo Hor izo nt e, cabe regi st rar que foi também além cio
1àmanduatcí, polarizando a p o pula ção do "lado d e lá", que surgiu o primeiro
s ubcentro de comércio e serviços da reg ião metropolitana: o Brás . Esse subcentro
era, e ainda é, eminentemente popu lar.
Como se vê, o modelo por setores mantén1-se até os dias atuais.

Belo I-Iorizonte
A mesma análise pode ser utilizada para explicar a estruturação territorial de
Belo Hori zon te e m suas primeira s década s e a permanência , até hoje, de alguns

1 18
11,,\·,1, ilHptHl,lllll'' d1's:--a L'St1utur,1ç,10 t'nÜ1(,1,1 rnm r~nJ, ,.u1.1Ple, n; ,l 1, de-
l°(lll''llh'~ dl, pl,1m·1,mwntn d,l rid,idt.' \h,\ s. t'"-hl ,m,1lt,t' ,~n e. p:tr,1 :~1 0 ·,-,lf t 0~10
.1~ llH(,l ' d,, nwh .tdt' c,mdu ·1d,1:,,pda prt'lc..'rt.'ttci.1 da, b.irg1•c,1.H '-l llt'r,uam ,1.._
t111 pl,uwj.mwn1,,.dt' m.nwit,\ qut.' [klo 11,)t 1.:01\tt' n.w (Om,t t,it t"\t t'\ào dcncre
l\l1~s.1s nwtwpPh.•,. nn qu,' t,mgt' ~ sti.1 l'!-llulllr.tç,i.r,
.\ l\lptt.tl lll\lll'll,\, t,11conw ~ão P,lllln. unpl,llltllll ·'-t' num ,1(10 con,, rnído
pt,t um , .,lt- ll t.hi 11bci1,h, dos \ 11 uda-. - rom, ,lí'C',l ltt'qm•ntt'mcmc 1m,mt1da
t' nndt', H't,1111 ,,, ,1h11,1r l'" l I ilho~ de umJ estr.1d,1dt" ft.•rcr,.•1rnt:io Ct"llral do Bra,,l
F~st' , ak dc:-t'l\\ ,,h l' :-t.',,pw \ im,1d,mH•nteno sent tdt, IC',ll'· <H",tt' dr maneira qt,e a
ddndt · ir.t:-t'dt.':Wll\Oh t.'l ,tnnO\tl'eao~uldf'IC'(\t."i.ta 11~Ultl, 2 1.126. \art',tcon·-
tnllll' tln pl,mn tk \, li ,tl) Hds ('rn ronsritu1da por lrt.•s 1ona~· a primeira era ,t zona
urh,11rn . limitnd,1 1wl,t ,\\'t'ni dn do Co nt o rno e llh lÍS freqücntemC'nte assoc1ad.1à área
"pla1wjad,t"dl' lklo l lori1o ntr : rm·olvcndo cssn zo na ha, ia unrn ourra que o plano
rh,11na,'.ldL'"snhmbana ...rom um plan o Yiririo men o, clabomdo r que foi mms de-
solwdrrido que 1m 1011.1 urbnnn . Finalmente. lrn,·ia uma 7ona chamada de c:nios
L'm·olwm ln n suhurb .rna . t\ diferença de padrão urbantstico cntn"' a ,ona urbana e a
$Uburbann L' rcn:-1:'ldnpelo Quadro 16. De aco rdo com ele. a zona suburbana. ape ~ar
de t('r u1rn1 an.•a três ,·czcs mai or que n urbana . tinha uma e'<tensào de rua menor
qm' o dobro, al~m de nprcsentnr muito meno · praça e avenidas . O plano revela.
portanto, a SL'mrntc de um modelo de círculo s co ncêntricos .. \ zona urbana era cla-
ramcncc n zona "no bre " da cidade e a suburbana . a popular .. \ quase-totalidade da
zona urba nn, de planejamento mais aprimorad o. e a mai or pane da zona suburba-
na e de sírios cstnvnm localizada s ao sul da barreira constituída pelo ribeirão e pela
íerrovia ao longo dele. Dentro da zo na urbana , a Co mi ssão Construtora da Nova
Capitnlrixou que inicialmente só seriam cedidos ou vendidos os lotes sit u ados den -
tro de uma faixa compree ndida entre as avenidas Cristóvão Co lomb o- nome que
na época se estendia a toda a atual avenida Bias Fone s - e Araguaia - atual Fran-
cisco Salles (veja n r-igura 26). O sentido d essa faixa era SE - NO. A rirea em questão
destinava-se a co mportar uma população inicial de 30 mil hab icanres, estipulada
nas diretrizes traçada s pelo governo esradual para o plan o da nova capiral. Nessa
área começaram as primeiras obras de urbani zação. Numa pane dessa faLxnforam
selecionados os primeiros lote s a se rem ocupado s por residência s. Os primeiros ocu-
pantes eram integrant es de camadas média s, poi s eram ou íuncionários publicas
transíeridos de Ouro Preto - a antiga capital- , ou proprietári os de imoveis nessa
cidade ou no antigo Arrai al do Curra l dei-Rei. totalmente de sapropriado para a cons-
cruçãoda nova capital, ou ainda pioneiros que se aventuraram a co mprar os primei-
ros !ores vendidos em hasta pública . Só mais tard e, à medida que a cidade se forma-
va e se constit uía como urna cap ital , é que vieram a alra e a media burguesia s, ou
seja, os altos funcionários e comerei.antes e, posteriormente, os grandes industriais.
O bairro pioneiro, onde predominavam os funcionários ptíblicos, tem até hoje o
nome de "Funcionários " e ocupa principalmente a encosta leste da elevação cm
cujo cume está o Palácio da Liberdade (figuras 26 e 39). Quando a burguesia chegou ,
instalou-se na mesma faixa pioneira, ocupando porém mais a encosta oeste. Essa

l 19
Quadrn 16- Relo l lorizomc: algun1.11;carae lt' l tstirn, do Pl,111
<1,k \,11,lllHt'"

Area Ext~nsão da Extt>nsflod ~s


(hectares) ruas (qullôme ros avenidas

Urhana 881,54 87,76 38 S3 9


Suburbana 2 '193,08 1,IQ,89 1 18

f:onh• PI '\ '\ ·\ 01.1vin l'\ntm rrn n(l/ogirm 1/1• /k/11 I /111 i-::11111,•
I' 17

. lorm.1,.1\t'O
<'nrosln era mais próxima da éÍí<'íl onde. junto à <'SlJÇ,ll) fNtm 1.m.1
w n1•
<t>ntro cfa cidade, que não hnvia sido definido no Plnno. t\li,,, , nem o Pl.11 m,
t omh~;io Constrntora definiram qualquer zo rwament o para ,1eid,l<k lh primt'ltm
C\tahclccimentos de comércio e se rviços começaram, logirílnwnlt' ,, nrnll,ir uma
rua que. panindo da praça da estação fcrro\'iária, subiíl em dtrl'Ç,'lu ,) p ,Hlt' mh
\'alorinda da futura cidade, ou seja, n encosttt oeste. T.11cm cxntamenct•.1qu1·bqut
fora rc C'n·ada para a burguesia; além <lis o, tangcncia, ·a a Praça d,\ llht>rd,1tlt · re·
scn ·acfaao palácio do governo. Era a run cln Bahia.
Portanto, lambém em Belo l lorizontc. o centro da ritlatlt• t' th h,1rrn
res1dcncrnis das camadas de mai s nlta remelaorgnniznrnm-sc <lome~nw l.tJod•
barreira rio-vale-ferrovia. Poder-se -á alegar que isso tcrin sido uma dt.'l'tHrt~lll'W
do Plano. uma vez que praticamcnre toda a área plancjnda L'St,n·a do 111t•, mo!JJ
da barreira e que a localização do comércio ccnlrnl e das burgut?sid$fo1i:t\ttdtl11
nnda pela localização dos lotes que lhes foram oferecidos. Ctbt• imt•:-.11g.u t'nt.1n
que crilério teria guiad o a Comissão Construtorn nn sclcç.io desses lo!t'~ 1\,1h1!~
admití1 que essa escolha não poderín co nt rnrinr o gosln. os hnl>iltlSt' .1tt111tlilJt•
morar dessas classes e que elas não aceitariam·· locnlizn(ões 1uins",qu<'rp,11J~M
casas, quer para seus negócios. Em suma, n demanda precisava ser ,1lt'tllhd,1 fam
bém é valido admitir que, precisamenLc por ter sido pln1wjnda parn .1h11~.11,1:- b11r
guesias e seus negócios (como os fatos comprovarnm). ,l :\t(',l uth,llhl lt'11,1,1J11
concebida por Aarão Reis, de um tínico lado do Arrudas . Elt•s,1hi,1qtH'. ,r t'"t '
ribeirão viesse a secciona r a cidade ao meio, cstnrin sendo c:ri,1d,1lllll,t,111•,1 pl,1 11l
jnda que tinha um ]ado melhor e outro pior, o que st'ri. 1in,ll't'tta, t'l: a att',1pl.lllt
"'
da, sendo destinada às burguesias, linha que scr" boa·· intl'grnlmrnh' \, l,1111.11 !.1
,
populares foram alojadas fora da área plancjncln. Fm Bras1li,1.pnr ar,1:-.0, 1t,, ,ltt,•
rente? Como afirma Milton Saneos (1993, 89), "n1111cat' dt'111,1is lt•mh1.n,Jlll'm,•1
cado e espaço, ou, ainda melhor , mercado e tcrritorio süo si 11fü11n1t ,s Umn.hi-1·
entende sem o outro".
Inicialmente o crescimenlo de Belo l lorilonte foi maior ,w sul d,1h,111,· 1r.1
definida pelo ramo norte da avenida do Con torno-, m1st'in, do llll':mml.1d111 \lllk
se formava o centro da cidade (figuras 24, 25, 2G e 3~)).l la\'in prnzos fi\Ollp.u.1.1
construção das casas, tanto por part e dos adquirentes dos H·rrenos ro11wpmp.uh·

120
1900 1910 1920

1930

rl)Hlh 1'1/Wllll.
r,l'. AV. CIMl'IM
o - ~~

Figura24 · -
-Cidade de Belo l lorizonte: áreas ed ificad as en tro 1900 o 1!MO

12 1

>
í

-~«,no:
_ ,...(õj\i4!:
~ •• l:lht!J • :J!Cli.1;,:Z

~:,w'O, -2-

_ - - Ci e de BeloHonzonte: área edificada em 1964

Fi:.,ira26- Cidade de Belo Hori7.0ntc;localu.ação das prunciras residências

122
dos proprietário s em Ouro Preto, que os haviam recebido em doação. Nessas cond i-
ções, somente famílias com posses adquiriram ou aceitaram lote s cm doação com
aquele compromisso. O crescimento inicia l maior ao sul incluiu e su perou a área
dos primeiros lotes ocupados. Esse crescime n to maior só ocorreu porque as cama-
das populares, os candangos cons trutores da cidade, foram inicial e provisoriamen-
te toleradas dentro da avenida do Contorno. Nos p rim eiros anos de vida da cida de,
as camadas de mais baixa renda ainda se localizavam na área urbana, ocupando
favelas,barra cões de obras das empreiteiras, alojamentos ou casas velhas do Arraial
ainda não demolidas. 1 Pelo menos até 1912, pod e-se afirmar com seg urança que a
população ao sul do Arrudas superava a do norte. Depoi s, ta l como em São Paulo,
nas década s de 1920 e 1930, enqua nto a participação da população localizada nesse
lado caía, aumentava a da que se local izava no lado opo sto (veja os quadros 17 e 18)
à área desvantajosa, predominantemente popular, situada fora da área plan ejada,
ao norte da barreira. À medida qu e as obras de urban ização pro ssegu iam, a cidade
crescia e as camadas médias e altas ocupavam a parte planejada, os alojamento s e
habitações provisórios eram demolidos e as cafuas transferidas para fora da avenida
do Contorno. Em virtude da faixa liberada primeiro pela Comissão Construtora e da
existência, anterior ao plano, do núcleo da Lagoinha , a expan são inicial deu- se no
sentido nor te-s ul e, em ambas as extremidades , extrapolou a zona urbana , limitada
pela avenida do Contorn o. Ao norte, além do Arrudas, formaram- se, ou consolida-
ram-se, a Lagoinha e a Floresta.

Quadro 17-População inicial de Belo Horizonte

Zonas 1905 (*) 19 12 (**) Aumento (%)

Zonaurbana 7 694 12 033 56


Zonasuburbana 5 847 14 842 153
Zonade sítios 4047 11 947 193

Fontes:
•Relatório apre se ntado ao Conse lho Deliberativo da cidade de 13elloI lorízont e pelo Prefeito francisco
Bressane de Azevedo cm se tembro de 1905. ílello Ilorizont e, Imprensa Official de Minas Geracs, 1905. p. 92.
Trata-se de um censo referente ao disLrito de Belo I Iorizontc.
ºP ENNA,Otávio. Notas cronológicas de Belo llori zo nle, 13do Horizonte. Estabe leciment os Gráfico s Sant a
MariaS.A.,p. 147.

A partir daí, o Plano começou a condicionar cada vez mais a expansão urba -
na. Paradoxalmente, entretanto, esse "condicionamento'' era determinado com vis-
tas à expansão urbana ocorrer cada vez mais/ora da área planejada, fora da avenida
do Contorno. Era, tal como em Brasília, o antiplano. Jáem 1920, como mostra a
Figura 24, havia mais cidade fora do Plano do que dentro. O grande cresc imento da
população suburbana, com predominância das camadas de baixa renda, é revelado

123

• l
1wl< 1 Qu.1dro 1-. \ ow-se qu e c..,,e pa drno de rrcsci mcnl o suburbano nadaINnq

\ l,, 1..om o seu t'qun alrntL' nns cid.1drs comu ns. que apresentam. na pcnfen:itani
<h.crv,dmcnto mais alt,ts que 1m, part es mais ccmrais. Nessas cidades asp~rttt
cen 1 .1 · 1.1c:-tão oc upada s- quando não "iaturnda s- (' nelas a populaç,1,,f·mh<,ra
trc,rl nc'o a ta,a mcnore'i, e maior que na per if<'ria rarefeita. l;m Bclc,1forwinr,,_
como no, pnmordios de Bras11ia- . dc•u-sc>o opo ...10. A {rrcacentral é quPrrn r,w·'···
ta. \mda t'lll 1940 ha\ia quadras 111Lc1ras, ,1gns denr roda avenida cioConr,,rn,,.;·~
1920 a m,nnr palle da ~írr•au1bana eslava vaga e não foi ror qualquer v1sl11rnbr1:é!
.smura~'ilo que <.'lanfto absorveu o crcscimcnw urb.ino de e mão . 1~m mo:;, c~s.1;,~
apre"it"IHa\aa baixí sima densidade bruta ele•8,7 hab./ lrn. C', em 1912, apena\n~
O Qtwdro 17 permite-nos analisar a distribuição do crescimento urb,rnr,em
lermos demograficos. Segundo esse quadro, a população urbana em 1912cr?.d,
12 033 h.-tbirame . A Figura 2.J mostra que a população .suburbana se local!1.a•.aao
..,u). lt')•aee norte. ~lesmo que a maior parte dessa população estivesse ao nor" ~
pane ~uburbana sul. mais a parte urbana- também ao sul -englobariam a ma1r,r
part1..• dl' !>CU habitantes.
Por conseguinre. no início de sua expansão urbana. Belo Horizonte realrr:1:r.-
tc- rre,ceu mais ao sul da barreira-lado do centro -do que ao norte. Entretanto a
medida que a classe média e a burgue sia ocupavam a parte planejada , expu,sav:!m
a camada~ populares para fora da a\'cnida do Contorno. Dentre as áreas ex1s1l'ntn
fota de a a\·enida. as mais acessíveis ao centro eram as situadas imediatamentel'm
freme a este, do lado oposto da barreira. Ali começaram a se expandir os bairros
populares. de maneira que , em 1950, a população ao nonc da barreira supermaado
,ui. O Quadro 18 mostra a disrribuição da população de Belo Horizonre emrelação
ao ribeirão dos J\rrudas.

Quétdro 18- Distribuição da população da t\rcn f\letropolitana de Belo HoriLonte

Localização 1950 1970

Ao norte do Arrudas 174 650 684 115


Ao sul do Arrudas 131 550 669 372
Total 306 200 1353487

omc ; 1n.1pada população por pomos elaborado


~ut.1 1aJJ 19!'i0 ::-omcnlca cidade dL' Belo 11011.t pot
\C~L\C'I Para Hro o mun1c1pio::-
..... de Cont. 1gem l' Bclu l lu11zontc; popul.1çãupor seroresccfüuano.1.
l ·untc;\'I11..\ÇA. 1978.p 95.

Pelo censo de 1950, a população prc~ence cotai. urbana e rural. de BeloHori·


zonre era de 352 724 habitanres. O total que aparece no Quadro 18 é, ponanw, uma
amostra mab que suficiente para validar ns porcentagen s obtidas a panir dele.
Tal como em São Paulo, a população do "lado de lá" -o lado popular,opo~to

12-t
,tn do ecnt 10 - c 1csd a num I itmo mai s rápido que• a pnpul a~, o do "I, do d ,•< o
t.1doond<' se locali1a o e entro. f\lcc;mo n ão c;rndo mai s poss ív •I d 1v1clir u, ntí'tlf~po
lt•,t' lll duas mctaclc>.,,cabe rcgic;Lrara cxic,tênci,1clt•algunM s 111,u ·ri,r11 ·~ 1,">1·!'l c;onnu,~
Impon amc ...
t'
Tanto cm São Paulo como em Belo l lon,nnle r'<I-.Ic 111Ir<'~ g ra nd t·s w~~ii">r
principai.... L·m Belo 1101izontc , por ser menor que Sao Paulr1 e tmnlH·rn ()(JJ tl'r
11maregião )C'-. te pcquPna, cs'ias trêc;granclrc; rC'gifü•c;pri11n paic;d ao e ,,nr.td,· ,,u,1
se toda a metrópole . Em São Paulo, não. 11<1qur c;r cft-finir0111rn s grnnd, •i;;r ·g1 , • •
além dessa" três .
Fm ambas as metrópoles, gra nde p arte d ac;camada s d<'alia rr•ndn l ,,nr PrJlr s
..,<'na Rrgino Centr al e em um sPtor (Sul cm Belo l lorLmntc c><;udof' Slf· ('lrl <i,11,l',JU
lo). Nolc-s(>que a recíproca não é verdadeira. Fn1 ílelo l lorizontP . um tinH ,, r11f.i1nu,
ahrnngctanto a Hcgião Central co mo a Sul. que tamb ém concentra ac;< ,1m,11la~d·
alta renda, no distrito Centro-S ul. Para fins de co mpara ção, foi e nad a (•rnSã" Paul c,
um:-iRegião Central (que também apresenta s ignificat iva pan.:Pla da-; , a nrndas d·
alta renda), que, se acrescida à Grande Região Sudoe ste, pos~uidora ela m ,11<11 , ,m-
ccntração de camadas de alta renda, torna-se equivalente à Grande fü:giãr, Sul (,,u
Centro-Sul) de Belo Ilori zon tc.
São estas as três regiões principais (veja Figura 27 e quadros IH e l 'J):
J. Uma Grande Região Popular, no lado da barr eira oposto ao centru e• rclauva-
mente com poucas indústrias; em São Paulo essa grand e rcgiao é a 1.ona Le le,
onde 19,94% dos chefes de domicílios são pobr es e miseráveis, íslo é, g.m ham
menos que 1,5 salários-mínimos. Esse percentual é o maior de toda s as n.:gio,•&.
Em Belo Horizonte, essa região popular e com pou ca:, indústria s é a CJra nd c
Região Norte. Nela, 37,28% dos chefes são pobre s ou miseráveis.
2. A Grande Região dos Subúrbios industriais Ferrovidrios: C..omagem, Bc um ,
Ibirité e Ribeirão das Neves em Belo Horizonte; ABCD, Mauá e Hibt!1rãu Pires
em São Paulo. Essas grandes regiões são também popula re5. Em SacJ P·1ulo,
apresenta menos miseráveis que a primeira , a Grand e Região Popular . I ,.2'.1 ,
contra 19,94%. Em Belo Horizonte não; os subúrbios ind ustriais têm ma,or
participação (41,62%) de pobres e miserávei s que a zona Norte (37 lH %). A
tendência, entretanto, é a de Belo Horizont e se aproximar do padráo dt SãCJ
Paulo (veja capítulo 6), uma vez que as camada s de alta renda que arnda o
brevivem na zona Norte (Pampulha e vizinhan ças) tend em a ~e estagnar c,u a
crescer ali, em ritmo mais lento que as camada s popula1e 5. Além <.Jí,; so, no ~
subúrbios industriais, a classe média baixa, que consegue proximidade: ao
emprego industrial, tende a expulsar dali os miserá vei5 que dependem de
subempregos e do setor terciário localizado s no centro. Os subúrbio s indu s-
triais de Belo Horizonte, por outro lado, têm 40,21 % do s pobres e mberávei s
da área metropolitana, enquanto a Região Popular - a None- tem 38,33%.
3. A Grande Região de Concentração das Camadas de Alta Renda. ~udoe stc em
São Paulo e Centro-Sul em Belo Horizonte. Em São Paulo essa região de1ém

125
r1r,,r;·p 1
0 do, ( lwfci;de domidlios que ganham mnis que vinte salários-míni-
1110~ . 1-111 Bt'lo 1101izon te c-ssncifrn, parn a região Centro-S ul é semelhante:
S],!)b% (vcjn o C)uad1o 20). Por outro lado, cm Belo Horizonte, 20,40%dos
t lt<'II'~clc•ssnrt•gião ganham nrnis que vinte salários-mínimos enquanto em
\ao Paulo, 11:1rcgifío c·quivalcnle - Ccnlrn l mais Sudoes te-, esse número
r· cl.1ordt>m ele 2 l ,!i7% (c;omn das linlrnc; 3 e 4). São cifras bastante semelhan-
1t•s (()11.iclro 19). Notc•-sc, entretan to, que o Ccntro-Sudoes re de São Pauloé
m11i10 m.tio1 - em tcrmoc; absolutos e relativos - que s ua região equíva-
le111 e· c•111fklo llotlzon te - a região Centro-Sul - , pois detém 35,51%do
tntrd ele•domi tíl ios, enquanto cm Belo l l orizontc detém apenas 10,60%.Daí
sr· rom: lui, incidcnl alm cntc, que Belo I Iorizon tc é mnis segregada que São
P:nrlo, poi~ pnrn ê1brnngcr rar ccla se melhante de ricos foi necessário traçar,
t'lll ~ª"Puulo, área rclalivamcntc mu it o maior que em Belo Horizonte.
11 rí1wl111cn1c,há cm São Paulo regiões não equivalentes às d e Belo Horizonte,
pois I rnla -sc de metrópole maior e mais com plexa: as grandes regiõesNor1e-
No1o<• stc e Nordeste (Guarnlh os). [:sw úllima é contígua à zona Lestee a ela
poderia ser ~onrnda. Nesse caso, a zona Leste, inclusive Guarulhos, deteria
-~1,'J0% cios domicílios <ln ;írca melropolilann; desse modo, superaria are-
grnc,~udoc~Lc.Das se is regiões da Área Metropolitana de São Paulo, a Nor-
dPslc, composlé.l por Guanrlhos, é a terceira cm pobreza.

O ()11adro20 mostra a distribuição elas difcrcmcs faixas de rendimentos dos


e lwfc•s, c;c•gundo .is Grandes Hegiõcs, cxcclua nclo a zona Leste de Belo Horizonte,
CJIH' <~muito pC'qucna (detém apenac; 10,8% dos do micílios elaárea metropolitana)e
11fif,l<·m similar cm <,iioPmilo.
·ra111bérncorno cm <;ão Paulo, as camadas populares que cresciam do lado
mais dew;111tc1jo so, com acessibilidade mais baixa ao cen tro principal, passarama
c·cm~t it uir dcmélnda para o centro com ercial, que alend ia às suas necessidades. Sur-
giu, {·nlflu,cm determinado ponlo, para onde convergiam os fluxos de transportes
pMH 1rnnspnr a barreira cm direção ao centro, um ponto que otimizava c1<1cessibili-
d:tdcJ dw , Jmbítante s da região desvantajos«. Nesse ponto, junto à barreira, surgia
um, í•111mtomerdal popular , próximo ao cen tro da cidade, porém dele radicalmente
difn<·n1c e atendendo a outra dientcla: a da região desvantajosa, que não tinha acesso
(!(.,,ni,rnicna,, centro. Em Belo Horizonte , foi o centro come rcial da Lagoinha, e em
~ª''Pm1Joo do Brás.
Lm 5ao Paulo, em J875, foi inaugurada a faLrada de Ferro D. Pedro II, ligando
é1e 1dMlea c..apiraldo Impér io, e n estação 1crminal locali zava-se exatamen te no Brás.
,;1 formvia reforçou a região lrihulária do Brás, dese nvolvendo o setor (com pou-
I~t..<
, ar, 1ndtís1rias) em direção ao Rio e fortalecendo ainda mais esse bairro como cen-
tr,, e<>rrwrcíal. Alguns acreditam que o Brás, como importante cen tro comercial,foi
fr11tfJ cJ:i<.:(,lé1çãr,elo None. J\ estação cercnmcnle reforçou o centro, mas não foiseu
fotr,r dc:tcrminanw . Se fosr;e, caberia indr1gar: por que, no Rio, a estação D. PedrofJ
- t,;,e;tantc! afastada do centro no século XlX- não determinou o desenvolvimento

126
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Quadro 19 -Áreas Metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte
Grandes regiões por rendim entos dos chefes de domicílio (1991)

Grandes regiões Porcentagens dos chefes de domicílios


São Paulo Belo Horizonte
Até De 1.5 a Mais de Até De 1,5 a Maisde
1,5 20 20 1,5 20 20
salános- salários- salános- salarios- salários- salMios-
mínimos mínimos mínimos mfn1mos mínimos mlnirnos

1. Grande região popular com 19,94 7 1,63 2, 16 37,28 56,71 2,33


poucas indústria s Zona
Leste em São Paulo e Norte
em Belo Horizonte

2. Subúrbios industriais 15,26 74,59 4,0 7 41.62 53,42 1,70


f errov1ânos. ABCD em São
Paulo e setor Oeste em Belo
Horizonte

3 Grande região de concen 14,08 69,61 9,92 19,55 58,60 20,40


tração das camadas de alta
renda. Sudoeste em São
Paulo e Centro-Sul em Belo
Horizonte

4. Centro (sô para São Paulo) 8,59 72,99 11,65


5. Região Norte -Noroeste (idem) 16,98 72,99 3,62
6 Região Nordeste (Guarulhos) 16,87 72,90 2, 15

Notas: O quadro computa ape nas mLmicípios com mais de 50 miJ habitant es.
As linhas deveriam totalizar 100%. A diferença é representada pelos chefes sem rendimentos e pelos que
nã o os declararam.
Fonte: FIBGE,censo de 1991.

de um grande su bcentro ao seu redor? Nada surgiu ali que se compare ao centro de
Madureira, Nova Igua çu ou Méie r. Deve-se perguntar também: por qu e a estação da
Luz não teve o mesmo efeito, apesar de, nas primeiras décadas deste século, estar
afastada do centro de São Paulo? Por que não se dese nvolveu ali um subcentro di-
versificado, comparável ao da Lapa ou ao do Brás? O Brás foi, durante décadas, o
maior subcentro da metrópole paulistana.
Até por volta da década de 1960, quando os centros pr incipais de nossas me-
trópoles pertenciam às burguesias , era comum as classes popular es, qu e a eles não
tinham acesso social e econômico , desenvolverem o seu ''centro p rincipal " junto aos
primeiros. Milton Santos (1959, 68-a) captou pione iramente esse aspecto em Salva-

128
Qundro20 - Chtsst's ele rendimentos de chefes de domicílios srgu ndo as Grandes
Hegiões t 1~)~)
1)

GrandesReorões Porcentagens dos chefes de domrclhos


São P;mlo Belo Horrzonte
At~ De 1,5 d Md tS df' /\té De 1,5c1 Mc11s de
1.5 20 20 1,5 20 20
sal,lnos- salários- s,,lários- 'i,11.11
IOS· Srllánoc;- sal~rros-
mínimos mínimos mínimos mínimos mínima,; mínimos

1 Grandert•o1c10 pop11iarcom 33, 12 26,84 10,'18 38,67. 38,98 22,26


poucasmdust11aslo na
l estepm S,10P,1uloe> Norte
emBelo Hor11onte

2 ~ubllrb,osindustriaisferro- 15,33 16,92 11,96 45,2 1 38,52 17,05


v1á11os ABCDem São Pauloe
setorOe,te em Belo Horizonte

1 G andereg áo de concentra- 26,99 30, 11 55,53 5,60 11.14 53.96


<ãooas camadasde alta renda.
Sudoesteem São Paulo e
(ermo-Sulem Belo Horizonte

-1 Centro(sopara São Paulo) 2,40 4,61 9,52

5 Reg•ão Norte-Noroeste(idem) 16,98 16,47 10,58

6 RegiãoNordeste(Guarulhos) 5, 18 5,05 1,93

Total
1ºº·ºº 100,00 100,00
1ºº·ºº 100,00 100.00

Nota:ver Quadro l 9.

dor,quando chamou a Baixa do Sapateiro de "varejo pobre" e a rua Chile de ''comércio


deluxo".Voltaremosa essa questão quando tratarmo s dos centros principais.
Tanto o Brás como a Lagoinha mantiveram sua importância por mu iLas déca-
das. O Brás, até a década de 1960, a Lagoinha, por volta dos anos 70. A partir de
então,sofreram grandes transformaçõe s em deco rrência de tran sformações da es-
trncurametropolitana global. A popu larização do centro principal , cm São Paulo e
emBeloHorizonte, esvaziou esses subcentros. Antes, eles era m próximos do centro
masdele distantes econô mica e socialment e. Não competiam entre si. Agora, não.
Sãopróximosfísica e socioeconomicamente. Concorrem, então, entre si e o centro
principalevidentemente ganha a concorrênc ia, esvaziando a Lagoinlta e o Brás. No
casoda Lagoinha, ela foi lamb ém desfigurada por várias intervençõe s viárias. Dei-
xoude ser um subcentro diversificado; tornou -se especia lizado, principalment e
emoficinas.Note-se, entretanto , que não foi essa a causa principal de seu fim, pois

129
o comércio diversificado exibido outrora poderia t er-se expandido nas áreas rema-
nescentes depois das intervenções viárias.
Ainda como em São Paulo, a divisão da cidade de Belo Horizont e em duas
metades somente foi possível até por volta da década de J 970 -1960 para São Pau-
lo-, quando essa estrutura foi rompida, à seme lhan ça do ABC em São Paulo, pelo
setor industrial-ferroviário proletário de Conta gem-Betim.
Em Belo Horizonte, a ferrovia atraiu o dcsc nvolvim en to de um grande setor
industrial-popular na direção oeste (Cont agem-Betim), de sviando para ali parte
da expansão urbana que vinha ocorrendo ao norte . Proce sso idêntico ocorreu em
São Paulo, com o desenvolvime nto do ABC. Em ambas as metrópole s, o setor in-
dustrial-ferroviárioalterou a estrutura inicial bipartida, provocando inclusiveo de-
senvolvimento e a constituição de novos subcentro s populare s.
Os esquemas de Belo.Horizonte e São Paulo apre sentam em comum aJguns
aspectos do funcionamento do mercado imobiliário, por meio do qual as classes
sociais disputam as melhores localizações. Tais localizaç ões são definida s, em pri-
meiro lugar, em termos de custo e tempo de deslocamento ao centro da cidade;
em segundo, em termos de atratividade do sítio. Nos casos aqui examinados, a
barreira vale-rio-ferroviaaumenta os tempos e custos de deslocamen to ao centro,
uma vez que constrange os fluxos- ou as possibilidade s de fluxos- de transporte
apenas aos trajetos que se utilizam dos pontos de transposição da barreira . Nocaso
do rio, esses pontos são representados por um limitado número de ponte s; no iní-
cio da expansão urbana, uma ou duas apenas. De forma análoga, o cruzamento da
ferrovia também representa um constrangimento sério, talv ez mais sério que o
rio, pois os viadutos transpondo as ferrovias foram construídos somente depois
que São Paulo e Belo Horizonte eram já metrópol es importantes. Nada disso ocor-
re com relação aos pontos a partir dos quais é pos sível atingir o centro sem a ne-
cessidade de transpor obstáculos. Por essa razão, as áreas situadas além das bar-
reiras são rejeitadas pelas classes de maior renda e seus terreno s passam a ter preço
inferior aos daqueles localizados aquém da s barreira s. São então ocupado s por
zonas comerciais e residenciais das camadas de renda mai s baixa. Ao contrário, os
terrenos aquém da barreira apresentam preços m.ais altos (me smo que a iguais
distâncias do centrn da cidade), pois têm maior valor de uso.
A estrutura básica acima descrita é comum, como disse mo s, a várias cida-
des médias do sul do Brasil, cujo espaço urbano foi di vidido em dois, pela barreira
rio-ferrovia. Quando a cidade atinge dimensões metro politana s, essa divisão não
é mais possível e o subseqüente desenvolvimento d essa estrutura básica, inclusive
o destino do subcentro popular que polariza a região de baixa renda, dependerá
do impacto que outros fatores terão.
· Vejamosagora a eslrutura intra -urbana básica da m et rópol e litor ânea.

A metrópole litorânea
A metrópole litorânea pode ser reunida em dojs grupos: as que têm um terri-
tório para expansão de cerca de 90 graus - Rio (sem Niterói) e Salvador , por exem-

130
pio- t' aquelas que dispõem de 180 graus - Reci fe, í onalcza Po rt o Alegre r Hio,
1rdusm.~ :'\ill~ro1
.\ mctropolehtorúnca expandiu-se em função do ponto escolhido para o porto
,1pa11ir <loqunl rnmc,-a a se desc•n, oi ver a aglomeração e seu ccncro.
:\, atind,Hlrs pnt tuá ria5 têm requisitos loeac ionais p róp rios- água" profun-
das.ptotl'~·ãocontra mar rc,·olto, etr. Sua localização-e/ou poste rior expa nsão ou
rt'lllilllCJamcnto - t' determinada, tal co mo as vias regionais dr Lransportcs e as
,tmasindu triais. por rnlões externas à cidade. A ferrovia, ao ser impla ntada. veio a
formarcom os portos um binômio altam ente art iculado. Por seu lado, a ferrovia
procurarafund0:;de ,·ali.!ou planícies e, por razõ es ele espa ço regiona l - mais do
queporra?õcs topográficas-, raramente pen etrou na metr ópol e costeira, pela orla
dealto-mnr. Ou pcnclro u no espaço urbano pe lo inter ior, ou- nas cidades que têm
apt:'na.90 graus de te rra firme - pe la orla marít im a voltada para o inreno r (da baía
àaGuanabara ou da de Todos os Santo s, nos casos de Rio e Salvador). i\ lais tar de,
condiciona ntes espaciais regiona is fizeram com que tamb ém as prin cipai rodovias
regionais riessem a ocupar a mesma posição dentro do espaço urban o. No Rec ife,
umadesuas rerrovias foi locada ao longo da cos ta, mas se localiza razoavelmente
afastadadela (veja figuras 1 a 12).
O pano passa a marcar um ponto de encontro entre dois sistemas de erans- é;
porte. O conjunto porto-ferrovia ass ume então dupla determinação no espa ço ur- m ::.
banoda metrópole litorânea. Marca , d e um lado, o local que se tornaria o centr o dn f; ,-r
cidadee, de outro, o eixo - no caso das metrópoles que têm 90 graus-, ou os eixos ~ ,1
(nasque têm 180) ao lon go dos quai s foram imp lantadas as primeiras indústria s e ªi ~ .~
E
amrnz éns.Maistarde, as mesmas razões regionais fizeram com que as gran des aut o- :.- 1'J
estradas se localizassem també m nas mesmas direç ões. Em algun s casos, mesmo til~ :=
havendomudança na locação intra-urban a de rodovias- corno houve no Rio entre ~
a antigaSão Paulo-Rfo e a via Dutra - essa difere nça é desprezível em termos de
i ~
"" ;:
espaçourbano,pois a nova via cont inua locada - pelas mesmas razões do espaço e::
regional- na mesma região geral da cidade que as anteriore s.
Em Porto Alegre, embora o sítio permitisse a expansão urbana num arco
de 180graus, a região tributária da cidade , concen trand o-se ao norte , detenni-
~ ~

-
1
nou, como vimos, a localização, num único feixe viário, da s mais imp or tantes -
viasregionaisque atendem à cidade. Essa conc entração viária - e não os cons- 1
1
lrangimentos do sítio ou a legislação urbanística - condicionou tão fortemente
o crescimento da metrópo le naquela direção que , apesar de ter 180 graus para
expansão,Porto Alegre se transformou na mais linear de todas as conurbações
metropoUtanas brasileiras. Nesse sentido , Porto Alegre pas sou a ter sua estrutura ção
maisassemelhada a metrópoles que têm sítio restrito - as de 90 grau s, comó Rio
eSalva dor-do que com Recife, por exemplo, que tem, tal como a capital gaücha ,
180grauspara ocupação.
Analisemosentão, inicialmente para o Rio de Janeiro e Salvador, co mo se
processoua ocupação das áreas que foram deixad as fora do eixo porto-ferrovia -
indústrias.

13 1
No curto período pré-fcrrovi.irio, tanto no Hio como em Salvador, as camadas
de alta renda cresciam pnrn o interior. Somente no final do ~éculo XIX é que cssí1s
cama.das começaram a se direcionar pnrn a orla occflnicc1ele alto-mar .
O cnso dr Porto Alegre é cu rioso. No final do século XIX havia uma coroade
180 grnus de lcrrn firme disponível para a expansão urbana - no con trfrriodo íHoc
Snlvndor- e não havia, também ao contrário do Rio e Salvnclor, uma orla oceânica
tão ntrnentc com prnias, beleza natural e melhor micro clima. Apenas uma estreita
fnixaao norte foi cornpromc ticlnpelo eixo indú sl ria-ferrov ia-ba irros popularc s. lla-
via, então, várias direções que as burgue sias gmíchas pod eriam esco lher para sua
expansão; nenhuma delas, porém, se destacava nitíclarnenlc sobre as demais. Uma
direção, cntrctn nto, apresentava uma pequena diferença valorizada pela burguesia:
os sítios mais elevados. J\s burguc sias porlo -a lcgrcnscs - tais co mn as paulistanas
- dcmonstrnrnm sua preferência pelos sítios alloc; da Jndepcndênc ia, valorizando
os atributos das margens do Guaíba, mas não a ponto ele concorrer favoravelmente
com os altos da Independência. Por outro lado, muitas alternativas locacionaisso-
brarnrn para as camadas de baixa renda, as quais , como vimos, ocuparam predomi-
nantemente o eixo Porto Alegre-Novo Ham bur go.
No Rio de Janeiro, os sítios altos, muilo atracnlc s - Santa Teresa e Altoda
Boa Vista-, foram ocupados pelas burguesias. Porém, a jndescrilívcl beleza da
orla marítima e seu microclima mai s agradáve l superaram esses sítios na prefe-
rência burguesa. As áreas por elas ocupadas, no caso a orla de alto-mar ou os sírios
altos, e o eixo ferroviário-indust rial definiram a estrutura básica do Rio,Salvadore
Porto Alegre.
Rcciíe é, denlre as metrópoles aqui estudadas, a que teve determinantes
de eslruturação mais frágeis. Não teve, e não tem, vias regionais concentradas,
como Rio, Salvador ou Porto Alegre. Não apre se ntou, his toricamente, diferenças
ambientais acentuadas, pois seu srno é plano e razoavelmente homogêneo. No
século XfX, quando se formo u a burguesia do Recife, a orla marítima foi por ela
desprezaLla, que se concentro u nas margens do Capibaribe, a oes te. Na época,
essa era a única área que se destacava um pouco por se us atributos naturai s, num
sítio pobre. Recife tem, ao contr ário eloRio e de Salvador, uma coroa de 180graus
de terreno disponível para a expansão urbana. Entretanto, não tem uma grande
melrópole próxima, que defina uma única ou dua s direções preferenciais dos flu-
xos de tráfego regional e que atraiam a expansão urbana. Ao contrário, tem rodo-
vias e ferrovias de importância razoavelmente equilibrada cm várias direções. Re-
cife será mais bem analisada no capítulo 8, cm se ção ded icada espec ificamente a
ela. Por ora, é suficiente identificar as causas hi s tórica s da diferença entre a
estruturação do Recife e a de todas as demais metrópoles aq ui anali sadas. Nesse
sflio de frágeis determinaçõe s locacionais, em que as burg11esias se instalaram ao
longo do Capiba ribe, as primeiras indústria s concenlraram-se no eixo porto-fer·
rovia, na direção sul. /\o longo do Capíbarib e as burgue sias se conso lidaram até a
década de 1960. Nessa época, ocorreu, tard iament e no Recifc 1 a vaJorização das
praias para fins residenc iais e o eixo de expansão das residências burguesas come-

J32
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gundn mn1or :l lL'a dt.•c1rnr e11lrn~·:10 de~sa:,;d 11s-. t' 'i (Nl1,·11i, 1111H111, 1.1111,1 r1 11111·, 1·111
Paulo; Pampulh n, ·m lklo 1101 iznllll'. t•lc .) t' ~l t11111ri1C1loi1~w
ão 11111·11.a, 111, d.,,,, ,,w·
se rrferr ao mmwro l' ;1, iqll<' i' .l cios s 1•11s I ir os ( h Ílllt ·11•,; , , ·-. d :1•, , J.1•,•,1" , ,•11111111
1 ,1,H,
lemm a um .i un ira ,li C':-t g t•ral dt' sua sc•grt').Ft~·:m, l' i,'i n vc•111rn 11111·11clq 11:í e 1·111,1111, ·,
em nossas mclrópolcs. As nwsnws íotçns qut• ,1tu,1111 -.o l>11· a t ,t1111111:t<,,H1d.1, cf,. 11

mnis m c trüp o lt'S aluam tamiH ' lll :m l,1(• o Hl'd lt·: a l1"11dc1 11tia a 11'1 .1p1•11,1•, 11111,1 ri,,,1
de scgregaçfw cl:ts bur gucsias. O mo v imc 1110 r t•x.11:i111t·11tc·o 11w-,11J1Jq 111· 11 , b1•, d,
1

maism etrópolt's. Capt ando -se o movi11w1llo,v1•1ifica se· q11c: 11111.i d ;1•1flH•:p, d,· g1:a11
de concentração das l>urguesins e slti c111dt!d111lo <!1tc1111111fo lal pw x i111irlml1 ••, cl, ,
Capib nribc - , e a outra - BonViagem cs ttí e111a S<'C'IIHiH,. O H,·c llr· 1•11q11:1dr :i •,,!,
assim . nn 1cndêncin das clcnrnis mc·lrópoles .

13J

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qu 're\cldm as duas for(as fundaml'ntais qlH'. f'lll 11!1 im,1 inslànc-in. as drtcrminam:
,\ h.waliza,·:10 - tft-tt'rmin,1d.1 pot f.1tmcs cx t r.1- urh,rnns - cfos vias regionaisde
t r.1n~portt.' t' das indust ri,1sj unto ,1l'l,1s e ,1lor,1 li 1n~·ão - determ irrndn pelas cama.
das de alta n'nda - dr• se us bni1 ros rl'Sidrnci,1is . Os int0rcs srs déls burgucsias lo-
cais a rt'Spl'itn do L'Spa,·o local ronsticucm l> principal elemento intra -urbano da
t'st rutur ,l t'SIMcial metropolicana, jn que o oucro e c•xtrn - urban o. Os demais com-
pntH .'nt<.'s fundanH'ntnis dt'ss.1 l.'S!rutura - o ccnLro principnl, os bairros
rcsidrnciab d.is demais rlasscs sociais t' os su hc-C'ntros de co m ércio e scr\'iços-
formnr - sc-üo interagindo com os l'IL•mrnlos anteriorC's. mns sendo, em tíltima ins-
tância. por eles dctcrminndos.

ota
1. O rC'latdrio nprC'scntado ao Conse lho Dclibrrn civo pelo pr c>feito dnutor Oernardo Pinto
~lonceiro , co mpr ce ndrndo o pNíodo clC'12 de sete mbro de 1H~Hl a :11 de ngosto de 1902,dá
conta, :i pngina G,J. da expedi~·fio dt' " J líl lircnc;as para a co ns tru ção de cafuas 110 Bairro
Opcr,ir io. 8·1 seção urbana da cidade" . Essa se~·ão ficava numa pa rte bnixn, ent re a avenida
Amazo na s e o ribciran dos J\rruclas. À p~igina fü), afirnia -sc>que, naqu cle período, ''foram
expedi do s 286 títulos prov isórios de co nccssiio gratuita de !erre no s a npcr,h ios e soldados",
mns não csdarece se na zo na urbana ou suburbn n a. Abílio Barreto (1936, 3~)6) transcreve
um relatório <ln engen heiro -chefe da Comissão Construtora d e nbril de 1896, segundo o
qual havi ,1 folra de casas para oper drios; "apesar do co ntínu o leva nt ament o de cafuase
peque n as barraca s pelos pr ópr ios openírio s parn sua res idên cia, to rn ava-se isso causa de
grandes embnrn~·os, or iginand o queixas n essa classe. Po r esse m otivo foram construídas
p ela Comissão pequenas cas as de pau-a-piqu e, co ber tas de zin co, co m acomodação para
famílias e solrciros ns qu ais se achavam toda s alugad as por módica men sa lidad e". Éprovável
que muitas dessas casas se localizasse m provi soriam e nt e na zo n a urban a, como se pode
inferir do seg u inte trec ho de um observador (Barreto, op. ci c., 657) referindo -se a 1897,ano
de in auguração da cidad e. "Do antigo arraia l ainda existe m muit os vestígios: casas velhas,
ca fua s, choup anas, ru as estrei tas e rortas, largos e pra ças irre gular es.( ...) ümas centenas de
ca fu as e bar ra cões que se vêem agrupa dos ou disse m in ados aqui , aco lá, s:io tendas dos
ope r~írios d a nov a cidad e, e que são demo lidos com a m es m a fac ilidad e com que são
co nstruí dos, conforme as exigências cio and am ent o dos s erviços o reclamam. Belo l lorizonte
é hoje um co nt raste de velharias e novidad es; ao pé de uma ca fua de bar ro coberta de capim
ou de zinco, eleva-se um edifíci o elega nt e e só lido". À página 35 1, Barreto declara que em
1895 "já iam surgind o os turbul ent os bairros p rovisó rios de ca fuas e barrac ões-Có rrego
do Leitão e Favela ou Aho da Estação ". Esses loca is ficava m dentro da área urban a, emborao
ú ltim o se situ e ao n orte do Arrud as. Referindo- se a "casos co ncretos ele simpl es observaç.io
loca l", qu e reve lnm a situa ção nos anos 40, Se111rn(1948) revela que "na velha favela de
ca funs da Barro ca, a m eio caminho do centro da cid ade para o Ca lafa te, hoje se estende o
e.isa rio mod ern o do elega nte e pop uloso bairro de Lo urd es". Entr etant o, à med ida que as
obras p rossegu iam (até os anos 40 havia aind a obras de urb an ização dentro da avenida cio
Contorno). a cidade se expandia e as célmad as médi as e alta s ocupavam a parle plantljada
cfa cid ade. Tal qua l ílrasília.

134

rd
Capít
ulo 6

Ossetores industriais.
Aarticulação espacial
entremetrópole e região

Este capítulo se detém sobre a localização industrial na metrópole brasileira.


Asimplesobservação indica que as grandes zonas industriais se desenvolveram ao
longodas grandes vias regionais, inicialmente ao longo das ferrovias, depois tam-
bémao longo de rodovias. Isso pode ser observado em São Paulo , no Rio de Janeiro,
emSalvador,em Porto Alegre e Belo Horizonte .
Em várias des sas cidades as principais ferrovias e rodovias são muito próxi-
masumas das outra s, e não é possível saber se houve , por parte das indústrias , op-
çãopor uma ou por outra. Em quase todos os casos , entretanto , as principais zonas
industriais se desenvolveram junto às vias regionais mais movimentadas , ou seja ,
aquelasque estabeleciam as ligações regionais mais importantes.
São Paulo é a metrópole brasil eira mais interessante para estudar a localiza-
ção industrial. Em primeiro lugar porque - ao contrário do Rfo, Salvador ou Porto
Alegre-apresenta rodovias e ferrovias separadas umas das outras e orientadas para
diferentesdireções, o que permite correlacionar melhor a localizaçã o industrial com
o sistemaviário regional e com vias específicas. Em segundo lugar, pela óbvia razão
deser a metrópole brasileira mais desenvolv ida industrialm ente .
Em se tratando de estudo da indústria, é bom reiterar que nosso objeto de
estudoé sempre a organização espacial intra-urbana e, para tanto, são irrelevantes
as razõesou origens do desenvolv imento industrial da cidade estudada. Para a aná-
lisedo espaço intra-urbano é irrelevante saber se a industrialização de São Paulo
originou-sedo capital mercantil, da agricultura cafee ira, ou de qualquer outra ra-
zão.Dado que a metrópole se industr ializou, pergunta-se: por que as indústrias se
localizaramda maneira como se localizaram, e não de outra manei ra qualquer? Quais
asimplicaçõesdisso para o espaço intra-urbano?

135
a análise das dirc~~õcs de crescimento urbano já foi abordada a articulação
entre as cspacializações da região e da e trutura intra-urbana. Mostrou-se que as
direçõe preferenciais de cresc iment o são determinadas pela inserção regionalda
mct rópole , ocorrendo nas direções nas quai s. ão mai s intensos os fluxos de trans-
portr regional, o que se dá, via de regra, nn direção da grande metrópole ou região
mais próxima (de de que não excessivamente longe ) dn cidade ou metróp ole con-
siderada. Acidentes do sítio natural podem dificultar ou condicionar essa expan-
são - como a de São Paulo na direção de Campinas, ou de Belo Horizonte para o
sudeste.
A Figura 28 mostra a distribuição das indústrias na Região l\1etropolitanade
ão Paulo em 1957, seg undo levantamento de SAGMACS, Economia e Hum anismo,
por ocasião da chamada Pesquisa Lcbrct, co nform e elaborações desenYohidas por
esse autor dois anos depois. Essa figura permite tecer as seguintes considerações
sobre a metrópole paulistana: até a década de 1950 as indústrias, claramente, não se
local izavam uniformemente ao longo das várias ferrovias. Houve um desenvohi-
mento industrial diminuto tanto ao longo da ferrovia na direção do interior (Campi-
nas, interior do Estado, su l de Mato Grosso, etc.) como junto às ferrovias (linha tronco
e ramal ) em direção ao Rio de Janeiro. A ferrovia para o Rio desenvolveu, como \i-
mos, aquele que sempre foi o mais populoso setor urbano da metrópole. o enran-
lo, a zona Leste, do Brás a Mogi das Cruzes, atraiu pouquíssimas indtístrias. A ferro-
via para Campinas, por razões de topografia. atraiu pouca população e pouca
indústria. Em contraposição, foi grande a concentração industrial na ferrovia em
direção de Santos. Por quê?
Com o advento das modernas rodovias , isso não mais ocorre. Prossegue. é
verdade, o desenvolvimento industrial e demográfico junto à rodovia em direçãoa
Santos, mas desenvolve-se também, e com grande velocidade, um enorme seror in-
dustrial e demográfico ao longo da direção do Rio (via Dutra ), formando aquilo que
pode ser chamado de o primeiro setor complexo da megametrópole, pois pan:e de
Guarulhos já atinge São José dos Campos e mesmo Taubaté.
Pergunta-se: por que a ferrovia para o Rio não atraiu indústrias e a rodmia o fez~
A resposta está exatamente na inserção regional-nacional, na verdade-àa
metrópole e nas transformações ocorridas no sistema nacional de transportes. Os
transportes sempre foram, em qualquer modo de produção , os n1aiores modeladores
do espaço, tanto intra-urbano como regional.
Até a década de 1950, o porto de Santos desempenhava um papel de excep-
cional importfmcia no intercâmbio en tre a indtístria paulistana e o restante do pru~
e mesmo com o mundo. Até essa década, assemelhava-se o Brasil a um arquipélag<Ã
tanianha a autonomia que tinham suas diferentes regiões, que, na verdade. eram
"cercadas de água por todos os lado s", pois quase todo o transporte que se fazia
entre elas era pelo mar. A Área l'vfetropolitana de São Paulo comercia\'a com o Brasil
através de Santos, tanto na importa ção de matérias-primas como na exportação de
produtos industrial izados. Os fluxos de transporte entre Santos e a metrópole eram
excepcionalmente intensos. Junto às vias que atendiam a esses fluxos, as indúsrrias
procuravam acesso ao país todo. Entretanto, a partir de 1950, uma rede de rodovias

136
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Figura 28 - Área Metropolitana de Sao
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p,1\"1mrnladac;começou a integrar o território nacional, e a via Outra passou a ligar
mnis do que São Paulo ao Rio, o que jn cm suficie ntemente importante, mas também
a
...ao l\mlo ao i'\orc1cstce a uma pm te de t,.Jinas./\ industria, que antes privilegiava
chreção de Sumos. começou então a locnlizm-sc tmnbém ao longo da via Outra,a nova
localização "pro~nM no Brasil''.Ao longo dessa rodovia e já agora extrapolando a área
m<'tmpolitnna oficial, in~talou-se não só a indusllia automobilística - a General
\lotor.s l' a \·oll-.swagen-. mas a nova indlistrin de ponta- a de guerra, a espacial,a
l."lctromcae n aeronáutica .
.\s industrias, oltndas pnm n exportação, isto é, para o mercado extra-urbano,
tem sua locnliznçào ditada por fatores também extra-urbanos. Isso vale não só para
São Pnulo. mas também para Belo 1lorizonlc e Porto Alegre.
\pro\'eilarcmos a Figurn 28 para aprofundar o esluclo das relações entrens
.1rcas industriais e o restante da cstrnturn metropolitana. A:lémdas indústrias, a fí-
gura 28 mostra os locais de trabalho ela população, cm 1957, da seguinte maneira:
• Bairros onde a maior parte da populaçfio trabalhava no centro principal;
• Bnirros onde a maior pane da populnção trabalhava no próprio bairro ounos
bairros próximos.

Os primeiros acham-se assim agrupados: a maioria se concentra no quadrante


udoe-;tc, que era-e ainda é, como veremos- a região de maior concentração dos
bauro, residenciais das camadas de mais alta renda {veja a Figura 29). Haviauma
grande coincidência entre a área desses bairros e a área onde a maior parrc da po-
pulação Lrabalhm·ano centro. Em segundo lugar, há um pequeno agrupamento da-
quelt>sbairros na zona Norte. Essa zona, já cm L957,era a segunda maior concentra-
ção dr bairros de mais alta renda, emborn muito menor e com muito menos ricos
que o quadrante sudoeste. Finalmente, há alguns bairros onde a maioria da popula-
çüo trabalhava no centro - porém longe dele-, espalhados na zona Leste,queé a
região de mais baixa renda da metrópole.
Os bairros cuja população trnbalhavn cm sua maioria no próprio bairroou
no-, bnirros vizinhos nclrnm-se agrupndos em áreas que coincidem quase exatamente
com as zonas industriais: Ipirnnga, ABC,Moóca, 13clém,Tntuapé, Osasco, Jurubatuba
(distrito indusLrial em Santo Amaro).
[ possível fazer então a seguinte análise: na época desta pesquisa, o centro
era dns Lamaclas de mais alta renda. Nele se concentravam não só os empregos des-
sas camadas. mas também seus profissionais liberais, seus lugares de divcrsão-
cinemas, leal ros, boates, restaurantes e lojas. A população de mais alla renda con-
centrou-\C no quadrante sudoeslc, a parlir do centro e junlo a ele. Ao se afastardo
centro - sempre no quadrante suclocslc -, lllí.Hllcvco acesso a ele por meiodo
melhor sistema de vias radiais da cidade - as .ivcnidas Angélica, Consolação,
Rebouças, No,·c de Julho/Santo Amaro e C3r igaclciro Luiz Antônio. Produziu desse
modo, para si, a acessibilidade à suJ principnl concentração de empregos, de locais
de compras e de serviços, além do local onde se instalaram os aparelhos do Estadoe
e.laIgreja. 1\ssi m se produziu a melhor localização possível para as burguesias mora-
rem . Junlo às indústrias, localizou-se a classe operárin média baixa.Tal camada con-

138
1

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D CIASS[ MÓI.\
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ru si r 11t:ll,\ r.<l<A
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Fonte SAGMACSe V11laça


1960

~29 - Árcamctropolilana de São Paulo: distribuição das classes sociais cm 1957

seguel ocalizar-se
junto ao local de emprego, mas tem de ficar longe do cen tro prin-
cipaldacidade.Sem acesso - inclusive soc ial e econômico - ao centro principal,
essaclassedesenvolve então subc entros de comércio e serviços para seu uso pró-
prio.Osubcentro é uma área pequena, com alta concentração diversificada e equi-
librada decomércio e serviços. Todos os grandes subcentros - o de Pinheiros, de
Samana, daLapa,da Penha, de Santo Amaro, etc. - são popular es. Eles não pos-
sue mariquezado centro principa l nem a presença dos aparelhos do Estado. Essa
locali
zação ocupadapelas classes média e média baixa é a segunda melhor localiza-
~ãodacidade, pois fica longe do ce ntro principal e perto do emprego. f-inalmcnte,
hâaquelesqueestão longe de tudo. Localizam-se em bairros afastados na zona Les-
te.umaregiãocom poucas indú st rias; estão, portanto, longe do centro principal e
longedoempregoindustrial. Note-se que há , na zona Leste, vários bairros onde a
maio riadapopulação trabalha no centro, apesar de estar longe dele. É a região dos
'derrotados" nessa competi ção esp ac ial. Esse pro cesso deu-se lentam ente na pri-
me irametade doséculo XX,período em que havia muita classe média na zona Leste
lnoAl!odaMoóca, noTaluapé). Essa classe, porém, foi diminuindo, cm termos rela-
lkos, poisosbairroscitados se mantêm até hoje como os úni cos de classe média e
média altadazona Leste. O proce sso de "decadência " dessa zona prosseguiu e até
intensificou-se depois da década de 1950. A zona Leste desenvolveu o maior
subce ntrodametrópole- o Brás "decaiu" com o empobrecimento da zona de que
fazparte(vejacapítulo 8, seçã o "São Pau lo"). Ela também desenvolv eu seus

139

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,ut,l ·cnl h h \ e \'t'llh'I ·u> t· '-t'I\ ·~·,,~ . lll ,h ,·mlllt'I\Ot llllllll'lO, st' rom paraclo~,por
,., .... lplll 'l'l'l ,, ... d.t ll'gl,ll' d,, \n ( • \ 7.tlll,l l l''ill' l<ll llt>ll • -"l' ,l g, ,llldl' rcgi:1 0 de ron-
\'C.'!ll ,l,,\\l \,.•, l',llll,ld,\, d,• b,11\,\ lt'lh.l,t 1,1 CÍll.td t•, t' ,1 1,1 ',10 t' ,l CJIIC' Sl' llll'llt'IOíl0U
.1qu . \ ,, h\ni~,, d,i-. dt.·t ,ld,h t'llltll,\11111 t) \HC rll•:-;ci.1 cnmo rq~i.w opcr,lrla drrlasi.c
"t'tli,l , ., t"l,l l ,•,tt• ,•111ptlht,·t · i.1 t' ,, Bt.1, d,·,·,ll,i" t ' 11 1no sulH t·ntro, ou seja, t'lllPO·
htt'\ ' l,l l,Ul\bl'\ll t' pt·tdt,I ,u.1:-; i:1.tlllk!- lt)J,\S t' St'I\ tt;o-.
\ p,11111d,1 dc1..-.1d.1dt• l ~l o, ., qu,1111id,1dt• d,• pol>ll's cm11l'~·n1111crcscrrna
1.tHl,\ Sul d,· ~.w l\llllt 1 - 11wlu:--l\ t' u1111 o .1p,11,•,·111H'11 .l\'t'is. Ocupando
l<l do~ 111i:-;t•1
- it\\,tdtnt.ltl' tl'l1,1, p.11,1 lllllt,11. ,•ss,t:- ,·,1111.1d,1,11lis1•1,1vc•i~ 11.~10 mais lt1111que
p.tg.11 1 d,, lug.11 d,• Sthl ç,1-.,1 \ 1111,1Sul tem shhi .1 p1d,·1 ida p, 1rn l'ssas ocup.içôcs,c
.h 1,\\ l'l.1~ tt"m ,'h':O:L'tdl, h,l!-t,llltL' .tlt ~t•g1111du t~1sd1n,· 1 ( 11>m;,105) ··o fcnônwnoda
1.1,d.1 ,•m ~-'"' l\n1l0 M',
.n s,• dt•,t•n, oh L't t' ll\ l,llg,1 l',c,tl.1 nu,:;.uws 70". Não foram
,lht1do~ d.1dn" StlhH' ,1 d1~t11ht11~,ll't•sp,1n.tl tl.1~ 1.1, 'l''"' n,1 .\n•,1 lt•1ropoliwnode
~.H.) l'.mh,. l lltlt'l,lllhl, ,lpt'n,1:- '"'" d,tdos do lllllllll 1p10 -.,m slllkil't11cmcntc s11gcs11-
\ t'' t.' nw~t r,tm ,, nt'~l·111wntn oro, r lllo ll,t zo 11,1S\I I Sq.~untln Ta.;;clrní'r (idem, tclih.)
t' l.1sd11w1t' \ l't,1s ( l ~)~lO .•,:,. ci1,111dnSl'I 1\B), ., p.tt l ll'tp,11;:10 da zonn Sul no totalde
dr1m11..·tll('S l'lll t:\\'d,ts do 1m1111r1pin dl' S.io l\lllln <·vnh1111 d.i M"guinl<' manl'im: 2ll.8G°'o
t'm 1~173: .w.:-r:-· 1
\, t'lll l 9H7 l' -12,:1l 1\\ 1..•ml 9~lJ. Note M.' qw• a q11t•da <ll' 1987 pnrn 1993
ll,ll) tt'ptt'~t·nt,l lH'l 't'S~. u 1.1nw1llt' dt•rlini<>d., 1011.1Sul, pois c m l •rm os de nrc:1me-
l wpolll,Hhl t'ss., qtwd.1 pútfr H'Pl t'Sl'll t ar t'h )M' tnll'ttlo 101,\ dl·la no /\BC por rxcm-
ph.) Dt• l}lhllqttl'l 101 lll,\, ll ,\li ll\l'lll n dL' 20.nnt';, l'lll 1n,J p.11 ,1 ldgo l'lll tomo dr lllíllS
dt• w~r., l'Ill l 99J l' l'twrnw. Isso, c•m oro1 rendo em ,·11t uth.• dL'l'SS,l n'gi;1o estar mais
p11..1\m1,1 dl.1~ h,111w~ d.,s rl,t:-'-t'$ 1m·t.lial' ,t ll,1 ln,1 llllt .i S11th.wsll'}, ond~ l'stão os
,uhl•mprq:~os do:- mist't,\\ ,•1s n.10 M' dos dll'lc~ dl' l,ulllli,t. mas lambém das mà~s.
do~ 10,·1..•nse d.t~ cri,11w,1~ Fst., m.\ls pro,1t1111 dns lnr,tb de• su lwmprcgo dt' cmprl'g,1-
d,i dotnl'Slil',1. dt' l.n-.1do1dl' .tulomon•I. de ;-unhul a11t1'.tlt• 11,rnclinha, ele•wnckdor
de 111.1.dl' nwndigo. d1.•.1ss. 1lr,1nll', l'll'. () Jll l','O do ll'l l l'l10 l' ti,, casa 11úo pcsn mnisnn
<.'srolh,1d,, loealiza,·Jo como Jlt'S,l\',1 antl'S; po, isso, l'SS('S mi:-l'l\tveis prcfcrrmuru·
p,1r lL'rr,,s 11.1,o n,1 Sul, prnximo .1n qu,1d1,111tL' sudof':HC.'. dn qtu' na cm.lnvez mais
long1nqu.1 zü 11a1t' · t t'.
l't.•mo:-L'nlúo l ' istu v,\ll' parn ns dt•m,1is nwt rnpo k s dois elementosda
l'Sll llllll a urb,rn,t, q li <' s:\o os m,1 is p t>dt•n>sus n,1 l'St 111l u 1,1,·ao do t•spa(o mctropoli-
t,lllo no B1,lsil· ~tszonn~ 1mlusl1 i,rn;l' .1IL'gi,10dl' l'OIH'l' lH 1.1,·.10 dos b.1in os das ~. 1111n-
d,1s dl' 111.11s .,11,1u•mkt Os dt•m. tis dl'llH'lltos tl,l l'Sltllllll,t ll\ll'l,lgt'lll l'Ol\l ell'scvi-
dl'llll'llll'llll' , pnis ludo illll't,lgL' ro111 tudo lllllll,t l'St1u1ura, ma s são mais
mtlut•nn.1dos por L'SSL'S doi, ckmt•nws d<1 qtH', ICl' wrsa . \ lonll' dt' Sl'll podcrcst,1
no g1,rn ck indl'PL'lld('nd,t qut' d('sl1 utam loraliza·
n,1 t''>l ·ol11,1 1
ptmh1,·.10 dL' suas
,·fws .. \ do p1mw110 l'll'llll'lllt> ,, dl'lt•1 mm.1d:1JHH lo1,·.1s t''.\.ll'l'll,ts ?l rid,ldt•; ,1 tiost'·
gundo demento, pelos inll'lt'Sst•s dL•l'lHlSllll\ll d,1:-,hui guc•si,ts qut', comaml,mdoo
Sl'lrn tmobili.u io u, lwno, ckddt'lll ,, l'M.'t>lh.1 / pwdu, ·,11, dt· su, 1s localita(Ol'S IL'Sidrn
l'i,1h:. F ,t fot<;,1111l1,l·t1rl>,1n,, qut• lll,11 s p mkms,llnt' llll ' mllt1t•m·i,1 :1 l'Sf111l11t:1(i1
0tlo
csp,1,·o 11wtropolit.mo.
Vnmos nos dedicai ag11rna l' ssn t' SI n11111:1,·110.l '01110 st•11,1m•, nosso guia será
n lti ·toria.
(ap1tulo7

A egregaçãourbana

As análises feita s até aqui já começaram a revelar a segregação como um


proces~ofundamental para a compreensão da estrutura espacial intra-urbana.
Comoa segregação adquirirá cada vez maior import ância no decorrer desta obra,
convémdesde jft considerá-la com um pouco mais de atenção.
Milton Santos ( 1993,96) define o conceilo de sítio social observando que a
"especulaçãoimobiliária deriva, em última análise, da conjugação de dois movi-
mentosconvergente s: a superposição de um sítio social [grifo no original! ao sítio
naturale a disputa entre atividades e pessoas por dada localização. (...) Criam-se
~ítiossociais, uma vez que o funcionamento da sociedade urbana transforma sele-
tivamente os lugares, afeiçoando-os às sua exigências funcionai s. ú assim que cer-
tospontos se tornam mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também , uns
eoutros,mais valorizados. Poris so são atividades mais dinâmicas que se instalam
nessasárc·asprivilegiadas; quanlo aos lugares de residênc .ia, a lógica é a mesma,
comas pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde lhes pareça mais con-
venie nte,segundo os cânones de cada época, o que também inclui a moda. É des-
semodoque as diversas parcelas da cidade ganham ou perdem vnlor ao longo do
tempo". O conceito é útil tanto para a análise dos bairros residenciai s produzidos
pelase para as burgue sias, co mo Lambém das áreas comerciais que elas igualmen-
teproduzem,também para si.
Uma das carac terísticas mais marcante s da metrópole brasileira é a segre-
gaçãoespacialdos bairros residenciais das distintas classes sociais, criando-se sí-
tiossociais muito particu lares. Nas páginas precedentes fizemos referências a esse
aspecto.Nos próximos capílu!os vamos aprofundar a questão, analisando inicial-
mentea segregação dos ba irros residencia is das camadas de mais alta renda.

14 l
p

Obc;crvando os mapas da distribuição tc1ritorial de classes sociais em nossas


mrlrópolcs (figuras 30 a 35), notn-se que a segregação das camadas de maisaha
rcncla pode ser identificada cm todas elas. Em LOdasas metrópoles aqui estudadas,
vem-se desenvolvendo nos últimos cem anos mais ou menos (mais no casodoRio,
mcno5 no caso do Recife) uma região geral na qual tendem a se concentrarcrescen.
lC"i parcelas de tais camadas. Em todas as metrópoles, exceto cm Recife, essacen-
cl(•nciajá produziu um setor da metrópole onde se concenlrn a maioria dos mem-
bros dessas camadas. Embora a mesma tendência exista cm Recife-co mo veremos
ndinnle - , ela sofreu recentemente uma rcvirnvolln, de maneira que Recifeainda
exibe, hoje, dois seto res com grande concentração de camadas de alta renda,sem
que nenhum deles, isoladamente, detenha a maior pane dessas camadas. Entrccan.
to, a tendência de prevalecer apenas um setor é inequívoca, como veremos nocapf.
tulo 8, seção "Recife".
Partindo dessas constatações, consideramos importante responder às se-
guintes indagações: por que a forma de setores e não outra forma qualquer, inclu-
sive a forma de bairros segregados, porém espalhados por diferentes locaisdoes-
paço urbano? Por que a segregação se dá em determinados locais e não em outros
quaisquer? As causas das localizações escolhidas pelas burguesias são específicas
de cada cidade ou há causas gerais, comuns? Quais seriam elas? E, por fim,as per·
guntas mais importantes: qual a razão da segregação? Seria a conveniência de mo-
rar perto dos "iguais"? Seria a busca de prestígio e do status social? Seria a preserva·
ção cios valores imobiliários? Com vistas a responder a essas perguntas- e ou1ras
que surgirão no decorrer da investigação-, serão ana lisados inicialmente o con-
ceito de segregação e depois os processos concretos de constituição da segregação
nas nossas metrópoles.

O conce ito de segregação


liá segregações das mais variadas naturezas na metrópole brasileira,prin·
d paimente de classes e de etnias ou nacionalidades. Vamos abordar a segregação
das classes sociais, que é aquela que domina a estruturação das nossas metrópoles.
'fal como aqui enlendida, a segregação é um processo segundo o qual diferente s
classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentesre·
giões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole.
Hefcrindo- se à concentração de uma classe no espaço urbano, a segregação
não impede a presença nem o crescimento de oulras classes no mesmo espaço.
Não existe presença exclusiva das camadas de mais alta renda em nenhuma região
gemi <lcnenhuma metrópole brasilcirn (embora haja presença exclusiva de cama·
das ele baixa renda em grandes regiões urbanas). Na melhor das hipóteses, pode
haver tal exclusividade em bairros. É claro que há favelas na zona Sul do Rioe queo
se tor Sudoeste de São Paulo, onde se concentram as camadas de mais alta renda
dessa metrópole, é pontilhado de bairros populares, os quais podem até contera
maioria da população em um seto r ele alta renda. Mais que isso: outras classespo·

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-Áreas mciropoliLanai. de São Paulo. Arcas de grande concent ração de camadas de alta renda

ar:nestarpresentesnuma mesma região geral onde se concentram as camadas de


at,rendaeatécrescer com velocidade maior que a velocidade de crescimento des-
sa;camadas.Se isso ocorrer, a participação dessas classe s na região de concentra-
cãoda classealtaaumentará. Não importa. Nada disso altera a tendência à concen-
"açáodascamadasde mais alta renda naque las regiões. O ímportante é que o setor
~tgregadodetenha uma grande parte - talvez a maior - de uma dada classe, no
caso a médiae alta burguesias. O que determina, em uma região, a segregação de
t:nacla~seé a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer
oa1raregião geralda mclrópolc. A Rocinha não é a região geral de maior conccntra-
'.ir,dtpopulaçãode baixa renda do Rio, mas a zona Sul, ape sar de toda s as suas
'uias é a regiãogeral de maior concemração das camada s de mais alta renda do
R:,JdeJaneiro.
Omaisconhecido padrão de segregação da metrópole brasileira é o do cen-
1roxpe ríferia.O primeiro, dotado da maioria dos serviços urbano s, públic os e pri-
;ados,é ocupadopelas classes de mais alta renda. A segunda, c;ubequipada e lon-
tnqua, é ocupadapredominantemente pelo s excluídos. O espaço atua como um
mecanis mode cxclusão.
Para Lojkine(1981, 166), a seg regação é uma manife stação da renda fundiária
urbana,umfenómeno "produz ido pelos mecanismo s de formação dos preço s do
wlo, e\tespor sua vez, determinado s (...) pela nov a divisão social e espacia l do

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4-Á rco Metropolitana de Salvador . Área de grande concentração das camadas de alta renda, 1991
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Figura 35 -Arca Mc lrop olita na do Recife. _Areas de grande concenLração das camadas de alta ~r.d3

trabalho". Essa idéia refere-se a um conceito e a uma manifestacão nn1ito amnlos


de segregação: aquela que divide a metrópole em centro e perifer ia . Xum a ,isâu
. .
mais detalhada, ela não resiste a um teste empírico. Lojkine n ão esclarece como a
seg regaç ão é produzida , ma s presume-se que, no final, as classes de m ai: alta ren-
da fiquem com a terra mais cara e as de mais baLxa renda , com a mais baraia . EsSJ
tese já foi derrubada com vár ios, caso s empíricos , desde o chamado ..parado:'.>..Odt>
Alonso" (Alonso, W., 1965 ) referente às cidades americanas. Entre nós, nem sem-
pre as camadas de alta renda moram em terra cara (no que di z respeiw ao preç<'\
uniUírio do metro quadrado ), ma s em geral é isso que ocorre - de frente l ara o
mar em Boa Viagem ou no Leblon; Higienópoli s, em São Paulo ; Campo Grand~,
cm Salvador, Piedade, em Recife; Moinhos de Vento, e1n Porco Alegre ; Lounie-s. em
Belo Horizonte por exemplo. Entretanto , a alta renda também ocupa terra barnt,1
na perif e ria, na Gran ja Viana ou Alpha v ille, em São Paulo, ou no Recreio dos B,m-
cle irantes, no Rio. Nesse se ntido, portanto, não é rigorosamente \·erdadeiro que o
preço da terra determina a di st ribuição espacial das classes sociais. Ficaríam os

146
umpoucomais próximos (mas ainda não totalmente ) da verdade se aíirmássc-
mosque os rerrcnosmais caros são ocupados pela s camadas de alta renda, pois na
periferia
dr metro quadrado barato a alta renda ocu pa terreno s grandes ou, cm se
1ratandodecondomínio:-.vert icais, grande s quotas ideais de Lcrrcno. Finalmente,
de\'e-sc
considerarque a classe média também ocupa terra cara no que se refere
aopreçodo mct10 quadrado de terreno, consumindo pou ca Lerrnper capita ou
porfamilia,como cm Copacabana, no Itaim ou Moema, ambos cm São Paulo.
Aindasegundo Lojkinc (op. cil. 167), um submcrcado específico, constítuído
pelosimdvcisde escritórios, poderia, através do jogo cios preços cio solo, "adquirir
rapidamente um papel motor, dclerminanle, na formação cios preços imobiliários
parao conjuntodo ccnlro das grand es metr ópo les e garantiria assim uma seg re-
gaçãoeconómicae socia l quase automát ica das fu nçõcs e das classes soc iais que
conseguem residir no centro". Lojkine distingue três tipos de segregação urbana:
l)umaoposiçãoentre o centro, onde o preço do so lo é mais alto, e a per iferia; 2)
umaseparaçãocrescente entre as zonas e moradias reservadas às cama das sociais
maiprivilegiadase as zonas de moradia popular; 3) um esfacelamento generali-
zadodasfunçõesurbanas dissem inad as em zonas geograficamente distintas e cada
rezmaisespecializadas: zonas de escritórios, zona industrial, zona de moradia,
eic.Essestrês tipos de segregação não são excludentes. Neste trabalho, vamos pri-
\ilcgiaro segundo tipo porque, corno esperamos mostrar, ele e a formação das
zonasindustriaissão as principais forças atuantes sob re a estruturação do espaço
metropolitano no Brasil.
Asociologiaamericana derivada da Escola de Chicago e aquela que Castells
1
1978,204)chama de "tradição de soc iologia empír ica" norte-americana afirmam
quea"segregação ecológica" procede do fato de os habita ntes da cidade serem dife-
remes entresi e interdepe ndentes (Gist e Fava, 1968, 159). Ainda segundo esses au-
rores(idem, ibid)."na luta pela posição social e por uma conveniente implanlação
espacial dentro da cidade, tais difere nças e interdepend ências contr ibu em para
determinar que espaço as pessoas consideram desejável e até que ponto lhes é
possível obtê-lo. O resultado é a segregação ecológica, ou seja, a concentração,
dentrode uma mesma área residencial, de pessoas que reúnem características se-
melhantes entre si". É cu rioso que, embora se trate nilidamenle ele um processo
declasse,esses aulorcs insisLem em falar de "pessoas" ou indivíduo s. Prosseguem
eles(idem,160},distinguindo a "segregação volunt ária" da "involuntária". A pri-
meira "seproduz, quando o indivíduo, por sua própria iniciativa, busca viver com
outraspessoasde sua classe". A segregação involuntária ocorreria quando o "indi-
víduo ou uma família"se vêem obr igados, pelas mais variadas forças, a morar num
mor,oudeixarde morar num setor ou bairro da cidade. Nesse sentido, a segrega-
çãodosexcluídosna periferia das metrópoles brasi leiras seria uma segregação
involuntária.O que cabe registrar nessas considerações é o caráter de lula da se-
gregação. Trarn-sc, entretanto, de uma luta de classes. Se héí lula, há, evident e-
mente, vitoriosose derrotados. Os primeiro s desenvolvem a segregação voluntá-
riaeossegundos,a involunlária. Na verdade, não há dois tipos de segregação, mas

147
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.w r lt'",nll' lt'HlJ'l' l' pl'lt) Hll ' "IIW pl <H l'sS1l, ;1 st·gtl' gt t~·ao ele• o ut ros. Segue n mesrn~
'-h,ll 'lll',t dn t'SCt,l\ú t' d1l st•nhot.
.,te,,
\ r1.·<.,lngi,l
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cr1n~1dc1,,,·ot's ,,111ws rl'tl't dua s qu cs lôc s: p rimc ir ;i rncn lc a segrega.


PL':--:-.l:--
·,tt' d1.'rt\,\ dt' um.t lut,l llll disput,1 po r lor.tlL ~a~·c C'S; c1-tn se dá , no entanto, entre
grnpc.,, :-tlt't,11stlll L'llln' rt.,sst·s . \1p 111rn·irncas o n•ferc ·~w. p or exem plo, à segrega.
·,'h, t'tnk.1 ('IHpt,1 n,H'Íl'H,1lid,1dc·s. rn mo .i do s orie11tnis na Li berclacle,ou a dosju.
llt't1' t'tn l hgl('tH)JWh:-.c'nt ~:u) l\1ulo . ,\ di me ns rin de· lu ta npa rccc qu ando se in1ro.
1.1t1. ,1:st'~lt'g.1,·,h) pnr l'1.1ssl'. lt•sle segundo caso, po r exe mpl o, é irrelevante a etnia
do~ qut' t)cupam .1:nt.',t cl'nt r:il dt· S:IO Pau lo e p ass n a se r re levant e a segregaçãopor
d,1sst'. o~ qut' ontp,un ,1 area rentrnl cstào, por exe m plo, im ped ind o que ela seja
,.wup.1d.1pt'll)~ mais pnhrt's, qu<' estão 1m pe ri l'eri a o u n as fave las afastadas. A segre-
g.1',1o L'ntn' n•ntro e perit'crb pod e se r co ns iclc rncla u m a seg regação por classes.
-!.1m qut' ha muit.1 periferia no ccnlrn e vice-ve rsa (Milt on Sa nt os, 1979, 59),masde
lll3netrn geral t'ssa dicotomia corres po nd e n ve rda d e. Vamo s n os preocupar coma
~t·greg,1ç.1opor classes. uma vez que é n qu e te m as im p licações mais profundas
sobre a ('Strutura urbana, como ,,c rem os.
\ segund .l que~tno pnr.i reflexão refe re-se ao p o rqu ê da lut a. Para a ecologia
hum ..111.1. J luta seria pela "pos içt'io socia l e p o r um a co nve ni e nt e implan tação espa-
nal dentro da cidade". l;randc pa rte deste li vro te m o o bj et iv o de esclarece r esses
mou,os. O primeiro motivo não nos parece n e m mui to co mpl exo, nem muito im-
pon,mte. Quanto ao segundo, o que se p rocura ao lutar po r um a "conveniente im-
pl.'mtação e ·pacinl dentro dn cidade"? Nesse sc nl ido, Cast c lls ava nça um pouco.
Para Castells (1978, 203 e 204), a dis tribui ção da s res idên cias no espaço pro-
duz. ·u,, diferenciação social e há uma estrntificaçiio urbana co rres pondente a um
istenrn de estratificação social e, no cnso em qu e a di stâ ncin soci~,l te m unu1forre
e~p,essão e ·pacinl, ocorre a segregação urb a na . Segundo ele, "em um primeiro
entido se enrendení por segregação urb a na a te nd ê nc ia à or ga nização do espaço
em zonds de force homogeneidade socia l int e rn a e d e fort e di spa rid ade social en-
lrt' elas, enrcndendo-se essa dispa ridade não só c m te rm os d e di ferença como tam-
bém de hierarquia''. e combinar m os esse p e n sa m e n to co m o ut ro d o mesmo au-
ror, teremos n chave para a co mpr ee nsão do pap e l d a s egreg ação . Diz ele ainda
lidem. 1-11)que "to da a proble m ática soc ia l te m s u a o rige m e nl re esses dois ter-
mo lnamrcza e cultura ) através do processo di a lé tico m e dianl e o qual uma espé-
cie biologica particular (particu l ar, pos to qu e es t á di vidida e m cla sses), o 'homem',
se t ransfor ma e crnnsforma seu me io a mbi e nl e en1 s u a lu ta pe la vida e pela apro-
pri ,wão diferenciada do prod u Lo de se u trabalh o". Em g rand e parle , este livro pre·
tende in\'estigar como se dá a apro p riação diferen ciada do es paço u rban o enquanto
produto do trabalho h u mano.
Desrnque-se a me n ção de Caste lls à t end ê ncia. Ela de corr e do foto de, scgun·
do e ·se autor, toda cidade ser um ent re laça mento hi stóric o de vá rin s cstrnt'llrns so·

148
dais e de toda sociedade se r contraditória , ou se jn, fruto da ação de várias for ças
aruandoem diferent es dir eç õe s.
Castells fala em" á rea s de grande homogeneidade interna ". Copacabana tem
homogeneidad e int e rn a'? Essa é uma forma incorreta de expor a que s tão. Ela não se
referea uma tend ência. Copa cabana tende a ter homogeneidade interna? Diante da
primeiraperguntti- a forma errônea -, pode-se até ficar cm dúvida, mas diante da
segundaé mai~ fácil res ponder afirmativamente. O processo socioespacial por que
passouCopacabana po r volta da década de 1940 destruiu a homogeneidad e e im-
plantououtro pro cesso tend en do a uma nova h omoge neização. No alllnl estágio
desteprocesso, élc rcditamos ser válido dizer que, embora Copacabana esteja hoje
maisheterogênea do qu e em 1930, ela está tendendo a uma nova homogeneização.
Aconsciência ele que a segregação é processo, é tendência, é pois fundamental.
Quando Cas tell s, di s correndo sobre a organização do espaço, fala em
"homogeneidade interna ", eslá se referindo obviamente a uma área, a uma unidade
espacialno interior da qual ocorre a homogeneidade. Que área é essa, como
identificá-laou escolhê -la? É útil nesse momento o concei .to de bairro, que existe
aindaem grande quantidade na s metrópoles brasileiras. Nossos bairros tendem a
umahomogeneidade social muito grande. Entretanto, a partir da década de 1970,
coma proliferação da s favela s em áreas ocupadas, a "homogeneidade interna " de
muitosbairros de no ssas metrópoles ficou comprometida. O que se pretende e>..l)lo-
rarcomessa que stão é o tamanho da "área homogênea" ou a forma de seu traçado.
Seumafavelainvade o interior de um bairro tendente à classe média ou média alta,
duassituações são possíveis, ambas ligadas à questão da delimitação da área·
segregada, ou melhor, à área tendente à segregação. Na primeira situação, traçar-se-
iaum perímetro que englobasse ambas as áreas, delimitando-se assim uma única
área, a qual evidentemente não tenderia à homogeneidade interna. Dir-se-á que a
áreatraçada não tende à segregação, mas sjm à heterogeneidade. Na segunda situa-
ção,traçar-se-iam duas áreas, uma dentro da outra. Neste caso, haveria duas áreas,
ambastendentes à segregação.
Queremosevita r questões desse tipo, através da idéia de tendcncia e da de
regiãogeral da cidade. Em primeiro lugar, vamos esclarecer porque a idéia de se-
gregaçãopode estar eventualmente comprometida com a idéia de homogeneidade
totale também com a idéia de "estado", ou seja, uma idéia estática, e não de pro-
cesso.É enquanto estado que, acred itariam alguns, ela não existiria em muitas
metrópolesdo l3rasil. Jáouvi mo s dizer, por exemplo: "Esse negócio de segregação
é coisa de São Paulo. No Rio ou Salvador, o que há é mistura". Essa comparação é
radicale incorreta, pois pressupõe um limite rígido, arb itrário e falso, que divide o
estadode segregação do estado de não-segregação. Há, portanto , dois reparos -
no mínimo- a serem feitos nessa colocação. Seria necessário fixar (congelar) o
tempoe depois relativizar (mais que, m enos que) a co locação." Hoje, no Rio ou em
Salvadorhá mais mistura do que em São Paulo." Não se trataria de indagar se em
SãoPaulohá ou não seg regação, mas sa ber se ela é maior ou menor que n o Rio ou
emSalvador.De qualquer maneira, independentemente disso, co mo veremos, não

149
h, thíc-r "ll\êl ~1~n1íkn 1iva ele Sl'Kr<'gc.t~
·ã o en tr(• Hi o, C.,ã
o Paulo e Snlvador. Em se.
gund, lug~r. \ am(ls Lh--.taL,tr - e rxpl" ar o p o rq u(• - a c;egr e ga çao por regiãogc
mi nu < on11111toclt• b.m ros ela mel rnpole, c•m opos i~·ã o à ~eg regaç ão por bairro. O
nnporrnntc- <' Pnt, nd<·r por que o s hni 1'º" da., nrnrn d a-; d f' m a is alta renda tendem
a se c;cgr"~ar (n-; pnSprios haitrns ) rn11na lll t"'·illlél regirio ,wral da cidade , e não ase
e palhar. IP,Horrnrn <·nt c· por toda a e idadl' . L...sa q ucc;;1ão é fundamental e nela está
a cha\t> para a compI <'P n sã o dn p1 on .•,..,o dC' sC'grcgnçi io . Se o prin c ipa l móvelda
seg~n\aO fo~s,• a huscél de' pn,içao sodal. do stal u ..., ela pr o teção do s valoresimo-
h1h~nú'i, nu proximidadr ,l " 1guai""· h n..,t u ri a hn vc r a ~cgr cgaçã o por bair ro (área
d~ forte homng f•1widaclc• intP rn a, rrn,s 1vcl d e um c;cnlid o de hierarqui a); uns ao
norte· . outros a ot·st<\ outro.., a lc"ilC e o utro ,; aincl:i ao s ul d a mclrópole . Isso não
ocorn'. pon•m. A tcmcléncia é clC'o~ pr o prio s b a irr os se s egr e gar e m numa mesma
rcg1í\n geral da m e tr ó po le. Po t qu ê?
1t-1e·c~m n"gl"i t I o a~ pe squi sas de Pin çon -Charlot et alli (] 986 ) sobre scgrega-
çao na Jl•gião parisicns ". Su ns in ves tigaçõ es, en tr etanto, não têm por objeti vo mer-
gulhar na ,·om1nccnc:.ão das forças so ciai s qu e levam à segregação, nem seu papel,
mas sim con, t,1tnr uma co rr e laç ão entre a s egregação e a ação do Estado na produ-
çao dl· cqm pamcntos co le tivos}!
:\ tóm ca do.., es tudo s sobre segregação incidem ou no mecanismo de defesa
- ca~u das segregações é tni cas, por exem plo - , ou na busca de prestígio e de status.
ln duem-~P aí a s cha mad as "socia l a reas", analisadas pela ecologia american a das
d cadas de 1950 e 1960 . As c au sa s profundas da segregação por classes, porém, são
surprcc ndcntcmcn tc p o u co e s tu dada s . Menos es tudada ainda é a expJicação da-
quiln a quC"chamare m os ele ma c ro ss egrcgação, ou seja, a segregação por regiões da
c,datle e nao por bai rros . O exemplo clá ssico da macrossegrcgação analisado pela
qua c:-tornh dadc dos es tudo s é a o rgani zação espacia l seg und o centro e periferia,
n1ja cxplico1rãn e c.om cúclo de c la ss e parecen1 tão óbvios que não estimulam muito
a busc ,• d(· cxplicaçõc>s. l"'.s~a organização, nole- se, se dá d e acordo com círculosco11 -
c{>11tru <H \ análise d a es trutura espacial intra-urbana segu ndo setores de círculo,
que <·ráo ,1qui cnfa tíza clos, faz apare cer um aspecto até agora negligenciad o pelos
estudw-;o~ L~~c pad rão dP segr ega çã o apare c e com enor me importância e pOlen-
crnl expl1Cativo e reve la a natureza profu nua da seg regação. A segregação é um pro-
n~sso nc c..c~sário a d om in açã o c.; o c ial, e c on ô mica e política por meio do espaç o. Essa
f! uma d.is rnai~ 1mpo n a nt cs conclu sõ e s clcs tn obra.
Hc ~umindo : a m aiori a da !> análbc s sobre segregação parl e ele um espaço
urbano da d o. que é me lho r, se ja qua l for o motivo, e po r iss o atrai os mais ricos.os
que po'>sucm ma is pr es tígi o, poder e s tatu s. No s casos em que não há atributo
natural c~pccial, não cog itam c omo e ss e es paço melhor foi produzido - transfor·
mado cm m elhor. No c a so c m qu e mo s tram e ss a produção - como o de Pinçon-
Charlol -, lim ita m -se a c on ,;talar uma c or relação en tr e a cla sse social que ocupa
dctc rmmada r<'giã o e O!>e quipamento s púb li cos de que e la é dotada. As posições
que afir m a m se r a se grega çã o um produto "do m ecan is mo d e formação de preços
cio <.,o)o"( Lo jk in c, s upra ) es tã o na in c ômoda po s iç ão de ter de demostrar essa tese,

150
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ÍI",) 11111 (hy ty111·)..

15 1
políticos da dominação e da extorsão através da produção da estruturação espaci-
al intra-urbana.
A visão de segregação mais próxima da que aqu i adotamos - inclusive rela-
cionando-a com a compreensão da es trutura ção urbana - é dada por Short (1976,
78), quando procura encarar os padrões espaciais como produto da estrutura so-
cial, ou seja, "to define what is meant by social structu re and to develop concepts
appropriate to deal with urban structures anel segrcgation patterns. We can now
attempt to view these as thc result of a specific co njun ct urc of economic, political
and ideological systems articulated in a social formation".
Caldeira (1992) atualiza e especifica o concei to de segregação numa ótica
antropológica (diferente, portanto, da nossa) para São Paulo na década de 1980.
Numa rica análise dos condomínios fechados, propõe-se a "demonstrar a necessi-
dade de refazer o mapa cognitivo da segregação soc ial na cidade, atualizando as
referências nos termos pelos quais são entendidas sua vid a cotidiana e relações
sociais. Argumentarei que a extensão das mudanças é ta l que, a não ser que modifi-
quemos a maneira pela qual concebemos a encarnação da discriminação socialna
forma urbana, não poderemos compreender os atuais predicados da cidade. Em
segundo lugar, desejo sublinhar as mudanças e seus instrumentos a fim de argu-
mentar que eles constituem, na esfera do ainbiente construído , a mesma constru-
ção de estereótipos e classificações simp listas constituídas nas narrativas do cri-
me; estratégias de segregação, de reordenação e de reconfiguração do que seriaa
norma. As narrativas de crimes revelam a n1esn1a obsessão em erguer barreiras
sociais manifestada pelos residentes na construção de muros e cercas para
enclausurar suas casas e vizinhanças . É enquanto corporificação de novas estrn·
tégias de segregação, forjadas no contexto de maior proximidade de diferentes gru-
pos sociais, crise econômica, incertezas e medo do crime, que devemos ler a nova
cidnde de muralhas".*
É interessante destacar uma dimensão espacial imp ortante da visão de Caldei-
ra: a maior proximidade entre diferentes grup os sociais. A obsessão de construir mu-
ros e cercas fechando os bairros dos mais ricos ocorre não só num momento de incer·
teza econômica e de medo da criminalidade, mas também quando os mais riras
começam a ficar mais próximos dos pobres e miseráveis excluídos, ou seja, quandoos
ricos começam a ir para a peri.feria. Note-se, contudo, que essa maior proximidade
dos ricos aos pobres excluídos n ão nega a ex istência de segregação.

• " ...Lodemonstratc the need to rcmukc the cog nitivc map of soc ial scg rcgat ion in thc city, upd:Hinglhe
rcfcrences in tcrms of which its cveryday liíc and soc ial rela l ion sh ips are unclcrsrood. 1sh:ill argucthnt
tJ1ecxtent of changc is such that unless wc modify Lhe wny i11which wc co nccive of lh e cmboclimrnto(
social discrimi11ation in urban form, we c.innot under stand thc ci1y's prc sc nt µrcdicn111c11t. Srcond,l
wanl to stress thc changcs and thcir ins Lrumcnts in ordcr lo ,.u-gucthat thcy co nstilutc aLthc le,·l'Iofthc
cons!ructcd cnvironment tJ1esarne construction of s tcrentypc s n11dsirnplistic.;cl11ssificatio11 constitntl'<i
in Lhenarra tives or crime: slralcgics of segrcgation, of re-ordination anel of rc-íiguration of Lhrpnipcr.
Narratives of crime rcveal lhe same obsession wilh building socia l barricrs as Lhe rcsiclcnts disptarin1hr
construction of walls and fences to enclose lh eir hou ses and ncighborhood s. lt is as thc embodinll'nlof
new strategies of segrcgation, forged i n a conlcxL of grea Lerp roxi m it y of d iffcrent social ~roups. ecunomk
crisis, uncerLaínty and fear of crime, that we shoulcl read lhe ncw city ofwalls."

152
o~setores
\ l'llll'-l,11.t,,ll) dl' qm• a e-.11ul u rnça o t•sparial h:hdrn ela 11w1r6pol<· bia si lcirn
h'lhk ,1:-t' ll'ah, ,li :-.l'gumln:wtott'" de•c1rrulo, m,,is do qm• S<'gundo d rr ulo s ccrn-
1·l•nt1icll:-, l,w1lnwnlt' nos 11.ll h nwntc um prc H"l'SSo t•spncial urb ano lrnslélnl c co-
nhl'l't<lllllH':-.nw IH'hls h•1g,,s o dt• que• os bnirro s rcsidcndni s de allíl rc ndn "andnm"
Nt dcsll1r,1m -M'" st•mpre na nwsm;1 dite(no. l)p sirn 111n rwira form:1111 , <·vidcntcmcn -
1t'. um~t'tl,r , t' n.in ttm,t rorna dt• cí rculo. No Rio, por ('X<'ltl plo , t•sses bni rros comcça-
r.unlllMS n:w St' ltmi1.1r.11n a l's:--c•
sc•tor) nn C~lória e no Hussel, depoi s foram parn o
Flamm~n C.1ll'lt'. p.ua Hntalogo, Copacab ana, l... cblon, Ipan ema, Süo Conrado , Bar-
ra. l'tl'. NJo St' dt'\'t' prrtt'm lcr ver prcrisão matcm át ica nessa scqiiên cia. Em São
Paulo. partiram dt•t ·ampos Ehseos, foram pnra 1l igicn 6poli s eVila Buarqu e, c.lcrois
para.la\L'nidaPaulista, lmdim 1\m érica e /\lto de Pinh eiro s, Mornmbi, Jardim Leonor,
l,mitmGuedala , C1,rnja \'imrn, /\ lphn vill c, el e. - ta mbém aqui a seqü ência pod e
n,,oserprccisa; 1wmpor isso deixa de ser verdndcirn .Também ns indtí stria s tendem
.1st'desC'mol\'l'r num scnt ido rntlial. Em São Paulo - a melhor met rópole para
~,emphlknr('s~w ra~o - , ,1s indú strias co meçaram no I3rás e na Moóca, depois, cm
dm~ç.io nS:unos,foram para a Vila Prud ente e lpirang a, São Caetano, Santo Andr é e
~laua.O mesmo ocorre ao longo da Dutrn. No caso das indtí slria s, esse ca minha-
mentoaindae compreen sível, pois elas seguiam a ferrovia e hoje seguem rodovi-
~-Enoc,tsoda~ residências?
:\ cs êncin do sentido radial - e portanto dos setores - é a necess idade de
mantero nccssoao cen tro dn cidad e. Há outros fatore s, por ém. O''peso espacial" da
athidadc- moradia, comércio ou indú stria - tamb ém conta na otimização do
acessoao centro. Quanto mnis restrita cspacialmente a atividade , maio r sua ten -
dência de se conccntrnr num setor. A residência de a lta renda, as grandes indlí strias
eocomérciomédio e grande são atividades espacia.1mente minoritárias em face das
áreas residenciais de classe média e abaixo da méd ia e das eno rmes "poeiras" de
pequenas indlistrias, oficinas e pequ e no comércio.
O deslocamento das nossas bu rguesias segundo setores e não círculos con·
cêntricosdecorrctambém elesuas diminuta s dim ensões e do enorme desequilíbrio
entreasclassessociais existente no Brasil. Nos países do Primeiro Mundo, as classes
médias são enormes, constituem a mc1ioriada pop ulação e não só formam círculos
concêntricos, como se desloca m mai s ou meno s igualmente, mantend o, assim, o
padrãode círculos concêntrico s. Vimo s no capítu lo 2, seção "Abordagens do espaço
no e regional" como Sch teigar l e Torre s descrevem a po sição das classes
intra-urba
médiasargentinas em torno do cen tro de Buenos Aires, um a metrópole que tem
umaestrati(icação social mais próxima das cio Primeiro Mundo do que as nossas.
Citamo grandedesenvolvimento da classe média argentina a partir da Pr imeira
Guerra Mundial e retalam que ela ocupa um amp lo leque cm torno do centro (Buenos
Airestemapenas 180graus de área de expansão, daí o "leque", e não o círculo). Nes-
sassituações, desenvolve-se uma forte simbiose entre essas classes e o cen l ro, am-
bossereforçandomutuamente e man tendo suas loca lizações. Essa simbiose man-

153
p

tt\m n vilalidacle do ccnlro - qu e, afina], depende da freguesia representada pelas


classes m --dia e acima dn média - e essa vitalidad e mant é m a permanência dessas
classes µroxim,1s ao ce ntro .
Vamos aprovcilar esta oportunidade p a ra adiantar algumas consi.derações
sobrt' .1 relação entre n estratificação socia l) o d ese nvolvimento de se tores de círculo
x r1rrulos concrntricos, a c hamada "deca d ê n c ia do centro" e o afastamento dele,
por p;:utc das classes média e m é dia alta. Toda grande m etrópole tem uma parte do
.seu n"ntro ocupada por classe m éd ia alta e pela alta: Quinta Avenida e a ParkAvenue,
cm Nova Iorque; Ile de Saint-Louis, c m Paris, etc. Ent re nós, as dimensões dessas
dasses sno tão pequenas que elas não con seg uiram formar uma coroa, nem mesmo
um lequl' , em torno do centro. Ivlantiveram co m e le tão- somente um pequeno pon-
to de contato. Em ão Paulo . esse p o nto íoi representado pelas ru a São Luiz, pelos
fundos da esco la Ca eta n o de Campos e as rua s Martin s Fontes e Vieira de Carvalho.
No Rio, por anta Teresa. Em virtude d e s ua complexidade como metrópole, São
Paulo é a qu e mc-lho r se pr es ta a esse tipo de anál.ise. A partir de um ponto de conta-
co com o centro , essas classes se expandiram num setor de círculo por bairros próxi-
mos ao centro - mas não encostados ou dentro dele - , como Higienópolis e
Pncaembu. Também a classe média ocupou áreas centrais e contíg uas ao centro:
Campo , Elfscos (rua 13arão de Limeira ), Vila Buarque e Santa Cecflia. Aqui nova-
ment0 suas diminutas dimen sões impediram o desenvolvimento de fortes relações
mtít uas com o cemro . Ess as classes não geraram uma simbio se com o centro com-
panh ·c) àque la que existiu e se mantém em Buenos Aires, por exemplo, ou nascida-
des do Primeiro f\•[undo . Elas romp e ram com o centro. Esse rompimento, embora
sem dúvida exist isse, não era tão sé rio até por volta da década de 1970. A partir de
então. out ro fator es p ec ificament e brasil eiro co laborou inegavelmente para agravar
e -sa ruptura e aniquilar a frágil simbiose centro-classes média e média alta centrais:
n toma<ln do cen tro p e la violência, mais do que sua tomada pelos miseráveis. Essa
foi a gota d 'água que fez com que as classes m é dia e média ai ta abandonassem defi-
niti\ ·amc n ce o cen tro , ab rind o s ua s portas para a entrada do s miseráveis e dosam-
bulances. A tomada do ce ntro é mais efeito do qu e causa do abandono do centro por
parte das classes média alta e alta. Assim, regiõe s como as das ruas São Luiz e Martins
Fomes e a dos fundos da esc ola Cae tano de Campo s, citadas acima , foram abando-
nada s por essas classes no s ano s 70, principalm e nte por causa da violênc ia urbana
que cm nossas metr ó pol es atingiu nívei s muito mai s graves do que os de Buenos
Aires ou das m e tr ó p o les primei ro- mundistns. Voltaremos a falar do centro num ca-
pítulo específico.
Voll emos à formação dos s etore s d e círcu lo. Além das áreas industriais, as
grande ~ürcas comerciais se d ese1wo lve m se gundo lon gas radiai s (o eixo Copacababa ·
Lcblo n ou as lo n gas v ias co mer c iai s, por exemplo). Essas formações linear es, aliás,
mo ·tram de man eira cloqücnlc o papel decisivo q u e a acess ibilidad e ao centro e o
tr.1nspo rt e do se r humano d ese mp e nham na es truluração intra-urbana.
É essa lin ea ridad e - as soc iad a aos siste ma s viár io s fortemente radiais que
predominam e m nos sa s metrópol es - e ainda o desnível social entre classes e a

154
,··,1·''t' ,: 11nt'1:-,h' d,h ~·.un,td.1slh)pnl, ttt.'S l" misc1,l\ ris que IL•,·am ,ws:-.as mc·I,opo -
:,.: :~''\'' '! :,1: dc:-t.h .td<,p.1d1.1t, t':-pad.11sl'gundo Sl' lOlt'S tk r11niln . Qt1,tnln llll' ·
.._., .,ú'".t:.t.i.t .1t',t1,ll1llc,11\·.1,, -:nn.11de um.1 tnt'ltópoit'. m,tinr a lt.•nclênri,1 ;1 ,;,u,1
,'~.:·• ...~,.h' :-t·pm,h,, untlo:- conn:n tril'o~. Sê nossa soci edade ,tpíl'Sen tasc.c um.1
,•,:'..\. i,-.1,:t,,,,,,·,.,,11,.,;, \llllh)t mt'. m,1i~sr mrlh,rnle ,1muiws nwlropolcs do Pri-
··t·,·\ll.'h:,, 1ws,,h lllt.'lrop,,tt--:,tptl'SL'ntnriam um espaço tambem mais homo -
~-'"l\' t' m.fül'h'\lllh' .1c11 n1los n,nr{•nt dc0s. ~ ~ lC'smo ,\ pari idp,1çüo ela classe mc -
t', tllllur,1 s,,r1,1lt' muitn pequc1h1.,\s sim sc•ndo, ,101ganitnção L'Spadal
::...t·:, ·:,,:-~,,
,'..>,· ,b$t'S :-t'~undnSt'lMl'S de rurulo permite , com o v<.·remo"nn ult ímo rnpll ulo,
"'..1\'l ú'ntrt,lt-dt) t.'~p.t(n, .1tr,1n's do controle do merendo imobiliário (desloca ndo
,'ú';1lfl' p11ndp,1I.pM t'\l 'mp lo), do Estndo e' da ldC'ologin- maior do que srr i:1
··..11
·1,ll'h'ntu,11~1..'grl'ga(:1t) sq~undo rírrulos conri'·nc ricos. J\p roxi111n mo -nos t'n l ão,
f:-' ~,n 11wirt.' lug.,r. do p,Hlr.1o ctc segregação segundo lima tínicn rcgifio gcrnl cln
·:1.-:r~)lk'k t' t'm st'gundo lug.tr. d.1 !-cgregaçào segundo sc cor<.· s de círculo. Dcscn -
,-.,:\t'rt.'mo:: m,tis l'SS,ts idL;ias no tina! dcsra obra.

~Oli.l.

: ~Jr.:uml'\t'mplnbrasill'iro da Ecologi.1Fatorial. ver: ~IORRIS.Fred B.·~\ geografia social no


1ant>1ro:
:t,,dt> 1%cr. ln: Rr1·1sra Bm.-.ilf'im de Geografia, Hio'dr Janeiro, ano 35, n.1. jiln./ mar.
'.~~3.3-6~1

: \ rijuipet·onsunnda por :\lonique Pinçon-Chnrlot, Edmond Pretcceillc e Paul Remiu 1cm


l'llH'ntl'um.1prl"locupação política em suas invcstiga\'Ot's, r n:\o grogrüfica ou
-1;1;.rent
,ociológk,1. :\ ênfost•de suas pesquisas não estú na comprl'l'nsão Liasegrega\·:-to:cst:i em
mosrrar a existênciatil' unrn correlação entre classes sociais, scgrcga~·~oe rquipaml'ntns
cole1iros.\ 'isam mostrar que a ação do Estado na produção dt• cquip~mHmtoscoletivos
pnrilegiaa$,ireasde mais alta renda, como mostra o próprio título dl' :ma obra aqui citada:
Stgrt1gario11 11rbni11e:classessocinles er éq11ipenumcsrollectifs e11Region l'nrisi('IIIIC. Essa
corrrlaç.iocen amenrc existe no Brasil. Nesta obra procuramos desvendar por que a
segregação facilita- na verdade possibilita - a açáo do Estado cm favor das camadas de
maisaltarenda.\'eja a bibliografia.

'Asporccmagc '
ns do wtal de chefes ele domicílio ganhando mais que vi111csalürios-m111imo s - t· qur
corresponde grosseiramente,porém de maneira 101:.1lmcn1c adcqundn aos llns tksll' trahnlho. no que
estamos
chamandode burgucsias ou camadas de alta r(mda - sob1-co lolnl de domit:t1iost'rn n sl!guintc
em1991: 5.-liªó na J\rca Metropolitana de São Paulo; 3,82% 1mde Belo l lorizontC'::\,füi% nn tio Hio: e'
nade S..tlvador. Fonte: H3GE,Censo de 1991.
3.29%

155
(:1p1ltllO8

o·bairro residenciais das


ca1nada
.. d alta re11da

ORiodeJaneiro
Emtodas as üreas metropolitanas- e mesmo nas cidades médias lilorâné~ts
bra~ileira,com praia~de alto-mar, com exceção de Salvador-. as orlas estão sendo
.ri',rente memcocupadas pelas camada s de mais alta renda: Balneário Camhorhi,
J"' 1~·Sã0Vicente-Guarujá, Rio-Niterói,Vitória, Recife, Fortaleza, etc. Esse proces-
,.,Jeocupaçãonão se deu de modo simultâneo em todas as nossas mctropolcs.
Oco rrru primeiramenteno Rio de Janeiro e cm Santos - no final do éculo XIXe no
mício do 'iéculoXX- e só na sua segunda metade se difundiu nas mel rópolc~ nor-
d('stinas [m alguns casos, houve uma primeira direção que foi ocupada pelas ca-
mada'> dealta renda,antes da orla oceânica, como o setor Oeste no Rio e no Recife.
~oRio,essaprimeirndireção há muito tempo foi totalmente abandonada por aquc-
laHamadase, no Recife, elas ali ajnda resistem , embora seja clara a lc11t.l ênri,1 dt'
suatran'lfcrência para a orla das praias, como veremos neste cap ítulo, adiante.
AotentardE::~vendar as razões da ocupação da orla oceânica da cidad l' do Rio
deJaneiropelascamadas de mais alta renda , o investigador e levado a se afoslnr no
:empo até as décadas finais do sécu lo XIX, qu ando essa ocupnçno lL'\'t' inicio de
iormasigmficatha.1!111seguida, é obrigado a afastar-se ainda mab, ,ué o mício do
~€culoXIX. para de~cobrir onde mora va a aristocracia carioca nntc ' de ,r conccn -
trarnaorlaoceânica.
Desdea chegada de dom João VI, começou a se conslituir na capilal do reino,
depois Império,uma estratificação social já típica de uma sociedade urbana capila-
lista,cóm dimensõese práticas socia is que se revelaram suficicnlc s pam dar início a
algurnaseg rcgaçãoespacia l de seus bairros residenciais . Na segunda metade do sc-
culoXIX , o Rioera a maior metrópole da América Latina, comparáv el alé a alp;umas

157

capitais européias. Como se vê pelo Quadro 2 1, por volta d e 1870 , o Rio era maior que
a Cidade do t-.1éxicoe bem maior que Bueno s Aires. Entretanto, esse recuo até o final
do éculo XIXrevela- e in suficiente, poi s o Rio já cm uma grande metrópole há mais
cempo. Co m efeito, se o Rio já era uma grande cap ital ant es do final do século XIXe
ua elite capit alista já começara a se formar cm meado s desse séc ulo, cabe perguntar:
qual a localização de se us bairros rcsicknciai s na prim e ira metade do sécu lo XIX?O
que teria motivado a ocupação dessa localização? Quais teriam s ido as razões do aban-
dono destas cm favor dn orla oceânica? Para respo nder a ess a s indagações, o pesqui-
sado r é levado a investigar a estruturação do Rio ele Janeiro a partir do início do século
XIX, é po ca cm que localizamos .as raízes des ses proces sos.
Es e afastame nto no tempo permitiu descobrir não só que a maior parcela
daquela elites oc upa va a proximidade do centro, predominantemente na direção
oeste, como também um aspecto inu sitado que, se não era desconhecido, nunca foi
sufi cienteme nte destacado. Na primeira metade do século XIX, uma significativa
parce la da elite urbana carioca morava/ora da cidade, num estilo de casa e de vida
muito diferente - no tempo e no espaço - do das chácaras, comuns nas capitais
brasileiras no final do século passado, de Porto Alegre a Salvador.
Em 1821, o ílio tinha uma população total de 112 695 habitantes, dos quais
79 321 e ram urbanos. Pelo censo de 1838, essa população era de 137 078, dos quais
97 162 eram urbanos. Era uma cidade bastante grande para os padrões da época.E
n ão só isso: era se de de uma corte razoavelmente ativa em termos econômicos, so-
ciais e culturais.

Quadro 21- População de algumas capita is po r volta de 1870

Cidade Ano Número de habitantes

Madn 1870 331 665 (1)


Rio de Janeiro 1870 235 381 (2)
Cidade do México 1877 230 000 (3)
Roma 1870 226 022 (4)
Buenos Aires 1869 187 126 (5)
Lima 1876 100 000 (6)

Fomes:
( 1}Secre tar ia General dei A;runtamicnlo de Madrid, J?c sumen J:scadíslico, Madrid, 1968. p. 23 .
(2) RepúbJka dos Estado s Unido s do Bras il, Recenseamento do Hiorlefaneiro, Oflicina d e Estatística, Riode
Janeiro 1907. µ. 20 e 36.
(3J l\lOHSE, Iüchard M . Lns ciudades lntinoamericanns, Méxfoo, 0 ,E ScpSctcntas, Secretaria de Educaciôn
Públi ca, 1973, v. 2. p. J 74.
(4) ROBfSON , WiUiam A. (ed .) Grea1 Cilies of lhe Worlri, George Nlcn anel Unwin, Londres, p. 522.
(S)fdem, ibidem, p . 167; Ric hard Mor se, op. cil. , p. 62, dá para o me s mo ano uma população de 178 000
habitames.
(6) M. Richard Morse, op. cit., p . 200 .

158
Oséculo XlX
Segundo~lorsc (1973, v. 2, 92), o Rio ultrapa sso u Salvador por volta de 1810.
ORioé a maisantiga metrópole do pa ís. No início do séc ulo XIX, torno u -se se de de
umacorcceuropéia que conve rteu a cidade "cm um centro cullllral co m sua im-
prensa,sunsacademias navais e militar es, uma faculdade de medi cina, um jardim
l>orànico e umn biblioteca. Missões art ísticas e científica s vieram da Europa, co n vi-
dadaspelacorte"(~ lorse, idem, v. 2, 93). Com a chegada da corte, o Rio pa sso u a ter
umaeli1e de signiíicativus dimensões. Cabe aqui des tacar brevem ent e o cosmopo-
litismo e a vida social e cul tural da capital do reino na primeira metade do sécu lo
XlX.Nos tempos de dom João VT,cm 1813, foi inaugurado o Teatro Rea l de São
João , onde, na década de l 820, foram aprese nt adas as principais óperas ele Rossini,
inclus ive O liar/Jl'iro rle Sc11i
llw . Esse teatro so freu vá rios incêndios e reconstruções
e, nessa mesma clécacln, passou a chama r-se Teatro Imperial de São Pedro de
Alcântara. Em o principal da co rte. Localizava- se onde cslá hoje o Teatro João Cae-
iano(Cruls,1965,307 a 333). Na década de l 840, embora o principal teatro fosse o
SãoPedrode ,\lcântarn, vár ias óperas important es foram estreadas no Teatro São
Januárioe no Teatro São Francisco. Todas as mai s importante s óperas compostas
porDonizcttie Bellini ames de 1840 estrearam no São Pedro de Alcântara antes de
1850(Kobbc\ 1991). ,\ elite carioca incluía vários grupos de estrangeiros; não ape-
na imigrante:,que logo enriqueci am e se firmavam soc ial e economicamente -
issosó iria ocorrer mais tarde cm São Paulo e em Porto Alegre-, mas também di-
plomatase refugiados políticos abastados, duques e até prín cipes. I Ia via ainda a
burguesiacomercial integrnda por portugueses, bra sileiros e os já mencionado s imi-
grantes.Finalmente, a velha nob reza portugue sa - ou o que dela restou no Brasil,
depoisde 182J, qun ndo dom João VI se foi.
Noprocesso de investigação do loca l de residência das elites cariocas, ante s
daocupaçãoda orla oceâ nica, chnma a atençno a existência de bairros residenciais
daaristocracialocnlizados muit o longe da cidade de então, como na Gávea e no Alto
da BoaViscn.Trata-se ele fato inusiLado, que encontra paral elo apenas no Recife.
Essepadrão,como veremos, nada tem que ver co m as cháca ras, comun s no séc ulo
passadoem São Paulo, Salvado r e Porto Alegre.
Em 1808,ano da chegada de dom João VI ao Brasil, a cidade do Rio de Janeiro
aprese111an1 uma população da ordem de 50 mil habitantes. O primeiro ce nso da
cidade,feito em 1799, abrangeu apenas a popul ação urbnna e acusou 43 376 habi-
1an1es (Fleiuss,s.d., 1-JS).O segun do censo, de 1821, acusou uma população total de
112695habiinntcs, dos quais 79 321 eram urban os (dado s citados no Recenseamento
doRiode Janeiro, 1907, 27).
Crescendo principalmente para o interior, a cidade já ha via dese nvolvido na
direçãoocs1r seu principal sb tcma viário , articu lado inclusive ao sistema viário
regional.consti1uído pelos ponos das vizinhanças e pelo s caminhos que condu -
ziamao interior e outras províncias. Assim articulado, o sistema viã.rio principa l ur -
banosurgiu para atender a des locamentos que se davam predo minant emente no

159
==--:-
""
-::. pe~- · 0..tla; a oda a p:zia cios ~linei:-os e a praia D. tVlanuel), na planí-
a~ =-x:.~-e-:e '=-:L.l.c-e os ülor:-os ~e 5.ar::o _;ncôniO e da Conceição (veja figuras 15e36).
.s._-:- - ::.--::.::.;:.E-~m~o:-=~ urbaaa passou a ser assim mais fácil no se ntido perpendi-
~.:. - .i.a é ....qu.-epG.!a.Ielame:-ie 2 ela rua Primeiro de yfarço, então rua Direita).
• -. ~~-oe2 - : :e-;; ·-o daciriacie e no seu entorno tmediato. es pecialmente na direção
:_- :=·e:--- ;:.'"z~:.a :·o;-e- de enião. concentrava -se a maior parte da s famílias de
-;-..,i; , c:_2 :-,e-ca.. E-:·:e o Largo do Paco l'raca Quinze, e o Rocio Grande (depois
i?.<-..-a- :. Co:-~::ru ~i.: í"Oje-:rac:ie:1~es estendia -seu ma região onde morava signi-
:a_...;_"c. :-;ê.rcie.2- ~...:c:::e:1~e a :na:or concentração - da aristocracia e da altae
~...a(: -T -=-s:.a.5 --~ ;::o:-a·.--a:r.;>o~üicos profissionais liber ai s, os jntelectuais, os
cc =-e;-cia:::e: e a:5 ...rr.sr.obres. Era comum. especial mente dentre estes úl-

e~.
-::-c:r .-::-=S
a:-:-r,,s. é ::-e::-:cié:-1da 'oc2..·:z2--se :10 segundo pal.imento dos sobrados cujos térreos
::,c:rp-~ci"J:'5 p-0:-e~abeiec:::ientos comerciais varejistas (na rua do Ouvidor) ou
~-::~ri::s-2..Sar::::G.Z.=us 0:1 C2.Sasde importação ' na rua Direita ) . Essa era a região nobre
=zctdzd~ :-..ã-:isri cio pc::~o ée -.-:sca residencial, como tamb ém do da localização dos
-~,:..-a~;; c:..s ;:_:...-::::?2.:s eci.f:cios públicos.
::.ü:.:r:eac-.:~ éo sécu:o X::X ocorre um período de transição na produção do
~~t:.. ··:oa:-_o a:.::x2, ç:.ie coi:1cid,e com um período de transição na sociedade
- -e, p-i=.:.:2.:-.:::c.: esc::-2.·,-ocraca e colonial, para capitalista, com uma nova
e::::--:::~:.:..--:~cã0 sl')d~ t::::a n2.scer.ie burguesia e classe média urbanas. Essa tran-
::~,:. :: a ::c;:a esp2.c:2..'..1z2.çãourbana foram mais claras e pioneiras apenas no
?'_,:,.-:.:-.:::e:::c.-=..s:~.-e os t:-2.nspones co!etivos se difundiram bem antes que nas
,..,._- ~ :::-.e::-ó;y:._es· :oi :::2.: c2.nce rarnbém nas outras duas grandes cidades brasi-
_=::..:cca ::::::::e::-2. :::?e:aée do século XIX: Salvador e Recife. Em São Paulo e Porto
f _~-
~:::ão ::::...::0oeat:enas. essa transicão foi bem menos notável. Como bem
.. .. >

0;:se :- ·a:::. ?e:-::a::ces e F::gueiras Gomes (1991, 100-101 ) em relação a Salvador,a


dia.:::: sc:-a1.'"!st2.e~a a cidade das superposições e da mistura social no espaço.
E~-s.e-~ ~-:-:.:'3::sdes-...aca.'11o papel qu e as epidemias , os riscos de contaminação ea
,::::_...,ã-:, éos ::-anspo::es urbanos tiveram no desen\·olvimento e na viabilização
c:2:~~~~2.c2-:. esp2:c:ai em Salvador. Com distinras particularidades nas várias
:::e-·=-~ ;;-:..es a t=o~.-aes rai::icação soci al trouxe nova espacialização - a segrega-
d_r.., r.:e t.Eos co so:o e de dasses sociais.
~ ·e. P:,:, embo:-a a mis:ura ranio de classes sociais como de atividades urba-
í.é$ :0S9:: :.t:q-er.te :-..a,,":acerta concen cração de ca madas de mais alta renda no
~:~-:- r..,-e-s:~ e,:, ce~t:o que aponta :a para São Cristóvão. Fora desse setor, havia três
1

~ ...::-as. re&0f:s que apesar de menos densas, se destacavam por apresentar certa
~r ...:-.ce-::::-açzoce fam~:as das camadas sociais mais altas . As plantas cadastrais do
? ,r__.:-a p::.rr.e.:a me:acte do século XIX (veja, por exemplo, a planta à p . 156 de Fleiuss,
s.C e_;;._Ft:iz e me:norá\el época ' ... ) da chegada de sua Alteza Real o Príncipe Re-
~e:1:e ~ o5so S€:1hor, mosiram que a maior pane da cidade ocupava a ponta com·
;,.r~f::-.ê.é2. e:-. ::-e as praias de Santa Luzia, D. ~tanuel, tv1ineiros e Valongo e o Campo
é~~::. ~.cn~ ··,·e)a a Figura 361. Dessa área paniam três tentác ulos, on de também ha-
.-:a pê.rce:as s~gnificarivas dessas camadas. Um , na direção d e São Cristóvão, tanto

160
:tillol\~(l d11s l\ ltlllllhU s dl' ~ }ti( ,l ( ,\\ ,\\ll..., l' \ \ ll,1 1101\ (IS ( ,\lll,II S l ll,\S HI 1( h\11•\o I' J 1t•1
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p r:11,1d,1 l 1IOJ1,1. :tll' Bo 1.1f11g1> , ondl• mot ,l\ 1\lll p1me li1.il11w1tlt' n, 11gl,•s1·s I t111l1111,•n
lt' h,l\ia ,1 1illll n. l,111111 ,1 pa, 11•,tlt,1 como ,l h.1b.:,t,ocup.1d.1 IH llll 1p.1l111t'llll' pt'lt>s
11,\llfl'...,l
' 'í, t1•lug1.1dns tlll 1\,lo
:\ l1lC,1 ltl ,\\,Hl ft>l,l d,, rid,ule de p,u lt' d,, pnpttl.,, ·.1t1d,• ,11l.11, 11d.1 do Htn d,•
l,llll'Íll)na p1111w i 1,111wt.1d1·dtl ,1•n1lo \1\ nns lt•,.,
,1 ill\t'slrg,11 n qm• s,•11.111111·.1l -
nwnt<',\S \ h,H;11,1, l,lP lú•qlit'llll'S l'll\ nos-.,l ... l'lll,ldl'S 1l,1q111•l,1 t'jlllt',I l' llil M'gt111d.1
nwt,tdt•do ...,,•rttlo\1\. lmpot la salwr att• qttt' pcl nto ,1s t h,ll ,11,1,t•1,1111do 1111,tltl\'-
Pl'lll\ill1l'Hlt'S 011 qu,tst' de llHHtHlotl'~u1b,um, 1•111h1H,1 ln, ,1li:.1d11s ,ilt'lll dos
tentarnlos:.uln1rh,11H>s , 1sln e, ocup,Hlos por fn1111li,1.., 1u1n-..mt•mhw-.., t'slH'l'i,11-
mt•ntt'o rlwk, l'\l'tl Htm p1olhsan u1b,m,1. linh,tm l'Sliln u1ll,rn,, dt· , 1d.1t•lou us,1-
\,llnl' 11,•quc•ma,-.1m a l id,tdt• l'. prn isso. para t•l,1sP dl'sh>t\\\ ,1111 l~nm 1m1ll,1 rll11s1.1n -
c1íl.tal\l'Zqttnst· diati,lllll'lllc •\ distinção não t' sunpll•s. poi, l'lllll' 1•st,1lwh•,·1111,•1110,
clamnwnlt·rn1ais l' dar,rnwntl' u1banos lrn uma pt•nt1mh1,1 dt· g1,1d,1, ·üt•s . 1',11.1 o
Rio da primt•ira nH.'t,Hlc do scculo ÃlX. a nacu1t•1a 1•conomh.\1 d,,, ch,1c.ir.1s n:to
t 5d:ncr<'dcliniti\'anwlllc a questão. l l,wi.1chac,11,1sqm• ,·xplot\t\,Hll ,t ,1).!ricullur,1
1

paralíns conwrriais; no l'nlanto, a familia - o dit•h• t•,pt•dal11w11lt'- nao l'st,1\1,1


exclusiramenlt'engajada <'111atividades agncolas e k\'a\\t um t.•,uln dt' \id,, lt1t,1l
mrnlc urbano. hwcrsamcntc, a chacara podin nprcst•nt,11uma ,lgrirullu1,1 ,\J>l'l\,h
desubsblência e. no cnlanlo, sua fonnlia c~1a1intcgr,ula na \'id,, do ramp,\ t' mu1
IO raramente ir ü cidatlt>. l lavia ainda as ch,í..cams- e na.•snrn t:11cnd,\s rt1jos
proprietáriosmantinlrnm lambem rasa na cidadr - t' virc-,·l'ls,1 e St' uliliZ,\\':un
deambascom freqüência e mesmo com rinnlidadt•s scmclhanl<'s.
No Hio,nãu ernm raras as famílias que moravam na cidadl', m,t!'Il,lli,1m mm
tãointensoe freqüente das chácaras (passando longas tcmporad,\:-, n'Cl'lwnd,1 ho-.-
pedcse promovendo recepções) que era difícil cslnbrleccr qu,11Na ,l n•sidt'11ri.1pt'l
mancnlc,se o palacclc ou sobrado e.lncidade , ou a chacarn; t·nttt.'l,rnlo, L'lll lt't mos
deestilode vida, essas famílias eram, sem dúvida , u1banus. Por fim, h,t\'l,l ,l dMc,11,1
tipicamenteurbana, moradia permanente , j,i na segunda nwt,Hll·do -;l'<'llll1 Ãl\, lo
calizadana cidade, mesmo que cm bairro afaslndo. l'ra lrt·qiknlt'tlll'llll ' u1n.1re111i -
niscêndadns da primeira metade do século e mantinha o 1w11wtk ch,tl-.H,1sim-
plesmenlepor ocupar um Lerreno que, para os pndroc s urbanos de t'lll,rn, cr,\
considerado"grande".O que pretendemos mostrar 0 que no Hiu de lancuo, n,1 pt i-
rneirametade elo1:1ét=ulu XlX- e i,ó no Riu de Janciio t' cm JMI lc nu Hcdfc , pdu
estilode vielaque aprcscntnvn a corte, pelas dimensões dt.•su,\ elite', seu cosmo-
polírísmo e s11ainfluência européia, em comum qut.' rnm1lias ltrb,rnas momsscm
permanentemente fom dn cidade ou cm long111quossuburbio-.. So no Hio h,1\'in
umacone, uma aristocracia européia cm contato com n qunl o pal1 imc,t 1urnl-
suburbano urbanizou -se sem mudar o local Llcsua cnsa. O conlnto entre as cultu-
ras da elite urbana européia e do patriarcado rural brasileiro foi especialmente

16 l
jl

o J nero cm 1874 e 199~

162
niarrantl'no Hio,ond" nmbas se con fronta ram alra véc;dr grandes r.ontingcnlcs hsi-
c:imr.ntepróximos. l~ , etdad<' que, nos dizcre<;d e Gilberto l rcyrc ( 19GB,:Hl. o
patrarralismn , vindn do cngrnho para os sobrad os, urbani, ou-sc aos pouco<;,"scn-
t1oporrmitotempo qunsc inimigos a m a e o 'iObmd o. ProsscgllC'r lc (idem. 115)·''0
t111e,nrriliroucom n I rnnsícrência do poder clns <.:ac;ns-grnnclc•s do interior para os
~obrado,; da ridadt' lni, C'\'identcmcnte , unrn diminuiç ão dr distância n,w so física
comosonal cntrt· a gPntc scnhoi il e as atividades mccânicac;,ro mcrcin1s, industri-
ais,quewnwçaram a desc nvolvc1-sc, na s me~ma s cidade s, cm relativa indepen-
dênciados srnhon's eh-.')ob 1ado, cmb orn, principrdmcntc, para sru uso e r onveni-
êncialnclt1!-i1vc o usn e con\'c niência das se nhora s''. No Hio de Janeiro, entretanto,
dadoo impacto dt• tal ron fronto, essa urbanização íoi rclntivamcntc rápida. Uma
da,manifcstaçücsdessa urb anização con sistiu na crescente absorção, pela cidade ,
nãosoda famíliapau ,areal, da fazenda e da casa-grande, mas também da própria
corteque.gradualmente, deixaram de ser unidades autônoma s isoladas. Os chefes
dctnmílta. e nté mesmo as mulh eres, utilizavam-se cada vez mnis elos serviços urba-
nosque ahsor\'iam as funções outrora desempenhadas na casa, indo às lojas, ao
teatro,a ópera ascon feitar ias ou ao médico. De dom João Vl para dom Pedro I, e
ma1sa111da para dom Pedro II, foi grande a democratização da corte e ambos nossos
rmpcradorr-. frc4ücntaram a cidade como cidadão s comun s. Tanto o controle da
conepelo pO\o como sua dependência aos serviços urbanos aumentaram com o
desen\'Ohi mcnto da burocracia estatal.
Aexpressãoespacial da progressiva absorção das aristocracias rural e corte-
sãfoia contínua aproximação à cidade - a seu centro - de crescentes parcelas
dasresidênciasdas elites, processo que se desenvolveu alé o início do século XX.
Talprocessode aproximação se manifestou por meio da imobilização espacialdos
bairrosresidenciais das elites. É por essa razão que havia no Rio, na segunda meta-
dedo século xrx, muita s residências de famílias urbanas de alta renda em subúr -
bio~afastados. No Recife houve um processo bastante semelhante, diferindo do
do Rioapenas quanto às dimensões.
A colônia inglesa, de acordo com Gilberto Freyre, certnmente leve poderosa
influência na localização afastada de residências da arisLOcraciacarioca da primeira
metadedo século XIX. Segundo esse autor, em 1825, os ingleses do Hiode Janeiro,
"do altode suas chácara s, em geral situadas em morro e rodeadas de arvoredo, os
maisopulentos dentre aquele s negociantes foram se tornando uma influência re-
nova dora e mesmo revolucionária da cultura sem icolonial do Brasil'' ( 1977, •!5). Essa
influência,porém, alguma s vezes não se exercia no sentido de fazer com que nossos
ricosmudassem o local de suas casas, mas precisamente no <lcíaicr com que ela
nãoprecisasse mudá-lo . A elite carioca- e em parte a do Hecife- , ao contrário da
deSão Paulo, Salvador e Porto Alegre, foi urbana, durante muitas décadas, sem mo-
rarnacidade.
Já antes da chegada de dom João VI, o Rio de Janeiro, sede do Vice-Reino des-
de 1763,apresentava uma significat iva elite semi-urbana - que vivia na fazenda ou
nachácararural, mas que começava a freqüentar a cidade-, além da elite rural -

163
que ocupava sít ios, chácaras e os prósperos engen ho s da s v izinhanças da cidade
Em l 803, Elias An tônio Lopes, um rico comerciante português estabelecido à rua
Direita (rua Primeiro de Março), portanto em pleno centro do Rio de Janeiro,cons.
truiu uma p roprie dad e rural cm São Cristóvão, totalmente fora da cidade, muito
além dos subúrbios de então. Em uma casa de tam a nhas proporções que dificiJ
mente se ria usada para curtas temporadas. "Esta casa era particu larment e grande
para um particular solteiro. (... ) É de notar que e m 1803, se ndo perguntado esteElias
p or que razão edificava um a casa tamanha, respondeu (talvez bas eado em certas
profecias que o povo supe rst icioso cria deverem-se reali zar por aquela época) que
era para residência do príncipe regente de Portugal e, com efeito, em 1808,ofere.
ceu-a ao príncipe, que a aceitou (Prado, 1968, 78) ." 3 Além desse tipo de casa, havia
no Rio outra que merece a qualificação de urbana, apesar de localizar-se forada
cidade. Seus ocupantes, nem se mpre estrangeiros, eram totalmente urbanos, exer-
ciam profissão urbana e deslo cava m- se qua se diariamente para a cidade. Eraim-
possível, por exemplo, dizer onde mora va o pr íncipe regente, se na cidade ou fora
dela. Enquanto viveu sua m ãe , passava os dias e m São Cristóvão (fora da cidade)e
dormia no Paço da Cidade, a lém de passar longas temporadas na Fazenda Realde
Santa Cruz, na Ilh a do Governador e na de Paqu etá . Só depois da morte da rainhaé
que se instalou mais permanentemente em São Cristóvão. Transformado assim, por
sua afastada localização (6 quilômetro s da Praça Quinze de Novembro), numa espé-
cie de Versalhes bra s ileiro , São Cristóvão atraiu para suas imediações muitas resi-
dências aristocráticas, não só de bra s ilefro s e portugueses, mas também de ingleses.
Provavelmente aos rico s brasileiro s e portuguese s referia-se Victor Jacquemont, na-
turalista francês que aqui esteve em 1828, quando dis se : "Esse povo de graúdosha-
bita chácaras encanta dor as nos arrabaldes da capital e vem todas as manhãs à cida-
de desempenhar os alto s cargos de que se acha investido. Mal está, a maioria, em
condições de apontar as penna s com que esc reve, ou apenas disso cuida" (cicado
em Noronha do s Santos, 1934 , 68).
Mu itas outras manife stações da natureza urbana da s chácaras cariocasda
primeira metade do sé culo XIX podem ser ci tadas, como a ida à ópera no Primeiro
Reinado. ''A maioria de seus espectadores residia então em chácaras fora do reduzi·
do centro urbano, e era deixada à s ua porta em seges d e seu uso particular (Gerson ,
1965, 159)." Em 1824, observava um viajante europeu: "Outra tarde interessantepas·
sei com Dr. Dixon, médico inglês que construiu s ua casa nas cercanias de Botafogo.
ao alto de um morro; pa ss eio bem fatigante, exigindo quase uma hora de marcha
se mpre em subida. Admiro sua coragem, instalando-se assim perto do céu, mor·
mente para quem a profissão chama freqüentemente à cidade ..." (EbeJ, 1972, 127).4
Essa vinculação à cidade, por parte dos moradores de chácaras afastadas, bem como
os ofícios que exerciam, mostram que elas não eram casas rurais próximas à cida-
de; eram, sim, casas urbanas longe da cidade. Em alguns casos, mesmo morando
na fazenda, o est ilo de vida do s habitant es era urbano, ass im como suas principais
ocupações. "E foi por esse moti vo que os ingl eses, quase todos comerciantes com
com promi ssos diários no centro, n ão puderam vo ltar-se para a Tijuca e acampa·

164
-
nharosfranceses,estes sim, un s regalões que só de uma vez ou outra abandonavam
osencantos da llorcsta (Cr uls, 1965, 368)." Na Tijuca moravam os Taunay, o conde
:\vmardeGestas e sua tia, a condessa de Roq uefeu il, a baronesa eleRouan e o prín -
cipeSccy-Montbéliard. "Co mo se vê, uma verdadeira colônia francesa , e de linha-
gem.To dos eles, 1nais para se distrair ou esq uecer as amarguras política s, do que por
necessidade, adquiriram grandes propr iedades e se dedicavam à agricultura (idem,
ibid.,353)."Entretanto, veja m -se o est ilo urbano de vida e o uso da cidade que fazi-
nmessesfranceses. ''Num dia havia excursão à Tijuca, na quinta da conde ssa de
Roquefeuil, em outro , gran de almoço na chácara de seu sobrinho, conde Aymar de
Gest as ou em casa dos Sumt er; a seg uir, baile promovido por alguma emb aixada
parahomenagear divisão naval cm visita, ou banqu ete e dan ças a bordo de vasos de
guerracm retribuiçã o à precede nte homenagem, ter minada a semana num a visita à
Fazenda Mandioca do cônsu l Lang sdorff, competidor da conde ssa fazendeira em
obsequiarestrangeiros (Prado , 1968 , 223) .''
Coma corte , consideráve l quantidade de nobre s europeus, profissionai s li-
berais , comerciantes ou dip lomata s tran splan tou para o Rio uma forma de morar
européiaainda herdada do séc ulo XVIII.Segundo Almeida Prado, "foi some nt e de-
poisde algum tempo no Bras il, patente a inten ção do prín cipe em se demorar na
ierra,que a gens cortesã resolveu m elhorar de vida, organizar-se e, até, ostentar al-
gumluxo.Mais influentes do que eles neste terreno se riam os mercadores ingleses,
nofastígiode sua aura financeiro-eco nômica (...) a dar lições de vida mundana atra-
vésdesuas habitações, festas, n1obília s, baix elas, criada gem, cavalos, etc. inclu sive
até nalocalização das residênc ias, antigamente concentrados os comerciantes e ri-
caçoslocaisna rua Direita e nas imediaçõ es da Candelária, inconfortavelmente alo-
jadossobre seus rudin1entares armazéns" (idem, ibid., 237). O censo de 1838 acu-
souumapopulação "suburbana " de 39 916 habitante s, uma cifra muito alta. É de se
notarque o pioneiro uso da expressão suburbana reflete bem o conflito entr e uma
localização totalment e fora da cidad e da época- como as freguesias de São Cristó-
vão,Engenho Novo, Gávea , Ilha do Governador, etc. - e ao mesmo tempo o ca ráter
urbanoda população .
Naverdade, alguns estrangeiros moravam fora da cid ade mais em função da
classe social e das perspectivas de radicação do país do que da nacionalidad e. Se a
nobrezafrancesa morava na Tiju ca, os franceses imigrante s comun s, os comerci-
antes da rua do Ouvidor mora vam junto ao centro ou nele próprio. Entretanto, a
nobrezacomposta por muito s exilados políticos e diplomata s aspirava, um dia, a
voltarà pátria e em parte por isso não se integrou muito na comunidad e brasil eira;
emparte também pelo fato de, por preconceito , diferença de costumes ou falta de
identificaçãocom o país, as elites europ éias não-portuguesa s, a portugue sa exilada
e a brasileiranão se integrarem socialmente no Rio de Janeiro. A localização afasta-
dadosestrangeiros poderia repre se ntar então, também , um distanciamento delibe-
radoda comunidade Jocal. Quai squer que fosse m as razõe s que levaram essas elites
a morarem locais distinto s e fora da cidade, o fato é que exerceram influência na
maneirade morar das elit es br asileira s, exatamente numa época em que estas se

165
F

urbanizavam. O patriar cado rural 1· ,u iorn. t' nq ua111d ', l' 111 li , 1111, .1v 1. 11 11111 11,,,1111lt111
local de s ua casa . Passou a burguê s uilHt1ll> t' r o11t11tuou 11t111.111d1111111111 1•i 111
11111 ~
11
enquanto esta C'ra absorvida pela 111ctropolt• l'lll e n •st 1111t•11ln
No Recife, h ouve um p rnccsso Sl' 11wlll,1 11tt•, poi s a vl dn '-llht11ln111 11, 111,111 nlt\N
no
tad a da vicl a da cidad e, rcscc•u m u it n ; m, t ra 11sprn t 1•-; 111li.i IH 1,
. .
it 11 1,1:, i\1p n 11
l'lt\
-se desenvolveram uastantc e no s arrn lwld l's li.i v 1;1 lwtl'l !'te .111· lt ·:1110, 111 11111\' 111 1 1
mo s adiante. Assim como o nio l'ra rod e, 1do dt · 1k.is 1:tl.l' tHl :1,, o lh' r\ lp 11 ,·,i1 do
engenhos, muito s dos qu ais correspu ndiam ou gt• 1.i 1.1111 ,111 ,d 1,lldl' }:. /\ d lit-11•11~" 1111
trc o Rio e o Recife é a p enas de escala. r a l,1mlH ' 111,a p:11 I<' 1\1.11:--1 kn tl.i 1·tdi1d,• 11
• 1011
"m a rca ndo pa sso" no mesmo lu gar, pr (•e11clwndo os va 1.1os 1•11t I l' n cíd11t1 1, ,. 11_,1111,
rabaldes, até qua se m eados d o séc ulo XX {VC'j,1, 1w ~ tt' c 1p1lulo , M'(, tn " 1{1•ril,•,")
Não há indício s de que cm S5o Paul o, S~lvadot cn1 Porto /\ lt·)~H· lt •1il1n111,·xhn .
do subúrbios com ch ác ara s ap resentando tal r1cqüt'·nr i,1<' i11tc·11 .-.id,ttli• d1·di•slorn
mentes para a cidade , n e m tal grau dc "urbntti zaçào" po r p.trll' d,1s l:1111tlin., c1t ·1tpuu
tes das chácara s loca lizadas rcal m cnl e fora da c iclndl· . /\s dt· S.tlvador, 11,1 Vl1o111,1
eram de vera neio ou para uso e m nmde sc nrnn a . E1,llll pt>11rns .1s dl' 11· ~i1h111.it,
perman e nte , de família urbana . Por o ut ro lado , rw finnl cln senti o XIX, o q11l'Sl ' dtn
mava de chácara , em São Paul o, freqü en tí'm cn l<' c rnm r<'"i df·1wi~1s u1 i>,111:1 s, l11rnll-
zadas na cidade ou muito próxima s a e la . Os jornai s da t'pm ·.1 ,111u11<·i:iv11111 . rn 1110
chácara, por exemplo, uma propri edad e co m cast1"111uitn lwm roi1stn11dn ( ...) rnni
gás, banheiro , em terreno de 27 m e tr os d e frentt' so bre m ai~ ele- 100 dt · lt1ndo, ll•rl111 ,
do de muros e grades de ferro co m grande ja rd im ingl0 :-" (Canal>1't1Vtt, !l7 1(Ml. ' 1\1~
aquela época as verdadeiras c há caras pauli stana s era m proprit>dadt' S 1111ni s duf.i,
rnílias mai s rurais que urbana s, como a das Palm e ira s, que de11rn ig('111a 11111a pnr,
te dos bairros de Higienópolis e Vila Buarqu e e qu e, cm 1872, l inlla 2S alqul·irl' Sco111
plantaçõ es de chá, mandioca , etc., além de armazén s , coc hcirns , t•s 1rcl>:1ri:i l' at~
senzala. Em 1836, a cidade de São Pa ulo linh a aproximadamente 9 mil lwl>iltttllt'Sll
Porto Alegre (a cidade, apenas) não tinha mui Lo m a is que isso. No c ntn11lo , :i capilnl
do Império tinha 150 mil. São Paul o e Po rto Alegre n fio tinham , nem poderiam lt!t',
um nível d e atividades urbana s que exe rcesse so br e a s famílias rurai s da pcríft'riaou
do campo uma atração comparável à exe rcida pelo ílio . Nes s a épo ca, em Sao Paulo,
as mulheres não freqüentavam a cidad e e não saí a m so z inha s à rua nem pnra fnzcr
compras, enquanto a rua do Ouvidor já esta va cheia de modi s ta s e rnbclein•irn:;,A
chácara, nas vizinhanças d e São Paulo ou d e Po rto Alegre e ra , na metad e do sérulo
XIX, um estabelecimento rural , cujo c h efe ia a p e na s eve ntualment e n cid.iclt•.No
final des se século ainda, as eUtes d essas cidades eram totalm e nte urbn11as,e suos
chácara s ou se situavam na cidade , m es mo que na periferia, ou e ram usadn s npcnns
para temporad as.
São Paulo e Porto Alegre cre sce ram já so b a inlluên c ia ela cslrad :1d,• rcrro,
do imigrante operário ou arte sã o urbano, da indu strial iza~~fto, do telé~rnfo, dos jor·
nais, da navegação a vapor e até m esmo da eletricidade, enfim , quand o um novo
estilo de vida urbana se implantava no Bra s il. f-inaJ m c n t.c, 11c m Sito Paulo nclll
Porto Alegre tinham, e m quantidad e comparável ao Rio ou o Recife, grandes e riens

166
fJ1rndas.engenhosou cnsai:;-grnndcs patriarcais cm se u entorno. l~nqu,11110 a rapi-
:Jldolmperioerarodeada eleengenhos e próspera s fazcncln<.dos l>,11 oes do ( af'l\ il S
.era~da \'iZinhançnsde Süo Pa11Joeram de m{t qualidade, lante>que• nao foram
:xiizada!ina cullurnciocafé, que passo u do vale do Parníba clirctamcn tc•p;1raa tl' ·
!!ljodeCa mpmas. Nas \'izinhanças de Porto Alegre',por oulrn Indo, prcdomin nv,1a
;?quena propriedadeagrícola.
· \;oRionão havia - ao contr ário da cidade hispano -nnwricana I ípira - nf
lidaconfiguração urbana cornparáveJ à Plaza Mnyor que, ai rnvés tia conrc•111 rnçno
dosed ifíciosgovernamcntaise religiosos, exprimisse n união entre os podcrt•'i polf-
nroeeclesiástico. A Capela Real não foi concebida como um (!nico espaço, juntn -
mentc coma Praça Quinze ele Novembro e o Paço. Foi n Igreja cio Carmo que', ri
i,ostrrior
i, foi escolhida por dom João VJ para se r a Capela Heal que, por sua vez,
iranformou-se mais tnrclc cm catedra l do Hio de Janeiro. Muilo difcrcntr do que
aconteceuna Cidadedo México, cm Lima ou em Cuzco. Além da proximicladr íísica
~erín·uficicntc para comparar a Praça Quinze de Novembro a uma Pla;,;1Mnyor (a
Praçada~!atrizde Porto Alegre sa ir-se- ia me lhor nessa compnra ção). drve-s<'ron-
,1derarqueSãoCristóvão se identiíicava ma is com a corte e com o poder do que o
~codaCidade.Se parte das cam ada s de alta renda do Rio morava junto ao cent ro,
eramaisporrazõespráticas de proximidade ao comércio e aos serviços (inrl usivc
osserviços públicosda cort e) do que por qualque r simbolismo eleslnlus ou prcstí-
~oligados à proximidade ao pode r. Se, por outro lado, outrn parcela daquelas ca-
madas moravafora da cidade, isso se deveu à iníluên cia européia, stíbita e forte-
memeexercida sobre o patriarcado em proces so de urbanização. O fato de a maior
panedaa rislocraciamorar longe de São Cristóvão indica que a proximidade a ele
nãotinhaumaconotação de prestígio comparáve l àquela das cidades hispano -amc-
ricanassoba tradição da Plaza Mayor e dos preceitos urba níslicos das J,eyrs de las
/11dias.
Osefeitosda iníluência européia se fincariam no espaço do Hioele lanciro e
durariam quaseum século. Ao longo das décadas subseqüentes, n mcclidn que a
cidadecrescia,a proximidade ao centro passou a se r crescentemente valorizada.
Emconseqüência, as residên cias da s camadas de mais alta rcnclncomc~·arnmn se
aproximardesseponto, mas sem sair do lugar.
Apartirde meados do séc ulo XIX, os bairros das elites cariocas passaram a
sofrer
doisprocessosopostos de mudança de localização - apesar de muito s não
saírem
dolugar-, mas que acabara m resultando cm maior aproximnçfio ao centro;
porumlado,nenhum bairro novo de alla renda surgiu na periferia ; por outro ,
adensou-se a rarefeita área urbana daquela s elites e p reencheram-se os vazios en-
treseusbairroslongínquos; os novos bairro s que mais cresciam do que surgiam
fizeram-noa partir da proximidade ao cenlro (Calcte, Botnfogo, etc.).
Com efeito,durante mais de um século não su rgiu no Rio nenhum bairro
das elites localizado a distânc ia maior que n Gávea, nn clrnmada zonn
residencial
poucoalém de São Cristóvão e dos Altos da Boa Vista e elaTijuca, que formavam
Sul,
avanguarda urbanadas elites (embora fora da cidéld c) mais longínqua cm meados cio

167
século XIX. Jamais processo semelhante ocorreu em São Pnulo, p or exemplo . No cn.
tanto. na segunda metade do século XlX intensificou-se. através do nclf'nsamr•nto, n
ocupação dos bairros aristocráticos que, comec;ando na Gloria, tc·nn irrnvmn na Cnvcn .
\'eja-se. por exemp lo, como a Gávea já ern um bairro forma d o - nws mo que
rarefeito - cm meados do século XíX: "Se m embargo da eno rm e di s tfincin qursc.
para o bairro do centro da cidade, a Gávea sempre foi p ror ur ncla pnrn rc~idência
permanente ou de \·eraneio por numerosas pessoas ilu s trC's ou abn s tnd as. A nntign
fazenda de Rodrigo de Freitas , depois Fazenda Nacio n a l, c m 1811'1j[1 está intcirn-
menrc dividida em lote e ocupada por particulares. Ent rc os d ivcrsos l itulnrr s con-
tam-se o almirante marquês deTamandaré, que morou no pr édio qur tC'mo ntíme-
ro 263 da rua l\ farquês de São Vicente; o barão do Lavradio, reside nt e c m um a grande
chácara magnificamente si tuada , o conde de Sa nta Ma rinhn , na an lign e grnndc cM-
cara do Morro Queimado. ond e está o Pa rqu e da Cidade; o visco nd e <lc Valdcrato,
cuja casa era no mesmo local da man são do banque iro Tvforcira Sallcs; o visconde da
Cachoeira, o visconde da Penha , o dito de Ouro Preto, o barão Rib e iro de /\lmcida,
etc. (Costa, s.d. , 51)".
A primeira concessão para organizar no Rio unl serv iç o de bondes ele tração
animal sobre trilhos de fe rro foi outorgada por De cre to Imp e ri a l de 12 de março
de 1856. A linha- embora só se tenha co ncr etizado em 1858- era incriv elmente
longa pois partia do "Largo da Mãe do Bispo [confluência das atua is ru as 13 ele
.1aio e Evaristo da Veiga] segu indo pela Ajuda [Praça Floria n o Pe ixoto], rua da Lapa
( ... J daí pelo Camin ho da Boa Vista frua Marqu ês de São Vicente] até o ponto final"
(DunJop. 1973, 30 e 33). Um longuíssimo percurso da ordem de nada meno s que
11 quilômetros! Linha de exten são seme lhant e fo i inaugurada em 1859: saía do
Largo do Rosário (Praça Tiradentes ) e alcançava o Alto da Boa Vista. Esses percur-
sos duravam de 35 a 45 minutos (tanto ou meno s que hoje) . De bonde, dirigiam -se
para o centro importa nte s figuras da so ciedade ca ri oca. Costa (id em, ibid., 52) re-
produz um diálogo m a ntido entre o conselheiro Afonso Celso, depois viscond e de
Ouro Pr eto, e Quintino Bocaiúva, tamb é m morador d a Gávea, qu a ndo es te se diri-
gia ao ponto de parada do bonde, acompa nhad o, co rno d e hábit o, p ela esposa.
Is so bem mostra o grau de urbanização da lon gínqua Gávea, no início da seg unda
metade do séc ulo XIX.
Para o leitor ter id éia do que eram essas di s tância s. é ilu s trati vo um cotejo
com São Paulo . Pelo censo de 1872, a popula ção total J o atual municípi o do Hio de
Ja neiro era de 274 972 habitante s. Em 1907, a população do muni cí pio de São Paulo
era seme lh ante, poi s era estimada em 291 720 habitant es (Mini sté rio da In dústria,
Viação e Obras Públi cas, s.d., 349). Nessa época, a man c ha urbana da capit al paulista
a pr ese n tava um raio m édio de ce rca de 3,5 quilômetros, e mbora j á se es boças sem
o s tentáculos em direção à Lapa e à Penha , os quai s a tingiam dis tâ ncias um pouco
s uperiore s (Villa ça, 1978). A burgue sia pauli st ana oc upava e ntão os bairro s de Cam-
po s Elíseos e Higienópoli s (re specti vamente a 1,5 e 2,5 quilômetro s do centro de
então, o Triângulo ) e estava com eç ando a ocupar a aven id a Paulista. Em 1914 (Figu-

16 8
ra13l.acapicalpaulistn tinha uma pop ulação da ordem de meio milhão de habitan-
. Suamancha urbana tinha um raio médio d e cerca ele 5 quilômetros, mas os
ie~
it•n1,m1los dn Penha e da Lapa já atingi am 9 quilômelro s do cen tro ele ent ão. No
entan10 , apesar de a cidade já dispor de uma exlensa rede de bond es elétr icos, a
burguesia paulistana não morava a mais de 3 quilôme tros do cenlro , ou seja, na
.wenida Paulista.Esses dados são eloqüentes mes mo que se leve cm co nta, co mo
de\cserlevado, que o Hio tinha apen as um quadrant e (90 graus) de espaço ocupável,
enquanto SãoPaulotem quatro. Em compensação, em São Paulo o bonde era elét ri-
coemaisdifundidoque o de tração animal do Rio de três dé cada s ante s.
Entretanto,o adensamento do Rio ocorreu predominantement e na zona Sul,
querepresentauma exígua parcela da área urbanizada total da cidade; o grande e
esparso crescimento da metrópole nos subúrbios pop ulares de norte e oeste neu-
lizouesseadcnsamcnlo de mnneira que a densid a,de dessa área urbanizada caiu
1ra
dealgoentre139 e 188 hab./ha., em 1858, para algo entre 82 e 95 hab./ ha ., cm 1922
rVillaça,1978,30).
A posição mais centra l da burguesia pau listana, comparativamente à da
carioca , ficatambém cvidem e quando são exami n adas as diferenças relativas,
is10é, entreas distâncias ao cent ro dos bairros aristocráticos e dos populares.
Enquanto em São Paulo, cm 19 14, um bairro popular como a Lapa estava a 9 qui-
..
lômetros do centro (comra 3 quilômetros da avenida Paulista) , no Rio, em 1890 ,
comumapopulação de 522 65 1 habitantes , a periferia das camadas de mais bai-
.
i;

xarendalocalizava-se mais ou menos em Cascadura (Mapa do Município Neu-


tro,EditoresProprietários Laernmert e Cia., Rio de Janeiro , escala 1:75 000, s.d.,
porém comseguras indicações de referir-se aproximadamente à última década ....
doséculoXIX), a uns l 7 quilômetros do centro (contra 11 quilômetros da Gávea)
pelas principaisvias de tran sporte. As diferenças re lativas entre os bairros aris-
tocrálicose populares são bem maiores em São Paulo do que no Rio, indicando
que naviradado século, embora a maioria valori zasse a proximidade ao centro,
umasignificaliva parcela da burguesia carioca morava muito longe do centro, o
quenãoocorriaem São Paulo. Note-se que na metade do século XIXessa locali-
zação afastadaocorria mais nos bairros interiores (AILo da Boa Vista, Gávea e
Jardim Botânico)do que ao longo das praias (que não passavam de Botafogo). As
praias foramocupadas mai s Larde.
Ocontraste será ainda maior se considerarmos o Rio no terceiro quarLel do
séculoXlX, quando as camadas de mais alta renda moravam mais longe do centro
doqueasde mais baixa renda. Fato semelhante nunca ocorreu cm nenhuma me-
trópole brasileira,nem mesmo neste final de milênio. Por conseg uinlc, esse cotejo
mos1 ratambém que no Rio,enquanto as camadas populares moravam cada vez mais
longe docentro,o mesmo não acon tecia com as camadas de mais alla renda, embo-
raemnúmerosabsolutos as distâncias fossem cada vez maiores para essas camadas
também. Houve, porlanro, um processo de adensamento nas regiões cariocas ocu-
padas pelascamadas de alta renda. Mais tarde, a partir da década de 1920, novo
processo de adensamento viria se somar a esse .

169

Em 1883, ·o~ .'os.ena \1U T.:. :- :- a "
CrLStó\ ão cio que -e-,·e bar..-ro L - -
bairro rna1 centra..-:-... oràneos rnair \~rar·
bairro ansi:ocrãuco:: enquanm CO:-'
da zona, ·one . e<-"'K alrem:e L..-...~
Deixando o Paço Gé Cn--·ovào ...
çõe mulCo mai, centra1. do cue ª'i·· ~ ......
cesa Leopoldina cas.a.nco-se com C\ u .....:...i.e
c.:-
dc ão Cn-tovão-na C- -a ....
-ua C-e"'te:-:!.. arrt)-
rnudaram-,e par2. .1S Laran e1~, e-5- :--.. ·:._.~~7 :-_ ~~-- --.:._~,.,.. '?
~ ~ ~
..:i::'::-.."-.
• I' • - ,. - • _ __,,..... .. - _,," - · ... :. ..... __ ......... ...

culo XLX. rr::•.., ~ro:c:rrn':}~e.o ceH~~" ""'" "1.t.e a~ :i: '" :a .~ ..l-..t" -y
E.,::té..
t. 5:a~acâ<" ~--;,aaa.i fo! e~· ••·.::· .o:t

memecorr o ~draocer:üclq-~ 5.:.c ?aw


durant.e o sécu!o XX. 8~ '"apmM--::a .':.o".
-h :...":1--
me ".-:co._.~
a.cpaa·.,,i G·-r-ue
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v..:.U ,..,::,, ;a..;:: -- ::.-.
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afas·aao-
~ permarece-r-
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oc 'Baco· ãJO- - -- ·-, t:."" • :e'~ -
-- ... 1o.o..J. ......
- - • •
::-, - • -·-~- "'--r?- ... -·-
:i
.. ·-'--· " ... "---- _.,. .... -,..

São Cristóvão
.. ea-P .....
\.u.:Lll bt :]io
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~--- nco --'-';:-'- ... .:
......~-- .. ~~=~
'.::"_... ... ... ---- . .~ ··-
u-. • ....:;:.
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dos por faüiilias cessa caru2.d.2..O m~:ro .. --e~--~:::.::- ·::~.-: ~ ...:::~;:::~, " :!-
mente . :. Gã·:ea e a :ijucr se rra..-:~\-e~ - a T'f·.:-::.'::.'ê_... - :~::.:-5,_:," _ ~, .:-_,.:_e
J950 - coii10 oairros de caü1.2.czs ce a!:.,. rer-d ffi:;:-,..'
: .... ~ -....:~-, -!
cresciam o Cate ·e. Bota.fogo, C.O;,.a~E:! e::·.
A recusa ao des!ce2.:r enro <ie-urna par ..~_ .::-:- ..-.::r:.:_..:.:z: ...:i' :'~.l..~ J.. ·- ~
repetiu-se em me2.dos coseatlo XX..como\iere.:i:~ ~- tl..i..,:e e-:::_ ...... ,. :-.!.::....,
lincas
[.;.:':cilmente pode:-s.e-ão m1-·ocar s c:.,-s:.:...--:--:: ..:0~.::. .."'r:..!~- .:.. ..t :-~ •.. ~'
morro ~ ..e cercar.ia zo::a - ..::.:éo leb ..c:! -:...::::: :2.:..: .:c":.S: . -.2'::~.,. e":-:.:",·.:...··,
,espacial rela ..ivo - os OG.lcr:cs se :lpron.:.üa:.-.?.ra ·-o -~nr.:-o~=: ~ · ... - -f.:.- - :
camaáas carioc.as ce 21..are:;..:~ .. ropc-graii ....
decisiva. Com efeito. ccxfa.ahisr.on2rio R o. G~e --~ _ • : ,:.~ ~ P~:-_ .
.. -· ;--:-.: ....
hí.sm:ia e_ ~-~-a ·:i ......
ao. torro co Casa:lo teG:. -:::.e.o.. --n.a: .::-e...~.s:.:... -.::.....s -.::--..- '
morros, pántanos e a:.é o mar. in~m€ras .ag ~ ? ~::.::~.::.::~

ano {como o Saco ce Sãa Oi _o . foran1 a:e-.rac-~ -.::: ...: ..:e-_s:


~ ,. .......... , .....~ ._-j!
-~- - -
1800. Kosenrz. ecm! bG.3. icem !.tLtl. e":S'p:!!ltO ....-:-c -:-"'~ ::.:.:.:iL.:2.::~ , :-·..:...: ...... ~ ....
va em acrasar a enorme mo:n.anm· e; e era o .•1 ~.1 ~ ~:;..:.: ...
_... '". _._, . .~ =~.!
__
..-..··..·-·
Teresa foram COf'..5üUÍC05 ;>1..a..ll'lOSmdin ....1:; __ Par:l Uii .z.c~:c' .::..i' u'l .......:-• •
• - ,,., - 1-' ..... ' ,\;. -:.. ..." _ ....

meios ae :ra.nipones anlfnore· ao ooace ~ -~kco. fl-'.? r:n::'-:...c::: :-!. -- ....... • ....... .,..
~ ~

Boa~ ista r.m no. Jm <laGá\ e2. 5-e:.:a. G.Jiic_ tma · aa.r o _e_.1~:-f~. "-.!..:,'\:- .. - •
ç • - ... , ........

cranspones, recuasse efa..ciai."1:2- OE:.....--::!::~~~an:a


... .._ c.ê :::L~~~ :: _-j._.,.
:,:~ :·- ~
__: ,:..... '.;....._,_..,..
cil como a ria atua! ;:u.a _ !a:qu5 C.ê 5ão ":ce:::e ."'-5wn.:..r....:.::J.i"~ .::.~_::'t.--s:·p. :r,·
Gá"vea ou o :tito d.a Boa '; ~.s:2.i:."m:õ.5v e ~.1 5.i Can:.""2.tl e?':::::.l: :~.i ,·.

d
ditcrl'llll''ii\o t'tll,mto , ., c•lill's <·s t;,v,1111na c;{tv·,1 1.rn11Wi0, 11111, 11t<J 1•,t tvnrn <·m
,\0L01l1 ,1dnt•m l'l)O, ,11u•s:ucio bonde· del11rc,. Como ,1< c•1t,111111• sp cl11s chllruld 1-
de~dl'íll"t'sso l' cl,1t npo~ t ,ti 1a,st• 11111h,111111co n 10o /\1to d,, Boa Vi ,1,,, 1•111 pl1•11,1t.l'JI ,, ,
3cm tn,!l ll'rl'hia bom!· dL· t1a~.10 a1umal e· L'lll 1mm. os s1•1v1~0 clH l·s l1,1díl ,l
~no I ktrn:a da I i1111 ,1!' Na P•'"'"·'f-Wlll do 'it'< ulo. 1•ssc· h,ti1rc, 1a t•rn h,1slant · r111w1
mcntado, dispondo 111clw,1\ <' de•v.i I los liolc·i'>d1• alt o pnd 1,IU I m 11HHI,oc;s,·, v1ços
drbondrpara ln ol,·H·1·i:u11 di.u 1:111w 11l<' 1Dv1,1~w11stsp ,·, 1,t1•, 1•nt corr1•i,,po11cl<•111'iu
comº"r:11ro..,t•IC'tI it os ela Est1,1da de• l·r n o" {No rn 1Ilia do'i Santos, l ')h ,, ~10). fü'ITI
pros~rgu11 nv:1nçt11Hln 1t'Jtilor iah11c·11tc ü mcd ida qrn• ,1 < id,1cl<·e ,e._,1,1, ,1 pc·,tl1•d11
anstocr:H1ra lni s1'to1naneio 111 nis cc-·n t rnl. <) Jttreii rn Bot,lll ic o, o e:os 11H'Velho. 1.11.11-
jcirnsr Ciávt•n cont inunrnm cn mo lrni, rns dr ca 11wdi1s dl' altíl 1tn cl11t'lll mt·.ido-. tio
scculoXX, mns eram, parn o Hin de 3 ou 4 milh tJC!s d e· ha bltantr ....mu ito 111.ib, t'II ·
traisdnque'pai a o Hio ele IHtlO t:0 111SOOm 11hnbit n11t vs.
Calwenfatizarque esse procc'ss o ele nproxinwçuo ao c:<·11110 oco 111•11. ,11w"' "
daredução do tempo <' do cus to dos clcs locamento s prop iriad. 1 1wlo dt•sr·nvolv1-
mento dossis1cmas de lrnnspo rte, cs pccinlmcnt c os vck ulos <·o sisl (' lfHI \ 1,1110 . N.,
pnmc irametadecio século XX jú não se via mnis ,w mo nada 1•qui vnl1•11tr,\ e,.ívl•,1dt:
1880 noquese rcl'erc :, cJis tfmcin ao centro . Orla s ot cani cas fornm atcrracli,s, t Litwis
íoram cavarlos,avenida s lornm ab erta s, não parn alargar a fron tcir;1111han. 11·atinKtr
ãoConrado,Jacarcpagwí ou Barra da Tiju ca, e sim pnra facilitar o nu•sso ;l Bot.tlogo
eCopacabana. O processo mostra como os des loca m cnlo s c-.p nciai"ido'i 'il ' íl ' s hu
manos sesubmetem à organiza ção social, qu e, por :rnu vez, dt·Lc·1 min am as m •t.:Ps~1-
dadesc condições desses clesloc am enlo s.
Oprocessode aproximação ao centro tamb ém é evidenciado pcln ocl 1p,1~,10
maisintensa, por parle elas cnnrndns de nrni 8 alto rc mln, das mt•snws posíçocs qw•
elaocupava r1ntc rionncntc . ! lo uve aí dun s ct.ipn s: u11w (}lll' vai at é o in ício tia
verticalização, na década de l 920, e outrn n partir d esse n110.
Na primeira cl apa , as novas rcsiclêm:ias tias elites lornm ro 11s1n11da"i 1rno
apenasem ámas vagas c..lcs ub(trl>ios aristocráti c.: os anti gos. O ma is it111 -;11.1do t ' qu l'
palace tes também foram erguidos no mesmo Iuwu· de 11111n anl iga 111 nnsa o d l'1110
lida,ouentão um mes mo pala cete tnmb érn com uma lonl~ª vida út il, Sl'11llo o ·u
padosucessivamente por várias fomílins da s c lit l's. Os l'Xl'mplo s s,10 imllll l 'I m, •·A
burgues ia já demonstrava nítida pr eferência pelos hain os mai s pto xim m, uo c.·t·n
iro,fazendocom que Cal e te, Laranj eiras e Botnfogo ro 11tim1,1ssL'III ro mo h ,111rns
aristoc ráticos no l crcc i rn qu artel do séc ulo XIX; pon•m , po r M'll ' IH 11rn1:,; ,111t lgo'i l'
emvirtude de suas po sii;oes, qll c a cx1rnnsao ti rlrnna to1nava r: tdit V('I. 111:11 s r t•n
trais,já nns décadas scguinl cs, usos na o-rcsidt•ncials <:Otll(' ~·niam tt Sl' alojH1 nos
palace tesdesses bairros. l lol éis, asil os e escolas passaram a Ol ' lq>111 ns 1L•sicl ·11C·1,1s
emais tardeo com ércio pcnclrou pelas vias int erion •s, mai s 11111 igns. n1Hh-n:-.t•d1l 1
ciosse tornavnm obsoleto s e p crd iam se u v.ilor rns idt•1wial. Ja 1w linnl do st1r 11lnn
Chácaradas Mangucirns se Lransformou no Crnndc l lote'I, dt•pois 110 ( :oh•gioAl>llio
enaCnsaciosExpostos (Cru Is, l 9G5, 3S3). Nn nH's 111ne porn 1 n As illl Suo Co111l'lio
seinstalouno palnccto da rua do Catetc n. G,por don\:nn ele seu prnpril'l:\rio titll-m,

17 1

ibid., 512). O palacete do barão de Cotegipc, n rua l\lnr<1uês de Abrant es. foiocupa.
do pela Casa de aúdc ão Geraldo (id(>m, ibid ., 516). Ent rctnnto, cm alguns recan
to desses bairros (no l\lorro da Viüva, por exemplo), a burgue ia perm~meccu re\-e.
lando , por um incomum apego f1localização, o Yalor que conferem aos atratirosdo
sítio natural (um terreno com vistn para o Pão de Açúcar lem um altíssimo preçode
monopólio) e a proximidade ao centro . umn \'C7 que aqueles bairros rontinua\'ama
sofrer profunda alterações, abrigando inclusive corti~·o .
A partir da segunda etapa da década de l 920, o Rio passou a sofrer.maisdo
que qualquer outra metr ópole brnsi!Pirn. u rn intenso processo de \·ertiralizaçào
das residências de alta renda. O apartamento surgiu inicialmente como formade
morar de ela ses de alta renda, difundindo-s0 mais tarde pela classe média. Sóno
Rio, edifício . de apartamento foram ocupados por famílias da mesma classeou
mesmo de cl,Lse mai alta que aquelas que ocupa\'am as residências ou as man-
sões derrubadas para construí-los. Isso ocorreu, por exemplo. nos terrenos rom
frente para o mar no l\ torro da Viúva, nas avenida~ At làntica e \ 'ieirn ·ouro. ~ão
ocorreu, por exemplo, em Higicn6polis. cm São Paulo. onde uma clnssemédia-
alta ocupou o lugar das mansões da mais alta aristocracia.
O processo espacial acima descrito como "segunda etapa" atingiu mru os
bairros de alra renda da orla oceànica do que os do interior. Veremos adia me o por-
quê. A segunda metade do século XLXmarcou o in ício da decadencia de SãoCristo-
vão e vizinhanças, ou sej a, de todo o eLxo vo ltado parn oeste, como região residencb l
de camadas de alta renda. A transformação dessa região em industrial não foia r.m-
sa. mas parte imegrante de uma transformação urbana mais nmpla. Tornou-semti-
da , então, uma tra nsfo rma ção social que alterou o m odo de m orar e os \'aloreHon-
feridos ao meio ambiente, fazendo com que as elites passassem , cada wz m,tLa
preferir a orla oceân ica .
Incidentalmente, ca be mencionar que a dificuldade de obtenção de ,lgu:tpo-
tável e a febre amarela têm sido apontadas co m o os fatores re:;pons,iveis por um..1
supostamente tardia ocupação das prafa s. Trata-se de e:-.-plicaçõe~ tilo ffü.'ci:-qmnro
frágeis. Inici alme nte , o que se ria "tard io"? Qual a referê nci a? :\ referencia so pode~r
o interior. Então uma forma mai s ade quada de expor a quest-1o serin afirmar que\,
interior foi ocupado pelas elites antes d as praias e procurar e nt ender por que k ,
ocorreu. Certa mente na segu nda metade do século XLX. Gávea e Janiim Hot:\nkü-
int e rior - eram mai s ocupados que Copaca bana . r..la, n aquel.1 c>poranfw h,m,1,,
h ábito do banho de m ar e as praias (m esmo que n ão rec-ebe ·$em o "{igl\'" ~\l!ll,\
Copacabana) não eram va lorizadas pelas elites, que preferiam ns ~nwmd,\dt'S~!,tS
encostas dos morro s e das malas. Além disso , \'árias µraias accssl\ -d$, t'IH mt\hlt\$ i
séc ulo XIX (Flam e ng o, Russe l, Botn fogo), locnli zavam-se perto df' numalll' iai~dt',\~it.t
Esse "retardamento " pode ter sid o ve rdad eiro nn re~ting:l dt' 1~a1wnht. it~t'
era relat iva m ente afastada dos m ananciais das montanha s, mas nflo l dnl (l H.,mi"'-~
e muito meno s p ara Botafogo. Sua ocupação, note -se. ronw~·(m pt'lo itltt'rh,1n\S
palacete s davam costas p ara a praia , m os t rando se u desi ~ 20 .1 el-1s; i~to. ~un. t'r.\,t
causa, não urn a suposta falta d 'ág u a . Como aceitar essa tc~·t' I nm um,\ '-'iti,hit• qt'

172
no,rculoX\Ili , hana construí do u m monum ental aqueduto, por todo-. 1dmirndo{
Rclotdr-se. por outro lado. que até o início do século XIX pra1ac;corno a ele Santa
Lu11ar a d:1Lapa lornm ocupadas, mas não pela-, camada,; de mais aha renda . na
mr)lmn forma, ·e( opacabana fosse rejeitada por dificuldade, de aba,;tccimento de
3guapodcnater sido ocupada por camadas popularc-, .
\ fehrr amarela tambcm é apontada como rec;ponc;ãvelpela pioneira ocu-
paç1iodasátras nltas <' a "tardia '' ocupação da s praias. Fnt retanto. durnnlc a epi-
demiade l"ebrcamaH'la, os bairros de planície, como Catctc e Botafogo, tiveram
umdecnvolv1mentonor mal. É verdade que a ocupação de Sant a Teresa e ac;rem-
porndncm Petrópolis se intensificaram com a febre amarela, mas não há ev1-
déncias dr cstngnaçân ou retrocesso dos bairro s de plan ície - fosi.;emsituados
mnton praiasou não. l\1uilo pelo contrá rio. O início da ocupação de Copacabana
comcidc com o período (1891-J 894) da pior epidemia de febre amarela ocorrida
noRio.Fncrc1880e 1910, cm apenas três anos - 1891, 1892 e 1894-, os óbito'i
po1febreamarrla na zona urbana do Rio excederam 4 mil casos (Lloycl,1913, 119,:
~·encostaou o alto dos morros só eram ocupados pela s elites se fossem grandes,
cobertos de mala e urbanizáveis, como em Santa Teresa, na Glória, no Cosme Ve-
lho,Tijucae Alto da Boa Vista. Os morros menor es, graníticos, sem mata e sem
aguaioramdesprezados e por isso ocupados pelas camada s de menor renda. A
região de São Cristóvão apresentava poucos sítios agradávei s e suficientemente
amplose altos para amen izar o calor do interior da baía ; um dos poucos era a
colmaocupadapelo Paço.
Comoveremos adiante , adensa mento semelhante ao ocorrido no Rio deu-se
tambémno Recife.Lá, vários dos ricos engenhos desenvolvido s em torno da cidade
nosséculosXVII e XVlll produziram, no vale do rio Capibarib e, arrabaldes
residenciais das elites no século XIX. Esses arrabaldes chegaram a ter inten sa vida
urbanae definiram um padrão de ocupação territor ial cheio de interstícios e inter-
valos,osquais passaram, depois, a se r preenchidos.
Nofinaldo século XIX- acelerando-se para o final desse século - ocorreu
noRioumaguinada na direção de expansão das camadas de mais alta renda, que ,
progressivamente , abandonaram a direção do interior e deram inicio a uma cres-
cemeconcentração ao longo da orla oceânica, mais fresca e atraent e, diante da gran -
de1ransformação cultural que se difundia: o hábit o do banh o de mar. 1 so prO\0·
cou,entreoutras manifestações, uma terceira reorientação do prin cipal eixo \'iário
docentroda cidade (o primeiro foi a rua Primeiro de Março e o segund o, a do
Ouvidor), fazendo surgir - na posição onde surgiu e não cm outra qualquer - a
avenida Central.Articulada ao grandioso projeto da avenida Beira-~lar, a avenida
CemraJvisavamelhorar o acesso, do centro (que se localizava entre a ma da Assem-
bléia,da Cariocae a Visconde de lnhaúma ) à zonn Sul de então.
Forada orla, as camadas de mais alta renda permaneceram um pou co mai
apenasna Tijuca. Esse bairro , no entanto, foi ficando isolado, "longe". É, por sinal,
umbomexemplode como as classes de mais alta renda produzem o perto e o longe.
ATijuca, enquanto localização, e como qualquer localização, não era longe mas tor-

173
r

nou-se longe. Tornou- se mais longe do centro à medida que este se orientavamais
para a extremidade su l da avenida Rio Branco (Cinelândia) do que para a norte
(Praça Tiradentes, Praça Mauá) (veja a Figura 36). Tornou -se mais longe quantoma~
o comércio, os empregos e os,se rviços (lojas, teatros, shoppings, empresas, profissi-
onais libera is) orientados para as burgucsias se transferiram do centro para Botafogo
,
para o eixo Copacabana-Le blon e depois para a Barra da Tijuca. Bairro aristocrático
no século XIX,passou a ser cada vez mais ocupado, a parUr do final desse século,por
camadas sociais mais baixas (Cardoso et alli, 1984, 42); é hoje-Tijuca, Vilalsabele
vizinhanças- uma típica região de classe média. Aliás, por causa desse isolamento
e do poder aquisitivo da população (bem mais alto na primeira metade do século.XX
do que na segunda), desenvolveu um pujante centro comercial próprio, embora
muito menor que os da zona Sul. Esse centro aliás, com seu declínio relativo, a partir
da década de 1950, vem refletindo o declínio da renda de sua própria zona de in-
fluência. Em termos relativos, o centro daTijuca, simbolizado pela Praça SaensPena,
foi mais desenvolvido nas décadas de 1940 e 1950, quando, por exemplo, tinhaum
dos três cinemas Metro do Rio, enquanto a cidade de São Paulo inteira tinha umsó,
do que é hoje.
O caso da Tijuca é um exemplo emblemático da produção das transforma-
ções das localizações urbanas enquanto definidas por teias de relações sociais(que
necessariamente têm de se materiaüzar em deslocamentos de pessoas) que defi-
nem uma estrutura espacial u rbana. Esse caso torna bastante claros vários proces-
sos inter-relacionados - de uma teia certamente maior de inter-relações - que
ocorreram no início do século XX, a saber: a crescente concentração das camadas
de mais alta renda na chamada zona Sul; a reorientação do centro da cidade,com
sua parte moderna ocupando o extremo sul (Senado, Biblioteca Nacional, Câmara
Municipal, Teatro Municipal, Cinelând ia, hotéis, Mesbla, etc.) em detrimentoda
Praça Tiradentes, da Praça Mauá e da rua do Ouv idor; a subseqüente "decadência "
do centro da cidade - um duro golpe na "localização" Tijuca -; o declínio social
da Tijuca como ba irro res idencial; o desenvolvimento e depois leve declínio relativo
do centro comercial na Tijuca. As transformações por que passa um elementoda
estrutura urbana (bairros, avenidas, centros comerciais) estão relacionadas comas
transformações por que passaram outros elementos da mesma estrutura. Só a aná-
lise estrutural revela explicações para as transformações de um elemento, articula ·
damente com as explicações dadas às transformações de outros elementos. Nenhu-
ma explicação isolada das transformações de um elemento apenas da estrutura
urbana deve ser aceita.
Mais uma vez vemos um a localização mudar sem alterar sua posição noes-
paço euclidiano, mas através <la alteração da teia de relações que a definemen·
quanto "localização" . A "localização" Tijuca se transfo rm ou, ao mesmo tempoe
como parte de um processo imais global de um único todo, segundo os quaismu·
darnm o grupo socia l a ela associado, a Tijuca enquanto espaço arquitetônico,o
centro do Rio, a zona Sul enquanto zona residendal, etc.; tudo isso sem que, evi·
dentemente, a Tijuca "saísse do lugar".

174
(Jtundo fahmH>~que as classes de mais alta renda ..,elrnnsfl'fi1t1m da ·r1Jlll n
par,1.1zona~ui. nao <'Stamos querendo dizer que as famílias mor.uJor,1sda r1juca -.e
transh•rirnm par;i ., zona Sul. Não se dC\ e ident ificar um ., classe social, parll· de urna
cla!isCsocialou mesmo uma camada social com as farntlia~ qu<· a compõe . Se no
1ran~rorrer cln primeira metade dcslt' século prn1ira111cn1cclesapé.HC'c <'r,un a fami-
liasdC'alta n•1Hlada 'I ij11cae estas estão cada \·c1 mais na zona Sul. (, válido étlirnwr
qul't'ssaclassl' Sl' t rn nsl<•rill para a zona Sul sC'm que isso It•nhn onm ido 11N:t•ssi1ria-
mcntccom ns respectivas tami1ias. l· pro\áVcl qut' pm1u1s la1111lia s nnstocra11t,1sela
Tijucado ílnal do st~t:ulnpassado sp tl'nham mudado 11ttrna zona Sul. Muita~ C'mpo-
brccr.ram, tornanun -~t· cla!'isemédia<? provavcl111e111e cnntim1m,1m 11a·rijuca. Fntrc-
1an10, nãoío1n que aconlt'ceu com m, lamílias de clns1,(• médiaq w • mornvam 11a·1 ijuca
eenriquccc1amElnsmu<.foram-scda J'ijuca pnr<1011trns cidade s do <-'SI ado, do país 011
docxtrnorpoisl.1,hoj<•,nao há mais ricos como antigament e. Ai:.fnrrnlia~riras que se
mudaramparn o lho nn primeira metade deste século - vindas ele oulras cidades,
ou1rosestadoc; ou do <'Xlcrior-predominantcmen1c se loralizaram na zona Sul. Não
forammnispara a Tijuca, co mo tah·cz tivesse m id o cm l8HOou 1890. Pc>Joutro lado,
aslamíllm-, de elas~<.· media que passaram a ocupar a Tijuca nas últimas décadas po-
demtcrvmdo.igualmcme, de outras cidades, estados ou países.
O Rio ofcr<> cc ainda um bom exemplo da relação entre transpor lC'>, densi-
dade. uso do solo, formas c.lcmornr e estilo de vida na formação da cstrulurn espa-
cialurbana. O que se segue é apenas uma contribuição à comprerns.10 daquilo
queé popularmente co nhecido como "espírito carioca''. Trata -se de qucMão com-
plexa, que de maneira alguma pretendemos esgotar.
Na primeira metade do século XIX, embora parcelas significativas das ca-
madasde alta renda fizessem intenso t1so da cidade, a elite carioca era certamente
menosurbanizadn - no tocante a estilo de vida-do que no início do século XX.
Aspessoas não tinham, então, tanta necessidade de locomoção, inclu sive porque,
emborajá urbanos, os difercmes membros da família na época - especialmente
jovense mulheres - não desempenhavam tantas funções fora dn casa, nem de-
pendiamde bens e se rviço~ produ zidos fora da casa, como ocorreria mais tard e.
Comovimos,n seg unda metade do sécu lo XIXé um período de trnnsiçao, no qual ,
deumlado, a família se urbaniza usando cada vez mai s o centro lll bnno, ma s, de
outro.ainda é uma família muito autônoma ou tem tradi ção de mllon om1,1 O Hio
apresentouuma etapa em que a organização social (inclusive com c:,cra, 1dào) e
osmeiosde tran sporte eram tai s que faziam com que c;igniíica1iv,1s parcel,1s d.1s
elitesmbanas mornsscm fora da cidade. O sistenrn de bond e cio Rio n., st'gunda
mecadedo século XIX era exce lente , embora ainda puxc1do por aninw1s. O alemão
Koseritz (1972,59) as sim se manifestou em 1883: "de minuto cm minuto cru zam-
sebondescm toda s as ruas e a gente pode estar onde C'Sliverque nan leva mais
quecincominuto s para encontrar o bonde que qui ser. .. Mais de 300 bond es tra-
balhamdia e noit e nas rua s do Rio e se cruzam em toclns as direções; é incrív el
cornoaqui se anda ele bonde e se pretende que cm nenhuma cidade do mundo o
transporte urbano é de tal forma usado".

175
~l' ft,-....,l'm.mtid,t a .1ulonomin da família urbana de meado s do séculoXJX
l\ l'tll t\\l'tHHl's nN ·r~si tladc'~ d t' de slo camento que no início do séc ulo XX1,prova
.
, \'lnwnlt· ;1 d1stanna au e •n tro e cvr•ntu ais dificuldades topográficas da zona5u1
M'It,Hn mt•nn-. eonst r.tngcdorns c m 1H70 cio que em 191 O e as elite s cariocas teriam
p10ssq~u1dn su.1 ('\pan!-.ào n a 7o n a Sul como vinh am fazendo até então, cm \'ezde
p.u,,t t·m nn I t•blon e na <;nvca. NeSSl' ca s o, cm 19 1O as elites ca riocas já estariam
llHH,llHlo L'll\ ~ao Conrn do, na Barra da Tijuca ou em Ja ca repaguá. Tais bairrosse.
11,1m,p,H,\ ;u, nHuli, ·ôcs ele I rnnsportc das pri m ciras d éca da s de s te séc ulo, tãoafas.
l,llh)s dn ecnlrn qunnlo a c;ávca o era c m 18íl0. Por melhore s que fossem os trans.
pottl' no Hio em 18801 e les não era m m e lh o res que cm 1910.
l'.ssas co nje clu rns não são infundada s ou gra tuit as. Veja-se a proposta quea
l \>mpnnhia FPrro -Carr il cio }areiim Botâ ni co (s u cess ora da Botanical Gardcni fezao
µm nno . 'Tm I fü):?o tün c l foi, finalm e nt e, atravessado p e los bondes , ainda puxado
,\ h111rn, o. carros da fre nt e lev ando o mar ec hal Floriano e su a comiti va comocofüi-
dadn~ da Jardim Bo ti1niro, e não tard a ria que e la p rop u sesse ao governo, massem
l''.\ÍW. o ap1ovC'ilamento desses s eu s n ovos trilh os, j á este ndido s até a igrejinha, como
ponto de pani dn de um a esl ra da de ferro para Jacarepaguá, via Leblon e GáveafGer -
son. s.d ., GG)." Não d eLxn de se r s urpreendente que naquele ano já se cogitasseesten-
drr os tran. portes para al é m do Le blon e Gávea, ignorando as dificuldad es topográ-
lic-as.Sem dtívicln, devia haver intere sses imobiliário s nis so; Copacabana e Ipanema
ja cst,wa m lo teadas. Em 1892 , o binômio companhias de transporte urbano eexp!o-
raçno imob iliár ia j á "estava d e olho" na s terras de além-Leblon e Gávea! O quecabe
l'ntcndcr é por que, de ssa vez, os intere sses de ta l binômio não predomin aram.Éde
se acredi tar que a oc upação daquelas áreas longínquas teria acontecido se a comu-
nidade ca rioca tivesse m antido a mesma organização social d e quatro décadasan-
ws ... mas a soc iedad e mudou, e o mercado também. Para a nova organizaçãoque
surgia. parn uma elit e já se m esc ravos, cujos serviços e comércio estavam no cemro,
aquelas a fasta da s reg iõe s eram por demai s lon gínquas. Jacarepaguá e São Conrado
tomaram-se longe, ape sar do desenvolvimento dos transportes. Portanto , os avan·
~·os na tec nologia do s tran sporte s urbano s, por mais revolucionárias que tenham
sido - su rgiu o bonde elétrico - , não foram suficientes para "aproxim ar" essasre·
giõcs ao ce ntro, tant o quanto o exigia a nova organização social.
Em face do que expusemos ne s te item conclui- se que as forças que mais
influenc iaram a loca lizaç ão da s elites cariocas no século XIX, a partir do mamemo
cm que e las co m eçaram a esboçar tendência s de segregação es pacial, foram:
• a no va organ ização soe .ia!, seg undo a qual a família -es pecialment easmu·
lhere s - fazia c rescente u so do centro urbano;
• a nova acessib ilidade ao centro da cidade, trazendo para dentro dela osque
mora va m fora e, p ara m ais próximo ao centro, aqueles que já moravamna
c idade, porém afastados do ce ntro;
• os atributos do sítio natural, dentre os quai s se de stacavam os sítios elevados
ex ten sos, arborizado s e urbanizáveis, facilitando vias de acesso e meios de
transporte.

176
Na passagem do séc ulo, co meçou a se desenvo lver no Hio - mas ntio nas
demaiscidades de 01 ln ocrânica brasileira - um hábilo já difundido na í·uropa· o
dobanho de mnr. Com as piaias sanea das , essa tran sfo rmação cullural se difunchu
e começou a ser valorizado um atributo do sítio nalural até então desprezado: a
npraia e a frente para o mar.
proximidade

OséculoXX
Asmesmas forças que me n cionamos acimc1 dílc1rnma localização das eli-
tescariocas no século XX, porém co m uma mud a nça rad ica l no Locante aos atra-
tivosdo sílio: n valorização das praias como lo c al de residê ncia. Antes, a orla oce -
ânicaforaatraente apenas aos in gles es , não tanto pelo ban ho de mar ; mai s por
seuclima e beleza que eles não cansava 1n de admirar. Agora, não. O no vo hábito
seinstala e se difunde. Na Europa que se moderniz ava, as estradas de ferro tive-
ramum enorme impacto sob re o desenvolvimento do s balneários do Mediterrâ-
neoe sobre a difusão do hábito do banho de mar ; para eles e se us luxuo sos ho-
téis, deslocava-se não só a a ri stocrac ia france sa, ma s prin cip a lm ente a austríaca,
alemã e a inglesa (do nde o nome "P romenad e d es Angla is", à beira-mar de
Cannes).
Oscariocas não só tinham o mar à sua porta, como também praias de uma
belezaindescritível. Além disso, uma praia , independent emen te de sua beleza,
apresenta,num país tropical, um val or de uso muito maior que numa região tem-
perada.Em Los Angeles, na Côte d'Azur e até me s mo em Miami, a praia é utiliza-
da em alguns meses por ano . No Rio , Fortaleza e Reci fe ela é utilizável durante
todoo ano.
Veremos no próximo item como a praia , a pai sagem e o hábilo do banho
de mar, o clima, a vida ao a r livre e o espaço construído foram ingred ientes que
contribuíram para tr azer uma sé rie de particularidades para o estilo de vida, a
formade morar e a forma urbana dos bairros de alta renda no Rio.
Se considerar mo s significativo o aparecimento do s prim eiros hot éis de pa-
drãoeuropeu associa do s ao banho de mar - o Copacabana Palacc, o Parque Bal-
neárioem Santos e o Gra nd e Hotel no Guarujá, cidade para a qual a aristocracia
paulistaia, como a européia, d e trem-, esse hábito já estava firmemente arrai-
gadonas elites carioca e p auli sta por volta da dé cada d e 1920. No Rio, ent re tanto,
comoa maio r e mais europe izada metrópole bra s ileira, o banho de mar co m e-
çou a difundir-se pioneiramente na época d a pa ssagem do século, bem a ntes
portanto de San to s, Sa lvado r e Recife.
No início do séc ulo XX, Copacabana, Ipanema e Leb lon incor poram -se à en -
tãocapital brasileira em virtude tanto do crescimen to urb ano co m o do dese nvo lvi-
mentodos transportes. Re unindo um excepcional conjunto de vantagens locacionais
e naturais, esses Joca is pas sara m a ser disputado s p ela s e lites ca rioca s. Como se rá
vistoadianle, ta l disputa atingiu alto grau de acirramento e pa sso u a conferir à cha-
madazona Sul peculiaridacles profundam ente impactantes sobre a est rutura urba -
na;comojá esboçado para o caso da Tijuca, esse unpacto atingiu o ce ntro da cidade,

177
..
seus principais subce ntro s (o eixo Lem e-Leblon), as áreas de emprego da; u,,. ~-:i
de alta renda e os sistemas viá ri o e d e transporte s.
Com o tempo, crescen te s parcelas também da classe média aum eria-~ - i
demanda de terrenos residenciais n a zona Sul. Cada vez mais , essa d a,:.r: ·--~
juntamente com as camadas popula res, cresceu muito nas metrópo les na o:-~·l'·;
metade do século XX) tin ha se us empregos na mesma região e grande p2,,...e'='J::.
mércio e serviços de q ue fazia u so estava nas mesmas zonas comercia_:>e ...::-.:.:.-
mércio e serviços utili za do s pela m édi a e alta burgue sias. Oesen\'olve trs e u·f ·.~-
tre essas classes estre ita simbiose espacia l, o que fez com que ambas pas~~::,~ i:
constitui r a demanda de terrenos num a m esma região geral da cidade . .\ (h =:;-~:=- -
ses terrenos, por outro lado, era limit ada pelas condições e possibilidade s ,:e::=·:,.
camento da socieda de brasileira de então . A crescente demanda pelas :-ts:--·"?..::
privilegiadas loc alizações da região fize ram com que os preços da 1erra a__ ~- -=-
gisscm altíssimos valores .
É preciso explicar corre tamente a freqü ente crença de que a zo:1a : ~ ,:- ? :
apresenta alta den sidade d emográfi ca por ser confinada por fones elerr:en:o~:~o:-
gráficos; estes, ac reditam alguns, seriam a cau sa principa l da alta den~&ce - :
também do alto preço dos terrenos- por se rem respon sáveis pela limilaçzo cz :;:=:-2
de terrenos na reg ião. Em primeiro lugar, isso é verdade apenas denuo de:z.:ii:-:.~-
dro cultural que co nfere alto valor de uso aos terrenos na praia. Em segur:c o:_~2,::
mobilida d e ter ritorial da demanda condiciona a oferta mais que os ob-siác-i~ ::
sílio ao ala rgar ou constranger o espaço urbano.
Desde que completou sua primeira etapa de ocupação , por ,·oh2 da c_é,~::1
de 1920, em Copa ca bana , a zona Sul ve1n sofrendo profund as e rápida: tra1:~=
~=-=
ções de ambiente construído, uso do so lo e cla sses sociais que se sucede:r.1e=.:E..:
bairros . Nessa su cessão , a região perdeu os requisito s do espaço resider.r:;:.. c::~-
nalmente valorizado pelas camadas sociais mai s altas, tendo sido ocupada p~: :=a5-
ses socia is mai s baixas (mas ainda médias) . Essas cla sses, por terem meno:-:::.::_~
dad e terr itori al, valorizavam a proximidade ao empreg o, ao comércio , ao- s-e:-c ::~~=
à praia que aqueles bairros ofereciam. Como essas camadas eram nur:1eric~'ti..--:::
maiores que as anteriores, a demanda por localizaçõ es aument ou ali. Po:-om?:-1 :.::.
a oferta de espaço permaneceu limitada, dadas as limita ções de locomoção ~;2-~a.
apresentadas pela demanda; em conseqüência o pr eço da terra e a dens~õ~ê2z.:-
mentaram.
Entretanto, em que pese a "deterioração " (para algtms ) dos bairrfü .5.1 ::::
oceânica cario ca, os excepc ionai s atributos da pai sage m local foram respo:-.~.t1'H
por um grande apego por p arcelas das camadas de alta ren da às localiza~. ;--.e:~
giadas . Isso fez com que também estas, e não só as médias , se tornas ern ex-·::-~": "
onalmente condescendentes com as desvantagens qu e aqu eles bairro..s p-1~.:::..;,::' ..
oferecer para elas. Esse apego produziu na zona Sul, do Flamengo ao Li>b loI:. ·..:::
curioso padrão de segregação, segm1do faixas paralelas ao mar , no qua l rr~s ..·.::1 ::-
das médias e acima da média conviviam; a de mais alto nível socioeconõrn :u' lY:.~
pando a frente para o mar; uma classe média e média baix a n as rua colfü'r..~1.:i-.

178
• n, 1,1,\\1 •t l1d,1 "'' ''· ' ~ l'IIIHll,\ dt• ( op, 111\l> 111l,I t>ll ., v, ~1 1111d t' d 1 1111,IJ,I; ,. 11111,1d a
11
,.i , ,. 11w,m ,, 1111• d1,1 .111.1 11,1, ltH ,111/. 1\llt' S 111 ,d s ,11.i ,1,1d ,1 , (H,11.11,1l(1lw1ro,
11 1 1
,

' ', ..,. 1•111, , H,111 h l d,, l\ 1\1l l \l !\,ti ,111 d .1 l'tll ll') 1vidt lll t ' IIH 1llt· lll'lll
1 1 1
IH' ,!-i,t ', l,IIX, t ht1
1

••
\ t.1111(• 1lht llll1ll'lf\ ' lh' ll i ,1d1 • 'i lll ,,li
l'l,llh ,11\H'llll' lt hl ,t 111,·t111pnlt· li111,ih•i1,1:ip1P s 1·11l,1 b,1111os q111· lor,1111 ,1l1i111

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,,tiilt d,,dt',1t1h.1i1w 1• ,11ona Sul c·n1gl'rnl rossc•111 cont i1111anH .:11le apnrr1<m1dos.
\ .\l' 1( 11,1111 ,,, 11H'llw1 ,.,~ de ,lt'l'S:-. o - os 1(111cis ou o bond<· qt1l' l<·var.1111 a 1>11r~uc·
\i,,p.H,1 rnp,1r.1h.111.1, 111,1s o co ntrnrio: a burgue sia e• qur lc•vot t para lá '5M·r 0111rr,.,
ml'lhrn,11m·nto~ l 'llp,u.-. 1ban,1 ja eslava loteada e arruada pcln C' para a l>urgu •<;1.1110
,11 ,,u,dl,11l11moqua1tl'I tio :-.1;c-11loXIX,11 quase vinl<' ano s nnlcc;ela nbc•rturn cio pri
11ll'lll l n11wl. n Al,wt P1ala, inaugurado <'m I fü)2. Ou ! ro exemplo ele melhoramento
l'\.tdopl'l,tsdill'~ l' o cthnslL'c imrnlo de água, como se percebe pcl;is seguintes pa-
.,1\T,t~dl' um fundon:u io ptíblico na década ele 1920, mantida n grnlfa cln época :" Por
,1n dl'll1•H' :-t'Iinkin da a generalizaç·no do hydrômc tro? De parte os cstabclcnmcn -
w~ro111mcrriaes l' indu slriacs e as habitaç ões collcctiva s, nas quacs seu cmprcgn já
l'Obngatnrio, nos bnirms riros, onde o abastecimcn lo de água é relativamente farto,
t'lll con1rns1t• rntn a c'srnssczqu e marl yriza as zonas suburban as e pobrco.;.l·.rn 1925,
lembrt•i ao lnspt'rtor ele Águas, Dr. Monteiro ele Barros, a conveniência ele :;e impor
ohydrô metroaos consumidor es dos bairro s oceâ nicos [Copacabmrn, Leme, Ipanema
dardímílot.inirnl, quP linhnm sido então grnndcmcntc favore ci do s, nao somente
quan to à aclclu~·ão à di sl ribui ção cl'~ígun./\ mutaç~,o foi -;ensí-
qunnto nu pcrl i ne111e
l'rl.apontodl' q11t•ixar-sc co nlinuamcnle n Cia. Cily lmprovcmcnl s de que os nes-
dt•ror-rc•ntescln nbundância d'água obrigavam a trabalho redobrado as
perd1cios
bombase os cjcc lon• s Shonc do s esgo tos locacs, que sã o os mai ~ novo', da
ridadc"(Novac~,
1930, 2'1).
Aíamanacional do bairro '1 foz com que se desenca deasse sobre ele, com in-
cm·elrapidez,a demanda ele camada s médias, e na décacln ele 1~)20 começaram a
surgiros edifícios de np at lamento s. O comérc io e os serv iços penetraram no bairro
pelabrcchndo luri smo, sob a forma de hot éis de luxo, restaurant es e estabeleci-
mentos de diversii.o.Com o crescimento ele sua ínma, o bnirro tornou -se um mito,
atraindocamadas médi.is cada vez mais baixas (portanto, mnis numero sas) e fazen-
docom que o preço da terra subisse cons tantemente . A terra íoi assim sugada ao
máximo, com prédios sem recuo s e recheado s de exíguos apartamentos , nos quai s
osespaços comuns, como corredores e vestíbulo s, foram os mais acanhado s que se
pode
imaginnr.10

179

Des loca1n nto , inco rporação imob iliári a, forma urbana e
est ilos d \·ida
Em todo este trabnlho demos grande ênfase nsnecessidades e condições de
deslornmcnto espada is dos seres humnnos - o trnnsporLc - corno a força domi-
nnntc da cstruturnçào 'Spncial urbnna . Mantemos essa tese, sempre lembrando
porém que essn forço ntua dentro de um quadro de relações sociais, as quais, por
sua YCZ, definem ns necessidndes e condições de deslocamento. Recorde-se o caso
do Rio de Jnnciro no final do século XIX (veja, neste capít ulo, seção "O séc ulo XIX"),
qunndo n Companhia Jardim l3ott1nicosuger iu ao governo o aprove itam ento de seus
trilho,. j~ estendidos nté a igrejinha de Copacabana, como ponto de partida eleuma
e~trndn de ferro pam Jacarepag11ó,via Lcblon e Gávea. Esse caso é útil para a com-
preensão do papel dos transportes e das relações sociais na estruturação do espaço
urbano. En\'eredando por essa pista, depararemos com um a contribuição para a
compreensão dos espaços urbanos de alra renda, produzidos pela moderna incor-
poração imobiliária no Rio e em São Paulo, bem como daquilo que se chamaria de
"espírito e estilo de vida carioca".
No Rio da segunda metade do século XIX,se a mansão do aristocrata> a fazen-
da ou o engenho eram bastante autônomos em relação à cidade, esta e aqueles cons-
tituíam dois espaços distintos, cada qual com sua lógica de estruturação própria.As
relações sociais de produção, os estilos de vida e os traços de cultura atuam na de-
terminação das necessidades e condições de deslocamento. Estas, por seu lado, de-
finem ân1bitos espaciais e ao mesmo tempo interagem com aqueles. O próprio es-
paço produzido interage com tais forças, como pretendemos mostrar nesta obra.As
necessidades e condições de deslocamento são então, dentre todas as forças, as que
mais poderosamente atuam na produção do espaço urbano. Na verdade, comove-
remos no final desta obra, pode-se dizer isso de forma inversa, pois há uma relação
dialética entre esse espaço e as necessidades e condições de deslocamento a ele
associadas e que são dele definidoras. Ambos se determinam mutuamente pelo único
e mesmo processo. No caso do Rio no final do século XIX, a partir do momento em
que a cidade absorveu a mansão do aristocrata, o engenho ou a fazenda e as famílias
que neles viviam começaram a freqüentar intensamente a cidade; a partir de então
a mansão, a fazenda ou o engenho passaram a constituir um único e novo espaço
urbano. Surgiram novas necessidades e condições de deslocamento, as quais conti-
nuam a ser a força mais poderosa na estruturação desse novo espaço. Submetidos a
novas necessidades e condições de deslocamento, a mansão do aristocrata, a "fa-
zenda" e o "engenho" - estes últimos, nesse momento , não são mais fazenda nem
enge nho - se aproximam do centro da cidade mesmo qu e- como no caso do Rio
- não saiam do lugar, no sentido de espaço físico euclidia no. Há agora um só espa-
ço. As forças representadas pelas necessidades e condições de locomoção colidem
com espaços construídos herdado s do passado que, freqüentemente, são de supe-
ração mais difícil que os obstáculos topográficos. Convém reiterar que as condições

180
detransportesse referem prin cipalmente a tempo e custo despendidos no dPsloca-
niento.Esteúltimo, por seu lado, nunca deve ser reduzido ao preço de combustível,
gastoscomveículos ou l1lnrifél.no caso dos transportes ptíblicoc; O CU!.toeleveser,
ainda,semprerelativo,principalmente il renda familiar. Por outro l<1cln, o tempo ele!
deslocamento é crucial. Tempos gastos cm deslocamentos, tempos ele espera, op-
çõescaltcrnativas eletransporte, etc. pesam muito sobre o tempo e as condições de
deslocamento.
Asnecessidades e condições de clcslocamento, como lambém a tecnologia
detransportes, variam conforme as classes sociais. Quem é obrigado t1 morar longe
doemprego e elascompras é forçado a condições mais penosas eledeslocamento. Se
0 Estndo privilegiao transporte individual construindo vias expressas, está privile-
giando ascondiçõeseledeslocamento ciospropriei~rios de aulomóvcis. De maneira
ascamadaspopulares são mais prisioneiras do cspnço do que as camadas de
geral,
allarenda, pois a mobilidad e dessas camaclc1sé bem maior. Nas palavras de
111ais
David 1-larvey(1976,l 71), "os ricos podem comandar o espaço, enquanto os pobres
sãoprisioneirosdele".11
Comoas condições de deslocamento condicionam a oferta de lerra? A orla
dealto-martrouxe para as metrópoles lilorâncas um traço singu lar de enormes
repercussões políticas, urbaní sticas, estético-paisagísticc1s e culturais. As terras
aolongoda orla começaram a ser privilegiada s a partir do final do século passa-
do.Seusproprietários passaram então a ser detentore s de um monopólio e sobre
seuspreçosrecaía um enorme componente de preço de monopólio. Sobre Lais
terrascomeçoua incidir n demanda elas burguesia s para fins residenciais. Entre-
tanto,sua oferta era restrita, e aqui entraram as condições e possibilidade s de
deslocan1ento como elemento que atuava na oferta de terra. Qual o estoque de
terrenos em praia potencialmente disponível para o mercado carioca em 1890?
Oqueterminano Posto 6? E no final de Ipanema e do Leblon? E em São Conrado?
Nopontox da Barrn?No ponto y da Barra? Essa disponibilidade de terras ofertáveis
écondicionada pela mobilidade territorial da demanda. Temos aí um espaço defi-
nidopelasnecessidades e condições de locomoção. Sobre esse espaço incide a de-
manda da burguesia para fins residenciais. Define-se então o preço da terra e a
forma predominante de ocupação desta, que viabiliza o atendimento da demanda
porumdadopreço. Essa forma predominante não pode ser nem as mansões indi-
viduais, nem os condomínios fechados com prédios de quatro pavimentos. É o
ediíícioaltamente verticalizado, com alta densidade, que melhor dilui o custo da
terranopreçolotai da moradia. Surgem assim bairros de ai Ladensidade típicos da
metrópole litorânea, tendendo não só a apresentar uma paisagem própria , rara no
mundo, mas também novos modos e formas de morar, além de estilo de vida e
traçosculturais também próprios, liderado s pela inegável iníluência ideológica
dasburguesias do Rio de Janeiro.
Recuperandoas arnílises realizadas no capítulo 5, seção "Ametrópole litorâ-
nea",
cdoRiono final do século XIX,aprofundemos um pouco esse tema utilizando-
nosdocaso muito representativo da atuaJ zona Sul carioca. Por que na Barra da

18 l
Tijuca predomina o padrão arranha-céu-de alla densidade, se compara do cornos
condomínios horizonlais - apesar de não haver sig nificalivo s obstácu los topográ-
ficos para a expansão d o bairro?
Queirós Ribeiro (s.d.) faz uma profunda análise das relações entre os mov i-
mentos do capital imobiliário e as formas histó rica s que a habitação assumiuno
Rio de Janeiro desde o final do sécu lo passado até o presente. Analisa a propriedade
fundiária e a produção re nti sta de moradias (cortiços. casas ele cômo do e estala-
gens), a separação entre propriedade fundiária e capital imobi liár io, a produção
imobiliária pequeno-burguesa (vilas e "corrers de casas") (sic, idem, 214), a peque-
na incorporação (os aparta mento s de Copacnbana) e, fin alm ente, a grande incor-
poração imobiliéíria oligopolizada caracte rizada pela Barra daTijuca e"por umanova
relação entre gra nd es emp resas imobiliári as, grandes proprietários de terra e o Es-
tado " (idem, 315 ). Trata- se, seg undo esse autor, de um "novo padrão de incorpora -
ção" que gera ''novas bases materiai s e simb ó licas para o sobre lu cro de localização,
o que será conseguido pela expansão das fronteiras e pela abertura de uma frentede
expansão do capital de in co rporaç ão, através de um novo produto . De um lado,pelo
transbordamento em direção à zona Norte e alguns s ubúrbi os; de outro , pelo novo
produto: a Barra daTijuca e os condomínio fechados" (idem, 292). J\ Barra daTijuca ,
produzida so b con lrol e oligopólico, expressa "a repetição da lóg ica da incorporação
imobiliária, inaugurada nos anos 40 com a 'invenção' de Co pa cabana . Estamosdi-
ante de um novo momento de a lt eração do estado da divisão soc ial do espaçoda
cidade como instrumento de criaçã o de no vas ba ses de apro pria ção de sobrelucros
de localização'' (p. 306).
A an álise é perfeita e va le p ara outras me trópoles brasileiras. Elaestá aberta,
ernretanto, a algumas cornplememações que só a análise comparada permite.Apri-
meira é apresentada logo em seg uida e se refere à forma da casa, ou seja, à
verticalização residencial da Barra da Tijuca (os condomínios verticais fechados
);
outra, apresentada no final desta obra, mostrará como a seg re gação residencial-a
"divisão soc ial do espaço da c id ade", da qual a Barrn daTijuca é apenas um momen-
to e um subespaço, id ê nti ca às seg regações d e qu alq u er uma de no ssas metrópoles
- cria muito mais que as "ba ses de apropriação de so br e luc ro s de localização".Ve-
remos, então, como e por que a segregação é um processo necessário ao exercício
da dominação através do espaço. Finalmente, as "bases simbóli cas do espaço"serão
também ana lisadas, mo stra ndo como se d á a produção e a difl tsão de ideologiasem
lorno do espaço urbano (que in c lui a produção e a difu são d e um "estilo de vida"-
mas é mais que isso) e seu p ape l na domina ção. Na produ ção ideológica , aliás, os
proc ess os que vê m ocorrendo nos centros ele nossas metrópoles devem também
ser abo rdados.
A m ode rn a in corporação já atua em escala nacion al. Domina o mercadode
alla e média alta rendas cm São Paulo, no Hio, c m 13e lo Hori zonte e em Salvador. Em
face dessa sit uação, as qu es tões que se fazem são: até que ponto é essa moderna
incorporação qu e cria o loca l (região ger a l da metrópole ) e a forma da moradia?
Por que o m esmo esq ue ma de incorporação produ z predominantemente condo-

182
... , , , h, ,fo, lh111 ont 1i, lu,, ,, l l .iulo \11 h,1\ 'k, .unbou•,, t'I .} t' \ t'lllt,11-. no
s .., t .1 \""l',,c,n., d,· ,m 1m•n,n l' :\l,uk,·11:11-d,, l ·011,trnw ,,1 \lhuqut·1 qllt'
. , ,. , :--\ l'llli'h't 'lldt· , hH ,l k \11'1-,n1llc\ tah t' o m.um t'tllJlH' t'1ld111w11to dl' h, 1 1
•.t, ,, ,, 1•:,tl',lll.ldt• .tlt,l d,l"l' llll'Ch, 1 , }, -., ' o, diH•1,o, l <'stdt'll l'Í,ll, \IJ h.nillt•
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..... , 1' !.' mtl h h'" .,onul h,tl 11:w e,,.,• ,t'll,b dt·Zt's.st't, l di11t 1
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, ,·~••,• 11t• .. mil 1c•,1dt·1wi.1, t' d,,,.. pt,'dll''- dt• .,p,lll,tlllt'tltn,. ,tlt•m dt· lll'/t'tll,1' t'lll ·
''\' 1!'> 'hl l t'tllh\ 1111p1,·,nti.1l '\., n.ut,\ d,l l'iJ\lf,1 ptt•dt)lllll\,l tl t•d11tc.io d,• .,p,1rl,l·
..,,, ,,,,:,,.l\,, ,1u,1,,ll' ,·,, 1Ht.uu, de• qtll' ('Cc1n~· n.1, nd.ul,•, i111,•1 hH,ln,1,, <"-.,p.11t:t-
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·.:aÜ't't U , .ult,1 t '.11,11111,1l'll." JWtk p1,·d11mm,rnt,·nw11tt• l'tlifrrio:- ,1hn-. {st>b .1
•c,mta dt nmth,n11nio, , t..'llícm, ft•chadn, ou n.10,. l' 11.to rt•sidt'IKl,h ,mff.u111h.11t''
<l1'iullll,1 !ll,tir,,m,1I. t'lll condom1111lh feçh,tdo-. t'll nJ() nu <.·unjunlc"- tnllill) ~r.m
d:, dt• lH'lllll'IHh t·diftl"tlh:' ~l'lll .1 Sl'gur.1rn;,1 podl' -.n 11\\'lWad.i n,nw f,uor
rltit'rnnn,mt l'. lhli, l'''l' prnhh.•m,1 11.1t, t'\i-.ti.1 l'lll CopaL,tb,m,1 11.1dt•r,1d.1d\· 1t1:;o,
"ti:l t m lp.11wm,1 no l L'blon na de 19GO, m'm t.'m -;,llllns no Cuaruj.1 thh d,·l·,1d,1, dt·
i~5, :i 19,0 \,, , l'td,tdl'. .t H'rlic,lli.',l(ào lHI ,1 hori1nnt,11i1,t(,H)~.w dt..'ll'tmm,1d.is
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C1111\(l.1 rnndt•t tt,t incnrptn.1,,10 é ,\ nw~m.1 l'llll)()t\\ n,rn n1.•n·~s.1ria-
r.1entt'o::.inro1plH,1d1.11t'~o scj,1m - c,üw t11\l'~liga1 por qLll' cl,1 pwdu dtll' -
t''1tt's !HtHluws l'ln d1fc1t.'lllt's mcuopolcs. Por qtrl' ,1s,un11uum,1 r.u,h .'lt'rt~l1t.·,1
em~.it)Paulo t' nul1,1 no H10. l.m p1imci10 lugar, \c:'j,1nws a lorali 1,1~ ·.w d.,~ mn
aern;i.s
mrorpnr.t\'Ul'S.
Po1qul' ,•l,b M' locnl11.:1m,ondt• '\t' localiz,1m. t' n:1n l'lll outrn lug,u qu,1lqut•1?
EJi!ll'orpm,1,.10. o pwdutor, qtll' dt"flne .1 rcgtao gl•ral da ltlc,1h1,1\·,ll1 dns gr,1mh•s
e~plt?l'nd1mt'lllosimobih,l110~? l m ~:to l\rnlo , t•l,ts st' loc.1liz,11111rns ~1,mdl's t'l\lls
mno~quP,llendt•m ao quadram e :-.utim'stctl.1 rid,tdl' . .\ 1t•g1.t0ondc' l'~l,w \lph,l\ 1lk
Tanibo rer .\ldt•1ada Sl•rt,1, situad.1s ao longo d<trndm t.t t '.bll'lo B1,11wn,:-.nrt ,1l111t'll 1

íel!~,lanrhou depots do hn,11d.t.drc.1d,1 dl' rn,O, qu,rntlo 101conduido ll l l·hol,lll .


complt> \Odt• nadulOs que ,li Lintla t's ·a rodo\'b t1 m,ugin,11do rio PinhL'll'Os, nm ,\
ar~al'Ollll'rl'ialnobrt' qut> dcspont,n,1 no qu,1<.lt,111tL' su dtH'Ste . Como \l'll'mos no
pro:i.imoc,tpíllllo,h,1mais de um sentlo n:--butgtH'sia-. paulis tas\ emSt' t'\p,uHl111do
eseconrclllr,mdo rH•ssc qu.,drante e th•le não ,mNlam o J>l', pnt 1,lztw:-- q11t.1 :-.enm
1~m1lmenw explicadas adiante. Porranto, ni'lo t'a "mod< 1-r1aincorporn,uu" t11L'lll o
1

amigo l'npital imohilhírio) que cscolhl' o locnl dos emp reendime nto s, mas sim as

I8J
...

burguesias, que vêm fazendo essa escolha desde muito anle s d e cxis lir não só qual-
quer incorporação, mas o próprio selo r imobiliário como um grupo autônomo, po.
deroso e articulado na sociedade. Certamente os lotcaclore s de Copacabana, por
exemplo, foram personalidades importantes e poderosas ela alta burguesia carioca.
O mesmo vale para os que abriram a avenida Paulisla, em São Paulo. Isso não signi-
fica, porém, que eles fosse:-n elementos do setor imobiliário, cnquanlo um grupo
econômico, organizado, cspccffico e articulado, com intere sses próprios. lsso não
existia cm 1880 no Rio. Segundo Queirós Ribeiro e Corrca do Lago (s.d., 8), apenas
18% das empresas imobiliárias exis tentes nessa cidade foram fundadas anlcs de 1959.
Veremos, no caso de Pampulha, cm Belo Hori zonte, como fracassaram os empreen-
dimentos in1obiliários que pretenderam criar bairros para as burguesias onde eles
queriam, e não onde elas - as bur gues ias - queriam, ou seja, fora de sua área de
segregação.
Enquanto novas formas de bairro, os condomínios fechados são um fenô-
meno relativamente recente, das últimas décadas, enquanto o deslocamento es-
pacial dos bairros de alta renda tem ocorrido, na zona Sul do Rio, desde meados do
século XIX e em São Paulo , Porto Alegre e Salvador, respectivamente nos setores
Sudoeste, Leste e Norte, desde o final desse sécu lo.
Vamos discorrer agora sobre a forma da casa.
O baixo preço da gleba n1ral na periferia cio quadrante sudoeste da Área Me-
tropolitana de São Paulo possibiUta a existência de condomín ios hori zontais, mas
também possibilitaria- com enormes lucro s- a existência de condomínios verti·
cais. É até possível concluir que o consumidor paulista "pede" uma forma de morar
diferente da do carioca. Isso não quer dizer que o capital produtor de moradias não
tire partido dessas diferenças. Pelo co ntrário; em qualquer caso, ele desenvolve uma
ideologia (a venda de um novo estilo de vida, mais moderno e seguro) em torno da
"nova" forma de morar, com vistas a tornar prematuramente obsoletos os bairros
residenciais existenles para criar mercado para seus lançamentos e reduzir o tempo
de rotação de seu capital. Esses estratage ma s ocorrem tanto nos condomínios verti-
ca is quanto nos horizontais e têm tão- some nt e contribuído para acelerar a produ-
ção de novos bairros e o obsoletismo dos existentes, embora não tenha sido a causa
da produção de condomín ios verticais no Rio e de horizontais em São Paulo. A"nova
forma de morar" não é livremente criada pela promoção imobiliária, pois ela é obri·
gada a cria r uma forma em São Paulo e outra diferente no Rio (veja a Figura 37).
A moderna incorporação imobiliária atua dentro de um co njunto de forças,
dentre as quais se destacam a crescente concentração do capital imobiliário; uma
crescente massificação da demanda na qual se inclui a produção ideológica de no-
vos estilos de vida e de novas formas de morar; os efeitos da difusão do automóvel e
da produção, pelo Estado, de vias expressas e de auto-estradas e, finalmente, a difu·
são dos s hopping centers. Nesse conj unto , paira, dominante, um novo espaço de-
limitado pelo automóvel. 1àmboré, em São Paulo , não vende casas; vende um "sis·
tema residencial", um "si~tema seguro de vida planejada"; vende "um espetáculo
que você não pode perder".

184
Quanto à forma urbana, a mais notável transformação que vem sendo pro-
duzidapela moderna incorporação imobiliária se refere ao porte cios empreendi-
mentos,mais do que à lorma da casa. Com a concentração de capital nos setores
imobiliário e financeiro, grnndc5 massas de capital tornam-se disponíveis e isso
exigeempreendimentos de porte cada vez maiores e mais complexos. Em sua ten-
dênciade tudo trnnsformnr em mercadoria, o capita lic;motudo tem feito para trans-
formaro "ponto" cm mercadoria. Esta, aJiás, é a força central que move o capita]
imobiliário: a buscn sem fim - o objetivo nunca será alcançado - ele "produzir o
ponto".O que é o shopping center senão isso? O que é a produção de cidades no-
vas,na Europaou nos Estados Unidos (sendo nestes apenas um pouco mais osten-
sivamenteimobiliárias do que naquela) senão isso? No Brasil, com Alphavílle,
estamoschegando quase 1m produção de uma cidad e nova.
O mercado imobiliário cm São Paulo é maior que no Rio; basta folhear os
cadernos de imóvris e.losjornais de uma e outra cidade parn avaliar essa diferença.
Também a riqueza da demanda (consum idores) é maior em São Paulo. Isso faz com
qucoscmprccndimcntospaulistas sejam de maior porte. Hoje, cm São Paulo, a gran-
deincorporaçãocst,í produzindo cidades inteiras, integrando cm enormes glebas,
numúnicoprojeto e sob um único comando, emprecndimemos de residências tan-
toindividuaiscomo coletivas, empreendimentos industriais, centros empresariais e
escritórios(inclusive vertical izados), comércio (inclusive shopping centers), ativi-
dades de lazer,diversão, restaurantes, etc. De maneira geral, entretanto, no tocante
à fonnada casa, predominam habitações uni familiares. Certamente diferente do
queseriase fosse na Barra ela Tijuca. Essas cidades novas são o destino irreversível
daspromoçõessob crescemc concentração de capital nas esferas imobiliária e fi-
nanceira.
A densidade demográfica urbana não é mera e irrelevante "formalidade". Tem
profundasimplicações sobre os custos de urbanização, sobre o planejamento do
espaço urbano,sobre a paisagem urbana, sobre o tráfego e o sístcma de transportes,
sobreo meio ambiente, sobre investimentos e políticas públicas urbanos. Proble-
masambientaiscomo a preservação da Oora e da fauna e a impermeabilização do
solosãodiferentes cm uma e outra forma. Na periferia da Área McLropolHanade São
Paulo,lui condomínios horizonrais fechados que ocupam áreas maiores que a da
própriacidade-sede do município em que se encontram, apresentando sérios blo-
queiosao tráfego e à expansão urbana. Não se trata de ser necessariamente contra
oua favorde uma ou outra farma, mas sim de ter consciência das diferenças e fazer
comqueo pJancjamenlo urbano, a tributação e a distribuição social dos ônus das
excemalidades criadas conduzam a políticas públicas e posicionamentos adequa-
dosporparte e.los governos, especialmente os municipai s.
Vejamosagorn o tema do estilo de vida e da forma de morar. A verticalização
residencialdas classes média e acima da média é mais accnlttadn. nas metrópoles
e cidadesoceânicas do que nas interiore s. Um confronto entre Rio e São Paulo,
Santose Campinas, Salvador e Recife e I3elo Horizonte é suficicnlc para funda-
mentarLnlafirmação. Não se alegue que a verticalização de Santos (sempre a uer-
dadeiraSantos, que inclu i Guarujá, São Vicenle, ele.) é devida a apartamentos de

185
.,

ri~ura :i7 - Condominius fechados no llio e Sao Paulo. Barr,1da l'ijuca e Alphaville

186
veranistaspaulistanos. Não. As classes média e acima da média de Sa nt os também
morammuito em apartamentos, não havendo (mas já houve até a década de 1940)
nememSantos,nem no Guarujá ou São Vicente nada que, de longe, se compare aos
bairros
de residências unifamil iares das elites campineiras, por exemp lo.
Averticalização residencial surgiu primeiro e tem sido mai s intensa nas me-
trópolese cidades da orla oceânica do que nas do interior. Era mais inten sa no Rio
eSantosnas década s de UJ50 e 1960 do que em São Paulo e Campinas ne ssa mes-
maépoca.O Quadro 22 mostra a relação ent re casas e aparlamenlos cm algumas
metrópoles e cidades brasileiras, interiores e litorâneas.

Quadro22- Relação casa/apartamento


metropolitanas e cidades médias
Áreas

Interiores Litorâneas

SUL

AMSãoPaulo 5,31 AM Riode Janeiro 2,33


AMCuriuba 4,95 AM Porto Alegre 2.60
AMCampmas 5,77 AM Santos 1,58
JwzdeFora 2,69 AM Flonanópolis 2,62
londrina 5,77

CENTRO

AMBeloHorizonte 3,96 AM de Vitória 3,12


Goiânia 6,45

NORDESTE

Campina
Grande 34,92 Recife 4,88
Salvador 1,91
Fortaleza 8,31
Grande João Pessoa 14,15
Maceió 7,95
Natal 13,49
Fontc:Tabulaçõcs
especiais do IBGE.
Notas:
1.Quanto
maioro índice, maior a proporção de casas cm relação a apartamentos. Outras coisas sendo iguais
(localização
e tamánho), quanto mais rica a cidade, mais apartamento s. Outras coisas sendo iguais (riqueza
e tamanho),as ridades dn orl:1 têm, proporcionalmente, mais apartamemos que as interiores.
2.Emtodosos casosoc;domicílios rústicos ou em aglomerados sulmom1ais estão excluídos.
3.,\reaMc1ropoli1ann de San1os:Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá, Prnin Grande.
ÁreaMetropolitana<lcCampi11as:Campinas, Paulínia, Vnlinhos,Vinhedo, Sumaré.
Arca Mc1ropolitan:lde Vitória: Vitória, Cariacica, VilaVelha, Serra.
ÁreaMetropoliwnade Florianópolis: Florianópolis e São José.
ÁreaMctropolilanaeleJoão Pessoa:João Pessoae 13nyeux.
4.fontes:Paraasáreas inctropoliianas oficiais: PNJ\D de 1990.
Pnm as demais: tahulaçõc s especiais do fDGE, do censo de 1991.

187
p

Jª,.
Como ""!1-:'-:10 ca, ....e"~· :-, ntmti, , '-', ,um natural e as necessidaces
e co:1 :i ·te de .:o c.1n1.i"'~.Ja.:-t·,,."' lidarle uv e mro foram e conunuam s.enu
1.

o pm·c!.,,., .,.·"":(.:::."'..!e ãeie~;'"..,,i:à'i.i 101.alizacàoe a mrecão G ~-asdmen-o<las


cam~ .-1, ..:.. :-·~ ~ .~... :-e~d.1 ·~--"'JiiHia é \erdade1-o n", - ..,o, e :2 Pau o 3elo
Hoiiz . ... • :- 'ucgre :-. . u~.:>rl Pec:fe Em al~un, ca, .. ~ orno V cte s;;.""Pau o os
3lrati ''- ""'• .'.l pociera ::::~:1.. ape·"~, "...tmaet.?pa inic,u .... a defi:1icão ..::aque2GI·
re ·ão. '11a, ~on~nbue:·; dec 5·· J.me;1:t ;,1,1ra tomti-l~ 1rre'.ers1n• · em omws. poaer.:;
!'er mah dt,r...i.:-... irc_ come ;1ccaso ào Rio.
QU.!!1'"'"" c~se ,,~, natural acrnen-c é co11.:;•f ..u·do por praia ... un!a ,é!ie dé
e_Ot:Cificiriacb te ~rre Tudo indica qur ~ pra ,.... , . ia altamente '"e;;pon::,á:e·:. poi
1

ú:11 .. ct· a,ra 1.:rbanar-spec1~ca.p0r um e r·:'l de \ 1~a próprio Cü_~


1 :,ossas ciciace-s
marítir .i., -\formada casa- não l., "apa'1amemo. mas ,;,e1:ta.rnanho , :ende!:ie 2
,cr cada \e:: meno:- e co,pparado r'1,1 o, d..is metropo!e.::;;...,Ieriore, - a p:-aiae
, ~. turi,i.10. a ,ida ao a:-.!'':"ee o iipo de ba:::"" com alra deP,·dade e m·s~-...:.ra <leUSvS
.........
oJo i.hcram inega,·el influencia em ,ai cultura .
.\ :":."1;_de- finJ.1do século pa,saào, no cas do Rio; da década àe :Q..;"ino
c1., Gt' "'r-,,.., e a pa::-ii:-da década de i 9~n n , do Recife e Fonaleza as o:-a!?.5
"':!,......
'7..~ .. co:icorre:- fonemen:e com our-0- 5'-1:1v· C"'mo ?oca! agradá,;e'. píu2 a
m"':aJia da, °:'urgues:as.Co:neçarar:1a exercer ta: ;-a cm·o obre as camada· cen:a,
al:a renàa qt..esonre :,e..isíno lirm:aào desabou uma, :o,ema demanda par2 a loca-
hzação re-=idea..::1••
Não have:1éo praia ou em épocas ameriore à difusão àe seu uso a~ e~lf5
p!'"ocura::.:n-í::os a:.ro-. mai sauda,eb com brisa e , tsta pano:-à:;tica, ow rr.~(,
aprazÍ\t!' como o \ale do Capibaribe no Recife em ão Paulo. Porco .\legre e Bel-O
Honz- rte procuraraM os sino- ma1- ele,·ados e1emre os mais acessIYei- ao ce;:zo
Além d1 .,r, procuraram, na medi.da do possi\·el. reprod..izir em seus bairros e den-
tro de seus proprios lmec:o meio ambienre agrad.í, el arborizando ruas morandc
tão longe-mas :ambém rão próximo-do centro quanto o permiuarn os metfüce
locomocão. arborizando seus Jote:, e con truindo piscinas a forma po~s!\"eide tra·
zera praia para a casa . Com :sso ~urgiram residência indh iduab e lotes tão gran-
des quanto o permitiu a relação prece da lerra condic;õe- de de-locamemo
E ri.mulada:,pelos imere ses 1mobiliánc ~ nossa,; elne - urbanas esrão co:;s.·
tamememe prod.J.Zinaonm·os bairro~ e dehando outro parn rras. ;\O Rio de fane,·
=-eemretamo o fascínio da praia, a, 1-.,tapanorâmica, o microclima mai- a~d~he
e Süas irreprodmib ilidades têm feito com que ;gnificariYas parcelas da - car.1lcz~
de alia renda permanecam imóveis mesmo quando ~cu b~1írro, se rran-fom1ar.~.
Foi o que ocorreu com os apanamenros com freme para o mar em Copacabani!
no 1\forro da Viú\'a e aré no Flamengo. e é o que esta ocorrendo em Ipanema e no
Leblon.
Por t so e em pane também pela história de imobilidade espacial que de$·
crevemo~ ne">tecapíwlo, na eção "O sccu)o XIX podemos concluir que. de·de o
início de~~e ..,éculo,as elite~ cariocas mudam muico mais lenrameme de bairro do
que as pau!Jsranas.

1 \
Aindaem 1920, a classe média e a burguesia cai iocas não residiam em apar-
rnmcn1os-formn de morar comum há séculos na h1rnpn e nos r~stadosUnicJos-
eniiomoravamde maneira muito diferente de c;uas congéneres gaúcha ou paulis tana,
comomostram os Quadro s 23 e 24.

Quadro23 - Prédios cxiste lltcs seg undo o nú mero de pavimentos, no Rio de


Janeiro(1920)
A,ea Número de eréd10s
Total Com trêspavimentosou mais

Distrito Federal- Total 128 322 2 951 2,3%


Distrito Federal- quadro urbano 79 246 2 948 3,7%
Of - Distrito da Glória 5 632 370 6,6%
Of- Distrito da Lagoa* 6 276 87 1,4%
Df- Distrito de Copacabana 2 817 43 1,5%
Município de SãoPaulo- Total 72 869 540 0,7%
o,stnto da Consolaçãou 5 '192 37 0,7%
01stnto de SantaCeclha 5 392 25 0,5%
Munidpiode PortoAlegre - Total 28 496 94 0.3%
Primeiro Distrito..,.~ 5 129 92 1,8%

Fonte:Ministério da Agricullura, Indústria e Comércio, Directoria Geral de Estatística, Recenseamento


doBrazil, v. IV.sexta parte.
' IncluíaUorníogoe Laranjeiras. mas não a lagm1Rod rigo de freita~.
" Incluíaa área ocupada pelos atuais Jardins.
'" Incluíao centro da cidade, o oito da rua Duque de C1xi.ase os bairros vizinhos, inclusive
a Independência.

Entre1920e 1940 a proporção de prédio s de mais de três pavimento s aumen-


toude6,6% para 15% na Glória, de 1,4% para 7,9% na Lagoa e de 1,5% para 11,2%
emCopacabana.Em 1920, em todo o então Distrito Federal, essa porcentag em era
de2,3%.lsso é quase igual aos 2,5 % que São Paulo viria a apresentar em 1940; entre-
tanto, nessaépoca, em São Paulo, a maioria dos edifícios de mais de três pavimen-
tos seencontravano Centro e era ocupada por escritórios. Isso ocorreu devido ao
falodenãohaver em São Paulo uma oferta de localizações residenciais tão inten sa-
mentedisputadas pelas camadas de mais alta renda como no Rio.
Nasúltimas quatro ou cinco década s, a zona Sul do Rio, do Leme ao Leblon,
sofreuuma transformação social caracterizada por seu abandono por significati-
vasparcelasdas classes de mais alla renda e sua substirnição pela classe média.
Noentanto,camadas de alta renda ainda permanecem naquela região, especial-
mentena de frente para o mar. Ao recusar -se a abandonar o bairro, essas camadas
(etambémas médias qu e chegam) acei tam com crescente condescendência o au-
mentodo que era considerado "desvantag em" - a chamada decadência ou dete-
rioração-em troca das vantagens repre sentadas pelo meio ambiente e pela loca-

189

Quadro 24 - Unidade s prediai s e domiciliária s segundo o núm e ro de p avimento s,


n o Rio d e Jan e iro e cm São Paulo (1940 )

Unidades pred1a1se dom1cil1árias


Total Com t rês pavim ento s e mais

ú ~trito q i;idr<J urbano


Fr-úer-'1 104 400 7 581 7,3%
r rc~ri~rr dd C.:1r1dE-l,ma
Cd<J 729 462 63 .4%
C.rcumrr1(àf) dP Sao Josl> 1 74 1 603 48,6%
r rrun:;cr çao da Glórta 4 921 752 15,3%
( rc.Jr:;crçoo da l-,goa 6072 477 7,9%
C rc Jr srnção d"' Copacabana 8266 929 11,2%
Aur crp,G dE-SdO Pauto - auadro urbano 187 957 4 673 2,5%

í·omc· IBG(~ (..cn,;o d e 1940, Popula ção e habita ção

liza ção cada vez mai s cen tral da região. Ace itam , assim, a redução cre sce nte do
tam anho da ca sa, pa ss ando não só a morar em aparta m entos co mo em aparta-
men tos c ada vez meno res. A penetração do comérdo no bairro - eve ntualmente
uma de svantagem no iní cio d o séc ulo - pa ssa a se r e ntã o cons id e rada vantagem
por cre scente s parcela s da cla s se média, num a alteração profunda de valores, es-
tilo de vida e modo d e morar.
O caráter residencial da zona Sul começou a ser quebrado p e lo turi smo, que
abriu as porta s do s seus bairros para doi s estranhos: o pr óp rio ti1rista e o comércio e
servi ço s (inicialmente voltad os pa ra o turista). O tur ista nacional, das décadas de
1920, 1930 ou 1940, no Rio - como mais tarde o de Santos, Camboriú e Recife - 1
and ava na s rua s, ia a pé às loja s, aos restaurantes e aos cinemas. Era dif e rente do de
Salvador, onde, entre a Barra e a Pituba, faltam longas e arqueadas praia s e onde a
topografia acidentada junto às orlas impo ssi bilitou as cláss ica s av enidas beira-mar
o s tentada s pela s outras cidades litoráneas. Por essas razões, o mode rn o hotel de
turista s em Salvador-ao cont rário do Rio, San to s, Fortal ez a e Recife-não nasceu
junto a praia; o Hotel da Bahia nasceu, na d écada de 1940 , totalm e nte desvinculado
de qualquer praia. O Copacaba n a Palacc 1 o Parq uc Ba lneá rio de Santos ou o Grande
1lo tei, no Guaru já, na década de 1920 e o Grande Ho tel d e Bo a Viagem, na de 1950,
na sceram com os pés na areia, na ave nida beira-mar, inse rido s na praia e na aveni-
da. Através delas, inseriram-se no bairro. Em Co pacaban a , Gonzaga e Boa Viagem,
o turi s ta penetrou na cidade e viveu a cidade. Ele ajudou muito a tra zer para o
bairro as loja s, os res taurantes, as boales e mesmo os cinemas . Esses "estranhos"
abriram caminho para uma torrente - agora in co ntroláv el- de outros comércios e
serviço s, trazendo para os bairros a mi s tura de atividades. Os bairros começaram
a ficar "mi sturados", mas, se de um lado, milhares de famílias burguesas os aban-
donaram e milha res d e no vas famílias de cla sse m é dia chega ram , muitas das pri-
meira s e das segu nd as se recu saram a abandonar os bairros, dada s s uas excepcio-

190
s \'antagensnatuiais
1131 l'om isso, foram obrigadas a conviver com suas desvanta-
gens.Aiiclassesde renda média ou média alta de São Paulo e Belo I lorizontc jamais
morariam num bairro que apresentasse o ruído cnsmdc•rcdor que tem Copacabana e
noqualsuasmorntliasestivessem - como estão C'll1 C.opncahann- junto com aqui -
1anda.a peixaria,a sauna ''rclax l'or mcn", o açougue, a olidna ntc.•cf111ica,
o l>ordcl,o
fliperoma,a escola das crianças, de inglês ou de balé, o cinc•nrn,a igrf'jél, a hot1rc de
garotosde programa C'cc•mcnastlc lojas sob ccntcnns de apn1Lanwnto'ie•cc•ntc,rnsele
compara-sr com I ligicnopolis, ou mesmo com l\locnrn e•o llaim (de onde
cscritorios;
umbardegarotasde programa de luxo, com o nome de Café J>/,oto,foi expulso pela
iradaclasse média alta) <'111São Paulo, e com Lourde"icm BC'lor lorizontc•.
Oque mais chama a ntrnção não é tanto a mistura ele classes soci<11s que
certamente existe-, mas a mistura de funções urbanas e ativic.laclcs.Os exíguos e os
pequenos apartamentos expelem seus ocupantes para as ruas e prains, onde se de-
senvolve uma soc1abilidadc lotalmenLe distinta ela que ocorre nos bairros de apar-
tamentos de São Paulo e ílclo l lorizonte. O clima favorece a vida ao ar livre, de ma-
neiraque a$ pessoas usam intensamente e transformam o espaço público e a
sociab11idade.t\ roda de chope na esquina ou"emba ixo de casa" se institucionalizou
Asburguesias da zona Sul passaram a aceitar esse lipo de bairro e mesmo a conside-
rara"mistura" uma vantagem que se soma às iniciais- a praia, a visla panorfunica
eabrisaagradável.O edifício de a parlamento e a alla densidade não estão necessa-
riamente associadosa esse processo {já citamos os exemplos paulistas e mineiros).
Entretanto,associados a uma mistura de classes e atividades que, no Brasil,só existe
nazonaSul do Rio, eles passam a constituir um elemento fundamental e me~mo
necessário (embora não suficiente) na cons tituição desse estilo de vida e de morar
-o estilo"carioca".l1claro que é uma minoria de cariocas que vive assim; porém,
cornoessaminoria é constituída por significativa parcela de sua classe média e mes-
moalta- a que mora de frente para o mar-, desenvolve-se uma ideologia que
1endca fazercom que toda a sociedade e a cidade se identifiquem com ela, seus
seu estilo de vida e de morar. Em face disso, são ideologicamente rotulados
bairros,
deestilo"carioca"de viver e de morar.
Esseestilo é ideologicamente apresentado pela mídia com uma auréola de
superioridade; por essa razão, tende a se reproduzir em outras cidades brasileiras.
Contudo, isso não se deve apenas a um espírito de imitação conduzido pela mídia,
pelapropagandae pelo marketing. Esse estilo tende a se reproduzir com maior for-
çanasmetrópolesoceânicas, devido à existência do mesmo conjunto de determi-
nações.Nascidades interiores, que não apresentam esse conjunto, c5sa tendência é
maisfraca.Surgem, e mão, o espírito e os rótulos para os estilos de viver de morar:
"liberal"
do carioca e"careta" do paulistano.Assim, o santistc1,por exemplo, compa-
orgulhosamenteao car ioca; o campineiro, ao paulislano.
ra-se
Seo padrão de Copacabana promoveu a mistura e o intenso uso do espaço
público,o padrão da moderna incorporação imobiliá1 ia lnvorcce a segrega~·ão, o
isolamcnlo e o primado do espaço privado. Não se cu lpe a violência - que inega-
velmente exístc - corno a principal causa do isolamemo em que se encerram os
moradores dos modernos condomínios fechados, sejam verticais ou horizontais.

191
Mesmo sem a violência, certamente a incorporação apareceria para "salvar" nos-
sas burguesias de "desastres" como o de Copacabana.

São Pau lo
É cnom1e a diferença entre a disponibilidade de estatísticas no Rio de Janeiro
e no restante do Brasil, até por volta de 1920. Em 1906, por exemplo, o Governo
Federal promoveu um censo demográfico somente no município do Rio de Janeiro.
Daqui para a frente, portanto, os dados grosseisos e as aproximações serão mais
freqüentes.
A década de 1870 foi o período que marcou o início elo crescimento explosivo
da cidade de São Paulo. O dado que mais se aproxima da sua população em 1872éa
soma das populações das quatro paróquias que poderiam ser consideradas urbanas
(já que o censo-ao contrário do que vinha ocorrendo no Rio há muitas décadas-
não separava paróquias urbanas de rurais). A população da cidade seria então de
19 377 habitantes conforme mostra o Quadro 25.
Portanto, em 1872, a cidade de São Paulo tinha uma população muito menor
do que, por exemplo, o Rio de Janeiro em 1821, quando a população das freguesias
urbanas (Sé, Candelária, São José, Santa Rita e Santana) era de 79 381 habitantes.
Entretanto, pelo censo de 1890 as paróquias paulistanas já totalizavam uma popula-
ção de 60 564 habitantes. Embora menor que o Rio setenta anos anles, São Paulojá
era uma cidade média para os padrões da época.
A década de 1870 constitui, assim, o ponto de inflexão a partir do qual vamos
analisar a estruturação territorial de São Pau lo.
Na década de 1860, a cidade permanecia, qual pequeno burgo medieval, in-
crustada na colina compreendida entre os vales dos córregos Anhangabaú e
Tamanduateí.Tal como ainda hoje ocorre em n1uitas de nossas pequenas cidades de
interior, não havia áreas funcionais claras além do cenlro; este era principalmente
cívico e religioso, pois começava apenas a despontar mna pequena concentração de
comércio e serviços. O próprio centro, entretanto, era tambén1 ocupado por resi-
dências.
Entre 1870 e 1900, o crescimento da cidade foi violento. A onda de especula-
ção imobiliária que se abateu sobre a capital paulista atingiu as proporções de uma
corrida, fazendo com que inúmeras chácaras rurais das vizinhanças da cidade fos-
sem loteadas.
Nessa fase inicial de crescimento a estratificação social estava ainda se cons-
tituindo, através de um processo que ainda du raria algumas décadas . En11915, rela-
tou um observador alemão: '"I\.tdo transpira o estado inacabado e a grandeza futura,
até os homens, pois as relações sociais ainda são con[usas, turvas, as águas ainda
não se clarificaram, os sedimentos ainda não se depositaram no fundo, as camadas
ainda não se formaram" (Azevedo, 19581 II, 119).
No início da segunda metade do século passado, a nasce nte burguesia
paulistana apresentava seus p rimeiros e tímidos sinais de segregaçã o espacia l, po-

192
rérncm várioslocais e clircçocs elaLiclnclc.! louve alguma concc11Lraçãodessa classe
aosul,na Liberdade, 11111 sítm .1lto nn saída para ~antos; ao norte, na L111., ondC' o
JardimHotánicojá valorizava o espaço para fin s residenciai s; a oeste, C:,anli.l
Efigênia,
umbonitomorro"cm (rente" n cidade, depois do Anhnngabaú; 11nalmcnteno Carmo
l\~z
inhanças da atual Praça< .lóv1sBcvilácqua) próximo ela Sé.
Eml8G7foi inauguracl<-1 a Estrada ele Ferro ~ão Paulo Hailway, ligc111do <;antos
aJundiaí. Comovimos anlc-1iurnwnlC, a ferrovia, junlamcnlc com elementos do sí-
tionatural,representou importante s conclicionanles parn a estrul11rnçaodo espaço
urbano . Na clécadn de I B70, a cidade cm expansão se vi11diante de apenas duas
possíveis direções parn seu crescimento, a partir cio Trifmgulo: para leste , alérn-
Tamandualeí, ou para oeste, nlém-Anhnngabaú (veja a Figura 3H). Com cfcilo, os
doiscórregosque limitavam n colina onde estava a cid,:idecorriam rnnis 011menos
nosentidonorte-sul. Ao norte, o Anhangabaú se juntava aoTamancluatcf, estrangu-
lando o sítio natural; logo aclianl e, na Luz, faziam-se presentes o Tamancluateí, sua
várzea e a cstrntla de ferro; o sítio natural era al i plano e sem atrativos. Para o sul
(Liberdade). o sítio era vincado por vales {com estreitos divisores ent re eles} dos
córregos que formavam o J\nhangabaú, e onde estão hoje as avenidas Nove eleJulho
eVintee três de Mnio. 1íavia, como se vê, inconvenien tes cm todas as direçõe s. No
porém,apenas o leste e o oeste levavam a sítios amplos.
início,
Portanto,mesmo para leste e oeste, a expansão urbana teria que ultrapassar
obstáculos, ou seja, enfrentar problemas de acesso ao cen1ro. Para leste, a expansão
urbam, teria que vencer a ampla e inundáve l várzea cio Carmo e uinda cruzar a es-
tradadeferro.Uma vez superados essesobstáculos, Linha-se acesso a um sítio natu-
ralplanoe monótono. Para oeste era necessário apenas saltar o vale do córrego
Anhangabaú, um vale m ais estrei to que o do Tamanduateí e sem várzea alagável;
além disso,após superado o obstác ulo, linha-se acesso a uma seqüência ele morros
leveme nte ondulacJosque levavam ao platô de Santa Efigênia e Campos Elíscos e
depoisàs colinas de Vila 13uarquce Santa Cecília. A expansão parn oeste era bem
maisvantajosaque para leste. Assim, as classes de mais alta renda se expandiram
paraoestee as de nrnis baixa renda e as indústrias, para leste. Note-se que, nesse
tempo, as estaçõesferroviárias eram equipamentos urbanos de prestígio; pratica-
mente nãohaviaindústrias na cidade, tanto que, quando Campos Elíseosfoi loteado,
aproximidadeü estação da Luz não o prejudicou. Dez anm, depoi..,da ferrovia para
Santos, a ferrovia para o Rio e a Estação do Norte (depois Roosevelt) nào atraíram a
altarendada mesma forma que a ferrovia na Barra Funda (a oeste} atraiu menos
indústrias que o Brás e a Moóca, a leste. Definia-se, assim, a divisão da cidade cm
"ladodecá" e "lado de lá" dos trilhos.
Jánas décadnsele 1870 e 1880, os sítios elevados eram valorizados não só pela
suabelezanatural, mas especialmente por seu clima e por sua saluhricladc. O clima
saudáveljá era recomendado pela medici na e os pr im eiros hospita is, já na década
de1890,seriam nbert os nos co nlr afor tes da aveni da Paulista e logo no própr io
espigão.Não sem rnzão, o segund o grand e lo team enl o aber to para a aristocrac ia

193
Quadro 25- População da cidade de São Paulo (1872)

Paróquia População

Sé 9 253
Santa Ephigênia 4 459
Nossa Senhora da Consolaçãoe São João Baptista 3 357
Senhor BomJesus de Mattosinhosdo Braz 2 308

Total 19 377
Fonte: Censo 'ac ional de 1872.

paulista chamou -se Higienópolis , e localizava-se precisamente no s contrafortes da


futura aven ida Paulista.
Na década de 1880, Campos Elí s eo s (a oeste ) repre se ntou o primeiro
loteamento aristocrátic o e "moderno " feito nos moldes d e um empreendimento
imobiliário capitalista, para a aris tocracia pauli stana. Seu projeto era moderno, com
ruas retas, largas para a época, cruzando-se em ângulo reto e- grande novidade-
uma praça, como parte integrante do loteamento. Os lotes foram lançados no mer-
cado, para venda. Um imigrante alemão , "Frederico Glette, adquiriu em 1879 exten-
sa chácara a oeste do centro. (...) Depois de traçar mai s de uma dúzia de ruas, ao
custo de 100 co nto s, vendeu os lotes com um lucro igual a oito vezes essa soma''
(Morse, 1970, 249). Segundo Silva Bruno , os alemães Nothmann e Glette "pegaram
essas terras da chácara Mauá e fizeram delas o bairro de Campos EHseos entre 1882
e 1890'' (Bruno , 1954, 1028). Entre 1881 e 1884 foi construída, em frente à praça , a
Igreja do Sagrado Coração de Jesus e um colégio a nexo, onde , por década s, estuda-
ram os filhos dos mais nobr es casais pauli stano s .
Essa região nobre, tal como no Rio seis déca da s antes, começou, ideologica-
mente, a chama r-se "Cidade Nova". Desde já , devemos destacar o pape l da ideologia
na produção do espaço urbano. Seu papel foi importante no que se refere ao fato de a
aristocracia paulísra ter preterido a única direção de expansão que não implicava trans-
posição de obstáculos: a sul (Liberdade ). Essa direção não apresentava urna clara ci-
são, uma clara separação física da "cidade velha". A na sce nte , progressista, arrojada e
moderna burguesia pauJistana se empen h ou em produzir uma cidade que refletisse
esses seus atributos e que clara mente se diferencia sse do "ve lho ", do passado e do
colonial. Uma posição colada à "cidade velha", co mo a Liberdade , não exibiria os valo-
res de progresso e renovação, de ruptura com um passado considerado atrasado, en-
tão acalentados pela ag ressiva e talvez orguJhosa burgue s ia pauli st ana. As crônicas
registram inúmeras menções ao orgulho, e me s mo esnobismo, da aristocracia
pauJistana em formação, co mo este trec ho d e Barros (1967, 475): "O que irritava so-
bremodo o bacharel de Direito era o fato de os -paulistas de sc endentes de bandeiran·
tes não conv idar em os estudantes para os alegres serões que costu1navam organizar

194
Figura38- formação do centro principal de São Paulo

emsuascasas.O periódicoacadêmicoA Legenda


dirigidopelosestudantesdeen-
tão,TeófiloCarlos, Benedilo Ot toni e Salvador de Mendonça, de l 1 de agosto de
1860,mofavadessa pretensiosa fidalguia que o paulista 'nobiliarquizado'blazonava".
Uma"cidade nova'', uma São Paulo nova, precisaria ser fisicamente destacada da
velhae essa separ ação precisava ser marcada no espaço urbano. Poroutro lado, para
osnovos-ricos- os imigrantes enriquecidos que, no final do século,já começavam
aaparecer- um nítido afastamenlo da cidade se prestava melhor à ostentação que,
atravésde seus bairro s e pa lacetes, faziam de sua riqueza.
Entretanto, os ouLros loteamentos para a aristocracia paulistana-que quase
simultaneamente foram abe rto s e postos à venda- não seguiram a direção apon-
tadapor Campos Elíseos. O desenvolvimento industrial da cidade se afirmava e,
sebemque a maior parte das indústria s começasse a se localizar a leste, no Bráse
naMoóca,algumas foram co nstruíd as junto à estrada de ferro, na Barra Funda e
noBomRetiro. As elites cont inuaram a crescer na direção oesle, na rua São João e
emSanta Cecília; todo o trecho entre a at ual Praça Marechal Deodoro e o Parque
daÁguaBranca (hoje Fernando Costa) foi tomado por palacetes, no início do sé-
culo.Mas a dire ção oeste tinh a sítio cJaramcnle menos atraente que a sucloesLe,
onde os sítios altos e ondulado s levavam aos contrafortes do divisor de águas, o
ponto culmin ante da região. A aristocracia paulistana fez então uma deflexão à
esquerdae, através da Vila Buarque e Higienópolis, chegou à avenida Paulista,aber-
ta em 1892.

195
L)a conqmsta da cncosta dn l'spig,tn a :u istncracia patliripou tnn10ronio
l'mprl's,tna loteadora como ocup,mtt'. '\J,w pn>t:l'dt' ,1 tl'~l' de quL'as elilesll'nam
ocup,1elo(1 qu.tdr.tllll' sudoe~tl' purqtll' .ili j,t lính,ml, ,lllll'S, suas chnrnrns.Empri-
llll'iro lug,u. is~o não e n'rd,tek: cm st.'gt11Hh> htg,ll, "t' los,l'. cahrri,1 pL'rgumarcn.
t.1o: por que tmham eles suas ch,1ca1-.1sno quad1 .1nlL' sudoeste>, t' não em outro
qundrantc qualquer? .\poi,11ult., SC'rm ,\nt{>nio l'g1din l\l,11ti11s,Sil\'n Brunoafirma
que rom ,l prodama,'ão da Hepublic,1 , qu.tsc todos n-. clone>:-de rhnrnras;m11ga)
dos baitrns de anta ffigênin, Bom lkti10 , Bras, e on ..ol,t(aO, l ibcrdnclc,Cnmbuci,
l ligit'nopolis. a\·cnit.l.1Pauli$ta. l\ loncn. Pari, lpit ,rng,,. B,ur.1runda e /\gunBranca
mand,uam abrir ruas e a,·cnid.ts "ondt.' t.'nn1nw:- ,hc'as descampadas foramrece-
bendo arruamento e lotcac;ão" (ílruno, idem, ibicl., 1027). bso mostra quen,iris10-
crncia paulistana era proprictdria de clukaras nns quatro quadrantes da cidade e
não apenas no sudoeste. Sô esse, no ent:lnto, loi t'scolhido parn sua moradia. Para 1

além dt' l ligienópolis e Vila Buarque, a cnminhad,l em direção ao espigãofezabrir


rnrias \ ias importantes, todas ocupadas por nqucla classe: a da Liberdade,a Ilriga-
dl'1ro Lui1 .\ntônio e a rua J\ugusLa. \ 'ejn mos outra C\.pliração. ,\ aristocracia
paulistana teria preferido as encostas do espigão da ,llual Lt\·cnidnPauli caporque
ali os lÍLulosdas terras ernm melhores . Com c-;sc argumento, o presidentedaPro-
nncía JoãoThcodoro pretendeu convencer o r<.'\'crc ndo Chnml>crlain,queprocura-
m Lerrcnopara sua escola, o l\lackcn1ic College, onde hoje se encontra, a comprar
terreno em Higienópolis, "nn 'Cidade Nm n', onde os títulos das propriedadeseram
melhores" (Garcez, 1970, 79). Ora, o prcsidcnlL' João Tht'odoro Xa\>ierfoiprema-
mente o responsável "pelo plano urbanístico nplicndo cm 1874 à 'Cidndc ~ora'10
outro lado do Anhangabatí), que dera origem f1 expansão da velha cnpirnlde
Piratininga para as bandas dos atuais bairros de Campos Ehscos, VilaBuarque, Con-
solação e Higienópolis" (idem, 77). Scrd mera coincidência que o terrenosmais
alLose saudáveis e mais acessíveis ao centro (cio que os do lado de l.1dos trilhos),
justamente aqueles para os quais João Thcodoro fez planos urbamsticos, tivesem
também "melhores títulos··, e por isso fornm preferidos para os loleamemosdabur·
gucsia paulistana?
Tc\·e início então a cima ocupa<;fio do quatlrnntc sudoeste da capitalpelos
bairros das camadas de mais alw renda, num caminhamento que permancceat~
hoje e se firmou como um elemento büsico na definição de toda a es1rurnraterntoni~
da uópole As bordas do quadrante sudoeste foram ocupadas tamopclaaltaren·
da como pela classe média. formando bairros como Perdizes, lpirnnga, Cerqueira
César, Pacaembu, Alto da Lapa, ílo~quc dn ·,níde. etc.
No final do século XIÃ, loi c:onrluído o monumenlal cdiiício que rina a ·ero
~luseu do lpiranga. Logo depois, juntou -s l' a de um conjunto de obras quecon·
tituiriam o único exemplo de urbanismo barroco no Brasil. Um horto hotíinico
atrás do edifício, um grande parque "inspirado em jardins, barrocos franceses ·
(Paiva, 1984, 7), um monumento que comemoraria o centenário ele nossainde·
pendência e uma ampla e larga avenida oferecendo perspectiva ao monumenrne
ao edifício.Tratava-se, sem dúvida, de um monumental conj unto qnc, nosolhosda

196
nrlslocrnría paulista, 1C·p11" -:1· o t1nnspl,1111rcl<'l'a, i.,p:,rn o l'l;rmrlto; e <·rl:inr<·n
11t,1v11
11•loi
11111:rnh,a dt: 1'11rn11H' i111p;1<10 t11l>:1111st1rc,e· idrologko 1111111 a fll('l1 ópoll' f'l11
ro11n11çan. li""
Sc•tfanat 111,d •,1·11t·11tn 1110f o.,SC'v,tlo1izíldo para fin'i 11·,1clr1wi,ti,JH'lí1
êrns
tm.:racia J)ít1tli.,ta1mNo e 011ll'Xlo de· todo o c•sp.iço IIIlw110, c•1111C lí11110,
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c·S<,(.•
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j11111ocs1ava na•, lm1cla.,do q11aclr;rnlc·s11doc·stc·,fntil cio ,•,xo pr i1H1pal
tao so111c·111c•
dec·xpa111-1áo dn ari"llonac i;i N;rs pr imcirac.; d éc .ict;,.,cio sr<1110XX, t1, 1nwcl1ac,nes
dcssc•conju1110 u1lw11ís1it o c·onw~ar:im, de Íêllo,a se•, oc 11pacla.,por prn tC'11to<;<>', pa
lncctcs,idcintiro s aos da nvc•nidn Pmrli t,la. l:ssn oc11p;1~ .;10, pon~m, 11:iodlC'go11 a se.•
dcsrnvolvc, e 1111ti10 1tH·110
s co11(or rc•r e0111 o c·ixn cio quaclw11lc·"i11cloc· •,1e,por i'iso, n
lpirangn nno vl11gn11 como 1,,iirro nristorr61 ico. Nesse t1spc•c1n, c:ssc•C:ít 'i<>M' ar.;sc•1111!
-
lhaàconslni~·aotln rcprc•sa clPl'rnnpullrn e ao cnnjunlo ele edifícios projc:lé1clo<;por
Oscar Nicmcycr <:m Bclc, 1lorizonle. 'l'rntnva-sP dc 111n a intcrv<·1H;ao cio Estado no
espaço mbann. Pcll sun carga iclcol6gi ca, vnlorizou o cspílçc, rarn f inc;rc•sidenciai<;
dasclc1sscs elealta renda; 1w cn l.i 1110,por localir.nr-se fora ela rc:gíaoele,oncc:nlr n<r,no
daselites, encontrou difk1rldaclc s c·m a1rai1essa classe. Desenvo lveremo s rssc as-
suntoquando lalmmo s de Belo l lorizonlc.
cros atllorc•s, romo Hiclrnrd Morse ( 1970), Pierre Monlwig íl ~'5:He Cai,,
l11t'11n
PradoJr.(1953), clcstac,1111 o pap el q11cos sítio s altos, ,;;ecos, sautUivcic;e•cem, bclé1s
visiaspanorf1mica/-i clcscmpcnharam na localização dos bairros rcc;iclenciaisd.t bur-
guesiapa11lic;1a11n.Nacla fc1ln111,no entanto, sobre a accssibilidac.Jcao cc11t1o e muito
menossobreas lorça 'i que orienlctriam a localização dessa classe depois de ocupa-
doo pontomais elevado do sít io 11a1 ural.
Com cfcilo, é importante ressaltar esses aspectos, principnlmcntc o lÍltimo.
Umílvezalingindo o ponto culminante, o divisor de águas entre as bacia<;dos rios
'lictêe Pinheiros, n aristocracü 1não procurou ocupá-lo cm Lodasua extensão. Se o
sítiofossea razão principal de sua implantação, a burgue sia Leria ocupado, depois
daavenidaPaulista, o restante do es pi gão, localizando -se nas área~ hoje oc11padc1s
pelaruaDomingos de Morais e pela <lvcnida Dr. Arnaldo (dircçücs da Vila Mariana e
doAltodo Sumaré). Surprecndcn1cmenle, cnLretanto, isso não ocorreu e a burgue ~
siapaulistana loteou, para suceder a aven ida Pauli sta, os Lcrrcno s plano s, insípidos,
pantanosose de poucn rc~istén cia física <la baixada do rio Pinheiros, produzindo
ali,nasegundadécac.fodo sécu lo, o Jardim América. Também ncs<;am esma baixada
surgi riam,algumas décadas depois, os loteamento s do Jardim l:uropa, AJto de Pi-
nheiros e City Uutanlã, igualmente destinados aquela classe e igualtJ1cnte c·msítio
planoe sem atrativos.
A tese do pap el determinante do sítio naLural cai então por terra, mas nao a
docontroledo tempo de deslocamento, isto é, de acessibilidade ao centro. Os ca-
sosdessesloteamento s são cxccpcionalmenlc importante s parn a compreensão
daconceituaçãode uma estrutura territorial urbana , ela inter -relação entre seus
elementos e de como se u rrocc sso de produção é comandado pela classe domi-
nante,tendocm vista manter o co ntrole- cm seu benefício - doo:;tempo s de eles·
locamcntos espaciais. É difícil encontrar, cm qualq ucr metrópole cio país, bairro s
residenciaisde camadas de alta renda acurando sít ios sem atra ti vos naturais. Eles

197

exis tem . entretanto. Faz-se nece ssá rio então explica-los, também. Isso será desen-
vo lvid o m ais adiante, depoi s de estudarmos o utra s metrópoles.
Ante s, desejamos apena s regis trar qu e a apropr iação ele sítios de melhores
atribulo s natur ais por part e da s classes d omi nant es {atendidos os req uisitos deaces-
sibi lidad e ao cen tro ) p arece se r um fenô men o uni versal. Ao analisar as zonas
residenciais das cidades americanas no s an os 30 e '10, uma d as concl usões de Homer
I Ioyl, cm seu clássico trabalho Tltestruclltreanrl growth of residential neighborlzoods
i11America11dties foi qu e "as zonas de alta renda tendem a progred ir em direçãoa
terrenos elevados, livres do s riscos de inunda ções e a se espal ha r ao longo das mar-
gens de lago s, baía s ou rios, no s ponto s cm que tai s marg ens não são ocupadas por
indústrias" (l loyt, 1959, 499). Todavia, essas conclusões são ainda in satisfatórias.As
cama da s de alta renda nno têm prefer ên cia por sí tio s altos ou baixo s, mas sim pelos
m elhores, segu ndo os valores socin is e as condições de seg urança , salubridade e
beleza, no contexto de cada situação histó rica, atendido o requisito da acessibilida-
de. Assim , ns qualidades de um sítio podem se manife star em terrenos altos, mas
também o con trário pode ocorrer. Em La Paz, Bolívia , onde a altitude de 4 milme-
tros aci ma do nível do mar pode acarretar mal-estar físico, frio, ventos e topografia
adversa, os terrenos mai s baixo s são mai s sa ud áve is e seguros e por isso apropria-
dos pelas classes dominante s. "Acidade acha-se implantada a 4 mil metro s deallitu-
de acima do nível do mar; por conseguinte, a parl e bai xa do va le, qu e se estende SOO
a 600 m etros mais abaixo (Calacolo, La Florida) e se acha mais protegida dos vemos
predomina nt es, oferece uma sé rie de va ntag e n s e agrada à elite. Ao contrário, os
grupos m e nos privilegiado s têm que se sati sfazer co m os sít ios d e desnível pronun-
ciado e com propensão a de s lizamemo s e que ce rtam ent e se acham desprovidos
dos( ...) se rviços e facilidade s comunitários. Esses sít ios acham-se implantados nas
parles mai s altas da cidade , conscqücntemcrHe as mai s frias e sujeitas a ventos
(Guardia, s.d., 5, 104)."
O Morro de Santa Teresa, no Rio, desenvolveu uma curiosa segregação social
cm função da altitude. Maio e· MoccJlin ( 1974, 99), ao comentarem a ocupação italia-
na cio Morro de Paula Mattos, em Santa Tere sa, regi stram inicialmente que essa ocu-
paç ão "n ão foi pioneira, tendo sido antecedida por famíHa s geralmente cariocas(...)
atraídas pela amenidade climática". Com altitudes m édia s d e 80 metros , Paula Manos
"é topograficamente inferior às demai s unidade s qu e compõem o Morro de Santa
Teresa, isto é, o Morro de Nova Cintra (280 metro s) e o Morro dos Praze res (270me-
tros)". Enquanto na década d e 1920, Paula Matt os era ocupado por camadas popula-
res integradas por imigrantes italian os e portu gueses, nos morros mai s altos "ocor-
reu uma ocupação aristocrata, situaç ão es ta co ns tatada d esd e os seus primórdios".É
de se notar que esses imigranLcs, pro curando fu gir do te rrível calor do Rio e ocupar
lugares co m clima mais se melhante ao de sua s pátrias, não conseguiram apossar-se
d os sítios mai s eleva do s, os quai s foram ocupados pela ari stocracia.
Os casos dos jardins América e Europa, do Alto de Pinheiros e City Butantã,
e m São Paulo, são extremam e nte importante s para a compreensão do processode
es trutura ção do espaço intra- u rbano como um todo - e não apenas do espaço

198
~~:.:e·:d-11- iã que todr"5 os e-p.ac"Jsse refacio~~"1 e J_ -~ prec1::-- ..._e: dem ··s ::1-
·-'-::'e:oda·a~mer~0pn:es
~- . t'S":ZGa.:ias es-:es bairro: "'ª...iuSia~o,c1:aü'"'' re"'-i.Se~-
...·, ;:_,caü:::!.das de .L~a renda. i~m~ ...'"'" ~ ?""'S ·jo
~.::-: \.'15-u:1kos exemp o - í''-'~ _-zt..

~·:.:-~ .!~:-lentese apa:e'1teTaeme com hoa a..:e~~fü1Hriadeore ·can:il ü .. ''"',;ão ,12


:'.i~:.s:apara o· lado~ de ~ ....r:i.a:-ee ,-tla Mari2na , --:ãoo· ocuparam
E·se· casos ab:-eri U"":a no\ ·a linha de i11•·e,i1gaçâoe !e\'am-:1 , .. -=--~~r:re
~-~::ma. que r:1ecani.:nio · :e riam le\-aco a burgue~,a pat· 1,1a'1a 1 '"\Ct.. ..,Jr ao •.e . .::,
.s:ú:..1cêies comrana ào uma regra ~nê aoui geral? Por que é!'- e.t~d ~ãc -.. ex-
:-.:.r.J1ram
nas imed1açõe · do Parque e ~!use ... do lpiranga onoe o ::,tado ~avia
;t>J:oduzido a Pans de Haus.:~an~?
Homer Ho~1ja ha\ia derec:ado o de·envohimento re 1dencial das e nes e-
f"J:~àoum eLXO consratação indusn-e que contribuiu para a formulacão de ,et. P.1Cl-
·r:D:-eytmdosernre. de círculo. Ambuiu esse :"atoà melhores ,ia de transpo~es e às
::..~··i!êadesde a camada de alta renàa expandirem- -e !areralmente ~u, o:.ar a po-
5:tJesa.1ceriore-abandonadas nur::a espécie de marcha a ré em d1rec~oa'"'Icentro.
~.:i exa~amemee: es proce-sos que ;>reci-am ser explicados. É prec1·o esc.ai"""eCer a
t-c-::~acão.Por que as \ias de transporre são melhores naquelas regiõe ;- Por que é
::::e~cre·cer lareralmeme? :\ marcha a ré em ctirecào ao centro é "Uai - ~·acilde -er
e:::~:1dida pois os bairros abanàonado· ·e recic1am e são ocupados por camadas :::-
:ê::ores·.por edifícios de aparramen.:os. por come-reio, etc. Por que a b:.!..---gtie-51:lae
3e..:VHorizomerelu~ou cama a ocupar PaL1pu1ha preferindo cornpnmir-. e co~.ra a
co
Se:-:-2 Curral? Foi o capital 1~obiliário que -des,·iou" a burguesia m1i1eira rie
?-.:mpu:ha ou foi ele que temou - mas não conseguiu - le\'á-la para ,a? Por que a
2-::~:oc:aciacanoca abandonou a Tiiuca em, ez de se expandir lá? Por que a bu~esia
?-:.ÜStana. nas décadas de 1930 ou 19-10rendo lindos sítios-agora ace ·1\-e1s- nas
nzinhançasde Samana ,onde se iniciou uma ocupação peta alta classe méoí.1 inclu-
s:ver.um morro, o Jardim São Bemo não se ex-pandiu ali? Por que na decada de _i930
eo vezde construir um rúnel para facilitar o acesso às ,·árzeas pantanosa· ào no Pi-
:me1IOs, não construíram pomes para os conduzir às lindas mo manhas da Casa\ erde
oudaFreguesia do Ô? Por que não ocuparam os comrafones da erra da Canta.reira.
emãoragos e à mesma distância do cemro que o Jardim Europa?
Rese1Yamosas respostas a es·a perguncas para depoi· da anali·e de outras
~mópoles e depois de acumularmo· mai • casos emp1ricos sobre a logica da es-
:.'Ururaintra-urbana. O próximo ca o de Belo Horizonte . já e ·clarece bas(an:e a
q:.iestào.

BeloHorizonte
O caminhamenw cernwrial dos bairro- das camadas de mai · aJta renda de
BeloHorizonteé idênríco ao de Porto .-\legre. Sah ador e ão Paulo· a direção do
caminhamemo é inicialmente ditada pela busca de suios ele , ado e e con~ olida
como passar dos anos, mamendo sempre a mesma radial e ocupando sempre o
mesmo
seror.

JQC)

Tal como nas outras metrópoles, a burguesia mineira instalou-se no local que
melhor combinava as qualidades do sítio natural com a proximidade ao centro. O fato
de a cidade ter sido obra do Estado e, em s ua fase inicial, suposta m e nte não ter sido
obra do mercado , em nada alterou seu arranjo espacial, pois o Estado seg uh1 as ten-
dências do mercado. É curioso e signi11cativo que a Companhia Constr utora da Nova
Capital tenha reservado exatamente os lotes que atendiam aos requisitos acima, isto
é, os da encosta oes te da cumeeira onde foi implantado o Pa lácio da Liberdade, libe-
rando inicialmente apenas os da encosta leste (Funcioná rios) (veja a Figura 26). Como
já vimos, os ocupantes dos primeiros lotes eram funcionário s públi cos de nível médio
ou de segu ndo ou terceiro escalões, ou seja, e lementos da classe média da época. A
eles foram oferecidos os lotes da encosta leste , mais afastada do futuro centro da cida-
de, que se expa ndiria, sem dúvida (ele n ão estava determinado no plano) , a partir da
estação ferroviária (veja as figuras 26 e 39) . A encosta oeste, majs próxima do futuro
centro, só foi posta à venda mais tarde, quando a população da cidade começou a
co ntar com significativos contingentes da burguesia. Essa encosta oeste, por suas ca-
racterísticas de sítio e localização, definiu a direção da expansão das camadas de mais
alta renda, na qual surgiram em seguida os bairros de Lourdes, Cidade Jardim,
Gutierrez, entre outros. Esse eixo, tal com o em São Paulo , apontava os sítios elevados,
que podem ser alcançados a partir do centro, sem necessidade de cruzar barreiras,
ou cruzando as menores barreiras da região. No caso de Belo Horizonte, como já
vimos, essas barreiras eram o ribeir ão do Arrudas e seu vale e a ferrovia que nele se
alojavam. Portanto, o Palácio da Liberdade não fo i a causa desse e ixo, mas sim, ele
próprio, uma man ifestação dele-uma manifestação da valorização social conferida
aos sítios altos próx im os ao centro . A localização, pelo Estado, do Palácio e a ocupa-
ção dos sítios altos da encosta oeste, pela burguesia mineira, constit uem um único e
mesmo processo, um único e mesmo efeito das m esmas delenninações, e não uma
causa e um efeito.
Desde o início da formação da cidad e, as camadas de mais a lta renda de
Belo Horizonte se expandiram na direção sul e nela se manlêm até hoje (veja as
figuras 32 e 43). Belo Horizonle mostra cxemplarmenle conw essas camadas não
abandonam sua direção de crescimento, mesmo quando a ação d o se tor imobiliá-
rio e do Estado tentam demov ê- la disso. Foi o que ocorreu com Pamp ulh a, que se
loca liza na direção oposla àquela.
No início da década de 1940, o e ntão prefeito Ju sce lino Kubitscheck de Oli-
veira ergueu o conjunto rec reativo e turí stico de Pampulha. Junto à lagoa que fez
construir no local, implantou também o famoso e esplêndido conjunto arquitetô·
nico de cujo projeto participaram Osca r Niemeycr, Burl e Marx e Cândido Portinari
e que incluía a Igreja de São Franc isco, o late Club, a Casa do Ba ile e o Cassino,
lodo s construídos entre 1940 e 1943. O impacto des se conjunto no espaç o urbano
n ão poderia se r outro senão sua valorização simbó lica e socia l para fin s de resi·
ciê n cia das elites locais. Entretanto, Pampulha não só ficava ''lon ge" do ce ntro para
a Belo Horizonte de então e para a mobilidade territorial da burguesia da época,
como do s bairros de alt a ren d a (sul), onde contin ua v am a se r abertos diversos

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Figura39
- Formação do centro principal de Belo I Iorizontc

loteamentos destinados a essas camadas. Para elas, os empresários imobiliáríos pas-


sarama oferecerduas opções opostas de localização: Pampulha e a zona Sul. A pri-
meiranãoconseguiu desviar a direção da última. Vários loteamentos para as cama-
dasde mais alta renda foram lançados no mercado em Pampulha nos anos 40.
Entretanto, os lotes foram adquiridos apenas para especulação e reservados para
"maistarde".Vinte anos depois e antes de se manifestarem os graves problemas de
poluição da água da lagoa, com exceção dos lotes situados imediatamente junto à
bordada represa, a absoluta maioria dos demais permanecia vaga. Enquanto isso,
naquelamesma época, os loteamentos para a mesma classe, lançados na zona Sul
(nadireçãoda Serra do Curral) eram rapidamente ocupado s. O loteamento que hoje
coústituio bairro de Cidade Jardim, por exemplo, (oi aprovado sete anos mais tarde
queos de Pampulha, e no entanto, por volta de 1970,já estava totalmente ocupado,
enquantoPampulha permanecia predominantemente vaga: ' A questão da distân-
ciadeveser certamente considerada. Na década de 1940, Pampulha era, sem dúvi-
da,consideradalonge, para uma Belo Horizonte de poucas centenas de milhares de
habitantese para uma burguesia de mobilidade territorial relativament e baixa. Con-
tudo,mesmoem meados da década de 1970, Pampulha ainda perdia para a zona Sul
napreferênciadas classes média e acima da média, apesar de Belo Horizonte já ter
maisde l milhão de habitan tes e de a mobilidade territorial da burguesia ter au-
mentado bastante. Ainda na década de 1990 a região de Pampulha estava estag nada
comoregiãode moradia de alta renda. Nos loteamentos para a alta renda ali.situa-

201
dos,luiaindnmuitoslotesvagos.Entn·vistc1srenlizaclas em l ~m5com várioc;correto.
rcsloca1sindicamque o preço cio metro quud1aclo PSl,í rm torno de lJS$100,00no
Jardim ão Luíse de U $60,00no Jardim São Josr e no Jardim Bandeirantes. NaCi-
dadelardim.loteamcmolambem n's1drncial unifamiliar como os anteriores,po.
rémdez anos mais novo e locnlizndo na zona Sul. h,í anos não há mais terrenos
vagose o preçodo metroquadrado situa-se l'lll 101 no d<' US$200,00 a 300,00.
Pampulhaestá a 5 quilônwtros cm linha n·t~1 dn Prac;a Sele de Setembro.
Copacabana,no Rio,e o Jardim/\méricn 1 <'lll SJo Paulo, cstno a 6 q11ilômctrosdos
rrntros das rrsprctivas cirladl'S.Esses lrnirroc. j:i Pstavnm rotrtlmrnte ocupndos
pelaclas~cmédinnlta ou altn quando ns n.'giões metropolitanas corresponden-
tes tinham 1,5milhão de habitantes. Pampulha não. Em meados da décadade
1970,a distâncianão mais cxplicavn sr11 lento cn,scimcnlo. Devemos procurar
outrnexplicação. O lento crescimento e a tlC'svalorizaçfloimobiliária são aindamais
surpreendentesqunndo se verifica que, comprimida contra a Serra do Currnl,na
regiãotradicional,as camadas de nltn renda lutam contra a falta de espaçopara
expansão,loteandoescarpas da serra e desfigurando a paisagem, além de habita-
remcada \'E.'Zmais em apartamentos e lolcs pequenos. Esse caso mostra exem-
plarmenteque a regiãogeral de concentração das burguesias não é ditadapelo
capitalimobiliário.Em que pese a acidentn<la topografia da região Sudeste,os
loteamentosvoltadospara as camadas de alta renda continuaram escalandoaser-
ra. Segundoa Prefeitura Municipal, o projeto do loteamento do bairro das
~langabeirnsfoi aprovadoem várias parecias, a primeira elas quais pelo Decreto
2.317de 16de janeiro de 1973, e o do bairro Bclvedere em 22 de dezembrode
1970.Ambosessesbairros estão naquela região, são da alla burguesia mineiraejá
estãopredominantementeocupados.
Oscasosdas camadas de alta rcndn ele Belo l lorizonte (tanto as qnesc es-
prememcontra a Serrado Curral corno as ele Pnmpulha), bem como o do Jardim
Américaem SãoPaulo (localizado num pântano), moslrnm que os fortes interes-
ses dessascamadas fazem com que elas se npcguem com incrível obstinaçãoa
umadeterminadadireçãode expansão territorial. Essa direção dilkilmente é aban-
donada,mesmoquando sérios obstáculos se opõem a ela, ou quando deixamde
exisriros atrativosiniciais de paisagem qur a determinaram - caso do Jardim
América.Que imcresses ou forças são essas? Como awam? Por que a burguesia
paulistanaocupou os pântanos da v,írzea do rio Pinheiros, uma área Lornlmen1e
sematrativos?Por que a burguesia mineira não abandona sua direção de cresci·
menta?Éo capitalimobiliárioque define aquela direção de expansão territorial?
Emcaso afirmalivo,por que escolhe uma dcLerminada direção, e não ouna qual-
quer'?
Arazãopara isso está na teia de inter-relações espaciais que se desenvolve
(recordemosque estamos analisando uma estrutura), acentuando cada vezmais
uma"amarração" entre os diversos bairros (os das burguesias no caso) e outrosele-
1

mentosvitaisdefinidoresdos deslocamentos espaciais, especialmente os locaisde


compras,serviçose empregos,como os centros principais e os subcentros (Savassi.

202
a\'enidaPaulista,avenida Faria Lima, marginal do rio Pinheiros), e todos os loca is de
emprego,comércio e serviços (shoppings, escola das crianças, médicos 1 bufês, rcs-
1aurantes, dentistas, salões de beleza, clubes, etc.) que definirão os deslocame nto s
espaciaisdessas classes. Abandonar a área de maior segregação significa ficar longe
·denido'', ficar "fora de mão". Abandonar a direção radial significa piorar a acessi-
bilidade.

PortoAlegre
lo início da segunda mct ade do século XIX,Porto Alegre ocupava, e já come-
çava a ultrapassar, a ponta que avança sobre o rio Guaíba - comumentc 'Chamada
depenínsula-e onde permanecera enclausurada por muralha s durant e a epopéia
dosFarrapos.O sentido longitudinal dessa península é leste-oes te; a oeste a extre-
midadeda ponta é o Guaíba e a leste, o interior. Atopografia é caracterizada por um
espigãoque se desenvolve naquele mesmo sentido e atinge a cota máxima de 40
metrosna atual Praça da Matriz, também denominada Marechal Deodoro. Portan-
ro,asencostasdesse espigão estão voltadas uma para o sul e outra para o norte (veja
aFigura40). Naquele ponto culminante da península foi iniciada a construção, em
1,84,do"novo Palácio do Governo, ao lado da matriz da Nossa Senhora da Madre de
Deus,no Alto da Praia. Em 1790 é concluída a casa da junta, ao lado daquele palácio ,
quemaistarde foi reconstn1ída para o funcionamento da Assembléia" (Macedo, 1968,
60). Incidentalmente, é difícil deixar de pensar na Plaza Mayor, grande, e tradicional
centrocívicoe religioso da cidade hispano-americana ao se observar, ainda hoje , a
PraçaMarechalDeodoro. Porto Alegre é a única metrópole brasileira que apresenta
umconjuntocívico e religioso do gênero.
Comonas outras metrópoles, tamb ém em Porto Alegre a elite ocupava o cen-
1roe as imedialas vizinhanças quando a cidade iniciou seu período de forte cresci-
mento.Talcomo no Rio e em Salvador, o sítio era limitado e as opções para a expan-
sãourbana eram pouca s.
Rodeadade água, a cidade crescia num leque semi-aberto e as elites se insla-
laramexatamente na cumeeira que se siruava no eixo desse leque e que incidia di-
retamentesobre o centro da cidade: a rua da Praia. Sanhudo se refere ao trecho leste
dessarua como a "simpática e aristocrática rua da Graça" (Sanhudo , 1961, 85).
Alémdessa localização, havia outra que melhor ainda aliava a conjunção das
vanrage ns da paisagem e prox.imidade ao centro. Porto Alegre- como também Belo
Horizonte,mas não São Paulo ou Rio-apresenta a peculiaridade de, nos primórdios
daformaçãodo espaço urbano, justamente no local mais proeminente e de maior
belezae que, por essas razões apenas, estaria fadado a ser ocupado pela residência
daselites,nela ter-se instalado também uma excepcional concen tração de edifícios
representativosdo poder civil e religioso, os quais, com essa carga simbólica, valori-
zaramainda mais o espaço para fins de residência das elites. De fato, nesse local,
instalou-sea burguesia porto-alegrense, não só nas vizinhanças dessa elevação, mas
tambémao longo da rua Duque de Caxias (outrora rua da Igreja), que é precisamen-

203

te a que se desenvolve sobre a cr ista do es pigão. A burgu esia permaneceu ali durante
décadas , poi s o espigão, como veremos, não foi a mea çado p ela expansão do centro da
cidade. O caráter da rua nos é dado pela ficção d e Er ice Verí ss imo - tão boa ou me-
lhor do qu e qualquer de poimento histórico. Em O resto é silêncio, o grande romancis-
ta locali zou na Duque de Caxias, em meado s do séc ulo XIX, o so lar do comendador
Eusébio Montanha; no in ício da déc ada de 1940, o sol ar era ocupado por seu genro,
Arist ide s Ba rreto, o prot ót ipo cio burgu ês . Assim narra o romancista, sem menospre-
zar a importância da vista de slumbrant e que se d escortinava do a lto da rua da Igreja:

Por vo lta de 1865, quando o futuro co m en dad o r Eusébio Montanha era ape-
n as um garoto en card ido d e quatro a n os, que brin cava num a rua es buracada
da cida d e baixa, se u p ai mui tas vezes vinh a para a frente d o armazém de sua
propriedade , erg uia os olhos na direção d as casas da Rua da Igreja e, coça nd o
os braços ca beludo s, dizia para si mesmo: 'Um di a ainda vou morar lá em cima'.
Su bir a lo mba, ir morar na rua do s ricaços, e ra o se u gra nd e sonho de homem
n asc ido e criado à b eira do Rio. (...) Vint e anos d e p ois, Robério Mo ntanha ,
cerea lista pr ós pero, m andava faze r um casarão na s pro ximid ades do Palácio
do Gove rno e das torr es d a Matri z( ...) lá estavam os az ulejo s vind os de Portu-
gal, terra de seus avós, e sobre a pla tib anda enfileiravam-se, dominando a ru a,
estátuas que simb o lizava m as qu atro es ta ções d o ano. ( ...) E muitas vezes já
velh o, d ebruçado à janela dos fundos - 0 U1a nd o o panorama largo de água,
céu, ruas e campo s- Rob ér io pen sa va (...) em todas as gera ções que iam go-
zar daquela vista (Item 3 do capítulo II: 1Água doce de sa ng a cheia") .
j

O local devia mesmo ser de slumbrant e. Segundo NicoJau Dre ys (1961, 99),
"na sumidade da eminência , erguem-se e ntre outros edifí c ios, mais ou menos notá-
ve is, a Matriz , o PaJácio do Governo, o Paço da Câmara Municipal e a casa suntuosa
do visconde de São Leopoldo . Nessa posição goza-se da vista mai s agradável e mais
grandiosa que se pode encontrar no país", e Dreys conhecia o Rio de Janeiro. Nãose
deve imaginar qu e ele desconhecesse o Brasil.Viveu aqui vinte e seis anos, de 1817a
1843, vár ios dos quai s no Rio de Jan eiro. Seu deslumbramento co mP01 -toAl egre não
é único . As palavras de Michael G. Mulhall (1974, 56), por exemplo , que conheceu a
cidade em 1872 , não são diferente s: ''Ninguém pode fazer idéia do paraí so que é este
lugar. Nunca vi nada tão encantador, como a paisag e m d est a terra com água por
todo s os lado s".
O comércio centra l expandiu-se na direção do in terior, ava nçand o paralela-
ment e ao espigão e à orla, e não perpendicularmente a esta , como ocorreu no Rio.
Por isso a parte al ta daquela rua pres erv o u-se co mo ár e a reside ndal das elites.
No final do séc ulo XIX de fini ram-se, a par tir d o alto d o espigão, não só os dois
eixos d e expansã o residencial da s burguesias co mo ta mb é m o que seria por elas
preferi do .
Tal co mo no Rio, e ao cont rário de São Paulo e Belo Horizo nte, Por to Alegre
oferecia tanto a opção do terreno alto do int erior como a de uma bela orla; nesta,
aliá s, havia tam bém belos morros urbanizáveis que aliavam as duas qualidades; es-

204
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Pig
ura40- Formação do centro prin cipal de Porto Alegre

tavam, entretanto,ainda muito distantes do centro . Nessas duas direções desenvol-


veram-se então Menino Deus e a Independência, as principais concentrações de - _
residência burguesa. O primeiro já fora arraial de chácaras e casas de fim de semana :J.;-1
defamíliasde alta renda. Como nas outras metrópo les, as regiões aprazíveis já ·Tl=- ~
atraíama burguesia antes de se transformarem em locais de residência perma- -==- : J
nente.Nessemomento, porém, servido por bonde e sede de numerosas festas tra-
dicionais da cidade, o bairro a ela já se integrara. Sanhudo (1961, 199) afirma que o
período áureo do Menino Deus se iniciou em 1896, quando para lá foi o ainda pa-
dreBecker."Começou a ser então um bairro chique e ao longo da bem-tratada
avenida iniciaram-se os vistosos sobrados, revestidos dos mais artísticos mosaicos
dacerâmicade Maiorca, ressaltados por figuras representativas da mitologia gre-
ga,emfina louça italiana e portuguesa, importada como o último grito em enfei-
tesdaarquitetura barroca." O sítio em que se formou o bairro é plano e com topo-
grafiamonótona, mas situava-se junto ao rio Guaíba e na direção que demandava
os maisbelos trechos de sua margem, onde prosseguia a ocupação por casas de
campo e de temporada da burguesia. Ensaiava-se então uma caminhada na direção
dossítiosprivilegiados ao longo da orla do rio.
Quasesimultaneamente, outro sítio atraente dividia a preferência das eli-
tes:o alto da Independência. Foi só no início deste século, já com a presença do
bonde elétrico,que o bairro "tomou definit ivamente roupagens de lugar aristocráti-
co,comas primeiras mansões residenciais" (Sanhudo, idem, 218). À medida que

205
nvnnçava o séc ulo XX,a eliLc porto -a legren se pendia claramente para o se tor da ln-
clcpendéncia cm detrimento das margens do Guaíba, embora nunca Lenham sido
totalm ente abandonadas por essa classe. A preferência pelos s íti os altos, já corn,ta-
tada cm outras metrópoles, confirmou -se tamb ém em Po rto Alegre e a Duque de
Cax ias se re pete n a ave nida Ind ependê n c ia, seu prolongamento topográfico.
Hnussma m (1963, 8-31) con sider a a avenida Ind ependência um "prolongamento
natur;-il" da Duqu e de Caxias.
Ao co ntrário de São Paulo , onde o es pi gão se desenvolvia transv ersalmente
ao eixo d e expa nsão, em Porto Alegre ele coinc idia com o eixo e iss o facilitou sua
ocupação pe las elites. A preferên cia d e ta is camada s pe lo espigão reve la também a
importância conferida à proximidade ao ce ntro e à sim bio se que com ele mantinha.
Localizado a lém da Cidade Baixa, Menino Deus foi um bafrro relat iva mente distan-
te, exig indo inclu sive a tran spo sição do a rroi o do Dilúvio. Tal como Campo s Elíseos,
cm São Paulo, não apo n tou o rumo predominan te do s bairro s res id enciais da bur-
guesia; o Lempo do s arra iais e da s inúmera s chácara s que, quase auto-suficientes,
proliferavam em to rn o de Porto Aleg re e que c hamaram a at enção de Saint Hilairejá
pa ssara. A dependéncia à cidade e ra cre sc ente, e o custo e tempo gastos em trans-
porte, um pe sa do ônu s. "AIndependência, por s ua proximidade com a 'urbs ' propri-
amente dita, poi s, é um verdadeiro prolong ame n to da rua da Praia, desde o tempo
em qu e esta tinha o simpát ico nome de rua da Graça , usufruiu os incontáveis bene-
fícios de ssa vizin h ança e com iss o tornou-se naturalmente uma via de grandes e
suntuoso s palacetes, residê ncia s da mais fina e lit e porto-alegrense. Foi, por muito
tempo, o bairro aristocrá tico da cidade (Sanhudo, idem , ibid. ) ." Menino Deus, en-
tretanto, teve sucesso res, visto que as el it es produzirarn um eixo re sidencial ao lon-
go da orla do Guaíba, embora bem mai s débil que o do espigão. Caso esse eixo tives-
se predominado, a rua da Praia teria se ntido o refl exo disso e o comércio e serviços
ce ntrai s teriam defletido à dir eita, pen et rando por alguma paralela à avenida Borges
de Medeiro s que viesse a canalizar os fluxos de tráfego da clientela de alta renda.
Isso não ocorreu, e a predominância da burgu es ia na Ind e p e ndência e depois em
Moinho s de Vento confirmou e so lidificou a heg e monia da rua da Praia como eixo
do centro de Porto Alegre.
Ao con trá rio d o qu e aco n teceu em São Paulo , por exen1plo, onde as formas
ass umida s pelo deslocamento dos bairro s da alta renda e a descontinuidade im-
po s ta pelo vale do Anhangabaú provo ca ram a ascensão e a decadência do comér-
cio da burgue sia em diferentes rua s (a Quinze de Noven1bro, depois a rua Direita e a
rua Barão d e Jtap e lininga ), a ru a da Praia manteve- se - tal como a rua do Ouvidor
no Rio - , por mai s de um séc ulo, como o principal eixo do ce ntro de Porto Alegre.
Por isso, tamb ém como a rua do Ouv ido r e ao contrário da rua Direita , identificou-
se tanlo co m essa cidade. A rua do Ou v idor e a rua da Pra ia são (ou foram?) as ruas
mai s amadas do Brasil. Ma is que a rua Dir eHa en1 São Pau lo, a ru a da Bahia em
Belo Horizont e, a rua Chil e e m Salvador ou a rua Nova no Reci fe. No Rio e em Porto
Alegre, a estruturação urbana provocou o afunilamento do tráfego das elites para
uma única direç ã o, daí re sultando os eixos do comércio e serv iços das elites (ruado

206
ouvidore rua da Praia ) que sob revivera m por mais de um séc ulo . Essa longevidade
contribuiu sobreman e ira para o amor que tais rna s de spertaram e para o se ntido
simbólico que pa ssaram a ter. Não é possív el di ze r quã o fort e foi esse fator, m as
certamente foi um dos responsáveis pelo carinho des pert ado por essas rua s. Há
outros fatores em jogo numa s itua ção como essa. Em Salvad o r, qu e ocupa o sít io
mnisrestritivo de todas as metrópoles bra sile iras , os bairro s das elites também cres-
ceram unidirecion alm en te, fazendo com que hou vesse um afunilamento de se us
deslocamentos so bre o eixo da rua Chile. Essa rua , porém, embora querida pela e lite
bnianaaté meado s do séc ulo XX, nã o despertou ent re os so torapolitano s um ca ri-
nhosemelhante àquele de spertado pela rua do Ouvidor e a rua da Praia cm po e tas,
artistas,jornalista s e cronis tas do Rio e de Porto Alegre.

Salvador
Em 1855, o viajante ale m ão Robert Avé-Lallement (1961, 19) assim descrevia a
cidadede Salvador, dizendo co meçar pelo Farol da Barra : "Começa com o citado
farol,no litoral, e so bre uma rocha sa liente , no meio de p equeno forte( ...). Ergue -se
por trás o so litá rio c on ve nto ou igreja de Santo Antônio , sobre uma elevação
alcantilhada. (...) Toda essa ponta sul da baía chama-se tamb é m a Graça, e m int en-
çãoduma pequena e velha igreja ali situada. (...) No alto da costa, casas de campo,
,~srososjardins, praças e o forte de São Pedro; em baixo, na praia, co meç a a verda-
deiracidade, a cidade baixa; uma comprida faixa de cidade co m casas altas, rua s
estreitase sujas e intensa vida comercial. Estende-se mai s além, para o nor te e o
noroeste,terminando com longa fila de habitações à beira -ma r, que pouco a pouco
seperdem no distante Bonfim e Monserrate. "
Em cima, no alto, para o interior, a cidade alta, continuação alcantilada da
cidadebaixa, uma babel de casas, igrejas, conventos, um caos de viela s, praças, re-
cantos, becos e travessas que sobem e descem e em cuja conexão, só depois de al-
gumtempo, pod e o recém-chegado descobrir alguma ordem".
Há poucas descriçõe s dos bairros aristocráticos de Salvador- comparativa-
menteàs das outra s cidades aqui estudadas-, tanto na prim e ira como na seg unda
metadedo sécu lo XlX.Vitória é qua se o único bairro mencionad o com freqüência e,
juntamente com o Passe io PúbUco , unammemente decantado s por sua beleza. O
viajantealemão acima citado não é exceção: "Constroem-se, também na Bahia, bo-
nitascasas com jardins, sobretudo na extremidade su l da cidade alta , chamada
Vi1ória. Dificilmente pode-se morar em lugar mais encantador do que a Vitória da
Bahia,quase não se pod e ter vizinhança mais agradável do qu e o se u 'Pa sse io Pú -
blico'" (idem , ibid., 24).
Todos os estudiosos concordam que, por vo lta de 1850, Salvador era a se-
gundacidade do Imp é rio. Entretanto, em termos demográficos, não era grande a
diferençaentre Salvador e a terceira cidade, Recife. A capital pernambucana, como
veremosadiante, linha por volta de 70 mil habitante s em 1850 e Salvador devia ter
cercade 80 mil. Depois de meti culosa análise, Mattoso (1992, 110) chega à seg uinte

207
conclusãosobrea populaçãode Salvador cm meados do século XIX:"Dos censosdo
começodo séculoXIX,privilegioo de 1805,que apontou -15 600 habitantes.( ...) Ca-
indo na armadilhade fazerminhas próprias estimativas, inclino-me a dizer-com
prudência.e admitindogrande imprecisão-que entre 181O e 1870 a população de
Salrndorcresceude 50 mil para LOOmil habitantes" Malloso (idem, p.121). O censo
de 1872"dcucomopopulaçãode Salvadore seu termo 129 J 0~1habitantes, dos quais
108 138residiam nas onze paróq llias da cidade" (Malloso in Habsburgo, 1982,
p. 16).Segundoesse mesmo censo, Recife linlrn 11G 671 lrnbitante~. De qualquer
forma, o foto é que cm meados do século XIXas duas ciuadC's tinlrnm ropulações
semelhantes,sendo Salvadorapenas um pouco maior. No entanto, no início do sé-
culoXlX,Salvador,com mais ou menos 50 mil habitante s, era muito maior do que
Recife,que tinha,aproximadamente, 25 mil. Em meados do sécu lo XIX.porém, Re-
cifeera uma metrópolemais moderna e avançada que Snlvador. Lá, os transportes
erammaisdesenvol\'idos,inclusive e especialmente com o advcnlo das ferrovias
urbanas,e incensaera a vidasocial e cultural nos inúmeros arrabaldes, onde havia
hotéise até um teatro. No centro de Salvador, o velho Teatro São João, datado de
1812,não podiase compararcom o monumental, motlerníssimo e recém-inaugu-
radoTeatroSanta Isabel;LouisLégerVauthier, seu mquitcto, projetou também al-
guns palacetespara a elitepernambucana, contribuindo para "afrancesa r" sua cul-
tura. É nesse sentido que interpretamos as seguinte,; palavras de Azevedo (1955,
228):"Aopassoque Pernambuco.dos contatos com navios e livros estrangeiros, ab-
sorviade preferênciaas doutrinasJmncesas,as idéias liberai 5, a inquietação políti-
ca, a Bahiaera a cidade portuguesa por excelência, menos áspera a atividade e a
másculaenergiade seus fundadores'' (sic).Avé-Lallcmnm, em 1859,achou o Teatro
SãoJoão"muitobonilo",tendo nele assisLidoa Don Gioucmiduas vezes (idem, ibid.
p. 47);~lariaGrahamachou-o "um belo edifício e muito confortável( ...) mas sujo"
(1956,153) , e Habsburgodescreve-o apenas por fora, qualificando-o de "enorme
edifício(...) parecendomais um grande depósito de cercais" ( 1982, 88).
ACidadeBaixa-que chamavaa atenção de lodos os esu-angeiros por sua imun-
dície- concentravao comércioda cidade. Até "o lim do século, esses mercadosda
CidadeBaixaforamos únicos verdadeiros centros comerciais da cidade"(Matcoso,
1992,437).Emmeadosdo século XlX,a cidade se resumia à Cidade Baixae às paró-
quiasda Sé,SamoAntônioAlémdo Carmo, Santana, São Pedro Velho e Paço.Apar-
tir dessa época, incorporam-seà cidade, como subúrbios, Brotas, Vitória e Nossa
Senhorada Penhade ltapagipe(idem, ibid., 440). Os grandes comerciantes se desta-
cavamna elitelocale. apesar"do dei,locamemo de muitas famílias de comerciames
para o novoe maissalubrebairro da Vitória, bom número de burgueses continuoua
residirnas proximidadesdo porto" (idem, ibid., 438).
Atémeadosdo século XIX,a maioria das famílias abastadas moravam mais
ou menosuniformementedístribuídas nos centros da Cidade Alla e da Cidade Baixa
e cm suasvizinhançasimediatas.Apenas uma pequena parcela habitava os arrabal-
des,tantoao norte(ltapagipe)quamo ao sul (Vitória). Segu nd o Mattoso (idem, ibid.,
440),em meadosdo séculoXIX,era na Cidade Alta "que se concentrav a o grossoda

208
pLlJltll,1~·aobaiana.\ iVl'mki 11.lm.1is romplet.1 pwm 1sn1id.1dl'snl'i,1I· ,11ll''>,m:o.li\ n •:,,
.1lforriado$, csrra\'os , t\mrion,11ios. burguesr:--l' noh1t·s 11101.w,unl,uln .1l,Hlo, 'num,,
b.1hel dt•rasns. ign'ias , ronH·nto~. um t'm,11,rnh,1do dt• r, 1s.1:-.. l\ 111rn1l10s, p1,1,·,1:--.
lw
(OS e llTI\'CSSí\S qw ' sobem l' lÜ'St'l'tll l' ruj,ls lig,l\'Ol'S C'Sl ,lp,llll ao ll'l ' l'lll l ht•g,Hlo
.~0l:ulode modestas r.1sinhol,1s de taipa. 11n111,1 s d,1.:;qu,1is l'\ihiam ,1pt11111s pm -
11111.1
ta t' uma janela, erguiam -M.'pr<'tt•nsio:-os pal,tct·tl's nol>n•s como ,l rm,,1dos Sctl'
Ctmdeeiros, o pnço do 'aldanh,1 l' o sol.1r do Ft•1-ruo,ou ,1ind,1p1cdios de doi s. t1cs tHI
quatropavimentos". Notc-st' qut• os quatro "p.ilan•tes'' mPnrion.idm, cstao todos
situadosao norte do ccnt rn t<.lilP1;ãooposta f1da Vit0 1in). )\ n111orn pt osst•gm• l,1zen
dominuriosn amllist•da "promisc 11idad<'socinl" lH1st'n11clo-:w t•mdados del,tllrndns.
porprédio,de umn pnrlc de um censo de lH:,:,, No lt' -SC ainda CJlH', na vc•rdmle, a
suposta''promiscuidade socia l", que a autora desta co é mais raci;il do (llll' de cln:-,-
ses.Osmoradores são todos perte ncent es no qu e se podl'ria rhnmar - pat.1 os p,1-
drõesda época e com a <ll'Vida cautela - de clnssc mtklia lrnixc1<'media; artesãos
(chapeleiro, alfaiate, torneiro, marcene iro), um comercia ntl', um policinl. um em -
pregadodo comércio, µroprietfü ·io de um a cscrnvn de sele nnos e três "ag-regmlns",
mularns, solteiras. Em outra rua da mesma circunscriçfio mornvam "negros e negras
livresque eram pedreiros, domésticas ou cozin heiras; mulntos e mulatas livres en-
treosquaisuma ama-de- leite, uma professora pr im ária aposen tada, um profe ssor
de francês, um alfaiate, um sapate iro , um mar ceneiro e um es tud an te. ( ... )
Caldeamento racial e social tão intenso que é impossível classificar socia lmente as
váriasparóquias de Salvador: at ividad es eco nômicas fortu nas e posiçôc::;socia is
díspares se acotovelavam num mundo em que as diferenças ainda não estavam rigi-
damente cristalizadas" (idem, ibid .1 441 -2).
Mattoso, acima citada, afirma qu e em meneios cio século "um bom nümcro
deburguesescontinuou a res idir nas proximidad es do porto" (idem, 438). J\ zcvcdo
confirma essa colocação ao desc rever, especificamente, "a distribuição espacial das
11
classes sociais Afirma ele ( 1955, 229-23 0) qu e, "na re lação topo grMica d e 1757, o

medidordas obras da cidade já disc rimina perfeitam ente essa classificrwão socia l e
econômicé\das várias freguesias e José Antônio Caldas cm l 774 nincla o acen tua
melhor: a Praia, embora habitada por muito s ricos mercados (sic) (... ) era um lab i-
rintode vielasest reitas e sujas. (...) A grandeza da povoação consistia cm se us seis
famosos bairros (...) o prin cipal dos qu ais, o maior e mais aprnzívcl crn o de São
Bento(sul). A VilaVelha e a Vitória (sul) era m cheias de quinta s de residências ele
vera neio rodeadas de casi nh as humHd es. (...) No fim do sécu lo XVIII, Silva Lisboa
(...) dizque a cidade estava nitidame nt e dividida c m cidad e nlla e bai xa.{ ... ) Na par -
tesuperior as ruas eram 'comodame nt e es pa çosas e alinhada s'. {...) É nessa parte
queo inglêsSemple U sle, cm 1798, vem enconlrnr a porção elegante e alrnslndn dn
população, inclusive os co merciante s já integrado s na vida política e mund ana .{ ...)
Nosarredores demoravam (sic) as quintas das famílias important es". Kiddcr, que
visitou a Bahia na década de 1840, referin do- se ao "sublírbio do Bonrim " (ao nort e)
naépocade Natal e Ano-Novo, diz: "Há então grande procura de casas e nté as m ais
humildes ficam atulh adas de gente ela cidade que prazerosa mcntc abandona sua s

209
,-

residéncias para mudar de ares e gozar das delícias de uma casa de campo. r I í..on.
:muando nosso passeio acingimos a rua principal dQ lugar que· já é c.:alçada
e r,~tf.ma
duas belas alas de casas perfeitamente uniformes cm tamanho. estrutura e aparé::.
eia (Kidder 1980 691.
Essas vánas descrições revelam que, na primeira metade do séculoXIXa\
classes sociais eram misturadas no espaço urbano O que parece levar os r;hscr:a -
dores a dar mais destaque a \"nória sena o fato de. ali, haver mais csrrangem,se,JS
ricos morarem cm agradáveis chácaras. Os ricos estavam tanto no centro comr,nil 5
periferias norte e sul. ?\o século XVJJI.entretanto. como a parte norte da cidadeer~
maior que a sul. é prová,·el que houvesse ali mais ricos. Desde então, a pane nrme
con inuou sendo maior que a sul, mas as de scrições deixam cada vez maisdaraa
tendência de segregacão dos mais ricos no sul.
Foi a panir de meados do século XIX que essa tendência de segregação da~
classes sociais se acentuou, pois na própria sociedade, com o desenvolvimen(IJ d,J
capitalismo as classes começaram a se definir melhor. Vitória, cada \'eZma1smr:nci-
onada como bairro e não como arrabalde semi-rural. consolidou -secomoopnmt.-
ro bairro aríscocrátíco. Ao mesmo tempo, iniciou-se o declínio do centro, de \lon:
Serral da Penha e do Bonfim (todos ao noneJ como áreas residenciais das eJit~
Isso decorreu das claras vamagens nalllraís da região da Vitória, que a rodosencam2-
va quer por suas deslumbrantes vistas, quer por sua consrame e agradá 1:elbnsa.~la ·
ria Graham dizia que todas as casas "dos comerciantes ingleses 'ficavaml umpouco
Jrmgc da cidade, no subúrbio da Vitória" (Graham, 1956, 146); ~Iaximilianorle
Habsburgú dizia o mesmo das famílias alemãs. C<Jmisso, aos poucos. a excrem1daé::
n<meda cidade ficou cada vez mais popular e a su 1.cada vez mais aristocrática~fauoso.
ao mesm<1tempo que de staca a "promi scuidade social' da cidade em meadosdo~-
cul<JXJX aponta essa época como aquela cm que se inicia uma segregaçãoespao.al
que pcrmanect: até nossos dias. "Algumas paróquia s como as de\írória e Brotaseram
quase rurais, ao passo que a de Nossa Senhora da Penha , ao norte, passou a concen-
trar uma indústria têxtil que ali fixou uma mão-de-obra bastanre considerável.As.sim
enquant<, a paróquja da Vitória se tornava cada vez mais aristocrática, a da Penha
asc;umíaum caráwr crescentemente popular (Mauo so, idem, p. 440)." Essasegrega -
çá<Jtambém não escapou a observação de Avé-Lallemam f1961, 27): "Enquamoos
jardins acima citados, com sua cxuberáncrn de flores, são mais peculiares ao sulda
Baía a pane norte da cidade é notoriamente menos procurada e apreciada~:\ pane
n<JrlC: nã<Jse:dissoJvc num aristocrático cenário teatral de um Campo Grandeedc:na
Vitória,e sim chega-se pauJatinameme as últimas casas". Em 1860, Habsburgojáse
refena a Vitória como o "mais lindo bairro da cidade' fidem, ibid., 70J, mas emreesse
bairr<Je o Pr1rto da Barra, onde desembarcou (a "pane baixa da Vitória··1 riu apenas
'algumas casas de campo" (idem , ibid., 78).
Em 1810,o conde dos Arcos conslruiu na Vitória o magnífico PasseioPúb lico
'Augel, in: J fabsburgo, 1982,233, nota3 J. Essa obra consistiu numa dasprimeirasmani·
íesta<iicsde uma ação do f:5lado, beneficiando um bairro da aristocracia comumaobra
que o valorizanos sentidos cultural e simbólico e, daí, também no econômico.

210
.-

\ uonulogi,1 dl'ssc1scgrcgaiy:,H • bem fixadn pur /\ugcl c10c1fu111arq


\ 1llwnanl'm I indlP\, qm• dt1 c·r~\:f'í.Hll a Bahw, rc J <.11 mm nt · cn JHr
1amda \i1min."Som•nt<'apartndcl8J ,cqu•urn •rn num rode aJ
~drtl'1t1gbtmt•ssa p,lrlc•sul da cidade, e•s ·mpr • m INmo Jr gm o {
nw1ro"deleslnIam <ltl\ it 61ta <.:ornoum s11/Jm!no, 1u1 , 1z111lumça da euJad<.,
donuclcourh,mn ptop11amcmc• dito, e .1 11.1r111d.s d,, ad,1 d· 70 q te o
pa1aalist' cl<•slmm·,1mj.i de tmm11'"J'·/\ par111do!. ;i11r,s<)(), os rc•l,tW dP • Y,ern,
mo,1r,1m cn1c inl«'grada n,1c1dath! (J\ugi•l,111l l;1h burgo. l 9B2 p 2 i J r Ola
inlt •1ra111
2. b~,l 'il'grl'ga~·ao , l'on111do,d1•11 na pnnw,rn n l'tad ·
-sc• l1•111a11w11l<',pn1c;.1111d;1
dosrn1loX\ hn\lia uma pL·qu •na pitH'l'la da ;11!·1 < !Hss<·médlél morando cm ltapag1pc
Omap.tdr. Carlo:-.,\ ugustoWeyll. inll'li1me11tc s1•md,tln, 1><,rérn mu110 prova
\'elnwnll'da sexta m1 sél ima ch~rnúa do sl'l ulo pass;id" (wja n l·1gurn J 4), hct dua
\l'rsocs,k..,'it'nrnpn, numa c1parccca c•strncl.idr íc:1rn c· na mura n.mJ, mm,tr,1 com
dart'7aque a ddadc de Salvador, já naquela época, cicsda mais para o nrJrtc do que
parao ~ul Dn Campo Grande até Vila Velha (prain do Farol ela Barra), .s ocupaçao
urbanaera 1a1cfcita,havendo apenas alguma étglomcrnçao nesta úllnna /\ Graça
cr,dl')pmoada.Na cli1cçao norte, enuctanlo, a cidade d1e;gavaclcnsa - embora s6
aolongoda praia - até Bonrn. Dens idade scmelh~1111c:. para o sul, nao c•x1suaalém
cfoC.ampo Grande. Além de Roma havia um inlerrcgr\CJ e a dcladc volrav,1a adcnsar-
,edoBonfimaté n extremidade de Itapag1pc, no Fone de Sao Diego e n.i lgreJ.i Nos•
a cnhorat.JaPenha.
Deforma semelhante ao Rio, as elites sote ropnlitanas dc!>locararn- e, a partir
daGraça edaVJtoria, ocupando as parte s altas da regiao e <.lcpois,lc111amcnt1•, a orla
oceânica de alto-mar. 1ai como no Rio, a ocupaçao e.laorla pelas elites vem se dando
maisou menos cm scqüéncia, através de Ondina , íliu Vermelho (um povoado anu-
gol,Ama ralina, P1tuba, Boca do Rio, Pialã, penetra cm Louw de f·rcllas e depois cm
Camaça ri, ao longo da orla e da estrada do Coco. Apesar d1~so, a ocup.içao é ainda
fraca,quandocomparada a que ocorreu e ocorre no Rio, <:,antosou Gm1nrjá. ou a
quevemocorrendo cm Forta leza e Recife, po is a maior ia da'>burguc::.ia s baianas se
conce ntramai s nos sfl10s altos e ccntrnis (veja a Hgurn 34)
Nos trechos mais centrai<; da orln, Salvador até hoje nno deo.,cnvolvcu uma
\'Crlicalização comparável à de l·onalcza ou a de Boa Vi,1gcm.. \ cxpltcac.;a<,mais
plafüível deve o.,crprocurada no desint eresse do mercado pela orla daquclu cidade
emboramuitos queiram atribuí-la as rcstn çocs elaleg1~lt1~éW urhanisticd ), em vir-
tudeda inadequaçao das praia s mais ccnt rars de ~alvaclor - da !faria a Pnuba -
aosbanhosde mar e ü incxislência elelongas, arqueadas e atraentes orlas. Sno praia!)
curtase pcd,cgm,m, que, inclusive por isso, não Llc!>cnvul\'cram a cl,h..,ica «vcnida
beira-mar, LftoLípica das cidades lttorfmea s bra~tlcira~. h

Recife
Vári as mcl rópo les brasil eir as dese nvolveram alguma relação simb ólica ou
rial com seus ri os. São Paulo com o'fi elê, Porto Alegre com o Guaíbn, Manaus
mate

2 11
com o Negro. l\enhuma, entretanto, desenYolveu com seu rio relações tão profun-
das e variadas - eco nôm icas, sociais e cu 1tu rais - como as que Recife o fezcom0
Capibaribe até princípios deste século. Parn Recife, esse rio foi uma imponantíssi-
ma ,ia de transporte. local de intensa ati\idade de lazer e de tratamento de doenças
e, finalmente. fonte de abastecimento de água, inicialmente, inda de Olindae do
Beberibe, e depois do Capibari be , no ~lontciro lSouto t\ lnior e Silva, 1992,213). Ne-
nhuma cidade desem·oh'cu com seu rio canta "unidade", e essa unidade só existe
quando há amor pelo rio. Isso já acont eceu com ruas, como a do Ouvidor, no Rio,ou
a da Praia. cm Porto Alegre, que já foram as rua s mais amadas do Brasil. Chacon
escreveu o livro O Capiúnribe e o Recife, seg undo ele próprio, "antes de mais nada
por razões sentimentais'' (1959,10). Nele di z que a obra "constitui uma históriaso-
cial do Capibaribe e do Recife, encarando-os como uma un idade geográfica, hisróri-
ca. econômica, sociológica, poética e sentimental'' (Chacon, 1959, 9).
"Entre 1782 e 1850 . a população recifense pa sso u de 18 mil a 70 mil
habitantes(Souro J\1aior e Silva , 1992, 195 )." Essa cifra é coerente com a menciona-
da por Singer para 1823, ou seja, entre 36 mil e 40 mil pessoas (1968, 290). Recife
era então a terceira cidade do Brasil. Para Lermos unrn idéia dessa cifra. cabe lem-
brar que, naquele último ano, a cidade de São Paulo tinha, no máximo, 15milha-
bitantes."
>!'ofinal do século XVIII e na primeira metade do XIX, "o Recife incorporaa
chamada 'vá rzea do Capibarib ,e', isto é, toda a extensão que vai da Boa Vistae da
r-.IadaJena até Caxangá e a Várzea propriamente dita, subindo o rio e retalhandoos
amigos engenhos (... ) em sítios e chácaras. que, por sua vez, sobretudo na décadade
1840, ser ão objeto de loteamento. (... ) O movimento pelo qual o velho burgo(...J
expande-se pelo continente e cria seus arrabaldes tem inicialmente um carátersa-
zonal: trata -se de abandonar a vila nos meses de verão, para fugir às doençasou
para beneficiar-se das virtudes curativas e dos deleites edênicos dos banhos de rio•
(Souto Maior e Silva, idem, 195-6 ).
O transpone hidroviário , utilizando-se da canoa movida a vara, desenvol-
veu-se muiro no Recife e o Capibaribe foi uma importante via. ''Tanto quamodo
cavalo, a expansão do Recife dependeu do transporte fluvial e especialmenre da
canoa indígena. Desde o século XVI ela assegurara as comunicações entre o Recife
e Olinda, de um lado, e entre o Recife e os engenhos da Várzea do Capibaribe, de
outro.(. ..) De canoa Lransporrava-se gente, água de beber, material de construção.
(...) Mas é o aparecimento dos arrabaldes que vai dar-lhes um realce inusitado.(...)
O isolamento dos subúrbios, sua localização ribeirinha e a falta de caminhos fize-
ram da canoa, duranle muito temp o, o recurso que, sem ser o único, era o mais
cômodo ou o mais fácil (Souto Maior e Silva, 1992, 199)."
A partir de meados do século XIX, com o desenvolvimenco dos caminhos e do
transpone terre st re, o uso das canoas começou a declinar. "São as estradas de su-

• Em 1836. a cidade de São Paulo (pane urbana das pa róquias da Sê, Santa Efigênia e Brás) tii1hanomàximo
9 301 habitantes e aquilo que com põe hoje o mun icípio d e São Paulo , 12 286 (MarcOio.1968, 102). Segundo
Porto (1993,39), a cidade de São Paulo, de acordo com cens o realizado no final de 1822, tinha 6 920hnbhantes.

212
búrbioque desferem um duro golpe no tráfego das canoas de carreira, especinl-
menteao longo do Capiba ribe, ao possibilitar o uso mais inten,;o dos carros eco-
ches(idem, ibitl., 216) ."
Do ponto de vista da estruturação do espaço intra-urbano, a hidrovia é im-
portantenão só como vinde transporte, ma s também pelos pontos de transposição
e pelosportos que desenvolve. "Alguns porto s conseguiram sobreviver até meados
doséculoXX'.como 'pa ssagens', isto é, pontos ao lon go do rio onde há serviço de
travessiade um a margem a outra. Muito tempo depoi s de ganhar uma ponte e de
dispensarseu serviço de barco s, a Madalena conUnuou a se r designada por 'Passa-
gemda Madalenn' (idem , ibid. , 209)." Para lermo s uma idéia da capa cidad e de so-
breviv ência desses importantes elementos de estruturação urbana , bas ta dizer que,
aindaem 1959,entre a Torre e Caxangá, existiam "nada meno s que seis pa ssagens
aindaem uso" {idem, ibid. , 209) . Entretanto, "ao encerrar-se o segundo quartel do
séculoXIX,a canoa já é uma espécie em extinção na paisagem recifense" (idem,
ibid.. 211).
~las a importnncia do Capiba ribe não se limitou a uma via de transport es. Ele
foitambém um importante e original elemento de lazer, higiene e sa úde públic a. Já
nasegundametade do século X:VIIJ,"divulgavam-se informações sobre a imp ortância
medicinaldos banhos do Capibaribe". Segundo uma notícia da fundação do povoado
doPoçoda Panela, os médicos do Recife, por volta d e 1758 "concluíram que havia no
usode banhos no rio Capibar ibe grande vantagem para debelar certa febre epidêmica
quedesde 1746aparecera [na cidade]. (...) Com essa descoberta,(. ..) as grande s pro-
priedadesmarginais foram sofrendo as primeiras divisões e começaram a surgir os
sítiosou chácaras (...) na sua maioria no século XVIll" (Costa, 1981, l45). "vVaterton,
queesteveem Pernambuco em fins de 1816, observou que do gosto pelo banho de rio
panicipavatoda a população da cidade, ricos e pobres , jovens e velhos, estrangeiros e
nativos(Soulo Maior e Silva, 1992, 197)." Um dip lomata inglês que esteve no Recife
entre1819e 1821 notou uma família inteira e a respectiva mobília se ndo transportada
peloriopara sua residência de verão, "e as senhoras, nos seus elegantes vestidos , com
chapéusfranceses de plumas brancas {...) não parecem se importar com a transito-
riedadedaliberdade que vão gozar, alimentando Uvremente seu exibicionismo, como
emseus banhos diários de do, prova velmente dois ou três.( ...) Elas são consideradas
melhoresmergulhadora s e nadadoras que os homen s( ...) e não é raro ver-se algumas
delasnadando com muit a desenvoltura, seus cabelos geralmente arrumados e pre-
sos"(Souto Maior e Silva, 1992, 116). É realmente notável a força desse costume que
chegouao ponto de inrroduzir um elemento democratizante na rígida aristocracia
patriarcalpernambucana, libertando inclusive- embora dentro de limites- a mu-
lherda reclusão luso-muçulmana que ainda vigorava no Brasil na primeira metade do
séculoXlX.
Em grande parle devido a seus ricos engenhos, pelos atrativos ambientais
dovaledo Capibaribc e também pelo hábit o de banho de rio em chácaras da peri-
feria,Recifedesenvolveu uma extensa rede de povoados naquele vale, bastante afas-
tadoda cidade. Os engenhos"eram realmentente núcleos de população, pois conta-

2 l3

\·arn cerca de :ooa 200 moradores cada um" (Costa. 1981. 144). Como no Rio, muitos
desses arrabaldes tomaram-se local de residência pennanente já em meados do
século XIX. ..Com a abenura regular da- estradas. as poYoações. procuradas ape.
nas no fim do ano passaram a conslituir área de residência permanente. Disto
decorreu o loteamenro de grandes sítios que ainda existiam no Recife . Alguns des-
ses sítios - tais quais os antigos engenhos. que deram origem a tantos bairros
recifenses como o da Torre, ).Iadalena, Cordeiro. 1onteiro. Apipucos. etc.-, de-
pois de loteados . rão grandes eram. originaram outros bairros(. ..) o da Tamarineira,
o do Espinheiro. o de Sant':\na. o das Jaqueiras, o do Fundão, o dos PeLxinhos e o da
Capunga 'Costa. idem. 148' ." A maioria desses bairros situa-se no ei'<o do Capibaribe
e consolidou o setor que, por mais de um século, seria o de maior concentração de
camadas de alta renda da metrópole.
Para termos urna idéia do desenYolvimento dos arraba]dcs de Recife, basta
dizer que em 1855 já ha,ia seniço regular de ônibus (diligência de tração animal.
puxada por quatro cavalos, às Yezes com dois andares) para Apipucos, a 8 quilôme-
tros de distância do centro em linha reta! "Corria -se para o Monte iro, wianguinho,
Casa Fone. Apipucos, partindo do largo da matriz de Santo Antônio, em certa épo-
ca. ...) :\pós o espetáculo do ator João Caetano, em 1856, havia ônibus para os
arrabaldes (Serre, 1948, 89-90 ) ." Tal como no Rio, a freqüência no teatro mostra
uma população de hábitos u rbanos que, em m eados do séc u lo, t in ha residência
permanente fora da cidade, e não apenas casa de vera n eio ou p ara fim de semana.
Três gerações de sistemas de transporte se su cederam naquele eLxo,reforçan·
do a estrutura urbana he rdada do sistema an terior: o h idroviário, os ca minh os por
onde transita\·am os ônibus e as estradas de ferro. Os bond es p uxados po r burrossó
vieram em 1870 (Sette, 1948, 96-97). A Plan ta d a Cida d e do Recife, d e autoria do
engenheiro José Tibúrcio Pereira de faga lh ães, editada em 1870 e repro du zida por
Pereira da Costa em seu livro Arredores do Recife (Figur a 41), m ostra clara, embora
esquematicamente, o desenvolv imento u rba n o ao Lon go d o Capiba rib e.
Quando, em meados do sécul o XIX, chego u pio n eira m en te a est rada de ferro,
Recife já havia desenvolvido uma rede de arrabaldes com res id ências pe rm anenres
e hábitos de vida mundana fora da cida d e n ão apr esentados po r ne nhuma capital
brasileira, com exceção do Rio de Jan eiro. Aliás, pode-se te r urn a id éia d o desenvol-
vimen roda elite local pela pione ira in aug u ração, em 1850, d o m onum ent alTeatro
Santa Isabel, que manteve, por déca das, intensa ativid ad e art ís tica . Em 1867, uma
companhfa francesa anunciava no "Théâtre Sai n te Isa b elle (...) Orp /Jée au x J11 fers,
opéra -bouffe, musique d'Offenbach" (Set te , 1948, 198).
Pernambuco foi a segun da região b ras ileira a di spor d e transporte ferroviá-
rio (Sette, 1948,139), e em n enhu m a cid ad e bras ilefra as elites se utili zaram desse
transporte - as ''m axambo m bas" - mai s qu e em Reci fe. Ou m elhor, é possível
afirm ar que Recife foi a única cap ita l br as ileira em qu e as e lites utili zaram siste-
maticamente o tra n sporte fer roviár io co mo tran sport e urbano de passageiros.
Os "tre n s de ho rári o" co m eça ram a fun cionar na Estrada d e Ferro do Recife
ao São Fra n cisco em fevere iro de 1858. "A princípio ap en as se chega va ao Cabo. (...)

2 l4
.,

: 1870 - Jo,,• 1',búrcío Pcrc1r11dú Mul,lllhí1e&Pércir,1da c~,ta


1-'ont.r»

Figura
41-Cidade do Recife cm 1870

Hora
e meiade viagem( ...) parava-se em Afogados,Prazeres, Pontezinha, Ilha {Sette,
1948,140
)."
"Bem no centro do Largo de Ponte d'Uchoa, ainda está de pé a estação da
'maxambomba', que era um trenzinho urbano que correu de 1867 a 1915, sempre
vagarosoe muito prestativo. Sucedem-se, nos dois lados da avenida (Rui Barbosa,
queaqui acompanha de perto o Capibaribe), nobres casarões imperiais, palacetes
século e modernas residências em estilo funcional (Rocha, 1959, 89)."
deste
Coma estrada de ferro, "ir-se ao Cabo virou moda'', e o Grande Hotel do
Caboanunciava, aos "admiradore s do bom gosto, todas as comodidades precisas

2J5
parn bem passar-se o tempo naquela an1ável vila, urna bela e grande< H1,a c1,rn
bastantes sa las e quartos, para grandes família s, d ecentes e abundantc: 1g1rnr,
1
,

as, belo banho, ótimo jardim e uma banda de n1úsi ca militar. (... ) íJ vapor,IJ'''
domingos e dias santos, partirá desta cidade às 7 horas cm ponto(: vollar{i 11r,r,
da tnrcte. (...) Um ano após a inauguração do trem, visitam o Hec.,ifco<;i111p1
!rnd1,
.
res O. Pedro Il e Da. Teresa Cristi na , pela primeira vez. Em tr és ocw;ic,w,,c1&
imperantes vão ao Cabo" (Settc, 1948, 140-41 ) .
"Evidência do desenvolvimento dos arrabaldes com ess as co munír,ac;r)c
:Hí,.
modas, rápidas e freqüentes(. ..) eram os anúncios de excelentes casas pr6xirníl~ao
trem. (...)Também terrenos eram postos à venda frisando -se que em zonaondepas-
s:waou iria passar o trem( ... ), em arrabaldes como Poço da Panela e Monlciro,havia
teatros. (...) De Apipu cos, os trilho s estendera .m-se até a Encanação (...)" e daí"att
Caxangá, subúrbio que veio a gozar de um pre s tígio enorme. Vida social inten~a ,
banhos maravilhosos, água ferruginosa, hotéis.( ... ) E não pouco s. O Grande1/otelde
Caxangá, (...) o Hotel Francês( ...). Também a Jaqueira teve o seu hotel.( ...) Eoque
dizer do de Apipucos", que anunciava em francês: "On invite messieurs les élrang ers
à venir jusque là ouils rencontrcront bane tabJe et à prix convenable" (Sctte, 1948 ,
110-111). Na década de 1880 havia três ramais de trem com transporte intra-urbano
de passageiros partindo da Praça da Repúbli ca:Várzea, Li.nhaPrincipal (Dois lrmãos J
e Arraial (rama l de Aflitos, aberto em 1871) (Sette , idem, ibid., 112).
A implantação esparsa do Recife no eixo do Capibaribe manteve sua influéa·
cin até o século XX,de maneira que o crescimento urbano que ocorreu até meados
do presente sécu lo, em grande parte - como aconteceu na zona Sul do Río-,
limitou-se a preencher os vazios ex ist entes entre os vários núcleo s.
Esse processo - juntamente com o do Rio de Janeiro - nos leva a reDeúr
sobre a comp lexa questão do efeito dos transportes sob re a implantação urbana,
mais rarefeita ou mais compacta. Cabe recordar aqui as reflexões feitas na segun-
da metade da seção "O século XIX",neste capítulo, sobre a relação (suscitadapela
análise do Rio no séc ulo XIX) entre, de un1 lado , transportes e acessibilidadee, de
outro, relações sociais e a necessidade e as condições de transportes.
No espaço u rba n o do Recife, as n1argens do Capibaribe firmaram-se então
como uma região privilegiada, que con1binava vantagens de acessibilidadeaocen·
tro da cidade um atraente elemento do sítio natural. Evidentemente, ao longodo
Capibaribe, instalou-se a aristocracia recifense. Todos os cronistas e historiadores
destacam o fato de que, desde o sécu lo XVII, as n1argens desse rio foram a localiza·
ção preferida para a moradia - inicialm ente de descanso, depois permanente-da
aristocracia local. Um fato bastante destacado é o de que, com o declínio do rrans·
porle fluvial e o advento dos caminhos, as mansões que antes eram construídas
com frent e para o rio pas sam a sê-lo com frente para os caminhos. "Em Apipucos
(...) no Monteiro, en1 Caxangá, na Várzea, na Madalena, em Caldeireiro (...) seen·
ce ntram , ainda agora, algumas das boas residên c ias de feitio antigo do Recife,duas
ou três ainda com frente para o rio ( ... ), cmno a marcar o que foi a velha fronteira
urbana do Recife em face dos canavia is (Freyre, 1961, 74)."

2 16
O vale do Capibaribe (setor OesLe da metrópole) manteve-se até a década de
1960como a única área de grande concentração das camadas de ai La renda da área
metropolitana. A partir de então começou a ter essa posição ameaçada pelo setor
Sul-BoaViagem, que hoje o supera nesse particular. Note-se, aliás, que o setor Oeste
nãoescapou à arguta percepção de Tadeu Rocha. que, cm Roteiros do l?ecife, dedica
umcapítulo a um "Circuito no quadrante Oeste" (1959,73).
O hábito do banho salgado começou no Recife, na segunda meLade do século
passado.Cabral de Mcllo (citado em Souto Maior e Silva, 1992, 198) diz que, na se-
gundametade do século XTX."o banho de mar tornou-se crescentemente popular e
osanúncios de casas de arrabaldes mais próximos( ... ) passaram a incluir a menção,
até então silenciada, à conveniência dos banhos salgados". Tratava -se, entretanto,
de atividade esporádica e de reduzida parcela da população. Esse hábito só come-
çou realmente a se tornar rotina em meados do sécu lo XX.
Ao comrário do Rio de Janeiro e de Santos, as metrópoles nord estinas não
desenvolveram rapidamente o setor de concentração da alta renda ao long o da orla
oceânica. Em Salvador, esse seto r praticamente ainda não existe - neste final do
séculoXX-, de tão fraco que é. Em Recife e en1 Fortaleza, só a partir da década de
1970é que os setores oceânicos começaram a se desenvolver como região de con-
cemração das camadas de mais alta renda.
Pode-se atribuir essa resistência dos bairros aristocráticos interiores, fora da
orla marítima, em parte ao conservadorismo da aristocracia nordestina, em parte
pelofato de, no Recife, e especialmente em Salvador, não ter havido praias próxinias
ao centro e aos bairros mais centrais tão atraentes como as do Rio e, ainda, ao fato
de o mrismo - um poderoso indutor do desenvolvimento dos seto res oceânicos-
cerchegado a Fortaleza ou Recife só recentemente, enquanto cm Santos e no Rio ele
era intenso, nos hotéis de praia, já por volta da década de 1920.
Na década de 1970, quase um sécu lo depois do Rio de Jane iro, a orla oceânica
recifensecomeçou a se transfor mar em local de residência permanente das cama-
das de alta renda. l loje, a orla oceânica, de Boa Viagem a Jabontão, supera o setor
Oesteem termos de concentração dessas camadas, corno mostra o Quadro 26.
Os dados do Quadro 26 mostram que o setor Oeste abriga 4,37% do s domicí-
liosda área metropolitana e, no entanto, detém 25,74% daqueles cujos chefes ga-
nham vime sa lário s- mínimo s por mês ou mai s. Por outro lado , o seto r Sul é bem
maior,tanto em números absolutos como relativos; abriga 12,90% dos domicílios e
42,62%daqueJes cujos chefes percebem vinte salários-mínimos ou mais. Os dois
setores, somados, abrigam 17,26% dos domicílio s da área metropolitana, n1as
68,36%daqueles cujos chefes percebem vinte salários-mínimos ou mais. Se am-
pliarmos o setor Oeste, de maneira a incluir os bairros de Casa Amarela, Cordeiro,
Iputinga,Torrce Solcdade, ele passará a apresentar 8,73% dos domicílios (em vez de
4,37%)e 32,28% dos chefes que percebem vinte salários-mínimos ou mais. Mesmo
assim, não supera o setor Sul. Nessa alternativa, os setores Oeste e Sul, somados,
passariam a concentrar 2 1,63% dos domicílios da área metropolitana e 74,90% da-
queles cujos chefes percebem vinte sa lário s -mínimo s ou mais. Esses números ex-

217
Quadro 26-Área Metropo lita na do Recife
Concentração das camadas de alta renda (1991)

SETOROESTE

Bairros Domící lios

Total Com chefes ga nhando 20


salários - mínimos ou mais

1. Aflitos 897 278


2. Boa Vista 6 043 494
3. Casa Forte 1 130 317
4 Derby 646 184
5. Encruzilhada 2 486 257
6. Espinheiro 2 379 552
7. Graças 4 251 1 177
8. Jaqueira 231 76
9. Madalena 5 109 495
1O. Parnamirim 1 192 296
1L Poço 975 171
12. Rosarinho 631 99
13 Tamarinéia 2 793 270

Total 28 763 (4.37%) 4 666 (25.74% )

SETORSUL

Bairros e área metropolitana Dom icílios

Total Com chefes gan hando 20


salários-mínimos ou mais

1. Boa Viagem 24 092 5 552


2. Pina 6 437 202
2. Jaboatão de Guara rapes (* ) 54 459 1 970

Total 84 988 (12,90%) 7 724 (42,62%)

Á rea Metropolitana do Recife 658 940 18 125

• Trata-se apenas do disl rilo, e não do mu nicípio.


Fonte: J8GE e Prefeitura Muni cip al do Recife, Secretaria d e Planejamento Urbano e Ambienta l, DlP.

2 18
primemum alto g, nu de scgH:gaçao, embora cstu se monifcslr em duas rcgi õ<'sge -
raisda cidnclc'.
Apc~ar de esses dnclns sc•rc•m já suíiri cnlcs para rcvelM a superiornlacl e do
seio,, ui (novo) ~oh n• o OP~tr {lradicionnl ), foram !citai;, é1i11cl,1 pesquisa'- sobre a
ativid:1dc imobiliária rC'!c-rcntc:1venda de apartamentos novos voltados 11c1rn ,,..,rl,1s-
sc:ide mais alia renda . Na imprcn..,a locnl foram pcsqui..,aclo5, durante os .1110 ....de
J9~M e 19~)5, S 1'1:i n1111nrim,de VC' nd a de apar tanH'nlos rom 110mí111mo1r(•sdorr rn
tório'i,dosquab no mínimo um crn su ílc. Drssc 101al,5],Jt)% lo, ali1..tw1-st>no scwr
ui (inrlusiw lmbi rilwir.i). ,I1,7 1% no Oeste.:(11nvcrsflo m.lior al'imc1111dic ;1d.i). l' o
rcmanrscenl<' 11 0 rcstnnlc ela drcn mel ropo lilan a. Dr um totnl ele•102 amínc:im,(nfio
pagoc;) cic rcs1aura11 les, no ticiado s nn imprcns[ 1local, '1B,04% locnli;,avn-sc no setor
Sul.2'.L5:l% no Ors lC', 9,H0%cm Oli nelae os dcmai~ no rcslnntc: da área mel ropolita -
na.Apc1rns cm mímcro de agC-nciasban cár ias o sclor Oestesupera o Sul, como mos
trao Quadro 27.

Quadro27-Árca Metropo lit ana do Recife


Emluçiioda rede bancária segu nd o a localização

NÚMERODE AGÊNCIAS

Ano Centro Setor Oeste Setor Sul Olinda Outros Total


1973 91 5 2 1 15 114
1983 92 23 23 5 32 175
1993 85 53 44 10 61 253

: GuiuBanciirio.
Fonte
Centrodo Hccifcpela l .ci 7.11'
/.7/GI (Zona Comercial Cenlrnl, ZCl ). Lirnítcs: rua do 1\luniJ:, Gc1v:islo Pi1cs,
Ülp.Urna,da Fundiçfio, avenida Norte, da Aurora e ainda o Bairro cio Hcdíc, Sanw Antimio e !>:wh>Sl',

Essesdados são sur p reendentes, se lembrarm os qu e o setor Sul Lcm hoje bem
mais''ricos"que o Oeste e tem Lidono s último s anos um enorm e desenvolvimento
docomércio e prin cipalm ente dos serviços voltad os para a alia renda tanto local
comode turistas (centro s emp resariais, hot é is, restaurantes, lojas, etc.). A explica-
çãopara a diferença acima talvez esteja na densidade dC'mogrMicn. Sendo o setor
Sulmais den so que o Oeste, talvez ele apresente um menor número de agências
grandes (em termos de clcpó siLos), enquant o o Oeste teria um m aior nümc ro de
agências menores.
Jápelo censo de 1980 o setor Sul superava o Oeste cm relação a "Pessoas de
dezanos e mais percebendo vinte salário s-m ínim os ou mais". O prinwi ro, com-
preendendo os d is trilos de Boa Vista, Graças, Encruzilhada e Madal ena, tinha 3 602
pessoascom dez ano s e mais naquela situação, enquanto íloa Viagem e o muni cípio
deJaboatãoLinham 5 214. Embora os indicadore s seja m difer ent es no s doi s censos,

219

.....
ji

e as áreas te rritoriai s também, essas diferenças n ão ch egam a inv alidar aque la con-
clusão.
J\ su p erio rid ade do setor Sul em termos de concentração das camadas de alta
renda é clara. Não menos claro é o falo de Recife ser a única das melrópo les aqui
est u dadas que aprese nta duas áreas d e concentração de alta renda lão equ ilibradas.
Em São Paulo, por exemp lo, a seg unda maior á rea de concentração das camadas de
alta renda (zona Norte, na reg ião da Cantar e ira ) d elém 4,34% da população e ape-
nas 5,94% das pessoas co m renda familiar média mensal igual ou supe rior a trinta
sal.frios-mínimos (Pesquisa 0D , 1987) .

Notas
l. Referindo-se à rua do Ouvidor , aind a na primeira m etade do sécu lo XIX, diz Cruls (1965,
561): "Aí moravam José Cleme nt e Pereira, Luís José de Ca rva lh o e Melo, depois visconde da
Cachoeirn, Gonça lves Ledo . No so brado e m qu e, ocu p a nd o a loja, desde 1870, está
estabelec ida a casa América e China , no início do séc ulo morav a um português, Francisco
Satu rnino da Veiga, co m um colégio, onde de ve ter aprendido as primeiras letra s, seu filho,
Evaristo Ferreira da Veiga. Nesse mesmo sobrado, quando no se u and ar té rreo ficavaa
Conf eiraria Carce ller, nas depend ências superio res, m orava m as irm ãs Paracatus, mineiras
que se recomendavam pelo s se us deliciosos do ces secos".
Quanto às vizinh anças da Praça Tiradentes em meado s do sécu lo XIX, ass im se refere o mesmo
au tor (idem, 491 ):'t\ Jém de qu e aí, ou na s proximjdad es, existiam teatros, socie dad es Hterárias
ou recreativas, restaurantes e cafés bas tant e freqüent ado s, ge nte da me lh or tinha-o por zona
residencial ocu pan do os bons sobrados à sua volta"; a "gen te da melhor '' era, por exemplo,
José Bonifácio, residente na esquina da Praça Tirad e nte s com a ru a do Sacramento (hoje
avenida Passos), o "Dr. Dias da Cruz , m édico de grande ren om e, profe ssor da faculdade,( ...) o
marquê s deJund iaí, no so brado à esqu in a da ru a Visconde do Rio Branco,( ...) o padre Alencar
e seu filho José, o grand e romancista,( ...) o barão de Cotegipe". No Ca mpo de Santana morava
um dos maiores potenlados da época de dom João VI, o controvertido novo-rico português
visconde do Rio Seco (Prado , 1~)68,85). Ebel (1972, 40), em 1824, dividia a cidade em duas
partes. A primeira ia do mar à rua da Vala (atua l Uruguaiana ); a seg und a "começa na referida
rua no rumo oeste-sudoes te, atravessa ndo a Praça da Lampadosa ou o Largo do Teatro,o
Campo de Santa na ou da Ada m ação, e chega até a Estrada Rea l (veja as figuras 15 e 36). Nela
moram a nobreza e o seto r mai s pob re da popula ção: portugueses como brasileiros". Como
se vê, havia um a cert a mistura nessa seg und a met ade da cidade. O que deve ser destacado é
que nessa região havia nobreza e qu e ela existi a também do lado da primeira metade (a
parte mais cen tra l), como Lambé rn no lado oposto (São Cris tóvão) .
2. Dentre as várias casas que po ssuí a dona Carlota Joaquina , um a lo ca lizava-se em Botafogo
(de poi s palacete Abran tes), outra em Laranjeiras e oun·a em Mata-Porcos. Sobre esse povoado,
ass im se manifestou Pizarro: "O lugar era do s m a is a pra zíveis subúrbios da cidade, não só
por conter (...) propried ades nob res e ser habitado por suficiente povo, mas em razão da
estra da geral que o atravessa em direi cura ao Ca mpo de São Cr istóv ão, e por ele ao interior
do s sertões até as Cap itanias mais remot as de ste Estado. Ond e está a cape la dedicada ao
Espírito Santo, que no ano de 1746 se fundou, repaJ·te-se o ca minho para a Tijuca" (Pizarroe
Araújo, citados em Lamego, 1964, 189). Cru Is (op. cit. , 353) afirma: "Bairros como Mata-Porcos,

220
Pedregulhoe Hio Comprido , (...) talvez porque mais próximos do Pnço de São Cristóvão,
tiverama preferência de fidalgos palacegos e ele seus putrícios pccuniosos"; taland o de
Botafogo. prossegue esse autor (349): "Os ingleses à frente, com seu amor a natur eza, com
seugosto pela paisagem, pelos belos jardin s e as lindas ílorcs. puscrnm logo os olhos na
fímbrialoura das nossas praias e na encosta verdejante de noo;sas colinas( ...) Assim, a enseada
deBotafogo,que até ali não pnssava de um pouso de pcscnclorcs e ciganos, veio a ser um dos
pontos mais procurndos por eles que em pouco já chamavam dc'grecn leme' (caminho verde)
oCaminhoNovo (atual rua marqu ês de Abrantes) que até lá os contluzin. Alguns anos depois
(1825)esses ingleses inaugurnvam no mesmo bairro uma pista para corridas de cavalos".
BrasilGerson ( l96 5, '173) fala do "Catumbi cio duque ele Palmela".Segundo Coelho (1965,
115), esse duque era dom Pedro de Sousa Holstein, um requintado diplomata portugu ês,
educadona Inglaterra e que esteve no Rio em 1820. Escreveu ele cm carl,1à esposa: "Estou
alojadofora da cidade, a meio caminho da Quinta de El-ílei de São Crislóvão, com uma boa
chácaranum sítio nada feio, e cujo único inconveniente é o estar afastado do mar, e ter por
conseguinte,menos viração (...) Há sítios lindíssimos muito perto da cidade onde moram
muirns pessoas da socieda de e, por exemplo, o que chamam a Baía do Botafogo é sem
exageraçãocomparável aos mais belos sítios da Itália ou da Suíça".
3. Sobrea iníluência inglesa, assim se manifesta GiJberto Freyre (1977, J 84): "Um gosto bem
diversodo luso-brasileiro, o brit ânico, quanto ao lugar da residência burguesa. Entre os
portuguesese seus descendenLes brasileiros, a moda era a gente das cidades morar em
sobrados,um junto ao outro, sem árvores (...) apenas iam os grandes burgueses 'passar as
festas'em chácaras nos arredores das cidades. Os britânicos fizeram desses arredores ponto s
deresidência e não de simples passamento de festas. Em 1821, Maria Graham informa que
eraem casasde sítio que seus compatriotas do Reciferesidiam ou, pelo menos, passavam as
noites,manlendo na cidade, perto do porto, as'counti ng-houses', isto é, as casas comerciais.
Umou outro residia nos próprios sobrados comerciais. Esta foi se m dúvid a uma das
revoluções mais significativascausadas ou operadas pefos britânicos nos hábitos (...) do Brasil:
o deslocamento- que se verificou lentam ente-da s residências mais nobres elehabitante s
dascidades,de sobrados situado s no centro, para subúrbio s que pnssaram a ser elegantes
(...). Pois o exemp lo inglês foi imit ado por brasileiros e portugue ses". O aspecto da
transferênciada casa é que nos parece dfacutível.pelo menos o fato de essn transferência ter
sidosignificativa.A elite rural qu e morava fora da cidade no início do século XIXe que se
urbanizoupermanec eu em suas fazendas. morando fora da ciclc1de. Além deles, havia os que
exerciamatividades urbana s na cidade, mas moravam fora da cidade. "Os habitante s ricos
do Riode Janeiro manifestavam grande predileção por sítios e chácaras, às vezes bastante
afastadasda cidade. Regis trou -se no fim do século XVIII a construção de num erosas vivend as
campestres,gênero Colobandê nas cercanias de Niterói, onde mais tardl' muitos proprietários
urbanosse refugiaram durante a vigência das aposentadoria s (Prado, 1968, 136)."
4. Ebel(idem,l 24) declara ainda: "Passei um dia agrnd.1vel em casa do cõnsu l da Prússia, Herr
Theremien(sic), que mora numa Schakara (sic) junto à Glória, como chamam aqui as casas
de campo".Ainda segundo esse autor, o próprio casal imperial daria o exemplo (puxado,
aliás,ao casal real que o precedeu): "Tenho tido esses dias várias oportunidades de ver o
Imperadore a Imperatr iz, pois que o casal vem quase que diariamente à cidade de carro ou
acavalo".Note-se (veja a nota 2, acima) que o aristocnitico duque de Palmela, LLm
elosnobre s
maisfinosde Portugal e de toda a Europa da época (portanto acostumado a palacetes fora
da cidade) morando no Catumbi, "a meio caminho de São Cristóvão",já se considerava
morando"forada cidade". O urbano Grandjean de Montignymorava na Gávea, incrivelmente

22 1
lnngl' da ri<ladt'!Jean Baptiste Dehret (citado cm Bandeira e Andrade, 1965, 393) assimse
t.''\Prt'ssou: "Fssas habitações sflo a rcsiclência habitu al do s ricos nego ciante s brasileiros e
inglr,t'~ 011 tio-:chefrs das grandes administrações, cujas carruagens, fabricadas cm Londres,
JWtt om•m duas vezes por dia a distância que os separa da cidade". Note-se que tudo issose
1dt'rt' :1ptinwir,1metade do scculo XIX.

r, A manil't'Sta~·flode Gilberto Frerrc ( 1968, 190) sobre as chácaras de São Paulo nos dá a
imprt•ssão eleque elas eram habitad as por ''bichos-do-mato'', que ainda levavam um estilo
til' v1d,1M'llli urbano. Aliás,a cidade (o ntirl eo cent ral - paróquia da Sé-, mais as de Sama
Ffigt•niae Hrns)tinha uma popuk1~ ·ão de apenas 9 301 hab itantes em J 836 (Marcílio, 1974,
102). "Em Sfm Paulo, os sobrados ele residência (...) parece que nunca Liveramo prestígio
social das ch,karas. Nns chdcaras era onde os pauli sws mais abonados preferiam morar,
guardando 111l'!hm,nessa vida semi -urbana, o possíve l sabor ru raJ. Eram casas de um
pavi11 w11l0só, caiadas ele branco. rodeadas ele jabulicabciras, lim oeiros, laranjais. Seus
moradores, ,linda mais ariscos que os do centro da cidade, quase que só saíam para ir à
missal' para as festas da igreja. Os menos rctraidos, é possível que fossem também ao teatro,
ondl' sr representavam peças do ripo do 'Avarento', com atores mulatos. Quase todosos
moradores de ch,icaras saíam decerto de casa para ver, elas varandas dos sobrados, (...) as
prodssões que i\l:1wcobservou atraírem tant a gent e." ~tais adiante. acrescenta: ''Algumas
rhacaras, notou Saint Hilaire cm São Paulo, que dominavam não somente laranjeirase
jabuticabeiras, romo até cafezais. Quase uma s fazendas. Numa delas, a de um brigadeiro.a
mria lcgua da cidade, havia também muita macieira, pereira, cas tanheira. pessegueiro , além
de p:1rrcir.1I: e pasto para os animnis, como nas fnzcndas do interior. Na ele Joaquim Roberto
de Carralho, eslava-se como numa casa grande ele enge nh o··.
6. No local onde havia o palacete da duqu esa de Cadaval. ergue-se o palacete do viscondede
13.trrai\hmsa, mais carde embaixador na Icália (Cruls, 1965, 516 e 728). A casa do viscondede
Valderato, na Güvca, cstavn no lugar onde, j á recent ement e, o banqueiro Moreira Salles
construiu sua mansão (Costa, s.d., 5 1). "f: a conhecida 'ch,ícarn dns Mangueiras', antigamente
o mais majestoso e hoje. sem tlüvicla,aintla o mais estilizado palácio do Rio, no qual outrora
Paraná, ltaboraí, o embaixador Noel. com sua bela esposa, os ministros da Rússia e da
Inglaterra, etc. hnbitaram cm seqüência inint e rrupta (Koscrit z , 1972, 73)." O famoso palncete
Abrnntcs fora de donn Carlota Joaquina, depois "ocupado pelo diplomata e naturalista russo
George Langsddorff e o embaixador inglês Lord Strnngsnd , so b dom João V1e o viscondede
8a1bacena e em 1H42 adquirido do espólio de dom Pedro l pelo marquês de Abrantes"
(Grrson, s.d., l8). Morto o marqu ês, o palacete pas sa ria para o visconde de Silva,quese
casara com n viúva. Nessa obra, à p:igina 96, Gcrso n fala da suces ão dos ocupantes dos
palacetes da praia de Botafogo e tamb ém que nli "pouco res tava. na \'erdade, dos solaresdo
Segundo Reinado, mesmo porqu e, mais que eles, vinham predominando nela, desdeo
começo deste século pelo menos, os pnla cetes de linh as que não lembravam maisa
!limplkidadc do colonialporruguês ou a serena austN idad e do neocláss ico''. Como se percebe,
houvt>.,1indnnesle século, uma nova fast' dt• pal.tcctc~. ant es da chegada elos apartamentos,
111ostrando a grande imobilidade territorial da hurgucsi,1 carioca.
7. Veja tamht' lll estatísticas sobre .t mon nlidad c por febr e amarela em: RODRIGUES DE
AI.BUQUEHQUE, Bichat, A.lt "Evolução sec ular da mortnlid ad e de tuber culose no Distrito
Federal",in: llc•11ista
Bmsileim ril' ?itlll'rrnlnse, Hio de Janeiro, ano XX (144) nov./dcz. 1952.,
p.H0/9 1; citado por l3ODSTElN, HcginaCt'lc de/\ . "Práticas sanitárias e classes populares no
Riodt>Janeiro",in: /?e11 istn l?iod e Janeiro. Niterói, EDUFE v. l, n. 4 set./ dez 1986. p. 39.
s. Copacabanaj:i aparece arruada - com exceção de um pC'qucnolrccho na allu, a do l'o~lo r,,
naPlrmtrulac:idadedoRiorle/aneiro eseussubLírbios,deJ\nlônin José F,JUsloCarricla e C.iclano
AugustoHoclrigucs, de IU75. Um dC> s "urbanizador cs" de Copacabana loi Morc,rn Filho,
segundobarão de Ipanema , cujo pai, o primeiro barão, era "JO'>C ' Antonio Moreira, paulislíl,
antigocaixeiroe depois sócio e dono das grandes casm; de ícrragcn1i lcixcirn Alvc1;e Alves
Nogueira"(Gcrson, s.d., JG). Em outra obra, esse autor informa que cm IHSSJosé Martins
Barrosomelhorou o acesso a Copacaba na e vinte anos mais tarde c•m111 75, portanto - o
alemãoAlexandreWagnc.•r"cordearia (naquele s arcaes) um rnnjunto de•nws c•nrrc•o Túnel
Velhoe o Túnel Novo de hoje - mas sem nenhum sucesso". Em IHB2, o conde FiguC'ireclode
Magalhãescomprou .1li uma grande gleba, bem como Conrado Nicnwyor, que•comprou "um
bomloto(...) na rua Tonclcro~ (...) aliás a única que subsistira dos lotcame11los de Wagm•r".O
túnelcos bondes viernm em 1892, "vind o Floriano rn,111 bonde especial( ...) que fez ponto
finalnuma est:tçâo provisória (...) wnstruí<la na rua do Barroso (arunl Siqueira Campos),
esquinada que começava a ser a avenida Nossa Senhorn de Copacaba na". Vicrnm depois
duasempresasimobiliárias: a Companhia de Construções Civis,organizada por dois herdeiros
dcAlexandrcWngner. que eram OlloSimon eTeodoro Duvivier,e mais Paula Freiws cTorquato
1~1pnjós (...) e outros e ninda outra empresa, "agindo às vezes como um lodo e osvezes nào,
quese compunha do comendador Moreira Filho, do coro nel José Silva, Guimarã es Caipora e
Constan1eRamos (...). Assim cnlre 1892 e 1894 a companhia de Otlo Simon e Paula Freitas
(...) concluiua abertura dn avenida Nossa Senhora de Copacabana" (1965,tJ1'1-416). 1~provável
queo arruamento que aparece na mencionada planta de 1875 - e que não correspo nde
exatamenteàs ruas atua is- seja o de Alexandre Wagner.
9. Umdos entrevistados de Gilberto Velho respondeu: "NorLista, quando vem ao Hio, fica cm
CopacabanaC)Umorre. Se não conseguir morar aqui, enlouquece" (Velho, 73, 59).
10.Noedifíciopesquisado por Velho (idem, ibid. 30), os aparta mentos élprescntava m uma é.lrea
útilde39 metros quadrado s e a ocupação média era de 2,75 pessoas por unidade residencial.
11.Sobrea questão dos custos, valem as mesmas cons idernções feitas por I larvcy sobre renda
real(''real income''). Ver, na mesma obra, espec ialmente o capítulo 2, "Social process and
spatial form",p. 50.
12.Paraamplas informações sobre a existência de chácaras de propriedade da aristocracia
paulistananos m.:Usvariados locais da cidade, ver PORTO, 1992.
13.Algumasmansõe s foram constrnídas no espigão, na direção ele Vila Mariana; a direção do
Sumaréfoi parcialmente ocupada pela classe média alta. Entretanto, a maciça ocupação
dascamadas de mai s alta renda oco rreu, sem dúvida, nos jardins Europa e América e no
AJtode Pinheiros, sem mencionar os bairros do quadrante sudoeste que não ocuparam a
baixada-Cidade Jardim, Jardim Guedala, Morumbi, Jardim Leonor, etc.
14.Sãoas seguintes as data s de aprovação de alguns loteamentos orientados para as camadas
demaisalta renda, segundo projetos consultados na Prefeitura Municipal de Belo l lorizo ntc
em l975: em Pampulha, o loteamento Jardim Atlântico, cmprecndimcntO dn lmobifüfria
Mineira,foi aprovado cm J9 de out ubro de 1944;o do bairro Bandeirantes , cm 4 de novembro
de 1913,e do bairro São Luís, da empresa PampuJha S.A., em l6 de se tembro de 1943, todos
nagestãode Juscclino Kubilschek de Oliveira. O loteamento que se tornou o bairro de Cidade
Jardim,na zona Sul, rnuilo mais cenlra l que os anteriores, jü que é contíguo à avenida do
Contorno,foi aprovado em 20 de dezembro de 1950, na administração de Otacíl io Negrão
deLima.

223
15. Explicações sobre a inexistência de uma orla verticalizada cm Salvador baseadas cm
restrições da legislação urbanística munjcipal não convencem. Trata -se de processos socíai5
que se desenvolvem por muita s décadas e que determinam a legislação urbaníslica emvez
de serem determinados por ela. lmaginar que a legisla ção urbanística possa dobrar05
interesses de um poderosíssimo setor do mercado - o seto r imobiliário - é uma ilusão.
Num país de Estado fraco como o Brasil, especialmente na esfera municipal e mais ain<la
no 1ordes te , é ilusório imaginar que uma frágil lei muni cipal, defendida apenas por um
punhado de bem-intencionados funcionélrios municipai s, possa derrotar os interessesde
dois pod erosos grupos portanto tempo: os proprietário s da área (classes média alta e alta}
e o setor imobiliário. Se a legislação urbanística so brcvjve por décadas, su po stamente
co ntrariando esses poderosos interesses, é porque tai s intere sses n ão estão sendo fortemente
contrariados por ela e há que se entender por quê. De Balneário Camboriü a BoaViagem.as
orlas brasileiras (veja a figura 17) apresentam o me smo perfil de edifícios de apartamentos
que são manifestação do mais poderoso conglomerado de forças econômicas e políticas
que atuam no espaço urbano no Brasil: o capital imohiliário e as forças políticas locais
ligadas às classes de mais alta renda. No ílio, em Ipanema, a legis laç ão que fixava gabaritos
caiu com o tempo , derrubada pelos interesses da hotelaria. Mesmo em Salvador, para atender
a hotéis e s hopping cen ters, a legislação urbanística foi "adaptada". Por que o me smo não
ocorre naquele trecho da orla? É difícil aceitar que só em Salvador, onde o capital imobiliário
é poderosíssimo, num trecho compreendido entre a Barra eAmaralina, em nome da defesa
de um desenho urbano até agora não atingido, a frágil lei municipal contrarie, por vários
anos, os interesses do capita l imobiliário e dos proprietários de im6veis. A verdade é que
esses interesses, no trecho em questão, não são fortes como são em Balneário Camboriú,
Guarujá, Santos, Copacabana, Ipanema, Barra da Tijuca e Boa Viagem, porque o trecho em
questão da orla soteropo litana não apresenta o atrativo e uma configuração física
comparável às demais orlas brasileira s citadas, nem ao restante da orla de Salvador. Aliás,
essa é também a razão pela qual esse trecho da orla de Salvador não apresenta a clássica
avenida ao longo da orla que as demais cidad es e metrópoles litorâneas possuem. As vias
cos teira s que existem na orla de Salvador entre narra e PHuba (inclusive nesta ) são medíocres
se comparadas com as das demais cidades e metrópoles oceânicas , e isso não é devido à
legislação urbanística . A in existência dessa via precisa ser explicada, pois a inexistência de
uma orla ocupada por edifícios de apartamento de classes acima ela média não esrá
desvinculada dela. Essa via faz parte das orlas das demais metrópoles e de seu
desenvolvimento imobiliário. Não é por causa da legi slação urbanística que Salvador é a
única cidade ou metrópole brasileira que não apresenta tal via no Lrecho citado. Por outro
lado, o desenvolvimento imobiliário das orlas e sua ocupação também não estão
desvinculados da valorização e do movimento trazidos pelo turismo. Enquanto os primeiros
hotéis de turismo - na década de 1920 no Rio, Santos e Guarujá, e na década de 1950o
Grande Hotel no Recife-, foram construídos "na areia", em Salvador, na década de 1940,o
Hotel da Bahia foi construído longe das praias, em posição int erior, revelando, desde aquela
época, um desinteresse pela orla não manífestado antes em nenhuma metrópole litorânea
bra sileira. Na década de 1970, novo s grandes hotéis foram constr uíd os apenas com vista
para o mar, mas sem qualquer integração com as praia s e com a própria cidade (não existe
a necessária avenida beira-mar), como são seus equ ivale nte s em Rec ife e Fortaleza. A verdade
é que as burguesias sotero politana s - e co n seqüentemente o capita l imobiliário - têm
por aquele trecho da orla um interes se reduzido e por isso a Jei urbanística sobrevive, mesmo
sem ter atingido seus objetivos.

224
t t1lO9
ciP1
irrosresidenciais
osbª rnadaspopulares
dasea

O 1,raro de haver - como realmente


_
há - bairros populares em esmo 1avelas
r:
'das nat recrião
jnsen o·
de concentraçao
_
das camadas de alra renda nadae eaftera o pro-
de diferenciada produçao e consumo do espaço urbano nem O proces d
cesso
. ça-0 que por me10 . d e Ies f.az a b urgues1a
. brasileira so e
domu1a . _ · 'J>
A ocupação de locaJizaçoes sem pagar por elas-as chamadas "invasões"_ ::) :,
temeventualmente facilit ado às cla~ses po pul ares um pouco do usufruto de vama-
i _:, ~
gensdo privilegiado espaço produzido pela alta renda. Um pouco apenas, pois na ;;: !:
verdadehá um preço a ser pago_pel as vantagens_desse espaço, um preço que rais ~ •:.J
classesnão podem pa gar. Elas nao pod em usufn11ras vantagens do sistema viário, ?: :.
cadavezmais produzido para o automóvel, o comércio e os serviços.Usufruemprin- 't'I
dpalmentea proximidade ao sub empr ego.
Em que pese essa presença de uma pequena parcela das camadas mais
pobresno espaço dos mais ricos, o fato é que a grande maioria dessas camadas
ocupao "lado de lá" da cidad e e as periferias afastadas. O "longe" para elas é
produzidopor vários processos: pelas dificuldades de acesso, inclusiveeconô-
mico,a um siste ma de tran sportes satisfatório (a eles é oferecido, por exemplo.o
piorsistema de transportes de nossas metrópoles, que é o sistema ferroviário
suburbano);pelas crescentes distâncias, em tempo e em quilômetros, a que são
impelidassuas casas e, finalmente, pelo deslocamento dos centros de empr~goe
subempregoterc iários para a direção oposta à de seus bairros residenciais.E ver-
dadeque cada vez mais os cent ros tradicionais tornam-se populares, ou seja,
~ornam-se locais de emprego da s camadas de baixa renda. Entretanto, também é
igualmentecerto que os chamado s "novos centros" de nossas metrópoles, embo·
rao·nentados para as burguesias concentram grande parcela dos empregos das
ca,nd ,
ª as de baixa rend a.
225
Apresenta r uma his tória d os hairr os popul a r(.'~,anál<,~!<'t:, <JW; foi ;,r,r,
;~.enr,
n
da para os bainos m ais ricos, é tarefa qué\\C impo s~fvcl. c·riorm,· fJ ~bhrr.r,r. ~
sepa ra a produção d e histó ria , dos bairro s de alta renda rf,1 pmdtu ~~r, <)1: h ,t 1,r ~
dos bairro s populares. E impressionan te é o esforço e o ,·mpcnh<, d:1 V>Uf:1i:iri-. m
"fazer" a história dos bairros mais ricos, cm cho cantE· runtra «.tf: com r1 t<ira r.ei;;,.
gência e pouco-caso para com a h istória d os bairro s pobre·!-, .
o início dos anos 90, por exem plo, o Jornal do Brasil dm-,p(;ndr•u1w,,·M'l'l'lt
esforço para "criar as histórias" ele Ipan ema e Co pric.:al>ana (ve r edi</>f:<,dP.211, . •,h( .
de 1992, p. 6, e de 17 de abril de 19~)11
., p. 3 a f:i), tentando dc·~cohrír prín c1p:1Jm ....• ~
data defimdação (!) desses bairros . Como co m cmornr os cem <1n<>'id,: ( /1p-1u.~..ª
e os cem anos de Ipane m a, se não se sabe quando n asceram nem comfJ ~'~ rr.;w_~r;
"nascimento" ou a ''fundação" de um emp reendimento ímobiliárir, 1 ~ ccmnv,r, ~
forço feito para inventar a fundaç ão de um lo tea ment o; foi a ve;nda d/J prírr1tr:.
lote? foi a primeira viagem de bond e? Contrastando co m e~ciese!<.forçw,e~t~,;i f/,,
breza da histórias da Pavuna , Pe nh a, Bom Su cesso ot t M éicr, ou mesmr, d()~lti:r'!á,
rios e antológicos bairros de Vila Isabe l ("fund ada" c m 1H73, p elo mcno'. '.t~ .rr~.,
seu brasão ). de Madu reira, ou São Cris tóvão , bairro c;qu e ce rtament e já c.,,rr.p.t:r
ram cem anos; pelo menos su as es tações ferroviária c;já existiam cm l 1-S90 .
O que segue é um pouco do que co n seg uimo s re un ir so hr e <, proc~"' ~e
formação das regiões popula res de n ossas me t rópole s. Pa ra isso, muitn cem nüu..!a
ficção de Lima Barreto, pois a ciência e a c rô ni ca burgue sas n ão tomaram wnr.et ....
menta de tais regiões.
Um dos traços mar ca ntes do p rocesso de ur banizaç ão que se mamfe ~t<11Jíw
Brasil a panir do fina l do sécu lo XlX foi o ráp id o cresci mento da s camada s púiJL:,-*
res urbanas. "Terminado o período de patriarcali s mo rural (...) e iniciado o pen!l©
industrial das grandes usinas e da s fazendas e até estâncias exp loradas por füTi:a
comerciais das cidades, mai s do que pela s famílias , também na zona rnral ~f',ct!?,·
mos - senhor e escravo - qu e ou trora formavam uma só estrutura econêim1 ca'Jr.;
social. com pletando-se em alg um as de s u as n ecess id ades e em vários de seusmit·
resses, tornaram-se metade s anLagônicas ou, p elo m eno s, indif erentes umaar,dts-
tino da ouLra. Tamb ém no int e rior, as se nzala s foram dim in uindo; e engrossando,
população das palhoças, das ca l'uas o u do s mu ca mbo s: trab a lhad ores livres qu~
sem remédio, sem assistê n cia e se m o a m pa ro da s casas-g rand es (Freyre, 1968, !53l.'
Os fazendeiros e sen hor es d e engen h o q u e n ão se engajaram em ativida~
urbanas e se transferiram para as cidad es m a ior es ou se ruraliz aram totalmenre.~
nutrira.111a classe média urbana , inclu s ive em es tagn ada s e de cade n tes cidadõC:~
interior . A migração da elit e rural para as cidades e n grossou n ão somente as füwas
da classe média e da burguesia, ma s ta mb ém as d as ca mada s p opulares, já queet~
vinham co m seus "agregados''; em bora as se n z::ilas já estivessem d iminuindo con~·
nuamente , ainda era gra nd e a criadag e m "livre" nas casas d a ari s tocracia urbana
aré mesmo na classe média. Em p a rle, foram esses agregados que aumentaram-,
medida que abandonaram as casas de se u s pa trões , o u d elas foram despedidos-
as camadas populare s urbana s numa époc a e cm met rópo les onde os operáriosera.r

226
minoria. Essas ca m ada s era m lamb ém con s tituída s por suas congê n eres rura is ou da s
pequenas cidad es, que se tran sfe riram para as gran d es, onde não co nseguiam senão
osubemprego em at ivid ades do seto r terciário. Fina lm ent e, havia o operário indu stri-
al.predominant em ent e es tra n ge iro dura nte algumas d écadas. "Já no fim do Imp é rio.
levasde imigra nte s dir igcn1-se para as cidade s ou, muita s vezes, aba ndonam as dura s
condiçõesdo trabalho agríco la para ave nturar -se na s fábr icas( ...). Calcula -se que exis-
tiamno estado de São Pa ul o 50 mil ope rár io s em 1901, do s quai s os bra sileiros con sti-
tuemmeno s qu e 10% (. .. ). Pelo rece n sea mento do Rio de Janeiro de 1906, numa po-
pulaçãode 811 443 h a bitan tes, 118 770 são ope rá rios: a mai oria é de estrangeiro s,
principalm ent e portugue ses e es panhói s (Carone , 1973, 19 1)."
Essascamadas foram as que p a rti cip aram da produção de dois tip os de bair -
rosresidenci ais po pular es e m no ssas grandes cidade s: os ce n trais, comuns na se-
gundametad e d o séc ul o XIX, e os periféricos, que começaram a surgir no início do
séculoXX cm decorrênc ia da expulsão da s classes popular es do ce nlro . Até hoje a
periferiaé o lugar dos p o bre s, pois a par ce la do s qu e moram em área s centrai s, em
cortiçosou fave las ce ntr a is, ainda é pequ ena .
Naépoca da p assage m do séc ulo é qu e su rgiu o s ubúrbi o ou pe riferia pobre e
subequipad a, co m o forma de in se rção no es p aço urb ano típica das camada s de mai s
baixarenda. Hou ve algun s pro cess o s iniciai s des sa in serção, diferentes do subúr-
bio, que exporemo s rap id a m e n te; todos eles, por é m , os iniciais ou os sub seqüente s,
se concretizara m so b o co mando de uma força bá s ica: as camadas de baixa renda
ocupando parcelas do es paço urbano desprezada s pelas d e m ais alta renda, inclusi-
veaquelas ju nto às ferrovias , e não apenas o s mo rros e pântanos.
Até a prim eira metade do séc ulo XIX, os centro s de nossas cidades eram ape-
nascívicos e religio sos. A partir des s a época, especialmente a partir do final do sé-
culo,no Rio, e mai s tard e na s outras metrópol es, o centro come ço u a ser gradual-
mente const ituído por loja s, confeitarias, re sta urant es , h otéis, escritórios de
profissionais lib erais, crescente número de órgãos público s, etc. Aos pou cos esses
estabelecimento s exp ul saram do centro todo tipo de resid ência . Ao me smo tempo,
o centro pa ss ou a se r n ão só um lugar cada vez mais utili za do pela s ca mad as de
maisalta rend a, pa ra compras e serviços, mas também o princip al loca l de emprego
dessasclasses. Co m iss o, a prox imidade ao centro começou a se r muito imp orta nte
parasuas residências e o preço da terra no entorno do centro aumentou. Essa valo-
rizaçãodo entorno do ce ntro para fins residenciais também levou à expul são das
camadasde baixa re nda qu e ali moravam. No Rio, esse pro cesso já havia se comp le-
tadopor volta d a d écada d e 192 0 . Em São Paulo , um pou co m ais tarde, como ve re-
mosadiant e. Tal ex pu lsão , de que sã o exemplo s as obras públi cas, a abertura da
avenidaCentral no Rio e a legislação urbanístka , se fez tanto pelo Estado co m o pelo
mercado."Em 1889 a Po s tura Municipa l determinava qu e no perímetro ce ntr al da
cidade ficavam proibido s o estabe lecimento e a construção de cortiços, casinhas e
edificaçõesacan h ad as para a h abi taç ão da s classes m enos favore cidas (Pec hman e
Ribeiro, 1983, 61) ." Entretanto , também as classe s média e m es mo alta, qu e m ora-
vamno cen tro, foram d a li d esa lojada s pelo crescimento do comér cio e de ser viços .

227

Porém, essns classes passaram a oc upar as vizinhanças do ce ntro , e nquanto as ca-
nrndas populare s foram para as favelas, mu ca mbo s e subúrbio s.
i\ ocupaçfio de áreas centrai s por popul ação de baixa re nd a foi grande no Rio
de Janeiro no sóc ulo XlX. pois os transportes - inclu sive e especialmente o trem-
nindn não tinha m aberto a per i(eri a às classes popul ares (Rib eiro , s.d., 185-192 ) e,
como já exposto, ne ssa cidade - mais do qu e na s o utr as - d ese nvol veu- se o hábito
de as famílias urb anas morarem fora da cidad e. "No Rio de Janeiro, e parece que até
certo ponto nn capital da Bahia, cm Ouro Preto, em Olinda, as casas da gente pobre
foram co nstruídas a princíp io a o pé dos morros. Do s morro s, os ri co s, os jesuítas e os
frades se assenhorearam log o, para Jev an ta re 1n no s a lto s suas casas -grande s, suas
igrejas e seus conven tos." Ficou para os pobres a beira de "lo d aça is de sprezado s e até
conservados alguns, aum en tand o-se- lhe s às vezes as propri edades nocivas pela adi-
ção jornaleira de dejetos orgân icos. De modo que os casebres e mu ca mbo s foram se
levantando rasteiros, pelas partes baixas e imunda s das cidade s. Pelos mangues, pela
lama, pelos alagadiços. Só depois de aterrados esses m a n gues e esses alagadiços,
menos por algum esforç o sis temá tico do go verno qu e p e la s uc essão de casebres
construídos quase dentro da pr óp ria lama e à b eira do pr ó prio lixo, é que os ricos
foram descendo dos morros e assen hor e ando -s e também da parte baixa da cidade"
(Freyrc, 1968 , 181). Essas palavras de Gilberto Frey re d eve m se r en carada s com cau-
tela. Havia "partes baLxas", bem como morros ou fraldas d e morros ocupado s por
ricos e por pobres. De ntre as "part es baixa s" centrais ocupada s p elos mai s pobres,
destacam -se os pântanos do Rio e a lgum as prai as como a d a Lapa ou de Santa Luzia,
pois, conforme o próprio Freyre, as praias eram lugare s sujo s. Os morros e suas en-
costas, como já dissemos, se era m amplos, urbanizáv eis , acessíveis, cobertos de mata
e cortados por córregos- como o Alto da Boa Vista, a Tijuca , o Cosme Velho e Santa
Teresa-, foram, e em parte contin uam se ndo , ocupados pela s camadas de mais alta
renda, enquanto os morros gra nítico s, de difícil acesso, com pouca mata e água,
eram, e continuam sendo , desprezados e deixado s às camadas de menor renda .
Cabe destaca r as menções que Gilberto Frey re fez , em Sobrados e muc am bos,
sobre a distribuição espacia l das classes d e baixa renda na s cidades bra sileiras na
primeira metade do século XIX. À p ág ina 153, afirma: "Mas, enquanto as senzalas
diminuíam de tamanho, engrossava m as a ld e ia s de n1ucambo s e d e palho ças per-
to dos sobrados e das ch ácaras. Engrossava m , espa lha ndo-se p ela s zo nas mai s des-
prezadas da cidad e". Note-se que o pântano ou n t o pografi a acidentada não cons-
tituem , por si, uma "áre a desprezada". Isso d epe nde da lo ca li zaçã o. Inúmeros
pântano s foram aterrados e morros arrasados no Rio, dando origem a áreas alta-
m ente valorizadas. Em São Pau lo, urna área de topografia muito a cid entad a, como
o Pacaembu, ou um pântano, como o Jardim América, d eran1 origem a lot eamentos
para classes de alta renda. Prossegue Gilb erto Freyre à pá gina 195: "As prai as, nas
proximidades dos muros dos sobrad os do Rio de Janeiro , de Salvador, do Recife,
até os primeiros anos do séc ulo XIX, eram lug are s por onde n ão se podia passear,
muito m enos toma r banh o sa lgado. Lugar es onde se faziam despejos; onde se descar-
regavam os gordos barris transbordantes de excremento, o lixo e a porcaria das casas
e das rua s; onde se atiravam bichos e negros morto s. O banho salgado é cost ume re-

228
cente da fidalguia ou da burguesia brasileira, que, nos tempo s coloniai s e nos primei-
ros tempos da Indep endência, deu preferência ao banh o <lc rio. Praia queria dizer,
então, imundície ". E à p ág ina 234: "Essas choças de palha foram talvez a prime,ra
mucambaria de cidad e no Bra sil, levantada sobre pântano ou man gue : sobre solo des-
prezívele desfavorável à habitação ou convivência higiénica. Noutr as cho ça~ de pa-
lha, levantadas so bre outros p ântanos, foi-se acoitando a parte mai s miserável da po-
pulaçãolivre da cidade do Rio de Jan eiro: população que só depoi liiria para os morroc;".
Logoa seguir, na me s ma p ágina , observa o autor : ''Estabeleceram -se, então, comras-
tes violentos do esp aço dentro da área urbana e s uburbana : o sobrad o ou a chá cara.
grandee isolada, no alto , ou dominando espaços enormes; e as aldeia s de mu cam bos
e os corliços de palho ça emba ixo, um casebre por cima do outro. os morad ores tam-
bém, um por cima do outro, numa angústia anti-higiênica de espaço . Isto nas cidades
de altos e baixos, co mo o Rio de Janeiro e a capital da Bahia". Pena que Freyre silencie
justamente sobre o Recife , uma cidade que não tem altos e bajxos e que , por isso mes-
mo, representa um desafio para a compreensão do papel do sítio natur al na etapa
inicialda organização espacia l das classes sociais.
O segundo tipo de área residencial central das camada s de baixa renda - o
cortiço e as casas de cômodos - era comum no final do século XIX. especialmente
no Rio de Janeiro , pouco ante s de começar sua expulsão para os morros. "Azevedo
Pimentel, em 1884, enco ntrou no füo de Janeiro cortiços que nem os das cidades
européias mais congest ionadas. (... ) Cortiços dentro de sobrados já \·elhos. onde
mal se respirava, tantas eram as camadas de gente que formavam sua população
compacta, comprimida, angustiada. Uma latrina para dezena s de pessoas {Freyre.
1968,234)."
Em São Paulo, do final do século passado até as primeir as década s do sécu lo
XX,o cortiço é que apareceu como ''habitação problema" e como calfoi menciona-
do tanto por governantes como por estudiosos. Inúmera s foram as pe squi sas so bre
padrãode vida e condições de habitação das camadas de baixa renda realizad as na
cidadede São Paulo nas décadas de 1930 e 1940; em todas elas a preocupação fun-
damental era com o cortiço central. Morse (1970, 264) refere- se a um relatório
apresentado à Câmara Municipal de São Paulo em 1893, abordando o problem a
do cortiço. O número de março/abril de 1942 daR evistacloArquil'oAfuni dpalfoi
totalmente dedicado à habitação. Essa mesma re vista apresentou várias pesqui sas
sobre padrão de vida da classe operária , incluindo as condições de habit ação. A
revistaServiço Social, de novembro / dezembro de 1940 e janeiro / mar ço de 1941,
apresentou uma sér ie de artigos de Guiomar Urbina Telles intitulada "O Problema
do Cortiço" referentes a pe sq ui sas realizadas entre 1937 e 1940. Morse (idem, 296)
citaleis de 1897, 1900 e 1908 que procuravam melhorar as condições de habitação
emSão Paulo e, ainda, uma mensagem de 1925 ao Congresso Legislativo do Presi-
dente do Estado de São Paulo na qua l se afirmava: "A lei faculta à autoridade des-
pejaros ocupantes de ssas habitações imprópria s''. Entretanto, uma sondagem pre-
liminar realizada pelo padre Lebret em 194 7 revelou que, do total de habitações
precárias, apenas 12, 12% localizava-se naquela que poderia ser chamada de re-
giãocentral ou centro expandido da época - subdistr itos da Sé, Liberdade, Bela

229
d

\ ' 1~t.\, S:rnt.t Ffigr n ia. B1,íHe Co nsolnç f\o (Lcbrct, 195 1) . 1 Segundo essa investiga ção,
J ~.7'\, c\1,pnpul n,, IO tln <'.tpltnl mora va cm subnbita çõcs. Em 1947, pod e-se, sem grave
.ulm11it qt1l' :1 ,ht•a 111clropolitana de então co in cidia com o município de São
, •11 ,) ,
l\n1lo . l\ )dt• St' l' l\l :lo comparnr aqucln ciírn com a apr es entada pelo PUB - Plano
lh h,uw ;t irn H:1:-,ko- , sPgund o o qu<1l 35 % da s família s da Área Me tropolitana de
S,H) l\1nlo mnmvc1m cm sulrnbHa çoes.
A tlb11 ilmiç,10 Lcr ritorinl dessas subabitaçõe s so freu numero sas oscilações,
,-.,, i.rntln d1..•:ic-onlo co m n imporH1n c ia ai ribufda à proximidade ao centro pelas
r,1matlas <k mni s altn renda . Em J 947, ce rca d e 22,5% da s subabitaçõe s locali2a-
\ ,m1 ~ L' no ccn 110e cm suas imedia ções - numa á rea um pouco maior que a dos
~d:- :mbdi~tt itos menri onndo s no parágrafo an terior - enqu anto, em 1968, no cen-
tro e nas inwdiaçõcs d e cntao - uma área um pouco maior que a sua congênere
dt' 1~l,17 - loca liz:wam -sc apena s 11, 1% da s subabitações da área metropolit ana
(P lSl~ GEHs.cl.)...,! louve nesse período um violento proce sso de expulsão das ca-
m,1dn~ de h,tix,1 rN1Llado ce ntro e ele suas vizinha nças.
E prm•.n ·r l que a fnltn ele visão do probl ema habita cion al por parte dos pes-
qub ,Hlorc s hrn sileiro s nas década s de 1930 e J 940, e nfati zando o cortiço como a
forma ttpkn da subabitaçfto, decorre sse da influ ê ncia dos con1pêndios e estudiosos
:-11ncrknno~ e europe us, em cujos paí ses o cortiço central era o tipo clássico de
subnb itn çüo. Pelo menos em São Paulo, era então clara a influência do s professores
nmc1ic~rnosque lecionaram naqu eles anos na recém -fundada Escola Livre de Sacio·
login e Polít icn. 1
A pnrlir da década de 1960, as camadas de alta renda começaram a perder
seu imcrc ssc pelos centros de nos sas metrópoles e por suas vizinhanças imedia-
t as, como veremos adiante, e novamente abr iram espaço para subabitaçõe s no
ct::ntro. Registrou-se um grande aumento nos co rtiço s centrais das metrópol es,
embora clC's não representassem a maforia das s uas s ubabitaçõe s, devido , inclusi-
ve. ao grnn de cresc imento da s favelas . Referindo -s e apenas ao município de São
Paulo em 1980, revela uma pesqui sa da Prefeitura dessa capital: "O mape amento
do dados dispon íveis sobre cortiços indica maiores concentrações na área cen-
tral (...) ma s eles estão pre sentes em praticamente todas as regiõe s da cidade"
(Ilolni k ct ai., s.d., 92).
É imp ossível saber em que década os subúrbios - os bairros populare s pe-
rifér icos - superaram o centro como área re side nci al das camadas de mais baixa
renda. É ce rto, entr etanto , qu e, no Rio de Janeiro, foi por volta da passagem do
séc ulo (Ribeiro, s.d., idem). Sobre as outr as metrópole s não encontramos informa-
ções sati sfatórias. É provável , porém, que tenha sido por volta da década de 1910.
Sendo pequena s, era também p equena a parcela da população pobre morando no
ce ntro , e a expa nsão suburbana já se iniciava - praticamente sem antecessoras-
como a forma predominan te de in se rção espacia l da s cama da s populares. Voltare-
mos a essa questão ao tratarmos dos subúrbio s.
O Censo do Distrito Federal de J 906 apresenta uma divisão da cidade do Riode
Janeiro em zonas urbana e suburbana. Nas pág ina s 28 e 29, os autores do documento
tecem algumas conside raçõe s acerca de sua s preocupações e ressalvas quanto ao

230
rdatMsmo, imprecisão e até arbitrariedade dessa subdivisão. Mesmo assim, decidem
ílprcsentá-la. Emborn conscie nte s desse problema-e com ra-2<1 0 - descuidaram de 1

outro,ou seja, apresentaram a populaç ão da cidade de sde J 799,segundo os mesmos


períme trosdaszonas urb anas e suburbana s. Ora, o que era "subúrbio" do Hio cm J 906
- fossequal fosse n concepção - não poderia ter a mesma delimitação cm 1872 e
muitomenosem 1799. Assim, vamos usar ape nas a comparação cnlrc os censos de
1890c190Gparn avaliar o crescimento do subúrbio no Hiode Janeiro, aceitando, com
nsressalvas do próprio Censo, ns limitaçõe s desses dado s.
O Quadro28 mostra que, já em l 890, a pop11lação subu rbana era quase 18%
díltotal.Por mais imprecisos qu e sejam esses dado s, eles nos mosl ram que o pro-
cessode constituição do subtírbio - ou per iferia - como rorma ele inserção espa-
cial dascamadas de mais baixa renda teve início, no Rio de Janeiro, já no final do
séculoXIX . Essa conclusão é apoiada ainda pelo fato - já mostrado - de que os
serviçossuburbnnos da Linha Centro da então Estrada de Ferro Cemral do Brasil já
tinham,naquele ano, nada menos que doze estações além do Méier, ultrapassando
oslimites<lo Distrito Federal e at ingindo Queimado s, além de Nova Jguaçu.
lncidenLalmente, e fazendo aqui um peque no parêntese, esses dados nos mostram
que,já cm 1890, seria possível falar de uma Área Metropolitana do Riode Janeiro, a
qual,semcontar Niterói, ati ngia Queimado s e, apenas no eixo daquela ferrovia, ti-
nhamaisque 100 mil habitante s.

28- Crescimento do su búrbio no Rio de Janeiro


Quadro

População
Área % sobre total 1890 1906 Crescimento
1890 1906 (%)

Cidade 82,2 77,3 429 745 628 041 46, 1

Subúrbios
1 17,8 22,69 92 906 183 402 97,4

Total 100,0 100,0 522 651 811 443 55,3

Su
búrbiosli 120 779 246 300 103,9

fonlc:Repúblicados Estados Unidos do Urasil, Recenseamentodo Rio de JanciLO,Rio de Janeiro,Oficina de


EsrarisLica
, 1907.
Nota:Cidadee Subtírbio l: segundo o censo. Subúrbio U:segu ndo Lima Oarrclo, na descrição seguinte, que
incluiriaos distritos de Enge nho Novo e Mcycr, de 1906, e apenas Engenho Novo cm 1890.

Como já comentamo s ao abor dar o desenvolvimento das estações ferroviá-


riasdoRiode Janeiro, os subúrbio s atendidos por serviço ferroviário urbano já ha-
viamultrapassadoos limites do qu e viria a ser o Distrito FederaJ antes de 1890. A

23 1

fffl
,t ', l\'tl\ ' ,lt 1\H,~t,,1q\ll'. 111 p1 i 11w1 r:1 dt 't'illl:t de s tt' séc ul o, os subúrb ios fer,
\ltH' M'~H,"
, '\l.Hh'~ \L\ hnh, 1 dt' \, , ,, l~u, ,,·u, dr) Rtn til' lnnl'iro, es tnvn m pl e n a m en te forma.
1,,.-m,,s ,und,1 n,h, ,\l 11~,1 , .ttn ,\ 11t.1h.'r p.,1 tt' dn populuc ;, o d bai xa re nda do metró-
P'-k t~,,~t., d1 t't qm-. 1.'m W~lO. hw ,1 lp.u n,·tt (incluindo o qu e mais ta rde seria São
,.,,, \k ~ktit1 . Nth)puh~. t•tc .) 1 mh,1 apt'lh\ $ 17 56H habit, nt cs e ~O 573 em l920.Se
1...
,h't'll.H Hh '~ ,, khnnt,I \\ \\) dt· l im !1 Harret n (sttburbio 11, a c inrn). m es m o acrescen.
t.n \el, k ..'t ,\ ~'., tnt\ h,1h it,\1\tl':-,\ 1úv:1 lgu nss n dt' 1906, o s s ub ú rbi os ca riocas ainda
n,h' .1llt 1~.,,-.un. 1w~:-, 1 .11w. ,1 maior p :H tt>d I popu laçào c.lcbaixa renda da então Área
\ lt-tn,; ~lht,m., dt) füt) d1.•l,11wim . F~sa su pcrnç üo e.leve te r oco rrido po r volta de 1920.
\ d -~l·11,,1o qll t' ~l'µue, d' autnrin de 1,im n Barre Lo - um romancista real.
IH\H{l' l f'l Hl.1r , qul' mnwu l' llWIT{'llll l l Sttbtírbio -, pe lo rea lismo cinematográfi-
' \' l\ t' upr\"sent, l. 1usfilk. t n lo nRn citaçno. ~e Aluísio d e Azevedo, ao pretender
tt.'tl,\t,H O$ i L'bt(.'S do Rh_1,t.'~Cft"\T ll , cm l 89 l, O corti ço, Li m a Barreto , quinze anos
11,u~ t,mk: l--srllht'u o ~uburbio. E assi m o foz n o ro n rnncc Clara dos Anjo s:
t. s.uhurhio pt lpriamf•nte dito é uma lnngn faixa d e te rra que se a lon ga desde
\, 'R\1l'h,\ ou S:1o Ft,m dscn Xtt\'kr nté Sa p o p c mba [atual Deodoro! tendo para
l't '\ O J linha Ít'nl',l du Centra l. (...) H:i casns, cas inh (ls, case br es, barra cões, cho-
,,1$ l or wd .1 partl' ondt' se po ssa fin ca r quntro es tacas de pau e uni -las por
part,Je · dmidns,ts. fado o mat eria l pnrn essas co n str u ções serve: são latas de
fos.fnrns distendid._ts, telh t1s ve lh as , folh as de zi n co, e, para a s n erv uras das pa-
re-Jes de t,\ipa , o bambu , que não é b a rato.
H~i\t>rdadeiros a\denment os dessas barra cas, na s coroas do s morros, que as
.m ·or~. ~ os b,tmbuai s escondem aos o lh os d os tra n se unte s. Nelas, há quase
semprr urna bica parn quase todo s os habitante s e n enhuma es pécie de esgo-
to. Toda essa população pobrí ss im a vive so b a am eaça co n stant e da var íola e,
quando ela da por aq uelas bandas , é um verd ad eiro flage lo (. ..).
Por e e intrincado lnbirinto d e rua s e bibo cas é que vive uma gra nd e parte da
população da cidade, a cuja exis tên cia o gover n o fec ha os olho s, embora lhe
cobre auo2.es imp osto , empregados em obra s inút eis e s untuária s em outros
ponto do Rio de Janeiro.
;-.:emlhes facilirn a morte, isto é, o acesso aos ce mi té rio s lo ca is.
Para o de lnhaúma , pro cur ado por um a vas ta zo na suburbana, os caminhos
~ão maus, e pior do que isto: dão volta s inút eis que poderiam ser evitadas sem
grandes despesas (...).
~tais ou men os assim é o subúrbio, n a sua p o br eza e no aba n do no em que os
poderes público s o dei xam. Pelas prim e iras h ora s d a manh ã, d e toda s aquelas
bibocas, alforjas, trilh os, m orro s, t ravessas, gratas , ru as, sa i gen te que se enca-
minha para a estação mais próxima; algun s, morand o mai s longe, cm Inhaúm a,
em Caxambi. em Jaca repaguá, perdem o amor a alguns níqueis e tomam bon-
des que cheg am cheios às estações ... São ope rá rios, p equ eno s empr egados,

232
milit.ues de lod.1-. as patent es interiorec;das milícia e; prec;t,mte ,, funcicm1rw...
pllblico!Ie gente que, apec;ar de honesta, vive de pequenas transaçõc . de dia n
dia, cm que g,rnham penosamen te alguns m1l-rê1,; O subúrbio,; o r<.> fug,o do
inÍl'h7.CSl.. ).

Nessas horns as estações se en chem e os irem descem cheioc; Mais r h(·io,.


porclm, dt•srrm os que vêm do limite do Distrito mm o bitadn do Hlo l s,c,
sao os expressos. l lâ gentC'por toda parte . O inwr ior tios carros e:-itá apinh ado
e o, viios entre eles como que traz.em qu ase metade d;i l<> ta1,âode um dele.-.
~luirns vinjam rn m um pé num carro e outro nu imcdi,110, agarrando :,,ecom
ns mãos às grndcs elas plataform as. Out ros descem para a cidade \ entados n,1
escada ele nccs o para o interior do vagão: " algunc;mniç ousados, depcndur a
dos no corrimão de ferro, com um único pé no estribo do veículo.
Toda essa gent e que vai morar para as banda s de Maxambomba laLU al i\ova
Iguaçu! e adjacê ncias só é levad a a isso pela relativa modicidade do aluguel de
casa.Aqueln zo na não lhes oferece outra vantagem. Tudo é tão caro como no
suburbio propr iam ent e. Não há água, ou, ond e há, é ainda nos lugarejos do
Oistrito Federal. que o Governo Federal caridosamente supre em algumas hi-
ca:,,pliblicas; não há esgoto s; não há médicos; não há farmácias (...).
Oscórregos são em geral vales de lama pútrid a, qu e, quand o chegam as gran-
des chuvas, se transform am em torrent es, a carregar os mais nauseabund os
detritos (...).

fliode Janeiro, qu e tem, na fronte, na parte ant erior, um tão lindo diadema de
montanhas e árvores, não con segue fazê-lo coroa a cingi-lo todo em roda. A
parte posterior, como se vê, não chega a ser um n eobarbante, que prenda dig-
namente o diad ema qu e lhe cinge a testa olímpica.

Assim surgiu a periferia longínqua e subequipada nas metrópoles brasileiras


doséculoXX- como a área residencia l típica da classe dominada .
Como eram muito peno sos para as camada s de bnixa renda, os deslocamen-
tos foram cuidad osam ente priorizado s, e o mais important e deles era o desloca -
mentopara o trabnlho . Assim, a disputa por localizações próximas aos locais de tra-
balhodeterminou diferent es tjpo s ele regiões residenciais de baixn renda lveja os
capíL ulos 5 e 6}.
Uma grande par ce la das camada s popular es trabalha no setor terciário que,
nocentro da cidade, tem a maior con cent ração espacial de seus emprego , embo ra
orecíproca não seja verdadeira : a maior part e dos empregos do terciário não se en-
contra no centro históric o. Esse centr o é tamb ém a maior concentração de emp re-
gosdas classes de mai s alta renda, em bom , tamb ém aqui, a recíproca não seja ver-
dadeira. A descentrali zação do s empr egos terciários da alta renda é um processo
que vem ocorrendo simu ltaneamente com a perda de interesse dessa classe pela
imediataproximidade ao centro. Vimos que, na primeira metade do século, as ca-

233
m, td:1, dt' b, 1ixn 1 ' nd n fora m a lijada s d o ce nl ro e d e se u e nt o rn o p e las cam adas de
m.,is nltn rL•ncln. D('nl rc "" 1cg iõl's per ií ~rica~ que e nt ão sur giram , fornm mai s dis-
p\ll,H\.11{ pnr l'M,a:-.ca m nd as ns m nis pr óx ima s~~ zo n as indu s tri a is, qu e constituíam
,l oulta g1.rndc-l·onrcnlra<;ilo ele seus e mp regos.
n CL'nt ro pt incipa l tem a V,\111'agcm d <' p o d e r co n ce nt ra r tan to os empregos
como os locais th• com prns e ~crviço~, ,tlé m d e np rcsc nl a r a p os içã o d e accss ibilída-
dc otinw à m,1ior pai te ela ciclndt'. Per d C'ndo a p rox imid n d c an ccn t ro, as camadas
populart·~ dbpu t.1m a proxi m icfa cle lls zo n as indu s t ria is e, n essa di spu ta, novamen-
1c h,\ venct'dor L'S <'det rota d os. Os prim c h o s são a q u c lcs q u e c o n seg u em morar lon-
ge dn cc11L1 o p 1inci p nl, po 1ém p er to d as zonas ind u s t ri ais : são tra balh adores com
rmpn ~go íormnl na inchístrin e qu e co nstitu e m um a cla sse m é di a baixa qu e vai ocu-
pai os bair rns reside nciais p róxi m os às zo n as indu s t ri a is. Fin a lm e nte, há os derrota-
dos, ,tqueles qt 1t' s~10obr igados a so br ev ive r n as in ú m eras fo rm as d e s ub empr ego e
emprego mformnl que se desenv olv e m parti c ul a nn c nt c no se to r te rci ário. Eles ocu-
pam a rcg1ao mais desva nt ajosa da cid a d e, long e cio e mpr eg o indu st ria l e longeda
prim ipnl conçcnlração de emp regos for m a is e inf o rmai s d o te rci ário - o centro
principal-, apcsnr ele>mui tos trabalhar em a li. Nesse pro cesso íormar a m-sc em
no, os metrópoles mais inclu str ializa clas as gra n d es reg iões p o br es e com poucas
indústrias, como em Novn Iguaç u, na Área M c tro p o lilana do Rio , a zon a Leste de
~fio Pnulo e n zona No rte de Belo Ho rizo nt e. A. lin earid ade da á rea urb an izada de
Porto 1\lcgrc - n verdade ira Po rt o Aleg re - íez co m qu e e la se liv ra ss e d esse padrão.
O Qundro 29 mostra que, e m 1970, na zo n a Leste pa uli s ta n a, a p a rticipa ção das ca-
madas de mais baixa re nd a era maior qu e n o AB C D.

Quadro 29-Área metropo lita n a d e São Paulo: c ompo s ição d as p o pula çõe s das zo-
nas leste e ABCD segundo fai xas d e renda (1970)

Zonas Pessoascom 1O anos e mais, com rendimentos (%)

Até De Cr$501,00 Mais que Sem de-


Cr$500,00 a Cr$2 000,00 Cr$2 000,00 elaração

Leste 77, l 18,3 1,0 3,7

ABCD 69,6 24,2 2,0 4,3

Região Metropolitana 70,9 21 ,9 3,0 4,2

Notn'i:A í',tJIW Lci,tc <Jintegrado pelos subdblritos do Brás, Bclcnzin ho, M uóca . Alco dti Moóc n,Tnlttapé,Vil,1
l·ornwsn, Penha d<·F1.111ça, Cangaíha eVila Mati lde; pclus dist 1i tos d e Silo Miguel Pa ulista, ltnqu ern, Ermelino
Ma1a1a;,.zr,e: (;uaicJnilzc-.,e pelos município'i de re i raz de Vasco n ce los, Poú, Suza no, ltnqu nquccclubae
Mogi tl:is C1uzci,.
A mna Sudci,tc c-o,nprcende os subdistritos da Aclimação, Cam b uci, Ip im ngu , Vila Prud e n te e Saúde e os
Município, cio Al3C,f),Mauá, Bibcfrãu Pil es e Riu Grande cfo Serra.

234
,\10nnSudoc,1ccomp 1ccndc uss11udis11i1nsde Bcln Vi-.10,Bulm1lfi , Cc:1q11cirt1César, Consoloç,tu, lh1rnpucm,
Jordim1\1m\I it'a, Ja1c.liml'nulis 1.1,Pe rdizes, Pinheiros, ~anto /\mn10, <;ar11aCccili.t,Viln Moclalc11,1
lndianôpolis.
e VilaMormnn.
CrSS00,00IcprcscnInvarn, cm 1!)70, 2,67 '>alári os- mí11imos no Hio e Sã<>l\ 11,ln,2,93 cm PorlU AJcRr<:e 2,82
cmBelol lorizontc

fon1c
· lllGE,Censo Dcmngr:ífico de 1970, prnccss~dos parn o SEHFll1\lJ/BNIJ/On :

Comoj,1vimos, ri parlir da década de 1970 um novo processo passou a afe-


tam organiznç:io territorial da s classes soc iai s nt1s árens metropolitana s hrasilei-
ras:as chamadas º invasões". O que há de novo nes se proce sso é o fato de q11cuma
parecia das camadas de mais baixa renda não precisa mais pagar pclô
signiílcntiva
terra.Talpossibilidade qua se não existia nas cjdacles do sul ante s dessa década (já
exislinno Rio, com as favelas, e no Recife, com os mucambo s). Essa parcela viu-se
dianrede opções que antes não tinha. Entre invadir uma região pobre - que é
longedos subempr egos - e invadir uma mais próxima a eles, evidentemente a
última opção é pref eríve l. Na região mais dca estão as grandes fonles de
subemp rego da s cam ada s mai s pobres; note-se que não se trata apena s do
subempregomasculino , do chefe de família. É também o da s mulhere s (domést i-
cas,diaristase balconistas sem carteira assinada) e das crianças (empacotadores
nossupermercados, ílanelinlrns, ambulantes). Entre vender limõe s ou flores, pe -
diresmolaou assalLar motori stas em São Paulo, nas avenidas Brasil ou Rebouça s,
e fazero mesmo na Aricanduva, na zona Leste, a primeira alternativa é preferida.
AzonaSulsurge, assim, como a nova região de concentração de favelas da Área
Metropolitanade São Paulo, por ser a mais próxima do quadrante sudoeste, onde
seconcentramas camadas de mais alta renda.

Notas
1.LEBHE1~ llev. P.J. L., Sondag em preliminar a um estudo sobre a ltnbiraçtlo em São Paulo.
Nessetrabalho, ns habitaçõe s em cada um dos 43 subdistritos dn capita l foram assim
enquadradas nas seg uintes categorias:
0-subcaseb re: habita ção m iseráve l, insatisfalória sob todos os aspectos.
!-caseb re: habitação miserável, que pode ter alguns elementos satisfatórios.
ll-semicasebre: habita ção insaUsfotória que não pode ser mel11oracfa.
lll-habitação insalisfotória, ma s pa ssível de melhoria.
IV- habitação satisfatór ia.
V- habitaçãoconfornível.
VI-habitação luxuosa ou muito confortável.
Otrabalhoapresenta a distribuiç ão percentual das habitaçõe s de cada subdistrito segundo
essasseis classes. Aplicando as porcentagens às populHções de cada subdistrito em 1950
(trêsanosapós a sondagem), foi possível estimar que, naquela época, 37,72%da populnção
dacapital ocupava habitações dos tipos O, 1 e TI,grupos que devem ser classificados como
suhabitações. Essepercentua l correspondia, em l95O, a 829 202 pessoas.

235
2. Em 1968, segund o o Plano Urbaní sti co füísico (PMSP - GP.P, s. d ., 236 e 377). 35% d as famílias
da :irea metropoli t:mn dessa época rn oravam em s u bab it ações (favelas, cortiços e casas
prcc.irins de pcrifcrin). Co nsidernndo qu e cm 194-7 a c idade d e Sã o l )au lo praticamente
coincidia com a área metropolirnna de cnrno, co nclu i-se qu e as co nd ições habi-rac ionais nessa
,trea pratica mente não se alternrnm entre 1947 e 1968. No tocant e à di s tri buição territorial
dessa s subahiraçôes, entretanto, houve u ma significativa mudan ça. Em 1947, as imediatas
vizinhanç.ls do centro -os subdi stritos mencio nados - abr igavam 22,54% d as subabitações.
Em 1968, as unidades territoriai s (]Ue o PUB denomina Centro e Brás -Moóca (as quais
perfaziam uma área um pouco maio r que os subdi s tritos) abrigavam a p en as 11,l % das
pessoas ocupa ndo subnbitaçõ es em toda a área metropolitana, se ad m it irmos - corno é
0

rnzoável admi tir - que naqu elas duas unidades o cort iço era pratica m ente o ún ico tipo de
subabitação . Com efeito,segu ndo ess a font e, havia 2 464 m il pessoas o cupando sub abitações,
se for admiti do também que aqueles 35% das famíl ias co r re sponde m a 35% da popu lação.
Desse total, os cortiços das unidad es Centro e Brás-Moóca abr igavam 272 742 pessoas, ou
seja. 11,l %. Mesmo considerando o subjetiv ismo que envolve ta is pe squi sas, e ainda o caráter
de "sondagem·· da pesquisa de 1947, é forçoso recon h ecer que nas duas d éca d as consideradas
houve um violento processo de expulsão das cama d as de ba ixa ren d a d as áreas mais centrais
da metrópole paulistana.
3. Vejam-se por exemplo as pesquisas de Horace B. Dav is e de Sa m ue l H. Lowr ie, p ublicadas
na Reuisra do Arquivo Municipal, ano II, v. Xlll , J953; an o rv, v. XLIII , d e 1938; ano V, v. LI,
1938. \ 'eja-se ainda a pesquisa de Hermann (1944, 626-640) sob re a a pli cação d a teor ia de
Burgess a São Paulo.
4. Lima Barreto começou a escreve r Clara dos Anjos m uito antes de sua p ub licação em 1921.A
de scrição que citamos deve referir-se ao subúrb io na pr ime i ra d écada do séc ul o XX.

236
capítulo 10

oscentros principais

Toda aglo1neração socioespacial humana_ da tab · d'


,.. d . a m tgena à metrópole
contemporanea, pas san o p elas cidades medievais e as pré-col b'
. . " _ . om ianas-desen-
volveum, e apenas um , centro prrncipal. Nao existe realidadeurba
. bo' I'1co, d em
tro;comerei·a1, slln . formaçoes
- de decisão,
. etc.(Lefebvrenasemumcen-
1972 206 .
.
dOpor Mart1ns, 1982 , 170) .
11 ' ' 'Clta-

. O ad!etívo "principal" merece aten ção. Para analisá-lo, vamosteceralgumas


cons1de raçoes sobre a natureza do centro e sobre o conceito de centro urbano.

A natureza do centro principal


Inúmeros são os equívocos cometidos a respeito da natureza e concepçãodo
centro urbano, ou qualquer centro. O esclarecimento desses equívocossuscita a
questãoda dialética da produção do espaço e ajuda , entre outras coisas, a entender
a distorcida idéia de um espaço preexistente, ou do espaço como um tabuleiroiner-
te, sobre o qual se distribuem os proc essos sociais. Algumascolocaçõespodem ilus-
trara questão.
É curioso como nes se aspecto nossa linguagem se apresenta extremame~te
limitada. Por exemplo, ambas as afirmações seguintes são fal~asou p~lo m~nos_1.~-
completas: "Apartir do centro irradi a-se o sistema viário principal da cid~de· Ou. O
sistema viário principal da cidade converge para o centro". Tais afir1:1aç~es ?ressu-
~ . . . d 51·5·t ma viáno pnnc1pal(na
poema pree.xistência ou do centro (na pnme1ra), ou o e ' .
segunda). A verdade se en contra em amba s as afirmaçoes - co113·unta e smmltanea-
,
. lo· "O centro e centro
mente, mas não existe uma 1naneira de dizê-lo. Outro exemp . · . _ "·
Porque ah. estão o grande comé rcio e as sedes das gran . d ·nst1
es 1
trnçoes ' nesse caso,
. as sedes
o gr d . . elação ao centro.0 u. e
an e comércio e as instituições preexistem em r

237

d as grande instit u içõe s e do grand e com é rc io a li se lo c ali za m por qu e ali é o ccn.
t ro - ago ra a p rece d ê ncia é d o ce ntro .
O prim e i10 equ ívoco di a léti co d ess a s c oloc açõ e s é qu e to d as c liminnm e con-
ge lam um p ro cess o que pro duz ao m es m o te mpo d oi s res ul ta d os : o ce nt ro e o não-
cc nt ro. , cr ia co mo pr e te nd er q ue um la do d a m oe d a pr ece d a o u seja decorrência
dn outro : que o se nhor prece da o esc ra vo ou se ja a ca usa d e le (ou vice- versa). Além
d isso, n e nhum a dre a é ou não é ce ntro; com o fruto de um pr ocesso - movim ento-
to, 11a-s1. ce ntro. No socia l. nad a é; tud o to rna -se o u d e ixa d e ser. Ne nhum a área é
1

(o u não é ) ce ntro ; to rn a -se ou de ixa de se r ce ntro . A ge o m e tri a ilu s tra uma parte da
ques t ão. ão h á ce ntro sem cí rculo n em cí rc ulo sem ce nt ro . Um ponto dado nãoé,
cm si e a pr io ri , centro d e um cí rculo, nem vé rti ce de um tri â ngul o, a não ser que
ha ja (e so m en te quando h ouv e r) o cír c ulo ou o triân gulo . O ce ntro de um círculo
n ão pree ·iste em relaçã o a e le ; e nquanto ponto s im, ma s enquanto centro não. Um
p o nt o omente roma-se ce ntro se e quando houv e r o cír culo. Uma capela pode
p re existir em re lação ao ce ntro de uma cidade, ma s ela soment e se torn ará centro
ou p ar t e do centro se e quando sur gir uma cidade ou povoado em torn o dela que
faça del a seu centro , isto é, se vie r a existir algo do que e la se torn e centro. Muitas
capela s foram co nstruídas no Bras il colonial e não se tornaram centro de nada. O
centro de um povo ado ou cidade não é um ponto do espaço euclidiano. As cidades
novas lambém ilu st ra m a questão. Não se pode dizer que o centro de Brasília, por
ex emplo , exis tia ante s de Bra sília, só por ter sido ele definido abstratam ente num
m apa ou po nt o do te rritório antes da constitu iç ão da cidade. Pod e -s e dizer que ali,
naquele po nt o do território, espera-se que um dia, caso rea lmen te a cidade se de-
se n vol va confor m e pr evisto, desenvolva-se o seu c entro. Isso, entretanto, ocorrerá
somente se e q uand o a cidade efetivamente vier a existir e, caso isso ocorra , o centro
n ão será mais u m po n to do mapa ou do t erritório; será un1 conjunto vivo de institui-
ções so ciais e de cru zamento de fluxos de uma cidade real.
A aglo m eraçã o, como condição ne ces s ária à cooperação, é uma força produ-
t iva (Marx, s.d. , livro 1, v. l, 37 1, Gottdiener , 19 85, 268; 1987, 405). A determin ação
última que leva os hom ens a se organizar em aglomerações é a mesma qu e os levaa
de sen volver qua lqu er força produtiva: é seu impulso inato no sentido de poupar o
de sgas te físico e m e ntal e nvolvido no trabalho . No caso das aglomeraçõe s urbanas,
há um de sgas t e n ecess ári o, que é aquele envolvido nos deslocamento s espaciais
no s qua is os homen s são obri gado s a incorr e r para trabalhar, para produ zir e repro·
<luzi r sua vida m aterial. A cooperaç ão, como força produtiva, só se des envolve com
a ag lomeraçã o, do s hom ens e do s meio s d e traba lho. Toda aglomeração, desenvolvi-
da precisa m e nt e para ger a r a aproxima çã o, ge ra afa s ta1nento. A aglom eração em
um ú n ico p on to é impo ss íve l; logo, a lguém se rá obrigado a se afastar. Quem? Cada
for m ação soci al dese nvol ve um m e cani smo que regula es s a quest ão. Na cidade
h ispano- am eri ca na era o Estado, atravé s da s Leye s de las lndias. Na cidad e capitalis-
ta con te mp o râ nea é o m ercado. D es envo lve -s e então uma aglomeraç ão territorial
organi za da , a qu e Casle lls (1978 , 141) chama de ''estruturada " porque não se organi-
za a o acaso ou a lea toriamente, mas segundo unia lógica. O processo contradit ório

23 8

t7
entrea necessidade de aglomerar e ao mesmo lcrnpo de o;enfoc;tarde um pon10 no
qunlLollosgostariam de se localizar faz surgir o centro dn aglorncrnçao, nesse•pon10
Admitamos uma aglomeração de cerca de 1rima ou quarenta casns, nn qual
nãorenha surgido ainda nenhuma instituição coletiva ou comunitária: nem gm·cr-
no, nem organização religiosa. Se todas as famílias forem tulalmcntc autônnmas,
não consLituírcm uma aglomeração organizada, nenhuma lógica dC'wní prc>c;idtra
aglomeração- nn verdade ela não teria razão de ser. Não há disputa pelas local11:a-
ções,n não ser por cvcnluais racilidades n.ilurai s (acesso it ,íg11é1
pc>1exemplo, caso
elaseja disponível apenas e m alguns locai s). A p<1rtircio momento em que se dc-c;en
volvemrelações soc iais enlre essas famílias e pa ssa él haver ativicladrs e interesses
cm comum, surgem a cooperação e a interdependência entre cl;1s.A partir do mo-
mento cm que elns ~e organizam para produzir e consumir, passa a haver nccesc;i-
dadcde instituições comuns. Surgem, então, os deslocamentos espaciais regulares
e socinlmente determinados e disputas ocorrem por localizações cm runção do do-
mínio ou controle cio tempo e energia gastos nos deslocamentos cspac1ms. Surge
umponto que oi imiza os deslocamentos soc ialmente cond1cionaclosda comunida-
de como um lodo - um centro. O centro surge então a partir da necess1dnde de
afastamentos indesejados ma s obrigatórios. Ele, como todas as ''local:zações '' da
aglomeração,surge em função de uma disputa: a disputa pelo controle (não nece!>-
sariamentc minimização) do tempo e energia gastos nos deslocamentos humanos.
Só nos casos mais simples e elementares de aglomeração essa dispura se dá pela
minimização dos tempo s de de slocamento./\. medida que a aglomeração e a socie-
dade se tornam complexas, é possível que frunílias, grupos ou classes optem por
aumentar os tempos de deslocamento - as classes que podem optar se deslocam
para a periferia, por exemplo -, mas isso ocorre trocando-se aumento de tempo
de deslocamento por alguma vantagem (um lote grande, por exemplo). O que as
classessociais procurnm - e do que a classe dominanlc não abre a mão - é a
possibilidade de conlro le do tempo de deslocamento, possibilidade de opção.
Admitamos que em nossa hipotética aglomeração socialmenLe organizada
de trinta ou quarenta famílias, toda s as pessoas possuam os mesmos recursos, a
mesmarenda e usufruam as mesmas condições de deslocamento. Vamos .supor que
todosse desloquem a pé. O cenlro surgirá à medida que se desenvolver a comuni-
dadeorganizada e, com isso, um ponto do território que minimiza o somatório dos
deslocamentos do conjunto dos membros da aglomeração . l'nl ponto sena aquele
no qual toda a comunidade se reuniria no menor lempo possível.
O desenvolvimento da vida social fnz com que surjam atividades que exi-
gemo clcslocamcn10 de muitos, parn o mesmo ponto, às vezes ao mesmo tempo
(governo, religião, comércio). Para o atendimento ótimo da maioria do s mem-
brosda comunidade (da totalidade, no c.iso do nosso exemplo hipot ético ). tais
atividades devem localizar-se no ponto que minimiza o somatório de todos os
deslocamentos. O(s) lerreno(s) localizado(s) nesse ponto passa(m ) a ter excepci-
onal valor de uso. Ao mesmo tempo e pelo mesmo processo dinlécico, a acessibi-
lidadea esse ponto passa a ser dispurada pelos membros da comunidade, o que

239
1e força o vnlnr de 11~ 0 cioccnlro e, conco mit a nt e me nt e, dos pon tos qu e lhe são mais
:l Cl!SSÍV l'i S.
/\ Fig11rn,1~ mostra simpl ificadnmc nt c uma ag lo m eração de n famílias. Vcja-
mo i, ini ·ialme nlc to dos os dc·~locn m c lll os a parLir do po n to Pl, p ara to dos os de-
mais ponto!-., nIé Pn. Supon hamos q ue nesse pequ eno aglome rado não haja, ainda,
cus to de cl<~sloc:amcnto.
• t- l / 2 é o ôn us (gnsto de t emp o e e n e rgia) assoc i ado ao des locamento, pe-
los me ios usuais de transporte (a pé no n osso exe m p lo), do ponto PJ ao
ponto P2.
• t - 1/3 é o ô nu s assoc iado ao ucs loc nm cnt o d o p o nt o P 1 ao ponto P3.
• t - 1/ 4 idem entr e os pontos P l e P4.
• t-1/nidc m e nlrcos pont os PI e Pn.

Vejamos agora todos os desloca me n tos a p a rtir de P2:


• t-2/ 1 idem entre os po nt os P2 e PJ;
• l-2/3 idem entr e P2 e P3;
• t-2/ 4 idem entr e P2 e P4;
• l-2/ n idem ent re P2 e Pn,
... e ass im por diante para P3, P4 ... Pn.

Chamemos ago ra de Tl ao somat ório dos ônu s de to do s os deslocamentos


para Pl.
• T2 = idem para P2;
• T3 = idem para P3;
• aLéTn = idempa ra Pn.
SeTl <T2 <T3 <T4 ...<Tn e nl ão Pl - o p ont o qu e minimi zaT-se rá o centro
da nossa aglomeração hip oté lica.
Notc·se q ue esse ce nt ro soc ia l n ada te m qu e ve r com o ce nt ro ge ométrico,
com o centro de grav idade o u q ua lq ue r ou tro. É p oss íve l pe rce ber , portanto,a
falta de sentido nas conf usões e ntr e eles, ta is com o a p arece m e m idéias comoo
centro do Rio de Janeiro, ou de Sa lvado r é "excê ntr ico", ou "p er i féri co'' (IBGE-
CNG, 1967, 78).
O(s) terreno(s) e m todos os "pont os'' ou lo ca lizações d a ag lon1eração têmdi·
ferentes valores de uso, pois oferecc m dife re n tes poss ibilid a des d e contato comto-
dos os demais pontos. Em Pl esse valo r é m á xim o. Ass im, existe um ponto - e só
um - que minimiza o som atór io dos ô nu s d e d es loc am .ent o de lodas as famílias
da aglomeração.
Note.se que o(s) terrcno(s) e m P l t ê m e fe ti va m e n te va lor, dado pelo tempo
de trabalho socia lmen le n ecessá rio d es p e n d id o n a con stru ção do povoado e pela
atividade econômica ne le rea liza d a. É o q u e o utr ora ch ama m os de "terra-localiza-
ção" (Villaça, 1985).
Ent retan to, as d iversas fam ílias, cam a d as e class es sociai .s não têm o mesmo
po der político e eco nô mi co pa ra di spu tar as di st int as lo caliz açõ es, n e m contam com

2 40
r;

Fti,ira~2-formaçáo de um ce ntro urbnno (PI . P2. P3, P4 .... Pn )

asmesmascondições de deslocamento . Essas diferen ças determinam o poder dns


clinessaciai ao escolherem suas localizações cm rnzno ele seus varindos inLcws-
ses.Estesenvolvem mais do que apenas as condições de dcslocamcnLO- cmbor.i
sejamelas a força mais poderosn - , poi s, como vimos, os "ponlos" on "locnli1.a-
ções"determinadosem função desse tempo são produzidos mns são irr eprodu 11vc is
pelouabalhohumnno. Voltaremos a essa que stão adiante.
Essaé a origem material do valor conc reto dos centros das aglomerações. e
aessênciado valor de uso das localizações está associada à otimização dos dcslocn-
rnemos de toda a comunidade, é nesse ponto que está cristaliznda n maior qunnti -
dadedetrabalho socialmente ne cessário despe ndido na produção da nglomcrnção
epelaaglomeração.Isso significa que nenhum outr o pon10 o supera rm mntéria de
trabalho cristalizado, em valor de uso, ou seja, cm acessibilidade.
Porsua vez, o valor material é a fonte de seu valor simbólico. É a excepcional
imponânciacomunitária e social dos centro s qu e foz com quP eles passPm a ser
objetode grande vnloriznçno simb ólica. A relação cn trr tempo despendid o t)m des-
locamentos, acessibilidade, valor de uso e valor simbóli co - tanto pnrn os c<•ntros
comoparnns nfastndas perifer ias de altn renda - foi colornda por l.cl't'bv1c- autor
queexigelongns citn ções - no s sc g11intcs ter m os, pnrn .i sociNlnd c cnpil~li sta : "O
adqufrente de espaço continu a a co mprar um vnlor de uso. Qunl? Ele não compra
somente um volume habi tável, permutáv el com os outros, scm iologicnmcntc mar-
cadopelodiscurso publi citá rio e pelos signos de umn ccnn 'dislinçfto'. O adquirente

24 1
,...

é detentor de uma di stância, aquela que liga sua habita ção a lugare s, os centros de
comércio, de trabalho, de lazer de cu ltura , de deci são. Aqui o tempo en tra novamen-
te cm cena: se bem que o espaço, ao m es m o te mpo programado, retalhado, tendea
eliminá- lo como tal. É verdad e. Acon te ce qu e se co mpen sa (o arquiteto, o 'promo-
tor', ou mesmo o usuário ) com signos, os do prestíg io, ou da felicidade, ou do 'es1ilo
de vida', as desvantage ns de um lugar. Esses sig no s sã o co mprado s e vendidos, ape-
sar de sua abstração, sua con creta insignificância e sua soúresigniflcação (urna vez
que eles clamam por seu se ntido : n co mpen sação). Se u preço não faz senão quese
acrescentar ao valor de troca rea l. Compra -se um e mprego de tempo e esse empre-
go de tempo constitui o valor de uso do es pa ço. O emprego do tempo comporta
conrordúnc ias e discordâncias, perda s ou eco no mia s de tempo, portanto outracoi-
sa alem dos signos: urna prát ica ... Alrnvés d o espaço o tempo soc ial se produz ese
reproduz'' (1974, 391).""
Em termos relativos, esse valor se rcí tão maior quanto mais peno sas e custo-
sas forem a~ condições de d esloc amen to predom in a nt es na co munidad e. Os desní-
\'eis de valor (portanto de preço, n as economias de mercado ) se rão também tão
mniores quanto menos d ese nvol v ido s forem os meios de d es lo ca ment o. Os diferen-
cinis (não necessar iame nte os valores absolutos) de valor- de preço da terra- do
centro para a perifer ia de Los Angeles deve m se r menore s qu e os de São Paulo, como
de,·cm ser menores o desenvo lvimen to ou o pod e r polarizador do centro de Los
Angeles em relação ao de São Paulo . Entend e-se assim a "região metropolitana
polinucJcada", de que nos fala Gottdiener, co mo uma eno rm e e espar ramada"ge-
léia'' urbana, com uma red e de tran spo rtes individuai s altamente desenvolvida , com
centros muito menos difer enc iados entre si do qu e, por exemplo , aÁrea Metropoli-
tana de São Paulo.
Conclui ndo: os ce ntro s n ão são ce ntro s porque nel es se lo ca lizam os palá-
cios, as catedrais ou os bancos. Vimos que o opo sto também não é verdadeiro. Nãoé
verdade que os palácio s, cate drai s o u banco s se lo ca lizam nos centros porque eles
são centros. E por que eles são centro s? Fica claro o círculo vicioso. Qu al a origemou
n fonte da centralida de? Está na po ss ibilid a de d e minimi zare m o tempo gasloe os
desgastes e custos associados aos de sloca m e nt os e spaciai s do s se re s humanos.
Admitamo s agora uma co munidade maior e co nt emporânea, com centenas
ou milhares de famílias orga ni za da s em classes sociais, com distinções de renda e

•Ntacqércur d'c:spac:eco11tinucà achétcr une valc111 u'usagc. t:aquc llc? li n'achcte pas setLlcmcnt ttn volume
habitablc. commutable ai;ec les aulrcs. semio logiqucmc m marqu é par 1c discours publicitaire ct parlcs
s1cncsd'une ccrtainc 'distinction' . 1:ncqué1e11nncst pre 11c u1 tl'u11c d islance, cc llc qu i rclie s011habilation
a dcs lieux, Ice;centres de commercc, d e travnil, ele lo1sir, de cu lturc, de déc ision. lei lc ternps n•11trc en
scfol': bic11que !'espace à la fois programni 6 cl morcclé, tende à l'éliminer commc Lei. Certcs. il arrh-c
qu'on (l'ê1rchitccte,lc 'promoteur' ou mémc l'usagc1) co mpc11sc avcc des signc s, ceux du prcstigc,0-u<lu
bonhcur, ou du 'slylc de vic' lcs desava111ogcs d'un licu. Ccs si~11cs s'ac h élc nl ct se vendcnl malgr~lcur
abstractio n. lc111concré 1e i11signlfict1nccCl le u, rnrsig 11ijirn11rc (pui sq u ' ils clame nt lcur scns:lo
compcnsa1io11).Lcur p1ix nc fait que s'njo 11lc r à l,1valcur d'échun~c réc l. On achéte un emplol riu1cmpset
ccl cmploi du 1cmps cons lituc la valcur d'u sagc de l'cspacc. l'.cmplui du lcmp s co mpo rte dcs agrémcnlcl
elesc.hh,agrémcnts,eles pcrtcs ou dcs économ ics de lc rnps, ,clone nul rc ch ose qu e eles signcs: une pratique. ..
A travcrs !'espace, un tcmps social se produiL c.•tse rcpr oduit ."

2 42
depoderpolítico e fazendo ll\O de clilcrl'l1H·snwio s d1·t r:111p11r1 , •• 1 111ur111' " t•·d,
dt·Ul' dassc~. cs..,ns famih ..1s d 1spu1,1m ,t~lot,tli1a~1u•s t• d1· 1·11\<olv,·111111 ·1.1111 Ul'J
·ona1spaiíl 1cgul.tr C\sa disputa .,o 11ws11111 tempo q111·1111,11111wlr, d,,1111rw,rf,, rrwu,
et-ondiçõc~ de lla11sporl<.·e p10cu1-.1111 p1o<l11,drP:-.Jrnt,,..,11rl>a111,
s 111111d ulo pr,r1•,;
SC!Imeiose condiçocs. t\caham por prndu1.11 ,,,q,a~'"" lt1 lw110.dil,·11· 1111,,clu
s
Nc~,asociedade, a:-;dilN Clllt 'S rl.t !-ist•c.MH i11Is lc•111eond i~<JI'
', di ,11111,1d, : ,1<;., •
sibilicladcaos dilcrcnl<':-.pont os elo c•..,pa~:o 11rlrn110J c•111 dtfc·H·111, ,e ,,,,rl,'t'''
' d1·
manipulara ares..,ibilidadC'ao cc nt roe :1 lllr nliz.,1~ ,, c•rn11•la,,il<,,1 , h , 1m
·:10 do n· r111
n crnt ro nflo C' mai s o po1110 q11<' mm irni z;, eh dr·•,1,,,,111Jf'11111
tnh .orit>d:iclt>s, d1•
todan comunidndl·, pois as dilcrcntc s fnmílias ago1i1 1cm cli'ilinl<1•,,·,,nd11,,(•" e
necessidadesde dcslocamenlo. Algumas pus-,11c•m Ht1tcm10v<.•I, rJ11l1,rn 11 .11,,\l g11
ma podem tomnr ô111bus,outras silo ob1 ig ndns n se de'il oct:11 a r><· . Aln11mt1•,1·1>t,it1
pro\1masn nt.t'- po1 onde pnssé\m cin co ou seis linh ns de oni hll '>,outw " 1•s1w, pn -
10de\1.tsonde passa a pena s uma . Umns 1ém maim poder cco 11<m 11n,ou pnl111
ro- de comando sobre a locali znçno das loja s, da igrrja , do governo ; m111:1 s lc·m
podermenot. ão c~sas di stinçõe s que fazem com qu e, ..,endo ohjt·I<, de· d1sput;i
entrensdns:,C\, o centro se torne mai s aces sível íl uns do que n oultn 'l, atta v,•s d,,s
m:us\ariados mec:rnismos: de sde o dcscnvo lvi nwn1 0 de·um si!,tc11i.1 v1:íno ,is ,,.
c1adoa de1crminnclolipo de tran sp ortes, até o clcslocanw nlu c·,pacial dr, e 1•u11,, ,.
:.ua~transformações (',,ua decadência ot 1p11lverizt1çao, po, exempl o} A~transfor-
maçõesterriLOI iais por que passaram e con linuam passnndu o'i rc·nl ru'i de nos as
cidadessão fruto dessa di spula , como veremos adiant e.
Odesenvolvimento do centro, bem como o do "não -ccnlm '', <mscjc1,O\'wrlns
asJocalizaçõesda co munidade, conlinua n ser frui o de llllHl disrutn, na qual cntr,1111
interesses contradit órios intra e inlcrcla sscs. lnt ercl asscs são os 111Lcrc')\C'I (·crntrnd1-
10rioi.
cmrc m, dcslocnmcn tos parn fins difcrC'nlcs de umn mesma l.lm,-,c'->'>l. t,11,por
exemplo, para o local de trnlrnlho dn mãe, pnm o do pni, o da escola da~ t ri.rn ç.,..,, do
salãode beleza clnmãe, etc. Há di sputas conlrncl ilórins entre tempo dr clc.•') lun11rn n -
10 e ar puro e lotes (ou quotas ele lotes) maiores. Finalm en te, li~ a disputa, 111,tis
dete1minamc, entre as clnsses sociHis.
O centro e o " nào -cc ntro" são tlinlcticamcnl • prudu :,,.iclospelo rnc'->
nto pro-
cesso!)Obaégide dc!>sas disputas, pelo controle Jas co ndí çôt•~ de dt•..,locanwnto.
comoveremos.Entend e-se por condições de <leslucamcnlo aqul'lds que p1c>lhtn•m
ere\Ol\'emos problemas de de sloca mento -a produ~·ao das locali;,,1\úC'>(O'> 'pon -
to)·, boas (ou mds) para morar, para corn,truir um sup crmcrr ;\Clo. parn üh tir um,,
pré-escolaou um salão de bclczn , par a construir um centro cmprc5atinl rtt h ttuc
r~solvem os p1oblcma-;de d eslo ca m ento sao o sistem:1vi:1rio (ruas, rncrrt,..,,vin.,clc-
\adas \iadu 10s, ttí nci s, bem como a lo cali zaç~w cios mc11c h, elos tu1wi-., l'LC) e os
\·eiculos(veículos panicularcs e públi cos). Por outro lado, as classes tém outros in -
teresses além dn redução cios tempo s de dcslocanwnlo. Podem ll r - • clt>lato têm1

-mte resscs que redundem cm aum e nto do tempo de Llcs locamcnto, co mo 111or,11
emterrenogrande com verde e ar puro, na per iferia . l lnentão neccssiclaclcclt:!nm-
cilia
r csscsintere sses. Por isso, não se deve l'alnr qu e a disputa en tre as classes pelo

243
controlednscondiçõesde deslocame11 to visa minimizar os tempo s de deslocamen-
to;visn,sim,otimizaro usodessetempo ou controlá-lo. Assim, se as classes de alta
renda'-C deslocampara a periferia- o que só foi possível porque houve um Estado
queconstmiubonsrodoviase uma economia que produziu automóveis-, para lá
rnmbémvão(jn ha décadas)as escolasdessas classes, seus shoppi ngs e até o centro
dacidade.
Dominaro centroe o acessonele representa não só uma vantagem material
concreta,mastambémo domíniode toda uma simbologia. Os centros urbanos prin-
cipaissão.portanto(aindasão,em que prsem suas recentes decadências), pontos
altamentee tratégicosparao exercícioda dominação.
LimaBarreto,um dos maioresgênios da literatura brasileira, que tinha um
agudosentidodoespaçoda cidadecm que vivia - o Rio de Janeiro-, soube bem
vernocentron dominação.Naspalavrasde Resende (1993, 23), "ele mesmo, como
umreprcsemante dasclassessubalternas,movendo-se no espaço da cidade, entreo
sulHírhio ondemora.do qualse ressente por não conseguir uma iden tificação em
sua\'idaintima,pessoal,e o centroda cidade, ocupado pelos gerentes desta cultura
que recusa,LimaBarretoapresenta-secomo lransformador do discurso dos sem
falanumafalapública".
, egundoGottdiener, o modelode círculos concêntricos de Burgess destacaa
noçãode centralidadenos seguintestermos: ·~ssim, as diversas posições não são
iguaisna competiçãoespacial- exjste uma hierarquia de localizações e a posição
centraldominaessahierarquiaem virtude de estar no centro. Sem dúvida, esse
modeloimplicaque as forçaseconômicas e políticas requerem centralidade a fim
deorganizaratividadessociais''(1985,32). Até que ponto a posição central domina
a hierarquiade localizações, pode ser uma questão comp lexa para as metrópoles
none·americanas, masé maisclara nas brasileiras e provavelmente na maior parte
dasmetrópoles do mundo.Segundoesse autor (1985, 9), há hoje nos Estados Uni-
dosumaformade assentamentoterritorial, chamada outrora de urbana, a que ele
chamade "mullicenteredmetropolitan region", ou "polynucleated metropolitan
region". Arespeito,afirmaque essa"nova rarma de assc n tamento espacial, caracte-
rísticadosEstadosUnidos,ainda não apareceu, num sentido qualitativo, em outros
países,nemmesmona Europaindustrializada".Afirmação interessante porque pode
ser precipitadamente entendidacomo se se referisse a metrópoles que têm vários
centros principais.Emprimeirolugar, isso seria absurdo, pois "principal" só pode
mesmoserum.Ignoremos,porém,esse aspecto para não perder a questão que que·
remosdestacar.Semdúvida,a regiãometropolitana contemporâ n ea americana ca-
racteriza-sepelofatode ter vários centros; essa, entretanto, não é a questão. pois
issoSãoPauloe Riotambémtêm, para não falar das metrópoles da Europa indus-
trializada.Noentanto,Gondienerafirma que a metrópole polinucleada é um fe-
nômenoespecificamente americano,não observado nem mesmo nas metrópoles
da Europaindustrializada.Acreditamosque Gottdicncr pretendeu dizer que, na
regiãometropolitananorte-americana, a diferença relativa entre os portes dos di-
ferentes centrosé menorque nas demais metrópoles. Em várias dessas metrópoles

244
nãohavcrü1 urna hegemon ia tão marcante do centro principal (seja qual for seucon-
ceito)em relação aos demais como há nas metrópoles européias e nas dn América
Latina. Alémdisso, o que esse auto r parece querer dizer é que não haveria, como cm
outrasmetrópoles, uma primnzja tão marcante das "cidades centrais" obre as outras
cidadesda éirca metropolitana ; aquelas, em outro s países, continuariam a "rewr mui-
tasdas funçõesorganizacionais que historicamente desempenharam no desenvolvi-
mentodo'hintcrland"' (idem, ibid.). J\qui o au tor já não fala mais de"centros",mas de
''cidadesccntrnis". Hcomum, c m diferentes "cidades não-centrais" de uma mesma
metrópole americana, n existê ncia d e vários eq uipnmcnl os e instituições de escala
metropolitana e mesmo suprame tropolitana, como grandes e importantes universi-
dades, enormes centro s empre sariais e, é claro, shopping ccnters. Estes,contudo, não
sãoequipamentos característicos de centros de cidades, embora possam sê-lo de "ci-
dadcsccntrnis". Restringindo a an álise a "centros principais",parece-nos inegávelque,
nasregiõesmetropolitanas em geraJ, inclusive nas norte-americanas conlinua a ha-
1

verumcentro principal, o tradicional, seja o de Chicago,de São Franciscoou de Nova


Iorque, que é mais desenvolvido que os demais e por isso pode, e deve, ser chamado
dcMpri ncipal".Isso se revela, por exemplo, por meio de alguns equipamentos e insti-
tuições queinegavelmente são característicos de centros metropolitanos. Em matéria
denúmero,importância, qualidade ou âmbito de influência de equipamentos e insti-
tuiçõesculturais, de diversão, lazer noturno , hotéis e restaurantes, por exemplo,os
ccmrostradicionais das metrópole s americanas ultrapassam em muito os demais. Os
centrosde várias cidades das regiões metropolitana s de NovaIorque ou São Francis-
co,porexemplo, têm seus teatros, suas próprias orquestras sinfônicas e salas de con-
certos,companhias de óperas, de balé, museus e restaurantes. Mas em nenhuma de-
lasos centros apre se ntam a quantidade, a importância e a qualidade desses
equiparnenro s e instituições que possam ser remotamente comparados às sinfônicas,
óperas,balés, teatros, museus e restaurantes encontrados nos centros principais de
NovaIorqueou São Francisco. O mesmo pode ser dito com relação a agências do
poderpúblico,cm qualquer de seus níveis.
Pretende-se com essas considerações caracterizar o que se entende por cen-
troprincipale desta car seu pap el, sua importfincia e sua unicidade em qualquer
aglomeraçãoterritorial humana , até mesmo nas atuai s regiões metropoHtanas ame-
ricanas, aparentemente as mais dispersas e, ao mesmo tempo, as mais polinucleadas
domundo(no sentido de apresenta rem menor diferencial entre seus vários centros
eocentro principal).
É compreensível que a polinucleaçno de que fala Gottdicner (1985)tenha
comourna de suas conseqüên cias ou manifestações o enfraquecimenlo dos cen-
lrosprincipaiscomo aglutinadore s do espaço metropolitano. Aliás esse autor, na
mesmaobra, alirmn que nos assentamentos metropo litanos americanos o cresci-
menro espacial não se faz mais a partir de um centro hegemônico. No entanto, ape-
sar disso,existe um, e apena s um, que é o centro principal.
Essapolinucleação através de vários centros bastante desenvolvidosnão ocor-
renametrópolebrasileira, e é a ela que nos referiremos de agora em diante.

245
-
O ce ntros tr::1dic io nai s de no ss as m etrópoles, apesar d e sua!->notória s "dcc11
-
dê n cias··, co m inuam se ndo os focos irrad iadorc s da o rgnn izaç [to <.: s pa cinl urba11
n.
Continunm se ndo a mnior co ncentração de lojas, csc ri Lórios e sc rviços - l: também
de empregos-de nossas áreas m e trop olitanas. A t e ndem n mai s popula çi\o cioq11 c
qualquer outro cent ro d as m etró pole s, urna vez que atraem m a ior núm ero ele via-
gens. O centro trndicional de São Paulo - que, juntamente co m o ele Salvndor,se
inclui dentre os que maior declínio tê m sofri do na s d éca das rece nt es - ai11daalrni
mais \'iagens do que qu .1lqucr outra área da metrópole, in c lu sive s ua s áreas indus-
rriais, conforme os dado s do Quadro 30.

Quadro 30 - Área l\1etropolita n a de São Paulo


Geração de viage ns por centros selec io nad os

Polo Porcentagem do total de destinos das viagens

Centro 24,23
São Bernardo do Campo 11,06
Paulista 9,74
Santo André 7,68
São Caetano do Sul 6,53
Pinheiros 6,41
Tatuapé 5,40
Lapa 5,34
Fonte: lnfonne da Associação ''Viva o Centro'', Ano III , n. 31 , março 1995 . Foram computadas ns viagens por
todo-: os meios de lransportes e ainda ilS a pé. Note -se quc"Pou lista" é co nsidcrn cla "pó lo" di stinto do Centro.

É digno de destaque o fato de o centro tradicio nal de São Pau lo ter, em 1987,
517 100 empregos contra 207 003 da reg ião da Paulista e 364 140 do ce n tro expan-
dido (inclusive a zona da avenida Pauli sta). Considera nd o o grau de conc ent ração
que deve caracterizar um centro, temos o seguinte: o centro tradicional tem uma
área brura total d e 772 hectares e uma densidade de 670 empregos/ha. A regiãoda
Paulista tem 433 hectares e uma densidade de 478 emp regos/ ha. Finalment e, o cen·
tro expandido, incluindo a zo n a da Paulista e excluindo o centro tradicional, tem
1 409 hectares de área bruta total e apenas 258 empregos/ h a. (PMSP /SEMPLA,1992,
tabela 4.1 /b, p. 70, citando o Metrô). ,..
Pesquisando em catá logo telefônico o número de es tabelecimento s no cen·
lro tradiciona l de Belo Horizonte e na Savass i, em 1985, Lemos (1985, 33) chegou
aos resultados que aparecem no Quadro 31. O centro principal ou tradi cional de
Belo Horizonte é centro para a maioria da população da á rea m etro politana , en-

• O centro tradicional inclui as seg uint es zonas de ldfcgo: Sé, Tabatinguera, Gl icério, Liberdade , ílixigae
Consolação. J\ zona da Paulista inclui as zo nas Paulista e Alamedas. O Ce ntr o cx pnndid o inclui. alémda
i'..Onada Paulista, as scgu inlcs zonns de trdícgo: Jardins I, Jardins H, llaim 1, Vila Olímpia e lguatemi.

246
Quadro31- Cidade de Belo r lo rizomc
ero e localiznçào de estabcl ccimcnto c;de comér cio e serv iço'>
N1ím

Estabelecimen
tos CPntro trad1cionc1
I

Comé
rcio 1 247 340
Serviços 3 274 S84
Total 4 57 1 9711

Notíl: Os limites :idoLaclns para o c,•111ro , rndicicmal forn m: Bahía, ~anto -; fJt1111rm1, l'a ra11á, J1ad1e Hcltluor
rAug us10 de 1.in111
: para :1 Sava~si loram : Sc1gipc, lnccmfld cntcs, l'ara fl,:i <! Lon1nrno.

quantoaSavassi o é ape nas da parcela mais rica. A diferenç a tanto de número como
devariedadede empregos ent re os dois centro s é notá vel. 1
OQuadro32 apresenla alguns dados significativos para os centros de 5ão PauJo
e Belo Horizonte. Note -se a diferença de participa ção do s empreg oc;terciário~ no
centrosobre o total elas metró poles. Quanto menor a metrópole , maior a parcela de
seusempregosterciários localizados no centro. Numa cidad e de 100 ou 200 m ilha -
bitantes,a participação dos emp regos terc iários centrai s pode chegar a 70% ou 80%.

Ovalorsimbólico do centro
Aimportância que as classes dominantes de rodas as sociedade s urbana s têm
conferidoao centro de suas cidad es é sa bidamente muit o grande. A fonte última
dessa importância foi mostrada na seçã o anler ior, em que se mostrou também a
origemdo valor simbólico do centro.
Háfortes razões para ac redita rmos que a proximidade ao cenrro foi valori-
zadapelas elites urbanas em vá rios períodos da história . Uma po ss ível exce ção
talvezsejam as metrópoles norte-americanas (m as não, segundo Castell ·, 1994,
26,Nova Iorque, 13oston e São Franc isco), que parecem exibir um padrão espa -
cialque revelaria uma Lendência cresce nt e de as camada s de mai s alta renda
ocuparemos subúrbios.
Apesar de esse tra ço ser marca nte, os estudi osos do espaço intra-urbano não
setêmpreocupado muit o em encontrar uma expl icação para esses fato .A proximi-
dadeaocentrofoi valorizada nn cid ade med ieval, na cida de hispano -americana atra-
vésdasLeyesde las fndia s, cm Mac hu Pichu , em Tcoti uh acan ou em Tenochtitlan
!noPerue México pré-co lombiano s), n as cidades latino-americanas e mesmo no
RiodeJaneirode meado s do século XlX, em qu e pese a grnndc quantidade de famí-
lias morandofora da cidade. No Brasil aluai , a tend ência ao distanciamento do
centroé clara em nrnita s cidade s, ma s ainda está longe de se r minimamente sign i-
ficativaquando comparada com a proximidade ao centro. A popu lação sub urb ana

247

l,lii,idw 1~ ÁH'í1'nwt1upolllanas dl· San Paulo, Belo l lorizo nlc e Porl o Alegre
( l'l1110',dt'l'lll lHl'ftO

UI' Pn1µ1egos Parli c1paçãono emprego


N<1n1crn
da árer1metropolitana

Terciário l otul Tercir\rio Total


S11, Paulo,1<J87(1)
c,,n1r11
L1nd1c1onal ~ 17 100 7,85%
l1;'1Uh
SI 1 707 003 3,14%
(c,ntror,.xp,inthdo
(1nd Paulí'°\
tn) 3Gll 1'10 5,53%

tt', 1981198?(2)
8l'lt>Hon1on
u•,1tro11
c1d1nonal 120 332 134 597 33,66% 25,26%
ScW.l\~I 14 399 18 15 1 4,0 3% 3.41%
PortoAlcg1t',197~ (3)
el'ntrotr,1d1
c1on,1I 118 986 140 722 34,64% 26,11%

l111111·
~ (11~h-116, 11n11 ~nllo rm: PMSP/Sl:MJII.A, BDP !)2, Vcrsf10 2, nnv. 1992. p. 70. O Centro tradiciona l
rn1hua,wn,1,de•lr,\f,,~oSé,Tahalingul'rn,Glicérin, l .ibcrtludc , Bixiga e Consolnçfio. A Paulista incluias
1im,1sl~mh,1:1e Al,11 ncda~:o Ce1111 0 1•xpanclid11, além dcst:is tiltimn s, inclui : ltaim 1, Vila Olímpia, lguatcmi
1·1.mhn\ 11
fll l'l,\~11\1
:I PN11dsi10/l),lll/1!2 . OCc11trotmdicio 1wl inclui ::iszonas 1, 2, 3, 4, 5, 7, B, 9 e 11. Seuslimites
11p1t1\i111ado, ,rmi\inttla~,Olcr;füio Maciel e Ti1111Jirn s. A Savassi co mpreend e as zonas 29. 30 e 51.que
ullrnp,"~.1m rm n111l 10 o a~loml·radnde comércio e servi ços. Seus li111 itc1>aproximados (as zonastêmlimites
1111111u i111·~ul;111 1:1,llcrt1:1
·,)\. 10: C(•:1 1do (;uimrn:ics, fü1llíne uma paralela à Cont orno, a cerca ele200melros
1!rl.1
do GEIPOT- Ministério dos T1ampor1cs. Quadros C-20 e C-29. O Centr o limita-sepcld
!'ll 1'1•"111!,,1
!11•111111'1
1,11l'~a rnw1110Leitee co111prccc c ns zonas de trMc~o 1, 2, 3 e 4. Infclizm en lc, a pesquisade 1986
11cl
pe,qu1,ou
11,10 l'lll fm·~u~.

uenllarendaaindaé muiLomenor que n central. Em São Paulo, por exemplo,apo-


pulaçãoc·onct•ntrada nos bnirros mais centrais como Higienópo lis, Pacaembu,
Sumarc\ Jardins,t\lto de Pinheiros e Viln Nova Conceição sup era em muito a da
GrnnjnVianaetodo~ost\lphnvillcs residenciais somados. Segundo a Pesquisa00
du Mc11·õ de Sfiol'nulo, de 19117(trnnsc ritn cm PMSP/SEMPLA, 1992, 67), as zonas
Para1so,Pnulistn, J\lamcclns,Pncnembu e Jardin s, soz inhas, tinh am 145 064pesso-
ascomrendarnédinfnmiliar mensal superior a trinta salár ios-mínimos, enquanto
aszon.1!-i
que, com folga,enquadram os Alphnvilles, 'Tambor é e Granja Viana(zo-
nasdcnominndn s Cotia, Aldeia de Cnrapicuíb a, Tambor é e l3nrucri) tinhamape-
nas 14117:l (dei vezesmenos) e toda a área metropolitana, 23G315. Estaúllim n
regiãolinha,c11tf10, apenas 6,29%dos ri cos da Área Me tropo lita na de São Pm1\
o.
Outramanifestaçftoda importância dada ao cen tro pelas camadas demais
nltnrenda- comprovadaapenas para as metrópo les brasil eiras, talvez as latino·
americanas cm geral - consiste no fato de levarem o ce ntro a se deslocaremsua

248
thn'(,tt\dl' manrira que mesmo quando se afastam dele, csi,c afaslmncnlo seja cm
p.uh'11r1111nliz.1do pelo dcsloc.:amcnlo do próprio centro na direçno dela~. Em todas
,1'.'llllClrnpolL'-; ,1q11icstudntla::;, sem exceção, os "nmos centros'', qu<>surgiram a µar
111dadt't,td,1 d(• 1HGO(~.was~i. cm Belo Horizonte; imcdiaçocs cJoIguatcmi. E'tn Sal
,ador.1c~1,in P,1ul1sl,\, l·ni ia Lima, cm São Paulo; Boa Viagem, no Ht•c:ifc),scgumun o
c,11nmh,1ml'tllo dos bainos residcnl.iais da ...camadas de alta renda.
l)n puntn ele v1stn dn c-.paço urbano, dh idimos a cic.ladccapitalisrn em dois
pt1r10dl)'-' n dns cidadl's do intcio do capitalismo - que c1brangcos séculos XVII.
X\1111
1
o inírin do século '{f~ - r•o l1C'ríotlodas ciclac.lcsa que c.hamr1remosde "tipt-
ranwntl't'.tpil,il1slns", aquelas que se formam nos novos pnfscs capitalislas - Esta-
tiosUnidosl' Canada, por exemplo - a partir elo final do século XJX.
t\ prndU\'i1odn espa~·o u1 bano na cidade do primeiro período é marcada por
fortl'intr1wnçüodi1ct.1do Estndo, enquanto na cidade"tipkamenlc capitalista" essa
p1oduç:1n SPfaz pnndpalmcnte por meio do mecanismo cio mercado imobiliário .
Ol's1>.1ço uri>nno no primeiro período foi produzido por uma burg11csiarevo-
Iurion.in;l l' por um - o sru - Estado que procurava cnnllecê-la e impor os \'alores
l-.1pi1alista!). N.io é por ,tcaso que a cidade mais representativa desse período seja
111stamcnt1..· a capilnl da p1imcim grande nação a nascer capitalista, a orgulhnr-se
l' ,1 l,vcr qllcst~m de exibir ao mundo o sucesso (para ela) desse modo de pro-
c11~'>l1
duç:ío, qu~a tornou n mnior potência econômica do planeta : a cidade de \\ashing-
1onpl,ml'j,1d,1 cm 1793. Outro bom exemplo, de várias década5 mais tarde, é a Paris
dl1 ba1:\oll,1ussman11. ~forcas desse período, entretanto, estão ainda visíveis em
~lad1i,ílarr(•lntHl,Budapeste, Buenos Aires, Belo Horizonte e até mesmo cm São
P,mlo (o ronJlmLo - unico no Brasil - formado pela avenida D. Pedro I abrindo
perspecuva parn o Monumento da Independência, o Museu Paulista e os jardins que
05 circundam).

Nesseperíodo, o Estado produziu um espaço urbano com forte carga ideoló-


gica,que fazamplo uso d,1s possibilidades enaltecedoras da perspectiva, desenvol-
\1tfo 110 Hcna!'>cimcnto; po1 ém, seu uso enaltecedor no espaço urbano nringe seu
apogrucnttl! o final Lloséculo XVII (Versalhes, L. lc Vau e Mansard, 1661-170H)e
meados do S('culoXIXcm Paris, passando pelo notável exemplo de Washington.
\ Idade l\lédia utilizou-se da perspectiva vertical, no espaço interno <.lnca-
tedral,para L'naltcccr Deus. O espaço urbano - o espaço do homem - não foi
\alorizadopo1 rssc pct iocio da história , nem mesmo para a observação da cate-
dral.,\inexistência de l''::ipaçoelllrc as casas (n cidade) e a c,Hcdrnl fez com que as
primeirasse é1proxininso.,em muiro desta última e acentuassem a diferença de rn-
manhocnllc dt1~, 1c.1lç,111doa monumenlalidade da catedral e a 1111prcs::;Jo de que
esmagava a!\casas ou a cidade. "Dentro de sua área reduzida, as suas torres, ou as
~omura, qul! lnnç<1m,sflo visíveb de toda parle, e a diferença ele tamanho entre as
paredeselevadas t' as pequenas casas que se amontoam na base é um símbolo da
rt?lnção entre.• os assu11toc:; sagrados e profanos (Munford, 19'11,G3)."O 1lumanismo
doRcm.1scimcnto aincln se utilizou c.Japerspectiva pnrn enalccccr Deus. porém por
umbrevepl!rtoclo- o da pi11turn barroca . Apenas timidnmcnte começou a utilizá-

249
lt1 nn t''-)M\'O
do homem, o espaço urban o. Bcrnini , ao projetar a Pra ça de São Pedrn
l 165:,-1für;'), oferecl'l1pnra n catedral mais um "espaço parn observação", sema
fo1ç,1de um ponto de fuga, cioque a linearidade vigorosa ele uma perspectiva.O
nw~mopndl !->t'rdilo com rcla<;ãoà Teotiuhacan pré-colom biuna (no atual Méxi-
1

u,1 ou ;l ~tonunwntal Prn,n de Armas (Zócalo) em frente à catedral da Cidade do


\lc'\ÍCO(nw,1dosdo seculo À Vl).Só mais ta rdc, já sob o domínio do Iluminismo,o
\ i~o1d,1pe1"pectivnurbnnn seria idcologicnmen te utilizado para ena ltecer o nas-
rentr hit.1doburgutSs.Scg,.mdoIlarvcy (1993, 227), a idéii:l ilu1nini sta de domínio
da naturrz,1como condição para a libertação humana abriu cami nho para a con-
(lllista e organi7nçãorncion::ildo espaço. Sob o Ilumi n ismo, o espaço e o tempo
~cnnm"mganizado , nno para refletir n glória de Deus, ma s para celebrar e facili-
tar .1 lihcnn,;10do 'Homem · como indivíduo livre e ativo, dotado de consciênciae
dr \ Ollladc. Foi a essa imagem que surgiu uma nova pai sage m''. Esse ''Homem"
r\·idrntcmente representa o novo conce ito de homem que então se desenvolvia,
ha ·icamcntco "homem livre" pregado pelo capitalismo.Significava também a nova
')OC'icdade e n nova instituições coe rent es com esse novo "Homem", isto é, a nas-
cente, ociedadcburguesn. Sob o Ilun1ini smo teve início a plena utilização do vi-
go1da perspectiva no espaço urbano, canalizado para ena ltecer o Estado capita-
lista.
A cidade a que chamamos de "tipicamente cap itali sta" sur giu sob a égidedo
mecanismode mercado, imperando basicamente nas t ran sações imobili árias,nos
loteamentose mais tarde no espaço u rbano produzido sob o impacto eloautomó-
\'el. É representadaespecialmente pelas cidades do Oeste e Meio-Oeste americano
e pelascidadescanadenses. No espaço dessas cidades n ão se nota a ação diretado
Estado,emboraexista.Nessascidades, chamrun a ate n ção o rígido traçado ortogonal
das ruas e a ausênciade qualquer sucessor dos "embe lezamentos urbanos '' tão re-
presentativosdo período anterior: fontes, repuxos, luminárias, estátuas. No Brasil,
as cidadesque mais se aproximam dessas seriam as cidades médias do sul do país,
como Curitiba e Londrina.
O centro da cidade tipicamente ca pitali sla não é usado simb olicamente. Mais
que isso:dentre todos os centros urbano s da histó ria hu1nana, é o único que não
enaltecenem Deusnem o Estado.Ainda recorrendo a Harvcy (idem, 200),"a dificul -
dade sob o capitalis mo - dada a sua in cl inação para a fragmentação e a
efemeridade,em meio aos universais da mon etização, do inter câmbio de merca-
do e da circulaçãodo capital - é enco ntrar uma mitologia estáve l, que exprima
seus valorese sentidos inerentes".
Nasua fase revolucionária,o capitalismo fez amp lo uso simbóli co do centro
urbano,inclusivehomenageando o revolucionário Estado burguê s, organizadoem
torno de seusTrês Poderes,como no Plano de Washington. Brasília, com suas pers-
pectivase sua Praçados Três Poderes, cm um espaço urbano produzido pelo Esta·
do,é uma cidaderepresentativa desse primeiro p eríodo.
O que representouVersalhes, um dos bon s exemplos no século XVIIdo uso
glorificador da perspectiva?Foi o símbolo do poder abso luto, do 'T Etat c'est moi"

250
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1·1gclll • ·'
,:cmO Estndo, por _111ilê11ios liottH·.11ageado s 1wln:-.n•1t l 111:-.t11h,t1m:-, )l 'l t, \, tini, ·,
são 0 lucro, o dinlw1 ro, a rn<·1Tado 1 ta, o I rnl>allH,.issal.i 11:1dD,, d i 111r i.t1 h ,1pi 1, ,nl.,
Nãose'pociedizer tJllt' os l>;1ncos simlrnli Zl'lll o rn pit.tl ru11H>.,s r.i1t-d1 ,ii :-...,1111, H,lt
zavamDt•11sna cid ade nH·tli C'vnl.
Aclin111im~ j;1 chegara m a :-.i111b
e n f'u111a,·;1 r a 111du :-.11i.i t' ,1 11.·1
oli 1.11 11111,11111,1
gcm positivél. l'or 0111 ro lado, o con s111110 t', ro111t•lr, :1 p1 np.11~,111d.1 t· t> 111,11~l'1111 g
romcçam n ser si111b olicn me111e 111 ilizm.los 110t·s1>.1~ ·O111lla11u . ll 11tln~ido w ,;., lt11ppi11n 1

ccmcrs chamados de "tem plos da socieda<lt• dt• ro11 ...u111n , nqo d1•11 ., ,. 11 l ,tp11,11'
(Piclrorolla,1mo, !'i~)) . Maa;os shop pi11 g ren lt ·rs nao t':-.1,w 1mrc111111 dt• 111h.•"1"t 1d.1
dcs.O t:apilnlismo co 111 e\·0 11a fa z t·1· 11111uso s imlmlko u 1111 .,11·1i,11i du 1111, 111'1.1 l' l ' II.
cerlamcnle Sllélcri.i(ao . Si111 holi z;1o arrn11 l1.1n·11tl " t11tHlt·1110' ' l' o "p11,n1t•:-,-;o",111.is
suacnrgasiml>ôlica r rela! iva111l't1le frnca M' co 111p,11.1d.1 :upwl.1q 11t• 11w1 :1111n :-,g1 .111
dcs monumentos das riclacl(•spr<"-r ap italb tas 0 11 das dos 1,1•rttlw, :\ VI11t· l\l:\ t\lt•111
disso, nas ddndc s sul -amei icanas - rio contrario do qtll ' :iro1llt'rt• ílt > 1w11, • , tl 1'i
nrranhn-cé11s são p1edomim1n1c11H'lllt' residenri.tis l', ro nrn tal. 11.inpodc•1111· 11111,
devemser imcdinlnn w11te ni-;soriados aos n· nl ros url11111o s. Nas 11os s t111rid, 1d1•1,11u•
dins,por exempl o, prn1icnmc 11t1•nau lw arr :111 lw-r , 11srot11Nrials. Nnn 11 P11ssl\ 't'I.
ponanto,associi 1- los nos csrri tório s, ilOS ba1H ' os rn1 i)s grandt•s lojns.
- -

Osurgi1nento
dos centros principais
Nasegundametade do século XIX, o Brasil experimentou notável surto de
pro~rcssoe ~randcs transformações socia is. J\o me smo tempo que decaíao
patrian.:nlismo rurnl, expandia-seo cultivo do café {já com o trabalho assalarindo
dos imigrantes)e desenvolviam-seo capilalismo, a burguesia urbana, os transpor-
tes e a industria. .:Essaprosperidade manifestou-se também no comércio varejista
l' nosserviçosurbanos. Parn Caio Prado Jr. (1963, 198, 200), o período marca"o
i111tiodt:um processode concentração de c;aµitni:i,que, embora aintla acanhado,
(...) servirade motorpara a expansão das forças produtiva s do país, cujo desenvol-
vinwntoadquireum ritmo apreciável. Sem contnr os grand es empr eendimentos
cornoa~cstrnda· eleferroe empresas de navegnção a vapor, i nsta lnm-se (...) aspr!-
mcirm,mnnufílwrasde certo vulto; o com6rcio, em todas as suas modalidades,se
t•xpc1mle. (...) 1lti fortunasde certo vulto, e não são excepcionais; e um nívelde vida
ck,ado cm que não faltanenhum requinte contemporâneo de abas tança".
A acumulaçãocapitalista não apenas possibilitou novos investimentosem
empncndimcntosvarejistas,como também estimulou a expansão do consumode
1

umasociedade que mantinha crescente conta to com a Europa, através da imigra-


ção,da navegaçãoa vapor,do telégrafo e da impren sa. r-oi enorme a transformação
doshábi1osde consumoque a sociedade urbana brnsilcira sofreu naquele período.
c~pccinlmente no Rio de faneiro. Essa transformação manifestou-se tambémno
desenvolvimento dos estabelecimentos de comércio varejista e de serviços elecon-
sumoindividual.Iniciou-se o declínio dos ma scates, dos vendedores ambulames ,
dosquioc;qucs e dasbarracasde rua, que só na década de l 980, no século seguinte,
iriam ressurgirpara atender, porém, às camadas pop ulares.
Éa urbanização,do ponto de vista da cresce nte transferê ncia para a cidade,
defunçõesouLroradesempenhadas na casa. Chegava ao fim a fase em que asgran-
des cornprns,como as de móveis e uten sílios domésticos, eram feitas individual-
mente·,por encomenda à casa importadora . Chegava também o fim da faseem
queo serviçoia a casa.Agorao comprador vai à Jojn e a l"amOia,no serviço; o clien-
te,ao consultório; o estudante, à escola; o crente, às igrejas; a mulher, à modisra .
Juntamentecom a pequena indústr ia (Singcr, l 968, 41) e agricultura praticadas
na5fazendas,nas casas e nas chácarns urbanas, em oficinas, est rebarias, hortas,
pomarese galinheiros,declinaram - e depois desapareceram - a medicinae o
ensinocaseiros,a hospedagemde visitas, a reparação de máquinas e instrumentos,
a guardade valorese as festas e cerimônia s - ca~amenlos, velórios, batizados-
desempenhadosna casa. A própria admini sLração pública se urbanizou, com a de-
mocraLizaçào da corte,o desenvolvimenw da burocrac ia e a ampliação das funções
elopoderpúblico.Asprofundas transfomiações por que passo u a sociedade brasi-
leira,espccin lmcnteas do selar terciário da eco no mi.a, de interesse específicodeste
capíltilo,apresentaramas mais variadas manifestações; é possíve l encará-las, por
exemp lo,do ponto de vista da decadência da autoridade pat riarcal. ''Assimcornoa
burocracin,os bancos,escolas, fábricas, escritórios e lojas, restringiram o âmbitoda

252
-grandee do la1c ndt 'i 1o, lambém o prcsidcnl<' da JHovínt ia, o ju11, o dwll- de·
casa
poliria,o advogado, o diretor de colég io, o dono cl<'_hotc-1invndira111"rsfc1,1de;aut<J-
ndadcdo proprio pnlnaicn" (l\lorse, 1~)70,138). I· po~~ívc,tlnml>t~111cn<.:nr,i-l.t s cio
pontode visln dn libcrln\ ·ao e.lamulher, e mc~mo ela n iança , L' dê!strnnsform .1ço(' ..
porquepassou., ordem familim . Dn no!>soponlo ele vista, intercsc;nfocali;,:11a par-
tiripaçãoJcssas trnnsiorma~ ·õcs na produ ção do espaço 111trn -urbnno, particulai-
mrntcdocentro pri ncipa l de nossas metró pol es. É impnssívcl entender o novo n·n -
uoquesurgia sem o chcl'c de polic ia, o ad vogad o, o haoco, o m(-rfico, n ltnLe>I e c;cm
alibertaçãodn mulhe1 da tutela ela casa -grande e <lo p,llrn1rca, c·om sua i,fa :1mocl1s
ta, aocabeleireiro. à co nfcitarin . à loja e ao teatro.
Surgindopara ntcnclcr ao co n s umo das camadas de mais r11ln renda , o descn -
\'olvimentoinicial dessas ntivic.lades foi marcant e no Rio de Janeiro, onde ':>C' con -
centravam .is grandes fortunas. As demai s cidades do país perman eciam aincia rela-
11vamc ntc atrasadas. Na c idade de São Paulo. por exempl o, os restaurante s
começaram n aparecer em 1852 "sem hospedagem porém. De 1855 cm diante prin-
cipmrama existi r holé is" (Taunay , 1953, 38). Um ohservaclor da capita l pauli~aa
afirmouque, na década ele 1860, "não se encontrava na cidade resta urantes, cafés,
confeitari as, casas de banho, bancos, etc." (Bruno, l 954, 452).
Odesenvolvimento do cnpitali smo mercantil fez crescer o comércio vareJista
t>introduziu profundas transformações no comércio atacadista e importador, alem
defazersurgir novos tipo s de estabe leci ment os, d esenvolver novos métodos de co-
merciare criar novos hábito s de consumo, tudo isso sob o impubo da crescente
concorrê ncia. Declinaram as casa s que era m sim ulLancamente imporlad oras. ata-
cadis tas e varejistas, que se conccnlrnvam na rua Direita (atual Primeiro de Março}
noRfodeJaneiro. lniciou- sc o declínio da "loja gera l", que vendia um pou co de tudo,
mas, ao contrário ela loja de departamentos - sua sucessora-, era operada pelo
própriodono e sua família, não apresentava qualquer estrul uração operncional in·
ternanem novos método s de venda e de trabalho. Estes só surgiriam com o comér-
cioempresariado. A distinção pode se r ilustradn por um confronto enlrc as emão
atrasadas lojas de São Paulo e as modernas lojas do Rio. "Ainda em LB 70 ha via 1cm
SãoPaulo!notável mistura na mercadoria das lojas. Mostrava-se na C.imara em 1869
queumalojnde ferrngcns da Sé vendia vinhos e perfumari as. Que a loja de fazendas
deCelestinoBour rol negoc iava tamb ém com chá. Que outros arnrnté11s de fazen-
dasvendiam beb id as. Que a cas a de couros de Henrique Fox fozia negócio Lam-
l>ém comfitas, toucados e enfeites para se nhora s (Bruno, 1954, 709)." 1 No entanto,
em1883,Von Koseritz (J ~)72, 10 l ), um imigrante alemão morador de Porto Alegre,
conhece dor das grandes lojas da Europa, assim descrcvin a prim eira granclr loja de
departame ntos surgida no Rio de Janeiro: "Omcm fiz nlgumas co mpra s e me demo-
reilongamente na grn11dcloja 'Notre Dame d e Paris'. É atua lmente a maior casa de
negócios do Brnsil e talvez da América do Sul. (...) Todo o prédio, com ns suas dez
imensas vitrinas, é construído de mármore negro e arranjado com um luxo que não
parece sul-americano . A ornamentação do edifício até o nlto, a composição que co-
roao conjunto, realizado s em excelen te trabalho de estatuária, e somente a casa,

253

aqui entre nós, deve valer os seus oito ce ntos conto s (sic ) . A ex po sição nas vitrinas
de enom1cs proporções e forradas de es pelho s é quaJquer coisa d e brilhante . O prin-
cipal efeito não é de variedade ou deso rde m sem gos to de imen sa exibição. Cada
vitrina corresponde a uma das de z secções do n egóc io e cont ém grande massa de
nmoscras dos artigos respectivos. Urna vitrina, por exemp lo, só contém fazendas,
outra somente calçndos, ainda um a qu e só expõe chapé us de se nhora s e artigos de
moda e assim por dianle. (...) Ê um negó cio g iga nt esco n o qual se encont ra tudo o
que diz respeito à especia lidade, isto é, a tecidos e obj e to s de u so para homens e
senhoras. (...) Nat11rnlmentc todo o arran jo e todo o s iste ma com ercial é de estilo
europeu. Cada secção tem seu chefe, se u seg undo e u1n caixeiro; a gente faz a com-
pra. recebe a nota e ouve ob rigato riam ente: 'p assez à la ca ísse, s'il vous plait'. Na
caixa a gente paga, recebe uma nova nota e .mediante a ap rese nta çã o de sta, o chefe
da secção entrega a mercado ria comprada" . A "Notre Daine " revela n ão apenas o
novo tipo de loja, mas também os novos m étodo s de ad mini stração, opera ção e or-
ganização do comércio varejista, que indicavam o na sc irnento de uma nova etapa
de se selor da economia. Incidenta lment e, as co nsiderações acima mo stram queas
transformações advi nda s qua se um sé culo n1ais tarde, con1 a difusão do supermer-
cado e depois do shoppi ng cen ter, têm muito m e no s d e novo do que geralmentese
acredira.
Outro exemplo no mesmo se ntido é d e un1 imigrante italia no , em São Paulo.
O imigrantes domi nara m o comérc io varejista no Bra sil urbano da segunda metade
do século XIX; vários enriquec era m como nia sca te s, abriram suas própria s lojase
desempenharam importante papel na renova çã o do comércio vareji sta. Em São
Paulo, "o italiano Antonio Pontrimoli foi uma espéc ie de precursor das modernas
'Lojas Americanas' [ante s "Dos Dois Mil Réi s"l . Ficara con1 o ape lido de Duzentos
Réis porque durante muito s anos vendera por essa importância todas as coisas
que mascateava pelas rua s. Montando uma casa de armarinho s na rua da Impera-
triz, continuou vende ndo por duzentos réi s todos os objetos do se u ramo " (Bruno,
1954, 709).
Os centros de nossas metrópoles são áreas comp lex as constituídas por várias
subáreas. caracterizadas por cert a co ncentração de atividades do setor terciário. Não
pretendemos nesle Jivro fazer um estudo detalhado da estrutura int erna dos cen-
tros de nossas metrópoles, mas sim tecer so bre e les o n1ínin10 de considerações
importante s para as análises que se seguem sobre as tran sforn1ações pelas qurus
vêm passando esses cen tros e qu e são significativas para a compreensão do espaço
ü1tra-urbano como um todo .
Uma obse rvação su perficial id entificará, p elo m e no s nas metrópoles de
maior pone, áreas onde se conce ntram algumas atividades - embora não pre-
domin em ne las. Algum as mai s típi cas sã o a d o se tor fin a n ceiro (como o Triângulo,
em São Paulo); a área dos cinema s (a Cin e lân dia , que ainda sob revive no centro
do Rio); uma área de apartamentos d e alta classe m édia (co1110foram até a década
de 1970 as ruas São Luiz, Martins Fo nt es, Viei ra de Carva lho e vizinhanças da esco·
la Caetano de Campos) , ou média (Praça Roo sevelt, rua Ne stor Pestana, Largodo

254
\rouche,em São P,llllo }: uma arca de boates e divc1 são noturna r prostituição
\fOlllO a rhnmad,1 "Boca do Lrn,o", em São Paulo, ou a Praça l\1auá, no Rio); uma
ái~ac.kagrnrias de turismo e c.Iccompanhias aéreas (rua 5ào Llllc;,cm Sno Paulo , e
Citll'lúndia, no Rio ), Nc . Os centro'i mais complexos - como o de C:,c10Paulo -
co·tumamapresentar tamlwm uma "coroa "' de concc•ntraçflo, cmboia nao neccs-
:mamentc de prcdomm10 , de atividades especificas, tal como uma r('giào de canti-
nase teatros e lrnrcs - Rixign -, várias regiões de comércio especializado, c:omo a
deacessonos de nutomóvcis e motos - a região ela avenida Duque de lnxia~ -. a
de matcrinl ele1rico e elct rônico - rua Santa Fíigc11ia - a ele lllslrec; e luminárias
- rua elaConsolação - e. finalmente, uma região de comé1cio atacadista.
Os centros principais de nossas metrópoles atingiram sua móxima extrnsão
físicnpor volln da déc~da de l 950.

ruode Janeiro
Em 1821, a cidade do Rio de Janeiro aprescntavc1 uma população de 79 321
habitantes.segundo censo realizado nesse mesmo ano nas freguesias da Sé, Can-
delária.• ão José, Santa Rita e Sant'Ana. A Cidade Velha ficara para trás da rna da Vala
{Uruguaiana)e uma "novn cidade" se expandia sobre os pântanos de São Diogo, numa
épocacm que a cidade como um todo e a maioria de suas elites cresciam predomi-
nantementena direção oeste. Essa parte passou a se chamar"Cidade Nova" - nome
queainda mantém. Na sua direção foram prolongadas as vias que partiam da ''cida-
develha",como as da Alfândega, de São Pedro, do Sabão e a do I Iospício. Em alguns
casos,além do Campo de Santana, tais nomes eram acrescidos da exprcs!)ão "da
CidadeNova".
Talcomo Parlo Alegre, o Rio de Janeiro ocupava uma ponta que avançava
sobrea água, o que induzia a expansão urbana numa única direção. À medida que a
cidade«vnnçavapara o interior, ampliava-se o leque de terrenos disponíveis para
ocupação.No caso do Rio, entretanto, o tipo de solo e a topografia continuavam
dificultandoa urbanização, pois havia mangues, lagoas e morros por lodo lado . Do
ladoda ponta do Calabouço, junto à qua l está hoje o Aeroporto Santos DumonL.
erguia-seo Morro do Castelo e, logo em seguida, o de Santo Antônio (veja as figuras
15c36). Entre ambos havia uma estreita passagem, embora já mais Iargn que ou-
trora,pois já havia sido aterrada a lagoa de Santo Antônio, que a estrnngulava bas-
tante. Do lado do Morro de São Bento, ainda os morros da Concciçfto e do Livra-
mento se alinhavam no longo da costa, confinando o espaço urbaniz.nel Nas
primeirasdécadas do século XIX, a cidade se expandiu ao longo das duas unku,
opçõesque o sítio lhe oferecia: a direção do imcrior (oeste), ullrapassnndo o Cam-
pode Santana, e :i direção de Botafogo; nesta última, o Caminho da Ajuda (desa-
parecidocom a abcnura da Praça Floriano Peixoto) e a rua d,LGuarda Velha (que
depoisde alargada seria n avenida Treze de Maio) penetraram pela brcchu existcn-
lC entreos morros e provocaram a ocupação em torno do já existente Passeio Pú-
blicoe, esparsamente, na Glória e no Catete. Desse segundo eixo de expansão, na

255
altu ra dn atu al Lnpa, partia um outro para o interior, por trá s do Morro de Santo
\ ntõ nio. Esse desvio para o int erior era repre sentado pela rua de Mata-cavalo s
(rua Riachuc lo), que se juntava, alé m do Camp o de Santana e depois de cruzar ,
µelo oe te. o Morro do Senado , com a rua do Cond e (depoi s Visconde do RioBran-
co), form and o a estrad a de Mata -por cos, po ste riorm ente Frei Caneca. Essapene-
trnçüo pelo noroeste é mais anti ga que a penetra ção par a o oe ste a partir elaCida.
de Nm a. Como o prolongamento da s rua s d o centro em dir eção ao inte1iorera
dificultado pelos pântano s, a cidad e de u uma enorme voha pela Lapa, contornando
os morros de Santo Antônio e do Senado, pro sseguindo na direção noroeste pelos
terrenos firmes da meia encosta do s morros . Não só ess a volta (anterior à chegada
de dom João Vl), como tamb é m os aterro s do s pântano s de São Diogo, para a urba-
nização da Cidade Nova (po sterior ), revelam como era forte a motivação do cresci-
mento urbano para o interior. Essa motivação, como já vimo s, eram os fluxo s de
tráfego regional qu e bu scavam, já antes de don1 João VI, os caminhos e portos da
Baixada, através dos quais a cidade se comunicava com as províncias.
Na primeira metade do século XIX, o Rio de Jane iro começou a diversificar
seu espaço urban o. O centro se detln iu mais claramente como área de concentração
do comércio varejista, embora ainda não .fosse ali exclusivo. Não havia nenhuma
rua, nem mes mo a rua do Ouvidor, que fosse exclu sivamente comercial, pois em
muitos dos sobrado s apenas o pavimento térreo o era.
No século XVIII, a rua Direita (atual Prirneiro de Março), paralelaàorlaejun-
lO aos emb arcadouro s, era a prindpal rua do centro, reunindo o comércio atacadi s-
ta e o das firmas de importa ção e exportação, predominantemente ingleses.Ovia-
jante alemão-le tão Ern st Eb el. (1972, 69 -71) dá-nos uma detalhada descrição do
cemro do Rio de Janeiro em 1824. Segundo ele, a rua dos Ourives (parcialment
destruída com a ab ertura da avenida Rio Branco), "embora corte a cidade emtoda
sua extensão, quase só tem b ijuterias, mu itas das quais bem sortidas em peçasde
prata. A rua da Candelária e ra especia lizada em comércio de velas e na rua daQui-
tanda os pon ugueses tinham seu s arn1arinhos (...) um ao lado do outro".Aruada
Alfândega concentra va "os marceneiro s e seleiro s quase com exclusividade".Final
menteJ já em 1824, a rua do Ouvidor pontificava como a rua chique da cidade.Ao
descrever o cent ro do Rio d e Janeiro, assim se expr imiu Ernst Ebel: "Aoentram10 s
porém na rua do Ouvidor ac redilamo-no s tran sportado s para Paris, porquenelase
estabelece ram os fran ceses (...) com aquela elegân cia que lhes é peculiar.Aíven -
dem de tudo.( ...) No salão do maitre -coiff eur se qui seres cortar o cabelo, seráscon-
duzido a um capricho so gabin ete, guarnecido por esp elho s( ...)".
No início do séc ulo XIX, o centro do Rio d e Janeiro sofreu seu primeir
reman ejamento. Not e-s e que Ebel ainda con siderava o comprimento elacidade o
sentido paral elo à orla marítima, ao afirmar que a rua dos Ourives (paralelaà orla )
"corta a cidade em toda a sua exten são". Várias da s rua s que menciona -Ourives
Quitanda e Candel ária - são parale las à orla. Com efeito, até a segunda metadedo
século XVIlí a cidad e, depois de de sce r do Morro do Castelo, havia crescido(onse
adensado) entr e esse e o Morro de São Bento, ou seja, no sentido paralelo à orla.Fo i,

2 56
pois,nesse sentido que se d es envolveram os prin c ipai s íluxos d e trál c:go qu e: f11.,·-
ram dn rua Direita n run co m e rc ial nrni s importante ela é po ca ; n uo s 6 a rn n Di re ita,
mastambém outra s parnlcla s à orla . Noronha do s Santo s ( 1934 , 'rn ) ílfirm a rríC'rin-
do-se à rua do Ouvidor no iní c io do séc ulo XfX: " Grande p nrte de <;Ct1~ immo vci s
represenlavnm m en or somn d e valor lo cat ivo cm confronto com os clns cas c1~ da !>
ruasdos Ourive s, da Quitanda e Direita - a tortuo sa run Primeiro ele Ma rço - e
nas quais prepond e rou o grnnd e c ommcrcio de importa çfto e exporta ção" . Ioda s
essasruas ernm con s iderncla s "lran sver sais " à s r uns pcrpcndi c ular c!>f1orln e, p o r-
tanto,à rua Dire ita . Trata -s e da s ruas do Sabão, dr São Pedro , da /\lfítnd cga, d o
Ouvidor,ele. (veja figura s 15 e 36). Com a expansrio urban a, ac.knsaclo <)C'i f)a ç o
entreaqueles doi s morro s, a c idade começou n a lo ngc1r-s e para o inlerior e se u
compriment o pa ssou a ser o scnlido perpendicular à orla. Com isso, alt c rarnm- ~c
osIJuxosde tráfego que começaram a predominar neste último se ntido , rransfe-
rindopara ele os ponto s de máxima acess ibilid ade do conjunto urbano . Nasce u
assima rua do Ouvido r como ponto ótimo para a localização de alividad es econ ó-
micasque procurnvam esse atrib u to locaciona l para maximizar se u lu c ro . Nela
concentraram -se, então , o comércio varejista e os serviço s que at e ndiam às ca m a-
das sociais de mai s a] ta re nd a , pois puderan1, melhor que qualquer outra , des en-
volver, com re lação às áreas residenciais dessas camadas, uma po s iç ã o qu e
otimizava seus de slocame nt os. As v ias paralelas à orla (de en tão ) pa ss aram a se r
comercialmente meno s importantes que as perpendiculare s a ela : a rua Dir e ita
cedelugar à rua do Ouvidor .
Entretanto, não fica clara à primeira vista a esco lha da rua do Ou vid o r com o
localdas loja s e serv iços das e lit es cariocas. Con10 já vim os, a maior part e da popu-
laçãoda cidade, inclu sive a m a iori a da sua popul ação de mais alta renda, localiza va-
se na direção do jnLerior (oeste), isto é, a re gião que vai do Largo do Paço (depoi s
PraçaD. Pedro li , hoje Proça Quinze de Novembro) ao Ca mp o de Santan a, e ainda
emperiferias desse setor oes 1e, como os atuais Estác io, Catum bi, Rio Com prido, São
CristóvãoeTijuca. Seria de se esperar que aqueles es tab e lecime n to s de com é rci o e
serviçosse localizassem e m uma o u algu ma s das vá rias ruas que ligavam m ais dire-
tamente a orla marítima - o emba rcadouro - à região des ses bairros. Afinal. a rua
doOuvidorterminava - como ainda termina- no Largo de São Franci sco de Paula,
poucoadiante da rua Uruguaiana (da Vala), limite da Cidade Velha. Havia rua s,
como a do Hospício (a tu al I3uenos Aires) e a da Alfândega, que chegavam até o
Campode Santana; a rua do Snbão - com o non1e de rua do Sabão da Cidade Nova
-ultrapas sava esse Campo e a rua de São Pedro , prolongava -s e pelos mangai s de
São Diogo através do Camin h o das Lan tern as ou Ca m inho do Aterrado, até os
portõesdo Paço de São Cri s tóvão. Por qu e o comércio e os serviço s ori e ntado s
paraas camadas de m ais a lt a renda não se concentrara m em algumas dessa s ou-
trasvias?Por que não o fizeram n a rua de São Pedro , por exemplo?
Arazão está numa co nju gação d e fatores. A rua do Ouvidor incide m a is próxi-
moao Paço (da Pra ça Quinze). Embora o s soberanos - dom João Vl e se u filho -
morassem
cm São Cr is tóv ão, as grandes ce rim ônia s e acontecimentos públic os ocor-

257

- .,,,,
_
rinm no Paço ela Cidade ou na Capela Rea l. Basta a menção a a lguns eventos que neles
ocorrcrnm para termos uma idéia do movimento que geravam. No Largo do Paço,
de se mbar co u dom João VI. Numa de sua s janelas, don1 Pedro I dis se ao povo que fica-
''ª· Nele casou -se dom Pedro I co m a Princ esa dona Leopoldina , morreu a infanta
dona Mnriana, tia do rei. e esteve exposto em cerimôn ia de beija-mãos o cadáver da
Hninh,l dona t,..laria l (Gerson, 1965, 49). A r u a do Ouvidor era fre qü entemente usada
roma itincr~rio para o Largo do Paço . Erncst Ebc l (1972, J 10) descreve o co rtejo que
solen emente se o rgani zou quando dom Pedro l jurou a prin1eira Constituição, a 25
de março de l 824. "J\o meio -dia saíram o Imperador e sua Pamília de São Cristóvão.
O séquito desceu pela rua do Ouvidor, rumo à Cape la Real no largo do Paço." Tam-
bém, mais parn os lado s da rua do Ouvidor do que par a os das n1as do Sabão ou São
Pedro, ficava o principal embarcadouro da cidade, a Praia dom Manuel. "Com efeito,e
por dois séculos, foi através da praia( ... ) que a cidade manteve todo s os seus contatos
com o mundo exterior"(Gcrson, 1965, 39). Con tat os não só com locais distantes, mas
também próximos, pois dali, já no início do sécu lo XIX, largavam regularmente as
canoas com destino à Praia Grande (Niterói). Alén1 disso, a n1a do Ouvidor era uma
das que, junto ao mar, ladeavam a Praça do Mercado e a respectiva doca, ponto de
grande movimento.
Pinalm e nte, há que se considerar a disputa lo caciona 1 entre, de um lado, o
comérc io va rejista e, de outro, as casas importadoras e exportadoras. As já menci-
onadas ruas que se dirigiam diretamente à Cidade Nova iniciavam-se junto à Al-
fândega, o que fez com que n ela s e nas respect iva s travessas se localizasse a maio-
ria das casas de imp ortação e exportação. Tais casas apresentavam, então, excepcional
capacidade de disputar com o co m é rc io varejista as localizações que cobiçavam,
não só por acumularem freqüe nt e m ente o varejo com o atacado (numa época em
que eram comuns as importações indi viduais por encomenda), mas também pelo
grande volume de importações de bens de consumo n ão-duráve is que na épocase
fazia. Pelos m éto dos de comerc ia lização que vigoravam, essas casas apresentavam
requisitos locacionais semelhantes aos das lojas a varej o, da s confeitar ias e das mo-
distas, uma vez que atendiam predominantemente a indivíduos/fregueses, e nãoa
empresas, como hoje. O levantamento do centro do Rio de Janeiro em 1874 apre-
se ntado no já citado traba lh o "A área cent ra l do Rio de Janei ro" (IGBE/CNG, 1967,
56) e aqui sintetizado na Figura 36 mostra que no quadrilátero compreendido entre
as rua s dos Ourives (rua Miguel Couto), do Ho spíc io (rua Bueno s Aires), Direita e os
morros de São Bento e Co nceição havia predominância de casas de import açãoe
exportação sob re o comércio va rej ista. So br e esse quadrilátero incidiam as ruasque
ligavam a parte do ce ntro próximo à Alfândega n1ais diretan1ente à zona de concen-
tração da s camadas de alta renda. Em n en hum dos quarteirões desse quadrilátero,o
número de estab e lec imento s de comé rcio va rejista era s up erior ao de casas impor-
tadora s e exportadoras . O contrário ocorria na área contígua, entre as ruas do Hos-
pício e da Assembléia. Ali, em nenhum quarteüão, o comércio va rejista era
minoritário. Os vários levantamento s da obra su p ramenc ion ada reve lam também
que, em sua expansão, o comércio varej is ta nã o desa lojou as casas de imp ortaçàoe

258
exportação;tão-so m en rc envo lve u -as, expa ndind o-se na faixa entre a rua do Ouri-
vese a Uruguaiana, em quase toda a sua exte n são - lembremo -nos de que essas
ruassão paralelas à or la.
Essa expa nsão já era o prenúncio da te rce ira reorien tação que sofreria o cen-
trodo Riode Janeiro. Um a nova rua-sínlese su rgir ia e voltaria a se r parale la a orla
antiga:a avenida Ce nt rnl.
No final cio século XIX, ini cio u -se o processo de abandono da zona Ocslc pe-
lascamadas de mais a lt a re nda ; e la s p ass aram a se co n ce ntr ar crcsccntementc no
queviriaa co nstit uir a zonn Sul (Cate lc, Glór ia , San ta Teresa e Botafogo ). Com isso, o
centrovoltou a se de se nvolver p arn lelam enr e à o rl.n nrnrítim n (no se ntido perpendi -
cularà rua do Ouvidor), co mo já pr enunciava o levantam ent o de 1874. Na pa ss agem
doséculo, estava c lar o qu e os ví n c ulo s do centro da cidad e tend eriam a ser m ais
coma chamada zo na Sul do que co m a Norte - na verdade , Oeste. Os fluxos de
uáfegodas camadas d e mais alta renda daí d eco rr ent es começaram a demandar
umanovavinque os cana li zasse para aquela zon a. Nasceu, assim, o eixo avenida
Centrnl- avenida Be ira - Mar unit a riament e co n cebi d o. A parte inicial de sse eixo,
a avenidaCentra l, at raiu n ão ape n as uma part e do co m ércio varejista, mas tam-
bémos estabelecimentos da a lt a finança, as grandes e mpr esas, os hotéi s, os ór -
gãosde classe (os clubes militare s), o s jorna is, cinema s e importantes edifícios
públicos.É de se notnr que, embora se m in terpretar essa dinâmica de sucessivas
reorientações, Gerson (1965, 28) captou-a na seg uinte frase: "É muito comum
dizer-seda rua do Ouv id o r que ela foi a rua-líder do Rio antes d a abertura da
avenidaRio Branco. Ma s de sse pri vilég io ela só d es frutou na segu nd a metade do
séculoXlX e no s primeiros d ecê nio s do atual. Até enlão, e desde o séc ul o XVII[, a
principal fora a Direita". Po r iss o a avenida Central foi aberta n a posição qu e foi.
e nãoem o utra qualquer.
Essa avenida foi inau gurada em 1905, mas já ante s Pe reira Passos p rossegui-
raa constru ção da avenida Beira -Ma r, iniciada em 1893 e inau gurad a em se tem-
bro de 1904. A. vin cu la çao e nlre as aveni d as Central e Beira -Mar e n acessibilidad e
à chamada zona Sul estão c lara s no s plano s viários iniciados po r Vieira Soulo, dn
décadade 1890, e reela borad os e ampliados po ste riorm en te por Pereira Passos,
queosexecutou como um eixo que se estendia d a Pra çn Mau á a Botafogo. "Em 7 de
setembrode 1893 a p refe itura inaugura os Lraba lho s de uma aveni da projetada por
VieiraSouto, ent ão direLor d e Obras Municip ais, visan do sanea r e emb elezar n en -
seada de Botafogo. Co m 70 m e lro s de largura e la se este nd eria d o Russel à Praia dn
Saudade;posteriormente se ri a prolongada, num extremo, até o cais Pha roux, no
ourroaté o cais da Urca, perte n cenle a uma empresa p artic ula r q ue 'ja obedecia os
preceitosde embe leza m e nto '. Contudo , as obra s foram paralisadas em 1895. (... )
Restouapen as um tr ec ho de ca is (470 metro s) e ntr e o Morro da Vilíva e a ru a
Farani,incorporado ao plano em 190 3 ( Be nchimol, 1992, 237)." Em bem fundn-
mentadainvest igaç ão , esse a ut o r ( id em, 244), re ferind o-se es pe c ificamc nl e à
avenida Beira- Mar, a firma que ela "articulava -se ao s e mpr ee ndim e nt os imobili -
áriosem bairros j á constr u ídos (Flan1engo, Bota fogo , etc.) e cm bairro s e m e r-

259
l-\'ntt•,, cnnlll t op,lc,,h;rn,L \qu i h,\\'i.1 um,, dcl ·l,11-.Hl.1,tlian,·a l'THrt' o Cswdo.qul
lll\'l'sl 1.1 lt't 'l11,n -. c:m t.n 01 de,sas 1nn.1s pt 1\ ilt-gi,1d,1s, ,1:-; ç)as~l."~ que dcl,1sdes.
11lll,1\,tlll l' ,, 1.·,1p1l,1I.qm• 111,n,1 JHP\ l'ito d,t, ,do1 tl', t\ ·,w proporcionada pdo Esta-
dtl ' lkknndo 'l' l'tn scgu 1cl,1à,\ ,li ins ,l\'l'nid,u, l'"Cctllada, no Hio dt' laneiro no
llll1.. "' dti !-l'l'lllt> d,ts j,l rit. nl, 1s, lnt ,llll .1lw1 tas., ,l\ t•nid,1 R0<..lrigue~
.111.•m ·\Ires,
Jlltlt,\I\Wlltl' l '1llll u p1.,1to, ,1 ,l\t'nida 1'1.111ci,co H1c.ilhn (' outr.is -. rt.•1terne se
,Hllt>l ( 1 l.l) qu1.'t•l,1s,\lcndi,m1 ",1 duis n hjl-t ivos complemcnl.ucs mas Llcnntmcza
d1k1t'l\h' U plllllt'trn di1i;i n•speito :1 t·iu.:ut a,·,10 u1hathl. associada ,l melhora-
lll\'lllt''- qHl', dt • mudn geral. ronl t il>u1,1m p,tr,1 o proct'sso cm curso de
t•,u,111l1t ,l\,H1 sonal tio csp,wo 111b,111 0 can<wa. Com 1~11 .1-.
e,ccções, beneficia.
\ ,1m t', ,\101 i1.1,am ,m.--,1s de murndi,ts d,ts cl,tsse, dominantes ou alendimn nos
intl'll',Sl'" d,1:,;romp:rnhi, 1s pai tir ulnr C's d<' l1,rnspc>rh's, lotPamcnto ou cons1ru-
1;:1u L'll\ llh 1d.1, na t's1wculaçüo com o solo u, b,1110". N,1s nrcas centra is, esse nutor
tt•g1,11,1 ,1 l~\plldl,l intc>nç5o dr desobstruit nn.•ns de gr.1 ml e potencial dr \íllor
imobth,1110, p01('lll ont padn-. co m im óveis vt'lho!->, pnra. ,llrnvés de grandes obras
v1,1ti.1s, l,lH'l 1.•dndir tnl potencial ( \'cja, n o cr1p1tul n l, s<'ção " Localização, valore
JJrl'~ n d.1 ll't 1,1 ui hnna"). oferece nd o os 1cn cnos ao cnpital imobiliário. Para fn.
lt'tHit'r o p.1pcl dt>ssas, ia s no atendimento ,lO~ interesses de deslocamenio das
cam,1d.1.;;tk 111.ti-..ilia remia, é fundamcnt.tl entender as suas loca lizações. Oob·
jl'tl\·n 11.10 1.' ,tpcnas r.worcccr n es p ccu laçün imobili,üia, mas também as condi·
~-lk's dt' \ ida - de ckslocamcnlO - d.1!. dassc s beneficiadas ... e o objetivo iosse
,qwna, .1 l''-J1CClll,1~-ão imobiliarin, n ,l\'enidn Cenlral poderia Ler sido abena, por
t•wmplo, no scmido paralelo à rua do Ouvidor. na posição da atual Presidente
\.ug_as, po1 e·H~mplo. ou na da nm t\tareclrnl f.loriano, uma rua ainda nobre na
L'P0l.a. Com '"se>,cnt rctm1to, não esta ria ofcrcct'ndo melhoria de acessibilit!ade
.1 "lon.1 Sul" <' laml>6m, não hü duvida, estaria fni'cndo ec lodi r um potcncinl de
n1lorin1çJu imobiliaria menor - embora sig nifi ca ti vo -, precisamente porque
os llll).o~. nessa hipolélica avenida, se riam tk renda mai s ba ixa que os dem:mda·
de>~pela ··zona ':iul".~O co njunto dessas ave nida s aparece no mapa "Le Nouvcnu
H10de Janeiro - 1903-1906", que m o-;lrn as obras ele Pt'rcira Passos (reproduzido
('111 C \RDOSO. E. D. et nl., 198-1-,
32).
Essa no, a reorientação do centro do Hio ~e revelou nã o só pela avenida Cen·
uai - ce1tamente sua mnis portentosa mnnifc ~rn~·ão - , m a:s também por outras
rua:- pa1alelas a ela. \ rua Gonçalves Dias, p or c:-.cmplo, va lo rizo u-se muito. atrain-
do íl monumcntnl Confeitaria Colombo. A rua Uru guaiana tamb ém se destacou; se-
gumJo o IB<;r- Conselho Naciona l de Geografia (1967, 59). e m 1903 essa ma apre·
senla\',1 ,7101as rnrcjistas, enquanto em 1877 a mividndc comercia l em ali praticamente
ínrxislL'lllC'.l'ssc rápido desenvolvimento, cm apenas tr cs décadas, escaria-segundo
o dorumcnlu - estreirn mcnte relacionado co m sua 11rbanização. Até 1880,prosse·
guc, "era a nw Urnguaiana uma rua zinh a cst rc itn e s ujn , com uma vala que drenava
íl!->nguns da l agon de Santo Antônio para a Prainh a. Porém, por volta dessa década
toi fechada e corn11lcta<lo o ca lçam e nto da rua. Em função dess e me lhoramento ur-
bano, passou a atrair casas comerciai s qu e d ela então se afastavam devido n suns

260
prssim,1scondições". Note -s e como , nlém dn nvcnidn Ccn trnl, os melhornrnl 'nto s u1-
b,111os inridinm ~obn: runs que lignvnm o ccn lro antigo - entflo situado enl rC'íl!-iruds
doOuvidore Mnrcchnl Floriano - à dirc~·ão cfa "znnn Sul".
E difíril arei lar cs s n te s e - ele que fornm os mc lhommcntos citados que
motiv,1ram o dcsenvolvitncnto da r u a Uruguaiana . No final do séc ulo pa~s.ido, co-
d:isnsruas centrais do Hio jú estavam pa vimen tndn s P sancacln'-, rorém ntlo foi cm
wdnsque o com(Srcio cr esceu com o ímpeto dn rua Uruguainna . /\incl .t aqui -
comono raso das grand ·s via s , dos túneis, etc. - os mclhornmcnro s con s lilurnm
nckito, não a causa. A causa re sidia n o atendimento nos interesse ~ da s r anwd ,h
dl'alta renda e no merendo por cln dominado, que fez eclodir os valore !-im obil1n
rios e no\'os bairros, e também o desenvolvimento do comércio, orientado pnra
t'S!-ílScamadas em ruas e s pecíficas e m c lhoram e n tos urb anos.
Destaque-se ainda, no caso descrito, o s ignifi cado d e estrutum urhnna en -
qunnroum todo articulado de partes que se relacionam, no qual alteraçoc s em
um:1 parte. ou em uma relação a lt eram as demai s partes e relaçõe s. Novam ent e,
articuladaaos interesses dos bairros res id enc iai s das camadas de mais nltn rcnd,1.
aestruturaurbana do Rio se alterou; n esse processo incluía -se a posição da ave ni-
da Centrale o surgimento da Cinelâ ndia, na s ua extremidade volta da para a zona
Sul,e de uma nova parte "nobre" do centro, que se desloc.iva para a região dn Pra -
çaFloriano Peixoto. Ali, o mercado fez s urgir a Cinelândia e o Estado ergueu o
monumentalconjunto de edifícios constituído pelo Teatro Municipal, a Biblioteca
Nacional, o Museu Nacional de Belas-Artes e o Senado Nacional. Em meado s cio
séruloXIX,as burguesias se concentravam a oeste; s ua diversão era m os teatros ,
queseconcentraram na ext rem idade oeste do centro: na Pra ça da Constituição
(antesRocioGrande, depois, Tiradentes). Nas primeiras décadas do século XX:,as
burguesias já se concentram na zona Sul; sua diversão era o cinema, e es tes come -
çavam a se concentrar na extrem idade do centro voltada para a zo na Sul. No ccn -
rronovode então.
Ocentro dividiu-se, pois , em duas partes. Num extremo , surgiu n parte popu-
larqueocupava a antiga área nobre, agora abandonada: a reg ião da Praça 1\lau n e
Praça Tiradentes. No outro extremo, voltado para os novo s bairros nobr es dn ílore ·-
centezona Sul, surgiu a nova parte nobre do centro. Isso se deu nrticuladamentc
como novo processo de segregação que se iniciou e se acentuou nas décadas sC'-
guintes, segundo o qual na chamada zo na Sul se concentraram crescenteme nt e ns
camadas de mais alta re nda , e na zonn Norte as de re nda m ais baixa./\ esse proces-
so,comoveremos adiante, estiveram mais tarde associados a chamada "clccaden -
cia''do centro, in clusive da rua do Ouvidor e a da Tijuca, e o sur gimento de
Copacabana,depois o eixo Copacabana-Leblon, como o seg und o centro un Hio r
deBotafogocomo a nova região de escr itórios.

SãoPaulo
Nasegunda metade do século XIX, as p rincipajs ruas comerciais do ce ntro de
SãoPauloeram a da Imperatriz (Quinze de Novembro ) e a de São Bento - princi-

26 1
p,lln w n tc ,\ primcir ,1. 1\rn ba s co nve rg iam par a o Lar go elo Ro sár io (a tual Prnça/\ ntô-
mo Pt ,1tin). 110 qual se --q~u e m hoj e o ivJartin e lli e a s se d e s d o s b a n cos do eslado de
::,ciPaulo l ' elo Brasil. Dess e la rgo d esc ia a la d e ira d o Ac u (in ício da ntual avenida
s;w Jt,ü o ). d t" onde se tran sp unh a o có rr ego d o A nhang a b a ú a tra vé s da ponte de
nH.·s m o n o m e. Jun to a ess a po nt e oco rr e u o p rin1 e iro tr a n sb o rd a m e nt o da cidade na
d i rt>~<'tooe .·tc, parn al é m -J\n h a ngab aú.
No íl n nl do t ".>r
c-ciro qu a r te l d o sé c ul o Xl )(, a nt es d e t e r iníci o sua segregação
no b<1ir ro de ·ump os Elíseo s, as e lite s pauli st an as e s tava n1 es p a lh a da s em torno do
centro , ·o m o un 1a t1pi ca cid ad e p eq u e n a. Est ava m e n1 ci n co loca is (não se poderia
sequer h a rn d- los de bai rr os): na Glór ia , n o Ca rm o e n a Lib e rdad e - ao norte do
centr o origi nnl, re pre se n ta d o p e lo Pá ti o do Co lég io - 1 na Lu z ao sul e em Santa
Ffig0nin a oe te. e ..tc s ú llin 1os j á fo ra d a c olina ce n tral. A ru a Quin ze de Novembro
ern u ma ru a d e c u rneeirn, u m divi so r de ág ua s e ntr e o s val es do l\nh a ngabaú e do
Tamnn du a te 1e, c o m o tal, e ra a es pinh a do rs al d a ci d a d e . O ext rav asam ento urbano
pela ponte do .\ c u refo rço u a p os ição lo c acional do Lar go d o Rosário , enquanLo o
d ., -envol\' i111e nt o d os o u tros t rês loc ai s citado s refo rça va a po siçã o da Praça da Sé.
Por e ses m o tivos, no fin a l d o séc ul o XIX, o s p o nto s a pa rtir do s qu a is se irradiavam
ns linhas d e b o n de estava 1n pr ecis ain e nt e ne sses doi s e xtr e mo s da ru a Quinze de
~ o,·embro (Bruno. 1954 , 1079). A rua da Imp eratriz a traiu a quel es est abel ecimen-
to de co m érci o e se rv iços qu e d isput a va m a s po siç ões d e 1nelhor ac ess o às cama-
da de n1a is alta rend a e tornou -se a prim e ir a mani fe st a ç ã o do centro comercial
da cidade d e São Pau lo.
A n1aioria dos cro ni stas rev ela qu e a s rua s Quin z e de Novembro e São Bento
era n1 a princi p ais r u as c on1erci a is de Sã o Pau lo no final do século XIX, mas a rua
Direita já co meçava a se d ese nvol ver, embora só tenha realmente superado essas
duas d ep o is d a ina u gura çã o do viaduto do Chá. É estranho qu e, em 1883, Koseritz
cenha da do ta nto desta qu e à rua Direita. É válido duvidar da s ob servaçõe s do jorna-
lista te ut o -gaúc h o sobr e ess a rua, com base não s ó na s descriçõe s que ele próprio
faz d as outr as rua s. co n10 ta mb é m pelo fato de e le t e r pa ssado apenas qu atro ocu-
pa d os dia s e m São Pa ulo: do fin al do dia 6 a 11 d e novembro de 1883. Refere-seele
(1972, 244 , 245) à rua de Sã o Be nto corno "a mai s importante da cidade ''. ln forma
que n a rua da Imp erat ri z est a va m a s lojas Garrau x e que ela era "um a bonita rua
co rn muita s loja s e lega n tes". De poi s, faze ndo menção à ru a Direita, afirm a que nela
"adm ira -se grande a nim açã o, as vitrina s, etc . É uma ru a bonita e larga que lembra
m u ito o Rio; qu io sq u es co m band e irol as , a núncio s c olorido s e m todas as paredes,
gra n d e s loja s, e tc . dão a e sta ru a um a s pe ct o d e grande c idad e que n ão se nota nas
out ras"(ve ja Figura 38). Na ru a d a Imp e rat ri z , e ntr etanto, e ncontravam- se, além das
loja s Ga rr a ux, u m a da s gra nd es loja s ger ais da é po ca , vá ri as outras. Silva Bruno (1954 ,
1162- 63) , ao d iscor rer so br e as gr a nd es loja s de Sã o Paulo na época , declarou serem
e las a Not re Dame de Par is, a Au Pa la is Roy al, Au Boul e va rd, Au Louvr e e Au Printemps
e qu e ··e stavam quase to d as lo cali za d as na ru a da In1peratri z" e ainda que "nas ruas
de Sã o Bento , Quin ze d e Nove mbro, d o C o1nér c io - na s quais já e m fins do século
pa ss ad o se viam as gra nd es c a sa s comerciai s e ban c ár ia s - ost e ntavam- se edifício s

2 62
considerados elegantes para a época. Isso acontecia um pouco mcnm na ruc1f>1rt·1 -
líl, wlvcz a via públi ca do ccn tro q11eno começo do século ali 1éil nprcc;rnta'i~camdd
maiorquantidade de edifíc ios trnclicionai s" (idem, 937).A p,ígina 979,';ilra Bwnc,
afirmaque ··o álbum editado em 1905 pelo próprio Jules Martinj~ assmalnr,,,, e·d,-
tcnciade uma bela gale ria na rua Quinze de Novembro- Galeria Werbendocfer-
ünica no Rrasil. servindo de comunicação entre aquela rua e a da Boa V1sl,t. finha
umacobertura de cristal suportada por arcos de ferro, contando trinta e c,ejc.,nrrnn-
zcnsno andar térreo e cinqüe nta e quatro escritórios no primeiroandar".1:s,c,mes-
moautor,à página 98.J.,cita o depoimento de um observador que, cm J'JOO,ilir-
mou:"Talvez por se u cunho co mercial e cosmopolitn, a rua Qui111c de Novembro
tinhn,à noite, mais animação que a rua do Ouvidor no ílio de Janeiro··. Cássio~lolla,
citadopor SilvaBruno à página 1168 da obra em ciucstão, nota que"o alto comrrtio,
'ocomércio para tudo e para todos' era no centro que se condensava.E rnab c..,pcci-
ficamentcna rua Quinze, que se destacava pelo luxo de suas lojas".Raffard,que \'is1-
1ouSãoPaulo pela terceira vez em 1890 e que agudamente a observoucomo repor
terparnuma série de artigos publicados em O Diáriodo Cornmércio cioRiode Janeiro,
assimse expressou: ºNão se pode considernr as lojas paulistanas iguac!>auxgrand5
magazinsdo Rio,se bem que algumas fariam boa figuranas ruas principais da cnpi-
talfederal;é contudo de acreditar que breve se achará mais completaa transforma-
çãoda rua Quinze de Novembro, a qual será então tanto ou mais bonita que a rua do
Ouvidor, tão encantadora para os fluminenses" (Raffard, H. 1892, 171).
Apartir do final do sécu lo XIX. como já mostramos, iniciou-seo preces o de
crescentesegregação das camad as de mais alta renda em bairros exclusivoslocali-
zadosalém-Anhangabaú. Simul taneamente, locais como Glória, Carmo e Liber-
dadecomeçaram a ser ocupados pela expansão do centro ou por camadasde ren-
damaisbaixa.
Relembremosque a partir de Campos Elíseos,VilaBuarquee SantaCecília,as
camadasde mais alta renda con1eçaram seu caminhamente em direçãoà nvenjda
Paulista. Esse caminham ento tomou inicialmente a direção oeste (CamposElfseos).
desviando -se, depois, para o sul. Se tivesse mantido a direção oeste, deveriater se-
guidoa direção da avenida São João cm direção à Lapa. De fato,essecaminhamento
chegoua esboçar-se, pois, até a década de 1940, o eixo avenida São João-avenida
Francisco Matarazzo (então Água Branca), entre a Praça MarechalDeodoroe o Par-
queFernandoCosta, ainda era ocupado por mansões elepadrão idênticoàs da ave-
nidaPaulista. Entretanto, aquelas camadas não prosseguiram nn direção oeste;
deíleriramà esquerda e começaram a subir pelos contrafortes do espigão.Pela
vinculação que mantinha co n1 as camadas de mais alta renda, o centro principal
imediatamenteressentiu-se dessa deílexão, fazendo com que as ruas Quin7ede
Novembro e São Bento começassem a se desvalorizar como pontos comerciais.
Jáno final do séc ulo XIXse faziam sentir as pressões para um cruzamentodo
valedo Anhangabaú no prolongamento da rua Direita.Foi quando se começoua
pensarnum viaduto que transpusesse o vale. O projeto do viadutodo Chá data de
1877, mas foi iniciado sornen te em 1886 e inaugurado em 1891.Esseviadutoe seu,

263
prolong .,m t'nh h .,s 1uas B.11,\0 cl<'li .LfH'l i11ing., <' do Arou C" hC' pa ssoram a 'iPr r,
,t
nm o rnn .il dt' 1igaçan c•nl I e o:-,novos baÍI I c,s d a l'l wo sl a cl H V<'11íti :1 Pa11li sl a t' o CPn-
t rn. Um ,tn u ,ll\ lt·~ d,1m augur a,·;ll>do v iaduto, H.1fta1d j ;í p1L' SM 'lll lé 1 '-,('li dC'iL,J1i nhm
u l'llllH.' 1\. io d.a I un 11irl'i l ,l. fk! r-1 indo -s e•.io <:a!t~ do< :1t,i {1H~l2, 1n:n, afi, llHit1
: "Creio
qlll' M'r,1 mui to l1e qu en tado q u:11,clc,c•,;t ive r t<'rlll i nado o viatluc lo c!Pst inmlo a li~ar
,t r<'ft' t 1d,11u,1 l1i1l'Íta co m a cln Ban lo d • lt,qwt i ll inga , ~obr e o n 11l ig, > M1i1rn cl,1U1fi"
Pl'las I u ,1s dn Arnuc lw e Ha, iio d<' ltnpl'I in i11g.i, pn ssavmn o s [lu xos clt' 11álcgo que,
p ro, C'nicn lt':--dos ha i1ros ari s to cr nti c:u s d a!-.en cústa s do c•spig,10 1 pc•1wtrnvnn, no
·11ifmgulo at r,\\'l'S do vindutn ( lo Chü r da nw Di rl'it H, qt1e pn ss ou n sc•r a rri11ripítl
rna cieronw rric) e ::.e, viço:,;da s lrnrgm' :-.ias, 11c-lnse• locali z.arnlo :1s grnnd c:sloja" C< >mo
.1c.,~.1 .\lt'mfl, .1Slnpc r, ns ccml' c i ta rins e os cn fc•s.
Pata p ro,;;:wgui, se u cr "scim c nlo na clircci ío d e con c:cnlra ção cios bairros de
nltn rt?ndn, o CC'nt ro pr in ci pnl clcvc rin ultrnpn ssar o vnlc cio /\nhongnl>nú . Jií cm 1911,
,1 inauguraçJo do Teatro M11nicipal no Morro do Chá pr c nuncinvn cs~a lransposi-
ção. No final dn déc-acln de l~)~O. novam ente mudou -s e n loja Mappin Storcs, dem
\C7 para a Praça Ratnos de /\ zcvccln, cm frente ao teatro. Not e-s e como o Estado
seguia o movim en to cio mer cado. Além cio /\nhangabaú, in stalou -s e o TeatroMurn -
ripal e, nos nnos 30, a ílibliot e ca Muni cipal. /\ s residência s ari stocráti cas instalada~
próxmrn ao cent ro oc upa vam a run São Luiz co1n sua s e normes man sões.
Teve mício, e nt ão, o proces so de bipartiç ão do centro ela cidade, o qual se
concluiria na lléca d a de 1950; a parte do centro voltada para o sudoe ste (além-Anhan-
gnbau) co meçou a abri gar as lojas, os profi ss ionai s liberais, os serviços elediversão,
pes~oais, etc. voltado s para o atendimento às camadas de alta renda. Surgiuassimo
"Centro novo" da cidad e. Na rua Barão de ltapctininga - o prolongamento nlém-
Anhangab.-iú da ru a Direita - pa ss c1rnma se con centrar o comércio, osscrviçoscos
profissionais or ient ados para o at endimento às camadas de mais alta renda.Aárea
do Triângu lo, aba ndo nad o pelas burguesia s, ficou para as camada s populares.
O reina.do da rua Direita ocupou aproximadamente as três primeira s décadas
de~te século . Já na d écad a de 1940, as rua s que conc e ntravam o comércio e os serviços
da burgues ia paulistan a eram , em primeiro lugar, a Barão de (tapetininga e, depoisi
!:>uastransversais e a rua do Arou che. Por é m , até a d écada ele 1930, Campos Elíseos
ainua sobrev ivia como bairro de e lite e, da me sma forma, tamb ém houve um desen-
volvimento co mercial para ess a classe além -Anhangabaú na S\la direção. Atéessa ué·
cada, a rua Sant a Efigênia foi uma rua de el e gante s loja s e edifícios Je apartamentos.
No fin al d os ano s 50, o centro de São Paulo estava claramenlc dividido, pelo
vale do Anh angabaú, em dua s parle s. Na part e vo ltada para sudoeste, tendo por
eixo n Barão de Itapelinin ga, formou -se o centro da s elites, com suas lojas, restau-
ran tes, escr itórios e con sult ó rios - n Cinelândin pauli stana (região das avenida s
São Joã o e lpirang a) - e alé m es mo uma elegante rua de apartamento s de altoluxo,
que ocuparam os lerr e no s da s antiga s man sões dn nrn São Lu iz. Este passou asero
"Cent ro novo". Para o"lado de lá" do Anhangabaú, o ant igo cenlro tornou-seo"Ccn·

2 64
1rovelho",vollndu JMrn as c:amadns populare s. Suas lojas c;c"populari ntram", b •nt
(lllllº seu cinema!:> (o Ho~ário, no l\lartinclli; o São Bent o, na rua do mesmo nonw ;
0 \lhamhra,na rua Oircila ; o Snnla Llelena, no pala cet e ele mesmo nome na Praça
d,1Se,etc.). Nas ruas Quin ze de Novembro e Boa Vista sobre viveram - pela força da
tradição, talvez- os ban cos e alguns profi ssionai s ligadoc; à área jurídi ca, vhto que
luprnn:rncccrnm o Fórum e o Palácio da Justiça .
Adécada de 1960 marcou nova transformação na natureza r estrutura do cen-
trodeSãoPaulo. O atual Centro novo foi Lambém abandonado pelas camadns de
altarenda, passando a or ientar -se para as ca mad as populare s. Surgiu um novo cen-
trodecadente,que se agregou ao anti go formando um único Centro velho.
O Centro principal sofreu um novo processo ele deslocamento. diferente do
anterior, com ele guardando cm comum apena s os fotos de seguir o caminhamento
dascnmadns de alla renda e te r as posições abandonadas ocupadas pelo comércio e
serviços orientados parn as camadas popu lares. Es-sc, aliás, é o sentido da expres são
d1cnde11te.
1
Na década de 1960. a região da avenida Paulista e rua Augusta era apre-
sentadacomo o "Novo Centro" de São Paulo.
Entretanto, o di10 "novo" Centro principal da cidade era diferente do anterior.
poisnãoreproduzia, como ele, uma nova versão do Centro velho; era um novo tipo
decentro,atomizado, fragmentado, expandido e constituído por uma nuvem de áreas
especializadas. misturado co m vários tipos de á reas residenciais.
Acarncterística fundamentaJ de um centro principal é a diversificação do seu
comércio e serviços. O centro que su rgiu na década de 1960 na região Paulista-
Augusta era especializado; a avenida Paulista, em cinemas, esc ritórios e bancos e a
Augusta, num limitado leque de butiques. O Quadro 33 apresenta um confronto
emreestabelecimentos de um s ubcentro bem diversificado e grande como
Copacabana com a região Paulista-Augusta. Estava lançada a semente de um novo
tipodecentro que lhe suce deria em menos de du as décadas. Começou a se formar,
à medidaque se diversificava, o chamado "Centro expandido". Espalhados por uma
enormeregiãomesclada, com residências, individuais ou em apartamentos , surgi-
ramoshotéis,os profissionais libera is, os restaurantes, as butiques, os escritórios e
assedesdas grandes empresas. As lojas-de vestuário, calçados, eletrodomés ticos,
roupade cama mesa e banho, etc. - transferiram-se para os shoppin g centers, que
seproliferarambastante nesse no vo tipo de centro.
O chamado Centro expand ido não repre senta para a Área Metrop olitana de
SãoPauloda década de J 990 o que o Centro ve lho da década de 1950 representava
paraa áreametropolitana de então, em termos de concentração e variedade equili-
bradade comércio e serviços e, ainda, em número de empregos. Como vimos, em
1987 (vejaQuadro 32), o Centro velho tinha 517 100 empr egos contra 364 140 do
Centroexpandido,da zona da Paulista até a marginal do rio Pinheiros. Qual dos dois
é o centroprincipal da cidade? Voltaremos a essa questão quando tratarmos dai -
deologia do espaço urbano, no capítulo 13 na seção "Segregaçã o, contro le do Estado
eideologia".5

265
Quadro 33 -A lguns estabelecimentos de comércio e serviços em Copacabana e na
região Paulista-Augusta (1975)

Paulista-Augusta (2) Copaca bana

Estabelecimentos (1) Númer o % Número %


absoluto abso luto
Cinemas 9 9,5 12 6,5
Bancos - sedes e agências 59 62, 1 72 39, 1
Lojas de departamento o 0,0 o o.o
Lojas grandes o 0,0 9 4,9
lojas médias 27 28,4 91 49,5
Total 95 100,0 184 100,0

Fome: VlLU\ÇA. 1978. p. 270:


(1) Para detalhes qua nto a tamanho de loja s, ver fonte.
(2) Apen:ls a avenida Paulistn enlre Padre João Manoel e Consolação, e rua Augusta entre essa avcnjdae a
rua Esrados Unidos.

O Centro antigo era compacto e a Centro novo é disperso. Enqu anto os cen-
tros antigos eram de delimitação pouco controvertida e p ouco co m plexa, a delimi-
tação dessa enorme área central é altamente co n trovert ida e complexa, pois pode
envolver a região da avenida Faria Lima, a da ma rgina l do rio Pinhe1ros e até mesmo
a avenida Luís Carlos Berrini.
Trata-se, por seu porte e complexidade, ele um caso siâ generis de centro me-
tropolitano em todo o país . Cettamente há centros novos em muitas das metrópoles
brasileiras, mas nenhum apresenta características tais como o de São Paulo. Poressa
razão, não pretendemos aqui realiza r a tarefa d e de limitá-lo. Contentar-nos-emos
em interpretá-lo, e para isso não é necessário medi- lo.

Porto Alegre
O jnício da expansão acelerada enco ntrou Porto Alegre numa situação seme-
lhante à do Rio de Janeiro. Em am b as as cidades, a expansão urbana se iniciou a partir
de uma "ponta '' - a que os gaúchos chamam de "pení n sula" - que avança sobreo
Guaíba e que inicialmente condicionou a cidade a uma ú n ica d ireção de expansão.
Entretanto, havia algumas diferenças entre as s itu ações dessas cidades. Em primeiro
lugar, no Rio, o ponto focal, aquele onde se situavam os ancoradouros, a alfândegaeo
mercado e que drenava os fluxos de tráfego, tanto do lado da água quanto do da terra,
situava- se na extremidade da "ponta"; em Por to Alegre situava-se em um de seusla-
dos (Figura 40). No Rio, a topografia é plana; em Porto Alegre, o terreno tem a topogra-
fia de um esp igão, cuja cumeeira se dese nvo lve no sent ido longitudi nal da "ponta",
definindo-lhe duas vertentes: uma vo ltada para o n o rte , n a qua l se localizou o embar·
cadouro, e outra, voltada para o su l, escondida at rás, "do lado de lá", do espigão.No
Rio, vimos que a primeira via importante foi para lela à orla (a rua Direita, hoje Primei-

266
rode ti.larço). Tão logo , por é m, a cidade ocupou a orla. as vias import,mlt· s p,t!)" ar.1111
a ser perpendiculare s a e la , e eram também as vins que demnndaYam o mlrrio1 , ou
seja, a tínica direção po ss í,·cl para a expansão urbana . Nesse sentido se dt•c.c'n\.•oh.·c>u
então-como já vimo s- un1 feixe de \'ias principai s da cidade, ao longo dns qu;us M'
desenvolveuo com érc io que deu origem ao centro da cidade .
Em Porto Alegre. e,·en t uai s vias perpendiculnre s à olla a partir dn cmbtllCíl-
douro não levavam se não a outra orla e à baixada da íoz do Arroio cio Diluvio, depoi s
de teremsubido e de scido as encostas do espigão. Assim, não é ~urprccnden1e que o
comércio,a partir do ponto focal junto à or la, forn1ndo pe lo fundeadouro, a nllfmdega
eo mercado,não tenha penetrado pelas vias perp endicula res à orla, como ocorreu no
Rio.Aacentuada inclinação dessas vias tem sido eve ntu alment e nprc scntada corno n
principalcausa do fato de o comé rcio n ão ter s ubid o a encosta do espigão . Nfw e essa,
contudo.a principal razão. mas s i1n o fato de os maiores íluxos de tráfego não serem
naqueladireção, que, como vin10s, não levava sen ão à outrn borda da penín suln. H,1
precedentes,como a rua da Bahia, en1 Belo Hor izo nt e, no in ício do s~culo : Lrata-se de
umalonga ladeira que se tornou importante via co mercial cm virtude da s ligaçôcs
quefazia,ponanto, dos fluxos de tráfego que dr enava. Segu indo os íluxos de trát cgo. o
comérciodefle tiu à esquerda na primeira rua longitudina l. Como bem diz Macedo
(1968a, 61): "Foi na beira da Praia, na frente da ru a da Praia, que as funções do Com ér-
cioe da navegação fluvial conso lid aram os mai s imp o rtantes logradouro s··. Em mea-
dos do século XIX, essa consoli da ção j á es tava asseg urad a e a rua <la Praia já era o
coraçãode Porto Alegre. À página 73 da mesma obra pro ssegue Macedo : "Pode-s e
bemimaginar o que seria o mo vim ento 'no meio da rua da praia' (sic) pela s proximi-
dadesda casa de Donlingos Go n ça lves do Amorim , o nd e fora instalada .t ·c asa da
Alfândega"'. Na frente h avia n1 cons truído "um a gra nd e Po nt e o u Trapi chc ". Qunndo 1
pordeliberação do rei, decidiu-se tran sfe rir a Cas a da AJfândega para outro local. os
comerciantes locais, at ravés d e um pro curador - João lgnácio Teixeira-, dirigirnm-
seaosoberano so licit a ndo que não concretizasse a medida, e foram bem-sucedidos.
Norequerime nt o, esse c id adão afirma qu e o funcionamento da Alfândega naque le
locallevaraos co m e rcia n tes a "arr anjar -se e acomodar-se n as Casas qu e ficaram parn
oladooriental da rua , e m razão de ficar o loca l d' AJfündega cTrnpiche mais p róximo e
sermenossen sível o traba lh o do s Despachos, co ndu ções e mais tratos do Comércio"
(idem,ibid.). Isso se deu no início d o século XIX.
Nas décadas segu int es, a rua da Prai a co n so lid ou sua pos ição à medida que a
cidadese expandia, pois esse crescimento se deu -pe las limitaçõe s do sítio - ob
a formade um leque que converg ia para essa rua. Em vir tud e dessas mes mas limita -
ções, a expansão urbana ocorreu se mpr e so b a forma d esse grande leque, no qual a
ruaIndependênc ia, prolongamento da rua da Praia, Lornou-sc o eixo dos bairros
residenciais das ca mad as d e mai s alta renda de Por to Alegre.

BeloHorizonte
Embora planejada, Be lo Horizonte na sce u a ntc s que o zoneamento - enten-
didocomo a regu la çã o, pelo Estado, do uso e o cup açã o do so lo urbano - fizesse
suasprimeira s expe ri ê n cias importa n les, até me s mo na Europa e no s Estados Uni -

267
=

dl)~ . Pn1 t,H\ln, l)que ckH· se r l'lll t' IHlido por "p lnn o", no caso de Belo Horizonte,é
,1.lg\,mrntn ~imph·~ 11mprojeto vi{lri o e a de s ignação d o lo cn l ele un s poucos edifi-
dn:- publkn~ . .ilguns dn s quni l' foram cfct ivamcntc co ns truídos co mo part e desse
plano Por isso. nao t' 1-urpr ce ndcnle qu e An rão Re is não Le nha cogitado regulara
hw,1h ,,1~·ftnd.i s ,Hi\'ida clt·s privada s n o se 11p lano cln no va c apital d e Minas Gerais.
Pnrt,rntt,, n:w i11diro 11a ar ca que>d eve ria abri gnr o co m é rcio e os se rviços típicosde
11m centro url>:1110n:1 <.'p oc a .
l) C';lpttul n '\Ili dC' /?c>fo ll or iz o11re: m emória /1ist6ri cn e rlescriptiva , de Abílio
B,1rR'to, tem o :-;r-gu intt' t 11ul o: "Onde iria se r o ce ntro de maior actividade commercial
da thW.1 C lpi t .ti?". Ce t1:1mcnte um a b oa pe rgu nt a, poi s não só o plano nada indicava
a n"~Pl'l lll. co m n também sc rin inútil imaginar, p or m eio de um plano abstrato de
sistt'm:1 \ iarin, um lo ca l quP pudesse at rnir o co m é rc io e o s se rviços centrais. Sefor-
mo~ guindo$ pel o :-iste mn v iürio, o ce ntro deve ria se r n os ponto s de grande conver-
gfneta d0 vin · importa nt es, e>este se ria , e m prim e iro lugar, a Praça Raul Soares,para
onde c-om crgcm o it o ra1n os de nvc nicl as ; cm seg undo lugar, o cruzamento das ave-
nidas \fon ·o Pe na c-om Álvar es C abral, para onde convergem também as avenid as
Augusto rk lima e Jono Pinheiro; a cotação desse local aumentaria se considerar-
mos que junt0 a e le estava m pre v is t as a construção do Palácio do Congresso e ado
Pal,kio da Just iça.
:-\ rc ~peito desse assunto, m e re ce ser c it ado o relato que Barreto (1936,460a
-163) fa7 da co nversa d e quatro homen s d e n eg ó c io que, em 1895, procuravamprever
onde seria o centro da futura cidad e. Nesse relato, perc ebe-se que havia um localno
q ual a "Co mmi ssão dizia'' que se loca liz aria o centro. "Aque les quatro hom ens (...)não
podi;:im anteve r o loca l fadado a se r, no f-ttluro, o centro de maior actividadecommercial
dn no\ a cidade, ma s es forçavam-se por atinar, por meio de raciocínio e deducções,
co m um local futuroso parn ns casas qu e pretendiam e dificar d e ntro em pouco.Acon-
tece que Bello Hori zo nte, então, não pa ssava d e um c hapadão poento (...) por onde
milhares de operários e d e c arroças e n c h ameava m c omo formigueiro revolvido.(...}
Ninguém poderia prever , portanto , onde a cidade por na scer co n centraria maisani-
mação.( ...) Por isso,(. ..) lá se foram aqueles quatro homens experimentadíssimosem
neg ócios (...) c m dir e ção à zo na qu e a Commissã.o dizia d es tinada a ser o bairro
commcrc ial ; ( ...) já haviam percorrido os ponto s que julgavam principaes, masconti·
nua\'am índec i os, absolutamente inseguros sob re qual seria o melhor local. (...) Ahío
sr. Antônio Belé m te ria p e rg un ta do aos c ompanheiros:
- Mas, ent ão, n ão h ave rá e ntre voc ês a lgu m videnre, a lgum prophela capnz
de nos dizer qu al d es tas no vas vi as públi cas ela Capital por na sce r será em im-
portância a n ossa íluu do Ouvido r, para qu e ahi co nstruamos as n ossas casas?
(...) Qu anto a preve r ond e ser( 1no ssa futura Ouvidor não se i; mas segundo cáo
meu modo de pe nsa r, a n ossa futura Ru a Larga d e São Joaquim "'se rá csla Ave-
n ida Am azo n as e m qu e nos ac hamo s e es ta s ru as vizinhas se rão o centro mais
comen: ial da Ca pilal.

ª1h ta-sc da alu .1I aVl 11ida Marecha l Flor ian o, no Rio de Jane iro, o nd e se localiza o aluai Palnciodol10111
0
aia~
na época :.cde da Presidê ncia da Hcpúl>lica, tran sfer ida para o d o Calc tc somente cm 1897.

268
,.

Nãocrrnram. Como exper im en tado s hom ens ele negócio, en tendiam de "pon-
io"e sabiamque as proximidade s da estação ferrov iária (tal como do port o, nasci-
dndesmarítimas) eram a me lhor loca lizaçã o para estabclccimcntos de comércio
\'arcjista.
Esse ponto atrai ria os principais íluxos de tráfego da nova cidade; portan -
io,seria o mais atraente para o comércio varejista e se rviços que disputam a locali-
zaçãomaiscentral.
A ''rua do Ouvidor" seria, e mbora por breve período , a rua da Bahia, aquela
que,por concen trar o comé rcio e os se rviço s da s elites, era tamb ém o centro do
footing,do ponto de encontro, da notícia e do boato . Como já vimos, a rua da Bahia
éaqueliga,cm linh a reta, a es ta ção ferroviár ia à co lina onde se formaram os pri-
meirosbairros de mai s alta renda (inicialmente a classe médin, em Funcionários,
depoisa burguesia, cm Laureies) e onde também foi er igido o Palácio da Liberda-
de(Figura39). Não foi por uma questão de status (sua proximidade ao Palácio)-
poisno início ela não o tinha - que a rua da Bahia se tornou o eixo prin cipal do
centrode ílclo Horizo nt e; foi, sim, po r drenar clientel;:1 de alta renda. Em 1906,
iniciou-seo calçamento ela nrn da Bahia . "Por se tratar da rua principal da cidade,
oserviçoé feito direta mente pela Prefe itura (Penna , 1950, 92)." À página 101 esse
autorafirmaque o primeiro tr echo do caJçamento da avenida Afonso Pena foi ini-
ciadoapenas cm 1907 e, à pág ina 125 , ob serva que alguns ano s depoi s, a 24 de
novembro de 191O, a rua da Bahia apr esen tava "desusado movimento ante as notí-
ciassobrea revolta da esquadra , cap ita neada pelo marujo João Cândido. De todo s
ospontosda cidade dirigem- se a essa rua pe ssoas para se informarem da marcha -. e:.
m11
dosacontecimenlos".
A rua da Bahia de se nvolveu- se no sentido norte -s ul e mantev e-s e como a ;
principalrua do cent ro d e ílcl o Horizonte enquanto houve um certo equilíbrio
espacial
burguesia
entre a classe média loca lizada em Funci onários (a les te dessa rua) e a
localizada cm Lourde s (a oeste ). Quando os bairros des sa classe come-
i ~~
êr
~
e: e
# 1

çarama crescer no lado oeste, a rua da Bahia começou a declinar como rua da !D ;
burguesia. A região das rua s que se irradiavam a partir da estação ferroviár ia era .., ~
bloqueada cm vdrias dir eções p elo Parque Municipal e pelo ribeirão dos Arrudas; j e
estepoderia ter sido tran spo sto pelo centro (como foi o vale do Anhangabaú, em :o r:
SãoPaulo ), mas tal tran sposição não era comercia lm ente inter essante, pois do "lado
delá"seexpandinm os bairros da s canrnda s de mais baixa renda . O centro expan-
diu-se,então, na direção sudoe sLe, já que al i se insralara a burguesia que começa-
"ªª afluirparn a nova ca pital.
A burguesia se localizou na área que a Comissão Con strutora para ela reser-
,·ou,a oesteda rua da Bahia, em Lourde s. Essa rua pa sso u então n ter uma localiza-
çãoforado eixo dos fluxos de rráfego enrre os bairro s de a Ira renda e o centro, que já
começava a ~eformar na ave nida Amazonas, em direçã o à avenida Afonso Pena, pen-
dendojó para ocsLc.A rua da Bahia entrou em decadênci a, isto é, começou a perder
suaclientelatlc alcn renda. lá em 1930 dizia um cronista: "Eu conheci a rua da Bahia
quando cllacrn feliz. Ern feliz e tinha um ar de importância que irrilava as outra s ruas
dacidade.Um din, a run da Bahia teve um desgo sto qualquer e começo u a decahir "
lCrispim,A.,no jornal Mina s Gerais, Bello Horizonte, 23 de abril de 1930, p. 8).

269
l', 111\ll' l\ ' 111,uhi 1111:1 dl11•,·,111d,111ve11ld.i1\ 111,1 l 01111•,.111·r·11ro11IH11 11nve11íclíl
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,1, ,, , , 1 1,\~ ,\!\ dP ,·,•11t1 u d,· lk\11 11111 i10 11tt·, (' d 11v1•11idn /\1011 ..,0 P1•1w u111í1ctip<:cic ele
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reita~
n.,, \1 mh,,n,-.1:-- d,1111.1H111,k J,11wi1t1,. di1 uv1·nid11/\11g11s10dc• l.illla .
\\l \ , ,,\1,1d,· n1t•,1drn,d11~- wr11ln XX, m·ot-rt·lt no ct·nt ro ele Belo l lorizo11tco
I\H'~Hhl \ ' Wl'1'~~,1 ,k htpi111i,-.w nli i-;l'l v;1do 11as rn11rm, 111 <'1nSpolc s. Uma rua que,
p.n t llhl,, ,l,1,·~\,1(,\\1lt'II m i,11i ;1 (11 t n• 111ja 1wo 11.i trnpo rtavn p reclom i nanlcmc111 c
,h t'hli':- c,,,nt, ,11111·~), h-\ ',\\'!1 nn n 111 n11w 11lo du rilwinio dn i-;/\rrnda s, que condu-
1,l,\\ , ~ b,,in ,,$IH'IHIl,11 l'S sit 11nch lS "d o lado d,. lií" d a lrn rrc í rn có rrego Ire rrovia, tor-
1h 'U st· ,\ pt inri pal. \l'tlllP sido orup ~hln rwln romér cio oricn lado para as camadas
p, 1 p1tl,\h'~ l't.11.1SL'd.1111,1 dn s Cal·lvs (l :igum :rn)./\ imngc·m de ss a run, como uma
t'~Pl'l ' ll ' dt' " 1u.1 do l htvidnr dos polHf's", l' clnra m cn lc retratada ror /\bflio ílarrct0
\ li, l Pl'Uquinlh' d,· lt istt1ri,1loca\'', 1H) jor nal Minas Gerais, Bcllo f íori zonlc, 21de
,,bu l tk l ~u1 )· "\ ~sim $t 'tHlo. ,1 uniL'.t rna qul' chego u a razcr mos sas à da Bahia foi
,\ lll,1dns t',lt'tt·s. L.()11~t·~11indl1 nl rni r p:irn ali rn nsidcr6vcl ma ssa popular durante
., l~~llll $ t'Ml1,\\\\is . Fssl' povn, por ém, cm consl il uído pelas classes mais humildes.
\ ~\l ·1t·d.1dt• 111,tis cu lta r nbaslmla n flo desprezava:, rua ela Bahia, por outra qual-
4ut•r. 1w~gr,11Hk~dias Ít'Stivn s". Antü11io Cri spim (op . cit ) dec lara: "Gosto da rua
dl1s C.wtl'~ . ,1 1u.1 111.1is intl'ressa nt l' dn cidade . Rua de bigod es e gritos joviaes,de
l't'qt1t'll11w-.,Hr,rnli,1-n•t1s L' de gra111clrslaranja s nm aclur cccnclo em caixotes. Rua
dl' SL'ti.tsl' \ irtwlas. Elrgnnl L'.popular, no ssa. E depo is é tamb ém a rua mais cama-
t,h l,t de lL)d,is: ~c·mpH' dispo stn a fazer uma d if'cr ença para você ficar freg11 êz".A
l ·" Hl d,Hkr,1d,1 d,, 1970, rom n populnri znção do cen tro pr in cipal , a rua dos Caetés
1,111,w St' drstar,1, ·a tn11lornmo antes como nrn de com ércio popular num ccnlro
l.1sdttt'~ -
~., dt'l\tda de 1\)50, com o dese nvolvimento de novo s bairro s das camadasde
m,us ,1lr.1t\'1Hl.1,tlrm <k Lourdc s, o co m ércio elegante começo u a subir a rua da
g,1lu.1p11J\ 'Ot\ 1ndo a "ckcndf>ncia" do mklco comcrc inl original, mais antigo,juntoà
t·st.1,·,10: .1patlc do n ntro de Belo l l orizo nt e orien tada para aquelas camadasse-
~uiu ~eu l-.11111nhame11tu alojnlH lo-sc no triâng ulo formado pelas avenidas Afonso
Pl'n,,. .\ugusto dt• Lima e i\mnzonas. A ~hca origina l (o trecho i nicia l da ma da Bahi a
~ ,1~, 11inh,mç.1sda cstaçüo fcrrovi~trin), nbandonncln p e la s elite s, também popular i-
..ou- ' t' Ness,1mesma decada, já havia uma part e do centro voltada para as camada s
il' ,tlr,11end.1,e ouu-., voltada para as camadas popular es. Já havia a "frente"e os
'fundos" do centro µrincipnl.

O centros principais e as camada s de alta renda


O rrntrn deteriorou-se. O cen tro es tá em decadência. Afi rm ações como essas
m com freqüência na imprensa, no s m e ios imobiliário s e entre empresários
.1p.1tL'ce

270
docomén.:io varcjist:1. No qu 'diz respeito a C!>')a "clC'u ,d ê•rnia", pare•,, h;wN r.:011 cn
oentreleigose espccialic;ta~. O que não há é dc-:;cri"- ªº e Jnl<•rpn•r:u ,1,,~rnIcmáHu1
quanto ílO que 'ieja esse pro ce~"'º ·
Emtermos de emprego e á 1ca construfd.i , m, 1cnuo ~,tr,1d1, H,n,tí <J,,1,,a
metrópolespodem c~tar cm declínio relativo ou al>"lolut" L ,tar(i n11cfrclfrU<Jrc "' -
voscum indicador qualquer - fí rca con.:;truída de ati v1dad,· 11·rr Hília , J11mIm 1·f<J <ie
empregos. por exemp lo - C!->1 ivcr cresc en do cm núrncro -,a1>...,,Ju10•.,p(Jr(rn nn nr
rnomais lento que na fü·ca m el ropo litana como um lodo . f\lc"'"' • c:;14,, ,, ,:rnh<Jf,lc1~s-
ccndoem termos ab soltllos, a pro porção represen tada pclr, ,·cutJ<>,CJtl i,utJrwr•111
paçfio sobre o total cln mctr6 polc, estaria cai ndo . Cnmo no ., rwrrn ítiu vc·r o () u;Jdr c,
32,o declínio rela1ivo e-no rmn l à me dida q ue n cidade cre1-; cc•.
Porocasião dn clabornç~o <loPlano Urbaní 5tico Bí'hic n, u PIJH. cfr,111 1rnirípir1
deSãoPaulo,fornm leva n tadas ano a a no, a parti r de 19';0, m, área<.UJ11'11ruída ~ e a,
localizações das licenças para cons tru ção de edifícios de nrni~ de quatro pa• 1mn1·
tospnrauso rcsic.lcncial."Alé 1955, mai s de 84% da área licen ciada nnu:11par;1 c:d1f'
cioscomerciais e de serviços se local izavam no cen tro. Desde cn 1ão, est,a potff-'hlit
gcmdecresceu.{...) De J 960 a 1968, não voltou a a tingir 50% (v. 2, p. 111J. Segur:d,,
essaobrntambém, apesar de ler decl inado sua parLicipação rcJaLiva, o cen tro ainda
detevenaquele período a liderança na co nst ru ção daquele s cdifítioc,, com 4fj,7 'n drJ
total,enquanto a região da avenida Pa ulista registrou 13,9%, e as zona~ adJ,u:.erH·,
aocenlro,6,98%. Segundo eslimatjvas da Com pan hia do Metro polilano de Sci<J Pau-
lo, o numero de empregos em se rviços no Setor de Tráfego Sé, qu e corrc <.ponde ao
Centrovelho de São Paulo, ca i11de 99 100 cm 1970 para 94 20 0 cm 1975 l~~o mo~trc1
queestá ocorrendo no centro tra diciona l de São Paulo um dc cré~cimo no núm~ro
absoluto de empregos. Em out ros loca is ou seto res de tráfego ~wuvc dcc.rr~cm o
apenasrelativo, ou seja, q ueda da pa rlicipação do seto r no total da área m,·rrup oli·
tana.O Quadro 34 mo stra essa po rce ntage m para os sela res ele tráfego com maior
número de emp regos cm serv iços, o terciário.
Como vimos no Quadro 32, o centro tradicional de São Paulo deLinha, em
1987 , 7,85%do tota l de empregos da met rópo le (contra 5,53% da avenida Paulisla) e
odeBelol lorizonte, cm 1981-82, det inh a 25,26% do lolal de emprego s da me11ópo-
le,contra 3,41% dn Savassi. Porlanto, embora declinando cm termo s ab~olutos e
relativos , tais áreas ainda são a ma ior concentração de emprego s de no!>sasrnuró-
polcs.
Outras metrópole s não dispõem de sé ries hi slóricas dc~se~dado s que pc,~~i·
uilitcm uma avaliação da sit uação nos últimos vinte ou trinta nnos. Pode·!ICter como
certo,cntrcrnnto, que na ma ioria de las está ocorrendo decréscimo rclalivo do cen -
tro,tantocm número de em prego s terciár ios como de área con struíd a para mi vida·
desdesse setor. Por outro lado, é provável que vcn ha oco rre ndo até mc ~rno dec:.ré~·
cimocm lermos abso l u tos.
1lá atividades qu e cla rnm cnte cresce m ma is fora do centro, como os banco s e
cinemas, e outras qu e simp les m ente abandon am o centro, como a cúpula da admi ·
nistraçãopúblicn. Exempl os notáve is são os "centro s adm inistrat ivos", tão cm voga

27 1
Quadro 34 - Participação so bre o total de e mprego s c m serv iços na Área Metmp<J.
litana de São Pau lo
etores de tráfe go co m m a ior p art icipação( %)

Setor de trafego 1970 1975

Sé 14 , 1O 9, 1O
Consolação 10,3 8,27
Santa Efigên1a 8,69 8,06
Santa Cecília 4 ,68 4, 1O
Liberdade 4,22 4,56
Bràs 3,55 3,54
Santo And ré 3,43 3,40
Bela Vista 2,62 2,70
lpiranga 2,67 2,65

Fonte dos dodos brutos: Comp anhia do M etropolitano de São Paulo, m aio, 1976. São Paulo, transfXJftes
urbanos , Sumário de Dados, p. 11 e 55.

a parti r do s ano s 60 e que passaram a ser co n s truído s em várias cidade s, me tróp oles
ou nã o, fora do cent ro e me smo afastados do centro. O de Salvador foi construíd o
até mesmo fora d a cidade , na época.
Os qua dro s 35 e 36 mostram a distribuição de ag ê ncia s bancária s na Área
Metropolitana do Recife no período de 1973 a 1993. Pa r a outra s m etrópole s, é mos-
trado o período d e 1959 a 1973.
O que real mente vem aco ntecendo com o s centros princ ipai s de no ssas me-
tr ó po les?

Quadro 35-Área Metropolitana do Recife


Localização d e agências bane.iria s

Ano Centro Setor Setor Olinda Ou tros Total


Oeste Su l

1973 91 (79,8% ) 5 (4,4%) 2 ( 1, 7%) 1 15 114


1983 92 (52, 6 %) 23 (3, 1 %) 23 ( 13, 1 %) 5 32 175
1993 85 (33,6%) 53 (20, 9%) 44 (17,4%) 10 61 253

Fonte: Guia Ban cá rio .

272
3G-Árens mctropolitnnas seleciona dos
Qti.ulrn
l LKali
zaçào de agências bancárias (l 959-1973 - 1993 )

lre<1metropolitana Porcentagem das agências Total de ag~ncrasna


localrzadas no centro área metropolitana

1959 1973 1993 1959 1973 1993

520Paulo 37 24 12 661 1315 1 978


R,L1deJaneiro 49 32 32 578 858 1 039
Pd0 ~orrzon te 70 57 74 157
' Alegre
0crlL 31 35 99 186
füntc:G
11i.
1B:rnc.í1io
, no~ anos indicados.

Até meados do século XX, esses centros pertenciam às cam adas de mais alta
renda.Durant e vürias décadas - até mesmo um século no caso do Rio de Janeiro-
apenas a burguesia consti tuía mercado para as lojas , confeitarias, profi ssionais libe-
rai, hotéis, estabe le ciment os de di ve rsão, etc. localizados no centro principal. Em
parte, a classe média se rv iu- se também de sses me smo s estabelecimentos, ou seja,
docentroda cidade.
Atéa década de 1960 a maioria das pessoas de alta renda trabalhava no centro.
:\sfiguras28, 29 e 30 mostram que a área de maior concentração das pessoas que
rrabalhavam no centro, em 1957, coincidia com o setor Sudoeste, que era- e ainda é
- aáreade maior co nc entra ção da s camadas de mais alta renda.
Em 1965, o centro do Rio de Janeiro constituía o local de maior concentração
dosempregosde alta renda do município . Isso não significa, porém , que a maior par-
tedosempregos da alta renda est ivesse no centro. Não, não estavam. Entretanto, ne-
nhumaourra área superava o centro em número de empregos para os indivíduos que
rompunhamtais camadas. Também não significa que a maioria dos empregos afere-
ridosno centro fossem da alta renda. Não era verdade. O Quadro 37 nos mostra a
proporçãodos trabalhadores trabalhando no ce ntro do Rio, segundo seus bairros.

Quadro37 - Proporção de trabalhadores empregados n a zona comercial ( 1965)

oradores de bairros de alta renda (%)


~1 Moradores de bairros de baixa renda (°to)

(:)pacabana 38.96 Bangu 28,35


T:;uca 32 ,39 Penha 25,04
lagoa 29.29 Madure ira 23,68

edosdildosbrutos : Esrndo da Guanabnra, 1965. Estudos Canocas, n. 5.


f.oru

273
'-' ~\\.t<.h(, JH m 1:-.tr,\onde os m ora d ore s de alguma s regiões admini strati vas
-4\, R:-, ,k J.,1wnn tr:ib.tlh:l\' ,lln . f,\z iam o mprn s e s e d iv ertiam, em 1965 . Aparecem
'P qu,Hh,, trt':- t,,uttt )'> represe ntativo :--da s cnma dn s de mai s alta renda - Copa ca-
.• , ,, \ .,~,,, ,, 1qll< ,, l:' qunt ro representa tivo s dn s c amada s de ma is baixa renda
\t ,,,,,ucn.t l\.•nh.l. H.mgu L' lr,ljn . O ciuaclro revela que a s porc e ntagen s do s mora-
',' t_, b.1 n0 :- lk m ,Hs .1lt:1re nda qu e tr aba lha vam n o ce ntro era n1 sup eriores às
,,.,,

~,, ~h". ,,,,1,'s dn" b~1tno~ tJc mni s bnixa re nda .


r,,t' quadw le\ .1-nos tnml emü co nclusão d e qu e n o Rio de Janeiro , na déca-
c ,,t' : ~ ,, ) . .._,n
f1ni1 .._ t ra l ocu pav a o primeiro ou o segundo lu gar co mo local de
t-, '','>-!1.'th:~1m.· os mnr .1dor l's dos bairro s d e alta re nd a, c om porcentage ns mais
, , , 'iu • '" 1nM.1dorcs dos bairros populare s. No e ntanto, como loca l de compra :.e
, 'H 1, ,, ,1, (in.~ Cl'nl l' t c ial o cupava seg undo o u le rcc iro lu gares, tanto p ara os bair-
'- , \~e .'\l!.l n•nd.l Cllll10 p ,1ra os b3 irros popular es. Os prim eiros tinham um grau de
•. -.w dl, t"t:'ntr,)parn aquclns finnlidades um pouc o inf e rior ao do s s egundo s.A
~ , '\ 1 :i d,, nnh-,1'- :wdo cen ! ro pel os bairros d e alla re nda era de 12,00 % e n dos bair-
' ,,, , · ln cidc ntalmehtc, cabe notar que, co rno a popula ção dos
.~~.de 13,:iOºi°,.
.,.-:.rh., p 'l ut lft'$ e muito uperior à dos ba irro s de alta re nda , a popul ação dos pri-
nh"ht" prc-,~nt~ no c entro é muit o mai .br que a do s se gundo s.
l 1 1..1tr1cnte o Quadro 39 m ostra onde mora va m a s pe sso a s pre se n tes no cen-
t , ~{' R ,, ,.k J.meiro num dia ü til tí pico d e 1965. Mostra que os percentu ais dos
, 1.h't'lc ' das regiões ad mini s trativas de ma is a lta renda pre se ntes no centro eram
t·· •. ,\ rr- l\JtJ 0 , lMtrro de ttlta ren da. Novamente destacamos que a recíproca não é
\ ...~.:!.'--lira. t-.,o n:tCI ign ili ca ciue a maior parte da s p esso a s pre se nte s no cen1ro &e
".... 1,~1.l.1~,c ck moradores dos bairro s de alta re nda. N ã o era m , com o enfarizado
a ... ·•1.1
t OP1 l p \imos.u ma pesqui s a renlízada na Área Metropolitan a de São Paulo
dE' 1 '-"15-,r ,1 • 1' "-\G ;\l \ CS, Eco n omía e 1 lum a ni sn 10, elaborada por Villaça, 1960. ·
'\.. ""u que ;i m,:Horparre tma is de 50 %) do s trab a lhadore s do s bairro s de alla ren-
'-'• ,r.,ba!ha\ a no ccn t ro, ou se ja, o c en tro era lo ca l ele n1ai o r concen t ra ção dos em-
F "'~(,:-J.1, c,,mada~ de mai s alta renda (Figura 28) .
.\5 tr.rn:-tonnaçõ e~ dos ce nt ros pr incipai s de n ossas metr ó pol es nas déca-
da, ..•\; J-l5 l e 1960 -:ão uma conse qüência de se u abandono pela s camada s de a}rn
'- ~'"'J lnin.tlment L' o ce ntro co m eço u a ser abandonado como lo ca l de compras e
H-"\ ·(\.s ,di\ t'r<:.ôe!>especia lmente ). Depoi s, tamb é m c om o lo ca l de empreg os. Esse
.1~, ..r,J ,m o pndl.! na o s1µnificar de crésci mo ab so luto , ma s relati vo. Não significa ne-
l '"-:- .. u ..1menk qut :>os empregos exislc nt cs n o ce ntro prin cipa l dei xem o centro.
t í!~OlH3 1,~o, enha oco rrendo e m São Paulo, por exe mpl o. Pode significar que os
~o\\h l~mpre{?.1..ls que !>Urgem deixam de se lo ca lizar no ce ntro, hav e ndo assim que·
..!,1lt.' .tll\,l de c;cus<'mpregos.
1

L e ahandono teve início n o Rio d e Jan e iro , onde surgiram os p rimeiro - e


,ih .~ ;\~or.1 u, unicns - sub ce ntro s voltado s p ara a s camadas d e alta rend a. Relem-
t,~m .;que. paw nó ', ·ub ce htro é uma aglomeração di ve rsifi ca d a e equilibr ada de
coml3t to(' -er, iços. Zonas tome reiai s pouco diver s ificadas (principalm ente com

274
<) 111141111 , I li I. U l '.ll l rlt• f 1':d1 11IJ111 , C:(11111111\ 'l l ' 11\ Vl 'IIH \l "I \111 1 1 11\\11 111\ l lll 'I, 1\1• ll \ P,1 111\l l !, \ 1'\f.\Íll' I, \ \l i \\ \1 1 l \ 1' \ ,\l \ {•\\ 1 1 \ \'\1 111\

- ------
- -- -
--
1• ,, ,1\ ,\11 '"' "' ,11li,1
-
( 1 ll'l\t l\l!l\f IA 1%) 11\r,, )/1 (%) 111111 " ( ''1, l M/\\,1 llt\ llt /\ ( u,~.) 1'11 li l t (·~-~i,
J 11/, 1Jf ,11 (%1 111t, IA '•t;,1
::::-=-~...:1
-1 1
/ 1111,1 /011,1
( Of1111nf>11I1i1 tlH,111 lllljci,I '11, Ili 1 (,rn,•111,1I 111,l'i', ~ 1>1111•11.1,1I J1l,J' 1 l1,•11h,1 li 1, 1l l 1 ll ,1111111 M,K<\\ l1,111 J I ,' ,, 1

/,m,1 I <J1111 / 1111.t /t)l\,I 1 /1111-1


~ I 101111•, c:1,11 :IH,% t ()IIH' I ( 1,11 /0,)'1 1ijtir n .il ,.t' j M0d11 , .. u11 } i,(11! 1 fHIH'll l,lf ;• ,,n-1 \ 1 {1t11,•1u,1l JH,) ', , 11rrwt1 1,1I J() , /11

..2!
rU
t;
ti ílrJl,.tfl)fl( 1 '1, SH 1 ( l)f),11,ti 1tllt1l 1(J,!;,(i 1 f<t(J ( Olllpttdn ,,, 1) 1 M(•w r 11, fü 1 H,11111,', H,IM 1 M, 1d111rn1,1 '· / I 1 M , 1, f11rni1 .1 '· I /

~I , .,q{,.i ,, '11 1 1Jc,1,1lr,,1,, !,.~J1 1 eup,tr ob, 111,1 l.'d
1 /nn, 1
p o, t11,m,1 \',H j <,,111 ( Jl', 1(111:,0 / ,0/ 1 '111111
,l ( (Ili .', , 1)li l IVh'•l('I / 11

1.J
1 /fJll,J /rm,1 [(Jll ,I 1 /1. 111,1

r
l.,/1 1 11ni t LJ,1r1,1 /,' :,4 pm t u/J11í1 l, 'i' ) M6il'I J,111 •,:10 ( rt~lôv.io l;,,/0 por 111,1rtd 'J/ 1', Miltr 'I ] ,I li p 111lt1,Ul ,1 ' ', ., J

M>1<•, J, O1 •o r , 1•,lóvá" /, ;s r
/Oll ,J
110, 1ué,oJ 1.,'J(J ÜJfl(JU '1.()() Mf•IN 11,()I
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Cô l11f'í< 1,11 8.~91
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eorn1:rc1t1f /9, 11 j M..id11t1 i 1r.J l'J. 5 1
....
11)

a.
E Zona Lr:ina /o n,1

ª·ºº 1
8 co mcrc,i,I 1
G,.13 rornerc,11 12.30 K10 Cu mprrdo 7,56 MMor 11,4r1 Ramo!> 8,44 ~ .)r,f.:J ( rw 11,G9 /"Q('flltf(l.11
QI
.:,

V
o
....J 8otafogo 5,87 Eloti, fogo S.27 Vila li.abel 2.~,7 IrD}D 4, 1'1 M ad1.1rE'1rd 1I 1) Cop ac,1b;,nc1 ó.~b Penha 7, 74

fonte do'> dr1dos bru l o'l : /:Mudo, Cariocas, n <;


---- -
'1,nlrn 1\\ Pt1pul,l~.iupll ',Cllll' rw 1011.1 co mcrci .il ....cgundn íl'> ati vi<.latlc-. e prtn
{ 1,l.11-. 'ocnt, de n1111ad1;i llll'd 1.1 do !- din!- lítch (Hio d e Janl:'1ro - J ~)(ViJ

e re dtnc ,1 Populaçã o r,resc me (%)


- ~~-

lotai Tr~b4ilho Comprds Dr,er':.õt::.


1.3.3 1 4,80 5,57 i 4, l /
10,60 11, 79 10,65 9,30
8,92 1O,tlG 6.52 16,04
7,38 6,28 12, 52 11,36
fi O 1 6 .78 1o,14 2.54
5,26 5,81 4.20 1. 76
s. 18 5,28 8,86 2,71
a era 4,70 5,36 2,98 3,52
Q L:ig a 4 . 18 4,67 5,66 3 ,31
O Penha 3.77 3,72 3,87 2.72
l, Outrcs · 30,69 35 ,55 29,03 32,07

• lndu ,1n· m m,up o, ,10 nurt c r- J lcs ll'.


Fo111r t.n,,.rno do 1 1.1dnda c:u~nrilmr.i, 19<iS. C.wl{/o s Cnrio cas. n . 5.

baLxaproporção de serv iços), co mo a região da rua Augusta ou do Itaim, por exem-


plo n,rn \ão con-,1deradas subccnt ro s. Muito meno s o são os shopping center s, onde
t,1mbem l~ baí,a a prop o rção de se rviços; além di ss o, o comércio abarca um leque
J( \( quihhrado de esta beleciment os, com participa ção excepc ionalmence alta de
101.1,dt' Yt>'-tuárioe calçado s.
\oca o do Rio de Jnn e iro, a vinculação en tre a vita lidad e de se u centro e o
5Ur~1mcnto de ~ubccmro s voltados para as camadas de ma is alta renda está implíci-
ta nt• trabalho do s geógrn fos carioca s na d éc ada de 1960 .(1 O s urgim ento de
-.ul>u:ntro-,, olla do s pa ra as ca mada s de baixa renda, entre as d éca da s de 1910e
19~0. em omr ,1s metró pole s n ão teve impa c to sobre a vitalidad e do centro princi-
pal. romo \t' de u, por exe mpl o, cm São Paulo e em Porto Aleg re , c ujos centro s ainda
marnrnh.im grnnde vita lidade n a dé cada de 1950, apesar do de se nvolvimento de
~ubtc1ll10 <lc gra nd e po rt e, porém popula res, corno Bnís, Lapa ou Pinheiro s, em
,w Paulo. ou 1.ivcgantcs e Aze nha , em Porto Alegre. É que ne ss as metrópol e não
hJ, ia - e Jinda não há - subccntros voltado s para as camadas d e mai s alw renda.
O centro <lo Hio, ao conLrário , já se enfraquecia (n o se ntido de perd e r clienlela de
,1lt.1r~nda J na década d e 1950, quando os s ubcen tro s orie n tados para as camadas
dr mai5 alta remJa (Pr:.iça Saens l'e 1la e Cop a ca bana ) já e rmn d ese nvo lvido s e diver-
!>ifiC,t
tlo~.e não apena s locnis d e bu tique s , re s tauran tes e lojas de decoração . O de~-
llno do centro do Rio apar ece qua se s empre vincu lado à Copacabana nos trabalhos
11
de seus estudio sos . oarc s (1968, 22) afirma que 0 surg imento de importan tes
sub centro s, principalmente o d e Co pa ca bana, fez co m q u e o centro da cidade per·

276
11t',::.co
munop<ílinqut ' dllt.llll( ' 11\uilo tc•mpo det c•vp de• Vt1J t,11..,dt • ,,11,1 ,, ,, ..,· (Ju
•, 111111
\ fisionoin i.1 do (c11t10 dn Hio d e J,11wiro t·xp1 lllh ' d, • 111
rn1:w.", ,111<·11;1 fif•I ,1•, lt 111~01 •\
que llw sao c•xclu~iv. 1" t' que ,: lc n ,10 p.1rtillrn nt·1111111·
l1i11gcn1t'. -.,1111, <,111•,t·11):r,1wll·
co11rorrt•n1equ'e Co pa< .11>,111 ,1". <h \''il 11clioso" cln <·110r a, c·11111't.1111 0, llilOf 1m«.1·~111,1m
d ..1qu il o ,l q llt' d w n 1~1va m ele·r s tr t}f llfl( 110 1>11t/(', ml l•m ui dor 1•1111t 1, ,.
ewliraras ra1..õc:-.
não1amalémda-; dc.,ni<;oe~ d e~s -'Spro t·c·sM,:,, .
J\tl~cada de 1m;onrn, co u . c.·111 tuc.fa ~ ;1s tHl'iMt~ 111
c.·1rnpoh· s t ' 1111
•-,n w 1·111, 1cl.1
de médins,o inkio do dt 'se n vo l v im c nl o d • g ra11de~ "suh H' í{ÍOl'!, u, h~111 .1•,"de• eo
r scrvi~·os vollndo s pnrn as c,1maclns de• nltn te nd a; p ara ,·•,,:i..,
niércio '.lrh 1C'gi11,,.,
nsfcrirmn-sv loja s, cons ultorio s, ci n e ma s, rt~Slí1u1a ni l'.,, h;1111
1Jn ·0·;, p1o l1%1011,d1, li -
bciais,cslnb0\cc:i111 l' 11tos d· cli vt•r:-,;10, el e. q u e at 'rHlin,n aq11<· IH-. <·:1m;1d111, t ' q11c·,,,,
Jocalizav:rn1no cent ro prin c ip .1I. Tnb sul>- r •giõcs pa :ssnr:1111ri S('t ro nh r:t id:1" co 111 n
·ecntroNovo"; cornc<;:1ram t:nm an·a~ restri tas - a I tr.1 /\ 11gw,ta, 1•n1'1.10 Pc1tdo; n
avassi, cm Belo I lor i;.,
.o nl c-: a I nd epc nd ên r in, c.:111Po rt o Alc:grt•; n r •gino cio lttu a1,·1n1,
1mSalvador,
1 a Boa Viage m , e m Hcdfc - logo cx pc111clirn111 -<;<' l>m,ta11H ·. 1\ p;irt, r d a
décadade 1970, a té m es mo os sh o ppin g cc nl e rs pa ssa r:1m ,t st• lricnli1,11 clC'11lrn
drssascnorn1cs sub - 1cg 1oes urb ana s, e as cid:1dc s m édia s co 11wçard111,1ap1,•w11-
1arum csvazíamcnto ele seus ce ntro s p rin ci pai s, c mb orn d e manl'ir ti rntrJ ta o .1gu-
daqua n10nas metrópoles. NC'ssc esvaz iam ent o, o l ~slm lo l eve pap el ele cll·:,,ta <.1t1l'
rmmuitascidaclt's, co m H co n s Iru ção d e ce ntro s acJmi11blrn Ii vw,, lorun s, p1t•í ·i-
tura~.ele.for.idos rc nl ro s p rin c ipai s e n a d ircção e at é d entro d as ~1rca~rcsidc nciai\
nobres d:1cicfode.
Devem-se,c nl no, investigar os mol i vos que l evaram n wi s trnm,l'ormac;oc..,
nos padrõesde organ iz~wao es p acia l no com ércio e se rv iços de no ssns mel rópolc ~.
se1am il clwmnda "dec:ac.lê rH.:ia" do cc nt ro e o clcscnvolvi rnc11lo do s s ub cc ruro ~. ~L'ja
eoaparccimcntu dns s ub - reg iõe s urbana s e do s sh o ppin g cc nl crs.
O processo popu la rm c n te c ham ado de "dccndê11c ia" ou ''clcler iornçfiti' cio
ccn1roconsis te no se u abnndono por parle dn s <.:amadas J c alta rcndn e c 111sua
1omauapelas cnmnda s p op ulnr cs. Ess e aba nd ono apr esenln vá rias man i l"cs1açôc'>
comdiferentes grau s d e in te n s idad e na s vá ria s metr ópo les: abandono do ce ntr o
l como locnl d e e mpr ego da s camada s d e mai s nlla renda; abandono de di -
principa
lazere ati v id ades c ulturai s; co mo local d e co m p ras e de m ora dia . Dcnlre
1•ersão,
todas
asmcLrüpolcs bra sil eira s, é m enos ngudo no íli o de Jan<'iro· e mn is agudo c m
SãoPauloe Snlvndor.

Ocentroprin cipal e a nova mobilidad e territorial


Como vimos, se gund o os geó grafo s cari oc as, o d ecl íni o cio t:cnlro prin cipal
doRioteveinício no I i1wl cln d écn da de 1940 (1BGE /C N G, l 967 , 13), quando Copa-
cabana começou tt d esviar, significat i vamente, co m ércio e srrvi ços que nlen d ia m
àscama das de :1lta renda n o cc nlro principal. Em 1950, o cnU\o Di st rit o r:c<.lcntlti-
nhauma populaçfío ele 2 377 4 5 1 hnbilnnt es (174G 14 l c m 1~)40)L' a atu al área m e-
tropolitanaabrignvn pe rt o d e 3 milh ões de pe ssoas. O cc nIro de Sflo Paulo co me ço u

277
a apresenta r ritmo decrescente de crescimento no final da década de 1950, e na dé-
cndn de 1960 já eram notáveis os s inai s de estag nação do ce ntro principal e de for-
m~ção de um "ce ntro novo " na região Paulista-Augusta. Em 1960, a Área Metropoli-
ta n a de São Paulo tinha 4,8 milhões d e habitant es. Finalmente, os centros principais
das demais áreas metropolitanas do Brasil começaram a expe rim enta r uma redu-
ção no ritmo de crescimento de seus centros principais por volta do fina l da década
de 19G0.A dé cada de 1970 representa a época de co n so lidaç ão dos "ce ntro s novos"
na maioria das metrópoles brasileiras e mesmo nas cidades média s. O Censo de
1~)70apresentou as segu int es populações residentes para algumas daque las áreas
metropolitanas:

São Paulo 8 139 730


Belo Hori zo nte l 605 306
alvado r 1 147 821

Fon1c: I:.mplasa. Stmuirio de dnrlos dn Gra11rleSão Paulo, 1985. p. G8.

Co mo entender que fenômenos tão sen1elhantes tenham ocorrido quase si-


multaneamente em metrópoles com tamanhos tão distinto s e mesmo em cidades
média s?
O início do declínio do centro do Rio, quando confro ntado com o das demais
metrópoles do país, pode ser considerado "prematuro" . Embora esse declínio apre-
sente as mesmas característ icas básicas em todas as metrópoles, sua ocorrência na
antiga capital do país foi antecipada por certas peculiaridades da cidade.
Tais peculiaridades não contrariam a tese - aqui defendida - de que o
controle (a través do domínio do Estado e do mercado) que as classes de mais alta
renda exercem sobre o espaço urbano e sobre o s istema de locomoção constitui-
se na força preponderante da est ruturação do espaço intra-urbano , inclu sive no
desenvolvimento dos s ub centros, nos de s locamentos espaciais dos centros prin-
cipais e na sua chamada deterioração ou declínio. Há, certamente, outras forças
atuando sobre esses processos, mesmo porque, se não as houvesse , não seria pos·
s ível ser preponderante.
Como já vimos nas análises dos bairros re s iden ciais do Rio de Janeiro , lá; ao
contrário das outras metrópoles, desenvolveu-se uma longa tradição (no século XIX}
de bairros afastados do centro, abr iga ndo população de alta renda e com alto grau
de autonomia. A Praça Saens Pena - é o que veremos a segui r - foi o primeiro
subcentro voltado para as camadas sociais m éd ias e acima da média jam a is desen-
volvido numa metrópole b rasileira. Copacabana foi o segun do . Para o desenvolvi·
m en ta de Copacabana como subcentro voltado para as can1adas de mais alta renda,
muito cont ribuiu o turismo na década de 1920, co m seus hotéis, restaurantes, cine-
mas e boates e para o in ício da autonomia do ba irro con1 re lação ao centro princi·
pal. No início da década de 1950, antes de o centro principa l apresentar alegadas
más cond ições de conges tionamento e po lui ção, esses s ub centros já se encontra·

278
vam bastante desen vo lvidos e começnvnm a oferecer conc<..HH ~nciu no ccntw prin
cipal. lém disso, em alguns casos - cios quais o d<' Salvador t; o mai s 1101 ,tVl'I - • o
Estadocomeçou n abandonar o centro, c1lcgnndo que forn dr"tc l'~lnri. 1 rn,m, .1n• o;,-
sível à ''população ". Por ''populnçno·· leia-se camadas ele ,tltn rC'nda. lsbo, co111,, j.1
dissemos, ocor re u em vá r ias cidades médias onde centros c1Vico:-;,fo 1l 111 -..<.:1wv.1s
prefeitur as foram construidos longe do centro trndic-ionnl. cm c1dacks se m c-0 11-
gestionanH'nto de tráfego e se m p o lui ção.
Não foram deficiências inte rn as dos centros principai s que dct c-rminnrnm
seu abandono por pnrtc das cn nrnd as de mai s alta renda. Esse nb.mcluno, l·onw j,í
\imo~, foi motivado pela fragilidade da vincu lnçüo mútua entre no-.~os n:·11t1m, e n
diminuta classe que o sustenta. Ta l ex igi.iidade impediu que ~e formasse u m cfr~u lo
declasses média alt:i e mesmo alta, em torno do cen tro, sus te ntando -o<.· nsscg11r.in -
do estabilidade espacial 1nútua , tanto ao ce ntro co m o nessas classr-s (veja no ca p f·
tulo 7. seção "Os selares"). No Brasil , a ruptura dessa estnb ilid adr foi facili tndn p<·-
las novas condições de locomoção associada i't v ul g ari zação do nutomóv ,1 e
articuladas a interesses imobiliários de se josos de abrir n ovas frentes pura seu· r>m-
precndimemos e continuamente renovar o estoque co n struído.
Não foi por seu ''envelhecimento" que o centro principal foi abandonado. St•
convie se às burguesias contin u a r a usá-lo, elas o teriam renovado e aprim ora do,
como, aliás , já haviam feito no pa ssado, em inúmero s casos. No nio, d esde a nlwnu -
ra da avenida Central, passando pela da ave nida Presidente Vnrgns e pelo de s monte
do!\Iorro do Castelo, as burguesias co ntinuam e nrc re no varam o centro, em especial
na direçào de expansão qu e lh es interessava. Nesse me s m o se ntid o foram as ohrnc;
de Prestes f\,la ia , em São Paulo , ou de Otávio Rocha e Alberto Bins, c m Porto Alegre,
que modernizaram os centros principais. Essa 1no d c rni zação, p atrocinada pelo Es-
tado, era indispensável para o pleno florescimento de grandes empreendi mcnto"
imobiliários. Tais obras m ostram que as e lit es aprimoram os cemros prindpais quan -
do precisam p erma n ecer neles. Por ou tro lado , como jd mo s rrnmo s, os ce nt ros pri n -
cipaisde nossas metrópoles se mpre apresentaram um deslocnmcnto terri to ri al o-
rientado na direção dos bairros residenciais das ca m adas de... a lta renda . Esses
deslocamentos, entrelanlo, sen1pre foram contíguos aos cen tro s prin cipais, m1~ejn,
os "novos ce ntro s" eram contí guos nos ve lh os. Nesse desloc: :unemo, V('n ccrn m os
maisvariad os e sérios obs tác ul os, lrnnspondo vales {o Anh ::mgabnú) e fozendo arra -
sar montanhas (o Morro do Cas telo), avançando so bre rios (c m Porto Alegre) o u
sobre o mar (e m Florianópolis e no Rio ele Janei ro). Outrorn, porém, essas obrn$
para a expansão dos centros eram feitas e m tlreas co ntíguo s a ele . Na clécndn d •
1970,o que ocorreu d e novo é qu e os novos ce ntr os s ur g i rnm afastados elos an1 igos.
Que nova força su rg iu e ntão e que provocou n ruµrurn dos ce ntro s principais
comas elites que os s u ste ntavam ? O qu e fez com que ns elites se dcsintcrcssnss m
peloscentros principais e resolvessem nbanclona -los, nflo mai s se preocupando c m
renová-los, corno haviam feito no p assa d o'?
Essa nova força foi constituída pelo numcnto tb m o bilidade espacial motiva -
da pelo au mento da taxa de motori zação d as classes ele mai s alLn renda d e no~ sn~

279

cid:1dcs e·pela nova forma de produção do espaço coerente com os novos padrões
de mobilidade territorial que tais classes passaram a apresentar. Além disso, aspc.
quC'nas dimensões de nossas camadas de alLa e média rendas fizeram com que a
pn1ccln de tais classe que mora junto n e próximo ao centro fosse exígua, não de.
senv olvcndo com ele a simbiose de mútu o fortalecimento , típi ca de cidades do Pri-
meiro Mundo ou mesmo cm Buenos Aires (veja no capítulo 7, seção "Os setores"}.
/\ nlinnça entreº" interesses imobiliários e o clcscnvolvimcnto cios transportes é
antiga e variada. Como vimos na seção "Loca lização, valor e preço da terra urba-
na", os transportes, ao nmpliar a acessibi lidad e, aumcnt,1n1 o valor de uso dos ter-
rC'nos e estes atraem o cap itnl imobiliário, qu e os aprovei ta e, através de sua utili-
zação, apropria- se da mais-valia socia l arma zenada nesses valores ele uso.
A década de 1970 marcou n difusão da propriedad e do automóve l pela classe
média brasileira. No entanto, n propriedade ele automóvel não significa uso múlti-
plo (parn diferentes íinalidades) e sistemático (diário , ou q uase) desse veículo. O
uso múJtipln e sistcmMico ainda é efetuado, mesmo cm São Paulo, apenas pelas
classes acimn da média. Note-se que, seg und o o ce nso de 199], ape nas 5,31%dos
chefes de domicílios da Área Metropolitana de São Paulo tin ham rendimentos men-
sais superiores a vinte salários-m ínimos. Essas são as família s que fazem uso múlti-
plo e sistemático do automóvel.
r:oram os interesses de locomoção dessa classe que modelaram, a partirda
década de l 970, uma parte dos território s de nossas metrópoles, inclusive seusno-
vos centros. A mobilidade territo rial liberlou as pessoa s da pr isão, do peso do espa-
ço. Para as famílias que conseguiram aume nt á- la, amp liou -se o mio de ação dentro
do qual podiam fazer uso do co mércio e dos serv iços, de n1édicos, dentistas, clubes,
restaurantes, escolas, etc. Inversament e, as lojas- e obviame nte os shoppi ng centers
-, os hotéis, os consultór ios, os restaurantes e também as academias de judô, os
sa lões de beleza, as escolas maternai s o u elementares, etc. aum entaram seu raiode
ação cm função da client ela motorizada. Essa classe, e o Estado por ela dominado,
produziram en tão um espaço urban o em que elas pod iam desfrutar ao máximoas
opções que a liberdade espacial lhes oferec ia. lss o ocorreu in clusive- em maiorou
menor grau - com os centro s principai s de nossas n1etrópoles. Por isso, eles passa·
ram, a partir dos anos 70, a assu mir enor mes dimen sões e gran de fragmentação;
para isso precisaram de n ova localiza ção e de uma nova cid ade, mai s adaptada ao
au tomóvel. Grandes estac ionamentos, novas avenidas, vias expressas e rodovias.Elas
permiti mm que as classes de nlta re nd a contin ua sse m se d es loca nd o para localiza.
ções mais afastada s. Enlrctnnto (o co n tro le do te mp o de deslocamento é vital). ape-
sar da maior mobiliclaclc territorial, elas, à medi da que se afas tavam, procuravam
minimizar o tempo de deslocamento ao ce nt ro, traze nd o-o para sua direção. Isso
ocorreu, porém, cm uma parte clara e es pecí fica da cidad e: a região gemi onde5e
concen trava a alta rencln.
A maior ia da popu lação- as classes popu lar es- ficou ent ão com os centros
velhos, com os ccnt ros de bai rro e co m un s po ucos shoppin g ce nt ers, grande parte
cios quai s, aliás - para essas classes-, localizados n esses ce ntro s.

280
(h111<>,l,IIOl(' 'i ( Pll:líll( ' III(• poclc·m df' ,1·1111w11lt ,11 (' flp 'ª"'dt• (' UIJ)f'ílh,11 . ir11
um p,lJWIim po 11ti II lt ' l lfl d1•1 111110
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1mncn10 do< c•11110, e 01110 J,í vitnCJ'>, 1111e,, , o cl,1 l 1111, .,, 110 Hio <f,-.Ja111·1rc,. ~..m .1lg11n
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lao dcc,cnvotvi m <·nlo do< rn11c':11 11.1,. 'it•1v11 ,, , 1·111:ír,·a•,dr• 11,t ,·H· ,c,r• l11rí •.11c,, ,if;, .ra-
dao;do rc11110I" ÍIH 1p.1l l ' q I1t· <otr1 c•I(· t 11in1wtc·n1 ,a ,mIíl Stil dn 1<1,, , r•JJJ H'l; l V1,1
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pol{•ndn :,11lic1c11lt•par;1 c•xpl1r:i1 o vinl< 11lo JIHH c··,~,ri dr• dc",c,1•1111uli1;1C;,,, q11c· 'i' '
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ahnlcu :,ob1e tp1a"t' rod ,,., :p, 110..,,: l', 111C·11cipul<· , 1• 1111·•rnw < 1dHd,.., nH~d,,1•,, p1.il1<.c.1
nw11tcao 111c s 11w 1c·1npo, 11;1dt~t ilcla dt• 1!J70. f lnu w· 111rn1lcm,a <1m1ili 11<1r f; "' .,,1111il
1unca,gcncrnlizad:i e· proh, nclo, e OllllH>',la 1wlo no vo pndrno df' mol>i11cladr · r·-.pal inl
ciccom·nlc d:i dift10,ê <''- cl<•élC<·i;,i b1l1<fad•
10 110u, o do a1110111ôwl,r o111r,., n,,vai, f11·11I
quel'ICc1iou l! ,·om o novo ·<ipaço u1bano qtt<.·Í()Í par n el,, procluzid,> p<:l. 1~ ,. para w,
ramada~ de 11rnh.t11,11r nd,1. b, <ia n ova rnohllidaclc· l cr rítrm;-il , Jl1111am e11I<' ,·r,m e;
empenho do ct1pi1al imobilit"1rio c m lorna1 r,bso lt!lo..,o, rc ntro c.,cXÍ!>l<·nl('\ e· prc,rno
ver11ovo ~ rr1111o-. e no v41<,ÍrC'ntc'i imobiliJriél\, fc1 n,m qu e um novo p;id rao d<·d ..,
lucamcnlu-,e <·, tahclt· c<.",'>C c m nw,....
n'>m el rópnlc-~.
J,\ vimo-. qu<· º" centro, p1inc.::ipni, -.,·mptl' ap,cc;t·111arani um dc -,Jocamc ritc,
lcrritorial nn clin•1r,iocln úrc•a cl<;con cc nIrrI çao cJa-,c,inwdo, de rna1'>alla rc·ncla e
que, no pa s,éldo , , ..,.,e dc,10 1.,amcnlo sc mµrc -,c dc11cm área '><.ontfgua '>.Na-; clêc:t-


º """'_.,
....
,.,
' D _ , ..,~
... -Ci:]~ , .......
- '-"-"'..Aw"
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Pl=ll)A FA•,tlA ll J,'!Et)>


[M ~RI05-f.tt~l.40S
CJ ,IOSM
D l l 4 IOS'A
Hl72 ll!IDAll: 3 SM
9 rA'IELAS

fi gura 4'1- ÁIC'a Mct1opnlí!t11H1d e Uclt, l lorii'.on1c: cJi~Lrlbul çflo da, cla sses !!Oci:tl" cm 19511e 1972

281
da s llL' l q40 e 1950, no sos ce ntros prin cipai s tinh am um n pane popular e uma
nob1r . Em SJo Pnulo eram representadas pelas ru as Dir e ita e Bnrfio de ltapctinín gn.
l 111 ílcln l luri 1on te, pela run d os Caelés e pela rua da Ba hi a. A partir da déca da de
1D70 houve um salto, uma de scontinuidade n esse d es locament o espac ial, de ma-
neira que i15 duns p~Htcs - a nob re e a popular - n ão eram m ais du as met ades
con tigua~ de um unico ce ntro. mas doi s ce ntro s se pa rados - um nobr e e omro
popubr. O pnmc irn pn S!:,O U a SN chamado d e "novo centro d a cidade" ou "centro
nmn" e o ::,cgundo, no imngindrio dominant e, tendeu a deix ar de se r o centro da
cidade pa!>~and o a "centro vr lho ".
Progressi \ a mente (ma s ainda não to talm en te) abandonado pelas camadas
de alta renda dc::,dc a déca da de 1960, os centros tradici o na is roram deixados dete-
º"
1 ionr . "pontos'' centrai s não eram mai s tão bon s co m o outrora, pois a nova mo-
hihdack territo rial criou novos "ponto s" para serviço s pe sso ai s, laze r, profis sionais
lib-erab e loja - dns burgucsias. Os edifícios do centro tradicional, abandonado5 ,
perdc13m se u vnlor imobiliário e foram deixado s d e teriorar. Assim, ao contrário
do que ess:is classes afirmam , foi seu abandono q ue fez com que os edifícios se
d eteriorassem, pois n ão co mpensava ma is mantê -los. Não foi a deterioraç ão que
p rm ocou o aba ndon o.
Na verda de, o que primeiro "deteriorou" no centro não for am os edifícios,
ma a sua localização, os se us vários "ponto s". Um vivo exe1nplo disso é o edifício
~1.irtinelli, cm São Paulo. O prime iro grande arranha-céu do Brasil, importante marco
na memória e na paisagem da cidade, esse ed ifício de vinte e seis pavimentos trans-
fom10u-se num enor me cortiço no iníc io dos anos 70, a p onto de tornar-se um gra-
ve problema de saúde e segurança púb licas e ex igir a in tervenção da n1tm icipalidade.
Empresas e profis siona is liberais não mais se interessavam em se in stalar no
Martinelli; cm cidades da Europa ou do s Estados Unidos um ed ifício como esse se-
ria prontamente modernizado e recuperado , po is ain d a have ria mercado para ele.
Lá, os edifícios antigos ainda estão em bom "ponto".
A nova mobilidade espacia l produz iu espaços cada vez mais alargados . Em
razão disso, co m o vimos, o caminhamento q ue ocorreu a partir da década de 1960,
no comércio e se rviços centrais voltados para a alta renda, não reproduziu - como
oc;deslocamentos anteriores - o "centro a ntigo'' em termo s de concentraçào de
n(1mcro de empre gos e var iedade de comércio e s erviços, mas sim uma região
atomizada de vários centros especializado s (como em São Pau lo ou Salvador), ou
um novo ce ntro de gra nd e ex tensão .
Com esse novo padrão de ce ntro e a tend ê ncia à crescen te concentração das
camadas de mai s alta renda numa única regjão ela cidad e, prosseguiu o pro cesso de
bipanição do espaço metrop olitano em regiõe s da s camadas d e mai s baixa renda-
a grande maioria - e a da s de ma is alta renda: essas grandes reg iões são agora inte-
gradas nã o apenas por residênc ias, mas também pelo s ce ntro s, esc ritórios, profissio-
nais liberais, lojas, rua s, etc. de cada cla sse , constituindo-se, na verdade, em duas''ci-
dades se para da s". A tendência ago ra é de hav e r doi s centros ''pri n cipais" , o que,
obviam ente, é uma incongruência. "Princ ipal" só pode se r um. Cabe então à classe

282
dominanteescolher qual deles é o cenlro dr, cidrule. Vcrernm, como c::.sc.: p10bk·1fü1é
do no capítu lo 13, na seção "Segrcgaçf10, con l rolr cio n...
resolvi lado l' 1clcologia
".

O centro principal e as camadas populare s


Como vimos, cam inh ando na direçao do s bt1irros elas cam:1clas de nlla renda,
oscentrosprincipais foram deixando vagn uma retaguarda abanclonacla, volrada pma
asgrandesregiões populare s. Essa parte passou cnl5o a ser ocupada pelo comfr cin
e serviçosdestinado s ao atendimento das camadas populare s. Á nwcliclnque essas
camadasascendiam como consum idore s, suas lojas e c;crviçoscumcçarnm í:Iapnr<'-
ccrtambém nos centros dns metrópole s nas áreas abandonadn s pelo comén;io e
serviçosque atendiam às burgue sias. Surgiram, assim, tamhdm o "lado de lá"e o
"ladode cá" do centro. No Rio isso se deu na área mais rrnr.-ins lados elas prnça"
MauáeTiradentes e na região entre a rua da Cariocn e a avenida Presiden te Vnrgas.
Segundouma análise histórica do centro do Rio (lílGE/CNG, 1967, 6S). C')tC' "lam-
bémexpandiu-se na dire ção da Praça Mauá e, ultrapa ssando a avenida Pns!,OS,ab-
sorveu as ruas que demandavam a Praça da Repúbli ca.( ...) A rua Marechal Floriano,
queconstituía, na fase ant erio r, o limite máxjmo do setor comercial em <lireçf10a
PraçaMauá viu desenvolver se u comércio varejista, (...) porém comércio de carfücr
popular, talvez por ser a rua por onde circulavam os bondes procedentes da zona
Nonce pela proximidade da central do Brasil''. Por outro lado, a exlrcmidade sul da
avenidaRioBranco e vizinhanças lornou-sc a zona nobre do centro principal. tssa~
articulaçõesrepresentam a articulação en tre os extremos opostos do centro do Rio
- as zonas Norte e Sul e os respectivos sislemos de trnnsporlc . Em São Paulo, o
comérciopopular ocupou o outrora aristocrático Triângulo. Em Belo Horizonte, as
imediaçõesda Praça da Estação Ferroviária e o início da rua da Bahia - além dn rua
dosCaetés,como vimos - se popularizaram e, em Salvador, a região do Terrcirode
Jesuse o início da run Chile, também, à medida que o comércio e os serviços das
burguesias avançavam pela avenida Sete de Setembro.
Porvolta da década de 1970- variando um pouco conforme a metrópole-,
oscentrosjá esravam bastante abandonados, principalmente como locnl elecompras,
diversões e escritórios profissionais liberais das burguesias. Estabclccimcnloscomo o
Mappin,em São Paulo, que ainda atendiam à alta burguesia paulislana nos anos 50
tornaram-selojas popular es. As elites não se cnconlravam mais na rua do Ouvidor,
nem na Confeita ria Colombo (que já nbrirn filial cm Copacabana), nem no rua da
Praia,tampouco na Barão de ltapetininga. O Mappin não saiu do lugar e foiobrigado
a sepopularizar.
Nadécada de 1980, os cenlros principais já estavam quase totalmente toma-
dospelas camadas populares . Aquilo a que se chama ideologicamente de"dccndên-
cia"do centro é tão-somente sua tomada pelas camadas populares, justamenlc sua
tomadapela maioria da população. Nessas con díçôcs, sendo o centro realmente da
maioria,ele é centro da cidade.

283
O centro do Recife
Os c:1pítulos ante rio res mo strar,1111como se dc.sc n \olveu, cm todas as nos-
sas metróp o les, uma tend ê n cia no entido de co n stituir-se uma, e apenas uma,
àrea ou região urb :-u,a onde oco rre uma gra nde' concentração dns cnma ctas de mais
nlta renda. Vimo s também qu e é comum c m n ossas mct rópo le - haver uma ·egunda
área d e seg regação da s camadas d e mai s alta renda (Nite rói e Tijuca, no Rio:
Tremernbé ou Tatuap é, em São Paulo; Pa mpulhn. cm Belo Ho ri zonte; e Vila Assun-
ção, c m Porto Alegre) . No entanto , a dif ere n ça d e popul ação de alta renda entre a
primeira e a segu nd n (ou me s mo ter ce ira ) á reas é eno rme (vej a o ca pít ulo 12).
Nos capít ul os 5, seção "São Paulo" , e 8, seção "Rec ife". e n o Quadro ..J.5,\'imos
que n o Recife isso n ão acontece; a seg und a área d e concentração d e população de
aJta. re nd a tem uma população d e ricos muito s ig nifi ca th a. Pode-se - na verdade
deve-se - di ze r que o Recife apr ese nta dua s áreas de gra nde co n cen traç ão da s cn-
madas de mai s alta renda . Uma - a tradic ional - a oes te, no eix o do Capibaribe , e
outra- mais recente- na orla mnr ítimn, em Bo a Viagem / Juboatão. O Quadro 45
m ostra a upremacia da segunda sobre a primeira á rea. Vimos tam b ém no capírulo
8, n a seção ci tada acima, que a construção de apartamentos p ara as cla sses m édia
alta e alta no seto r Sul supera a do se to r Oe ste. Contudo, e m qu e pese a inegável
te nd ê n cia de supremacia do setor SuJ, a concentração de ca mada d e alta re nda no
se tor tradic io n al ainda é muito grande, não a pre senta nd o a e n or m e difer e nça que
todas as demais m etrópole s apre se ntam entre a primeira e a seg unda áre a de gran-
de co ncen tração das ca m adas de .alta renda . Mai s adi a nte , no capítulo 12, vollnre-
mo s a abordar essa segregação e suas implicaçõe s.
O surgimento de proce ss os que aparentemen te c o ntrariam uma regularida-
d e ou uma teoria é um importantí ss imo test e da va lidade de tai s teor ias. Nesse sen-
tid o, o Recife, por sua apa ren te exceç ã o, repre se nta um de s afi o valioso.
Reiteramo s aqui as considerações feita s no final da seção "São Paulo ", n o capí-
tul o 5, a respeito da nece ss idade de anali sa r a es trutllra ção intra - urbana enquanto
m ov im ento , processo, e n ão enquanto estado . Naque la oportunidade afim1amos que
as me s m as forças qu e atuam so bre a es truturaçã o das demai s m e trópoles a[Uam tam -
bém sobre o Reci fe e que essas forç as manif es ta va m o me sm o resultado em termo s de
m ovime nto , ou seja, a tend ê ncia a ter apenas um a área d e segr egação das burguesia s.
Nesse p ar ticu lar, o m ovim e nto apr ese ntad o p e lo Rec ife é igual ao da s dema is merr ó-
pole s. Capta ndo- se o movimento, é po ssíve l ve rificar que uma das áreas de grande
concen tração das burgue sias está em d eclí nio enquanto lal (a tradicional, no eixo do
Capibaribc), e a outra- BoaViagem - es tá e m ascensão . O Recife apre se nt a, ent ão, a
me s ma tendência das d emai s metr ópole s, num estágio diferente da tendência.
Afirm a mo s ta mbém, como deco rrência da s aná lises conr.idas nas seções "O
surg im ento do s ce ntro s princ ip ais" e "Os centros principai s e as camadas de alta
renda ", neste ca p ítul o, qu e as populaç õ e s seg re gada s na s áreas de grande concen-
tração das camadas de mais alta renda tend e m a a t rair o c rescimento do centro
prin c ipal na dire ção dela s. Tradicionalmente , até por voh a da década de 1960, o

284
crescimento do ce ntro nes sa direção se fazia de man ei ra cspa cialment e contínuc1.
Apartir dn década de 1970 - cs pec ialmentE' em São Pnulo, Salvador e Belo 1Inri-
zontr -, esse crcscim rnto vem se dando ele foi ma clcscontfnua . O centro pr inci-
pal "pula" um espaço e sua p a rl e no va, aqt1cla voltada para as camadc1s de alta
renda{o chama do ''centro novo "), se desenvolve sepa1 nuamente do primeiro. Essa
descontinuidade pod e ser muit o grande (co mo no caso de Salvador ) ou rrrnllo pe-
qucn.:i(como no caso d e Belo Horizonte). Recordemos que, quando se falrt cm
direçãode crescim en to do ce ntro, está-se folnnc.lona verdade daquela pMt e do
centro voltada para as ca mada s de alta renda.
Em face dessas consideraçõ es, se ria de se esperar que alguma investigação
fossefeita sobre o c re sci m en to do centro do Recife, a fim ele verificar como ele vem
respondendo nmudan ça de direção de cresc im enlo das camadas de alla rend a. ln-
felizmente não há dado s espaciali za do s nem séries hislórica s de cslatíslicas de em-
rrego para o Rccife. À vista d essa dificuldade, foi realizada a pe squi sa de um eiado
que, embora não apresentando total precisão, constitui um indicador satisfatório
das atividades terciária s centrais. Além de relativamente rnpida e fácil, tal pesquisa
apresenta a vantagem ímpar de poder abranger um período histórico amplo: neste
caso,esse período foi estabelecido em dez anos.
Essa pesqui sa consistiu em contar o número de salas comerciais ou de anún-
ciosde salas comerciais para alugar ou vende r, publicados na imprensa local, e dis-
tribui-losespacialmentc por áreas s ignifica! ivas. Foram pesquisados os períod os de
1984a 1986 e de 1994 a 1996. Os resultados são apresentados no Quadro 40.

Quadro40 - Área Metropolitana do Recife


Salas, conjun tos ou andares comerciais para venda ou aluguel (1984-1986
e 1994-1996)

Quantidade definida de salas Quantidade indefinidade salas


ou coniuntos de salas ou conjuntos de salas

(Quantidade de salas) (Quantidade de anunoos)

Anos Oeste Sul Centro Oul.ro'.) Local Oeste Sul Centro Outros Local
1rad ind~f1n1do trad. mdehnrdo

1984-1986 17 21 131 2 16 9 3 32 2 9
1994- 1996 264 172 152 18 85 65 57 34 13 48

Aumento(%) 1 452.9,1 719,05 16,03 800 ,00 431 ,25 622,22 1.800,00 6,25 550,00 '133,33

Limites do Ce11trotradicionnl do Hecife: 13ai1


rodo Hcc ilc, São Jo:,é e San LOAntónio. G. Pi1es, S,rnda<ll'.Cap.
Limo. Fundiçflo, avenida Norte , Aurora, Muni l, Coelho s, S. C.onçulo e Santa Ctu 1.. Lei 7-127/6 1 (/.oua
ComercialCcntwl. ZC- 1).

fontes: Düirio de l'tmwnilmco c.le 5 de maio de 1994, 7 ele maio de 19!J5, 14de maio de t tJ95, 28 de maio de
1985e 18de junh o de 1996;/omal do Comércio de 31 dt" nove mbro de 19~6. Diáriurl e Pemamlm c:nde 24 de
junho de 1984, J Ode março de 1985, 12 de maio tle 1985, 2 de ju lho de l 985, 2 1de setembro de 19HSe '.?.I de
setembrode 198G.

285
lh d,1do, uo()u,uli o 40 pte cb am ser nnnlbndos rom prutlC ·ncin . Em p rime iro
lu-g.11.nbscnc Qll l' 0 qu,1drn ~e clh ide em du:1s p arfct--não -c-ompt1ráve1s. O lado es-
querdo tlll1,tr.1 um Lbdo preciso : ··qu:m rid nd~ cl(· sal ns ou cc.,nju11to., de :-mini-'';já o
l.11.lodin·1w aprt"Sl'nt.,1 um d,td o sat 1sl :1to1io, por én I m e no !>pre c iso· ''q un nt 1dnde de
.._rnum·1t1~·"t'm i11d1c,1çõn 1. ..lnqunn~ ida dL' de snlns; ec.;i::esanünciO!-, &no d o tipo "alu-
g.un-,e s.11~., 110t'dtfü :in X'. nu • cj.1, 11ftn cs p rci fi cnn 1 o num e to de sa las. Po rtan to,
retcnndn--..~ ,t g1:1mk-7,ts diferent es (m1mrro d e saln,:; e nLím cro ele antíncios). O!I
1 lltnl'Tt\~ da!--dtt,l'- nwt..1dt"sdo quadro n:'\n p odem ser somndos. Embora a p rimeira
p,lrll' ~l·j,1 m.1b confi,1\c-l que n c:;cgunda, n diferença arre.;cnta d a p o r cs ln última,
entrL· 0 nest imcnt0 ao ~ul l' n oeste. é tão grnncll' (como, nlirís, ta mb é m na primeira
nh't,1dt• l que nJn podl' ser de spre za da .
De:-taque- , e primeirame nte- o diminuto crescim ent o d a o ferta de salnr, no
Ct•ntw 1r.1tlic-ionnl. cm ambas ns metades . A tendênc ia ü csl agnaç5o - lé1lvcz.ao
dcchnto - cfa ntalid.1de imob iliâriri cJo cPntro é inegável. O núm ero de em pregos
no rcncw pode estar declina ndo ou estacionário, mas ce 11amc nt e es tá mudando de
clac.,c 5ocial. cnmn nas dema is m e1rópo lcs.
[m :-cgundo lugar, observe que numa m etnde d o qua dro o se tor Sul teve maior
crescimento. e na Otllra metade o se tor Ocs 1e foi o qu e m a is cre sce u. Em amba s, as
d1fert'l'l(,b dr cresci m en to ent re Sul e Oeste são muito gra nd es. De qu a lqu er forma ,
me mo lr\nncio em co nta um a eventual fragilidade indicat iva da 1nct nclc direita do
quadro e outra:> imprecisões (o csp c1çoco mercia l de um shopping center, por exem·
plo, n5o é captado pela pesq uisa). uma co nclu sã o no s parece seg ura: no s últimos
dez anos. o centro do Rec ife não tem a pre se ntado clara tendência de c rescim ento
nu me ...ma direção que o cresci ment o da s ca mad as d e mai s aJta renda. Se houve r
predominfrncin de cresci m ento de at iv idade s ce ntrai s de alta re nda no se tor Sul,
ntnda e pequena . Rec ife co ntrari a, e nt ão, a te se defendida ne s ta obra de que o cen-
tro dn cidade voltado para as ca m a da s de ma is ai La renda c re sce , contínua ou
dec;cominuamenre, n a mesma direção que ta is ca mada s.
A es e respe iLo, cabem as co n s idera ções que se segue m .
Em primeiro lugar, recordemos que a es tru t ura ção intra-urbnna é u m pro-
ces~o lento, que deve ser focalizado em termos de muita s década s. Vimos, especial-
mente no capf wl o 4, que a estrutura intrn -urbana produ zida pelo s ca minho s colo-
niab no Rio de Janeiro se m a ntev e p or ce rca d e um séc ulo, embora n esse período
tais caminhos Len ham perdid o importância para él ferrovi a. O b se rvamo s que, em-
bora as camadas de alta renda no Rio tenham co m eça do a se tran sfe rir do oeste para
o sul. no terceiro quarte l do século XIX, e embora a reorie nt ação do centro do ílio (a
a\'eni dn Hio Brnnco), re!>pondcndo a essa lrnn s fc rência, tenha ocorrido no início
deste séc ulo , o "reinado" da rua do Ouvidor (produ zida peln ant iga localização da
alta re n da) duro u até a décc1da de 1950, ou sej a, so br ev iveu qua se um séc ulo à
reoriemação da s camadas de a lta rend a. Tendo isso em ment e, dev e-se lembrar que,
den l1c rodas as metrópoles aqui estudada s, o Recife é a que apr ese ntou mudan ça na
dire ção de c re scim e nt o dn alta renda h á m e nos te mp o. Rio e São Paulo apre se nta·
ram essa reorientação no séc ulo passa do; além di sso, a dir eçã o original, abandona-

28 6
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1,~ • ' ' •1 < e rn,tn 11, r 111 , •I
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1c-.wrad .1t·1n trrmo s 1<''-t pacinh.
1 11rna b1gniftr.1tivll1,.ircel., <1o crt·~ , mtt•nhl • d,, v, 'uwnic
,•111n,
, ,llt,t<fo p,tr,l ,1,;ram~< ns < e lll illS nlt.1n.· nci,l

'
rk qu,,lqun forma. sc•n,, intc·rl·s~nntc e hn"it'llllf',
.. d '. l . ~ • .· . . ,1 insn um monuornmrnl<Jl
1
0 .
,l hrcill. dn 1,t n l tl tÇ,1C1 ( . pnc tal cfas at 1v1dadt•s ll'rciJn 'st Ct •n[r.11 ,o 1í,ld ,,~ p,1r.1 .1
., ll L·i a .l r.11c1
(Jm:td:1-.de nlta· lC' I o cstud 10sn do l')paç o tntrn• urh ,IOO, t''i~,I. tnt•Hopnlc ~
um nrn1t~n,1l pn ,·1cgiar o, e {' gr,mdC'val i.i.

Notas
i ~ J') co1~,;it
.ler,1çô<>ssao _de ~,mHer gcr:11e nno <levem of uscur o raro d, qw• L pos •._·I uma
l oncC' p~·~wde 4ue n pent cn J pode estar no r cntrn. ou no pólo (~l11ton \.mw-.. 1~119 ,,,.,,
19l){), 37)

~ PJraCel-.oh1rt,,do ( 19fi3, 17'1). llt 'S\P pcriouo "a rentl.trc:il tio l!rJ, 11, e•l l'rt I mult1pl11.1d1J por
i l. o que representa um a taxa dt! cre.... rimt ' IHO anual dL· l ,; •\, L' <lt•Ul',rinwnro d,• pc•r,
,,,,,m
l '.i' . E,:>.itJxn dt~ cresc imen to t.' elevada, ro m rrspc-ltoílU cJp,c•n volvrnn•nl11d., t \ <Hl<tllll 1
mundi.11nu século XIX".
3 ~" mc~ma obra. :1 pág i11n 116 1, Bru n o 1egi-.1r,.r "\ , loj,L" p:iulh1.111 .h 1:11nh~rnr.•i.:dMam
J!ip«:cto dift•rr 1He a p artir de t 070. Um ob serv ,1dnr d,1r tclc1tk a partir d,1 IKtt.!- lfll<'e,liwr.,
JU\t'n te durJntc • JO anos - n n l <1v,1 ronio L'ohJ nma qll t> h.t\l ,1 ~rupo, Úl' !>t'11h or.t:!I
p,1!.se:rnd o tlc-snco mp a nh ad ns p<'lo Ll'1Hro . oi h:indn, 11r111 1do 11.1~<,h•
,h. t.•n trt11 '' ~ nmntl, 11"
par,\ lí:t7t>rco m pra s, freq ul' nc,ind o LnnlL'itan a•t . Um..id1h:1ença tlt' ul...:urowu ltn quc11ta
anos em relaçã o Jo Hio.
·l ~ l>rt•a J\ 't>llic.l.1 lk ir,1-Mar. Ger 0 11 (s.d., 071 a finn.1 , 'il'lll pe1n .'he1 :-.llJ rd,t\,111 rwm com. ,
l'~pt>tula~·ao 1mobiliaria nem ro n1 -.u n ÍUII \ un deu< es,o à .iJl' .1 úc w~u:g,1\··111d·1-.l'llll'~. qu•·
o plano de obras dl' Passos foi expo h>i1ca m.ir.t ~tunir1pJI 1M mt>n,,1gem '1111' lltt' dm1,ttu
em abril de 1901, e nl'la apa reria em lu~ar dlJcfr1,t.iqm•unw avt.'111d .i qut· lo",c dt",Jc u 11m(!,1
h
rua Chile {ou da Ajud a) na hojl'.'Cine lan dl.1. c1tP o l11nda PraiJ dt• Bo1:t l~O t' t º"' Ju J
11
finalidades intim am ente cntrd a~·a(fa~: dar m ,Hh he1E m1 a rrranio~ J,t w.ladc '-1t> n,1t,, .1rn

28 7
1.'m co mliç1lL'S Ul' co mp etir . n e ·st' r ar tkul,1.1. cn m ,t ' Prom c:nu d1.• d1~.,Ang l..11•,'Llc N11e-1 1P
11·,t>ht ' 1 o ;mg u..;t1a1Hc p1 obk ma ele :-um, co m un icaçõ c.•sent ,c o ce n tr o L· o-. nmrr o .; sulino, ·
t._:u ,mh) ;\ ni.1 L~o111.;ah c-s Di,1:-. fui. n0 im do dcste ,éculo . ',t'gu 11dn I i111.1 Harn•tn , o po nw m1n.1l
tln p.,,wiu d,,, ri c.l:. '\ ·ncotl ':." do Hio . "llm ::itardl' , no l .1lc P,tp L1ga10, Vt .. n do pa-;<.ur 1wll ru.i
l ;n n c,.iln», ni.1 s ,,lor.1. de ln uxo p .1r:1 cim.1 , d e.?um bd o p ,uu outro. gra nd c-s mul hcn·~
l'\ lr,1ngt:>1r.1", dh ' i3$ d e j,Ha,;, t·o m l'SlHlVt'nto<;os dwpcu s dt· a lt a:- plu ma:- , ao jeito de vela\
en fun nd ,u, .w \ cnto. imrclind o gr:rnd c~ cascos:· ( \lida,. m ore e de,\/ J. G01i;;t1gndr .\,i. cap
1\ () l\1d nnllll ") ü11 ~eu co nto "Uma conn~rsn v ul gar ", Pm H1swria s e so 11hos. o roman cista
rt:>fo re-:-t• l1 'lw1r h1,u osn rua Go n ça ln •s l )i a..-.".
5. O-. H':.ult:1tlu s tia pc, qu isd rc ali7.ada para o m e l ró d e São Paul o em 1967 (publi cad a em 1968:
n .w l<>r.im tll1hn uJn,; po r n tlo se re m co nfi aveis . Indi ca m , p ar::i um a população de 6 206 108
e!- (seg und o n pt•squi s a) para um a ,heíl qu e co incídi a co m a do~ municfpio s enrio
h ,1hi1.111t
con urh ndo s co m o d;\ c:i pit a l, um ro ta i de a p ena s 55~ 066 e mpre gos no se 1o r terciário
ind u~1ve fun~· il>n;ilio.;moptlblico . F~se ,5 o lOtal correto que aparece inc orr e ta m em e pub licado
à p .1gin a 1 13, , . 1 d e Me trô d e São Pau lo (Hoc h ticf. Mo ntr eal, Deco n s ul l) . Para tem10 s uma
id é ia do s 1gnifkndo de ss n ci fra , b ;is ta ria di ze r qu e o t rabnlho uRecur sos hum anos na Grande
~ão P.'lulo'·. rublicado no início da d éca da d e 1970 p o r ini ciativa d o Grupo Exe c utivo da Grande
s:10Paulo - GEGHJ\N, do Governo do E~tado de Sã o Pau lo (o traba lho , e m dois grossos
\ o lum cs . fo i el a borado p o r diver sos profi ss io n ais d e ren o m e, m as n ão tem data nem editor'.
apr e.;c nta p a ra a Área Metro p olitan a d e São Pa ulo , em 1960, para um a popul ação de 4 7.170<)1
habitante s. 892 692 emprego s no se tor ter c iá rio (v. 1, p . 177). Pel o cen s o dem ográfico de
1970. p arn uma p op ula ção tot a l de 8 139 73 0 habi rantes, o número de p esso as que se
clcclarnrn rn e mp regada s no s e to r te rciá ri o {in clu s iv e n a admi ni s tração públic a ) era de
1 399 282. Po r isso n 5o fora m utili za d os os dados de e mpr ego da p u bl icaçãoMetrõ-Sisrcnu.
lnt egrudo de Transporte Rripido Cole tillO da Cidad e d e São Paul o. de Hochtief. Montreal.
Deconsull. São Pau lu, 1968, 2 v.).
6. De sta qu e m -s e, al é m d e A âr ea cen tral do Ri o de Jan eiro eA área metropolitana da Guanabara,
os tra ba lh os de Alui s io Ca pd ev ille Dua r te , ·•o centro d e a tividades d a m et ró pole "' (em Cimo
rfe G<'ogmjia dn Gu rwabarn ), o de H a idLne da Silva Barro s Du a rt e.A cidade do RíodC'/aneiro:
rfesce111raliznçüo das a tividade s terci ár ias. Os centrosftmcionais, e ai nda o de MariaTeresinh a
S. Soa re:>, Fisio11omía e:estrutu ra do Rio de Ja n eiro .
7 t\ comp ree n são d as ra zões p e las qu a is o ce n tro d o Rio de Jan eiro ''decaiu " m en os que o de
!):iu P,JUIO é um d esa fio que exige p es q ui sa es pe c ífica e que n ão se inclui n as pret ens ões
de c:t a o br a. En tretanto, n ão res is tim os à te nta ção de av e ntar a qui um a hip ó te se e:-..
plicai:h•a.
Re5!>alte -!>equ e o que cabe p esq u isar é o pap e l re la tivo de ca da centro e m face da respectiva
me tropo le. e não 111dic ado res :.ibso lut os d e um e ele o ut ro. A p es qui sa deve co mp arar o que
rr p1~~cnta o ce nt ro d o Rio para o Rio co m o que rep re senta o ce ntro de São Pa ulo para São
Pau lo, e n ão o ce ntro do Rio com o ce n tro de São Paulo.
Aq uil o ;1 qu e '>l' t:ha ni a de d eca d ê n c ia é o aba nd ono do ce nt ro pe la s burgucsi as. Em ambas
a!>mctr ó p o lt~s. es,;a~ cla sses a b a nd onara m o ce ntro ta nt o co mo loca l d e di versõ es comod t?
co n,prn s. O cen 1ro d o Hio, e ntr e ta nto , é m a is for te, is to é, fo i m e no s aba nd o nado que o de
S:io Paulo co m o lo ca l tle e mpr eg o de<,s ns c lasse<,; p o r es sa razão . o declíni o do centro como
loca l d e c-o mp ra-, por p c1rt e e.le ias- embora inegáve l - n ão foi tüo fon e co m o em São Paulo.
A prc \e 1ic,.atlL"-;sc-.cm1prcgo1-,- que , com o ve re m os , s6 p ode Sür ex pli ca d a pela força da tradição
- -,us tenla ce rto co m é rcio e se rviço s qu e, e m SãíJ Paulo, h á muito abandonaram o centro
fl i. a lgun :, exe mplo s.

288
O\ wr.t ur 111rt -s (fll'' 11t·1111
•111c1q11cl,1 s d:ts l'S .,n 111,11 tr, •q111·1tll $ 110e ·11rrudu Hm do qu
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nr, Lcnirc, elo l<iri 1t1a~ ahn11dr11rnr,m111ele Sfü1 l'a11l0 1\ r-.tcm<'tn,1 t;ud1nhn 11,1rua !Jhrro
IJad;iró,: i11111i1 n qu e "' 'l111-\1Vt•11111111•11lrnJ . ()11,11111, "" 1111,1 s, t•111hcir,111:111h,1J,1
t•srn11,r11.:a ~ .i
h crvaç:11> irnlu a q11P lt,1l11J,t'-nH'lho1P, .. 11r>n.•nlJn p, 111llpal do Hio dri q11Pno d1 JII I~1ulo 1

l'\ !(; ult 1111',. IHIIIICl' i 1)111ICH,1 110hn•, r (JllHI ,l',\ 1 1/llllht I IÇíl'i do lt!,llítl ~lu1111 1pJI ',,l(j ocupJdo
l.1,1cp<ir;1~1111JjllC'i Pt•o;1111i~11 rr· 1h1.:1d.1 r m .1mí11uo d1• loJa, d,• i11lurm.11u. .i, nn ,·.1derno
lnl•m11,111c d1 (J /r,r11r1/ d r, /lrm1l t> da Fnlha rlc \ !'t111/o , ,lflH''>l'lllOU o.,, gt11nrt• re,111! dn
quanro ;i u .1 lrH 1111,11 , ;!!.',

A
Quadro
------
Rio de Janeiro 5:ío Pau,o

5 13, 16 %,) 3 {615 o


5 (13, 16º~) 1 .?,08
1'l (36,8 4%) 22 ('15 33o.,
14 (36.84%) n. (45,s-=-o)
38 ( 100,00%) 48 1100 ooii )
• !lomcnlc lnJ:i for ,nr t 1111·,idl'r.1cl,1r,
. c.:u1so.._e d'>'>1<,IL'lltlJ Ice nica lor,11111g11111c1clo,
po1-. a m111on:i
prt~n•11,p•·n, 1cldn nc

Nme- ,, <pic,me.c;mo <'m tcrnw-. ahsolulO!-i, ;is cifrns do rt10 clf•J,111e1rn ,.wmaio;Jlras que .1s
de '),Hi Pc1ul<1
rJtHmfaro qu e r,•ílct<•ni;sior uso dn centro do ílio de Ja1wi111pelas Lanrnd.t" media t' .1rinu1da
m~di;i é o 11•,, da<.tvn·Ja" «•niraíi.. Pcc;quisa de mis,:1._de '-Cl!mn d1.i. c lt•tu.1d,1no /orna' d11
ltrrml~na/ o/J,11rir', /'nulo, n•vclou os segu intes result.ic.los qunnto a loc.tlita\ ',IO da-; 1gr...-1a,

Rrode Jan'!!trO S~o PJulo

Ha,•ea d0 g·a·"icleconcen r~ção rfas


-.!7,sf!~.d ma~ a r1 rend., 64.38% 78.82%
YJ CY'ro 26.03% 3,53%
"1~· 4 'X.a~ 9,59~G 17,65%

f,Jfam p ·sq111s:ido s H:ianü ntio s lú11cbre'i cm S:ío Paulo l' 71 rn, H10.em \,Írlll'- llllllll'rn, e.ln,
jornais, 11:iclos, alc:ilt,,rwmcnrc sclccionndns cm dczcmhrn Ut' 1<J'.l!),
ifma rncl11 ,ç.,,,
dl· que• ,ts b11rgue<;ía;;cariocns :1tribuem m,11s impcir1,1tia ,10tl'tHrn do Rio~
1 m 11i111aido que :1spauft.,, .ma-.o fo1rm com o centro de S.in Paull1l' dndu 1wl,1 prL''il'nÇ,l

28()

Íb.- .
d o ce ntro no noticiátio da s impre nsas locnis. A pesqui sa mostrad a no capítulo 13, seção
" cgrcga<rào, con tro le do Estado e id:eologia", qu ad ros 46 e47. indica que , do totnl de mençõ~
fei t ns a logrn dom os púbJl cos pelas imp re nsas lot.:ai ·. as refe re nt es .io centro do Rio
re pr esentava m 13,36% e as refere ntes ao ce ntro de S:\o Paulo , apen ,1 5,871:t(, .
Co m relação nos cinema s não é s u rpresa que o ce nt ro de São Paulo supere o do Rio, pois
cinema é uma diversão popul ar m a is tradi cio n al em Suo Pau lo. Em janeiro de 1997, 8,9-!ct
das 123 alas de cine m a da Aren Metropolita na de Sflo Paulo que anunciavam na Folha de S
Pa,L/oloca lizava m -se no cent ro co ntra 5,05% das 99 so las da Área Metropolitan a do Rio que
a nun ciavam no Jornal do Brasil. Co m o o Jornal do Brasil n iio nnuncia cinem as e.x.thmd o
filmes po rn ogrrif 1cos, essas sa la s foram excluída s da pe sq ui sa. Também não foram
co mput nd ns ns snlas de ce ntro s culturai s. Qunnto nos teatros, entretanto .os indicadores são
surpr eend entes. A situa ção era a seg uint e, cm no ve mbro de 1996:
Quadro e
No centro Junto ao centro Outros loca is

São Paulo 9 ( 19.95%) 10* (2 1.28%) 28 (59 ,57% )


Rto 4(14 ,81%) 4** (14,8 1%) 19 (70 ,37 ° 0)

·Booga e Vila Buarq ue


•• Glória. DLcLe, Flamengo

També m em hot éis co m quatr o ou cin co estre las, o centro de São Paulo supera o do Rio. O
pr im eiro tem três hot éis co m cinco estre las e vá rios qu atro estrelas. enquanto o segundo
n ão tem n en hum .
Co m o vimos no Quadro 36, em 1973 o centro de São Paulo tinha 32% da s agências bancari~
da área metropolit an a e o do mo, 49%. Em 1993, essas porcentagens pas sa ram para 1~c:i.; em
São Pa ulo e para 32% no Rio. O m a is surpr ee ndent e é que, e m núm eros absolutos. o centro
do Rio te m m ais agências bancária s qu e o de São Paulo; 328 no Rio e 232 em São Paulo 1Guia
Bancário, l 993).
Os eventos a segu ir noti ciados e transcritos da págin a 17 do Jornal do Brasil de 13 de .?brilde
1994 ja m ais ocorreriam no ce ntr o de São Paulo . "Casa m-se hoje, às 18h30, n a Igreja KossJ
Senhora do Car mo, no Centro , Môni ca Pessoa de Queiróz e Francist.:0 de Sá, ftlho do banqut'!iro
Angelo Ca lmon de Sá. Os noivos receberão os am igos n o Gávea Golí Club ." Logo em seguida.
na mesma co lun a. lê-se: "Amanhã , às 19h30. na igre ja São Franc isco de ?nula !também no
cen tro ]. Bianca Fisher e Ricardo Erm írio de Moraes . A noiva é filha de ~taria do Rosário e
Carlos fi s her. Já o noivo é filho de Ana Maria e Antô ni o Ermír io cte Mornes, A recepç.io sN-.i
no Hote l Rio Palace". Há décadas as elit es pauli stana s não usa m ns igrejas do centro de São
Pau lo. Ne m as esco las. Enquanto o Colégio São Ilento do Rio ainda é uma escola da5 alite: o
de São Paulo, há década s, deixou de sê- lo. Em 4 de d ezembro de 1996. à página ~9 o mesmo
jornal noticiou: "Ma rca d os: para hoje, às 17 h oras na Livraria Agir (rua ~léxico, 981 o
lançam ent o de dois livros do escrito r goian o Alao r Barbosa". A ru a México fica no cemm <lo
Rio. No dia seg uint e, o m es mo jornal noticiou out ro lança m e nt o de livro, de autoria de A.mom
o
Carlos Barand icr, no foyer do Teat ro João Teotô ni o, da Faculdade Cândi do Mende ·. tambrm
no centro. Em São Pa ulo não se faz lança m ento de livros em livra rias - ou qualquer ourn,
local - do ce nt ro.

290
ll HIii o p1tn 1r Ide llh d• J n ,u tem te rur
, nhum
t,., ,uh1m

1111\1\11\t htl,d 1d1 lt'Ul l fHI ) (!lH' (1 t \\Jll JU O li fllíii f 1[ 1 f


mc11ó1mh• dur nrr mm,,, mm,. tempo r d1t ~011 , 1111111111,1 rr. d ç
r111mniHmll nm rq111tt 111n1uh q,11•pnr '-l 11\alor m t ri l 1; t 11hrr r rr 1
11 u , 'º~ d,1 { nnfr11:ir1,1 ol<m1ho tio e, h1n1 1 11orru Jt d I lt u
ltr slldr, ,te l 1•tr:-1,; dn moc;t, 11,1dr" 111 B, nto d,1 lnrq I cl.1 1 n l I r
1111rn 11tl u 1• 11,~ ~ H•I '}lll'dr 111n 111111
a f.u111ra w111,, urqullrrõni, 1 "1 1111
fhn , 111upo~•\ 111.111\dlgenu., dn dr S, o Pauln 11111w11trtbu1domu lo I r
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dt {t: 11rrnsculnu ni~ no e cnlJn cln • 1l1:uJc• < l I t•11rro( 1111111 [ 1
dt1"(.(lnl'lm, do B:111o dn Brn,tl ,1C,l\, 1 l 1,111ç,1 Bra 11"P.1ço J Jlr
f>ro~r.:,i,Cl O I clJll li) d,l f ighl t' llllltlOS IHIIW\ !.UO IIIOIIUJIICOI 1
ct1111rih111rnm JMrn n sulid1tlt·.1ç:lo do ccnuo JHIIH1p,1I~ ngo de nutr
1 1t lo Nol l' e ,lllHl,1 que· h,1 \ .irws mu,,•u , 1mpor1 11\H'S 110<.vrurod Ih
lon 11lft Ucln, \11c,. o ~,u..,,•ul h, tiírtu l ,tl'ton.il, 11\111,cudil l111ag111d \(
dí'Art1: t--1oclcrn,1-t.•nqu,mto n,-mh,11w11h11111111, l Nl1111 tlt• .111P,111ln1 1ni num nt
e lnng,1,•uta 11111 l l tum um.1 lradt\ '•W de IN> dt"i'it''i nH1m1111 rnio sed~ dC' ,rg , d
1,;a.,, ., rol,,, etc: 14uc se manu .•111.~eja pcl,din,1h<.l :ule ong111,1lep por un 11m fi
um t1:•n1 ro l.,1hur,d. por t.•:1.«ml(llu l. 1,,.1 tr ,u h \,I O ,lJlld,1 a muntN n \lua 11n tmr
rrk1 o l'lllpre~cr, de d.is,e rnédw p,1ra dnw, rnn• cr\,1mlo v11altd de 1moh I r
lim1ln1t>ntc, .i loc.tlll;iç:m t•xccpcion.1lmrntcpm tlc1,;1:uh1 do \t•rup 1rl0 nt l>um r u
ç ,nrnhu111pnm que o c:e111ruprinç1pal cJu lho 1wrm,mt·cP"c cornCIum hom p n I p r1
CS01lóru1s e :.l dcs de mulm1.1c:1011uh. crnhora 11.w u ""'ª
para ho111sdc,1uatr1OUtlll t 1
l·ntrt 1un1n,nll\ 1<.lü<l1•s culturais por"' so n,111 íl'\ 11,11i1.1mt.l'lllrn nenhum \ \1tahdo1drdpcrtd
J11 1mprcw,.,, du comerdo e- d o~ !>t•n·1~0'-. l.'lll''i, pur ~u.1 \l'7., stl\lt:1111111 u \li ,ltd d
mmh1h.iru1.t) .._..,pl ~lho da chamada d1'<,ldl•nt:i,t ou da vualid,Hh•clo,n•111r,,..pr111~1pi1I I u

e\l,t~n:H ,lll rl'lroces'in ou\ icahdatlt• 1moh1l1arimAh,1ndon.ido, 1wl.1,ehtt•, t lL·~ soír 11111111
th.>w:ilm11aç:lo1mnh11lána ::ium1u,1dat• º" ~1a11dl'" 1nvt1 ,111m•n1m 111111h1h ,111o!I.
,,, ""' trlll
urrnuh,1-l {'lJS lh-!esc r Itôrio s up1t.o, da , déc:.id,1sdt• j lJ ,ol' 1~lill 11,o,, o 111 .11~c1111s1rn11lo tu>
1Plltm l::.swpruc..cs-.oe muito 1nc•no!>::tn'nlu,1do no t l'tllro do 1h11 do l}lll ' '"' dl' u P ulo o
n•nt ru p1i11u p,1lut.•\ao l'aulo nao ocor w. Úl''lc.h ,l dL·< ,ul,1di.' 111•li, rw11h111111:mprront11111..'Jl1<
1moh1ha1101.kpurlt l cl1ga1110,, qu,1lqul!r1.•thltt,o l om1•rt i,11u1111111111dr 1c l p \ tmctll
o 1.€.'r1Uu do lli11 IH>U\C imunt.•ro, So llU'I ultrmu lll\10 31\th, pudc111 \ d I e r
1;mprc,•ml1111c11tos t omn o Hio llratH:o l, n Hio~lct,upuhtnn (11>1 ,1\emd.i ( hrlt• co M nh ,n 111
1o\,et 11.1 ,t\'c111da H1u Bram u e.,qu 11l.l l om,\ll:111<lcgo1 i: l{u~Jt111} qlll' n,1ucm.onu III unil.tr
nn • l' IIIIU d,. Sno Paulo . No Hiu, a I cJer..içnu d,1i. lntlu u, ....uo I t,1llullo ltru d, 1 11 uc
f lílJAN - rnn tru1u sua sede n o n·rllru JH111upnl , ,1de !'l,111Paulo 10111.11 1n a\l 1ml11' uh t
A man1111m ç .10 <la \ alorizaçfto 1111uh1h.u 1.1 do, t·111ron•ílt·ll·su 1npmprla(' u pela thr ,.
r .1,0 t.lu ílin, es~.1 apropriaç;io Sl' m<1nifo~1.1 l11nt.l,1111t •r11aln11•nw 110 <'IIIW tomn total de
l'mpn•god,ts c-.,ma<.la s Jc mai, alra rl•11da. l h ~r.1ndl's 1m·t·,t11t1l'llf111, 111wb1ltdnr,11ào 11
c,111,;1 d,1 relat1v,1 \italidade do ll'lllrn do Rio dt· J,uwiru, ,1,, 1111lonw II Lle,;\,tl•111T1ç o
imohilJ,1ríano< entro eleSão Paulo 11J11e causd d,1f ,llt.itil' i.nalid,1do d11u·,11111de s.111P.111111
">,10 111,milC'stações.
'iq~unc.loc,-.a r.ipida pe qui sa. o r<mtro Lll'São Paulo c,up<'r.tu du 1, .1
'o ,1p~na
tt ,,1ro r hoteb . s "rnr1nc ,
11
.\:-.que\tõt! que têm dl' ser n>spondu.J:tc, são cc;1,1s : por tJllc o centro d ]>· ª'·
.. , d e .11nohilt,1ri l r11J · . o ,10 ma nten, h. •
<·rnrn~gp, ºª"' l)tlrgtll'',1,lc;. l" por 1!-'-0
. . , lua
m,us \'lia 1
. . . _ •• ts c;en; " 1ats
t'dttl ,..t:Hma,, <.ultum,._) e ma1, wm<.'r<. 10 quC' o de San P,mln? Por que, por l Ços (religioso
o lrnbitn de-u,ar u centro rl':,i\tiu no íl10 mais que!l'lll S,io l\ntlo '! 1 ane de4>sa.,
Lla,;-;r.
~,
A unka l'>--11hutçãn pol,sivclpara o lato dC'pane s signilkaliv,1, das elites . s.
• . - c-anucíls-1• d
n tl'nlro do H10 <'um,1 so: a força da tratl1çao e das monumentalid:ules I d '' lll a ttsarl!
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tr:tl. .\~sim, :11u.1lm~"n lt'. l'In _copal'nha~1,~,no ~lcu·r. t•m ~t.idtirt ' ll,t , n., 1,ju, ., ,,111
outro~ hnirros.proltfl.'1,llll IOJ.tS COll\CfCIJIS, l'OI\Stilltl1 in,;, h ,ll\t th , l IIH'lll,1, l'\\. 11l.h ,
rr,t,rnrontcs.barl's. pnrn ,llt'ncll•1 i\ populnçno n•:·ddt•ntl' no lnr ,1I.011n,1, ,,i."pii,:xt-
mtd,1d l'S (...) F,sl's h.111ros. dispondn do s :,;l'I vi,·os .1s:.in, 1l.1dm,. ll'fllt',t'lll,tm 11111I'·'
JWIcomplc-ml'ntar. dl ' l'l' nt ro dt• n t ividndl'S. St'I Hlo , pnt 1,rntn, dl•no 111111 ,1tf ,h
<.Uhl'l'nlro,". Na \ l'nladl'. romo \'l'temos. 11.1 P1,1~· 1 S, ll' l1" l't'l\,1 j.t 't' h,I\ 1,1 1,11m. tl,l
1,msubcrntro na d ec, 1d,1 de 1~l:lO.
o suhcl'lllro ron~1ste, port.11110. nunt.11 t•phn1 t'lll t,Hn,lllhu m,·1111t do 1~1•111,n
pnnnpal.l'Olll o qu,ll conro 1n• l'lll parll' c'lll, t'Ulll'l,111111 , ., t•lt•,e• 1t,:t1,1l,11 ,\tt·n,f<- u,~
llll'~rno!)rt'tJtlÍSllOs dl' OI illll ,' ,l(.10 dt•,1l'l'SS0 ,lpll' M'llt.tdo, ,llllt'l lell lllt'llt1~ p.lr ,1ti \'l'tl
iro p1incip,1I.1\ d1ten•11ça<\ qut> o ~ub <." t't\lro ,lfllt'l.,t'ltt,1 1.11-.1t·qtthllih .1p1•11,1, p.11,1
11m,1 porte da rid,Hk, t' o n·ntro princip,tl n11np1l• -u .; p.u,1 tlld,1,111d,1tlt·
,\ q1ws t,\o d,1 divt•rsidndc• t· dos,lgl'lll t•qt1ilrh1,1d.idl • tnlllt 'tC111 t • ,c'I\I\<'' t'
intportallll', po1:-.h,'l c·('lll ros t·~1wri~11i1.1dos(,1 1111 tl .i <'omnlui_,lll . ,•111\, l <l l '.uilu , ,
dus l' lll lust ll",; a S.1111,1 Fllgl'llin, t'lll n i. 1lt'I 1,11
cspcl'iali?.u t'l,•11,, , 1 t' t'lc•t10111,
·n ,l ,1\ ,.
111c1a Duqut· dl' Cn ,ia s, t•m nutopl'(n~. 1•1r .). ·1.,1:-.1·,•1111ni-,l' ,,1l1dn d, •, 1,n ,11,
nwnlt.' nll'tHlt·m a lodo a tí11•nlll<' I 1opc1ll11111a , 011 ,1111,1hHp.111,· dd .1, , ,111111
lrcqilt•ntt•
0 faz o centro prlndpnl. Pon ' m, prl 'ri:w nwntt ' por i-11,11•,11e•t 1,1ll1. 1\ ,111.'·"' 111111
',1 d 1h

_, t) '
lOm menor lreqü êndn ou por um menor numero de u s u ári os - e mb o ra espalha-
do -; por toda a região metropolitana -, enquanto o centr o prin c ipal exerce uma
atraçã o, ou polari zação, mai s con!)tantc sobre um núm e ro maior d e pe ssoa ~.

A evolução do s subcentros
A inve s tigação da his tória do s ·ubccntros é impo1 tante parn que seja possível
interpret á- los " entender ·eu papel no es paço metropolitan o.
O primeiro ,:;ubccntro a surgir no Bra s il foi o Brá s, em São Paulo , na dé cada de
19 1O; lo go cm ·cgt1ida, s urgiu o subccntro da Tijuca, na Praça Sae ns Pena. no Rio.
Na dé ca da de 1930, Copacabana era um bairro qua s e exc lus ivamente residen cial.
De um guia csµccialmcntc concebido para turi s ta s es trangeiro s fornm coligido s os
dado s no Quadro 41 sob re a localização de aJguns es tabelecimentos comerciai s no
Rio de Jane iro em 1940. 1
Es e quadro mostra que, na década de 1930, não havia sequer um embrião de
núcle o comercial voltado para o atendimento da s nece ssidade s de compra s e servi-
ços excepcionais dos moradores de Copacabana, pois aJj não havia nenhuma loja
digna de nota . Os únicos estabe lecime nto s de uso mais excepciona l eram os cine-
ma s. Os estabelecimentos registrados em maior número - hotéis e resraurante s -
de stinavam- sc em grande parte a pessoas que n ão moravam n a cidade. É importan-
te ter em mente que a fonte utili zada - um guia turístico para estrangeiros - não
menciona, evidenlemen te, os estabelecimentos que ex isti am, porventura, em bair-
ro s populare s. Na últ im a coluna, sob a rubrica de "Outros locais", não se de ve espe-
rar encontrar es tabelecimentos co m ercia is localizados no Méier ou em Madureira,
sequer na Tijuca. É vá lido acreditar qu e nesse guia tenham sido incluídos apenas
estabelecimentos que atendiam à elite carioca e que, assim, pudessem também aten-
der aos turistas estrange iros. No en tanto. havia naqueles bairros, na década de 19-10 ,
núcleo s comerciais razoavelmente de se nvolvido s, en quanto Copacabana atendia
apenas aos turi stas.
A análise histórica apresenta da a segu ir não se baseia, evidentemente, em
estatísticas, já que elas inexistem. Entretanto, as d escrições que obtivemos foram
suficientes para reconstituir de maneira aceitável a hi stória do s subcentros de algu·
mas de nossas metrópoles.

Rio de Janeiro
Co nstituiu o objetivo principal identificar a época em que os centros de bair-
ro atingiram a calegoria de s ub centro, ou seja, quando começaram a apresentares-
tabelecimentos de comércio e serviços, en tão só ocorrentes no centro principal, em
quantidade, porte e var iedade sign ificativo s. Tem-se então a necess idade de identi-
ficar o que se ri a ente ndido por "signi ficativo" nas d écadas de 1920 ou 1930. O con-
ceito de subce ntro é empírico, mas t em ha vido certo conse nso qu anto a alguns es-
tabelecimentos , co mo loja s de departamento , filiais de lojas do centro, profissionais
liberais, cinemas e rest aurante s. Tais esta bel eci mentos , ent retanto, devem ser histo-

294
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295
ricament e s ituado s. J\nt cs de 1930, a qua se-to talidad e elas loja s de dcpanamcnto
limita va-se a vende r apenas peças de vestuário e a rtigo s têxteis. Rrirns eram ns lojas
co m o o Mappin, por exemp lo, que já na déc ada de 1920 possuía, além desses nrti-
gos, uma seção de ut e nsílios domést icos que anu nciava ''caçaro las, balança s e gela-
deiras a gelo e elé trica s". Sob re o ass un to, veja-se co mo se mnnifestavn o já mencio -
nado guia do Rio de Janeiro : ''Rio de Jan eiro d oes not po ~scss th e largc department
s Lorcs usually found in th e lar ger capita is, but th c rc are many cspec ially stores
provided wit h update fore ign nove ltie s" (sic; p. 205). Portanto , se ria descabido espe-
rar, na s décadas de 1920 ou 1930, a pre sença de lojas d e departamento como requi-
sito para a class ificação de uma aglomeração co m ercial como sub ce ntro .
Levando em conta essas circun stâ ncia s histór icas, é válido co ncluir qu e a Praça
Sae n s Pcüa ati ngiu a catego ria de subce ntro na d écada de 1930, a nt es do Méier, de
Madureira e Copacabana, bairro s qu e alingirnm essa co nd ição some nt e na década
de 1940. Só no início de ssa década surgiram no Meyer lojas que, para os padrões da
época, poderiam se r co nsiderada s rep rese ntati vas de um subcentro - é o caso de
um a filial da s Lojas Americanas. A Vieira d e Castro Comércio e Indú stri a S.A., exis-
tente no Méicr na década de 1970, abriu em 1932 uma perfum a ria, mas somente
por vo lta de 1940 o es tabelecimento pa sso u a incluir vá ria s seções como a de calça-
dos, ca misaria, chapela ria e perfum aria. 2
Nessa época , o Méie r já corntava co m vár ias lojas de ca lça do s e tecidos - lo-
ja s não co mun s nos bairros. Segundo p esqui sa reali zada e m 1976 (Villaça, 1978),
algu ns comerc iant es antigos do Méier eram de opinião de qu e esse ba irro já teria
sid o superado por Madur e ira na dé ca da de 1940. Mesmo que isso não seja exata-
m ente verdade iro, é válido admitir que ambos os núcleo s naquela épo ca era m se-
melhantes em porte e rea lmente tinham atingido a categoria de subcentro . De acor-
d o com Soa res (1968, 371), "o Mé ieré chamado ainda a ca pital dos subúr bio s, pois é,
sem dúvida , depoi s d e Copacabana, o maior subc e ntro da cidade". Botelho e Cardo-
so (1965-1966, 31-48) declaram que por vo lta de 1960 a lid e ran ça do Méier começou
a se r a balada. Têm -se no Quadro 42 os números m édios de pe ssoas presentes nas
tr ês admini st rações regiona is no s di as út eis, por atividade , seg und o os Estudos Ca-
riocas (es tado da Guanabara, 1965 ).
A Tijuca-Praça Saen s Pen a-, entretanto, j á era um su bce ntro ant es de 1940.
Talvez a primeira filial aberta por uma loja do centro do Río no centro de um bairro
ten h a sido a trad iciona l Casa Granado, p erf um a ria in stalada à rua Direita (Primeiro
d e Mar ço) , em 1870. Tal filia l, inaugurada e m 19 28 , s ituav a-se na rua Conde do
Bonfim, no m esmo loca l onde a inda se encontrava en1 199 4. 3 Nessa época, as perfu-
mari as era m loja s imp ortant es e essa filial era um indício signifi cat ivo da import ân-
cia d o ce ntro d aT iju ca. Na década de 1930 existia tamb ém n a Praça Saens Pena uma
filial d a co n ce ituad a loja Formo sinh o, que vend ia artigos de vestuá rio e qu e contava
com doi s esta bel ec in1enro s no ce ntro principal. Havia a ind a naTijuca um a loja Drago,
qu e ve ndia móv e is; o Jarro de Crista l, que ven d ia lou ças e cr ist ais; a Co nfe itari a Tijuca ;
a Ferreira, que vend ia ferragens, a lé m de várias lojas d e ca lçado s e tecidos. Na dé ca-
da em foco, o bairro contava co m n ada meno s que quatro cinem as: o Olinda , o

296
Quadro42 - Cidade do Rio de Janeiro - pessoas presente~ segundo admini~lra-
çõcsregionais por tipo de atividade (1965)

Atividade Copacabana Mé1er Madureira

Um trabalho.estudo,
compras
e diversões 220 928 135 683 154 599

2 Emoutras atividades 271 485 307 105 354 984

3.Total(incluisem
declaração) 493 634 443 850 511922

fonte:Es1udosCariocas, 1965.

Tijuquinha.
o América e o Ca rio ca. Recorde-se que em 1940, segundo o guia citado,
Copacabanatinha apenas três cin ernas. 4 Nessa mesma década - a dos anos 40 -,
aTijucarinha até uma loja que vendia automóvei s, a Importadora Tijuca. '>
Dessas informações podemos tirar pelo menos uma conclusão segura: a Pra-
çaSaens Pena foi o primeiro subcent ro a surgir no Rio de Janeiro , precedendo
Copacabana,e o único caso no país em que um subcentro voltado para as camadas
dealta renda surgiu antes que os subce ntro s populares.

SãoPaulo
O Brás podia se r considerado um subcentro já na década de 1920. Nos anos
40,as lojas, cinemas e restaurantes desse bairro se inclu ía m dentre os m aiores da
cidade.Nos anos 50, as lojas do Brás abriram filiais no centro de São Paulo.
Principal bairro de italianos que surgiu em São Paulo no final do século XIX,
formou-seno Brás um grupo estrangeiro que, inicialmente, viveu bastante isolado,
segregadodo restante da cidade. Sua população não tinha acesso econômico e so-
cialao centro, e essas condições contribuíram para que o Brás-e os demais bairros
popularesque em torno dele se formaram, como a Moóca, o Belenzinho e outros-
desenvolvesseintensa vida própria.
O isolamento de grupos étnicos é freqüentemente uma forma de autodefesa
numasociedade estranha, nova e até hostil. Em São Paulo houve alguns conflitos
entreitalianos e brasileiros no final do século passado. Segundo Morse ( 1970, 240),
em 1897,na capital, os italianos superava m os brasileiro s na proporção de dois para
um,e a assimilação de imigrantes italianos e m São Paulo foi relativamente pacífica.
''Houveuma perturbação de menos importância, por exemplo, quando, nos primei-
rosanos da imigração italiana , um empr esár io italian o destituído de esp íri to gentil-
mentededicou uma representação teatral 'à colônia brasileira'. Mais sér ia foi a ques-
tãodos Protocolos.(. ..) Quatro anos de recriminaçõe s culminaram em 1896quando

297
o cô nsul da Itália em São Paulo, em atitude de ópera bufo, marchou pelas ruas da
cidndc à frente de 200 co mpatriota s aos gritos de 'Viva a Itália' e 'Morra o BrasiJ', o
que teve como resultado tiroteios e incidentes (pág ina 333)." Em nota de rodapé à
página 265, esse autor fala de "diversos conflitos envo lvendo italiano s e negros" e,
à página 273, cita o seguinte diálogo de uma obra de Oswald de Andrade (A revolu-
ção melancólica, Marco Zero), que mo stra como o Brás era um mundo hostilizado
à parte:
- E o Carnaval? O Senhor gosta. seu Xavier?

- Gostei. .. do antigo.

Depois de um silên cio disse:

- O pessoal do 13rnztomou conta e estragou tudo.


Outro silê ncio
-As famílias não podem se divertir. Não há respeito.

O mundo para Xavier dividia-se perfeitamente em duas metade s. As familias e


o p essoa l do I3raz.

Paulo Sérgio Pinheiro (1977, tomo III, v. 2, p. 139) cita o censo da cidade de
São Paulo de 1893, segundo o qual "os estrangeiros contavam 71 468 numa popula-
ção de 130 468 habitantes".
A segregação inicial e a impossibilidade de se servirem do centro principal fize-
ram com que se criasse, no própr io bairro, uma grande demanda para comércio e
serviços. Até o início dos anos 40, toda a zona Leste já era polarizada pelo comércio do
Brás ; essa região constituía quase uma cidade à parte dentro de São Paulo. O grande
desenvolvimento do centro do Brás é uma clara manifestação de seu isolamento ini-
cial, que o levou a reforçar-se e ao mesmo tempo beneficiar-se dele.
Em 1908, o Brás inaugurou seu próprio teatro de ópera, o Colombo, onde se
apre se ntavam companhias e cantores italianos, paralelamente às temporadas dos
teatros do centro, o São José e depois o Municipal, inaugurado em 1911. Embora
sem se comparar em termos artísticos às temporadas dos grandes teatros da bur-
guesia, as temporadas do Colombo não deixavam a desejar. Pe la imprensa da época,
pode- se verificar, por exem plo, que a temporada de janeiro de 1913 contou com
"cenários e guarda-roupas da acreditada CasaAligia n i de Bueno s Aires" e ainda com
os serviços do cabeleireiro Marloni, também daquela cidade. A temporada estava a
cargo da Grande Comp anhia Lyrica Italiana, e o repertório incluía Cnrmen, li
Barb euro di SevigLia,I Pagliacci, Aida, La Traviata, fl Guarany, Ern.ani, La Giocondn
e Tosca,numa única temporada. Fanfulla, o grande jornal italiano de São Paulo, pu-
blicou em 1928 noticiário e propaganda da Grande Compagnia Italiana di Operette
de Clara Weiss que, depois de uma temporada no Cassino Antártica, no centro, exi-
biu-se no Olympia, à avenida Rangel Pestana n. 1533. Conforme o jornal de janeiro
de 1928: "La Casa delle Tre Ragazze richiamó ier i sera tanto publico da ríempir e il

298
vastoteatrodei Brás".AI 111do Colombo, o já m •ncionnun Olvmpia l' o Mt1l,ildo1,tprl'·
sentavam programações seme lhantes às do cc111ro.
O Brás tinha seu próprio carnaval e seu cor:.,o tornou se f.11tHl'-º · plt'c ,•dC'11
do o das elites, que- mais tarde passou a ser feito lla avenida Pm1li\líl. No, .1110 ~ 20,
o Colombo tornou- se cinc-tcatro e jü não aprcsc·ntnvn 111n1s npl·1.a~;apt·nas dr.1
mase teatro de revista, além, cvidcnlcmcn tc, ele cintma . A rrop,1ga1Hla tio, l'st><·
táculosdo Colombo - como também cio Mnía lda I cio Olympia aparc·ci,1 no..,
jornais de São Paulo ao Indo tia do s cinemns e tr.aLro..,cio ct.•ntrn pr111rip, tl,
freqüentemente ocupando mais espaço q ue os anúncio s dns rnsns dr d1v,•rsnn d,t
burguesin,como o Teatro Santana (na rua 24 d e Maio) e o Cr1~si110 Anttirli, a. No
finaldos anos 20, cinco ci nemas do Brás anunc iavnm no s jomnis d<·Snn l'milo,
alémdo Colombo. Na década seg uin te, esse número mais que clobrari.i com a aber -
tura dos gigantescos cinemas Brás Politearna, Obc rdnn, Hoxi, Univcr"o, B.1bílf)11i.i
entre outros. Na década de 1920, abriram- se vária:> lojas que viriam n ser grandes
na década seguinte e enormes - as maiores de São Paulo - nos nnos 40 <' 50: n"i
lojasde Móveis Pascoal Bianco, as lojas de Móvei s Grnsil, aTcpcrm:rn e aquela q11c
foi,provavelmente, a maior loja do país, as lojas Pirnni -A Gigante c.JoBrác;.Esta.
já nos anos 20, era uma loja de departamentos para os padrõ es e.laépoc.1, pois
rendia móveis, tapetes, louças e cristais. Ainda consultando a imprensa, vNiílca-
mosque, nessa dé cad a, várias lojas do centro tinham filiais no Bnís. A-;tradicio-
nais lojas Clark, de calçados, tinham três filiais no Brás, a Líltima inaugurndn cm
1928.A Casa Lisboa era também uma loja de departamentos para os padr õc,;;da
década de 1920, visto que anunciava seções de fazendas, modas, mercearia,
camisaria,lingerie, artigos para cria nças e perfumaria; a matri z era no centro e a
filial,à avenida Rangel Pestana n . 358. A Casa Almeida frmãos, com matriz no lnr-
goda Liberdade, tinha uma filia l no Brás (na ave nida Range l Pestana n.201) já cm
19l7.Nos anos 20 havia no Brás várias lojas de automóve is.
Nessa década, além de várias lojas, o Brás tinha inúmeros restaurantes e
cantinase também suas próprias diversões - o jogo de "frontão'' ou ''pelota basca'',
posteriormente proibidos. Na década de 1930 o bairro passo u n ter lojas rnrns como
as de armas e artigos de caça e pesca; duas lojas vendiam discos e gramofones,
instrumenLos e partituras musicais. Nessa época já era grande o número de profis-
sionaisliberais no bairro, a ponlo de, em 1941, ser construído o ediíí<.:ioTcpcnnan,
comseis pavimentos exclusivamente para cscr i tórios, principalmen te consultóri-
os médicos. Nos anos 40, várias lojas do Brás começaram a abrir filiais no pr6prio
bairroe, na década segui nte, no centro princ ipal da cidade. Dentre elns, a Pirani, a
Tcpermane as lojas Ricó, de móveis para escritório. Mais tarde, a Elcrroradiobrás
-fundada no bairro em 1948 como loja de rádios - nbriu filiais por toda a cidade
e tornou-se uma elas m aiores cade ias de lojas e supe rmercados do país . Na década
de 1940,até mesmo trad icionais lojas de outras cidades aL>rirnmfilial no Brás. As
lojasHcnner, ele Porto Aleg re, tinh am duas filiais em São Pnulo: uma no centro e
outrano Brás. Cons iderando ape nas as lojas e serv iços que tinham telefo ne e que
apareciamna pr ime ira Lista Telefô ni ca de pág in as am«relas. pub licada cm 1947,

299
c1nm O!>M'guin tc5 O'>es1abcl cc im c 11toc, cx i <;tl:'nle s no 13rá-, 11a prim eira metade
clo1.o
anos -10:

• Calçado..,
( inclusive cin co filiais d e loja s do centro ) 32
• Vcstutírio lcrn inino, chap óus e bol sns 5
• Vestu ário ma-..culino 20
• M óve is, cortina s e tapete s SJ
• Lojas de departamento 2
• J loléii:; 3
• Jóias e relógios 12
• Cons ult ór ios médicos 55
• Cinemas 8

A absolu ta maioria dos médico s tinh a consu ltório se parado da residên cia,
como revelam os endereço s, com número do pavimento e da sala. Somente o já
mencionado eclifícioTcper man , na avenida Rangel Pestana n. 2251, po ssuía dezessete
consu ltórios médico s, ou seja, quase três por andar. Dentre eles havia o de um mé-
dico que mencionava o ende reço de sua residência à rua Itápolis, no aristocrático
Pacaembu, e anu nci ava qu e operava no Hospital Oswaldo Cruz e na Pró-Matre ,
ambos na região da ave nida Paulista. Vários m édicos tinha m dois consultórios, um
no Brás e outro no centro principal, atendendo três dias por sema na em um e três
em outro.
O Brás aparece, assim, como o primeiro sub centro do paí s. Pelo recensea-
mento estadual de l 934, o então município de São Paulo - excluindo o então mu-
nicípio de Santo Amaro - tinha um a população de l 033 202 habitantes e a zona de
influência do Brás (subdistrilos d e Belenzinho, Moóca, Pari, Penha, Tatuapé, ViJa
Matilde, ftaquera e Lageado, atual Guaianazes) tinha 350 515 habitantes, ou seja,
um terço da população da capital.
As eno rmes dimensõe s do centro do Brás e o fato de nele haver muitas filiais
de loja s do centro e consu ltórios de médicos que tinham tambén1 consultório no
centro mostram não só uma grande divisão da cidade, mas também a enorme classe
média que havia na zona de influ ência do Bras, isto é, a zona Leste. Foi a localização
de ss a enorme classe média que a segregação subseqüente revolucionou, com pro-
fundas impli cações na cidade e na zo na Leste, como já vimos no capítulo 5 e conti-
nuaremo s a ver adiante.
o~d e mai s sub ce ntro s de São Paul o, inclusive alguns poucos cen tros princi-
pai s de município s da região metropolitana, como Santo Andr é e São Caetano , to-
dos populares, co meçaram a se d ese nvolver na década de 1940, quando passaram a
abrigar general izadamente filiais de bancos e lojas do centro.

Porto Alegre e Belo Horizonte


A Área Metropolitana de Porto Aleg re tinha, na década de 1970, a terceira maior
rede de subce ntro s do país. Seu desenvo lvimento da t a dos anos 30 e chega a ser

300
surpreendente quando comparado com o de outra s metrópoles, c&pccia lm cnle BclrJ
Horizonte,a ouua grande metropole do sul do pais.
No inicio da décadn de 1930, Porto Alegre já contava com três subccnlro~.
conformemostra o Quadro 43, que inchd somente cstabe lec 11nentos que, pelo s pa-
drõesdessa uécadn. eram típicos de um centro prin cipal.

Quadro.43 - Cidade de Porto Alegre: número de estabelecimentos selecionado s


nosprincipais subccntros {1932)

Estabelecimentos Navegantes Azenha Floresta

Cinemas 2 1 2
Chapelarias, teodos, confecções 13 8 11
Calçados 7 2 1
Joalheriase reloJoanas 3* o 1
Restaurantes e confeitarias 5 7 8
Móveis, fogões ou pianos 2 2 1
Perfumanas 1 o o
Bancos 2 o o
Floricultura 1 1 2
Dentistas 8 4 9
Médicos 1 o o
Livrariase papelarias 2 o o
Louçase cristais 1 o 1

(') Inclusiveumo filial eleloja do ccm ro, a e.isa Masson.


Fonte:Guia Público de Po1to Alegre, l l11goMu!Jcr (org.), Porto Alegre, 1932. 1'

Alémdos subcentro s do mun icípio da cap ital, a Área Metropolitana de Porto


Alegreapresenta vários subcentros de porte que são os centros principais de alguns
deseus municípios. Pesquisa realizada em 1976 (Villaça, 1978, 328), contando e pon-
derandodistintos estabelecimentos de comércio e serviços, conferiu à Azenha, com
115pontos, o primeiro lugar e dentre os vários subcentros da Área Metropolitana
de PortoAlegre e ao centro da cidade de Guaíba, com 48 ponto s, o décimo primei-
ro lugar.Na Região Metropolitana de Belo Horizont e, essa mesma pesquisa não re-
gistrounenhum subce ntro com 48 pontos. O maior deles, o Barreiro, teve apenas 44
pomos.O Quadro 44 mostra as pontuações dos centros principais e dos principais
subcentrosdas áreas metropolitanas de Porto Alegre e Belo l lorizonte naqu ele ano.*

'A pesquisaconwu todos os cinemas, bancos e lojas - classificadas cm lojas de departamento, lojas
médiase grandes- , ponderando esses estabclccirncntos de um {lojas módias) o três pontos tlojas de
depanamento e cinemas).

301
,\ his tc)fia d o , subcc nLros da rcgiâ<.> m e tro p o lit a n a d e Pu no Aleg re ind ica q ue
p •lo nwn os u m dele s - N.,vegn nt cs - :,,e j ü n ão ·rn u m "iu bce n tro n a d écada de
1~B0 , n ' 1ta m en te j~\ o era n n d éca da d e 40 .
dé cnda de 1870 m a ,c:ou o rip ogeu tclnt ivo d os sub cc n l roc; qu e, com suas
lL1j ns de dc p a n am c n to ~ e em es p ec ia l com sc 11s e n o rm es cinc m ns, po lariza vam for -
te m e nt e gr:111efrs ?.on as de inílu (·n c in. Em term o s ab so lut o s, c·lc s co n tinuam cres-
cend o e' mui tos 110\'0 S s u b cc n1ros t r m sur gido . Mai s rccc n tcrn e n tc , s h o p p ing ccntc rs
co m p e rfil n iti d nm cn tc popul a r vê m se nd o in s ta la d os cm cenlro s p opula res, in clu-
Sl\ 'C' c m pl en o ce nt ro p rincip nl, co m o c m Salvado r. No Rio (Mad u re ira) ou em São
Paul o (Pe n ha) . eles rcfo r(a m sub ccn tro s t ra di cio n ai s . Os shop pin gs popu lares ain-
dn repr ese nta m um a pa rce la p eq uen a n o comérc io va rej is ta da s ca m ada s popu la-
res: entreta nt o, e in egáve l q u e, ca d a vez m nis, e mbo ra le n tamente , o s s ubcentro s
tradi cio n aL deve rão o u co n co rre r co m ess es s hoppin gs, o u in corporá -los. Apes ar
de p o u co divl' l" iíicn<lo s , aind a, p o is o s serv iço s n e les e stã o su b -repre sentado s (pro -
n ss10 1rnis liberai ~. se rviço s públi co s, e n s ino, s a(1dc, e tc .) , e o s sh o pp ing ce n ter s lo-
cali zados fora d os sub rc ntr o s p o pular es es tão cada vez m a is co n c.;orre ndo com o
co mercio trn di cio nal.

Qua dro 44 - Po rt o Aleg re e Belo Hori zont e


Po ntuaçõe s d os ce ntro s prin cip a is e su b ce ntro s ( 1975)

Porto Alegre Belo Honzo nte

1 Centro Pnnc 1pal 728 1 Ce ntr o Prin cipa l 570


2 Azenha 1 15 2 . Bar reiro 44
3 ASS IS Brasil (P. d a Areia) 11 2 3. Flo resta 42
4 Novo Ham burgo 88 4 . Lag oi nh a 28
5. Canoas 87 5 . Sava ss1 25
6 São Leopoldo 82
7 Navegantes 57
8 Este io 51
9. Assi s Brasil (S João) 51
10 Partenon 49

fo nl c Villaça. 1978.

O sh oppi ng cen ter


O pr im eir o sho pp ing ce nt e r bra sile iro - o lgu a te mi -s ur giu pion eiram ente
em São Pa ul o e m 1966. O se gund o - o Contin ent a l, na d ivisa e nt re São Pa ulo e
Osasco - foi um frac ass o, vis to ter s id o um a te m e rid a d e, naqu e la é poca (in ício da
d éca d a d e 1970) loca lizar um sh o ppin g n um subúrbio d e cl a sse m édi a e m éd ia bai-
xa. A partir d e m e ado s d a d éca d a d e 1970, os shopping s co m eça ram a se vu lgarizar
e m toda s as m e tr ópo les bra sile iras. Embora predom in a ndo na reg ião d e alt a con-

3 02
n•11 11aç:ln d11:- r:\ln,1dn-. dt· nlt ~1 l<'IHl.i , t 0 111< ·~·n1an1, 110 lin ,il do , ,1110•, HO. ,1 ·,,·r
ronstn11do!, tamlwm l' lll l l'glO cs po pula11•s .
O shopping l'l'lllt•t l' o M1t · t· ....so1 d.i loja dt· d(•J>tt1l,1111t•nlo 1.i,q111· po, !.ill , 1 v1·1.1· ,1
llurrssornda loj.1geral , dt· 1rn·aclD s do :wculo XIX. rt·m c•111<011111111o f.ilt1 clt· 11:1 •,<•,11
~e1111 economia d<'.1glo11wr:1~·ao <'n a varit •dad(' d e•p1od111 0, qw · r.,c•, 0111pl1 ·11ir111,1111
(l'lll oposi(, in :\ t·s1wri, 11lz,1~·.w) . l.;;so, al ias, todo s ,,.....,,.., llfHJ ', dt· 1·sl ,dwl1·<irrn·111n•,
llim<'íllcomum c:0111as c11t·a ~ rornc1cínis divcrsili c.id a, 1r:1tliclo11n l" w, \llh< 1·111t<>',.
Cnlwnqt1i t1rrnlisa 1 o s ignificado dr ssíl co 111pl c:11H•11t :1ridnclt•, u11H1 vc•1.q1u• t'l:1
cst:\ muito ligml :1 ,10 poder t•st, ut11rnclo1 de• 11111 n·nt ro t<'l'c i:í1io, ..,,,jr1,,1,, r.,hopp111J{
ct'ntcr,sl'jn sul>Cl' lllro I raclirionnl. O poder polnrizndor po1ta1rto r , t r ur11rndnr
drum centro terciá rio (dl' ro nH'rcio (' se rviços) é f1111~·ao d(•ssuro mpl<·11H ·11tariclndt•,
ouseja,da vnrkclncfr cqui lihrnd:i q ue nr,rcscntu d e co111 é 1cio t· s1·1viçot, NCJ., e,•111 rc,1.,
1raclk1onnis (principni s CHI sub cc nt ros). cssn variccl.i <.I C'cqullibiacla ,~alrnn~ml.1 pc>
lns forçasdo merend o. O centro ou o sub cenl ro, ~oba iníl11l' 11 d n dt !.\t1\ Jor<y,t"t,
1
:ic n
banão lendo nem lojns de cnlça dos demai s, nem loja\ ele inform ática de nwn<J\;
nemdentistas demai s, nem escolas ele inglês de menos. I! o c<rnh ·ciclo mix a q11r
:ilmcjarnos shopping ccnt ers. (.)uai o signifkndo dc s!-ia"vari cdnclc c·q11ilib1ada"? ",1g-
nificareduzir no mínimo o núm ero de dcslocnmcnlo s doe;cliPntc s. C)11nntomaior a
variedadede comér cio e servi ços existentes num ce ntro , menor o mírrn:ro de• vin
gensque um consumidor pr ec isa fazer para l er toda s suas nccci,.sid adcs atcn dicfas
Surgeaqui, novamcnlC1,o poder es trutu rador dos deslocamen tos de pessoas. Os gran-
dessubcentros "têm de t uclo", inclu sive no tocante nos servi ço!!, públiccJ"te pri va<.J m,,
e nissose opõem aos centro s es pecia lizados. Nesses, o cliente foz um a línic.:nviagem
paraatender n um a ú nica neces sidade . Por isso, sua zona ele inílu ência abrange ou
todauma árcn mct ropol i lnna, ou grande parte dc ln - uma zona de inílu ência bem
maiorque a de um sub cc ntro Lr;idicional ou um shopping ccntec. Em co ntp cn~nçàc),
a populaçãodessa gran de zona de inlluência vai mais rnrnmcntc a um centro espe-
cializadoe co m mnior freqüência ao ce ntr o clivcr siíi cnclo; clní o lr ágil poder
cstrnturador dos sub cc ntro s especializ ado s. O sub centro clivcr~ificado ntcndt• as
necessidndcsmais freqü ent es, de maior nlÍmcro de pcssoac;,porém de um a lOtw de
iníluênciamenor. Seu maior pod er estruturador decorre do foto de eles apresenta -
remuma variedade eq uilibrada de co m ércio e serviços, ou seja, serem o nposto tio
centro especializado. Então , o mix, que no s centros tradi cion ah é dcímido pelo
mercado,no shoppi ng center é fruto d e várias pc squi 'ias e imposto pelo'! promoto-
res do empreendi mento (capital im ob ili ário e finan ceiro) aos comc rcian l c'i (capi tal
mercantil).
llá , entreta nt o, umn diJerença fundam enta l entre, de um Indo, o shop ping
centere, de outro , a loja de depa rt ame n tos e as loja s dos s11bccntros tradicionais .
Nestesúltimos, o come rcian te é quem toma vár ias deci sões importante s a respeito
de seu cm p rccnd i m en to, a co m eçar pe l a lo ca l ização do estabelecimento; no
shopping, é o pro m otor imobili ári o quem de fi ne não só a locali zação, rnas uma
série c.lenorma s ao comerciante, como hor ár io de funciona mento, aspecto~ de

303
comunicaçüo visual, normas de segura nç a, etc. Ao co ntr olar e impor o mix, tam -
bém h .í um domínio do capital imobiliário sobre o mercanlil. O shopp ing repre-
senta poi s a penetração do capi tal imobiliári o n a es fern do capiLal mercantil e a
sujeição do comércio varejis t a e dos se rviços ao capita l im obiliá ri o e - ntravés
de s te - ao financeiro .
Como vimos, a tendência inexorável do ca p ita lismo em tran sfo rm a r em mer-
cadoria todos os produtos do trabalho encont rn na mcrcantilização do "ponto" uma
barreira sé ria . Trata -se de um a das mais á rdua s batalha s travada s pelo cap ital no
sentido de con s eguir produzir algo que, em última in st ância, n ão lh e é possível pro-
du zir; é impossível transformar os "po nt os" em mercadoria . Já mencionan1os que
não há . em teoria, dois "pontos" iguais; é impossível reproduzir a esquina da aven i-
da São João com a avenida Ipiranga, e mbora e las sejam produto do trabalho. A te n -
tativa do capita l de produzir ''po nto s" sob forma de mercadoria cons iste na produ-
ção de aglomerações imobiliárias - pacotes imobiliários - cada vez maiore s e
complexas , pois só elas produzem os "pontos". Nos Estados Unidos, há muito tempo
a promoção imobili ária procura produzir não simples loteamentos ou conjuntos
residenciais, por maiore s que sejam, mas cidade s no vas inteira s, com infra-e st ru tu-
ra, edificações residenciais e comerciais, e até mesmo industriais. Entre nós, os
Alphavilles, em São Paulo, já es tão se aproximando disso. Na França ou n a Inglater-
ra, as políticas públicas de cons truç ão de cidades novas representam as mais avan-
çadas tentativas do capital imobiliário no se ntido de produzir"pontos" /mercador i-
as por meio da produção de aglomerações in te ira s.
Através do shopping ce nter, o promotor imobiliário produz e põe à venda,
em poucos anos, "ponto s" que o comércio tradicional levaria décadas para produzir
com as ag lom erações tradicionai s de comércio e serv iço s. É claro que o próprio
shopping cen ter depende, para seu sucesso, de um bom "ponto", de uma boa locali-
zação. Nos Estados Unidos, a cresce nte homogen eização d o espaço urbano, propi-
ciada por uma grande classe média, pela difusão do automóvel e pelas vastas rede s
de vias expressas, amplia as opções de localização dos s h oppi ng centers, dificultan-
do a escolha do "ponto". Quanto mais homogêneo o espaço, como nas metrópoles
médias americanas, mais difícil a esco lha do "ponto" para um s h opp in g. Quanto
mai s desiguais o esp aço urbano e a distribuição territorial da renda, como nas me-
trópo les brasileiras, menos difícil a esco lha dos "pontos". O espaço urbano desigual
leva então a uma desigual distribuição dos s hopping s (co m o aliás, do comé rcio e
serviços em geral), que apresentam alta incidência nas Áreas de Gra nd e Concentra -
ção das Camadas de Alta Renda (AGCCAR). A conce n tração dos shopp in gs em tais
áreas é vista nas figuras 44, 45 e 46. Em janeiro de 1997, exis tiam vi nte e seis shopping s
na Área Metropolitana. de São Paulo. Desse total, quinze (57,7%) se locali zavam no
setor Sudoeste (setoresVeVJ; Figura 18), onde, em 1991, residiam 24,89% da popu-
lação (veja Quadro 11), e onze (42,31 %) se loc a liza vam dentro da Área de Grande
Concentração das Camadas de Alta Renda, onde residiam apenas 13,72% da popu-
lação da á rea metropolitana. No Rio , em janeiro de 1997, na Área d e Grande Con -

304
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Pit='\H, .u,- \n•.1 ~ktmp~)\tt ,.1n.-1lk lk lo 110 1i,o nt t•: loc atí 1.ação de shop p ing ccn tcr s

'Cntt.1(10 das ('.n1rnda s de Alta Renda , qu e abri gava ap e n as 9 ,40 % d a p opulação


nll'tr0pt11i1,,na. cs t.n r-am no ve do s d ezesse t e s hopping s da á rea m etro po lita n a, ou
st"l ,l 52.~1\\,d l'le s.. Em Relo 1to rizo nte·, se is do s n ove s hoppin gs es tav a m localizados
n .1qnl'l.1,Hc .1. S(' co n s ideranno s a Área Bruta Locá ve l (ABL), e m Sã o Paulo 65,43% da
~Rl :-t~ \()c,1li1n\'a dentr o da AGCCAR e, no Rio, 49,3 8%. 7
o~$ho ppi ng, co m o o ~s up ermer cado s e o s hip e rm e rcado s, re pr es ent am uma
~nn k força de co n ce nt raçã o e de rentabilid a d e es p a cial. Um s uperm e rcado tem
um , t)lunw de \'c ndns equival ent e a muita s quitanda s, padaria s, aço u gu es e e m pO·
nn~ ( u, nd,,s (h oje prat ica mente ex tinta s), p erfumaria s e peixari as, os q uais ele fez
d('$Jp ..ln.'crr ou redu 1.ir muit o. Evide nt e m e nt e, o núm e ro d esses es tabel eci m ent os
:::"n..1 muito maior d o qu e é se n ão ex is tisse m o s s up e rm e rc ado s, e isso é extensivo
Jt) hq t'rmen:,u .io e ao shoppin g. A nll a rentabilidad e es pacial d esses es tab eleci men-
tos t ' rL'plt"St'nt~1da p o r se u elev ado vo lum e d e ve nda s por uni d ad e d e á rea. Sem con -
sicfrrar o (':-t:1ci<H1:1m cnt o - qu e os ce nt ros tradicionai s qua se n ão ofe rece m -, o
, ohtmc de \'cn<l,l:- d e um hiperm e rc ad o o u shopping centcr por unid ad e de área
ünut,1 loc.1, t~l o u d e te rre n o) é mai o r do qu e o de um agrupament o d e lojas tra d icio-
nais t'Om o me mo \ Olum c brut o tk ve nda s. Ao e liminar (sub s tituindo e co n cen-
tr,rnd<>) d (•1en ,1s de p e rfumnri ns, quit nnd.1s , ve nda s , açougue s, p e ixari as, e tc. e lojas
diversas. o s upe rm erca d o, o hip e rmerc ado e o s hopping ce nt e r tendem a prod uzir
f'S J), lÇO$ ur h nn os co m men o r di vcr s i<lad e de u s o, ou se ja, mai s ''puro s'' no sentid o de

306
queneleshá mcno usoc; co merciai5 espalhados pelo s bairros do que haveria caso
semamh·essco comércio lradicionaL De um lado, á reas mais puramente rcsidt·nctat'>;
de outro.mais puram ente comercia is. O fato de o shoppi ng atrai r comércio p.irn
suasvizinhançae; não deve Jevar a ilusão de que elec;aL11nc>ntamas árca'i comer<...iais.
Uma característica marcante desses estabelecimento s ahamcntc concentrn -
dossãoos problemas de tráfego que podem acarretar . Desde sua difusão clrc; vl·m
preocupando muita s prefeitura s municipais que não dispõem de instrum ento'i le-
gaispara enfrentar o impa cto por eles provocados. Por que o mesmo não ocorre
comoi>subccnrros tradi cionais? O com ércio cspalhndo r difuso provoca, propor ci-
onalmente, tráfego igualmente difuso. Se os subce nt ros tradicionai s hoje provocam
congestiona mento de tráfego, é porque eles se localizam em áreas antigas, com sis-
1em a viário antiquado e porque são enormes. Nessa comp aração entre os centro s
tradicionais e os concen trado s, o volu me de pessoa s atraídas por um subcentro gran-
deou médio(~téicr, Madureira, Pinheiros e Lapa, por exemp lo) é bem maior do que
aqueleatraído por um grande shopping. Na verdade, a "novidade" ou o prob lema
novoque esses estabe lecime nto s trazem não é propriamente o vulto de seus impac-
tos.maso fato de eles ocor rerem qu ase instantaneamente. Um subcentro tradicio-
nallevadécadas para se co nstituir e seu impacro se produz lentamente, sendo ab-
sorvidolemamente pela vizinhança, que aos poucos também se transforma. O
shoppingcenter, ao contrário, é produzido instantaneamente , sem dar tempo à vi-
zinhançade a ele se adaptar. A instantaneidade - mais que a dimen são - dos
empreendimentos imobi liários carac terísticos dessa nova era de alta concentra-
çãode capital imobiliário (produção de pacotes imobiliários) é que está provo-
candouma revolução nas áreas nobre s de nossas cidades e em nosso urbanismo.
Nossascidades grandes - n ão tanto as média s - têm ainda um espaço do passa-
do, leis de zoneamento e ex igências urbanísticas do passado, inad eq uad as a
macroempreendimentos. Daí os ap elos dos urbanista s municipais para a elabora-
çãode leis "mais ílexíveis" e o su rgimento de novos mecanismos urbanísticos,
comoos Estudos de Imp acto Ambiental : Daí, tamb ém , a dificu ldad e de enquadra r
essesmacroempreendimen to s em leis urbaní sti cas genéricas, como as tradicio-
nais,e o advento das aná lises caso a caso por parte dos urbanista s municipai s.
Os shoppings e os hipermercado s - como os novos condomínios fechados
-são manifestação da alta concentração de capita l no setor imobiliário . Outrora, o
centrocomercial tradicional era produzido lentamente por dezenas de comercian-
tes,quasesempre sem uma produção imobiliária proporcional, já que muito s esta-
belecimentosse instalavam em ed ifícios preexistentes que eram adaptados. Hoje, o
shoppinge o hipermercado const ituem um único e enorme empreendimento que,
emdoisanos, cria, num local res trito, um grande foco de empregos e de geração de
viagens. Por mnior que lenha sido o desenvolvimento dos shopping cen ters e
hipcrmercaclos1 eles não tiveram ainda um imp acto significat ivo sobre nossas es-
truturas metropolitanas, cm face da hegemonia dos subcen tros tradi cionais. Os
shoppingsvém aprese ntand o, entretanto, um a parti cipação significativa no prosse -

307
guimc n to do esvaziame n to dos ce n tros principai s de no ssas metrópoles, embora o
declínio desses ce n tros tenha se ini ciado a nt es da vulgarização dos shopping s. Como
os ce ntr os principais tradicionais atraíam clientela de alta renda e os shopp ings tam-
bém, os tíltimos têm contribuído mai s para o prosseguimenLo do esvaziamento dos
centros principai s do que do s subcen tros. Por outro lado, o reforço de subcentros
populares por shoppings (Mad ur e ira, no Rio, ou Penha , cm São Paulo ) ainda é pe-
queno, mas representa uma te nd ência sa lutar de contenção de uma eventual ten-
dência à sub urbani zação e dependência do automóvel. O mesmo pode ser dito com
relação à construção de shopp ings no s ce ntro s principais, como vem ocorrendo em
Salvador.

Notas
1. Guias do Brasil Ltda. Rio de Janeiro and its enuirons, 2nd edition, Rio de Janeiro, 1940.
2. As informações sobre o comércio do Méier n o pas sa do foram obtidas através de entrevistas
feitas, em 1976, com com ercia nt es ant igos, a saber: sen h or Artur F.Brun oci lla, da loja A Cidade
do Meyer, e Vítor Manuel Vieira de Castro, um do s sócios da firma Vieira de Castro Comércio
e Indú stri a S.A., e out ros comerciantes do bairro .
3. Informação prestada em entrevista rea lizada em 11 de setemb ro de 1976 com o sen hor José
Joaqu im da Cunha , ge rent e da filial da Tijuca d a Casa Granado.
4. Segundo o guia citado n a nota l. as lojas Formos inh o do centro loca lizava m -se um a à avenida
Rio Bran co n . 17 1, e outra à ru a do Ouvidor n . 136. As atividade s sob re o co mér cio da Tijuca
foram obtidas em 1976 através de ent revista com o se nh or Eriderson da Rocha Coelho, um
dos sócios da Casa Itamar, loja de tecido s abe rta em 1942 à Praça Sae ns Pena, e outros
com erciantes do bairro.
5. Loca lizava-se no atua l número 426 da ru a Cond e do Bon fim , o nd e, n a década de 1970, estava
a Casa Khalil M. Gebara.
6. Foram co nsiderado s, na p esqu isa realizada em J976, os estabe lecimentos localizado s na então
ave nid a Eduardo (hoj e Pres iden te Rooseve lt) e na rua (hoje ave nid a) São Pedro e ainda da
aven ida Bras il. Azenha incluiu os esta bel ecimentos loca lizados n a rua da Azenha, até
aprox im ada m ente o n ú m ero 1600, e n a aven ida João Pessoa, apro ximadamente, entre a rua
Venâncio Aires e a aveni d a Ipiranga. A Floresta incluiu apenas a rua Cristóvão Colombo,
entre as ruas Pelotas e Almirant e Barroso. Todos os três são hoj e suhcentros popular es.
7. Foram computados todos os shopp ings com cinema, segundo anúncio da Folha deS. Paulo,
O Estado deS. Paulo, o Jornal do Brasil em janeiro de 1997 e O Estado de Mi nas em dezembro
d e 1996 .
Quanto à ABL, os d ado s são os segu int es:

308
<_lu:tJroA-ShopptnK c.~111t•1, - d1'itribrn ç.10 por AHI ( 1«1
f17)

SÃO PAULO PJODE JA/tORO

Den
tro da AGCCAR ABL em m2 DP.ntroda AGCCAR ABl em m'

'ltnial
(O" ' 28 612 Oarrashoppng 74 600
O& OShopping 11 8511 Ca~~hormmg 18 501
Mü<umb, 46 082 Reue 1O l6 2
Butantã 7 055 R,o Design Cen•e, S 180
19uatem1 33 S2Q R,o Off Prire 7106
Sul 8 769 [{10 ;,JI •18107
D 16 060 5:Sor nnr ,1cJof ashtor1 12 SOO
Eldorado 6 1 015 Via Parqu,. 3 700
10,r
.1puera 5 1 773
!nterl
agos 58 963
Jardim Sul 17 516
01t PriceRaposo 15 002
Tarriboré 29 000
Matarazzo 22 180
Pa.. ,sta 22 089
\\~t Plaza 39 870

169lôppings 469 389 8 shopp1ngs 222 756


65,43% ,19.38%

FORADA AGCCAR íORA DA AGCCAR

Amencanas {Osasco) 3 155 Outra 1 15 97J


01retáoS Miguel Pauh!.ta 5 000 Iguaçu Top 13 150
LarCenter 35 809 Ilha Plaza 199 80
Mog1shoppmg 20778 Madureira 25 000
Osasco
Plaza 11 861 Norteshopp1ng 65 103
ABC 19 473 Nova América Outlet 21 000
Tatuapé
C~1c 3 473 Plaza N1ter61 30000
Lap
a 9 665 lguatem1 24 699
Norte 64000 Paço do Ouvidor 1 415
Penha 17 495 West 12 000
Ancan
duva 41 000
Metrópole 16 256

12shopprngs 247 965 1O shopprngs 228 321


34,57% 50,62%

Total 717 354 451 077

AGCCAR- J\rca de Grande Concentração das Camadas de Alta ncnda


Associ:içãollrasilcir.i de Shopping Ccntcrs, exceto para o P,1uli~lae o Wc:.1Pla,a,
í-ontes:
cuiasiníonnaçõcsforam cedidas pela Pluza Paulista /\dminis1ruçilo de Shopµing CcntCI"'\!:,/C
Notn:inclui,segundo a ADRASCE,shoppings a serem i11augumdos cm 1997.

309
capítulo12

Segregaçãoe estruturação
doespaço intra-urbano

As análises anLeriores reve laram qu e, de sde meado s do século XIX - mais


cedoem algumas met rópol es, m a is tar d e e m outra s- , as classes acima da média
vêmtendend o a se seg rega r cresce nt emente em uma ún ica região geral da metró-
pole:a zona Sul, no Rio e Belo Hori zo nte, no quadrante sudoeste em São Paulo , no
Nordeste,em Salvador, no Oe ste e d epoi s Sul no Recife, e no Leste em Port o Alegre.
Em seu des locam e nt o espaciaJ, essas cla sses, por meio do mercado imobiliá-
rio, tendem a faze r com qu e o centro principal cresça - cont ínu a ou
descontínuamente - na su a me s ma direção . As m et rópole s analisadas revela ram
urnatendência a de se nvo lver o qu e popularmente se chama de um "cent ro novo",
localizadona região geral d e concentração da s camada s de mais alta rend a. O cen-
tro tradicional, aba ndon ado p ela s burgue sias, vem se ndo tomado pelas camadas
populares.
Torna-se cada vez mai s acent uad a a divisão de no ss as metrópol es em duas
cidadesdivorciada s uma da outra - a do s mai s ricos e a do s ma is pobres e excluí-
dos.Essas duas cidades estão produ zindo, inclu sive, dois centros distintos: o que
chamamde "centro velho", que é o cen tro tradici onal. outrora dos mai s ricos, mas
hojetomado pelas ca mada s populare s; e o "ce ntro novo ", dos m ais rico s.
Há evidência suficiente para acreditarmo s que em toda s as metrópol es anali-
sadasé crescent e a te nd ência à seg regação da s camada s de mais alta renda. Infeliz-
mente,os dados de re nda do s censos d e 1980 e 1991 não são compa ráveis. Além
disso,a transformação qu e estamos analisa nd o- a segregação- é por demais len-
taparaser captada por um p e ríodo de apenas d ez anos. Trata-se de tend ênc ia histó-
ricaque se desenvo lve a mai s longo pra zo. As evidências, entretanto, são inúm eras.
Vamosaproveitar est a oportunidad e de relatar as evidênci as de tendência crescente
à segregação para mo st ra r tam bé m uma an álise d as tran sformaçõe s na estrutura do

3 11
c".lpnço inlra -u ,hano, ou seja. u m a antílise na q u al se nrticulam diferentes e lemen-
'º" dc\-.a c-,lrututa, de maneira que a transformação de um clc>mento acnrrcta tam-
h('m trnn..,formação cm outro~ .
Vrjamo~. cm Sno Paulo, o exemplo dnc1opelo bairro do Bixign, como bairro de
<ant ma <.italiana s r pr la clccaciêncin. do .Bréí
s. Até por vo1tn ele 1950, não havia canti-
na e; italiana.., no Bixiga. Fra no 13rns n ünica cnnc.:entrnção da s cantina& italianas da
cnpilnl pauh sta . Parn as cnornws e cxcc lc lll cs cantinas do Brá s se de slocavam, do
quadrante ~udoe-;tc para J zona Les te, as fam ílias das burgue sias paulistana s quan-
do queriam comer bon comida ita liana./\ segregação crn menor que hoje. ranto que
e ra grande - maior que hoje - a dasse média loca lizada na zona Leste e que sus-
teniavn o s ub ccntro do Brá . /\ par ti r da décadn de 1970, progre ss ivamente , os res-
taurantes do Brás voltados para as classes m éd ia e acima da média foram fechando
~uas porta~ . 1\lguns poucos tra nsfe riram-se para o quadrante sudoeste (La Coruna,
Ciggio ). De -de e ntão , as novas ca n ti n as que foram abertas na cidade passaram a se
loc alizar no Bixiga . Hoje, o ba irr o de m aio r co n cen tração de restnurantes italianos é
o Bixiga . Por quê? O que provocou essa tra n sfo rma ção? Até por volta da década de
l 950, como vimos, o Brás po lar izava u m a zo n a Leste onde hav ia grandes contingen-
te s de clas~e média. O Brás era se u gra nd e p ólo co m erci al e de serviços. A população
da zona de infl uê n cia do Brás tinha e n tão u m n íve l socioeconômico que, se não era
suficiente para eq uipará- la ao q uadrant e su do es t e, o era para transformar o Brás no
primeiro subce n tro do Bra s il e no m aio r d a ca pit a l p a uli sta . O porte do subcentro
do Brás re fletia o n ível so cioeco nô mi co da s famíli as d e s u a zona d e in fluência. A
partir de m eados d o séc ul o, dois p rocess os simul tâ neos de empobrec imento se aba-
teram sobre a po pula ção d a zon a d e influ ê nci a do ce nt ro d o Brás. O primeiro é ge-
ral, não específico da zo na Les te: o e mp obr eci m ent o gera l das classes média e abai-
xo da m édia do Bras il. O seg und o n ão ; é um pro cesso so cioespacial específico do
Brás . Como vimos, o Brás e to da a zon a Les te co m eça ra m a ficar "fora de mão' ' para
as famílias d e classe m édi a pa ra cim a (veja n o ca pítul o 5, seções "São Paulo "e "Belo
Hor izo n te", e o Qu adro 19). Quan to ma is a s bu rg u esias se conce n travam no
quadran te su d oeste, mais a zo na Les te ficava '' lo n ge" para as familias dessa classe
que ali mo rava m. Desde mea dos d o séc ul o, as bu rg u es ias vêm abandonando a zona
Leste. Se hoje há bai rro s de classe m édi a n essa reg ião (Alto d a Moóca, Jardim Anália
Franco eTattta pé), a Figura 29 m ostra qu e, e m 1957, e les j á ex ist iam. O Alto da Moóca.
Bele nzinho e Pa rqu e São Jo rge apa rece m co m o '' ilh as de classe média" na zona Les-
te. Lá, o crescime nto das classes m é di a e mé di a a lta , n os últimos quarema anos ,
mes m o co m a inclusão do Ta tu ap é, foi mui to m e n or q ue o crescimento demogrãfico
da zo n a Leste como um to do. O núme ro d e ba irr os de a lta classe média na zona
Leste n ão a um enta . A fuga da pequ en a e m édi a bu rgues ias de região em questão
pro vocou d ec ad ê ncia (le ia-se popu larização) do ce n t ro d o Brás. Os m édicos da s bur-
gues ias qu e a nt es tinh a m do is co n sult ó rios, um n o ce nt ro e out ro no Brás. desapa-
recera m . Na d éca d a d e 1960 eles se s it ua m ap e n as no cen tro p rincipal e a panir da
déca da de 1970 só na re gião e ntr e a ave ni da Pa uli st a e o rio P in heiros. As cantinas
ta mb é m n ão se re prod uze m m a is n o Brá s e com eça m a apa re c er n o Bixiga, que está

3 l2
110 quadrante sudot· ~le . A-..burguesia., pauli-..tnnn-, não prc.:cisa m mais.,,. dc\locm
at~ a 1.01m l c~tr pat\ 1c..o
nwr boa comida italiana . Por nrnh que haja dassc m (-dw ,1lta
noT;ltunpc•, seu come1c10 para csc:;aclac;sc, hoje, C5lá longe de' ser co mpM,ív ·I ao
queo ílrás era cm U140. b -.o reflete o d eclínio rclat ivo (por nrnt'i que haja nc1.,dmcn-
10 absoluto)da dn '-'-.t'mt i d1 ,1 dltél nn 1,0 1w Leste. Outro s cxc mplr,s dr c rec;ccntc sc-
grcg:-içâo são, como já mm,t1 ndo, a ruga da ari !>loc1 acin canocn qu<' moravd nn fiJuca
- hoje reduzido num bairro ele cla si,c médin - e o declínio da zona Ocs1e do Reci fe
como região ele cone ·ntraçfto das burguesia s.
Os cnpítul o-; anl ·riorC':-;moc:;trarurn ainda como no s'>n"imctr6rolr s foram c;e
estruturando sob o impa c to cl.1 força mais podero sa (ma s nao únic.a ) ,lluantc sobre a
estruturaurbnnn: o domínio , pelas burgue s ia s, da 5 co ndiç ões de clcslo camcnlo es-
pacialdo ser humano enquanto co n su midor. Corno parle d e um movimento que é
frutoda inlcraçfio de lorça s, o centro princip a l se dc&locou e se tram,formou , os
subcentrosse formaram cm função da inace ss ibilidade socioeconômi ca da -; ca ma -
das populares ao cC'ntro principal; ce rta s regi ões das metr ópo le<;~e tornaram ma -
ciçamente populares, o centro principal "decaiu"; o sistema viário se aprimorou cm
determinada regi ão ... Enfim , foi-se formando e transformando o sistema d e lo ca li-
zações que define o que é "bom ponto'' e o que é ''fora de mão" (o sítio social de que
falaMilton Sa nto s (1993, 96)) para todos no espaço urbano.
Inicialmente n proximidade ao centro, combinada com atrncivo s do sírio natu-
ral.foi a causa determinante da definição das direçõe s de expansão das burgue si as.
Depois,à medida que a metrópole se estruturava e a es trutura se os sificava, definiam-
se as áreas "conve nient es'' e "inconvenientes" para as burguesias. Tornava- se então
para essas camadas cada vez mais difícil abandonar s ua dire ção de cresci m ento. Em
todasas metrópoles, se m exceção, as burguesias apresentaram a Lcndência a se segre-
gar numn única região gernl e a manter a me sma direção cm se u deslocamento
territorial, mesmo quando - como ocorreu cm São Paulo, no Jardim América - de-
sapareceram os atrativos do sítio natural. O que pode diferir-e de fato difere-entre
as metrópoles é o estágio no q uai elas se encontram ne ssa tendência.
Neste capítulo vamos pro sseg uir nos sa exposição sobre o mo<lo co m que as
burguesias seg regada s controlam a produção do espaço urbano dominando equi-
pamentos ce ntrai s e não -ce ntrai s atraindo-os para sua. direção d e deslocam e nto .
Essedomínio - espacial, social e econômico -das áreas centrais pela s burgue s ias
levou as cla ss es populares - que a elas não tinham acesso - a produzir seus pró-
prios subcentro s em áreas estratégicas, atendendo a grandes regiõe s populare s. As
burguesias produzi mm espaços dif e renciados que não se limilam- como pensam
muitos- ao co ntra s te cen tro x periferia.
O Quadro 45 mostra um panorama quantificado da seg regaç ão nas metró -
poles brasileiras. Para as áreas de maior concentração das camadas de alta renda
(vejn as figuras 30 a 35), mo s tra- se a porcentagem d e pe ssoas de dez anos ou mais
ou de chefe s de domicílios (pa ra 1991) sobre os totai s da s áreas metropolitana s e
lambém a porce nt agem de pessoa s de dez anos e mai s, ou de chefes de domicílios
que percebiam m ais de vi nt e sa lários-mín im os mensais . Em São Paulo, em 1987,

313
,
seg und o Pesquisa OD do Metrô, numa á rea que abrangia qu are n ta e tr ês zo na s 00
con t ígu as (veja Figu ra 30), viviam 21,2% da população da área metropo litana e
52,6% das pessoas que tinham re nd a méd ia famili ar n1en sal supe rior a tr int a sa lá-
ri os- mínim os.

Quadro 45 - Seg regação es paci a l n a metrópole bras ile ira

Area metropolitana Area de grande concentração


das camadas de alta renda

Porcentagem Porcentagem Pessoascom dez anos ou


sobre sobre área mais (1980) ou chefes de
total da Mea urbanizada da área domicílio (1991) ganhan-
metropolita na* metropolitana*** do mais que 20 salános-
mínimos mensais (%)

1. São Paulo
1980** (1) 17,36 62,42
1991(2) 13,72 9.68 54.03
2. Rio de Janeiro(3)
1980 *"' 9,56 56,08
1991 9,40 7, 12 54,28
3. Belo Horizonte
1991 (4) 8,49 8.35 52.21
4 . Salvador (5)
1980** 18,9 0 75,09
1991 16,59 8,47 67.89
5. Recife - 1980* *
Setor Oeste (6) 8, 12 28,52
Setor Sul (7) 24, 13 41,29
Total 32,25 69,81
Recife - 1991
Setor Oeste (6) 4.37 7,47 25,74
Setor Sul (7) 12,90 6,69 42,62
Total 17,26 14, 16 68,36
6 . Porto Alegre - 1986 (8) 1º·19 3,81 35,96

FonLcs:Todos os dados referentes a 1980 e 1991 : F1BGE, Censos.


Par;:iPorto Alegre, 1986, a fonle é a Pesquisa OD da METROPLAN.
Notas :
• Essa porcentagem é sobre o tota J de pessoas de dez anos ou mai s (para 1980), ou de chefes de domicílios
(pnra 1991) .
•• Em 1980, os dados do Censo - FJBGE - referem -se a "Pessoas de dez anos e mais com rendime ntos
mensais maiores que vinte saJários-míni mo s". Paro 1991 , "Chefes de domicilio com rendimento s mensais
maiores que vinte sa ládos-mfnimos".
••• Nas medições de áreas urb::mizadas, por variações em bases ca rlogrdücas e diferenças de metodologia
de dis1u1tos pesquisadores, deve ser admitida uma varic1ção da ordem de 5% para mais ou para menos. A
área cdHicada do Rio foi medida pelo nutor sobre imagem de s atélite . A de São Paulo foi fornecida pela
EMPl.ASA e refere-s e a L987 . A de Por10 AJcgre foi medida pelo auto r so bre perímetro fornecido pela
METTlOPl.AN.As de Salvador, Recife e I3elo l Iorizontc foram medida s sobre perímetro s esquemáLicos, e as
cifras resultantes devem ser cons ideradn s ordens de grandeza. Pnra Salvador, a á rea urbaniz.1da ~ de 1989.

3 14
l'.11,1lk rtll' , dt· 111111 .
:\n·.1~dr~1.11111l- t 111H tk l'.iniod., .. d, · :,lt ., 1(·11d:i. V1..'jil 11g 111a•, .\Ct.i 'i !1
·1·1111.11;,111
(11l 'om •,1m111k ,1 d1·11·:-.:-t't1• :-.11hd i,11 1111 , co111i~ 110-. do q11:icl1,11111·•,11drn·'. 1t', i11d11 •,ivt• \, 11íck <' lpi1,111~·
·• e·
,·,rln " \I' S, 111tt1 1\111.1111 .
t!l l 'n 11l', potHh- ,1 vi 11t1• l' u111di s 11110, 1·on111i111),, todo, tio q 1111d111111P , 11d<1t", lr • (vPj .i ,1 l ·1~u1, 1 IOJ
!.11l,111t,1jl[ll,11!)!'101 ·011111 p.11.1 l 1J!l 1, 1•11tJ_loh.1,1<: 1i•v,io1•, ,1tl11dni,11aliv.1 , dt· 11,,1;d11Hn, ( 'up.i c uh,111,1, 1 ag11JJ 1•
11,111.1
d,1 lij11rn .
lllS rnn1·11 1t•o di , 11itn C-1•111111Su l
(5) t\p1•n:1:-.n:-.di:-11i1n, dt • /\11h11,tlin,1 t' itori;i t•111 uanhrh o -. ano :-..
lhl F1t1l~llHl.i11rh 11.111, d1,11 ih,, cl1· Hn. , Vi, 1._1, F1w1 u 1ilhad ,1, C:1.1ç.1•, l' M :1d.d1·11.1. F111 l 1Ji1t, vd,1 ()u ,1cl111!1,
(71 Fm l !lllll , i11rl111.111db1ti10 d1• Hna \'1.1g,·11 1 l' 11 1rn 11,idpio d l' hill().11.111 cio ,; Cu: 11.11.1p1·~. 1·111 11J'll . wj .,
\.)11,
n\io 21i.
(fl) lt1d11i,i11IL' l' dt• 11.i l «'~n l'n 1111g11,1,1H1:-t' lt11 1 ,...,
du ns ;,1111.1:,. ,L.,

P:1r:1m e lhor expr imir a s<•grcgnçfio es p nda l, mo s tr a -se aindn a ,írcn d e <..on -
ccntra\·flo dns camadas de mni s alln renda co mo porcentagem da área urba1,i zada
total dn tn<'trópolc. Para Sa lvndor, p esq ui sa do CONOER (Sis tema de ln for 11rnçdes
~lr1ropolilann s, l 9HO) 1wrm iliu reunir dezoito zonas de inl'orrnaçflo co ntíguas , oc t1-
p:rndo o CorrC'ctor da Vitória , Ca mp o Grande, Barra, Grnço e aindn a orln entre a
Bnrrn L' Pitubn , nf. pelo interior, nlcnnçando até Brota s. Essa área reunia 15,36% da
população dn t\rcn mctropolitnna e 73,G% d ns famílias com renda médin mensal supe -
riora 1rinta sal,írio s- m íni mo s. Pelo Censo do l BG E cic' 1980, os di strito s de /\rnaralinn
eVitória tinham, cm 1980, 18,90% ela população da úrca m c lr opol il nna e 75,095 e.las
pessoas d e de z a no s e mais qu e percebiam m a is que v inte sa lários-mí nim os m e n -
sais. Em 1991. esses mesmos di str ito s reuniam JG,59% dn µopulnção e 67,89 % do s
chefes dP domicílio que ga nh :wan1 mai s que vinte salár ios-mín im os.
Nem se mpre é pos s ível fazer com p arações entre as m et rópo les acimH men -
cionadas, mas, pelo m enos, a lguma s aproximações são possíveis . São Paulo , Hio e
Belol lorizo ntc apre se ntam padrões de seg regação razoave lm e nt e seme lh antes: nns
duns úllirna s, numa tirca que congrcgn de 8 n ~)% dn poµulnçf\O e 7 a 8% cJa ,iren
urbanizada metropolitana, cs 1ão de 52 a 56% do s ricos. Em São Pnulo , numn :frca
ligeiramente maior (ern termos percentuais) es tá uma proporção bem maior da po -
p11l:1çào total e uma proporção ligeiramente maior (Stl n G2%) de ri cos. O fa10 uco
Hecifcapresentar dun~ ~rcns de alta co n cc ntrnçno da s ca m ada s de alta renda ntt0
diminui sun segregaçã o . As du as á reas reúnem 68,365 % do s rico s da nrl'a metropoli -
tnnn e npC'n;1s 17,27% da população. O se tor Sul , Bon V i agem, detém ,12,62~, dos
ricos. contra apenas 25,7 4 % rlo setor Oeste. Isso confi rm a a tcnclêncin de mnior
c1escinwnto do prinwiro , um a vez qut\ tr inta o u qunrcnln n n os ntnis, :-iliresidia uma
parcela muito pc-que n a do s rico s.
Evidentemente n di s tribui ção espacia l das classes det<·rmina n dist ribui çao
espncinl dos serv iço s tanto privndos como (veremos no ca pítulo st'guinte) ptíhli cos.
lá vimo s a desigua l di s t ribu içno espacial dos shop ping centcrs . O Quadro 4G mo s t m
n distribui~·ão espacial do s médicos e dentistas na Á rcn Mel ropolitann de Si o Paulo,
segundo os m édico s crede n ciados n a AMl L.

.115
Quad I o ,te, Di s t ri lrni~·flo csp:1cial do s médic-o s e denti s ta s
i\rc ., TvtL-110poli1nn,1 dl~S~to Pmilo ( 19~lG)

M édicos(%) Drn t,stJ s (% )

l\ 1UNICIPIO D[ SAO P/\ULO

7o nJ d(" AGClA H• 50, 1O 56 ,40


7on~1 Leste 11,9 8 8,09
l ona Norte 7,50 7,57
Cent,o 0,89 4,96
Outr os 2,62 4, 96

Santa /\ ndre 7,98 4.4 4

São Bern ardo 8,40 3, 13

São Caetano do Sul 5,02 3,39

Diade ma 1,3 1 1,57

Osasco 2. 55 1,57

Gua rulhos 1,65 3,92

Tot al 100,00 100,00

• De ntr o da Área de Grand e Con ce ntraçfio da s Camad as de A.llaRe nda (J\GCCAl~).


Fon te: Ol rálogo t\mil. J\ pesqui sa refere-s e apen as a profiss ionai s creden c iado s na Arnil.

O quadro mostra que a área de grande concentração das camadas alta renda,
em São Paulo , decém 13,72% da população da área metropolitana e tem 50% dos
m édi cos e 56% do s dentistas.
Em geral, nos sas metrópole s apresentam uma segunda área de concentração
da aJta renda , além da principal. Tais áreas, entretanto, congregam uma parcela muito
redu zida da s burgue sias metropolitanas e ocupam um longínquo segundo lugar.
Em São Paulo , ela s situam -se principalmente na zona Norte e, depois, num trecho
da zona Leste, especialmenteTatuapé e Alto da Moóca. No Rio, estão em Niterói e na
Tijuca. A seguir , temo s uma listagem de alguns bairros de São Paulo, com a respecti-
va proporção entre o número de moradore s d esses bairros que, em 1987, tinham
renda individual familiar superior a tr inta sa lário s- 1nfnimos, sobre o total dessas
pes so as em toda a área metropolitana. Estes eram os bairros {zonas OD) de maior
por centagem de ricos localizados fora do quadrante sudoeste.

3 16
ZonaNorte Zona Leste

Santana 0,66°10 Alto da Moóca 0.79%


Mandaqu1 1.75% Tatuapé 0,4 7%
Agua Fria 0,29%

"1ntc; Mctró, Pesquisa 00, segundo P~lSP- ·cmp la, BOP/92, rabeia 4. 1/a.

O Mandaqui tinha 1,35% da população metropolitana e a Água Fria tinha


0,66%(porcentagem igual à dn s famílias de alta renda). No Rio de Jan eiro, segu ndo
oscensos,a RAda Tijucn reunia, em 1980, 10,07% da popu lação da área metropoli-
tanae apenas 2,5% das pe ssoas de dez anos ou m ais que percebiam mais d e vinte
salários-mínimos. Em 1991, a me sma RA detinha 7,7 % da população metropolitana
e2,3%dos chefes de domicílio que percebiam mais que vinte sa lários-mínimos.
Os processos de segregação descrito s ne ste capítulo e no capítulo anterior
{capítulo8) parecem não ser exclusivos d e nossas metrópole s. Há registro de que,
pelomenos há alguma s décadas, os mesmos processos ocorriam nas metrópoles
dosEstados Unidos. Aparentemente eles tendem a ser tão mais acentuados, óbvios
e visíveis, quanto mais profunda a desigualdade social na metrópole. A de sigual -
dadena sociedade se manifesta ass im numa desigualdade do espaço que vai além
daoposição centro x periferia.
Asinvestigações de Homer Hoyt (1959, 503-6) chegaram a conclusões surpre-
endentemente seme lhante s às nossas, embora esse pesqui sado r não tenha apre-
sentadoexplicações para elas. Depois de ressaltar que os bairros residenciai s das
camadasde alta renda, "em seu m ov imento , não pululam ao acaso, mas (...) seguem
umcaminhamento definido em um ou mais setores da cidade", Hoyt chegou às se-
guintesconclusões quanto àque les bairros nas cidades americanas: "Em todas as
cidadesestudadas, as áreas reside nciais das camadas de alta renda tiveram seu pon-
todeorigem próximo ao centro varejista e de escritórios. É ali que os grupos de mais
altarenda traba lham e esse ponto é o mais afastado daquela parte da cidade onde
estãoas indústrias e os armazéns. Em cada cidade a direção e o padrão de futuro
crescimento tendem então a ser governados por alguma combinação das seguintes
considerações:
As áreas residenciais das camadas de alta renda tendem( ...):
1. a prosseguir a partir de um dado ponto de origem ao long o de determina-
das vias, ou em direção a outro núcleo existente de edificações, ou centros
comerciais.
2. a progredir em direção a te rr enos altos , livre s de riscos de inundações e a se
espalhar ao longo das bordas dos lagos, baías, rios ou oceanos, nos locais onde
tais bordas não são ocupadas por indústrias .
3. a crescer em direção às áreas que apresentam uma região rural livre e aber-
ta, afastando-se dos 'becos se m saí da' bloqueados por barreiras naturais ou
artificiais.

317
1 ., Cll''-l't 'r n,l ltrt'Ç.1\'., do!--ltckte s da comunidade .
5 \~ tcnd(·nci,1,;; dl' mm 1mcnto de t"'srritorio s, b anco !-> e lojas puxam os bairros
rc~idl'nn~is m.1b l'MO'- na ml' s ma direção geral dn cidade .
l, . ,l crl'srer ao lnngo dn::. linhns mJis r~ípicfa. de trnn s portc s.
, . O .:n~~rmw n to d ::isan•as rc"idendai s de altn renda permane ce numa mesma
dirC\';\O, por um longo penado de tempo .
H. \, .1n·.1sde npart amcntos de lu,o Lendcm a se cstnbe lece r pr óx imo no centro,
t?m :mtig.1~ .1rt•.1s n.?sidcnciai s.
~1 Promowrcs imobil i,írios podem de sv iar a clirc~:no de cresc imento da s áreas
rcsidcnnais de ,lltn renda ". •

\'., ria · d.1s ro n. ideraçõc aci m a - espe c ificame nte as ele número 2, 7 e 8 -
H' aplir:im :ts metrópole ~ nqu i n1rnlisadns .
orno nas cidades americ:-inas a rede de rodovias é muito mais rica que na s
cida ie · brasileira·. e como a taxa de motori zação das camadas de alta renda já era
alta nn.. década · de 1930 e 1940, essas camadas optavam pelas vizinhanças
aprn zn·e i ~crvi.da ~ por boas rodovias e que não tinham indú str ias. Essas condi-
çõe ó comcç .iram a aparecer entr e nós no final da década de 1970, numa parte
de ão Paulo (n a rodovia Caste lo Branco e Alphavill e e Tamboré). A pobre za do
sisLema rodoviário dentro do espaço urbano das no ssas metrópoles e o enorme
de equilíbr io de poder político entre as classes sociais no Brasil fizeram com que
nossn · burguesias mantivessem pO$ições centrais e se apegassem mai s a vias intra -
urb anas do que n rodovias. Assim, elas controlam o Estado para melhorar o siste-
ma ,·iário intra-urbano. Iss o fez com que as burgue sias "puxassem " as melhorias
viárfas (vias intra-urbanas, note-se) na direção d e seus bairro s, ao co ntr ário de
..rnmar carona" nas rodovias regionais.
Como mo stramos, no Bras il. as melhorias viárias surgiram depoi s de desper-
tado o interesse imobiliário das ca mada s de mais alta renda por determinada região
e dire ção de crescimento da metrópo~e. O s iste ma viário urbano que ate nde a essa
regi ão e direção come ça a passar por sucessivas melhoria s que se articulam, em
bola d e ne ve. com a co ncentração de tais ca mada s. No Rio, foram as elites que leva-
ram o bo nd e para a Copaca bana , Gávea e Alto da Boa Vista, e não o contrário; foram
as elites qu e leva ram o plano inclinado para Sa nta Teresa, e não o contrário; foram
as elite s. intere ssa da s na Barra da Tijuca, que provocaram a co nstr ução do Elevado
do Joéí e do Túnel Doi s Irm ãos, e não o contrá rio. Como vimos, foi a ocupação da
zo na Sul carioca p elas elites, iniciada no final do sécu lo XIX, que provocou a abertu-
ra da s avenidas Rio Branco e Beira-Mar, assim co mo do túnel para Copacaba na e, a
parrir dai, um a enorme suc essão de gigantescas e custosas obras viárias, co mo os
aterros de Botafogo. Flame n go e de Copacabana, além de túneis, elevado s, etc . Em

• The strurt 11rc and growt/1 of residMtinl 11cighborl10ods i,i Am erican ci li es, de 1939, obra não lo ca li zada cm
São Paulo. Esse Lrccho acha-se rep rodu zido cm f\IJ\YEH e KO I IN . 1959, 499-5 1O.

3 18
SãoPaulo,não foi n avenida Nove de Julho nem seu túnel que levaram a burguesia
parao Jardim América (que já estava loteado e em início de ocupação dez anos an-
tesdaabertura da avenida e do túnel), mas o conLrário.
Eventualmente, as camadas de mai s alta renda podem ficar • indecisas· em
suasopções de direçõ es predominantes de crescimento quando estas - pelas ra-
zõesaqui analisadas - mudam .
Em décadas recentes, nos casos em que se esboçaram duas direções distin-
tas,e às vezes opostas de crescimento, uma tende a predominar . É o caso do Recife.
ondeaté meados ue~tc século aquelas camadas desprezaram a orla marícimae cresce-
ramna direção oeste. Tal direção permaneceu durante cerca de um século sem ser
ameaçada.Entretanto, a partir de meados do séc ulo XXcomeçou a se definir uma
novadireção desse crescimento: Boa Viagem (veja, no capítulo 8. a seção "Recife..).
Pelaenorme inércia que de se nvolveu durante um século, a primeira direção roescer
vemoferecendo resistência à mudança de direção para a orla marítima. A predomi-
nânciadesta última, entretanto, está ficando clara.
Casos houve cm que "núcleos de resistê ncia", inclusive com significauva pre-
sençada classe alta, se desenvolveram em direção difere me da predominante. como
aTijucano Rio. Em outros casos, o mer cado imobiliário preLendeu reverter a dire-
çãopredominante de crescimento e não foi bem-sucedido , como em Pampulha. em
BeloHorizonte. Finalmcme, pequenos núcleos de renda média ou média alta (mas
nuncade alta renda) se de se nvol veram fora da direção predominante - foi o que
aconteceuno Tatuapé, Jardim Anália Franco, na região do Tremembé e Cantareira e
mesmono ABC,em São Paulo . Nesses casos, ou há um claro abandono do bairro
pelaalta renda (como no caso da Tijuca, no Rio). ou desenvolve-se uma segunda ou
terceiraregião de concentração de camadas médias- mas nunca de alta renda.
A conclusão 5 de l loyt - se for realmente correta para os Estados Unidos-
suscitaa seguinte indagação: o qu e teria levado banco s, escritórios e lojas a sedes-
locarna mesma direção da s áreas reside nciai s. porém à frente delas, a ponto de
Mpuxá-las"? Sim, porque estas últimas crescem sempre na mesma direção. Por que
osescrnónose lojas também cresceram nes sa mesma direção, mas com ancecedên-
c1a?Nossa conclusão moslra o co nrrário . São os escrilórios e lojas - depois os
shoppingcenters - que crescem na direção dos bairro s reside nciai s de mais alta
renda,e não o contrário .
A respeito da conclusão 4, cabe indagar : o que faz com que os líderes da co-
munidadeescolham um determinado local para suas casas. e não outros? É preciso
e'.)clarcccr
a explicação. É preciso explicar por que o líderes da comunidade esco-
lhemcenas localizações, e não outras. Exemplos aqui mencionado s são os de Antô-
nioElia!),dom João VI e o Paço de Siio Cristóvão, ou a prince a Isabel, mudando-se
paraas Laranjeiras. l~mbora não tenha sido feita nenhuma pesqui sa específica so-
brelocal11açuc~dos líde res da comu nidade , parece que nossas lideranças (pelo
meno~no século XIXno ssa burguesia era líder ) e se us líderes segu em sempre ames-
madireção,sem que estes pre cedam aquelas. làmb ém com relação à conclusão 9,
caberia1mJagar:o que faz co m que os promotores imobiliário s optem por uma re-

3 19
giào da cidade e não por outra? Aqui tamb ém é preci so cc;,rlarN·c:r :i <'Xplic.a~"'' · /\r..
conclusões da s análises de cento e c inqüenta ano'> co 11t1d<1 ., 11c"ilt' t1aballio rno~-
trnm que são as burgue sias que esco lhem a locJ liz;1c;noe dirc·çao dC'cn :c;rirrwnto cJ,,
seus bairro s. Os promotore sflo os agentes elas opçocs cJc..,sa,.,clas1.,c•,,./\'-1< las.,,...,cl<·
mais alta renda escolhem a direção ele crcsc imc11to,cm f1mçao doc.,atrnt iw,s cl<,~íuu
natural - co mo também concluiu l loyt - e tamb ém, e rrlncir almcnt c.:,c·m f11nção
da simbiose, da "amarração" que de~cnvolvcm com !-ilia~ nreíl~ dr t onié-rci(J, "tf:rvi-
ços e emprego, ou seja, cm virtude ela sua inserção nn estrutura ur/Jana que cltt\
próprias produzem. Essa estruturação se deu pcln controle que tai o;clas\cr..c.:xc.:rccm
sobre o mcrcm.lo imobiliário e sobre o Estado, que para c•la'-1 alniu, po1 exemplo, o
melho r sistema viário das cidades, con struiu seus locai s ma1') <1prnzívci'-I,mais
ajnrdinndos e arborizado s e controlou a ocupaçM> do so lo pela aplicaç.ao de uma
legislação urbaníslica menos ineficaz . Quanto a ressa lva que se faz na concl11são2
- "onde tais bordas não são ocupadas por indú stria~" -, cabe pcrgunLar : por que
algumas bordas (na baía da Guanabara, tanto no lado do Rio como no de Niterói, ou
na de Todos os Santos) são ocupadas por indústrias, e outras n ão?
Os exemplos analisados mostram que as camadas de mais alta renda se ape-
gam a u ma região geral da cidade e nela se concentram, não pelo statu s que possam
apresenta r. O status não existia antes de essas regiões serem ocupadas por tais clas-
ses; não existia quando essas regiões eram vagas. É efcilo, e não causa, da preferên-
cia das classes de mais alta renda.
Já foi exami nada a relação entre a tendência à crescente concentração das
camadas de alta renda e a estruturação do espaço intra-urbano no tocante ao cen-
tro principal, aos subcentros e aos shopp ing ce n ters. Prossigamos anali sa ndo essa
relação com o comércio, os serviços e o lazer não necessariamente centrais.
No século XIX, tiveram início as prlmeüas manifestaçõe s do proces so de cres-
cente concentração espacia l das camadas de mais alta renda em nossas metrópole s.
Esse processo se deu como parte integrante da formação da estrutura interna que
elas hoje apresentam. Começaram a formar-se, simultaneamente, seus centros , seus
bairros e também sua segregação. Logo em seguida, surgiram as zonas industriais ,
as quais, entretanto, duran te mu ito tempo, só foram sign ificativas em São Paulo e
no Rio. Nas demais metrópo les não havia inicia lmente zonas industriai s, embora
houvesse várias indús tr ias.
Se, no início do sécu lo XlX para o Rio e em meados deste século para São
Paulo, Porto Alegre e Salvador, nossas el ites moravam no centro, em sobrados, ou na
sua imediata vizinhança, sua segregação crescente deu-se simuJtaneamente com a
segregação que também ocorria com o comércio e serviços no centro principal e
pelo mesmo processo segregavam-se as classes pop ulares. Logo em seguida, ram-
bém as indúst rias começaram a se concentra r ao longo de algumas imponantes vias
de transponc.
/\. formação de zonas induslriaí s, como vimos, é determinada por forças es-
paciais extra-urbanas. Assim, se admiti rmos que, do ponto de vista intra-urbano, a
localização das grandes zonas ind ustriais - como també m os portos - é "dada",

320
restaráa localizaçüo elas camadas de mai s alta rend a cCJmoo mais import ante 111,, .
tore,truturndor <las nossns e'>truturns c~p..tciai~ melropolit.um .
Inicialmente, a~ cama das de alta renda procu raram tr.u cr p.ir,1JlHHc,de i -
ouproduzirno seu próprio c..,paço - os equipament o'\ urbano c;que podem JHl' •
cmdirde uma localização centra l e, mais tarde, Lambem aquelc ...qu,·. c-míatl' ele~ua
unicidade ou raridade e significado metrop olitano, dcvn iam log1ramcntc pL·J ma-
nccerno centro (sedl's de governo, por exemplo). O cqt11pamcnto..,qut• primem, M'
instalaram íorn do centro , até me smo na pcrif cda tln rcgi[lo de ,1ltarcndc1, 1or,1m,1-;
escolas,hospitais e profis !;ionai s lib era is. No Rio e no Hc:cifc, foiam L,1mbém o">ho·
téis(em Santa Teresa, Bota fogo, Caxangá e Jaquciral. ~6 m.iis tarde, no Hlo e nn dé
cadade 1920,deu-se a formação de subcenlros de comé rcio e serviços volrndo~para
essascamadas. Antes, já havin a desce ntraliza ção de alguns cquipnmt•ntos- como
oscinemas-, mas não havia a formação de nuclco s diversificados<le comc.;rc10e
serviços,que é o que chamamos de subce11tro.Como vimos, com exceçãoda ·1iJuca
edepoisCopacabana e lodo o eixo Copacnbana-Lcblon, todos os subcentro desen-
Yolvidos em nossas metrópoles foram orientados parn o atendimento das camadas
populares.
Talvezo proces so mai s notável de produção do espaço sob o comand o da\
camadasde mais alta renda seja a inter-re lação que elas e seus bairros residcncia1\
mantêm com os centros principais. Quanto mais essas camadas se concentram cm
determinadaregião da cidade, mais elas procuram trazer para essa mesma região
importantes equipamen tos urbanos. Quanto mais o conseguem, mais vantajosa essa
regiãose toma para aquelas cama da s e mais difícil se torna, para elas, abandonar
essacLireção de crescime n to.
Comojá obse rvado, em algumas cidades, como o Rio de Janeiro, essa direção
decrescimento altero u-se e isso oferece opo rtunidade para uma análise interessan-
te da reviravolta por que passa a estrutur a urbana. Permite também que se realize
umaanálise realmente estrutural do espaço urbano, mostrand o a articulnçüo entre
elementos da estrutura int ra- urban a. Até o terceiro quarte l do século XIX.o princi-
paleixode desenvolvimen lo da cidade e de concentração das camada s de mais alta
rendado Riode Janeiro oricn lava-se para oeste (figuras 15 e l6 ) A partir de cnrào,
asburguesiascomeçara m a se transferir para a hoje cha mada zona Sul. Em conse -
qüência, muitos equipamentos da aris tocracia car ioca localizaram- se inicialmen -
te na zona Oeste de então e, quando centrai s, na extremidade oeste do centro; a
panirdo final do séc ulo passado, esses equipamentos começaram a se tran sferir
paraa zona Sul ou para a extremidade sul do centro .
Quando o Jockey Club (mais tarde Jockcy Clube Rrasilciro) foi fundado no
Rio,em 1869,seu prado de corridas localiza va-se cm plena zona Oeste (Norte de
então?),cm São Francisco Xavier. Poste riormente transfe riu -se para a Gávea, onde
estáaté hoje. O Derby Club, fundado em 1885 e poster iormente fundido ao Jockey
Club,também tinha se u hipódromo na zona Oeste, mais p recisamente no local
onde foi const ruído o es tádio do Maracanã. Sua sede socia l loca lizava-se à Praça
daConstituição (Tiradentes ) entr e a rua do Piolh o (da Carioca) e a rua do Cano

321
(S ' te d e, ctembro ) (Maurí c io, s.d ., 15 ), portnnlo , na cxt remidad e oeste do centro
dn cidade
Simultnn eamcntc à tran fer ê n c ia de in s l.ituiçõ e antiga s, a s nova s jci se in s-
taln vam nn zona ui. "Em 1874, o antigo solar do visc onde de Sou za Frnnco foi
Lrans formndo c m Club Guanabarcn s c. Ali, cm . 27 de junho de 1907, foi fundado o
Autom ó\' cl Club do Bra s il. Em 191H, Is abel Ancircw in sta lou no pr édio um colé-
gio. h oje tradici onal (... ) sediado à prnia ele Botafogo n. 374; o palacete pertenceu
a o bar ã o de Ale gr e tc . (... ) t\lai s tarde. nele funcionou o colégio Abílio, (... ) escolhi-
do pe lo roman c is ta Raul Pompéia para palco de seu livro O Ateneu. Posteriormen-
te ali se loc a liz ou o Colégio Anglo-America n o (rrotn, 1971 , 105).'' "Na mesma rua
Sã o Clemente. in talou-s e o Colégio Sa nt o In ácio, do s je s uíta s , em 1903 (Maurício,
idem , 106)."
Vejam os agorn algumas instituições de snt'lde. A primeira casa de saúde da
zo na ui , n Dr. Peixoto, instalou-se cm 1853 na rua Marquês de Olinda (em Botafogo),
trn.n ferida do Morro da Gamboa (viz inhan ças da Estação D. Pedro rr, ext rem idad e
oeste do centro de então) para terrenos "que por s ua vez tinham abriga do o primei-
ro balneário digno desse nome, do ve lho Rio, freqüentado pela fomfüa imperial( ... )
e nos quais um palacete ain da existe (...) com o nome Olinda em seu frontispício"
{Ge rson, 1965, 382). Sign ificativa também foi a transferência da parte do centro que
abrigava os equipamentos de diversão da burguesia. No sécu lo passado. essas casas
eram principalmente os teatros e se conce ntravam na Praça Tiradentes e vizinhan-
ça s - que era a extremidade oeste do centro de então. A partir da primeira metade
do século XX, essas casas passaram a se r os cinemas e se concentraram na Cinelândia ,
extremidade sul do centro. Logo após a chegada de dom João VI, teve iní cio a cons-
trução do Real Teatro de São João, o princi pa l teatro de ópera da cidade. Segundo
Gastão Crul s, foi sucessivamente Teatro Im perial de São Pedro e depois São Caeta-
no, na Praça Tiradentes. Sofreu vár io s incêndios, o úJtimo dos quais, em 1928, fez
com que os restos do antigo edifício fossem arrasados e, em seu lugar, se erguesse o
atual teatro (Cruls, 1965, v. II, 546). "Outros teatros (... ) ao s poucos surg iriam, para
que não tardasse a concentra r- se nele (no Rocio Grande, hoje Praça Tiradent es) a
maior parte da vida teatral do Rio (Gerso n , 1965, 160) ." Outro importante teatro que
encenou muitas óperas foi o "Teatro Provisório (depo is Lírico Flum inense), inaugu-
rado em 1852 no Campo de Santana perto da rua do Hospício (Bueno s Aires)" (Mau-
rício, s.d .. 127), também na ext rem idade oeste. Entretanto, já em 1871 é inau gurado
o grande Teatro Lírico (então com o nome de D. Pedro II), "com l 400 cadeiras na
platéia na rua da Guarda Velha, trecho desaparecido da atual Treze de Maio" (Augusto,
idem, 139), já na extremidade su l do centro, mesma região onde mai s tarde seria
construí do o Teatro Municipal.
Não foi diferente o comportamento da localização dos aparelhos do Estado.
Desde 1824, sob o governo de dom Pedro J, e por quase um séc ulo, o Senado fun-
cionou no Ca mpo de Santana, até qu e se deslocou para a ext remidade do centro
vo ltada para os bairro s das camadas de alta renda: a Praça Floriano Peixoto. A Câ-
mara Municipa l também funcionou no Campo de Santana, entre a desaparecida

322

l
ruodeSàoPedro e n nvcnicla Marechal floriano. Mais tarde, a Cf1mc\rnLrcu1~fc1iu · SP
tambt•mpara n Praça f\tnrcchnl Floriano (Cru ls, 1965, 492).
Tambémo Governo Federal trnn sferiu-c.c dn urna Oeste para a 1:ont1~ui Pro-
clamadan República, o Governo Provisór io inslalou-se no Palácio e.lolrnmarari (.ttt'
t>ntão residência do barão e conde de Itarirnrati ), na avcnidn Mmeclrnl Floriano, na
e,tremidac.lc oeste do centro de então. Em seguida, transferiu -se rrnra o P.tl~ic10do
Cate tc, zona Stilde então.
Dir-se-áque a transferência de muita s dessas instit uiçõcs para a regia o da
Praça FlorianoPeixoto 5e deveu aos amplos espaços ali conseguido~ com ac; obras
derenovaçãourbatrn, de abertura da avenida Hio Branco e de demolição do Con-
elaAjuda. Sem dúvic.ln.Tais transferências fizeram pnrtc de um doe;maiores
\'t.>nto
proje tosde renovação de área central jamais vistos numa metrópole hrnsilcira. 1~
precisa mente isso que pretendemos mostrar. Por que a extremidade renovada foi a
sul,e nãoa oeste? Por que essas transformaçõe s toda s não ocorreram na Praça l\lauá?
Porqueo morro demolido foi o do Castelo (carregado de história, razão pela qual
deveria serpreservado), e não o da Conceição? A "Cidade Nova" do início do ~éculo
XXconstituiu-se na extremidade sul do centro, enquanto no início do século XIXa
renovaçã o urbana ocorreu na extremidade oeste, que recebeu de fato e mantém até
hojeo nome de "Cidade Nova"; foi ali, na área que se estendia além da rua da Vala
tUruguaiana) em direção ao Rocio Grande (Praça Tiradentes) e ao Campo de Santana,
quesedeu a renovação urbana, que, com o aterro de mangues, conseguiu amplos
espaços inclusivepara edifícios importantes. Na década de 1970, na Barra da Tijuca,
navanguardada expansão da chamada zona Sul carioca, locali zar-se-ia o novo cen-
tro metropolitano - felizmente não concretizado.
EmSão Paulo não houve reversão do centro, de maneira que é possível mos-
trarcommais nitidez o deslocamento de equipamentos e instituiçõe s do cemro
paraa área de concentração das camadas de alta renda: a zona Sudoe ste. Há, no
entanto,exemplos de equipamentos não centrais - como o Jockey Club, que saju
dazonaLeste,hipódromo da Moóca, e foi para o quadrante sudoeste, às margens
dorioPinheiros.
Nessa capita l, no séc ulo pa ssa do, o Colégio Coração de Jesus se instalam cm
CJmpos Elíseose o americano Mackenzie College, em l ligicnópolis, ambo s na peri-
feriaricada cidade, no quadrante sudoeste, bem antes de esses bairro s estarem for-
mados.Sem dúvida, o e ntão loteamento de Higienópolis já nascia dcstrnado à alta
burguesia paulista, não só pelo padrão do loteamelllo como pelo tamanho dos lo-
tes.Outraescola estrangeira da época que atendia à burguesia era o "l lydecroft
College, localizado no começo do sécu lo na atual avenida Paulista e onde se matri-
culava m os meninos das principais famílias da capita l e do inccrior ele São Paulo"
tBruno,195 4, 1270).Também o Colégio São Luís instalou-se na mesma avenida onde
aindaestá.Desdeo final do séc ulo passado, essa região- a mais alta da então cida-
de, cm termos topográfico s - vinha sendo ocupada por imímero s hospitais que
atendiamàs camada s de mais alta renda, inclusive os estrangeiros, como o Sírio-
Libanês, o l lumberto 1 (depo is hospital Matarazzo) e a Beneficência Portugue sa, o

323
,
",un., ( ',tt,\1 i1M e o at u,tl I lo,piL,tl Alc.•m.10 e ) \ w,1 ldn <· 1117. N,)o ~t· d li~•' q11<· .1 altil 11dt•
tu1 o 1,\lo1 dt·~ 1,1\n "l' tn-...t•,por qut• n.in ,,. ln r, dt t.;)1,u11 t•ss<", ltu ..,p11o11s n., ~Pira tlél
l'.,nt:ll --i1,f.'
Um t'\t'tnplo d., lei,, th- tl'l,l~ ' lH'~ qw• ttllt' govvrnanlt•,, lol<·.tclon: s, p1op1i(• -
l,\r1<h dP lcrrn, e ob1a, puhltc · a-; ( 110 ca~n. o vi.idulo do <.h.1) (i dnclo JH·lu
l :1mmh.1mL'nto lt."'rrttrn i.il d., ,lltwl lJnivt •r..,id.u ..k 1\1.it· kl'ntl<· "() {)r jo,10 ·11wod<>ro
'\.:t\tt"l acabou ton,t•guindt1 \l't11:L'I ,\ rt>lul;'\ntia dl' C lrnnil1t·rl ;d 11qt1,1n1n a lmali
1.1ção da t',cola o :,tol,1 ,\mcricnna dtt l grl'jn Pa,...,hitl ' ri,111a) no pl a11.tlto cio Ch:í
Con, cnu'u n, prnprict,inos da~ prinl ip.ti" l haca 1a:-. dc·..,,a r<'gi.10 a p, omnverC'm
um lotcamenw pn,cial ( .. ).A lem di"M). nfi1 mn n PH·sidvntt· Joan I lwodoro , él1110-
ri1.tra Jule-. t\ tnrt in a pro)('tar e çon ...1ru i1 11m vindulo qnc- (. .) at I nvt·"i~H"~" o v;,1lc elo
\nhnngahau ( . .l. O projeto do antigo vindulo do e:hn íic:ou conduf dn (;'lll 1077
..l \ C'nnstrução do viaduto porém sú foi ini<:indn cm 1flHG ( ... ) devido r1 obstina -
ç,io do bar.10 de llapC'ttningn, qllc se rccusnva a permitir n dNnoliçito d<' seu velho
...olar dn rua de São Josó, onde deveria começar a ponte" ((J;irccz, 1!>70, S7). "/\ni-
mndo pela perspectivas do novo viad ut o. pela promes sa d<' remoção dos touros
do Campo dos Curros e com o início do loteamenlo da s chücarn'-i do C:há e do
\rouche. Chamberlni n adquiri u ( ... ) o terreno da rua de São João esquina com a
rua do Ipir.inga ( ...) Nesse lo cal estiveram a Escola e a Igreja por muitos anos
(Garceí', i<lcm. 58) ." "O cdi fício da rua de São João (. ..)já era pequeno cm 1879 ( ...).
\s ...im , Clwmbcrlain procurou adquirir uma propriedade mai s ampla {... ). Lcm -
brou- ...c ele então do velho conselho de João Thcodoro pnra que se voltasse para a
'Cidade I\Iova·. onde os títu los das propriedades crnm melhores. Daí nasceu n idéia
de adquirir uma propriedade no Alto de HigienópoJis ( ... ). Dona Maria Antônia
(da ~ih·a Ramos). da alta nobreza ele São Paulo, sabendo das dificuldade s do Hev.
Chambcrlain em encontrar área{ ... ) prontificou-se n vender à Board de Nova York
uma arca de terreno a ser desmembrada de sua chácara( ... ). Essa áren fica na es-
quina da rua Maria Antônia com a run ltambé (Garccz, idem, 79, 80)."
Os colégios e hospitais da burguesia contin uaram, tal como no passado, a se
irn,talar em seus bairros e - também tal como no passado - nas etapas iniciais de
sua formação. í-oi assim com os co légiosVcrn Cruz e Santa Cr u z (Alt o de Pinheiros ),
o San to Américo, Nossa Senhora do Morumbi, Esco la Grad u ada (americann ). o Vis-
conde de Porco Seguro (alemão) e o 1losp ital Albert Einstein, todos na região do
Morumbi e vizinhanças.
Do mesmo modo que no Rio , o crescimento do centro ele São Paulo foi acom-
panhado de sua cisão; dividiu·sc e le em duas partes: uma, a nova, era voltada para
os bairros de mais alta renda, e a oulra, n ve lh a, ocupou a posição abandonada, vol-
tada para os bairros dns cn madas populares. Na primeira instalaram-se não só o
comércio e os serviços de luxo, como Lambérn os edifícios públicos, como, a exem-
plo do Rio de Janeiro , o Teatro Municipa l e a Biblíoleca Municipal. A renovação ur-
bana de Prestes Maia entre as década s de 1930 e 1940 in cidiu sob re essa parte do
centro (na avenida lpiranga, na rua São Luís, na Praça D. José Gaspar, na rua Vieira
de Carva lho , na rua Marconi) mais do que em qua lquer outra. Também a adminís-

324
na ,,pul1hr.1,,•tt.111,h•11l1p,u 1t·ss,1p.trll ' ·p .11,1uqu úr.mtt• urlo t
tnlh 1.,. , oll\ltlll ,·m 1n1t1.1, nu ttopok c;, 111o s 11.,qm• 11, o• tpl'n o m • n a,rn
mrn ,,dl1(no l ,,,,, . o 111ltlb1h1u1n)qm • a1_u,1 tlt' ar. l11l.,li1 ~ôr. 1 Jtllp, m mo
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mrntt· 11,\nd1•\1•11,t1n t•,1,11suw 11,1;;,b h•1, do nw rr uln - gut•rn as mrsm a~ r ,,
\ ,ulr ,lo l\ ,·t'IIti\ 111 , 1.1tl 11., I Ir ,111
'-lt•riu -~t· do P ,1llo do < 111 1 10p u. mpo -.l lf
,,daiP· m n \t owrnh1 \ P1l'll'lll11.1 \luni ri p ,d """ ' d.1 ,ll11oll'r,1\, Jol\11 ti'ndc> p 1,.
cn , Jrdo:\nh, m~.1h,Htt· d ,11p,u,1 o P,1tqllt>lb irnp11n • . Num prm t• o, bs<>h1tdm1•n1e
110-.11.ulo - ,1l'\ll ' \•ll> qlll' 111ní1111rn ,l n•gi.1 - , \iolt nu p,11,111tcntru , p ,r 1 ,, Pnrqu
() 1'1-tlwli nn ,1dm1111,ttn1,,10 dt· L.u11.1l :111ndi11,1: ah p<'rm.11H·t t' , ,1pt· .u d., pwaç.10
, n1r:m,1
1 1
d1•w11,unH,,01,qu 'po 1pOla o nüo a u•11rn11 cl,111\ ,\-.~11mhh•1,1,·g1 1trh,1
bt:t<lu,1han 1de, 1'.itqlll' D. Pt•drn li r ím pn1,1 o f\uquc • fh1r1p1wr.1 O qu t1t'l -g,•1wr li
1111'il·~111Hln I.Wl\ ito ,,t111do t t.•ntw , ela ru,1 ( ·011,l'llw1ro C..ri,p1111,mn • lm 1,1111h ·rn
P"'uo thirupm•t.i { adn, t•1 llHll\ os orgf10~ publt l º" pr.n ,1lm •ntc•, ~ ,·mr1•·1!i
P">
puhh,1, mstalam -,c 11J lt'gi,\o d,, a\'cntda P,1ufü,tt1ou na rt•Kic1t1 d 1 1wnarl ,1hm 1
lJmn~ n,, tnJr~111.1I tio I io Pinheiro s. Até um ô1gao INkr ,il - como ,1 .1g m i.1 d>
IRl1rl'tn ~.in I',n1lo - ~aiu do centro e !oi p.ua o b,1irro do lla1m
l m B<.•lo l lori1.otHC',o Col(•gio lsnhcla l lcnclri x l,mç ou -.ua pcd, ., f undnm •1,r 1I
nos:ilto, d,t rua 1, p1rito San to, junlo no Palocio da I thl·rdacl · ,. ,m Mm ,1 l cm <lu
ht'.l'lll 190G,qu.mc..loa capital mineira tinha apenas nove ,mo" dt• v1cl,1 (Pr·11n, ') l)
l omol'n1t•ndc1.alias, que já nesse ano, sem que n nova c,tpital ~L·querll\/1''-St', nm -
pk1,1do dr1 anos, o, "ponto s" já cMives~em clnro°', no papel. na "fna" pi 1111~ dt• .1r, n
RI.'i;i Prestigiodado pela vizinhança do palácio? Ccrtamcnw . Míl'i por que o l',1l,1c10
)C: localizo u ali, e não cm outro local qualquer? Sem dl'1vi<lapor ,cr lt1t.1Ialio. ~nud• •
,d rm que se desco ntinuavam belo s panoramas. aspccto"i do ,;,1110valorizados pe -
la!> classe\de alta renda. O conhecimento do mercado e do terreno , por parll' do~
construto1cs da nova capital, eram mais atuante~ que a "1'11a" planta dr Rt•1s \lgu -
ma.,decada::imais tarde, o Colégio Loyola se locnlitou nns bo1d.1sdt' umíl ~lt·b.1qul'
maistarde ~e, ia n aristocrnl ico bairro de Cidade Jardim. ílcm t11He,. port,.irllo, dt• t•la
serocupad:1pela alia burguesia min eira.
l:m Pollo Alegre, cm l 907, insLalou-st•cm ~toinho~ dl' \'t•n10 ,l pb.Lack· corri -
da~ua Pro1rtor.1cio Turf. Heíerindo-se a ela, ob\crv,t Sanhudo · · \t.11, tardl• no,~o~
matungo~tonlll'ccriam o prado do Menin o Deu-., d,t Bo,1\'1,L,1 do, '\;,n qt,llllt", , C'
finalme n1c. o mab nristo crático de 1odos - Moinho~ dL•\'cnlo ('-lanlwdu , 19h 1,27 l) .
fa,e .,mormenciona o local como o bairro que "podL·,1ind,1l'\lb11 .1majP,to,a st •tk
da tr,túiri<>n,11~ocicdaclc Leopoldina Juvenil l' nirn.J,,a t,rndt.1 l ohL·rt., (. do G, ê-
mioN:\uticu Uniao'' (Sanhudo, idem, 227).
fm Salvador, todo um ce ntro govcrnamcnrnl foi ron~truiclo for,, da d d.1dc.
uc
nadireção expansão do s bairros de mai s nltn rrndn , dc,br,wando t•nnrmt•, ârc,1~
ed1spunibilwrndo-as para a especulação imohili,íria .
[ssa produção tão difer enc iada de ec;pa~·o u1bnno ,1p1odu~,10 d ,,..,tora
lizdçôcs convenientes e inconveniente~ paran s hurguc ~ias - se .1uto-1t·lorça,.,
rrcsccntemcntc, embora já se fizesse clara desde o inído do srculo. 1\~sim fot

325
q u • tod, , cnp1ur , rtn lt•1, po1 t•xcmplu , com ,,t 11• 1 ht iri•u1: ia
,,t' em prn-.,c~u11 t umnhn n I dir,·~.1C1qup ,ml1tt tnll
. iandtt
r d n, 1111 r I ur ,, derrrmm,1111c m1r1.11, ) •""" t .Ut11nh,ul,1- 0 sni t> 11,11t1r li•
P,. 1.h I Um , 1.. ungulo II nltn dn :n t>nuJ~,f'uuh 1,1, aqu -.11, d ,s t.• '
ontmua 1 orur1, ndo n ,uw
-
.,,n • e
tll\ ,•l, d 1·H·11,1 ,· 0 111111111u t' anc;11 111d
,
• Sl ()Ili,

• l o nn
~snr 1 O< ui • mio -o n.ts d11,•,;«w,tit• \ 11l \l.u1 , 11,1, th• um l,1<10 , • do \un, j
. clí(·,cc
outro 1 ,n n l,7,•.tn,1gntht,111.1.1handon,11 ,tdlll'c;,,oJH1 ·IPH'nc-1.1lc.lt·crt•st·lntr.11.
lo d nlt. 1 rrnd, t• cnmmh;it p,tr,l dtrl·~nt•s l,ttl,1 \TZ ma1s "'lnra d,• m.m .. f>r,r
· · 1s n. a
hurnu~st rm'Íl'llll nhnn dott.11tl '-li lll ,\JH ,Il i\ l'l t' OCl lp,ll lllll l<W,11 plit no(• ('nt hnrca(lr,
,·m qu. lqlh'T :urntl\ o prndu1mdo ali um Ut' ,t•uc. tn,\1, ·1r1-.tocr~tu os e l<'ndári,,~
hauTo . c11~nn,urc,,m tk l ampo, I li,<•o, o J.1rd1m \mcrir,L Ali. JHOt:llrdndo, <,n .
1
pen .u. folla dC'.111.rn,o, do ,ttio. p romovt•u o p roduçao 1media1.1dl um ambi ·nt.
o mns,. ~r d.tu•! pn-.,1\d
1' r l~...~. nu•,m., r..117to,J-, cJ.i-, ~"al1,1c:;de B •lo l Jori,ontt• q• recusaram a ocu-
p r J>ampulh, . npc,.,r de ,<:'ruma :tr<-ap1odu1.id,1 par., ria .... Pampulha fica "do lado
de 1. • d. 1t''J?tõ.oq\ll' aquela e:;cl,b'-t'" produlirnm pnra s1, n,tn -,o par ..t lins de moradia
m.,, tamh m p,1ra ':\Ua~tompra,, ~crviços e lazer. '
1 m de imprimir a uma d etermina da reg ião geral tia cidade um padrão arn-
hit•ntal e c,(l'ttco me,istcn tc no re stante do espaço urbano, atravec:; da apar~ncia
d ma ...e t:d1í1cio , da arbonlação, da presença maior de praças, etc., as burguesia~
ampl, ntam nl'c:;a região a melhor in frn-cstrutura da cidade. cspccialmemc a, iãria .
1-ma!mcntc• - ct':>um asprcto pouco avaliado-, o C5poçourbano é tecido de tal
fom1 que todo o totidiano daquelas camadas se d esenrola predominantemente
li\'''"' r ·g1ao Cada\ e, mais, o próprio Estado para ela se tran sfere e, ideologica-
nll*llH', l'' n re~ião começa a :,e identifi ca r co m "a cidade" e o restante pas:-a a :,er
,~n nrndo como ~uhürb10 ou periferia e considerado longe, po r mais central que \eJa
un loe.,'11.açãu. Na verdade torna-se longe m es mo . Esses aspectos serão detalha-
dam ntl' abo1dado\ no capitu lo seguinte.

3~6
capítulo 13

Reflexõesfinais

A segregação espacial da s burguesias é u m traço co mum presente em todas


as nossas metrópoles. Trata-se d e um a specto excepc ionalm ente import ante para a
compreensão de suas est rutura s espaciais. É um proce sso q ue está long e d e ser uma
particularidade das décadas recentes e de uma eventua l atuação do cnpilal 1mohl- •
líário ou das le is de zoneamento contemporâneo. Ele vem se constituindo no Brns1I
há mais de um séc ulo .
A segre gação das burgue sia s tende a se manife star seg undo serore-. d e c 1rcu
lo. Nesseaspecto, as diferent es metrópole s encontram-se em es tágios di stinto~ dc~ -
sa tendência . O Rio de Janeiro está, por exemplo, mai s ''a diantad o" - no se ntid o dl ·.
há muito tempo, exibir a tendência de segregação num único setor, a zona Sul En-
tretanto, já teve sua aristocracia segregada a oeste e vimos co m o a um a revira\'ofla
na localização dessa área seg regada correspondeu uma reviravolta no centro d :_ , ci-
dade. Em São Paulo tamb é m houve mudan ça d e direção, mas c m Belo l lor izontc l'
Porto Alegre não. No Recif e, ela está ocorrendo. p or isso sua s conseqüência ;.undn
não se manife stara m pl e nam e nte . A tend ê ncia n co nce ntra ção da s burguc\i,ls cm
uma única á rea segrega da , porém, existe no Recife tanto quanto em qlltllqucr outr,\
metrópole.
Destaquemos o significado de estrutura urban a enquan to um totlo aruculil ·
do de partes que se relacionam, no qual alt erações em uma parte, ou em um<l r ,Ja.
ção, acarretam alterações nas demai s p artes e relações . No caso do Rio, por exe m -
plo,arliculada aos intere sses dos bairros res iden ciais das cam adtts de mais alta renda ,
a estrutura urbana se alterou profundam e nt e; nesse pro cesso se incluíram n po i-
ção em que foi aberta a avenida Ce ntral (na verdade o eixo avenida Central -avenida
Beira-Mar) e o surgimento da Cine lãndia e de uma nova part e "nobre" do centro -
que se deslocou para a região da Praça Floria n o Peixoto . Ali. o m erca d o fez -,urgi1 a

327
( llll'l,mdt,t -., o l , t,Hf l) t'q.iueu n nwm1111enL,1lnrnju11 10 d<' cdilicio~ <.on s till1ído pelo
k,lth) \1 unll tp,1I. ., Hthlioll't.l .1cio11,tl, n l\ lu M.:ll Nado11n l de Belas -Arte, e o Sena-
do '.\,1..-1011.tl() l't'n t10 'L' d i\ idiu l'lll d11.t, fhll lt' 'i. Num ex t1C'mo, s urgiu n parl e po pu -
1,u qm' Clt upnu ., ,llllig.1 ,lll'ª nohtl' , ,lAcn.1abandonada : a reg iao da Prnçn Mauá e da
Pt.1,.1 l n.11.knlt'" No nutro t'\l1t•1110, volt,Hlo parn os n ovos lrnirrrn, n o br cc;;da ílores-
l't ' nlt' :on.t ~ui. -.urgiu a 1w, .1 pnrll ' 11olll't' do centro . l~<:io~e· d eu articu lndamcn te
nm l' nm o ptoc-t.'sMl tk M'g1e~a~·ao q uc SL'illlcioll no nnnl do séc ulo XJX e se acen-
tuou na~ tll'CHl,1!'> !'>l'guinll'" · M'gttndo o qtt ,11nn rlwmndn zona Su l pa ssa ram a se
umu .' lllt,ll c1t·sccn1eme nt<.' .,~ ca111nd,1 s de m ais alta rend a, e na zona Norte, as de
rcnd,1 m.u~ h.11\.,\ .\ t'SM' pron•s s o e s tão nssocinclo s, co m o vjm o'i, a c hamada deca -
dt•nna do cen ll o, inclm,ivC' dn rua do Ouvidor e o d a Tiju ca, e o s urgimento de
Copac .1han .1 lC'dqlOi s do eixo Co pn cabann - Lcb lon) como o segundo centro do Rio
l" de Botafogo como n nova região d e esc rit ó ri os.

\ m nior parte d.is an ~íliscs elitas de "estrutura urbana" ou de "reestruturação


urbana·· feita s atualmente não reve lam essas lrnn sfo m1açõc s. Em s ua vas ta m aio ria
rt>\'?lnm altcraçõc· (ma s não estruturnçno n em re est ruturação ) do espaço regional
e. t'm poucos cé'lsos, apenas alterações do espaço urbano, ma s não de estrutura ur-
b;ma .

O consumo e a estrutura ção do espaço intra-urbano


O es p aço urbano é produzido e consumido por um mesmo e único processo.
A sua est ruturação interna, entretanto, se proces sa sob o domínio de força s que re-
presentam os interes ses de co nsumo (co ndiçõe s de vida) das camadas de mais alta
renda. Como mostra este trabalho, tal est ruturação se dá sob a ação do conflito de
classes cm torno das vantagen s e de sva ntagens do espaço ur bano, ou, como já foi
dito, e parafrasea ndo Castells, em torno da disputa pela apropriação diferenciada
do espaço urbano enquanto produto do trabalho.
Entende-se por dominação por meio do espaço urbano o pro cesso seg und o o
qual a classe dominante comanda a apropriação diferenciada dos fruto s, das vanta-
gens e do s recur sos do espaç o urbano. Dentre essas vantagens, a mais decisiva é a
oti mi zaç ão dos gastos de tempo despendido nos deslocamentos dos seres huma-
no s, ou seja, a acessibil idade às diversas loca lizações urbana s, espccia Jm ente ao cen-
tro urbano . É essa a questão esse ncial revelada por todas as transformações da es-
trutura urbana mostrada s nos casos empíricos anteriormente ex po stos. O benefício
ou o recur so fundamental que se disputa no espaço urbano é o tempo de desloca-
mento . As burguesias produzem para si um es paço urbano tal que otimiza suas con-
dições de de s locamento. Ao fazê-lo, tomam piores as condições de deslocamento
das demais classes. Quanto mai s o centro se desloca para o quadrante sudoeste de
São Paulo, mais longe ele fica da Penha ou da Vila Matilde. Quanto mais se desloc a
p ara a zona Sul do Rio, mais longe fica da Pavuna, de Nova Iguaçu ou de Duque de
Caxias. Quanto mais se desloca para o sul de Belo Horizonte, mais longe fica de Ven-
da Nova. Quanto mais se desloca para a região do Iguatemi de Salvador (e para o

328
CentroAdministrai ivo!). mais longe fica do Bonfim e da Ribeira. Ao produzir um
sistemaviá1io ndcquado ao lransportc individual. o Estado aumcnla o desnível en-
tren-.condiçf>cscl • trnm,po1le individual e colclivo, aumentando, assim, o desnível
entrea) roncliçoc•stle deslocamento das classes ~ociais,melhorando a acessibilida-
dede uns (ou sPja, suas localiznçõcs) cm detrimento da de outros.
Em que roncliçno os indivíduos entram naquela di<iputa?Eles o fazem en-
quantodassr~ sociais htlnnclo pelas condições materiais de sua sobrevivência, em-
bota tais condiçol's ~cjam definidas na csfera da produção. Asclasses sociais dispu-
tamaquele tlomínio e as burgucsias são as classes que mais conseguem exercê-Jo.
Comonf1rmnl larvey ( 1993, 212), ''o domínio do espaço sempre foi um aspecto vital
dnlutatlc c:lnsscs"./\s~im, a lula de classes pelo domínio das condições de desloca-
mentoespacial consiste na rorça determinante da estruturação do espaço intra-ur-
bano.Nemsempre as burgucsias procuram o "perto''em termos de tempo e distán-
cin.Àsvezes elas se afnstam na busca de grandes lotes e ar puro, por exemplo, mas
mesmoquando isso ocorre há limites para esse afastamento. Nesses casos elas pro-
curamtrnzrr parn perto de si seu comércio, seus serviços e o centro que reúne os
equipamentosc.lccomando da sociedade - e isso não por razões simbólicas ou de
status, mas pela rnzão muito prática de que elas o freqücnlam intensamente e nele
exercemmuitos de seus emp regos. Revolucionamo centro principal, produzem ··cen-
trosexpandidos",o "seu" ccnlro e o centro "dos outros". A pulverização dos novos
centrosmetropolitanos, observada em metrópoles como Salvadore São Paulo, nada
maisé do que a manifestação de expedientes das camadas de mais alta renda para
trnzcrpara mais próximo delas (no que se refere ao tempo) os equipamentos de
controleelasociedade, seus empregos e seus serviços e ao mesmo tempo produzir
centrosmais adaptados a seu meio predominante de locomoção: o automóvel. Esse
novoespaço pode ria resultar da remodel ação do antigo, como já ocorreu no passa-
do. Anovn mobilidade territorial, todavin, permite e requer um centro totalmente
novo.Dissose aproveitam os interesses imobiliários na sua constante tentativa de
encurlara vida dos produtos imobiliários. Surgem daí os centros novos espacial-
menteatomizados.
Asindústr ias lambém entram nessa disputa. Suas localizações dentro does-
paço intra-urbano, entretanto- e ao contrário de suas localizações no espaço regi-
onal-. são determinadas pelos inleresses de cleslocamento dos capitalistas, dos
trabalhadorese pelos interesses das atividades terciárias e da habitação. No espaço
1mra-urbano,as indústrias disputam suas localizações por meio de uma luta total-
mentediferente daquela que travam quando se trata do espaço regional. Uma vez
decididoern que cidade a indústria vai se localizar, quando chega a hora de decidir
a localizaçãoi1Ltra-11rbana,as indústrias passam a disputar localizações com a resi-
dênciae com o comércio. No tocante às localizações intra-urbanas, todas as ativida-
des- por mais distintos que sejam seus requisitos locacionais- têm um interesse
cm comum: a acessibilidade ao centro. Esse interesse na centralidade é a própria
razãode ser das cidades como organismo espac ial. Sem ele, as cidades não existiri-
am. Portanto, por mais difcrenl es que sejam - como de fato são-, os requ isitos

329
hh ·.u wn,ll:-. d,, tl', idt.• 1wi,,, do M'cund,i1 io t' cio terciário, lodo s di sr111am pro ximidn -
,h, n•t11w lll ll,\l\o, nw :-:111
,10 0 qul' se localizem na mai s longínqun perifcrin . Nessa
d1~p\lt,1 pd.i .i<.T s:-.ihilid,,dl' ao ce ntro, .1in<.ilístri a perde pnra o comércio, que ganhn
pn1 :--u,1 \l ' t ns Jhl11tos dl' accssihilidudc.· d ti11i:1. Súmentc até certo ponto a locnlizn-
\•to d,, ._mdu st 11.1 ~ l' t '\'. lL'I n,11nrntr dcLC1 minntla . Escolh idn cidade o u metrópo le c m
qlll ' .1 md11:-.tt i.1v.1i Sl' i11s1:1lar, ,t distúnci.1 no s ~u ce nl ro pa ss n a se r dcc:h,iva, se ndo
,u.1 lnt .d11,1~·.1l>det c rmin,td ,1 por força s intrn -urbnna s.
1-~--1·11,tl>.llhot<.·I1tnmo strar exarnmcntc ess as di sputa s e se u pap el na estru-
,1,.10 dn l'Sp,1,·o i1111
t 111 :1-111bano . /\o fo7(·-lo, rnost ra, entre oulrns coisas, qu e a luta
fH'l, t lnc.di1,11.
;,w L'llltl' as r lasscs sociais(; umn luta cm torno de condições de co nsu-
rnn. 11.10 l'lll tnrno d<' nmcli~·ôcs dr produção.
\ 1es pl'i10 tkssn condusão, nlguns rsclnrecimcntos se fazem nece ssá rios para
n.,o d,11 m u gL'lll n.mal -cnt cnclidos. Não s e afirma que são os intere sses do co nsumo
qttl' mm t·m o pnwe sso de urbani znçào . Não é esse o proce sso anali sado nesta obra ,
r mno p1ocurnmos deixar claro desde o início (veja o ca pítulo 2). Em virtude disso,
n,10 l' tH1.1mos f'tll qul' stõe s como n co locada por Lojkine (1981, 122): "Não co nside-
r,\I ,1 ut balli 1.ic;fio clemcnto -chnve da s relaçõe s de produção, reduzi -la ao domínio
dn ·cnn:-unw ·. cio 'nüo -1rabnll10' opor reprodução dn força de trabalho - pela urba-
ni1,1(,io .1 di spcndio do trnb nlho vivo - na empresa- é, ao contrário, retomar
um dos tl'mn s dominantes da icleologin burguesa segundo a qual s6 é 'produtiva ' a
:1tivid,1cJrde produção dn mais-valia". Não ne gamos a tese de Lojkin e (1981 , 123), de
,wordn roma qual ns cidade s se enquadrariam nas condições gerais de produ ção (a
··ronn•mrn,,w cspncinl do s meio s de 1~rocluçãoe reprodução das formações socia is
rapitalistas"). nem n de Got tdicncr , segu ndo a qual as cidades sã o uma força de pro-
du çüo (1987. 405: 1985, 268). A cidade, a red e urbana, o espaço territorial, enfim, são
forças de.• pro<luç:'io . O csµnço intra -urbano, no entanto, é est ruturado so b n domi-
11dçflo do s interesses do consumo, e nisso não há qualquer contradição. Reiteramo s
então qul' n•gio11nlé o espaço estruturado pelo deslocamento de matérias (enquan-
to ca pital nwr ca doria, cnpital co nstante) e de força de trabalho enquanto capital
v,ir i,wcl. Urbano é o espaço estruturado pelas condições de deslocam ento da força
de trnbnlho enquanto tal e enquanto cons umidor a (deslocamentos casa-escola , casa-
compra s, cas a-laze r e me smo casa-traba lho ). Isso nada tem que ver com a afirma-
~·flo de que regional é o espaço onde se dá a reprodução do capital, e urbano aquele
onde se dá c1 reproduç ão da força de trabalho.
Procurand o a especificidade do urbano , declara Caste lls (1978, 279-280):
''Ahora I.Jicn,entre los cios elernenlos fu111damcntales <lclprocesso econômico- los
medias de producci ón y la ruer za de trabaj o- la búsqueda de una espccificidad dei
primero remit~ mu cho má s a lo que se ha llamado los problema s regional es. (...) Por
lo contrário 'lo urbano ' no s parec e que conno tn dirc ctam e nte los proce ssos relati-
vo~ a ln fucr zu de trnbajo de mod o diferente que en su aplicación directa ai proce sso
de producd ón". Mni s adinntc, pros segue o autor: "Proponemos la siguienle hipótesis:
en las soc irdadcs capitalistas avan zadas, el proces so que estrutura el espacio es el
refere nte a la reprodu cc ión simplc y ampliada de la fuerza de trabajo; cl conjunto de

330
l,hprácticasllnmadns ut hann" conno lan l;i nrt iru lnt i6n d"1 p1occ•,,11e011"' r·,11111111
tddC la cslluctur:1 socinl. (...) Las 'unidades urlmnn .\' lg1i lo 110-.,01 wr 1,111 ,•111•1p111
cc~ode rrprod ucrion lo que ln~ cmprcsn!-t so11 <.'11l'I prot t'"''"d(· prnd\ll e11111., 011
talde no pensarias lan solo como lugarr~ lil.ílicos ,w 01 igi11cill ""'°1 crnH1, .111-,.1 tJ,.
rfrcw-.cspccílkos sobrr ln cst ruclllra socinl". Nu'> palnv 1a, de•<,011dw11c·1 . ''.1i..~u11.
paraCnstclls, o urbano é n unidade espacial de 1t'pmch1~'.tn d., lrn \" de• 1,11ll,dll11/\
produção do ambiente co nstruído ocorre at rnvcs do p 1m r,..,11 pc' lo q11,1Io e <HIJ1111r,,
inteirodas estruturas EPI (econom ia, política, ideo logia) o11inlla •,t· t 11J11<'~~.1 1111l -
uadccspacial"(Goltclicncr, idem, 118).
Essapolêmica não se refere à es tntlurnçé1o do C!-,pn<;oi111rn111hn110 , d,• q1w
tratamos aqui. Ela ~l' refere hs cidades enquanlo "u nidade!',11rlmm1< l rntn cl<>pio
cessode urbanização e elemen tos do es paço regional. Ao lalnr Pm "prm ''""º q11r
es1ruturao csµnço", Cnstclls não está falando da cstruturn inlrn 111hana1,il < rm10
concebidanesta obra. Por outro lado, quando procura a <'<; 1wrilicidacl<· cio urh ,urn ,
esseautor está tratando de uma q uestão totalmente dil'rrcntc da inv r...1ig,1ç:H, da
csmnuraintra-ui bana.
Cabe ainda destacar- e nisso parece haver consenso qul' CJ<;t,,in..,porlt·
desempenhamum papel fundamental na estruturação do tcrritô1 io. l.11t1c •tc111to. o
papelpor eles desempenhado na estruturação intrn -ur bana é lolalrrn•nH • d1sun10
daqueleque desempenha na estruturação regional. Hcconcnclo ~s conlwnd.t'> n,
locaçõesde Marx,só no espaço regional a "indústria dos trnnspon cs con..,111uirnnw
aulônomo da produção( ...) e( .. .) singulariza-se por apnrcccr como ront111uaç,w d<. •
umprocessode produção delltro do processo de circulação e pam o pio u •,-.o tk
circulação''(Marx , s.d., Livro 2, 155, grifos no origina l). No nível intra -urbano , i~11,o
nãoocorre.Marx, aliás, como a maioria da economia políti ca urlrnna e I cgionéll u>11-
1cmporõnca, ignora ou negligencia o transporte int ra- u rbnno ele pnssogeirns . l·!-,,t <:
oprincipal elemento estruturador do espaço intra -urbano r, ao conti:írio do t r.,ns -
poneestudado pela economia polílica trndiciona 1,singulariza-~c por '>Cfpar ll' rnll'
grantedo processo de consumo dentro do processo ele circulação e 11orr1o p1m:L•sc;o
decirculação.
Marxnão chegou a penetrar na questão da terra urbann 1wm nn dn lurali1.a
çãoda terra; quando fala em meios de transporte tem quase Sl' lll)H(' cm nwnll· <>
transportede carga, na esfera da produção e no cspa~·o rc-giorrnl. TcVl', cnt1e1,111to,
scms1bilidade suficiente para chegar muito próximo do rcconhcrimcnto ela localii'n-
çãonasesferas regional e da produção, como valor ele uso produzido pelo trahnlho
social.''Os meios de trabalho propriamente ditos (...) não podem c•ntra1no nmsu
moindividual. pois não entram no produto, no vnlo1 de uso qu e ajudam a produzir ;
pelocomrário, mantêm perante este sua figura autônoma nté completai ~cu de s-
gaste.Osmeios de transporte constituem exceção. O cícilo tHil que gt ra111d11rnntc•
1

!>Uafunção produtiva, durante sua estada na esfera dn prnduçao, a mud,trn;a de


lugar,entra simultaneamente no consumo individual, do vinja11tr, por rXl'111plo .
Estepaga sua fruição co m o a de q ualq uer outro bem ele consumo (s.tl. l.iv, o 2, v. :t
166)."Marxconsidera os meios de tra nspo rt e um meio de trnboll10 que ajuda a pro

331
iuzn um eteno l\t 1I- u \ ,1lor dP u,o - u que c-k-c.hama dr 1111u l a11ça de /11,:ar.q ue
ourr" ..,01,a n. o e l'U. o alncnl1:: u (, 10. F~11 "il' nec;e..,"-<ütntr ,rn s po 1 C!'.~t· 1c1
c iodnin para
O ti<n, pnrte llllr,l - llíl ano dt• p 1-,-.,1gt."UO-.
, <on lu , õp , tambt m n.,o 1mplllam un1.1 ,C'par.1çJo t•11tn. • a produ~ a o r o
con ...um•, . \ h, , . se h,l ca,o t'm qu l'. <.l;.1h.\11H'lltt •. p todu ~,to t' c on ,;umo c;t• 1·on tun -
dcm t prc-l 1 a rncni t' o f"n•.c,do t•,pa~·o. <,httllHlo um 11nlu'>tri a í' r on stru(d,1 , h á ao
me,m o temi co n , umo (nrio , 6 d r tNr••nn, lll t\-. de todo n (''- p,1ç o u rb ano ) e produ -
' o (I dem ) () n w ,mn Ol or ri• quc1n d o w rc,for111.1um,1 a nt ig n man!'t f10 e
fio d~ c> p :1<,
nd:t sl"' mstn l,,. por l'Xt' mp ln . unM e hmr,1 ; qu;m d o '>l' con"troi um -.hopplng e cn tc r,
, ri n1 1... uma praç ,, '-l implanta um.:i red r de l''igoto ..., o u q u ando o..,t• lo1c-1au m a
glcb . . F não ~e t'n n fu nd .1 t•,pn\O com r~rre n o. O c-;p aço q ue ~e p r<,d u1.e cnn ~omc
e muno nuns qut• o cio terren o. I' o ele toda a m clr ()po lc. me s m o q u e npcna c; um
m1hfm~,mh dda st•ja .iltcrado . po1" cl,.1e um to d o (um a est rut ura é. ante~ de tudo ,
um todo ) c-0 1 , utt11d o d<' milhocs de m ilio nés im os . Q u a nd o se co n strói u m c di fído
de np , rtnmt i 1.11, ou um,1 c-a-;inhn o perá ria na p e rifer ia, o es pa ço qu e c s lá sen do
produ zu1o f' con ,u m1do e o da tot a lid ade da cid ad e.
1an 111, l 9f-l2. lb 9 l aborda a qu esUi.o cm te rm os n ovo s e int crcc;sa nt c s, sendo
1mpo~,l\ t"I 1gnor-a-lo Cham.rn d o a at e n ção para o co n sum o e nqu anto con d ição d e
rcprodt11.;Ao dn 01 "d e tmbalho, ele tra n sfe re o d e ba te para o mai s aJto ní vel da ec o-
nom ia pohuca ao a firmar. Q ua nd o finalmente os es tnaurali s ta s- mar xis ta s o lharam
pnra o prohlrm .1 t.io e~paço e les trouxe ram con s igo sua con cepção re du cionista de
·man.., , 11,0. De um lado colocnra m a p ro du çã o e reprodu ção de m e rca d o rias (me ios
de p r )J ução r co n,umo ) de n tro das planta s indu stri a is e da s re gi ões . De outro. a
rt·p1•tJt .".ío da forc a de traba lho (co nsumo ) foi localizad a na s cidad es (Ca s te lJs, 1977).
impltc1dadc t o apelo do esq ue m a é ev ide nt e, m as tamb é n1 o são s u as pr in ci pai s
Junitaçõe~ . e o rno po de o co nsum o re produ z ir a fo rça de trabalh o? [gri fo n os soJ.
Ct"'J1amenc~ ele:p od e repro du z ir se res h u m a no s, m as para qu e es te s seja m transfo r-
m, do, cm t ra b a lho é ne ccl:ts á rio pro d uz ir, con s lantem c ntc , a s pr c-c ondi ções do
imperat1, o d ..t relação cap itali s ta. Em res um o, é ne cessár io re produ zi r as relações
~oc1ai~ dr p rod uç a o • Sim , não h á d úv ida de qu e para tran s form a r indi víd u os em
for(a de· truualho é m· ct'\:, jrio rep rodu zir as rela ções so c iai s de p ro du ç ã o ... m a s essa
rc:- pr0c."uç 10 precisa coma nda r n p rodução d e Lo d os os ní ve is e s p acia is e e m cada
111,el { ,p 1ciul. n .., rcg1ao, na met ró po le, na p e rife ria, no b air ro, na qu ad ra , no lote?
'\ l t L· ~t que a n 111t.1de '.1arti no.., ~e dir ige fi id é ia d e Ct1s1c lls d e loca liza r a p ro d ução
t.' rl.·pro<.J
rn;:.io elo t a pual cm rcgíõe~ e a produ çã o e reprodu çã o da for ça d e tra ba lh o
n a ..,cid a de-. I,,o n ada lt'm que ver com a id é in qu e d e fe nd e m os. Tra ta -se d e sa b e r,

·· \\11ê0 fmall) , ,tr\ll t uml -ma.rx1, t, loo l l d 101hc probkm nf -.pace th l'y bro u g ht v.ith th em th cir rc tluclinni st
con n: pu o n <>Í marxi ...ni . On th t'<Hll' h ,md th ey-. c•t 1lw p1nd11c tlnn .rnd re p1ocJurtio n n í c-om m od ll il'.<;(mcau ~
of prlJ' luc:11011. ncJlOthump11un ) \, 11h111and u -,t ri,tl plJnts ,md rq ~lon s. 011 1h c ot hc r thc rcptodu c tinn of Lhe
tnb o ur tor ce (lurt um p uon ) \\!.1, ln,.1 11•d 111, 111t•.., (( ,l'>IC'lb , 19771 1 hc t,11npltci tya m l app e a l nft hes dwm c L"
e.'idc11 1 hut ,o nw II m.11or <.hmrn,m 111w,1{ow L.t ll cun , u m p11on rcprotlu ce th c labour f oru11(t;1 iío noc;sol
C-.·r1 mlv II can n-pmd uet· h u m .:in h 11 in~s. but fo r thc, c 10 hc tran sformcd ínt o labour il i,; ncu .·si.ary 10
proc.Juc:c. U\'l'r an d m,· r. lht• p rt'umd ttions lur the impcriou c;11~ 'i nfLhc cap ital relJ Lion ln s h nr l il il. n ccc \.,ary
tu rcproducc tlw ,ocu l rd ation, u í p1o úu c 110n ~

332
1\~ l\fl', t'IIÇ,1 dP, ,\l t,l:- fo1 Çcls, qu.d domin.u l' em que processo . O que JHl'·
LL'tHfr ,\
h'l\lktmlsl qttl' o~ inh.'ll'S'l'S do en nsumo domi1wm o prorcs,o ele ,·slrtll11mçar,do
1

1•,p.1~1,mt1,1-t11h,tno \JWl\,1' i,so.


\q111rlwg,mh>s .w t'\tn• nw do clcbatt• Umn oh<;crvnção supcrfiric1I é !->llli-
,·,t·nlt' par.,h11ul,111wntat ,\ hipott'sc de que n disputa prln._ locnlin1çõcs urbana,
m.11,1'()Jl\1•ni1'lltl'!-. 1wia ., olimi1ar tempo dL'dcslocnmcnlo e cncrgin-é
,l ll 1Hl<.·
1

m1i.tl'.tr,Kll'rt-;t1r,1 ina1.1do, -;ercs humanos. 011seja, c•xistt' cm toda s ª" forma ções
~lld,11, . FMpallL' do il\-.tint0 humano . Não se deve ente nder que is-;o, ele a lguma
ma1wir,1 , l'lilllitw.1 histori., dt•ssíl disputn - muito rwlo con trário. Ousa 11doretocar
\l,tr\t' rngds, di, 1nnms q11t' t' rwccssn rio" lrmbrnr a existência eleum primeiro prcs-
,upn.rnth' toda,, L'\hHt·m·inhumann e•portan to d e Ioda n história, a snbcr, que O$
htimrnsdl'\'t'm t•st.1r L'lll cnntliçoc•s de poder vi ver n íi mele 'fazer his tória'. Mas para
\IH'I r nf't 'L'sg,11iú nntes tk mais nada beber, comN, ter um lcto ond e se nbrigar,
\t',ttr-sr. t'lr . n primeiro fato histórico é pois a produçã o dos meios que permitem
:-J1i,;f;11rr l'~~:1s nc'l..·c-;sidndcs, a produ ção da próprin vida material; trata- se de um
tawhbtorico.dl' uma condição de toda a história, que é necessário tanto hoje como
h,1milh:m·~de anos, executar dia a din, hora n hora a fim de mant er os homens
rno,:l\1ar.;l' Fngcls, s.d .. , .. l, 33). Enfim, pnrn produzir a própria vida material. os
homl'íl'-prl•risam trnbnlhar. Fazem-no, cntrctan to, procurando gastar o mínim o
posmelde suag energia e de seu tempo. Deve-se destacar, porém, uma diferença
,1talemreo dispendio de tempo e o de energia. A ene rgi a é recuperáve l e até me smo
am1azcnavcl. O tempo não. Daí a iníluência predominante do controle do dispên-
diodetemµo de deslocamento .
A disputn pelr1s locnlizações é uma di sputa peln otimização (não nece ssa-
riamenteminimiznçfio) dos gas to s de tempo e energia./\ segregação e o controle
dotempode dcslocnmcnto dos indivíduo s que e la possibilita são decisivos nessa
disputa.No cntnnto, os hom ens nã o disputam enq uanto "indiv íduos", mas en-
quanto classes, e essn disp uta determina rá a estrutura inlrn-urbann em qualquer
modode produção - não apenas no capitalismo - e cm qualquer soc iedade de
classes. scjn nn mct rópole contemporânea, na cidade teocrática do México pré-
colombiano, seja na cidade hi spano-americana sob o domínio das Lcyes rie las
Jndias. Emtodas elas, as condições de deslocamento dos seres humanos são de-
c1s1\'asna eslruturnção do espaço intra-urbano . Se na metrópole norrc-am erica-
nacontemporãnca (nn maioria delas) as burguesias ocupam os subúrbios, isso se
derce,atamrnte às con dições de deslo camento ln prevale centes. Uma desc n\'ol-
\ida rede de vias expressas cob rindo o espaço urbano e uma alta taxa de
motorização tornam o espaço altamen te homogêneo, quase neutralizando o "atri-
toda distância".Assim, as condições de deslocamento é que pos sibiliLamo afas-
tamentodo centro. Não é possfvel. porém, prescindir de um centro. Sem a atra-
çãodocentro, a cidade se evaporaria, como o é ler de um vidro desrnmpado. Note-se
aindílque, numn metr ó pole com as possibi lidades ele mobilidade espacinl como
asnorte-americanas, o centro é o pior lugar para se morar : é o loca l ond e o auto -
móvel tem maiores dificuldade s. No centro, depend e-se mais de tra nsporte púb li-

333
co e, numa ~ocicda d<.:d ominada pelo automóvel. a pior locnlização é aquela na
qual a dependência t'm relação ao transporte público é maior.
;\~ condições de dcslocamcnto dos indivíduos se inserem na esfera da sua
rPproduçào e, no contC'xlo aqui de senvolvido, na reprodução das classes sociais e
nas suas condiçôrs de dominação e s uh ordin açüo.
Vimos no item c.ipítu lo 4, seção ''Localização, vn lor e preço da terra urbana",
que hü clnis valores a considerar no espaço urbano. O primeiro é o dos produtos cm si
- os edifícios, as ruas, as praças, as infra-estruturas. O outro é o valor produzido pela
nglomcrnçJo. dado pe la locnli::.nção dos edifícios, ruas e praças, pois é essa localização
que os insere na aglorncra(ào. A localização se apresenta, assim, como um valo r de
uso da terra - dos lotes, das ruas, das praças, das praias-, o qua l, no mercado, se
traduz cm preço da terrn. Tal como qualquer valor, o da localização também é dado
pelo tempo de trabalho socia lment e necessário para produzi-ln, ou seja, para produ-
zir a cidade inteira da qunl a loca.lização é parte. Moraes e Costa (1993, 135), em exce-
lente investigação, cha mam a localização de va lor do espaço e também de
espaóalirlade. Essa espacia lidade, enq uanto "ine ren te à produção de qualquer bem,
vai manifcstar-~e também cm seu valor 11nal.Essa parcela do valor não é representada
pelas matérias-primas ou uma força hidráuli ca, etc. ou quaisquer outros componen-
tes brutos do processo de produção (prédios, m aq uina s e a própria força de trabalho
[ a que eles chamam de valo r no espaço]). Ela manif esta-se, isto sim, enquanto fração
não diretamente contab ilizada no va lor real do espaço cm que se realiza. Ela é, funda-
mentalmente, uma parcela do valor final qu e não decorre de um produto, mas de
uma condição !grifo no originall. (...) Dessa forma, se deduzirmos do valor aquela par-
cela representada pelo espaço enquanto co ndi ção de produção e exam inarm os as
suas partes componentes, chegaremos ao va lor do espaço e ao valor no espaço". A
expressão "valo r no espaço" corre o risco de levar a uma interpretação do espaço como
tabuleiro e n ão como objeto de ualorizaçiio que os autores tanto destacam. Resta ain-
da por desenvolver as conseqüências de o fmto do trab alh o ser uma condiçao. Certa-
mente o espaço territorial produzido (ou a espacialidade) é condição de produção e
força produt iva. É, entreta nto, tais como os edifícios e rua s, fruto do trabalho huma-
no, embora com características totalmente distintas. Infelizmente, a tese- e especi-
almente suas decorrências - não é desenvolvida.

A segregação e o controle do espaço intra-urbano


Para Martins ( 1982, 170, ana lisando Lefebvre), com o desenvolvimento do
capitalismo, o espaço n ão é m ais "the mere territori .alisa tion of social relations or an
instrumcnt for their organisation. Space as a whole becamc both, a product and an
instrnment for rhc reproduction of the re lations of production". Nessas re lações,
destacam-se as de dominação. Como pode o espaço tornar-se um instrumento <le
dominação? Grande parte desta obra é dedicada a respo nd e r a essa p ergunta.
Como vimos no capít ulo 3, parte do processo global de segregação metropo-
litana é a tendência de a área de maior conce ntração das burguesias absorver as

334
-
camndasnlln::,das dcmai · cidades constitutivas da área metropolitana . Assim, as
famíliasdas camada-; acima da média de San lo André (São Paulo), de Nova Iguaçu
(Riode Janeiro) e de Novo l lamburgo (Pono Alegre) começam a sentir que moram
longee em locai-. fora ele mão e tendem a se transferir para a área de segregação de
seus"iguais",pois nli é que 6Crta o "seu lugar".' Nessa~ cidade5, as camadas popula-
rescrescem com vclocidndc maior que as médias ou médias altas. Essa absorção
consistenn destruição, pela metrópole, da estrutura própria des~as cidades e na sua
transfornrnçãocm conju nto s de bairros com grande homogeneidade socia l - as
cidacles-suhúrb10s.Em geral, elas tendem a se lrnnsformar cm grnndes conjuntos
de bnirros predominantemente populares com participação proporcionalmence
pcqucnndas burguesins. Por mais que cresçam, cm termos absolutos, sua popula-
ção,seu comércio e swi riqueza integram-se cada vez mais ao padrão de segregação
dnmelrópolccomo um todo . Vimos como elas tendem a perder as características de
cidade(diversidade) e :idquirir as de bairro (homogeneidade). já que se integram ao
padrãode scgregac;ào e à estrutura da metrópole, ou seja, tendem a tornar-se ele-
mentosda estrutura maior .
Emalguns caso~ - o mais notável deles é Jaboatào dos Guararapes, na área
melropolilnnado Recife-, o município merropoliLano interpõe-se precisamente
na direção de crescimento da área de grande concentração das camadas de mais
alta renda e tende a tornar-se, ele próprio, um subúrbio de ricos, eventualmente
destacadode sua sede municipal tradicional.
Enfat1znmosnas análises anteriores que o padrão espacial dominante da se-
gregaçãoé segundo setores de círculo, e não segundo círculos concêntricos. Isso
ocorreporque o pndrão por seto res possibilíla melhor controle, pela classe domi-
nante,do espaço urbano do que o de círculos concêntricos, uma vez que permite
controlarcom mais eficiência os deslocamentos espaciais, o mercado imobiliário, o
Estadoe n ideologia sobre o espaço urbano. Por outro lado, o padrão de segregação
destacadonão é aquele que se dá em bairrossegregadosdispersos,mas o que se con-
cretizade acordo com as grandes regiõessegregadasda cidade, onde os bairros das
camadasde mais alta renda se aproximam uns dos outros. Com o tempo, os bairros
residenciaisdas elites vão se aglutinando numa mesma região da cidade.
Ascamnclas de mais alta renda controlam a produção do espaço urbano por
meiodo controle de três mecanismos: um de natureza econômica- o mercado, no
caso,fundamentalmente o mercado imobiliário; muro de narnreza política : o con-
trole tio Estado, e, finalmente, através da ideologia . Sobre o primeiro controle - o
do mercado - versa a quase-totalidade desta obra. Afinal o que se mostra nela é
comose constituem os interesses espaciais da classe dominante e de suas satélites e
como,por sua vez, elas comandam o mercado imobiliário conforme esses interes-
ses.A esse respeito cnbc reiterar as conclusões a que chegamos no capítulo 8, seção
"BeloHorizonte",~uscitadas especialmente pela análise de Belo Horizonte : os ca os

'A uhra de·r..c1imh1n e 01~i11i,Q.ç emr,gcntes dn IJarm, mostra como ns fomílins rcccm-cnriqucr,das dos
~uhürl>los
cio H10:;e Iram.ferem p.iru a 13arr.ida Tijuca.

335
Jns cam,1dns de :1lt,1renda de Belo I lorizonte - tanto ai; que se cspr<.'mcmcontra a
SN1,1 eomo ns dP J\1mpulhn - , bem como o do Jardim América cm , ão Pnulo (num
p,'\nt,rno). mostram que os fones interesses dessas camadas fazem com que elas se
npcgut~mcom inc1i\'cl obstinação n urna determinada direção de expansão tcrri1orial .
E:-sa direção dificilmente é nb~rndonada, mesmo quando sérios obstáculos e
opõem n ela, ou quando c!Pixam de existir os atra livos iniciais de paisagem qlle a
determinaram (como no Jardim J\mérica) . Que intcres<;es ou forças sno esses? Como
ncuam? Pnr que a hllrgucsia pnuli stn na ocupou os pântano~ da vnrzea do rio Pinhei-
ros, totalmente sem atrativos? Por que a burguesia mineira nno abandonou sua di-
reção de crescimento? I~ o capital imobiliário qu0 define aquela <lireção de expan-
são lcrritori,tl? Em caso afirmativo, por que escolhe determinada direção, e não outr.:i
qu<-11qucr?Pro · cguem as concl usões: i1 rnzào está na teia de inter-relações espaciais
que se dcsc 1wol\'e (recorde-se que estamos analisando uma estrutura), acentuando
cada \'eZ mais uma "ama rração " entre os diversos bairros (os das burguesias, no ca ·o),
e outros elementos vitais definidores dos de slocame nto s espaciais, especialmente
os locais de compras, serv iços e empregos - como os centros principais e os
subcentros Savassi. avenidn Paulista, avenida Faria Lima, marginal do rio Pinheiros
-, e todos os locais de emprego, comércio e serviços (shopp ing s, escola das crian-
ça , médicos, bufês, restaurantes, dentistas, salões de beleza, clubes, etc. ) que defi-
nirão os deslocamentos espaciais daquelas classes. Abandonar a direção radial sig-
nifica piorar a acessibilidade.
Vamos \'erificar a seguir como se manife sta o controle das camadas de mais
alta renda sob re o Estado na produção das localizações intra-urbana s. A ideologia
erá analisada no item seg uin te.
Quanto ao co ntrole do mercado jmobiliário, mostrou- se, por exemplo, que as
áreas onde tendem a se segregar as burguesias interagem com o centro principal.
fazendo co m que este se transforme e simultaneamente se desloque no sentido em
que o fazem aquelas classes, revolucionando-o seg undo seus int eresses e produzin-
do os centros expandidos ou os novos centros. Tudo isso se dá articulada e
concomitantemente com a reprodução dos bairros residenciais das burgu csias. As-
sim , a segregação não se limita às áreas residenciai s; vimos que também as áreas de
comércio e serviços são segregadas.
O controle sob re o Estado também se dá através de três mecani smos: o pri-
meiro é a localização dos aparelhos do Estado, já desenvolvido nas análises históri-
cas precedentes. Mostrou-se que tais aparelhos seguem os percurso s territoriais dos
camadas de mais alta renda, da mesma maneira que o comércio e os serviços priva-
dos. Suas locali zações se comportam exatamente como se estivessem sujeitas às leis
do mer cado. Supostamente, a localização dos aparelhos do Estado não deveria estar
s ujeita às leis do mercado.
O segundo mecanismo é a produção da infra-estrutura. Já vimos, no cnpítulo
8, seção ··oséculo XX",o depoimento <le um funcionário da repartição de águas do
Rio de Janeiro na década de 1920 sobre fartura do abastecimento nas zo na s ricas da
cidade e sobre a escassez que "martyriza as zonas sub urbanas e pobres". Em nela

336
Horizonl(', nos anos 70, o órguo m el ropolitano d • plnm·Janwnto luzi,1salw1 qu1•",,
distribuição llc invcstimrntos cm i11lrn-cst rui u1a urba11,1e·dc·c;igwtl,M·mln 1,l'tH'f1<,
adossistcmaticnmcntc os bairro~ <lc maior pc1clrno,qlH' por v6r io', m<>Iivo•, < 011-.,·
guematrairos investim entos p1íhlicos" (PLAMBI:1,, c;.d.,v. l, e;1). 1)C'poi«;d1·1pc.,-.allnr
queosestratossociais nrni -; nltos de Belo l 101izonl <'<onrcnll,líll <i<'no \ UI cl.1,idad,•,
0mesmo relatório nfinrn,: "Ou l roda do que mc,c cc cll'~taquc é a or1>rn·11cin cJp(,('í
v1ços de infrn-cstrntuta reprcsC'lllados pela pavimc11ta<.:r10 da<.ivins. No M•tor ">uicl~,
mlade,esse índice e~lrns t:rntc nlto (53,39% elas vias sao pavinwntadn -;),flJH<'<i<'11taI1
dogrnndcdefasagem com os outros eixos de crescimento cln riclncl•, o qu (' 1<·ílr1r •a
distribuição distorcido dos investimentos público s c•minfrn -t~ t rnt11raurb,rnn". A ohrn
dcVcttcr(l975 e 1975n), ele Vcttcr & Masscnn (198J, SB)e de.:V<·ttcrct nl. (J<JUl,S),
utilizando-secio amp lo concei to ele renda rc.1I (" real in com<:") clcl\cnvolviclo por
Harvey (1973),mostra n desigual atuação do Estado no espaço urbano e na produ -
çãode melhornmcntos públicos, ao analisar o caso cspccíl ico do ílio <icJaneiro.
Numannálisc mais recente so bre distribuição espacial ele inw! stimento~ pt'tblico..,
tambémno município do Hio de Janeiro entre 1938 e 1965,nllrmn-sc: "Comparan -
do-seosinvestimentos de cada zo na por período ndm inislrnlivo, podemo s i<.lcntifi-
cardoismomentos diferenciados na produção da inírn-cstnllurn urbana; o prim ei-
ro,quese estende ele 1938 a 1954 (correspondendo no período que vai do l~-; tado
Novoao segundo Governo Vargns), cm que se observa certo equilíbrio ent re zona
Sule subúrbios, com o cent ro cm segundo plnno; e um segu nd o momento, que se
estende de 1954a 1965 (correspo ndendo ao período que vai do Governo JKao Go-
\'erno Lacerda),cm que esse equilíbrio será rompido, cm certa mcdícln, com a
alocaçãode recursos que privilcginm mai s niticlnmentc a zona Sul, ncando subúrbi -
ose Centro em segundo plano. Ressalve-se scmp rc que toma nd o os invcslimcnto c;
percapita e em relação à área urbani zável de cadn zona, será mnis ben eficiada, cm
lodososgovernos, a zona Sul" (Kleiman , 1994). Em 1960, a área que compõe <1atual
zonaSul(atuais RAde Bola fogo, Copacabana , Lagoa e Barra dnTijuca) tinha apenas
19,17% da população do então município do Rio de Janeiro (Prcfcitu rn da Cidade do
RiodeJnneiro/lPLJ\NRlO,1994, 132).
Outro notável exemplo vem elo Recil"e.Ele mostra não só o controle da bur-
guesiasobre o Estado nn implantação de infrn-cslrnturn urbana, mas também a
enormeantecedência com que este age para aten der a essa classe, desbravando fren-
tesparao setor imobiliário a serviço dela, como ocorreu, aliás, cm Copacabana na
décadade 1890 e na Barra da Tijuca na década de 1960. Na d6cada de 1920, Boa
Viagem crn uma praia deserta, mas as elites e seus empreendedores imobiliários já
·estavamde olho" nela e sabiam que, a exemplo da zona Sul do Rio, ali estava n
íuturo"zona nobre" da capita l pernambucana. É incrível como o Estado pode fazer
tamanhoconjunto ele grandes obras para atender numa região deserta, numa cidn-
detfiocarente de infra-estrutura. Em primeiro lugar, foi neces sária a recon stru ção
dapontesobre o rio Pina. "Fina lmente as obras têm início em 1924 com os trabalhos
de drenagemda área através da escavação do rio Jordão, responsável pelo nlaga-
menloda região( ...). Em ju lho de 1924 já estavam terminada s a pavimentação, as

337
linha s d e bonde e as galeria s de água s pluviai <las avenida s Cabnnga !ntual Saturnino
de Brito! e d e Ligação e ini ciou -se o ;iterro da avenida Be ira -Mar. Em ago sto termina
a arbori zaç ão e o calçamento da s ave nida s aux iliare s. Em o utubro n ponte está to-
tnlmcnte re con struída. Em abril de 1925, quase metade dn pavjm entação es tá con-
cluída . Ponanto o ritmo 6 fren ético d e vido à inten ção d e se finali u 1ra obra antes de
(...) outubro de 1925, o que é conseguido (...). Para se co ntrapor n toda s as críticas
sur gidn s contra o ou sado projeto - como as alegaç ões de ser uma obra dispendiosa ,
carn e de sne cessá rin, de que há outras carências na cidade, da enorm e di stância a
ser coberta para se atingir um sítio complctruncnte de sljgado da nrnncha urbana-
( ...) o Governo armou uma tropa de choque na impren sa p ara re vidar as crít icas
{Dini z Moreira, 1994, 6)." A burguesia local saúda as obra s. "A avenida Beira-Mar é
obra forte do Goven10 . É obra que at ravessará o s sécu los. (idem, ibid ., 7)." O exem-
plo e a influência do Rio de Janeiro aparecem na imprensa- fiel porta-voz das bur-
gue sias no tocante às necessidades de seus bairro s - quando esta compara a capi-
tal da Repúbli ca com "sua avenida Copacabana, com o Recife e lamenta o fato da
cidade não possuir uma avenida daquele porte. Artigo publicado em A Notícia com-
para a Torre Eiffel e a avenida Central à avenida Beira -Mar, (...) ou seja,( ...) grandes
símbolos da modernidade" (idem, ibid ., 7).
Lima (s.d ., 10), depois de analisar a comercialização de imóveis em Brasília
de 1960 a 1991, detectou maior especulação com lotes nos lagos Su l e Norte do que
na asa Sul, concluindo que isso ocorreu porque os lagos "são o locus habitacional
de stinado a classes mais altas", onde a especulação foi acentuada "pelas ações de
um governo autoritário que direcionou os investimentos públicos necessários à
melhoria urbana" para aquelas áreas. Nesse aspecto, a ação dos governos "democrá -
tico s" não divergiu da dos autoritários.
Finalmente, o Estado atua através da legislação urbanística. Esta, é sabido , é
feita pela e para as burguesias. Isso se revela pelo fato de se colocar na clandestini-
dade e na ilegalidade a maioria dos bairros e das edificações de nossas metrópoles.
Para o caso de São Paulo, "é possível afirmar que entre 60% e 70% dos moradores do
município encontram-se hoje em situação que contraria os modelos de apropria-
ção e organização do espaço contidos nas normas juríd icas vigentes" (Rolnik et ai.,
s.d., 90 )." Se para São Paulo a proporção é essa, para o Recife e Salvador deve ser
bem maior. A maioria dos loteamentos e das edificações realizados para as cama-
das populares estão impossibilitados - pelas leis do mercado - de obedecer à
legislação urbanística e edilícia. Coisa semelhante ocorre com o zoneamento, que
é elabo rado tendo em vista a solução de problemas dos bairros das classes média
e acima da média e o atendimento aos requisitos e padrões urbanísticos dessas
classes. O conflito entre usos, um problema n1enor para os bairros populares, é
uma questão central nos zoneamentos convencionais. Por outro lado, nesses bair-
ros, o tamanho dos lotes imposlos pelo mercado não possibilita os recuos, tam-
bém tão caros às leis de zoneamento em geral. Tais leis são voltadas para so lucio-
nar problemas de aparência e cumprir os requisitos das burguesias; nos bairros
populares, quando existem, elas são extremamente permissivas (co mo exige o

338
11\
NCílclt>l. po1r,Hllt>, lllr>lun s . ts...o s1grnttc .1 q11c, t•rn 1.tis b.urr o • ludo c.:omo
~rclJ~ não l'Xi,11,,l'lll nw ...mo que cxi st.1m
Parle 111teg1 ílnte dc,s .1 p1odução de lor <,tiz a~·oc·~d • igun,._,d• e e~p ço pro
du11do pela\ blll gue (,l,l't, é a c rc 5tC'nlC aclCljll,I Ç,lO de• C t; rfél «. nr-..V, dn, C d, dt• e t>
auiomovcl e sua 111.1dt•qu.1ç, ~10 ,to trnn sportc rolrt, vo F l'mplo ~s. 111, nll'J11do, ,•nrrn
.uimmistrntivo de ~.tlvador <' cl,1 rede' de vi.1, exprc•c;s,1s d<' !->s,1ri d.td<', ,1 lmha ç m,
relae \'enncllrn, no Uio, e•n..,rcclt·~ de, 1.1s(>'<pres~a" que ca d,1, 1·z m tis frt•,1wntc -
mrtlle rn~gnmnos sns mctrópolr,;.
Ve1amoso pnpt•I que n tendência a scg1cg.1çao dc..,empt nh,, nr><nnrrolc d 1
burJ?uc-;iassobre o fü,tndo e sob1c o mercado. l:..,,c <..n11trolc w ri,1 11111110 d1f1r.1l-
rnlvez imµoss1vcl- :-icº" bni1 ros da!>camndac; de mah nltn rcndH ,•,11v<,'>'>Pm•sp, 1·
lhndos pelos vários qundrnnlc s dn cidade . Por mai s que i;rjn vcrdad t• <·prt•1·1c;;ou-
peraras ideias que se limilnm n cons l ata r que a scgregaçno con st1tu1um., form.i d•
ílproprinção das árt~ns de melhores atrat ivos natnrui s e de que nas .irra:,, d~ nlra ren -
da lrnmaiores invcslimcnlos püblicos. Dois avanços se ía1.cm nccc~s:irio~ O pri-
meiro seria incluir o con tro le do tempo de deslocamento como um do e;;cll'nwntn
do espaço desigual e um objet ivo fundamental ela produção do espa ço urh,tn o <>
sl!gundo seria entender as rnzões profundas da segregação - suas enorme s e ,1m-
plasimplicações econôm icas, políticas e ideológicas . O real sentido da 4,egregaçüo
1emsido profundamcnle ignorado e subestimado nas análises espaciab urban a .
inclusi\'Cno que se refere ao condicionamento do social pelo espaço .
A tendência à segregação segundo uma única região geral da cLdade não ·
necessária apenas para propiciar o co ntrole do mercado e do E cado. Na pro\ im.i
~eção veremos que ela é nece ssá ria também para o desenvo lvimento de um.1 ideo-
logiaque auxilie a dominação do Estado e do mercado pelas burgucsias, de man eira
a facilitara produção, na região geral por elas ocupada, de umn cidodc melhor qu e
"a outra".O desenvolvimento dessa ideologia seria muito difícil - na verdade. im-
possível-se os bairros seg regados estivessem espalhados pelos vririos quadrante s
dacidade.
A Figura 47 mostrn duas alternativas de segregação, ou scJa, de d1stnbui-
ção espacial dos bairros segregados ocupados por camadas de alta renda . Na al-
ternativa 1-quc corresponde à no ssa realidade- , eles estão predommantcmcntc
(masnão exclusivamen le) reunidos numa única região geral do metropole , no exem-
plo, no quadrante sudoesle, co mo em São Paulo. Na alternativa 2, eles estão espa-
lhadosnos vários quadrantes da cidade. Essa alternativa na verdade nao cx1 te; é
hipotética.É preciso e ntende r por que ela não existe. Neste (1ltimo caso, para aten-
deràs necessidades de deslocamento das burgucsias, seria necessário construir um
sistema viário enorme, d islri buído por todos os quadrantes da metrópole . A segre·
gaçãopossibilita a otimização do uso desse sistemn, bem como seu npnmo,nmcn-
to, por parte das classes segregadas .
Na alternativa l, o controle do Estado para a produção do sistema vinrio flca·
riamuito facilitado e mesmo viável, pois um feixe de vias concen tradas num línico
quadranteatenderia à maioria das burguesias muito mais facilm en te e com meno5

339
CP cCHmO!'111~01'"'- @I)IP.J:~ IICSllCiCWS O[ tUMt AUA
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MEHTO00 C.P
- 51STO<A"""'°--i.
Figura 47 -Alternativas de segregação mel ropolitana

recur sos. A segregação por setores possibilita- co mo nos casos de no ssas metró-
pole s - um sistema viá rio mais adequado às necessidades dessas classes. Além dis-
so, essa alternativa oferece melhores possLbilidades de atendimento das burgu esias
por parte de subcentros ou shopping centers voltados para elas. Nenhum a outra
fom1a de organ ização espacial atenderia melhor as camadas de mais alta renda do
que essa , fosse pelo mercado , fosse pelo Estado.
Na alternativa 2 - bairros segregados das burguesias espalhados pelos qua-
tro cantos da metrópole-, ser ia muito mais difícil ao comércio atender a essas clas-
ses. Seria na verdade impossível a formação de núcleo s de comércio e serviços e
mesmo a localização de shopping center s que atendessem predominantement e às
burguesias assim espalhadas. Em primeiro lugar, os estabelecimentos de luxo volta-
dos para essas classes requerem um, e apenas um, centro ou pouco s centros: as
joalherias , as butiques, as delicatessens, os antiquários , os restaurantes e boates, os
hotéi s de luxo, etc. Ao contrário das lojas de cadeia, é impo ssível a esses estabe leci-
mento s localizarem-se em quatro, cinco ou seis centros, longe um do outro, nos
quatro cantos da cidade. Em segundo lugar, os shopping centers voltados para as
camadas de mais alta renda teriam qu e ser pequenos e muitos, se essas camadas
estivessem espa lhadas pelos quatro cantos da cidade. Trata-se de uma questão de
economia de escala e de aglomeração. Exemplificando: no caso do Rio, teria que
haver sho pping cente rs voltados para as classes acima da média (além daqueles
pop ulares), no Méier, em Irajá, no Realengo, em Nova Iguaçu , em Campo Grande,

340
em Copacaban a, na Barra, <'t e., se cm cada urna de ss a,; loca lidt.1dc~ houv · s · um
pequenobairro segregado de classes de alta renda . Tai" sl10ppings rcri nm qu,. ,~,
necessariamente pequenos, portnnto anl icco nôm1 cos. No u-1sodr <:;ãnPt1t1loo m •s-
modeveria oco rrer n a Freguesia d o ó, cm Santa na. no ·1ucuruvi, em Guarulho , n
Penha,em Suzano, em Mogi da s Cruzes, no ABC,no Ipirang a, no s }t.1rd111 ~. no Sumarc,
em Cotia, em Osasco, ele.
També m n es sa seg unda alternativa, se ria impm ,s1vcl controla r o centro da
cidadede maneira u fazer co m que ele se de slocasse n n clireçao da<,c.unacla ~ de nllél
renda e as benificiasse. Se os bairro s da s burguc s ias es tivesse m espa lhado pc>los
quatro cantos da cidade, o cent ro se ria so licitad o a cresce r maic;ou meno~ umtor -
memente em todas as dir eções - alte rnativa 2- e não ser ia dominado por n1•nhu-
ma classe ou conjunto de clas ses. É o qu e ocorre no s paí ses que, comoº" do Primei·
ro Mundo, npresentam gra nde s classes m édia s e menore s de sníveis socrnis qul' o
Brasil.
Vimos no capítulo 6, seção "Be lo Hori zo nt e", que a estrutura c~pacrnl básica
da metrópo le é seg undo se tor es , e não segundo círculo s concêntri cos, e que- is o
decorre do fato de os bairro s residenciais de alta renda se de slocarem radialm entc a
partir do centro , o mesmo ocorrendo com zonas indu striais e vias comerciai-. /\s
pesqu isas aqui expostas mostram qu e os bairro s re side n ciais não pulul am
esparsamente pelo espaço urbano. Ao cont rário, eles caminham se mpre na me c;ma
direção. Essa direção pode mudar, como ocorreu em São Paulo e no Rio, no ~éLulo
XLX, e no Recife, no séc ulo XX. Entretan to, um a vez mudad a a direção , o de sloca-
mento se desenvolve por longo período de tempo. De ssa man e ira , formam um setor
e não uma coroa de círc ulo. A organ ização segundo setores deriva da bus ca da
otimização dos deslocamentos es paciai s. Em metrópol es altamente pol ari1ada
como as nossas- me smo na s de centro principal "fraco"-, os desloc amentos radi-
ais são aqueles que otimizam a acessibilidade. Qualqu er d eflexão à esquerda ou à
direita em relação a uma via rad ial representaria menor acess ibilid ade ou menor
aproveitamento do de s locamento. Por oulro lado, con st itu em fator de cisivo para u
predomínio da estrutura seg undo setores de círculo as reduzi das dimen sões de nos-
sa classe média. Quanto maior a classe média (co mo no Prim eiro Mundo ). maior n
tendência à estruturação segundo círculos concêntricos. Tudo ind ica que n econo-
mia de mercado produz estruturas urbana s que incorporam ambos os mod~los -
de setores e de círc ulos concêntrico s-, e sua s predominância s varia m conlorme a
mobilidade territorial e a estrati ricação social da po pula ção Eis aí, já pat e nte , opa-
pel determinante qu e d es emp enham os de slocam entos espaciais dos se res huma-
nos na est ru tura ção intra-urbana.
Smo lka (] 992, 3) corretamente co nsidera o merendo imobiliário inst rum ento
distribuidor não d e imóv e is ou ativ idades, ma s de ace ssibilidades: o mercado imo-
biliário se ria o "in strum e nto eficaz, através do qual as ace ssibilidad es ldcfi nida s de
modo tão geral quanto neces sá rio ) sã o 'discricionariamentc ' distribuída s confor -
mando-se uma certa se paração espacial (hierarqu ica ment e orga n izada ou n flo) no
que diz respeito às comunidades ou v izinhanças com signi fica ti vo grau de

341
hllmogcne1d.\dc lllll'l n, 1· \ ote--.,l'. incid (·nlllln H'nt e. que :1 ,tlm n, 1\·,to s<·r1.11g
u almc·ntc•
,.11id.1sl' tnlnn1d..1 n l onk m 11ncr-,a: o mc rt, ldo 1mobiliruio L'OJllCI o lll"-lrllllWnto
,n, .n t se.ln qu,1l a-. l''-lhlt 1alidndes ...,nod 1!-,lribu 1da...,ro n íor m ,indo--.e uma certa ,H c"-
,ih1litfade . LmrE."l,mto.para e-,-.pauto t co nç,i.., tc nu nrn <liílcu ld,1de a ,er "ent H·ntttcla
nn pl,mo Pmpn lo(. la trll•nt1{iuu;i'i" !gri lo no origina l! da p 0-,s1H·Ic,HJsalicl,1c.l c C.'fl·
trt· t> dt ,lot ,mwnto t''-P•H i,11das f,1m1li,1s l'is-à-1 i~ º" novo-...empree n dimen to, ímo-
1

hili.1110...- ,era c-.te o n!,po n -.a\C'I pc'ln d c-.10<.anw n !O da q ul'lc ou o inve rso? hil)".
\nH,IJ...a torh lu1 ,u,1 idt•1n ntri bu indo no,; age n t('" im obiliário~ urna "pa rec ia não
r1t~hg<'ntt,n ·cl da rcc::.t 1uturação intrn- u rha na do Hio de Janeiro em gera l,<' do pro-
<L-.,,o d<' ,egn.'~n,Ml rc"1dC'ncial c m par u r ular". lJm n co nclm,<lo sensata. dado que o
autor anali,.1 o ck">locamcnto de ''lamíli as" nu m período de apenas uma t.lécad a. A
tHh,n \Ct, a an~rn e mais amp la, La l co mo a a qui rca lizach1. rc rm ite identi fica r as
hurglll'~ins co m o as cl.tsscs q ue co mandam {n ão se m reaç~o) o mercado e o se tor
imobiltano na prod ução da...,loca lizaçõ es, o u seja, d as co n d ições d e d esloc am ento
d:t-; cln~-.,e ,;ociais.
\ .1cl~,sibilida<le à infra -es trutur a- e mbora se ja imp o rt a nt e nu m país co mo
o Bras1l, onde ela é esc a ·s a - não é t ão d e terminant e co mo a acess ib ilidade dos
<.C'tc,huma n os às loca lizações, o u se ja , aquela qu e e n vo lve d es loca m e nt os es pa-
ciai,. Em pri m eiro lu ga r, a a cess ibilidade à infra-e stru t u ra não e nvol ve d esgaste de
energia e perda de te mp o; c m se gundo lugar, a infra -es trutu ra pode se r reproduz ida
iwln trabalho hum ano. As loca liza çõ es, co mo vimo s, n ão.
r\ busca (e a produ ção) do "p e rto " e a reje içã o do tamb é m pr od uzido "longe''
são formas mui to sim plificad as- e er rô ne as- d e exprimir os m ot ivos dos proces -
-..osde de~loca mento es p acial da s cla ss es sociai s e seu s conflit os e m Lom o do ambi-
ente construído. É ev idente que os des locam e nto s nã o podem se r exp ressos ne m
ém dist.incin física n em e m cu sto de tran sport es ap e na s , ma s prin cipalm e nte e m
tempo de transpo rt e. Por o utro lad o, o tempo d e tran sport e n ão po d e ser med ido
pelo t<:mpo de um a viag em . Tome- se , por exe mpl o, a co ns tru ç ã o do Cent ro Admi-
ni')tratÍ\o de Sa lvado r numa loc alizaçã o afa stad a da maiori a da po p u lação da cida -
de. porém ma is próx ima dos bairro s da s c amada s d e m a is a lta re nd a. O ce nt ro prin-
cipal de Salvador é m uit o m a is acess ível às cam ada s populare s, n ão só por ser ma is
bem ~crvido por tra n spo rte públi co, m as tamb é m p o r se r o d est in o m ais freqüente
de~~.1'>clas~cs. Isso signifi ca que , co m uma úni ca viage m ao ce ntro tra di cion al. e las
podem ter vánas de sum, necess idades me n d iclas (são vá rio s os" m o tivos d, viag em").
l~so não se co nc re tiza co m um a viag e m a o Ce nl ro Admini stra tivo, m es m o q ue fosse
mais rap 1da. I~essa a qu cs ta o ce ntral e ele m entar qu e co m a nda a acess ibilidad e. Com o
vimo~ no cap llul o refcrc n le aos sho ppin g cc nl e rs, a varied ad e de fun ções que um
ce n tro abriga (o m ix, no cnso dos sh oppin gs) é lund ame nt al na eco nom ia de viagens.
Além dbso, a loc~lizaçâo d o Cent ro Adm in isrrativo foi pr ep arad a pa ra o usuürio que
se d es loca po r m e io d e a ut o m óve l. É, pois, falso o a rgum ento empr egad o pe los defe n-
so res d o n ovo Centro Adm ini stra tivo d e Salvad or de qu e a mud an ça para um loc al
a fasta do, por ém se rvid o po r via express a, ao livrar os órgão s do gov e rn o do con ges tio-
namento do centro, tornou -os mai s a ce ssíveis à po p ula çã o d e Sa lvador .

342
Em muitos casos, as ca mada s de mai s alta renda se afas tam de se us C(.>ntro~
paro ocupar bairros m ais modernos e espaçosos e co m mai s verde; cntrc Lanto, com-
pensam esse afastamento co m vi as expre ss as , auto-e s trad as e altas taxas de
motorização.Ademai s, trazem p ara s ua direção d e de sloca mento o centro da cida-
de os empregos e oc;serviços, os shopping ce nt ers, os apc1relhos do Estado e os cen-
rrosempresariais . Com isso. oti mi zam seu s tempo s gastos cm deslocament os. Eis o
~enudoque se deve conferir à produção do " pc110·· e elo "long e". É isso qu e e nt ende-
moscomo comrole do tem p o d e de slocamento : n liberdade de pod er optar e mani·
pularos vários prós (meio ambi ent e agradável, grande s quota s de terreno ) e contra s
\maiortemp o de de slocamenlo) envolvi dos n as localizaçõe s.
Vejamos agora a ideologia desenvolvida pela class e dominante a resp eito do
espnçourbano, visando ocultar as realidade s acima expo stas e, de sse modo, facilitar
a dominação da maioria por meio do espaço.

Segregação,controle do Estado e ideo logia


O real não se apre senta claramente aos no ssos sentid os. Por isso, ele comporta
diferentesversões ou interpreta ções. Entenderemos por ideologia (Chauí , 1981. 21)
aquela\'ersão da realidade socia l dada pela cla sse dominante com vista s a facilitar a
dominação. Essa versão tende a esc onder do s hom en s o modo real d e produç ão de
suas relações socia is. Por intermédio da ideo logia, a classe dominant e legitima as
condições sociais de ex plora ção e dominação , faze ndo com que pareçam verdadei-
rase justas. A ideo logia surge, no se io da cla ss e dominante, atravé s do de sco lamento
dasidéias da realidade social (autonomização da s idéias) e cons iste na transformação
das idéias da cla sse dominante em idéias dominantes em uma sociedade, em de-
terminado período hi s tórico. Nas conhecidas palavra s ele Marx e Engels (s.d ., 57)
wcadanova classe no poder é obrigada, quanto m ais não seja para atingir se us fins ,
a represent ar o seu interesse como sendo o interes se co mum a todos os membro s
da sociedade ( ... ) ou a dar a seus pensamentos a forma de uni versa lidad e, a
representá-l os como sendo os únicos razoávei s, os únicos verdadeirament e váli-
dos". A ideologia é o proce sso pelo qual a classe dominante repre se nta se u in teres-
se particula r como o inte resse geral. Gram sc i deu grande destaque à dominação
inteleclual - e não apenas à dominação pela força - e distinguiu a dominação e a
liderança moral e intelectual : "Asupremaci a de um grupo socia l se mani festa de dua s
maneiras: como 'dominação ' e como liderança ' int elect ual e moral' (...). Um gn1po
&oc iaJpode, e na ve rdade precisa, já exe rcer a 'liderança' ante s de ganhar o poder de
governo(...) ele sub se qüentemente toma- se dominante quando exerce o poder, ma s,
mesmo que o se gure firmemente, preci sa co ntinuar também a liderar" (Gramsci,
1983)."Esse auto r fala da cla sse que detém a heg emonia int electual. moral e polí-

• 111csuprcmacy of o soc ial group manifesLs itsctr in two wnys, as 'domination' nnd as 'intclcctunl nnd
moral lcadcr~hip'.(...) A socinl grou p can , nnd ind ced must, alrcady cxcrcisc ' lcadcrship ' bcfore wíning
~ovcrnmcn r powcr ( ..) il subscquently bcco mcs domi11an1whcn it cxcrciscs powcr, bul cvcn if it hold s it
finnly m lts grasp, it mlt Sl continu e lo lenda s wcll" .

343
tlc.1 Quer c,crcendo tal liderança, qu er npclnndo mai s pm\ 1n ÍCJfÇél, n l l.i•,'>c' dor111 -
lMlHl" t' ou diri~1.'ntL'tiepcnd1."r.1 ·r mprc <la idcologw .
l l ,, m umcr,," act'pções d o lermo 1dc!ologia . A q uc · 1ao cen l ra l ,\ '-lt'rco n ,i dc1a
t1 ,w u,1b.1lh,n com e ·e.e conc-C'ilo, é entend er ~cu papt •I na lli '>lút ia. l'nrn t ;rnlo, <~
t1hlts1wns,\\'l'I an1cul.n a i<kologi n t, · classes soc:i ai'>, h luta de da-..-,el-1t· à atw1ç·1w díl
rl ..1·"'-' dominante. Se m is!-o (co m o fní'cm nn1íLo -; a11to1C'-1, d e- Marcondc s ( l ~J8í) :i
\ la nnhc1m ( l 9G8)). nüo se com,cguc n".linwnt c inle1 pn .:lnr n id,·o logítt <'ultinpn ssm
,t desc-riçJu da corrcL1çào entre idéia s dominanlc s e socicclacle .
\ ,uno~ cnt:w abordar idéia s comun s - as V<'rc;ôe-;o u "visoc'> de 1T11111do " -,
~1~ , .'-, 'C':- ob\'ledadcs que são assu m idn s pelo gra nd e ptíhli co (incl u íclos o~ c·..,pccin -
hst ,,~ l" intt.'lcct u.1ic.} a rC'spcito do csp nço de no s ns m e tr ópoles . A "grande i mprcn -
~a" e um o timo p o rta -\'0l dessas ver sõ c-;.
,\ pmduçf\o ideológica lan çn m ão de algun s mc cnn is mos frcqücnt<' s e comuns,
t' , amo · no · utih znr de alguns dele s. Um é a naturali zação de proce s~oc.,sociais. Qual
,l cau ·a da m L érin no ordc s tc? O clima, re sponde a id eo logia dominanlc, 1ransfc-
rin io dssim <1cnu a dos hom en s para a natureza. Um exemplo urbano cio uso desse
mecanismo consiste na "deterioração" do centro. Outro mecnnismo é r1uni versnli-
laç J o de seus intercs es particulare s, n qual, apl ica da ao es paço urbano , ganhíl
uma formulação própria . Constitui-se nn tend ê ncia de faze r pas~ar rt cidad e como
aquela parte rln cida rie qu e é de intere sse da clas se dominante .
Dissemos qu e um exemplo da naturalização de um processo socia l é a ex-
pres são "deterioração do centro''. Como vimo s, o cenrro de uma cidade é vital para n
dommaçJo e controle por meio do espaço urbano . Assim se ndo, não é surpr een-
dente que essa parte tão importante da cidade seja objeto de inten so tratament o
ideológico . O proc esso rotulado de ''deter i oração'' pela id éia dominante refere-se ao
estado de quase-ruína em que são deixados muito s edifícios do s centros trndicio -
n,li . cm drtudc de se u abandono pelas camadas de a lt a renda, que produziram
novos cen tro s. Co m o o centro é uma área important e dn metrópole, a cla sse domi-
nante nã o pode assumir esse fato e preci sa ocultá-lo, formu lando uma versão que
não com prom eta sua po sição de classe dom inadorn. Cria, então, a ideologia da "de-
terioração '', que é uma versão que ''naturaliza" um processo social. Exa min emos a
expre ·são em s i, antes de pro sseg uir. Ela veicula a versão da s burguesias para expli-
car a degmdação do ce ntro causada por ela própria, mas que e la não pode admitir.
O vocáb ulo "deterioração " não veicu la apenas a idé ia de uma simple s
consrnrnção ; tem a pretensão de se r também uma explicação, a interpretação de
um procc so ocial. Tal exp licação, a liás, é seme lhante à produzida cm algun s
pn1scs rico s, cspccialmcnce no s Estado s Unido s. Lá , a expressão que se vulgari-
zo u não foi exatamente a equivale nt e à d eter iora ção; foi blig/11. Tomemos um
trecho de um dos mais elemen ta res e difundidos compê ndio s de planejamento
urbano publicado no s E tados Unido s nos ano s 40 e representativo do pensamen -
to oficia_!,já que foi editado pela The ln ternational City Managcrs Association.Tra-
rn-se de Local Planning Administration. Nele, lê-se (194 8, 213): "Q u ase toda cidade
tem nrcas nas quai s IJ/ight progr ediu além do pon to no qual as blighted areaspodem

344
, l" 11 11wd1d ,._ e.11111n .1, \ ., unh t ulu~ 11 1 cis 1,,,1 e r 111
1 H 'l 1\<1,I "
...,. 1 11'l ' I h'' ,· ., "'"''' ,11.. lt> d.1 .11, •.1 \ ) • ( l lt'\lll p1ns,t•g11c• 1,·pr•tindu IUIIIII r
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tl\l'nlll:- ,th ft.•tto-:.·qm· \ inh.un St.' pc1dt.'ndo ckvido J dt.•terioi. 1(,10 t' ron,t.'lJlll nlc
t'S\,I/.Í,lllll' lll<l d,1 ,lll',l°' . P1osscguc : "Fnqu,1ntu agun1cl.1 ,1:-.medid.1s tio Prdc•1tu ,1
,('ll'tll t',Colh id,ts l'lll ll' .1S rcc'Olllt'll{/(1ÇOCS Rl'I iatr icas lg1ilo 110"1"101 d,I r~ltJIW O
t l'llttn \'l'lho ,1 dc:-peilo de sun drtcr io, ..1~ ·,10 - co nli1111.1 st.•11el(1uma .trt•.1 1m-
pu11.111tl'p,11.1a dclmlt.•'. Co m issn. a itkologin tfomi n,11 11eprnrur,tv,l t.'Xtmir ,..., hur-
glll";1,1sdP qu,tlqUt.·r respt.)11s,1hilid:1dcpela d<.'lt.•t io1,w,ll1 do rt'lllrn , ,·t•1n1l,rncJn ,
Hlt•ia dt• qul' l> que ocorria l'I ,t um proce sso nornwl t'' incxor,1H'I. dt'corrl ·n h' du
l'nwllwd11w nto do ct•nt I o. E claro que a itlrologiu t.lommantt· procurou d1tumhr .,
1dc-r.1 de que, ape~.11 dessa i nexo , ,1bilidadc, ela cs1,1v.1folt'tHlo tudo o que e~t 1\ t.•,w
,1~ru ,1kancl' pn1,1 "!-1,tl\ nr ··o ccnlro, para que 'Slc íosSl' "n'vic.t li1.1c.ln " t• Vllll,1,~t.· .,
st.'rromo a1Hig.1mt'lll<.'.
P\H que 1111 dt'e,..1d.1dt' J 920 nao foi produ1.id,1 a idt~ia dt• qm' o, l L'ntro-. lr,tdi -
ciuna1st'st,wnm st· dt•tcrior.mdo? /\final. os edilk1os ct.·ntr.11squt' t'\t slt,1111 n'1 t•poca
- º" coloni.11s crnm nwi s velhos (tinhnm ma is anos d l' id,ll.k) do qm• o~ d,t dt·l~a -
d,t dP 19·10, ct 1jo tl'mpo ele conslt ução era cnt,1o dt' pourns dt•r,1d,1" Na, clL•c,td,,, de
1910 ou 1920, nno tc•11<f o cond içocs ele•mobiliclndl' ll't ritorial qrn• llw pt•rmil ,s,t•m
,ib,mdonm o rf• 111rn t, mi irional, no ssas burgucsi.1 s rt'.'nov.iram no .. \u,tn•, d,1s,)hr.1s

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"' ~''" ( ~\, \V ,q, ·-p.,l ,k ~.,h .ldo1 n,\o t'1,1 poluldl, n.1 dcc,1d.1 de t t)H0 .1 pont o dt· j11s t it,c,, 1
, · .: .i~'.,•h!~,,, l (lf p.1rtt• dos t.'qu1p,1tnL'nt o~ do l'!>t.tdo . lm1mt•r ,1, ~.\t, ,\s dd,tdL·s pt' ·
• ...... ,-._ t' 1 t.·..h.,~ lh' Ht•.1silque p:l:-s.11
~rn, ,1 construir edihd us publi co:- - n·nlro\
,.--, "" · l' t\'tt'itttr,\s l'·' 'ú:- nnmid pa L . fornn<::,etc. - fnrn tio s ct•nt10s, t•mhor ,1t·stc•s
:: .\~' ..,~sc• ·1 r1..•tnc\',n~t's t iorMd os nem pohttdos. \ in dt' rcRr,l, es s t''S nm •üs ed1íieios
t.'1, r1 ...--. .,tb~t ,ndl''S pro\.itno ,W$ b.1irro~ "n ob res·· daquela s cid,1de s. t\ \'t'rdadc t' qttt ' a
·1 .., ., ~~::.(\b.: 1,LldP tt.>nitori,ll. discutid,1 no rnpítulo l O, .,liadu 3 l.'OIWC'llil'llcin tk ,1n •s-
s ," t · ~-"k !,?-.l u~t1 ">s1.1s e:,
pmduçZlo tk bnirrns tlO\'OS por pnrte de) c:1pi1,1l imobi -
.. ... "' t.' ~ue m,pul-1onou o .ihan don o dos centros tr.1clidonai s . N~o foi nc-m o nrn -
f<."S,t.... l,Hnentl.' nem a poluição .. nem a idndr .
f, ..-.:Ct.lrrente que nos ~as ml"trúpolcs tê m um "ccnt ro n ovo" cm oposiç.lO ao
'-'t'Ttrf' h'!hú ou. t"nt,\o, é ~omu m ., idéia d e qu e os ce ncro s d e n ossas mel r6 poks
c~.:.t) !'C :r.,nsfonn,mdo. se deslocando no espaço :\ Savass i (Belo l lori zo nt c). n ln -
'-1t.---~"ci~nci.1\ Porto •\iegn. ..' . a região do lguaLemi (Salvador ) e a regi ão qu(' vai ua
.n ·n-tL P;.n1hsta ,l m,ugin.il do rio Pinheiros representariam esses "novos c entro s''
ot. ú, ""eÇ<'t"S d~ cre ·cimento no ce ntr o da cidade . A ideologiu dominante produz n
•..:~:.1de que o centro , ·elho .. não e rnai s o ce ntro dn cidade. Ela teria. ngorn. um
cen:ro no\o .
H~ algun
anos. em São Paulo. o Banco ltaü tomou uma os ten s i\'a po sição
? ra kforçar o ~no\ o ce ntro da cidade~. Patrocinou uma p es qui a com ton s d e cnm-
p ~nha cu,o obieu,o era "eleger " o no, ·o sí mbolo da cidade e qu e favorecia n nvcnidn
Pau:i:ta Figura 48 . Ora. o mais difundido sí mbolo d e São Paulo , pelo n,en os até a
ct>c.:d~ dei 9:-0. era o\ ale do Anhan gabat í. do qual se mo s tra va m os jardin s ao lado
co Teatro ~1unicipal com eu belo colar de p a lme iras imperiais, foc al iza nd o oro o
teaao. c!.l o con1umo de grandes edifícios exis tente s e ntre o vale e a n1a Ubero
Baàaro . E. sa era ce namente uma imagem que enaltecia o centro da burgue s ia, do
qc.1. _jo Paulo ,;e orgulha , a a té aque la decada . Agora que esse ce ntro não mai s per-
~ence a ela. e ~1m as classes popul ares, essa classe os ten si vamente propõe su n dcpo-
s1cão para entromzar um no, ·o centro em ~eu lugar .
O cemro tradicional, enquanto foi centro da min or ia - da s burgu cs ias - .
era o centro da cidade. Ho je. ele é centro da maioria popular . Justamente agora que

34 6
1. r-
•gu ..1t1U- o B.:11Ho 11,11 piomoH' •1me111Ja l',111lt!tL,t ,1 1•111ro 111 , 1 l\mlr'I

347
o centro "\'elho" ê o crntro da cidade - poi ngora ele é o centro dn maioria -, a
ideologia dominamc declara qur n cidade tem um novo centro. É curioso. O centro
no\'o, segundo n id~ologia domimmte, pnssa n se r o centro cln minoria . 1~o processo
de uni\ er ·alirnção do parti cular por pa rtc da classe dominante. O "seu" centro deve
ser sempre o centro da cidade.
~ 1c mo noL;h·cis personnlidndcs contribuem para difundir ideologias sobre o
espaço urbano . Llicio Costa refere'·, e à Barrn dn Tijuca , cujo plano elaborou, como
um "dc~campado onde surgirá. definitiva, a mC'trópolc'' !grifo nosso; citado em Car-
doso, 1988, 81.O urbani sta apóia n idéia eleque seria "uma fatalidade a criação de
um no\'o pólo Cl3D ("Central Business District") µam ro1llmbnlanç-aro CBD original
!grifo nosso]. isto é, o atual centro da cidade" lidem, 11). O centro metropolitano
imaginado para a Barra seria inevitavelmente um sério golpe para o centro tradicio-
nal do Rio. Na Barra, prossegue Costa, estaria em jogo "a própria cst rutu ração urba -
na definitiva da Cidade-Estado" (idem, p. l3 ).
Os dois centros "da cidade" produzido s por nossas classes dominantes nas
últimas décadn -o delas e o dos outro s- criam alguns problema s para essas clas-
se . Elas têm de consolar as camadas populares cm face do lamentável estado em
que se encontra o centro delas, convencê-las de que estétfazendo tudo para revitaliza-
lo {o metrõ , novo vale do Anhangabaú, etc.) e, ao mesmo tempo, ju stificar perante
as camadas populares o esplendoroso "centro novo". Nessa situação, as burgue s ias
usam o seu centro - o novo - semp re que, com pretensõe s hegemônkas, preten-
dem jacrnr-sede seus feitos e expô-los para impressionar os dominados. Assim, quan-
do precisa da adesão dos dominados para aplaudir seus feitos, convida-os para o
'·seu" ccnLro; ao contrá rio, quando pretende baju lá-los, passar por igua l, de modo a
conseguir seu apoio e adesão, vai ao centro "deles", ao centro "velho". Devido a isso,
a vitória na Copa do Méxicode l 970 (sabidamente apropriada pelo ditador Médici)
foi comemorada na rua Augusta. Desde então, a avenida Paulista passo u a ser o local
de comemoração das vitórias futebolísticas. Entretanto, os comícios das Diretas-Já
foram realizados no centro tradicional, no centro da ma ior ia popular: na Praça da
Sé e no vale do Anhangabaú.
Outra ideologia, da mesma natureza, é aque la que procura identificar"a cida-
de" com a parte da cidade onde se concentram as camadas de mais alta renda. Nes-
se sentido, desenvolvem-se preconce itos com relação a outras regiões que não essa
parte da cidade. Azona Norte, do Hio,e a zonn Leste, de São Paulo, por exemp lo, são
tratJdas como regiões "inferiores". A Folha de S. Paulo de 18 de junho de 1995, no
caderno Imóveis, traz a manchete: "Zona Leste deixa o preconceito para trás", numa
reportagem que não consegue esconder precisamente o fato de que há preconceito
com relação à zona Leste. Um morador da região, entrevistado, responde: ''Dizem
que eu moro no interior" (p. 9-3). Outro exemp lo: as importantes avenidas da área
de concentração das camadas de alta renda são apre sentadas como vias da cidade,
ma o mesmo não ocorre com vias importa ntes de outras regiões. Ainda a Folha de
S.Paulo, edição de l J de maio de 1995, p. 9-9, apresenta estn man chete : "Operação
Faria Lima muda a cara da cidade''. No entanto, a avenida Celso Garcia, importante

348
\ ia da zona Leste não é, parn o jornal, urna via "dt1cidacfr •. Na Nh~ c'fJ <1 1<,r 1• out u-
bro de 1991 (p. 7-9), dcclarn-<,c: "Em plena nvcni<ln C(•l•,o C,,m ia, uma d . . .. t-.Jti mo~
, imentndas ria :::onu Leste da cidad e (...) ".
Como vimos , a árcns que se localizam forn d.i rcgía<1de ji'randc cone, D
das camadas de mai s nlla re nda são con<;idcrnda., "longf''' ú t1 ''fora d,. fTl, <i r, :t •
sempre tornam- se longe de fato. Às vczc c,, locnli7am-w ª P"JH'J, fora d. w g, '> fJ ~
concentração cinalta renda, mac.;são con e;; iclerndas c\rcat;da ~pn ,f, ria , por m,,. u.. ,-
trais que sejam. De qualquer forma, tornatn -f,C,e mp re ''longe" f m <;;i,, f> ·Jfo a
obras do notável escultor frnncês Hoc.linfornm cxrn ~ta'>na JJm arc,rN ·a d0 1 ·ad o
um museu que se localiza na Luz. sabidam ente uma firca qu e nãn c.ono:.nt·a ,.: -na -
das de alta renda de São Paulo. Trata -c;e, no entanto, dr u rna localizaç f1r," , ,~,ente.
muito central. com rnetrô ü porta, a Lrê,;minuto ,; da Praça da Sé,centr<J rrnd:,.,,,nill
onde se cruzam duas linha s ele metrô e em frente h Estação ria Luz, C.LJ'J ~ ir ens d e
subúrbio ligam-na ao ABC e a d iverso s subúrbio s dn cap ital. G, porran'o . 1rna áre, 1
de fácil acesso ao s quatro cnnto s da metrópole. Na verd ade, não há na Cra nd e São
Paulo nenhuma localização mais ace ssível a toda a metrópol e do qut as imed iaçõ r·c;
da Estação da Luz. Pois bem, o suplemento dominical neui(jfn Fnlha (p. 20, ~ :i 1-oll a
deS. Paulo de 2 de julho de 1995, entrevistou o diretor da Pinacoteca, Eman oc, .~ra -
újo e, entre outras, formulou as seguintes pergunta ~:
"- Foi difícil trazer a exposição de Rodin parn a Pinacot eca?
( ...)
- Mas a localização do museu não é meio ingrata?"
Qualquer localização qu e não seja no quadrante sudo este, por mab aces sível
que seja à metrópole, é cons iderada "meio ingrata ".
A ideologia do espaço urbano atinge seu nível mai5 estúpid o e pen go:,O no s
condomínios suburbanos de alla renda, quando pretende opor a cid ade da mm o na
burguesa a uma outra cidade: a da maioria pobre. Julgam os morador es d cs!)cs con-
domínios ser esta última "outra cidade", violenta, pobre, atra sada e com a qual elas
nada têm que ver. Essa id eologia foi revelada em duas notáveis reportag ens : uma no
Jornaldo Brasil de 24 de abril de 1994, sob o título "Geração condom ínio não conhe-
ce o Rio''. e outra na revista Veja de 21 de junho de 1995, intitulada "Os filhos da
bolha". Na primeira são noticiados "safaris, parlindo do condomíni o Bar ramares
ou do Colégio Anglo-Ame1icano, ambos na Barra da Tijuca . São ônibu s lot ados d e
crianças e adolescentes (...) que partem para sua primeira grand e aventura : um pas -
seio pelo Rio Selvagem de I3otafogo, Parque do Flamengo , Ipanema ou Sant a Terc!)a.
Excursões que oferecem a emoção da travessia da ponic Rio-Niteró i (...J até u m a
passagem pela perigosa ave nid a Brasil, com direito a ver menino s de rua , conver sa r
com mendigos e passar pe la violenta Candelária". Segundo um síndico -ge ra) d e
um dos edifícios, "os condomínios são um Rio à pane dentro de um Rio difere nte,
que é a Barra da Tijuca". Uma. ado lescente disse: "Minha mãe não me de ixa ir a
zona Sul. Tem medo que eu seja assaltada . Eu nunca moraria na zona Sul . Note-se
que até a geografia urbana é alterada; Barra não é zona Sul. A cla sse respon sá vel
pela cidade selvagem se exime de culpa e repudia sua criatura. Em São Paulo, ad o -

349
lcscentes m orado res de um do s condomínios ao longo da rodo via Castelo Branco ,
aindn al te rando a geogrnfia e imitando a do Rio di ze m : "/\ zo n a Sul é onde está a
cidade (...) e a zona Norte é onde es tã o as praia s, co mo Ubatuba e Ca mburi ".• Outro
ado lescente afirma: "Mo ra r em São Pa ulo é igual morar numa cadeia, você fica pre-
so dentro de casa, se m fazer nad a e ainda mai s tem de ficar ouvindo os carros buzi-
narem ". Uma personalidade loca l afirma: "É difí cil mostrar que São Paulo é muito
mai · que o s hop pin g centcr qu e eles freqüentam d e vez em quando {... ) Aliás, a
maioria co nh ece m elhor Miami".
Co mo a imprensa é um fiel porta -voz da id eo logia dominant e, e Jafoi utiliza-
da p ara avaliar o que a ide ologi a con s idera "cidad e d e São Paulo " e "cidade do Rio de
Janeiro". Para reve lá-lo foi feita uma pesqui sa no cad er no "São Paulo " e no s uple-
mento dominical Revis ta Folha, da Folha de S. Paulo , e ainda na seçã o "Cidade " e no
s uplemento "Domingo " do Jornal do Brasil. A pesqu isa regi s trou toda s as m enções
feitas a logradouros públicos (ruas, avenidas, praças, viadutos, praia s, bairros, par-
ques , etc. ) de todas as áreas metropolitanas do Rio e São Pau lo. Foram pe squisada s
1.789 menções na área m etropolitana do Rio d e Janeiro e 2.060 na de São Paulo . Os
quadros 47 e 48 mostram a distribu ição da s mençõe s se gundo grandes regiõe s des-
sas árens m etro politana s. '
Ao confrontar os quadros 47 e 48 com o Quadro 45, vê-se qu e 47,29% do noti-
ciário da imprensa ca rioca -representada pelo Jornal do Bra sil - refe re- se a uma
área exígua, que abriga apenas 9,40% da popula çã o e 7, 12% da área urbanizada da
Área ~letropolitana do Rio de Janeiro. O próprio centro da cidade recebeu mingua-
dos 13,36 % das mençõe s. Note-se qu e, se não fosse a vio lê ncia na zona Norte 2,
haveria ainda um menor núm ero d e n1enções.
Em São Paulo , a atenção da impren sa para com a área de grande concentra-
ção das cama da s d e alta renda é ainda maior que no Rio, como mostra o Quadro 48.
A região d e alta concentração da s camadas de a lta re nda detém 15,90% dos
domicílios da área pesquisada (área metropolitana excluída a região do ABCD, Mauá ,
Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). No entanto , essa região recebeu 74 .66 % da
atenção da imprensa, admitindo-se - como é razoável fazê-lo - qu e a Folha de S.
Paulo seja rep rese ntat iva da impren sa e que as men ções a logra dour os públi cos se-
jam re pre sentativas d a atenção que a i mpren sa dedica às vá ri as regiões e bairros da
met rópole . Revela nd o muito bem o desprezo das burgu es ia s paulistanas pelo cen-
tro tradicional da metrópole-que ela há muito tempo abandonou -, este recebeu
apena s 5,87 % das menções (con tra l 3,36 % no Rio ).
Sublimina rm entc, a id eo logi a incul ca nas m ent es da maioria a idéia de que
a cidade é aquela parte constituída p or onde es tão os dominantes. Essa ideologia
facilita a ação do Es tado, que privilegia es sa parte. Ao investir n e la, o Es tado está
in vestindo na cidade; ao protegê-la através d a leg is lação urbanística, o Estado es tá
protegendo a cidade. Quando transfere se us aparelhos para o centro nov o criado
pela s e para as burgue s ias, está transferindo-os para o ce ntro nov o da cidade.

• O co nd om mius ao lon go da rod ov ía Castelo Brnn c:o ~ituam -se na zon a Oes te . Em São Pau lo. cnlrctanto,
d ifu nde -se cad a vc1 rnah , f'Sp ec ialmcntc na impren sa, o hábito de de s ignar a região de nlta renda como
"m na Sur . Bairro s com o Ali o de Pinhei ros, Alto do Lapa, Tamborc.t e J\lphaville es t ão a oe ste.

35 0
,l1,hln\ 4- - \n•,t Mf•tro1 olit,lll,l do Rio de Janeiro
~kn 'tlc.'s ,l logradouros segundo zonas {l 993- l 9~Ml

:.,.' ''" .' ,l ,'llltt" t '\. "'"'' :vtc :' LC<lln:> AM Zon. Ov;te Ou tros lota i
(,\) tl) ) l rld!i:ION l
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1 Tt ,i...·a\ 1.. t l:;,ibl'l. .\lto J.t Ho,,\ ist,1.
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~ t\ ":-ttn, tr.hhd, •nJI Rl"giJ,, \dmmistra11,;1 (entro

Quadro48- .Áreal\tetropolitana de São Paulo


~lenções a logradouros segund o zo nas (1993-1994)

Rec.ão~ 9·anóe Mun1c1pios


ro'l:el"tra(c\o das Zoru Zoru Zona Centro da área Ou tros Total
i:off\3-::laS de alta rel'lda ~orte Leste Sul trad1c10nal meiropol tana
ai \b) .cl

'538 135 119 119 121 p 11 2060


~J 666.,, 6,55~ S 78° 0 S 78°''0 58 7
º• 0,83°'i, O,SJQ<
., 100°.

• C.On1unto de ,inte e um subdistritos con tíguos, todos localizndos no qu:idrnn!e sudoeste (\'er figura 30).
b .-\reacompreendida pela avenida Duque de Caxias. :\maral Gurgcl. viaduto Julío de ~lesqwta Filho.
P3.rq uc D. E\!droli. av-cnMado Estado e rua Mauá.
cl facJush'e ABCD.Mauá , Ribeirão Pires e Rio Grande da Serro, uma vez que a Folha d, S. Pault, não noticia
essesrnunic1p10s no caderno ~são Paulo". O jornal 1cm um caderno próprio para essa região. que não foi
pesqu~d o. '\o calculo das porcentagens . a população <lesses municíp10s foi descontada da relativn ~ área
metropolitana i\'a capital. a zon:i Sul inclui os distritos de Ounbuci. lpiranga. Cursino. Sacomã e ParelheLros.
~ 1.0na Oeste mclui os dlSlritos de Leopoldirn1 , Jaguarc, Hio Pequeno e Raposo Ta\'ares.A zona Nonc e tod.i
a ~ã o acima do rio Tietê. A zona leste é toda a região a leste do no Tamanduate1 a ao suJ do no Tictê-

351
Oll"·M.l que 0 de,;L'moi\ imcnlo de ·sa idrologi,1 Sl'I i,11111po-.~ 1Vl'I M'm t1 scgrr-
gaçJo por 1C'g1.1ngP1,1ld.1dd.,clt•; sêl 1.1imrwssí\'el sl' oo.,bairro!->sc~1cgmlos se c~pn-
lh,1 sem pelo~ qualrn rnnws da rid,uk l , '.!j,1 .1 Figur ,l 17).

O co ntr ole do es pa ço intra-urbano e o contr o le do ten 1po


l\ frl'qüeme ,1 idei.1 dl' que t' n <;f'to 1 imobili.11io qtll .' dl'cidc, ntravé-.; de seus
empreendimento'- .. 1locali~,1ç<io t' a /o, 11m- h1l1 izo11t.1b ou \'Prt k.iis - dos bairro-;
das c-.unada~ dt• alt,1 n.•mb. Snrnll....1( H)9:.!,.J) l' 1.1 cnrrC'IO ;w a l1rm .1r que o mercado
imob1lt-1r10e o "st•to1 rt•,pons,l\!l' i p ela prod u ~·.io e 1eproduçfw d a seg rcgnçflo
rcsi<lcnrial 11.l ridadr do Rio de Janci1o". Certnmcnte, num.i economia de merendo,
o mcrc-at.1o imobili.irio tktcrminn imedi,11nmcnt<.' núo so a :-.cgrcgaçüo, mas toda a
e tnituraç:iü dn espaço inlrn-urhnno . .\ 11rmnr.cn trct,111to,que o "!>ctor imobi liário''
é 1csponsm el pel,t scg tcgação é d ifcrcn lc. De CJ Unlquc 1 forma, num caso ou no ou-
tro, cab~ indngar: quem comanda o mercado jm ob ili~rio e o setor imobi liário 110
torante :1localiz:1çào de se us e mpr eendi m ento!-? 1\ s p es qui sa~ nqui cont idas mos-
tr.iram como se dã coman do das cama d as de rnni~ alln renda na estru tu ração do
espaço intra-u rbano e sob re o se tor im ob iliá rio. Em primeiro luga r, as investigações
mo ·traram que urna mesma tend ê ncia de localiz:tção e ca m inh nmcn to dos bai rros
residenciais das camadas de alta re nd a ,·cm se manifes ta nd o cm n ossas mctrnpo les
ha um século e meio. Tal Lc ndê ncia revela o co ntro le, po r pane de las, do processo de
estrutu ração do espaço int ra-urba no, p rocesso qu e se con cret iza sob o im pério do
conlrolc dos tempo s d e desloca me nto <los se res hum a n os e da oc upação d as füens
nmbientnl mcm c ma is agra dáveis. Isso já vinh a oco rrend o cm m eados do sécu lo XIX
cm metro polcs co m o Salvador e Rec ife, cm época e loca l c m qu e o sc lo r imob iliário
- se é que existia enqu anto "setor " - c rn certament e frágil. Mes mo no Rio, as ocu-
pações anteriores a Copacaban a, c m Botafogo, Cntctc e Flam e ngo, dccorrern m de
ações de loteado rcs rudim ent ares, qu e ern m memb ros e represe nt ant es da bu rgue-
sia. e não rcpn'scntn dos por ela. Não tinh am força pnra isso; não co nstituíam, co mo
passara m a constitu ir na segund a met ad e do séc ulo XX, um gru po poderoso, um
componente est rutu rado do mercado, do mark e tin g, dn mídia, da cco nomin e da
açno políticn. No e ntanto, naqu ela époc a, j<í havia de finido a zon a Sul co mo a dir e-
ção do interesse predomin a nte das cam ada s de alt a renda.
Em segundo lugar, as investigaçõ es pre cedent es revelara m qu a is os inte res-
ses concre tos das bur gucsias no dcfin ire m n loca lização ele se us bai rros e no se se-
gregarem numa mesma regiào gemi da cidade, co ndi cio n a nu o desse modo o mer-
cado imobi liári o. Quand o o setor imobiliário p roc urn co nt rar iar os interesses das
burgucsü 1s, ele fracassa. Fora m os casos de lotea me ntos para a classe m~dia alta na
zonn Norte de São Paulo, bem co mo o cas o grit ant e dos ba irros de alta n•nd a cm
Pampulh a, cm Belo Horizo nte, ond e as bur gucs ins não seg uiram as pro pos tas do
se tor imob ili nrio e os e mp reendim e ntos frncassarnm (veja, no capitulo B,sc1y·ão"Bclo
l lorizon tc"). Este traba lho mostrou aqu eles int e resses co nc re tos. l\t osl rou qu e, cm
todas as metrópoles, se m cxccç·ão, as cam adas de a lta re nd a tend em a se seg regar

352
numa única região gcrnl <lacidad e e proc uram os cxpl icoro po1quê fü,-.c'>111t,·n.·
1
-.·,t·•,
- t'não o cnp itnl im obi liário - e que defi nem a loca liznçün cs pnria l eh.·"~"" c.am.i
elase sua dir eção de cr •scimcnto. Mostro u por que o ca pit al imobili ário rompr ~,
terrascom an tecedência de cl6caclas em det er minad a loca lizaçno. e nno vm ou1r.1
qualquer. ~lastro u por qu e a Co mpanhi a City comp rou e lot eo u le i rns pa ra as bur -
guesiaspaulistanas cm determ inad a regi ão de São Paulo, e não c·mo ut ra qualquer .
~lostro u por que há décatlns (muito an tes de él Barra da Tiju ca começa r a St' dc~cn -
volver)ocorreu uma feroz di s puta p ela propr ied ade de alguma s lcrra s na rcg ifío, p or
emprcséírios que mai s tard e iri am ali produ z ir e mpr ee ndim en tos para a a ltn rcndn.
Por que tai s interesses in cidiram sob re aq uela região, e não so bre ou t rn qualqu er?
Por estarem na direção d e expa n são da s ca m ad as de a lta rend a, por es tare m irn,cri d as
na eslrutura urbana n as pos ições est rat égica s para empr ee ndim entos vo ltados pnra
as burguesias, as terra s que mai s tarde viriam a se r o Jardim Améri ca ou a Barra da
Tijuca já tinham se u destino se lado, não por o bra ou desejo do s empr eendedo res
imobiliár ios, e sim pela est ruturaç ão ur bana. E não há ne ssa afirm ação qualqu e r
determ inismo . Esta obra mo s trou que em São Pau lo e no Rio, no séc ulo XIX, e n o
Recife,no século XX, as elite s mudaram a dir eção predominant e de se u crescimen-
to. Isso, cntr eta nro, se deu em virtude d e força s sociais, prin cipalm ente cu lturais, já
analisadas . Nos casos da City ou da Barra da Tijuca , não se vislumbrava , em 1920 e
em 1950, respec tivament e, nenhuma força ou conjunto de forças sociais qu e apon-
tassem uma mudança de dir eção d e cresci m ento das áreas d e alta co nc entr ação dn
alta rend a cm São Paulo ou no Rio. Foi pela inserção urbana da s gleba s que a City
comprou terras no quadrant e sudoeste de São Paulo para loteamento s de st inado s
às camadas de alta renda e qu e, no Rio, várias personal idad es travaram ferozes bata-
lhas- na ju st iça e fora dela- pela compra de terras na Barra da Tiju ca, antes mes-
mo do Plano Lúcio Costa e do elevado do Joá (Orsini e Cezimbra, 1996, 12).
Por outro lado, a forma de moradia das famílias de alta renda é determinad a
pela sua demanda por certas locali zações e formas da s casas. O pro cesso de produ-
ção do espaço urbano e ess a demanda determinaram as osci lações do preço da ter-
ra em torno de seu valor (capít ulo 4, seção "Loc alização, valor e preço da terra" ).
Por que, nas m etrópoles litorân eas, as ca mad as de alta renda moram mai s em apar -
tamentos do que em casas? Porque nessas metrópoles há uma ofena limit ada d e
terrenos com frente para o mar e próximo a ele. Ness as situaçõ es, a terra tem um
alto componente de pr eço de m onopólio. Em conse qü ência, ocorre uma di sp ut a
acirrada pelos terre no s cons iderado s privilegiado s. Como vimo s, a oferta de terre -
nos é altamente condicionada pelos transportes, que definem o espaço onde po-
dem ocorrer as terras "ofertáveis'' . Des sa disputa decorrem terras com preço mais
alto (rela tivamente ao poder aqu isitivo da demanda) nas cidades litorânea s do qu e
nas interiores. 2 O alto pr eç o da terra leva ao uso do ed ifício de apartamento s como a
forma que melhor viabiliza economicamente a ocupação de terreno s privilegi a -
dos - as praias - pela s burguesia s, nas cidade s litorâneas . Note-se, ent re tanto,
que o setor imobiliário poderia querer oferecer apartamentos também nas metr ó-
poles interiore s, na s me smas proporçõ es em que os produ z na metrópole litorâ-

35 3
n '·' ( \<'J• l <Ju.1tl10 2 ..'), t •, pPt 1tl.111do 111,11...,t 1Jtn .1 t1 · 1 r.1 t· ,111111t•111. wl,, , 1•11·, l11t ,,,b J,11
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ment.11-. ptod\lZldl).., 1wln 1r;1h.1ll1n ii1111l,HH>J.t vi1110·,< CJIIHJ . 1·, luc ,dJ/, 11,1 ,1·•, d, •11111
da.., ern te , mo -. de• pn ...,-; 1hlltd.Hlt•.., de ch•, lrn r1111<•11tr1 •. 1•0.,p ; 11 1, 1•, d11 ',<·1 li11111.r r1" w
pa•-.1.•n1ampn ...,c; ih1lldnde s d t• an· ~·w t ' 11u1~,to d ·~1-><·-;11· 1 111.,,,., V 11111 Pi , 1fJ , ap1111 lc 1 '1,

'>CÇ.tO • l ,x ,1l11..1ç,w , valeu t' p11•1; 0 d ,1 l t' rt :i", 'I I IP d11 h 11pu •, d e• .11111>l, 1o •. , 111"' 11· 1 l/.,11r1
05 p o nto ., cJot).;,p.i ço \li b,1 110 : <>5m c ll101.i11)l •11fo -i ptíl>li u1·1 q11t • 11.10 1·11vqJv,·111d, ..tln
ca mento ::. {a inlw -e::,tru1u1a clc-!->: 11u' n11u·11tn, p :1v inH lJ l,1t,:t o , l'I< J t · 11·, lnc .d 11.,l(,r w -,,
1

c.JaJ,1-.pl'lo.., dc..,loca m •nlo :, us::,ociado" ~,o.., cli v<'l ">W,p1>11to•, V11m, ·. 1.111tlJ·111 ,pw o,
melhoiamcnt<h ( .1 infr n- ' SI, u I uia , mm , ,w,J o , •qu q >:1111<·111w, •10, 1,w ,, r'"' q,"' ,.,, ..
c 1n ol\ •m dc~lo cn mcnlrn, ) sno rt'produ.d vc·h pc-lo L1nl>~1IIH, l1L1111,111<J '),tt, l1u1t, •, do
lrnbal ho e pod e m s ·r reprod11ziclo s 1wlo tralrnllw . A l11lrn c",11utu1 :1 ,~ pf<,d11.1.ld ;, ,.
p ode ::,er reprod u í'ic.in pelo tr ahnl l,o humall<J e• C"ilt.·11<lid;i u l c,cla a 1.1d.1cl1 •. J l :í p rd,w »
do Pri m c i ro Mundo cm que toei:, t erra urban:1 Lc•m Ioda in l ru c·•11rn I ui:,,. 1•,•.o torna c1
c::,paço urbano homogêneo, de ss e ponto ck vi-,t:a. Co m a 1,,( u liz n<y:toé d í lc·11•11tr• Lm
no ::,..1s análises ob::.crvamo:-, que ela d como :1s obr :1'l de :111,. <·:1111 igui clnd1·'>. f1111 o""
trabalho humano que n fio pode ser rcprod11ziclo pl'lo Lral,;ill1c, h 1111w110 ~u a 101.-,h
d ade da cidade produ z e reproduz loca liz:.1<;õcs 1 11 rn-, ,.-la<,h~to ar, c•prrnluzí v,•h f·.1111 ·
poss1vel produzir duas esquina~ da i; avenida s Sao Joan e lp irauw1, Hio Brnn c:o, ,,n1
Pre ide nte Vargas.
Dentre os dc~locamcnlos nssociadoc; :1 umn dada l ocalizn çtto, h á qtw •,(•dl , .
tinguir o de sloca ment o de mer cadoria s cio de pe ssoa e.;. Vimos qtH ! c·i,tc t'll I irn" dornl
na o primeiro no caso do espa ço urbano. Vimo-;, por cx ,•mplo, qu,· o-; u•nrro '-iprin, i
pai::, e OS!,ubcenLro s não se formam aLenc.lc ncJo intcrc ...~c'> do trn11'lpo1 w d· ca1w 1!S,e•
<,jn, o~ intere sses tio dc ...lucamcnto de pe ssoas, orga ni zaúus t:fll !). CJ mc•,mc, ·1~
las s<.:
d á com relação ao s bairro s residencia is cm gemi. Po1 unrn qu c<.;ta o de in'>li11to (co mu
no primeiro alo hi stó ri co), o tempo do se r humano, cnquanlo algo i,r ccupc·rávc l,
dominará o lcrnpo d e de slocamento do cn pit:il s ob qualquer urna d e "ilia~ forma -.;.
Jsso é uma que stão tão f uncJamenLal, que é inaceit áve l deixar de: pron11 ar •tua ...,·c,n -
scqüéncia!> 01 1 distinçõe s. Já as vimos na dí stinçao e ntr e o espaço regional, . o intra
urbano (capí tulo 2) . Além db so, dcvc-:,c considerar qu · no ca'>o do Lcrnpo de: d e~
locamcnto d o 5er humano - e só nele - há um c onflito de tempos : una que -,e
quer reduzir e outro que se quer am pli ar. O ternpo - c.lcsgac.;lc, o 1<.!lllfJ<>perdido (cm
dc sJocnmcnto!>) deve ticr reduzido, ma c:io tempo de laz.cr <' o tc::mpo d<" rcrowm
devem ser amp li ado s. Mai s um fator qu e fnz pr edominar o lcrnpo de d cs lo cnnrnn -
to do se r humano sobre os d c mai<;.
Vimos ninda no cn pflulo 2, seção "Espccifk id adc s do C"ipac.,:ointra - urbano ",
que a lo caliza~·ão é rela çã o (a o ul ros obje tos ou conju nt os de objeto s) e a l o calizaçãCJ
in tra- urbana é um tipo c~pccffic..o de lo calização: aquela na qual as rc laçoci, ,mo
podem exis tir sem o co ntato fí sic o dirclo que e nvol ve c.fcslo carnen l os d o s produlo -

35 4
res e dos consumidores entre os locais de moradía e os ele produção e cnnsun1n. 11~.
então, dois outros tipos de espaço: o qu e e nvo lve dcslocamcnro s e os que ,mo cm-
volvemdeslocamento s (os objetos cm si). Nestes último s, o espaço 6 cindo por r('(a-
ções visuais ou po r contato direto (rede de água ou de pavimen taçtío, por exe mplo) .
Nalocalização, ns re lações devem se dar atra vés do s tran sporte s (de produt os, de
energia e de pes soas) e das comu nica ções.
O estudo do espaço te rritorial não se p reoc upa com a produ ção do espaço cio
objeto em si, da praça ou do edifício, ma s co m suas localizaçõe s. /\ produ ção de
edifícios ou o conju nto d e edifíc ios (e ns respectivas transfo rm ações) - A NoilC, o
Martinelli, Barra da Tijuca , Copacaba na, o Jardim Am 6rica, a avenida Pauli sta, etc.
- só pode ser entendida.e explicada, se forem cons ideradas s ua s localizaç ões . A
localização está associada ao espaço intra -urbm10 co mo um todo, poi s refere- se às
relações entre um determinado ponto do terri tó rio urbélno e todos os demai s. As
localizações, e não o Martinelli, a avenida Pau lista, A Noite, as ruas e praças, é que
são os produtos - os va lore s - do espaço territorial.
Vimos que a localização que domina a produção do espaço in tra- urb ano é
definida pelas possibilidades de deslocamento do ser humano , e que denominamo s
"terra-localização" (Villaça, 1985) ou "loca lização pura". Vimos também que é ela
que especit1ca o espaço urban o, enquanto o d es locamen to de mercadoria s cspeciíi-
ca o espaço regional.
Da acessibilidade depende a possibilidade de viver na cidade, e para viver é
necessário produzir e reproduzir a vida material, é n ecessá rio trabal har ; para isso,
para fazer história, o homem urbano precisa se deslocar espacial mente e nisso
despende energia e perde tempo Aqui, novam ente , há uma distinção importante
entre os dois. A primeira pode ser recupe rada, o segu ndo , porém, é irrecuperável.
Esteúltimo ent ão domina o primeiro e determina a est ruturaç ão d o espaço urbano.
Os diferentes pontos do espaço urbano oferecem di ferentes possibilidades
de contato com lodos os d emai s pontos. Assim, o espaço urbano é intrinsecamente
desigual. Entretanto- e é esse o aspecto que desejamos destacar-, o tipo de desi-
gualdade mais freqüentemente considerado é adisponib Uidade de equipamentos e
infra-estrutura e a qualidade das edificações, e ntre o centro e a periferia, por exem-
plo.Essa desigualdade existe, sem dúvida. Por ém, há outra desigualdade tão ou mais
importante como força est rutur adora do espaço intra-urb ano, pois ela domina tam-
bém a polarização ce ntro x periferia, e va i além dela. É a desigualdade fruto das
diferenças de acessibilidade a todos os pontos do espaço urban o. A segregação da s
classes dominantes é um mecanismo necessário para otimizar a apropriação, em
proveito delas, das vantagens do espaço desigual.
Quando o seto r imobiliár io, representando os int e resses das bu rguesias, es-
colhe uma dete rmin ada localização para um empreendimento, ele pesa os vários
prós e co ntras envo lvidos n essa esco lha . Dent re os prim eiros, destaca-se o meio
ambiente e dentre os segu ndo s, os deslocamentos envolvidos. A infra-estrutura vem
depois; ela é traz ida pelas burguesias, inclu sive a de transportes, qu e é cont inua-
mente aprimorada, uma vez que envolve os des locamentos. Entreta nto, a otimização

355
r
dlh t,•mpo, til' de-;hH .im (•nto. c m fac<.'c.lt: um co njunto de nc cc<,slcladc~ ou desejo s
t lo tl' gr,\llcll' num meio .1111l>ic 111e .igrad áv<.!l),é o ob Jc t ivo que dominará os demais.
lnd, 1 ptn d 11,-.,01cnn s um o ele c•spnço 6 p m du çao/consumo de loc aJizaçõe s, e toda
p1,>tht\ ·,10 ti l' lo ·.1liz,1,·<e-. e p1odu çào de te m po, vic:;toloda localização ser ca ractcri-
1:id.1 prec 1~ame n 1r p l'l ns lt~rt1pos d e d cc;l orn m c nl o d o ~cr hllmano a ela ass ociados
No p 1oc-c-:sodL' p ro du ~·fto/c on sum o d o es p aço ur hano, a s classes socia is en-
UJm r·m um,1 d i-;put a . Com o c m muito s out ros ca so\, trata-se de uma di sputa pela
··.._1prnp1 iac;.10difc rc ncin d a pe lo p rodut o do trabalh o" (Castc lls, l 976, 142). As cJasses
H"ll ' 1ai!-. dbputa m ns v:111tagt' n s do e pa ço, e a vanta ge m m ais d is p utada é a loca liza-
ç:w · pur,1."
As loca lizações se d e fin e m pcla 5 co ndi ções e p oss ib ilid a d es d e a cesso dos
homl 'ln ~ nos recursos cio cs pn~·o urlrnn o, do es pa ç o co n s tru íd o. Ess a s co ndi ções e
poss1b1hcladcs. p or ·c u Indo, se definem pel a org a ni z a ção soci a l (ve ja, n o capítu-
lo 8 , scç.io ·'l)e:; Joc ament os , in corporação imobili á ria , form a ur b ana e e stil os de
v,d:1) e p elos m e ios de tran s port e. O s hom e ns urbano s tê m dif e re nte s c ondi çõ es
dt~ t rnn · porte. Im ag inad o um espaço urbano congelado e dad o a prio ri, a quel es
que po s u 1rcm melhor es condiçõe s de lo comoção (s is tema v iá rio , ve ículo s, etc.)
melhor u s ufru irão os recur s os do e spaço. O es paço urbano, entretanto , não é um
dado co n gela d o. Ele es t:í continuamente s endo produzido e reproduzid o. A pro-
duc;ào d o espnç o co n siste em produzir e reproduzir localizaçõe s melhore s ou pio-
re . Qua lq u er p o nto do espaço urbano está associado a um leque de deslocamen-
tos possí\'eis, e nvo lvendo as origen s e os de s tinos dos de s locamento s (a partir da
cu a, do tr a b a lho do marido, do trabalho da mulher, da escola da s criança s, do
lazer, etc. ). Na produção do espaço urbano, cada origem é produzida em função
do desti n o e ca da de stino é produzido em função da origem. Os que comandam
a p rod ução do es paço urbano produzem melhore s condições des se conjunto de
desloca m e nt os. A aces s ibilidade é produzida e consumida (transformada ) no
p róp rio proce sso de produção e consumo do espaço urbano. A produção e con-
sun10 do es p aç o urbano nada mai s é, cm última instância, do que a produção e
consu m o d e acess ibiJidade s, ou seja, de localizações. A acessibilidade se produz
e n tão d upl a m e nt e : em primeiro lugar, durante a própria produção / con s umo do
espaço, is to é, dos pontos a serem interligados. Em segundo lugar, pela atuação
sobre o s is te ma de transporte que une os pontos produzidos a serem interliga-
dos. a área onde tendem a se s egregar as camadas de alta renda, as lo c ali zaçõe s
se pro duze m e co ns omem por e para um determinado sistema de transportes:
a q uele bas eado no automóvel. No restante da cidade, elas se produzem e se con-
so me m p elo e para o transporte público, com toda a sua precariedade , quando
n ã o p a ra os d es locamentos a pé.
As burgu es ias contro lam, então, os seus tempo s de deslocamento - e tam-
bé m os do s outro s - de maneira dupla, quando produzem o espaço e quando de -
senvol vem o s meio s de transpo rt e, de deslocamento.
O di s pêndio de tempo de deslocame nto do ser humano é, por isso.
indi ss ociá vel do espaço socia l, do espaço produzido . Todo e qualquer "ponto" do

356
t",paço..ori, il t''-1,t ,lssociado ,1 um u•rto wtsto d • IC'rtlJHJnn <11,.r n "
'l'I ht1111.mo pode fozcr clt><.'para clt I J.í ui, cnt , o. urn 1•n1r•l ç, ,m.·nco dt
trl\ 1empne r-..pa~·o.
As ro n~idera,oc-, aum.i . ca be agora at·w cenc,1r o dt~ g. t d
scre:,humano~ no, 'i('ll', dcc:.locan 1<.
•nto \ c-,paciaic;. t\ Clll'í~t, t e wcup r r mp
de dc~locamcnto n,10. l' "ita t; a r,11 ,10 por qu .. ,1 lura iwtu l011trolt· d o tempo de
cnmcntn do ~er humano domin aª" demni -.h1t,1spt•lo cspn\o · prl, r.omrolc d
de!-.lo
energia dec;prndida , do tempo dr d csloc,Hnt'n lo elo ca pH;t ) l' pt lo con tro le dc11m -
plantnção da inf r.1-c~t rutura
Nns metrópol e<,brn-;ilcirns, n e norm e cl,e..,1gunld,1clc · sonal produz p, ços. 1-
tamcntc dcs1guai!l. Nao apcnn s do p onto <.kvbtn de ,cus cqmp.1mcnt<J - 01 J
fartnmrntc dc~tacnda - , ma s d o ponto de v rc;ld de suas local1zaçõr.s Na disputa
pelocontrole dos tempos de dc slocnrncnto, a clas,c dominam <:l,mça n .10 dr\ .mos
estratagemas. O que mai s queremo s de stacar aqui é a -;cgrcgaçuo. e)mó\ .., que I • .1
à scgrcgaçno espacia l é a lula pe la apropriação difrren c1adn do produto "'ponto· ou
localização,enqunnto valor de uso do espaço prodtu.1do otr construído .
Prossignmos co m Lefebvre (1974, 39 1), rcir erand o uma rcfü:xao jí\ e hoçacl,1
no capítulo 4, seção "Loca lização, valor e preço da terra". Ne..,sa ncasi,in 1. ·ícl~rc
trata o espaço como produto produ zido, detentor e um cu~to úc:produ c;ao , com o
uma mercado ria. No capítulo 10, seção "Nature za do cen tro prin cipal .., quando ,.
dá ênfase a tempos de deslocamento. Aí, citamos novamen te Leíehvre .H> .1firn1.1r
que o adquirente do espaço compra também uma distânci a e, ao falar cm cl1 t:1nct.t,
dizque o tempo en tra em cena. Observa que, ao se comprar e pa ço "cnmpra- ..um
emprego de tempo, e esse emp rego de tempo é o valor de uso do C!>pt1<_0". DcdMa
ainda que "o espaço envolve o tempo e que este não se deixa redc~ir lgnfo no oi . t!
o caso do espaço urbano, no qual se alua sobre o espaço para reduz.ir o l~mpo. 1.i
que não se pode atuar sobre o próprio tempo , pois este não se deixa reduzir .
Chega-se assim à união entre espaço e tempo . A mai s podcroc;a for\·a que
atua sobre a estruturação do espaço urbano é o controle do tempo dt>dcslol ·u-
rnento do ser humano. Poder-se-ia dizer o contrário? Sim. Lefcbvre .tcabou de: de -
clarar que o tempo não se deixa redu zir, dando a entender que e acuancio ,obrt· o
espaço que se contro la (red uz) o tempo. Marx, por exemplo, disse o rontrárlt) Apre -
senta algumas considerações inter essan tes sobre esse tema . e por I sovamo, usa -
las como material para aux iliar a aná lise. Observa ele : "The more produ ctton co -
mes to rest on exchange valuc, hencc on cx:change, thc rnore imponant do thc
physical conditio ns of exchange - thc mcans of communicauon an<l crnn port -
become for the cost of circulation. Cnpita l, by its naturc, drives heyond evcrv c;pati~tl
barrier. Thus , the crcation of phy sica l conditions of exch'"mge - orth c menn ot
communicaLion and transporl - the annihilntion of spa ce by time [grifo no,so l-
becomes an extraordinary necessity for it" (1977, 524). Para Marx, o 1mpC'l o, o im -
pulso de controlar o tempo é que aniqu ila o espaço. E entretanto, ele nunca pen -
sou em tempo de deslocamento de pessoa s no espaço intra -urbano , quer enquan-
to força de trabalho, quer e nquant o consumidora s; apenas cm temp o de

357
deslocamento espacial regional do cap ital em quai squer de suas forma s. "O prin-
cipal meio dP abreviar o tempo de circulação é o prog resso do s tran sportes eco-
municações (s.d., L.3 v. 4, 79)." É que o espaço que prcdomi na na mente de Marx é,
em primeiro lugar, um espaço regional ou planetário e, em segun do lugar, um es-
paço fixo, dndo; ele pensa principa lm ente no consumo do espaço mais qu e na sua
produção . Is o se revela sobretudo pelo fato de ele relacionar o espaço regional, os
tran sportes e as co municações mai s co m a circu lação (como no trecho acima cita-
do, qunndo fala cm "cos ts of circulation'') do que com a produção do pr óprio espa-
ço. Quando afirma, por exemplo: ''Nesse domínio (da circulação) operou-se, du-
rante os últimos cinqüenta anos, uma revolução que só se pode comparar com a
Revolução Indu st rial da segunda metade do sécu lo anterior. Em terra , a ferrovia
colocou cm plano inferior a estrada macadamizada; no mar, as linhas regulares
dos vapores eclipsaram os irregulare s e lentos nav ios a ve la e as linha s telegráficas
cingem o globo terrestre. Só ago ra , a ibcm dizer, o canal de Suez abriu a Ásia Or ien-
tal e a Austrália ao tráfego a vapor. Em 1847 , o tempo de circu lação de mercadoria
remetida à Ásia Orienta] era pelo meno s de doze meses (. .. ), o que hoje pode ser
reduzido a aproximadamente o me s mo número de semanas. Os dois grandes fo-
cos de crise e m 1825-1857, a América e a Índia , com essa revolução n os tr anspor-
tes, ficaram 70-90% mais próximos dos países industria is e urop eus e com isso per-
deram grande parte da ca p acidade explosiva. Ab reviou-se na mesma medida o
tempo de rotação de todo o comércio mundial. e aume n tou mais de dua s ou três
\·ezcs a capac idade de operar dos capita is nele empreg ados" (idem, ibi d., 79-80). 3
Num tal espaço, os transporte s e comunicações - as ferrovias, os canais, o telé-
grafo-desempenham o papel de encur tar as distâncias e o tempo entre dois pon-
tos dados.
A id éia de que a própria produção do espaço (desses dois pontos ) ocorre com
vista s ao tempo não domina o pensamento de Marx. O contro le do tempo por ocasião
da própria produção do espaço, embutido n esse processo. aparece apenas quando
Marx analisa a cooperação. Contudo, a idéia que predomina em Marx é a da sujeição
do espaço ao tempo (s.d., L. 2,404, v. 3. 265) . Mesmo quando relaciona espaço (densi-
dade) co m tempo (transportes), a densidade aparece como decorrência. Em Marx, as
idéias sobre produção do espaço nno estavam dese n volv id as (nem hoje estão!) e ele
não chegou a perceber que o controle do tempo ocorre no próprio mom ento dessa
produção e não d epois ''do espaço pro nt o", durante a circulação. Mesmo quando rela-
ciona-o com a produção, abo rda preci sa m e nt e aqueles aspectos que envolvem deslo-
camenlo espacia l de cap ilal (sob a forma de mercadoria ou não), como a cons trução
de ferrovia s e ca n ais. Comp reende-se, assim, que ele tenha abordando a aniqu ilação
d o espaço pelo tem p o, e não vice-ve rsa.
Lcfcbvre (] 979,291) sugere maior int erpe n etração e ntr e es p aço e tempo. [ni-
cial m e nt e parece sugeri r a s ujeição do Le mp o ao espaço; o tempo é que esLaria, em
última in s tânc ia , vin c ul ado ao espaço, e n ão vice-versa. Mas e m seg uid a afirma que
o tempo é nossa vida. "O es p aço é um va lor de u so; mas o te mpo , ao qual ele es tá

358
ligado cm última in~lnn ci,1, o é muito mai s, porque o ll'mpo no,;<;ctv1d.-, no ,, t'
\'.tlordr uso lund arnrntal. O temp o de~npar cccu 110 C''-paço-;ocinl da moclNnid,1d1•."•
Nn vercfadc,as duas coisas ocorrem 1:, irnulta11enmc ntt.•· héitanto ani<lllll,1ç,1<1
do espaço pelo temp o co mo vice-versa. Entretanto, deve '-Crrcs,nltado qtw o t·ntw -
laçarnento entre espnço e tempo realmente adquir e tonn lidad cs parttcularec:,ric, ( n,o
do tempo de de slocamento de pesc;; oas, dr cu nc;;
umidorc ~. de.:fo1ç.i de tr,1halho. nn
nmbicntc construído . Para esse aspecto, infcl izmcnl c Marx n.10 atC'ntou
Dialeticamente , o homem atua sobre o tempo para rcclu1.iro r,pnço. é1<>mrs-
mo tempo e pelo mrsmo processo que atua so bre o cc:;priçoparn reduzir o tempo .
Pode-se dizer tamb ém : "On achéte un cmploi d'c space ct cct emploi d'c-.pnce e.011c:.-
tituc la valem d'u sage du tcmps". O que procurnmo s mostrar nc'>ta obrn íoi cxal,1-
mente esta outra face dessa propo sição dialética: a aniquilação do tempo pelo C'ipt1·
ço. Deu-se ênfase à produção do espaço - urbano, no caso-, qu e acabou por se
revelarcomo uma forma de controlar (atuar sobre) o tempo. O espaço (tal como o
tempo) não é algo dado a priori, e no se u próprio pro cesso de produ çao Já vem
embutido, simu ltaneamente, o controle do tempo- no caso, o temp o de desloca -
mento dos homens. Os pare s de proposições acima relacionando espaço e tempo
("aniquilação do tempo pelo espaço x aniquilação do espaço pelo tempo ", ou "On
achétc un emploi d'espace et cet emploi d'espacc constitue la valeur d'u sagc du
tcmps'' x"On achéte un emploi du temps et cet emploi du temps conslitue la valcur
d'usage de !'espace") ou são ambos aceitávei s (se admitir que são simultâneo~}. ou
são ambos inaceitáveis (se for admitido que são separados).
Éatravés da relação dialética entre tempo e espaço- na qual o tempo aparece
como tempo de deslocamento do ser humano - que o tempo deixa de ser um con-
ceito abstrato, uma categoria metafí sica que paira fora e além do controle dos ho-
mens.A produção do espaço aparece, então, como forma de controle do temp o, por
meio de um trabalho coletivo, social, no qual as classes entram em conílilo visa ndo
apropriar-se diferenciadamente dos frutos do trabalho envolvido nessa produç ão.
Recapitulemo s, então, uma conclusão importante já enunciada: é nece ssá ria
uma certa geografia, uma certa configuração espacial (a segregação) para viabilizar
a dominação através do espaço. Sem essa configuração, seriam talvez impos ·ívcis-
ou extremamente difíceis - a dominação e a desigual apropria ção dos fruto s cJotra -
balho despendido na produção do espaço. Um dos objetivos desta obra foi dcmon~-
trar a tese segundo a qual é por meio da segregação que a classe dominante controla o
espaço urbano, sujeitando-o aos seus interesses. Serão diferentes os podere s de do -
míniosobre o espaço urbano, de duas sociedades urbanas com as mesmas caracterís-
ticas sociais, culturais, econômicas e políticas, se suas espacialidades forem diferen -
tes. Asegregação é um processo necessário para que haja esse domíni o. A segregac;ào
consiste, pois, numa determinada espacialidade, sem a qual esse domínio não pode-
ria ocorrer. Para Soja (1993, 109), a essência anti-hegeliana e antiidealista de Marx

• "Spacc is a use vnluc, but evcn more sois lim e lo which il is nl1imatcly linkcd, bccau se tlm t' L~nur lif<',0111
funclumcn1aluse valuc. Time has disnppeared in thc social space of modcrnily ."

359
tomou inaceitável "uma dialética espacial, ainda que materialista com os seres hu.
manos produzindo suas geografias e sendo cerceados pelo que produziram".
Este trabalho pretendeu mo strar qu e a segregação é uma deiermmada ge-0 .
grafia, produzida pela cla sse dominante , e com a qual essa classe exerce sua dom 1•
nação através do espaço urbano . Trata-se, portanto , de um caso de efeilo do es.paco
sob re o soc ial. Evidentemente esse espaço produzido é, ele próprio . social ~ó os.o-
cial pode constranger ou condicionar o socia l.
Essas reílexões repre se ntam o ponto mai s avançado a que chegaram ess~
p es qui s as sobre espaço intra-urbano e a nature za da localização; nesc-.e ponto in-
cluem- se as reflexões sobre a produção e consumo desse espaço como sendo domi·
nada s pela disputa em torno do controle do tempo de deslocamenw do ser huma-
no: aquelas sobre papel da cla sse dominant e nesse controle e a interpretação da
segregação como um proce sso nece ssá rio para o pleno exercício da dominação a1ra-
vés do espaço urbano. Devem ainda ser incluída s ne sse p onto avançado as reflexões
sobre as relações entre segregação, controle do esta do por parte da cJasse dominan-
te e ideologia, as interpretações referente s aos shoppin g centcrs e as reflexões sobre
localização , valor, preço e renda da terra urbana .
As pesquisas sobre segregação e seu papel na estruturação do espaço urbano
e nesta s "Reflexões finai s" podem também se r encaradas do ponto de vi sra do papel
exercido pelo espaço urbano sobre a organizaç ão social. Com efeito. quase todas as
an álises espaciais - intra-urbanas ou regionai s - feita s nas últimas décadas, par-
tem de transformações sociais (em geral as transforma ções económicas) para delas
inferir, ou derivar, as transformações espaciais. No entant o, há que se considerar
também o inverso e isso raramente ocorre. O esp aço tamb ém age sobre o social. Foi
nesse sentido que apresentamos no VII Encontro Nacional daANPUR (Recife, 1997)
o trabalho "Efeitos do espaço sobre o social na metrópole br asileira" (ver Anais,\. 2,
p. 1375) que se utiliza das pesquisas contidas neste livro.

360
p

Notas
for.m1 pcsqu1 ado" \'ín te números do caderno "São Paulo" e da seção "Cidade ", alcatonn-
1entt.• selccionad0s durante oo;anos de 1993 e 1994 . No caso do Rio, os período ,:;,:;cleciona-
~os 11jo coincidiram mm a época cm que o Exércllo int erve io na cidade , qu .ind o o noticiá-
~lll policial ~obre a w nn Norte foi atípico. Além disso, nesses mesmos anos, foram ülcaroria -
(11t'.'nle-.elrcion,1dos oito num eras do sup lemento , "Domingo", do Jornal do Brasil, e oito d ~1
"Folhinha", tia rolha de S. Paulo .
.,_resqui ·a junto a cor re tores im obil iüri os, rea liza da em 1994, mo s trou qu e um lot e em condo -
- minio fechado re~idcncinl uni familiar, sem equipamento de lazer, que começou a ~e formar
3
r ~utir d.l d~c.:ada de l !170 ou 1980, na pe riferia de alrn renda, a 12 quilômetro s do centro de
Belo Horizonte , no município cJe ova Lima, custava em médi a RS40,00 o metro quadrad o;
cmc:ondommin com equ ipam ento de laze r custa va de H$ 70 n R$ 100,00o metro quadrado .
Um lotea 18 quili>metrosdo centro cJcSalvador, em ~oteamcntoresidencial unifamilíarc omum ,
com frenie para o mar (divi sa de Lauro de Freitas). tinha o preço médio de RSI00,00o metro
quadrado . No mes mo local. se m frente para o mar, num loteamento que permite edifícios
(Costa .-\lul), o preço é de RS150,00 o metro quadrado . AJém de Lauro de freitas, a 30 qujlóme-
rros do cen tro de Salvado r, um lote de 4 mil metro s quadrados num con<lominio fechad o, de
luxo tEncontro das t'.guas). sem frente para o mar, custa de R$100a 5120,00o metro qu adrad o.
~l:1i<; ou menos à me,:;ma di stância do centro de Snlvador, no condomínio Vilas do Atlânrico,
um lote com freme para o mar custa RS80,00 o metro quadrado em média.
3 Isso não significa que ~tarx não tenh a associado os transporte s ü produ ção. Pelo contrário ,
inseriu-o nela. :--.:a cooperação, Marx associa espaço à força produüva, mas não está falando
de M espaço regiona l". Quando fala em "aproximar po ntos'', como no trecho citado, está pen -
sando em geral n a circula ção.

361
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de Siio Paulo . Esta obra cst,i disponível n.15 biblio1ccas de arqurtcrurn , gec>grnfi.l e
ciências socinis das universidades fedem is do Rio de Janeiro, ~tinas Gerai'>,Hiu Grande
do Sul e Bahia, bem como nas da USf~Encontra-se ainda na Biblioteca Public...ide
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As pe~qui~asque originaram este livro contarJm com o al)(,iu tinant:dm da FAP~ P -
Fundaçãode Amparo a Pesqui\a do Estado de 5üo Paulo Ele foi escrito como part"· da-.
atividadesdo autor enquanto profcs\or em Regune de Deuica\·fio lntegrn.la Dcxêm:iu ~ à
(RDIDP) da Faculdade de Arquitetura e Urbani"imoda Un11,:cr\idadé<lc:~à.o Paul<,.
Pe!)quisa

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Assiste nte e ditor ial MareiaRegina Jaschke Machado
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FICHA T~CNICA

lmpress l o PaymGráficae E<lltorale da.


Papel Chamo1sFlne Dunas80g (miolo), Cartão Carolina 250g (capa)

Parapreservar as florestas e o 5
100"'
,. provenientede reflor recursos natu
. rats, este lr'tro foi impresso em papel
estamento e proc essado livre de doro.


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eapitaise queo cs~ço intr,Hubttnoé cstrutund opclocontrole
do tempodedl'5lou.mtnto dos~creshumanos cnq~to consumidores.

Noc.uoinln-urbmo,iS po ibiLidid~ dmecontrole fm.mcomqueascl..sscs sociilidisputtm


iliu.çõcse issose curmtopororui.iod.isuaproduçio
,1\ loc como deseuconsum o.N~c cntio
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