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Coordenação de Áreas Acadêmicas I

Teorias e Metodologias da História II


Licenciatura em História
Docente: Maria Abadia Cardoso
Discente: Douglas Herculano da Cruz

RÉMOND, René (Org.). Por uma história política. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2003.

Uma história Presente

Rémond, em seu texto, traz explicações sensatas e válidas a respeito do


historiador, no início ele dirá que o historiador é sempre de um tempo, aquele em
que o acaso o fez nascer. Ele abraça, às vezes sem saber, as curiosidades, as
inclinações, os pressupostos, enfim, a ideologia dominante. Mesmo quando se
opõe, ele ainda se determina por referência aos postulados de seu tempo. A história
política está passando por uma surpreendente reviravolta, com isso, sua
importância da qual os historiadores nem sempre percebem e lado da história das
relações internacionais, a história religiosa, também reformada e em pleno
desenvolvimento, a história cultural, a última a chegar, goza de um entusiasmo
comparável àquele de que a história econômica e a história se beneficiaram outrora.
Os historiadores, muito fazem dos fenômenos políticos o principal objeto de seu
estudo por essa razão, para este o autor, registrar este fenômeno e tratá-lo como
um objeto da história, escrutinar suas causas, medir seu alcance, apreciar seu
significado. Colocaremos o evento em uma perspectiva temporal, por meio de uma
síntese dos sucessivos estados da história política.
No Antigo Regime, a história foi naturalmente ordenada tendo em vista a
glória do soberano e a exaltação da monarquia. As revoluções que derrubaram os
regimes monárquicos não destronaram a história política de sua posição
preeminente, apenas mudaram seu objeto. Em vez de centrar-se na pessoa do
monarca, a história política voltou-se para o Estado e a nação. A renovação que
marcou tão profundamente a disciplina da história na França teve a história política
como alvo principal e primeira vítima, suas características, que pareciam
constitutivas do estudo da política, faziam dela uma espécie de somatório de todos
os defeitos que uma nova concepção denunciava na história tradicional, subjacente
à acusação contra a história política havia uma controvérsia fundamental sobre a
natureza das verdadeiras realidades sociais.
Com isso, a nova história considerava as estruturas duráveis ​mais reais e
decisivas do que os acidentes da conjuntura, suas suposições eram de que os
comportamentos coletivos eram mais importantes para o curso da história do que as
iniciativas individuais, ora, a história política apresentava uma configuração
exatamente contrária a essa história ideal, tendo apenas olhos para os acidentes e
circunstâncias mais superficiais, esgotando-se na análise das crises ministeriais. A
vocação do historiador é interrogar-se sobre o sentido dos fatos, enquanto sua
especificidade reside na atitude interrogativa. A história política manteve-se
uniformemente narrativa, escrava da história linear e, na melhor das hipóteses,
apenas temperou a mediocridade de uma descrição submetida à cronologia pelo
talento ocasional do autor. A história política continuou a prestar atenção excessiva
aos humores e problemas de saúde dos líderes, uma história elitista e aristocrática,
condenada pelo ímpeto das maçãs e pelo advento da democracia, ignorando forças
profundas e causas ocultas, e ignorando necessidades e mecanismos, ela imaginou
que as vontades pessoais direcionam o curso das coisas.
A história política arcaria com os custos da renovação da disciplina: história
obsoleta, subjugada a uma concepção antiquada, que já tinha seu tempo. Já os
historiadores fracos o bastante para ainda se interessarem pela política, e
praticarem essa história ultrapassada, fariam o papel de retardatários, uma espécie
em extinção, condenada à extinção.
Com isso, René trará as novas orientações da pesquisa histórica que
estavam em harmonia com o ambiente intelectual e político, culminando e fazendo
parte de uma filosofia global que compartilhava o clima da época, e encontrava
convivências e pontos de concordância para apoiar a ideologia dominante. O
advento da democracia política e social, o impulso do movimento operário, a difusão
do socialismo direcionaram os olhos para as massas, nessas sociedades
contemporâneas, a política se organiza em torno do Estado e se estrutura em torno
dele, o poder do Estado representa o mais alto grau de organização política, é
também o principal objeto de competição. Seus críticos modernos proclamam que
não é soberano nem imparcial: é sempre monopolizado e não tem existência própria
nem independência efetiva.
Primar no estudo do Estado, como se ele encontrasse em si o seu princípio e
a sua razão de ser é, portanto, deter-se na aparência das coisas, o Estado nunca é
mais que um instrumento da classe dominante, as iniciativas dos poderes públicos,
as decisões dos governos são apenas a expressão da correlação de forças, mesmo
em meio aos programas de recrutamento de futuros professores inscrevem fatos
propriamente políticos em seu cardápio. Sem dúvida, uma das primeiras vezes que
uma abordagem estritamente política foi elevada a tal dignidade pedagógica, uma
realidade histórica em movimento…
Em um simples efeito mecânico da alternância de modas, ou o resultado de
uma reflexão mais profunda sobre o objeto do conhecimento histórico, como uma ou
outra dessas interpretações é adotada, o significado do fato muda completamente.
Com isso, para explicar o progressivo declínio e desaparecimento da história
política, era necessário considerar tanto o movimento próprio da pesquisa histórica
quanto o ambiente ideológico. A opinião pública não ficou indiferente a esta
metamorfose do político e dela tirou as suas consequências. Os cidadãos se sentem
mais membros de um corpo político e consentem mais do que nunca em participar
das decisões que afetam a comunidade. Talvez até aconteça que esse interesse
pela política às vezes vá além da medida e não seja isento de alguns excessos.
Os movimentos de 1968, em um olhar macro e amplo e um tanto abusivo do
conceito de poder, pouco fizeram para trazer a política de volta ao centro da
reflexão. Na verdade, já não é a mesma história política, e a sua transformação é
um bom exemplo da forma como uma disciplina se renova sob pressão externa e
como resultado de uma reflexão crítica. A geração que redescobriu a importância da
história política teve precursores. Os contemporâneos como aborda Napolitano em
muitas de suas obras, nem sempre perceberam que esses pioneiros abriram o
caminho para o futuro. Charles Seignobos foi um dos primeiros a perceber dois
fatos importantes cuja verificação foi decisiva nas origens da sociologia eleitoral.
Seignobos destacou a constância, na superfície do território, da divisão
direita-esquerda através de vicissitudes políticas, mudanças de regime, aparentes
flutuações na opinião pública…
Georges Weill, agora amplamente esquecido, teve sua influência certa na
formação de vários historiadores, a nomenclatura dos assuntos que compõem sua
bibliografia delineia de antemão a configuração dos principais rumos que a ciência
política tomaria posteriormente. Quase não há assuntos pelos quais ele não tenha
se interessado um terço de século antes de se tornarem os títulos dos capítulos da
nova história política. A história política deve muito aos intercâmbios com outras
disciplinas: sociologia, direito público, psicologia social e até psicanálise,
linguística, matemática, informática, cartografia e outras. De uns a história
política emprestou técnicas de pesquisa ou tratamento, de outros, conceitos, um
vocabulário, uma problemática. O historiador passou a se interessar por fenômenos
sociais até então negligenciados, como a abstenção, de outras ciências do homem
em sociedade, a história política emprestou noções e questões. A ciência política,
combinando seus efeitos com a sociologia, obrigou o historiador a formular questões
que renovam perspectivas.
Essa tal renovação da história política, encontrou um ambiente mais favorável
do que as estruturas monodisciplinares das antigas faculdades, essa nova história
do político corresponde hoje às principais aspirações que deram origem à justificada
revolta contra a história política tradicional. O paralelo esboçado entre as duas
instituições sem forçar a aproximação, estende-se dos organismos aos saberes e
práticas. Um dos atributos de que a história do novo jeito mais legitimamente se
orgulha é o de se basear em uma massa de documentos que ela trata
estatisticamente. A França foi o primeiro grande país europeu a adotar o sufrágio
universal. O resultado das disputas eleitorais, a conclusão dos debates
parlamentares dependem da exatidão das somas, sendo a eleição o início da
transferência do poder, a apuração dos votos é uma operação essencial, um ato
decisivo da vida política. O político não constitui um setor separado: é uma
modalidade de prática social. O político se conecta por mil elos, por todos os tipos
de elos, a todos os outros aspectos da vida coletiva. Se o político deve ser explicado
antes de tudo pelo político, também há mais no político do que no político.
Para sintetizar, é importante mencionar que a história política não podia
fechar-se em si mesma, nem ter prazer na contemplação exclusiva de seu próprio
objeto, não há e não terá razão científica para estabelecer uma ligação mais estreita
entre o político e o econômico do que com o ideológico e/ou cultural, ou qualquer
outro termo de relação. A história política descreveu uma revolução completa, como
então, pode-se acreditar que seu renascimento pode ser apenas um verão indiano,
como traz Rémond no fim do texto? O historiador é o sujeito do seu tempo, devendo
então debruçar-se em documentos para a elaboração científica da historicidade.

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