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Ciro F. Cardoso: Hector P. BRIGNOLI. A evolução recente da ciência histórica. In Os Métodos da História, p. 327-348
O caminho percorrido: da história linear dos fatos singulares à história das estruturas
Papel do Historiador: recolher de forma objetiva em documentos e nos fatos históricos –- sem optar entre eles e
criar uma narrativa linear de causas e consequências.
A história no começo do século era dominada por uma concepção herdada do século XIX denominada “história
historizante ou história episódica”: o historiador deveria expor de forma coerente e coordenada uma narrativa
histórica linear de causas e efeitos, de forma coerente e objetiva, tendo como fontes: documentos e os “fatos
históricos” sem optar entre eles. A matéria da história já existia latente nos documentos, fontes, antes dos
historiadores ocupar-se deles, para chegar a essa matéria da historia o historiador deveria coletar os dados, tratar
esses dados e usá-los para escrever sua narrativa.
Fatos Históricos: fatos singulares, individuais, que não se repetem. Esses fatos eram quase sempre políticos,
militares, religiosos e diplomáticos, muito raramente econômicos ou sociais.
Não percebiam que os famosos “fatos históricos” que se impõem ao pesquisador eram antes, uma criação deste. O
que definia cada fato como histórico ou não era a sua capacidade de se encaixar em uma concepção transcendente
da história e do movimento histórico. Acreditava-se na imparcialidade e na objetividade do historiador.
A História Positivista – Método Crítico – constituída desde o Renascimento: Situar os documentos no tempo e no
espaço, classifica-los quanto a autenticidade e credibilidade, um trabalho erudito, o tempo histórico era visto como
uma série de descontinuidade descritas de modo contínuo.
Nos primeiros decênios do século essa visão de história era dominante, e estava sob crítica. Paul Lacombe e Henri
Berr. Com eles ocorreu o primeiro contato da historia com outras ciências humanas, nesta primeira fase de abertura
da história a novas influencias os historiadores foram muito atraídos pela psicologia.
Em 29 com a criação dos Annales ocorreu a decisiva mudança – a revista com Lucien Febvre e Marc Bloch
transformou-se em um ponto de discussão e debates entre historiadores e cientistas sociais. Como F. Simiand, E.
Labrousse, J. Meuvret, etc.
O motor da evolução recente da história foi e continua sendo o contato com as demais ciências humanas. Menos
estruturada a istoria se mostra mais aberta, menos rígida e menos resistente À mudança do que outras disciplinas.
Termos que resume a nova problemática e metodologia que a historia vem adotando nos últimos 40 anos:
quantificação, conjuntura, estrutura, modelo.
Quantificação sistemática – estudos da conjuntura econômica, através de series estatísticas – historia serial –
mudança nos métodos e técnicas a nível epistemológico. –
Conjuntura – para explicar as flutuações conjunturais é necessário recorrer aos acontecimentos; uma guerra pode
ter influencia sobre a conjuntura comercial. A historia não era mais contada saltando de fato singular a fato singular.
O que importa é muito mais a tendência, o sentido da evolução do que tal ou qual fato ou dado particular.
2 – Média Duração – nível intermediário, da história conjuntural, de ritmos mais lentos muito variáveis.
3 – Longa Duração – nível profundo da história estrutural de maior duração. As estruturas econômicas mudam mais
rapidamente que as sociais e as estruturas mentais mais lentamente que as demais.
Modelo – tentativas de construir modelos que considerem a especificidade dos distintos sistemas sociais e
econômicos.
MUDANÇA FUNDAMENTAL
A QUANTIFICAÇÃO SISTEMÁTICA
A história sistematicamente quantificada pressupõe que as hipóteses de trabalho dos historiadores, dantes implícitas
e inconfessadas, tomem-se explícitas, claramente colocadas. Renunciando à sua feliz inocência o historiador teve de
tomar conhecimento de algo fundamental: A necessidade, ou melhor, da inevitabilidade de selecionar, recortar,
construir seu objeto em função de suas hipóteses, de seu marco teórico e metodológico. Por outro lado a construção
do objeto de estudo em séries homogêneas e coerentes levava a várias consequências importantes referentes aos
métodos.
HISTÓRIA SERIAL
Criada no calor dos debates nos anos 60 entre a escola dos annales e os que proclamavam a intenção de escrever
uma história inteiramente quantitativa (tendência de Kuznets).
A principal distinção entre historia serial e os demais tipos de história quantitativa é a atentos para a necessidade de·
criticar a documentação utilizada - especialmente em se tratando da constituição de séries estatísticas relativas a
períodos anteriores ao século XIX - e, também, atentos para o grande perigo de cometer anacronismos, isto é, de
não respeitar devidamente o caráter diferencial das diversas sociedades, das épocas distintas.
A história serial, durante muito tempo foi exclusivamente econômica e interessada no estudo dos ciclos conjunturais
a partir de diversas variáveis (preços, salários, movimento comercial, etc.) abrange novos campos aos quais pode
dedicar-se e serve ao estudo da estrutura e dos movimentos sociais; da demografia; de certas variáveis políticas ou
ideológicas, etc.
A HISTÓRIA QUANTITATIVA
A história se apresenta hoje como uma ciência em plana evolução. As certezas, ou verdades definitivas da historia
positivista estão no passado. Hoje a história é uma história problema, não uma história narração.
A história tradicional ainda é praticada em regiões e isso é um grande problema, os motivos são vários, por exemplo:
onde há historiadores com altos cargos em universidades importantes resistindo em aderir o novo jeito de fazer
história; por problemas práticos, técnicos e de organização, limitados recursos quem impedem a formação de
equipes e a contratação de pessoal e equipamentos criam obstáculos à realização de pesquisas, a deficiência de
treinamento na maioria dos historiadores devido a falta de adaptações das estruturas universitárias às alterações na
disciplina, e etc. na América Latina isso é mais grave.
A historia social move-se com certo atraso à história econômica e a demográfica; a história política só foi afetada
perifericamente pelo grande movimento de renovação metodológica; a história das ideias, cronologicamente
recente em seu desenvolvimento, mas decididamente fechada Às inovações do método.
A recente evolução da ciência histórica levanta uma importante questão: que posição cabe, na atualidade, à
história, dentro do conjunto mal definido das ciências do homem?. Uma resposta clara e definitiva talvez seja
impossível.
Atitudes e correntes mal diferenciadas, contraditórias, caracterizam os historiadores de hoje. E isso é devido a
rapidez das mudanças que sofre a nossa ciência, em seu conjunto. Não é tarefa fácil perceber suas linhas de evolução
ou quais delas prevalecerão. Só podemos falar de tendências implícitas ou evoluções possíveis, nas referidas
mudanças.
1º) ciências nomotéticas, que procuram descobrir "leis": linguística, economia, sociologia, deipografia,
antropologia,psicologia;
2º) ciências históricas, que estudam a evolução temporal de todas as manifestações da vida social;
Uma possibilidade de se constatar se há, de fato, uma evolução da história é ver se a aludida evolução reproduz os
aspetos ou fatores que, conforme Piaget, dominaram o processo constitutivo das ciências humanas nomotéticas.
5º) escolha dos métodos, especialmente quanto a sua função de instrumentos de verificação.
Atualmente a disciplina se inclina a uma distinção analítica em busca de delimitar uma problemática, o que torna
possível sua abertura a técnicas e métodos elaborados por outras ciências (economia, demografia, etc.).o que
elimina a possibilidade de qualquer síntese ou visão global.
A história surge como uma disciplina que ao contato com as ciências sociais torna-se, pouco a pouco, uma ciência
social - afastando-se cada vez mais de seu passado filosófico e literário e das ilusões cientificistas do positivismo.