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A CRISE DO HISTORISMO CLÁSSICO E O

CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO
DA HISTÓRIA SOCIAL
• O Historismo é um paradigma de pensamento e prática
históricos que enfatiza a singularidade e a individualidade
dos fenômenos históricos. Neste sentido, os fenômenos
históricos deveriam ser compreendidos em seu próprio
tempo, em detrimento de uma análise amparada em leis
gerais ou de princípios morais presentes.
• Tal concepção sublinhava a impossibilidade de comparação
significativa entre épocas históricas. Apesar de ter conhecido
cenários muito distintos, o resultado de tal concepção, em
geral, foi uma História centrada no relato dos acontecimentos
políticos e militares, com especial atenção nas relações
internacionais entre os Estados, em oposição à intromissão a
qualquer dimensão do social ou econômica para a
compreensão dos fatos históricos e as generalizações e
abstrações das ciências sociais.
• As transformações do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos,
no início do século XX, expressas na Europa pela insatisfação de
várias classes sociais e nos EUA pela maior independência da
sociedade burguesa em relação ao Estado, se comparada à Europa,
contribuíram para uma viva discussão acerca dos fundamentos
dominantes da historiografia. A ampliação do objeto da História e uma
reflexão mais profunda sobre um novo conceito de ciência se
apresentavam como questões prementes diante da nova realidade
social.
• Finais do século XIX, os estudos históricos revelaram um estado de
profunda apreensão. quase simultaneamente em na Europa e nos
Estados Unidos, um exame crítico ocorreu nos pressupostos sobre os
quais a historiografia estabelecida nas universidades. Havia a
convicção de que o tema da história deveria se expandir e dar mais
espaço ao papel do sociedade, economia e cultura. Além disso, a
preferência por uma narrativa histórica predominantemente política,
centrada nos eventos e grandes personalidades, foi desafiado e
emergiu assim uma exigência de que a história se associe mais
estreitamente com as ciências sociais empíricas.
• No entanto, essa reação crítica à história, tal como pesquisada e
ensinada em todo o mundo, não questionou as suposições de alguns
fundamentos da historiografia anterior, a saber,
• 1) que a história deve ser uma disciplina profissional e
• 2) que a história se concebe como uma ciência.
• Pelo contrário, houve forte pressão para tornar o cultivo da história
ainda mais profissional e mais científico.
• Na Alemanha essa discussão adquiriu grande intensidade devido a
• controvérsia gerada pela obra de Karl Lamprecht, (História Alemã),
cujo primeiro volume foi publicado em 1891.
• Lamprecht questionou dois princípios fundamentais da pesquisa
histórica convencional: o papel central atribuído ao Estado e a
concentração em pessoas e eventos.
• Nas ciências naturais, afirmou, já está ultrapassado o tempo em que o
método científico se restringia à descrição de fenômenos isolados.
• Suas teses eram criticáveis porque eles usaram conceitos de
psicologia coletiva altamente especulativas para mostrar que a
história alemã desde a antiguidade havia seguido leis
predeterminadas de desenvolvimento histórico.
• Em seus escritos programáticos, distinguiu entre "as velhas
tendências da ciência histórica“ - a tentativa de estabelecer os fatos
por meio de uma investigação rigorosa das fontes, mas sem um
método "científico“ para explicar o comportamento histórico - e os
"novos" - a abordagem do conhecimento sobre um tema de pesquisa,
por meio de questões teóricas e princípios metodológicos
• A "nova ciência histórica deveria se alinhar com as ciências sociais
sistemática; no entanto, o conceito-chave de Lamprecht era o de
Volksseele, um espírito nacional que permaneceu constante através
dos tempos, que tinha suas raízes na filosofia romântica alemã, em
vez da ciência social rigorosa.
• Os desdobramentos da evolução do Historismo resultaram
em uma versão mutilada de Ranke e Droyssen de que a
História era uma mera reconstrução dos acontecimentos. Esta
versão se estendeu aos outros países europeus e foi
responsável pela confusão entre Historismo e História
positivista.
• Os sociólogos positivistas buscavam a explicação histórica em termos
de generalizações e leis de desenvolvimento, acreditavam que a
cientificidade da sociologia era homóloga às disciplinas das ciências
naturais, com uma preferência pela quantificação e pelas explicações
sociais estruturais. Esta versão perde totalmente o sentido quando
percebemos que os herdeiros de Ranke, aqueles que o compreenderam
melhor, tomaram a nascente sociologia, que então sofria forte
influência da doutrina positivista de Augusto Comte, como o grande
adversário da História, pois, insistiam que as intenções e objetivos
humanos não podiam ser reduzidos a fórmulas abstratas.
• Assim, dado que a História só podia ser compreendida
por meio do comportamento humano guiado por ideias
conscientes, havia certos setores da existência humana
que estavam fora do raio de investigação do
historiador, como: as massas, as classes sociais e a
cultura popular. Somente aqueles que tomavam as
decisões constituíam um assunto legítimo da História.
• Estes pressupostos dominaram o cenário acadêmico até o final da segunda guerra
mundial. Nesta época, contudo, as inovações historiográficas, mesmo que ainda
não dominantes, minavam este predomínio, pois, refletiam o impacto retardado de
mudanças fundamentais nas estruturas políticas, sociais e econômicas do século
XX. O monopólio político e social das elites tradicionais havia sido destruído por
duas guerras e uma revolução, que se estendeu por outros países. O domínio
europeu no mundo se exauriu e as extensas áreas antes consideradas fora da
História alcançaram sua independência, subvertendo os valores racistas
dominantes. Outras disciplinas, além da História, começavam a reivindicar espaço
na investigação das forças que determinavam a estrutura do mundo social e seu
desenvolvimento, em especial, a economia, a sociologia e a psicologia.
• Mesmo no ambiente acadêmico, um ambiente democrático começava
a ser sentido com a ascensão de uma nova geração de professores a
cargos que antes eram ocupados por historiadores conservadores.
Assim, a vitalidade inicial da História social derivou de seu caráter
opositor. Esta nova História se erguia como uma tripla rebelião, ou
melhor, uma rebelião dirigida contra a História das elites, outra contra
a história política e uma terceira contra a especialização da História
em uma disciplina distinta.
• A primeira rebelião, com o intuito de estender a História à todas as
esferas da atividade humana, era resultado da demanda pela sua
democratização. A segunda rebelião impregnou a História de um
caráter negativo: a História que omite a política. E a terceira rebelião,
dirigida fundamentalmente contra a prática Historista, convidava os
historiadores a manter uma amizade com as outras ciências sociais.
• Com estes pressupostos e com as transformações que o capitalismo e a
industrialização haviam produzido, em particular, as fortes distorções
sociais, é compreensível que se produzisse uma reação em favor de
uma nova História.
• Em oposição à História política tradicional, os defensores da Nova história social,
com tendências distintas entre si, tinham em comum com o Historismo, a ideia de
que a História era uma ciência orientada para uma realidade objetiva que procedia
de um modo metódico, além, da crença de que era possível realizar seu estudo de
forma científica. Seus defensores também acreditavam em um tempo linear, que
confere à história sua coerência e lhe confere um caráter científico.
• Segundo Iggers, há quatro tendências da nascente história social: uma
que aplicava os métodos tradicionais da crítica de textos à história
social; uma segunda que queria converter a história em uma sociologia
histórica; uma terceira que procurava converter os modelos abstratos
da economia em padrões para uma ciência histórica quantificável e
orientada para a teoria; e uma quarta, a escola dos Annales, colocou
em dúvida o conceito de tempo com que trabalhavam as demais
tendências, da mesma forma que o historismo clássico.
A História econômica e social na Alemanha e
o início da sociologia histórica
• A tentativa inicial de abordar historicamente os problemas
criados pela industrialização foi realizada pelo denominada
Nova Escola Histórica de Economia Nacional, cujo
representante mais importante foi Gustav von Schmoller.
Esta escola manteve-se firme na tradição do historicismo
clássico ao afirmar que a economia não era determinada por
leis estritas, universalmente válidas e suscetíveis de
formulação matemática, como o economia política clássica
inglesa e escocesa, e também o teórico Carl Menger.
• A escola de Schmoller compartilhou duas suposições adicionais com a
história alemã clássica:
• a ênfase no papel central do estado
• A insistência de que o estudo histórico deve ser baseado nas fontes
de arquivo.
• No final do século, vários importantes filósofos neokantianos,
incluindo Wilhelm Dilthey, Wilhelm Windelband e Heinrich Rickert
desenvolveram uma metodologia mais clara para o que chamavam de
ciências humanas ou cultural (Geisteswissenschaften,
Kulturwissenschaften) e que contrastava com as ciências naturais.
• As metodologias de ambas exigiam conceituações claras se quisessem
reivindicar o status de ciências. Mas enquanto o objetivo das ciências
exatas era alcançar formulações generalizantes ou "nomotéticas“ que
"explicam" em termos abstratos o padrão legítimo e ordinário da
natureza, eles aplicavam métodos "ideográficos" (individualizantes)
como meio de apreender e entender o significado das ações humanas
em contextos culturais, sociais e históricos concretos.
• A pergunta ainda persistia acerca da discussão sobre como as ciências
humanas ou culturais, como o estudo histórico e a pesquisa,
poderiam proceder desde os fenômenos específicos a contextos
sociais e históricos mais amplos.
• Nesse sentido, nem Dilthey, Windelband ou Rickert proporcionaram
orientações além das sugeridas anteriormente por Ranke e Droysen:
ficar imerso no tema, processo que Ranke chamou de "Einfühlung"
(empatia) e que Dilthey descreveu como "Erlebnis" (experiência).
Otto Hintze e Max Weber procuraram introduzir o rigor conceitual na
pesquisa empírica que faltava no trabalho da escola Schmoller.

• Enquanto os críticos de Lamprecht freqüentemente se referiam à


distinção de Wilhelm Windelband entre os conceitos individualizantes
das ciências humanas e os generalizantes das ciências naturais, Hintze
insistiu que a história estava preocupada fenômenos individuais e
coletivos e que o último exigia conceitos abstratos e analítico para
serem compreendidos
• Hintze tentou formular conceitos abstratos, que ele considerava como
• uma exigência do pensamento científico, mas dava-lhes um conteúdo
histórico concreto.
• Hintze refutou a noção da tradição histórica alemã segundo a qual o
Estado era uma entidade "moral" ou "espiritual". Em vez disso ele viu
o Estado em termos empíricos e como mais um entre várias
instituições sem maior direito a dignidade especial
• Em um ensaio de 1904, Max Weber criticou Karl Knies, Wilhelm Roscher e Schmoller,
representantes da Escola Histórica de Economia Nacional, que procediam de forma
descritiva e sem um conjunto de conceitos claramente definidos para guiar suas
investigações.
• Hintze e Weber, no entanto, concordaram com o historicismo clássico de que cada
sociedade era mantida unida por um conjunto de atitudes e valores que tinham de
ser compreendidos para entender o que há de mais característico daquela sociedade.
• A sociologia de Weber tentou "entender" a sociedade e a cultura estudadas. Mas para
Weber, entender não significava a mesma coisa do que para Ranke, Droysen e Dilthey,
isto é, principalmente um ato de empatia ou experiência direta, mas um processo
altamente racional. "Entender" (Verstehen) de forma alguma impediu a "explicação"
(Erklarung) ou análise
• Para Weber, as questões colocadas por um cientista social refletiam
seus próprios valores; mas em suas próprias investigações e
descobertas, o estudioso deve buscar objetividade e a distância
crítica. No entanto, a ciência teve que lidar não apenas da distância
crítica, mas também com a explicação causal. Seguindo a tradição
neokantiana, Weber negava a causalidade estava enraizada na
realidade objetiva, mas sim nas categorias do pensamento científico.
O elemento crucial do trabalho científico foi encontrado em seus
métodos
• Embora cada ciência residisse em uma cultura específica, seus métodos
possuíam um grau de validade e objetividade que transcendiam as limitações
de uma determinada sociedade ou cultura. Por isso, destacou que "é e
continuará sendo verdade que um método metodologicamente correto nas
ciências sociais, para atingir seu objetivo, deve ser reconhecido como tal
mesmo por um chinês, que por sua vez pode ser completamente surdo à
nossa concepção do imperativo ético.”
• Embora Weber rejeitasse a perspectiva de Hegel e Marx sobre a história como
um processo que leva a uma sociedade racional, ele ainda pensava que pelo
menos a história do mundo ocidental desde a Grécia antiga e hebraico, foi
marcado por um processo inelutável de "intelectualização" e racionalização".
• apesar de seu pessimismo e ceticismo, Weber manteve certas noções
centrais do século XIX sobre a coerência que caracterizava a história,
ou pelo menos a história ocidental e embora para ele, ciência ou
ciências sociais não deveriam levantar questões filosóficas ou éticas,
ele continuou acreditando na possibilidade de um caráter "objetivo"
para pesquisas científicas ou sociais que seguiam uma lógica de
validade transcultural.
• O desenvolvimento da industrialização e as profundas
transformações do capitalismo geraram intensos
conflitos de classes. A teoria propagada por Marx, em
meados do século XIX, pretendia ser uma teoria geral
da sociedade direcionada para a compreensão das
mudanças sociais resultantes do desenvolvimento
capitalista e das revoluções políticas do século XVIII.
A História social se firma na historiografia
A partir dos anos sessenta e setenta, a História Social consolidou-se nas
universidades como uma tendência dominante. A definição de História
Social, contudo, é ampla e ambígua. Todos os esforços de definição de
seu objeto e vocabulário oscilam entre definições mais amplas – “a
história dos homens que vivem em sociedade” – e definições mais
restritas que a reduzem as descrições de grupos sociais. No primeiro
caso, toda História é História Social, uma ideia que remete a ideia de
totalidade. No segundo, a História Social é vista como um campo de
estudo parcial, comparável a outros âmbitos da História como o
econômico, demográfico, político ou militar.
Definição de sociedade
Uma primeira dificuldade, nos dois casos, é a própria definição
de sociedade e como ela pode ser abordada historicamente.
Uma abordagem concebe a sociedade como uma coleção de
indivíduos distintos e fragmentados, com uma relação mais ou
menos casual entre estes indivíduos. A “sociedade”, aqui, é um
termo instrumental e não se refere a um termo real que exista
independentemente das pessoas que a constituem. Há uma
forte preocupação com as ações individuais.
No extremo oposto, uma outra abordagem apreende a
sociedade por meio de estruturas, conceito utilizado pelas
ciências sociais para referir-se a toda sociedade ou parte dela e
que existe independentemente dos indivíduos. As teorias
estruturalistas se dividem em dois grandes grupos: a holista,
que concebe a sociedade como uma entidade histórica
estreitamente integrada, com existência, caráter, necessidades,
princípios e poderes de ação próprios. Suas análises partem de
instituições de grande escala e de suas relações, e não do
comportamento de indivíduos.
Um outro grupo, é constituído por historiadores preocupados com a
inter-relação no tempo entre estruturas da sociedade e a ação coletiva e
individual. A sociedade não está simplesmente constituída de
indivíduos, mas sim de uma organização, propriedades e poderes
próprios, que surgem das ações coletivas, e das motivações e
características de muitos indivíduos através do tempo. Aqui, o objetivo é
atingir um meio termo entre as versões extremas do estruturalismo e do
individualismo, com o fito de evitar tanto a ideia de que a estrutura
determina as características e ações dos indivíduos como a de que são os
indivíduos os que criam independentemente seu mundo.
• Esta última perspectiva remete a um outro problema: como explicar as
causas e os processos particulares das estruturas sociais. Como buscar
as causas dos fenômenos. Segundo Casanova, se a sociedade pode ser
conceitualizada de diversas formas, a explicação causal também
dependerá da teoria que guie a prática investigativa do historiador. A
solução gera, também, controvérsias, pois, enquanto alguns
historiadores recorrem às diversas sugestões teóricas das ciências
sociais, outros, de forma reativa, preconizam a busca de uma teoria
própria da História. Tudo isso depõe a favor de uma História Social
plural e diversa.
A ausência de uma única teoria, de um único paradigma, ou de
um único aparato conceitual para tratar cientificamente os
fenômenos sociais, ampliam o conhecimento histórico e
legitimam novas áreas de investigação. A tendência a um
retorno do empirismo e a um ecletismo teórico deve ser
substituída por um entendimento mínimo do vocabulário e
conceitualização teórica indicados para explicar o real
significado dos fatos selecionados. Dessa forma, diferente de
uma História total, a História Social constitui-se em uma
dimensão presente em qualquer forma de abordar o passado.
• A ambição de uma história total teve sua origem na pretensão de
adotar o status científicoà História a partir das aportações teóricas de
outras ciências sociais. Na realidade, a necessidade de abrir o diálogo
conduziu emmuitas ocasiões a considerar essas ciências –
especialmente a sociologia –comocaixas de ferramentas-conceitos
deonde podiam colher-se acriticamenteos quemelhor serviram para os
fins propostos.
A relação com as outras ciências sociais é outro elemento
constitutivo da História Social. Em oposição ao Historismo,
alérgico a teorizações, os historiadores sociais estabeleceram
desde o início de sua trajetória um intenso diálogo com as
outras ciências sociais. O problema é que a trajetória e a
disposição dos cientistas sociais nem sempre estiveram
afinados com a dos historiadores.
O objeto das nascentes ciências sociais modernas, e em especial da
sociologia, foi a compreensão das origens, natureza e consequência do
capitalismo e da industrialização na Europa. Este foi o tema dos
fundadores da sociologia moderna: K. Marx, Aléxis de Tocqueville, E.
Durkheim e M. Weber. Todos estes autores combinaram um interesse
pela construção histórica acerca da estrutura social com uma
compreensão da história da sociedade. Apesar de não operarem da
mesma forma esta combinação, nenhum deles elaborou abstrações
teóricas, conceitualizações e uma filosofia da evolução universal a
margem da História.
Desde o século XIX, contudo, o conteúdo histórico da
Sociologia foi perdendo espaço para uma “ciência natural da
sociedade”, como pregava Augusto Comte, preocupada com o
estudo do presente e com a pouca importância atribuída à
História. A institucionalização acadêmica da Sociologia,
principalmente nos EUA, veio acompanhada de um
rompimento com a tradição histórica; da perspectiva
evolucionista da história; um fortalecimento do anti-
historicista do “empirismo abstrato” e da “grande teoria”
representada por Talcott Parsons; e do funcionalismo
estrutural.
Foram os historiadores dos Annales que iniciaram o diálogo com as
modernas ciências sociais, reagindo contra a história política do
Historismo. Nos anos cinqüenta e sessenta, com a segunda geração dos
Annales, esta tendência foi consolidada, paradoxalmente em um
momento em que imperava na Sociologia, e em alguns setores do
marxismo, as tendências estruturalistas e antihistoricistas. Apesar deste
predomínio, alguns sociólogos procuraram análises histórico-
comparadas da industrialização e das revoluções, desiludidos com os
modelos de modernização e desenvolvimento que não explicavam as
mudanças sociais
A História científico-social, em seu apogeu, caracterizava-se pela
formulação de problemas, por sua precisão empírica, pelo uso de
teorias, modelos e tipos ideais, por seu interesse em estudos
interdisciplinares e comparativos e pela orientação de seus
pesquisadores para a compreensão de sociedades inteiras. O que
subjazia essa “fome” por conceitos e hipóteses era a ideia de que a
História carecia de um corpo teórico próprio e de que na Sociologia
poderia se buscar seu status científico.
• Tal perspectiva apresentava de imediato dois questionamentos: a
simples incorporação destes conceitos e teorias parecia ser a resposta à
herança hermenêutica, voltada para os grandes personagens e anti-
teórica, porém, não se questionava a neutralidade de tais conceitos,
modelos e teorias. Por outro lado, como resolver o problema da
mudança social em um enfoque sociológico-estrutural? Como passar
de uma estrutura a outra? Como descobrir a gênese de uma estrutura?
E como explicar a evolução da humanidade desde as comunidades pré-
históricas até às industrializadas?
Tal preocupação nasce nas ciências sociais a partir das
consequências sociais da industrialização sobre as
sociedades europeias e da ausência da aparente
evolução social nas denominadas sociedades
“primitivas”. Para dar conta de tal tarefa surgiram dois
grandes modelos para explicar a mudança social: as
teorias do conflito e as teorias evolucionistas.
• A primeira tem como expoente K. Marx. Procura localizar a mudança social na
estrutura da sociedade e a convicção de que esta tensão estrutural resulta em um
conflito de classes que a força motora da mudança social.
• Os historiadores que seguiram esta linha, principalmente, Lukcás, Korsh e
Gramsci, nos anos 20, rechaçaram a escrita de uma história puramente teórica e
mantiveram um lugar para a relativa autonomia da evidência empírica, a
variabilidade da experiência histórica e o poder transformador da ação coletiva e
individual que conduz a conseqüências não deliberadas.
• As teorias evolucionistas alcançaram maior eco sobre os trabalhos dos
historiadores sociais – principalmente dos franceses – que buscavam na sociologia
um refúgio teórico.
• Os evolucionistas clássicos, representados por Comte, Spencer e Durkheim,
defendiam a concepção de que o “desenvolvimento histórico” das sociedades
humanas era constituído por etapas básicas que progrediam de uma organização
simples e primitiva a um modelo de crescente complexidade e perfeição. As
mudanças da estrutura social, então, eram tidas como inevitáveis, resultavam de
forças inerentes a toda a sociedade, no entanto eram descritas de forma
demasiadamente unilateral, com poucas evidências empíricas, funcionando mais
como uma “lei geral da história”.
• Uma versão mais recente dessas teorias é o funcionalismo,
muito presente nos EUA, em grande parte pela ação do
macarthismo e perseguição aos comunistas. O funcionalismo
sustenta a hipótese de que toda mudança se deve a forças
exógenas. A mudança social é uma adaptação de um “sistema
social” a seu entorno por meio de um processo de
diferenciação mental e de crescente complexidade estrutural.
É, na verdade, uma teoria do equilíbrio, em que a mudança
social é um movimento de um estado de equilíbrio a outro.
• Muitas das observações traçadas até aqui são também pertinentes para a relação
entre Antropologia e História, pois a Antropologia, em seu nascedouro, também se
apresentou como uma ciência social hostil à análise histórica.
• No final dos anos 50, enquanto a História seguia em sua progressão para a
captação da “totalidade”, auxiliada pelas outras ciências sociais, a Antropologia
era dominada por três paradigmas hostis à investigação histórica: o funcionalismo
estrutural britânico (descendente de Radcliffe Brown e Bronislaw Malinowski); a
antropologia cultural e psicocultural norte-americana (herdeira de Margaret Mead
e Ruth Benedict) e a antropologia evolucionista norte-americana (de forte
afiliação arqueológica, formada em torno de Leslie White e Julian Steward)
• Para esses antropólogos, a Antropologia Social era uma ciência
próxima das ciências naturais pela sua tendência à generalização,
enquanto a História era incluída entre as ciências “particulares”. A
ruptura do diálogo entre as duas disciplinas levou a Antropologia a um
“empirismo abstrato” e a “grandes teorias”, que caracterizavam a
Sociologia na época. Predominou entre os antropólogos a concepção
de que, antes da dominação européia, todas as sociedades “primitivas”
eram estáticas, o que os levou a reduzir o problema da História à
dualidade primitivo–moderno.
• Nos finais dos anos 70, uma intensa fragmentação teórica tomou conta da
Antropologia: não havia um conjunto de termos que todos os profissionais
pudessem utilizar, uma linguagem comum a todos eles e muitos dos métodos e
teorias questionados no seio da disciplina foram adotados por historiadores
sociais, que os utilizavam sem um conhecimento verdadeiro a respeito deles
• . O resultado disso foi a adoção acrítica e indiscriminada de métodos e
teorias que não serviam para explicar a evolução, o funcionamento e a
transformação das sociedades humanas, ocasionando falhas na
elaboração de premissas próprias e na reflexão sobre os problemas
históricos. Esta atitude fortaleceu o discurso de que a História tinha
que viver de empréstimos teóricos e atribuiu-lhe um caráter passivo,
em vez de uma perspectiva em que estas teorias pudessem servir para
localizar novas questões e iluminar os problemas históricos.
A França é o locus privilegiado das origens
da História Social.
• Desde o início do século XX, Henri Berr, com a Revue de synthèse historique, incentivou os laços
com outras ciências sociais e o ataque à História política. Os dois fundadores dos Annales, Lucien
Febvre e Marc Bloch, seguiram atentamente a historiografia social alemã do final do século XIX, e
o próprio Bloch estudou em Leipzig e em Berlim nos anos de 1908 e 1909.
• A revista Annales d’histoire economique et sociale, fundada em 1929,
tinha como finalidade inicial oferecer um foro às diversas correntes e
aos novos enfoques historiográficos. Uma reação à historiografia
existente e uma reconstrução da História sobre bases científicas
segundo conceitos tomados de empréstimo a outras ciências sociais
são as características iniciais dos primeiros números. Em suas origens,
esse protesto dirigia-se contra o trio formado pela História política,
História narrativa e História episódica (événementielle). Bloch e
Febvre queriam substituir este trio por uma “História profunda”, uma
História econômica, social e mental que estudasse a inter-relação do
indivíduo com a sociedade
• O conceito de ciência e a prática dos historiadores dos Annales são
complexos: se, por um lado, compartilham com o historismo as
possibilidades do método e do conhecimento científicos, por outro eles
relativizam estas idéias. Bloch criticou os historiadores “positivistas”,
cujo principal representante era Charles Seignobos, que, influenciados
pela filosofia de Augusto Comte, elaboraram um pensamento
específico no domínio da História marcado pela procura de
fundamentos científicos à démarche histórica, contudo, empobrecido
em relação ao historismo alemão, por limitar a História à estrita
observação dos fatos
Bloch
• As gerações que vieram logo antes da nossa, nas últimas décadas do
século XIX e até os primeiros anos do XX, viveram como alucinadas
por uma imagem muito rígida, uma imagem verdadeiramente
comtiana das ciências do mundo físico. Ao estender ao conjunto das
aquisições do espírito esse prestigioso esquema, parecia-lhes então
não existir conhecimento autêntico que não devesse desembocar em
demonstrações incontinenti irrefutáveis, em certezas formuladas sob o
aspecto de leis imperiosamente universais. Esta era uma opinião
praticamente unânime
• Esta crítica, contudo, não impediu Bloch de acreditar que a
História era uma ciência, diferente das ciências naturais, mas
capaz de suprir as condições de uma verdadeira ciência:
estabelecer as ligações explicativas entre os fenômenos por
meio de uma classificação racional e uma progressiva
inteligibilidade dos fatos. A História pode não definir leis, em
razão do acaso, mas só é válida se for penetrada de razão e
inteligibilidade, “o que situa sua cientificidade não do lado da
natureza, de seu objeto, mas do esforço e do método do
historiador.
Febvre, mesmo não definindo a História como uma ciência,
a definia como

• um estudo cientificamente conduzido, das diversas


atividades e das diversas criações dos homens de
outrora, tomados na sua data, no quadro de
sociedades extremamente variadas e contudo
comparáveis umas as outras (é o postulado da
sociologia), com as quais encheram a superfície da
terra e a sucessão das épocas
• A expressão “estudo cientificamente conduzido” implica
duas operações, as mesmas que se encontram na base de
qualquer trabalho científico moderno: “pôr problemas e
formular hipóteses.” Isto tudo significa rejeitar a idéia de que
a História é um simples registro dos fatos, ou de que os fatos
são dotados de uma existência perfeitamente definida,
irredutível.
• Os fatos históricos, mesmo os mais humildes, é o historiador
que os chama à vida. Sabemos que os fatos, esses fatos
diante dos quais nos intimam tantas vezes a inclinar-nos
devotadamente, são outras tantas abstrações – e que, para os
determinar, é preciso recorrer aos testemunhos mais
diversos, e por vezes mais contraditórios – entre os quais
necessariamente escolhemos
Para Bloch, o historiador não consegue constatar os fatos que ele estuda, pois o conhecimento do
passado é indireto e feito por meio de vestígios. O passado é um dado que não se modifica, mas
seu conhecimento está incessantemente se modificando. “Sabemos melhor interrogar as línguas
acerca dos costumes, as ferramentas acerca do artesão. Aprendemos, sobretudo a mergulhar mais
profundamente na análise dos fatos sociais,” pois os textos não falam senão quando sabemos
interrogá-los. Naturalmente, “é necessário que essa escolha ponderada de perguntas seja
extremamente flexível, suscetível de agregar, no caminho, uma multiplicidade de novos tópicos, e
aberta a todas as surpresas.” Contra o domínio do documento escrito, Bloch afirmava a infinidade
e a diversidade do testemunho histórico, que, para ele, era a expressão de lembranças.
Bloch reafirmou a busca da veracidade dos documentos como fundamental na pesquisa e a crítica, uma arte
racional e uma prática metódica do espírito, a maior prova de veracidade .

Ora, se nossa imagem do universo pôde, hoje, ser limpa de tantos fictícios prodígios
– porém confirmados, parece, pela concordância das gerações -, certamente
devemos isso antes de tudo à noção, lentamente deduzida, de uma ordem natural
comandada por leis imutáveis. Mas essa própria noção não conseguiu se
estabelecer tão solidamente, as observações que pareciam contradizê-la só
puderam ser eliminadas graças ao paciente trabalho de uma experiência crítica
empreendida pelo próprio homem enquanto testemunha. Somos agora capazes ao
mesmo tempo de desvendar e de explicar as imperfeições do testemunho.
Adquirimos o direito de não acreditar sempre, porque sabemos, melhor do que pelo
passado, quando e por que aquilo não deve ser digno de crédito. E foi assim que as
ciências conseguiram rejeitar o peso morto de muitos problemas
Em relação a Ranke, Bloch observava que, compreender não pode significar neutralidade,
nada tem a ver com passividade, mas, sim, com análise e abstração. Nenhuma ciência é capaz
de prescindir da abstração, tampouco da imaginação. A História não é exceção. Seu objeto, o
homem no tempo, contudo, dificulta a compartimentalização das ciências naturais. Em
História, o conhecimento dos fragmentos sucessivamente estudados, cada um por si, jamais
propiciará o conhecimento do todo; não propiciará sequer o dos próprios fragmentos. A ideia
de totalidade está presente na forma de abordagem da sociedade e do tempo, que não podem
ser seccionados.
•  
• Em conformidade com o historismo, o estatuto científico próprio à
História parece ser uma preocupação dos fundadores dos Annales.
Voltando-se contra os “positivistas”, que só acreditavam na
cientificidade da História à luz das ciências naturais, ou contra aqueles
que não acreditavam que a História pudesse ser uma ciência, esses
autores procuraram nos princípios racionais uma especificidade para a
ciência histórica. A defesa de modelos e hipóteses é, contudo, uma
defesa de princípios da ciência moderna, tributária das ciências
naturais. O alinhamento com as outras ciências sociais, contribuição
essencial dos Annales, os distanciava do historismo, que defendia uma
distinção da História em relação às outras ciências humanas
• Nos Annales há, portanto, elementos da ciência moderna – hipótese e
modelos – e a ambição de Dilthey e Droysen, que procuraram dar a
História um estatuto científico próprio. Mas, enquanto Dilthey
defendia a interpretação em detrimento da explicação, Bloch afirmava
que interpretar é analisar. Estamos diante de uma fusão de elementos
legitimadores das ciências naturais – explicação e hipóteses – com a
afirmação de métodos próprios das ciências do espírito
• Na Alemanha = forte presença da filología
• Fr = geografía era muito valorizada
• Influencia de Paul Vidal de la Blache era fundamentalmente
histórica
• La géographie humaine de Vidal de la Blache, que evitara o
determinismo geográfico de seu contemporáneo Friedrich
Latzel na Alemania,
• estaba presente el enfoque sociológico de Durkheim, interpretado para
los historiadores de los Annales por quien fue su pupilo, Francois
Simiand. Durkheim, por una parte, quería transformar la sociología en
una ciencia estricta, em términos matemáticos.
• Por otra, la conciencia, percibida como conciencia colectiva, era para
Durkheim el tema central de la ciencia de la sociedad, para la cual las
normas, las costumbres y la religión eran elementos importantes.
Impresiona que en ninguna de estas obras haya una institución
central que sirva como hilo conductor de una narrativa
histórica en que las acciones de las personas jueguen un papel
decisivo. Esto no significa que el papel de la política sea
ignorado.
• os historiadores de los Annales intro. rieron un nuevo concepto de
tiempo histórico. Sus estucos, incluyendo los de Febvre, Pltilippe II et
la Franche Comté y El problema de la incredulidad en el s. XVI: la
religión de -abelais] de Bloch, La sociedad feudal] el libro de Braudel
sobre el Mediterráneo, y de Ladurie, Montaillou, se preocupaban de
estudiar una cultura o una época como aparte del curso de la historia,
más que de relatar un proceso de cambio a través de mas sucesivas.
Los historiadores que hemos discutido prácticamente abandonaron la
idea de una historia lineal y dirigida a _na meta que había
caracterizado gran parte del pensamiento histórico
Con el abandono del concepto lineal del tiempo, se rompió la
confianza en el progreso y con ello la fe en la superioridad de
la cultura occidental. Ya no existe un concepto de desarrollo
histórico unitario en el cual pueda basarse una gran narrativa
sobre la historia del hombre. Además, la narrativa histórica
debe encontrar nuevas formas de expresión para estas nuevas
condiciones. Así como en la novela, en la historia también
desaparece el relato con una trama central, en donde los
individuos tienen un papel como agentes libres.
Es posible distinguir hasta cuatro fases en la historiografía r e los
Annales, que reflejan las obras de cuatro generaciones de mtoriadores
que han transcurrido desde la obra temprana de rebvre. Pero debe
tenerse en cuenta que los historiadores de .ida generación han
experimentado cambios de perspectiva me a su vez reflejan los cambios
del ambiente intelectual en que han estado insertos. De aquí que la obra
temprana de
• En la década de 1960, la fascinación generalizada en el ámbito de las
ciencias sociales por la cuantificación afectó también a la escuela de
los Afínales, cuyos historiadores aspiraban a ser como los científicos.
Frecuentemente llamaban a sus institutos “laboratorios" y hablaban de
la historia como una ciencia, social si se quiere, pero ciencia al fin y al
cabo que, como repetían, debía operar cuantitativamente si quería ser
científica
Así, una historia de las mentalidades fue impulsada por
-s historiadores de la tercera generación de los Annales,
prin- : cálmente Robert Mandrou, Jacques Le Goff y
Georges Duby, mienes exploraron las actitudes del
pueblo en un contexto social y económico.
• En verdad, la "historia de las mentalidades” estudiada por Pierre Chaunu)35 y
Michel Vovelle36 procedían a partir del supuesto de que la reconstrucción de las
mentalidades era posible sólo sobre la base del análisis de enormes cantidades de
datos extraídos de documentos como los testamentos, que arrojaban información
sobre las perspectivas en torno a la muerte y la religión. En su giro hacia la
cuantificación, los historiadores de los Anuales no apuntaban hacia nuevas
direcciones, sino más bien se sumaban a lo que había llegado a ser un amplio
movimiento en la investigación histórica científico- social. La cuantificación no
nació de los Anuales, pero tenía una fuerte base en aquellas de sus tradiciones que
enfatizaban las bases materiales de la cultura.
• Una cuarta generación, que incluye a Jacques Revel, André Surguiére
y Bernard Lepetit, ha notado la disolución de una mentación específica
de los Annales para derivar en una historiografía que toma una
variedad de direcciones. Una señal de este cambio fue el reemplazo
del título de la revista en 1994, en donde el antiguo subtítulo,
Economies. Sociétés. Civilisation, rasó a llamarse Histoire, Sciences
Sociales. Si bien el anterior subtítulo enfatizaba los aspectos más
globales entre los intereses de los Annales, reflejaba también un
prejuicio en contra de u historia política. Tal prejuicio también incluía
una preferencia ror estudiar sociedades premodernas más simples, en
las que
• Lo que permanece como algo distintivo en los escritos de los
Annales sobre el mundo moderno y contemporáneo es su
enfoque en la cultura y en los símbolos para hacer
comprensibles las tradiciones políticas modernas, como es el
caso de los romos de Les Lieux des mémoires (1984-1986),47
48 un esfuerzo rolaborativo que versa sobre los símbolos,
monumentos y altares que forman la conciencia nacional
francesa moderna
• La complejidad y el pluralismo de sus enfoques, no obstante, también dio
lugar a serias contradicciones en la práctica. Así, como hemos visto,
especialmente durante las tres décadas que siguieron al fin de la Segunda
Guerra Mundial, varios historiadores del círculo de los Amales estaban
fascinados con aquellos enfoques de la ciencia social que prometían un
conocimiento firme y objetivo. El énfasis de Braudel en las estructuras
duraderas y en los fundamentos materiales de la cultura no estaba libre de
este tipo de cientificismo. Sin embargo, como también hemos visto, había
una tradición firmemente establecida, desde Bloch y Febvre hasta Le Goff,
Duby y hasta el presente, que se basaba en fuentes provenientes del arte, del
folclor y de las costumbres, y de esta manera daban lugar a maneras de
pensar más sutiles y cualitativas.
• cue las comentes principales de la historiografía de los Annales sucumbieran ante
el cientificismo que caracterizaba a buena rarte del pensamiento científico social.
Los Annales, a través ce toda su historia, han estado excepcionalmente libres de
una confianza excesiva en las cualidades superiores de una civilización occidental
construida a partir de las habilidades científicas y tecnológicas, y libre también de
los conceptos de modernización que son centrales todavía en la teoría de las
ciencias sociales. Por el contrario, se han enfocado intensamente en el mundo
premoderno.

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