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O ANDES-SN E A DEFESA DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NA ATUAL CONJUNTURA

Conjuntura

A desestruturação dos serviços públicos no Brasil, projeto antigo do capital, que procura atacar
o fundo público de várias formas, se acentuou na pandemia da Covid 19.

O negacionismo do governo Bolsonaro tem resultado em ações contundentes de desmonte do


SUS, de sucateamento da ciência e tecnologia e na tentativa de sufocar por falta de verbas as
instituições públicas de ensino superior (universidades, institutos e CEFETs).

Nesse grave cenário político social, o avanço das políticas neoliberais, aceleradas com a
chegada de Temer, se concretiza com o conjunto das contrarreformas trabalhistas e
previdenciárias, e os diversos pacotes pró-capital financeiro, entre outros fatores.

Existe, portanto, um projeto em curso para aniquilar a classe trabalhadora, mesmo que com
isso, se destrua qualquer possibilidade de um projeto de nação.

É nessa conjuntura que o ANDES-SN aprofunda seu papel em defesa da universidade, em


articulação com as lutas populares e sindicais, mantendo sua tradição classista, na defesa de
um projeto autônomo para a universidade brasileira.

No entanto, na atual conjuntura, a universidade, os institutos e os CEFETs têm sido atacados


de forma mais contundente pelo negacionismo, pelo aprofundamento das políticas de
contingenciamento e cortes no orçamento, pelas intervenções na gestão universitária operada
pelo bolsonarismo e pelas ações antidemocráticas que estão invadindo o espaço da vida
acadêmica.

Durante a fase mais aguda da pandemia, vivemos uma experiência de trabalho pautada pela
virtualidade nunca antes vivenciada. Mesmo com todas essas dificuldades, professore(a)s
conseguiram desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão para responder à crise sanitária e
as diversas ações que configuram a universidade brasileira. No entanto, os desafios impostos
pela pandemia da Covid-19 têm precarizado ainda mais nossas condições de ensino e de
aprendizagem, ampliando as garras do mercado, em especial, o ambiente da tecnologia, para
efetivar um projeto de privatização da educação e de entreguismo do nosso conhecimento.
Para além disso, impôs-se na nossa realidade o retorno presencial, mas sem as devidas
condições sanitárias e sem planejamento adequado para garantir condições de ensino,
trabalho e de aprendizagem para toda comunidade universitária.

As lutas do Andes-SN

Princípios

Lembremos que o Caderno 2 do ANDES-SN faz a denúncia do conjunto de ações que ao longo
doas anos pretendem subalternizar a universidade ao projeto do capital. Lá, já apontamos que
a destruição da autonomia universitária, a política de estrangulamento do orçamento das IES,
a tentativa de aprofundar as relações público-privado e a ampliação da lógica de expansão do
funcionamento virtual submetida aos interesses do capital eram medidas que faziam parte do
projeto de destruição do caráter público, gratuito, laico, de qualidade e socialmente
referenciado pelos interesses das elites nacionais e internacionais.

1. A luta contra a reforma administrativa


O ano de 2021 foi marcado pela luta do(a)s servidore(a)s público(a)s no Brasil contra a
PEC 32. O projeto que o governo denominou de reforma administrativa traz
transformações profundas para o papel do Estado brasileiro.
Dentre outras questões podemos apontar propostas que afetam a Universidade
brasileira:
o aumento das terceirizações;
a ampliação das privatizações, inclusive via organizações sociais;
a diminuição no quadro de servidores públicos concursados e com estabilidade;
a precarização nas condições de trabalho e de salário dos servidores públicos;
a extinção de órgãos públicos e autarquias.
Todas essas questões apontam para um resultado que impacta principalmente a classe
trabalhadora mais pauperizada que depende da atenção do Estado, via serviço
público, para garantir sua sobrevivência.

O enfrentamento a essa proposta foi feito com muita luta do funcionalismo público e
centrais sindicais, com a presença ativa do ANDES-SN. Durante quatorze semanas
contínuas realizou-se mobilizações em Brasília, pressão sobre os deputados e
deputadas e debate com o conjunto da sociedade.
Resultado
Esse movimento fez com que a PEC 32 não fosse levada a votação no plenário da
Câmara dos Deputados em 2021. A luta das servidoras e servidores impôs uma
derrota, mesmo que parcial, ao governo Bolsonaro e Mourão. O principal projeto
econômico do governo não foi aprovado, perdeu força dentro do congresso nacional e
afastou muitos parlamentares dessa proposta.

2. Ensino Remoto
Precarização do trabalho docente: na estrutura do ensino remoto os custos que antes
eram da instituição, como luz, internet foram redirecionados para a docência. Cada
docente disponibilizou sua internet particular, o espaço privado de sua residência e o
uso da energia para o desenvolvimento do trabalho nas condições remotas.
Este(a)s profissionais da educação praticamente deixaram de ter vida privada neste
período de pandemia, o que os coloca sobre constantes tensões e expostos a riscos
cada vez mais prementes de adoecimentos. Tais fatores aprofundaram um processo
de precarização da atividade docente, instituindo o home office de forma autoritária.
Desse modo, com a implementação do ensino remoto, a vida da docência resumiu-se
às telas computadorizadas e vozes metalizadas, submetida a um conjunto de situações
para as quais muito(a)s não possuem nenhum preparo formativo para tal.
Para viabilizar as aulas remotas, as IES foram impelidas a se submeter ao pagamento
de plataformas digitais já disponíveis no mercado e a comprar equipamentos e pacotes
de dados de grandes conglomerados de TIC (Tecnologia da Informação e
Comunicação).
Junto com toda essa engrenagem, para além do lucro, estão outros elementos que
podem ser funcionais ao capital. Entre eles podemos aventar, a desmobilização da
organização sindical docente e da combatividade do movimento estudantil; a
fragmentação do conhecimento e o desgaste da criticidade; a reprodução massiva de
conteúdos superficiais e a padronização de saberes e práticas pedagógicas; por fim, o
desmonte do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão.
Em 2020 e 2021, o ANDES-SN aprovou várias resoluções que buscavam orientar a luta
de enfrentamento à pandemia nas IES. Num primeiro momento, tratava-se de garantir
que a adoção do ensino remoto não excluísse estudantes e docentes dos processos de
ensino aprendizagem, garantindo condições mínimas para a sua plena execução, tais
como acessibilidade, conectividade, não obrigatoriedade e garantia de recursos para
estudantes e docentes poderem ter acesso às atividades.
Em outubro de 2021, o MEC apresentou o Programa Reuni Digital, por meio do qual
pretende criar, até 2024, nas Universidades Federais, 1,6 milhão de vagas de ensino
superior a distância. A proposta inclui a criação de uma Universidade Federal Nacional
de Educação a Distância.
Afirma-se que, assim, seria possível cumprir a meta 12 do Plano Nacional de Educação
(PNE) 2014-2024, que estabelece que as instituições públicas deverão contabilizar 40%
das novas matrículas em educação superior. Atualmente, o sistema público de
educação abrange apenas 24,2% dos universitários. No EaD, a concentração das vagas
na rede privada é ainda maior, sendo que a oferta pública corresponde a 6,4%. O
governo usa os dados sobre a expansão do EaD na rede privada, que já alcança 50,7%
das vagas, para criar um espírito de competição em que as públicas deveriam buscar o
mesmo patamar. Não falta a cobertura democratizante que afirma que essa seria a via
para inserir mais estudantes pobres e trabalhadores.
O REUNI Digital também propõe a inserção, nos currículos das licenciaturas, a
formação na docência online e a realização de estágios online na Educação Básica. No
ensino superior, permite o estágio docência online para os pós-graduandos. Já se
prevê também a elaboração de estudos sobre as formas de contratação e
remuneração aos tutores de EaD.
O EaD forjado sob o governo Lula, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB),
remunera os tutores por meio de bolsas. Com o alargamento dessa categoria
precarizada, o governo busca institucionalizar a fragmentação da categoria docente.
Uma das movimentações operadas, no momento, é para que haja um novo marco
regulatório da educação que quebre a separação entre modalidades de ensino
presencial ou a distância, garantindo uma maior flexibilização, hibridização e
possibilidade de trânsito dos discentes entre várias formas em suas “trilhas de
aprendizagem”.
Pretende-se, assim, uma formação ainda mais esvaziada e fragmentada, oculta sob os
lemas dos organismos internacionais, já amplamente aplicados na Educação Básica, de
desenvolvimento de habilidades e de competências, foco no “aprender a aprender” e
na farsa da autonomia discente.
A porta que se abre com o ensino remoto e o ensino híbrido, ambos extremamente
precarizantes das condições de trabalho docente e de aprendizagem, consolida-se com
a proposta do Reuni Digital - que aprofunda o projeto neoliberal para o ensino público
com formação aligeirada e precarizada para a classe trabalhadora - e estende-se até a
proposta de abertura de novos cursos de pós-graduação na modalidade EaD nas
instituições privadas de ensino.
O objetivo não é a educação, não é a formação do cidadão. O objetivo é abocanhar o
fundo público para a iniciativa privada, e colocar o ensino público como refém dos
grandes grupos empresariais da educação.
O ANDES-SN tem uma luta histórica, de pelo menos três décadas, contra a Educação a
Distância, que nesse período foi regulamentada. Em que pesem algumas instituições
que tem na EAD no País qualidade e com fim de promoção da cidadania, o que se
constata é que em sua quase totalidade esta modalidade oferece um ensino aligeirado
e com um mínimo de qualidade. Precisamos continuar combatendo e contrapondo-
nos a esse tipo de educação que, em última instância, atende a um mercado ávido por
lucro.

3. Retorno às atividades presenciais


Ainda durante a pandemia, o governo federal, governos estaduais, reitorias e setores
das Universidades fizeram forte pressão no sentido de aprovarem resoluções que
abrissem a possibilidade de retorno presencial ainda em 2021. A resistência à
retomada das atividades presenciais neste momento histórico, sem antes adotar
protocolos de biossegurança devidamente aprovados em suas instâncias deliberativas,
fez com que construíssemos uma forte contraposição à adoção do ensino híbrido e
para que a retomada das atividades presenciais fosse postergada para 2022, após a
massificação da vacinação na população

4. Destruição da autonomia das Universidades


Em 2019, Bolsonaro radicalizou sua posição de destruição da pouca autonomia
universitária que tínhamos, começando uma série de nomeações de reitores e reitoras
não eleito(a)s por suas comunidades acadêmicas. Em mais de duas dezenas de IES,
Bolsonaro escolheu, como seus interventores, nomes que ficaram em segundo,
terceiro e até quarto lugar nas consultas acadêmicas. Chegou-se ao ponto de serem
nomeados professores e professoras bolsonaristas que nem participaram de qualquer
escolha interna.
A partir da concepção que temos defendido historicamente, expressa no Caderno 2, o
nosso sindicato construiu um conjunto de ações que envolveram a diretoria nacional,
as regionais, as seções sindicais e as entidades do(a)s técnico(a)s e estudantes para
defender a autonomia universitária e que a escolha de reitores e reitoras inicie e
termine dentro das instituições.
Também nos articulamos com outras entidades da educação em atividades que
contaram com a participação de reitoras e reitores escolhidos pela comunidade. Nossa
luta ocorreu no âmbito jurídico, na pressão ao congresso, nas redes e nas ruas. Não
temos dúvidas de que precisamos garantir a autonomia universitária de modo pleno e
lutar para que a democracia interna das universidades, institutos federais e CEFET
desenvolva-se plenamente.

5. Cortes orçamentários
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o
Ensino Superior, no orçamento federal, passou de uma dotação autorizada de R$ 42,3
bilhões, em 2016, para R$ 29,5 bilhões, em 2021, dos quais R$ 4,5 bilhões foram
contingenciados, além de o valor efetivamente liberado ter sido menor, por ser alvo de
vetos presidenciais.
Na esteira do avanço dos cortes e sob forte pressão por mais recursos para o ensino,
pesquisa e extensão nas IES, os governos deram continuidade a articulações para
impor propostas de parcerias público-privadas que se apresentam como saídas para
garantir a dinâmica acadêmica.
Cabe destacar que algumas instituições aproveitaram a situação da pandemia e
permitiram o gerenciamento das estruturas de aula remotas, gestão de
armazenamento de videoaulas, materiais didáticos e, até mesmo, o controle ilegal da
dinâmica de trabalho docente. Muitas universidades fecharam convênios com
multinacionais ligadas aos negócios virtuais, enquanto não se avançou na constituição
de um sistema público de tecnologia da comunicação e informação.

6. Ciência e Tecnologia
Vale destacar que em 41 anos de existência, o ANDES-SN tem atuado no sentido de
buscar conhecer e problematizar as fundações privadas ditas “de apoio” e as formas
de sua interferência nas Universidades Públicas, pautando-as como os principais
agentes de fortalecimento do modus operandi do setor privado no interior do espaço
público. Fortalecer a resistência frente a essa empreitada do setor privado nas
Instituições Públicas de Ensino é o que o Caderno nº 28 do ANDES-SN aponta para
combater os ataques que foram aprofundados pelo Marco Legal da Ciência,
Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16 e sua regulamentação), destacando que todo o
nosso esforço deve continuar no sentido de evidenciar o que de fato está em jogo
nesse processo de colocar progressivamente os Institutos e as Universidades Públicas a
serviço de interesses mercadológicos.
Nossa luta até aqui não foi suficiente para impedir que se chegasse no cenário ao qual
o país está submetido, de avanço das intenções de financiamento privado das
pesquisas. A pesquisa tem sofrido duros golpes, exemplo contundente foi que, em
outubro de 2021, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações anunciou o corte de
87% de sua verba para o desenvolvimento da ciência brasileira, limitando e impedindo
a continuidade de pesquisas em diversas áreas.
No final de 2021, num contexto que já se ultrapassava mais de meio milhão de mortes
por Covid-19 no Brasil, denunciamos em nota a proposta do ministro da Economia que
mandou a Comissão Mista do Orçamento cortar 690 milhões de projetos científicos,
atacando a capacidade do CNPq de garantir os já parcos recursos para o financiamento
da pesquisa pública.
O ANDES-SN tem dado continuidade ao caminho historicamente trilhado de defender
um projeto de Ciência e Tecnologia Pública e Gratuita focando na luta pela revogação
da EC 95/16 e do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16).

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