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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E ECONOMIA DA EDUCAÇÃO
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA (POEB)
PROF. DANIEL CARA
DIREITO À EDUCAÇÃO
NA PANDEMIA
Mirella de Carvalho
Nº USP: 7613181
Período: matutino
mirella.carvalho@usp.br
Pandemia e Educação: o escancaramento da desigualdade social e a
negação do direito de estudar.
O ano de 2020 está sendo marcado por uma pandemia global do chamado
coronavírus, responsável por milhões de infectados e milhares de vítimas fatais. Para
diminuir a chance de contágio, medidas preventivas foram tomadas pelos governos
locais, como o isolamento social, quarentena dos doentes, uso de máscara para quem
precisa sair e fechamento de comércios e serviços não essenciais. Escolas e
universidades também foram fechadas e, assim, o ensino remoto foi a solução
encontrada pelos governantes e diretores de escolas privadas para darem continuidade
às aulas.
É notório que, por si só, este método é problemático, por não ser capaz de
proporcionar uma interação igual à da aula presencial. Pesquisas internacionais afirmam
que em transmissões online, videoconferências e similares, perde-se uma das três
dimensões da comunicação, pois a linguagem não-verbal fica demasiadamente limitada,
exigindo mais atenção para o entendimento, e, portanto, tornando a interação mais
cansativa (EL PAÍS, 2020). Somando-se a isso, o confinamento por conta da quarentena
e o estado de alerta por causa da pandemia nos deixa psicologicamente exaustos e
dispersos, com dificuldade de concentração.
Boa parte dos alunos da rede pública não possui meios tecnológicos para acessar
a plataforma digital do governo de seus respectivos estados. Estima-se que 1 em cada 4
brasileiros não possui acesso à internet (Agência Brasil, 2020). E mesmo que alguns
estados tenham firmado acordo com canais da televisão aberta, muitas famílias não
possuem estrutura habitacional para que seus filhos possam se concentrar nas aulas ou
mesmo fazer as atividades.
Paulo Freire defende que, para um ensino efetivo, é necessário que ele seja
humanizador e libertador. Porém, a prática mais comum é a que ele define como
“concepção bancária”, na qual o educador faz o papel de transmissor de saberes, de um
narrador, enquanto o educando, um mero ouvinte.
“Nela [concepção bancária], o educador aparece como seu indiscutível agente,
como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos
de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade
em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (...) Desta maneira, a
educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o
educador o depositante. (...) Na visão ‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é uma doação
dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber.” (FREIRE, 2005)
Partindo dessa definição, podemos afirmar que o ensino remoto têm exacerbado
essa lógica da educação bancária, pois, em muitos casos, como em algumas escolas
públicas do estado de São Paulo, estudantes não estão tendo aulas com seus respectivos
docentes e não estão em um grupo separado para sua turma.
Desta forma, conclui-se que essa nova realidade escolar não abarca toda a
complexidade e subjetividade da comunidade estudantil e pressupõe que todos têm as
mesmas condições habitacionais, estruturais e psicológicas, não considerando,
principalmente, as diversas necessidades inerentes às camadas mais baixas da
população. Além disso, mina qualquer possibilidade de diálogo entre educador e
educando, tornando o ensino um mero ato de transmissão de conhecimento, no qual o
aluno se transforma apenas em um “depósito de conteúdo” (FREIRE, 2005) sem
desenvolver seu pensamento crítico.
SUDRÉ, Lu. “Mais trabalho, alunos sem acesso e incertezas: a realidade do "ensino"
pelo Whatsapp”. In: Brasil de Fato: São Paulo. 15 de outubro de 2020. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2020/10/15/mais-trabalho-alunos-sem-acesso-e-
incertezas-a-realidade-do-ensino-pelo-whatsapp>. Acesso em: 01/11/2020.
TOKARNIA, Mariana. “Um em cada 4 brasileiros não têm acesso à internet, mostra
pesquisa”. In: Agência Brasil: Rio de Janeiro. 29 de abril de 2020. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-04/um-em-cada-quatro-
brasileiros-nao-tem-acesso-internet>. Acesso em: 01/11/2020.
VESPA, Talyta. “SP: só metade dos alunos acessa aula online; professores relatam
sobrecarga”. In: UOL, 29 de maio de 2020. Disponível em:
<https://educacao.uol.com.br/noticias/2020/05/29/sp-metade-dos-alunos-acessam-aulas-
online-professores-relatam-sobrecarga.htm>. Acesso em: 29/10/2020