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Artigos de Revisão

O AVANÇO DA EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA NO BRASIL E A QUEBRA DE
PRECONCEITOS: UMA QUESTÃO DE
ADAPTAÇÃO
ALMEIDA FILHO, Carlos César Pereira de1
¹Especialista em Educação a Distância e graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.

RESUMO

A Educação a Distância tem crescido vertiginosamente no cenário educacional brasileiro, no-


tável não apenas no aumento do número de ingressantes, como também, no número cada vez
maior de cursos oferecidos nessa modalidade. Todavia, mesmo com os reais avanços alcança-
dos, discursos depreciativos ainda são encontrados no tratamento dos métodos a distância, o
que acaba por limitar ainda mais uma visão de credibilidade e aceitação na comunidade. Diante
desse embate, o presente trabalho objetiva investigar os cenários de crescimento e desenvolvi-
mento do ensino a distância e a processão de ideias negativas e preconceituosas em relação à
sua receptividade e aceitação como uma modalidade de ensino fidedigna. Por meio da revisão
bibliográfica, buscou-se por meio de teses e índices institucionais desenvolver um panorama
elucidativo. Ainda se observam níveis de preconceito em relação à modalidade a distância e sua
confiabilidade. Em outro polo, há uma disparidade e um paradoxo entre o aumento da acessibi-
lidade aos recursos tecnologias de informação e comunicação e uma boa parcela da população
que ainda não se adaptou as novas tecnológicas. Atitudes preconceituosas ainda existentes em
relação a Educação a Distância estão ligadas a variáveis culturais e ao conhecimento incomple-
to sobre os métodos e técnicas a distância, bem como a adaptação pessoal e social aos recursos
tecnológicos.

Palavras-chave: Educação a Distância. Preconceito. Paradigmas educacionais.

INTRODUÇÃO da como uma prática educativa mediada e si-


tuada por esses recursos. E para Mill (2006), o
O deslocamento até a sala de aula e a figu- uso conjugado das tecnologias de informação e
ra imponente do professor diante de seus alu- comunicação - TICs, denominado de telemática,
nos já não é mais a única forma de enxergar possibilitou um avanço imaginável no campo da
o fazer educacional. O mesmo ocorreu com os educação.
sinais ensurdecedores emitidos para indicar as A EAD cresceu vertiginosamente no decurso
horas de início, intervalo e final das aulas que das últimas décadas devido à capacidade de se
já não soam para muitos indivíduos que estão adaptar às diferentes realidades dos indivíduos
aprendendo e ensinando em espaços e tempos que buscam se qualificar e que, por vários moti-
diversificados. vos, não conseguem realizar na modalidade pre-
A modalidade de Educação a Distância - EAD sencial de ensino. No entanto, a intermediação
vem inaugurar novas possibilidades n o acesso da educação pelo uso das TICs ainda sofre por
à educação, ampliando o processo de ensino preconceito e ideias depreciativas, com acusa-
aprendizagem efetivado por meio do uso de re- ções como a de oferecer ensino de qualidade
cursos tecnológicos de informação e comunica- inferior ao modelo de ensino presencial. Pre-
ção diante da separação física e temporal entre conceito esse perpetrado pela comunidade aca-
professores e alunos. Oliveira (2009) afirma que dêmica e a sociedade em geral.
a EAD não pode ser apresentada e conceitua- Nesse sentido, o presente estudo objetiva
da como um simples instrumento para o uso das investigar os cenários de crescimento e desen-
tecnologias na educação, mas sim compreendi- volvimento do ensino a distância e a processão

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de ideias negativas e preconceituosas em rela- cia, e mais de 2,5 milhões de brasileiros estu-
ção à sua receptividade e aceitação como uma daram em cursos com metodologias a distância
modalidade de ensino fidedigna. Sob a hipótese no ano de 2007. O último Censo da Associação
que o preconceito em relação à EAD ainda per- Brasileira de Educação a Distância - ABED, di-
manece na sociedade devido a própria dificul- vulgado em 2011, revelou que o número de ma-
dade de uma parcela em se adaptar as novas trículas em cursos EAD aumentou 58% entre os
tendências educacionais resultantes do avanços anos de 2010 e 2011. Esse índice refere-se à,
das novas tecnologias da informação e comuni- aproximadamente, 3,5 milhões matrículas.
cação no âmbito da educação e enxergar nesses Ao analisar os investimentos destinados à
prospectos, alternativas pertinentes e promis- modalidade de EAD e da ampliação no número
soras de formação. de cursos em instituições de ensino público no
Brasil nos últimos anos, Bramé (2010, p. 159)
cita que:
DESENVOLVIMENTO
Os avanços da EAD no Brasil As iniciativas privadas e públicas investem mui-
to nesse tipo de modalidade. Na esfera públi-
Vivenciamos uma era de transformações, ca, destacamos a Universidade Aberta do Brasil
uma era de interdependência global com a in- (UAB), entidade voltada à pesquisa em educa-
ção superior e que compreende formação inicial
ternacionalização da economia e a supervalori- e continuada para profissionais do magistério e
zação da comunicação e informação. E diante da administração pública. A sua organização se
dessas profundas mudanças que ocorrem na so- pauta em pólos educacionais e em sistemas de
acompanhamento tutorial aos discentes. Em
ciedade contemporânea, redefinindo práticas e 2009 foram aprovados 193 cursos, totalizando
valores, é que pensamos como a educação tem aproximadamente 750 polos em diferentes muni-
se modificado nesse conjunto de mudanças in- cípios. A meta é que em 2013 se chegue ao núme-
ro de 1000 pólos atendendo a aproximadamente
fluenciadas pelo uso cada vez mais expressivo 800.000 alunos.
das novas TICs. Para Brignol (2004), as TICs fo-
ram agregadas à educação em meados dos anos
1950, iniciando pesquisas que buscavam meios Segundo Blois (2005), foram criadas redes
eficazes para fomentar o processo de ensino nacionais, regionais e estaduais de universidade
-aprendizagem e torná-lo mais eficaz no ensino públicas e privadas e consórcio de instituições
militar. privadas para a criação de cursos a distância,
No que se refere à estruturação da moda- o que configuraria mudanças de paradigmas e a
lidade a distância no Brasil, seu crescimento é abertura de novos papéis e possibilidades para
inegável. Crescimento observado no aumento de a comunidade carente de educação superior no
matrículas na oferta de cursos nas Instituições país.
de Ensino Superior credenciadas pelo Ministério
da Educação - MEC. Segundo o próprio MEC, a Preconceito e resistências em relação
cada cinco alunos inseridos no Ensino Superior
no Brasil, um opta pela modalidade de EAD.
à EAD no Brasil
Na primeira palestra do V Congresso Brasi- Relacionar a modalidade de EAD no Brasil
leiro de Educação Superior a Distância e do VI ao uso da internet e dos microcomputadores,
Seminário Nacional de Educação a Distância na indicando-a como uma das novidades de nosso
cidade de Gramado/RS, o secretário de educa- tempo, é cometer uma gafe. Mais antiga do que
ção a distância, Prof. Carlos Eduardo Bielscho- se convenciona pensar, a EAD teve seu início no
wsky, indicou por meio dos resultados do Institu- Brasil ainda no início do século XX, com o ofe-
to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais recimento de ensino não formal por correspon-
Anísio Teixeira - INEP/MEC, alguns avanços da dências. Como aponta Faria e Salvadori (2010),
EAD nos últimos anos no cenário brasileiro, prin- antes mesmo de 1900 já existia no Rio de Janei-
cipalmente no que se refere ao aumento do nú- ro anúncios em jornais com o oferecimento de
mero de cursos oferecidos entre os anos de 2003 cursos profissionalizantes por correspondências,
a 2006, passados de 52 para 349 cursos, segundo como o curso de Datilografia.
dados do anuário de Anuário Brasileiro Estatísti- Consoante a essa idéia de que a EAD não se-
co de Educação Aberta e a Distância (MINISTÉ- ria uma inovação de nossos dias, Orsi (2010, p.
RIO DA EDUCAÇÃO, 2008). De acordo com Rocha 122) defende que “o que é novo nessa modalida-
(2011), 1 a cada 73 brasileiros estuda a distân-
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de de ensino é o emprego das novas tecnologias nológicos de informação e comunicação. Numa


de informação e comunicação que possibilitou roupagem caracterizada pela interatividade e
a implantação de novos modelos de EAD, mais não-linearidade, a EAD não se apresenta como
atrativos, e atender uma grande quantidade de saída para o modelo tradicional de educação,
alunos simultaneamente”. Ainda segundo o au- mas sim, uma forma de complementá-lo, ob-
tor, a Universidade de Londres, na Inglaterra, jetivando uma educação inclusiva. Sobre essa
começou a atender aprendizes por meio de seus errônea impressão de que a modalidade a dis-
cursos por correspondência e, em seus mais de tância ameaça a modelo tradicional, e sobre as
150 anos de atuação, essa mesma instituição possíveis melhorias advindas com o avanço da
atendeu milhares de aprendizes, inclusive figu- EAD, Oliveira (2009, p.59) explica que:
ras ilustres como Mahatma Gandhi. Nesse sen-
tido, a argumentação de que se trata de uma A educação presencial tem o professor em sala
de aula como figura central. Já a Educação a Dis-
modalidade de ensino recente e não testada tância é fundamentada no modo impresso, com
cai, visto os antecedentes históricos indicarem mediação tecnológica e eletrônica, o que criou
caminhos de progressão e experimentação em o mito de que ela viria substituir o professor e
prejudicar a qualidade do ensino. Na verdade, a
âmbito nacional e internacional. Educação a Distância não prescinde do professor.
Então, para que se possa entender a exis- Ao contrário, transformou a função docente em
tência de preconceito até os dias de hoje em re- produção e distribuição de cursos e materiais,
lação à EAD no Brasil, devemos compreender o acrescentando-lhe novas atribuições como tuto-
ria, aconselhamento e monitoria de centros de
desenvolvimento de implantação da modalida- apoio, de recursos e de avaliação.
de, que foi marcada por avanços e retrocessos,
e em alguns momentos de períodos de estagna- É nessa comparação entre o modelo tra-
ção, provocados principalmente pela ausência dicional de educação e as novas possibilidades
de políticas públicas para a área. Segundo Alves advindas com a modalidade EAD, promotora da
(2009), o Brasil foi citado entre os principais intermediação da educação pelos recursos tec-
países no que se refere à EAD até meados dos nológicos, é que emergem os preconceitos e
anos 1970, sendo que após esse período viveu resistências em relação a esse novo paradigma
um momento de pausa sendo superado por ou- educacional.
tros países e, no final da década de 1990 iniciou Segundo o Dicionário Michaelis (2008),
novos avanços. preconceitos são “conceitos ou opinião forma-
Mesmo diante dos quadros estatísticos que dos antes de ter os conhecimentos adequados,
indicam avanços alcançados pela EAD, a moda- ou ainda, opinião ou sentimento desfavorável,
lidade tem ainda hoje se esforçado para ganhar concebido antecipadamente ou independente
credibilidade diante das Instituições de Ensino de experiência ou razão”. Quanto às atitudes
Superior e da comunidade acadêmica que tem preconceituosas relativas ao uso das tecnologias
resistido aos cenários oferecidos pela EAD. No na educação, Corrêa e Santos (2009) afirmam
processo de enfrentamento da EAD em sua cre- que o mesmo ocorreu no passado com o uso do
dibilidade, Alves (2011, p.201) indica como esta telefone, o rádio, o cinema e a televisão quando
modalidade deve se estruturar para o ganho de utilizados para fins educacionais.
aceitação em meio à comunidade acadêmica e O embate entre o modelo educacional tra-
consolidar sua trajetória: dicional e as novas perspectivas e práticas de
se ensinar por meio do uso dos recursos tecno-
(...) quanto mais transparentes forem as infor-
mações sobre a estruturação e organização de lógicos, estão imbricados dentro do processo
cursos e programas a distancia, e quanto mais de socialização onde os indivíduos se formam e
conscientes estiveram os estudantes de seus se transformam. Nesse aspecto, Crochik (2006)
direitos, deveres e atitudes de estudo, maior
a credibilidade das instituições e mais bem-su-
considera que esse processo de socialização, só
cedidas serão as experiências na modalidade a pode ser entendido como resultado da cultura
distância. e da história dos indivíduos. E é nos embates
presentes nesse processo de constituição do in-
divíduo, que envolve a socialização, quando ao
A EAD revolucionou o processo de ensino próprio desenvolvimento da cultura resultante
-aprendizagem ao passo que apresentou outras a adaptação da luta pela sobrevivência, que o
possibilidades para promoção de uma educação preconceito surge como respostas a esses confli-
de qualidade a um público geograficamente dis- tos. Sobre o surgimento do preconceito Crochík
perso por meio da mediação de recursos tec- (2006, p.15-16)) ainda afirma:
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uniforme devido a desigualdade econômica e a


Como a experiência e a reflexão são as bases da inacessibilidade que ainda impede a democrati-
constituição do indivíduo, sua ausência carac-
teriza o preconceito. Mas a base desse não e a zação do acesso a esses recursos tecnológicos.
ausência, que contribui para a sua manutenção, O autor ainda continua:
e, sim, o que as impede: a ruptura com o mundo
que o preconceituoso percebe demasiadamente O processo de mudança na educação a distân-
como ameaçador. cia não é uniforme nem fácil. Iremos mudando
aos poucos, em todos os níveis e modalidades
O medo frente ao desconhecido, do dife- educacionais. Há uma grande desigualdade eco-
nômica, de acesso, de maturidade, de motiva-
rente, é mesmo o produto daquilo que não se ção das pessoas. Alguns estão preparados para
conhece, do que daquilo que não se quer e que a mudança, outros muitos não. É difícil mudar
não se pode reconhecer em si por meio de ou- padrões adquiridos (gerenciais, atitudinais) das
organizações, governos, dos profissionais e da
tros (CROCHÍK, 2006). Nesse sentido, surge a sociedade. E a maioria não tem acesso a esses
indagação: o preconceito em relação à EAD é recursos tecnológicos, que podem democratizar
fruto da negação à realidade que configura ace- o acesso à informação. Por isso, é da maior re-
levância possibilitar a todos o acesso às tecnolo-
leradas modificação tecnológicas de informa- gias, à informação significativa e à mediação de
ção e comunicação que passaram cada vez mais professores efetivamente preparados para a sua
adequar a prática educacional? utilização inovadora (MORAN, 2000, p. 10).
Os estereótipos construídos em torno do
uso das TICs gera desconfiança em relação ao Tais transformações ocorrem ao passo em
que a EAD oferece, rejeitando-a a um segundo que as tecnologias de comunicação evoluem,
plano no conjunto de prioridades atuais do país alterando também os conceitos de se pensar e
e considerando-a como um ensino de segunda agir. O próprio conceito de aula, de curso, mu-
classe, de baixa qualidade e que não atende aos dam ao passo que seus espaços e tempos de rea-
anseios da sociedade (CORRÊA; SANTOS, 2009). lização são flexibilizados e a sala de aula passa
No bojo que configura as aceleradas modi- a não ser mais o único ambiente para se ensi-
ficações na sociedade devido ao uso cada vez nar e aprender. O professor se desloca do es-
mais expressivo dos recursos tecnológicos no paço tradicionalmente determinado, a escola,
dia a dia, os preconceitos surgidos podem ser para um intercâmbio não presencial com seus
entendidos como uma forma de resistências às alunos. Passa-se por um processo de divisão do
novas ferramentas para comunicação. Assim, trabalho, num ciclo operatório onde suas ações
não se deve pensar que a utilização dos recur- devem atender a uma polidocência – isto é, a
sos tecnológicos são absorvidos por todos com estratificação da prática educacional, tornan-
igualdade, gerando para alguns dificuldades ao do o docente um trabalhar com especificidades
romper com velhas práticas de comunicação. dentro do processo de ensino-aprendizagem –, o
Sobre a dificuldade que alguns indivíduos pos- professor passa a buscar o aumento da demanda
suem em se adaptar os recursos tecnológicos, o de informações e da própria evolução tecnológi-
que resulta no preconceito por parte de alguns ca que agregaram cada vez mais seu ofício.
indivíduos, Pinheiro (2004) explica que: Portanto, torna-se importante entender
que a modalidade de educação a distância não
Ocorre que alguns indivíduos se adaptam melhor pode ser acusada de servir como uma espécie
e mais rapidamente às mudanças tecnológicas;
outros indivíduos se adaptam, mas não de forma
de atalho para se chegar à formação, descrita
tão rápida e temos ainda aqueles que não conse- numa formula rápida e menos trabalhosa resul-
guem se adaptar, o que gera um certo “stress”. tante de um processo de industrialização da edu-
Na realidade, esse “stress” provocado pela tec- cação, mas sim, compreender como uma forma
nologia não está na falta de capacidade do ser
humano em se adequar às mudanças e sim, na democrática e inclusiva de acesso à educação
má estruturação e disseminação da tecnologia de qualidade. Sobre esse estereótipo dissemi-
na sociedade, tanto pelos governos quanto pela nado por aqueles que resistem a EAD e tentam
sociedade civil, notadamente pela falta de uma
abordagem sistêmica e estratégica. desqualificá-la, Moran (2000) defende que:

Educação a distância não é um fast food em que


Sobre essa dificuldade de alguns indiví- o aluno se serve de algo pronto. É uma prática
duos se adaptarem às ligeiras modificações que que permite um equilíbrio entre as necessida-
vem ocorrendo nas tecnologias de informação des e habilidades individuais e as do grupo - de
forma presencial e virtual. Nessa perspectiva, é
e comunicação, Moran (2000) entende que as possível avançar rapidamente, trocar experiên-
questões ainda não se enquadram em um nível cias, esclarecer dúvidas e inferir resultados. De

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agora em diante, as práticas educativas, cada conceito possui um componente cultural, ainda
vez mais, vão combinar cursos presenciais com fortemente presente na sociedade brasileira,
virtuais, uma parte dos cursos presenciais será
feita virtualmente, uma parte dos cursos a dis- mas que pode ser considerad pelos próprios fra-
tância será feita de forma presencial ou virtual cassos ocorridos no processo de implantação da
-presencial, ou seja, vendo-nos e ouvindo-nos, EAD no Brasil, o que contribuiu para uma rejei-
intercalando períodos de pesquisa individual
com outros de pesquisa e comunicação conjunta. ção inicial. Sobre as dificuldades na formação
Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos, com de projetos que assegurassem o desenvolvimen-
a orientação virtual de um tutor, e em outros to e da legitimação que abrangem a EaD no
será importante compartilhar vivências, expe-
riências, idéias.
Brasil, Alves (2009, p.278) explica que:

Hoje, a criação de curso de graduação a distan-


Mesmo diante de tantas vantagens trazidas cia, principalmente licenciatura, vinculadas as
com a expansão da EAD no Brasil, a modalidade universidades publicas tradicionalmente presen-
não é capaz de driblar a má compreensão da ciais e bastante audaciosas e muitas vezes mal
vista, mesmo pela própria Universidade e seus
população, que acaba por interpretar de modo membros, tanto do corpo discente como docen-
equivocado. O rompimento com a lógica espa- te. Entretanto, essa afirmação e fruto de conver-
ço-temporal definida, e do deslocamento da fi- sas e observações sem um tratamento científico
adequado.
gura do professor como um orientador e que até
então parecia inexorável no processo de ensino
Segundo Corrêa e Santos (2009) o precon-
aprendizagem apresenta resistências e precon-
ceito dos alunos do ensino superior em relação
ceitos em relação às novas propostas advindas
aos cursos oferecidos no âmbito de educação a
com os novos métodos e técnicas de ensino da
distância esta atrelado principalmente a ques-
EAD. Sobre isso Corrêa e Santos (2009, p.278)
tão da qualidade dos cursos, implicando princi-
citam que:
palmente na formação não especifica dos pro-
Apesar de a educação a distância ocupar um es- fessores que atuam nesta modalidade e também
paço cada vez maior no país, ainda existe muitas no uso incorretos dos recursos de informática
resistências e preconceitos contra a EAD. Além disponíveis. Sobre as barreiras e preconceitos
disso, o estabelecimento do novo papel do pro-
fessor como conteudista e/ou tutor, ou melhor, encontrados no processo de implantação da
como intermediador do conhecimento e não educação a distancia no Brasil, os mesmos auto-
mais como o único responsável pela disciplina/ res citam que:
curso que leciona, tem gerado confusões e im-
propriedades.
Assume-se também que há muito preconceito
em relação à EAD, que é vista, muitas vezes,
Essas confusões e impropriedades geradas como inferior, resultado de muitas iniciativas
pelas profundas mudanças ocorridas no proces- mal-sucedidas que marcaram o início da EAD no
Brasil. Além do que, parte da comunidade aca-
so de ensino-aprendizagem podem ser entendi- dêmica se incomoda com os novos parâmetros
das como resultados da própria desinformação de ensino, nos quais o centro da aprendizagem
da população sobre o organização da EAD e da desloca-se do professor para o aluno (CORREA;
SANTOS, 2009, p.277).
dificuldade de adequação às TICs, que ainda
aflige uma parcela da sociedade, podendo ser
No entanto, segundo Moran (2000), já vi-
considerados componentes essenciais para exis-
venciamos um tempo de transição onde a adap-
tência de preconceitos em relação a EAD. Os
tação aos meios tecnológicos se faz mediante a
avanços tecnológicos proporcionados, princi-
necessidade de atividades diárias comuns como
palmente, pelas TICs, além das organizacionais
e-mails, formulários virtuais e outras atividades
e gerenciais estão representando novos desa-
que empregam o uso dessas novas tecnologias
fios para os indivíduos na sociedade em geral.
de informação e comunicação. Além disso, o
Afinal, a tecnologia transforma não apenas as
autor considera que esse momento, que com-
formas de comunicação, mas também as formas
preender a superação dos modelos predominan-
de trabalhar, decidir, pensar e viver o mundo.
tes individuais já está dando lugar aos modelos
Sobre esse pensamento Selwyn (2008, p. 817)
coletivos previstos pela EAD.
diz que: “emprego, educação, saúde, bem-es-
tar, políticas, lazer e diversão, todos, hoje em
dia, ocorrem de maneiras e em lugares que se- CONSIDERAÇÕES FINAIS
riam inimagináveis uma geração atrás e, muitas
vezes, têm a tecnologia em seu cerne”. O avanço da EAD no cenário educacional
Deve-se considerar que a questão do pre- brasileiro é evidenciado pelos atuais acréscimos

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nos números de alunos e de cursos virtualmen- CORREA, Stevan de Camargo; SANTOS, Larissa
te oferecidos por instituições de ensino superior Medeiros Marinho. Preconceito e educação à
credenciadas pelo MEC. Todavia, mesmo diante distância: atitudes de estudantes universitários
do acelerado avanço dos recursos tecnológicos sobre os cursos de graduação na modalidade a
de informação e comunicação, uma parcela da distância. Educação Temática Digital, Campi-
população ainda possui dificuldade de adequar nas, v.11, n.1, jul./dez. 2009. p.273-297.
a aplicabilidade desses novos recursos na prá-
tica educacional, acarretando na descrença do CROCHÍK, José Leon. Preconceito, indivíduo e
potencial que a EAD frente aos métodos tradi- cultura. 3. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,
cionais de ensino. 2006.
Assim, compreende-se que as atitudes pre-
conceituosas que marcam a resistência em rela- DICIONÁRIO MICHAELIS DA LÍNGUA PORTUGUE-
ção à EAD no Brasil é uma característica do pró- SA. São Paulo: Melhoramentos, 2008.
prio movimento de transição de adaptação aos
recursos tecnológicos de informação e comuni- FARIA, Adriano Antônio. SALVADORI, Angela. A
cação por parte da população, que somados às educação a distância e seu movimento Histó-
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