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Agradeço a minha mãe Dulce Inês pelo amor, companheirismo, dedicação e incentivo
na jornada da educação.
Agradeço a meu pai Ezane Luís pela compreensão dos momentos de minha ausência,
pela sua palavra amiga e descontraída.
Agradeço aos dois pela base familiar e pelo ensino de qualidade, pela motivação e por
sempre acreditarem na minha capacidade, nos momentos mais críticos quando eu já não
acreditava.
Agradeço ao meu irmão Gabryel pela colaboração, paciência e por sua alegria da
juventude que faz tudo ficar divertido.
sem ela
O presente estudo trata de uma pesquisa sociológica sobre a inclusão digital nas escolas da
rede pública no contexto da pandemia do covid-19. Este estudo buscou compreender as
desigualdades educacionais existentes, em que a escola se coloca como uma instituição que
reproduz tais desigualdades, evidenciado na exclusão digital exposta no ensino público. Este
trabalho tenta identificar os principais desafios enfrentados e ainda por enfrentar na efetiva
inclusão digital no meio educacional. Através de uma análise qualitativa sobre os relatos de
vivências dos professores da rede pública, mostra-se presente uma agenda urgente que pense
em uma escola menos analógica que consiga inserir seus alunos em uma sociedade em que o
digital é o novo normal.
The present study is a sociological research about digital inclusion in the public schools in the
context of the covid-19 pandemic. This study sought to understand the educacional
inequalities, where the school is placed as an institution that reproduces such inequalities,
evidenced in the digital exclusion seen in the public education. This work tries to identify the
main challenges faced and still to be faced in the effective digital inclusion in the educational
enviroment. Through a qualitative analysis of the reports of public school teachers about their
experiences, it’s presented an urgent agenda that thinks of a less analogical school that can
insert its students into a society where digital is the new normal.
Figura 1 – Indice de Privação on-line e os perfis dos usuários. Ano 2021. ............................ 17
Figura 2 – Domicílios que possuem equipamentos TIC por classe social, ano 2021 .............. 18
Figura 3 – Alunos de escolas urbanas públicas por dispositivos utilizados para acessar a
internet. Ano 2019........................................................................................................ 18
Figura 4 – Escolas Urbanas públicas por número de alunos por computador. Ano 2019 ....... 19
LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11
1. INTRODUÇÃO
os autores Castell e Lévy que dialogam sobre as novas configurações das relações, em que o
mundo está cada vez mais híbrido entre o on-line o off-line. E como a educação está obsoleta
nesse processo. Pois, a exclusão digital educacional está associada à outras exclusões
existentes como a falta de capital cultural, social e financeiro das classes mais vulneráveis nas
reflexões de Bourdieu, combinado com uma “instituição do fracasso”, a escola, desenvolvido
por Freitas.
Trabalho com as hipóteses inicialmente de que há uma relação íntima da inclusão
digital associado ao capital cultural e financeiro dos seus usuários, substancialmente quando
se fala de jovens em estado de vulnerabilidade social. E a desigualdade de renda ou riqueza,
intensificada pela crise pandêmica está ligada com a desigualdade de acesso ao mundo digital,
essencialmente no campo educacional.
Com isso, apresenta-se o despreparo e desinteresses específicos políticos para
produção de plataformas on-line de qualidade para o ensino remoto. Nesse aspecto, a
educação acaba reproduzindo a desigualdade e não oferece alternativas para uma saída.
Com a realização de uma metodologia com base em entrevistas não estruturadas feitas
com professores, utilizando o recurso do google forms, almejo dar voz aos docentes
compreendendo os seus conflitos na sua prática docente. Essas pesquisas foram realizadas
com a colaboração de professores da rede pública de escolas municipais e estaduais da área de
Porto Alegre e Canoas no mês de agosto de 2022.
A monografia está estruturada da seguinte forma. No capítulo 2 discorre-se sobre o
quadro teórico que conduziu a pesquisa pensando nos estudos sobre inclusão digital e
letramento digital na educação.
No capítulo 3 têm-se o fio condutor na reflexão da pesquisadora com a fundamentação
teórica utilizada através dos conceitos de desigualdades escolares e digitais.
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2. ENSINO Á DISTÂNCIA
O ensino a distância (EAD) não é uma atividade nova, esse tipo de forma de ensino já
existia antes da pandemia. No entanto, sua existência de forma mais estruturada estava
presente em alguns cursos e faculdades em que propiciavam o ensino a distância de forma
integral. No entanto, em Escolas de ensino básico, tanto particulares como públicas, foi um
caminho extremamente novo e desafiador. Com a crise sanitária essa foi a solução do governo
de forma emergencial para que a educação das crianças e adolescentes prosseguisse. Mas, nos
deparamos ou melhor nos foi escancarado uma desigualdade, entre tantas outras que abarca a
escola pública no Brasil, a desigualdade digital.
Isso difere-se de educação remota que muitas vezes até é usado como sinônimo ao
EAD. “A educação remota, diferentemente da educação a distância (EAD), é caracterizada
pela disponibilização de videoaulas gravadas, aulas online e compartilhamento de materiais
digitais em plataformas online (ARRUDA apud ALMEIDA; ALVES, 2020)”. “Enquanto a
EAD deve ser entendida como uma modalidade de ensino que pressupõe uma reestruturação
dos currículos, dos materiais didáticos e do processo de avaliação como um todo”
(ALMEIDA; ALVES, 2020)
Segundo essas autoras o letramento digital é muito mais do que saber manusear uma
ferramenta digital como um computador ou celular, mas sim, é se apropriar- se desse recurso
para interação efetiva com o conhecimento. Esse é o espaço legítimo da inclusão digital, onde
“...o indivíduo exerça um papel ativo e interativo na sociedade do conhecimento, através do
uso das TIC’S em suas atividades, sejam elas profissionais, cotidianas, educacionais, culturais
etc.” (GLÓTZ E ARAÚJO, 2009).
Podemos pensar que estar inserido no espaço digital, em um ciberespaço, ou seja, “o
novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. [...] junto
com “o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999) e à medida que cresce esse ciberespaço
desenvolve-se a cibercultura, “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
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atitudes, de modos de pensamento e de valores[...] (LÉVY, 1999) nesse novo lugar, significa
estar inserido em um novo espaço social.
O sociólogo Manuel Castells defende a teoria de uma cultura da virtualidade real em
que o mundo passará a ser híbrido entre duas realidades: a carnal e a virtual.
Estudos mostram que o contato direto entre as pessoas não desaparece com a
internet, pelo contrário, é estimulado. As duas formas de sociabilidade são
cumulativas. E que um uso mais intenso da internet tem efeitos positivos na
satisfação das pessoas, porque a internet favorece dois fatores fundamentais que
causam essa satisfação: a densidade das relações sociais e o empoderamento pessoal.
(CASTELLS, 2020).
Foi realizada uma pesquisa com oito professores (5 do sexo feminino e 3 do sexo
masculino) de três escolas de Canoas e uma de Porto Alegre da rede pública. Esses
professores estão na faixa dos 39 aos 55 anos de idade, a maioria leciona tanto no Ensino
fundamental como no médio, nas mais variadas disciplinas como português, espanhol,
literatura, filosofia, religião, educação física, sociologia e geografia. Quase a totalidade dos
entrevistados lecionam em mais de uma disciplina, a da sua formação acadêmica e outras
diferentes. Dois deles lecionam também em mais de uma escola.
A maioria tinha entre oito anos de profissão, um tinha quatro anos e outra vinte sete
anos. Houve uma variedade no perfil dos entrevistados, com intuito de abranger um retrato
significativo para o trabalho. As entrevistas foram feitas de forma online, através de um
questionário com o recurso do google forms, enviando um link para os professores.
O contato com eles também foi realizado de forma online por mensagens pelo
aplicativo whatsapp. Mesmo de forma online, a receptividade dos professores em responder a
entrevista foi muito positiva, o acesso foi realizado através de indicações. O que se tornou
evidente nas falas dos entrevistados, independente da escola, qual série lecionam, qual
disciplina, quanto tempo de profissão, foi o grande pessimismo, cansaço e desesperança na
educação.
Diante disso, verificou-se nas entrevistas que antes da pandemia quase não havia
estrutura tecnológica: “Tínhamos somente o laboratório de informática e internet que não era
liberada para professores da escola.” (professor B), o restante dos entrevistados disse que não
tinha estrutura tecnológica em suas escolas. Quanto a existência de internet na escola todos
mencionaram que existia de maneira precária como no relato: “Tinha internet, mas não era
aberta aos alunos.” (professora A).
A escola pública não disponibilizava o recurso digital para seus alunos, o qual poderia
protagonizar a sua busca pelo conhecimento. Pensando que a escola muitas vezes é o lugar
que o aluno carente pode buscar o refúgio para coisas ainda mais básicas, como alimentação,
segundo o relato de um dos professores:
A organização de ter o compromisso escolar em suas residências, alguns não
possuíam internet em suas casas, outros não possuíam equipamentos de celulares
adequados, desemprego dos responsáveis, morte de familiares, sentimentos
negativos diversos, necessidades de alimentação. (professora C).
De acordo com os dados coletados pela pesquisa Abismo Digital, promovida pela
consultoria PWC, em parceria com o Instituto Locomotiva, 21% dos alunos matriculados nas
redes municipais e estaduais de educação básica estão em escolas sem acesso à banda larga,
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tecnologia essencial para o ensino virtual. Apenas 8% dos internautas plenamente conectados
pertencem às classes D e E, enquanto entre os desconectados eles são 60%. Na crise sanitária,
a falta de tecnologia na escola e em casa prejudicou mais os alunos da rede pública e baixa
renda. Conforme a tabela abaixo:
Na figura 2 abaixo, mostra alguns dados mais recentes sobre as diferenças de uso de
TICs e internet conforme a classe social. Eles confirmam as desigualdades de acesso digital
das classes mais vulneráveis, principalmente no que tange aos TICs como computador de
mesa, tablets e notebook, equipamentos mais adequados para trabalho e estudo. Na classe C
menos de 30% dos usuários possuem esses equipamentos e quanto as classes D e E é ainda
menor, menos de 10%. Na figura 3, identifica-se que o celular é a ferramenta mais utilizada
pelos alunos para acessar a internet.
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Figura 2 – Domicílios que possuem equipamentos TIC por classe social, ano 2021
Figura 3 – Alunos de escolas urbanas públicas por dispositivos utilizados para acessar a
internet. Ano 2019
Aprofundando mais os dados, quanto aos TIC presentes nas Escolas da rede pública,
tendo somente o recorte das Escolas urbanas, conforme a figura 4, pode-se verificar que em
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2019, antes da pandemia, somente 0,4% das escolas possuíam até dois alunos por computador
para uso pedagógico. Esse fato demonstra como o computador e outros dispositivos não eram
pensados como ferramenta de estudo para os alunos de Escola pública.
Figura 4 – Escolas Urbanas públicas por número de alunos por computador. Ano 2019
O aluno da escola pública de educação básica não possui recursos para acompanhar
o ensino e ter uma educação de qualidade. Também, tanto o aluno da escola pública
quanto o da escola privada no ensino fundamental, apresentam dificuldades no
aprendizado no que tange às aulas para explicações de conteúdo. Já no ensino
médio, tal dificuldades são apresentadas em algumas disciplinas como, por exemplo,
matemática. (Professora C)
Ainda não...faltam muito para que possa ser 100% online...Os alunos não têm
internet, celular e computador. E o principal compromisso em estudar. (Professora
A)
Com o advento da pandemia o ensino 100% online e posteriormente híbrido até que
voltassem as aulas presenciais foi um desafio para toda estrutura escolar não só para os
alunos, mas principalmente para os professores, que se encontraram em uma situação
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A escola tem à disposição dos alunos netbooks e internet para usar durante as aulas.
As aulas online são usadas pelos professores e alunos. (rofessor A)
Foi disponibilizado para os alunos a internet da escola, otimizamos nossas aulas com
o uso da tecnologia. Eu apoio e utilizo o aparelho celular como recursos para as
minhas aulas. (Professor C)
Acredito que sim, na aprendizagem de novas formas de dar aula, mas a estrutura da
escola ainda não está adequada para tais mudanças, na maioria das escolas não tem
internet nem computadores para todos. Deixo usar o celular do próprio aluno em
aula para aprendizagem. (Professor E)
na educação para uma efetiva inclusão digital para alunos e professores, mesmo com a crise
sanitária, ainda está longe de acontecer. De acordo com os professores necessita de:
O acesso completo para alunos e professores, Internet para todos, além de celulares e
Chromebook para usarem em casa. (Professor A)
Sinceramente, não acredito que possa ter interesse, por parte dos gestores públicos,
que os alunos tenham acesso aos recursos digitais para uma melhoria na educação,
são pouquíssimas as escolas que possuem os equipamentos necessários para atender
a demanda dos educandos; se faz necessário uma mudança urgente na mentalidade
de quem elabora o sistema educacional. (Professor C)
Com base nesses relatos, parece que vivemos um eterno “déjà vu” na educação
básica do país no que tange sua precariedade, onde encontramos muitas carências desde
infraestrutura de edificação até a aprendizagem, com o advento da era digital essas carências
só aumentaram. Nesse sentido, a que propósito, e qual agenda cumpre a escola pública? Se
com tantas faltas parece que fortalece o status quo das realidades dos jovens que a
frequentam? E muitas nem mais a frequentam, abandonando-as, pois não veem no ensino uma
garantia para o ingresso no mundo do trabalho, ou na continuação dos seus estudos para o
ensino superior.
Segundo o autor, o estudante tendo acesso à internet na sala de aula, em que muitas
escolas adotaram a proibição do uso do celular, com a justificativa de distração do aluno, o
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professor será desafiado com as informações que o aluno traz de outras fontes e assim, a
aprendizagem será muito mais rica pela interação, produzindo conhecimento através da
interação. No entanto, isso “significaria romper as relações verticais de poder da escola. E isso
os professores não querem, a sociedade não quer, ninguém quer” (CASTELL, 2014).
Dialogando com os conflitos existentes no uso das tecnologias no que diz respeito a
educação na rede pública de ensino, no que tange a desigualdade digital alinhada com outras
desigualdades já existentes. Como mostra um dos boletins da ANPOCS escrito pelo professor
universitário Alexandre Virgínio:
…...a atual crise acirra os efeitos da desigualdade social e o crescente
distanciamento entre os níveis de escolarização e aprendizagem envolvendo os
grupos mais aquinhoados e os outros, os mais pobres. No curso das ações, pelo
menos nesta etapa da crise, as alternativas para o ensino privado remetem para uma
reestruturação dos processos de mediação envolvendo alunos, famílias e docentes
nos AVA.
No outro extremo estão as famílias e os alunos das redes públicas de ensino. De
modo geral, nestes grupos os pais possuem baixa escolaridade e capital cultural e,
mesmo que atendidas as condições para aulas por EAD, dificilmente poderiam
compensar a ausência da escola na vida de sua prole. Com efeito, as demandas
específicas da Educação Básica, associadas à carência de infraestrutura geral na vida
da população das periferias, torna urgente que o Estado tenha um planejamento que
atente para os diferentes contextos em que a mesma ocorre. (VÍRGÍNIO, 2020).
Entende-se por inclusão digital não só o acesso à tecnologia, mas também a qualidade
desta, a alfabetização digital por alunos e professores, equipamentos adequados para seu uso,
isto é, sua democratização como um todo. A inclusão digital na educação vai além do acesso
as plataformas de aprendizagem, ela é a própria democratização do conhecimento, do acesso à
informação, do conhecimento universal, como diz o professor universitário José Vicente
Tavares na entrevista feita no canal do Yootube sobre inclusão digital e o papel da
universidade, é ter acesso a uma biblioteca mundial, através do uso democrático da internet.
Assim, com a necessidade de se ter uma educação 100% online, observou-se, ou
melhor se evidenciou a grande desigualdade, a qual já existia, no acesso das tecnologias
proporcionada pelas escolas, principalmente nas escolas públicas. Essas desigualdades no
acesso as tecnologias de informação e comunicação é consequência do não enfrentamento de
desigualdades anteriores.
Poderíamos dizer que novos desenvolvimentos e configurações da sociedade como o
uso das tecnologias nas práticas da vida, vão não só agravar aquelas desigualdades anteriores,
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Aumentou porque a maioria dos estudantes pobres e de escola pública não tiveram
as mesmas condições de acesso ao estudo que alunos de escolas particulares.
(Professor E)
Para pensarmos nas desigualdades educacionais das escolas públicas que precedem a
quarentena e se agravaram com ela, contexto atual que desmascarou uma desigualdade que
não era vista, ou melhor era ignorada na educação, a desigualdade digital trago as reflexões de
Bourdieu, em que o autor denuncia a função da escola, pois ela fortalece e legitima tais
desigualdades educacionais entre as classes sociais. Segundo o autor:
Ou seja, o autor faz uma “análise mais crítica do currículo, dos métodos pedagógicos e
da avaliação escolar, pois os conteúdos curriculares seriam selecionados em função dos
conhecimentos, dos valores, e dos interesses das classes dominantes.” (FERREIRA, 2013)
Nesse sentido, “a percepção bourdiesiana de que a educação escolar, no caso das crianças
oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação
familiar, enquanto, para as outras crianças, significaria algo estranho, distante ou mesmo
ameaçador.” (FERREIRA, 2013).
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Os conteúdos trabalhados nas escolas não fazem parte da vida social das crianças mais
vulneráveis, de sua herança cultural, do seu meio familiar. Os códigos escolares não são
compreendidos e isso contribui para o fracasso e a evasão escolar. A escola torna-se sem
sentido para esses alunos, enquanto o professor os vê com certa descrença de suas
capacidades intelectuais. E a expectativa do professor perante o aluno é pessimista, em que a
exceção do fracasso escolar, tornou-se a regra.
Na verdade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas,
um certo capital cultural e um certo etos, sistema de valores implícitos e
profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as
atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que difere,
sob dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial
das crianças da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito
(BOURDIEU, 1998, p. 42)
O autor mostra que o capital cultural que o aluno traz consigo de sua herança familiar
e que é construído com auxílios de outros capitais como o social (relações que possuem
familiaridade com o sistema escolar) e econômico auxiliam no seu êxito escolar. Assim, uma
criança que não possui tais capitais próximo ao ensino escolar, e normas familiares muito
distintas das normas valorizadas na escola são excluídos desse sistema. E a justificativa é que
não querem e não gostam de estudar, a culpa de seu fracasso é colada unicamente em sua
capacidade individual, voltando a justificativas meritocráticas.
Outro ponto colocado pela autora Freitas no livro da Ralé Brasileira de Jessé Souza, é
a questão de como a importância do estudo considerado pelo aluno, tem a ver com dois
fatores: sua estrutura familiar organizada, no que tange sua seguridade emocional assegurada
por sua família e o quanto sua família fortalece a autoestima do seu filho quando ele se realiza
nos estudos.
Esses fatores dão a base para um caminho escolar de sucesso, pois o restante do
caminho quem irá propiciar é a escola, esse aluno está em um cenário benéfico familiar. E que
mesmo lhe faltando o capital cultural, social e econômico de sua família, ele entende que a
educação é um caminho que fortalece sua autoestima perante sua família e pode lhe
proporcionar uma ascensão social melhor que dos seus pais, sua valorização e reconhecimento
perante a sociedade. Mas não é bem assim:
Continuando com a lógica de uma educação alheia à vida das pessoas que a
frequentam, tanto no sentido de não ser informatizada, indo na contramão de uma sociedade
cada vez mais digital, quanto aos conteúdos que não conversam com as dinâmicas das
realidades dos alunos. Será que ainda carregamos a herança de uma escola colonial, em que a
educação é para alguns privilegiados e que o ensino não irá modificar estruturalmente a vida
social e econômica dos indivíduos?
No entanto, continuamos em uma má fé do macro poder, pois o real motivo não será
para uma educação de qualidade para todos, uma educação libertária, pois a “ralé”
permanecerá em seu extrato social.
19/03/20, todos professores e alunos que tivemos que aprender a ter aulas online. Os
alunos que não tinham internet buscavam atividades impressas na escola e os demais
iam se adaptando a usar o meet e o Classroom. (Professor A)
A escola foi fechada, não recordo bem o dia e mês. Começamos a elaborar
estratégias para aulas online, enquanto isso nos foi oferecida uma plataforma em que
postávamos as atividades e recebíamos as respostas por lá. Quando chegou 2020,
começamos as aulas online, mas necessitava de ajustes; entramos em férias no mês
de maio para que as adaptações pudessem ser aplicadas ao novo sistema. Quando
retornamos em junho, as aulas online já eram obrigatórias, muitos alunos desistiram
ou não davam o retorno das atividades. (Professor C)
Quando se instaurou o sistema híbrido, com a volta aos poucos das aulas presencias a
atividade de trabalho dos professores era ainda mais intensa, pois tinham que produzir
materiais impressos, atender nas plataformas online para os alunos afastados, e ainda dar aulas
presenciais para os alunos que compareciam as aulas no sistema de rodízio, isto é, para que
não existisse aglomeração de pessoas em meio a pandemia. Os alunos eram separados por
grupos, cada dia da semana, um grupo comparecia na escola.
A escola inicialmente organizou horários para aulas online e presencial, foi tão
trabalhoso que a grande maioria dos colegas da escola decidiu fazer as aulas online
na própria escola devido ser improvável o deslocamento entre escola e residência em
determinado tempo de intervalo entre as aulas presenciais e online. (Professor B)
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Foi bem confuso no início porque tínhamos que dar a mesma aula duas vezes uma
na escola e uma online em outro dia e horário, trabalhar em dobro (Professor C)
Trabalhávamos sem horários previstos, atendíamos pais e alunos durante dia e noite,
tentamos estipular datas para entregas das atividades, mas tínhamos que receber o
retorno dos alunos meses depois das datas estipuladas, era muito trabalho para que
todos fossem atendidos com a devida atenção. (Professor C)
Sim, muita e o pior era ouvir as pessoas dizendo que os professores eram
vagabundos que não queriam trabalhar (Professor D)
ainda na pandemia “as escolas contam com poucos recursos para investir em infraestrutura,
material e todo tipo de projetos pedagógicos, culturais e esportivos.” (FREITAS, 2009).
No relato dos entrevistados houve uma evasão muito grande dos alunos durante a crise
sanitária em torno de 40%. “Começamos as turmas com 36 alunos assistindo às aulas e
terminava com 5 online. Muitos desistiram de estudar e retornaram agora, no presencial.”
(Professor A). “Teve uma busca ativa na volta” (Professor B). Além disso, no retorno as
aulas, observou-se uma defasagem muito grande na aprendizagem dos alunos de escola
pública, foram dois anos de defasagem devido ao ensino online e posteriormente híbrido,
perdendo-se muito na construção do conhecimento desses alunos, principalmente nas séries
iniciais como a 5ª série.
Os alunos não conseguem mais permanecer dentro da sala de aula por muito tempo,
mesmo tendo mais de 15 anos de idade. Não querem estudar e a família vem até a
escola pedir ajuda para fazer o filho se interessar pelos estudos... (Professora A)
O retorno ocorreu no segundo semestre do ano de 2021 com a gradual presença dos
alunos, vários não retornaram por não estarem vacinados ou por precisar estar
trabalhando para manter o sustendo de suas famílias. Ainda foi aceito o retorno das
avaliações pelo sistema online. (Professora C)
A principal dificuldade foi o próprio retorno destes alunos, foi utilizado um sistema
de busca ativa, em que a escola buscou todo tipo de contato com a família deste
aluno. Hoje encontramos alunos nas salas de aula, porém muitos têm dificuldades de
aprendizado ou com algum problema de comunicação ou interação com os colegas e
professores, sintomas de ansiedade e depressão tornou-se comum no ambiente
escolar. (Professor C)
jovens que tem uma vida pela frente torna-se extremamente perigoso. Os sentimentos de
ansiedade, depressão, irritabilidade e indisciplina são fatores desse episódio pandêmico, visto
na volta as aulas presenciais.
Através dos dados qualitativos e quantitativos dessa pesquisa foi apresentado que há
uma relação da inclusão digital associado ao capital cultural e financeiro dos seus usuários de
acordo com a classe que pertence. Mas percebe-se que se conseguirmos ultrapassar a “má-fé
institucional” da escola no aspecto do macro poder, através de políticas públicas no que tange
aos investimentos necessários para uma real inclusão digital educacional, o capital cultural e
financeiro dos alunos de baixa renda não terá tanto peso frente a uma escola inclusiva em
todos os sentidos, não só digital.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
conhecimento escolar de forma a interagir, refletir e construir o saber. E por último, pensar em
uma educação à distância, ou seja, em currículos e pedagogias diferenciadas na adequação
desse novo espaço social educacional. Ou seja, é pensar além de uma educação remota, no
qual a pedagogia educacional continua a mesma do presencial, onde alunos e professores
estão apenas em espaço físicos diferentes. Não tem como pensarmos na mesma lógica do
presencial.
A inclusão digital nas escolas, é muito urgente, pois o papel da escola além de
fornecer aprendizagens e proporcionar socialização, esse duplo papel não condiz com uma
escola analógica frente a uma sociedade cada vez mais digital. Assim, estar inserido nesse
ciberespaço e cibercultura deve ser visto como um direito social. Pois a inserção das
tecnologias digitais está em todos os espaços e relações sociais da sociedade. Estar excluído
digitalmente é também estar excluído da vida social, é estar limitado.
Com isso, a inclusão digital efetiva nas escolas pode ser um caminho para uma grande
revolução no ensino das escolas públicas no que tange a dois aspectos principais. Na mudança
de uma pedagogia de educação arcaica e obsoleta de transmissão de conhecimento que não se
conecta com a realidade dos alunos, e não ajuda professores e alunos interagirem juntos na
produção do conhecimento de forma mais expressiva e humana.
E outro aspecto é acabar com a má-fé institucional da escola pois através de um
“capital” digital que beneficia alunos e professores em suas questões não só educacionais,
mas como indivíduos protagonistas de acesso ao ciberespaço e cibercultura de maneira
democrática, a escola retoma seu papel de dar subsídios para que o aluno da “ralé” que possui
tantas carências, consiga produzir seu estado de pertencimento à essa instituição Escola e
consequentemente em todos espaços sociais e institucionais da sociedade.
Por conseguinte, é preciso dar condições estruturais para isso, é atacar de forma
sistêmica a desigualdade digital educacional, não só dentro da instituição escolar, a qual não é
isolada da sociedade, mas em todas as instituições que formam a sociedade. Pensar em
políticas públicas de investimento à educação que enfrentem de maneira cadenciada todas as
desigualdades educacionais. Manter certas desigualdades que são “invisíveis” ao
entendimento e atuam de forma “naturalizada” modificam a vida dos indivíduos de maneira
complexa e devastadora.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Beatriz Oliveira; ALVES, Lynn Rosalina Gama. Letramento digital em tempos
de COVID-19: uma análise da educação no contexto atual. Debates em Educação, Maceió,
v. 12, n. 28, p. 1-18, set./dez. 2020
ARAÚJO, Verônica Danieli Lima; GLOTZ, Raquel Elza Oliveira. O Letramento digital
enquanto instrumento de inclusão social e democratização do conhecimento: desafios
atuais. Revista Paidéia, UNIMES VIRTUAL, Volume 2, número 1, jun.2009.
CASTELL, Manuel. A sociedade em rede, 8ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
SCHIRTZMEYERS, Ana Lúcia Pastore. Não soltei (virtualmente) muitas mãos, mas
várias outras me escaparam. Boletim Cientista Social N.80, ANPOCs, 2020.
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https://estadodaarte.estadao.com.br/educacao-distanciamento-durante-depois/ , acesso em 25
jul
https://www.portalsmo.com.br/1/noticias/29/geral/91741/pandemia-evidencia-necessidade-de-
inclusao-digital-para-os-alunos-mais-pobres , acesso em 25 ago
https://www.youtube.com/watch?v=eb0cNrE3I5g&ab_channel=FronteirasdoPensamento.
Manuel Castells- A obsolescência da educação, em acesso em 15 ago
https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/issue/view/326
https://data.cetic.br/explore/Selecione%20uma%20unidade%20de%20an%C3%A1lise?pesqui
sa_id=1, acesso em 25 ago
https://exame.com/esg/abismo-digital-so-20-dos-brasileiros-tem-internet-de-qualidade/,
acesso em 27 ago
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ANEXOS
Essa pesquisa está sendo realizada para contribuir, na forma de investigação empírica
para o Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Ciências Sociais pela UFRGS
sobre o tema do processo de inclusão digital no ensino básico da rede pública no contexto da
Pandemia do Covid-19 e “pós- pandemia”. Desde já agradeço a sua participação! As
perguntas serão realizadas de maneira aberta para que possa expressar suas experiências
individuais como profissional da educação. Pode expressar-se de maneira bem livre e sincera,
sua identidade será preservada.
18- Existiu alguma reunião com esses órgãos e eles deram suporte nessas plataformas
online e treinamento para os professores? Conte um pouco.
19- A escola antes da pandemia utilizava alguma ferramenta online para o ensino? Se
sim, a verba para esse investimento foi oriunda de onde?
20- Antes da pandemia, a escola tinha internet? Se sim, qual a velocidade da internet? Os
alunos podiam utilizar?
21- Em sua Escola os alunos podiam levar os livros didáticos para a casa, antes da
pandemia? Se não, por quê? E durante a pandemia?
22- Existiu alguma reunião com os pais, professores, diretoria e alunos? Que logística foi
realizada para informação nesse contexto de pandemia?
23- Como os professores se organizaram para realizar seus planejamentos para um ensino a
distância?
24- Como foi para você a mudança de um ensino presencial para um 100% online? Como
foi seu planejamento de aulas, que ferramentas utilizou (textos, vídeos, áudios)? Quais
foram as principais dificuldades e desafios?
25- Quais ferramentas onlines de ensino foram adotadas pela Escola (aplicativo,
plataformas, sites etc.)?
26- Você adotou outras ferramentas online para entrar em contato com alunos? Como foi
esse contato? Os alunos interagiam?
27- Os alunos tiveram dificuldades em utilizar essas ferramentas online?
28- Na sua vivência com alunos de forma online, eles conseguiram aprender?
29- Como foi os processos avaliativos?
30- A evasão escolar durante a pandemia aumentou? Em qual porcentagem?
31- Teve reprovações? Todos avançaram?
32- Quais as principais demandas, dificuldades dos alunos nesse contexto de ensino e em
suas vidas de maneira geral?
33- Quando se instaurou o ensino híbrido (online e presencial)? Conte um pouco do
planejamento da escola e do seu planejamento de ensino nesse sistema híbrido.
34- Como ficou sua carga de trabalho durante os anos 2020 e 2021? Você teve sobrecarga
de trabalho?
35- Como ficou sua saúde física e psicológica?
36- Na sua opinião você acredita que é possível o ensino 100% online para alunos da
educação básica? Por quê?
36
37- Na sua opinião você acredita que é possível um ensino híbrido para alunos da educação
básica? Por quê?
38- Conte como foi o retorno para o ensino 100% presencial na escola no “pós-pandemia”.
Quando ocorreu? Que mudanças tiveram em relação ao ensino presencial antes da
pandemia?
39- No ensino e aprendizado nesse retorno, quais os desafios, dificuldades existentes?
40- Houve alguma melhoria em termos tecnológicos para escola e o ensino? Quais?
41- O que permaneceu do ensino a distância nesse novo contexto presencial?
42- Você acha que aumentou ou diminui as desigualdades no ensino durante e pós a
pandemia? Por quê?
43- Que políticas públicas de acordo com sua experiência deveriam existir para que que a
inclusão digital de qualidade no ensino fosse realizada de maneira a contribuir para
alunos e professores?
44- Espaço aberto para comentários que julgar relevante para essa pesquisa. (opcional).
Obrigada por sua participação nesse estudo científico na área da educação escolar. A
função das Ciências Sociais como ciência é compreender e refletir sobre os fenômenos
sociais, aprofundando e desenvolvendo os conhecimentos sobre suas causas e consequências.
Esses conhecimentos são adquiridos com base em dados quali e quantitativos para que se
possa atuar na construção e transformação desta sociedade.