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INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Curso de Licenciatura em Ciências Sociais

EDUCAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL EM TEMPOS DE


PANDEMIA

BÁRBARA OLIVEIRA JAQUES

Porto Alegre, outubro de 2022.


BÁRBARA OLIVEIRA JAQUES

EDUCAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Trabalho de conclusão de Curso


apresentado á Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial
para obtenção do título de Licenciada em
Ciências Sociais.

Orientadora: Professora Doutora Rosimeri


Aquino da Silva.

Porto Alegre, outubro de 2022.


Dedico este trabalho aos meus pais que sempre acreditaram que uma boa educação pode
modificar totalmente uma história de vida.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe Dulce Inês pelo amor, companheirismo, dedicação e incentivo
na jornada da educação.

Agradeço a meu pai Ezane Luís pela compreensão dos momentos de minha ausência,
pela sua palavra amiga e descontraída.

Agradeço aos dois pela base familiar e pelo ensino de qualidade, pela motivação e por
sempre acreditarem na minha capacidade, nos momentos mais críticos quando eu já não
acreditava.

Agradeço ao meu irmão Gabryel pela colaboração, paciência e por sua alegria da
juventude que faz tudo ficar divertido.

Agradeço aos colegas da UFRGS que contribuíram na minha trajetória acadêmica,


foram professores para mim.

Agradeço aos professores da UFRGS que me incentivaram a iniciar este estudo.

Agradeço à minha chefe Aline Dias pelo grande apoio.

Agradeço aos profissionais entrevistados, pela concessão de informações valiosas para a


realização deste estudo.
Agradeço a minha orientadora Professora Doutora Rosimeri de Aquino, por ter aceitado
me orientar, por sua paciência e generosidade em dividir seus conhecimentos valiosos
comigo.
Agradeço a todos que participaram desta construção e contribuíram para a realização
deste trabalho.
“Se a educação sozinha

não transforma a sociedade,

sem ela

tão pouco a sociedade muda” (Paulo Freire)


RESUMO

O presente estudo trata de uma pesquisa sociológica sobre a inclusão digital nas escolas da
rede pública no contexto da pandemia do covid-19. Este estudo buscou compreender as
desigualdades educacionais existentes, em que a escola se coloca como uma instituição que
reproduz tais desigualdades, evidenciado na exclusão digital exposta no ensino público. Este
trabalho tenta identificar os principais desafios enfrentados e ainda por enfrentar na efetiva
inclusão digital no meio educacional. Através de uma análise qualitativa sobre os relatos de
vivências dos professores da rede pública, mostra-se presente uma agenda urgente que pense
em uma escola menos analógica que consiga inserir seus alunos em uma sociedade em que o
digital é o novo normal.

Palavras-chave: Desigualdade escolar. Educação. Inclusão digital. Letramento digital.


ABSTRACT

The present study is a sociological research about digital inclusion in the public schools in the
context of the covid-19 pandemic. This study sought to understand the educacional
inequalities, where the school is placed as an institution that reproduces such inequalities,
evidenced in the digital exclusion seen in the public education. This work tries to identify the
main challenges faced and still to be faced in the effective digital inclusion in the educational
enviroment. Through a qualitative analysis of the reports of public school teachers about their
experiences, it’s presented an urgent agenda that thinks of a less analogical school that can
insert its students into a society where digital is the new normal.

Keywords: School inequality. Education. Digital inclusion. Digital literacy.


LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

Figura 1 – Indice de Privação on-line e os perfis dos usuários. Ano 2021. ............................ 17

Figura 2 – Domicílios que possuem equipamentos TIC por classe social, ano 2021 .............. 18

Figura 3 – Alunos de escolas urbanas públicas por dispositivos utilizados para acessar a
internet. Ano 2019........................................................................................................ 18

Figura 4 – Escolas Urbanas públicas por número de alunos por computador. Ano 2019 ....... 19
LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

ANPOCS- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

EAD- Ensino à distância

TIC – Tecnologia da Informação

OMS- Organização Mundial da Saúde

UFRGS- Universidade federal do Rio grande do Sul


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11

2. ENSINO Á DISTÂNCIA ............................................................................................... 13

3. DESIGUALDADES DIGITAIS NO ENSINO BÁSICO PÚBLICO ............................... 22

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 30

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 32


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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho traz um ensaio reflexivo sobre a temática da inclusão digital na


perspectiva da educação no contexto da pandemia do covid-19. Um tema pertinente na atual
conjuntura mundial relacionado com a crise sanitária, tendo como consequências o grande
aumento do uso das tecnologias da informação como a utilização de aplicativos e plataformas
da internet para realizar atividades simples do dia- a dia, as quais já eram utilizadas pré
pandemia, mas que se intensificaram com as restrições e o isolamento social.

Atividades como fazer compras de todo o tipo, inclusive de alimentos, transações


bancárias como pagar contas, além de algumas atividades profissionais migrando para o
teletrabalho, ou melhor, home-office, entre outros. Com isso, a educação não poderia ser
diferente.

Cursos de todo tipo já existiam de forma online, gravados ou ao vivo, principalmente


com o uso de ferramentas da internet como o Yootube. Na educação formal alguns cursos de
graduação e pós-graduação também ingressaram na modalidade ensino a distância. Algumas
instituições de ensino: universidades públicas e particulares e escolas particulares utilizavam
plataformas online como ferramenta de suporte de aulas presenciais, como exemplo, o
moodle.
Ou seja, a vida online já fazia parte do mundo antes da pandemia. No entanto o foco
principal desta monografia não é entrar nos prós e contras de uma educação a distância. Mas
sim, entender a exclusão digital nos meios de ensino da escola básica, sobretudo o da rede
pública como uma grande barreira à educação.
Para se atingir este objetivo a metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica
sobre o tema inclusão digital e educação em tempos de pandemia, nos Boletins do Cientista
Social no site da ANPOCS e reportagens, além de entrevistas on-line.
Utilizei também uma pesquisa qualitativa com professores da rede pública para
compreender a dinâmica da implementação do ensino online, nesse contexto. Através de uma
análise empírica sobre os relatos de vivências desses professores, tenho o intuito de observar a
inclusão digital no contexto pandêmico e quais mudanças ocorreram com a volta das aulas
presenciais.
Para fazer uma reflexão sobre as desigualdades escolares e com a deflagrada da
pandemia a transparência de outra desigualdade não vista, como a desigualdade digital trago
12

os autores Castell e Lévy que dialogam sobre as novas configurações das relações, em que o
mundo está cada vez mais híbrido entre o on-line o off-line. E como a educação está obsoleta
nesse processo. Pois, a exclusão digital educacional está associada à outras exclusões
existentes como a falta de capital cultural, social e financeiro das classes mais vulneráveis nas
reflexões de Bourdieu, combinado com uma “instituição do fracasso”, a escola, desenvolvido
por Freitas.
Trabalho com as hipóteses inicialmente de que há uma relação íntima da inclusão
digital associado ao capital cultural e financeiro dos seus usuários, substancialmente quando
se fala de jovens em estado de vulnerabilidade social. E a desigualdade de renda ou riqueza,
intensificada pela crise pandêmica está ligada com a desigualdade de acesso ao mundo digital,
essencialmente no campo educacional.
Com isso, apresenta-se o despreparo e desinteresses específicos políticos para
produção de plataformas on-line de qualidade para o ensino remoto. Nesse aspecto, a
educação acaba reproduzindo a desigualdade e não oferece alternativas para uma saída.
Com a realização de uma metodologia com base em entrevistas não estruturadas feitas
com professores, utilizando o recurso do google forms, almejo dar voz aos docentes
compreendendo os seus conflitos na sua prática docente. Essas pesquisas foram realizadas
com a colaboração de professores da rede pública de escolas municipais e estaduais da área de
Porto Alegre e Canoas no mês de agosto de 2022.
A monografia está estruturada da seguinte forma. No capítulo 2 discorre-se sobre o
quadro teórico que conduziu a pesquisa pensando nos estudos sobre inclusão digital e
letramento digital na educação.
No capítulo 3 têm-se o fio condutor na reflexão da pesquisadora com a fundamentação
teórica utilizada através dos conceitos de desigualdades escolares e digitais.
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2. ENSINO Á DISTÂNCIA

Em março de 2020, é declarado no Brasil, a pandemia do covid-19, uma crise sanitária


que se alastrou pelo mundo todo. Devido ao seu contágio letal, os governos e a Organização
Mundial da Saúde (OMS) tiveram que tomar medidas, até a existência de uma vacina, de
restrições e isolamento social. As configurações de organização da sociedade foram
drasticamente modificadas devido ao isolamento.

Outras crises foram intensificadas e desencadeadas, segundo um dominó como a fome


e o desemprego. Estabelecimentos comerciais, lojas, empresas, órgãos públicos,
Universidades e Escolas foram fechados. Nesse contexto, tudo freio e parou, mas algo
acelerou: as tecnologias da informação (TICs). Essas ferramentas já eram utilizadas antes da
pandemia, mas se tornaram essenciais, como uma necessidade emergencial para que a vida
continuasse e se reconfigurasse em meio a pandemia. As relações virtuais se intensificaram
para que se desse continuidade nas relações sociais, como o ensino nas Escolas. O ensino
deveria ser realizado agora de forma remota.

O ensino a distância (EAD) não é uma atividade nova, esse tipo de forma de ensino já
existia antes da pandemia. No entanto, sua existência de forma mais estruturada estava
presente em alguns cursos e faculdades em que propiciavam o ensino a distância de forma
integral. No entanto, em Escolas de ensino básico, tanto particulares como públicas, foi um
caminho extremamente novo e desafiador. Com a crise sanitária essa foi a solução do governo
de forma emergencial para que a educação das crianças e adolescentes prosseguisse. Mas, nos
deparamos ou melhor nos foi escancarado uma desigualdade, entre tantas outras que abarca a
escola pública no Brasil, a desigualdade digital.

Mas antes de entrar no tema da desigualdade digital, é importante conceituar o que é


um ensino à distância e mais do que isso o que é letramento digital. Ensino a distância é a
modalidade educacional na qual alunos e professores estão separados, física ou
temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação
e comunicação. (PORTAL EDUCAÇÃO). “Por EAD entende-se uma modalidade
educacional em que a didática e a mediação pedagógica ocorrem por meio da tecnologia de
informação e comunicação, tendo como características a utilização de plataformas on-line e
recursos virtuais.” (SARDI E DE CARVALHO, 2022).
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Isso difere-se de educação remota que muitas vezes até é usado como sinônimo ao
EAD. “A educação remota, diferentemente da educação a distância (EAD), é caracterizada
pela disponibilização de videoaulas gravadas, aulas online e compartilhamento de materiais
digitais em plataformas online (ARRUDA apud ALMEIDA; ALVES, 2020)”. “Enquanto a
EAD deve ser entendida como uma modalidade de ensino que pressupõe uma reestruturação
dos currículos, dos materiais didáticos e do processo de avaliação como um todo”
(ALMEIDA; ALVES, 2020)

Nesse sentindo, o ensino remoto, tornou-se uma espécie de e-learning, onde os


professores prestam tutoria eletrônica, disponibilizam material online e interagem
com seus alunos de forma síncrona: quando a comunicação ocorre de maneira
simultânea, através de aulas ao vivo e chats de comunicação; e de maneira
assíncrona: quando a comunicação acontece em tempos diferentes, através de aulas
gravadas e fóruns para esclarecer as dúvidas. Nessa modalidade de ensino, o
conteúdo programático e a informação, que antes estavam concentrados em espaços
e dispositivos físicos, como nas bibliotecas, nas escolas e nos livros didáticos, hoje
estão disponíveis no ciberespaço. (ALMEIDA; ALVES, pag. 4, 2020)

No entanto, letramento digital é um movimento de intersecção da linguagem digital e


da capacidade de constituir sentidos por meio das tecnologias. Ou Seja,

O letramento digital significa o domínio de técnicas e habilidades para acessar,


interagir, processar e desenvolver multiplicidade de competências na leitura das
mais variadas mídias. Um indivíduo possuidor de letramento digital necessita de
habilidade para construir sentidos a partir de textos que mesclam palavras que se
conectam a outros textos, por meio de hipertextos, links e hiperlinks; elementos
pictóricos e sonoros numa mesma superfície (textos multimodais). Ele precisa
também ter capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informação
disponibilizada eletronicamente e ter familiaridade com as normas que regem a
comunicação com outras pessoas através dos sistemas computacionais.
(AQUINO apud GLOTZ E ARAÚJO, 2009)

Segundo essas autoras o letramento digital é muito mais do que saber manusear uma
ferramenta digital como um computador ou celular, mas sim, é se apropriar- se desse recurso
para interação efetiva com o conhecimento. Esse é o espaço legítimo da inclusão digital, onde
“...o indivíduo exerça um papel ativo e interativo na sociedade do conhecimento, através do
uso das TIC’S em suas atividades, sejam elas profissionais, cotidianas, educacionais, culturais
etc.” (GLÓTZ E ARAÚJO, 2009).
Podemos pensar que estar inserido no espaço digital, em um ciberespaço, ou seja, “o
novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. [...] junto
com “o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999) e à medida que cresce esse ciberespaço
desenvolve-se a cibercultura, “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
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atitudes, de modos de pensamento e de valores[...] (LÉVY, 1999) nesse novo lugar, significa
estar inserido em um novo espaço social.
O sociólogo Manuel Castells defende a teoria de uma cultura da virtualidade real em
que o mundo passará a ser híbrido entre duas realidades: a carnal e a virtual.
Estudos mostram que o contato direto entre as pessoas não desaparece com a
internet, pelo contrário, é estimulado. As duas formas de sociabilidade são
cumulativas. E que um uso mais intenso da internet tem efeitos positivos na
satisfação das pessoas, porque a internet favorece dois fatores fundamentais que
causam essa satisfação: a densidade das relações sociais e o empoderamento pessoal.
(CASTELLS, 2020).

Nesse processo visualizamos que estar conectados digitalmente é estar inseridos em


uma nova configuração de vida, e que estar à margem limita o indivíduo a exercer a sua
própria cidadania de acesso e ascensão social e financeira aos aspectos básicos de uma vida
digna como trabalho, saúde, educação.
Qualquer atividade simples do dia a dia é realizada de forma digital e online, e com o
advento da pandemia acelerou mais ainda essas atividades digitais, além disso, o mundo do
trabalho está cada vez mais competitivo e estar inserido de forma igualitária passa por ser
letrado digitalmente. Ter acesso a internet e ao vasto conhecimento que ela proporciona, é ter
uma terceira via de ascensão em todas as esferas da vida, sem o intermédio apenas da escola,
a qual deveria proporcionar as ferramentas e base para se colocar nesse novo mundo.
No entanto, a pedagogia escolar ainda permanece no mundo analógico. “As escolas
continuam funcionando, exatamente como eram na Idade Média: sem internet, sem
interatividade”. (CASTELLS, 2015). E o professor se coloca em um papel de repassar
conhecimentos, apenas. Como diz Castell, o professor deve ser crítico com seu ofício, de
afirmar o seu poder não apenas como uma utilidade social, mas como uma utilidade
pedagógica.
Mas a pedagogia colocada nas escolas faz parte de uma estrutura de ensino que não
depende apenas do professor. E seria muito cruel colocar o professor como vilão da vida
analógica das escolas. Pois eles também sofrem com a falta de recurso tecnológico e interesse
por parte dos órgãos de educação em propiciar um letramento digital também para os
docentes. Pois como se apropriar e repassar esse novo saber aos alunos, se eles também não
estão inseridos nesse processo? Além é claro, antes de se pensar em um letramento digital
para alunos e professores, deve-se ter primeiramente recursos e infraestrutura tecnológica
mínima para isso.
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Foi realizada uma pesquisa com oito professores (5 do sexo feminino e 3 do sexo
masculino) de três escolas de Canoas e uma de Porto Alegre da rede pública. Esses
professores estão na faixa dos 39 aos 55 anos de idade, a maioria leciona tanto no Ensino
fundamental como no médio, nas mais variadas disciplinas como português, espanhol,
literatura, filosofia, religião, educação física, sociologia e geografia. Quase a totalidade dos
entrevistados lecionam em mais de uma disciplina, a da sua formação acadêmica e outras
diferentes. Dois deles lecionam também em mais de uma escola.
A maioria tinha entre oito anos de profissão, um tinha quatro anos e outra vinte sete
anos. Houve uma variedade no perfil dos entrevistados, com intuito de abranger um retrato
significativo para o trabalho. As entrevistas foram feitas de forma online, através de um
questionário com o recurso do google forms, enviando um link para os professores.
O contato com eles também foi realizado de forma online por mensagens pelo
aplicativo whatsapp. Mesmo de forma online, a receptividade dos professores em responder a
entrevista foi muito positiva, o acesso foi realizado através de indicações. O que se tornou
evidente nas falas dos entrevistados, independente da escola, qual série lecionam, qual
disciplina, quanto tempo de profissão, foi o grande pessimismo, cansaço e desesperança na
educação.
Diante disso, verificou-se nas entrevistas que antes da pandemia quase não havia
estrutura tecnológica: “Tínhamos somente o laboratório de informática e internet que não era
liberada para professores da escola.” (professor B), o restante dos entrevistados disse que não
tinha estrutura tecnológica em suas escolas. Quanto a existência de internet na escola todos
mencionaram que existia de maneira precária como no relato: “Tinha internet, mas não era
aberta aos alunos.” (professora A).
A escola pública não disponibilizava o recurso digital para seus alunos, o qual poderia
protagonizar a sua busca pelo conhecimento. Pensando que a escola muitas vezes é o lugar
que o aluno carente pode buscar o refúgio para coisas ainda mais básicas, como alimentação,
segundo o relato de um dos professores:
A organização de ter o compromisso escolar em suas residências, alguns não
possuíam internet em suas casas, outros não possuíam equipamentos de celulares
adequados, desemprego dos responsáveis, morte de familiares, sentimentos
negativos diversos, necessidades de alimentação. (professora C).

De acordo com os dados coletados pela pesquisa Abismo Digital, promovida pela
consultoria PWC, em parceria com o Instituto Locomotiva, 21% dos alunos matriculados nas
redes municipais e estaduais de educação básica estão em escolas sem acesso à banda larga,
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tecnologia essencial para o ensino virtual. Apenas 8% dos internautas plenamente conectados
pertencem às classes D e E, enquanto entre os desconectados eles são 60%. Na crise sanitária,
a falta de tecnologia na escola e em casa prejudicou mais os alunos da rede pública e baixa
renda. Conforme a tabela abaixo:

Figura 1 – Indice de Privação on-line e os perfis dos usuários. Ano 2021.

Fonte: PwC | O abismo digital no Brasil 2021

Na figura 2 abaixo, mostra alguns dados mais recentes sobre as diferenças de uso de
TICs e internet conforme a classe social. Eles confirmam as desigualdades de acesso digital
das classes mais vulneráveis, principalmente no que tange aos TICs como computador de
mesa, tablets e notebook, equipamentos mais adequados para trabalho e estudo. Na classe C
menos de 30% dos usuários possuem esses equipamentos e quanto as classes D e E é ainda
menor, menos de 10%. Na figura 3, identifica-se que o celular é a ferramenta mais utilizada
pelos alunos para acessar a internet.
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Figura 2 – Domicílios que possuem equipamentos TIC por classe social, ano 2021

Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação


(Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC
Domicílios 2021

Figura 3 – Alunos de escolas urbanas públicas por dispositivos utilizados para acessar a
internet. Ano 2019

Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação


(Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras - TIC
Educação 2019.

Aprofundando mais os dados, quanto aos TIC presentes nas Escolas da rede pública,
tendo somente o recorte das Escolas urbanas, conforme a figura 4, pode-se verificar que em
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2019, antes da pandemia, somente 0,4% das escolas possuíam até dois alunos por computador
para uso pedagógico. Esse fato demonstra como o computador e outros dispositivos não eram
pensados como ferramenta de estudo para os alunos de Escola pública.

Figura 4 – Escolas Urbanas públicas por número de alunos por computador. Ano 2019

Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação


(Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras - TIC
Educação 2019.

Ao ser perguntado para os professores entrevistados sobre sua opinião, se seria


possível o ensino 100% online para alunos da educação básica. A maioria acredita que não, e
a justificativa principal, dentre outras é a infraestrutura efetiva para alunos.

O aluno da escola pública de educação básica não possui recursos para acompanhar
o ensino e ter uma educação de qualidade. Também, tanto o aluno da escola pública
quanto o da escola privada no ensino fundamental, apresentam dificuldades no
aprendizado no que tange às aulas para explicações de conteúdo. Já no ensino
médio, tal dificuldades são apresentadas em algumas disciplinas como, por exemplo,
matemática. (Professora C)

Ainda não...faltam muito para que possa ser 100% online...Os alunos não têm
internet, celular e computador. E o principal compromisso em estudar. (Professora
A)

Com o advento da pandemia o ensino 100% online e posteriormente híbrido até que
voltassem as aulas presenciais foi um desafio para toda estrutura escolar não só para os
alunos, mas principalmente para os professores, que se encontraram em uma situação
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completamente desamparados pelas secretarias da educação. Pois além de não serem


capacitados para uma pedagogia digital, a dificuldade esbarrava quanto ao apoio tecnológico
estrutural para a comunidade escolar (pais, alunos e professores), identificado na fala dos
entrevistados:

Chromebook para os professores e os alunos utilizavam o celular. (Professora A)

Os professores que fizeram isso doando aparelhos usados. (Professor B)

Foi fornecido para os professores um computador no final do ano de 2021.


(Professor C)

Nenhum apoio durante a pandemia. (Professor D)

Na minha escola alguns professores do ENSINO MÉDIO já tinham um netbook


fornecido pelo governo, e os demais professores receberam durante a pandemia um
netbook para dar aulas online, mas para os estudantes não teve nada, nem internet
para ninguém. (Professor E)

Ainda não há dados quanto ao investimento em tecnologia para as escolas no pós-


pandemia, uma crise que abalou as estruturas da sociedade, e que o digital se instaurou como
o novo normal, “agora entramos totalmente em uma sociedade digital, em que já vivíamos,
mas que ainda não havíamos assumido” (CASTELL, 2020). No entanto, segundo algumas
falas dos professores em meio a este pós-pandemia percebe-se que teve melhorias e mudanças
de pedagogia por parte dos professores que se adaptaram a essa nova forma de ensino.

A escola tem à disposição dos alunos netbooks e internet para usar durante as aulas.
As aulas online são usadas pelos professores e alunos. (rofessor A)

Recebemos Chromebooks. Na escola, a utilização de tecnologia como computadores


(Professor B)

Foi disponibilizado para os alunos a internet da escola, otimizamos nossas aulas com
o uso da tecnologia. Eu apoio e utilizo o aparelho celular como recursos para as
minhas aulas. (Professor C)

Acredito que sim, na aprendizagem de novas formas de dar aula, mas a estrutura da
escola ainda não está adequada para tais mudanças, na maioria das escolas não tem
internet nem computadores para todos. Deixo usar o celular do próprio aluno em
aula para aprendizagem. (Professor E)

No entanto, foram adaptações feitas partindo do protagonismo dos professores que


sofreram com seus alunos, por ter perdidos vários com a evasão escolar, por ter aprendido a se
reinventar e se adaptaram por conta própria, sem a base dos órgãos de ensino, que houve
pequenas mudanças para uma pedagogia mais digital, na volta ao presencial. Também teve
investimento de equipamentos de TIC’s, em relação ao pré-pandemia. Mas uma real reforma
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na educação para uma efetiva inclusão digital para alunos e professores, mesmo com a crise
sanitária, ainda está longe de acontecer. De acordo com os professores necessita de:

O acesso completo para alunos e professores, Internet para todos, além de celulares e
Chromebook para usarem em casa. (Professor A)

Distribuição de aparelhos e internet para os alunos (Professor B)

Que fossem disponibilizados para os estudantes os devidos equipamentos e internet


para que ocorra tal inclusão, assim como são disponibilizados os livros didáticos.
(Professor C)

Democratização de acesso à internet e a computadores para todos. (Professor E)

Sinceramente, não acredito que possa ter interesse, por parte dos gestores públicos,
que os alunos tenham acesso aos recursos digitais para uma melhoria na educação,
são pouquíssimas as escolas que possuem os equipamentos necessários para atender
a demanda dos educandos; se faz necessário uma mudança urgente na mentalidade
de quem elabora o sistema educacional. (Professor C)

Já havia um plano de informatizar a educação por parte do governador atual, porém


cá pandemia tudo teve que ser acelerado, sem a estrutura devida e nem suporte
suficiente, a ideia em si é boa, mas precisa de uma readequação para funcionar na
prática. (Professor E)

Com base nesses relatos, parece que vivemos um eterno “déjà vu” na educação
básica do país no que tange sua precariedade, onde encontramos muitas carências desde
infraestrutura de edificação até a aprendizagem, com o advento da era digital essas carências
só aumentaram. Nesse sentido, a que propósito, e qual agenda cumpre a escola pública? Se
com tantas faltas parece que fortalece o status quo das realidades dos jovens que a
frequentam? E muitas nem mais a frequentam, abandonando-as, pois não veem no ensino uma
garantia para o ingresso no mundo do trabalho, ou na continuação dos seus estudos para o
ensino superior.

Para responder essa pergunta baseio-me em Castell em sua entrevista sobre a


obsolescência da educação.

[...] é que a aprendizagem na maior parte das escolas e universidades é totalmente


obsoleta porque insistem em produzir uma pedagogia baseada na transmissão de
informação. Bom, não precisamos de transmissão de informação, pois a informação
está toda na internet. [...] 97% da informação do planeta está digitalizada e 80%
disso está na internet. Então a informação está aí, mas o que precisamos é critérios
para buscá-la e combiná-la nos projetos intelectuais, pessoais, profissionais que cada
um tem. É essa a capacidade de dar empoderamento intelectual que a Escola tem que
transmitir. No entanto a escola está organizada em outro princípio diferente, em não
empoderar, em fazer os estudantes em objetos submissos. [...] (CASTELL, 2014).

Segundo o autor, o estudante tendo acesso à internet na sala de aula, em que muitas
escolas adotaram a proibição do uso do celular, com a justificativa de distração do aluno, o
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professor será desafiado com as informações que o aluno traz de outras fontes e assim, a
aprendizagem será muito mais rica pela interação, produzindo conhecimento através da
interação. No entanto, isso “significaria romper as relações verticais de poder da escola. E isso
os professores não querem, a sociedade não quer, ninguém quer” (CASTELL, 2014).

3. DESIGUALDADES DIGITAIS NO ENSINO BÁSICO PÚBLICO

Dialogando com os conflitos existentes no uso das tecnologias no que diz respeito a
educação na rede pública de ensino, no que tange a desigualdade digital alinhada com outras
desigualdades já existentes. Como mostra um dos boletins da ANPOCS escrito pelo professor
universitário Alexandre Virgínio:
…...a atual crise acirra os efeitos da desigualdade social e o crescente
distanciamento entre os níveis de escolarização e aprendizagem envolvendo os
grupos mais aquinhoados e os outros, os mais pobres. No curso das ações, pelo
menos nesta etapa da crise, as alternativas para o ensino privado remetem para uma
reestruturação dos processos de mediação envolvendo alunos, famílias e docentes
nos AVA.
No outro extremo estão as famílias e os alunos das redes públicas de ensino. De
modo geral, nestes grupos os pais possuem baixa escolaridade e capital cultural e,
mesmo que atendidas as condições para aulas por EAD, dificilmente poderiam
compensar a ausência da escola na vida de sua prole. Com efeito, as demandas
específicas da Educação Básica, associadas à carência de infraestrutura geral na vida
da população das periferias, torna urgente que o Estado tenha um planejamento que
atente para os diferentes contextos em que a mesma ocorre. (VÍRGÍNIO, 2020).

Entende-se por inclusão digital não só o acesso à tecnologia, mas também a qualidade
desta, a alfabetização digital por alunos e professores, equipamentos adequados para seu uso,
isto é, sua democratização como um todo. A inclusão digital na educação vai além do acesso
as plataformas de aprendizagem, ela é a própria democratização do conhecimento, do acesso à
informação, do conhecimento universal, como diz o professor universitário José Vicente
Tavares na entrevista feita no canal do Yootube sobre inclusão digital e o papel da
universidade, é ter acesso a uma biblioteca mundial, através do uso democrático da internet.
Assim, com a necessidade de se ter uma educação 100% online, observou-se, ou
melhor se evidenciou a grande desigualdade, a qual já existia, no acesso das tecnologias
proporcionada pelas escolas, principalmente nas escolas públicas. Essas desigualdades no
acesso as tecnologias de informação e comunicação é consequência do não enfrentamento de
desigualdades anteriores.
Poderíamos dizer que novos desenvolvimentos e configurações da sociedade como o
uso das tecnologias nas práticas da vida, vão não só agravar aquelas desigualdades anteriores,
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mas reproduzir-se em novos campos. A exclusão digital é um sintoma de outras desigualdades


que se reproduz em várias áreas da vida. O investimento em inclusão digital qualificada na
educação pode ser o sintoma benéfico para a diminuição dessas desigualdades também de
forma cadente, uma ruptura para sairmos da lógica da pedagogia do oprimido, em que os
alunos são vistos como depositórios bancários de transmissão de informação. (FREIRE,
1987).
Como bem colocado pelo autor Boaventura, no livro A cruel pedagogia do vírus:
“Qualquer quarentena é sempre discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais do que
para outros...” “São os grupos que têm em comum padecerem de uma especial
vulnerabilidade que precede a quarentena e se agrava com ela”. (SANTOS,2020). Assim “a
quarentena provocada pela pandemia é afinal uma quarentena dentro de outra quarentena.”
(SANTOS, 2020).

Muito, ficou evidente a desigualdade. Devido à má distribuição de renda no país, as


dificuldades foram acentuadas nas escolas públicas, a falta de recursos por parte do
Estado e famílias, o ensino foi prejudicado para esses estudantes. (Professor C)

Aumentou porque a maioria dos estudantes pobres e de escola pública não tiveram
as mesmas condições de acesso ao estudo que alunos de escolas particulares.
(Professor E)

Para pensarmos nas desigualdades educacionais das escolas públicas que precedem a
quarentena e se agravaram com ela, contexto atual que desmascarou uma desigualdade que
não era vista, ou melhor era ignorada na educação, a desigualdade digital trago as reflexões de
Bourdieu, em que o autor denuncia a função da escola, pois ela fortalece e legitima tais
desigualdades educacionais entre as classes sociais. Segundo o autor:

É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema


escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da escola
libertadora, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais
eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às
desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como
dom natural (BOURDIEU, 1998, p. 41)

Ou seja, o autor faz uma “análise mais crítica do currículo, dos métodos pedagógicos e
da avaliação escolar, pois os conteúdos curriculares seriam selecionados em função dos
conhecimentos, dos valores, e dos interesses das classes dominantes.” (FERREIRA, 2013)
Nesse sentido, “a percepção bourdiesiana de que a educação escolar, no caso das crianças
oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação
familiar, enquanto, para as outras crianças, significaria algo estranho, distante ou mesmo
ameaçador.” (FERREIRA, 2013).
24

Os conteúdos trabalhados nas escolas não fazem parte da vida social das crianças mais
vulneráveis, de sua herança cultural, do seu meio familiar. Os códigos escolares não são
compreendidos e isso contribui para o fracasso e a evasão escolar. A escola torna-se sem
sentido para esses alunos, enquanto o professor os vê com certa descrença de suas
capacidades intelectuais. E a expectativa do professor perante o aluno é pessimista, em que a
exceção do fracasso escolar, tornou-se a regra.

Na verdade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas,
um certo capital cultural e um certo etos, sistema de valores implícitos e
profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as
atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que difere,
sob dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial
das crianças da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito
(BOURDIEU, 1998, p. 42)

O autor mostra que o capital cultural que o aluno traz consigo de sua herança familiar
e que é construído com auxílios de outros capitais como o social (relações que possuem
familiaridade com o sistema escolar) e econômico auxiliam no seu êxito escolar. Assim, uma
criança que não possui tais capitais próximo ao ensino escolar, e normas familiares muito
distintas das normas valorizadas na escola são excluídos desse sistema. E a justificativa é que
não querem e não gostam de estudar, a culpa de seu fracasso é colada unicamente em sua
capacidade individual, voltando a justificativas meritocráticas.

Outro ponto colocado pela autora Freitas no livro da Ralé Brasileira de Jessé Souza, é
a questão de como a importância do estudo considerado pelo aluno, tem a ver com dois
fatores: sua estrutura familiar organizada, no que tange sua seguridade emocional assegurada
por sua família e o quanto sua família fortalece a autoestima do seu filho quando ele se realiza
nos estudos.

Esses fatores dão a base para um caminho escolar de sucesso, pois o restante do
caminho quem irá propiciar é a escola, esse aluno está em um cenário benéfico familiar. E que
mesmo lhe faltando o capital cultural, social e econômico de sua família, ele entende que a
educação é um caminho que fortalece sua autoestima perante sua família e pode lhe
proporcionar uma ascensão social melhor que dos seus pais, sua valorização e reconhecimento
perante a sociedade. Mas não é bem assim:

A crueldade da má-fé institucional está em garantir a permanência da ralé na escola,


sem isso significar, contudo, sua inclusão efetiva no mundo escolar, pois sua
condição social e a própria instituição impedem a construção de uma relação afetiva
positiva com o conhecimento (FREITAS, pg. 301, 2009).
25

A autora desenvolve a má-fé institucional em duas esferas no macro poder, na ação


institucional do Estado, suas decisões quanto a educação no sentido de planejamento e
alocações de recursos. E no micropoder, no que tange as relações cotidianas entre os
indivíduos da escola como alunos e professores. Podemos perceber a má-fé institucional em
nível macro no que tange o ensino remoto no Brasil, antes da pandemia não tinha muitos
investimentos em infraestrutura digital na escola, o que dirá para os alunos, nem um
letramento digital para alunos e professores.

Continuando com a lógica de uma educação alheia à vida das pessoas que a
frequentam, tanto no sentido de não ser informatizada, indo na contramão de uma sociedade
cada vez mais digital, quanto aos conteúdos que não conversam com as dinâmicas das
realidades dos alunos. Será que ainda carregamos a herança de uma escola colonial, em que a
educação é para alguns privilegiados e que o ensino não irá modificar estruturalmente a vida
social e econômica dos indivíduos?

A grande questão é, assim como no período de urbanização e industrialização do país


em que o Estado teve que investir em educação, devido a uma demanda de mão de obra mais
qualificada para sociedade, o que exigia para atuação de trabalhadores para os diversos
setores secundários e terciários que estavam em expansão. O investimento em uma educação
mais digital, neste contexto atual, será realizado devido as demandas da sociedade pós
pandemia, em que a vida está cada vez mais híbrida entre o real e o virtual, assim precisará de
uma nova mão de obra que o sistema capitalista exige. Mas que poucos alunos, devido a
diversos aspectos complexos da educação do Brasil, conseguirão atingir.

No entanto, continuamos em uma má fé do macro poder, pois o real motivo não será
para uma educação de qualidade para todos, uma educação libertária, pois a “ralé”
permanecerá em seu extrato social.

Esse descaso do Estado com a população carente pode ser compreendido se


percebermos que as classes médias foram os “suportes sociais” das políticas de
promoção do bem-estar do Estado, pois, uma vez que elas já estavam integradas ao
mundo do trabalho e por isso eram úteis e valorizadas, foram as únicas que puderam
reivindicar a intervenção do Estado nas questões “sociais”. Como essas classes
reivindicadoras já possuíam os pré-requisitos necessários (as disposições que
caracterizam o sujeito “digno”) que garantiram sua integração na sociedade
capitalista competitiva, todo o aparato institucional constituído contou com esses
requisitos como se eles fossem algo “natural” à constituição humana, não
percebendo que eles são, na realidade, resultados de um processo de socialização
específico a certas classes. (FREITAS, p. 298, 2009)
26

No contexto da pandemia, podemos verificar que as escolas particulares, em que se


encontraram a maioria da classe média, além da elite, os alunos não foram prejudicados no
que tange à atrasos nos conteúdos, conseguiriam adaptar-se ao ensino remoto, utilizando as
plataformas online, em que a aula online era ao vivo. E os alunos bolsistas que não tinham
aparato tecnológico para acompanhar as aulas, foi disponibilizado para eles esse recurso.

Já nas escolas públicas, segundo relatos dos professores entrevistados o governo


disponibilizou as plataformas digitais, no entanto, como vimos anteriormente, o suporte não
existia tanto para alunos e professores. Os professores para tentar de alguma maneira atender
os diversos casos dos alunos em vulnerabilidade social, produziam materiais impressos para
os estudantes, para que eles retirassem na escola.

19/03/20, todos professores e alunos que tivemos que aprender a ter aulas online. Os
alunos que não tinham internet buscavam atividades impressas na escola e os demais
iam se adaptando a usar o meet e o Classroom. (Professor A)

Foi em 15 de março de 2020. Ficamos afastado mandando atividades impressas e no


Google Sala de Aula. Depois aulas online. (Professor B)

A escola foi fechada, não recordo bem o dia e mês. Começamos a elaborar
estratégias para aulas online, enquanto isso nos foi oferecida uma plataforma em que
postávamos as atividades e recebíamos as respostas por lá. Quando chegou 2020,
começamos as aulas online, mas necessitava de ajustes; entramos em férias no mês
de maio para que as adaptações pudessem ser aplicadas ao novo sistema. Quando
retornamos em junho, as aulas online já eram obrigatórias, muitos alunos desistiram
ou não davam o retorno das atividades. (Professor C)

A secretaria de educação implementou um sistema para aulas online, uma


plataforma em que a secretaria nos controlava e controlava o retorno das atividades
dos alunos. Tivemos que formar grupos e disponibilizar nosso WhatsApp para
continuar conectados com nossos alunos. Para os demais alunos que não fizeram uso
da tecnologia, foi disponibilizado o material para que pudessem buscar na escola;
material elaborado pelos professores. (Professor C)

Quando se instaurou o sistema híbrido, com a volta aos poucos das aulas presencias a
atividade de trabalho dos professores era ainda mais intensa, pois tinham que produzir
materiais impressos, atender nas plataformas online para os alunos afastados, e ainda dar aulas
presenciais para os alunos que compareciam as aulas no sistema de rodízio, isto é, para que
não existisse aglomeração de pessoas em meio a pandemia. Os alunos eram separados por
grupos, cada dia da semana, um grupo comparecia na escola.

Os alunos inicialmente tinham aulas durante a semana toda e na outra estava em


casa (Professor A)

A escola inicialmente organizou horários para aulas online e presencial, foi tão
trabalhoso que a grande maioria dos colegas da escola decidiu fazer as aulas online
na própria escola devido ser improvável o deslocamento entre escola e residência em
determinado tempo de intervalo entre as aulas presenciais e online. (Professor B)
27

Foi bem confuso no início porque tínhamos que dar a mesma aula duas vezes uma
na escola e uma online em outro dia e horário, trabalhar em dobro (Professor C)

Pensando na má-fé institucional nas escolas públicas brasileiras no aspecto do


micropoder, em que o agente educacional tem suas próprias carências pessoais e profissionais
de ascensão social, tantos os professores descrentes da educação e de seus alunos, como os
que ainda estão motivados sofrem com o descaso estrutural do sistema educacional.

Devido ao “pouco investimento, baixos salários, pessoal mal preparado, falta de


material, burocracia lenta etc., é a própria instituição a grande responsável pela violência
simbólica que parte dos professores dispensam aos seus alunos.” (FREITAS, 2009).

Segundo a autora esse funcionamento precário da instituição acaba contribuindo para


que muitos professores pratiquem uma violência simbólica perante seus alunos. No entanto,
há os que ainda não perderam as esperanças, mas que acabam sendo sucumbidos também pelo
sistema educacional defasado.

[..] há muitos professores sensíveis e bem-intencionados em nossas escolas públicas,


que se esforçam para fazer um bom trabalho e se preocupam com o futuro de seus
alunos. Contudo, eles próprios também são vítimas desses mecanismos
institucionais que vão muito além de suas vontades; e, por maior que seja o desejo
de alguns professores em mudar o funcionamento da instituição escolar, seus atos
isolados nada podem contra a impessoalidade e a magnitude de um sistema que
funciona de acordo com o consentimento, mesmo que não intencional, de toda a
sociedade. (FREITAS,2009)

Durante a pandemia no período de ensino remoto e híbrido os professores tiveram uma


sobrecarga de trabalho ainda maior. Pois além de elaborar planejamentos diferenciados nessa
nova conjuntura, tinham que lidar com formas de dar aula diferentes para atender os mais
diversos casos de alunos.

Trabalhávamos sem horários previstos, atendíamos pais e alunos durante dia e noite,
tentamos estipular datas para entregas das atividades, mas tínhamos que receber o
retorno dos alunos meses depois das datas estipuladas, era muito trabalho para que
todos fossem atendidos com a devida atenção. (Professor C)

Sim, muita e o pior era ouvir as pessoas dizendo que os professores eram
vagabundos que não queriam trabalhar (Professor D)

As desigualdades escolares já eram presentes para os professores antes da pandemia,


muitos já trabalhavam em diversas escolas com uma carga horária de 40 a 60 horas semanais,
isso para manter uma renda razoável devido aos baixos salários, “além de serem
desmotivados com sua profissão, pois não conseguem despertar o interesse dos alunos e por
isso não se realizam profissionalmente” (FREITAS, 2009). E como visto mais evidente
28

ainda na pandemia “as escolas contam com poucos recursos para investir em infraestrutura,
material e todo tipo de projetos pedagógicos, culturais e esportivos.” (FREITAS, 2009).

No relato dos entrevistados houve uma evasão muito grande dos alunos durante a crise
sanitária em torno de 40%. “Começamos as turmas com 36 alunos assistindo às aulas e
terminava com 5 online. Muitos desistiram de estudar e retornaram agora, no presencial.”
(Professor A). “Teve uma busca ativa na volta” (Professor B). Além disso, no retorno as
aulas, observou-se uma defasagem muito grande na aprendizagem dos alunos de escola
pública, foram dois anos de defasagem devido ao ensino online e posteriormente híbrido,
perdendo-se muito na construção do conhecimento desses alunos, principalmente nas séries
iniciais como a 5ª série.

Na pandemia o aluno estava na quinta série e na volta ao presencial já estava na


sétima, mas sem o entendimento das bases de conhecimento da quinta. Segundo o relato dos
professores na volta ao presencial teve muitos desafios, pois as defasagens só aumentaram.

Os alunos não conseguem mais permanecer dentro da sala de aula por muito tempo,
mesmo tendo mais de 15 anos de idade. Não querem estudar e a família vem até a
escola pedir ajuda para fazer o filho se interessar pelos estudos... (Professora A)

Ocorreu em 2022. E aí começou a busca pelos alunos evadidos. (Professor B)

O retorno ocorreu no segundo semestre do ano de 2021 com a gradual presença dos
alunos, vários não retornaram por não estarem vacinados ou por precisar estar
trabalhando para manter o sustendo de suas famílias. Ainda foi aceito o retorno das
avaliações pelo sistema online. (Professora C)

Voltou a partir de meados de 2021, mas poucos alunos voltaram e continuamos


também com trabalho remoto, muito trabalho, pouco resultado, foi puxado.
(Professora E)

A principal dificuldade foi o próprio retorno destes alunos, foi utilizado um sistema
de busca ativa, em que a escola buscou todo tipo de contato com a família deste
aluno. Hoje encontramos alunos nas salas de aula, porém muitos têm dificuldades de
aprendizado ou com algum problema de comunicação ou interação com os colegas e
professores, sintomas de ansiedade e depressão tornou-se comum no ambiente
escolar. (Professor C)

A crise sanitária mundial não só abalou as estruturas de ensino da educação básica,


para um ensino digital, como também desestruturou o funcionamento das famílias. Muitos
alunos abandonaram a escola para trabalhar e ajudar a compor a renda da família, pois seus
pais perderam seus empregos devido a crise.

Esse vírus letal provocou inseguranças em toda a população, o risco de contaminação,


mortes de familiares, desemprego, fome disseminaram sentimento de impotência diante da
vida e falta de perspectiva de futuro, a vida tornou-se sem propósito, e esse sentimento para
29

jovens que tem uma vida pela frente torna-se extremamente perigoso. Os sentimentos de
ansiedade, depressão, irritabilidade e indisciplina são fatores desse episódio pandêmico, visto
na volta as aulas presenciais.

As escolas públicas de estrutura analógica e bancária já estavam distantes do contexto


dos alunos que a frequentavam, tornando-se cada vez mais obsoleta como diz Castell. E com
o distanciamento, agora físico desta escola, sem a continuação digital presente de forma
efetiva durante a pandemia a desigualdade escolar se tornou ainda mais intensa. A hipótese
desta monografia de que a educação reproduz a desigualdade e não oferece alternativas para a
saída dela, infelizmente se confirma em um primeiro momento.

No entanto, é através de uma mudança de paradigmas no sistema social, com o uso


itenso das TICs, como única forma de se viver perante o caos da crise sanitária que
enfrentamos, é que pôde se pensar em maior relevância sobre investimentos e novas formas
de pedagogias utilizando o digital para escolas públicas.

Através dos dados qualitativos e quantitativos dessa pesquisa foi apresentado que há
uma relação da inclusão digital associado ao capital cultural e financeiro dos seus usuários de
acordo com a classe que pertence. Mas percebe-se que se conseguirmos ultrapassar a “má-fé
institucional” da escola no aspecto do macro poder, através de políticas públicas no que tange
aos investimentos necessários para uma real inclusão digital educacional, o capital cultural e
financeiro dos alunos de baixa renda não terá tanto peso frente a uma escola inclusiva em
todos os sentidos, não só digital.

Uma escola com “boa-fé-institucional”, que consiga dar um suporte e acesso a um


capital, tão necessário no mundo atual, que nunca foi antes pensado e refletido de forma
concreta como no contexto tenebroso da pandemia, posso me arriscar a dar o nome de “capital
digital”.
30

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações e implicações deste estudo, com base no referencial teórico utilizado


e na análise dos depoimentos dos professores de escola pública, possui relevância para
ampliar o entendimento sobre a realidade da educação no Brasil no aspecto da inclusão
digital, partindo de suas falas ao relatarem suas vivências cotidianas de trabalho. Através da
pesquisa qualitativa consegue-se chegar à gênese do tema e visualizar problemáticas
invisíveis aos olhos dos indivíduos e da sociedade inserida ao recorte da temática.
O objetivo do trabalho foi alcançado, pois foi possível identificar como os professores
da rede pública compreendem as desigualdades escolares em tempos de pandemia,
percorrendo sobre os principais conflitos existentes no uso das tecnologias no que diz respeito
a educação básica na rede pública de ensino. Compreendendo como ocorreu esse processo, as
principias dificuldades e soluções na busca da inclusão digital.
Nos dados estatísticos percebe-se uma grande desigualdade no uso das tecnologias da
informação nas escolas públicas, onde a internet não era usada como ferramenta gratuita para
os alunos e professores. O apoio tecnológico mínimo como computadores e internet banda
larga ainda é muito precário, mesmo no pós-pandemia. O celular que é o aparelho mais usado
pelos alunos para acessar a internet, era visto como vilão às aulas e não como aliado à prática
docente na construção do conhecimento. Isso foi modificado com o advento da volta às aulas
depois de uma vivência emergencial de uma educação remota.
Através desse estudo consegue-se visualizar o grande abismo de uma educação digital
no espaço educacional das escolas públicas, pois uma real inclusão digital abarca uma
complexidade de ações desde infraestrutura: computadores para todos, rede banda larga de
qualidade para alunos e professores, espaços físicos equipados com TIC’S para uma boa
produção de aula online para os professores, até pensar em uma educação à distância.
Percebe-se que no espaço de infraestrutura física para escola no que tange as
ferramentas digitais, é o mínimo para que a comunidade escolar tenha acesso ao ciberespaço,
utilizando como meio físico a própria escola, democratizando a informação e a busca pelo
conhecimento. O que hoje não há, nem o mínimo nas escolas públicas. Outro aspecto ainda
prático é aprender o funcionamento das ferramentas TIC’S como operar as plataformas
online, aplicativos e sites.
Posteriormente deve-se pensar no aspecto mais complexo para esta inclusão digital, o
letramento digital para alunos e professores, como utilizar esse mundo de informações para o
31

conhecimento escolar de forma a interagir, refletir e construir o saber. E por último, pensar em
uma educação à distância, ou seja, em currículos e pedagogias diferenciadas na adequação
desse novo espaço social educacional. Ou seja, é pensar além de uma educação remota, no
qual a pedagogia educacional continua a mesma do presencial, onde alunos e professores
estão apenas em espaço físicos diferentes. Não tem como pensarmos na mesma lógica do
presencial.
A inclusão digital nas escolas, é muito urgente, pois o papel da escola além de
fornecer aprendizagens e proporcionar socialização, esse duplo papel não condiz com uma
escola analógica frente a uma sociedade cada vez mais digital. Assim, estar inserido nesse
ciberespaço e cibercultura deve ser visto como um direito social. Pois a inserção das
tecnologias digitais está em todos os espaços e relações sociais da sociedade. Estar excluído
digitalmente é também estar excluído da vida social, é estar limitado.
Com isso, a inclusão digital efetiva nas escolas pode ser um caminho para uma grande
revolução no ensino das escolas públicas no que tange a dois aspectos principais. Na mudança
de uma pedagogia de educação arcaica e obsoleta de transmissão de conhecimento que não se
conecta com a realidade dos alunos, e não ajuda professores e alunos interagirem juntos na
produção do conhecimento de forma mais expressiva e humana.
E outro aspecto é acabar com a má-fé institucional da escola pois através de um
“capital” digital que beneficia alunos e professores em suas questões não só educacionais,
mas como indivíduos protagonistas de acesso ao ciberespaço e cibercultura de maneira
democrática, a escola retoma seu papel de dar subsídios para que o aluno da “ralé” que possui
tantas carências, consiga produzir seu estado de pertencimento à essa instituição Escola e
consequentemente em todos espaços sociais e institucionais da sociedade.
Por conseguinte, é preciso dar condições estruturais para isso, é atacar de forma
sistêmica a desigualdade digital educacional, não só dentro da instituição escolar, a qual não é
isolada da sociedade, mas em todas as instituições que formam a sociedade. Pensar em
políticas públicas de investimento à educação que enfrentem de maneira cadenciada todas as
desigualdades educacionais. Manter certas desigualdades que são “invisíveis” ao
entendimento e atuam de forma “naturalizada” modificam a vida dos indivíduos de maneira
complexa e devastadora.
32

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Beatriz Oliveira; ALVES, Lynn Rosalina Gama. Letramento digital em tempos
de COVID-19: uma análise da educação no contexto atual. Debates em Educação, Maceió,
v. 12, n. 28, p. 1-18, set./dez. 2020

ARAÚJO, Verônica Danieli Lima; GLOTZ, Raquel Elza Oliveira. O Letramento digital
enquanto instrumento de inclusão social e democratização do conhecimento: desafios
atuais. Revista Paidéia, UNIMES VIRTUAL, Volume 2, número 1, jun.2009.

BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 2007.

CASTELL, Manuel. A sociedade em rede, 8ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

CASTELL, Manuel. O digital é o novo normal, artigo, Fronteiras do pensamento, 2020.

COSCARELLI, Carla; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento digital: aspectos sociais e


possibilidades pedagógicas. 3. ed. Belo Horizonte: Ceale: Autêntica, 2011.

FERREIRA, Walace. Bourdieu e Educação: Concepção crítica para pensar as


desigualdades socioeducacionais no Brasil. e-Mosaicos- Revista Multidisciplinar de Ensino,
Pesquisa, Extensão e Cultura do Instituto de Aplicações Fernando Rodrigues da Silveira
(CAp- UERJ) V.2 – N.3, junho 2013.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

FREITAS, Lorena. A instituição do fracasso. A educação da ralé. Ralé brasileira: quem é e


como vive / Jessé Souza. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

PARREIRAS, Carolina e MACEDO, Renata Mourão. Desigualdades digitais e educação:


breves inquietações pandêmicas. Boletim Cientista Social N.36, ANPOCs, 2020.

SARDI, R. G.; CARVALHO, P. R. DE. A docência na educação a distância: uma análise


crítica da prática profissional. Psicologia em Estudo, v. 27, 21 fev. 2022.

SCHIRTZMEYERS, Ana Lúcia Pastore. Não soltei (virtualmente) muitas mãos, mas
várias outras me escaparam. Boletim Cientista Social N.80, ANPOCs, 2020.
33

VIRGÍNIO, Alexandre Silva. Boletim Cientista Social N.46, Educação, desigualdade e


COVID-19. ANPOCs, 2020.

https://estadodaarte.estadao.com.br/educacao-distanciamento-durante-depois/ , acesso em 25
jul

https://www.fronteiras.com/artigos/o-digital-e-o-novo-normal, acesso em 15 jul

https://www.portalsmo.com.br/1/noticias/29/geral/91741/pandemia-evidencia-necessidade-de-
inclusao-digital-para-os-alunos-mais-pobres , acesso em 25 ago

https://youtu.be/UcJnxmMzius. Entrevista com o professor da UFGRS José Vicente Tavares


Santos, em 30 de out de 2020. Inclusão digital e o papel da universidade., em acesso em 10 jul

https://youtu.be/J4UUM2E_yFo . Manuel Castells - Escola e internet: o mundo da


aprendizagem dos jovens, em acesso em 27 ago

https://www.youtube.com/watch?v=eb0cNrE3I5g&ab_channel=FronteirasdoPensamento.
Manuel Castells- A obsolescência da educação, em acesso em 15 ago

https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/issue/view/326

https://data.cetic.br/explore/Selecione%20uma%20unidade%20de%20an%C3%A1lise?pesqui
sa_id=1, acesso em 25 ago

https://exame.com/esg/abismo-digital-so-20-dos-brasileiros-tem-internet-de-qualidade/,
acesso em 27 ago
34

ANEXOS

Pesquisa realizada com professores da rede pública do ensino básico, através da


ferramenta online: google forms.

Essa pesquisa está sendo realizada para contribuir, na forma de investigação empírica
para o Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Ciências Sociais pela UFRGS
sobre o tema do processo de inclusão digital no ensino básico da rede pública no contexto da
Pandemia do Covid-19 e “pós- pandemia”. Desde já agradeço a sua participação! As
perguntas serão realizadas de maneira aberta para que possa expressar suas experiências
individuais como profissional da educação. Pode expressar-se de maneira bem livre e sincera,
sua identidade será preservada.

1- Qual seu nome? * não obrigatório


2- Qual seu sexo?
3- Estado civil? Tem quantos filhos?
4- Qual sua Idade?
5- Qual escola trabalha? Qual cidade e região?
6- Você tem morbidades em sua saúde?
7- Você teve covid-19 ou alguém de sua família? Se sim, teve afastamento no trabalho?
Houve mudanças salariais por conta disso?
8- Você é licenciado (a) em qual ou quais disciplinas?
9- Você é professor da rede pública ( ) estadual( ) municipal ( ) privada
10- Qual cargo exerce dentro da escola?
11- Quais séries leciona na educação básica e quais disciplinas?
12- Você é professor (a) há quantos anos?
13- Você tem outra renda, além de professor? Trabalha em que?
14- Quantas horas/aula leciona?
15- Quando se decretou que as escolas fossem fechadas devido a pandemia do Covid-19,
como foi esse processo em sua escola? Que data foi isso? Como foi o planejamento da
escola? Conte um pouco sobre as ações realizadas no ano de 2020.
16- Como a secretaria da educação, Estado ou prefeitura informou e auxiliou a Escola e
professores na mudança para o Ensino Online?
17- Qual apoio tecnológico (equipamentos- computadores, tablets, celulares-, ferramentas
online e internet) deram para a comunidade escolar (alunos, pais e professores)?
35

18- Existiu alguma reunião com esses órgãos e eles deram suporte nessas plataformas
online e treinamento para os professores? Conte um pouco.
19- A escola antes da pandemia utilizava alguma ferramenta online para o ensino? Se
sim, a verba para esse investimento foi oriunda de onde?
20- Antes da pandemia, a escola tinha internet? Se sim, qual a velocidade da internet? Os
alunos podiam utilizar?
21- Em sua Escola os alunos podiam levar os livros didáticos para a casa, antes da
pandemia? Se não, por quê? E durante a pandemia?
22- Existiu alguma reunião com os pais, professores, diretoria e alunos? Que logística foi
realizada para informação nesse contexto de pandemia?
23- Como os professores se organizaram para realizar seus planejamentos para um ensino a
distância?
24- Como foi para você a mudança de um ensino presencial para um 100% online? Como
foi seu planejamento de aulas, que ferramentas utilizou (textos, vídeos, áudios)? Quais
foram as principais dificuldades e desafios?
25- Quais ferramentas onlines de ensino foram adotadas pela Escola (aplicativo,
plataformas, sites etc.)?
26- Você adotou outras ferramentas online para entrar em contato com alunos? Como foi
esse contato? Os alunos interagiam?
27- Os alunos tiveram dificuldades em utilizar essas ferramentas online?
28- Na sua vivência com alunos de forma online, eles conseguiram aprender?
29- Como foi os processos avaliativos?
30- A evasão escolar durante a pandemia aumentou? Em qual porcentagem?
31- Teve reprovações? Todos avançaram?
32- Quais as principais demandas, dificuldades dos alunos nesse contexto de ensino e em
suas vidas de maneira geral?
33- Quando se instaurou o ensino híbrido (online e presencial)? Conte um pouco do
planejamento da escola e do seu planejamento de ensino nesse sistema híbrido.
34- Como ficou sua carga de trabalho durante os anos 2020 e 2021? Você teve sobrecarga
de trabalho?
35- Como ficou sua saúde física e psicológica?
36- Na sua opinião você acredita que é possível o ensino 100% online para alunos da
educação básica? Por quê?
36

37- Na sua opinião você acredita que é possível um ensino híbrido para alunos da educação
básica? Por quê?
38- Conte como foi o retorno para o ensino 100% presencial na escola no “pós-pandemia”.
Quando ocorreu? Que mudanças tiveram em relação ao ensino presencial antes da
pandemia?
39- No ensino e aprendizado nesse retorno, quais os desafios, dificuldades existentes?
40- Houve alguma melhoria em termos tecnológicos para escola e o ensino? Quais?
41- O que permaneceu do ensino a distância nesse novo contexto presencial?
42- Você acha que aumentou ou diminui as desigualdades no ensino durante e pós a
pandemia? Por quê?
43- Que políticas públicas de acordo com sua experiência deveriam existir para que que a
inclusão digital de qualidade no ensino fosse realizada de maneira a contribuir para
alunos e professores?
44- Espaço aberto para comentários que julgar relevante para essa pesquisa. (opcional).

Obrigada por sua participação nesse estudo científico na área da educação escolar. A
função das Ciências Sociais como ciência é compreender e refletir sobre os fenômenos
sociais, aprofundando e desenvolvendo os conhecimentos sobre suas causas e consequências.
Esses conhecimentos são adquiridos com base em dados quali e quantitativos para que se
possa atuar na construção e transformação desta sociedade.

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