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A psicose coletiva em
Badenheim, 1939
Mirella de Carvalho
Nº USP: 7613181
Período: noturno
A psicose coletiva em Badenheim, 1939
Mirella de Carvalho
“O projeto do autor aproxima-se, antes, de uma arqueologia dos escombros, por meio da qual ele
reconstrói um universo complexo, de aporias, contradições e perplexidade, próprio dos judeus da
Mitteleuropa (Europa Central) no período entre guerras. O mundo recriado por Appelfeld paira
entre duas eras e dois lugares, em meio à nostalgia por um passado, tanto mais idealizado quanto
mais distante, e a cegueira ante a iminência da catástrofe judaico-europeia.” 1
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KRAUSZ, Luis Sérgio. “Assimilação e Melancolia”. In: Ruínas Recompostas: judaísmo centro-europeu
em Aharon Appelfeld, Joseph Roth e George Hermann. São Paulo: Humanitas, 2013.
cuida o tempo todo dela. Os turistas começam a chegar, assim como os músicos que
participariam do festival de música, uma das atrações do local. E assim, a história vai
sendo narrada de maneira cronológica, porém esparsa.
Percebe-se que todos são judeus assimilados e exaltam a cultura das grandes
cidades centro-europeias, buscando se identificar com os alemães, falando sua língua e
admirando sua música e literatura, na tentativa de igualarem-se a eles e serem aceitos na
sociedade. Criticam os ostjuden, judeus tradicionais do leste, que se mantém vinculados
à religião. E esta admiração pelos alemães, “sinônimo de civilização e progresso”2,
contribui de maneira preponderante para que os veranistas e moradores de Badenheim
não se dessem conta do que estava acontecendo.
“Perto das dez horas apareceu o inspetor da Divisão Sanitária e pediu para examinar o
estabelecimento. O inspetor perguntou sobre detalhes estranhos. Quem é o dono, foi
recebida como herança? Quando e de quem havia sido comprada? Quanto vale a
farmácia? Martin, surpreso, explicou que tudo havia sido caiado e passado pela
desinfecção prescrita. O funcionário sacou o metro e mediu. Não se desculpou, não
agradeceu, foi direto pra rua.” 3
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KRAUSZ, Luis Sérgio. “Assimilação e Melancolia”. In: Ruínas Recompostas: judaísmo centro-europeu
em Aharon Appelfeld, Joseph Roth e George Hermann. São Paulo: Humanitas, 2013.
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APPELFELD, Aharon. Badenheim, 1939. Barueri: Amarilys, 2012.
Alguns meses após chegarem, começaram a promover a Polônia através de
folhetos e cartazes e, assim, transmitir a ideia de uma vida melhor em outro país. Na
narrativa muitos se questionam, outros amenizam a situação com suposições otimistas,
como o empresário Pappenheim. Este, por sua vez, apesar de transparecer otimista,
estava na verdade cada vez mais melancólico, como é citado por diversas vezes na
narrativa.
E por fim, a narrativa se encerra com os judeus entrando no trem que os levará
para seus derradeiros destinos, ainda cegos, ainda iludidos com uma vida melhor na
Polônia, em uma psicose coletiva que talvez fosse, na verdade, um dispositivo, uma
defesa de seus próprios subconscientes.
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APPELFELD, Aharon. Badenheim, 1939. Barueri: Amarilys, 2012.
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KRAUSZ, Luis Sérgio. “Assimilação e Melancolia”. In: Ruínas Recompostas: judaísmo centro-europeu
em Aharon Appelfeld, Joseph Roth e George Hermann. São Paulo: Humanitas, 2013.
BIBLIOGRAFIA