Você está na página 1de 71

2

3
4

1. Desafios históricos da educação brasileira:


formação e valorização docente, evasão escolar,
analfabetismo funcional, exclusão digital
Educação, ciência e tecnologias digitais

João Marcos e Maurício Gabriel


305

● Repertório das Ciências Humanas:


O defensor público Rodrigo Zoccal Rosa, em seu artigo “A histórica cultura do descaso
com a educação no Brasil”, ressalta que a despreocupação histórica pela educação escolar no
país se iniciou com a colonização e com a vinda da Família Real para o Brasil em 1808.
Inicialmente, foi a catequização indígena a forma mais imediata de “processo educacional”
no Brasil Colônia. Não considerados seres humanos e, portanto, não detentores de almas
para serem salvas, os nativos foram, em um primeiro momento, dizimados em grande escala.
Depois, o Brasil, como uma grande sociedade escravagista, tinha uma população sem acesso
à educação, pois, desde muito cedo, as crianças negras eram utilizadas nos trabalhos
escravos. Além disso, até mesmo as pessoas de famílias abastadas, no ápice da pirâmide
social brasileira, não tinham continuidade nos estudos nem preocupação com a formação
acadêmica. Assim, essa desatenção e despreocupação com o processo educacional ao longo

5
da história da consolidação da sociedade brasileira trouxe, e ainda traz, problemas nos
diversos segmentos sociais. Com isso, construções mal calculadas, produções legislativas
inócuas, administrações públicas caóticas, retrocessos de direitos fundamentais
conquistados, aumento da criminalidade e até perda de investimentos estrangeiros são
exemplos dos efeitos colaterais do subdesenvolvimento educacional brasileiro.

● Repertório estatístico:

Em recente estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial sobre o “êxito dos
países em preparar sua gente para criar valor econômico”, o Brasil apresentou a 83ª
colocação na qualidade da educação, dentre 130 países analisados. Tendo ficado em último
lugar entre países da América Latina, atrás de países como Bolívia, Paraguai, Uruguai e
Argentina, o Brasil possui 35% de seu capital humano subdesenvolvido. Para o Fórum
Mundial, o sucesso econômico a longo prazo de um país passa, necessariamente, pelo seu
capital humano de qualidade. Analisando o desenvolvimento econômico e a qualidade de
vida dos países com melhores índices de capital humano (Finlândia, Noruega, Suíça, Japão e
Suécia), é de se concluir que a educação escolar de qualidade é a base para o
desenvolvimento social e econômico. Isso se deve ao fato de que nestes países há baixíssimos
índices de violência, de criminalidade, de desemprego e de pobreza.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP)


mostra como a vida pessoal dos profissionais da educação é afetada pelo trabalho. Na
análise, o cientista social Jefferson Peixoto da Silva concluiu que as agressões à saúde
vivenciadas pelos professores no trabalho têm se projetado sobre a sua própria vida pessoal
e se combinado a fatores de agressão advindos do contexto social. Neste último, o
desprestígio dos professores é crescente e retorna à escola na forma de perda de autoridade
e até de rejeição, produzindo frustrações repetitivas que contribuem para instituir um
cenário de sofrimento social que se associa à invasão da vida pelo trabalho. Isso mostra a
desvalorização dos profissionais da educação, o que gera um ambiente péssimo de trabalho
e, consequentemente, uma defasagem no processo de ensino-aprendizagem.

2. O sucateamento da educação pública, a


mercantilização do ensino privado e o Novo
Ensino Médio
Educação, ciências e tecnologias digitais

Heitor de Oliveira, Júlio Cézar e Gabriel Plancássio


305

● Repertório estatístico:
Segundo pesquisa do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio),
realizada em 2019 e divulgada pelo IBGE, três a cada cinco adultos nordestinos, com 25 anos
de idade ou mais (cerca de 60,1%), não concluíram o Ensino Médio. Por outro lado, nas
regiões Sudeste e Centro-Oeste, mais da metade da população com 25 anos de idade ou
mais concluiu o Ensino Médio. A mesma pesquisa também apontou que, no ano de 2019,
aproximadamente 6,6% (11 milhões de pessoas) de toda a população do Brasil estava em
situação de analfabetismo e que mais da metade deste amostral, cerca de 6,2 milhões de
pessoas, vivem na região Nordeste do país. Os principais motivos apontados pelos(as)
alunos(as) ou ex-alunos(as) são: a necessidade de trabalhar (39,1%) e a falta de interesse
(29,2%). Com isso, é clara a falha do Estado no amparo à parte da sociedade mais

7
necessitada e na criação, ou até mesmo na manutenção, de escolas públicas de qualidade,
pois, se isso fosse uma realidade, não seria vista uma taxa tão significativa de abandono
escolar, seja por necessidade de trabalho ou por falta de interesse. Além disso, esses dados
também deixam em evidência a diferença da oferta de educação nas diferentes regiões do
país, o que impacta diretamente no futuro emprego do indivíduo. Por conta disso, o
resultado são diferentes taxas de desenvolvimentos nas diferentes regiões brasileiras, com
regiões mais ricas e outras mais pobres.
● Repertório do Direito:

A) “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...].” (CF, 1988).

B) “Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” (CF, 1988).

Estes repertórios constitucionais são importantes, pois, ao se observar que as


melhores escolas (vistas como as que mais preparam o indivíduo para os vestibulares e para
o mercado de trabalho) são particulares ou contam com um processo seletivo para a
possibilidade de matrícula, nota-se que, mesmo com a educação e a igualdade sendo
definidas como direitos sociais invioláveis, na prática, a existência de escolas privadas vão
contra essa garantia. Diante deste cenário, pode-se relacionar os dois artigos constitucionais
com o sucateamento do ensino público, que impede o acesso a uma educação de qualidade
para as pessoas menos favorecidas, e com o fenômeno da mercantilização do ensino privado,
que, ao transformar a escola em uma empresa, certas decisões (como reprovar ou aprovar
um aluno) acabam levando mais em conta a possível perda de um “cliente” do que o
aprendizado real.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

O ensino público brasileiro ainda se recupera do cenário de quarentena causado pela


pandemia do Sars-Cov-2, causador da Covid-19. Durante esse período, as escolas foram
fechadas, fazendo com que professores e alunos fossem forçados a trabalhar em um
ambiente virtual, o que foi uma adaptação completamente compreensível para mitigação de
parte dos danos que tal regime causaria ao processo de ensino-aprendizagem. Porém, nessa
situação, viu-se uma oportunidade de cortar gastos, o que causou uma demissão em massa
de professores e de agentes da educação no geral. Isso colocou uma pressão tremenda nos
professores, que continuaram a exercer sua função, sendo que poucos desses tinham que
lecionar para a mesma quantidade habitual de alunos, o que gerou salas virtuais

8
extremamente lotadas e, assim, uma experiência desagradável tanto para os alunos quanto
para os docentes.
Essa era a situação da maioria das escolas da rede pública, ou seja, não se encontraria
uma situação mais favorável a não ser que houvesse a migração para certas escolas do
ensino privado, que, por serem um negócio como qualquer outro, dão uma prioridade muito
maior aos seus clientes: os alunos. É dito na Constituição brasileira que o ensino de
qualidade e gratuito é um direito de todas as pessoas, porém não é difícil ver, por meio de
ações recentes tomadas pelo governo brasileiro, o quão baixa é a prioridade da educação
pela perspectiva governamental. A um ponto no qual, hoje, por vezes, é necessária a
contratação de serviços privados caso se queira uma educação decente para os cidadãos, o
que é um ultraje e vai diretamente contra o que foi escrito na Carta Magna.

3. As polêmicas propostas do ensino domiciliar


(homeschooling) e das escolas cívico-militares
Educação, ciência e tecnologias digitais

Ana Clara, Julia Oliveira, Letícia Superbi e Maria Clara


305
● Repertório das Ciências Humanas:
Sílvia Coelho, professora de Psicologia da Educação na Universidade de São Paulo
(USP), explica que “A educação [escolar] passa pela aquisição de conteúdo e também ensina
valores como diversidade, frustração, compartilhamento, defesa. Isso é impossível em casa”.
Nesse sentido, o repertório apresentado é válido, pois a educadora, além de explicitar que a
instituição de ensino é significativa para a edificação dos jovens como indivíduos, apresenta
os âmbitos em que a escola é relevante.
Portanto, fica explícito que a importância da escola perpassa a aprendizagem, já que
é nesse ambiente que as crianças e os adolescentes amplificam habilidades importantes
para seu desenvolvimento e para a vida adulta, como socialização, diálogo e aceitação das
diferenças. Em contrapartida, ao estudarem em casa, os jovens convivem com um núcleo
restrito de pessoas e de ideias e, assim, seu amadurecimento é dificultado. Por fim, fica
claro que a educadora argumenta em oposição ao homeschooling.

10
● Repertório de Arte:

O livro Extraordinário, de R. J. Palacio, narra a vida de Auggie, um garoto de 10 anos


que nasceu com uma deformidade facial. A história começa quando, depois de anos sendo
ensinado pela mãe em um modelo de homeschooling, Auggie e seus pais decidem que está
na hora de o menino ir para a escola. A partir desse momento, o menino vive vários altos e
baixos, tendo que enfrentar o preconceito do qual seus pais tentaram protegê-lo ao
educá-lo em casa, mas vendo o valor de ter amigos.
Considerando o que foi apresentado sobre a obra, esse repertório pode ser usado de
diferentes formas. Um exemplo é para explorar o modo como a socialização e o espaço da
escola foram importantes para o protagonista. Auggie se sentia muito sozinho tendo sua
casa como único ambiente social, mas, ao ir para a escola, o mundo do menino se expandiu,
possibilitando que ele fizesse amigos e amadurecesse como pessoa. Além disso, Auggie é
extremamente curioso e adora estudar. Desse modo, a estrutura da escola, com
laboratórios, biblioteca e diferentes professores e colegas, serviu de impulso na sua busca
por aprendizado. Durante o livro, o protagonista faz um projeto de ciência com seu amigo,
uma experiência que ele não teria em casa.
Uma segunda forma de aproveitar esse repertório seria falando de todo o bullying
que Auggie teve que enfrentar ao sair do homeschooling. A todo tempo, o garoto fala como
os olhares estranhos que ele, constantemente, recebe na escola o afetam. Ademais, o garoto
também sofre agressões verbais e chega a ser perseguido por alguns garotos e a ter seu
aparelho auditivo quebrado. Por fim, é possível destacar que, mesmo passando anos sendo
ensinado em casa, o menino, além de não ter nenhum atraso cognitivo em relação a seus
colegas, teve espaço para desenvolver seus interesses próprios, como a Astronomia, sem a
constante influência externa.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

A)
Uma notícia do site do Estadão expõe os problemas das escolas cívico-militares ao
associar esse programa a uma ação de Jair Messias Bolsonaro para agradar a ala militar.
Segundo a matéria, os professores dessas escolas recebem um salário médio bruto de R$
4.040 mil, enquanto os militares de patentes mais altas chegam a receber R$ 7 mil por mês
em adicional. Nesses casos, o bônus de 30% incide sobre a renda bruta, que passa de R$20
mil por mês, e, em muitas escolas, esse salário chega a ser maior que o do diretor.
Os professores militares teriam também a função de desenvolver a imposição de
disciplina e de ensinar valores, o que faria com que os alunos fossem, supostamente, mais
obedientes e focados. Porém, para Priscila Cruz, do movimento “Todos pela Educação”, isso
não se resolve pela imposição da disciplina militar; a indisciplina escolar é, de fato, um
desafio, mas deve ter outra abordagem. Além disso, o programa cívico-militar poderia,

11
algumas vezes, ensinar apenas uma versão da história, e não a verdade. O então Ministro da
Educação Abraham Weintraub afirmou, quando o programa foi lançado, em 2020, que o
objetivo deste não era formar cidadãos melhores, e sim “garantir que nossa bandeira verde
e amarela jamais será vermelha”.
Portanto, é possível falar dos problemas das escolas cívico-militares expondo os
fatos de que os militares estão sendo bem pagos para desenvolver trabalhos que não são
essenciais, em escolas que, muitas vezes, não possuem verba para oferecer o mínimo aos
estudantes. Além de, muitas vezes, os professores acabarem sendo parciais ao educar,
devido à pressão feita pelos militares, direcionando os estudantes à ideologia desejada.

B)
O programa jornalístico Outra estação, vinculado à rádio da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), discute, semanalmente, diferentes temas de interesse social,
buscando dados e conversando com pessoas que possam trazer contribuições sobre o
assunto. Além de ser transmitido na rádio da universidade, o Outra estação também está
disponível nas plataformas de streaming em forma de podcast, o que facilita ainda mais a
sua reprodução e a disseminação do conteúdo discutido nos episódios.
No episódio 18 do programa, “Escolas cívico-militares podem melhorar a educação
no Brasil?”, a apresentadora Luana Lima se propõe a explicar o funcionamento do modelo de
ensino, bem como as vantagens e as desvantagens. Logo de início, a host introduz o tema
citando que o recém-aprovado Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares (PECIM) é um
projeto da época de campanha do presidente Jair Messias Bolsonaro, forte defensor desse
modelo escolar, e que tem, supostamente, como principal objetivo, resolver problemas de
desempenho nas escolas públicas brasileiras. Diferentemente dos colégios militares, que
possuem tanto o setor pedagógico quanto o setor administrativo gerenciados por militares,
as escolas cívico-militares teriam a gestão compartilhada: a parte administrativa ficando a
cargo dos militares e a parte pedagógica, a cargo de professores civis.
É possível utilizar esse repertório, primeiramente, a partir da reflexão de quanto a
atuação militar na gestão administrativa pode impactar o trabalho pedagógico dos
professores. Nesse sentido, o professor da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, Luciano
Mendes, compreende que o processo de educação de um civil compreende debates e
discussões, o que não cabe na postura de disciplina e na hierarquia militar. Ademais, a
padronização dos cidadãos na escola, contando desde a farda até os cabelos padronizados
para meninos e para meninas, poderia ser prejudicial para o desenvolvimento da identidade
pessoal do estudante, processo que é vivenciado, em partes, na escola.
Um segundo ponto interessante para ser desenvolvido, que é abordado no
programa, é a perspectiva financeira: o Ministério da Educação (MEC) irá destinar 54
milhões de reais às escolas para garantir o funcionamento do programa, o que significa um
milhão de reais para cada instituição. Desses 54 milhões, 28 serão destinados para arcar com
o pagamento dos militares da reserva das Forças Armadas, o que representa mais de 50% do
orçamento total, sendo o restante destinado para realizar melhorias na

12
infraestrutura das escolas. É possível utilizar essa informação fazendo uma conexão com o
contra-argumento de que, dentre as justificativas para a implementação desse modelo de
ensino, está a tentativa de reduzir os problemas de indisciplina e de melhorar o
desempenho dos alunos, especialmente em escolas localizadas em áreas de vulnerabilidade
social. Para tal, pode-se afirmar que esse modelo se trata de uma implementação de caráter
muito mais ideológico do que educacional, uma vez que ocorre mais no sentido de difundir a
proposta militarista do que de resolver o problema de defasagem educacional, que é
colocada como um problema de falta de disciplina e de violência, e não como um problema
de falta de infraestrutura nas escolas. Um indicador de que ótimos resultados não vêm,
necessariamente, de estruturas militares, são os Institutos Federais (IFs) e os Centros
Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), que contam com boa infraestrutura e com
professores civis bem capacitados, devido aos investimentos que são feitos nessas
instituições. Portanto, é possível contradizer o ponto de que é necessária uma estrutura
militarizada para solucionar os problemas educacionais no Brasil, mas sendo essenciais os
investimentos e a devida valorização nessa área.
13
4. Vício digital, dependência tecnológica, nomofobia,
infodemia, FOMO e influenciadores digitais Educação,
ciência e tecnologias digitais

Guilherme Diniz Lan, Hannah Luiza Lemos e Lorrayne Paula Dias Soares
303
● Repertório estatístico:
Um estudo realizado pela psicóloga americana Jean Twenge identificou que os jovens
que gastam três horas ou mais nas redes sociais são 35% mais suscetíveis a cometerem
suicídio ou a ficarem deprimidos do que quem passa menos de uma hora. Para aqueles que
passam cinco horas ou mais, a chance sobe para 71%. Neste estudo, evidencia-se que o uso
excessivo do celular e principalmente das redes sociais aumenta, de modo considerável, os
riscos de desenvolver transtornos psicológicos, tais como ansiedade e depressão. O
transtorno conhecido como nomofobia (ou seja, o medo de ficar longe do celular) é comum
em casos de pessoas com vício digital e com dependência tecnológica. Esses transtornos
relacionados à influência digital se tornam cada vez mais comuns, já que mais de 5,22
bilhões de pessoas em todo o mundo utilizam smartphones, o que é equivalente a 66,6% da
população mundial. Nesse sentido, após identificarmos a contemporaneidade desse
fenômeno social, conseguimos mobilizar o repertório ao relacionar as drásticas

14
consequências da dependência tecnológica com as suas causas e, a partir disso, fazer o uso
dos dados estatísticos apresentados na pesquisa.

● Repertório de Arte:

O documentário O Dilema das Redes, disponível na Netflix, mostra como o uso de


dados que compartilhamos nas redes sociais afeta e promove o vício e a dependência digital.
Os algoritmos utilizados são criados com a função de influenciar no engajamento e no
aumento de uso. Cores e elementos chamativos são colocados propositalmente para que a
pessoa passe mais tempo nas redes, aumentando o vício sem que perceba. Cada ação
realizada é registrada de forma que inteligências artificiais e algoritmos se adequem aos
gostos do usuário e influenciem nas propagandas de produtos que serão sugeridos a ele.
Quanto mais o internauta é bombardeado por informações específicas que se encaixam ao
nicho dele, maior será a dependência de estar sempre no ambiente virtual.
Com isso, uma das formas de uso do documentário como repertório é associando o
vício propositalmente criado através da coleta de dados fornecidos pelo usuário. Além disso,
é possível encaminhar o texto, norteado por esse repertório, para uma proposta de
intervenção que intencione a conscientização a respeito do uso dos aparelhos eletrônicos,
bem como a criação de leis mais robustas sobre coleta de dados dos usuários.

● Repertório das Ciências da Natureza:

Segundo o artigo “Dopamina, smartphones e você: uma batalha pelo seu tempo”, de
Trevor Haynes, pesquisador do Departamento de Neurobiologia da Escola de Medicina de
Harvard, o vício em celulares não está ligado ao aparelho em si, mas aos ambientes de
hipersociabilidade que eles proporcionam. Humanos evoluíram, enquanto espécie, para se
tornarem seres sociáveis e, enquanto um círculo social atual de uma pessoa tende a ter
cerca de 150 indivíduos, as redes sociais nos possibilitam a conexão com mais de 4 bilhões
de pessoas. A dopamina, um neurotransmissor químico produzido pelo cérebro, é liberado
quando atividades prazerosas são realizadas e, dentre elas, estão as interações sociais
bem-sucedidas e os estímulos de “recompensa social”, como rostos sorridentes, o
reconhecimento de um colega e uma mensagem de uma pessoa querida. Os smartphones
nos possibilitam ter esses estímulos sociais, de modo ilimitado, induzindo fortemente o fluxo
de dopamina. Tendo o conhecimento de que essas recompensas serão recebidas
aleatoriamente (notificações que não podem ser previstas, por exemplo) e associando isso
ao baixo nível de esforço ao checar o celular, tem-se nesse caso o desenvolvimento de um
hábito vicioso que é estimulado pelas redes sociais e pelas empresas por meio da relação
entre os gatilhos de recompensa e os mecanismos de liberação de dopamina.
Nota-se a potencialidade de utilizar o artigo “Dopamina, smartphones e você: uma
batalha pelo seu tempo”, em conjunto com os demais repertórios do tema, contrapondo as
causas do vício digital com as suas respectivas consequências.

15
5. Negacionismo versus discurso científico: a
importância da valorização e da popularização
da ciência
Educação, ciência e tecnologias digitais

Amanda Bueno, Éric Catarina e Gabriel Benvindo


303
● Repertório das Ciências Humanas:
O fenômeno do negacionismo, apesar de ter uma conceituação relativamente
recente, não é novidade na História. Desde os tempos antigos, diversos sociólogos, filósofos,
cientistas e matemáticos foram julgados por romper com as explicações míticas e buscar
embasamentos empíricos para os fenômenos naturais. Um caso que ilustra isso é o do
filósofo Sócrates, acusado de corromper a juventude através de suas atividades filosóficas,
de negar os deuses do Estado e de introduzir novas divindades. Posteriormente, figuras que
expunham análises e questionamentos científicos eram frequentemente reprimidas,
perseguidas e condenadas pelo Tribunal da Santa Inquisição da Igreja Católica. A instituição
puniu personalidades como o físico Galileu Galilei, condenado à prisão domiciliar por
defender a teoria heliocêntrica, sendo considerado um herege. Acusado de maneira
semelhante a Galilei, temos o filósofo Giordano Bruno, que foi queimado vivo por também
defender o heliocentrismo e outras teorias consideradas atos de heresia.

16
Diante dos fatos históricos apresentados, é compatível apresentar maneiras de
utilizá-los como repertório produtivo no texto dissertativo-argumentativo padrão ENEM.
Perante a temas que envolvem a ciência, a educação e o negacionismo, o uso desses
repertórios faz-se pertinente como um mecanismo que ilustra cenários nos quais houve
privilégio de crenças e de interesses próprios em detrimento da ciência, constituindo o
caráter negacionista. Além disso, o reconhecimento desses fatos retrata como o descaso com
a ciência é um fenômeno propagado desde a Grécia Antiga, servindo como uma ferramenta
de contextualização na redação.

● Repertório de Arte:

Lançado em 2016, o filme americano Don’t look up, dirigido por Adam McKay, aborda
a questão do negacionismo científico na sociedade atual. Na obra, um grupo de astrônomos
descobre que um meteorito colidirá com a Terra em seis meses, acabando com toda a vida.
Apesar do alerta dos cientistas, diferentes partes da sociedade, como lideranças políticas,
não reconhecem a gravidade ou mesmo a veracidade da situação, haja vista interesses
pessoais imediatos que acabam retardando a tomada de decisão para aplicação de medidas
preventivas.
Fora da ficção, o enredo do filme retrata de forma muito semelhante a gestão de
alguns líderes políticos durante o ápice da pandemia do coronavírus. No Brasil, por exemplo,
o presidente Jair Messias Bolsonaro, por diversas vezes, diminuiu a seriedade da situação,
como nas falas – relembradas pelo site Poder 360 – “É só uma gripezinha" e “Brasileiro pula
em esgoto e não acontece nada”. Além disso, o líder do executivo brasileiro retardou e
inclusive desincentivou a vacinação da população, gerando um maior período de alta
mortalidade e de infecção pelo microorganismo.
Assim, feita a comparação entre o conteúdo fictício e a realidade contemporânea,
percebe-se que a utilização do filme Don’t look up como repertório é justificável, pois retrata
as causas e as consequências da postura negacionista, além de apresentar elementos para
realizar a contextualização do tema. Logo, na redação ENEM, esse repertório poderia vir no
primeiro parágrafo da introdução do texto ou na parte do desenvolvimento, a depender de
sua estruturação.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

O movimento antivacina do Covid-19, no Brasil, é uma oposição à vacinação pública


e baseia-se principalmente no negacionismo científico, fenômeno resultante do
anticientificismo presente no país. O Brasil foi apontado como o país onde menos pessoas
acreditam ou têm confiança na ciência, segundo a última pesquisa realizada em 2019, antes
mesmo da pandemia, pelo Pew Research Center, centro de pesquisa americano. O estudo foi
baseado em entrevistas com 32 mil pessoas de 20 nacionalidades diferentes. Em geral, o
contexto político e sociocultural da mídia e da política são fatores determinantes na escolha

17
de se imunizar ou não, aponta a professora de metodologia científica e pesquisadora do
movimento antivacina, Glícia Salviano Gripp. Além disso, há também o medo dos efeitos
colaterais da vacinação.
A pandemia do coronavírus foi um fator de fortalecimento para ideais negacionistas
que influenciam e fomentam o movimento antivacina. O crescimento desse fenômeno
também pode ser atribuído às teorias conspiratórias e ainda à relação da população com o
governo, uma vez que há uma postura desrespeitosa do presidente em relação à gravidade
do vírus desde o início do período pandêmico no Brasil. Durante um pronunciamento em
cadeia nacional de rádio e de TV, em março de 2020, Jair Messias Bolsonaro declarou que o
coronavírus era apenas uma “gripezinha”, sendo apenas uma de suas muitas falas
negacionistas.
Tendo em vista o crescente apoio por parte dos governantes em relação ao
negacionismo científico, o repertório em análise deixa explícita a importância de um grau
maior de conscientização geral da população e de uma reversão desse fenômeno. Pelo fato
de se tratar de um acontecimento presente, mas de lastro histórico, fica claro que esse
repertório pode ser usado em uma grande abrangência de textos, de temas e de eixos
temáticos.

18
6. Dilemas bioéticos do avanço da ciência na
contemporaneidade
Educação, ciência e tecnologias digitais

Filipe Souza, Lucas Vinícius e Pedro Reis


302
● Repertório de Arte:
O filme Gattaca - A Experiência Genética, dirigido por Andrew Niccol, mostra uma
situação na qual os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios e as
pessoas concebidas biologicamente são consideradas inválidas, como Vincent Freeman.
Desde pequeno, Freeman tem o desejo de ser astronauta, mas seu código genético o
predispõe a doenças cardíacas, o que o leva a trocar de identidade com Eugene (uma pessoa
escolhida geneticamente) para alcançar seu objetivo. Sendo assim, ele precisa mudar seu
jeito de escrever e utilizar a urina, bolsas e ampolas de sangue e os fios de cabelo de Eugene
para “driblar” as análises constantes em sua empresa e evitar ser descoberto antes de viajar
ao espaço.
Este filme pode ser utilizado como repertório, já que mostra como a sociedade agiria
caso houvesse uma maneira de dar suporte a seus preconceitos, o que explicita dilemas
atuais e passados, uma vez que já existiram teorias para dizer, por exemplo, que uma raça
seria superior a outra. O filme também sugere que a sociedade, a depender dos avanços
bioéticos, poderia buscar uma maneira de excluir sujeitos mesmo contra a lei, fosse com um

19
fio de cabelo caído, com uma amostra de urina ou com resquícios de pele deixados no
teclado para ler o DNA e comprovar se a pessoa é “geneticamente” apta, ignorando qualquer
outro indicador do contrário.

● Repertório do Direito:

A Lei nº 11.105, de março de 2005, regulamenta todos os âmbitos que possam


envolver a bioética, seja para fins de pesquisa, de comércio, de descarte, dentre outros
aspectos, de organismos geneticamente modificados. No artigo 6º do capítulo I, expressa-se
o que fica proibido de ser feito, como: realizar engenharia em célula germinal humana,
zigoto e embrião humano; clonagem humana; engenharia genética em organismo vivo;
manejo in vitro de ADN/ARN natural ou recombinante. Assim, esta lei pode ser usada como
repertório, uma vez que estabelece proibições quanto à realização de qualquer tipo de
escolhas sobre os genes humanos em laboratório para criar um ser humano “superior”, por
clonagem ou por genes considerados superiores.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

A Síndrome de Down não é uma doença, mas sim um fato genético natural
de ocorrência gestacional durante a divisão das células embrionárias. É uma
alteração no cromossomo 21, quando há o nascimento com o acréscimo de
um terceiro cromossomo 21, sendo o habitual o nascimento com apenas
dois. O cromossomo a mais é o suficiente para alterar o desenvolvimento
do indivíduo, determinando quais características físicas e cognitivas serão
peculiares e distintas daqueles indivíduos que nascem com apenas 2
cromossomos 21. De acordo com as Diretrizes de Atenção à Saúde de
Pessoas com Síndrome de Down (SD), documento elaborado pelo
Ministério da Saúde (MS), o termo “síndrome” significa um conjunto de
sinais e sintomas e “Down” designa o sobrenome do médico e pesquisador
que primeiro descreveu a associação dos sinais característicos da pessoa
com a síndrome, John Langdon Down. Ainda, de acordo com o documento,
estima-se que no Brasil nasça uma criança com Síndrome de Down a cada
600 a 800 nascimentos, independente da etnia, do gênero ou da classe
social. A questão da Síndrome de Down reflete-se na bioética quando, em
pesquisas de casos de nascimentos de indivíduos com a trissomia 21,
percebemos que, em muitos países da Europa, a Síndrome de Down é vista
unicamente como uma gravidez indesejada. Na Islândia, por exemplo, 100%
dos nascituros são abortados quando se descobre a trissomia 21. O que o
país autoriza não é a erradicação da Síndrome de Down, mas sim a
erradicação das pessoas com a síndrome, sendo que, quando
diagnosticados em pré-natal, o aborto pode ser realizado de imediato, já a
questão dos poucos neonatos que nascem com a síndrome, se dá pelo fato
de não ter o médico conseguido diagnosticar a síndrome durante o pré
natal, considerando-se, assim, um bebê de sorte.

O trecho do artigo “Aborto eugênico e a Síndrome de Down”, de Geórgia Racca, pode

20

ser utilizado como um repertório de mídia, pois demonstra uma situação polêmica, em
alguns países da Europa, nos quais se permite o aborto de diagnosticados com a Síndrome
de Down durante o pré-natal. O artigo aponta questionamentos sobre o direito ao
nascimento de portadores da síndrome – que não é considerada uma doença, mas que, em
muitos casos, é levada como um fardo para os possíveis pais do portador, que tem seu
direito ao nascimento interrompido durante a gestação –, os quais não apresentam uma
mutação incompatível com a vida. O principal questionamento que permanece é: “O que
vale mais, a possível vida de um portador da Síndrome ou o desgaste e o possível sofrimento
gerado a si mesmo e aos pais por possuir essa condição?”.
21
22

7. Alimentação no Brasil: segurança alimentar,


obesidade, agrotóxicos, qualidade nutricional e
educação alimentar
Saúde

Cauã Magalhães, João Martins e Pedro Augusto


305
● Repertório de Arte:
O livro 1984, de George Orwell, retrata uma sociedade distópica em que o
totalitarismo impera no mundo, o qual se divide em três grandes nações que vivem em
guerra. Na ficção, a maioria da população, que não faz parte das camadas privilegiadas pelo
regime, tem a alimentação composta de uma ração distribuída pelo governo. Dessa maneira,
essa alimentação restrita e de baixa qualidade pode ser colocada como uma das
contribuições para fatores como a fraqueza, as doenças recorrentes e a suscetibilidade à
alienação que são descritas recorrentemente durante a narrativa. Fora da ficção,
analogamente, alimentos similares à ração do livro baixam a expectativa e a qualidade de
vida dos consumidores, afetando a saúde pública, e podem ser utilizados como instrumento
de manipulação por governos e por figuras de autoridade, uma vez que uma alimentação
saudável é essencial para o bom funcionamento do cérebro e, consequentemente, para as
tomadas de decisões.

● Repertório estatístico:

23
A)
Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS) de 2019 mostra que, atualmente, 6 a cada 10 brasileiros estão
acima do peso, sendo que, entre 2002 e 2003, a porcentagem era de 4 a cada 10. Essa
pesquisa também coletou os dados de jovens entre 15 e 17, que mostraram que 19,4% das
pessoas dessa faixa etária estão com excesso de peso e que 6,7% estão com obesidade. E
esse problema acaba sendo maior em mulheres, com 29,5% das mulheres tendo obesidade
e 21,8% dos homens. Além disso, de acordo com dados do estudo “Epidemia de Obesidade
e as DCNT – Causas, custos e sobrecarga no SUS”, é provável que, em 2030, a prevalência de
excesso de peso possa chegar a 68%.
Posto isso, tais dados podem ser usados em temas que se relacionam aos problemas
de saúde, à superlotação de hospitais e de postos de saúde e, também, à qualidade
nutricional. É importante considerar que o sobrepeso e a obesidade, muitas vezes, estão
ligados ao consumo de alimentos pobres em nutrientes, mas de alto valor calórico e mais
baratos, como ultraprocessados, bem como ao sedentarismo.

B)
A reportagem “Brasil volta ao Mapa da Fome das Nações Unidas”, veiculada pelo G1,
em julho de 2022, relata a situação do Brasil ao se tratar da fome. No período de 2019 a
2021, foi possível perceber o aumento de pessoas que enfrentam a falta crônica de
alimentos, sendo que, entre 2014 e 2016, os números eram de pouco menos de 4 milhões
que estavam em situação de insegurança alimentar grave. Já no período de 2019 a 2021,
esse número subiu para mais de 61 milhões. Um dos fatores que influenciou esse grande
aumento foi a pandemia, que dificultou o acesso à renda de trabalhadores informais e
deixou muitos deles desempregados, juntamente com outros fatores, como a alta inflação
dos alimentos, a desigualdade social e a falta de políticas públicas de inclusão.

24
8. A importância do fortalecimento do SUS e o
crescimento do mercado da saúde privada
Saúde

Amanda Alves Nogueira, Lara Dias Gomes e Maria Eduarda Barra


301
● Repertório de Arte:
O documentário brasileiro Saúde tem cura, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler,
retrata a importância do Sistema Único de Saúde e o modo com que deve ser defendido por
todos os brasileiros, até mesmo pelos que acham que não precisam desse serviço. A
produção mostra o Brasil antes do SUS, quando o acesso à saúde era totalmente elitista, e
apresenta a luta para a criação de um sistema igualitário de saúde. Traçando um panorama
com a atualidade, mesmo com as suas fragilidades, causadas pela falta de investimento,
temos um sistema público que, além de salvar milhões de vidas todos os dias, produz
vacinas, realiza inúmeras pesquisas, faz vigilância sanitária e promove outras atividades
importantíssimas para a sociedade como um todo, evidenciando que o SUS deve ser cada
vez mais valorizado e fortalecido.

● Repertório do Direito:

Segundo o 25º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 25

Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à
sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao
vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença,
na invalidez, na viuvez, na velhice ou em outros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

Além disso, esse artigo também assinala que “a maternidade e a infância têm direito
à ajuda e à assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio,
gozam da mesma proteção social.”. Mesmo que tudo isso seja direito do cidadão, com a
precarização desses serviços, ele se vê, então, na obrigação de acessar o sistema privado.

● Repertório estatístico:
Em 2019, o Brasil gastou 8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em saúde, dos quais
4,4% vêm de gastos privados e 3,8% de gastos públicos, segundo dados de 2019 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto isso, nos outros países analisados pelo
IBGE, a média desse percentual foi de 6,5%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), os governos federais fornecem, em média, 51% dos gastos com saúde de um país,
enquanto 35% das despesas são pagas pelos habitantes. Entre as despesas com saúde, o
maior gasto das famílias brasileiras (66,8%) foi com serviços de saúde privados, como os
planos de saúde, inclusive os pagos pelos empregadores. Portanto, é possível afirmar que,
apesar de o Brasil oferecer um sistema de saúde gratuito, o SUS, ele está sendo precarizado,
e os brasileiros se veem obrigados a adquirir planos de saúde privados para suprir a carência
provocada pelo governo.

26
9. As pandemias, as epidemias, as endemias e a
importância da adoção de estratégias coletivas de
saúde
Saúde

Henrique Cauã, Juan Pablo e Thiago Policarpo


305
● Repertório das Ciências Humanas:
A)
Segundo o psicólogo Paulo Sérgio Boggio, da USP, quanto maior a identidade nacional
(isto é, “o senso de pertencimento ao país e o significado de ser parte de uma nação para
cada pessoa”), maior é o engajamento em ações que exigem sacrifício pessoal em benefícios
do grupo. Isto é, a identidade nacional pode ser relacionada, proporcionalmente, com a
disposição para se envolver em ações que, por mais que sejam prejudiciais individualmente,
são benéficas para a sociedade em geral. Nesse sentido, esse repertório pode ser usado na
argumentação, com a finalidade de reforçar que, por mais efetivas que sejam as estratégias
coletivas de saúde, elas só serão funcionais se o senso de coletividade nacional se sobressair
frente ao individualismo. Além disso, esse mesmo

27
repertório pode ser usado na proposta de intervenção, de modo a sugerir o fortalecimento
dessa característica como um jeito de solucionar o problema de as pessoas não aderirem às
medidas coletivas de saúde.

B)
Segundo a psicóloga Chrissie Ferreira de Carvalho, professora da UFSC,

Se quiserem ter respostas mais efetivas contra a pandemia, os gestores e as


políticas públicas precisam promover o senso de coletividade da população
com práticas pró-sociais, mostrando, por exemplo, que mesmo quem não
está na faixa de risco deveria pensar que suas ações podem proteger ou
prejudicar outras pessoas.

Nessa perspectiva, nota-se novamente a importância do senso de coletividade para


evitar acontecimentos mais graves ou até acabar com cenários de pandemia, de epidemia
e/ou de endemia, o que só é possível se até quem não está na faixa de risco pensar em como
suas ações afetam os outros. Assim, é possível usar esse repertório na proposta de
intervenção, uma vez que já sugere a promoção do senso de coletividade da população.
Ademais, esse mesmo repertório também pode ser usado no desenvolvimento para reforçar
a importância da adoção geral da população às estratégias de combate e não somente das
pessoas que ocupam o grupo de risco.

● Repertório de Arte:

No jogo The Last of Us, após os EUA não conseguirem desenvolver um remédio para
o fungo Cordyceps, o governo perdeu quase completamente o controle sobre as pessoas.
Com isso, as cidades começaram a ser controladas por militares, favorecendo o surgimento
de milícias e fragmentando a sociedade. As pessoas começaram a se dividir em grupos
étnicos, segundo os critérios que julgavam ser os corretos, fazendo com que a opinião
individual se sobrepusesse à coletiva. Esta desunião levou a sociedade ao colapso, fazendo
com que muitas pessoas fossem infectadas ou mortas, o que acabou dificultando a adoção
de uma solução para o problema do fungo, visto que cientistas estavam morrendo por falta
de apoio ou não conseguiam se comunicar, mesmo se descobrissem algo.
Esse repertório pode ser usado para mostrar as consequências de se viver com
comportamentos individualistas em um período de pandemia ou de epidemia, evidenciando
a importância das ações coletivas no seu combate.

● Repertório estatístico:

Estudos realizados pelo Instituto Pólis apontaram uma taxa de mortalidade muito
abaixo da média em uma das comunidades mais populosas de São Paulo: Paraisópolis. Com
uma taxa de mortalidade por Covid-19 de 21,7 pessoas por 100 mil habitantes (menos da

28
metade da média municipal, que é de 56,2 pessoas por 100 mil habitantes), Paraisópolis
possui uma densidade demográfica 6 vezes maior e uma renda média 7 vezes menor que o
resto do distrito de Vila Andrade. A região de Paraisópolis possui uma organização
comunitária muito bem estruturada e contou com o apoio de organizações civis para criar
uma política exemplar de enfrentamento à pandemia. O estudo também apontou que estes
foram os fatores principais pelos quais a taxa de mortalidade foi tão baixa. O fato de a
comunidade ser muito populosa, o que aumenta as chances de contaminação, e muito
pobre, o que limita os recursos para o combate à pandemia, mostra que uma população
unida pode sobressair às dificuldades e lutar melhor contra as pandemias e as epidemias.
29

10. A relevância das políticas de doação de órgãos


no Brasil
Saúde

Daniel Souza, Marcella Rodrigues e Maria Fernanda


301
● Repertório de Arte:
O documentário Anjos da Vida – Em busca da doação de órgãos, dirigido pelas
jornalistas Beatrice Costa, Camila Correia, Mayara Lima e Natália Mitie e lançado em 2016,
aborda o tema da captação de órgãos. O documentário mostra como é o trabalho do Serviço
de Procura de Órgãos e Tecidos (SPOT) do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), retratando como os médicos e as enfermeiras têm a tarefa diária de
aumentar o número de transplantes por meio do aperfeiçoamento das práticas ligadas à
doação. O documentário se relaciona com o tema, pois, ao assisti-lo, temos acesso a como é
feita a abordagem das famílias que estão vivenciando o luto. Tal abordagem precisa ser feita
de maneira delicada e respeitosa, como podemos ver em uma cena em que a enfermeira
consegue convencer a família de uma potencial doadora a realizar o transplante de órgãos.
Logo, é possível perceber que a falta de preparo para lidar com situações como estas
impacta para que o tamanho da fila de pessoas que aguardam um transplante cresça ainda
mais.

30
● Repertório do Direito:

Para dar destaque à importância da doação de órgãos, o Ministério da Saúde (MS)


criou o Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro. A data foi
escolhida para homenagear os santos católicos São Cosme e São Damião, considerados os
padroeiros dos transplantes. Em extensão, a campanha do Setembro Verde, realizada desde
2014, foi instituída para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos.
A cor verde foi escolhida por ser símbolo deste tipo de doação ao aludir à esperança. O
Setembro Verde foi criado a partir da Lei 15.463/2014, de autoria do deputado Gilmaci
Santos (Republicanos). Por mais que seja uma decisão difícil para a família, é importante ter
em mente que essa atitude pode salvar outras vidas. Por esse motivo, campanhas como essa
são de extrema importância para a criação de uma população conscientizada acerca da
doação de órgãos.

● Repertório das Ciências da Natureza:

A)
Há duas situações de morte: a encefálica e a de coração parado. A morte encefálica
ocorre em decorrência da morte do encéfalo (cérebro e tronco encefálico) após algumas
agressões neurológicas, quando as células do cérebro podem morrer e deixam de cumprir as
suas funções, e o quadro torna-se irreversível. Nessa ocasião, os órgãos que podem ser
doados são coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e intestino, além dos tecidos como
córneas, ossos, pele e válvulas cardíacas. Já na morte por coração parado, somente os
tecidos podem ser doados, como ossos, medula óssea, cordão umbilical, sangue e esperma.
Em vida, os órgãos que podem ser doados são parte de um dos pulmões, parte do fígado e
um dos rins. Por sua vez, a doação entre pessoas vivas é autorizada somente para cônjuge
ou parentes até 4º grau, enquanto as situações especiais devem ser feitas com autorização
judicial.

B)
Durante o processo de doação de órgãos, um único doador pode beneficiar vários
receptores, que são selecionados a partir de uma lista única nacional. Para isso, os
receptores são separados por órgãos, tipos sanguíneos e outras especificações técnicas e
reunidos em uma lista única, que apresenta uma ordem cronológica de inscrição, sendo os
receptores selecionados, nessa ordem, em função da gravidade ou da compatibilidade
sanguínea e genética com o doador. A existência dessa lista única assegura a seriedade e a
transparência de todo o processo. Por questões éticas, não é possível que a família do
doador saiba para quem foi o órgão.

31
● Repertório estatístico:

O Brasil é referência quando o assunto é transplante de órgãos e possui o maior


sistema público de transplantes do mundo, sendo que mais de 90% dos procedimentos são
financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com informações do Ministério da
Saúde (MS). O país é o segundo maior transplantador do mundo, ficando apenas atrás dos
Estados Unidos.
32
11. O crescimento das ISTs e de outras doenças
reemergentes no Brasil e no mundo
Saúde

Carla Rodrigues, Luana Nunes, Maria Clara Carraro e Thiago Parreira


302
● Repertório das Ciências da Natureza:
As doenças são reemergentes quando são conhecidas há algum tempo e estavam
controladas, mas retornam, causando preocupação aos seres humanos. As doenças podem
aparecer novamente quando, por exemplo, um novo vetor é inserido no local. A
reemergência também pode indicar problemas na vigilância sanitária. Essa conceituação
pode ser utilizada em uma redação para comprovar a seriedade envolvida na reemergência
de uma doença e a necessidade de que se investiguem as causas do novo crescimento de
uma enfermidade antes sob controle.

● Repertório de Arte:

No filme Meu querido companheiro, de 1989, um grupo de amigos se mostra


totalmente despreparado diante do surto de AIDS. O rumor sobre um “câncer gay” se
transforma em grande crise quando algumas pessoas começam a ficar doentes, deixando os
demais em pânico sobre quem será o próximo. É emblemática a falta de informação, já que,

33
em uma visita de hospital, Willy se mostra desesperado com a possibilidade de tocar em algo
que o pudesse contaminar e também se afasta de Fuzzy por medo de que o relacionamento
o deixasse doente. Logo, o filme pode ser utilizado no texto para demonstrar a necessidade
de conscientização sobre os tratamentos disponíveis para portadores do vírus HIV e sobre as
reais formas de contágio.

● Repertório estatístico:

A)
Em média, uma em cada 25 pessoas no mundo tem pelo menos uma Infecção
Sexualmente Transmissível (IST), de acordo com os números mais recentes, divulgados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), com algumas tendo múltiplas infecções ao mesmo
tempo. A utilização dessa estatística no texto poderia demonstrar como as ISTs já se
propagaram para um grande número de pessoas, evidenciando como é essencial tomar os
cuidados para prevenir novas infecções.

B)
Mais de um milhão de novos casos de quatro Infecções Sexualmente Transmissíveis
(ISTs) surgem todos os dias, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Isso equivale a mais de 376 milhões de novos casos anuais de quatro enfermidades:
clamídia, gonorreia, tricomoníase e sífilis. O uso desse repertório no início do texto, por
exemplo, permitiria que o leitor tivesse uma dimensão mais ampla sobre a real situação de
crescimento das ISTs.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

O Ministério da Saúde (MS) informou que o Brasil perdeu o certificado de erradicação


do sarampo, que havia sido concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em
2016. Isso se deve ao fato de que o país viveu um surto de sarampo em 2018, com mais de
10 mil casos registrados, especialmente no Amazonas e em Roraima, e a decisão foi tomada
pela OPAS em 2019, após um ano de franca circulação do vírus no país.
Apesar de ter um modelo de calendário de vacinação considerado exemplar, a
aplicação de vacinas no Sistema Único de Saúde (SUS) não tem sido suficiente para garantir
a taxa desejável de cobertura vacinal da população. Por exemplo, a vacina tríplice viral
(contra sarampo, caxumba e rubéola) registra números de cobertura insuficientes desde
2017.
Essa situação pode ser utilizada como repertório, pois exemplifica o crescimento de
uma doença reemergente no Brasil, além de apontar uma das causas para a ocorrência
desse problema: a redução da cobertura vacinal nos últimos anos.

34
12. Medicalização/patologização excessiva
e automedicação
Saúde

Amélia Calixta, Giovanna Gracielle de Freitas, Gustavo de Oliveira


302
● Repertório de Arte:
Uma das bruxas enfermeiras mais conhecidas da saga Harry Potter chama-se Papoula
Pomfrey e é funcionária da Escola de Magia e de Bruxaria de Hogwarts. Contudo, mesmo
que ela seja uma profissional experiente e que possua as habilidades necessárias para
exercer a profissão, os estudantes continuam dando bastante trabalho à personagem, com
problemas de saúde variados. Esses problemas acontecem, pois grande parte dos bruxos
utiliza poções e feitiços em si e em outros bruxos sem orientação médica devida. Um
exemplo de situação em que um feitiço foi utilizado erroneamente aconteceu quando o
professor de Defesa contra as Artes das Trevas, Gilderoy Lockhart, um funcionário não
capacitado, tentou curar o braço quebrado de Harry Potter, mas apenas piorou a situação,
retirando todos os ossos do braço do aluno e fazendo com que aumentasse o tempo de
recuperação, que só aconteceu quando a Madame Pomfrey assumiu a situação, impedindo
que fosse um problema ainda maior. Além disso, existem diversos outros casos em que os
bruxos utilizam poções equivocadamente, como quando Hermione comete um erro

35
enquanto produz uma poção polissuco, acabando com o rosto transfigurado em forma de
gato.
Dessa forma, a saga Harry Potter pode ser utilizada na introdução de uma redação,
como repertório, para fazer alusão a casos em que há a ocorrência de automedicação e de
medicação sem orientação médica, comparando-os com situações reais. Ademais, a série de
filmes e de livros também pode ser usada no desenvolvimento da redação, ressaltando as
consequências que tais atos podem causar.

● Repertório das Ciências da Natureza:

A patologização é um conceito utilizado para definir o processo em que problemas


não médicos são classificados como questões médicas. Esse processo também pode ser
usado para se referir a comportamentos considerados não saudáveis e pode, muitas vezes,
vir acompanhado de prescrição médica, dessa forma definindo outro conceito chamado
farmacologização. Um exemplo seria quando atribuem às crianças com dificuldades
momentâneas e comuns de aprendizagem o rótulo de que elas possuem TDAH (Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade), patologizando o comportamento delas.
Portanto, entendendo a patologização como uma forma de atribuir um diagnóstico
sem conhecimento, em que até situações comuns do cotidiano são medicalizadas, é possível
identificar diversas consequências que se dão a partir de tal ato. Esses problemas podem
afetar tanto o lado de quem é diagnosticado erroneamente, quanto o grupo de pessoas que
realmente possui transtornos mentais. Seguindo o caso das pessoas caracterizadas de forma
errada, é possível perceber que, muitas vezes, a verdadeira causa da dificuldade não é
efetivamente discutida, já que os “problemas emocionais” são considerados os causadores,
atrapalhando o desenvolvimento dos indivíduos. Por outro lado, no caso das pessoas com
transtornos mentais reais, as suas dificuldades são frequentemente banalizadas, levando à
criação de preconceitos e de estereótipos, o que também atrapalha a vida desses indivíduos.
Assim sendo, o conceito de patologização pode ser utilizado como repertório
sociocultural, pois, através dele, é possível discutir e problematizar as consequências que
esse ato causa. Além disso, esse conceito pode ser ligado a diversos eixos temáticos, como
educação, família, desigualdade e minorias.

● Repertório estatístico:

Segundo a BBC, no Brasil, cerca de 23 mil pessoas morrem por ano por conta de
superbactérias que são altamente resistentes a antibióticos. Isso acontece porque, ao usar
os antibióticos de forma inadequada e exagerada, provoca-se uma seleção natural das
bactérias mais resistentes a medicamentos. Com o passar dos anos, nota-se que as
superbactérias ficaram ainda mais resistentes e, em alguns anos, os poucos antibióticos que
são utilizados para combatê-las não vão mais surtir efeito.
O dado estatístico descrito anteriormente pode ser utilizado como repertório 36

sociocultural, fazendo uma associação de causa e de consequência entre a automedicação e


a medicação excessiva com o surgimento das superbactérias e os problemas que se
manifestam com ele. A resistência a antibióticos das superbactérias traz sérios problemas de
saúde para a população, como a superlotação dos hospitais e o aumento do número de
mortes, já que não existe nenhum outro tratamento para doenças causadas por essas
bactérias.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

Em uma matéria intitulada “Atleta quase morre de hepatite após tomar remédio para
emagrecer”, publicada pela BBC em março de 2022, é relatado um caso ocorrido em 2019
com a atleta amadora de basquete Janyne Luna, que teve uma falência hepática aguda um
mês após se automedicar por 20 dias com suplementos para emagrecer. A mulher de 32
anos começou a tomar suplementos à base de plantas, ao conseguir a receita de uma amiga,
para caber no vestido de madrinha que teria que usar e, ao ver que não surtiram efeito,
parou de tomar. Porém, já era muito tarde e, um mês depois, os sintomas de problemas no
fígado, como confusão mental, corpo e olhos amarelados, enjoos e escurecimento da urina,
começaram a se manifestar. Essa situação levou à necessidade de um transplante de fígado,
único tratamento possível, que foi realizado em 2019, 5 dias após ela entrar na lista de
espera. O hepatologista Huygens, que foi médico de Janyne, relata que alguns remédios,
quando tomados em excesso e por tempo prolongado, podem causar hepatite
medicamentosa e que, apesar de ser um quadro raro, não se sabe quais pessoas são mais
suscetíveis a ele, por isso é preciso tomar cuidado com a medicação excessiva e não se
automedicar. A cirurgia realizada trouxe mudanças para vida de Luna, afinal, após um
transplante, é necessário tomar certos cuidados, entre eles controlar a alimentação,
exercitar-se, tomar um medicamento a cada doze horas para evitar que o fígado seja
rejeitado e frequentar o médico com certa regularidade. Logo, a automedicação realizada
pela atleta trouxe problemas permanentes para sua vida.
A utilização desse caso como repertório sociocultural pode ser feita associando-o
diretamente às consequências da automedicação. Dessa forma, é possível colocá-lo no
desenvolvimento do texto para contextualizar como a utilização independente, sem consulta
ao médico, e excessiva de remédios pode gerar problemas ao organismo humano, podendo
mascarar e causar doenças ou até levar à morte.

37
38

13. Economia verde: tendência real ou greenwashing?


Meio ambiente e sustentabilidade

Ariane Yukari, Leonardo Costa, Vinícius Araújo


302
● Repertório das Ciências Humanas:
Hans Jonas foi um filósofo alemão que é conhecido principalmente por sua obra O
princípio da responsabilidade. Na sua teoria, Hans diz que não se pode sacrificar o futuro
pelo presente, uma vez que, se a humanidade se preocupar apenas com o presente, o futuro
pode deixar de existir. Essa espécie de ética proposta está diretamente ligada à
responsabilidade com as gerações futuras. A filosofia do alemão contraria completamente o
greenwashing, já que as empresas que praticam a “lavagem verde” pouco se preocupam
com o futuro do planeta, apenas visam ao lucro por meio de uma propaganda enganosa.

● Repertório do Direito:

Segundo o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC):

É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa qualquer modalidade


de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por
qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a
respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e
quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

39
Nesse sentido, o presente repertório poderia ser usado para mostrar que existe uma lei que
proíbe, mesmo que de forma indireta, o greenwashing.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

No ano de 2017, a empresa automobilística estadunidense General Motors associou


o nome “Eco” a alguns motores de veículos da marca. Com essa premissa, a empresa
prometia uma melhora na emissão de poluentes que são prejudiciais à atmosfera. Contudo,
não havia provas consistentes para tal afirmação, o que resultou em advertência do
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR).
Nesse mesmo ano, a empresa varejista estadunidense Walmart pagou 1 milhão de
dólares para resolver alegações de greenwashing contra a companhia. As denúncias
indicavam uma suposta propaganda enganosa com relação à venda de produtos baseados
em plástico. De acordo com a lei do Estado da Califórnia, empresas não podem inserir
rótulos com os termos “biodegradável” ou “compostável”, já que os produtos que levam
plástico em sua composição não possuem tempo determinado de degradação em aterros
sanitários.
As duas notícias podem ser usadas como exemplos de empresas que fizeram o
greenwashing.

40
14. Agravamento da questão ambiental no Brasil: crise
hídrica, queimadas, desmatamento, desequilíbrios
climáticos
Meio ambiente e sustentabilidade

Fernando Alves de Freitas, Gabriel Lyan Barbosa de Assis e Pedro Guilherme Andrade
Salgado
305
● Repertório das Ciências Humanas:
Albert Schweitzer foi um teólogo, filósofo e médico alemão nascido na Alsácia, que,
no século XIX, era parte do Império Alemão. Uma de suas frases pode ser usada como
repertório sociocultural neste eixo temático: “Vivemos em uma época perigosa. O homem
domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo”. Como este eixo trata
do agravamento da questão ambiental, pode-se apontar o ser humano como principal
causador desse problema. Apesar de esta frase ter sido dita em outro século, ainda é
pertinente no século atual, uma vez que é possível relacioná-la com a forma com que o
homem trata a natureza, ou seja, de forma imprudente, sempre extraindo dela, sem se
preocupar com as gerações futuras e priorizando o lucro.

41
● Repertório de Arte:

Seu Jorge, nome artístico de Jorge Mário da Silva, é um ator e compositor brasileiro
que atua em carreira solo desde 1999. Dentre seu repertório musical, destaca-se a canção
“Hagua”, lançada em 2001, que relata a situação caótica do meio ambiente, devido às ações
humanas. Na atualidade, 21 anos depois, a música continua representando a relação abusiva
do homem com a natureza, que pode ser expressa no seguinte trecho: “Poluição,
devastação, queimadas/ Desequilíbrio mental/ Desequilíbrio do meio ambiente”.

● Repertório estatístico:

Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do


Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento na Amazônia cresceu
29% em 2021. Dessa forma, fica evidente que a questão ambiental vem se agravando nos
últimos anos. Com isso, algumas outras problemáticas vêm à tona, como a crise hídrica, que
é uma direta consequência do desmatamento, visto que a evapotranspiração é que repõe a
umidade para a atmosfera. Tendo em vista o que foi exposto, é necessário problematizar os
responsáveis pelo desmatamento, já que este acarreta diversas consequências para nossa
sociedade como um todo. Os grileiros, que, além de se apropriar de terras ilegalmente,
exploram-nas de forma irresponsável, são alguns dos responsáveis por esse
desflorestamento.

42
15. Agronegócio e agricultura familiar: importância e
desafios dessas duas dinâmicas produtivas no Brasil
Meio ambiente e sustentabilidade

Giovanna Araújo Teixeira da Costa, Júlia Bárbara Almeida, Miranda Hagata de Medeiros
Pires
301
● Repertório das Ciências Humanas:
As commodities podem ser definidas como produtos de origem agropecuária ou de
extração mineral, em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, produzidos em
larga escala e destinados ao comércio externo, cujos preços são determinados pela oferta e
pela procura internacional. No Brasil, estes produtos correspondem a mais de 6,5% do PIB
(Produto Interno Bruto) e representam mais de 60% dos bens exportados. A soja é um dos
produtos de origem primária mais cultivados em grande escala no agronegócio visando à
exportação e, para melhor aproveitamento da safra, são utilizados agrotóxicos, que
representam um grande risco à saúde da população. É importante reiterar que o
agronegócio toma grande parte das terras que seriam destinadas à agricultura familiar,
caracterizada pelo modo de produção mais limpo e orgânico, o que é um grande problema,
pois retira a oportunidade de emprego de vasta parcela da população, representando uma
questão muito abordada pelo Movimento Sem Terra (MST).

● Repertório de Arte:

O documentário Nuvens de Veneno retrata as nuvens que se espraiam pelas


plantações. Em vez de molharem, secam; não trazem a chuva, e sim o veneno, o agrotóxico.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de soja, algodão, milho e também um dos
maiores consumidores de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Esse documentário expõe as
preocupações com as consequências do uso desses agroquímicos no ambiente,

43
especialmente, na saúde do trabalhador. Nuvens de Veneno é um documentário revelador,
que faz refletir sobre a forma como crescemos e sobre o tipo de desenvolvimento que
queremos. Nele, evidencia-se que há uma grande disparidade no tratamento que o
agronegócio dispensa à saúde da lavoura e à saúde dos trabalhadores, ao passo que a
preocupação com o aumento da produção, sem economizar no uso dos agrotóxicos, revela
um descaso com os efeitos colaterais causados na vida da população e do meio ambiente.
Assim, o documentário retrata que os inseticidas usados pelos grandes produtores
têm afetado drasticamente a saúde e as lavouras de pequenos produtores familiares de
assentamentos e de comunidades. Os insumos químicos, levados pelas nuvens de veneno,
andam quilômetros e chegam até as cidades, enquanto os pesticidas evaporam,
condensam-se na chuva e intoxicam pessoas, plantas, nascentes. Nesse sentido, uma
pesquisa realizada por Wanderlei Pignati, professor da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), na água de dez poços artesianos das cidades mato-grossenses de Lucas do Rio Verde
e de Campo Verde, durante dois anos, revelou que todos estavam contaminados com
resíduos agrotóxicos.

● Repertório estatístico:

Segundo os dados obtidos a partir da pesquisa da Organização das Nações Unidas


para Agricultura e Alimentação (FAO), publicada em abril de 2021, cerca de 35% da
produção de alimentos mundial pertence à agricultura familiar.
O dado mencionado pode ser utilizado como repertório de cunho argumentativo
para sustentar teses que sejam favoráveis à agricultura familiar em detrimento do
agronegócio exportador, uma vez que a produção que utiliza a mão de obra das próprias
famílias demonstra que quem alimenta a população brasileira é o agro de pequeno porte.
Dessa forma, é possível estruturar o texto fazendo com que a proposta de intervenção seja
baseada em políticas públicas que fomentem esse tipo de agricultura.

44
16. A recusa aos maus-tratos aos animais:
enclausuramento, tráfico, testes científicos,
veganismo e vegetarianismo
Meio ambiente e sustentabilidade

Wanessa de Oliveira, Eduardo Evangelista, Isabela Cristina e Waleska Maria


303
● Repertório do Direito:
A Lei nº 9.605/98, conhecida também como “Lei dos crimes ambientais”, foi instituída
em 12 de fevereiro de 1998 para aplicar sanções penais àqueles que praticam atividades que
lesem os elementos que compõem o meio ambiente, sendo eles a fauna, a flora, os recursos
naturais e o patrimônio ambiental. Assim, em linhas gerais, essa lei tem como objetivo
principal a reparação de danos ambientais.
Exemplo de uso desse repertório para a construção da argumentação no
parágrafo-padrão de desenvolvimento:

Deve-se ressaltar que a prática de maus-tratos aos animais é considerada


crime no Brasil. Entretanto, mesmo que o artigo 32 da Lei de crimes
ambientais defenda os animais, eles continuam sofrendo maus-tratos, uma
vez que a fiscalização e a aplicação da lei deixam muito a desejar. Portanto,
é inaceitável que os animais, muitas vezes incapazes de ferir alguém, sejam
maltratados e os autores desse crime fiquem impunes.

45
No exemplo acima, é possível ver como o repertório sociocultural, artigo 32 da Lei de
crimes ambientais, pode ser utilizado para fazer uma redação cujo tema é a recusa aos
maus-tratos aos animais, uma vez que essa lei tem como função punir as pessoas que
maltratam os animais, sejam eles domésticos, silvestres ou exóticos.

● Repertório das Ciências da Natureza:

O tabaco de quase todas as marcas é testado em animais, como gatos, cães,


hamsters, porcos indianos, coelhos e macacos, que são forçados a respirar o fumo de cigarro
até seis horas seguidas, todos os dias, durante três anos. Para esses experimentos, vários
métodos são usados, como:

1) Os animais são presos ou fechados em tubos e constantemente recebem fumaça de


cigarro nos brônquios por meio de ventilação;
2) A aplicação do cigarro na pele do animal para promover o crescimento de tumores
cutâneos;
3) A instalação de dispositivos nas cabeças dos animais para estudar os efeitos do
tabaco;
4) A abertura feita na garganta dos animais para a passagem de um cachimbo a fim de
ele aspirar grandes quantidades de fumaça de cigarro.

Dentre outros, os testes de produtos em animais são exemplos de maus-tratos que


infelizmente ainda não são proibidos no Brasil. O conhecimento desse fato pode ser usado
como repertório para um argumento de exemplificação.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

Vacas criadas pela indústria do leite enfrentam o mesmo destino que aquelas da
indústria de carne. Elas são mortas quando a produção de leite diminui. Nenhuma vaca pode
viver sua vida natural que vai até os 25 anos de idade. Na verdade, 20% da carne bovina
vendida nos estabelecimentos vêm de vacas que foram exploradas pela indústria do leite.
Depois de serem transportadas por longas distâncias, as vacas são forçadas a entrar em um
box de atordoamento. Dentro dessas câmaras, elas são baleadas na cabeça, um processo
destinado a deixá-las inconscientes. Entretanto, muitas delas ainda estão conscientes quando
têm suas gargantas cortadas.
A notícia “O segredo desumano da indústria do leite”, publicada no portal Animal
Equality Brasil, mostra-nos que os maus-tratos aos animais não se restringem apenas aos
crimes que muitas vezes vemos nos jornais e que são reconhecidos pela lei. Nesse sentido,
os maus-tratos estão em nosso dia a dia e, de forma indireta, compactuamos com eles; a
crueldade mostrada nas indústrias de laticínios é um exemplo. Assim, esse repertório pode
ser usado na construção de um argumento de comprovação.

46
17. Produção e descarte do lixo, consumismo e
obsolescência programada
Meio ambiente e sustentabilidade

Adhara Batista, Glenda Karen e Maria Izabel


302
● Repertório de Arte:
A)
O documentário Trashed: Para onde vai nosso lixo? narra a investigação do ator
Jeremy Irons sobre os impactos globais do consumismo desenfreado e da poluição gerada
por ele. A produção leva o público em uma viagem ao redor do mundo para mostrar como
alguns dos lugares mais bonitos do planeta foram poluídos pelo lixo. O filme é um alerta
acerca da nossa responsabilidade sobre o lixo que produzimos hoje e que ainda iremos
produzir no futuro, podendo ser usado como forma de contextualizar o tema.

B)
O documentário The Clean Bin Project aposta na comédia para falar de um assunto
bem sério. Um casal, Grant e Jen, faz uma competição para reduzir o lixo produzido por eles
ao longo de um ano. Eles tomam essa iniciativa para responder à seguinte questão: é

47
possível um ser humano viver sem produzir qualquer tipo de lixo? O casal conversa com
especialistas e com ativistas em prol do lixo zero para aprofundar seus conhecimentos sobre
o tema de maneira abrangente. A produção audiovisual é uma inspiração para que o público
comece a refletir e a dar os primeiros passos para uma vida com menos desperdício.

● Repertório das Ciências da Natureza:

Os seres humanos produzem quantidades gigantescas de lixo todos os dias, que


acabam chegando aos mares e aos oceanos. Com isso, a maior parte desse lixo é levada por
correntes marítimas até as cinco principais ilhas, de tamanho dos maiores países,
distribuídas pelos oceanos no mundo. O principal desse lixo é o plástico, representando
cerca de 16% do total, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), que pode ser
ingerido pelos animais, causando diversas mortes e um desequilíbrio enorme no sistema
ambiental. Segundo pesquisas também da ONU, já foram encontradas diversas baleias
mortas com quantidades altíssimas de plástico em seus estômagos. A esse respeito, o tipo de
plástico mais preocupante é o microplástico, que pode ser levado pela cadeia alimentar pelo
fenômeno conhecido como magnificação trófica ou bioacumulação, além de ser tóxico e de
acabar sendo conduzido até os próprios seres humanos (como já foi encontrado em
alimentos e bebidas, incluindo cerveja, mel e água, bem como nas fezes humanas).

● Repertório estatístico:

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20 milhões de


pessoas não possuem acesso a nenhum tipo de coleta de lixo no Brasil. Segundo essa mesma
pesquisa, 83% das cidades possuem coleta direta de lixo, enquanto cerca de 8,1% têm a
coleta via caçamba de serviços de limpeza e 8,9% queimam lixo na propriedade ou
depositam em valões. Nesse sentido, é possível considerar que essa parte da população que
não possui acesso ao serviço de coleta, que deveria incluir todos os cidadãos, pode
prejudicar o meio ambiente de diferentes formas, como: os gases liberados na queima de
lixo agravam o efeito estufa, aumentam a possibilidade de incêndios locais e afetam
diretamente a população; e o uso de lixões provoca contaminação do solo, da água e da
vegetação, prejudicando animais e plantações.

48
49

18. A delicada questão indígena no Brasil


Desigualdades, minorias e intolerâncias

Álvaro Daniel, Arthur Souza e Ângelo Valadares


304
● Repertório de Arte:
O documentário Belo Monte: Usina de Problemas mostra detalhadamente a questão
indígena brasileira. Para isso, entrevistou-se a comunidade indígena do Xingu, a qual, devido
à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, sofreu impactos, pois florestas foram
desmatadas, áreas da comunidade foram inundadas e o ecossistema do local foi
completamente alterado, o que trouxe à tona uma série de dificuldades para a manutenção
da vida da comunidade no local. Dessa forma, esse documentário pode servir para
contextualizar a questão indígena no país.

● Repertório do Direito:

No artigo 231 da Constituição de 1988, no primeiro parágrafo, fica assegurado às


populações indígenas o direito à propriedade de terras tradicionalmente ocupadas pelos
nativos, utilizadas para suas atividades produtivas e/ou as que são imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários para o bem-estar dessas populações. Vale
ressaltar que o artigo 231 da Carta Magna visa amparar as populações indígenas e garante a
elas:

50
➔ Direito a terras;
➔ Direito ao aproveitamento de recursos hídricos;
➔ Direito ao aproveitamento dos potenciais energéticos;
➔ A pesquisa e a lavra de riquezas minerais em terras indígenas devem ser autorizadas
pelo Congresso Nacional, ficando assegurada a participação nos resultados da lavra; ➔ É
vedada a remoção de povos indígenas de suas terras;
➔ São nulos ou extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas.
Apesar da existência desse artigo, muitos indígenas, obviamente, sofrem com o
descumprimento de seus direitos.

● Repertório estatístico:

Estudos indicam que, no ano de 1500, existiam cerca de 3 milhões de indígenas no


Brasil. Hoje, segundo o levantamento do Censo de 2010, realizado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), a população indígena é de pouco mais de 800 mil
pessoas. Dessa forma, fica evidente a dizimação dos povos indígenas no território brasileiro,
visto que cerca de 70% da população residente no Brasil Colonial foi dizimada ao longo dos
anos. Esse fato serve de exemplificação de um dos grande problemas enfrentados pela
população indígena brasileira.

51

19. LGBTQfobia
Desigualdades, minorias e intolerâncias

Iago Cuiabano, Vitor Bagli e Vitor Domingos


302
● Repertório do Direito:
No dia 13 de junho de 2019, durante julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 e do Mandado de Injunção nº 4733, o Plenário do
Supremo Tribunal Federal (STF), baseando-se na omissão do Congresso Nacional, enquadrou
a homofobia e a transfobia como crimes de racismo. Conforme entendimento da Suprema
Corte, a demora do Poder Legislativo para incriminar os atos de homofobia e de transfobia
ofende os direitos e as garantias fundamentais dos indivíduos, por isso os ministros votaram
para que condutas semelhantes sejam enquadradas na Lei nº 7.716/1989 (Lei do Racismo),
até que o Congresso Nacional saia da inércia.
Esse repertório pode ser usado em uma argumentação sobre a omissão do Estado
em criar leis para combater a LGBTQfobia, tanto pelo atraso para essa equiparação ocorrer
(somente em 2019), tanto pela forma como ela ocorreu, sendo enquadrada na Lei do

52
Racismo, e não com leis próprias. O repertório também pode ser usado em uma introdução,
destacando e problematizando o atraso do país em combater a LGBTQfobia.

● Repertório das Ciências Humanas:

O ensaio acadêmico “Corpo, gênero e ciência: na interface entre biologia e


sociedade”, de Adriano Senkevics e de Juliano Polidoro, discute como as concepções
biológicas sobre gênero e sexo foram permeadas pelo senso comum nas épocas em que elas
começaram a ser aprofundadas. Nesse sentido, a ciência, à qual já era atribuída a autoridade
como produtora de verdades, serviu para difundir e para consolidar o senso comum como
um conhecimento científico. Este é um discurso que naturaliza uma essência, tanto
masculina quanto feminina, universal e inquestionável, ou seja, um determinismo biológico.
A partir disso, o ensaio busca rediscutir a biologia à luz dos estudos sociais.
O “sexo”, segundo o texto, diz respeito às qualidades biológicas, aos corpos dos sexos
masculino e feminino (diferente dos gêneros masculino e feminino). Já sobre o “gênero”, é
discutido como a biologia humana, citando o genoma e o conjunto de alelos presentes no
DNA, não seria capaz de explicar a série de características conectadas em torno dos ideais de
masculinidade e de feminilidade, como a suposta preferência pela cor azul por parte dos
meninos e da cor rosa pelas meninas. Os gêneros seriam, na verdade, categorias
socioculturais, construídas historicamente a partir de práticas, de sentidos e de significados
que, em determinado contexto, nomeiam o que pertence a um universo masculino ou a um
feminino. Segundo os autores, os corpos são tanto objetos da prática social quanto agentes
da prática social, uma vez que ora as práticas sociais derivam das condições às quais os
corpos são concebidos, ora os corpos se modificam sob influência sociocultural.
A partir do resumo do ensaio apresentado acima, pode-se discutir como ele seria
implementado na redação do ENEM. Enquanto repertório, o ensaio é útil na
contextualização do conceito de gênero, muito importante ao se falar sobre questões da
comunidade transexual. Além disso, também pode ser utilizado na contra-argumentação do
senso comum do determinismo biológico presente na sociedade atual.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

Em seu contexto de emergência, a percepção era a de que a AIDS se tratava de uma


“peste gay”, revelando uma condição em que se acreditava que essa síndrome estava ligada
ao estilo de vida e ao comportamento de gays, embora também tenham sido relatados casos
em mulheres, em bebês, em pessoas portadoras de hemofilia e em usuários de drogas
injetáveis. Recentemente, em uma entrevista publicada no New England Journal of
Medicine, a pesquisadora Alexandra Levine, que desenvolve trabalhos a respeito da AIDS,
falou sobre “o horror de testemunhar toda a sociedade dando as costas a esse sofrimento, o
horror de ver como muitos dos meus próprios colegas se recusavam a ajudar, recusavam-se
a cuidar, recusavam-se a agir como os profissionais que deveriam ser”. Como os políticos e

53
as entidades governamentais se mostraram lentos para agir, os ativistas assumiram as
rédeas do tema, fazendo o que podiam, nesse primeiro momento, para combater a
homofobia e o estigma, de modo a garantir que as suas comunidades recebessem as
informações de saúde pública necessárias.
Entre esses esforços estava o panfleto de 1982 intitulado “Como fazer sexo em uma
epidemia: uma abordagem”. Criado por Michael Callen e por Richard Berkowitz, esse
panfleto foi um dos primeiros a aconselhar homens gays a usar preservativos durante as
relações sexuais, de acordo com uma exposição da Biblioteca Nacional de Medicina. Embora
os dois especialistas sejam considerados pioneiros do sexo seguro, muitas pessoas na
comunidade gay na época criticaram seu trabalho como “sexo negativo”. Organizações de
gays, de lésbicas e de negros, por sua vez, lutaram contra os pôsteres de campanha que
traziam o conceito errôneo de que a AIDS afetava principalmente homens gays brancos.
Ao utilizar repertórios da mídia como essa notícia veiculada no site da CNN Brasil, é
possível perceber e argumentar que a LGBTQfobia não é algo necessariamente do presente,
tampouco somente sobre a relação dada como fora do padrão pela sociedade, mas também
sobre eventos do passado relacionados à saúde pública que levaram a tal discriminação.

54
20. Dificuldades à plena inclusão da pessoa com
deficiência: capacitismo e demais obstáculos
Desigualdades, minorias e intolerâncias

Augusto Braga, Lara Moreira e Regiana Almeida


304
● Repertório das Ciências Humanas:
De acordo com o sociólogo do século XIX, Émile Durkheim, o fato social se resume a
uma maneira coletiva de pensar em uma sociedade. Sob essa lógica, é possível postular que
a questão do capacitismo é bastante influenciada pelo pensamento coletivo, já que, se as
pessoas crescem inseridas em um contexto social intolerante e/ou preconceituoso com as
pessoas com deficiência, vendo-as como menos capazes ou sob a ótica da pena, a tendência
é que adotem esse comportamento também.

● Repertório de Arte:

O seriado de televisão coreano Extraordinary Attorney Woo (em Português, Uma


Advogada Extraordinária) mostra a vida de uma advogada de vinte e sete anos inserida no
espectro autista, condição que afeta sua capacidade de interagir com o mundo e de
percebê-lo. A personagem, que se encontra no ambiente jurídico, é subestimada a todo
momento devido à sua deficiência e se coloca à prova de uma forma diferente a cada
episódio. O seriado mostra os desafios da mulher na convivência no ambiente de trabalho e

55
traz ao espectador um ponto de vista diferente do neurotípico, já que a série é narrada a
partir do ponto de vista da personagem.

● Repertório do Direito:

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 assegura que “Todos são iguais


perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade.” Dessa forma, esse artigo mostra que todos os
cidadãos são iguais perante a lei, ou seja, não devem ser tratados de maneira distinta uns
dos outros. No entanto, pessoas com deficiência são excluídas, muitas vezes, por causa
dos pensamentos retrógrados do senso comum de que elas são um problema para a
sociedade (um “peso”), incapazes de executar muitas tarefas e excessivamente
dependentes dos outros em seu dia a dia. Por isso, a fim de assegurar o direito
constitucional, essas pessoas devem ser incluídas em todos os meios, e quem promove a
exclusão e a marginalização desse grupo social deve ser punido de maneira eficiente e
justa.

56
21. Gordofobia, padrões de beleza das redes sociais e
dismorfia corporal
Desigualdades, minorias e intolerâncias

Abisague Medeiros, Ariânia Batista e Letícia Lima


301
● Repertório de Arte:
A)
O filme Megarromântico (2019), da plataforma digital de streaming Netflix, é uma
sátira que conta a história de Natalie, uma arquiteta desprezada em seu trabalho e cínica em
relação ao amor, não acreditando em romances e em finais felizes. Natalie cresceu assistindo
a comédias românticas estreladas por atrizes magras, consideradas bonitas, e com a sua mãe
dizendo que aquele tipo de amor não existia para pessoas “imperfeitas” como elas, fazendo
com que sua autoestima ficasse baixa. Já adulta, Natalie sofre um golpe na cabeça e acorda
em um universo paralelo em que ela interpreta a protagonista de uma comédia romântica.
Em sua jornada, Natalie descobrirá que não é o amor dos outros por ela que importa, e sim o
seu amor próprio.

B)
No livro A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões (2019), da autora Louise O’Neill,
publicado pela editora Darkside, a protagonista Gaia é uma sereia, filha do Rei dos Mares,
que vive em um mundo subaquático extremamente machista e severo, cujo reino está
firmado com base nas aparências e na beleza. Neste universo, todos aqueles –

57
principalmente as mulheres – que não estiverem dentro do padrão de beleza considerado
“aceitável” pelo Rei dos Mares serão banidos para um lugar chamado Longemar, para
viverem em miséria e em pobreza. As sereias que são aceitas no reino não devem comer
mais que duas garfadas em suas refeições, não importando se continuam com fome, para
que não haja riscos de elas ganharem peso e serem consideradas “anormais”. Para
completar, essas sereias devem sempre estar em sua melhor aparência, com caudas
enfeitadas (com pérolas costuradas a estas, por exemplo) e nenhum fio de cabelo fora do
lugar. Afinal, de que outra forma poderiam ser admiradas pelos tritões? Apesar de esta obra
não ter como principal assunto a dismorfia corporal, ela também trata sobre o tema,
acrescido ao fato de essa pressão estar sempre mais associada às mulheres.

● Repertório da Mídia/Atualidades:
Um repertório da atualidade que poderia ser utilizado é o quadro do Instagram “Isso
é estiloso? Ou só é estiloso porque ela é magra?”, da influencer Amanda Pieroni, no qual se
reproduz o look de famosas, como Ariana Grande e Kendall Jenner. Em seus reels, a dona do
perfil da rede social veste e analisa o visual levando em consideração se as roupas deformam
ou não o corpo e se a roupa em questão só fica bem em pessoas magras. O objetivo do
quadro é demonstrar a facilidade com que roupas que servem apenas para corpos padrões
são aceitas, mesmo quando isso resulta na exclusão de outros tipos de corpos. O quadro
também evidencia a tendência das pessoas em seguirem influencers apenas se estes
possuírem corpos magros e considerados o padrão de beleza a ser seguido.

● Repertório das Ciências Humanas:

Durante o Renascimento, o teocentrismo medieval deu lugar ao antropocentrismo


renascentista, com a chegada da Idade Moderna. O renascimento artístico incluiu a evolução
da pintura, da escultura, da arquitetura e da literatura, valorizando os aspectos do ser
humano e da natureza. Os artistas do Renascimento buscavam o equilíbrio das formas e a
harmonia. Uma das principais figuras desse período foi Leonardo da Vinci e, entre as suas
principais obras, destaca-se o desenho do “Homem Vitruviano”, que representa o ideal
clássico do equilíbrio, da beleza, da harmonia e da perfeição das proporções do corpo
humano, ilustrando um corpo extremamente esculpido e musculoso. A obra também mostra
o conceito da chamada “proporção divina”, sendo baseada em figuras geométricas perfeitas
e em equações matemáticas. O padrão de beleza retratado na ilustração ainda é muito
imposto atualmente e, com o avanço da internet, as redes sociais, com seus recursos de
edição de imagem, viraram o espaço “perfeito” para a disseminação e para a imposição cruel
dos padrões de aparência e de corpos ideais. Essa beleza inalcançável vem impactando a
saúde mental e física dos usuários das redes, causando, por exemplo, isolamento social,
depressão e ansiedade, distúrbios relacionados à autoimagem, desenvolvimento de
transtornos alimentares, além do fomento a preconceitos como a gordofobia.

58
22. Preconceito linguístico
Desigualdades, minorias e intolerâncias

Amanda Carvalho Ribeiro, Ester Cristina Tadim e Silva e Maria Letícia Oliveira
302
● Repertório de Arte:
A série do universo Marvel Luke Cage, originalmente transmitida pela Netflix em
2016 e atualmente encontrada no catálogo da plataforma de streaming Disney+, retrata um
ex-condenado com força sobre-humana e pele impenetrável que agora combate o crime.
Luke fala um inglês um pouco diferente, o chamado “Black English”, que é apenas uma
variedade da língua, mas, mesmo assim, sofre preconceito por falar dessa maneira.
A obra, além de explorar temas como a raça, a política e o movimento Black Lives
Matter, ilustra como o preconceito linguístico da sociedade é voltado a grupos
marginalizados, que já enfrentam outros tipos de preconceito. Também reflete como não são
as ações boas e significativas das pessoas que farão com que elas deixem de sofrer com esse
tipo de julgamento simplesmente por falarem uma variedade linguística distinta.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

59
Segundo a notícia “Cantora de Parelheiros interpreta funk e rap em Libras”, publicada
pelo Terra, em 2022, enquanto assistia ao videoclipe "Vitória chegou”, de MC Lipi, a cantora
Nzambiapongo Brito, filha de deficientes auditivos, foi questionada por sua mãe sobre o que
o cantor estava tratando durante a música. Após interpretar a música para seus pais, a
cantora começou a compartilhar interpretações dos ritmos periféricos em suas redes sociais,
ganhando um público cada vez maior. Foi através do sucesso digital que ela passou a
trabalhar como intérprete de Libras em diversos eventos, mas o foco de suas redes sociais
continuou sendo o funk e o rap, estilos musicais que são esquecidos nas diversas traduções.
Além disso, na reportagem, Nzambi conta que o preconceito linguístico com o dialeto
periférico acontece até mesmo dentro dos centros de ensino e que uma professora já a
questionou sobre seu diploma pela dificuldade de se comunicar com ela, ressaltando que,
assim como existem variações das línguas orais, também existem nas línguas de sinais.
Situações como a enfrentada por Nzambiapongo são exemplos do preconceito linguístico
presente na sociedade brasileira; nesse caso, o preconceito era proveniente da variação
sociocultural, mas também pode ter origem histórica, regional ou estilística.

● Repertório estatístico:

De acordo com dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o Ensino Médio e
17,4% têm o Ensino Superior completo. Esses números evidenciam que a educação no Brasil
não é democrática e que, portanto, exigir que toda a população tenha conhecimento e
domínio da norma-padrão da Língua Portuguesa é extremamente segregador, por
desconsiderar todo contexto de desigualdade e de exclusão que atinge diversos grupos
sociais.

60
23. Bullying e cyberbullying
Desigualdades, minorias e intolerâncias

Jean Berly, Gustavo Rangel e Gabriel Moreira


303
● Repertório estatístico:
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021
mostraram que a prática do bullying ainda é uma forte realidade no Brasil. Conforme o
levantamento, aproximadamente 23% dos estudantes contaram ter sido vítimas da prática,
sendo alvo de provocações feitas por colegas.
Esses dados podem ser utilizados na introdução para exemplificar o quão importante
é abordar o tema do bullying, ao demonstrar a sua presença no cotidiano, já que ele afeta
23% dos estudantes no Brasil. Outra opção seria utilizar esses dados nos parágrafos de
desenvolvimento ao trazê-los como comprovação do raciocínio ou mesmo como ponto de
partida de um argumento. Caso o repertório seja usado na introdução ou no
desenvolvimento, também é possível retomá-lo na proposta de intervenção para justificar
alguma ação e/ou medida a ser tomada em escolas.

61
● Repertório das Ciências Humanas:

No livro Educação, docência e ética, Mário Sérgio Cortella escreve:

O valentão sempre existiu. A única maneira de conter o valentão que a


sociedade encontrou na História foi fortalecer as instituições que não
admitem que essa figura tenha lugar. Freud chamava isso de civilização.
Como é possível impedir que a regra seja a vitória do mais forte? Só a
civilização bloqueia isso. Instituições — como a família, a escola, o
Judiciário — que não admitam que aquele que usa o seu poder da força
seja vitorioso. Há 50 anos ou há mil anos o valentão já existia, talvez daqui
a mil ele ainda vá existir. Qual a diferença? O valentão era admirado, ele
passa a não sê-lo mais. Essa perda da admiração tem de ser incentivada
pela família e pela escola. Eu não posso admirar o que é incorreto, o que é
malévolo, aquilo que ameaça a integridade da vida coletiva e da
comunidade.

Esse trecho evidencia que o bullying existe há muito mais tempo do que seu nome e
aponta também que a única forma de contê-lo é com o apoio de instituições, como família,
escola e o próprio Poder Judiciário, fazendo com que o agressor perca cada vez mais a
admiração dos outros e com que se impeça que ele saia vitorioso nesse tipo de atitude. O
repertório extraído do livro do ex-Secretário Municipal de Educação de São Paulo pode ser
usado em um possível parágrafo de desenvolvimento, para embasar argumentos como “não
culpe o agressor, culpe o sistema”, ou no fechamento do parágrafo, como um gancho para a
proposta de intervenção.

● Repertório do Direito:

O Projeto de Lei (PL) 2699/2021, o PL Lucas Santos, “dispõe sobre a criminalização da


prática de haters na rede mundial de computadores e dá outras providências” e foi criado
com nome em alusão ao garoto que se suicidou após sofrer ataques homofóbicos na rede
social TikTok por causa de um vídeo no qual ele estava fazendo uma brincadeira afetiva com
um amigo. Esse PL é reflexo do reconhecimento de que o cyberbullying é um problema tão
grave quanto o bullying, já que ele pode ampliar as agressões para os meios digitais, o que
agravaria a situação, especialmente por trazer uma certa anonimidade para seus praticantes
e maximizá-los.
Tal PL pode ser usado na introdução da redação para apontar a necessidade de
combater o cyberbullying e para mostrar a atualidade do tema. Outra maneira de utilizá-lo
seria nos parágrafos de desenvolvimento para comprovar a afirmação apresentada no tópico
frasal, ao trazer uma exemplificação de um caso recente que ocorreu.

62
63

24. A importância da preservação e do fortalecimento


da democracia no Brasil e no mundo
Cidadania e participação política

Deborah Kahey, Leticia Rosa, Pedro Henrique Durães


303
● Repertório das Ciências Humanas:
“Diretas Já” foi um movimento popular, ocorrido entre 1983 e 1984, que defendia a
aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional 05/1983, proposta pelo
deputado federal Dante de Oliveira (PMDB/MS) para a realização de eleições presidenciais
diretas em 1985. Foi um movimento que reuniu diversas lideranças políticas, artistas,
intelectuais e que realizou diversos comícios em várias capitais brasileiras. Era a primeira vez
desde 1968 que a população se mobilizava para ir às ruas se manifestar. O contexto histórico
foi o final da Ditadura Militar, em um movimento de abertura política iniciado no Governo
Ernesto Geisel (1974-1979). Esse movimento deixa clara a importância da democracia e da
sua construção, além de evidenciar a relevância da participação popular.
Utilizando essa alusão histórica, é possível discutir a perturbação do processo
democrático e a ameaça persistente contra sua existência no Brasil e em outros países, no
passado e no presente. A partir disso, pode-se, assim, defender a importância da
preservação do regime político democrático no contexto atual.

● Repertório de Arte:

64
O filme Depois da Chuva aborda e retrata um momento em especial na história do
Brasil, mais especificamente os meses finais do regime autoritário militar e a volta das
eleições diretas na década de 1980. No filme, muitas pessoas comemoravam a vitória da
democracia, enquanto outras questionavam os candidatos presentes nas eleições e a efetiva
transformação da sociedade. O filme baiano está inserido nesse clima de ressaca e de
desconfiança quanto ao futuro do país. Dentro dessa realidade, a produção audiovisual
aborda a trama de um adolescente que luta contra a autoridade na casa e na escola. O
anarquista Caio terá um ano especial, já que, além de estar em um ano de transição,
conhecimento e aprendizagem, também conhece Fernanda, seu primeiro amor. Dessa forma,
o destino reserva surpresas, tanto para Caio, quanto para o país.
O repertório artístico é ótimo para ser inserido na introdução de uma redação cujo
tema esteja relacionado à cidadania e à participação política, já que o filme faz uma
referência a um movimento de resistência em prol da manutenção da democracia, em
especial, no contexto brasileiro.

● Repertório estatístico:

A)
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56% da
população brasileira é negra e 52% é composta por mulheres. Em contraponto, na Câmara
dos Deputados, 75% dos deputados são brancos, enquanto no Congresso Nacional somente
17,8% dos parlamentares são negros e 15% são mulheres. Esses dados mostram que,
mesmo mulheres e negros sendo maioria em números no país, são minoria na atuação
política. Sendo assim, deve-se fortalecer a democracia brasileira com uma maior
representatividade racial e de gênero.

B)
Uma pesquisa do Datafolha, realizada em 2017, apresentou que 38% dos brasileiros
são indiferentes caso o governo seja democrático ou ditatorial, além de acreditarem que a
ditadura é melhor do que a democracia, a depender da circunstância. Esse dado mostra o
quanto o reconhecimento da importância da democracia vem sendo deixado de lado e
necessita ser fortalecido.

● Repertório do Direito:

O artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 diz:

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;

65
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Esse artigo trata dos fundamentos que buscam o bem-estar do Estado Democrático
de Direito, pautando as leis e a política do país na democracia. A lei evidencia que os pilares
democráticos não devem ser desrespeitados e preserva (ou deveria preservar) a democracia
brasileira. Sendo assim, o uso do texto da Constituição torna-se relevante e pertinente para
o tema da importância do fortalecimento da democracia no Brasil.
66

25. Novas tendências de participação política:


militância virtual, participação juvenil e de
movimentos sociais de grupos minoritários
Cidadania e participação política

Laisa Giullia, Lucas Domingues, Luisa Viana e Paulo Marazzi


301
● Repertório das Ciências Humanas:
A)
A Primavera Árabe de 2011 foi uma onda de protestos e manifestações
revolucionárias que ocorreu no Oriente Médio e no Norte da África, derrubando uma série
de governos ditatoriais que perduravam desde a independência desses países por seus
colonizadores europeus. O estopim para a primavera foi a viralização, no Facebook, do vídeo
de um comerciante tunisiano ateando fogo ao próprio corpo, após ter suas frutas saqueadas
pelo regime, o que iniciou a onda de reivindicações, em grande parte lideradas pelos mais
jovens, que derrubaram o governo da Tunísia. Dessa forma, a Primavera Árabe pode ser um
repertório histórico muito útil para temas relacionados à participação juvenil e à militância
virtual, sendo utilizado como exemplo do poder que tais formas de organização apresentam,

67
pois foi um dos precursores do estilo contemporâneo de se protestar, com reverberações até
no Brasil, no caso dos protestos de 2013.

B)
Em junho de 2013, a prefeitura de São Paulo anunciou um aumento de 20 centavos
na tarifa dos meios de transporte público, o que iniciou uma série de protestos contra o
aumento, inicialmente locais, dentro de São Paulo, mas que, após ganharem repercussão na
mídia e viralizarem nas redes sociais – sobretudo no Facebook –, ganharam projeção
nacional, levando milhões de brasileiros às ruas pela primeira vez desde as manifestações do
“Fora Collor”. Considerando que a mobilização foi fortemente impulsionada pelas mídias
digitais, que também auxiliaram na divulgação e na organização dos protestos, além da
expressiva participação juvenil, que liderou e marcou presença nas ruas, os movimentos que
surgiram em junho de 2013, tais como o Movimento Passe Livre (MPL) e o Vem Pra Rua, são
exemplos válidos do impacto que a militância digital e juvenil pode apresentar quando
mobilizada. Portanto, o uso das Jornadas de Junho de 2013 na redação é interessante para o
enriquecimento da argumentação com base em exemplos práticos e que foram impactantes,
devido ao fato de poder ser facilmente utilizado de maneira produtiva.

● Repertório de Arte:

O livro Vermelho, branco e sangue azul, escrito pela estadunidense Casey McQuiston,
conta a história de Alex Claremont-Diaz, filho da presidenta dos Estados Unidos da América.
Ele é um jovem de 23 anos que almeja seguir na carreira política devido à influência de seus
pais. Em uma das cenas do livro, há uma grande manifestação organizada por jovens contra a
invasão de privacidade após Alex ter suas informações íntimas vazadas por um partido
oposto ao de sua mãe. É possível usar esse repertório para falar sobre a participação dos
jovens na política, já que ele pode funcionar na construção de uma analogia quanto às
pessoas que também desejam participar desse campo, mas, diferentemente do personagem
principal, não possuem influência e incentivo. Além disso, o repertório pode ser usado como
contra-argumentação à afirmação de que a juventude não quer participar da política, já que
o estudante pode escrever sua introdução dizendo que, similarmente àquela realidade
fictícia, jovens também participam de manifestações para a manutenção de seus direitos e se
engajam diretamente na política.

● Repertório do Direito:

A)
O Parlamento Jovem Brasileiro (PJB) oferece a estudantes do Ensino Médio de todo o
país a oportunidade de simular o papel dos deputados federais no Poder Legislativo. Os
jovens, após seletiva feita pelas Secretarias de Educação Estaduais (SEEs), tomam posse
como deputados jovens por um período de cinco dias na Câmara dos Deputados, em

68
Brasília. O programa une adolescentes de diferentes culturas, gêneros, etnias, crenças e
realidades sociais, com todas as despesas custeadas pela Câmara. O programa busca
incentivar habilidades de debate, de argumentação, de articulação política, de valorização
do consenso e busca do bem comum por meio da elaboração de uma proposta legislativa.
O Parlamento Jovem Brasileiro é, ainda, uma ferramenta pedagógica, pois tem início
nas escolas, as quais dão lugar a discussões acerca de diversos temas, como política,
cidadania e participação popular. As reflexões propostas neste processo estimulam os
estudantes do Ensino Médio a compreender melhor as realidades nas quais estão inseridos,
a buscar soluções para os problemas observados e a entender suas responsabilidades
governamentais, institucionais e cidadãs.
O Parlamento Jovem Brasileiro, criado e regulamentado pela Resolução nº 12/2003 e
pelo Ato da Mesa nº 49/2004 da Câmara dos Deputados, pode ser citado na introdução da
redação do ENEM para exemplificar uma iniciativa de educação política que promove a
participação juvenil em posições de liderança do processo legislativo. Além disso, é possível
destacar que este programa estimula o ativismo político e que, por meio da expressão de
posicionamentos e da promoção de discussões acerca de temas de relevância, os
participantes influenciam o engajamento juvenil na política.

B)
A Emenda Constitucional (EC) nº 97/2017 definiu que, a partir do ano de 2020, seria
vedada a celebração de coligações nas eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados,
para a Câmara Legislativa, para as assembleias legislativas e para as câmaras municipais. Essa
alteração teve impacto no ato do pedido de registro de candidaturas à Justiça Eleitoral, visto
que, com o fim das coligações, cada partido passou a, individualmente, indicar seus
candidatos. Além disso, outro importante reflexo da mudança foi a definição de que, para
concorrer no pleito, cada partido deveria indicar o mínimo de 30% de mulheres filiadas.
Antes da promulgação da emenda, a Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições) previa, em
seu parágrafo 3º do artigo 10º, que todo partido político ou coligação eleitoral deveria
apresentar no mínimo 30% e no máximo 70% de candidaturas do mesmo sexo. Após a EC nº
97/2017, a indicação de mulheres para participar das eleições passou a ser feita pelo
partido, e não por coligações; dessa forma, a mudança teve impacto no fomento à
participação feminina na política.
Com isso, essa EC pode ser utilizada como repertório em redações que discutam o
envolvimento de minorias na política. A medida pode ser citada no parágrafo de introdução,
para iniciar e/ou contextualizar o tema do texto, ou pode ser abordada no desenvolvimento,
como um exemplo de providência que tem como consequência maior participação de grupos
minoritários na política. Após essa exemplificação, é possível propor ou discutir outras ações
que tenham o mesmo objetivo.

69
26. Despolitização, polarização e crescimento de
grupos conservadores e extremistas: faces
contemporâneas da política
Cidadania e participação política

Bernardo Vale dos Santos Bento e Daniel de Miranda Almeida


303
● Repertório do Direito:
O artigo 1° da Constituição de 1988, em seu parágrafo único, diz que “Todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição”, enquanto o artigo 14 fala que “A soberania popular será exercida
pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos
termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular”. Recentemente,
há uma onda de crescimento de movimentos conservadores e extremistas no Brasil e no
mundo, que clamam pela volta da ditadura militar e por leis que, por vezes, ferem os direitos
humanos. Tais ações sociais vão contra a Constituição federal e o que diz

70
respeito ao Estado Democrático de Direito, dado o fato de que desrespeitam conceitos
básicos da democracia e direitos humanos universais.

● Repertório de Arte:

O vídeo Why a US election in Georgia matters so much, do canal do Youtube Vox,


aborda a importância do estado da Georgia para a governabilidade dos Estados Unidos no
contexto do atraso na contagem de votos da última eleição. Como base de argumentação, o
vídeo trata da polarização política e mostra que, por diversas vezes, tanto em governos
democratas quanto republicanos, o partido de oposição sempre votava contra a política do
governo vigente. Mais tarde, no vídeo, ainda é mostrado um infográfico que descreve o
avanço da divisão no cenário político norte-americano, em que cada vez mais deputados e
senadores votam única e exclusivamente com o partido e não por seus próprios ideais. Esse
fenômeno não é exclusivo dos Estados Unidos e ocorre, inclusive, no Brasil e no mundo,
sendo fortemente marcado pelo fim da era Merkel na Alemanha, uma das maiores líderes
verdadeiramente de centro na história.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

A notícia “Confiança da população nas instituições e nos três poderes cai”, da Folha
de Pernambuco, traz dados de uma pesquisa do Datafolha conduzida em 2021 em
comparação com os de uma pesquisa similar feita em 2019 sobre a confiança da população
nas instituições públicas e nas diferentes mídias. A reportagem traz números importantes
relacionados à despolitização da população brasileira, que vem aumentando ao longo do
tempo e atingindo, em diversos casos, uma desconfiança da sociedade igual ou maior do que
cinquenta por cento em relação a instituições ou a mídias como a Presidência (50%), os
partidos políticos (61%), as agremiações (61%) e as redes sociais (53%). A argumentação
pode ser feita a partir das estatísticas que anunciam o fato de que as pessoas confiam cada
vez menos no Poder Público e na sociedade organizada como um todo, o que leva ou à
polarização, pela desconfiança canalizada no outro, ou ao desinteresse da população com a
política, pela desconfiança canalizada no todo.

71
72

27. A importância da família na educação dos filhos


Família e grupos etários

Joyce Emanuelle, Laura Anne e Miguel Santana


302
● Repertório das Ciências Humanas:
Para Émile Durkheim, famoso sociólogo francês, a educação é uma maneira de
contribuir com a sociedade, pois, mais do que seu aspecto formador, ela apresenta o ser
humano como seu produto. Dentre as instâncias educativas, a família, como mecanismo de
socialização primária, exerceria a função de formar um indivíduo que compreendesse certas
normas e princípios do meio em que vive para que, assim, houvesse a correta manutenção
da sociedade. Diante disso, o papel dos pais na educação de seus filhos é de extrema
importância, visto que são responsáveis por desenvolver na criança estados morais
requeridos pela sociedade, que são essenciais para a socialização.

● Repertório de Arte:

O filme Capitão Fantástico mostra a reintegração de uma família na sociedade


americana após muitos anos isolada em uma floresta. Os pais Ben Cash e Leslie, desiludidos
com a sociedade, decidem se isolar e viver em uma floresta no estado de Washington,
criando e educando sozinhos os seus seis filhos de uma maneira não tradicional, incluindo
práticas de sobrevivência na selva e rotinas duras de exercícios físicos, além de debates, de

73
leituras de livros de ciências, de linguística, de filosofia, entre outros. Quando eles são
forçados a voltar para a sociedade, pode-se perceber diferenças entre os filhos de Ben e as
outras crianças. Embora eles tenham grandes conhecimentos sobre natureza e sejam
extremamente inteligentes devido às leituras e aos debates em família, Bo, Vespyr, Kielyr,
Rellian, Zaja e Nai não possuem as habilidades necessárias para o pleno convívio social.
Na redação padrão ENEM, pode-se usar o filme para discutir como a família é
fundamental para que os filhos sejam educados dentro do contexto em que vivem, ou seja,
como os ensinamentos dentro de casa são fundamentais para o desenvolvimento e preparo
das crianças para lidar com situações que são inerentes a suas vivências familiares
particulares, mas também para pontuar que a educação escolar deve ser simultânea, pois
várias habilidades, inclusive o convívio social, são desenvolvidas principalmente dentro dos
ambientes escolares.

● Repertório do Direito:

A Lei nº 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente, dispõe, no Artigo 53, que


“a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Sob esse viés,
assegura-se que a família possui uma função de suma importância na formação do caráter e
da personalidade dos jovens, assim como na construção de cidadãos independentes, críticos
e livres. A família, considerada a base da sociedade, tem um papel fundamental na vida
educacional de suas crianças, pois deve acompanhar a aprendizagem dos conteúdos
escolares e o desempenho delas em sala de aula. Dessa forma, é dever dos familiares
proporcionarem a educação escolar ao longo das vidas dos mais jovens para que estes
possam exercer plenamente seus direitos de cidadania e assumir responsabilidades sociais.

● Repertório da Mídia/de Atualidades:

A)
O Pacto Educativo Global, lançado em 15 de outubro de 2020, é um chamado do
Papa Francisco para que as pessoas, instituições e governos mundiais priorizem uma
educação humanizada, solidária e libertadora. As diretrizes desse Pacto são: colocar o
indivíduo no centro de cada processo educativo, ouvir as gerações mais novas, promover a
mulher, responsabilizar a família, abrir-se à acolhida, renovar a economia e a política, cuidar
da casa comum.
Dentro do texto dissertativo-argumentativo, pode-se utilizar essa notícia para
exemplificar esforços mundiais para que a família seja inserida e engajada na educação das
crianças. Também é possível usar um ditado popular que foi citado pelo Papa no lançamento
do Pacto, que é “Para educar uma criança, é necessária uma aldeia inteira”, reforçando o
argumento de que a instituição familiar é fundamental para que a educação seja plena, mas
que é imprescindível o apoio de todas as instâncias da sociedade.

74
B)
No artigo “A importância da parceria da família e da escola na educação infantil”, de
Cristiane Rosana da Silva, é discutido como a educação das crianças é positivamente
influenciada quando a família e a escola estão simultaneamente presentes. No texto ENEM,
pode-se utilizar esse texto para reforçar argumentos de participação da família no convívio
escolar, importância de ambas as instituições, diferenças do tipo de educação que cada uma
oferece, problemas causados no processo educacional de crianças com pais ausentes, etc.
75
28. Novos modelos de família: o respeito à pluralidade
familiar
Família e grupos etários

Gabriel Rodrigues Pereira, Bernardo Tavares e Wesley Figueiredo


303
● Repertório das Ciências Humanas:
O conceito do que define uma família pode variar dependendo de perspectivas
pessoais. Quem se denomina mais conservador e se coloca contra a agenda progressista
pode acabar por defender uma visão mais tradicionalista, em que o grupo familiar seria
composto por um pai, homem cisgênero e heterossexual, o qual seria o provedor da família,
acompanhado de uma mãe, mulher cisgênero e heterossexual, que cuidaria da casa e dos
possíveis filhos, além dos próprios filhos. Porém, uma ferramenta que permite definir de
maneira mais atualizada o significado das palavras são os dicionários e, de acordo com a
maioria deles, como o Michaelis, uma das definições de família é: “Pessoas do mesmo
sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção”. Esse significado
permite identificar outros modelos de família, como casais homoafetivos, que possuem
união estável ou casamento, relações homoparentais, nas quais uma criança é adotada por
uma ou mais pessoas que se consideram homossexuais, família monoparentais ou
reconstituídas, etc.

76
● Repertório do Direito:

A família é o primeiro grupo social de uma pessoa, daí sua inegável importância para
a sociedade. É por ela que o carinho, afeto e compreensão chegam a cada membro. É a
partir dela que se busca a realização de sonhos. A Constituição de 1988 incluiu, pela primeira
vez, novos elementos para o Direito da Família, abrangendo, em seu conceito, outras formas
possíveis a esse núcleo social. Embora sempre existissem, essas outras configurações
familiares eram ignoradas no mundo do Direito. A Constituição de 1988 foi um grande salto
no conceito em questão e nas garantias aos direitos de diversos tipos de famílias. Entretanto,
foi o Código Civil de 2002, em um outro momento, que promoveu diversas modificações que
se faziam necessárias, além de incluir arranjos de leis especiais a fim de que fossem
regulamentadas as normas descritas na Carta Magna.

● Repertório estatístico:

Através do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, constatou-se que, do


total de 49 milhões de famílias brasileiras então existentes, apenas 54,8% delas
organizavam-se no formato de casal com filhos. No Censo realizado pela mesma instituição
em 2000, esse percentual era de 63,6%, mostrando uma diminuição de quase 9% em um
espaço de 10 anos.
Vale destacar que o IBGE define como família um “conjunto de duas ou mais pessoas
ligadas por laços de parentesco, consanguinidade ou adoção na unidade doméstica,
residente em domicílios particulares”, abrangendo também, por exemplo, casais
homoafetivos que dividem o mesmo domicílio. Tendo em vista esses dados estatísticos
supracitados, nota-se uma tendência no Brasil de fuga da organização familiar tradicional de
casal com filhos e, portanto, um aumento no número de famílias compostas por cônjuges
sem filhos e por mães ou pais solteiros.
Dessa forma, considerando essa crescente do número de famílias que estão fora do
padrão familiar tradicionalmente estabelecido, torna-se cada vez mais essencial que esses
novos modelos de família sejam reconhecidos e respeitados pela sociedade.

77
29. Abandono parental e alienação
parental Família e grupos etários
Rodrigo Félix, Renan Felipe e Pedro Couto
304
● Repertório estatístico:
Dados do Censo Escolar feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013
apontam que 5,5 milhões de crianças não possuem o nome do pai na certidão de
nascimento. A falta da figura paterna pode acarretar diversos problemas ao indivíduo
durante sua vida. Essa ausência pode ser um facilitador para transtornos psicológicos, como
depressão e ansiedade, além de comprometer os relacionamentos interpessoais, tanto na
escola quanto na vida profissional. Esses dados mostram que o abandono parental é uma
questão a ser superada, já que aparentemente há uma falha em conscientizar uma parcela
dos homens em relação a essa postura, pois, se não houver espaço para discussão desses
temas, torna-se recorrente tal ação.

● Repertório de Arte:

No longa-metragem Central do Brasil (1998), é contada a história de Josué, um


menino que foi abandonado por seu pai e viu sua mãe falecer em um acidente de ônibus. A
trama se desenrola na aventura do garoto e de Dora, uma professora que busca encontrar o
pai de Josué. Durante o filme, percebe-se que o personagem possui traumas pela morte de

78
sua mãe e medo de estar só e ser abandonado por sua nova companhia, fato dado pela
ausência de seu pai, Jesus, um homem que tem a reputação de alcoólatra. Acompanhando o
enredo, nota-se que Josué não teve uma infância normal, uma vez que nunca o vemos
brincar e nem conversar com outras crianças, resumindo seu lazer e diversão apenas a seu
pião, brinquedo que utiliza sozinho, sem a companhia de qualquer amigo ou pessoa com
quem se sentisse seguro de compartilhar seus momentos. Todos esses sinais de insegurança,
falta de confiança e dificuldade de interação social podem ser citados como consequências
do abandono parental na vida de uma criança.

● Repertório das Ciências Humanas:


“A influência parental, naturalmente, inclui em sua operação não somente a
personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições raciais e nacionais por
eles transmitidas, bem como as exigências do ambiente social imediato que representam” ,
citação escrita pelo famoso neurologista e pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Dessa forma,
quando se pensa em alienação parental, os pais - e a família no geral - devem ter muita
responsabilidade para cuidar dessa relação tão complicada que é a guarda compartilhada,
por exemplo. Para Freud, durante a longa infância em que a criança vive na dependência, os
pais deixam nela como "herança" toda a influência parental.

79
30. Etarismo/ageísmo: o preconceito com o
envelhecer
Família e grupos etários

Daniel Henrique, Julia Gabrielle e Carlos Eduardo


305
● Repertório estatístico:

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018,


15% da população brasileira tem mais de 60 anos de idade. Os mesmos dados apontam que,
em 2031, o país será formado por mais idosos do que crianças.
Esses dados podem ser usados para mostrar o perigo maior que o etarismo ou
ageísmo, o preconceito devido à idade, representa a cada dia que passa, portanto deve ser
mais discutido em sociedade. O etarismo pode causar à vítima diversos problemas à saúde
mental, dentre eles baixa autoestima, tendências ao isolamento e à depressão. Com esses
dados do IBGE, é possível concluir que, se o etarismo não for combatido com as medidas
certas, cada vez mais pessoas da população serão afetadas.
Esses dados do IBGE também podem se relacionar com uma grande pressão social
existente, uma vez que muitas pessoas se preocupam demasiadamente com a estética,
gastando bastante dinheiro só para ficarem bonitas e jovens. Ou seja, podemos usar esses
dados para explicar outro problema do etarismo, que é o medo de envelhecer, que gera um

80

Você também pode gostar