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02/12/2021 14:10 O desmonte das universidades públicas no Brasil | Revista Movimento

O desmonte das universidades públicas no Brasil


O desmonte da universidade pública faz parte de projeto que representa a destruição de grande parte do serviço
público oferecido pelo Estado.
MARIA ANGÉLICA COUTINHO
12 JAN 2021, 16:20

O desmonte da universidade pública brasileira faz parte de um projeto maior que, na


verdade, representa a destruição de grande parte do serviço público oferecido pelo Estado e
que foram resultantes de séculos de lutas dos trabalhadores. São direitos conquistados com
sangue, suor e muita lágrima de trabalhadoras e trabalhadores que deram grande parte de
sua vida para garantia de melhores condições de vida para o proletariado.

A quem interessa tal desmonte? A quem interessa excluir grande parcela da população mais
pobre de nossa sociedade do processo educacional? Com certeza não interessa aos
trabalhadores… Mas, sim, às grandes empresas multinacionais ligadas à educação, mas
também àquelas cujos produtos direta ou indiretamente estão vinculados ao processo
educativo, como as telecomunicações, para citar a que está em evidência atualmente. Aqui se
evidencia uma face muito sórdida da luta de classes!

O Brasil resiste ao projeto de privatização da educação pública, em especial do ensino


superior, que é aqui o nosso foco, pois ainda mantem uma grande rede pública de instituições
de ensino superior, que envolvem as universidades e os institutos federais. As universidades
são, assim, uma parte desse grande processo de desmonte do Estado brasileiro.

Alguns fatores contribuem para essa destruição, que vou elencar a seguir.

Um dos projetos mais antigos que afetam, a meu ver, profundamente a qualidade da
atividade educativa é o ensino à distância. A Educação à distância – EAD – tem sido
apresentada como sendo a solução para a inclusão social, sobretudo nas regiões periféricas
do capitalismo, onde a pobreza dificulta o acesso à educação presencial, na perspectiva de
organismos financeiros internacionais como o Banco Mundial, entre outros. E essa é a
principal justificativa para a implantação e desenvolvimento da EAD na educação, sobretudo,
no ensino superior. O uso da tecnologia como ferramenta auxiliar no processo educativo é
mais do que bem-vinda. Mas, a substituição das aulas presenciais por aulas gravadas, que é o
que vem acontecendo muitas vezes, ou a formalização do ensino à distância é totalmente
condenável.

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A implantação da EAD como projeto de política neoliberal encontrou um terreno fértil e


muito propício durante essa pandemia, e se combinado com a reforma administrativa, tal
projeto complementa a destruição do ensino superior público, uma proposta antiga do
grande capital.

Muitos dispositivos legais vêm se sucedendo, paulatinamente, para garantir cada vez mais
espaço para o ensino à distância nos cursos presenciais, tanto em universidades públicas
quanto nas instituições privadas de ensino, que por sinal, estas cada vez mais se constroem a
partir dos cursos à distância. O decreto 5622 de 2005 regulamentou o artigo 80 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) sobre a oferta de disciplina à distância
tanto para a educação básica quanto para o ensino superior.

Em 2017, o decreto 9057 reformulou a LDBEN em vigor, admitindo o teor do decreto de 2005,
confirmando a possibilidade de oferta do ensino à distância para todas as modalidades e
etapas da educação, exceto à faixa etária abaixo dos 6 anos de idade, e restringindo a
aplicação no Ensino Fundamental ao que foi denominada de situações  emergenciais, como
motivo de saúde, transferências compulsórias para regiões de difícil acesso ou em situação de
privação de liberdade, para citar os casos mais importantes.

A reforma administrativa é um outro elemento que contribui sobremaneira para a


precarização do serviço público, e para a universidade pública foco de nosso debate.

Na educação superior pública a combinação desses dois ataques que estamos sofrendo – a
reforma e o ensino/trabalho remoto – veremos que esse é um ataque desastroso às
universidades públicas. E, se analisarmos à luz da reformada previdência já aprovada,
veremos o tamanho da destruição!

A reforma administrativa ataca os servidores que ingressarão no funcionalismo ao retirar


definitivamente a já abalada estabilidade do servidor público. Tal estabilidade não pode ser
considerada como vantagem, mas sim, a garantia de que os funcionários públicos não
precisarão se submeter aos desmandos de chefias nomeadas por políticos. Os funcionários
públicos, segundo prevê o texto da reforma se encontrariam suscetíveis aos assédios e
pressões de seus superiores. A PEC vai possibilitar a criação de criação de cabides de emprego
às custas do erário pública a fim de satisfazer interesses privados. E, nessa lógica, as escolas
públicas e as universidades ficariam submetidas aos interesses dos grupos empresariais.

Os servidores atuais também sofrerão os impactos desse projeto governamental que


pretende aprofundar subcategorias no interior de uma categoria – A do funcionalismo
público – que é uma das mais organizadas e fortalecidas no embate com o projeto
conservador desse governo. Vai aprofundar porque desde a reforma de FHC, combinada com
a do governo Lula, vimos surgir subgrupos no interior de determinadas carreiras do serviço
público. Em alguns casos, poderão perder planos de carreira conquistados com muita luta

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pelas categorias. E a substituição de novos professores no lugar dos que se aposentam ficará
comprometida e a reposição dos quadros administrativos também.

O projeto FUTURE-SE, apresentado em 2019 pelo ex ministro da educação, anuncia uma


maior autonomia para as universidades públicas federais, que já gozam dessa prerrogativa. 
Tal iniciativa é a concretização de um antigo sonho do grande capital, nacional e
internacional de privatizar a educação superior no Brasil. O projeto representa a retirada de
parte do sustento financeiro garantido governo federal, que reduziria os recursos destinados
ao ensino superior, obrigando as instituições a uma busca por recursos financeiros que
possam manter seus projetos e suas atividades acadêmicas. Nesse caso assistiremos o
processo de privatização se intensificar através de convênios e apoios que se tornarão o
sustento das universidades. O projeto facilitaria ainda mais a assinatura de contratos de
parceria, além de permitir a concessão do uso de imóveis pertencentes à União à iniciativa
privada, além de poderem também vender o nome dos campi e de edifícios a patrocinadores.

Essa semana uma novíssima notícia concretizou uma ameaça que já pairava sobre a
universidade: o fim da gratuidade dos cursos de pós-graduação latu senso, através da PEC
395, permitindo a cobrança de mensalidade para essa etapa da escolaridade. Aos poucos, o
projeto neoliberal vai ganhando espaço e intensidade em seus objetivos de diminuição dos
direitos sociais.

Recentemente, os debates voltados para o ano letivo de 2021, um novo formato de aulas vem
sendo apresentado sob o título de ensino híbrido. Como o nome bem denuncia, combina o
ensino presencial com as aulas remotas. É uma maneira de o projeto neoliberal tornar
palatável a EAD. E de durante a pandemia, os governos municipais e estaduais, sobretudo,
obrigarem sorrateiramente a abertura das escolas sob sua gestão. E, quem sabe a moda se
instale.

As universidades precisam estar preparadas para os ataques que virão; os embates serão
pesados, pois o governo federal já está em plena campanha eleitoral, e o desmonte da coisa
pública é parte importante do ideário neoliberal.

Maria Angélica Coutinho é docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/ Plataforma Sindical MOVER.

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Esta é a vigésima primeira edição da Revista Movimento, dedicada aos debates em curso do VII Congresso Nacional
do PSOL. Nela encontram-se artigos de análise, polêmica e discussão programática para subsidiar os debates de
nossos camaradas em todo o país e contribuir com a batalha pela pré-candidatura de nosso companheiro Glauber
Braga à presidência da República pelo PSOL. A edição também conta com análises de importantes questões
internacionais contemporâneas e de outros temas de interesse, como os desafios da luta pelo “Fora, Bolsonaro” e as
crises hídrica e elétrica no Brasil. Num ano de 2021 ainda marcado pela tragédia da pandemia da Covid-19 e pelo

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descaso criminoso de governos em todo o mundo, lamentamos a perda de nosso grande camarada Tito Prado (1949-
2021), militante internacionalista e dirigente de Nuevo Perú. A ele dedicamos esta edição de nossa revista e, em sua
homenagem, publicamos artigos em sua memória. Boa leitura!

Autores

Bruna Porciúncula, Bruno Magalhães, Camila Souza, Dominique Vidal, Israel Dutra, Jorge Escalante, Leonardo Padura,
Marcela Durante, Michael Löwy, Mônica Seixas, Neal Meyer, Pedro Fuentes, Roberto Robaina, Salwa Ibrahim,
Secretariado Nacional do MES e Thiago Aguiar

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