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Criticar e Aprender
com o desenvolvimento
urbano sustentável
CURSO INSTRUMENTOS DE
DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL I MÓDULO 7
EDUCAÇÃO À
DISTÂNCIA
Instrumentos de
Desenvolvimento
Urbano Sustentável
CURSO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
MÓDULO 7
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento
urbano sustentável
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
GIZ NO BRASIL
Diretor Geral
Michael Rosenauer
Departamento de Estruturação do
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano
Equipe participante
Ana Luísa Oliveira da Silva
Marcella Menezes Vaz Teixeira
Thomaz Machado Teixeira Ramalho
Verena Laura Mattern
Viktoria Yasmin Carvalho de Matos
ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO E
GRAVAÇÃO DE VÍDEOS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Natalia Aurélio de Sá
Vice-reitora
Maria Arminda do Nascimento Arruda
Assistente de Dados
PROJETO GRÁFICO Júlio Santos
Lara Isa Costa Ferreira
Mariana Ribeiro Pardo Assistente de Comunicação
Ana Luiza Aun Al Makul Jessamine Santos
Mariana Byczkowski Iglecias
Designer Gráfico Júnior
Sávio Araújo
PROJETO AUDIOVISUAL
Streamax Produtora Produtor Audiovisual
Márcio Coelho Demétrio Portugal
Camila Mazzini
Ele é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério Federal da Economia e
Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte da Iniciativa Internacional para o Clima
(IKI). É implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.
ATENÇÃO!
Esse logotipo será apresentado na
apostila quando o conteúdo didático
remeter a processos e produtos
ANDUS.
Sobre o curso
A partir do projeto de cooperação técnica intitulado “Apoio à Agenda Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável no Brasil – ANDUS”, o objetivo desse curso é apoiar
as pessoas atuantes na administração pública em nível federal, estadual e municipal na
implementação de estratégias de desenvolvimento e gestão urbana sustentável, com
capacitação e difusão do conhecimento técnico e especializado. Também, pretende-
se ampliar o acesso ao tema e a processos de promoção do desenvolvimento urbano
sustentável a pesquisadoras e pesquisadores e pessoas interessadas na temática, de
modo geral.
Decorre daí o diálogo com a universidade pública, para a preparação de material didático
e informativo. As apostilas e as videoaulas foram produzidas por um conjunto de pessoas
com experiência na gestão pública e na universidade, fazendo pesquisa e aprendendo
nesse diálogo entre ensino, pesquisa e prática.
Destaca-se, ainda, que o curso é produzido por meio da articulação remota dessa rede
nacional de pesquisadoras, pesquisadores e profissionais. Ele é produto do trabalho
coletivo de uma equipe de vários profissionais, que contou com a coordenação do
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos - LABHAB da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e com a participação de mais de
25 convidadas e convidados docentes, profissionais, acadêmicos de todo o país ao longo
do curso.
Por fim, convidamos para que desfrutem do seu conteúdo e usufruam de suas
ferramentas, explorando seu potencial enquanto catalisador de novas comunidades e
redes profissionais e de pesquisa.
ATENÇÃO!
Sempre que aparecer o ícone ao
lado você poderá clicar e acessar o
conteúdo indicado de forma direta.
14
APRESENTAÇÃO
15
INTRODUÇÃO
16
CAPÍTULO 1 - POR QUE É IMPORTANTE MONITORAR E
AVALIAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
30
CAPÍTULO 2 - COMO MONITORAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS
DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL (DUS)?
45
CAPÍTULO 3 – CONSTRUINDO INDICADORES PARA
MONITORAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL (DUS)
61
CAPÍTULO 4 – ARRANJOS INSTITUCIONAIS, GESTÃO DE
DADOS E DOS PROCESSOS DE MONITORAMENTO
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sobre a
autora
Patricia Sepe
LATTES:
http://lattes.cnpq.br/0105548665244093
12
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
GLOSSÁRIO
Índice pluviométrico: volume de chuva que cai em uma certa área (cidade, bairro e
região) em um certo período (hora, dia, mês e ano). É medido em milímetros e divido por
uma unidade de tempo.
13
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU): tributo cobrado sobre todos os tipos de
imóveis: residências, prédios comerciais e industriais e terrenos. É um imposto municipal
e a sua finalidade é arrecadar recursos financeiros para os municípios.
Ociosidade urbana: situação de um imóvel que tem um(a) proprietário(a), mas não é
utilizado. Pode ser também um imóvel destinado a uma atividade que o utiliza menos do
que o permitido pela legislação urbana.
Produto Interno Bruto (PIB): soma do valor de todos os bens e serviços finais realizados
em uma certa localidade ao longo de um tempo específico.
APRESENTAÇÃO
O conteúdo deste módulo foi estruturado a partir da ideia de que para alcançar a
sustentabilidade das cidades, a população precisa participar da criação, acompanhamento
e avaliação das políticas públicas. Essa ideia se baseia em dois grandes pilares do
Estado democrático de direito: o exercício da cidadania e a concretização de direitos
fundamentais. Isso só é possível quando os canais de participação social não são mais
deixados em segundo plano e se tornam de fato parte da gestão democrática das cidades.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, houve a piora das condições socioeconômicas, aumento dos
impactos da mudança do clima, avanço da reforma do Estado brasileiro e dos processos
de descentralização do poder. Com isso, os governos locais precisaram assumir seu papel
de formuladores de políticas públicas voltadas à promoção de cidades mais inclusivas,
justas e sustentáveis. Enfrentar os desafios postos às cidades significa muito mais
do que apenas destinar racionalmente os recursos. É preciso utilizar instrumentos de
planejamento e gestão que contribuam com a formulação de políticas públicas urbanas
e sejam capazes de monitorar a implementação, avaliar os resultados e alimentar novos
processos de atualização e revisão dessas políticas.
Apresentaremos neste módulo a importância de se monitorar e avaliar as políticas
públicas voltadas ao desenvolvimento urbano sustentável. São instrumentos que ajudam
a tomada de decisão e contribuem para uma participação mais efetiva da sociedade. Dessa
forma, todas as pessoas podem assumir o papel de agentes de transformação por meio
do acompanhamento e do controle social da criação, implementação e monitoramento
dos resultados e impactos dessas políticas.
Pretende-se que ao final do módulo se entenda melhor os conceitos e as práticas
envolvidos nos processos de monitoramento e avaliação. O objetivo é que se tornem
fontes de aprendizado sobre a realidade de implementação e execução das políticas
de desenvolvimento urbano. Esses processos precisam ser contínuos, cumulativos e
participativos, respeitando as dinâmicas sociais e as limitações e particularidades locais.
Demonstraremos que construir sistemas de monitoramento e seus indicadores não é a
solução, mas, sim, o caminho. Essa construção não pode estar descolada da realidade
da grande maioria dos municípios brasileiros, que enfrenta cotidianamente a falta de
recursos humanos e financeiros. Isso tem um impacto na quantidade e na qualidade das
informações disponíveis. Os capítulos deste módulo mostram os desafios desse processo,
retratando a dificuldade do tema e o risco de apropriação incorreta dessas ferramentas.
Demonstraremos também através de exemplos as possibilidades do processo.
AULA MAGNA
MÓDULO 7
Neste capítulo buscamos discutir o que é uma política pública e qual é a sua importância.
Políticas públicas são essenciais para o desenvolvimento humano, para a formação da
cidadania e para a promoção de igualdades. Por meio delas se estabelece diretrizes para
as ações do poder público com objetivos e metas, buscando evitar atividades que não
atinjam seus objetivos e desperdicem dinheiro público.
ATIVIDADE
PROGRAMADA
Alguma experiência
no seu município
completou esse ciclo?
Descreva relacionando
com as etapas
mencionadas.
Foto 1: Cisterna do Programa 1 Milhão de Cisternas
Fonte: ASA Brasil (s.d.).
?
Os dois devem ser utilizados para aprimorar essa política
e garantir a participação e o controle social.
VOCÊ SABIA
Rua (2010) define a avaliação como o exame sistemático As primeiras avaliações de
de intervenções planejadas na realidade. Usa como políticas públicas surgem
na década de 1960, nos
base procedimentos científicos de coleta e análise de Estados Unidos. Elas foram
informação sobre o conteúdo, a estrutura, o processo, institucionalizadas com
um enfoque top-down, ou
os resultados e/ou impactos de políticas, programas ou seja, de cima para baixo,
determinadas pelo presidente
projetos. norte-americano para avaliar
programas sociais. Nas
A avaliação foi usada inicialmente nos Estados Unidos na décadas seguintes, ocorre um
boom da avaliação associado
década de 1960. Ela foi aplicada em programas sociais e ao movimento de reforma
ampliada nas décadas seguintes, principalmente em países do Estado e de seu aparelho
administrativo, conhecido
desenvolvidos. No Brasil, diversos fatores contribuíram como New Public Management
para que o Estado brasileiro passasse a redefinir sua (Nova Gestão Pública). Esse
movimento recomendava uma
área de atuação a partir dos anos 1990, reestruturando redefinição do papel do Estado
e a implantação de mecanismos
sua função de planejamento e gestão. O processo de de gestão da iniciativa
redemocratização trouxe à tona novos atores sociais privada na administração
pública. No Brasil, essa nova
e novas reivindicações aos governantes. A crise fiscal orientação político-ideológica
diminuiu a capacidade de gasto dos governos e aumentou e gerencial acontece com a
Reforma Administrativa em
a pressão por maior eficiência. A crise econômica em 1998, por meio da Emenda
Constitucional nº 19
que o país e o mundo estavam mergulhados2 aumentou (RAMOS; SCHABBACH,
a desigualdade social e a busca por serviços e políticas 2012).
sociais (RAMOS; SCHABBACH, 2012).
22
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Monitoramento e avaliação não são sinônimos, ainda que os dois processos ou etapas
estejam intimamente ligados (Figura 3). Não é possível realizar uma boa avaliação sem
um conjunto de indicadores consistentes e atualizados, não importa a metodologia
24
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Entre muitos índices econômicos disponíveis temos: o Produto Interno Bruto (PIB); o PIB
per capita; o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da
inflação do país; e o indicador de consumo per capita. Exemplos de indicadores sociais
são: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); o Índice Paulista de Vulnerabilidade
Social (IPVS); e a taxa de mortalidade/sexo.
1
PARA MAIS
sustentabilidade. Mais recentemente, discute-se INFORMAÇÕES
como medir o desenvolvimento urbano sustentável e SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
a sustentabilidade urbana, sendo que até hoje não se
MÓDULO 1.
chegou a um consenso. Consulte o Módulo 1 para mais
detalhes sobre esse assunto.
Os indicadores de
monitoramento e
APROFUNDE-SE avaliação de políticas
Caso tenha interesse em se aprofundar
mais sobre indicadores sociais, incluindo
públicas urbanas devem
uma análise sobre os impactos da pandemia ser capazes de medir não
de COVID-19 na população brasileira, só o cumprimento de
consulte a publicação do IBGE Síntese
de Indicadores Sociais: Uma análise das
objetivos e metas, mas
condições de vida da população brasileira: também o quanto estas
2021. políticas contribuem
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE
para o desenvolvimento
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese urbano sustentável. Assim,
de indicadores sociais: uma análise das apresentamos a seguir
condições de vida da população brasileira:
2021. IBGE: Rio de Janeiro, 2021.
os principais conceitos e
tipologias de indicadores
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov. usados normalmente
br/index.php/biblioteca-catalogo?view=de-
talhes&id=2101892
no monitoramento e na
avaliação.
26
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
3
PARA MAIS
quantificar aspectos de uma determinada INFORMAÇÕES
situação da realidade que desejamos avaliar”. SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
Indicador também pode ser definido como
MÓDULO 3.
um instrumento que resume um conjunto de
informações em um número. Portanto, ele permite
medir certos fenômenos entre si ou ao longo
de certo tempo. Os indicadores são utilizados
para simplificar informações sobre fenômenos
complexos e comunicá-los de modo mais
compreensível e quantificável (Figura 4).
Um indicador é o meio e não o fim. É necessário ter clareza de sua função e utilidade,
ainda que ele seja o instrumento operacional do monitoramento e da avaliação de
programas/políticas. Caso contrário, é possível produzir informações inadequadas
sobre a realidade na qual se pretende intervir. Como apontado por Kayano e Caldas
(2002), é preciso cautela tanto na construção quanto na interpretação dos indicadores,
pois eles servem a vários interesses.
AULA 1
MÓDULO 7
APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em se aprofundar na construção e uso de indicadores sintéticos ou índices, há uma
ampla literatura sobre o clássico debate das potencialidades e limitações do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Ele foi proposto em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
sob a liderança do economista paquistanês Mahbub ul Haq e com base no enfoque proposto por Amartya
Sen (Prêmio Nobel de economia de 1998). O PNUD publica desde 1990 relatórios anuais sobre as diversas
dimensões do desenvolvimento humano.
VEIGA, J. E. Problemas do uso ingênuo do IDH-M. Valor, [s.l.], 14 jan. 2003. Disponível em: http://www.zeeli.
pro.br/wp-content/uploads/2012/06/002_14-01-03-PROBLEMAS-DO-USO-INGENUO-DO-IDH-M.pdf.
Acesso em 05/07/22
GUIMARÃES, J. R. S.; JANNUZZI, P. M. IDH, Indicadores sintéticos e suas aplicações em políticas públicas:
uma análise crítica. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Salvador, v. 7, n. 1, p. 73-89, maio 2005.
Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/136. Acesso em 05/10/22
30
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade), art. 42, inciso III prevê
que o Plano Diretor tenha um sistema de acompanhamento e controle. Porém, não
havia na lei um detalhamento desse sistema. O detalhamento foi dado quatro anos depois
da edição do Estatuto da Cidade por uma resolução do então Conselho das Cidades
(ConCidades). A Resolução nº 34, de 1 de julho, estabelece em seu art. 6º:
Art. 6º. O Sistema de Acompanhamento e Controle Social previsto pelo art. 42,
inciso III, do Estatuto da Cidade deverá:
14
previstos no Estatuto da Cidade. O objetivo
PARA MAIS
é garantir o pleno desenvolvimento das INFORMAÇÕES e
funções sociais da cidade e uma série SOBRE O TEMA
de direitos, como a democratização do VER TAMBÉM OS
acesso à terra urbanizada e o direito a MÓDULOS 1 e 4
cidades sustentáveis.
32
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
6
PARA MAIS
Anual. Ele foi estabelecido pela Constituição INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
Federal de 1988 e somente com a aprovação do
VER TAMBÉM O
Estatuto da Cidade em 2001 passou a ser exigida
MÓDULO 6.
a ligação desses instrumentos com o planejamento
urbano através do Plano Diretor. O § 1o do art. 40
da Lei nº 10.257/2001 estabelece que:
Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana.
?
reproduz as dez estratégias propostas
pelo PDE para a cidade até o ano de
VOCÊ SABIA 2029:
Lançada em dezembro de 2016, 1. Socializar os ganhos da produção da
essa plataforma aberta de gestão
cidade;
urbana encontra-se disponível
para acesso público. Ela recebe
2. Promover o desenvolvimento
atualização constante dos dados
e complementação de novos econômico;
indicadores. Disponível em: https://
monitoramentopde.gestaourbana. 3. Assegurar o direito à moradia digna;
prefeitura.sp.gov.br/.
4. Incorporar a agenda ambiental ao
desenvolvimento da cidade;
37
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
A vigência do Plano Diretor de Belo Horizonte teve início em fevereiro de 2020, como
previsto em sua lei de aprovação. O monitoramento também teve início no mesmo ano.
Portanto, é um sistema mais recente. Alguns aspectos da política urbana também já eram
monitorados por outro sistema construído pela Prefeitura de Belo Horizonte. Trata-se
do Sistema Local de Monitoramento de Indicadores ODS de Belo Horizonte, criado no
Observatório do Milênio de 2018. Esse sistema monitora não apenas os temas do ODS
11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, mas também de todos os outros Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável.
O compromisso que depende da atuação direta das cidades precisa ser adaptado para
cada escala local, pois foi formulado na escala dos países. Como traduzir os compromissos
definidos pela ONU em metas e indicadores monitoráveis, capazes de serem medidos
e comparados ao longo do tempo, de modo que se possa acompanhar e avaliar a sua
evolução?
No Brasil, o IBGE monitora os ODS nacionalmente por meio de 63 indicadores. Alguns são
de autoria própria, outros são de outras organizações. Os indicadores procuram medir as
qualidades ambiental e de vida da população, o desempenho macroeconômico do país,
os padrões de produção e consumo, e a governança para o desenvolvimento sustentável
(IBGE, 2015). Pode-se encontrar localmente um número grande de iniciativas tanto do
poder público local quanto de organizações da sociedade civil. Elas construíram sistemas
e plataformas para monitorar a implementação da Agenda 2030 e dos ODS.
?
todas as cidades do país para gerar pontuações
e classificar as cidades em um ranking (Figura
VOCÊ SABIA 12). Pode haver diferenças entre a posição
A descrição mais das cidades na classificação final por causa
detalhada da
metodologia pode ser
de pequenas distâncias na pontuação do
encontrada no site IDSC (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS,
criado especialmente 2022).
para divulgar os
resultados do O ranking do IDSC-BR informa que os
índice: https://idsc.
cidadessustentaveis.
ODS seriam mais facilmente atingíveis em
org.br cidades médias e pequenas, já que entre
as 100 primeiras cidades, a única capital é
44
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Figura 12:
Distribuição
espacial do Índice
de Desenvolvimento
Sustentável das
Cidades – Brasil
(IDSC-BR)
Fonte: Instituto
Cidades Sustentáveis
(2022). https://idsc.
cidadessustentaveis.
org.br/
45
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Deve ficar claro que a escolha da metodologia aplicada é uma decisão do corpo técnico
responsável por construir o sistema de monitoramento e da pessoa que toma decisões.
A metodologia escolhida pode ser mais ampla e sofisticada, desde que existam condições
para sustentar essa escolha. Ela também deve ser acordada com o maior número possível
de pessoas interessadas.
Essa etapa vem antes de se definir os indicadores, e se aplica ao Plano Diretor e a outras
políticas setoriais urbanas. Ela leva em consideração sua complexidade e seu alcance
territorial e temporal. No caso do Plano Diretor, reúne elementos de uma política
urbanística e de diversas políticas setoriais. Assim, é importante definir o limite e o
alcance do monitoramento.
Nessa experiência foi utilizada a Teoria de Programa, também conhecida como Teoria
da Mudança. Trata-se de uma metodologia baseada em uma descrição detalhada dos
mecanismos que provocam a transformação de um problema específico (Figura 13).
Depois de identificar claramente um problema a ser resolvido, a Teoria de Programa
identifica a possibilidade de transformação, os objetivos, pré-condições, ideias, projetos,
ações e indicadores de uma intervenção. Dessa forma, dá às lideranças encarregadas da
sua execução informações e orientações importantes sobre como desenhar, implementar
e avaliar programas e projetos (ATO URBANO, 2020, p. 9).
podem ser utilizadas informações vindas de outras políticas. Elas podem ser a saúde
ou o planejamento orçamentário, as que contarem com mecanismos externos de
maior controle.
Também deve ser definido nessa etapa quem utilizará as ferramentas de monitoramento.
O Estatuto da Cidade recomenda que o sistema de monitoramento seja pensado para
equipes internas e para a população civil num geral. É altamente recomendável que desde
o início sejam consideradas as particularidades desses dois públicos. Cada um deles exige
escolhas técnicas diferentes, ou seja, ferramentas de informação e linguagem diferentes.
48
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Trata-se de um tema complicado tanto pelo objeto a ser monitorado quanto pelo objetivo
do monitoramento (e da avaliação). Por isso, é importante garantir que a pessoa externa
de públicos distintos entenda facilmente o que se busca comunicar. Além disso, deve-se
garantir a acessibilidade e a inclusão de todas e de todos.
Recomendamos que o governo local faça relatórios anuais, mesmo que não seja possível
desenvolver um painel de monitoramento com acesso público. Recomendamos também
que divulgue os resultados do monitoramento usando uma linguagem acessível. Esses
relatórios devem estar disponíveis para download no site da prefeitura, da secretaria
ou do órgão responsável. A sua localização no site deve estar destacada para garantir o
acesso de todas e de todos.
3
PARA MAIS
Mas não deve haver conflitos de interesse ou outras INFORMAÇÕES
questões que desrespeitem a Lei Geral de Proteção SOBRE O TEMA
de Dados Pessoais, Lei nº 13.709, de 14 de agosto de VER TAMBÉM O
MÓDULO 3.
2018 e suas alterações (BRASIL, 2018). Para mais
detalhes consulte o Módulo 3.
[...] qualquer governo que pretenda desenvolver sua área de M&A precisa garantir
que haja pessoal capacitado e engajado para realização do monitoramento, do
contrário será realizado mero acompanhamento dos dados, o que não é desejável.
49
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Nessa etapa, deve-se ter claro o objeto a ser monitorado, bem como os eixos de análise.
É fundamental que se defina o marco lógico a ser utilizado para construir e selecionar os
indicadores. Da mesma forma, é importante estabelecer uma relação dialógica com os
dados, tendo clareza do que se quer medir e quais respostas poderão ser obtidas a partir
do sistema de monitoramento e avaliação.
Sepe (2013) observou isso no processo de criação do GEO Cidade de São Paulo. Era
pressuposto metodológico criar indicadores de maneira participativa. Por isso, criou-se
um grupo de trabalho que contou com a participação de conselheiros(as) e técnicos(as)
de outras instituições. Foram realizadas dezenas de oficinas e reuniões com pessoas
externas convidadas. No final, o sistema de monitoramento tinha 83 indicadores,
desenvolvidos em 235 variáveis. Nem todos os indicadores escolhidos puderam ser
alimentados. Após o relatório da primeira avaliação (2004), esse sistema foi abandonado
por causa da sua inviabilidade técnica e operacional.
Depois de responder às três primeiras questões, devemos então buscar respostas para
a questão seguinte: como medir? Devemos levar em conta os dados disponíveis, já que
não existe um indicador ideal.
Os indicadores escolhidos devem passar por uma segunda etapa de avaliação. De acordo
com as questões abaixo, o indicador é:
• Preciso o bastante para garantir uma avaliação objetiva (sem que seja
necessário interpretar os resultados)?
• Pode ser alimentado com dados por meio de processos de coleta rápidos e
econômicos?
Também seria ideal buscar indicadores que tenham rastreabilidade, ou seja, que possam
acompanhar o passado (antes da implementação da política) e o futuro (depois da
implementação).
Pode-se trabalhar com indicadores provisórios até que se criem bases de dados
que permitam trabalhar com indicadores permanentes, diante da falta de registros
administrativos. Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão
desejada. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou proxies (aproximações).
São unidades de medida que expressam indiretamente a característica medida, usadas
quando o dado direto não foi coletado em intervalos regulares. Um exemplo de indicador
indireto é o número de televisores (ou de banheiros) na casa como medida aproximada
de renda familiar.
A segunda etapa terá menos indicadores do que o proposto na etapa inicial e alguns deles
poderão ser substituídos. O conjunto final também é chamado de cesta de indicadores e
deve ser consolidado para passar para a etapa de validação.
Esse é momento em que devem ser considerados não apenas aspectos técnicos e
operacionais, mas também os políticos. A participação de pessoas de fora deve ser
garantida, englobando diversos interesses e visões de mundo sempre que possível. A
participação da pessoa tomadora de decisão é fundamental, seja para mediar possíveis
conflitos entre opiniões e interesses, seja para aprovar os indicadores e todo o processo.
Essa etapa deve ser pensada de forma estratégica e contar com a experiência de
profissionais sempre que possível para conduzir as reuniões e espaços de debate. Deve
52
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
haver também um cuidado com a qualidade dos materiais levados para discussão. Eles
devem ser ao mesmo tempo claros e breves, mas sem ser superficiais quanto ao conteúdo.
Além dos pontos levantados acima, o número de reuniões e oficinas deve ser planejado,
pois se trata de um tema difícil do ponto de vista conceitual. Da mesma forma, é preciso
planejar o seu tempo de duração para garantir o “espaço de fala” de todas e de todos os
participantes, mas garantindo que resultados concretos sejam alcançados.
Há diversos programas que podem ser usados para construir o painel. Eles têm funções
distintas e a escolha depende dos recursos financeiros e humanos disponíveis para sua
implantação e operação.
ATIVIDADE AULA 3
PROGRAMADA MÓDULO 7
Como exercício, pense num
painel de indicadores para o
seu município e descreva os
itens abaixo:
Nome do indicador, definição
do indicador, eixo ou dimensão
ao qual pertence, unidade de
Aula 3 - Construindo
medida, frequência, fórmula de
indicadores para
cálculo, metas, entre outros.
monitoramento do
Desenvolvimento Urbano
Sustentável
53
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
3
PARA MAIS
curso. Na apostila do módulo também é INFORMAÇÕES
possível encontrar sugestões de fontes de SOBRE O TEMA
dados, em especial as vindas dos cadastros das VER TAMBÉM O
políticas sociais do governo federal. MÓDULO 3.
Essas fontes de dados em geral são desagregadas por município e permitem obter um
bom conjunto de indicadores. Eles podem ser usados diretamente ou funcionar como
proxies (aproximações), compensando a falta de dados.
54
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
A pesquisa de Denaldi, Fonseca e Akaishi (2017) mostra uma alternativa para municípios
com limitações econômicas e técnicas para a coleta primária de dados. Trata-se da
utilização de dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), que faz parte
do Sistema Único de Saúde (SUS). O Módulo 3 apresenta uma videoaula sobre o assunto.
Ela mostra que a utilização de dados da área da saúde ajudou a identificar e mapear a
precariedade habitacional em municípios pequenos da Bahia.
O SIAB foi desenvolvido pelo DATASUS em 1998, com o objetivo de agregar, armazenar
e processar as informações relacionadas à Atenção Básica. Essas informações eram
coletadas em campo pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e sua estratégia central
era a Estratégia de Saúde da Família. Os agentes moram na região onde trabalham,
vivem o dia a dia das comunidades e conhecem suas realidades. Os ACS atuam por
microárea, visitando os domicílios sob sua responsabilidade ao menos uma vez ao mês
ou semanalmente, dependendo da situação de saúde da pessoa moradora (DENALDI;
FONSECA; AKAISHI, 2017). Os ACS usam formulários/fichas para coletar dados das
famílias atendidas pelo programa. Após o preenchimento, os dados são enviados ao
SIAB e podem fornecer informações de diferentes tipos, atualizadas pelo ACS sempre
que necessário.
A pesquisa de Denaldi, Fonseca e Akaishi (2017) precisou construir uma base cartográfica
com a delimitação dos perímetros de atuação de cada ACS (microárea). Isso foi feito para
permitir que os dados das fichas fossem georreferenciados e tratados estatisticamente,
em especial os da Ficha A (Figura 15).
Outras formas de construir indicadores com poucos dados disponíveis (censos, cadastros
etc.) usam metodologias menos tradicionais para coletar dados. O uso de aplicativos
especialmente desenvolvidos para aparelhos celulares ou tablets é um exemplo dessas
metodologias.
Quando o questionário for construído, já se deve ter em mente para quais questões
buscamos respostas e como essas respostas alimentarão os indicadores. A estrutura
do questionário também deve possibilitar a criação de tabelas e de um banco de dados.
Isso pode ser feito de forma participativa entre equipes técnicas e representantes
das comunidades a serem monitoradas. A aplicação do questionário também pode ser
participativa e a frequência com que ele será reaplicado pode ser definida caso a caso.
Foto 2: Oficina na
Terra Indígena guarani
Tenondé-Porã, cidade
de São Paulo.
Fonte: Keese e Oliveira
(2020).
57
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Figura 17: Localização das aldeias guaranis na TI Tenondé-Porã na cidade de São Paulo.
Fonte: Keese e Oliveira (2020).
58
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em conhecer mais sobre a experiência do
cadastramento das roças guarani acesse a publicação Os agricultores
guarani e a atual produção agrícola na terra indígena Tenondé Porã.
3e
curso. Ela também foi citada como uma referência PARA MAIS
no Módulo 8, no capítulo sobre a Região Sudeste, na INFORMAÇÕES
experiência da Utilização de Mapas Temáticos como
Ferramenta de Educação Ambiental e Participação
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
MÓDULOS 3 e 8
8
Social na Comunidade do Quebra Frascos/Jardim
Serrano no Parque Nacional da Serra dos Órgãos-RJ.
APROFUNDE-SE
Para saber mais sobre a iniciativa A Cidade (In)Visível: cartografia
social das ocupações urbanas de São Leopoldo, ouça o episódio do
podcast “Desafiando o amanhã”, da Unisinos.
2
PARA MAIS
de diálogo entre o Estado e os grupos organizados da INFORMAÇÕES
sociedade para definir, acompanhar e implementar SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
políticas públicas. Esse tema é bastante discutido na
MÓDULO 2.
apostila do Módulo 2 – Governança, deste curso.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
“Não há justiça climática sem acesso à água, tratamento de esgoto, drenagem e gestão
de resíduos sólidos” (WHATELY; LERER, 2020). O município é responsável por promover
a segurança hídrica e planejar o saneamento articulado com outras políticas setoriais,
como a de habitação e de drenagem. No entanto, muito pouco vem sendo feito de forma
articulada e a emergência climática desafia as cidades a aliviar os impactos da poluição,
adaptando as cidades e tornando-as mais resistentes (WHATELY; LERER, 2020).
ATIVIDADE
PROGRAMADA
Consulte a plataforma e
descreva a situação do seu
município nesse aspecto da
política de saneamento.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
Figura 20: Painel Marco Legal do Saneamento, cobertura da coleta de esgoto no estado do Piauí
Fonte: Instituto Água e Saneamento (2022).
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável
A seleção de indicadores pode ser feita acessando um entre quatro conjuntos. Eles
foram divididos em Cobertura, Desempenho, Governança e Investimento, para dados
de abastecimento de água (urbano e rural) e esgotamento sanitário (urbano e rural). A
metodologia, as fichas dos indicadores e os dados são disponibilizados para download.
AULA 4
MÓDULO 7
Aula 4 - O papel da
sociedade civil como agente
ativo do monitoramento
e do controle social das
políticas públicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Também buscamos mostrar que é preciso desmistificar o papel dos indicadores. Não se
trata de soluções em si, mas de instrumentos que contribuem para uma gestão pública
mais efetiva, solidária, sustentável e participativa. Essa participação não pode acontecer
de maneira desequilibrada, na qual interesses de grupos se sobreponham aos direitos
coletivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DENALDI, R.; FONSECA, M. L.; AKAISHI, A. G.. Produção de Informação para a Política
Habitacional no contexto dos pequenos municípios: alternativa de utilização do Sistema
de Informação da Atenção Básica (SIAB). Gestão & Regionalidade, [s.l.], v. 33, n. 99,
p. 55-73, set./dez. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.13037/gr.vol33n99.3806.
Acesso em: 18 ago. 2022.
KAYANO, J.; CALDAS, E. L. Indicadores para o diálogo. São Paulo: EAESP/FGV, 2001.
SECCHI, L. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. 2. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2013.
VEIGA, J. E. Problemas do uso ingênuo do IDH-M. Valor, [s.l.], 14 jan. 2003. Disponível em:
http://www.zeeli.pro.br/wp-content/uploads/2012/06/002_14-01-03-PROBLEMAS-
DO-USO-INGENUO-DO-IDH-M.pdf. Acesso em: 20 ago. 22.