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Monitorar, Avaliar,

Criticar e Aprender
com o desenvolvimento
urbano sustentável
CURSO INSTRUMENTOS DE
DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL I MÓDULO 7

EDUCAÇÃO À
DISTÂNCIA
Instrumentos de
Desenvolvimento
Urbano Sustentável
CURSO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

MÓDULO 1 Introdução aos Instrumentos para o desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 2 Governança: A dimensão política do desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 3 Informações: A dimensão do conhecimento para o


desenvolvimento urbano sustentável

MÓDULO 4 Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento


urbano sustentável

MÓDULO 5 Gestão: A dimensão institucional do desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 6 Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento


urbano sustentável

MÓDULO 7
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento
urbano sustentável

MÓDULO 8 Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades


brasileiras
EXPEDIENTE

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

MINISTÉRIO DAS CIDADES – MCID


Ministro Jader Barbalho Filho

Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano


Departamento de Estruturação do Desenvolvimento Urbano e
Metropolitano
Departamento de Adaptação das Cidades à Transição Climática e
Transformação Digital

GIZ NO BRASIL
Diretor Geral
Michael Rosenauer

O presente trabalho foi desenvolvido no contexto do Projeto APOIO


À AGENDA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL NO BRASIL – ANDUS.

O projeto é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério


Federal da Economia e Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte
da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI). É implementado pela Deutsche
Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH no contexto da
Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.

Mais informações em:


www.gov.br/cidades | http://andusbrasil.org.br/ | www.giz.de/brasil
FICHA TÉCNICA
MINISTÉRIO DAS CIDADES – MCID

Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e


Metropolitano

Departamento de Estruturação do
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano

Departamento de Adaptação das Cidades à


Transição Climática e Transformação Digital

Coordenação e Revisão Técnica


Nathan Belcavello de Oliveira
Leonardo Rizzo de Melo e Souza

Equipe participante da Revisão Técnica


Adriana Micheletto Brandão
Ana Paula Bruno
Cesar Augustus De Santis Amaral
Elize Risseko Fujitani Higuti
Raquel Furtado Martins de Paula
Roberta Pereira da Silva

GIZ – DEUTSCHE GESELLSCHAFT FÜR


INTERNATIONALE ZUSAMMENARBEIT GmbH

Projeto ANDUS – APOIO À AGENDA NACIONAL


DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
NO BRASIL
Diretora
Sarah Habersack

Coordenação e Revisão Técnica


Anna Carolina Marco
Cecília Martins Pereira
Matheus de Souza Maia

Equipe participante
Ana Luísa Oliveira da Silva
Marcella Menezes Vaz Teixeira
Thomaz Machado Teixeira Ramalho
Verena Laura Mattern
Viktoria Yasmin Carvalho de Matos
ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO E
GRAVAÇÃO DE VÍDEOS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Natalia Aurélio de Sá

Reitor APRESENTAÇÃO DOS MÓDULOS


Carlos Gilberto Carlotti Junior Maria Vitória Royer Moura

Vice-reitora
Maria Arminda do Nascimento Arruda

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO APOIO INSTITUCIONAL


DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Programa das Nações Unidas para os
Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT)
Diretor
Eugenio Fernandes Queiroga Escritório Regional para América Latina e o Caribe
(ROLAC) - Brasil e Cone Sul
Vice-Diretora
Maria Camila Loffredo D’Ottaviano Representante para o Brasil e Cone Sul
Alain Grimard

LABORATÓRIO DE HABITAÇÃO E Oficial Nacional para o Brasil


ASSENTAMENTOS HUMANOS Rayne Ferretti Moraes
DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Especialista Financeira
Coordenação do do Laboratório de Habitação e Claudia Bastos de Mello
Assentamentos Humanos
Luciana de Oliveira Royer Analistas de Operações
Adriana Carneiro
Coordenação Executiva e Comissão Científica Vanessa Santos
Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins Carolina Oliveira
Luciana de Oliveira Royer
Ana Gabriela Akaishi Coordenador de Programas
Giusepe Filocomo Alex Marques Rosa
Taís Tsukumo
Analistas de Programas
Equipe de Docentes Angélica Maria Carnelosso
Módulo 1: Rérisson Máximo e Camila Aldigueri Fernanda Balbino
Módulo 2: Rose Laila de Jesus Bouças Paula Zacarias
Módulo 3: Fernanda Balestro
Módulo 4: Jacy Soares Corrêa Neto Assistentes de Programas
Módulo 5: Luan Melo Bethânia Boaventura
Módulo 6: Raphael Faustino Mariana Nascimento
Módulo 7: Patricia Sepe
Módulo 8: Ana Gabriela Akaishi, Giusepe Filocomo, Analista de Dados
Taís Tsukumo, Karina Oliveira Leitão Harlan da Silva

Assistente de Dados
PROJETO GRÁFICO Júlio Santos
Lara Isa Costa Ferreira
Mariana Ribeiro Pardo Assistente de Comunicação
Ana Luiza Aun Al Makul Jessamine Santos
Mariana Byczkowski Iglecias
Designer Gráfico Júnior
Sávio Araújo
PROJETO AUDIOVISUAL
Streamax Produtora Produtor Audiovisual
Márcio Coelho Demétrio Portugal
Camila Mazzini

REVISÃO DOS TEXTOS


Lucas Nascimento Pinto
Sobre o
Projeto ANDUS
As cidades no Brasil e no mundo inteiro se encontram numa fase marcada por
transformações: digital, ambiental, sociodemográfica, econômica e laboral. Para atingir
uma maior equidade e enfrentar os processos de transformação, é necessário reorientar
as práticas de desenvolvimento urbano.

O Projeto ANDUS surgiu como forma de apoiar o governo brasileiro no aprimoramento


de políticas para o desenvolvimento urbano sustentável no Brasil a partir da concepção,
difusão e implementação de uma nova abordagem, baseada na Agenda 2030, na Nova
Agenda Urbana e no Acordo de Paris sobre mudança climática.

Ele é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério Federal da Economia e
Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte da Iniciativa Internacional para o Clima
(IKI). É implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.

ATENÇÃO!
Esse logotipo será apresentado na
apostila quando o conteúdo didático
remeter a processos e produtos
ANDUS.
Sobre o curso
A partir do projeto de cooperação técnica intitulado “Apoio à Agenda Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável no Brasil – ANDUS”, o objetivo desse curso é apoiar
as pessoas atuantes na administração pública em nível federal, estadual e municipal na
implementação de estratégias de desenvolvimento e gestão urbana sustentável, com
capacitação e difusão do conhecimento técnico e especializado. Também, pretende-
se ampliar o acesso ao tema e a processos de promoção do desenvolvimento urbano
sustentável a pesquisadoras e pesquisadores e pessoas interessadas na temática, de
modo geral.

Para tal, serão aprofundados aspectos da elaboração, implementação, monitoramento


e avaliação de leis, planos, programas e projetos no país. Eventos ambientais extremos
estão cada vez mais frequentes em nossas cidades, tais como enchentes, deslizamentos,
desmoronamentos e problemas sanitários, que convergem com graves questões sociais
e econômicas. Abordar os conceitos e fundamentos do Desenvolvimento Urbano
Sustentável e os caminhos para sua promoção é fundamental nesse contexto.

Decorre daí o diálogo com a universidade pública, para a preparação de material didático
e informativo. As apostilas e as videoaulas foram produzidas por um conjunto de pessoas
com experiência na gestão pública e na universidade, fazendo pesquisa e aprendendo
nesse diálogo entre ensino, pesquisa e prática.

Destaca-se, ainda, que o curso é produzido por meio da articulação remota dessa rede
nacional de pesquisadoras, pesquisadores e profissionais. Ele é produto do trabalho
coletivo de uma equipe de vários profissionais, que contou com a coordenação do
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos - LABHAB da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e com a participação de mais de
25 convidadas e convidados docentes, profissionais, acadêmicos de todo o país ao longo
do curso.

E entre as demais instituições envolvidas, destacam-se a Escola Nacional de


Administração Pública, a ENAP, e o Programa das Nações Unidas para os
Assentamentos Humanos, o ONU-Habitat, parceiros fundamentais na elaboração
deste projeto.

Assim, o presente Curso de Educação à Distância trata dos Instrumentos de


Desenvolvimento Urbano Sustentável com atenção especial às diferentes realidades
das cidades brasileiras.

Ou seja, a promoção do desenvolvimento urbano sustentável no Brasil deve, sem


sombra de dúvidas, considerar e partir dos problemas reais das cidades brasileiras. A
sensibilidade interdisciplinar, intersetorial, socioespacial e socioambiental é ponto de
partida para que as políticas sociais olhem e atuem de forma mais efetiva com atenção
às diversidades e desigualdades regionais brasileiras. O curso é assim orientado por uma
forte noção de justiça socioambiental, ao mesmo tempo que visa apoiar a formulação de
políticas públicas mais equitativas.

Durante o curso refletiremos sobre os instrumentos de desenvolvimento urbano


sustentável a partir de diferentes lentes de análise, metodologias e dinâmicas de
ensino-aprendizagem à distância. Os 8 módulos, 8 apostilas e diversas videoaulas foram
planejados de forma a potencializar o caráter informativo, instrumental, reflexivo,
crítico e propositivo do curso. Neste sentido, o público-alvo desta iniciativa são gestoras,
gestores, técnicas e técnicos da administração pública, assim como pesquisadoras e
pesquisadores, agentes privados e do terceiro setor com interesse e atuação na temática
urbana e ambiental.

O curso abordará os instrumentos urbanísticos apresentados pelo Estatuto da Cidade e


irá além, articulando conceitos de governança, dados e informações, planos e programas,
capacidades administrativas e de gestão, geração de receitas e recursos financeiros,
monitoramento e avaliação da atuação estatal. Além de apresentar experiências
regionais distintas sobre práticas adotadas nas cidades brasileiras.

MÓDULO 1 MÓDULO 2 MÓDULO 3 MÓDULO 4


Introdução aos Governança: A Informações: A dimensão Planejamento:
Instrumentos para dimensão política do conhecimento para o A dimensão territorial
o desenvolvimento do desenvolvimento desenvolvimento urbano para o desenvolvimento
urbano sustentável urbano sustentável sustentável urbano sustentável

MÓDULO 5 MÓDULO 6 MÓDULO 7 MÓDULO 8


Gestão: A dimensão Financiamento: A Monitorar, Avaliar, Desenvolvimento
institucional do dimensão financeira Criticar e Aprender urbano sustentável e
desenvolvimento para o desenvolvimento com o desenvolvimento a prática nas cidades
urbano sustentável urbano sustentável urbano sustentável brasileiras

Os módulos funcionam de forma independente, tem sua autonomia e podem despertar


interesse específico do público participante. No entanto, incentivamos fortemente
acompanhar a sequência toda dos módulos, que trazem elementos complementares
para o desenvolvimento urbano sustentável.

Por fim, convidamos para que desfrutem do seu conteúdo e usufruam de suas
ferramentas, explorando seu potencial enquanto catalisador de novas comunidades e
redes profissionais e de pesquisa.

Desejamos a todas e todos uma boa leitura!


Como utilizar
esta apostila
As apostilas que compõem o nosso material
didático são interativas. Ao clicar nos links
apresentados ao longo delas, você será
direcionado(a) a materiais e informações
complementares. Destacam-se ainda as
referências bibliográficas apresentadas
ao final de cada apostila de módulo, elas
permitem o aprofundamento adicional no
conteúdo do curso.

ATENÇÃO!
Sempre que aparecer o ícone ao
lado você poderá clicar e acessar o
conteúdo indicado de forma direta.

O simbolo ao lado, presente ao final


de cada página, permite que você
retorne ao sumário com um clique!
Sumário
12
GLOSSÁRIO

14
APRESENTAÇÃO

15
INTRODUÇÃO

16
CAPÍTULO 1 - POR QUE É IMPORTANTE MONITORAR E
AVALIAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS?

30
CAPÍTULO 2 - COMO MONITORAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS
DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL (DUS)?

45
CAPÍTULO 3 – CONSTRUINDO INDICADORES PARA
MONITORAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL (DUS)

61
CAPÍTULO 4 – ARRANJOS INSTITUCIONAIS, GESTÃO DE
DADOS E DOS PROCESSOS DE MONITORAMENTO

68
CONSIDERAÇÕES FINAIS

69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sobre a
autora

Patricia Sepe

Geóloga. Mestre em geologia e meio ambiente, e doutora em


geografia urbana pelo IGCE/UNESP Rio Claro. É geóloga efetiva
da Prefeitura de São Paulo há 32 anos, na qual trabalhou em
diversas secretarias municipais. Trabalhou por mais de 20 anos
na Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, na qual
ocupou cargos de direção, entre eles o de chefia de gabinete e
de assessoria técnica de SVMA. Também coordenou projetos
na área de indicadores, entre eles o Atlas Ambiental do MSP,
GEO Cidade de São Paulo e os dois primeiros inventários de
emissão de GEE. Atualmente, trabalha na Secretaria Municipal
de Urbanismo e Licenciamento, na qual participou da criação do
Plano Diretor Estratégico e da revisão da Lei de Parcelamento,
Uso e Ocupação do Solo. Nos últimos 5 anos, coordenou a frente
de dados e evidências do Projeto Ligue os Pontos, premiado
pela Bloomberg Philanthropies. Atualmente, é servidora da
Coordenadoria de Informações – GEOINFO/SMUL.

Para conhecer o currículo detalhado acesse

LATTES:
http://lattes.cnpq.br/0105548665244093
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

GLOSSÁRIO

Agrobiodiversidade: parte agrícola da biodiversidade, formada pelas plantas cultivadas


pelas pessoas. A agrobiodiversidade resulta do relacionamento de milhares de anos
do ser humano com a natureza, por meio da prática de domesticação de plantas e da
agricultura.

Centralidade urbana: são espaços multifuncionais e autossuficientes localizados em


diferentes pontos da cidade. Eles buscam equilibrar a distribuição de equipamentos,
emprego e moradia, e reduzir os custos de deslocamento.

Cisterna: depósito ou reservatório para captar, armazenar e conservar a água. É


semelhante a uma caixa d’água, podendo ser de água potável, água da chuva ou água de
reuso.

Compacidade urbana: medida espacial relacionada às interações humanas e à


organização de atividades dentro de uma área urbana. O índice de compacidade mede
a forma urbana e sua fragmentação. O conceito está diretamente ligado à densidade
urbana. O consumo do solo em uma área densa é proporcionalmente menor e, assim, a
cidade será compacta. A concentração de pessoas refletirá na demanda e no investimento
em todo o sistema de transporte público, de equipamentos sociais e de lazer.

Desertificação: processo de perda da qualidade dos solos devido às alterações


provocadas pela intervenção do ser humano no meio. Ocorre principalmente em zonas
de clima árido e semiárido. As principais causas são a supressão da vegetação nativa
(desmatamento), queimadas, erosão e o uso inadequado do solo para as atividades
agrícolas.

Eficiência: quando uma política/programa/projeto é realizada da melhor maneira


possível, ou seja, com menos desperdício ou em menor tempo.

Eficácia: quando uma política/programa/projeto atinge o objetivo, a meta ou o resultado


previsto.

Efetividade: capacidade de atingir um resultado (eficácia) da melhor maneira possível


(eficiência), impactando na correta transformação da situação original.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): indicador sintético usado para classificar o


grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida dos países. É obtido a partir
de indicadores de educação, saúde e renda. Atualmente, é possível calcular o IDH para
municípios e bairros, por exemplo.

Índice pluviométrico: volume de chuva que cai em uma certa área (cidade, bairro e
região) em um certo período (hora, dia, mês e ano). É medido em milímetros e divido por
uma unidade de tempo.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU): tributo cobrado sobre todos os tipos de
imóveis: residências, prédios comerciais e industriais e terrenos. É um imposto municipal
e a sua finalidade é arrecadar recursos financeiros para os municípios.

Mudança global do clima: transformações de longo prazo nos padrões de temperatura


e clima. Essas alterações podem ser naturais, mas nos dois últimos séculos as atividades
humanas têm sido a sua principal causa. São causadas principalmente pela queima de
combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, que produzem gases de efeito estufa
(retêm o calor).

Ociosidade urbana: situação de um imóvel que tem um(a) proprietário(a), mas não é
utilizado. Pode ser também um imóvel destinado a uma atividade que o utiliza menos do
que o permitido pela legislação urbana.

Pagamento por Serviços Ambientais: remuneração (monetária ou não) pelos serviços


ambientais prestados em suas propriedades por proprietários(as) ou possuidores(as) de
imóveis. Podem ser produtores(as) rurais, agricultores(as) familiares e assentados(as),
assim como comunidades tradicionais e povos indígenas. O pagamento é feito pelos
serviços que geram benefícios para toda a sociedade.

Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsórios (PEUC): instrumento que busca


garantir o princípio da função social da propriedade. De acordo com esse princípio, o
poder público obriga o(a) proprietário(a) a parcelar, edificar ou utilizar o imóvel que não
tiver aproveitamento adequado.

Policentrismo urbano: área urbana com mais de um centro. O fenômeno ocorre em um


território urbano que tende a se agrupar em vários centros de atividades.

Produto Interno Bruto (PIB): soma do valor de todos os bens e serviços finais realizados
em uma certa localidade ao longo de um tempo específico.

Quilombo: nome dado aos espaços e às comunidades criadas a partir de situações de


resistência territorial, social e cultural no Brasil. Funcionam de acordo com a cultura e a
tradição (normalmente em comum) das pessoas que ali moravam. Surgiram no período
colonial e foram formadas por pessoas negras escravizadas.

Tecnologia social: conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas


e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela. Representam
soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida.
14
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

APRESENTAÇÃO

O conteúdo deste módulo foi estruturado a partir da ideia de que para alcançar a
sustentabilidade das cidades, a população precisa participar da criação, acompanhamento
e avaliação das políticas públicas. Essa ideia se baseia em dois grandes pilares do
Estado democrático de direito: o exercício da cidadania e a concretização de direitos
fundamentais. Isso só é possível quando os canais de participação social não são mais
deixados em segundo plano e se tornam de fato parte da gestão democrática das cidades.

Propomos discutir conceitos importantes, alguns deles já apresentados em outros


módulos deste curso. Dessa forma, esperamos incentivar a reflexão sobre a importância
do monitoramento e da avaliação de políticas públicas. Elas e outras ações compõem
o chamado Sistema de Acompanhamento e Controle, instituído pelo Estatuto da
Cidade. Esse sistema ainda não se encontra construído e consolidado na maioria das
cidades brasileiras depois de mais de 20 anos. Portanto, é fundamental apresentar
experiências já implantadas em algumas cidades, considerando as diferentes realidades
urbanas do país. Também buscamos demonstrar que há possibilidades de contornar
dificuldades e limitações para se obter, consolidar e disponibilizar dados, com o objetivo
de construir um sistema de monitoramento e avaliação.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, houve a piora das condições socioeconômicas, aumento dos
impactos da mudança do clima, avanço da reforma do Estado brasileiro e dos processos
de descentralização do poder. Com isso, os governos locais precisaram assumir seu papel
de formuladores de políticas públicas voltadas à promoção de cidades mais inclusivas,
justas e sustentáveis. Enfrentar os desafios postos às cidades significa muito mais
do que apenas destinar racionalmente os recursos. É preciso utilizar instrumentos de
planejamento e gestão que contribuam com a formulação de políticas públicas urbanas
e sejam capazes de monitorar a implementação, avaliar os resultados e alimentar novos
processos de atualização e revisão dessas políticas.
Apresentaremos neste módulo a importância de se monitorar e avaliar as políticas
públicas voltadas ao desenvolvimento urbano sustentável. São instrumentos que ajudam
a tomada de decisão e contribuem para uma participação mais efetiva da sociedade. Dessa
forma, todas as pessoas podem assumir o papel de agentes de transformação por meio
do acompanhamento e do controle social da criação, implementação e monitoramento
dos resultados e impactos dessas políticas.
Pretende-se que ao final do módulo se entenda melhor os conceitos e as práticas
envolvidos nos processos de monitoramento e avaliação. O objetivo é que se tornem
fontes de aprendizado sobre a realidade de implementação e execução das políticas
de desenvolvimento urbano. Esses processos precisam ser contínuos, cumulativos e
participativos, respeitando as dinâmicas sociais e as limitações e particularidades locais.
Demonstraremos que construir sistemas de monitoramento e seus indicadores não é a
solução, mas, sim, o caminho. Essa construção não pode estar descolada da realidade
da grande maioria dos municípios brasileiros, que enfrenta cotidianamente a falta de
recursos humanos e financeiros. Isso tem um impacto na quantidade e na qualidade das
informações disponíveis. Os capítulos deste módulo mostram os desafios desse processo,
retratando a dificuldade do tema e o risco de apropriação incorreta dessas ferramentas.
Demonstraremos também através de exemplos as possibilidades do processo.

AULA MAGNA
MÓDULO 7

Aula Magna do Módulo 7 -


Apresentação de Elisângela Teixeira,
diretora do Observatório do Instituto de
Planejamento de Fortaleza (CE).
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 1 – POR QUE É IMPORTANTE MONITORAR


E AVALIAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS?

Neste capítulo buscamos discutir o que é uma política pública e qual é a sua importância.
Políticas públicas são essenciais para o desenvolvimento humano, para a formação da
cidadania e para a promoção de igualdades. Por meio delas se estabelece diretrizes para
as ações do poder público com objetivos e metas, buscando evitar atividades que não
atinjam seus objetivos e desperdicem dinheiro público.

Apresentaremos as principais definições e tipologias de monitoramento e avaliação de


políticas públicas.

1.1 O que é política pública?


Antes de iniciarmos a discussão sobre monitoramento e avaliação 1 Em texto onde
de políticas públicas, parece-nos importante entender o que é uma contextualiza a
política urbana
política pública. Esse conceito é amplo e tratado por muitas áreas do no Brasil e
conhecimento, como as ciências políticas, o direito e a administração. apresenta
Segundo Souza (2002), não existiria uma única, nem melhor definição do reflexões
iniciais para a
que seja política pública. construção da
Política Nacional
Para Bucci (2002) as políticas públicas são instrumentos capazes de de Desenvolvi-
mento Urbano
efetivar direitos fundamentais sociais mediante a ação conjunta dos (PNDU).
poderes públicos. Elas devem dar à população as condições necessárias
para aproveitar a real liberdade, a igualdade material e a dignidade
humana. Ainda segundo a autora:

[...] uma política é pública quando contempla os interesses


públicos, isto é, da coletividade — não como fórmula
justificadora do cuidado diferenciado com interesses
particulares ou do descuido indiferenciado de interesses que
merecem proteção — mas como realização desejada pela
sociedade.

Fábio Comparato (2003) define a política como:

[...] um programa de ação governamental. Ela não consiste,


portanto, em normas ou atos isolados, mas consiste numa
atividade ordenada de normas e atos, dos mais variados tipos,
conjugados para a realização de um objetivo determinado.
[...] toda política pública, como programa de ação, implica,
portanto, numa meta a ser alcançada e num conjunto
ordenado de meios e instrumentos – pessoais, institucionais e
financeiros – aptos à consecução desse resultado.

As políticas públicas em geral e as políticas de desenvolvimento urbano


não são exceções. Elas são desenhadas e implementadas por um
conjunto diverso de agentes/atores, refletindo as relações de poder do
espaço-tempo e as interações estabelecidas. Para IPEA (2021)1 “[...] cada
política é ao mesmo tempo uma expressão das correlações de força e
da atuação dos agentes/atores e uma potência de transformação da
realidade que não é neutra na própria produção do espaço”.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Uma política pública deve ser


expressão de um processo público.
Ela deve ser uma abertura à
VOCÊ SABIA ?
VOCÊ SABIA QUE EXISTEM QUATRO TIPOLOGIAS
DE POLÍTICAS PÚBLICAS?
participação direta ou indireta
de todas as pessoas interessadas Políticas Públicas Distributivas:
direcionadas a certos grupos de pessoas para
para manifestarem de forma clara beneficiar parte da população que não tenha acesso
e transparente as posições em jogo a um determinado direito. Por exemplo: política de
incentivos fiscais para pequenos produtores.
(BUCCI, 2002).
Políticas Públicas Redistributivas:
As políticas públicas devem aplicadas a um grupo maior de pessoas. Possuem um
caráter social e são voltadas à garantia do bem-estar
ser estáveis no tempo, ou seja, social. Por exemplo: Programa Bolsa Família.
não devem estar ligadas a um(a) Políticas Públicas Regulatórias:
governante de plantão ou a uma organizam o funcionamento do Estado e podem
envolver regras de processos burocráticos ou normas
vontade política eleitoreira. de comportamento dos cidadãos. Por exemplo: Política
Podem ser adaptadas, corrigidas de saúde antitabagista (legislação que proíbe fumar em
ambientes fechados).
e aprimoradas, mas sempre por
Políticas Públicas Constitutivas:
um processo de monitoramento regulamentam os procedimentos e as regras
e de avaliação participativo e das políticas públicas. Por exemplo: regras de
funcionamento das eleições.
transparente.

Figura 1: Tipologias de políticas públicas.


Fonte: Elaborado pela autora. Elaboração gráfica do LabHab (2022).
18
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

1.2 Ciclo da Política Pública


Para entendermos o monitoramento e a avaliação de uma política pública é fundamental
entendermos quais são as etapas do Ciclo da Política Pública (Figura 2). Como o próprio
nome diz, não se trata (ou pelo menos não deveria se tratar) de um processo linear, mas sim
cíclico. As suas etapas de monitoramento e avaliação retroalimentam a implementação e
execução da política pública com correções de rumo e aperfeiçoamentos.

Figura 2: Ciclo das políticas públicas


Fonte: Adaptado de Campos (2015). Elaboração gráfica do Labhab (2022).

Vamos ver o exemplo do Programa Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e


outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas) para facilitar o entendimento desse
ciclo e de suas etapas. Ele foi desenvolvido pelo antigo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, atual Ministério da Cidadania. O Quadro 1 descreve as etapas
desse programa, reformulado em 2011, e que passou a ser chamado de Programa Água
para Todos.
19
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Quadro 1 – Etapas do Programa Nacional de Apoio à Captação de Água


de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas) do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (atual Ministério da
Cidadania)
Fonte: Adaptado de https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/inclusao-
produtiva-rural/acesso-a-agua-1/ e https://asabrasil.org.br/acoes/p1mc#atividades-p1mc.

Política Etapas Descrição


Pública

Dificuldade de acesso à água na região semiárida


brasileira, que ocupa 12% do território nacional e
compreende 1.262 municípios do nordeste e norte
Identificação de Minas Gerais. Nessa região vivem 28 milhões de
do problema/ brasileiros (38% deles em zonas rurais). Os baixos
demanda índices pluviométricos comprometem as atividades
básicas e produtivas dessa região do país há séculos
e com tendência de agravamento, considerando
as previsões feitas pelo IPCC quanto aos impactos
das mudanças globais do clima na região.

Em julho de 1999, durante a 3ª Conferência das Partes


da Convenção de Combate à Desertificação e Seca
(COP 3), realizada em Recife, foi criada a Articulação
Programa Inclusão na Semiárido Brasileiro (ASA). Trata-se de organização
Cisternas agenda não governamental que congrega milhares de
entidades. A ASA propôs o Programa 1 milhão de
Cisternas para minimizar o problema de acesso a
água (impactos na saúde pública, na economia e no
desenvolvimento local, no saneamento básico etc.).

Considerou-se a capacidade técnica de execução


proposta pela Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA), o orçamento público, o público-alvo (famílias
Formulação rurais de baixa renda atingidas pela seca ou com
de soluções/ falta regular de água, dando prioridade para povos
alternativas e comunidades tradicionais) e a abrangência do
programa. A partir desses e de outros fatores
foram propostas soluções/alternativas para a
construção de uma política de acesso à água.
20
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Política Etapas Descrição


Pública

Em 2001, foi iniciado um projeto piloto com


financiamento do Ministério do Meio Ambiente
(MMA). Após o sucesso dos primeiros
Tomada de resultados, o projeto passou a ser uma
decisão política pública coordenada pelo Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. A alternativa escolhida foi adotar
tecnologia social de construção de cisternas
para captar e armazenar água da chuva.

Planejamento e execução interagindo com


a população diretamente beneficiada, e
Planejamento em parceria com as organizações sociais
da execução e com a mão de obra local. Envolve
técnicas e metodologias adequadas, de
baixo custo e de fácil implementação.

O Programa Cisternas foi implementado


em 2003 com coordenação do Ministério
Programa Implementação de Desenvolvimento Social e Combate à
Cisternas Fome (atual Ministério da Cidadania). O
programa existe até hoje e é responsável pela
implantação de mais de 1,2 milhão de cisternas.

Graças às etapas de avaliação do


programa, foi possível identificar
a necessidade de sua ampliação.
Em 2008, foi introduzida uma nova tipologia
de cisterna, a calçadão. O objetivo era
captar água para atividades produtivas
(capacidade de armazenamento de 52 mil
litros), garantindo a segurança alimentar local.
Monitoramento Atualmente, o programa possui um Sistema
e avaliação de Informações Gerenciais (SIG Cisternas)
para garantir seu controle e transparência.
Todas as cisternas construídas são
cadastradas neste SIG, com os dados
georreferenciados da pessoa beneficiária e
das etapas de construção. Também é anexado
à documentação um Termo de Recebimento
assinado pela família. É um documento com
foto que comprova a entrega da tecnologia.
21
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

ATIVIDADE
PROGRAMADA
Alguma experiência
no seu município
completou esse ciclo?
Descreva relacionando
com as etapas
mencionadas.
Foto 1: Cisterna do Programa 1 Milhão de Cisternas
Fonte: ASA Brasil (s.d.).

1.3 Avaliação e monitoramento de 2 A década de 1990 foi


caracterizada por uma sucessão de
políticas públicas – definições e principais crises cambiais, como a do Sistema
tipologias Monetário Europeu, em 1992; a
do México, em 1994; a asiática, em
A avaliação e o monitoramento fazem parte do ciclo de 1997; a russa, em 1998; a brasileira,
uma política pública, como apresentado no item anterior. em 1998 e 1999; e a argentina.

?
Os dois devem ser utilizados para aprimorar essa política
e garantir a participação e o controle social.
VOCÊ SABIA
Rua (2010) define a avaliação como o exame sistemático As primeiras avaliações de
de intervenções planejadas na realidade. Usa como políticas públicas surgem
na década de 1960, nos
base procedimentos científicos de coleta e análise de Estados Unidos. Elas foram
informação sobre o conteúdo, a estrutura, o processo, institucionalizadas com
um enfoque top-down, ou
os resultados e/ou impactos de políticas, programas ou seja, de cima para baixo,
determinadas pelo presidente
projetos. norte-americano para avaliar
programas sociais. Nas
A avaliação foi usada inicialmente nos Estados Unidos na décadas seguintes, ocorre um
boom da avaliação associado
década de 1960. Ela foi aplicada em programas sociais e ao movimento de reforma
ampliada nas décadas seguintes, principalmente em países do Estado e de seu aparelho
administrativo, conhecido
desenvolvidos. No Brasil, diversos fatores contribuíram como New Public Management
para que o Estado brasileiro passasse a redefinir sua (Nova Gestão Pública). Esse
movimento recomendava uma
área de atuação a partir dos anos 1990, reestruturando redefinição do papel do Estado
e a implantação de mecanismos
sua função de planejamento e gestão. O processo de de gestão da iniciativa
redemocratização trouxe à tona novos atores sociais privada na administração
pública. No Brasil, essa nova
e novas reivindicações aos governantes. A crise fiscal orientação político-ideológica
diminuiu a capacidade de gasto dos governos e aumentou e gerencial acontece com a
Reforma Administrativa em
a pressão por maior eficiência. A crise econômica em 1998, por meio da Emenda
Constitucional nº 19
que o país e o mundo estavam mergulhados2 aumentou (RAMOS; SCHABBACH,
a desigualdade social e a busca por serviços e políticas 2012).
sociais (RAMOS; SCHABBACH, 2012).
22
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Segundo Ramos e Schabbach (2012), nas


duas últimas décadas o interesse cada vez
VOCÊ SABIA ?
O termo accountability em inglês não
maior dos governos brasileiros pela avaliação tem uma tradução específica para o
de políticas públicas está relacionado à português, mas pode ser relacionado com
responsabilização, fiscalização e controle
efetividade, à eficácia, à eficiência, ao social. O objetivo da accountability na
desempenho e à accountability da gestão gestão pública é reduzir os riscos da
concentração de poder e garantir que
pública. Há também pressões e exigências a população participe da tomada de
decisão dos governos. Isso contribui para
de organismos financiadores, como o uma gestão democrática e exige que os
Banco Mundial e o Banco Interamericano gestores públicos sejam transparentes
com a sociedade em relação aos seus atos.
de Desenvolvimento (BID), e de entidades Ela corresponde à capacidade de imprimir
internacionais. Os órgãos de controle transparência, controlar e responsabilizar
o(a) agente por suas ações e omissões
também estão atuando mais nesse sentido (SECCHI, 2013).
(Tribunais de Contas, Ministério Público etc.).

1.3.1 Tipologias de avaliações

É recomendável que a escolha de avaliação e de metodologia leve em conta a natureza


do objeto a ser avaliado (características e especificidades) e os objetivos que se quer
alcançar com a avaliação. Ou seja, não existe uma receita única a ser aplicada para
monitorar e avaliar políticas públicas.

Vaitsman et al. (2006) apresentaram uma experiência pioneira do uso da avaliação e do


monitoramento nas políticas sociais do antigo Ministério de Desenvolvimento Social
e Combate à Fome. Destacam que é necessário definir conceitos mínimos e comuns
entre todos e todas antes do início da avaliação em equipes que geralmente não fazem
avaliações e monitoramentos.

Apresentamos no Quadro 2 abaixo as principais tipologias de avaliação. Elas variam de


acordo com o critério adotado.

Quadro 2 - Tipologias de avaliação de políticas públicas


Fonte: Adaptado de Rua (2011).

Critério Tipo de avaliação


Segundo o - Avaliação ex-ante (de custo-benefício);
momento em - Avaliação de meio-termo (de processos, de produtos, de qualidade e de satisfação);
que se realiza - Avaliação ex-post (de resultados e de impactos).

Segundo a - Avaliação de conformidade (de atendimento às normas e à legislação);


função da - Avaliação somativa (importância quanto à continuidade ou não da política);
avaliação - Avaliação formativa (para o aperfeiçoamento durante a execução da política).
Segundo - Avaliação externa;
a origem - Avaliação interna;
da equipe - Avaliação mista;
avaliadora - Avaliação participativa.
23
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Apresentamos a seguir uma breve descrição das principais tipologias de avaliação


(Quadro 3), mesmo não sendo objetivo deste módulo detalhar todas elas.

Quadro 3 - Principais características das avaliações


ex- ante, ex- post e de meio termo

Fonte: Adaptado de Rua (2011).

Critério Tipo de avaliação


É realizada antes de começar a implementar o programa/política. Seu principal
objetivo é oferecer suporte à decisão de implementação.
Avaliação ex- Destaca-se neste tipo de avaliação o diagnóstico (ou estudo da situação), quando
ante se mapeiam as necessidades e são realizados estudos de viabilidade. Esses estudos
orientarão a formulação do programa e examinarão o custo-benefício e o custo-
efetividade. Pretende adequar os recursos disponíveis aos objetivos propostos.

É realizada durante a execução ou no final do programa/política. Julga-se se o programa/


política em execução deve continuar com base nos resultados obtidos até o momento. Se
Avaliação ex- a resposta for positiva, avalia-se a manutenção da formulação original ou a necessidade
post de modificações, redirecionando os objetivos, propostas e atividades. Examina-se a
importância do uso futuro da experiência do programa concluído, isto é, se o mesmo tipo
de programa deve ser repetido ou não.
É a avaliação mais desenvolvida metodologicamente e a que tem sido mais usada..

Semelhante à avaliação ex post. É realizada geralmente durante a implementação do


programa/política.
- Procura detectar as dificuldades que ocorrem durante a implementação para fazer
correções e adequações;
Avaliação de - Permite responder se as ações estão de fato atingindo o público-alvo e se os
meio-termo benefícios estão sendo distribuídos corretamente;
- Dá suporte para melhorar a eficiência de operação e a eficácia dos programas/
políticas;
- Voltada às lideranças mais diretamente envolvidas na operação do programa/política.

1.3.2 Monitoramento de políticas públicas

O objetivo do monitoramento é abastecer continuamente as lideranças com informações


mais simples e apropriadas sobre a operação e os efeitos do programa. Elas geralmente
são resumidas em painéis ou sistemas de indicadores (JANNUZZI, 2009).

Monitoramento e avaliação não são sinônimos, ainda que os dois processos ou etapas
estejam intimamente ligados (Figura 3). Não é possível realizar uma boa avaliação sem
um conjunto de indicadores consistentes e atualizados, não importa a metodologia
24
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

utilizada. No entanto, é possível construir um sistema de monitoramento sem que seja


feita a avaliação. Ela é a etapa mais complicada e não pode ser tratada apenas como um
acompanhamento periódico das ações governamentais.

Monitoramento e avaliação são processos de análise organicamente articulados, que


se complementam no tempo. Às vezes, são mais resumidas e oportunas, às vezes têm
caráter mais analítico sobre o funcionamento das ações. Podem ser levantadas inclusive
por meio de pesquisas de avaliação.

Como bem definiram Garcia (2001) e Rua (2010), o monitoramento é um processo


sistemático e contínuo de acompanhamento de uma política, programa ou projeto. Ele
se baseia em um conjunto limitado, mas importante, de informações. Permite avaliar
rapidamente a situação e identificar fragilidades na sua execução. O objetivo é ajudar a
intervenção e a correção oportunas para que atinjam seus resultados e impactos.

O monitoramento é realizado por meio de indicadores produzidos regularmente


com base em diferentes fontes de dados. Elas dão às lideranças informações sobre
o desempenho de programas, permitindo verificar se objetivos e metas estão sendo
alcançados (VAITSMAN et al., 2006).

Figura 3: Características das etapas de monitoramento e avaliação de


políticas públicas, e diferenças quanto ao processo de acompanhamento.
Fonte: Adaptado de Ato Urbano (2020) e Rua (2011). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
25
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

1.4 Indicadores como instrumento do monitoramento e da


avaliação de políticas públicas
Os indicadores vêm sendo discutidos há décadas pela academia, organismos
internacionais, agências financiadoras, órgãos governamentais e, mais recentemente,
pela sociedade civil. Há muitos textos e experiências disponíveis, entre eles os indicadores
e índices econômicos e sociais. Eles têm metodologias consolidadas e usos consagrados
tanto na esfera pública quanto na privada.

Entre muitos índices econômicos disponíveis temos: o Produto Interno Bruto (PIB); o PIB
per capita; o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da
inflação do país; e o indicador de consumo per capita. Exemplos de indicadores sociais
são: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); o Índice Paulista de Vulnerabilidade
Social (IPVS); e a taxa de mortalidade/sexo.

A agenda ambiental foi integrada às pautas


urbanas a partir da década de 1990, em especial a
partir da Conferência Habitat-II (Istambul 1996).
Intensificaram-se os debates e iniciativas de
como medir o desenvolvimento sustentável e a

1
PARA MAIS
sustentabilidade. Mais recentemente, discute-se INFORMAÇÕES
como medir o desenvolvimento urbano sustentável e SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
a sustentabilidade urbana, sendo que até hoje não se
MÓDULO 1.
chegou a um consenso. Consulte o Módulo 1 para mais
detalhes sobre esse assunto.

Os indicadores de
monitoramento e
APROFUNDE-SE avaliação de políticas
Caso tenha interesse em se aprofundar
mais sobre indicadores sociais, incluindo
públicas urbanas devem
uma análise sobre os impactos da pandemia ser capazes de medir não
de COVID-19 na população brasileira, só o cumprimento de
consulte a publicação do IBGE Síntese
de Indicadores Sociais: Uma análise das
objetivos e metas, mas
condições de vida da população brasileira: também o quanto estas
2021. políticas contribuem
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE
para o desenvolvimento
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese urbano sustentável. Assim,
de indicadores sociais: uma análise das apresentamos a seguir
condições de vida da população brasileira:
2021. IBGE: Rio de Janeiro, 2021.
os principais conceitos e
tipologias de indicadores
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov. usados normalmente
br/index.php/biblioteca-catalogo?view=de-
talhes&id=2101892
no monitoramento e na
avaliação.
26
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Como introduzido pelo Módulo 3, “[...] indicadores


são medidas que nos ajudam a identificar e

3
PARA MAIS
quantificar aspectos de uma determinada INFORMAÇÕES
situação da realidade que desejamos avaliar”. SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
Indicador também pode ser definido como
MÓDULO 3.
um instrumento que resume um conjunto de
informações em um número. Portanto, ele permite
medir certos fenômenos entre si ou ao longo
de certo tempo. Os indicadores são utilizados
para simplificar informações sobre fenômenos
complexos e comunicá-los de modo mais
compreensível e quantificável (Figura 4).
Um indicador é o meio e não o fim. É necessário ter clareza de sua função e utilidade,
ainda que ele seja o instrumento operacional do monitoramento e da avaliação de
programas/políticas. Caso contrário, é possível produzir informações inadequadas
sobre a realidade na qual se pretende intervir. Como apontado por Kayano e Caldas
(2002), é preciso cautela tanto na construção quanto na interpretação dos indicadores,
pois eles servem a vários interesses.

Figura 4: Pirâmide de informações.


Fonte: Adaptado de Hammond (1995 apud VAN BELLEN, 2005) e de
Souza (2013). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
27
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A escolha, construção e posterior alimentação/atualização de um indicador nem sempre


é uma tarefa fácil. Sua qualidade depende de diversos fatores ou propriedades que
definirão se um indicador é bom ou não. Elas devem ser seguidas sempre que possível.
Na Figura 5 apresentamos essas propriedades.

Figura 5: Propriedades de um indicador.


Fonte: Elaborado pela autora. Elaboração gráfica do LabHab (2022).

1.4.1 Tipologias de indicadores

Há diversas classificações e tipologias de indicadores. O Quadro 4 abaixo busca resumir


as principais tipologias a partir do proposto por Januzzi (2001). No entanto, como
observado pelo autor, em muitas situações um indicador pode ser classificado em mais
de uma tipologia, de acordo com a prática da pesquisa e de suas propriedades. Por
exemplo, a taxa de mortalidade infantil é um indicador de saúde, mas também pode ser
um indicador de saneamento. O tempo gasto com deslocamento até o trabalho é um
indicador de infraestrutura, mas também de condições de vida.
28
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Quadro 4 – Principais classificações e tipologias de indicadores


Fonte: Adaptado de Januzzi (2001).

Classificação Tipologia Exemplo

- Econômicos; - Renda per capita;


- Sociais; - Proporção de gestações em
Natureza - Ambientais etc. adolescentes;
- Índice de Qualidade da Água
(IQA).

- Saúde; - Percentual de crianças nascidas


- Educação; com peso adequado;
Temática - Meio ambiente; - Escolaridade média da
- Desenvolvimento população com mais de 15 anos;
urbano etc. - m² de área verde/habitante;
- nº de habitante/hectare.

Objetividade/ - Quantitativos - Taxa de evasão escolar


Percepção
- Qualitativos - Índice de satisfação do
consumidor

- Simples - Percentual de domicílios com


acesso à água encanada
Complexidade
- Composto ou Índice - IDH, IPVS

AULA 1
MÓDULO 7

Aula 1 - Por que é


importante monitorar e
avaliar políticas públicas?
29
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

O monitoramento e avaliação de políticas públicas também usa uma classificação ou


tipologia de indicador baseada na etapa em que é utilizado, como mostra a Figura 6.

Figura 6: Tipologias de indicadores


a partir da etapa de sua construção.
Fonte: Januzzi (2018).
Elaboração gráfica do Labhab (2022).

APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em se aprofundar na construção e uso de indicadores sintéticos ou índices, há uma
ampla literatura sobre o clássico debate das potencialidades e limitações do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Ele foi proposto em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
sob a liderança do economista paquistanês Mahbub ul Haq e com base no enfoque proposto por Amartya
Sen (Prêmio Nobel de economia de 1998). O PNUD publica desde 1990 relatórios anuais sobre as diversas
dimensões do desenvolvimento humano.

VEIGA, J. E. Problemas do uso ingênuo do IDH-M. Valor, [s.l.], 14 jan. 2003. Disponível em: http://www.zeeli.
pro.br/wp-content/uploads/2012/06/002_14-01-03-PROBLEMAS-DO-USO-INGENUO-DO-IDH-M.pdf.
Acesso em 05/07/22

JANNUZZI, P. M.; BARRETO, R. S.; SOUSA, M. F. Monitoramento e Avaliação do Desenvolvimento Humano:


a insensibilidade do Índice de Desenvolvimento Humano às políticas de desenvolvimento social. Revista
Brasileira de Monitoramento e Avaliação, [s.l.], v. 5, p. 60-79, 2013.

GUIMARÃES, J. R. S.; JANNUZZI, P. M. IDH, Indicadores sintéticos e suas aplicações em políticas públicas:
uma análise crítica. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Salvador, v. 7, n. 1, p. 73-89, maio 2005.
Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/136. Acesso em 05/10/22
30
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 2 - COMO MONITORAR AS POLÍTICAS


PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL (DUS)?

Neste capítulo demonstraremos no contexto atual das cidades brasileiras a importância


do monitoramento e da avaliação das políticas urbanas. Em especial, a importância do
Plano Diretor para se buscar o desenvolvimento urbano sustentável, incluindo as pautas
propostas pela Nova Agenda Urbana, ODS e ODUS. É importante que os sistemas de
monitoramento e avaliação sejam construídos de forma participativa, e se mantenham
atualizados. Eles devem integrar as políticas urbano-ambientais e os instrumentos
de planejamento e execução orçamentários (Planos Plurianuais, Lei de Diretrizes
Orçamentárias). Para isso, discutiremos neste capítulo experiências de monitoramento
de políticas urbanas realizadas em cidades brasileiras.

2.1 O monitoramento do desenvolvimento urbano sustentável,


a nova agenda urbana e os objetivos do desenvolvimento
sustentável (ods)
Utilizar instrumentos de monitoramento e avaliação de políticas públicas ainda é uma
prática relativamente recente no Brasil. Principalmente se comparado com os EUA e a
Europa.
Segundo Januzzi (2018), estrutura-se no Brasil um sistema de políticas públicas mais
amplo em objetivo e escala desde a Constituição de 1988 e, posteriormente, no início
dos anos 2000. Ele tem um caráter universal e é combinado com ações redistributivas
(universalismo com equidade). Essas políticas e programas passam a exigir que se
estruture um sistema de monitoramento e avaliação pela dimensão, complexidade e
volume de recursos aplicados. Em 2003, cria-se então a Secretaria de Avaliação e Gestão
da Informação (SAGI), no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, atual
Ministério da Cidadania.

Consolidou-se na gestão pública federal uma robusta estrutura metodológica a partir


dessa estrutura institucional. Vêm sendo disponibilizadas à sociedade várias publicações
com os resultados da avaliação das políticas e programas sociais públicos, entre eles
Bolsa Família, Programa Cisternas, Luz para Todos, Pontos de Cultura e Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA).

Ainda temos muito a avançar no monitoramento e avaliação municipais de políticas e


programas de desenvolvimento urbano. Principalmente se comparado com a experiência
das políticas sociais.
31
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade), art. 42, inciso III prevê
que o Plano Diretor tenha um sistema de acompanhamento e controle. Porém, não
havia na lei um detalhamento desse sistema. O detalhamento foi dado quatro anos depois
da edição do Estatuto da Cidade por uma resolução do então Conselho das Cidades
(ConCidades). A Resolução nº 34, de 1 de julho, estabelece em seu art. 6º:

Art. 6º. O Sistema de Acompanhamento e Controle Social previsto pelo art. 42,
inciso III, do Estatuto da Cidade deverá:

I – prever instâncias de planejamento e gestão democrática para implementar e


rever o Plano Diretor;

II – apoiar e estimular o processo de Gestão Democrática e Participativa,


garantindo uma gestão integrada, envolvendo poder executivo, legislativo,
judiciário e a sociedade civil;

III – garantir acesso amplo às informações territoriais a todos os cidadãos;

IV – monitorar a aplicação dos instrumentos do Plano Diretor e do Estatuto da


Cidade, especialmente daqueles previstos pelo art. 182, § 4º, da Constituição
Federal.

Podemos observar avanços na elaboração


VOCÊ SABIA ?
Os instrumentos previstos no art. 182
de Planos Diretores, pois 100% das da Constituição Federal (BRASIL, 1988)
cidades com mais de 100 mil habitantes e tratam da garantia do cumprimento do
princípio da função social da propriedade
87% das cidades de 20 a 100 mil habitantes pelo poder público municipal. Ele usa
possuem PD (UNIC, 2015). O mesmo para isso o parcelamento e edificação
pode ser dito sobre a regulamentação compulsórios e o IPTU progressivo.
Além da desapropriação com pagamento
de instrumentos que tenham a função através de títulos da dívida pública de
social da cidade como objetivo. Porém, há imóveis não edificados, subutilizados ou
poucas avaliações sistematizadas sobre não utilizados que não sejam aproveitados
adequadamente (função social da
seu impacto concreto nos territórios propriedade).
municipais.

A grande maioria dos Planos Diretores


aprovados depois de 2001 já incorpora os
instrumentos urbanísticos e ambientais

14
previstos no Estatuto da Cidade. O objetivo
PARA MAIS
é garantir o pleno desenvolvimento das INFORMAÇÕES e
funções sociais da cidade e uma série SOBRE O TEMA
de direitos, como a democratização do VER TAMBÉM OS
acesso à terra urbanizada e o direito a MÓDULOS 1 e 4
cidades sustentáveis.
32
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) realizada pelo


IBGE anualmente coleta uma série de informações sobre os municípios
brasileiros. No entanto, não é possível saber quantas cidades brasileiras
possuem Conselhos Municipais de Política Urbana ou correspondentes.
São instâncias de planejamento e gestão democrática de implementação
e revisão do Plano Diretor. Também não é possível saber quantas possuem
sistemas de acompanhamento e controle de sua implementação como
determina o Estatuto da Cidade. A última pesquisa federal conduzida
sobre o tema é de 2015.

Podemos concluir que mesmo em algumas metrópoles e grandes cidades


brasileiras não há sistemas de monitoramento nem estão disponibilizadas
informações sobre a implementação de seu Plano Diretor e demais políticas
urbanas. Também é possível encontrar cidades onde foram implementadas
iniciativas para acompanhar e controlar políticas e programas. Porém,
elas foram descontinuadas ou apresentam informações desatualizadas.
A Secretaria de Estado de Gestão do Território e Habitação (SEGTH)
reconhece essa fragilidade das cidades brasileiras em documento que
discute a metodologia de implementação do Observatório Territorial de
Brasília:

[...] a despeito de iniciativas pretéritas no sentido de implantar o


monitoramento de alguns dos temas que perpassam a política de
desenvolvimento urbano, a construção de indicadores que monitorem
a melhoria da qualidade urbana e ambiental das nossas cidades tem
ficado restritas ao controle orçamentário. (DISTRITO FEDERAL,
2018).

Rua (2010) afirma que se reconhece formalmente no Brasil esse tema em


documentos oficiais e científicos. Porém, ele não ocorre na prática em
processos sistemáticos e consistentes de modo a contribuir com a gestão
pública. A autora afirma que o consenso no discurso não seria suficiente
para se tomar esses processos como ferramentas de gestão. A tendência
é frequentemente entendê-los como “[...] um dever, ou até mesmo como
uma ameaça, impostos por alguma instância de governo ou por organismos
financiadores internacionais” (RUA, 2010).

Há um avanço da participação social nos processos de discussão e


deliberação das políticas de desenvolvimento urbano, ainda que impactada
pelas restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Experiências de
monitoramento de Planos Diretores em algumas cidades do país parecem
indicar uma mudança de postura das lideranças municipais. Esse instrumento
passou a ser considerado mais importante do ponto de vista gerencial e como
facilitador do diálogo entre o poder público e a sociedade. Apresentaremos
algumas experiências brevemente no próximo subcapítulo.
33
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

2.2 A importância do monitoramento integrado entre


políticas de desenvolvimento urbano e os instrumentos de
planejamento e gestão orçamentária
Como vimos no Módulo 6, o sistema orçamentário
é hoje composto pelo Plano Plurianual, pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias e pela Lei Orçamentária

6
PARA MAIS
Anual. Ele foi estabelecido pela Constituição INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
Federal de 1988 e somente com a aprovação do
VER TAMBÉM O
Estatuto da Cidade em 2001 passou a ser exigida
MÓDULO 6.
a ligação desses instrumentos com o planejamento
urbano através do Plano Diretor. O § 1o do art. 40
da Lei nº 10.257/2001 estabelece que:

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana.

§ 1º O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal,


devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual
incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.

Figura 7: Diretrizes e instrumentos da política urbana


Fonte: Adaptado de Lacerda et al. (2005). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
34
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Uma das dimensões do desenvolvimento sustentável é a econômica.


Por isso, é impossível pensar o planejamento urbano descolado
do planejamento orçamentário, já que os programas, projetos e
ações propostos no Plano Diretor só são possíveis por meio de uma
destinação mais racional dos recursos financeiros (Figura 7).

Segundo Buba (2019), priorizar e utilizar melhor o dinheiro público


seria o caminho para reduzir os problemas urbanísticos da maioria
dos municípios no quadro atual de falta de recursos públicos. No
entanto, passaram-se mais de vinte anos da obrigatoriedade da
integração entre os dois sistemas de planejamento e gestão (urbano e
orçamentário). Mesmo assim, essa integração ainda não se concretizou
na maior parte das administrações públicas municipais. Um dos
motivos foi a opção dos gestores em concentrar os investimentos
em determinadas áreas que geralmente já têm infraestrutura,
prejudicando áreas precárias que precisam de investimentos. Há
ainda os casos de Planos Diretores desatualizados, mal elaborados
tecnicamente, construídos sem a participação popular ou utilizados
de propósito para favorecer certos setores e grupos de influência.

Outra questão estrutural parece ser a diferença temporal da validade


do Plano Diretor. A sua total implementação deve ocorrer em um
período de 10 anos. A validade dos instrumentos orçamentários é de
no máximo quatro anos (PPA) e de um ano para a LDO e a LOA.

A maioria dos programas e ações previstos no Plano Diretor tem


expressão territorial, ou seja, são sujeitos à espacialização. A
integração dos dois sistemas possibilitaria que os investimentos
também fossem mais facilmente espacializados no território.

Wissenbach (2018) realizou um estudo sobre a territorialização


(georreferenciamento) do gasto público na cidade de São Paulo,
entre 2014 e 2017. Concluiu que identificar a dimensão territorial
do gasto é decisivo. Essa prática permitiria entender melhor a
efetividade das políticas públicas para reduzir as desigualdades. A
localização das despesas aproximaria a população da administração
pública, tornando os números mais concretos e dando sentido para a
discussão pública. Wissenbach (2018, p. 26) afirma que entre 2014 e
2017:

[...] a prefeitura não sabe informar a localização de 75% do


orçamento público, considerando o universo das ações que
claramente deveriam ter sua localização identificada. Ao
mesmo tempo, só sabe dizer, efetivamente, para onde vai 3%
do gasto público realizado (liquidado).
35
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

2.3 Como As Cidades Monitoram O Desenvolvimento Urbano


Sustentável
No início da década de 2000, o Estatuto da Cidade criou a previsão legal para monitorar e
avaliar políticas e programas de desenvolvimento urbano nas cidades brasileiras. Mesmo
assim, ainda há muito a ser feito.

Apresentaremos a seguir as experiências dos Planos Diretores de São Paulo e de Belo


Horizonte. Eles são exemplos de monitoramento do desenvolvimento sustentável.
Apresentaremos também a experiência de Fortaleza no monitoramento dos ODS e do
Instituto Cidades Sustentáveis ao criar o Índice de Desenvolvimento Sustentável das
Cidades.

O Quadro 5 traz alguns outros exemplos de cidades que criaram um Sistema de


Monitoramento. Isso estava estabelecido no texto-base dos seus respectivos Planos
Diretores Municipais.

Quadro 5 – Exemplos de cidades onde há previsão


de monitoramento do Plano Diretor
Fonte: Elaboração própria.

Cidades Lei do Plano Diretor Previsão de monitoramento do


PD
Lei nº 8.655, de 30 de julho Sistema Municipal de
Belém de 2008 Planejamento e Gestão

Lei Complementar nº 111, Sistema Integrado de


Rio de Janeiro de 1º de fevereiro de 2011 Planejamento e Gestão Urbana

Manaus Lei Complementar nº 002, Sistema Municipal de


de 16 de janeiro de 2014 Planejamento Urbano

Lei Complementar nº 482, Sistema Municipal de Gestão da


Florianópolis de 17 de janeiro de 2014 Política Urbana

Lei nº 14.771, de 17 de Sistema de Monitoramento e


Curitiba dezembro de 2015 Controle do Plano Diretor

Lei nº 9.069, de 30 de junho


Salvador de 2016 Salvador Dados

Lei nº 18.770, de 30 de Sistema de Informação e


Recife dezembro de 2020 Memória da Cidade do Recife

Lei Complementar no 349, Programa de Controle e


Goiânia de 4 de março de 2022 Monitoramento
36
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

2.3.1 MONITORAMENTO DE PLANOS DIRETORES DE SÃO PAULO E DE BELO


HORIZONTE

2.3.1.1 Monitoramento e Avaliação do Plano Diretor Estratégico da cidade de São


Paulo

O desenvolvimento e implementação do Sistema de Monitoramento e Avaliação do


Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade de São Paulo foi estabelecido pelos arts. 358
e 359 da Lei Municipal nº 16.050, de 31 de julho de 2014. Os artigos se referem ao
Sistema Municipal de Informações e ao Sistema Municipal de Planejamento que
regulamentam o monitoramento e avaliação do PDE.

A lei estabelece o alcance e como o monitoramento e a avaliação devem ser realizados.


Também determina a cobertura mínima do monitoramento e da avaliação, que deverá
conter os resultados alcançados pelo PDE, pelas Macroáreas e Zonas Especiais.
Além dos avanços em ações prioritárias nos sistemas urbanos e ambientais, e do
desempenho de todos os instrumentos de política urbana e de gestão ambiental
(incisos I, II e III do § 2º, art. 358).

A cobertura mínima determinada na lei é de 128 objetivos, 133 ações estratégicas e 38


instrumentos de política urbana e gestão ambiental. Eles deverão ser monitorados com
pelo menos um indicador cada, o que mostra a complexidade e o volume de informações
necessárias.

A lei estabelece a obrigatoriedade de se publicar anualmente o relatório de


atualização dos indicadores de monitoramento e avaliação. Em cumprimento a essa
determinação, foram criados e disponibilizados para acesso público os relatórios anuais
de 2015 a 2021. Assim, é possível conhecer o processo de construção e aprimoramento
dos indicadores selecionados, bem como o do sistema de monitoramento e de sua
plataforma de disponibilização pública, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO.

A apresentação dos indicadores

?
reproduz as dez estratégias propostas
pelo PDE para a cidade até o ano de
VOCÊ SABIA 2029:
Lançada em dezembro de 2016, 1. Socializar os ganhos da produção da
essa plataforma aberta de gestão
cidade;
urbana encontra-se disponível
para acesso público. Ela recebe
2. Promover o desenvolvimento
atualização constante dos dados
e complementação de novos econômico;
indicadores. Disponível em: https://
monitoramentopde.gestaourbana. 3. Assegurar o direito à moradia digna;
prefeitura.sp.gov.br/.
4. Incorporar a agenda ambiental ao
desenvolvimento da cidade;
37
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

5. Orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público;

6. Preservar o patrimônio e valorizar as iniciativas culturais;

7. Reorganizar as dinâmicas metropolitanas;

8. Fortalecer a participação popular nas decisões do rumo da cidade;

9. Melhorar a mobilidade urbana; e

10. Qualificar a vida nos bairros.

O sistema de monitoramento foi construído tendo a possibilidade de leitura dos


indicadores para as cinco unidades territoriais de análise: Município, Macroárea,
Macrorregião, Subprefeitura e Distrito Administrativo. Os dados são de 2002 a 2021. No
entanto, a base de dados vêm de bancos de dados com formatos, metodologias e período
de coleta dos dados muito diferentes. Essa diferença também se reflete nos indicadores,
variando as opções de agregação/desagregação espacial e temporal.

Segundo relatório de 2021,


atualmente a plataforma
APROFUNDE-SE disponibiliza 192 indicadores e
Caso tenha interesse em conhecer mais 262 variáveis para consulta, com
sobre as estratégias do PDE de São Paulo, gráficos e mapas temáticos. Esses
em uma linguagem clara e acessível, indicadores são alimentados
consulte a publicação Plano Diretor
Estratégico do Município de São Paulo. por 33 bancos de dados (SÃO
Estratégias ilustradas. PAULO, 2021). Todos os dados e
informações nesse sistema estão
SÃO PAULO. Prefeitura municipal. Plano
Diretor Estratégico do Município de São disponíveis para download em
Paulo: estratégias ilustradas. São Paulo, formato aberto para garantir a
2014. transparência e o controle social.
Disponível em: https://gestaourba- É possível acessar a ficha técnica
na.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ de cada indicador, do instrumento
uploads/2015/01/Plano-Diretor-Es- urbanístico ou ambiental a que
trat%C3%A9gico-Lei-n%C2%BA-16.050-
de-31-de-julho-de-2014-Estrat%C3%A- se relaciona, além de visualizar
9gias-ilustradas.pdf e fazer o download da tabela de
valores do indicador.

Em um ano (nov./20 a nov./21), a plataforma registrou a visita de 6.154 pessoas. É


possível acessá-la também em libras, em conformidade com a política de acessibilidade
(SÃO PAULO, 2021).

As Figuras 8 e 9 mostram a tela inicial da plataforma e um exemplo de indicador


disponibilizado nessa plataforma, respectivamente. O indicador mostrado na Figura 9
é a Participação da quantidade de imóveis notificados por categoria de ociosidade na
cidade de São Paulo. Ele monitora a aplicação do Parcelamento, Edificação e Utilização
38
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Compulsórios (PEUC). O indicador desse exemplo apresenta a distribuição territorial


de imóveis notificados por categoria que caracteriza o imóvel como ocioso. Todos os
imóveis não edificados, subutilizados ou não utilizados são considerados ociosos, como
define o PDE.

Figura 8: Tela inicial da plataforma de Monitoramento e


Avaliação da Implementação do Plano Diretor Estratégico da
cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2022).
Fonte: Plataforma de Monitoramento e Avaliação da
Implementação do Plano Diretor Estratégico da cidade de
São Paulo (SÃO PAULO, 2022). https://monitoramentopde.
gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/
39
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Figura 9: Indicador da Participação da quantidade de imóveis notificados, por categoria de


ociosidade (não edificados, subutilizados ou não utilizados) na cidade de São Paulo
Fonte: Plataforma de Monitoramento e Avaliação da Implementação do Plano Diretor Estratégico da
cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2022). https://monitoramentopde.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/

Uma estrutura institucional garante o funcionamento da plataforma. Ela é mantida pela


equipe técnica permanente da Coordenadoria de Planejamento Urbano, ligada à Secretaria
Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), da Prefeitura de São Paulo. Foi também
criado o Comitê Intersecretarial de Monitoramento e Avaliação da Implementação
do Plano Diretor Estratégico (CIMPDE), com atribuições e composição definidas
pelo Decreto nº 57.490/16, alterado pelo Decreto nº 57.950/2017. Esse comitê é
formado por representantes de diferentes áreas da prefeitura e do Conselho Municipal
de Desenvolvimento Urbano (CMPU). Ele conta com a participação popular, composta
pelo poder público e pela sociedade civil. O objetivo é garantir que o monitoramento e
avaliação do Plano Diretor seja resultado de um processo de aperfeiçoamento contínuo,
coletivo, interdisciplinar, participativo e democrático.

2.3.1.2 O monitoramento da Política Urbana de Belo Horizonte

O monitoramento da política urbana de Belo Horizonte está previsto na Lei nº


11.181, de 8 de agosto de 2019 (BELO HORIZONTE, 2019). Seu objetivo é acompanhar
como a organização da cidade está respondendo à orientação das leis urbanísticas.
40
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Principalmente como ela responde aos programas e projetos, associados às ideias da


Nova Agenda Urbana (NAU) e ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS
11). Ele deve permitir a leitura da transformação urbana no tempo e verificar a aderência
aos parâmetros urbanísticos na ocupação e no uso do território. Além disso, permitir
acompanhar os resultados do estímulo para transformar uma certa área ou característica
urbana; dentre outras possibilidades.

A vigência do Plano Diretor de Belo Horizonte teve início em fevereiro de 2020, como
previsto em sua lei de aprovação. O monitoramento também teve início no mesmo ano.
Portanto, é um sistema mais recente. Alguns aspectos da política urbana também já eram
monitorados por outro sistema construído pela Prefeitura de Belo Horizonte. Trata-se
do Sistema Local de Monitoramento de Indicadores ODS de Belo Horizonte, criado no
Observatório do Milênio de 2018. Esse sistema monitora não apenas os temas do ODS
11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, mas também de todos os outros Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável.

Os indicadores construídos e selecionados pela prefeitura foram organizados em 11


dimensões de monitoramento. Isso foi feito a partir de grupos de estratégias adotadas
na política urbana e que respondem aos conceitos da NAU e do ODS 11 (Figura 10). É
possível acessá-los por meio de dois tipos de painéis: os painéis exploratórios e os de
indicadores.

Os painéis exploratórios permitem que a população faça análises qualitativas,


quantitativas e espaciais, combinando conjuntos diferentes de informações relacionadas
a um tema (BELO HORIZONTE, 2020). Os painéis de indicadores organizam a atualização
e a divulgação dos indicadores de acordo com cada dimensão de monitoramento. Esse
tipo de painel possui menos informações combinadas, permitindo uma análise mais
aprofundada do comportamento do indicador (BELO HORIZONTE, 2020). Há ainda uma
descrição completa do indicador, a nota técnica de sua construção e a possibilidade de
aplicar filtros (por exemplo, recortes territoriais).

O monitoramento de Belo Horizonte possibilita a leitura por unidades territoriais, zona


de uso, bairro e região, com dados de anos diferentes. No entanto, há também variações
entre os indicadores quanto às opções de agregação/desagregação espacial e temporal.
Isso depende da disponibilidade dos dados.

Atualmente, a plataforma disponibiliza 23 indicadores da Dimensão Compacidade e


Policentrismo para consulta. Eles estão disponíveis em: https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-urbano/base-de-dados/monitoramento.

A Figura 11 mostra um exemplo de indicador disponível na plataforma: Densidade


Construtiva Licenciada por ano de aprovação na cidade de BH. Esse e mais 22
indicadores foram propostos para monitorar o desenvolvimento urbano em favor do
maior adensamento construtivo e populacional. Além disso, para concentrar atividades
econômicas associadas à qualificação urbanística nas áreas que o Plano Diretor considera
41
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

como centrais. Pretende também responder às seguintes perguntas: as áreas centrais da


cidade seguem o conceito de compacidade? Elas seguem o conceito de policentrismo?
(BELO HOROZONTE, 2022).

Os indicadores para as outras categorias estão em construção e ainda não estão


disponíveis para o público. Todos os dados e informações presentes nesse sistema estão
disponíveis para download em formato aberto para garantir a transparência e o controle
social. É possível acessá-lo em libras, em conformidade com a política de acessibilidade,
assim como na plataforma de São Paulo.

Figura 10: Dimensões do


Monitoramento da
Política Urbana e da NAU na
cidade de Belo Horizonte .
Fonte: Belo Horizonte (2022).
https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-
urbano/base-de-dados/
monitoramento

Figura 11: Indicador de


Densidade Construtiva
Licenciada por ano de
aprovação na cidade de Belo
Horizonte
Fonte: Belo Horizonte (2022).
https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-
urbano/base-de-dados/
monitoramento
42
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

2.3.2 MONITORAMENTO DOS ODS: OBSERVATÓRIO DE FORTALEZA E O ÍNDICE


DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS CIDADES

A Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) surgiram em


2015 como um grande pacto supranacional para enfrentar os principais desafios globais.
Ele foi assinado pelos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU),
incluindo o Brasil. Assim, criou-se uma ambiciosa agenda comum para as nações de todos
os continentes.

O compromisso que depende da atuação direta das cidades precisa ser adaptado para
cada escala local, pois foi formulado na escala dos países. Como traduzir os compromissos
definidos pela ONU em metas e indicadores monitoráveis, capazes de serem medidos
e comparados ao longo do tempo, de modo que se possa acompanhar e avaliar a sua
evolução?

No Brasil, o IBGE monitora os ODS nacionalmente por meio de 63 indicadores. Alguns são
de autoria própria, outros são de outras organizações. Os indicadores procuram medir as
qualidades ambiental e de vida da população, o desempenho macroeconômico do país,
os padrões de produção e consumo, e a governança para o desenvolvimento sustentável
(IBGE, 2015). Pode-se encontrar localmente um número grande de iniciativas tanto do
poder público local quanto de organizações da sociedade civil. Elas construíram sistemas
e plataformas para monitorar a implementação da Agenda 2030 e dos ODS.

É importante lembrar que Desenvolvimento Urbano Sustentável (DUS) tem relação


direta com o ODS 11. Mas, para que as cidades alcancem o DUS é importante que os
outros 16 ODS também sejam alcançados, considerando as muitas dimensões do
desenvolvimento sustentável (econômica, social, ambiental, cultural).

A seguir apresentaremos duas experiências brasileiras. Uma é desenvolvida pelo Poder


Público municipal, o Observatório de Fortaleza. A outra é o Índice de Desenvolvimento
Sustentável das Cidades, uma iniciativa do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), na área
do Programa Cidades Sustentáveis (PCS).

2.3.2.1 Observatório de Fortaleza

O Observatório de Fortaleza – Políticas Públicas e Governança Municipal foi criado


pela Prefeitura de Fortaleza em 2019, como vimos na aula magna deste módulo. Ele deu
continuidade ao antigo Observatório da Governança Municipal (OGM). Seu objetivo é
“[...] produzir, difundir e promover o acesso ao conhecimento sobre políticas públicas,
oferecendo subsídios para a tomada de decisão das lideranças públicas e contribuindo
para a qualificação da governança municipal” (FORTALEZA, 2022).

Monitora-se os ODS para a cidade de Fortaleza relacionando os 17 ODS às ações


propostas nos 34 planos setoriais do Plano Fortaleza 2040. Isso inclui os planos de
desenvolvimento urbano e o Plano Plurianual (PPA) 2018-2021. Na plataforma do
43
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Observatório de Fortaleza é possível consultar um conjunto de indicadores chamado


Indicadores 2040. Esses indicadores estão estruturados em sete temas: Equidade
Territorial, Social e Econômica; Cidade Conectada, Acessível e Justa; Vida Comunitária,
Acolhimento e Bem-Estar; Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento; Qualidade
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais; Dinamização Econômica e Produtiva; e
Governança Municipal.

Mais informações podem ser obtidas em: https://observatoriodefortaleza.fortaleza.


ce.gov.br/.

2.3.2.2 Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades – Brasil (IDSC-BR)

A metodologia do IDSC-BR foi elaborada pela rede Sustainable Development Solution


Network (SDSN), da ONU. Seu objetivo é reunir conhecimentos técnicos e científicos da
academia, da sociedade civil e do setor privado para apoiar soluções em escalas locais,
nacionais e globais. Lançada em 2012, a SDSN já desenvolveu índices para diversos
países e cidades do mundo (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2022).

O IDSC-BR vem sendo construído pelo Instituto Cidades Sustentáveis, organização


da sociedade civil que reúne duas iniciativas principais: o Programa Cidades
Sustentáveis (PCS) e a Rede Nossa São Paulo (RNSP). A proposta do IDSC-BR é
apresentar uma avaliação ampla do necessário para se atingir as metas dos ODS nos
5.570 municípios brasileiros. Usa para isso os dados mais atualizados disponíveis em
fontes públicas e oficiais do Brasil. Ao todo, o índice é composto por 100 indicadores,
referentes às várias áreas de atuação da administração pública.

A pontuação do IDSC varia de 0 a 100, sendo o máximo interpretado como a porcentagem


do desempenho ótimo. Portanto, a diferença entre a pontuação obtida pela cidade e
o valor 100 é a distância em pontos percentuais que uma cidade precisa superar para
atingir o desempenho ótimo (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2022).

Os mesmos 100 indicadores foram aplicados a

?
todas as cidades do país para gerar pontuações
e classificar as cidades em um ranking (Figura
VOCÊ SABIA 12). Pode haver diferenças entre a posição
A descrição mais das cidades na classificação final por causa
detalhada da
metodologia pode ser
de pequenas distâncias na pontuação do
encontrada no site IDSC (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS,
criado especialmente 2022).
para divulgar os
resultados do O ranking do IDSC-BR informa que os
índice: https://idsc.
cidadessustentaveis.
ODS seriam mais facilmente atingíveis em
org.br cidades médias e pequenas, já que entre
as 100 primeiras cidades, a única capital é
44
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Florianópolis (90ª posição). Quando se fala de grandes


cidades, apenas Campinas, Niterói e Ribeirão Preto AULA 2
situam-se nesse intervalo além de Florianópolis. As dez MÓDULO 7
cidades com maior pontuação nesse índice estão todas
localizadas no estado de São Paulo. São Caetano do Sul
está classificada em primeiro lugar. O Sudeste ainda
se destaca com muitas cidades entre as 100 primeiras,
seguido pela Região Sul do Brasil.

O índice também apresenta os Painéis ODS, além Aula 2 - Como monitorar


da pontuação e da classificação de cada cidade. Ele as políticas públicas de
Desenvolvimento Urbano
representa visualmente o desempenho dos municípios Sustentável?
nos 17 ODS. Utilizou-se um sistema de classificação por
cores: verde, amarelo, laranja e vermelho. Eles indicam o
nível de desenvolvimento de cada município em relação
aos objetivos: quanto mais próximo do vermelho, mais
distante de alcançar o ODS (INSTITUTO CIDADES
SUSTENTÁVEIS, 2022).

O IDCS-BR também apresenta limitações e lacunas na


obtenção de dados, assim como todo monitoramento
e avaliação que utiliza indicadores. Isso impossibilita
cobrir todas as dimensões dos ODS. Uma das principais
lacunas de dados é a inexistência ou a desatualização dos
dados públicos, principalmente os relacionados ao meio
ambiente, ao acesso à justiça e à transparência financeira.

Figura 12:
Distribuição
espacial do Índice
de Desenvolvimento
Sustentável das
Cidades – Brasil
(IDSC-BR)
Fonte: Instituto
Cidades Sustentáveis
(2022). https://idsc.
cidadessustentaveis.
org.br/
45
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 3 – CONSTRUINDO INDICADORES


PARA MONITORAMENTO DO DESENVOLVIMENTO
URBANO SUSTENTÁVEL (DUS)

Apresentaremos e discutiremos neste capítulo as etapas necessárias para construir um


sistema de monitoramento de políticas urbanas. Em especial, as do Plano Diretor, para
avaliar se os objetivos indicados nos planos, programas e ações propostos vêm sendo
alcançados. Analisaremos também o quanto eles contribuem para o desenvolvimento
urbano sustentável.

Buscamos discutir alternativas que possibilitem construir um conjunto mínimo de


indicadores para monitorar Planos Diretores e/ou política setorial urbana, ainda que
de forma inicial. Para isso, levamos em consideração as diferentes realidades urbanas e
regionais do país. Também nos atentamos ao grande número de cidades que apresentam
carências orçamentárias, institucionais e de corpo técnico.

3.1 Construindo um sistema de monitoramento


É fundamental que as cidades tenham um sistema de monitoramento e avaliação de suas
políticas públicas. Assim, seus resultados podem ser constantemente avaliados tanto
pelas lideranças públicas quanto pela sociedade. Esse processo possibilita corrigir e
adequar essas políticas, além de consolidar a gestão democrática na cidade. No entanto,
o monitoramento e a avaliação são um processo complicado e trabalhoso. Ocorrem
constantemente avanços e recuos associados às dinâmicas do Estado e dos interesses
em jogo.

É importante lembrar que apesar de não faltar metodologias disponíveis e


experiências consolidadas, não existe uma única receita aplicável a qualquer
situação. Januzzi (2022) aponta as dificuldades dos processos de monitoramento e
avaliação realizados no Brasil pelo poder público e as frustações associadas a esses
processos. Isso ocorre ao se desenvolver processos seguindo modelos padronizados,
sem a devida customização.

Também lembramos que monitoramento e


avaliação não são sinônimos, apesar de estarem
intimamente conectados. São processos ATIVIDADE
diferentes, a avaliação apresentando uma PROGRAMADA
complexidade maior e a necessidade de equipes No seu município
e estruturas institucionais mais consolidadas. já houve alguma
experiência ou
O esquema que discutiremos a seguir simplifica tentativa de monitorar
as metodologias existentes, tendo em vista as alguma política?
Descreva.
diferentes realidades e contextos institucionais,
46
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

técnicos e políticos do país. Serão apresentadas as etapas mínimas necessárias para


construir e consolidar um sistema de monitoramento para que ele possa ser aplicado em
diferentes políticas urbanas, entre elas no Plano o Diretor.

Deve ficar claro que a escolha da metodologia aplicada é uma decisão do corpo técnico
responsável por construir o sistema de monitoramento e da pessoa que toma decisões.
A metodologia escolhida pode ser mais ampla e sofisticada, desde que existam condições
para sustentar essa escolha. Ela também deve ser acordada com o maior número possível
de pessoas interessadas.

3.3.1 IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO A SER MONITORADO

Essa etapa vem antes de se definir os indicadores, e se aplica ao Plano Diretor e a outras
políticas setoriais urbanas. Ela leva em consideração sua complexidade e seu alcance
territorial e temporal. No caso do Plano Diretor, reúne elementos de uma política
urbanística e de diversas políticas setoriais. Assim, é importante definir o limite e o
alcance do monitoramento.

Há cidades que já têm uma estrutura institucional e técnica consolidada, com um


histórico de coleta e sistematização de dados e informações, em especial geográficos.
Nesses casos, o Sistema de Monitoramento a ser proposto pode e deve conter o Plano
Diretor inteiro, como recomenda o Estatuto da Cidade. Também é aconselhável que
se parta para a etapa de avaliação assim que o sistema de monitoramento estiver
consolidado. Desde que a etapa esteja combinada com todos os envolvidos, poderá ser
parcial (ou seja, contendo alguns elementos prioritários do Plano Diretor) ou de seu todo.

Um exemplo de sistema de monitoramento e avaliação é a experiência de Fortaleza, no


campo do projeto de cooperação técnica Apoio à Agenda Nacional de Desenvolvimento
Urbano Sustentável (ANDUS). A avaliação foi direcionada aos impactos da política
de desenvolvimento urbano na cidade e seu foco era a redução das desigualdades
socioespaciais. Ou seja, ela partiu de um dos objetivos da política.

Nessa experiência foi utilizada a Teoria de Programa, também conhecida como Teoria
da Mudança. Trata-se de uma metodologia baseada em uma descrição detalhada dos
mecanismos que provocam a transformação de um problema específico (Figura 13).
Depois de identificar claramente um problema a ser resolvido, a Teoria de Programa
identifica a possibilidade de transformação, os objetivos, pré-condições, ideias, projetos,
ações e indicadores de uma intervenção. Dessa forma, dá às lideranças encarregadas da
sua execução informações e orientações importantes sobre como desenhar, implementar
e avaliar programas e projetos (ATO URBANO, 2020, p. 9).

Há cidades com dificuldades para consolidar um sistema de informações por falta ou


limitações na coleta de dados. Nesses casos é recomendável iniciar a estruturação
do sistema de monitoramento escolhendo um dos elementos do Plano Diretor, de
preferência aquele sobre o qual já se tenha um mínimo de informações. Também
47
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

podem ser utilizadas informações vindas de outras políticas. Elas podem ser a saúde
ou o planejamento orçamentário, as que contarem com mecanismos externos de
maior controle.

Figura 13: Modelo de Monitoramento e Avaliação aplicado em Fortaleza.


Fonte: Ato Urbano (2020).

3.3.2 DEFINIÇÃO DOS EIXOS DE ANÁLISE E DAS PESSOAS USUÁRIAS

Devem ser identificados com clareza os objetivos, a lógica de intervenção e as ações


propostas, depois de se definir o elemento a ser monitorado. Além disso, deve-se
identificar os eixos de análise, considerando o que se pretende monitorar: o processo, os
resultados ou os impactos.

Também deve ser definido nessa etapa quem utilizará as ferramentas de monitoramento.
O Estatuto da Cidade recomenda que o sistema de monitoramento seja pensado para
equipes internas e para a população civil num geral. É altamente recomendável que desde
o início sejam consideradas as particularidades desses dois públicos. Cada um deles exige
escolhas técnicas diferentes, ou seja, ferramentas de informação e linguagem diferentes.
48
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Trata-se de um tema complicado tanto pelo objeto a ser monitorado quanto pelo objetivo
do monitoramento (e da avaliação). Por isso, é importante garantir que a pessoa externa
de públicos distintos entenda facilmente o que se busca comunicar. Além disso, deve-se
garantir a acessibilidade e a inclusão de todas e de todos.

As cidades com restrições técnicas e orçamentárias devem iniciar o sistema de


monitoramento com foco nas equipes internas. Entretanto, elas não devem limitar as
possibilidades de participação dos atores externos desde as etapas iniciais da construção
do sistema.

Recomendamos que o governo local faça relatórios anuais, mesmo que não seja possível
desenvolver um painel de monitoramento com acesso público. Recomendamos também
que divulgue os resultados do monitoramento usando uma linguagem acessível. Esses
relatórios devem estar disponíveis para download no site da prefeitura, da secretaria
ou do órgão responsável. A sua localização no site deve estar destacada para garantir o
acesso de todas e de todos.

Também podem ser buscadas parcerias com


entidades da sociedade civil para divulgar os dados.

3
PARA MAIS
Mas não deve haver conflitos de interesse ou outras INFORMAÇÕES
questões que desrespeitem a Lei Geral de Proteção SOBRE O TEMA
de Dados Pessoais, Lei nº 13.709, de 14 de agosto de VER TAMBÉM O
MÓDULO 3.
2018 e suas alterações (BRASIL, 2018). Para mais
detalhes consulte o Módulo 3.

Nessa etapa, deve-se começar a discutir sobre as responsabilidades. Principalmente sobre


a criação de uma equipe mínima responsável por coletar e estruturar uma base de dados,
e por alimentar e atualizar posteriormente os indicadores escolhidos. É recomendável
que haja pelo menos uma pessoa técnica com dedicação exclusiva para essa tarefa, caso
seja possível. É fundamental que diversas secretarias e órgãos participem da etapa
de seleção e construção dos indicadores, mesmo que seja em reuniões programadas.
Devem participar as secretarias e órgãos responsáveis pelo planejamento e execução
orçamentária, e de políticas setoriais ligados ao tema.

A importância de construir uma equipe ou estrutura mínima é destacada por diversos


autores, entre os quais Paulo Januzzi. Ele foi responsável pela criação da Secretaria de
Avaliação e Gestão da Informação (SAGI), do antigo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome. Também foi diretor do Ministério até 2016. Para ele, as equipes
devem ter rigor metodológico, capacidade de improvisar e flexibilidade técnica diante da
dificuldade do objeto de estudo. A equipe deve ser necessariamente multidisciplinar e
desejar encarar a tarefa com responsabilidade (JANUZZI, 2022). Segundo a consultoria
de Fortaleza Ato Urbano (2020):

[...] qualquer governo que pretenda desenvolver sua área de M&A precisa garantir
que haja pessoal capacitado e engajado para realização do monitoramento, do
contrário será realizado mero acompanhamento dos dados, o que não é desejável.
49
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Também deve ser estabelecido um fluxo de comunicação interno para


garantir o acesso da equipe técnica à pessoa tomadora de decisão.

Em algumas metodologias consultadas, define-se essas responsabilidades


em uma etapa posterior a essa. Entendemos que essa discussão deve ser
feita nas etapas iniciais, ainda que de modo preliminar, principalmente em
cidades com estruturas institucionais mais frágeis.

A implementação total do sistema de monitoramento leva bastante


tempo. Assim, sugere-se destinar recursos específicos para essa ação no
orçamento dos anos seguintes, mesmo que sejam poucos.

3.3.3 ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS

Essa etapa pode ocorrer ao mesmo tempo em que se discute quais


indicadores devem fazer parte do monitoramento. É preciso garantir
dados mínimos e confiáveis para construir os indicadores. Essa costuma
ser uma das etapas mais problemáticas para estruturas institucionais
já consolidadas e para órgãos e instituições começando a coletar e
sistematizar os dados.

Esse desafio deve ser sempre o primeiro a ser enfrentado. Segundo


Januzzi (2018, p. 1), o Brasil seria diferente do que é hoje se não fossem
as informações produzidas pelas instituições, em especial pelo IBGE e por
outras instituições do Sistema Estatístico Nacional.

Com todas as iniquidades sociais que ainda persistem no país, o


quadro seria seguramente pior caso não houvesse informações
estatísticas levantadas há mais de 80 anos ou quase 150 anos, se
forem considerados os esforços de realização do primeiro Censo
Demográfico em 1872 [...]

Ainda segundo Januzzi (2001), é necessário produzir informação e


estudos de diferentes naturezas usando diferentes metodologias (quali,
quanti e participativas). Deve-se contar com o ponto de vista de diferentes
pessoas envolvidas: beneficiários(as), usuários(as), técnicos(as) na ponta
e gestores(as). Assim, as políticas e programas poderão cumprir seus
objetivos específicos e contribuir para maior efetividade da ação pública.

É fundamental construir indicadores que possam ser espacializados,


dada a complexidade das políticas públicas urbanas e seus impactos nos
territórios. Portanto, exigem dados e informações georreferenciadas.
Outro problema comum é a desagregação dos dados. A existência de
informações muito agregadas não permite que se perceba diferenças nos
territórios, homogeneizando a realidade e mascarando as desigualdades.
50
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

3.3.4 DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS PARA A CONSTRUÇÃO E SELEÇÃO DE


INDICADORES

Nessa etapa, deve-se ter claro o objeto a ser monitorado, bem como os eixos de análise.
É fundamental que se defina o marco lógico a ser utilizado para construir e selecionar os
indicadores. Da mesma forma, é importante estabelecer uma relação dialógica com os
dados, tendo clareza do que se quer medir e quais respostas poderão ser obtidas a partir
do sistema de monitoramento e avaliação.

A maioria dos(as) autores(as) concordam que um bom sistema de monitoramento não


se reflete necessariamente na sua quantidade de indicadores. Na etapa de construção
e seleção ainda preliminar dos indicadores, a participação de diversos atores de fora
da administração deve ser vista com atenção. A existência de interesses diversos pode
resultar em um sistema com muitos indicadores, ainda que esses interesses sejam
legítimos. Em geral, isso é algo pouco efetivo e de difícil manutenção.

Sepe (2013) observou isso no processo de criação do GEO Cidade de São Paulo. Era
pressuposto metodológico criar indicadores de maneira participativa. Por isso, criou-se
um grupo de trabalho que contou com a participação de conselheiros(as) e técnicos(as)
de outras instituições. Foram realizadas dezenas de oficinas e reuniões com pessoas
externas convidadas. No final, o sistema de monitoramento tinha 83 indicadores,
desenvolvidos em 235 variáveis. Nem todos os indicadores escolhidos puderam ser
alimentados. Após o relatório da primeira avaliação (2004), esse sistema foi abandonado
por causa da sua inviabilidade técnica e operacional.

É importante que a equipe envolvida no processo seja multidisciplinar e multi-


institucional. Da mesma forma, deve-se buscar responder nas discussões às quatro
questões mostradas na Figura 14.

Figura 14: Questões a serem respondidas na etapa de definição/construção de um indicador.


Fonte: Elaborado pela autora. Elaboração gráfica do LabHab (2022).
51
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Depois de responder às três primeiras questões, devemos então buscar respostas para
a questão seguinte: como medir? Devemos levar em conta os dados disponíveis, já que
não existe um indicador ideal.

Os indicadores escolhidos devem passar por uma segunda etapa de avaliação. De acordo
com as questões abaixo, o indicador é:

• O sinal mais direto e evidente do resultado em si?

• Preciso o bastante para garantir uma avaliação objetiva (sem que seja
necessário interpretar os resultados)?

• Pode ser alimentado com dados por meio de processos de coleta rápidos e
econômicos?

• Suficientemente sensível às mudanças nos resultados?

• Relativamente insensível a mudanças alheias aos resultados?

• Permite desagregação por território, raça/cor e gênero?

Também seria ideal buscar indicadores que tenham rastreabilidade, ou seja, que possam
acompanhar o passado (antes da implementação da política) e o futuro (depois da
implementação).

Pode-se trabalhar com indicadores provisórios até que se criem bases de dados
que permitam trabalhar com indicadores permanentes, diante da falta de registros
administrativos. Muitas vezes, não será possível ter os indicadores com a precisão
desejada. Nesses casos, costuma-se usar indicadores indiretos ou proxies (aproximações).
São unidades de medida que expressam indiretamente a característica medida, usadas
quando o dado direto não foi coletado em intervalos regulares. Um exemplo de indicador
indireto é o número de televisores (ou de banheiros) na casa como medida aproximada
de renda familiar.

A segunda etapa terá menos indicadores do que o proposto na etapa inicial e alguns deles
poderão ser substituídos. O conjunto final também é chamado de cesta de indicadores e
deve ser consolidado para passar para a etapa de validação.

3.3.5 O PROCESSO DE VALIDAÇÃO DOS INDICADORES

Esse é momento em que devem ser considerados não apenas aspectos técnicos e
operacionais, mas também os políticos. A participação de pessoas de fora deve ser
garantida, englobando diversos interesses e visões de mundo sempre que possível. A
participação da pessoa tomadora de decisão é fundamental, seja para mediar possíveis
conflitos entre opiniões e interesses, seja para aprovar os indicadores e todo o processo.

Essa etapa deve ser pensada de forma estratégica e contar com a experiência de
profissionais sempre que possível para conduzir as reuniões e espaços de debate. Deve
52
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

haver também um cuidado com a qualidade dos materiais levados para discussão. Eles
devem ser ao mesmo tempo claros e breves, mas sem ser superficiais quanto ao conteúdo.

Além dos pontos levantados acima, o número de reuniões e oficinas deve ser planejado,
pois se trata de um tema difícil do ponto de vista conceitual. Da mesma forma, é preciso
planejar o seu tempo de duração para garantir o “espaço de fala” de todas e de todos os
participantes, mas garantindo que resultados concretos sejam alcançados.

Quando os indicadores foram selecionados no final do processo de validação, parte-se


para uma nova etapa de tarefas e atividades. Elas são reservadas à equipe técnica. Os
metadados de cada indicador também devem ser cuidadosamente construídos, assim
como um dicionário de indicadores e um relatório que descreva as etapas anteriores.

3.3.6 CONSTRUÇÃO DO PAINEL DE INDICADORES


O painel de indicadores também conhecido como dashboard é uma ferramenta de
fácil acesso e manuseio, e principalmente de visualização dos indicadores, gráficos e
mapas. Ela unifica todas as etapas anteriores. As informações mínimas de um painel de
indicadores são: nome do indicador, definição do indicador, eixo ou dimensão ao qual
pertence, unidade de medida, frequência, fórmula de cálculo e metas.

Há diversos programas que podem ser usados para construir o painel. Eles têm funções
distintas e a escolha depende dos recursos financeiros e humanos disponíveis para sua
implantação e operação.

ATIVIDADE AULA 3
PROGRAMADA MÓDULO 7
Como exercício, pense num
painel de indicadores para o
seu município e descreva os
itens abaixo:
Nome do indicador, definição
do indicador, eixo ou dimensão
ao qual pertence, unidade de
Aula 3 - Construindo
medida, frequência, fórmula de
indicadores para
cálculo, metas, entre outros.
monitoramento do
Desenvolvimento Urbano
Sustentável
53
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

3.2 Da (in)disponibilidade de dados


Uma questão comum entre gestores e gestoras públicos, universidades, instituições de
pesquisa e sociedade em geral é a disponibilidade de dados atualizados para construir
e alimentar constantemente os sistemas de monitoramento e avaliação. Na escala
municipal, também é consenso que a capacidade institucional dos municípios brasileiros
é bastante desigual, refletindo as diferentes realidades. As maiores limitações estão
concentradas nos pequenos municípios (DENALDI; FONSECA; AKAISHI, 2017). No
entanto, as cidades maiores e até mesmo as capitais brasileiras também enfrentam a
inexistência ou a falta de atualização dos dados e/ou de coleta mais desagregada, ainda
que em menor grau.

Essa questão foi tratada no Módulo 3 deste

3
PARA MAIS
curso. Na apostila do módulo também é INFORMAÇÕES
possível encontrar sugestões de fontes de SOBRE O TEMA
dados, em especial as vindas dos cadastros das VER TAMBÉM O
políticas sociais do governo federal. MÓDULO 3.

3.2.1 ALTERNATIVAS PARA A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES

Dados e informações são difíceis de se obter e indispensáveis para construir indicadores.


Por isso, as equipes técnicas municipais sempre podem buscar alternativas para diminuir
essas dificuldades, em especial nas cidades com mais limitações.

É claro que um sistema de monitoramento com poucos indicadores não é o ideal.


Mas, sendo o possível para o momento, torna-se o desejável. Inversamente, sistemas
de monitoramento com um número muito grande de indicadores também não são
recomendáveis. O fundamental é que se tenha clareza do fenômeno (ou processo) que
se quer medir, monitorando as suas inter-relações com outros fenômenos (e processos).

O Módulo 3 indica as principais fontes de dados disponíveis para construir indicadores.


Entre elas se destacam os bancos de dados do IBGE (Censo Demográfico, Censo
Agropecuário, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD) e os dados de
programas sociais como o Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) e o Programa Casa Verde
e Amarela (antigo Minha Casa Minha Vida). Além dos dados de políticas públicas que
fazem parte dos Sistemas Únicos de Saúde (SUS) e de Assistência Social (SUAS).

Outra fonte importante de dados se encontra junto às concessionárias de serviços


públicos. Elas possuem dados de saneamento básico (água, esgoto, manejo de resíduos
sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais). Eles são constantemente atualizados e
disponibilizados por meio do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SIS).

Essas fontes de dados em geral são desagregadas por município e permitem obter um
bom conjunto de indicadores. Eles podem ser usados diretamente ou funcionar como
proxies (aproximações), compensando a falta de dados.
54
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A pesquisa de Denaldi, Fonseca e Akaishi (2017) mostra uma alternativa para municípios
com limitações econômicas e técnicas para a coleta primária de dados. Trata-se da
utilização de dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), que faz parte
do Sistema Único de Saúde (SUS). O Módulo 3 apresenta uma videoaula sobre o assunto.
Ela mostra que a utilização de dados da área da saúde ajudou a identificar e mapear a
precariedade habitacional em municípios pequenos da Bahia.

O SIAB foi desenvolvido pelo DATASUS em 1998, com o objetivo de agregar, armazenar
e processar as informações relacionadas à Atenção Básica. Essas informações eram
coletadas em campo pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e sua estratégia central
era a Estratégia de Saúde da Família. Os agentes moram na região onde trabalham,
vivem o dia a dia das comunidades e conhecem suas realidades. Os ACS atuam por
microárea, visitando os domicílios sob sua responsabilidade ao menos uma vez ao mês
ou semanalmente, dependendo da situação de saúde da pessoa moradora (DENALDI;
FONSECA; AKAISHI, 2017). Os ACS usam formulários/fichas para coletar dados das
famílias atendidas pelo programa. Após o preenchimento, os dados são enviados ao
SIAB e podem fornecer informações de diferentes tipos, atualizadas pelo ACS sempre
que necessário.

A pesquisa de Denaldi, Fonseca e Akaishi (2017) precisou construir uma base cartográfica
com a delimitação dos perímetros de atuação de cada ACS (microárea). Isso foi feito para
permitir que os dados das fichas fossem georreferenciados e tratados estatisticamente,
em especial os da Ficha A (Figura 15).

Figura 15: Detalhe da Ficha A do Sistema de Informação


da Atenção Básica do Departamento de Informática do
SUS (SIAB/DataSUS), Ministério da Saúde, 2013.
Fonte: BRASIL (2013), apud DENALDI; FONSECA;
AKAISHI, 2017.
55
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Calculou-se o número e o percentual de domicílios rústicos e com falta de infraestrutura


(energia elétrica, abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo) para
cada microárea e para o município. Isso permitiu identificar microáreas com maior
ocorrência de cada uma das variáveis de inadequação selecionadas e dos componentes
de precariedade habitacional por microáreas nas zonas urbana e rural da cidade. A Figura
16 mostra a distribuição das tipologias de casas e a disponibilidade do esgotamento
sanitário na zona urbana do município de Água Fria/BA (DENALDI; FONSECA; AKAISHI,
2017).

Figura 16: Distribuição das tipologias de casas e a disponibilidade do


esgotamento sanitário na zona urbana do município de Água Fria/BA.
Fonte: Denaldi, Fonseca e Akaishi (2017).

Destacamos também a experiência de construção do Atlas Observatório Quilombola


pela organização social KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, sediada no Rio
de Janeiro-RJ. Ela busca apoiar e prestar serviços a grupos histórica e culturalmente
vulneráveis e em processo de emancipação social e política. Além disso, promove o
movimento ecumênico e seus valores libertários. O Atlas Observatório Quilombola não
disponibiliza indicadores em sua plataforma, como consta em seu site. Mesmo assim,
é um espaço interativo e interdisciplinar dedicado à coleta, organização e análise de
informações das comunidades negras rurais e quilombolas, em seus contextos locais e
regionais (ATLAS QUILOMBOLA, 2022). Destaca-se também que a construção do Atlas
busca “[...] desenhar um retrato virtual da realidade quilombola no Brasil” e convida
pesquisadores(as), estudantes, quilombolas ou qualquer outra pessoa interessada
em colaborar com o aperfeiçoamento da plataforma, considerando “[...] o poder da
informação para a luta de direitos” (ATLAS QUILOMBOLA, 2022).
56
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

O Atlas disponibiliza informações sobre quilombos (localização, número de famílias,


estágio atual de regularização fundiária) cadastrados em 24 estados brasileiros. No
total são quase 2.000 localidades (quilombos). Essas informações foram coletadas
em diversas bases de dados, incluindo oficinas e atividades em campo realizadas pela
KOINONIA. O Atlas Observatório Quilombola pode ser acessado em: https://kn.org.br/
atlasquilombola/.

Outras formas de construir indicadores com poucos dados disponíveis (censos, cadastros
etc.) usam metodologias menos tradicionais para coletar dados. O uso de aplicativos
especialmente desenvolvidos para aparelhos celulares ou tablets é um exemplo dessas
metodologias.

Quando o questionário for construído, já se deve ter em mente para quais questões
buscamos respostas e como essas respostas alimentarão os indicadores. A estrutura
do questionário também deve possibilitar a criação de tabelas e de um banco de dados.
Isso pode ser feito de forma participativa entre equipes técnicas e representantes
das comunidades a serem monitoradas. A aplicação do questionário também pode ser
participativa e a frequência com que ele será reaplicado pode ser definida caso a caso.

A Prefeitura de São Paulo realizou um cadastro através do Projeto Ligue os Pontos no


território da Terra Indígena Guarani Tenondé-Porã. Ele foi feito pelos próprios guaranis,
com supervisão técnica do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), especialmente
contratado para esse projeto. O objetivo era levantar e cadastrar as roças em sete
aldeias desta TI, incluindo as espécies vegetais cultivadas (agrobiodiversidade). As roças
estão localizadas no extremo sul da cidade de São Paulo (Figura 17). O questionário e os
indicadores propostos foram construídos em oficinas com representantes das aldeias,
a partir dos conceitos e ideias da cultura desse povo, muito diferentes dos agricultores
não indígenas. Os próprios guaranis aplicaram o questionário em português e em idioma
guarani, quando necessário. Eles utilizaram tablets e contaram com a supervisão de dois
técnicos do CTI (Foto 2).

Foto 2: Oficina na
Terra Indígena guarani
Tenondé-Porã, cidade
de São Paulo.
Fonte: Keese e Oliveira
(2020).
57
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Figura 17: Localização das aldeias guaranis na TI Tenondé-Porã na cidade de São Paulo.
Fonte: Keese e Oliveira (2020).
58
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A partir desse questionário foram identificadas 81 roças e cadastradas mais de 190


espécies de hortaliças, culturas agrícolas anuais e perenes (Figura 18). Isso definiu uma
linha de base para os guaranis poderem monitorar sua produção agrícola (em área e em
aumento de agrobiodiversidade). Além disso, podem calcular o impacto do aumento
da Terra Indígena Tenondé-Porã em 2012. Com portaria declaratória do Ministério da
Justiça de 2016, o território passou de pouco mais de 50 hectares originais para 15 mil
hectares. Outro impacto que pôde ser monitorado foi o resgate das tradições agrícolas
guarani pelas lideranças dessa Terra Indígena. Essa base de dados também será utilizada
para criar um edital a ser lançado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
(SVMA/PMSP) para o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) às comunidades
guaranis da cidade de São Paulo.

Figura 18: Agrobiodiversidade das roças guaranis na TI Tenondé-Porã, São Paulo


Fonte: Keese e Oliveira (2020).
59
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em conhecer mais sobre a experiência do
cadastramento das roças guarani acesse a publicação Os agricultores
guarani e a atual produção agrícola na terra indígena Tenondé Porã.

KEESE, S. L.; OLIVEIRA, J. E. (Org.) Os agricultores guarani e a atual


produção agrícola na terra indígena Tenondé Porã: município de São
Paulo. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo: SMDU, 2020.

Outra metodologia participativa a ser utilizada é a


cartografia social, apresentada no Módulo 3 deste

3e
curso. Ela também foi citada como uma referência PARA MAIS
no Módulo 8, no capítulo sobre a Região Sudeste, na INFORMAÇÕES
experiência da Utilização de Mapas Temáticos como
Ferramenta de Educação Ambiental e Participação
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
MÓDULOS 3 e 8
8
Social na Comunidade do Quebra Frascos/Jardim
Serrano no Parque Nacional da Serra dos Órgãos-RJ.

Com essa metodologia, as comunidades podem


desenhar os mapas dos territórios que ocupam
com a ajuda de profissionais. Ela pode ser usada em
áreas pequenas, como comunidades tradicionais
(quilombos, territórios caiçaras), bairros,
assentamentos e ocupações informais. Elas exigem
a participação efetiva da comunidade associada
à equipe de técnicos(as) das prefeituras ou das
organizações da sociedade civil.

Um exemplo do uso da cartografia social para


cadastrar a população em ocupações irregulares e
as suas demandas é a iniciativa A Cidade (In)Visível:
cartografia social das ocupações urbanas de São
Leopoldo. O projeto é realizado no Rio Grande do Sul
e começou em 2020 (UNISINOS, 2021). A iniciativa
ouviu as necessidades do coletivo formado por
movimentos sociais, lideranças das 17 ocupações
urbanas e universidade. Com isso, buscou saber
quantas pessoas vivem em cada ocupação e quais são
as demandas de cada uma delas (Figura 19). Os dados
são coletados através de um aplicativo desenvolvido
para celular.
60
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

APROFUNDE-SE
Para saber mais sobre a iniciativa A Cidade (In)Visível: cartografia
social das ocupações urbanas de São Leopoldo, ouça o episódio do
podcast “Desafiando o amanhã”, da Unisinos.

Disponível em: https://open.spotify.com/episode/0P7GjJRRKdx-


fElpktubzcN?si=a06f6ad2044a47c1

Figura 19: Folder do


projeto A Cidade (In)
Visível, São Leopoldo/
Rio Grande do Sul.
Fonte: Unisinos (2020).
https://www.unisinos.
br/noticias/a-cidade-
in-visivel-projeto-
da-unisinos-traz-
visibilidade-para-
a-realidade-das-
ocupacoes-urbanas-
de-sao-leopoldo/
61
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 4 – ARRANJOS INSTITUCIONAIS, GESTÃO


DE DADOS E DOS PROCESSOS DE MONITORAMENTO

Neste capítulo mostraremos como se comportam os arranjos institucionais que existem


hoje diante da necessidade de se garantir uma maior participação da sociedade. Ela é
representada por um universo mais amplo e diverso de atores sociais e se busca ao mesmo
tempo maior eficiência, eficácia e efetividade das políticas públicas de desenvolvimento
urbano. Também buscamos demonstrar que as iniciativas de construção de sistemas de
monitoramento e avaliação de políticas públicas não estão limitadas ao poder público.
A sociedade civil aumentou sua representação nos espaços formais de participação e
controle social de políticas públicas (conselhos setoriais e conferências) através de suas
organizações e entidades. Além disso, ela também é um agente ativo e promotor desse
processo.

4.1 A governança nos processos de monitoramento e avaliação


de políticas de desenvolvimento urbano sustentável
Como já mencionamos, a Constituição Federal definiu diversos mecanismos de
participação que depois foram efetivados em uma série de políticas públicas setoriais.
Entre elas, podemos citar as de saúde, assistência social, habitação e desenvolvimento
urbano. É nesse contexto que se desenha os arranjos institucionais que criam os
conselhos, as conferências, as audiências públicas, os orçamentos e os planejamentos
participativos. Segundo Lotta e Vaz (2014), esses mecanismos seriam pensados para
promover a participação da sociedade nos processos de decisão de políticas públicas.
Eles contribuem não apenas para democratizar o processo, mas também para tornar as
ações mais efetivas, em função do potencial que a aproximação entre Estado e sociedade
pode gerar.

Nas áreas da saúde ou da educação, um sistema nacional é responsável por estruturar


as ações. Já o repasse de recursos e a atuação nas três esferas de governo no caso
das políticas urbanas se originam na luta pela Reforma Urbana e são instituídos pelo
Estatuto da Cidade. Assim, os arts. 43 a 45 do Estatuto definem a participação
popular nos Planos Diretores por intermédio de quatro instrumentos para garantir
a gestão democrática. São eles os órgãos colegiados de política urbana nos níveis
nacional, estadual e municipal; os debates, as audiências e as consultas públicas;
as conferências sobre assuntos de interesse urbano nos níveis nacional, estadual
e municipal; e a iniciativa popular de projeto de lei e de planos, de programas e de
projetos de desenvolvimento urbano (BRASIL, 2001).
A governança envolve questões político-institucionais
de tomada de decisões. Ela envolve também as formas

2
PARA MAIS
de diálogo entre o Estado e os grupos organizados da INFORMAÇÕES
sociedade para definir, acompanhar e implementar SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
políticas públicas. Esse tema é bastante discutido na
MÓDULO 2.
apostila do Módulo 2 – Governança, deste curso.
62
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Monitoramento e avaliação tem um caráter contínuo e permanente. Por


isso, é importante escolher os instrumentos mais adequados para esse
diálogo, ou seja, aqueles que permitem a participação e o controle social.
Os conselhos de política urbana e as audiências e consultas públicas
são instrumentos que possibilitam incluir atores diferentes e conduzir
processos nos quais seja preciso mediar conflitos e gerar resultados.
Entretanto, usar esses dois instrumentos exige uma série de preparações
para não serem usados incorretamente.

Os conselhos devem ser deliberativos e ter o mesmo número de


representantes das partes envolvidas. Além disso, deve haver a garantia
de que suas reuniões e decisões não são meramente figurativas, que
de fato podem ter efeito sobre todas as etapas de monitoramento e
avaliação. Por exemplo, buscando mecanismos que possam evitar o que
Costa (2008) chamou de “prefeiturização” dos conselhos, quando analisou
experiências locais de planejamento participativo. Segundo o autor,
muitos dos conselhos analisados tinham um comportamento formalista
e restrito ao atendimento de obrigações resultantes das leis federais e do
repasse dos recursos de órgãos governamentais.

O tema das políticas de ordenamento territorial e do planejamento


urbano não é facilmente entendido a princípio. Assim, é preciso ter
conselheiros(as) e pessoas da sociedade civil como um todo preparadas
para as discussões e decisões. É tarefa do poder público buscar uma
linguagem mais acessível para o tema, além de oferecer capacitações para
qualificar a discussão, o debate e a participação em geral nos conselhos.
Como garantir que pessoas e grupos sociais com menos recursos possam
participar com igualdade de condições em relação aos segmentos mais
organizados? Segundo Costa (2008), esses grupos menos favorecidos
tenderiam a participar menos, o que influi na composição dos níveis de
participação, principalmente dos conselhos municipais. Segundo Ricci
(2002), no momento de mudança dos modelos tradicionais para os
modelos participativos de gestão pública, a renda era um fator de seleção
ou exclusão política. Essa constatação se confirma atualmente, quando as
restrições impostas pela pandemia criaram barreiras e limitações para a
participação digital.

Não basta criar espaços de debate e participação, bem como de


consulta aos indicadores (sistemas e plataformas digitais). É necessário
estabelecer um fluxo de informações constante, incluindo séries
históricas. É fundamental também haver espaços de prestação de contas
das discussões e sugestões realizadas. Isso pode ser feito em audiências
e consultas públicas, discutindo o quanto foi incorporado ou não, por
exemplo.
63
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

4.2 Experiências de monitoramento


e controle social de políticas públicas
pela sociedade civil

4.2.1 A PLATAFORMA MUNICÍPIOS E SANEAMENTO E O PAINEL INTERATIVO


MARCO LEGAL DO SANEAMENTO

Dados do Plano Nacional de Saneamento demonstram que no século XXI 52% da


população brasileira ainda não pode contar com um sistema de esgoto adequado.
Os dados também mostram que 43,3% ainda não têm acesso adequado a sistemas de
abastecimento de água. A aprovação do novo Marco Legal do Saneamento, Lei nº 14.026,
de 15 de julho de 2020, busca enfrentar essa realidade.

“Não há justiça climática sem acesso à água, tratamento de esgoto, drenagem e gestão
de resíduos sólidos” (WHATELY; LERER, 2020). O município é responsável por promover
a segurança hídrica e planejar o saneamento articulado com outras políticas setoriais,
como a de habitação e de drenagem. No entanto, muito pouco vem sendo feito de forma
articulada e a emergência climática desafia as cidades a aliviar os impactos da poluição,
adaptando as cidades e tornando-as mais resistentes (WHATELY; LERER, 2020).

É fundamental que dados e informações sobre o saneamento estejam disponibilizados


de forma acessível. Essa é a proposta da experiência promovida pelo Instituto Água e
Saneamento (IAS). O IAS é uma organização civil sem fins lucrativos que trabalha para
levar o debate sobre saneamento básico ao centro das discussões sobre direitos humanos,
emergência climática, redução das desigualdades e prestação de serviços ambientais
para a sociedade. Um de seus objetivos é somar esforços para garantir a universalização
do saneamento no Brasil, especialmente para ampliar o acesso ao esgotamento sanitário.

O objetivo da Plataforma Municípios e Saneamento é facilitar o acesso à informação


sobre saneamento nos 5.570 municípios do Brasil. Para isso, disponibiliza 160
indicadores desagregados por município. Suas bases de dados são as principais
fontes oficiais sobre saneamento: Sistema de Informações sobre Saneamento (SNIS),
IBGE e Agência Nacional de Águas (ANA). A última atualização dos dados foi em junho
de 2022.

A sua plataforma (https://www.aguaesaneamento.org.br/municipios-e-saneamento/


explore-compare) traz a situação de cada município na implementação da política
municipal de saneamento. Ela indica sua relação com estruturas regionalizadas e o
prestador de serviços de saneamento no município. Mostra também como está o
atendimento da população do município (água, esgotos, drenagem e resíduos sólidos)
e compara os principais índices com a situação estadual e nacional. Um dicionário de
indicadores é disponibilizado para consulta e download.
64
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Figura 20: Plataforma Água e Saneamento: Amapá


Fonte: Instituto Água e Saneamento (2022).

ATIVIDADE
PROGRAMADA
Consulte a plataforma e
descreva a situação do seu
município nesse aspecto da
política de saneamento.
65
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

O painel interativo do Marco Legal do Saneamento disponibiliza dados sobre a


regionalização do saneamento nos estados. Ele também contribui com o debate público
e amplia o entendimento sobre os novos arranjos institucionais criados após 2020 com
a aprovação da Lei nº 14.026/2020. Seu acesso pode ser feito pelo endereço eletrônico
https://aguaesaneamento.shinyapps.io/painel_marco_legal/.

Figura 20: Painel Marco Legal do Saneamento, cobertura da coleta de esgoto no estado do Piauí
Fonte: Instituto Água e Saneamento (2022).
66
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A principal fonte da Plataforma Municípios e Saneamento é o SNIS. Ela também utiliza


fontes complementares do IBGE (Malha municipal e o MUNIC), a Agência Nacional
de Águas (ANA) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além da coleta de dados sobre
agências reguladoras feita pelo próprio IAS.

A seleção de indicadores pode ser feita acessando um entre quatro conjuntos. Eles
foram divididos em Cobertura, Desempenho, Governança e Investimento, para dados
de abastecimento de água (urbano e rural) e esgotamento sanitário (urbano e rural). A
metodologia, as fichas dos indicadores e os dados são disponibilizados para download.

O IAS apontou desafios para construir e fazer a manutenção permanente da Plataforma


e do Painel. Segundo o instituto, nem todos os municípios têm os dados completos e a
plataforma mostra as informações inexistentes. Isso demonstra a desigualdade de acesso
e as lacunas de informação. Os dados disponíveis sobre saneamento estão dispersos, não
seguem uma mesma regularidade e têm metodologias diferentes.

4.2.2 PLATAFORMA CIDADES SUSTENTÁVEIS

A Plataforma Cidades Sustentáveis é o ambiente web do Programa Cidades Sustentáveis


(PCS). Os principais objetivos do programa são desenvolver soluções tecnológicas
inovadoras e oferecer metodologias e ferramentas de planejamento urbano integrado.
Dessa forma, procura apoiar gestores públicos, incentivar a participação cidadã e
promover cidades mais justas e sustentáveis.

Trata-se de um sistema aberto e de acesso livre que oferece conteúdos e ferramentas.


Esses recursos estão conectados em um espaço para capacitar, estimular, mobilizar,
informar e organizar atividades. Eles envolvem a sociedade civil, o poder público, as
instituições técnico-científicas e a iniciativa privada. Possui módulos temáticos, como
Indicadores, Boas Práticas e Planejamento Urbano Integrado.

O sistema faz parte do Projeto CiTinova, uma iniciativa multilateral do Ministério da


Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Recebe o apoio do Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF, em inglês). É gerido pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente
(Pnuma) e executado por instituições coexecutoras: o Programa Cidades Sustentáveis,
o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), a ARIES/Porto Digital e a Secretaria
do Meio Ambiente do Distrito Federal.

Na plataforma é possível acessar painéis para o monitoramento de indicadores e


metas municipais de 81 cidades que fazem parte do PCS. Também é possível visualizar
a cartografia de dados, informações e boas práticas em políticas públicas (nacionais e
internacionais). Além do Sistema de Informações Geográficas (SIG), filtros de busca por
ODS e uma série de outros recursos.

A plataforma também funciona como um observatório cidadão, pelo qual qualquer


pessoa pode acompanhar os dados e indicadores das cidades participantes do PCS.
67
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Também é possível monitorar a evolução da gestão ao longo do tempo. Trata-se de uma


ferramenta de transparência, controle social e prestação de contas, uma vez que os
dados disponibilizados pelas prefeituras são abertos a qualquer pessoa.

O acesso pode ser feito através do endereço eletrônico: https://www.


cidadessustentaveis.org.br/institucional/pagina/plataforma

4.3 Estudo de caso: Casa Fluminense – Painel de


Monitoramento de Políticas Públicas Urbanas da RMRJ
A Casa Fluminense é uma organização da sociedade civil formada em 2013 por ativistas,
equipes de pesquisa e pessoas da sociedade civil em geral. Seus integrantes acreditam
na necessidade de uma agenda pública aberta à participação de todos e de todas as
fluminenses, destinada a todo o seu território e população, não apenas às áreas centrais
da capital do estado. Seu foco é reduzir as desigualdades, aprofundar a democracia e o
desenvolvimento sustentável. Busca fazer isso atuando segundo três eixos ou estratégias:
mobilizar, informar e aplicar políticas públicas.

Apresentaremos o Painel de Monitoramento de Políticas Públicas Urbanas da Região


Metropolitana do Rio de Janeiro. Trata-se de uma ação desenvolvida no campo
da estratégia de divulgação da informação. Nessa ação, a Casa Fluminense reúne
informações e dados sobre a RMRJ, qualificando a criação de propostas e monitorando
as políticas públicas.

AULA 4
MÓDULO 7

Aula 4 - O papel da
sociedade civil como agente
ativo do monitoramento
e do controle social das
políticas públicas.

Palestra com Vitor


Mihessen, coordenador
executivo da Casa
Fluminense (RJ).
68
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Módulo 7 foram tratados os principais aspectos de monitoramento e avaliação de


políticas públicas. Destacamos as políticas de desenvolvimento urbano sustentável e os
Planos Diretores.

Esperamos ter demonstrado com o conteúdo do módulo e com as aulas expositivas o


quão fundamental é monitorar e avaliar as políticas públicas. Especialmente no atual
cenário de crise climática e de aumento das desigualdades sociais e econômicas.

Construir sistemas de monitoramento e avaliação é mais do que uma obrigação legal.


Deve ser uma atividade comum tanto de uma metrópole quanto de um município
pequeno.

Também buscamos mostrar que é preciso desmistificar o papel dos indicadores. Não se
trata de soluções em si, mas de instrumentos que contribuem para uma gestão pública
mais efetiva, solidária, sustentável e participativa. Essa participação não pode acontecer
de maneira desequilibrada, na qual interesses de grupos se sobreponham aos direitos
coletivos.

Outro grande desafio imposto às lideranças municipais em qualquer nível federativo é


construir uma política de gestão da informação para além dos seus aspectos tecnológicos
e de interoperabilidade. O objetivo de uma boa política de gestão da informação precisa
se harmonizar conceitos e implementar padrões de uso dos registros administrativos na
produção de estatísticas. Os dados devem ser confiáveis, atualizados e disponíveis. Caso
contrário, não é possível elaborar, monitorar e, muito menos, reformular uma política
pública de qualidade.
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