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Instrumentos de

Desenvolvimento
Urbano Sustentável
CURSO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

MÓDULO 1 Introdução aos Instrumentos para o desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 2 Governança: A dimensão política do desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 3 Informações: A dimensão do conhecimento para o


desenvolvimento urbano sustentável

MÓDULO 4 Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento


urbano sustentável

MÓDULO 5 Gestão: A dimensão institucional do desenvolvimento urbano


sustentável

MÓDULO 6 Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento


urbano sustentável

MÓDULO 7
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento
urbano sustentável

MÓDULO 8 Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades


brasileiras
EXPEDIENTE

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

MINISTÉRIO DAS CIDADES – MCID


Ministro Jader Barbalho Filho

Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano


Departamento de Estruturação do Desenvolvimento Urbano e
Metropolitano
Departamento de Adaptação das Cidades à Transição Climática e
Transformação Digital

GIZ NO BRASIL
Diretor Geral
Michael Rosenauer

O presente trabalho foi desenvolvido no contexto do Projeto APOIO


À AGENDA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL NO BRASIL – ANDUS.

O projeto é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério


Federal da Economia e Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte
da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI). É implementado pela Deutsche
Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH no contexto da
Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.

Mais informações em:


www.gov.br/cidades | http://andusbrasil.org.br/ | www.giz.de/brasil
FICHA TÉCNICA
MINISTÉRIO DAS CIDADES – MCID

Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e


Metropolitano

Departamento de Estruturação do
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano

Departamento de Adaptação das Cidades à


Transição Climática e Transformação Digital

Coordenação e Revisão Técnica


Nathan Belcavello de Oliveira
Leonardo Rizzo de Melo e Souza

Equipe participante da Revisão Técnica


Adriana Micheletto Brandão
Ana Paula Bruno
Cesar Augustus De Santis Amaral
Elize Risseko Fujitani Higuti
Raquel Furtado Martins de Paula
Roberta Pereira da Silva

GIZ – DEUTSCHE GESELLSCHAFT FÜR


INTERNATIONALE ZUSAMMENARBEIT GmbH

Projeto ANDUS – APOIO À AGENDA NACIONAL


DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
NO BRASIL
Diretora
Sarah Habersack

Coordenação e Revisão Técnica


Anna Carolina Marco
Cecília Martins Pereira
Matheus de Souza Maia

Equipe participante
Ana Luísa Oliveira da Silva
Marcella Menezes Vaz Teixeira
Thomaz Machado Teixeira Ramalho
Verena Laura Mattern
Viktoria Yasmin Carvalho de Matos
ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO E
GRAVAÇÃO DE VÍDEOS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Natalia Aurélio de Sá

Reitor APRESENTAÇÃO DOS MÓDULOS


Carlos Gilberto Carlotti Junior Maria Vitória Royer Moura

Vice-reitora
Maria Arminda do Nascimento Arruda

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO APOIO INSTITUCIONAL


DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Programa das Nações Unidas para os
Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT)
Diretor
Eugenio Fernandes Queiroga Escritório Regional para América Latina e o Caribe
(ROLAC) - Brasil e Cone Sul
Vice-Diretora
Maria Camila Loffredo D’Ottaviano Representante para o Brasil e Cone Sul
Alain Grimard

LABORATÓRIO DE HABITAÇÃO E Oficial Nacional para o Brasil


ASSENTAMENTOS HUMANOS Rayne Ferretti Moraes
DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Especialista Financeira
Coordenação do do Laboratório de Habitação e Claudia Bastos de Mello
Assentamentos Humanos
Luciana de Oliveira Royer Analistas de Operações
Adriana Carneiro
Coordenação Executiva e Comissão Científica Vanessa Santos
Maria Lucia Refinetti Rodrigues Martins Carolina Oliveira
Luciana de Oliveira Royer
Ana Gabriela Akaishi Coordenador de Programas
Giusepe Filocomo Alex Marques Rosa
Taís Tsukumo
Analistas de Programas
Equipe de Docentes Angélica Maria Carnelosso
Módulo 1: Rérisson Máximo e Camila Aldigueri Fernanda Balbino
Módulo 2: Rose Laila de Jesus Bouças Paula Zacarias
Módulo 3: Fernanda Balestro
Módulo 4: Jacy Soares Corrêa Neto Assistentes de Programas
Módulo 5: Luan Melo Bethânia Boaventura
Módulo 6: Raphael Faustino Mariana Nascimento
Módulo 7: Patricia Sepe
Módulo 8: Ana Gabriela Akaishi, Giusepe Filocomo, Analista de Dados
Taís Tsukumo, Karina Oliveira Leitão Harlan da Silva

Assistente de Dados
PROJETO GRÁFICO Júlio Santos
Lara Isa Costa Ferreira
Mariana Ribeiro Pardo Assistente de Comunicação
Ana Luiza Aun Al Makul Jessamine Santos
Mariana Byczkowski Iglecias
Designer Gráfico Júnior
Sávio Araújo
PROJETO AUDIOVISUAL
Streamax Produtora Produtor Audiovisual
Márcio Coelho Demétrio Portugal
Camila Mazzini

REVISÃO DOS TEXTOS


Lucas Nascimento Pinto
Sobre o
Projeto ANDUS
As cidades no Brasil e no mundo inteiro se encontram numa fase marcada por
transformações: digital, ambiental, sociodemográfica, econômica e laboral. Para atingir
uma maior equidade e enfrentar os processos de transformação, é necessário reorientar
as práticas de desenvolvimento urbano.

O Projeto ANDUS surgiu como forma de apoiar o governo brasileiro no aprimoramento


de políticas para o desenvolvimento urbano sustentável no Brasil a partir da concepção,
difusão e implementação de uma nova abordagem, baseada na Agenda 2030, na Nova
Agenda Urbana e no Acordo de Paris sobre mudança climática.

Ele é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério Federal da Economia e
Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte da Iniciativa Internacional para o Clima
(IKI). É implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.

ATENÇÃO!
Esse logotipo será apresentado na
apostila quando o conteúdo didático
remeter a processos e produtos
ANDUS.
Sobre o curso
A partir do projeto de cooperação técnica intitulado “Apoio à Agenda Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável no Brasil – ANDUS”, o objetivo desse curso é apoiar
as pessoas atuantes na administração pública em nível federal, estadual e municipal na
implementação de estratégias de desenvolvimento e gestão urbana sustentável, com
capacitação e difusão do conhecimento técnico e especializado. Também, pretende-
se ampliar o acesso ao tema e a processos de promoção do desenvolvimento urbano
sustentável a pesquisadoras e pesquisadores e pessoas interessadas na temática, de
modo geral.

Para tal, serão aprofundados aspectos da elaboração, implementação, monitoramento


e avaliação de leis, planos, programas e projetos no país. Eventos ambientais extremos
estão cada vez mais frequentes em nossas cidades, tais como enchentes, deslizamentos,
desmoronamentos e problemas sanitários, que convergem com graves questões sociais
e econômicas. Abordar os conceitos e fundamentos do Desenvolvimento Urbano
Sustentável e os caminhos para sua promoção é fundamental nesse contexto.

Decorre daí o diálogo com a universidade pública, para a preparação de material didático
e informativo. As apostilas e as videoaulas foram produzidas por um conjunto de pessoas
com experiência na gestão pública e na universidade, fazendo pesquisa e aprendendo
nesse diálogo entre ensino, pesquisa e prática.

Destaca-se, ainda, que o curso é produzido por meio da articulação remota dessa rede
nacional de pesquisadoras, pesquisadores e profissionais. Ele é produto do trabalho
coletivo de uma equipe de vários profissionais, que contou com a coordenação do
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos - LABHAB da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e com a participação de mais de
25 convidadas e convidados docentes, profissionais, acadêmicos de todo o país ao longo
do curso.

E entre as demais instituições envolvidas, destacam-se a Escola Nacional de


Administração Pública, a ENAP, e o Programa das Nações Unidas para os
Assentamentos Humanos, o ONU-Habitat, parceiros fundamentais na elaboração
deste projeto.

Assim, o presente Curso de Educação à Distância trata dos Instrumentos de


Desenvolvimento Urbano Sustentável com atenção especial às diferentes realidades
das cidades brasileiras.

Ou seja, a promoção do desenvolvimento urbano sustentável no Brasil deve, sem


sombra de dúvidas, considerar e partir dos problemas reais das cidades brasileiras. A
sensibilidade interdisciplinar, intersetorial, socioespacial e socioambiental é ponto de
partida para que as políticas sociais olhem e atuem de forma mais efetiva com atenção
às diversidades e desigualdades regionais brasileiras. O curso é assim orientado por uma
forte noção de justiça socioambiental, ao mesmo tempo que visa apoiar a formulação de
políticas públicas mais equitativas.

Durante o curso refletiremos sobre os instrumentos de desenvolvimento urbano


sustentável a partir de diferentes lentes de análise, metodologias e dinâmicas de
ensino-aprendizagem à distância. Os 8 módulos, 8 apostilas e diversas videoaulas foram
planejados de forma a potencializar o caráter informativo, instrumental, reflexivo,
crítico e propositivo do curso. Neste sentido, o público-alvo desta iniciativa são gestoras,
gestores, técnicas e técnicos da administração pública, assim como pesquisadoras e
pesquisadores, agentes privados e do terceiro setor com interesse e atuação na temática
urbana e ambiental.
O curso abordará os instrumentos urbanísticos apresentados pelo Estatuto da Cidade e
irá além, articulando conceitos de governança, dados e informações, planos e programas,
capacidades administrativas e de gestão, geração de receitas e recursos financeiros,
monitoramento e avaliação da atuação estatal. Além de apresentar experiências
regionais distintas sobre práticas adotadas nas cidades brasileiras.

MÓDULO 1 MÓDULO 2 MÓDULO 3 MÓDULO 4


Introdução aos Governança: A Informações: A dimensão Planejamento:
Instrumentos para dimensão política do conhecimento para o A dimensão territorial
o desenvolvimento do desenvolvimento desenvolvimento urbano para o desenvolvimento
urbano sustentável urbano sustentável sustentável urbano sustentável

MÓDULO 5 MÓDULO 6 MÓDULO 7 MÓDULO 8


Gestão: A dimensão Financiamento: A Monitorar, Avaliar, Desenvolvimento
institucional do dimensão financeira Criticar e Aprender urbano sustentável e
desenvolvimento para o desenvolvimento com o desenvolvimento a prática nas cidades
urbano sustentável urbano sustentável urbano sustentável brasileiras

Os módulos funcionam de forma independente, tem sua autonomia e podem despertar


interesse específico do público participante. No entanto, incentivamos fortemente
acompanhar a sequência toda dos módulos, que trazem elementos complementares
para o desenvolvimento urbano sustentável.

Por fim, convidamos para que desfrutem do seu conteúdo e usufruam de suas
ferramentas, explorando seu potencial enquanto catalisador de novas comunidades e
redes profissionais e de pesquisa.

Desejamos a todas e todos uma boa leitura!


Como utilizar
esta apostila
As apostilas que compõem o nosso material
didático são interativas. Ao clicar nos links
apresentados ao longo delas, você será
direcionado(a) a materiais e informações
complementares. Destacam-se ainda as
referências bibliográficas apresentadas
ao final de cada apostila de módulo, elas
permitem o aprofundamento adicional no
conteúdo do curso.

ATENÇÃO!
Sempre que aparecer o ícone ao
lado você poderá clicar e acessar o
conteúdo indicado de forma direta.

O simbolo ao lado, presente ao final


de cada página, permite que você
retorne ao sumário com um clique!
Sumário
12
APRESENTAÇÃO

13
INTRODUÇÃO

16
CAPÍTULO 1 - REGIÃO NORTE
A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA SOCIAL E AMBIENTAL
DOS IGARAPÉS DE MANAUS (PROSAMIM)

28
CAPÍTULO 2 - REGIÃO NORDESTE
A ATUAÇÃO DA SECRETARIA DE PLANEJAMENTO URBANO
(2017-2020) NO MUNICÍPIO DE CONDE, PARAÍBA

37
CAPÍTULO 3 - REGIÃO CENTRO-OESTE
CARACTERIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS URBANOS E DAS NECESSIDADES
HABITACIONAIS EM MATO GROSSO: relato de experiência da prática
continuada do Grupo de Pesquisa ÉPURA /UFMT

53
CAPÍTULO 4 - REGIÃO SUDESTE
A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO PAULO
NA DEFESA DO BEM-ESTAR E DA QUALIDADE
SOCIOAMBIENTAL EM TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS

66
CAPÍTULO 5 - REGIÃO SUL
PLANO DE GESTÃO DO PATRIMÔNIO TOMBADO
NO MUNICÍPIO DE ANTONINA, PARANÁ
Sobre os
organizadores
Pós-doutoranda em arquitetura e urbanismo na FAUUSP. Doutora em arquite-
tura e urbanismo na Universidade de São Paulo (FAUUSP), na área de concen-
tração Habitat, linha de pesquisa Questões Fundiárias e Imobiliárias, Moradia
Social e Meio Ambiente. O tema de sua pesquisa é “A herança mercantil: os
entraves dos imóveis ociosos no centro de São Paulo”. Mestre em Planejamen-
to e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC (2013), arquiteta e
urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo (2010). Tem experiência na área de planejamento urbano e habitacional,
e urbanização de favelas.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
Ana Gabriela Akaishi http://lattes.cnpq.br/1162059461096790

Pesquisador no Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Uni-


versidade de São Paulo. Doutorando e mestre em arquitetura e urbanismo pela
Universidade de São Paulo, área de concentração Habitat. Especialização em
Residência em Arquitetura e Urbanismo: Planejamento e Gestão Urbana pela
Universidade de São Paulo. Arquiteto e urbanista graduado pela Universidade
Estadual de Campinas, com intercâmbio acadêmico na Universidad Politécni-
ca de Madrid. Enquanto arquiteto e urbanista, foi membro de equipes técnicas
no setor público e privado, com experiência em projetos de infraestruturas ur-
bana e habitacional, planejamento urbano e política pública.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/2209090346913044
Giusepe Filocomo
Para mais informações acesse:
https://www.linkedin.com/in/giusepefilocomo/

Arquiteta e urbanista (2001), e mestre (2009) pela Faculdade de Arquitetura


e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Trabalhou na Secretaria
Municipal de Habitação de São Paulo, coordenando a revisão do Plano Munici-
pal de Habitação (2016). Atuou também por cerca de 15 anos na gestão pública
na área de planejamento urbano, urbanização de favelas e melhorias habita-
cionais, e na assessoria técnica a movimentos sociais. Foi professora em cursos
universitários por 6 anos e, desde 2020, tem promovido a educação urbana,
desenvolvendo cursos livres sobre cidades.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
Taís Tsukumo http://lattes.cnpq.br/0021922505214108

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São


Paulo (FAUUSP). Possui graduação em arquitetura e urbanismo (1999) pela
Universidade Federal do Pará (UFPA), mestrado (2004) pelo Programa de In-
tegração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM-USP) e
doutorado em Planejamento Urbano e Regional (2009) pela Faculdade de Ar-
quitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Desde 2002,
é pesquisadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da
FAUUSP, que coordenou entre janeiro de 2016 e março de 2020. Tem focado
suas pesquisas em habitação popular, planejamento urbano e regional, gestão
municipal, políticas públicas urbanas e impactos de grandes projetos.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
Karina Oliveira Leitão http://lattes.cnpq.br/1491826150538898
12
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APRESENTAÇÃO
O Módulo 8 encerra o curso Instrumentos de Desenvolvimento
Urbano Sustentável, apresentando experiências práticas rea-
lizadas em cidades brasileiras nas cinco regiões do país. Ele
se aprofunda em uma experiência de cada região e apresenta
material de referência para outras experiências importantes
para ampliar o conhecimento das pessoas participantes. Desse
modo, propomos debater alternativas para promover o de-
senvolvimento urbano sustentável na prática, o objetivo não é
transmitir soluções prontas.

Na Região Norte, veremos um programa de recuperação am-


biental das bacias dos igarapés de Manaus, no Amazonas. Na
Região Nordeste, aprofundaremos na organização da Secretaria
de Planejamento Urbano da Prefeitura do Município de Conde,
na Paraíba. Na Região Centro-Oeste, veremos uma experiência
de regularização fundiária e urbanística em um núcleo urbano
de Cuiabá, no Mato Grosso. Na Região Sudeste, mostraremos
um caso de atuação da Defensoria Pública de São Paulo na de-
fesa do bem-estar e da qualidade socioambiental em territórios
vulneráveis. E na Região Sul, conheceremos o caso do Município
de Antonina, no Paraná, e as soluções construídas diante do pa-
trimônio histórico local.

APRESENTAÇÃO
MÓDULO 8

Apresentação do Módulo 8:
Desenvolvimento urbano
sustentável e a prática nas
cidades brasileiras
13
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

INTRODUÇÃO
Já se passaram mais de 20 anos desde a implementação do Estatuto da Cidade e houve
muitas experiências na escala local de aplicação dos instrumentos urbanísticos, sempre
orientados pelos princípios constitucionais. Por isso, promover o desenvolvimento ur-
bano sustentável no país exige reflexões baseadas nas particularidades e na diversidade
dos diferentes municípios brasileiros. De início, esta apostila sistematiza e analisa expe-
riências ocorridas nas cinco regiões do país.

O objetivo desse panorama é estimular o debate nacional, regional e local sobre pos-
sibilidades e caminhos do desenvolvimento urbano sustentável. Acreditamos que apli-
car fórmulas ou ideias prontas em diferentes contextos geralmente é menos eficiente.
Assim, a reflexão amparada por esta apostila busca atualizar e dar um sentido mais am-
plo às teorias e às pesquisas sobre os resultados da aplicação dos instrumentos do de-
senvolvimento urbano sustentável no país.
Este módulo não apenas retrata experiências práticas em diferentes cidades e contextos
brasileiros preocupados com o desenvolvimento urbano sustentável. Ele também adota
como ideia fundamental promover uma justiça socioambiental no país. Com certeza de-
ve-se considerá-la a partir dos problemas reais das cidades brasileiras para promover o
desenvolvimento urbano sustentável.

Os diversos indicadores de precariedade urbana, ambiental e social permitem ler as de-


sigualdades regionais brasileiras. Assim, destacamos que a universalização do acesso
aos serviços urbanos básicos não é uma realidade nos municípios, ainda que se observem
avanços ao longo das últimas décadas.

Em 1980, praticamente todos os domicílios ocupados pelos 1. ARRETCHE,


10% mais pobres não possuíam qualquer acesso aos serviços M. Trajetórias das
Desigualdades: como o
de esgoto. Em 2015, apesar das melhorias, mais de 25% des- Brasil mudou nos últimos
sa camada social não tinha acesso aos serviços. No mesmo pe- 50 anos. São Paulo: UNESP,
ríodo, cerca de 90% dos domicílios habitados pelos 10% mais 2015.

pobres não possuíam acesso aos serviços de abastecimento


de água. Em 2015, esse índice aproxima-se dos 40%. Em 1980,
cerca de 90% dos domicílios mais pobres não eram atendidos
por serviços de coleta de lixo. Hoje, esse índice aproxima-se dos
40%. Em 1980, pouco mais de 25% dos 10% mais pobres pos-
suíam acesso à energia elétrica. O acesso a este serviço é hoje
virtualmente universal.1
14
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Atualmente, existem mais de 5 milhões de domicílios em aglo- 2. Aglomerado subnormal


merados subnormais2, distribuídos em 734 municípios do ter- é uma forma de ocupação
irregular de terrenos
ritório nacional. A Fundação João Pinheiro estimou que havia de propriedade alheia
aproximadamente 11,2 milhões de domicílios em condições (públicos ou privados) com
inadequadas em 2015 e que o déficit habitacional passava de 6 objetivos de habitação em
áreas urbanas. Em geral,
milhões de unidades habitacionais. caracterizados por um
padrão urbanístico irregular,
A realidade retratada parcialmente por esses dados mostra a com ausência de serviços
complexidade e diversidade da vulnerabilidade socioambiental públicos essenciais e estão
no Brasil, experimentada especialmente pelas famílias de baixa em áreas com restrição à
ocupação.
renda. A maioria dos aglomerados subnormais estão em áreas
ambientalmente frágeis, com edificações que podem apresen-
tar problemas de segurança e de conforto ambiental.

Por causa disso, o acesso a essas infraestruturas e serviços ur-


banos tem sido cada vez maior. Como o atendimento das neces-
sidades das pessoas mais pobres é consequência da atuação es-
tatal, destaca-se a importância de políticas públicas que de fato
acabem com as desigualdades socioespaciais e socioambientais
no nosso território nacional. Esse também é um desafio da ciên-
cia e da educação brasileiras. É fundamental que cada vez mais
a sociedade civil, as instituições de ensino superior e a adminis-
tração pública se articulem para isso.

AULA MAGNA
MÓDULO 8

Aula Magna do Módulo 8:


Desenvolvimento urbano
sustentável e a prática nas
cidades brasileiras
Apresentação da Profa. Dra.
Karina Leitão, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo.
15
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

PROJETO ANDUS – MENTORIA MUNICÍPIOS


O Projeto ANDUS atua de forma direta com os municípios brasileiros para que os instru-
mentos e práticas de planejamento urbano continuem sendo melhorados e testados. É
a partir da experiência prática dos diversos contextos locais, que a Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano encontrará respaldo para evoluir.

• Na primeira etapa de atuação do ANDUS foram desenvolvidas estratégias lo-


cais para seis municípios-piloto: Anápolis/GO, Campina Grande/PB, Eusébio/
CE, Fortaleza/CE, Hortolândia/SP e Tomé-Açu/PA.
• Na segunda etapa, essas estratégias foram replicadas e debatidas em grupos de
trabalho temáticos. Isso foi feito com a participação de 12 municípios e um con-
sórcio, que engloba outros 11 municípios.
• Na terceira etapa, Amajari/RR, Fortaleza/CE, Naviraí/MS e Sobral/CE rece-
beram consultoria e apoio técnico direto para gerarem impacto nos temas de
Soluções baseadas na Natureza (SbNs) e Regularização Fundiária (REURB).

O resultado dessa experiência rica de aprendizagem e de proposição coletiva pode ser


acessado diretamente na Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS). Ao
longo deste módulo, destacaremos algumas experiências da Mentoria ANDUS em cada
uma das cinco regiões do país.
EXPERIÊNCIAS
APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 1

REGIÃO
NORTE
Sobre o
autor

Roberto Fontes

Urbanista, mestre pela FAUUSP em 2018 e atuando


desde 2003 no desenvolvimento de projetos de
urbanismo, habitação social e infraestrutura urbana.
Também possui experiência na implementação e
gestão de políticas de habitação em diversas cidades
do Brasil. Atualmente, é gestor de projetos do
Fundo FICA, uma organização da sociedade civil que
implementa modelos alternativos de propriedade e
moradia na região central de São Paulo.

Instituição: LABHAB-FAUUSP

Para conhecer o currículo detalhado acesse:


https://usp-br.academia.edu/RobertoFontes/
CurriculumVitae

Para mais informações acesse:


https://www.linkedin.com/in/roberto-
fontes-22510118/
18
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

1. A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA SOCIAL E


AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE
MANAUS (PROSAMIM)
Manaus-AM

1.1 PRINCIPAIS QUESTÕES ENFRENTADAS


Ao longo do século XX, a cidade de Manaus passou por ciclos produtivos intensos e de-
siguais. Entre eles, o período de ouro da borracha na virada dos 1900 e a construção do
Polo Industrial de Manaus no início da década de 1970. Os aspectos negativos desses
ciclos marcaram o território da cidade em seu desenvolvimento e expansão.

Uma das características da expansão das cidades brasileiras é destinar o espaço para
moradia da população sem condições de acesso à cidade oficial à trechos ambientalmen-
te vulneráveis. Eles apresentam riscos de enchentes, deslizamentos ou contaminação.
No caso de Manaus, a ocupação do território pelas pessoas mais pobres aconteceu em
um contexto ambiental extremo. A variação anual do nível do Rio Negro pode chegar a
15 metros e as chuvas são constantes e volumosas. A moradia em palafitas é a habitação
tradicional dos ribeirinhos da Bacia Amazônica e virou símbolo de pobreza e vulnerabili-
dade ao longo do século XX.

Figura 1 – Variação Anual do Rio Negro, Manaus/AM


Fonte: Adaptado do Google Earth. Elaboração gráfica Labhab, (2022).
19
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

A rede hidrográfica da cidade é formada por quatro bacias de igarapés urbanos. Eles são
extensos e alimentados por centenas de afluentes. Ao longo do tempo, as famílias de
trabalhadores e trabalhadoras empregados nos ciclos produtivos da cidade foram cons-
truindo suas casas nas margens. Essas comunidades estão atualmente expostas a uma
série de riscos socioambientais. Eles são ainda mais graves por causa da falta de infraes-
trutura de esgoto, coleta de lixo, drenagem urbana e regularização fundiária. Também
podem sofrer com eventos climáticos extremos.

Mapa 1 – Hidrografia de Manaus: principais bacias hidrográficas urbanas e variação anual do Rio Negro
Fonte: Adaptado de Souza (2018), com base em Google Earth (2018). Elaboração gráfica Labhab (2022).
20
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

1.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS


O objetivo do PROSAMIM é promover a recuperação ambiental
das bacias dos igarapés de Manaus. Ele busca estabelecer um
padrão de desenvolvimento socialmente integrado e um pro-
cesso de crescimento econômico ambientalmente sustentável.
O programa também buscou melhorar a situação ambiental de
Manaus e realizou obras de infraestrutura sanitária e de recu-
peração ambiental. Além disso, houve ações de sustentabilida-
de social e institucional, prevendo o reassentamento de cerca
de 8.500 famílias que ocupam os perímetros das intervenções.

Esses objetivos agrupados em componentes de intervenções 3. Aqui nos referimos aos


propunham: 1) Remover toda a população instalada abaixo da aterros decorrentes da
canalização dos igarapés.
cota de cheia do Rio Negro; 2) Construir canais abertos e fecha- Cf. GRAU, 1976, p. 136:
dos nos igarapés principais e secundários; e 3) Construir aterros “A noção de solo criado
de grandes proporções. A realização destas intervenções pro- desenvolveu-se inicialmente
a partir da observação da
duziu grandes extensões de solo criado3 onde foram implanta- possibilidade de criação
dos parques parques, estruturas viárias e conjuntos residenciais artificial de área horizontal,
para reassentar parte da população afetada. O Componente I, mediante a sua construção
sobre ou sob o solo natural.
Melhoria Habitacional, Urbanística e Ambiental, foi dividido em Compreende-se assim o solo
cinco subcomponentes temáticos: (i) Macro e microdrenagem; criado como o resultado da
(ii) Reordenamento Urbano e Reassentamento Habitacional; criação de áreas adicionais
utilizáveis, não-apoiadas
(iii) Parques e Vias Urbanas; e (iv) Infraestrutura Sanitária. O diretamente sobre o solo
Componente II, Sustentabilidade Social e Institucional, centra- natural.”
liza as ações de planejamento e execução da política de reassen-
tamento habitacional (UGPI, 2012, p. 11).

O Governo do Estado do Amazonas criou em 2003 o

6
PARA MAIS
Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus
INFORMAÇÕES
(PROSAMIM) que desde 2006 recebeu apoio finan-
SOBRE O TEMA
ceiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento VER TAMBÉM O
(BID): PROSAMIM I e Suplementar, PROSAMIM II MÓDULO 6.
e o PROSAMIM III (ver quadro a seguir). Os recur-
sos eram 70% financiados pelo BID e 30% aportados
como Contrapartida Local pelo Governo do Estado.
Diferentes modalidades de obras foram incorporadas
ao longo das etapas do programa. Entre elas estavam

5
PARA MAIS
intervenções no sistema viário urbano realizadas pela INFORMAÇÕES
Prefeitura de Manaus e canalizações pontuais de iga- SOBRE O TEMA
rapés. O quadro a seguir apresenta um resumo dos va- VER TAMBÉM O
lores de empréstimo em cada etapa, bem como as con- MÓDULO 5.
trapartidas de responsabilidade do Governo do Estado
do Amazonas.
21
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Quadro 1 – Resumo dos valores totais dos empréstimos contratados e contrapartidas locais

Fonte: UGPI, 2021. Elaborado pelo autor.


Elaboração gráfica LABHAB (2022).

1.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E


IMPACTOS ESPERADOS
O PROSAMIM teve três diferentes etapas entre 2003

6
PARA MAIS
e 2020, com um investimento total de U$930 milhões. INFORMAÇÕES
Cada etapa foi organizada por meio de um contrato SOBRE O TEMA
específico com áreas extensas da cidade de Manaus. VER TAMBÉM O
MÓDULO 6.
Além disso, a área de intervenção de cada fase foi
um trecho de bacia hidrográfica urbana específica:
PROSAMIM I, Bacia do Educandos; PROSAMIM II,
Bacia do Igarapé do Quarenta; e PROSAMIM III, Bacia
do Igarapé do São Raimundo. Grandes programas ur-
banos como o Programa Guarapiranga, DRENURBS e
PAT PROSANEAR partem das bacias e sub-bacias hi-
drográficas como unidade territorial central. Essa so-
lução técnica é a mais adequada em termos de sanea-
mento ambiental e ajuda a entender o PROSAMIM.
Assim, observar resultados e impactos esperados é
uma tarefa difícil com muitas sobreposições entre os
programas, como mostra a figura abaixo:
22
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 2 – Linha do Tempo do PROSAMIM


Fonte: Elaborado pelo autor. Elaboração gráfica LABHAB (2022).

O PROSAMIM pode ser considerado um excelente ob-


jeto de estudo para o nosso curso por ter durado mui-
to tempo e afetado muitas áreas da cidade de Manaus.

4
PARA MAIS
Tanto em relação ao enfrentamento da precariedade INFORMAÇÕES
habitacional quanto em relação à exposição ao risco so- SOBRE O TEMA
cioambiental nas cidades amazônicas. O PROSAMIM VER TAMBÉM O
MÓDULO 4.
foi o primeiro projeto a intervir na cidade integrando a
questão ambiental e habitacional, mas alcançou resul-
tados limitados.

A primeira fase do programa foi marcada pelo uso da solução de drenagem em galerias
fechadas, priorizando a construção de conjuntos habitacionais próximos à região central
de Manaus e ao local onde as famílias moravam. Foram construídos quatro parques ur-
banos, um deles associado à preservação do patrimônio histórico.

O PROSAMIM II teve como objeto o trecho final do Igarapé do Quarenta, com cerca de
3 km de extensão. A intervenção começava por remover as famílias expostas aos riscos
ambientais e previa a canalização do igarapé. Posteriormente, seriam implantadas vias
marginais e obras de infraestrutura, como viadutos, pontes e alças viárias. Assim, seria
feita a transposição do Igarapé do Quarenta por avenidas dos bairros do entorno, além
de se construir cerca de 590 unidades habitacionais.

A última fase do PROSAMIM começou em 2012 e foi marcada por conceitos ambientais de
macrodrenagem mais contemporâneos. O partido do projeto não previa a canalização do
Igarapé do São Raimundo, nem a construção de vias marginais. Foi proposta a construção de
três conjuntos habitacionais (cerca de 780 unidades habitacionais) e três parques urbanos.
23
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

1.4 IMPREVISTOS (RESULTADOS NÃO ESPERADOS)


O Programa foi afetado pelas descontinuidades da chefia do executivo estadual durante
os cerca de 17 anos de sua duração. Isso gerou perdas de atividade e energia administra-
tiva, principalmente na Unidade de Gerenciamento do Programa Social e Ambiental dos
Igarapés (UGPI). Além disso, podemos destacar os seguintes imprevistos ocorridos ao
longo do programa:

• Esgotamento dos imóveis na região central para atender a modalidade de com-


pra assistida para famílias afetadas pelas remoções. Isso fez com que as famílias
buscassem imóveis cada vez mais distantes.
• Esgotamento dos recursos financeiros do PROSAMIM I antes de sua conclusão.
Isso obrigou a contratação de um empréstimo complementar para finalizar obras
e atendimentos habitacionais (esse déficit se estendeu até o PROSAMIM II).
• A construtora contratada teve dificuldades para executar as tipologias habita-
cionais originais. Isso empobreceu gradativamente o partido tipológico das ca-
sas produzidas pelo programa.
• Descontinuidades administrativas prejudicaram a execução do monitoramento
e da avaliação do programa como um todo. Isso dificultou a construção de ban-
cos de dados consistentes e o monitoramento pós-atendimento das famílias que
receberam compensação financeira.

1.5 PRINCIPAIS ATORES E


INSTITUIÇÕES ENVOLVIDOS
O programa foi conduzido desde o início como iniciati-
PARA MAIS

2,5
va do Governo do Estado do Amazonas, alinhado dire-
INFORMAÇÕES
tamente com o gabinete do governador. A empreiteira SOBRE O TEMA
responsável pela execução de todas as intervenções, VER TAMBÉM OS
a gerenciadora de projetos e a empresa responsável MÓDULOS 2 E 5.
pela fiscalização das obras foram contratadas para
cada fase através de licitação pública.

Todas as contratações realizadas pelo programa foram realizadas pela Unidade de


Gerenciamento do Programa Social e Ambiental dos Igarapés (UGPI). Esse é um ele-
mento comum a outros contratos de empréstimos financiados pelo BID e centraliza as
decisões técnicas e administrativas do PROSAMIM. A UGPI teve status de secretaria
estadual e sua equipe técnica era composta por servidores(as) de outras secretarias en-
volvidas na implantação das intervenções previstas. A influência da UGPI diminuiu com
as alternâncias político-administrativas na chefia do executivo estadual. Em 2016, ela
se tornou Unidade de Gerenciamento de Projetos Especiais (UGPE), diminuindo sua im-
portância sobre a estrutura executiva estadual (SOUZA, 2018).
24
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

No início dos anos 2000, o BID já estava envolvido há décadas em investimentos de gran-
des obras na região amazônica para implantar infraestruturas pesadas, como estradas,
ferrovias e hidrelétricas. Uma transição estratégica a partir da metade dos anos 1990
levou para as cidades da região investimentos em projetos de reordenamento urbano
e saneamento básico. O PROSAMIM consolidou essa transição e foi realizado de forma
muito próxima e com acompanhamento atento das equipes do banco.

O programa contou com uma empresa responsável pelo desenvolvimento de projetos


básicos, executivos e acompanhamento técnico das obras de intervenção. Ela também
elaborou o Plano de Trabalho Técnico Social e acompanhou o trabalho realizado pela
equipe da UGPI. Contratou-se também uma construtora para demolir e construir as es-
truturas previstas, e uma empresa para gerenciar a criação e o desenvolvimento dos pro-
jetos, além de fiscalizar a execução das obras.
Infelizmente, o PROSAMIM não promoveu a participação de organizações comunitárias
representativas da população afetada pelas suas intervenções. A participação popular
aconteceu em estruturas e espaços propostos pelo programa. Eles eram marcados pela
tutela e direcionamento a partir do enquadramento do programa, nunca considerando
as representações já estabelecidas nas diversas comunidades.

A relação do programa com o governo municipal tem


poucos pontos de contato técnico e de planejamento. REGIÃO NORTE
Eles se concentram nos momentos de entrega de equi- MÓDULO 8
pamentos construídos e redes implantadas para opera-
ção, conservação e manutenção. Isso levou a uma das
contradições do programa: os orçamentos das secreta-
rias municipais não conseguem absorver novas frentes
de gestão, pois não existe uma ação interligada entre
níveis de planejamento e definição da cobertura das in- Região Norte: a experiência
tervenções do PROSAMIM. do Programa Social e
Ambiental dos Igarapés de
Manaus (PROSAMIM)

APROFUNDE-SE Apresentação de Roberto


Fontes, pesquisador do
Escola Bosque em Belém-PA Laboratório de Habitação e
O objetivo principal do Projeto de Escolas Bosque de Belém é Assentamentos Humanos da
contribuir para a formação de uma nova ética social e ambiental, Universidade de São Paulo.
chamando atenção para problemas globais de degradação do
meio ambiente. Busca estimular a educação ambiental formal e
não formal, difundindo-a principalmente junto à Rede Municipal
de Ensino de Belém, formando profissionais ligados à área de
estudos do meio ambiente. Além de implementar projetos e
ações educacionais para preservá-lo.
SILVA, J. B.; PINTO, E. C. R.; PINHEIRO, M. F. D. Análise do PPP
da Escola Bosque, Belém, Pará. Revista Contemporânea de
Educação, [s. l.], v. 13, n. 28, p. 823-843, set./dez. 2018.
Disponível em: https://drive.google.com/file/d/17oStVpE
FXYJ2Hb8d1gDEx2wjLkrFs9EC/view?usp=sharing
25
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
Requalificação urbana e ambiental na área da
zona portuária Baixada do Ambrósio, Santana-Amapá
O artigo apresenta uma proposta de requalificação urbana e
ambiental na área habitacional da Zona Portuária Baixada do
Ambrósio, em Santana, no Amapá. O que se propõe é adotar um
novo padrão arquitetônico e de serviços básicos, principalmente
de saneamento e drenagem para áreas palafíticas. Assim, é
possível manter a maioria das pessoas morando na Baixada do
Ambrósio com qualidade de vida, em vez de movê-las para outro
local. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo feita
com o apoio e a participação de habitantes do bairro. Esse foi o
principal instrumento de planejamento participativo. O projeto
foi contratado e aprovado em 2006 pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), e pode ser referência para outras áreas
semelhantes na Amazônia, mesmo não tendo sido aplicado.
ROBACHER, L. A. Requalificação urbana e ambiental na área
habitacional da zona portuária Baixada do Ambrósio, Santana,
Amapá. Inclusão Social, [s. l.], v. 6, n. 2, 2013.
Disponível em:
https://revista.ibict.br/inclusao/article/view/1737

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do Projeto ANDUS em Amajari/RR: construção
de uma estratégia integrada de regularização fundiária ancorada
em soluções baseadas na natureza de saneamento ambiental e drenagem
para potencializar os serviços ecossistêmicos.
Uma biofossa (BET), um jardim de chuva e duas trincheiras de infiltração
foram implementadas na sede da prefeitura. Agentes locais fizeram o mesmo em
comunidades vulneráveis. O que conquistamos: deixar a entrada da cidade mais bonita;
soluções de saneamento; arborização e paisagismo; e modelo de solução ambiental.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa “Impacto nos
Municípios” e evento “Semana Nacional de Desenvolvimento Urbano Sustentável”.
Amajari/RR: Proposta da mentoria em biodesign de espaços públicos
Amajari/RR: Impactos da mentoria em instrumentos urbanos
Amajari/RR: Disseminação das SbNs
26
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. C. M. de. Habitabilidade na cidade sobre as águas: desafios da implan-
tação de infraestrutura de saneamento nas palafitas do Igarapé do Quarenta – bairro
Japiim – Manaus/AM. 2005. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.

ALVES, J. A. et al. Agências multilaterais e intervenções urbanas: o caso do PROSAMIM


em Manaus–AM. [s. l.]: UFAM, 2008.

AZEVEDO, R. V. Revitalização dos igarapés: para quem. In: CONGRESSO NACIONAL


DO CONPEDI, 15., 2006, Manaus. Anais...Manaus: Anais CONPEDI, 2006.

BARBOSA, T. R.; OLIVEIRA, J. A. Manaus, a paisagem em movimento: conflitos ambien-


tais e a construção das moradias populares. In: COLÓQUIO IBÉRICO DE GEOGRAFIA,
9., 2008, Madrid. Anais... Madrid: Anais Colóquio Ibérico de Geografia, 2008.

BID – BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO. Documento Conceptual


de PROYECTO (DCP): Contrato de Empréstimo 1692/OC-BR (PROSAMIM I). Manaus:
[s. n.], 2004.

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Plano Nacional de


Habitação (PLANHAB). Brasília: [s. n.], 2009.

CANO, W. Amazônia: da crise à integração atípica e truncada. Am. Lat. Hist. Econ.,
México, v. 20, n. 2, p. 67-95, ago. 2013.

CRUZ, S. H. R. Grandes projetos urbanos, segregação social e condições de moradia


em Belém e Manaus. 2012. 317 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do
Trópico Úmido) – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará,
Belém, 2012.

GRAU, Eros Roberto. Aspectos jurídicos da noção de solo criado. O Solo criado: Anais
do Seminário, Fundação Prefeito Faria Lima. São Paulo, 1976, p.136.

GURGEL, N. I. F. Globalização e política urbana: as agências multilaterais e o PROSAMIM


– Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus. 2013. Dissertação (Mestrado)
– Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.

MACIEL, F. B. Assentamentos precários: o caso de Manaus. In: MORAIS, M. P.; KRAUSE,


C.; LIMA NETO, V. C. (Ed.). Caracterização e tipologia de assentamentos precários: es-
tudos de caso brasileiros. Brasília: Ipea, 2016.

OLIVEIRA, J. A.; GURGEL, N. I. F. Moradias Em Áreas Inundáveis: As Intervenções Do


Prosamim Em Manaus – Zona Oeste. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
SOCIOLOGIA DA REGIÃO NORTE, 2., 2010, Belém. Anais... Belém: [s. n.], 2010.
27
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

OLIVEIRA, J. A.; SCHOR, T. Transformações nas cidades da Amazônia Brasileira: Manaus


novas configurações urbanas decorrentes de projetos financiados por agências multi-
laterais. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO,
REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL-PLURIS, 4., 2010, Faro. Anais... Faro: Anais
PLURIS, 2010.

PLAN EVAL. Avaliação do Processo de Reassentamento e Participação Comunitária do


PROSAMIM III (Produto 4 – Nota Técnica). São Paulo: [s. n.], 2020.

SOUZA, R. F. de. Urbanização sobre as águas: um panorama das intervenções do


PROSAMIM em Manaus. 2018. Dissertação (Mestrado em Habitat) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. doi:
10.11606/D.16.2018.tde-12122018-170518.
EXPERIÊNCIAS
APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 2

REGIÃO
NORDESTE
Sobre o
autor

Pedro Freire
de Oliveira Rossi

Pedro Rossi é doutorando e pesquisador do


LABHAB-FAUUSP. Como professor, possui experiência
na gestão acadêmica e atua sobre temas da
política urbana, com foco nos conflitos fundiários
e acesso à moradia. No poder público, trabalhou
no consórcio da Área Metropolitana de Barcelona
e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
do Estado da Paraíba (IPHAEP). Ex-presidente do
IAB/PB, atualmente é Conselheiro Superior do IAB,
Conselheiro Titular do CAU/PB e membro da rede
BrCidades.
Instituição: LABHAB-FAUUSP
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/7043964910553824
Para mais informações acesse:
https://www.linkedin.com/in/pedrorossi-/
30
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

2. A ATUAÇÃO DA SECRETARIA DE
PLANEJAMENTO URBANO (2017-2020)
NO MUNICÍPIO DE CONDE, PARAÍBA
Conde-PB

2.1 PRINCIPAIS QUESTÕES


ENFRENTADAS
Desde sua fundação em 1963, o Município de Conde

5
PARA MAIS
possuía estrutura administrativa e funcionava a partir INFORMAÇÕES
de relações de poder parecidas com as das demais cida- SOBRE O TEMA
des pequenas e médias do país. De 2017 a 2020, a ges- VER TAMBÉM O
tão municipal da época e a Secretaria de Planejamento MÓDULO 5.
Urbano de Conde estabeleceram um modelo de ad-
ministração que superou os arranjos administrativos
desconexos que haviam até aquele momento. Esses
arranjos resultavam em sombreamento de atribuições,
choque de responsabilidades e pulverização de ações.

2.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS


O recém-eleito Poder Executivo Municipal criou e aprovou a Lei Municipal no 902/2017
baseado em uma nova lógica de gestão. A lei instituiu a Estrutura Administrativa do Poder
Executivo Municipal de Conde.

Com isso, o Município de Conde atualizou sua estrutura administrativa, criando no-
vas secretarias municipais e redefinindo a atribuição das demais. As Secretarias de
Planejamento (SEPLAN) e de Infraestrutura (SEINFRA) estabeleceram-se como as prin-
cipais responsáveis pelos importantes avanços da política territorial local. A SEPLAN
com foco em definir e planejar a política urbana e a SEINFRA por meio da promoção e
execução do que foi planejado.

A estruturação da SEPLAN tem um modelo horizontal


de organograma. Isso possibilita a comunicação entre
as equipes de trabalho, a gestão compartilhada entre

2
PARA MAIS
setores e a transversalidade das ações em conjunto com INFORMAÇÕES
as outras secretarias. Esse modelo de administração SOBRE O TEMA
agregou ao setor de planejamento territorial desta se- VER TAMBÉM O
cretaria as Coordenadorias de Habitação, Mobilidade MÓDULO 2.

e Trânsito, Controle Urbano, Planejamento Territorial


e Orçamentos. Além disso, tornou o setor responsável
pela aprovação de projetos e obras.
31
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 3 – Divisões setoriais da SEPLAN


Fonte: Tavares et al. (2022). Elaboração gráfica: Labhab (2022).

Na metodologia adotada pela SEPLAN eram realizadas


reuniões semanais de acompanhamento e alinhamen-
to das ações em curso. Nelas, todas as coordenadorias
apresentavam e discutiam as demandas necessárias.
Num segundo momento, organizava-se uma oficina, na
qual técnicos e técnicas escolhiam a ação que atende-
ria a demanda daquela semana e buscavam uma solu-
ção para ela.
32
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Essa experiência gerou importantes avanços na agen-


da urbana condense. Essas ações foram positivas do
ponto de vista do planejamento territorial da cidade
para a administração municipal e para seus servidores
e servidoras. Um dos principais exemplos dessa estru-

5
PARA MAIS
turação foi a associação de demandas como o contro- INFORMAÇÕES
le urbano - atividade eminentemente burocrática de SOBRE O TEMA
licenciamento e fiscalização - com a habitação. Com VER TAMBÉM O
MÓDULO 5.
isso, foi possível realizar importantes processos de re-
gularização fundiária com base no histórico de ocupa-
ção da cidade.

A presença de profissionais de arquitetura e urbanismo foi muito importante para os re-


sultados positivos da SEPLAN. Ocuparam cargos de destaque nos setores técnicos e de
coordenação. O próprio gestor da SEPLAN era um profissional dessa área.

2.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


O objetivo essencial da estruturação administrativa da SEPLAN era articular os setores
para promover políticas territoriais e direitos. Observou-se que essa estratégia de or-
ganização interna da SEPLAN tornou a rotina de trabalho da secretaria mais eficiente.
Um corpo técnico menor obrigou as pessoas da equipe a atuar de maneira intersetorial
dentro da própria SEPLAN. Elas assumiram papéis de articulação em cada coordenado-
ria, promovendo políticas mais coerentes e alinhadas umas com as outras e com as ne-
cessidades locais. Esse modelo de administração também reduziu custos e otimizou os
recursos financeiros.

Nesse mesmo período, dois concursos públicos nacionais de arquitetura e urbanismo


foram criados para elaborar e executar projetos. Um deles foi para a Reurbanização da
Área Central de Conde (2018) e o outro para a Unidade Básica de Saúde Quilombola
do Gurugi (2019). Os dois foram editados com recursos da prefeitura, somando quase
seis milhões de reais para obras e mais de 230 mil reais em contratos e premiações aos
vencedores. O objetivo da requalificação da área central era reurbanizar vias e espaços
públicos. Seriam usados para isso projetos executivos de urbanismo, paisagismo, infraes-
trutura urbana, arquitetura dos equipamentos públicos, mobiliário urbano e projetos
complementares de engenharia. O Centro de Conde passou a ter uma grande área de
lazer, academia, pista de skate, fonte, brinquedos para crianças, quiosques padronizados
e área de passeio. A proposta da UBS Quilombola buscou promover atendimento quali-
ficado aos pacientes, concretizando políticas afirmativas implantadas em todos as áreas
da gestão municipal. Ela utilizou a arquitetura pública como elemento de reafirmação e
pertencimento do povo quilombola.
33
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

2.4 IMPREVISTOS (RESULTADOS


NÃO ESPERADOS)
A implantação de uma metodologia para combater os
arranjos tradicionais da administração pública trouxe
o desafio de mudar o comportamento das equipes téc-
nicas e da gestão. Transformar rotinas e propostas foi
algo positivo ao longo dos anos da gestão.

A ausência de um instrumento de controle e de metri-


ficação das ações públicas foi outro ponto levantado
como inesperado à medida que o volume de trabalho
PARA MAIS

3,7
na administração pública aumentava. Foi uma conse-
INFORMAÇÕES
quência do levantamento das inúmeras questões que
SOBRE O TEMA
surgiam e que deveriam ser enfrentadas pela secre- VER TAMBÉM OS
taria. Portanto, a necessidade de monitoramento das MÓDULOS 3 E 7.
ações pelo próprio Poder Executivo levou ao aperfei-
çoamento daquele primeiro desenho metodológico.

É muito importante que se implemente rotinas e pro-


cedimentos, assim como estratégias de monitoramen-
to e de avaliação da ação pública.

Algo positivo para o cotidiano da SEPLAN diz respeito


ao ambiente de trabalho da equipe técnica. As condi-
ções pré-existentes de precariedade das instalações
da prefeitura obrigaram alguns setores a se amontoar
em poucas e pequenas salas, pois não havia um local
apropriado para se trabalhar. Um único espaço com-
partilhado por todos os setores foi um fator complica-
dor. Mas também foi um estímulo, pois esse arranjo no
ambiente de trabalho possibilitou trocar informações
e encontrar soluções para as demandas durante o ex-
pediente, evitando deslocamentos e falta de comuni-
cação. No entanto, é indiscutível que a administração
pública deve construir as condições técnicas e de in-
fraestrutura administrativa básicas para garantir a tro-
ca e a interação entre diferentes equipes técnicas.
34
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

2.5 PRINCIPAIS ATORES E


INSTITUIÇÕES ENVOLVIDOS
PARA MAIS

2,5
A experiência do modelo administrativo implantado
INFORMAÇÕES
pela Prefeitura de Conde se baseou principalmente na
SOBRE O TEMA
gestão compartilhada e intersetorial. A SEPLAN, como VER TAMBÉM OS
órgão de planejamento, incidia diretamente nas ações MÓDULOS 2 E 5.
da Secretaria de Infraestrutura por ser um órgão de pla-
nejamento. Consequentemente, agia na Secretaria de
Finanças e de Administração. Portanto, a SEPLAN fo-
cou em se apresentar como um corpo técnico especia-
lista em território, mas que buscava atuar com outros
corpos institucionais internos. Além da gestão interse-
cretarial, tiveram papel importante a Controladoria e a
Procuradoria do Município, pois é essencial entender
e dialogar com as questões jurídicas para se atuar no
território.

REGIÃO
NORDESTE
MÓDULO 8

Região Nordeste: a atuação APROFUNDE-SE


da Secretaria de Planejamento Plano “Juntos pela Segurança” do Município de
Urbano (2017-2020) no Caruaru-PE
Município de Conde, Paraíba
O plano “Juntos pela Segurança” de Caruaru foi criado
Apresentação do Prof. Pedro em 2017 com o objetivo de reduzir os números da
Freire de Oliveira Rossi, violência na cidade, entre 2015 e 2018. No primeiro
pesquisador do Laboratório de momento, foi realizado um levantamento bibliográfico
Habitação e Assentamentos de base para entender como são distribuídas as
Humanos da Universidade de responsabilidades da segurança pública entre os entes
São Paulo. da federação. Além disso, entender quais ações os
municípios podem tomar para combater a violência.
SOUZA, B. A. C. de; SANTOS, J. W. F. dos. O papel
do município no sistema de segurança pública: uma
análise do plano “juntos pela segurança” do município
de Caruaru. [s.l.]: [s.n.], 2019.
Disponível em: http://200-98-146-54.clouduol.com.br/
handle/123456789/2542
35
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
Projetar Sergipe (Projetar.SE)
Concebido pelo Grupo Banco do Estado de Sergipe (Banese) com apoio do
Governo do Estado e executado pelo Instituto Banese.
O projeto Projetar.SE foi uma parceria inovadora entre o Governo do Estado
de Sergipe e o Grupo Banco do Estado de Sergipe (Banese). Por meio dele foi
criado um núcleo de assessoria técnica aos municípios sergipanos. O núcleo
capta e gere recursos públicos para investimentos em desenvolvimento
urbano.
A equipe técnica do Projetar.SE atende às cidades uma a uma, realizando
visitas e reuniões para entender as prioridades de cada gestão municipal.
Ela cria projetos que seguem padrões e exigências legais e assessora as
prefeituras nos processos de aprovações em todos os órgãos necessários.
O seu princípio em cada projeto é respeitar os valores locais, a história e os
aspectos ambientais e sociais de cada região.
Disponível em: https://jlpolitica.com.br/colunas/aparte/posts/sucessao-
intencao-de-voto-em-edvaldo-nogueira-e-tres-vezes-maior-do-que-em-
rogerio-carvalho-em-socorro/notas/opiniao-projetar-se-uma-solucao-
inovadora-para-apoiar-municipios-sergipanos
e em: https://www.projetarsergipe.com.br/

APROFUNDE-SE
Projeto Arredor de Casa – Borborema-PB
O arredor de casa é um espaço variado e de grande importância para toda
a família na agricultura familiar. É nele que se fazem as experiências das
primeiras chuvas e de novas tecnologias. É onde se gera renda e se desenvolve
a economia. É também o espaço dedicado à educação das crianças e ao cuidado
da família, das plantas medicinais, da horta, das frutas e dos animais de terreiro.
Enfim, é um grande laboratório da vida da agricultura.
A Comissão de Saúde e Alimentação do Polo Sindical e das Organizações da
Agricultura Familiar da Borborema vem criando ambientes socioculturais que
estimulam a experimentação a partir dos recursos gerados nesse laboratório.
São ambientes de trocas e de gestão coletiva de conhecimentos. Além disso,
incentivam o aparecimento de novos padrões sociais ao inserir e criar espaços
organizativos onde todos os membros das famílias podem atuar.
Neste vídeo, as agricultoras do Agreste da Paraíba abrem as portas de seu
laboratório e prestam testemunhos comoventes. Eles são ora pessoais, ora
coletivos. Elas contam como foram aos poucos se tornando protagonistas de
seus processos sociais de inovação e de gestão de conhecimentos. Além disso,
mostram como foram se afirmando enquanto agricultoras-experimentadoras e
como sua nova função foi acima de tudo reconhecida publicamente.
Disponível em: https://aspta.org.br/article/no-arredor-de-casa-os-
animais-de-terreiro/
e em: https://aspta.org.br/2011/05/09/o-arredor-de-casa/
36
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em Arapiraca/AL:
Arapiraca Verde Parque Linear – Bacia do Rio Piauí
Assistência técnica para criar e implementar o Programa Arapiraca
Verde. Ele contou com a elaboração participativa do Plano Municipal
de Arborização e Reflorestamento, com produção de mudas, restauração
ecológica e educação socioambiental. Além disso, o município desenvolveu
como piloto dessa estratégia o projeto de recuperação do parque linear e do
corredor ecológico da bacia do Rio Piauí.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa
“Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de Desenvolvimento
Urbano Sustentável”.
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/
semana-dus-2021/biblioteca/effbbbf3-0a1d-4284-
8a8f-1cde37fdfe36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TAVARES, F. et al. Agir Local: gestão territorial e democra-
cia, uma experiência em Conde-Paraíba-Brasil. João Pessoa:
Instituto Território, 2022.
EXPERIÊNCIAS
APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 3

REGIÃO
CENTRO-OESTE
Sobre os
autores

Andréa Arruda é professora da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Estudos de
Planejamento Urbano e Regional (Épura/UFMT). Em 2020, passou
a integrar o Grupo de Estudos Socio-Territoriais Urbanos e de Ação
Local (Gestual), CIAUD/FAULisboa.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/3284899564422318

Andréa Arruda Para mais informações acesse:


https://www.linkedin.com/in/andr%C3%A9a-arruda/

Doriane Azevedo é professora da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da UFMT. Desde 2009 é líder do Grupo de
Pesquisa e Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional
(Épura/UFMT) e do Programa de Extensão EPURAinQUADRANTES.
Seu foco são pesquisas-ações relacionadas à teoria e à história da
urbanização, do urbanismo e do planejamento do território e da
paisagem mato-grossense. Assim como a análise crítica e propositiva
de políticas territoriais em suas incidências/impactos multiescalares.

Doriane Azevedo Para conhecer o currículo detalhado acesse:


http://lattes.cnpq.br/7822387235315790

Claudio Miranda é professor aposentado da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da UFMT, e pesquisador do Grupo de Pesquisa
e Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional (Épura/
UFMT). Desde 2019 é diretor-geral do Instituto Cidade Legal (ICL) e
idealizador da MIRAR Arquitetura e Tecnologia, atuando na área de
regularização fundiária e geotecnologias.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/5634812340817448

Claudio Miranda
39
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3. CARACTERIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS


URBANOS E DAS NECESSIDADES HABITACIONAIS
EM MATO GROSSO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
DA PRÁTICA CONTINUADA DO GRUPO
DE PESQUISA ÉPURA / UFMT
Cuiabá-MT

3.1 PRINCIPAIS QUESTÕES


O estado de Mato Grosso tem 141 municípios, a maior parte de pequena e média dimen-
são demográfica. Apenas cinco deles ultrapassam 100.000 habitantes. A maioria apre-
senta uma estrutura institucional frágil e que precisa ser consolidada, exigindo, entre
outras, ações de regularização fundiária, melhorias ur-
banas e do edificado.

A capital Cuiabá, Várzea Grande e, em outra escala,


Sinop e Rondonópolis, apresentaram uma tendência
de supervalorização da resolução do déficit quantita-
tivo, voltando-se para a produção de novas unidades
habitacionais, em geral desconectadas de políticas
urbanas mais amplas. Nota-se ainda a falta de reco-
nhecimento das inadequações urbanas e habitacio-
nais dos assentamentos precários, o que ficou claro
na subestimação dos dados oficiais sobre esses ter-
ritórios nos primeiros Planos Locais de Habitação PARA MAIS
(PLHIS) elaborados pelos municípios. Há muitos de-
safios na estrutura institucional local/estadual, par-
INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
2,5
ticularmente quanto à capacidade técnico-política MÓDULOS 2 E 5.
para capturar e aplicar instrumentos jurídicos e ur-
banísticos inovadores. Isso exige arranjos e esforços
de diversos agentes para promover políticas públicas
adequadas às demandas locais.

Este relato apresenta a prática do Grupo de Pesquisa e


Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional
(Épura/UFMT) em identificar e reconhecer as inade-
quações e necessidades urbano-habitacionais, assim
como as demandas por regularização fundiária nos
municípios mato-grossenses, trazendo como referên-
cia sobretudo o caso de Cuiabá.
40
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS


ADOTADAS

5
PARA MAIS
Articulando o ensino, a pesquisa e a extensão, o Grupo INFORMAÇÕES
Épura/UFMT vem consolidando uma metodologia4 SOBRE O TEMA
para identificar e reconhecer os assentamentos precá- VER TAMBÉM O
rios5 como parte da estrutura urbana, considerando di- MÓDULO 5.

ferentes escalas de aproximação. Chamamos atenção


para a demanda por regularização fundiária nos muni-
cípios de pequenas dimensões demográficas, no terri- 4. Cf. BRASIL, 2010;
tório de suas sedes ou nas sedes de seus distritos6. Isso DENALDI, 2013; e MORAIS
vale tanto para municípios mais antigos quanto para os et al., 2016.

mais recentes, criados pelas políticas de colonização


pública, mista ou privada.

É feita uma aproximação em escala municipal dos

3
territórios urbanos a partir do reconhecimento PARA MAIS
INFORMAÇÕES
preliminar por imagem de satélite em software livre
SOBRE O TEMA
(Google Earth, Maps, entre outros). São apuradas VER TAMBÉM O
variáveis primárias de setores censitários, como a MÓDULO 3.
condição de renda por domicílio, a inadequação da
infraestrutura urbana e do edificado. São compiladas
plantas de loteamentos aprovados na prefeitura numa
leitura secundária junto à administração municipal nas 5. A Política Nacional de
respectivas Secretarias de Planejamento Urban para Habitação (PNH) adotou a
expressão assentamentos
identificar áreas formais para fins institucionais, áreas precários para caracterizar
verdes e áreas de preservação permanente. Quando os assentamentos urbanos
possível, reúne-se também as informações munici- inadequados, que têm em
comum: “[...] o fato de serem
pais dos registros em cartórios e cadastros das loca- áreas predominantemente
lidades reconhecidas pela prefeitura para fins fiscais. residenciais, habitadas por
Essa identificação é sistematizada e mapeada, depois famílias de baixa renda; a
precariedade das condições
comparada com dados, definições e demarcações de de moradia, caracterizada
dispositivos oficiais (federal e municipais) por meio por inúmeras carências e
de análise de dados georreferenciados em Sistema de inadequações; [...] a origem
histórica, relacionada
Informações Geográficas (SIG). às diversas estratégias
utilizadas pela população de
A prática tem avançado no mapeamento detalhado de baixa renda para viabilizar,
casos de estudo para entender melhor as realidades de modo autônomo, solução
locais por meio de leituras comunitárias, sempre que para suas necessidades
habitacionais” (BRASIL,
possível em conjunto com as associações e lideranças 2010, p. 9).
locais. São verificadas as reais poligonais dos núcleos,
demarcação e contagem dos domicílios/equipamentos, 6. Por exemplo, Matupá,
Araputanga e Nova Ubiratã.
histórico e características da ocupação, número de fa-
mílias e população residente. Desde 2017, o Grupo vem
41
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

incorporando novas tecnologias, usando aeronaves não tripu- 7. Particularmente o que


ladas (drones) e técnicas de posicionamento relativo utilizando prescreve o art. 29, do
Decreto nº 9.310, de 15 de
receptores GNSS (RTK) para levantamento planialtimétrico e março de 2018.
cadastral georreferenciado, de acordo com as especificações da
norma técnica específica7. A inovação desse processo aumentou
consideravelmente a produtividade do processo cadastral, a de-
marcação de pontos inacessíveis do(s) assentamento(s) e a ges-
tão das soluções para o projeto urbanístico. Isso teve um impacto
direto na agilidade do processo de regularização fundiária urba-
na (Reurb), como recomenda a Lei nº 13.465/17.

Figura 4: Diversos
momentos das atividades
de campo em conjunto
com as associações de
moradores, professores,
alunos e pesquisadores
associados para verificar
as demarcações e
particularidades locais.
4a. Domicílio do residente
em São João Del Rey,
Cuiabá, 2014; 4b. Sede
4a 4b
da União Coxiponense
das Associações de
Bairro, Cuiabá, 2015; 4c.
Equipamento Comunitário
no Vila Verde, Cuiabá, 2018;
4d. Domicílio do residente
em Distrito de Entre Rios,
Município de Nova Ubiratã,
2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.

4c 4d

5a 5b 5c 5d

Figura 5: Uso de novas tecnologias para demarcação dos núcleos urbanos informais com drone e marcação de
pontos com RTK para Reurb
5a. Marcação de pontos em RTK no parcelamento informal Salim Felício, Cuiabá, 2017; 5b. Demonstração do voo
com moradores no Vila Verde, Cuiabá, 2017; 5c. Planejamento do voo com drone e verificação de pontos em RTK
com alunos no Jardim Ubirajara, Cuiabá, 2017; 5d. Planejamento do voo com drone e marcação de pontos com RTK
com pesquisadores associados no distrito de Entre Rios, Município de Nova Ubiratã, 2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.
42
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS


Cuiabá e Várzea Grande são os maiores municípios em termos 8. Sendo para Cuiabá 21%
de dimensão demográfica da Região Metropolitana do Vale do e para Várzea Grande 55%,
número consideravelmente
Rio Cuiabá. Os dados de inadequação urbana e habitacional des- superior aos dados do déficit
ses municípios indicam que 328 dos domicílios são considera- habitacional quantitativo
dos inadequados (de um total de 240.416) e 42% são ocupados para o município (FJP, 2013).

por famílias com renda de 0-3 salários mínimos (FJP, 2013). As 9. Verificadas em conjunto
ocupações informais se concentram principalmente em áreas com as associações de
públicas reservadas em loteamentos formais para fins institu- moradores a partir de
observações, levantamento
cionais, áreas verdes e áreas de preservação permanente. As em campo e entrevistas com
demandas habitacionais9 são evidentes também nas soluções as famílias ocupantes.
da coabitação, adensamento excessivo e nas quitinetes, como
resposta ao aluguel pouco acessível do mercado formal.

Para entender as demarcações oficiais em Cuiabá, foram analisadas as informações do PLHIS


sobre precariedade e irregularidade, a Composição de Bairros e a Lei de Uso e Ocupação do
Solo (LUOS). Também foram incorporadas as localidades definidas como aglomerado sub-
normal pelo Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística (IBGE) e as do Programa Terra
Legal, consideradas pelo Sistema da Gestão Fundiária (SIGEF) do governo federal.

Mapa 2 – Sobreposição das


informações e dados dos
dispositivos oficiais (PLHIS,
Composição de Bairros,
LUOS, IBGE e SIGEF)
Fonte: Elaborado por Andréa
Arruda. Acervo Épura/UFMT
(2022).
43
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Em 2010, o IBGE identificou apenas dez aglomerados subnor- 10. Observados a partir da
mais na capital, num total de 14.789 domicílios. A análise com- classificação e mapeamento
preliminar dos aglomerados
parativa demonstra incoerência entre as poligonais apesar do subnormais, como
aumento de domicílios e demarcações em 201910. O mesmo preparação para a realização
acontece com a subestimação do número de domicílios quando do Censo Demográfico 2020
(IBGE, 2020).
comparado com os dados sobre inadequações dos domicílios
urbanos já citados11. 11. Foram contados na
capital 36.250 domicílios
O PLHIS identificou apenas sete assentamentos precários com- urbanos com pelo menos
preendidos como aqueles “[...] parcialmente urbanizados que um componente de
inadequação e 18.089 deles
precisam de obras complementares de infraestrutura e urbani- eram ocupados por famílias
zação simples, sem remoção”. A Lei de Uso e Ocupação do Solo com renda de 0 a 3 salários
definiu as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) I12 como mínimos (FJP, 2013).

“[...] parcelamentos irregulares, conjuntos habitacionais públi- 12. Além da ZEIS I, a LUOS
cos ou privados irregulares, ocupados por população de baixa definiu a ZEIS II, sendo
renda que, por seu grau de consolidação, são passíveis de re- consideradas como “[...] áreas
não urbanizadas destinadas
gularização parcial ou integralmente”. A legislação também re- à ampliação da oferta
gistrou 52 localidades. Entretanto, conferiu-se que a demarca- habitacional para população
ção oficial municipal dos dois importantes dispositivos não é a de baixa renda e para o
mercado popular” (CUIABÁ,
mesma da demarcação reconhecida por algumas associações 2015).
de moradores. Desse modo, ficou clara a necessidade de se re-
definir os polígonos e confrontantes. Além disso, muitas loca- 13. Cf.: ARRUDA, 2015;
AZEVEDO; ARRUDA, 2015;
lidades com infraestruturas precárias não estão demarcadas. ARRUDA et al., 2017 para
Portanto, não são reconhecidas oficialmente e nem objeto de maiores informações sobre
política habitacional local. Isso demonstra a fragilidade institu- o processo de criação da
legislação e dos planos
cional ao nível municipal para identificar tais necessidades, em específicos.
especial para estimular e conduzir processos participativos ma-
duros e comprometidos com as realidades dos territórios.13

A análise a partir da escala territorial urbana vem pos-


PARA MAIS

1,4
sibilitando reflexões propositivas para revisão da Lei
INFORMAÇÕES
de Uso do Solo e do Plano Diretor (em curso), princi-
SOBRE O TEMA
palmente a revisão da demarcação das ZEIS. Em escala VER TAMBÉM OS
intraurbana, a aproximação aos territórios vem per- MÓDULOS 1 E 4.
mitindo um avanço qualitativo na produção de dados
detalhados por localidade. Isso foi possível graças ao
mapeamento e caracterização de diversos assenta- 14. Conforme a Lei nº 13.465, de
mentos, dentre eles os Núcleos Urbanos Informais14 2017, o assentamento passa a ser
Getúlio Vargas e Novo Paraíso II. definido como Núcleo Urbano Informal,
sendo considerado como “[...] aquele
clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a
titulação de seus ocupantes”. Este relato
e o grupo utilizam o termo nos estudos
e procedimentos de regularização
fundiária urbana, realizados e em curso.
44
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Mapa 3 – Identificação e demarcação dos dispositivos oficiais, situação cadastral e contagem de domicílios no
Núcleo Urbano Informal Getúlio Vargas
Fonte: Elaborado por Andréa Arruda. Acervo Épura/UFMT (2022).
45
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Mapa 4 – Processamento de imagem georreferenciada do Núcleo Urbano Informal Novo Paraíso II


Fonte: Épura/UFMT (2022).

O Núcleo Getúlio Vargas é uma ocupação informal situada predominantemente em


área de preservação permanente dos Córregos do Machado e São Gonçalo. Ocupa tam-
bém a área verde e institucional dos loteamentos formais Residencial Coxipó e Jardim
Presidente I e foi parcialmente demarcado como ZEIS I. Entretanto, é subdividido in-
ternamente pelos moradores e associações entre Getúlio Vargas, Presidente III e Santa
Terezinha, englobando uma poligonal mais ampla do que a oficial definida pela LUOS.
Foram estimadas 700 edificações pela contagem dos domicílios por meio de imagens de
satélite. A associação de moradores registrou um total de 1.300 famílias residentes, com
indícios de coabitação e de adensamento excessivo, em levantamento presencial feito na
mesma época (2015).
46
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

O levantamento aerofotogramétrico realizado pelo Grupo Épura em 2022 contou 1.700


lotes no assentamento Novo Paraíso II. O núcleo ainda precisa de rede de esgoto e al-
guns equipamentos, apesar das obras de infraestrutura viária recentes (pavimentação
do asfalto e drenagem). É demarcado por todos os instrumentos oficiais (federal e mu-
nicipais), ainda que haja conflitos entre as poligonais. A localidade está cadastrada no
SIGEF e inicialmente era área da União que foi transferida para o município. Trata-se de
um dos estudos-piloto do Grupo Épura/UFMT em parceria com a Rede Amazônica.

Os casos apresentados são do início do processo de in-


tensificação da urbanização na capital. Os dois foram
parcialmente demarcados como ZEIS I e já passaram
por diversos cadastros para sua regularização fundiá-
ria, entretanto nunca foram finalizados. Esse fato re-
vela a lentidão do poder público em resolver a situação
e aumenta o sentimento de insegurança e indignação PARA MAIS
das pessoas que moram na região. A organização e sis-
tematização de dados primários e secundários em con-
INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
3,7
junto com as associações está sendo um dos resultados
MÓDULOS 3 E 7.
positivos da experiência, essencial para a reconstruir a
história das localidades e exigir que as administrações
municipais melhorem as condições dos locais.

3.4 IMPREVISTOS, DESAFIOS E


DESDOBRAMENTOS
O processo gerou um rico diálogo e aprendizado entre
o Grupo Épura, as associações de moradores e diversas
instituições locais - subsidiando a todas as instâncias
com informações relevantes. Ao mesmo tempo, cria e
atualiza os bancos de dados locais com as condições
e caracterizações das localidades. Essa metodologia
orienta e conduz a atuação dos professores, dos alu-
nos e das equipes de pesquisa para entender e refletir
sobre a habitação e a regularização fundiária no esta-
do de Mato Grosso.

O investimento em novas tecnologias possibilitou um PARA MAIS


INFORMAÇÕES
1,3,7
grande salto e amadurecimento da equipe. Isso permi-
SOBRE O TEMA
tiu que ela fizesse um levantamento mais preciso dos
VER TAMBÉM OS
limites reais do núcleo urbano e do edificado existente,
MÓDULOS
bem como das características físicas e ambientais im- 1, 3 E 7.
portantes na área, fundamental para validar a demar-
cação urbanística e as análises urbanística e ambiental.
47
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

A experiência vem possibilitando resultados positivos, como a aproximação com agen-


tes locais externos à universidade, gerando uma relação de confiança para conduzir e
aprimorar os trabalhos. Destacamos a colaboração no primeiro programa municipal de
melhorias habitacionais de maior importância em Cuiabá, o Programa Bem Morar. Seu
objetivo era criar propostas de reforma e adequação das necessidades habitacionais de
300 unidades em quatro bairros da capital. A experiência foi importante para consolidar
o atual grupo de pesquisadores associados do Épura, potencializando a crítica reflexiva
sobre o tema.

A atuação do grupo possibilitou coordenar e executar o “Curso de Formação em


Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS): perspectivas da Lei nº
11.888/2008 para o estado de Mato Grosso”, a partir do edital de fomento do CAU-
MT/2019. Seu objetivo era divulgar a Lei 11.888/2008 e o campo da ATHIS no esta-
do, e estimular o debate sobre a consolidação dos direitos à moradia digna e à cidade.
Posteriormente, o grupo fez parte da comissão de criação do edital ATHIS/2021, flexibi-
lizando diversos enquadramentos do objeto, das modalidades e das condições para par-
ticipação. Dessa forma, possibilitou os diversos arranjos dos agentes envolvidos com a
ATHIS em Mato Grosso.

Membros do Grupo Épura e de outros Grupos de Pesquisa e Núcleos da UFMT criaram


a ONG Instituto Cidade Legal (ICL) com o apoio do Ministério Público Estadual. Um dos
seus objetivos é apoiar a construção de um banco de dados sobre a irregularidade ur-
banística e fundiária das cidades mato-grossenses. Outro objetivo é assessorar associa-
ções legitimadas pelo novo estatuto legal no processo de regularização fundiária.

A articulação do Grupo com outros parceiros contribuiu para a incubação da start-up


MIRAR Arquitetura e Tecnologia, no setor do Escritório de Inovação Tecnológica (EIT/
UFMT). A start-up é composta principalmente por pesquisadores associados e formados
no curso de arquitetura e urbanismo. Ela incorporou as práticas em desenvolvimento,
abrindo novas possibilidades de atuação profissional.

Os recursos humanos limitados representam sempre um desafio


para consolidar os trabalhos e acolher novos alunos e pesquisa-
dores associados. As ações relacionadas ao tema amadurecem
mais nas fases em que há mais recursos disponíveis (bolsas para
estudantes, custos diretos/indiretos). As recentes ausências e
cortes para pesquisa e extensão universitária do governo federal
são desafios para o trabalho e continuidade da equipe.

Ademais, a Lei 13.465, de 11 de julho de 2017 alterou os pro-


cedimentos da Reurb. A atualização da legislação de regulari-
zação fundiária exigiu que o grupo, as associações e as admi-
nistrações públicas atualizassem e verificassem os alcances e
as limitações das leis no contexto das estruturas institucionais
locais e regionais.
48
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.5 PRINCIPAIS AGENTES


ENVOLVIDOS
2
PARA MAIS
INFORMAÇÕES
Este relato apresentou a prática continuada do Grupo SOBRE O TEMA
de Pesquisa e Extensão Épura/UFMT, que atua em di- VER TAMBÉM O
versas frentes desde 2009. Especialmente desde 2013, MÓDULO 2.
o grupo passou a identificar e reconhecer as inadequa-
ções e necessidades urbano-habitacionais, trabalhan-
do com a população local, associações de moradores,
Ministério Público Estadual, ONGs locais, Defensoria
Pública e Secretarias Municipais de Habitação. A prá-
tica vem contribuindo para demarcar os núcleos urba-
nos informais em situação de precariedade para fins
de políticas de regularização fundiária nos municípios
mato-grossenses.

A parceria da universidade com associações e instituições locais


trouxe conquistas no campo da habitação e regularização fun-
diária no estado. Além da criação do banco de dados locais, três
estudos-piloto de Reurb foram concluídos: i) Distrito de Entre
Rios, viabilizado pelo Programa Rede Amazônia, com apoio do
Ministério do Desenvolvimento Regional, e a adesão da UFMT/
Grupo Épura e da Prefeitura de Nova Ubiratã (2021); ii) Novo
Paraíso II, também viabilizado pelo apoio/parceria do Programa
Rede Amazônia (2022); e iii) Núcleo Urbano Vila Verde, resulta-
do das pesquisas do Grupo e executado pela Mirar com a cola-
boração de Rebojo e apoio do CAU/MT (2022).

O Grupo Épura passou a participar de redes de pesquisa e ex-


tensão nacionais, como a Rede Moradia e Assessoria e a Rede
Amazônia. Com isso, foi possível trocar experiências sobre a di-
versidade das realidades locais e acompanhar ações correlatas.
A Rede Amazônia possibilitou um amplo alcance coletivo para
reflexões críticas e propositivas sobre as demandas das cidades
da Amazônia Legal.

A experiência mostra que é fundamental costurar novos arran-


jos e articular em rede os diversos agentes do processo de pla-
nejamento urbano com incidência no território, quando há fra-
gilidade institucional. Isso ajuda a preencher lacunas no campo
da capacidade técnico-política das diferentes instituições e ge-
rar políticas públicas adequadas às realidades locais ou regio-
nais, indo ao encontro da consolidação dos direitos à moradia
e à cidade.
49
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Rede local / estadual Rede Nacional

Universidade Rede Moradia-Assessoria


FEMAB + UCAM
ensino pesquisa extensão Rede Amazônia

Associação de moradores Grupo Épura / UFMT

Ministério
Público
ONGs e Grupos locais Administração Local
Estadual

Banco de dados sobre necessidades


urbanas e habitacionais
(Épura + FEMAB + UCAM + ICL) Reurb Novo Paraíso
(apoio Rede Amazônia)
Levantamento pormenorizado das ICL
localidades Regional Sul Cuiabá Reurb Distrito Entre Rios
(Épura + FEMAB + UCAM) (Pref. Nova Ubiritã + Rede
Mirar
Amazônia)
Reurb Santa Terezinha
(Épura + MP + ICL + UCAM) Rebojo Programa Bem Morar
(Pref. de Cuiabá + SMHARF)
Reurb Vila Verde
(Épura + UCAM + Mirar/Rebojo +
CAU-MT)

Figura 6 – Organograma agentes e instituições.


Siglas: FEMAB – Federação Mato-grossense das Associações de Moradores de Bairros; UCAM – União Coxipoense
das Associações de Moradores de Bairro; MP – Ministério Público Estadual; ICL – Instituto Cidade Legal; CAU/
MT – Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso; SMHRF – Secretaria Municipal de Habitação e
Regularização Fundiária.
Fonte: Épura/UFMT. Elaboração gráfica: LabHab (2022).

REGIÃO Região Centro-Oeste: caracterização dos


CENTRO-OESTE territórios urbanos e das necessidades
habitacionais em Mato Grosso – relato
MÓDULO 8
de experiência da prática continuada do
Grupo de Pesquisa ÉPURA /UFMT
Apresentação da Dra. Andrea Arruda,
professora da Faculdade de Arquitetura,
Engenharia e Tecnologia da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT).
50
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
A experiência da CODHAB-DF em ATHIS enquanto política pública
A experiência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional
do Distrito Federal (CODHAB) no Programa de Melhorias
Habitacionais tem três eixos: concursos públicos de projeto,
assistência técnica em arquitetura e urbanismo e ateliê de projetos
(urbanismo, regularização e edificações). Essa apresentação da
coordenadora do Programa de Assistência Técnica da CODHAB
realizada no Seminário do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de
Santa Catarina apresenta e detalha a experiência.
Disponível em: https://www.causc.gov.br/wp-content/
uploads/2019/01/CODHAB-Uma-Experi%C3%AAncia_
Outubro-2018_Sandra_CAU-SC.pdf

APROFUNDE-SE
Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás/GO
O trabalho propõe uma reflexão sobre a interação entre o planejamento
e a preservação urbana. Busca realizar isso por meio da análise de como
os parâmetros urbanísticos contribuem para a preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da cidade de Goiás, tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Observa-se a
necessidade de ampliar e integrar as discussões entre os campos do
planejamento e da preservação urbana, especialmente na gestão dos bens
culturais urbanos.
OLIVEIRA, K. C. Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás. 2014. 156 f. Dissertação
(Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – Iphan, Rio de
Janeiro, 2014.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/451

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em Anápolis/GO:
Programa Pró-Água
Apoio ao Programa Pró-Água e implantação de jardim de chuva e trincheira
de infiltração em espaços públicos. Aliado à criação de uma estratégia para
preservar, articular e recuperar áreas verdes, baseada na organização de um
Sistema de Áreas Verdes.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa
“Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de Desenvolvimento
Urbano Sustentável”
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/semana-
dus-2021/biblioteca/e7592de3-0d10-4c4c-801d-
5507630f37bd
51
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Regularization through Geoinformation Technologies: The ÉPURA Group Experience
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

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EXPERIÊNCIAS
APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 4

REGIÃO
SUDESTE
Sobre o
autor

Douglas
Tadashi Magami

Defensor público, membro do Núcleo de Habitação


da Defensoria, pesquisador do LABHAB. Tem
experiência na atuação em causas coletivas na área
de defesa do direito à moradia e à cidade.

Instituição: Defensoria Pública do Estado de São


Paulo e LABHAB-FAUUSP

Para conhecer o currículo detalhado acesse:


http://lattes.cnpq.br/0066586289358408

Para mais informações acesse:


https://br.linkedin.com/in/douglas-tadashi-
magami-8b3a351b3
55
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

4. A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO


PAULO NA DEFESA DO BEM-ESTAR E DA QUALIDADE
SOCIOAMBIENTAL EM TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS
São Paulo-SP

4.1 O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA NA POLÍTICA DE


DESENVOLVIMENTO URBANO
A Constituição Federal de 1988 garante a todos e todas os direitos fundamentais con-
siderados indispensáveis para uma vida humana digna. Um desses direitos é o acesso à
ordem jurídica justa, ou seja, “o direito a ter direitos”.

Esse direito é uma inovação da Constituição de 1988, que definiu a Defensoria Pública
como expressão e instrumento do regime democrático, e instituição essencial ao sistema
de justiça do Estado. Assim, atribuiu a ela: 1. A orientação jurídica; e 2. A promoção dos
direitos humanos e a defesa em todos os graus dos grupos vulneráveis, como pessoas
moradoras em favelas, quilombolas, indígenas, mulheres, população em situação de rua
e população carcerária.

A ideia de desenvolvimento urbano sustentável exi-


ge inclusão social, qualidade de vida, redistribuição
da riqueza, promoção da dignidade humana, direito à

1
PARA MAIS
saúde, educação, transporte, moradia e preservação e
INFORMAÇÕES
sustentabilidade do meio ambiente urbano, como vi- SOBRE O TEMA
mos ao longo de todo o curso. Todos esses direitos es- VER TAMBÉM O
tão incluídos na garantia do mínimo para se viver. Para MÓDULO 1.
além de seus direitos materiais, o acesso à justiça ou
o direito fundamental à assistência jurídica também
se configuram como elemento instrumental do direito
ao mínimo para se viver. Isso porque, o conteúdo dos
outros direitos mínimos se torna completamente es-
vaziado, caso as situações concretas de violações ou
ameaças de violações a tais direitos não possam ser
apresentadas ao Poder Judiciário.
O papel da Defensoria nas cidades é mais importante por causa da desigualdade es-
trutural, que caracteriza a exclusão nas cidades brasileiras. Quando as vítimas dessa
desigualdade se tornam rés, na maioria pessoas mais pobres, e os conflitos se tornam
litígios, essas comunidades recorrem à assessoria jurídica. Ela pode ser estatal, por
meio da defensoria pública, ou por meio de escritórios populares de advocacia. Dessa
maneira, buscam garantir a própria cidadania e a participação social na gestão demo-
crática das cidades.
56
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Essa busca pela defesa das comunidades ocorre quando percebem que seus direitos es-
tão sendo violados em relação à defesa do direito à moradia. Seja por remoções adminis-
trativas ou judiciais, particulares ou pelo poder público, seja por processos de reintegra-
ção de posse ou em grandes intervenções urbanas.
Tanto a assessoria jurídica estatal quanto a popular
pressupõem uma interação e parceria com as popula-
PARA MAIS

2,4
ções ocupantes dos assentamentos informais, quando INFORMAÇÕES
se trata da tutela da ordem urbanística. O objetivo é es- SOBRE O TEMA
timular e fortalecer o poder local para que a Defensoria VER TAMBÉM OS
Pública possa servir como ferramenta de trabalho a ser MÓDULOS 2 E 4.
desenvolvido pela própria comunidade. A protagonis-
ta no processo de busca pelos seus direitos é a comu-
nidade, para que possa se cumprir os fundamentos da
cidadania.

No que se refere a assessoria jurídica coletiva urbanística, as atividades extrajudiciais de


escutar as comunidades são essenciais para que o direito seja um processo político de
empoderamento criativo das comunidades. Essas atividades incluem visitas às comunida-
des para ouvir as pessoas, formular propostas em conjunto e definir estratégias. Podem
também incluir atividades de formação em direitos, fortalecer as lideranças locais, mobi-
lizar os moradores e moradoras por meio de assembleias ou formar associações.

Figura 7 – Núcleos
Especializados da
Defensoria Pública do
Estado de São Paulo
Fonte: Elaborado pelos
autores. Elaboração gráfica
do LabHab (2022).
57
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

4.1.1 Passo a passo para acessar os serviços


A Defensoria Pública foi dividida na Constituição Federal entre a Defensoria da União,
que atua nos casos de competência da Justiça Federal, e a Defensorias dos Estados. Cada
Defensoria Pública Estadual tem autonomia funcional e administrativa.

O acesso à Defensoria Pública varia de es-


tado para estado. O acesso é feito de for-
ma remota ou presencial no estado de São
Paulo, principalmente depois da pande-
mia. Ele pode ser feito na sede de atendi-
VOCÊ SABIA ?
Veja no seu estado como é
mento das respectivas cidades nos casos o atendimento (presencial ou on-
de alta vulnerabilidade. No estado de São line), acessando o site da Defensoria:
Paulo há 790 pessoas servidoras, com se- http://condege.org.br/defensorias-
publicas
des em apenas 43 cidades.

4.2 Capacitações da Defensoria


Uma das responsabilidades da Defensoria Pública é orientar e formar em direitos huma-
nos como forma de promover a conscientização crítica. O objetivo é buscar a indepen-
dência de grupos ou pessoas, para que o conhecimento seja ferramenta de ação pela efe-
tivação dos direitos. A atuação da Defensoria Pública é muito mais eficiente e adequada
quando os grupos se tornam protagonistas da luta pelos seus direitos.

As Defensorias Públicas trabalham por meio de suas escolas em diversas frentes de ca-
pacitação em direitos humanos. O público-alvo são a sociedade civil e os agentes públi-
cos que trabalham com políticas públicas. Por exemplo, no estado de São Paulo é realiza-
do o curso Defensores Populares e seu público-alvo são as lideranças de comunidades.

4.3 Exemplo de conquista da comunidade


O Jardim da União é uma ocupação localizada no distrito do Grajaú, Zona Sul de São
Paulo. Ela fica em um terreno urbano destinado à verticalização de aproximadamente
84.750 m² e que pertence à Companhia Estadual de Habitação (CDHU).

A área se localiza entre as represas Billings e Guarapiranga, na zona sul de São Paulo. Ela
passou a ser ocupada em 2013 por pessoas vindas de outra ocupação na região do Itajaí,
também localizada na zona sul e próxima da ocupação atual. Esse deslocamento foi gera-
do por seguidas ordens de despejo e uma violenta reintegração de posse. Ele incentivou
as famílias a se associarem à Rede de Comunidades do Extremo Sul, quando passaram
a buscar uma nova área para ocupação. A solução encontrada foi construir o Jardim da
União. O território foi organizado de maneira coletiva, reservando espaços de uso comu-
nitário para reuniões da associação, para praças e para parque para crianças.
58
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

O núcleo urbano se consolidou depois de anos de ocupação e se 15. Entende-se como núcleo
urbano informal consolidado
originou com a criação da Associação Ocupação Jardim da União. “[...] aquele de difícil reversão,
Seu objetivo é a organização social das famílias que moram no considerados o tempo da
local15. A entidade manteve os espaços coletivos, promovendo ocupação, a natureza das
edificações, a localização
reuniões e assembleias gerais. Ela também realizou e manteve das vias de circulação e a
atualizado o cadastro da população. A associação de morado- presença de equipamentos
res e moradoras desde a sua criação é apoiada pelo Movimento públicos, entre outras
circunstâncias a serem
Luta Popular16. Ela é assessorada pela Peabiru Trabalhos avaliadas pelo Município” (Lei
Comunitários e Ambientais, da Faculdade de Arquitetura e 13. 465/2.017, art. 11. Inc. III).
Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e pela 16. Cf. histórico da ocupação:
Defensoria Pública – Unidade Santo Amaro (com suporte espe- SANTO AMORE, C.;
PEREIRA, R. B.; HORIGOSHI,
cializado do Núcleo de Habitação e Urbanismo). Assim, buscou M. R. S. B. Resistências
a regularização fundiária da área junto à Prefeitura Municipal e urbanas e assessoria
à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). técnica, a arquitetura
possível e necessária. In:
SEMINÁRIO NACIONAL
SOBRE URBANIZAÇÃO DE
FAVELAS (URBFAVELAS),
3., 2019, Salvador. Anais

APROFUNDE-SE eletrônicos... Salvador:


[s.n.], 2019. p. 15.
Caso queira se aprofundar mais no Disponível em: http://www.
assunto, acesse o artigo A Defensoria sisgeenco.com.br/sistema/
Pública como importante instrumento urbfavelas/anais2018a/
de acesso à justiça. ARQUIVOS/GT1-193-233-
20180702001153.pdf.
Disponível em: https://www. Acesso em: 28 jun. 2019.
direitonet.com.br/artigos/
17. Id., 2019.
exibir/12511/A-Defensoria-Publica-
como-importante-instrumento-de- 18. Segundo o diagnóstico
acesso-a-justica social do Plano Urbanístico
Popular Ocupação da
União, no núcleo urbano
58% das famílias são
chefiadas por mulheres;
4.3.1 PRINCIPAIS QUESTÕES ENFRENTADAS 53% dos moradores
vieram de algum estado do
Em 2015, o Jardim da União recebeu nova ordem de remoção. nordeste brasileiro; 76% se
Segundo a CDHU, a área seria destinada à implantação de um declararam pardos e negros;
52% possuem o ensino
empreendimento habitacional. Nesse momento, o Movimento fundamental incompleto
de Luta Popular (MLP) apresentou a Assessoria Técnica Peabiru (apenas 1% está cursando
TCA à população, e juntos desenvolveram um Plano Popular a universidade); 67% estão
inseridos no mercado de
Urbanístico para a área. trabalho informal (na maioria
dos casos na construção civil,
As famílias do núcleo urbano responderam a um questionário trabalho doméstico, serviços
socioeconômico aplicado pela Associação antes do desenvol- gerais e de limpeza); 41% das
vimento do Plano17. Ele revelou um elevado grau de vulnera- famílias apresentam renda
mensal inferior a um salário
bilidade18. Também foram realizadas visitas técnicas e leituras mínimo; e 42% das famílias
comunitárias para diagnosticar e entender a estrutura e a orga- tem renda mensal de 1 a 2
nização do espaço. salários mínimos.
59
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

No diagnóstico da ocupação observou-se do ponto de vista am-


biental que: (a) A área tinha redes de água e energia improvisa-
das; (b) Havia coleta de esgoto através de fossas rudimentares,
considerado um grande problema ambiental por estarem muito
próximas dos mananciais e pelo impacto na saúde e na qualida-
de de vida das famílias residentes; (c) Precariedade da coleta de
lixo, agravada quando a Prefeitura retirou uma lixeira onde se
recolhia os resíduos sólidos da ocupação; e (d) Falta de árvores,
causada pelo desmatamento anterior à ocupação.

Nas oficinas preliminares, as famílias foram estimuladas a pen-


sar sobre o espaço ocupado e nas suas possibilidades tanto
para a moradia quanto para o acesso à cidade (equipamentos e
serviços públicos, transporte, comércio etc.). Foram discutidos
posteriormente em oficina três grandes temas para a criação
do Plano Popular Urbanístico: o sistema viário e infraestrutura,
áreas comuns e lotes. As discussões permitiram que se criasse
diretrizes ou estudos de viabilidade, que demonstram a possibi-
lidade de consolidação das famílias com qualidade urbanística
e ambiental. Seria possível abrir um canal de negociação com
os órgãos públicos depois de readequar e melhorar o ambiente 19. Ibid., p. 12.
construído.19

O plano propôs os jardins de chuva como parte da recuperação


ambiental, nos quais preserva-se a permeabilidade do solo. Da
mesma forma, o plano propôs áreas verdes com plantio de ár-
vores e horta. Propôs como serviços de saneamento implantar
o fornecimento de água e a coleta e remessa do esgoto para
a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Barueri, fora dos
mananciais.

O objetivo do plano foi qualificar a área por meio de proposta


popular baseada em aspectos legais de urbanização. Essa pro-
posta serviu para negociar a regularização fundiária com o po-
der público. A Defensoria Pública verificou qual era a solução
jurídica mais adequada, considerando a demarcação da ocupa-
ção enquanto ZEIS destinada a verticalização em área de ma-
nancial. Levou em conta também as exigências da Lei Estadual
de Mananciais no 13.579/2009.
60
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 8 – Localização da Comunidade Jardim da União-SP


Fonte: Google Earth. Elaboração gráfica Labhab (2022).

4.3.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS


Além do movimento de Luta Popular, a Assessoria
Técnica Peabiru em conjunto com a Professora Karina
Oliveira Leitão e o Professor Caio Santo Amore da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo tiveram papel fundamental para mobi-
lizar e engajar a população local. O Plano Popular de

4
PARA MAIS
Urbanização elaborado pela comunidade com assesso- INFORMAÇÕES
ria técnica em habitação de interesse social foi muito SOBRE O TEMA
importante na negociação com o poder público no pro- VER TAMBÉM O
cesso de luta pela permanência no território. MÓDULO 4.

A assessoria jurídica popular e a Defensoria Pública


atuaram no processo judicial de reintegração de posse
e um pedido administrativo de regularização fundiá-
ria de interesse social foi elaborado com base na Lei no
13.465/17. Existia ainda uma barreira legal para a regu-
larização fundiária: a Lei Estadual de Mananciais define
que a ocupação deve existir a partir de 2009 para ser re-
gularizada e isso exigia uma solução jurídica particular.
61
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

A Defensoria organizou uma reunião com a presidência da CDHU para tentar suspender
o processo de reintegração de posse. A presidência da CDHU permitiu que a população
apresentasse o Plano Popular por meio da Assessoria Técnica em HIS.

Foi aberta ao mesmo tempo outra frente de discussão com a Prefeitura de São Paulo. A
tentativa foi de convencê-la da possibilidade de urbanização e regularização fundiária
e urbanística da ocupação. A Defensoria Pública criou um parecer jurídico para superar
essa barreira. Nele apresentou o argumento de que a Lei Federal no 13.465/17 suspen-
deu a eficácia de parte da Lei de Mananciais, permitindo dessa forma que a regularização
fosse possível.

Outra barreira jurídica era que o Plano Diretor incentivava a verticalização da área. Isso
fez com que a comunidade assessorada pela Peabiru, pelo movimento popular e pela
Defensoria se esforçasse para convencer a Secretaria de Habitação da viabilidade urba-
nística do Plano Popular. O plano preservava as casas construídas pelas famílias, apenas
prevendo a abertura de novas ruas.

Nesse caso, um provável conflito (“tudo ou nada”) en-


tre moradia e meio ambiente representaria uma falsa
PARA MAIS

1,5
questão, pois são direitos fundamentais protegidos
INFORMAÇÕES
pela Constituição e podem existir ao mesmo tempo.
SOBRE O TEMA
Conciliar esses dois direitos na realidade das cidades e VER TAMBÉM OS
não de cenários hipotéticos ideais normalmente é algo MÓDULOS 1 E 5.
distante. Portanto, regulamentar os parâmetros para a
regularização fundiária em áreas de manancial repre-
senta justamente a adequação de dois direitos consti-
tucionalmente protegidos. Portanto, deve-se estudar
como proteger o meio ambiente e como garantir o di-
reito à moradia no contexto de ocupações urbanas em
áreas ambientalmente frágeis como os mananciais. A
compatibilidade desse objeto de estudo deve ser defi-
nida por meio da regularização fundiária, que tem uma
dimensão ambiental: a diminuição dos danos aos bens
ambientais.

VOCÊ SABIA ?
A Lei no 13.465/2017 dispõe sobre a
regularização fundiária rural e urbana, sobre
a liquidação de créditos concedidos aos assentados
da reforma agrária e sobre a regularização fundiária no
âmbito da Amazônia Legal. Ela define mecanismos para
aprimorar a eficiência dos procedimentos de alienação de
imóveis da União e altera regulamentações anteriores.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm
62
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

4.3.3. PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS


As advogadas e os advogados populares fizeram muitos pedi-
dos de suspensão e prorrogação da suspensão do processo de
reintegração de posse em conjunto com a Defensoria Pública.
Isso foi sempre atendido pela CDHU durante as negociações.

A Prefeitura do Município de São Paulo aceitou a permanência


das pessoas, principalmente depois de reunião com a Secretaria
Municipal de Habitação. A prefeitura encampou o parecer da
Defensoria Pública e, por consequência, a possibilidade jurí-
dica de regularização fundiária. Posteriormente, criou ainda
uma resolução para assumir o licenciamento ambiental da área.
Essa era antes uma responsabilidade do Governo do Estado de
São Paulo, por se tratar de uma região de manancial. Assim, foi
possível combinar a defesa do meio ambiente equilibrado e o
direito à moradia por meio da regularização fundiária urbana
sustentável.

O resultado foi a urbanização da ocupa-

?
ção com o fornecimento de infraestrutura
de água, esgoto e energia elétrica. Além da VOCÊ SABIA
abertura oficial de ruas, pavimentação e
Resolução do Governo
melhorias habitacionais. Agora, o proces- do Estado de São Paulo
so está se caminhando para a titulação das que simplifica processos de
regularização fundiária
propriedades por meio da Regularização
Fundiária Urbana de Interesse Social Disponível em: https://www.
infraestruturameioambiente.sp.gov.
(REURB-S). br/2020/08/resolucao-do-governo-
de-sp-simplifica-processos-de-
regularizacao-fundiaria/

4.3.4 PRINCIPAIS ATORES E INSTITUIÇÕES


ENVOLVIDOS

2
Os principais atores envolvidos foram as lideranças co- PARA MAIS
INFORMAÇÕES
munitárias do Jardim da União, por meio da associação
SOBRE O TEMA
de moradores e moradoras. Elas foram assessoradas VER TAMBÉM O
pelo movimento popular, Peabiru e Defensoria Pública MÓDULO 2.
do Estado de São Paulo. A FAUUSP também teve papel
fundamental ao desenvolver nesse território um proje-
to de extensão universitária em Assessoria Técnica em
Habitação de Interesse Social.
63
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 9 e 10: Trecho do Jardim da União antes da urbanização


Fonte: Fotos da moradora Suellen Ribeiro.

REGIÃO
SUDESTE
MÓDULO 8
APROFUNDE-SE
Maricá-RJ, a capital do passe livre do Brasil
Maricá hoje tem 157.789 habitantes e é a
única cidade com mais de 60 mil habitantes
com políticas de passe livre universal no Brasil.
A cidade tem 361,572 km², uma área extensa
Região Sudeste: a atuação difícil de cobrir, e as rotas com linhas com
da Defensoria Pública de São tarifa zero ainda não alcançam toda a área
Paulo na defesa do bem-estar urbana. Mas, o sistema está em expansão.
e da qualidade socioambiental O município fica a mais ou menos 60 km da
em territórios vulneráveis capital do estado do Rio de Janeiro.

Apresentação de Douglas SANTINI, D. Passe livre: as possibilidades da


Magami Tadashi, da tarifa zero contra a distopia da uberização. São
Defensoria Pública do Estado Paulo: Autonomia literária, 2019.
de São Paulo e pesquisador do Disponível em: https://rosalux.org.br/wp-
Laboratório de Habitação e content/uploads/2020/03/passelivre.pdf
Assentamentos Humanos da
Universidade de São Paulo.
64
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
Programa DRENURBS da Prefeitura de
Belo Horizonte-MG
O Programa de Recuperação Ambiental de Belo
Horizonte (DRENURBS) foi lançado pela Secretaria
Municipal de Política Urbana de Belo Horizonte. Foi
utilizada na sua criação uma ideia inovadora em relação
aos recursos hídricos no meio urbano. Ela prioriza a
reintegração dos cursos d’água à paisagem e não mais
a canalização como única solução para a drenagem. O
programa foi criado para ser implementado em fases
sucessivas e cobre 51% da área total do município,
envolvendo 47 sub-bacias. Ele beneficia cerca de 45%
da população total do município.
Disponível em: https://www.solucoesparacidades.
com.br/wp-content/uploads/2013/09/AF_
DRENNURBS_WEB.pdf

APROFUNDE-SE
Utilizar Mapas Temáticos como Ferramenta de Educação
Ambiental e Participação Social na Comunidade do
Quebra Frascos/Jardim Serrano no Parque Nacional da
Serra dos Órgãos-RJ
A gestão do ambiente nas áreas ao redor de unidades de
conservação exige que a sociedade participe na tomada de
decisões que minimizem os impactos negativos. É necessário
desenvolver a educação ambiental crítica e transformadora para
isso. As pesquisas-ações e as cartografias sociais dão inspiração
para atender esses objetivos com uma participação coletiva, cidadã
e ativa. Dessa forma, busca-se despertar e apoiar o envolvimento
comunitário, e qualificar as ações locais por meio da cartografia
social. Técnicas participativas contribuíram com recursos para
a cartografia social formando um Sistema de Informações
Geográficas (SIG) local e criando mapas socioambientais com os
temas priorizados pela comunidade. Nessa experiência, dois grupos
de moradores foram iniciados na alfabetização cartográfica. Eles
mostraram a necessidade de dois mapas temáticos para uso como
ferramenta de poder diante da gestão pública e de educação
ambiental. As metodologias combinadas permitiram uma
educação ambiental crítica e os mapas se mostraram uma boa
ferramenta para essa ação.
Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br/obras-e-
infraestrutura/informacoes/diretoria-de-gestao-de-aguas-
urbanas/drenurbs
65
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em
Hortolândia/SP: estratégia para orientação da
dinâmica de verticalização
Foram propostos parâmetros limitadores e qualificadores
ao se identificar e analisar alguns indicadores quantitativos
da capacidade de suporte da infraestrutura. Além disso, a
viabilidade do adensamento máximo admitido foi analisada e
foram propostas medidas para aliviar, diminuir ou anular os
impactos identificados.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS):
iniciativa “Municípios-piloto ANDUS”
Disponível em: http://www.andusbrasil.org.br/
atuacao/nivel-municipal/hortolandia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, M. L. R. Moradia e Mananciais: tensão e diálogo na
metrópole. São Paulo: FAUUSP/FAPESP, 2006.

SANTO AMORE, C.; PEREIRA, R. B.; HORIGOSHI, M. R. S.


B. Resistências urbanas e assessoria técnica, a arquitetura
possível e necessária. In: SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE
URBANIZAÇÃO DE FAVELAS (URBFAVELAS), 3., 2019,
Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: [s.n.], 2019. Disponível
em: http://www.sisgeenco.com.br/sistema/urbfavelas/anai-
s2018a/ARQUIVOS/GT1-193-233-20180702001153.pdf.
Acesso em: 28 jun. 2019.

. De afeto e de escola: formação em assessoria e assistên-


cia técnica. In: FERREIRA, L.; OLIVEIRA, P.; IACOVINI, V. (Org.).
Dimensões do Intervir em Favelas: desafios e perspectivas.
São Paulo: Peabiru TCA e Coletivo Lablaje, 2019.
EXPERIÊNCIAS
APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 5

REGIÃO
SUL
Sobre o
autor

Gabriel
Ruiz de Oliveira

Curitibano, engenheiro civil graduado pela UTFPR,


arquiteto e urbanista pela UFPR com mestrado na
área de História e Fundamentos da Arquitetura
e Urbanismo pela USP, pesquisador sobre a
preservação do patrimônio cultural. Atua como
coordenador do curso de engenharia civil da FAE,
Centro Universitário e como professor universitário
nas áreas de patrimônio cultural e de estabilidade
das construções.

Para conhecer o currículo detalhado acesse:


http://lattes.cnpq.br/2692920250928048

Para mais informações acesse:


https://www.linkedin.com/in/gabriel-ruiz-de-
oliveira-9ba95122/
68
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5. PLANO DE GESTÃO DO PATRIMÔNIO TOMBADO NO


MUNICÍPIO DE ANTONINA, PARANÁ
Antonina-PR

5.1 PRINCIPAIS QUESTÕES ENFRENTADAS 20. FINGER, A. Parecer


Técnico 004/2011 -
O Município de Antonina foi uma das primeiras áreas coloniza- Tombamento do Conjunto
das na Região Sul do Brasil. Ele se desenvolveu lentamente até a Histórico e Paisagístico
de Antonina – PR. Brasília,
metade do século XIX, quando foram construídas a estrada car- 2011. In: BRASIL. Ministério
roçável da Graciosa e a ferrovia Curitiba-Paranaguá, conectan- das Cidades. IPHAN.
do o litoral do estado ao planalto curitibano. Isso possibilitou Processo de tombamento
do Conjunto Histórico e
um crescimento urbano e econômico da cidade, impulsionados Paisagístico de Antonina
pela atividade portuária em Antonina e Paranaguá. O assorea- - 1.609-T-2010. Curitiba,
mento da baía e a falta de investimentos levaram à gradual cri- 2010.

se econômica do município, que alcançou o seu auge no início 21. BATISTA, F. D. et al.
do século XX. Em 2012, o conjunto histórico e paisagístico de (Org.). Painel Observatório
Antonina foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Patrimônio Histórico
Cultural de Antonina.
e Artístico Nacional (IPHAN), por suas características urbanas Curitiba: CAOP-MAHU
diversificadas e sua relação com a Serra do Mar e com a Baía de MPPR: DAU UFPR: FAE
Paranaguá.20 Centro Universitário, 2019.
Relatório final.
O Ministério Público do Paraná (MPPR) apresentou
em 2017 uma parceria interinstitucional de extensão
universitária para subsidiar o monitoramento do pa-
trimônio edificado e sensibilizar a sociedade civil e as

5
PARA MAIS
lideranças públicas. Além disso, buscava acompanhar INFORMAÇÕES
a criação do plano de gestão do perímetro tombado SOBRE O TEMA
pelo IPHAN. Apresentamos o resumo dessa parceria VER TAMBÉM O
a seguir.21 MÓDULO 5.

5.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS


Foi estabelecida uma estratégia de levantamento a partir de 22. BRASIL. Ministério das
reunião realizada com técnicos da prefeitura em abril de 2018. Cidades. IPHAN. Inventário
de Antonina – Paraná.
Ela buscava verificar e atualizar o inventário de edificações do Curitiba: SIGC, 2009.
centro histórico realizado em 2009 pelo IPHAN.22

Seu objetivo também era identificar as mudanças no estado de


conservação dos imóveis entre 2009 e 2018, e desenvolver um
método para monitorar o patrimônio edificado que pudesse ser
mantido e atualizado pela comunidade local, consciente de seu
papel em relação à preservação do patrimônio.
69
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Utilizou-se para isso uma Ficha de avaliação padrão dos imóveis, estruturada segundo os
critérios definidos no levantamento anterior, no parecer de tombamento e na demanda
do MPPR. A ficha indicou os seguintes valores:

• Integralidade do imóvel: referência arquitetônica, conservação dos elementos


que compõem a fachada original.
• Permanência: estado de conservação física.
• Habitabilidade: análise das condições de uso e ocupação.
• Conjunto urbano: análise do potencial do imóvel na paisagem visível e do estado
de conservação dos imóveis adjacentes.

Figura 11: Ficha de avaliação do estado de conservação: imóvel Q22_ID01


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.

A ficha de avaliação padrão apresenta os dados da utilização do imóvel, da técnica cons-


trutiva utilizada, do risco oferecido pela área imediatamente ao redor e do estado de con-
servação da edificação. As fichas foram feitas em conjunto com estudantes de graduação
de arquitetura e urbanismo. O treinamento dos alunos e a validação do modelo de ficha
ocorreram em trechos do centro histórico de Curitiba antes das visitas a Antonina.

Os resultados foram resumidos em planilhas, gráficos e mapas temáticos, que se en-


contram nas referências bibliográficas. Eles permitem que a prefeitura e a comunidade
monitorem o estado de conservação do patrimônio. O material foi apresentado como
relatório pelas instituições de ensino à Promotoria do Ministério Público do Paraná e
às secretarias municipais de Meio Ambiente, Obras e Urbanismo, e Cultura, Turismo e
Patrimônio Histórico.
70
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


A análise das informações das fichas de avaliação padrão permitiu relacionar os fatos e
indicou cuidados necessários com as edificações estudadas. Concluiu-se que o aspecto
de integridade estrutural e o estado de conservação de acabamento dos imóveis ocupa-
dos estavam melhores do que os dos vazios e abandonados. A maior parte dos edifícios
bem conservados era de uso comercial. Ambientes amplos podem abrigar uma varieda-
de maior de estabelecimentos comerciais e isso pode explicar porque os imóveis maiores
são ocupados com mais frequência.

A técnica construtiva influencia a durabilidade do imóvel, pois alguns materiais e técni-


cas resistem mais à ação do tempo do que outros. Por exemplo, as alvenarias de pedra
são mais resistentes do que as de tijolo, particularmente nos imóveis desocupados.

A análise do estado de conservação permitiu criar um quadro de risco do imóvel. Itens


como rachaduras na estrutura ou a presença de vegetação e infiltrações receberam pon-
tuações específicas. Essas pontuações foram incluídas em um índice de risco e, assim, foi
possível estabelecer critérios comparativos para o nível de conservação de cada imóvel.

Mapa 5: Estado de conservação das edificações levantadas no perímetro do tombamento


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

As fichas estabelecem um retrato no tempo ao analisar o estado


de conservação do patrimônio histórico edificado. Dessa for-
ma, validam e promovem a consciência patrimonial, permitin-
do um olhar mais cuidadoso em relação aos imóveis analisados.
Contribuem também como método para monitorar a conserva-
ção dos edifícios e valorizar sua preservação feita pela comuni-
dade. Esse é um aspecto de grande valor no desenvolvimento e
na vida da cidade de Antonina.

5.4 IMPREVISTOS (RESULTADOS NÃO


ESPERADOS)
Constatou-se, durante a análise do estado de conservação in-
dividual dos imóveis, que a paisagem construída deve ser va-
lorizada em relação ao entorno natural, ao traçado colonial e
as diversas manifestações arquitetônicas no centro histórico.
Isso só seria possível por levantamentos fotográficos de faces
de quadras e visão serial de eixos de ruas.

Desse modo foi possível entender o conjunto edificado em seu


entorno e identificar ruídos e possibilidades das paisagens. Os
ruídos mais aparentes são edificações descuidadas e arruina-
das. A sua comunicação visual está desregulamentada, desca-
racterizando os edifícios. Além disso, há veículos estacionados
em vias com potencial peatonal (mobilidade a pé).

Assim, foram analisadas as quadras e mapeadas as regiões


com bom estado de conservação próximas à baía e o impac-
to negativo de imóveis arruinados e impenetráveis que inter-
rompem a paisagem.

Figura 12: Montagem – Quadra 11: face rua João Viana


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 13: Análise de ruídos na rua Antônio Prado. Vermelho: ruído permanente; amarelo: ruído temporário;
verde: potencialidade
Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.

O patrimônio tombado pelo IPHAN em Antonina foi analisado na escala micro (cada
edifício), intermediária (agrupamento de edifícios) e macro (conjunto paisagístico).
Esperava-se que a sobreposição dessas análises e escalas fundamentasse as políticas de
planejamento urbano e regional.

Antonina possui um grande potencial cultural, paisagístico e turístico. Esse projeto in-
terinstitucional gerou discussões e contribuiu para a criação do Conselho Municipal do
Patrimônio Cultural. Mesmo assim, o município precisa de políticas integradas de pre-
servação cultural e ambiental que dialoguem com os planos de desenvolvimento urbano
e regional. Observou-se durante as etapas de interação com as secretarias municipais
uma desarticulação das propostas de cada pasta com as diretrizes de tombamento pre-
vistas pelo IPHAN. O mesmo pode ser dito sobre os instrumentos urbanísticos detalha-
dos no Plano Diretor do município.
73
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5.5 RESULTADOS NÃO ESPERADOS


A análise do estado de conservação do patrimônio edificado em Antonina incluiu o estu-
do do estado atual dos instrumentos legais urbanos relacionados espacialmente à área
tombada. Entre eles estão os Códigos de Obras, Tributário, e as Leis de Zoneamento e de
Sistema Viário. Esperava-se determinar de forma objetiva quais parâmetros deveriam
ser descritos nesses instrumentos para preservar o patrimônio cultural. Os meios jurí-
dicos e fiscais são ferramentas que podem realizar os objetivos do planejamento muni-
cipal. Entretanto, os instrumentos descritos no Plano Diretor de Antonina não dialogam
com a legislação de tombamento federal, sobrepondo áreas sujeitas a transferência de
potencial construtivo com o perímetro da envoltória. Além disso, destina ruas do centro
histórico com potencial peatonal para a função coletora.

A equipe do projeto mostrou aos órgãos competentes e à população antoninense a


importância do diálogo interinstitucional. Além da importância do fortalecimento do
Conselho Municipal de Patrimônio para fiscalizar e sugerir projetos estratégicos que de-
vem ser priorizados para o planejamento integrado do município. Esses projetos asso-
ciam mobilidade, conservação ambiental e participação popular, valorizando a relação
entre a paisagem construída e a natural.

Atualmente, o projeto busca continuar e ampliar as iniciativas em torno da preservação


do ambiente construído de Antonina. Trata-se de um resultado positivo do processo de
parceria entre a universidade e as instituições da administração pública.

5.6 PRINCIPAIS ATORES E


INSTITUIÇÕES ENVOLVIDOS
O projeto foi proposto em 2017 pelo Ministério

2
PARA MAIS
Público do Paraná (MPPR), por meio da 2ª Promotoria INFORMAÇÕES
de Justiça de Antonina e foi chamado de Painel do SOBRE O TEMA
Observatório do Patrimônio de Antonina. Foi coorde- VER TAMBÉM O
MÓDULO 2.
nado pelo Centro de Apoio das Promotorias de Justiça
de Proteção ao Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo
(CAOP MAHU - MPPR). Ele esteve alinhado com as
estratégias da instituição de defender os interesses
difusos e coletivos, defender o regime democrático e
implementar políticas constitucionais, além da neces-
sária resolução extrajudicial de conflitos. Contou com
a parceria interinstitucional de extensão universitária
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da FAE
Centro Universitário (FAE). As duas instituições são de
Curitiba e os professores, pesquisadores e alunos dos
cursos de arquitetura e urbanismo participaram ativa-
mente do projeto.
74
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

O projeto contou com a consultoria do IPHAN, responsável pelo tombamento federal.


Contou também com o envolvimento das secretarias municipais de Meio Ambiente, de
Cultura e de Obras de Antonina e do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. Desde
o início do projeto, as equipes de graduação diagnosticaram e criaram propostas para o
município. Isso mostra a importância de se integrar a gestão pública e as instituições de
ensino superior em projetos de desenvolvimento urbano sustentável.

A aproximação das instituições de ensino superior com as demandas públicas permi-


tiu que os estudantes conhecessem e trabalhassem com questões reais da sociedade
civil, cumprindo sua responsabilidade social de forma propositiva. Por outro lado, o
CAOP MAHU contou com um apoio consultivo especializado na área de preservação do
patrimônio.

REGIÃO Região Sul: plano de gestão do


SUL patrimônio tombado no Município de
Antonina, Paraná
MÓDULO 8
Apresentação de Gabriel Ruiz de
Oliveira, coordenador do curso
de engenharia civil da FAE Centro
Universitário.

APROFUNDE-SE
Enfrentamento da irregularidade fundiária no
Município de Rio Branco do Sul-PR
O trabalho estuda a produção da cidade informal no
Município de Rio Branco do Sul. A sua área urbana é formada
principalmente por loteamentos irregulares ou clandestinos.
Buscou-se entender como se estabelece a irregularidade e as
relações institucionais, burocráticas, legais e territoriais. Foram
considerados fatores comuns a outros municípios, inclusive nas
questões metropolitanas. Mas, também foi dada visibilidade às
particularidades, como a presença do Aquífero Karst.
Diante desse quadro, surgem possibilidades e instrumentos
trazidos pela nova Lei Federal nº 13.465, de 2017, conhecida
como REURB. Ela flexibiliza e desburocratiza o processo de
regularização fundiária.
FAYAD, K. A produção da cidade informal e o parcelamento do
solo urbano: o caso de Rio Branco do Sul - PR. 2018. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.
Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=ATkMMjD1xfs ; https://acervodigital.ufpr.br/
handle/1884/58488?show=full
75
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
Lei do Urbanizador Social em Porto Alegre-RS
A Lei 9.162/2003 (Lei do Urbanizador Social) foi editada
no marco da competência normativa urbanística do
município e regulamenta um importante instrumento
do PDDUA. Ele permite que o poder público atue
proativamente para ampliar a produção e a oferta de
Habitação de Interesse Social (HIS). O instrumento
oferece um conjunto de mecanismos que dão ao
município maior capacidade de gerir o solo urbano,
estabelecendo os procedimentos legais que possibilitam
ações em parceria com o setor privado. O objetivo
é ampliar a oferta de HIS e adequar a produção
habitacional à capacidade aquisitiva da população que
geralmente não é atendida pelo mercado.
Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/
pmpa/prefpoa/spm/usu_doc/31_urbanizador_
social_e_parceiro.pdf

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em
São Nicolau/RS: mentoria em Biodesign
em Espaços Públicos
Assessoria para escolher soluções baseadas na natureza para
qualificar prédios e equipamentos públicos. Entre essas soluções
estão instalar coleta de água da chuva, trincheira de infiltração,
telhado verde e fossa de bananeira. As ações reverberaram em
novas parcerias e até na adequação da legislação de parcelamento
do solo para a realidade local. Elas incorporaram novas tecnologias
para o aproveitamento da água.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS):
iniciativa “Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável”
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/
semana-dus-2021/biblioteca/5e00091c-75ed-
4524-9c74-7c3af1595283

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